Ana Carolina Bispo Bruno Henrique Alvarenga Souza Fernanda Campos Cauzin Fernanda dos Santos Vieira
ESQUIZOANÁLISE: TEORIA E PRÁTICA NAS INSTITUIÇÕES
Trabalho apresentado à disciplina Psicologia e Instituições de Saúde da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Campus Coração Eucarístico.
Belo Horizonte 2013
INTRODUÇÃO Quando esse trabalho nos foi proposto, pensamos em fazer uma interligação da esquizoanálise com o trabalho feito no SUS. Essa tarefa revelou-se extremamente árdua devido à escassez de literatura trabalhando o tema. Partimos então para a tentativa de entrevistar alguns dos raros profissionais que trabalham na área da saúde pública usando uma orientação esquizoanalítica. E Também não obtivemos o sucesso almejado, por dificuldades logísticas e de força maior. Procuramos então partir para outra abordagem: entrevistamos Magda Costa, pedagoga e diretora do instituto Félix Guattari, e o Psicólogo, pós-graduando em Analise Institucional e Esquizoanálise pelo instituto, Bruno Cuiabano, com o objetivo de que esses nos esclarecessem a teoria esquizoanalítica e fizessem uma interligação com a proposta dela para diversas instituições, entre elas o SUS. A conversa de mais de uma hora se revelou extremamente produtiva e esclarecedora, fazendo com que o trabalho fosse esquematizado de forma a auxiliar o entendimento da entrevista, esclarecendo a teoria esquizoanalítica e seus principais termos e também apresentando um panorama da saúde pública no Brasil.
- ESQUIZOANÁLISE: CONCEITOS E INTERVENÇÃO O que é a Esquizoanálise? A esquizoanálise é uma proposta analítica criada por Félix Guattari e Gilles Deleuze e exposta pela primeira vez no livro em conjunto O Anti-Édipo(1972). É um pensamento muito complexo e diversificado. Segundo a definição de Gregório Baremblitt em seu livro Introdução à Esquizoanálise (1998): A esquizoanálise é uma leitura do mundo, praticamente de ‘tudo’ o que acontece no mundo, como diz Guattari em seu livro sobre ecologias, sendo uma espécie de ecosofia, uma “episteme” que compreende um saber sobre a natureza, um saber sobre a indústria, um saber sobre a sociedade e um saber acerca da mente. Mas um saber que tem por objetivo a vida, no seu sentido mais amplo: o incremento, o crescimento, a diversificação, a potencialização da vida.
Baremblitt nos diz que a esquizoanálise pode ser entendida como “um procedimento para compreender o real” (1992) e que ela compõe-se de tarefas negativas e positivas; negativas, pois se dedica a crítica e segmentação de valores dominantes; positivas, na medida em que procura favorecer o fluir da produção e do desejo em todos os aspectos da vida: biológico, psíquico, comunicacional, ecológico, etc. A esquizoanálise é uma micropolítica que pode ocorrer em todos esses campos da vida humana, e não necessariamente precisa estar atrelada a uma entidade, ao estado, mas não diz que isso não possa ocorrer. O que ela propõe é uma política que circunde os pequenos, médios e
grandes sistemas, todo e qualquer indivíduo, e que possa ser executada em qualquer lugar e tempo (Baremblitt, 1998). Desse modo, podemos pensá-la como um instrumento para interpretarmos o que está a nossa volta. Não é uma teoria, não é um conceito, tampouco uma especialidade, é uma práxis ilimitada, que não visa resultados analisáveis e capazes de serem manipulados, e sim busca coordenar ações que fujam do cotidiano e do instituído – aquilo que está dado, que possam modificar e transformar o mundo. Deleuze e Guattari fundamentaram suas ideias em vários conceitos complexos, muitas vezes apropriados e transformados de outros pensadores. A seguir vamos procurar elucidar alguns desses conceitos, ou esquizoemas segundo os autores. A produção desejante. A proposta principal da Esquizoanálise perpassa sobre a questão do desejo e da produção. Pode-se dizer que a concepção de desejo de Deleuze e Guattari é fundamentada em uma concepção psicanalítica deste. Na psicanálise, Freud trata do desejo com duas conceituações diferentes. A primeira diz de uma necessidade de busca de algo que sentimos a ausência, mas que nunca tivemos, é o desejo baseado na falta. Mas Freud também diz de um desejo puramente positivo, que não se restringe à busca de um objeto perdido, e sim numa força estabelecida no Id que leva à construção do novo e uma vontade primordial de criação. Baremblitt nos diz que, devido ao atrelamento do conceito de desejo a algo que falta, seria mais apropriado para entender o uso do conceito na esquizoanálise pensar na ideia de pulsão, ou seja, produção pulsional. A diferença é que para a esquizoanálise esse desejo (ou pulsão) não é exclusivamente psíquico, já que ele é participante de todo o real. O desejo da esquizoanálise não precisa de objeto, não obedece nenhuma lei e não precisa ser simbolizado sendo inconsciente (Baremblitt, 1992). Esse desejo é imanente à produção, ou seja, é intrínseco e inseparável desta. O conceito de produção é baseado em Marx, mas, assim como o conceito de desejo,também foi modificado e ampliado por Deleuze e Guattari. Segundo Baremblitt, Produção “é aquilo que processa tudo que existe – natural, técnica, subjetiva e socialmente. É a permanente geração de tudo que pode logo tender-se a cristalizar-se. É o devir, a metamorfose” (1992).
Ao unir esse dois conceitos, Deleuze e Guattari geram uma nova categoria de produção que abrange todas as formas de criação materiais possíveis, corporais ou incorporais, incluindo o psiquismo. Essas criações são sempre diferentes e novas. Com essa ideia, podemos dizer que o desejo na Esquizoanálise não é restitutivo no sentido de repetir um estado anterior, e sim produtivo. E a produção não é apenas mecânica social ou natural, e sim desejante. Daí surge a pedra fundamental do pensamento esquizoanalítico: o conceito de produção desejante. Com esse pensamento, podemos afirmar que a esquizoanálise tem por objetivo não controlar essas forças, e sim libertá-las para que possam sempre produzir algo novo e transformar o que está estabelecido. O instituído, o instituinte e a Utopia Ativa. Como já ficou claro, para melhor compreender a Esquizoanálise é necessário ter em mente o sentido de alguns conceitos utilizados que, se não foram criados por Deleuze e Guattari, com certeza foram adaptados e transmutados de seu uso comum pelos autores. Os conceitos de instituído e instituinte têm origem na análise institucional. O primeiro diz de algo dado que se estabeleceu devido a uma força motivadora que é o instituinte. O instituído tem importante papel no que diz respeito à regulação e manutenção social, mas deve se manter aberto ao instituinte para que possa acompanhar as transformações no devir social. No entanto, a tendência do instituído é manter-se estático, transformando-se em uma força limitadora e de contenção. Para a esquizoanálise, a produção desejante é que mobiliza o instituinte. Seu objetivo maior é permitir a manifestação dessa força e transmutação do ambiente ao seu redor. O movimento instituinte deve ser constante e orientado pela Utopia ativa. Utopia Ativa é a denominação dos objetivos e metas dessa produção desejante pensados não em um futuro remoto, mas no aqui e agora. Seus meios e fins são imanentes, portanto, inseparáveis. Superfícies da realidade. A Esquizoanálise nos diz que a realidade é composta pro três superfícies: superfície de produção, superfície de registro-controle e superfície de consumo-consumação. Cada uma dessas superfícies são inerentes umas às outras.
É na superfície de produção que se origina tudo que existe. Ela é constituída por elementos ainda em forma de energia pura, sem constituição definida. A esses elementos a esquizoanálise dá o nome de enementos. Esses enementos não têm essência definida, são puro devir, estão em constante transformação. Duas entidades compõem a superfície de produção: as máquinas desejantes e o corposem-órgãos. As máquinas desejantes estão divididas em máquinas fonte e máquinas órgão. A primeira é quem extrai da realidade outra algum fluxo energético para que a máquina órgão o corte e recomponha. O corpo-sem-órgãos é “uma espécie de plano sobre o qual se dispõem e conectam ao acaso as intensidades” (Baremblitt, 1998). A superfície de registro-controle é a organização que seleciona, aceita, captura, ou destrói e reprime a geração da superfície de produção. A superfície de registro-controle só aceita aquilo que pode incorporar sem se transmutar de forma radical. Ela prima pela manutenção do Status-quo. Na superfície de consumo-consumação é onde o que é produzido, tanto pela superfície de controle quanto pela de produção, é realizado. Esquizoanálise e intervenção institucional A esquizoanálise pode ser vista como uma visão radical e extremista dentro de um contexto de análise institucional. Ela difere totalmente, teórica e praticamente falando, de linhas como a Sóciopsicanálise e a Análise Institucional de René Lourau. Enquanto estas ainda mantêm certa proximidade teórico-ideológica com a psicanálise e o Materialismo Histórico, a esquizoanálise critica esses “monumentos ocidentais do conhecimento” e aproxima-se do anarquismo. A esquizoanálise não exige necessariamente uma organização prestadora de serviço, um solicitado que é encarregado pelo solicitante para fazer uma análise institucional, esta pode se dar em qualquer lugar e pode ser realizada por qualquer um, já que é uma forma de viver, ser e pensar, não uma disciplina ou uma ciência. Em relação ao aspecto analítico, procura entender e identificar as determinações alienantes do sistema que são responsáveis pela sujeição e escravização do sujeito.
Outro aspecto característico da esquizoanálise é a ausência de técnica e metodologia próprias. Táticas, estratégias e instrumentos são absolutamente singulares para cada situação. A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL Os movimentos sociais Para que possamos entender nosso contexto de saúde atual devemos voltar aos movimentos sociais vividos a partir da década de 70 (vamos considerar esta década como um marco, uma vez que toda a população buscou se manter ativa, ou ao menos atualizada em relação às mudanças políticas) mesmo que de maneira breve e sucinta. De 1975 a 1985 percebe-se um movimento de base, realizado nos bairros e também as articulações políticas no meio sindical realizadas pela Igreja Católica. No ano de 1975, o movimento operário de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais organiza greves, na qual participam artistas, estudantes, jornalistas, professores, buscando ampliar a luta democrática em curso. Em 1978 e 1979 a classe operária entra em cena com um movimento sindical renovado, buscando garantir sua autonomia. Durante os anos 70 podemos observar uma necessidade do povo de uma identidade coletiva. Em 1980 durante movimentos de bases e sindicais nasce o Partido Trabalhista. Em 1983 cria-se a Central Única dos Trabalhadores (CUT), surgindo para garantir que os direitos fossem cumpridos ou também para a conquista de novos direitos. Durante os anos 70, os operários, que executavam seus trabalhos de maneira precária, em péssimas condições de saúde e de trabalho, se une aos movimentos que àquela altura se estabelecia dentro das cidades, que também buscavam mudar as precárias condições de vida coletiva na cidade. Esta luta se faz para melhorar as condições de vida a que todos estavam aprisionados nas cidades. De modo geral, os movimentos sociais realizados nos 70 foram expressivos, sendo percebidos, de modo pontual como centro de saúdes, casas populares, creches comunitárias, conscientização popular, dentre outros efeitos visíveis, e de mudança mental coletiva/pessoal. Podemos perceber esta mudança de mentalidade e atitude quando caracterizamos os anos 70 como um marco dos movimentos sociais. “Movimento social é toda ação coletiva — o que implica a passagem da imobilidade ou passividade à mobilização — em que um grupo social ou uma
aliança de grupos sociais (estudantes, ou operários, ou aposentados, moradores de um bairro, setores populares, a maioria da população, grupos raciais, mulheres, etc.) busca, através de atividades de massa, conseguir um objetivo na organização social, seja defender uma situação ameaçada, seja obter algum bem coletivo (melhores salários, transportes, mudanças culturais, derrubada de um projeto governamental, mudança de governo, etc)”
.(Ivo,
LESBAUPIN
.pagina
51,
1995
link:
http://faje.edu.br/periodicos/index.php/perspectiva/article/viewFile/1175/158 2)
Durante os anos 80 é perceptível um crescente vínculo entre a comunidade civil com o Estado, na busca de fortalecer o poder democrático. No plano das ações coletivas houve uma ampliação no modo de agir, iniciando a criação de redes, conselhos, movimentos, que pretendiam ampliar as negociações entre Estado e sociedade civil. Nos anos 80, foi possível colher os frutos plantados à décadas atrás no âmbito da saúde, como as Conferências Nacionais da Saúde, publicações científicas, Congressos, manifestações, dentre outros. Nos anos 80 e 90 depois de constantes lutas, conquista-se a Reforma Sanitária de Saúde, surgindo então importantes garantias legais, com o Sistema Unificado de Saúde (SUS). Durante esse tempo, é possível perceber também diversas mudanças. “Em meado dos anos 80, esgota-se o modelo instituinte, antiinstitucionalista, da lógica consensual-solidarística (PEREIRA, William. 2008 apud DOIMO, op. Cit, p. 59).
Para que possamos entender nossa atual vivência e pensamento coletivo, foi preciso retornar às conquistas passadas, uma vez que nos mostram as mudanças no âmbito institucional, instituinte e instituído, sendo o povo (usuário do sistema de saúde, transporte público, dentre outros sistemas) àquele que fará parte de toda esta dinâmica e terá que agir sob a lógica existente. A origem do SUS No ano de 1953 cria-se no Brasil o Ministério da Saúde, com a Lei n°1.920, categorizando e dividindo o Ministério da Educação e Saúde em dois ministérios. O Ministério da Saúde passou a executar atividades que até então eram do Departamento Nacional de Saúde (DNS).
Em 1956 surge o Departamento Nacional de Endemias Rurais, tendo como objetivo investigar e combater a malária, leishmaniose, doença de Chagas, brucelose e outras endemias. Como instituições de pesquisas e ações efetivas, tivemos o Instituto Oswaldo Cruz, atuando como órgão de investigação, pesquisa e produção de vacinas. A Escola nacional de Saúde Pública servindo para formar e aperfeiçoar o pessoal e o antigo Serviço Especial de Saúde Pública que buscava demonstrar técnicas sanitárias e serviços de emergência. Nos anos 60 onde a desigualdade social era perceptível, ganhando força até mesmo no discurso sanitarista das relações entre saúde e desenvolvimento. Foi através de pesquisas em busca de planejamentos na área da saúde, buscando adequar serviço de saúde pública à realidade da população, que se formula a Política Nacional de Saúde, que buscou definir a identidade do Ministério da Saúde e iguala-lo aos avanços verificados no âmbito econômico-social. Em 1963, realiza-se a III Conferência Nacional da Saúde (CNS), com o intuito de reordenar os serviços de assistência médico-sanitária, buscando também uma nova divisão das responsabilidades nos níveis político- administrativos da Federação. Em 1967 ficou estabelecido que o Ministério da Saúde seria responsável pela formulação e coordenação da Política Nacional de Saúde. Em 1988, com a Constituição Federal, fica determinado o dever do Estado em garantir saúde a toda população e para garantir tal direito, cria-se o Sistema único de Saúde. Em 1990, através da Lei Orgânica da Saúde, faz-se o detalhamento de como funcionará o Sistema. “..Assim, o SUS foi criado para oferecer atendimento igualitário e cuidar e promover a saúde de toda a população. O Sistema constitui um projeto social único que se materializa por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros.” (portalsaude.saude.gov.br)
Atualmente, o SUS conta com diversos programas, como Saúde da Família, que busca prevenir doenças, retirando o pensamento de que solução de doença está nos hospitais; Saúde Toda Hora, que busca qualificar a gestão e o atendimento nas urgências do SUS; UPA (Unidade de Pronto Atendimento) 24 horas, que em conjunto com as Unidades
Básicas e as portas de urgências hospitalares, compõe uma rede organizada de atenção às Urgências. Estes são alguns dos programas disponibilizados pelo SUS, buscando agir de acordo com o que foi fundamentado em sua origem e sua base. Prática na saúde Além das transformações políticas citadas, podemos dizer também de mudança práticas no modelo de trabalho, seja na saúde ou na comunidade. Atualmente, há a necessidade de se realizar trabalhos transdisciplinares, ou seja, atuar de modo esquizoanalítico, visando a não valorização de uma categoria, mas sim, abarcar todos os conhecimentos úteis visando a resolução de determinada demanda. Podemos citar o trabalho realizado no Programa Saúde da Família (PSF), que segundo o Ministério da Saúde deve realizar seus trabalhos em equipe, proporcionando ao usuário um modelo mais eficaz e humanizado. O Centro de Referência em Saúde mental (CERSAM) é um local que podemos pensar e repensar nossa prática enquanto psicólogos. Nos casos de neurose e psicose, sabemos que o sujeito possui uma dinâmica e esta dinâmica mobiliza algo em sua estrutura familiar. Sendo analisada, enquanto grupo, em uma proposta esquizoanalítica, poderíamos pensar a subjetividade como um sistema complexo que se constitui não só pelo sujeito, mas também pelas relações que estabelece. Poderemos pensar em linhas duras, que seriam as profissões, camada social, dentre outros e linhas flexíveis, que possibilitam o afetamento da subjetividade, criando zonas de indeterminação (ROMAGNOLI, 2006). O CERSAM é um modo de pensar esquizoanalítico, a partir do momento, que procura entender o indivíduo não enquanto uma categoria, mas sim como um modo de funcionar, buscando não retira-lo de seu modo de viver. ENTREVISTAS Entrevistados: -Magda Heloísa Costa Sarmento. Pedagoga, Pós-graduada em Análise Institucional e Esquizoanálise. -Bruno Vieira Cuiabano. Psicólogo, Pós graduando em Análise Institucional, Esquizoanálise e Esquizodrama pelo Instituo Félix Guattari.
-João Leite. Professor de Psicologia da PUC-MG -O que é a esquizoanálise? Magda: Esquizoanálise é tudo! É um modo de ver o mundo, com outro olhar. A esquizoanálise é uma visão de mundo. Paulo Freire, por exemplo, tem tudo a ver com esquizoanálise. O modo de se enxergar o sujeito, enxergar o mundo, de ver a sociedade, de não discriminação, valorização das diferenças, essas são coisas da Esquizoanálise que são aplicáveis à educação. -Pensando no contexto educacional, de forma prática como a Esquizoanálise pode ser aplicada? Magda: Félix Guattari, Deleuze... Até eles não falam muito de educação... Um exemplo: abrir uma escola ou transformar uma escola, na esquizoanálise você fala que vai produzir algo, inventar, criar ou você vai reproduzir o que já está feito ou você vai antiproduzir. Questões da esquizoanálise: produção, criatividade e inovação. O tempo todo a gente reproduz. A roupa que se veste, costumes, valores... O capitalismo é uma forma de alienar as pessoas, as pessoas não têm o seu próprio desejo, vai seguindo pelo desejo do outro. O desejo para Esquizoanálise é bem diferente que pra psicanálise. O desejo para a psicanálise fala da falta. O desejo para a Esquizoanálise é um desejo de produção, produtivo! Se você esta produzindo algo com vontade, investido naquilo, é chamado de desejo. Desejo produtivo ou produção desejante. - E a produção desejante no contexto escolar? Magda: Tudo vem prontinho, né? Vem tudo do ministério da educação. Passa pelo ministério, pela secretaria da educação, na direção da escola, na professora. Um vai repetindo o outro até chegar no aluno que aprende também a reproduzir. Aprende a criar.
A escola teria que ser como sujeitos autônomos, que criassem as próprias condições, que não dependessem das regras, das normas. A esquizoanálise é, vamos dizer assim, romper com o instituído. Você chega a uma escola e esta lá, tudo dado, tudo certinho. Chega um professor novo, cheio de desejo, querendo investir em alguma coisa nova, ninguém topa. Querem ficar naquela de instituído, naquilo que este pronto, que não dá trabalho. Quando se começa a questionar, a querer se fazer diferente, as pessoas geralmente preferem o instituído. Mas a vida é instituinte, passam-se séculos milênios e as coisas vão mudando. O mundo hoje esta cheio de coisas instituintes, novidades. A esquizoanálise adora uma crise. Promover a crise para se sair daquilo. Para passar de instituído para instituinte. A crise é necessária para você criar outras formas de vida.A gente pode dizer que a síntese da esquizoanálise é criar outros modos de existir. Resumidamente. Se olharmos ao nosso redor, vamos ver o tanto de gente que sai do instituído e parte para o instituinte, para ter uma vida diferente, que nem sempre é fácil. Ter que se submeter às regras do capitalismo, da sociedade, da cidade. Ouvimos de algumas pessoas: “como fulano largou tudo, que loucura!”. Chamamos essas pessoas de instituintes que não se conformam com o que está estabelecido. A esquizoanálise é a favor de todas as mudanças como, por exemplo, o casamento gay. Tudo que for a favor da vida, do ser humano. Sair da rotina e criar coisas novas. - O que você acha que ainda tem pra melhorar na Educação e como a Esquizoanálise pode ajudar? Magda: A escola tinha que ser menos autoritária, reconhecer mais o papel do aluno como protagonista, pois o aluno acaba repetindo tudo que a professora faz. A professora tinha que incentivar o aluno a protagonizar, a pesquisar. Falando de sala de aula, não de grandes políticas. Mas não se faz reunião. Na hora de encontrar com a família e o aluno, ao invés de ter uma conversa, a escola só entrega o boletim, não se explica nada, não pede opinião, a família acaba ficando longe da escola. Uma mudança seria essa, a família estar junto com a escola, acompanhar. A família tem que ser muito mobilizada. A esquizoanálise esta baseada em três paradigmas: ética, estética e política.
A vida é bela, a vida é boa, a vida tem que ser libertária. Utopia ativa, participar da sociedade. - Essa utopia ativa é possível? Magda: É sim, é trabalhar o aqui e o agora, não é esperar que as coisas aconteçam. O mundo muda. -O que você poderia nos dizer a respeito do SUS. Vamos dizer que o SUS tenha sido um momento instituinte. E foi um momento instituinte, saindo daquela coisa antiga, hoje a saúde já esta chegando mais perto do usuário, já está ouvindo as bases, já esta fazendo diferente, hoje já existem os conselhos. Eu não tenho muito conhecimento sobre o SUS hoje, mas o SUS é uma historia instituinte, que dá muito certo, é democrática, libertária, promove a igualdade - todos esses valores são pregações da esquizoanálise. De consultas as bases, de não chegar com as coisas prontas, “vamos fazer uma reunião para decidir algo!” A saúde no Brasil, claro que não foi uma coisa que saiu de gabinete, houve uma discussão ampla nas comunidades e saiu um sistema belíssimo, mas agora para isso continuar sendo inovador e cada vez mais justo, cada vez mais igualitário, tem que ser incentivado. - Como funciona o Esquizodrama? Uma palavra muito importante que vocês vão ouvir muito é o “Devir”. O Esquizodrama vai trabalhar muito com o devir. O Esquizodrama vai colocar a esquizoanálise na pratica. Uma teoria de mudança, de transformação, de respeito. Na prática. De modo geral toda transformação, o como você passa de um estado para outro estado, você esta em devir, Gregório [Baremblitt] fala no devir mulher, devir animal. Tem momentos que você encara uma coisa e que naquele momento você é um animal. Com tanta força, com tanta garra que se chama devir animal. Concebe outros jeitos de ser. Bruno: Que não é uma representação do que é o animal, não é uma dramatização, mas entender o que desse animal faz parte dentro de você, que se pode expressar e colocar para fora. É uma maneira de trazer esse animal pra si e se expressar a partir dessa realidade, não só o devir animal, mas todos os devires possíveis. -Então isso faz da gente uma miscelânea de coisas?
Bruno: É... Somos multidões, não somos uma pessoa só. Dentro da gente existem etnias, raças, idades, sexualidades, tempos, espaços, é uma maneira bem complexa de se entender o ser e a realidade. -O que é o Esquizodrama de forma prática? Bruno: O Gregório escreveu as dez proposições descartáveis acerca do Esquizodrama. É uma prática que vai exigir das pessoas que fazem parte, diversos devires e vai exigir uma liberdade de colocar a subjetividade de cada um, vai exigir de todos a autoanálise e autogestão desse grupo e dessa proposta que vai o tempo inteiro se transformando. É um processo que normalmente acontece em grupo, mas pode acontecer individualmente também. E normalmente acontece se utilizando do corpo como material, como objeto de transformação de si e do meio. Cada um traz a sua experiência de vida e traz as suas técnicas, seus recursos para implementar esse devir esquizodramático. Existe o psicodrama que é uma atualização de papéis, um entendimento de como que você representa algo que esta acontecendo com você, numa situação dramática, numa cena. E o Esquizodrama é algo além desse psicodrama, não é representativo, não é através de uma dramatização, ele “brota”. Magda: Geralmente tem um grupo de pessoas, em um espaço adequado, um espaço mais livre, se utiliza de vários dispositivos, um deles é a música. Bruno: Palavras, gestos, as luzes, sons. Está aberto para quem quiser trazer algo de diferente e como que isso que é diferente faz repercutir no grupo alguma coisa, uma reação que se transforma. Está aberto a mil possibilidades e devires que normalmente ultrapassam essa representação de uma cena, de um papel, de uma situação. -Parece que tem uma relação muito estreita com a arte! Bruno: Com certeza! Magda: Arte o tempo todo! Em todos os momentos. -Se pensarmos que a produção literária, por exemplo, seria ele deixando vir esses devires, colocando no papel? Bruno: Falando de produção desejante, desejo produtivo, como é que é pensar esses fluxos desejantes pra se pensar uma produção? O desejo enquanto produção e a
produção enquanto desejo. Pensando dessa maneira no desejo de produção não existe falta, esse desejo não só está dentro da gente, mas está em todos os lugares e está em todas as maneiras possíveis de se produzir, tanto na arte, quanto em diversos outros campos de saberes, de produzir. Então nessa ideia de produção nunca vai existir falta. A Esquizoanálise é uma arte, mas a arte não define a Esquizoanálise. Ela é uma ciência, mas a ciência não a define, é filosofia, mas a filosofia também não a define. Ela pega um pouco de cada. Baremblitt fala que está muito mais próxima de uma arte vida, de uma proposição política e artística do que qualquer outra proposição. Do que uma proposição acadêmica, filosófica ou cientifica. É pensando na arte do cotidiano, como se entender o cotidiano de outras maneiras, com outros pontos de vista, outros olhares e como traduzir e transformar esse cotidiano diante desses olhares diferentes que tem um “quê” de estético em tudo. -O que você tem a falar sobre a esquizoanálise no SUS? Bruno: Não posso dizer com propriedade, pois nunca trabalhei no SUS, mas o que posso dizer é que o SUS de certa maneira tem um pensamento esquizoanalítico na sua maneira de propor, de funcionar. Mas agora o que se faz com isso já é diferente. Existem alguns esquizoanalistas no SUS, no CERSAM que tem esse pensamento, uma maneira de entender a saúde mental a partir desses pressupostos. Eu acredito no trabalho dessa maneira, que se você pegar o doente mental e colocá-lo numa caixa, a partir de certos parâmetros e prismas que acabam fechando ao invés de abrir, isso vai dificultando o trabalho. Magda: Quando a psicanálise fala que o esquizo, o paranóico são modos de funcionar das pessoas... Cada um funciona de um jeito. Se você fecha, anula, afasta, você esta tirando vida dessa pessoa. Bruno: A esquizoanálise tem um conceito de transversalidade, ou seja, você não vai simplesmente trabalhar em equipe, cada um com a sua especialidade, mas fazer com que essas trocas sejam bem mais intensas entre um profissional e outro, de uma maneira bem radical, de eu não fazer somente uma prática, mas entender a sua prática e também experienciar a sua prática, dela fazer parte de um corpo, da equipe poder trocar essas
praticas o tempo inteiro, não somente as ideias, mas as práticas. E como que essas práticas em troca podem ajudar o doente mental ou o doente do SUS. -Como você enxerga a politica governamental? Magda: Existem duas realidades que eles chamam de realidade macro e realidade micro. A política como nós a vemos, nesse sentido é uma ação macro, macropolítica. Se você sai desse modelo macropolítico e vai fazer política no seu bairro seria uma micropolítica. Tudo que está estabelecido é macro, se você faz algo que muda a estética, a arte, as pessoas, que têm devires, você se recicla. Uma palavra ótima para a esquizoanálise: reciclagem. E muito mais fácil você fazer mudanças na porta da sua casa, fazendo seu papel de cidadão do que entrar em um partido político e acabar virando um corrupto. Bruno: Isso tem ligação com os conceitos dentro da Analise Institucional, o que é macro para a esquizoanálise na análise institucional é como se fosse esse conceito de instituído, tudo que já está instituído e que se mantem, que não se transforma. E o que é micropolítica esta mais próximo do que a gente pode pensar na análise institucional de instituinte. O que chega transformando, o que chega propondo coisas novas, o macro e o micro não se dão de maneira separada, precisam um do outro pra formar essa realidade que esta o tempo inteiro em transformação. O instituinte vai sempre precisar do instituído para poder se traduzir enquanto instituinte, um não vai ficar sem o outro. A gente percebe que o SUS tem algo de instituinte na sua maneira de propor, nas suas leis, nas suas práticas, nos profissionais que fazem parte e algo de instituído também, porque a partir do momento que existe uma lei, dada, formada, e que é muito difícil de transformá-la, é só a partir de muitos processos de instituintes que vão fazer essas leis do SUS se transformarem. Profissionais que não têm o pensamento mais amplo, pra se entender a saúde e a doença em relação ao SUS, ou seja, o SUS tem instituído e instituinte, tem macropolíticas e micropolíticas ao mesmo tempo. -Qual a sua visão sobre o psicólogo de acordo com a esquizoanálise, o que ele pode fazer para ajudar na instituição, como o SUS? Bruno: Esse curso tem aberto minha cabeça pra eu pensar uma clínica mais nômade, uma clínica que não se dá só entre quatro paredes, uma clínica que é uma
clínica desviante, que não entende o cliente a partir de certos pontos de vistas que vão se manter, uma clínica que se
abre pra outros devires, pro devir teatro, pro devir
Esquizodrama, pro devir Acupuntura, que no meu caso, eu sou Acupunturista também, é entender a pessoa de uma maneira integral e como fluxos desejantes ali o tempo inteiro. Como é que é uma clínica que trabalha a periferia, que trabalha o desvio, que trabalha o nomadismo, o não estar no mesmo lugar. O pensamento de não manter uma abordagem apenas, e se especializar nessa abordagem e estar aberto para um pensamento mais amplo a respeito do que você possa fazer com seu cliente. -Qual a maior critica que você tem à Psicologia hoje? Bruno: É essa maneira fechada de se entender o ser humano e as suas relações. Eu não me digo esquizoanalista, e, pra falar a verdade, eu não me digo nem Psicólogo, isso não me define. Me formei em Psicologia, mas isso não me define. Eu trabalho com essa multiplicidade, eu estou enquanto na relação com outra pessoa, enquanto uma pessoa que tem cuidado com a outra pessoa, que quer escutar o que o outro tem a dizer, mas a priori não pautado por uma teoria, nenhum método, nenhum recurso que eu vá utilizar antes de entender o que está acontecendo. -PROFESSOR JOÃO LEITE Sobre a atuação da esquizoanálise no SUS, qual o seu ponto de vista? João Leite: Vou dar o meu ponto de vista, já que, no trabalho da área da saúde há muitos anos, a questão é a seguinte: A esquizoanálise é uma proposta filosófica do Deleuze e Guattari que, de certa maneira, impactou e influenciou uma serie de campos do conhecimento, inclusive o campo da saúde. Agora, de acordo com minha interpretação, em Minas , com a vinda do Baremblitt e a publicação do seu livro Com pêndio de Análise Institucional, onde ele colocou a esquizoanálise como uma abordagem de intervenção psicossocial, muita gente aqui embarca nessa. Eu acho isso equívoco. Muitas pessoas se apresentam como esquizoanalistas, trabalham com
esquizoanálise,
mas
os
próprios
Deleuze
e
Guattari
não
se
apresentavam assim, não faziam esse tipo de trabalho de intervenção, o Guattari trabalhou e morou em um hospital ps iquiátrico, o La Borde, e ele fazia algumas intervenções e etc., mas ele não tinha “aquela coisa” de dizer:
Estou fazendo esquizoanálise aqui. Aideia não é essa, a proposta é muito mais uma lógica filosófica do que uma abordagem de intervenção psicossocial. Agora, aqui em BH, muita gente se apresenta dessa maneira, eu acho que muito influenciada pelo tipo de leitura que o Baremblitt fez. Mas, por exemplo, eu fiz doutorado com a Sueli Rouni k, que foi quem trouxe Guattari ao Brasil e traduziu grande parte da obra dele, trabalhou com ele na França. Era próxima do Deleuze e tudo mais. E la nunca se apresentou
como
esquizoanalista
ou
disse
“eu
trabalho
com
a
esquizoanálise”. Inclusive, ela se apresenta até hoje como psicanalista. Como você, um profissional da área da saúde coloca a esquizoanálise em suas práticas? Talvez o livro que mais me impactou em toda minha trajetória foi o “Anti-Édipo”. Deleuze e Guattari consideram que o livro mais importante deles é o “Mil Platôs”, mas eu acho o “Anti Édipo” um livro extraordinário. Eu era, inclusive, psicanalista. Estava fazendo mestrado em filosofia e o meu professor propôs que agente apresentasse o livro do “Anti Édipo” e ficou a situação de ele ser uma pessoa que estudava Lacan e tal, e na apresentação ele defendia a psicanálise, e eu, ao invés de defender, também falava: não, mas isso que eles estão falando tem a ver. Então, talvez tenha havido essa influência de primeiro eu me afastar da psicanálise, então eu não tenho essa preocupação se o que eu estou fazendo tem a ver ou não com a psicanálise ou com o que for. Mas eu acho que o contato com a obra do Deleuze e Guattari impactou muito no meu trabalho. Para ser sintético, eu acho que uma grande contribuição, tanto deles quanto de Foucault, é apresentar que a realidade é um estado misto, e você não deve operar em uma linearidade causa e efeito, seja pra você pensar o que está gerando a situação, seja pra você pensar alternativas de intervenção. Então você tem uma pluralidade nas gerações das situações e você tem uma pluralidade nas alternativas de intervenção. Eu acho que a obra deles me tornou menos apegado a abordagens estritas e estreitas. O Deleuze usa a expressão de um ”empirismo superior”. Em geral, na formação se combate muito o ecletismo, eu acho que tem um tipo de ecletismo que é muito complicado porque é uma abordagem frouxa de muitos autores, onde você faz uma salada de frutas mal preparada. Mas eu sou plenamente favorável a uma perspectiva Plural nas intervenções. Entendendo assim, por exemplo, se eu recebo um paciente eu tenho clareza que eu tenho uma função ali, como psicólogo junto a ele, mas ele pode se beneficiar muito,
inclusive do ponto de vista da saúde mental, fazendo o Lian Gong, que é uma pratica desenvolvida no serviço de saúde, uma ginástica oriental, etc. São tudo conclusões que fui chegando atravessando pela obra. Pacientes de saúde mental graves às vezes desenvolvem vínculos com pessoas na unidade. Às vezes é o vigia, às vezes o auxiliar de saúde. Então eu passei a incorporar estas pessoas no contexto do tratamento de alguns pacientes, como por exemplo, conversando sobre o caso, geralmente o próprio profissional me aborda: “fulano de tal está bem” ou “está mal”, aí você percebe o vínculo e eu estendo isso, já utilizei inclusive para acessar pacientes em momentos que eu achava que o acesso deles era mais interessante que o acesso feito por mim, então eu acho que esta liberdade de pensar estrategicamente é uma influencia da obra deles. A questão é uma influencia maior da leitura e da concepção que mais propriamente uma forma de você criar uma abordagem. Você vê barreiras institucionais ou políticas nas suas intervenções? Não. Pelo contrário, eu acho que a saúde coletiva, se você fizer uma revisão bibliográfica colocando Deleuze e Guattari nos artigos de saúde coletiva, vão perceber que eles são razoavelmente citados e utilizados. A saúde coletiva já tem essa cara meio híbrida. Ela é uma tentativa de superação do modelo biomédico a partir das contribuições das ciências humanas em geral. Então a saúde coletiva acolhe essa pluralidade no contexto da intervenção, ela não é apenas uma intervenção farmacológica ou biomédica, mas é uma intervenção plural, então eu acho que tem até muita compatibilidade. Eu tenho dois colegas que fizeram um trabalho da ”A Política Nacional de Humanização” que foi conduzido por uma colega da Psicologia, que trabalha muito com Deleuze e Guattari que foi a Regina Benevits, então se você pegar a ideia da política, a ideia da transversalidade, tem uma série de ideias e conceitos tirados da obra do Deleuze e Guattari. É claro que isso não significa dizer que a política de humanização na saúde é uma esquizoanálise, não se trata disso, mas a influencias das contribuições desses autores estão claramente colocadas lá. Eu acho que talvez tenha sido o ponto de maior evidência no campo da saúde, da influência direta. Agora a saúde coletiva vem de um discurso muito marxista inicialmente, mas depois quando ela foi se abrindo para outros autores como Foucault, até mais que Deleuze e Guattari, pois ele esteve no Brasil, tem uma discussão mais incisiva no campo da saúde. Eu acho que tem essa similaridade de saúde coletiva e essa perspectiva mais ampliada que eles propõem.
E a questão da produção desejante no SUS ou na área da Educação? São questões conceituais. A tradição nossa, e não é só da psicanálise, é uma tradição cristã, é de pensar o desejo como falta, tradição platônica cristã, e aítem essa primeira inovação deles: o desejo é produção, é realização. Então eu vou me inspirar no trabalho de outra pessoa que não tem nada a ver com a esquizoanálise, mas que contribui. Ela faz uma análise da relação do público e do privado em relação à saúde no Brasil, ela vai dizer que a população brasileira não deseja um sistema único de saúde. CONCLUSÃO O trabalho foi de suma importância para o grupo. A pesquisa teórica nos proporcionou maior compreensão do que é a esquizoanálise, seus termos e conceitos, e também uma contextualização da saúde pública no Brasil. Mas o que devemos ressaltar de mais importante é sem dúvida o diálogo empreendido com os membros do Instituto Félix Guattari, que nos proporcionou uma visão de mundo completamente renovadora e empolgante. A Esquizoanálise apresentou-se para nós como um ideal de vida, algo a ser buscado. Sem dúvida pudemos finalmente ter algum contato real com essa linha de pensamento, e só por isso o trabalho já valeu a pena. REFERÊNCIAS BAREMBLITT, G. Compêndio de Análise Institucional. Rio de Janeiro, Rosa dos Tempos,1992. BAREMBLITT, G. Introdução à Esquizoanálise. Belo Horizonte, Inst. Felix Guattari, 1998. PEREIRA, William César Castilho. Nas trilhas do trabalho comunitário e social: teoria, método e prática- Belo Horizonte : 3ed. Vozes: PUC MINAS 2008. ROGMANOLI, Roberta Carvalho. Famílias na rede de saúde Mental: Um breve estudo esquizoanalítico. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 2, p. 305-314, mai./ago. 2006.