O NADA(R) QUE É TUDO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO PROPOSTA DE PERCURSO ARTICULADO POR PISCINAS PÚBLICAS NO GRAJAÚ BRUNO AMÁ STEPHAN ORIENTADORA: MARINA MANGE GRINOVER
“O mundo é uma totalidade inacabável, mas também um meio no qual vivemos. Aprendemos que a paisagem faz parte da nossa vida, que o horizonte é uma dimensão do nosso estar no mundo. Projetar é, portanto, primeiramente querer esse inacabamento, e a responsabilidade do projetista, quando se trata da paisagem, talvez resida nisto: é o portador do inacabamento, isto é, das significações em reserva, dos horizontes espaciais e temporais dentro mesmo da localização dos futuros. Um mundo sem horizontes, isto é, sem paisagem, sem cantos do mundo que chamem o desejo, simplesmente deixou de ser um mundo. Se a paisagem é uma obra, no sentido que Hannah Arendt dá a essa palavra, se ela é a abertura de uma duração e, nesse sentido, de um mundo, então ela é uma vontade e uma meditação da vida e não morte, uma meditação sobre o nascimento das coisas e não sobre o seu desaparecimento”. (Jean-Marc Besse in O Gosto do Mundo, p. 66).
CADERNO - PROJETO
ULISSES O mito é o nada que é tudo O mesmo sol que abre os céus É o mito brilhante e mudo O corpo morto de Deus, Vivo e desnudo Este que por aqui aportou,
O NADA(R) QUE É TUDO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO FAU USP 2017 PROPOSTA DE PERCURSO ARTICULADO POR PISCINAS PÚBLICAS NO GRAJAÚ BRUNO AMÁ STEPHAN ORIENTADORA: MARINA MANGE GRINOVER ORIENTADORA METODOLÓGICA: RAQUEL ROLNIK BANCA: ANA CAROLINA TONETTI E EUGÊNIO QUEIROGA
Foi por não ser existindo. Sem existir nos bastou. Por não ter vindo foi vindo E nos criou. Assim a lenda se escorre A entrar na realidade, E a fecundá-la decorre. Em baixo, a vida, metade De nada, morre. (Fernando Pessoa, in Mensagem, p. 19)
FONTES: ROBOTO (TÍTULOS) E SWIFT (CORPO) AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESSE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. CITA: STEPHAN, Bruno, XXXX brunoastephan@gmail.com
HIDROGRAFIA ÁREA EDIFICADA CURVAS DE NÍVEL (5M) COTA DE ALAGAMENTO REPRESA (747)
IMPLANTAÇÃO GERAL PERCURSO COCAIA ESC 1-3000 0
30
60
Como narrado no caderno-processo desse Trabalho Final de Graduação, os programas aqui colocados partem de extenso período de vivência entre os alunos do Grêmio da EMEF Padre José Pegoraro. Não coincidentemente, é o local no qual me senti confortável para projetar piscinas públicas como gostaria desde o início.
NÚCLEO 3
QUADRAS EXTERNAS PRAÇA ILUMINAÇÃO RECUPERAÇÃO CÓRREGO REIMBERG COCAIA
NÚCLEO 2
NÚCLEO 4
DECK PONTE HORTAS COMUNITÁRIAS PISCINA FLUTUANTE
Todos os demais programas projetuais propostos partem de colocações dos estudantes e dos habitantes do Cocaia. Assim, foi pensado um trajeto que atravessa o bairro todo.
PASSARELA ACESSÍVEL LOMBOFAIXAS ILUMINAÇÃO DRENAGEM
Os usos sugeridos partiram, portanto, de necessidades reais foram distribuídos a partir das possibilidades de conexão e costura urbana de cada local
NÚCLEO 1
EMEF PADRE JOSÉ PEGORARO AUDITÓRIO GINÁSIO QUADRAS EXTERNAS HORTAS COMUNITÁRIAS MIRANTE ADMINISTRAÇÃO LOJAS COMPLEXO AQUÁTICO
NÚCLEO 1 COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO Para o amplo espaço residual que circunda a EMEF Padre José Pegoraro, foi proposto um grande complexo esportivo, no qual o foco é o desporto aquático. As piscinas públicas servem como eixo articulador e abarcam a escola que antes não aproveitava as potencialidades do terreno desocupado.
1
2
NÚCLEO 1 -COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO PLANTA COTA 799 ESC 1-1000 0
10
20
3
3
4
4
1
2
1
2
NÚCLEO 1 -COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO PLANTA COTA 785 ESC 1-1000 0
10
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NÚCLEO 1 -COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO PLANTA COTA 777 ESC 1-1000 0
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2
NÚCLEO 1 -COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO PLANTA COTA 769 ESC 1-1000 0
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NÚCLEO 1 -COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO PLANTA COTA 763 ESC 1-1000 0
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NÚCLEO 1 -COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO PLANTA COTA 757 ESC 1-1000 0
10
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4
1
2
VALA DRENANTE
Este corte atravessa a EMEF Padre José Pegoraro e mostra sua relação com a piscina proposta. O projeto também coloca uma arena já que a escola, assim como o bairro como um todo, carece de um auditório e de um local para assembleias. Dessa forma, o anfiteatro é a passagem entre escola e piscina.
EMEF PADRE JOSÉ PEGORARO
ARENA
TRAMPOLIM E PISCINA OLÍMPICA
FILTRAGEM ANAERÓBIA
NÚCLEO 1 - COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO CORTE 1-1 ESC 1-750 0
7,5
15
VALA DRENANTE
QUADRA EXTERNA SOBRE LOJAS
A escola já contava com duas quadras externas abertas ao público. Como forma de manter esse programa público, foram propostas mais três quadras - uma externa e duas internas em um edifício ginásio que funciona como eixo articulador do complexo. Os nichos das quadras foram aproveitados como forma de desenhar arquibancadas e espaços para comércio.
QUADRA EXTERNA SOBRE LOJAS
QUADRA EXTERNA SOBRE LOJAS
GINÁSIO E ADMINISTRAÇÃO
VALA DRENANTE
NÚCLEO 1 - COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO CORTE 2-2 ESC 1-750 0
7,5
15
TANQUE DE MERGULHO
PISCINA OLÍMPICA
As piscinas constituem um eixo articulador entre bairro e represa. A estrutura é delimitada de um lado pelos trampolins do tanque de mergulho e da piscina olímpica propostos. Do outro lado temos um escorregador que funciona como caminho mais rápido para o transeunte que se dirige à Rua Doutor Nuno Guerner de Almeida. Essa linha vence um desnível de 36 metros distribuídos em 250 metros de comprimento.
ADMINISTRAÇÃO
VESTIÁRIOS
PISCINA SEMIOLÍMPICA
PISCINA SEMIOLÍMPICA
ESCORREGADOR
NÚCLEO 1 - COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO CORTE 3-3 ESC 1-750 0
7,5
15
MIRANTE
VALA DRENANTE
O mirante que parte das cotas mais altas do terreno não foi projetado apenas para aproveitar a vista do Grajaú, embora esse uso tenha sido muito exaltado pelos alunos da EMEF Padre José Pegoraro. Para além disso, também possibilita a descida acessível para o restante do complexo.
EMEF PADRE JOSÉ PEGORARO
VALA DRENANTE
QUADRA EXTERNA
LOJAS
VALA DRENANTE
PASTOS
VIA COMPARTILHADA
NÚCLEO 1 - COMPLEXO ESPORTIVO PEGORARO CORTE 4-4 ESC 1-750 0
7,5
15
NÚCLEO 2 TRAVESSIA Para adequar as passagens de pedestres entre os lotes residenciais que mais poderiam ser usadas como atalhos para os estudantes da EMEF Padre José Pegoraro, pensouse em aliar o uso de valas drenantes, que garantissem a estanqueidade da travessia, e o de passarela acessível para transformar um local antes ermo em uma caminhada agradável e eficiente.
DETALHE PASSARELA ESC 1-100 0
1
2
VIGA / GUARDA-CORPO
DETALHE TRECHO DE ESCADA ESC 1-200 0
2
4
CANTEIROS ILUMINAÇÃO GREENVISION
LAJE STEEL DECK
PILAR DE AÇO ELETROFUNDIDO
DECK FILTRAGEM ANAERÓBIA VALA DRENANTE
Nessa implantação, optou-se por não representar o tabuleiro da passarela sobre a vala drenante, pois ela ocultaria o canal e aparece no esquema da página anterior e no corte longitudinal da travessia a seguir.
NÚCLEO 2 - TRAVESSIA IMPLANTAÇÃO ESC 1-300 0
Essa obra de requalificação teria base sobretudo nas queixas das meninas da EMEF Padre José Pegoraro, que afirmaram que não a utilizam após escurecer.
3
6
CANTEIROS
EQUIPAMENTOS PROPOSTOS
A passagem considerada erma era estreita demais para abarcar o uso de ponto de encontro, articulador de drenagem e via acessível plenamente ao mesmo tempo. Dessa forma, focou-se primeiramente em garantir a travessia confortável universal e segura. Depois, pensou-se em criar patamares com valas drenantes ao longo do caminho. Por último, no espaço restante, são propostos alguns equipamentos pequenos, para assegurar a vida no percurso.
CANTEIROS
FILTRAGEM ANAERÓBIA
LOMBOFAIXA
Aqui mostra-se também alguns elementos que se repetem ao longo do projeto. O uso de extensos promenades com piso de deck serve não apenas como proposta estética mas também para ocultar filtros de tratamento da água de funcionamento anaeróbio. Estes costumam causar mau cheiro, por isso é benéfico que sejam acessíveis para qualquer eventual manutenção, mas afastados do grande público.
FILTRAGEM ANAERÓBIA
CANTEIROS
EQUIPAMENTOS PROPOSTOS
CANTEIROS
NÚCLEO 2 - TRAVESSIA CORTE LONGITUDINAL ESC 1-300 0
3
6
NÚCLEO 3 PRAÇA “PEGORARINHO” No edifício que abrigava anteriormente a EMEF Padre José Pegoraro, pensou-se em realizar uma requalificação das quadras externas. Retomando a ideia das quadras como nichos e em grandes arquibancadas, abriu-se os equipamentos esportivos ao público geral, vencendo o desnível de 4 metros com arquibancadas e integrando mais uma escola ao percurso.
NÚCLEO 3 - PRAÇA ““PEGORARINHO” IMPLANTAÇÃO ESC 1-500 0
5
10
O terreno onde hoje reside a escola pública infantil do “Pegorarinho” tem importância vital para a reconexão dos habitantes do Cocaia com as águas. Acontece que uma das nascentes do Córrego Reimberg Cocaia se encontra ali, embora pouquíssimos saibam. Assim, foi proposta a abertura das duas quadras externas da escola, de maneira análoga a o que foi desenhado para a atual Pegoraro. Também com arquibancadas extensas e aberta para a cidade e com uma pequena entrada direta para a EMEI, poderia ali existir uma praça cívica que indicaria a recuperação do corpo d’água atualmente enterrado. Ao longo da Rua Álvaro do Carvalhal, por onde corre o riacho, coloca-se um uso de via compartilhada. Sacrificase uma das mãos de circulação no leito carroçável para permitir que o Reimberg Cocaia corra por uma vala fechada por uma grade permeável. Dessa forma, ainda é possível trafegar pela rota mas agora pode-se também ver de fato a água antes escondida.
ILUMINAÇÃO GREENVISION
CÓRREGO REIMBERG COCAIA
FRADE BALIZADOR
DETALHE RUA COMPARTILHADA ESC 1-125
FILTRAGEM ANAERÓBIA
0
1,25
2,5
EQUIPAMENTO PROPOSTO
ARQUIBANCADA
QUADRA EXTERNA
Vê-se, nesse corte longitudinal, a proposição de marcar todo equipamento relevante com estruturas laranjas de aço eletrofundido, que é utilizado pela durabilidade e rapidez da construção.
ARQUIBANCADA
Em todo o local onde a escala permitia sua representação foram posicionados postes de iluminação com sistemas LED, chamados Greenvision. Fabricados pela Philips, permitem um grau de iluminação adequado para vias residenciais sem exigir muita altura (no caso, têm 3 metros de altura, apenas)..
QUADRA EXTERNA
FILTRAGEM ANAERÓBIA
CANTEIRO
VIA COMPARTILHADA
NÚCLEO 3 - PRAÇA “PEGORARINHO” CORTE LONGITUDINAL ESC 1-300 0
3
6
NÚCLEO 4 PORTO DE PISCINAS No fim da nossa costura urbana propõe-se uma ponte que atravessa a represa. Para tanto foi pensada uma estrutura que serviria como acesso qualificado ao reservatório e ao tabuleiro e também impediria a futura ocupação irregular das margens. Com o tempo, a ideia de uma ponte passou a se igualar a de um porto, no qual pudessem se atracar barcos, ou piscinas flutuantes.
NÚCLEO 4 - PORTO DE PISCINAS IMPLANTAÇÃO ESC 1-1000 0
10
20
COTA DE ALAGAMENTO REPRESA (747)
ILUMINAÇÃO GREENVISION
TELHA TIPO “SANDUÍCHE” PILAR DE AÇO ELETROFUNDIDO
DETALHE PISCINA FLUTUANTE ESC 1-300 HORTA COMUNITÁRIA
0
3
6
ILUMINAÇÃO GREENVISION LAJE STEEL DECK
DETALHE PONTE COM HORTA COMUNITÁRIA ESC 1-100
PILAR DE AÇO ELETROFUNDIDO
0
1
2
“E se se imagina, enfim, que o barco é um pedaço flutuante de espaço, um lugar sem lugar que vive por si mesmo, que é fechado sobre si e é entregue, ao mesmo tempo ao infinito do mar, e que, de porto em porto, de bordo em bordo, de bordel em bordel, vai até as colônias buscar o que elas guardam de mais precioso em seus jardins, vocês compreenderão por que o barco foi para a nossa civilização, desde o século XVI até nossos dias (...) a maior reserva de imaginação. O navio, essa é a heterotopia por excelência. Nas civilizações sem barcos os sonhos definham, a espionagem substitui a aventura, e a polícia, os corsários”. (Michel Foucault in De Lugares Outros, p. 121).