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mOCHILEIROS A MOCHILA É MINHA CASA. O MUNDO, MEU QUINTAL Dezembro de 2010
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Sabe o que é
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MOCHILÃO?
PRAGA O rio Vltava sempre admirou a cidade, agora é a sua vez
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PERU Machu Picchu e outras cidades próximas continuam a encantar
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BRASÍLIA Conheça a capital do seu país por prazer e não por obrigação
Ano 1 | Nº 0 | R$10 - Editora XXX
Independência e economia são duas características desse tipo de viagem. Está esperando o que para colocar uma mochila nas costas?
MOchileiros.A. A MOCHILA É MINHA CASA. O MUNDO, MEU QUINTAL
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ROTEIRO
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BEM-VINDO! 06 Editorial O editor dá a partida a esta jornada 07 Viajantes da Edição Veja quem preparou sua revista deste mês
FIQUE LIGADO! 16 Você Sabia? O perfil dos mochileiros 17 Barbada e Roubada Puerto Madero e La Boca, em Buenos Aires 18 Vale a Pena Conferir Pontos de cultura no centro de Porto Alegre 22 Dentro da Mochila Antes é preciso escolher a companheira de viagens 26 Esporte Trekking não é apenas caminhar
COMUNIDADE BACKPACKER 08 Carimbado Eles já conheceram o Salar de Uyuni, na Bolívia 10 Cidadão do Mundo Jonas Schwertner é um 12 Aconteceu Comigo Viajar de carona pode ser uma ótima experiência
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30 MOCHILÃO
COLUNAS 56 Na Plataforma Verônica Farias fala sobre e para mochileiras 57 Mochileiro GLBT Harley Flausino dá dicas de como escolher um bom destino 58 Viajar É... O Mochileiro Peregrino, Gabriel, conta suas experiências
Definições, história, características da modalidade e dos praticantes – e suas diferenças: uma forma alternativa de viajar DIÁRIOS DE BORDO 38 Brasil Brasília – pelo menos uma vez faça turismo cívico, na capital do seu país 43 América Peru – quando for a Machu Picchu, visite também outras cidades próximas 48 Europa Praga – descubra a capital tcheca pelos olhos de quem a visita pela primeira vez
53 Patrimônio da Humanidade O Parque Nacional do Iguaçu é um tesouro brasileiro 54 TOP 10 Hospede-se nos melhores hostels do mundo
ENTRETENIMENTO 60 Música Trilhas sonoras de filmes para suas viagens 61 Cinema Encontre-se em meio à selvagem natureza 62 Literatura Guias de viagem e “Meu pé que me leva pelo mundo” 63 Web 2.0 Viaje por bons sites, blogs e vídeos
66 Let’s Parler Ein Lengua! As principais frases em inglês, espanhol e francês
NA CAPA: O nosso Mochileiro Peregrino contempla o mundo por cima das nuvens, no Pico dos Marins (SP)
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Águas Calientes, Peru (p. 45) Arequipa, Peru (p. 44) Budapeste, Hungria (p. 55) Buenos Aires, Argentina (p. 17) Cardiff, País de Gales (p. 55) Cracóvia, Polônia (p. 55) Cusco, Peru (p. 44) Florença, Itália (p. 54) Lisboa, Portugal (p. 54) Machu Picchu, Peru (p. 45) Nasca, Peru (p. 43) Praga, República Checa (p. 48) Puno, Peru (p. 44) Riga, Letônia (p. 55) Salar de Uyuni, Bolívia (p. 8)
Exterior
Q Brasília, DF (p. 38) Q Foz do Iguaçu, PR (p. 53) Q Porto Alegre, RS (p. 18)
Brasil
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Cardiff
• Riga •Praga • Cracóvia • • Budapeste Florença • Lisboa •
MOCHILEIROS ESTE MÊS
Machu Picchu Águas Calientes Cusco Brasília Nasca Puno Arequipa Foz do Iguaçu Salar de Uyuni Porto Alegre Buenos Aires
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POR ONDE PASSARAM NOSSOS
AO REDOR DO MUNDO
CARTA DO EDITOR
POR BRUNO DANTAS O EDITOR
A
A PARTIDA
o famoso filósofo e alquimista chinês, Lao Tsé, é atribuída a frase: “Uma viagem de mil milhas começa com o primeiro passo”. Mesmo dita, provavelmente, há vinte e oito séculos atrás, nada mais atemporal. Em algum momento é preciso começar, dar a partida, ter a coragem para iniciar algo – seja uma nova etapa na vida, um projeto, uma mudança, uma viagem e, até mesmo, uma revista. A potencialidade para se criar uma publicação de turismo voltada para o mochileiro brasileiro sempre existiu, e o público nunca esteve tão interessado em uma revista que atendesse às suas necessidades específicas. Bastava apenas um pouco dessa coragem para iniciar esta empreitada. Na verdade, foi necessária muita coragem e dedicação. Para dar início à nossa amizade de longa data (espero ouvir “Améns!”), buscamos a melhor equipe possível para trazer notícias quentinhas de outros recantos do nosso mundão. Vana Gwen, por exemplo, ainda nem se recuperou direito do encanto que foi conhecer a Europa, e já teve de tomar a difícil decisão sobre qual cidade relatar em seu diário de bordo. Escolheu a surpreendente Praga. É importante dizer que Londres foi uma forte concorrente – quem não se apaixona pela capital inglesa? Em nosso continente, Machu Picchu pode parecer destino “batido”, entretanto, cada mochila que passa por aquelas ruínas volta cheia de perplexidade com a magia do local. Mais do que o famoso ponto turístico, outras importantes cidades peruanas estão presentes no diário de bordo de Jonas Schwertner. Tive o prazer de poder lhe apresentar minha cidade natal e residência: Brasília. A escolha se deu pelo fato de nossa capital não ser tão valorizada quanto as de outros países. Reconhecendo as limitações geográficas e turísticas, busquei apresentar a essência daqui e instigar a vontade de conhecê-la assim que possível. Obviamente, não poderíamos dar início a uma revista sobre mochilão sem explicar o que é essa modalidade de turismo e quem são seus adeptos. Ainda desconheço exatamente o porquê você adquiriu esta revista (se puder me enviar um e-mail contando, gostaria muito de saber!), mas, provavelmente, por um dos dois motivos: ou você já é mochileiro e procura informações específicas para suas viagens, ou você gosta de viajar e se interessou pela revista, mesmo sem saber exatamente quem são esses tais de “mochileiros”. Para
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Mochileiros S.A. | Dez 2010
discutirmos sobre mochilão com os já (pouco) inteirados no assunto e apresentar essa nova forma de viajar aos (ainda) turistas é que preparamos essa reportagem. Não poderia deixar de agradecer a todos os outros colaboradores, que se dedicaram com afinco para que este projeto se tornasse realidade. Esta revista, que você, leitor, tem em mãos, é fruto de muita pesquisa, trabalho e tempo, envolvendo inúmeras pessoas – algumas você sempre verá por aqui, enquanto outras nos presentearão com seus textos apenas em uma edição. Cada mínimo detalhe foi feito pensando em você, no que busca e está interessado em saber. Como disse, este é apenas o primeiro passo, porém, o restante das mil milhas está convidativo à nossa frente. Agora, precisaremos de sua ajuda para seguir adiante, com passos mais seguros e certeiros, cada vez mais fortes e determinados, rumo à excelência. Talvez, por diversos motivos, você ainda não possa conhecer as maravilhosas paisagens que lhe apresentaremos nesta e nas futuras edições da revista, e somente “viaje” pelas páginas de nossa publicação. Talvez, por enquanto, não tenha coragem de colocar uma mochila nas costas e de botar o pé na estrada. Talvez, pense como o personagem Duc des Esseintes, do livro À Rebours, de J.K. Huysmans, publicado em 1884, que diz em certa passagem: “De que adianta a movimentação quando uma pessoa pode viajar de modo tão fantástico sentada numa poltrona?”. Sim, nós queremos que você “viaje” em sua casa, porém, mais do que isso, queremos que algum dia você visite esses lugares pessoalmente. Se você realmente deseja vivenciar o que o mundo tem a lhe oferecer, não desista. Como disse Amyr Klink: “Um dia é preciso parar de sonhar e partir”. A partida foi dada. Nós, da MOCHILEIROS S.A., queremos mostrar que todos podem fazer parte dessa “Sociedade Alternativa” (e, até o presente momento, mas não por muito tempo, quase Anônima). Quer saber como? Passe às próximas páginas! Despeço-me neste primeiro editorial ao som de Encontros e Despedidas, na voz de Maria Rita: “Mande notícias do mundo de lá / Diz quem fica / Me dê um abraço, venha me apertar / Tô chegando / Coisa que gosto é poder partir sem ter planos / Melhor ainda é poder voltar quando quero”. Volte sempre! Esta revista é sua!
E-mail: bdmo2005@gmail.com
Jonas Schwertner O Cidadão do Mundo do mês também é nosso repórter no Diário de Bordo da América. Ou o contrário. Temos que dizer que ele nos deu trabalho: escolher as 10 fotos para o Cidadão do Mundo foi uma tarefa difícil, e editar o diário, não mais fácil. A capital do Peru, Lima, ficou para uma próxima vez.
Harley Flausino Assumir-se gay para familiares e amigos é uma situação muito delicada. Mostrar o rosto em uma revista como tal, um passo além. Harley, com toda a coragem, está à frente da nossa coluna Mochileiro GLBT, e diz que os homossexuais têm de saber onde é possível demonstrar sua sexualidade (ou não).
Verônica Farias Tudo o que fazemos na vida é resultado de alguma influência. Todo mundo é um pouco influenciador e influenciado, alguns mais um do que outro. Verônica (Verô para os íntimos), com toda sua experiência, já levou várias pessoas a se tornarem mochileiros. Inclusive nosso editor. Esperamos que vocês, leitoras, sejam as próximas.
Gabriel Peregrino Não fazemos nada sozinho, muito menos uma revista. O Gabriel chegou até nós porque soube, pela internet, que “precisávamos de ajuda” e, assim, sem buscar nada em troca, se ofereceu para ajudar nossa publicação. Agora, como nosso colunista, você pode ler o seu texto em Viajar é...
aPARTICIPE! Você, leitor, pode participar da nossa próxima edição da revista Mochileiros S.A.: 1 Entre no nosso site Mochileirossa.com.br e nos envie seus vídeos, textos e fotos; responda a nossas enquetes; e comente o que achou da nossa última edição. 2 Você também pode comentar, dar sugestões ou fazer suas críticas sobre nossa última edição por e-mail (mochileirosa@ gmail.com) ou pelo Twitter (@mochileirossa). 3 As editorias Carimbado, Cidadão do Mundo e Aconteceu Comigo são feitas por você, além da colaboração na editoria TOP 10. Você pode participar enviando suas fotos e indica-
Z ESCLARECIMENTOS
• As imagens enviadas para nossa redação devem estar alta qualidade e ser JPEG. Os textos devem estar em arquivo Word ou no corpo do e-mail. E os vídeos devem estar postados no Youtube. • Não garantimos que todos os textos, imagens e vídeos serão divulgados na revista ou no site. Contudo, todos os e-mails serão respondidos por nossa equipe de Atendimento ao Leitor. • Os endereços de sites estão simplificados. Adicione “www.”, caso a página não abra. Na hora de digitar, todas as letras devem estar em minúsculo.
ções (no final do Carimbando e TOP 10 nós informamos o tema da próxima edição) ou seus textos e crônicas, contando alguma história engraçada, lição ou tragédia que tenha passado em algum de seus mochilões. 4 A partir da próxima edição, vamos ter a editoria E Agora?. Caso tenha qualquer dúvida sobre mochilão, destinos e viagens, de um modo geral, você pode nos enviar sua questão. Um dos nossos jornalistas irá responder.
• Os valores informados nesta edição devem ser checados por site ou telefone diretamente com a empresa que fornece os serviços, já que eles podem ser alterados sem aviso prévio. • O mês em que foi feita a conversão das moedas é explicitado junto ao valor. • Nos serviços: 1p = 1 pessoa; C. = calle (rua, em espanhol). • Todas as despesas das viagens foram pagas por nossos repórteres e colaboradores.
mOCHILEIROSA. S.
Diretor de Redação: Bruno Dantas Redator-chefe: Bruno Dantas Diretora de Arte: Camila Araújo Editor-chefe: Bruno Dantas Repórteres: Gabriel Mochileiro Peregrino, Harley Flausino, Jonas Schwertner, Vana Gwen, Verônica Farias Designer: Camila Araújo Revisores: Felipe Neves, Liliane Machado Colaboraram nesta edição: Cidilan da Apresentação, Daniel Rockenbach, Marcelo Gustavo, Mariana Belaunde, Matheus Toscano, Pã Marangoni, Rafael Perrone, Rodolfo de Souza e Roberta Zadonai. Orientadores de Redação: Liliane Machado Orientadores de Editorial: Liliane Machado Orientador de Design: Felipe Neves Diretora de Publicidade: Camila Araújo Agradecimentos especiais: Aos professores Rafiza Varão e Lunde Braghini. Aos entrevistados – Alexandre Grosso, Bárbara Pereira, Cláudio Vieira, Odir Züge Junior, Rafael Jayms, Sinei e Zizo Asnis. E às pessoas que de alguma maneira contribuíram para a realização desta edição – André Martins, Angélica Rangel, Charlie Prothero, Gosia, Ines, Jarrod, Luiza Campello, Marcio Feira, Marta Regina, Miguel Cruz, Tiago Venancio e Vera Lúcia.
VIAJANTES DA EDIÇÃO
Vana Gwen Uma mulher corajosa. No mínimo, determinada. Mesmo sem companhia, Vana fez seus dois últimos mochilões sozinha. Bem, ela saiu do Brasil sozinha. Querida e divertida como só ela, impossível não fazer amizade em qualquer lugar deste mundão. Exemplo para outras mulheres temerosas, ela fala sobre sua paixão por Praga.
CARIMBADO
SALAR DE UYUNI – BOLÍVIA A maior planície salgada do mundo é um dos principais atrativos da Bolívia. Seja “flutuar no céu”, no período de chuvas, ou ser um pontinho na imensidão branca, todos querem uma foto naquele salar. Alguns leitores tiveram esse privilégio e nos apresentam suas fotos em meio às estimadas 10 bilhões de toneladas de sal.
Pã Marangoni
Mariana Belaunde
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ariana Belaunde voltou da Bolívia há pouco tempo e nos dá algumas dicas: “Turismo na Bolívia é um pouco complicado quando se trata de organização e luxo. Uyuni é uma cidade muito pequena e, por ser tão alta e cercada por sal e areia, faz muito frio e não há muitas opções de estadia com aquecedor nos quartos. É importante ir com tempo sobrando, pois pode acontecer dos campesinos (camponeses) estarem em greve e bloquearem a estrada até o Salar, ou, pior, não ter combustível para o jipe da agência de turismo que você contratar. Em julho, é possível encontrar gente de todas as partes do mundo, 8
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Marcelo G.
Matheus Toscano
e isso torna o passeio ainda mais incrível. Nessa época do ano também é importante levar roupas quentes e confortáveis, beber muita água e andar sempre com algum lanchinho pra recuperar as energias. Em geral, não se gasta muito. Há opções de passeios de um a quatro dias, que custam entre 25 e 180 dólares e incluem almoço, guia, transporte e, no caso de dois ou mais dias, estadia”. O Salar muda de paisagem dependendo da época do ano, Pã Marangoni comenta sobre essa diferença: “Infelizmente, não pude visitar o local na temporada de chuvas (de dezembro a abril), quando o Uyuni vira um imen-
so espelho d’água (como na foto do Marcelo Gustavo), mas em julho é possível pegar as lagunas (lagoas) congeladas. Foi o lugar mais louco que visitei! A noite mais fria fez -22°C”. Para “flutuar” como o Matheus Toscano, ele dá a dica: “Coloque a câmera no chão, como se ela estivesse no pé de quem está tirando a foto, só que um pouco virada para cima. Pule e tente encolher o máximo a perna, para ficar o mais longe possível do chão. Tem que tentar algumas vezes até ficar boa”. v w Próximo carimbo:
CINQUE TERRE – ITÁLIA
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CIDADÃO DO MUNDO
JONAS SCHWERTNER tem 29 anos de vida e já conheceu 33 países. Seu primeiro mochilão ocorreu aos 20 anos, nos Estados Unidos. A Alemanha foi o local de que mais gostou. Até o final de 2010 pretende conhecer mais quatro países. A meta para 2011 são 20 novas nações visitadas. Ele é um verdadeiro cidadão do mundo!
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ACONTECEU COMIGO
CRÔNICA
POR DANIEL ROCKENBACH
PODEMOS DEPENDER DAS PESSOAS
Laguna Hija – El Chaltén, Argentina
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om, assunto delicado e que me instiga uma vontade imensa de começar a escrever: pessoas. E isso foi uma das coisas que nos inspirou (eu e minha namorada) a tentar cruzar a Argentina rumo ao “fim do mundo”. Assunto delicado e que me instiga uma vontade imensa de começar a escrever: pessoas. E isso foi uma das coisas que nos inspirou (eu e minha namorada) a tentar cruzar a Argentina rumo ao “fim do mundo”. Uma vez li em Linha-D’Água, de Amyr Klink, que toda viagem começa com a definição do dia de partida. Mas ainda acho que começa antes, quando estamos escolhendo o destino. O destino é a escolha mais complicada, porque, sendo um amante de viagem, todo lugar é válido, todo lugar tem uma cultura diferente e pessoas “esquisitas” que vão te transformar a cada palavra, ou até mesmo mímica. Se tu já assististe ao O Último Rei da Escócia deves te lembrar que, no início, o rapaz gira o globo e o pára com o dedo, apontando seu destino. Mas nem mesmo assim ele ficou satisfeito com o primeiro lugar indicado, tendo que girar uma vez mais, levando o dedo mais ao sul. Sempre quis fazer isso, mas temos fatores que nos prendem e nos limitam a alguns destinos: língua, coragem, tempo, disposição, distância e, talvez o principal, dinheiro. O dinheiro era pouco, porém o tempo estava a nosso favor e estávamos dispostos a aproveitar, praticamente, três meses viajando. Agora, o que fazer com tão pouco dinheiro 12
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em tanto tempo? Um antigo sonho em comum começou a virar nossas mentes para o sul, tentando enxergar o final da América. Eis que surge a pergunta: Até onde chegaremos se dependermos das pessoas que cruzarmos no caminho? Pensamos em carona, hospedagem e ajudas diversas. Eis um fator que ajudou a trilhar nosso destino e decidirmos ir ao sul: a trivial prática da carona na Argentina e Uruguai. A verdade é que nos encontramos em Buenos Aires, no dia 30 de dezembro, para dar o primeiro passo juntos. Dali, saímos de ônibus. Veja bem, na Argentina é fácil conseguir carona, mas não tente isso na saída da Capital Federal, pois o estará fazendo em “São Paulo” e lá também existe violência. Tomamos um ônibus até Bariloche e, a partir dali, começamos com “o dedo”. Um mês depois, estávamos mudos e inoperantes frente aos Glaciares e, umas semanas depois, estávamos lá: olhando para aquela infinidade de mar, em frente ao Canal de Beagle, buscando, no tremular do oceano, palavras para agradecer cada ato gentil de cada um que nos empurrou rumo ao sul. Afinal, já foram 3.000 km rodados em carros estranhos, com pessoas “esquisitas”. Mas, e a descida, foi tranquila? No começo, sempre há uma intranquilidade na beira da estrada, esperando que o carro não seja de um psicopata. Mas isso só dependerá de ti, do teu estado de espírito e da tua cabeça. Eis a pergunta chave: O que tu estás esperando ali? Claro que, como de praxe, cansamos de escutar: “Mas
“O dinheiro era pouco, porém o tempo estava a nosso favor e estávamos dispostos a aproveitar, praticamente, três meses viajando.” e os argentinos, eles odeiam os brasileiros! Como foram tão prestativos com vocês?” Se há alguma paixão nos hermanos, essa paixão é a hospitalidade. Seja ela com brasileiro, boliviano, chileno ou inglês (sim, já vi inglês andando de carona lá), apesar das Islas Malvinas “serem argentinas”. Estávamos tão bem tratados ao passo de entrarmos no carro: - Buen dia! Muchas gracias, che! - No, por nada! Por ahora, vamos a comer y después quiero saber por donde estuviran y adonde van! Mas bah, comer antes de se apresentar? É! E, como bons brasileiros, comemos, comemos e comemos. De Ushuaia, uma coisa nos aliviava: todos voltam! Não há mais para onde ir, então deve ser o ponto de carona mais fácil no planeta? Pois então! Engatamos um casal de jovens muito gentis e acabamos chegando na fronteira com o Chile, para sair da Tierra Del Fuego. Eles ficariam por lá. Foi então que um caminhoneiro nos embarcou até a cidade de Rio Gallegos. Era um senhor que não estava muito feliz em estar viajando à noite e, não bastasse isso, ainda colocaria duas pessoas esquisitas a bordo. Foi uma viagem a mates e pigarros. E, em meio à viagem, a noite mais difícil da jornada: acampar na beira do rípio com um vento de 110km/h. Tudo bem! Passou! Acordamos com o motor do caminhão ligando, e seguimos a Gallegos. Chegando lá, descemos, nos despedimos e o senhor foi embora. Bah! O saco de dormir da Lu havia ficado no caminhão e ele já tinha ido. Descobrimos que havia um caminhoneiro (Juan) que andava junto com ele, e fomos falar com o cidadão. Bom, alcançamos o Ector
(nome do senhor com quem viemos a Gallegos) na estrada e andamos mais 2.000 km juntos, no caminhão do Juan, de Gallegos a Las Grutas. Sim, dormimos duas noites em posto de gasolina com a barraca ao lado do caminhão. Com direito a caminhão manobrado para cortar vento e tudo mais. Foram três dias de viagem com todas refeições pagas, incluindo pizza e cerveja. Foi um dos grandes amigos que fizemos na viagem. Pois é, divino saco de dormir. De lá, fomos a Mendoza, mais ou menos, em duas semanas. Foi neste trajeto que fizemos algo que nunca imaginávamos: dormir ao lado de um posto policial e passar a noite a risadas e muito mate com os policiais rodoviários. Banheiro e cozinha disponível! Incrível foi o policial: - Se acosten (durmam) y, por la noche, seguimos buscando alguien que los lleve. E assim foi, ficaram a pedir carona no decorrer da noite para nós. Até que, pela manhã, uma camionete se prontificou. Fechamos acampamento e embarcamos. Descemos no meio do caminho e um casal nos pegou. Eita casal bom, tchê! Andamos dois dias com eles e, à noite, nos levaram a um camping em uma cidade e, no outro dia, 8h da manhã, lá estavam eles: em frente ao camping, de porta-malas aberto, com um sorriso no rosto. Por fim, Mendoza. Pelo dia 10 de fevereiro. Uma semana na cidade e iniciamos a volta até fronteira com o Rio Grande, em Paso de Los Libres. Dali, a Lu foi para casa dos pais em Alegrete e eu segui a Porto Alegre. Quando nos separamos, nem nos demos tchau, de tão difícil, mas um “Até amanhã”. Foi a viagem mais longa que fiz em todos esses 11.000 km rodados. Meu coração estava se separando. Havia deixado uma parte dele em cada pessoa que conhecemos no caminho. Emocionado por voltar e por tudo que passei, olhava para mim e via alguém completamente diferente do “ano passado, em dezembro”. v
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VOCÊ SABIA?
QUEM MOCHILA? Uma pesquisa qualitativa feita pelos sites Mochileiros.com e Mochila Brasil, seguindo o Critério de Classificação Econômica Brasil, com uma amostra de mil usuários durante o segundo semestre de 2004, revela um pouco do perfil do mochileiro. ] 80,3% têm entre 18 e 35 anos e, praticamente, é a mesma porcentagem de solteiros (80,4%). ] Quanto ao nível de escolaridade, os formados ou graduandos configuram 60,9%, e 10,6% são pós-graduados. ] Ao contrário do que muitos pensam, os mochileiros não são econômicos por falta de dinheiro, e sim por escolha. 68,4% são de classes A e B, 73,3% têm trabalho fixo, enquanto 24,7% estudam. ] A maior parte prefere viajar de ônibus (42%) ou carro (37,8%), e apenas 16% utilizam o avião como meio de transporte. ] 68,2% viajam, ao menos, duas vezes por ano, seja com amigos (43,6%), namorados (18,5%) ou sozinhos (17,8%).
GÊNERO 54,8% homens 45,2% mulheres
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quem é o mochileiro estrangeiro que vem ao Brasil? Pesquisa diz que 70% dos viajantes de fora da América do Sul são europeus. O consultor em turismo e professor universitário, Rui José Oliveira, divulgou os dados no 5º Salão do Turismo, que aconteceu em maio deste ano, em São Paulo. A Inglaterra é o país de onde mais vêm mochileiros europeus (19%), seguido da Alemanha (13%). A maior parte desses viajantes tem entre 18 e 29 anos (73%). 26 a 30 dias é o tempo que cerca de 27% desses mochileiros passam no Brasil. Contudo, a média geral da duração da viagem é de 49 dias no país. Os europeus costumam ficar mais tempo ainda – média de 53 dias.
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Esses dados provam que o turismo mochileiro traz mais receita para o Brasil do que o turismo tradicional. “O mochileiro tem uma agenda de viagem mais flexível, vai descobrindo e reprogramando a rota, sem itinerário fixo. Em uma viagem, passa por diversos destinos, e apesar de ter um gasto diário menor e dar preferência por acomodações econômicas, acaba deixando mais dinheiro que os turistas tradicionais por permanecer na estrada por mais tempo”, explicou Oliveira. A pesquisa consultou 248 estrangeiros (excluindo os sulamericanos), hospedados em albergues da juventude de Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e Foz do Iguaçu (PR). As praias e a diversidade cultural do Brasil são os maiores atrativos. As capitais são as cidades mais visadas. v
BRUNO DANTAS
A BARDADA
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O ÉDEN DOS PORTENHOS
Tarde no parque: nada melhor do que aproveitar a vida curtindo as coisas mais simples e cotidianas
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CIDILAN DA APRESENTAÇÃO / BRUNO DANTAS
om certeza, quem busca dicas sobre Buenos Aires já ouviu falar de um dos locais mais belos da cidade: Puerto Madero – construído em 1899, abandonado por décadas e renascido das cinzas em 2000, depois de sete anos de obras. O problema é que a maioria acha que o, atualmente, nobre e moderno bairro se resume aos diques do antigo porto, aos restaurantes nos antigos armazéns avermelhados, aos hotéis chiques como Hilton e Faena, e à famosa Puente de la Mujer. Essas pessoas mal sabem que, um pouco adiante, encontra-se um paraíso pouco conhecido, oficialmente chamado de Parque Micaela Bastidas. Ideal para descansar deitado
na grama no fim da tarde, depois de caminhar todo o dia pela capital argentina, e tomar o delicioso sorvete Freddo (ao invés de tomá-lo nos banquinhos dos diques). Aos sábados, é possível observar como os portenhos se divertem nos finais de semana. O parque enche de pessoas que se reúnem para conversar, brincar com a família, tomar chimarrão, lavar seus carros ou apenas descansar e ler um bom livro. Prepare seus olhos para ver belíssimos exemplares de hermanas e hermanos apenas de biquíni e sunga, dourando seus “corpitchos” portenhos. Quando cansar de não fazer nada, você pode fazer uma trilha logo ao lado, no Parque Natural Costanera Sur, ou conhecer a Reserva Ecológica.
A ROUBADA
A BOCA DOS ASSALTOS
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Nosso editor tenta se desvencilhar de uma dançarina de tango de rua que o agarra para tirar uma foto e “provar que não faz aquilo por dinheiro”. Ao lado, os artesanatos parecem inofensivos, mas ao olhar os preços: “Mãos ao alto!”
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ue não é muito recomendável andar pelo bairro La Boca à noite, todo mundo deveria saber. Contudo, atenção: conheça as famosas casinhas coloridas do Caminito preparado para tentativas de assalto a cada dez passos. Quando não for um sósia do Maradona ou alguma velha dançarina de tango tentando, a todo custo, tirar uma foto contigo (paga! E muito bem paga!), os (lindos) produtos superfaturados à venda estarão enfeitiçando sua carteira, para que vários pesos sejam gastos.
BARBADA E ROUBADA
BUENOS AIRES
O ideal é não levar muito dinheiro e deixar para comprar lembrancinhas em outros locais da cidade, como na própria Calle Florida. É claro que recomendamos a visita ao local, mas não é preciso gastar muito tempo (e dinheiro) por lá. Da mesma forma, não se aproxime do Riachuelo, espécie de arroio em frente ao Caminito, a não ser que queria ver águas poluídas. Existe um projeto de revitalização do bairro, esperemos! Os assaltos, contudo, devem somente aumentar. Ainda bem que olhar não custa nada! Mochileiros S.A. | Dez 2010
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VALE A PENA CONFERIR
CENTRO DE PORTO ALEGRE g MUSEU JULIO DE CASTILHO R. Duque de Caxias, 1205/1231, entre a Av. Borges de Medeiros e a Catedral Metropolitana. | U ter-sáb, 10h às 18h | ' (51) 3221.5946 / 3221.3959 | : www.museujuliodecastilhos.rs.gov.br | Comentário: O primeiro museu da cidade surgiu em 1903 e ocupa dois prédios. O da esquerda, avermelhado, casa original do jornalista e político Julio de Castilhos, engana por causa da placa “obra fiscalizada”, mas a entrada se encontra no prédio ao lado, amarelo. Mais de dez espaços comportam diversas coleções: dentre elas, educação republicana, objetos da escravatura e da Revolução Farroupilha, arte rupestre e indígena gaúcha, carros, canhões e objetos pessoais de Julio. São mais de onze mil peças revezadas, além das exposições temporárias. Entrada franca.
g THEATRO SÃO PEDRO Entre a R. Riachuelo e a Praça da Matriz (Praça Marechal Deodoro), ao lado do Palácio da Justiça. | U ter-sex, 12h-19h; sáb-dom, 16h-19h; em dias de espetáculo, aberto até às 21h | ' (52) 3227.5300 | : www.teatrosaopedro.com.br | Comentário: O prédio de 152 anos é um monumento clássico de Porto Alegre. Além de peças teatrais e concertos musicais que passam por seus palcos, o local exibe mostras culturais e fotográficas. Uma escadaria, cujas paredes são ornadas com placas em honra a grandes artistas brasileiros e gaúchos, leva ao café do teatro, onde é possível fazer um lanche e observar a Praça da Matriz. Nas quartas-feiras, às 12h30, há apresentação gratuita de música erudita e popular.
g MUSEU DE COMUNICAÇÃO HIPÓLITO JOSÉ DA COSTA R. dos Andradas, 959, ao lado da Rua da Praia Shopping | U seg-sáb, 9h às 18h | ' (51) 3224.4252 | Comentário: O patrimônio histórico do Estado leva o nome do jornalista e diplomata brasileiro que criou o Correio Braziliense, o primeiro jornal do país. O prédio de 1922, que foi reformado e expandido após um incêndio em 1947, abriga uma excelente coleção sobre a história da comunicação (da escrita, alfabetos e símbolos à imprensa, rádio, televisão, telefonia, fotografia e cinema). Há um grande destaque também para a história do grupo de mídia RBS (Rede Brasil Sul, afiliada da Rede Globo), que fez 50 anos em 2007. De seg-sex, as pessoas podem marcar e fazer pesquisas de vídeos, áudios, revistas e jornais. Mostras de vídeo acontecem esporadicamente. Entrada franca.
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g CASA DE CULTURA MARIO QUINTANA (Dica de Roberta Zadonai) | R. dos Andradas, 736 | U ter-sex, 9h-21h | U sábdom, 12h às 21h | ' (51) 3221.7147 | : www.ccmq.com.br | Comentário: O edifício cor de rosa de sete andares chama a atenção de qualquer transeunte pela grandeza e pela riqueza de detalhes. Não é à toa que ali funcionou, durante muitas décadas, um hotel de nome Majestic. O poeta gaúcho Mario Quintana, que hoje dá nome ao espaço, produziu diversas obras entre as paredes do quarto onde morava. O centro de cultura reúne exposições temporárias e permanentes, oferece cursos e oficinas de danças e artes em geral, e dispõe de três cafés, bebedouros e banheiros públicos - além de um cinema no piso térreo. O café, localizado no sétimo andar, é um excelente local para descansar no final do dia, pois a vista do Lago Guaíba proporciona um belíssimo pôr-do-sol.
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DENTRO DA MOCHILA POR BRUNO DANTAS
COM QUE MOCHILA EU VOU? Antes de escolher o que colocar DENTRO da mochila, primeiro é preciso escolher uma
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ntes de preparar o casamento, é necessário encontrar a noiva (o) ideal. Antes de pular de paraquedas é fundamental ter certeza de qual é o melhor equipamento. Antes de iniciar uma empreitada, é preciso ter consciência do que se está fazendo. Sem o cônjuge ideal, o relacionamento não dá certo. Sem os instrumentos corretos, a pessoa pode colocar a própria vida em risco. Sem conhecimento, tudo pode ir por água abaixo. A escolha da mochila para uma viagem é parecida com as situações citadas. Uma escolha mal feita pode trazer sérias consequências para o viajante. Porém, a escolha acertada pode significar o paraíso. Aquela trilha de quatro dias em Torres Del Paine, na Patagônia Chilena, pode ser uma experiência divina... Assim como pode ser infernal. Dentre várias razões, a decisão de qual mochila portar é determinante. Nossa editoria Dentro da Mochila não poderia começar falando de outro equipamento. Afinal, ele vai se tornar o seu companheiro de viagens, quase um “ser”, uma extensão do corpo. Diferente da mala, ao chegar à loja, você não pode pegar a primeira mochila que ver, a mais barata ou a mais bonita. Algumas dicas são essenciais para não cometer erros. Necessidade e tamanho. O primeiro ponto a se pensar é: eu vou utilizar minha mochila em quais situações? Em viagens curtas, uma mochila menor pode suprir todas as necessidades. Para acampar, conhecer lugares frios ou viajar por longos períodos, uma mochila maior é necessária. O tamanho é determinado pela capacidade em litros. As pequenas, conhecidas como “de ataque”, têm capacidade para 25 a 40 litros; as médias, 45 a 60 litros; e as grandes, chamadas “cargueiras”, de 60 a 90 litros. Para
um final de semana prolongado, por exemplo, uma de até 55 litros é suficiente. Caso você pretenda fazer atividades específicas, como ciclismo ou montanhismo, procure por mochilas também específicas. Conforto. Experimente a mochila antes de comprar. A ajustabilidade dos objetos à anatomia humana é fundamental, principalmente tratando-se de mochila. Preste atenção em como ela se ajusta às costas e aos quadris. O material do equipamento e o formato das alças e espumas (barrigueira e costado) são importantes. No caso das mulheres, a curvatura das alças não deve incomodar na altura dos seios, pois pode machucá-los depois de algumas horas de caminhada. As espumas devem ser macias, porém firmes, e também não podem incomodar. Elas devem permitir a ventilação de ar entre a mochila e as costas, para minimizar o suor. Para saber se a espuma é respirável, assopre no tecido e veja o quanto o ar penetra. Material. Vire do avesso, puxe com força as costuras e teste a qualidade do material de todas as maneiras possíveis. Ele deve ser resistente, maleável, impermeável (ou ter uma capa de chuva, já que a água pode passar pelas costuras e zíperes) e suportar todos os desafios a que você sujeitar sua mochila (ser jogada de qualquer jeito, puxada pelas alças, carregar objetos pontiagudos). O mais comum é a mochila de lona com costura reforçada, mas os de tecidos sintéticos antiabrasão (geralmente um nylon forte) são duráveis e mais leves. Alguns tecidos reconhecidos por sua durabilidade são a Cordura (feita pela Duppont) e o Supertex (da Ferrino). O tecido Ripstop pode ser combinado a qualquer uma das marcas citadas para dificultar rasgos contínuos. Compartimentos. Eles são essenciais para organizar a bagagem (separar roupas molhadas, por exemplo) e manter determinados itens sempre à mão (papel higiênico, talvez). Compartimentos demais podem atrapalhar. Seis são suficientes: quatro laterais, um de fundo e um no topo. Geralmente, o interior das mochilas é acessado pela parte superior (top-loaders), mas, algumas, também pela parte frontal e inferior, o que é útil, mas dispensável. Fitas de compressão são importantes para diminuir a tensão sobre os zíperes; controlar a distribuição de carga; manter o
equipamento firme, quando a mochila não estiver cheia; e para prender o equipamento externo. Avalie também a qualidade e acessibilidade dos fechos e tiras. Estrutura. Sua mochila precisa ter vigas de sustentação para aguentar todos os abalos pelos quais vai passar. As de estrutura externa são boas para expedição, mas não são maleáveis quando se trata de terrenos irregulares. As sem estruturas são ideais para quem se preocupa com o peso. Já as que têm sustentação de alumínio ou outro material rígido são as mais duráveis e confortáveis, pois tem flexibilidade (bom que não sejam tão flexíveis, para manter a rigidez com o tempo) e se adaptam às costas. Preço. Todo mundo já cansou de ouvir que o barato pode sair caro – para o bolso e para a saúde, diga-se de passagem. As mochilas de melhor acabamento e materiais mais resistentes são mais caras, porém, duram mais. O importante é buscar uma que atenda a suas necessidades e tenha qualidade. Mochila é um item fundamental e, se bem escolhida, pode ser companhia fiel por anos. O investimento é válido. É TAMBÉM QUESTÃO DE SAÚDE Antes de correr uma maratona, o atleta precisa treinar e estar preparado. Caso contrário, provavelmente, ele não vai terminar o trajeto e pode ter vários problemas de saúde. Não pense você que fazer aquela pequena trilha de três horas com a mochila nas costas vai ser moleza e não vai afetar seu corpo. Carregar a mochila errada pode colocar sua saúde física em risco. O ortopedista, Dr. Cláudio F. C. Vieira, alerta que quem não está preparado para suportar peso extra nas costas pode sofrer diversos problemas ao carregar uma mochila muito pesada. Segundo ele, o ser humano, por andar sobre duas pernas, tem um equilíbrio crítico ao caminhar. Quando alguém coloca um peso extra sobre as costas, esse ponto de equilíbrio é alterado, o que exige esforço de vários outros músculos para compensar as alterações. Dentre os problemas decorrentes estão: desequilíbrio da musculatura das costas, sobrecarga nas arti-
culações das vértebras e aceleração do desgaste natural da idade. Até a forma de andar fica alterada. “Observe como uma mulher grávida caminha no fim da gravidez, algo semelhante ocorre quando você coloca uma carga extra nas costas”, exemplifica o Dr. Cláudio. O peso médio que uma pessoa consegue suportar é 10% de seu peso. Contudo, quem já mochilou sabe que é muito complicado levar apenas essa porcentagem de peso em equipamentos, principalmente quando se trata de longas viagens. De acordo com o Dr. Cláudio, “se a pessoa pretende cruzar grandes distâncias, esse limite pode ser excedido, vai depender do preparo físico. O peso que poderá ser suportado dependerá do treinamento que o mochileiro realizou”. Voltamos ao exemplo do maratonista. Cada um sabe qual é o seu limite e é importante não ultrapassá-lo, mesmo que seja somente por mais alguns quilômetros de trilha. O mochileiro precisa estar preparado para carregar o peso de sua mochila, e, para isso, deve fazer exercícios adequados à musculatura (das costas, ombros e pernas, por exemplo) que será empregada para suportar o peso da mochila, variando de acordo com o tipo físico e o sexo do viajante. Quem tem algum tipo de problema de coluna, entretanto, o Dr. Cláudio aconselha identificar o que provocou o problema e, depois, fazer um programa terapêutico adequado. Nesses casos, a mala é uma melhor solução do que a mochila. E não se preocupe que você não será “menos mochileiro” por isso. Saúde em primeiro lugar. v
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ESPORTE
POR RAFAEL PERRONE
TREKKING Saiba como começar a fazer trilhas e caminhadas de aventura (site fazendoacontecer.net) A prática do trekking sempre esteve em alta. Talvez com outro nome, mas trilha e caminhada de aventura sempre fizeram parte do menu de opções de lazer dos amantes da natureza – e da saúde. O trekking une esporte, saúde, meio ambiente, belezas naturais, fotografia, amizade, autoconhecimento e meditação. Não é à toa que, com o avanço do ecoturismo, a caminhada em trilhas também se destaque. Apesar de parecer uma prática inofensiva à primeira vista, o trekking oferece alguns riscos se não tomarmos os cuidados devidos. Ao deixar a cidade em direção a um parque ecológico ou chapada, precisamos respeitar o local – seus habitantes, fauna e flora. Ainda, precisamos garantir que deixemos o local exatamente como encontramos, garantindo sua preservação. Para garantir uma trilha saudável, prazerosa e permitir aos outros que venham depois desfrutar da mesma forma, há alguns cuidados essenciais que devemos tomar. A diversidade de tipos de trilhas – curtas, longas, um dia, vários dias – e ecossistemas é bastante grande e sempre devemos considerar as características específicas do local a ser visitado. Ainda assim, há dicas básicas para trekking que se aplicam a qualquer local. ANTES DA TRILHA – PREPARAÇÃO Informe-se. Procure a maior quantidade de informações possíveis sobre a trilha que irá fazer. Informações como
distância total, trechos críticos e acessórios necessários são fundamentais. Se o percurso não pode ser completado em apenas um dia, qual a distância que deve ser percorrida diariamente? Se algo acontecer e não for possível chegar a um vilarejo para dormir, é possível acampar na trilha? Quais os riscos envolvidos? Há animais perigosos? Esses locais costumam ter, no mínimo, cobras, escorpiões e abelhas perigosas. Caso alguém seja atacado, onde procurar ajuda? Nestes casos, informação nunca é demais. Lembre-se que, no mato, provavelmente não há sinal de celular, internet e telefone público. Não se arrependa por não ter feito uma pesquisa básica no Google ou consultado uma agência de turismo local antecipadamente. Equipe-se. Agora que já sabe o que o espera, leve os acessórios necessários. O que deverá ser levado vai depender do tipo, tamanho e duração da trilha. Mas, na maioria das vezes, os itens abaixo devem ser priorizados: g cantil – água é essencial para uma caminhada saudável. Normalmente, os rios possuem água potável e, nestes casos, um litro é suficiente. Se for mais difícil encontrar água para beber no local, considere levar um de maior capacidade; g panela, copo de alumínio, faca, garfo e colher – não precisa levar um por pessoa. A depender do tamanho do grupo, uma ou duas panelas podem ser compartilhadas por todos e são suficientes. Talheres são mais leves – um conjunto por pessoa é suficiente; g velas, lanterna pequena e pilhas pequenas – no mato não tem poste nem luz elétrica e você fará sua iluminação; g fósforos – servem para acender as velas, fazer fogo para cozinhar ou uma pequena fogueira para esquentar a noite;
g mapas, bússola e GPS – se contratar um guia, provavelmente não será necessário. Caso contrário, considere o GPS se couber no orçamento. Mapa e bússola, apesar de simples, podem salvar vidas; g canivete – mil e uma utilidades, nunca se sabe quando serão úteis, mas sempre são; g kit de costura – agulha e algumas linhas para consertar roupas, mochilas e tênis; g kit de primeiros socorros e medicamentos – leve apenas o básico. Não adianta levar um kit cheio de coisas que ninguém sabe usar. Remédios para dor, alergia e picadas de mosquito devem ser suficientes; g produtos de higiene pessoal – sabão neutro, xampu, papel higiênico, pasta e escova de dentes; g objetos pessoais – máquina fotográfica, violão, papel, caneta. Variam de pessoa para pessoa, mas lembre-se que terá que carregá-los o tempo todo; g sacos plásticos – colete todo o lixo que gerar. Não deixe nada na trilha; g mochila – dê preferência a mochilas específicas para trilhas; g saco de dormir – será seu único conforto; g barraca de camping pequena – prefira barracas pequenas para duas pessoas. Estes são os acessórios que a maioria precisará. Alguns itens podem ser usados por todo o grupo, não sendo necessário levar um por pessoa. Lembre-se que terá que carregar tudo o tempo todo. A depender da trilha e do grupo, isto pode significar até 8 horas de caminhada, embaixo do sol, por terrenos irregulares. Não leve toalha, pois seca-se rapidamente ao sol (e, se estiver chovendo, vai se molhar de qualquer jeito). Evite ultrapassar 10kg na mochila. Vista-se. Assim como os equipamentos, não podemos abrir mão das roupas. Porém, leve o mínimo para reduzir o peso. Normalmente, uma roupa para o dia (lave-a no fim da caminhada diária) e uma para a noite é suficiente. Procure usar um tênis es-
pecífico para trekking. Nunca use tênis novos – use-os na cidade antes de levar para a trilha. Alimente-se. Dê prioridade a alimentos que não precisam ser preparados. Queijo, frutas, ovos cozidos, mel, chocolate, rapadura, biscoitos e bolachas, cereais, amêndoas e nozes, leite em pó. Sanduíches podem ser consumidos no primeiro ou segundo dia (cuidado para não comer comida estragada, pois o resultado é muito ruim). Estude. Além de conhecer os detalhes do local da trilha, também é importante conhecer todos os itens que está levando. Se levar GPS, saiba usálo. Acostume-se a ler mapas e localizar-se com bússola. Conheça seu kit de primeiros socorros e aprenda a usá-lo. Conheça sua mochila, experimente diferentes formas de armazenar as coisas nela, otimizando o balanceamento do peso. DURANTE A TRILHA – CAMINHADA Ande calmamente. Isso é lazer e não competição. Procure andar calmamente, prestando atenção à paisagem, admirando a flora e fauna – e tomando cuidado para não se acidentar. Se quer correr, inscreva-se no circuito de corrida de aventura ou paletada local. Mantenha distância. Não ande muito próximo da pessoa à frente, nem deixe que andem muito próximo atrás de você. Caso alguém sofra um acidente, dá tempo do outro evitar. Além disso, permite uma melhor apreciação das belezas naturais e evita chicotadas de galhos e plantas. Mantenha o silêncio. As pessoas que saem da cidade para fazer trekking no mato estão em busca de paz e tranquilidade. Respeite isto e deixe a agitação para quando estiver em casa. Isso não significa que não é permitido conversar – pelo contrário, é o momento ideal para interagir com amigos e novos conhecidos. Mas mantenha a calma e respeite o silêncio. Descanse. Num grupo heterogêneo com mulheres, jovens, adultos, esportistas e sedentários, é comum alguns quererem apressar-se enquanto outros queiram descansar. Lembre-se novamente que isto não é uma competição. É interessante acertar os pontos de descanso anteriormente.
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Não menospreze o protetor solar. Sempre leve protetor solar. Mesmo que a previsão seja de tempo nublado, leve o protetor. Muitas horas ao ar livre, mesmo que com nuvens, podem render boas queimaduras na pele sem filtro solar. Nunca ande sozinho. Uma picada de cobra, pé torcido ou quebrado, queda ou qualquer outro acidente pode ser fatal caso esteja sozinho. Pare no primeiro sinal de incômodos. Caso algo no tênis, mochila ou roupa lhe incomode, pare imediatamente e resolva o problema. Se não parar com receio de atrasar o grupo pode ser muito pior depois. O incômodo da bermuda pode se tornar numa assadura, a pedra no tênis pode virar uma ferida e o peso mal distribuído da mochila pode resultar em uma dor de coluna. Isso atrasará o grupo muito mais. Mantenha os pés secos. Nunca molhe seus tênis. Ao atravessar rios e riachos, fique descalço e seque o pé antes de calçar novamente. Preste atenção ao caminho. Mesmo que tenham um guia, preste atenção como se tivesse que fazer a volta sozinho. Isto aumenta sua segurança e permitirá um maior conhecimento do local e seus detalhes. Em caso de acidentes, nada de pânico. O pânico não ajuda. Se alguém for picado por cobra ou escorpião, não faça torniquete nem corte o ferimento. Mantenha o membro afetado para cima para reduzir o fluxo sanguíneo e leve imediatamente para um posto de saúde. Se possível, leve o animal junto – vivo ou morto. Caso alguém caia, torça ou quebre algum osso, tente imobilizar da melhor forma e levar para o posto de saúde. Caso sejam atacados por abelhas, não há muito que fazer – corram e procurem algum rio para se esconder. Se ficar perdido, siga a trilha. Toda trilha leva a algum lugar. Se você se perdeu, siga a primeira trilha que encontrar. Se não encontrar trilha, siga o rio, pois muitas vezes há povoa-
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dos nas margens. Evite caminhar à noite. DURANTE A TRILHA – HIGIENE Não use produtos químicos. Esta regra vale para lavar a roupa, tomar banho, escovar os dentes e lavar acessórios. Use sempre sabão neutro. Se quiser usar xampu e sabonete, leve um pouco de água para longe do rio onde ela não escorra de volta. Faça necessidades fisiológicas longe dos rios e trilha. Vá para um local afastado do rio e trilha, onde haja areia ou pedras para cobrir os dejetos. Queime o papel higiênico usado com os fósforos e garanta que o fogo já se apagou antes de ir embora para não criar um incêndio. Se você pode beber água dos rios é porque outras pessoas respeitam essas duas regras. DURANTE A TRILHA – ACAMPAMENTO Escolha um lugar plano e macio. O conforto na trilha é mínimo, portanto escolha um local plano e com areias ou folhas para montar o acampamento. Isto pode melhorar muito a qualidade do sono. Evite as margens dos rios. Caso chova muito na cabeceira do rio, seu nível pode subir muito rapidamente. Isto é extremamente perigoso para quem está às suas margens. Acampe próximo deles, mas não na margem. Não destrua nada. Não corte árvores nem cave a terra. Use o mínimo de madeira necessário para fazer fogueira. Lembre-se que outros animais moram ali e outras pessoas passarão depois de você. DE VOLTA À CIDADE Se todos seguirem estas dicas, as chances de voltar para casa bem serão altíssimas. As trilhas e belezas naturais serão preservadas e estarão disponíveis para outras pessoas — ou um possível retorno. Já diz o clichê das trilhas: “Não tire nada além de fotos. Não deixe nada além de pegadas. Não mate nada além de tempo. E não leve nada a não ser lembranças”. v
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MATÉRIA ESPECIAL POR BRUNO DANTAS
DE
MOCHILA PELO MUNDO
Colocar uma mochila nas costas e botar o pé na estrada de mente aberta e de forma econômica é uma realidade para muitos viajantes, mas poucos conhecem o encanto desse tipo de viagem – o mochilão. Descubra e faça parte dessa Sociedade Alternativa!
Alexandre Grosso bebe cappuccino e vê o sol nascer nos Três Picos, em Nova Friburgo (RJ): para ele, o mochileiro precisa de tempo para apreciar um local 30
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iajar é um dos grandes prazeres que o ser humano pode desfrutar na vida. Quem não gostaria que aquela viagem dos sonhos durasse um pouco mais? O que impede as pessoas de continuar aproveitando a praia paradisíaca, a cidade efervescente ou a montanha nevada, muitas vezes, é o dinheiro – mais especificamente, a falta dele. E se você soubesse que existe uma forma de viajar economicamente e, assim, curtir mais ainda a brisa do Caribe, os museus de Paris ou o café daquela cidadezinha que apenas você e poucos outros tiveram o privilégio de descobrir? Existe uma grande chance de você já ter se deparado com essa possibilidade e não ter se dado conta que pode, também, rodar o mundo de uma forma alternativa. Nas grandes cidades do mundo é muito comum encontrar pessoas, geralmente jovens, com uma mochila enorme nas costas e um olhar meio perdido pelos locais públicos ou em rodoviárias, aeroportos e pontos turísticos. Alguns têm mapas para melhor se localizarem, enquanto outros fazem questão de se perderem pelas metrópoles. Solitário ou em grupo, esse viajante provavelmente é estrangeiro e parece encantado ao se dar conta de estar desvendando um novo lugar. Por não conhecer a definição exata – se é que existe uma – dessas pessoas, os nativos os classificam simplesmente como “turistas”. Nada mais generalizador e simplório. Parte dos mochileiros poderia até mesmo sentir-se diminuídos ou ofendidos. Sim, “mochileiro” é como esse viajante é conhecido e melhor definido, e, nas próximas páginas, você vai saber o que é e como surgiu essa modalidade de turismo, o que atrai e caracteriza os indivíduos que praticam esse tipo de viagem, além de conhecer as diferenças entre os diversos viajantes. Após ler esta reportagem, tenha certeza que você pode, sim, mochilar. Crie coragem e programe seu primeiro ou próximo mochilão por algum dos lugares magníficos do nosso mundão. O dicionário de português ainda não traz a palavra “mochilão” – e derivados – dentre os seus vocábulos. Contudo, é um termo bastante disseminado entre seus praticantes. Mochilão vem do inglês backpacking, da mesma forma que mochilar e mochileiro derivam de to backpack (também significando o substantivo “mochila”, de onde tudo surgiu) e backpacker, respectivamente. O mochilão tem o objetivo de maximizar as experiências de uma viagem, e conta ainda com uma vantagem para muitas pessoas: gastar pouca grana. Mochilar é querer extrair o máximo de uma viagem com o menor custo possível. Literalmente, o que caracteriza e identifica um mochileiro é, obviamente, a opção pela mochila como transporte de objetos, ao invés da mala. Para muitos, ela se torna uma espécie de casa ou, até mesmo, uma extensão do corpo. Contudo, o mochilão, mais do que
designar o ato de viajar com uma mochila nas costas, é uma filosofia de vida, a qual é praticada, atualmente, inclusive, por quem viaja com mala de rodinhas. Zizo Asnis (42), o editor dos guias O Viajante, define o mochileiro como “um cidadão universal, um viajante que desconhece fronteiras, que procura vivenciar outras culturas e experimentar realidades diferentes da sua”. Por sua vez, Alexandre Grosso (41), morador de São Paulo que já conheceu 26 países, diz que “mochilão é viajar sem compromisso, com uma mochila nas costas e mil sonhos na cabeça”. AFINAL, QUEM É “MOCHILEIRO”? A extinta Associação de Mochileiros e Aventureiros do Brasil (AMABR) faz a seguinte definição dos adeptos ao mochilão: “O Mochileiro faz parte de um grupo de viajantes alternativos de todas as idades, nacionalidades e classes sociais possíveis que amam sair de suas casas, atravessar fronteiras de países ou mesmo de estados, conhecer locais e pessoas de culturas diferentes, vivendo e aprendendo tudo isso de uma maneira que nunca aprenderia numa sala de aula, de uma forma totalmente aventureira e enriquecedora”. (Fonte: Inema.com.br)
COMO TUDO COMEÇOU? Infelizmente, não existem respostas definitivas que comprovem como o mochilão surgiu no mundo, muito menos no Brasil. A história do backpacking ainda é obscura, as fontes confiáveis são raras, e poucos dados estatísticos existem. De acordo com o site Infohostels.com, a pessoa que talvez tenha sido a primeira a se aproximar do que conhecemos hoje como “mochileiro” foi Giovan Francesco Gemelli Careri. Esse italiano da Calabria nasceu em 1651 e, com pouco menos de 35 anos, viajou pela Europa por um ano. Com espírito curioso e não satisfeito com sua vida, em 1693 decidiu viajar pelo mundo. Ele passou por momentos perigosos, como quando velejou pelo Pacífico, de Manila a Acapulco. Ao todo, foram cinco anos e 254 dias entre tempestades, doenças e medo. De volta à Itália, teria escrito um relato de sua viagem. Apesar de sua história não ser comprovada, chegam a afirmar que Júlio Verne pensou em Giovan ao escrever A volta ao mundo em 80 dias. A história da territorialização do homem pode nos dar uma luz sobre como tudo começou. Odir Züge Mochileiros S.A. | Dez 2010
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Junior, advogado, professor e um dos editores do site Mochileiros.com, afirma que com a Revolução Industrial, no século XVIII, a sociedade se fixa em determinados locais por causa das fábricas. Assim, o mundo passa a ser comercializado de outro modo. Os viajantes do século XIX são exploradores (militares, mineradores, marinheiros, etc.) que procuram conhecer suas colônias. Vários escritores desse período, que escreveram em forma de ficção ou relatos de viagem muitas incursões exploratórias, são importantes, como Joseph Conrad (No Coração das Trevas), Jack London (O Chamado da Floresta e O Lobo do Mar) e Mark Twain (Innocents Abroad e As Aventuras de Tom Sawyer). A figura do mochileiro, tal como conhecemos hoje, obviamente surgiu depois da criação das mochilas de grande porte pelos militares na Segunda Guerra Mundial. Entre os anos 1940 e 1950 era possível adquirir equipamentos usados durante o combate militar: mochilas, botas, sacos de dormir, cantis, etc. Hoje, eles podem ser encontrados em qualquer loja que venda artigos esportivos. Nesse mesmo período, segundo o site Mochila Brasil, foi a partir da Geração Beatnik que surgiu a cultura backpacker. Este foi um dos movimentos literários mais importantes do século XX, e era formado por escritores e artistas estadunidenses, que instigaram a liberdade na vida da sociedade americana das décadas de 1950 e 1960. Em uma época pós-Guerra Mundial, os beatniks não se identificavam com os soldados ou com os jovens empresários, pois não acreditavam em empregos formais, nem no status quo. Eles queriam apenas viver e viajar. Jack Kerouac, escritor norte-americano, autor de On The Road, foi um dos ícones dessa cultura, e fez com que inúmeras pessoas “caíssem na estrada”.
“Mochilão é o ponto máximo do exercício da cidadania universal, com total usufruto da liberdade” Ainda segundo o mesmo texto de Odir Züge, foi nos anos 1970, quando os hippies, que na década anterior haviam caído na estrada, resolveram se fixar e arranjar empregos, que o mundo corporativo percebeu que essa juventude viajante “era capaz de pensar fora do esquadro, era mais criativa, dinâmica e maleável, falava outras línguas e tinha uma excelente capacidade de comunicação”. Estes logo ocuparam os cargos de gerência nas organizações cada vez mais transnacionais. Com essa mudança de paradigma, mochilar passou a ser visto como uma etapa importante das formações pessoal e profissional. A partir daí, as empresas de intercâmbio estudantil cresceram.
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LONELY PLANET Outros personagens importantes para a história do mochilão são o casal de australianos Tony (na foto abaixo) e Maureen Wheeler. No começo da década de 1970, recém-casados, resolveram viajar pela Ásia, chegando até a Austrália, com poucos recursos financeiros. Durante um ano de viagem, eles obtiveram informações que se tornaram o guia Across Asia on the Cheap (Atravessar a Ásia com pouco dinheiro, em tradução livre), com 1.500 exemplares vendidos. Depois, publicaram o livro South-East on a Shoestring (O Sudeste Asiático para orçamentos reduzidos, em tradução livre), conhecida como a “bíblia amarela”. Os 800.000 exemplares comercializados do segundo livro impulsionaram a coleção Lonely Planet que hoje abarca o mundo inteiro. Os guias são traduzidos em 11 idiomas atualmente. (Fonte: LonelyPlanet.com)
INDEPENDÊNCIA Desde o início do movimento mochileiro, a Austrália se tornou o berço do Turismo Backpacker e, até os dias atuais, é um dos países que mais recebe mochileiros. Afinal, quem resiste ao encanto de suas praias magníficas e da Grande Barreira de Corais ou à fofura dos cangurus e coalas? As belezas naturais atraem os praticantes dessa modalidade de turismo, que gerou, entre os anos 1997 e 1999, mais de US$ 4 bilhões para a nação. Uma pesquisa de 2001 apresenta algumas características desses viajantes e mostra as razões que os levam a escolher esse estilo de viagem, ordenados de acordo com o grau de importância: 1º - o aspecto econômico, mais por uma questão de opção do que de limitação (Uma pesquisa feita por sites brasileiros, apresentada na editoria Fique Ligado!, comprova esse aspecto); 2º - oportunidade de conhecer outras pessoas, inclusive de outras nacionalidades, e estabelecer novos relacionamentos; 3º - experiência mais realista do país visitado, pelo fato de ter um contato mais direto com as pessoas e suas rotinas.
ORIGEM: ZIZO ASNIS
Isso se dá, por exemplo, ao frequentarem padarias e supermercados para comprar a própria comida, locomoveremse em ônibus e metrô, não dependerem de guias turísticos e, assim, terem a oportunidade de se comunicar com os nativos sem mediação; 4º - prolongamento do tempo de viagem, ao economizar com hospedagem, transporte e alimentação; 5º - independência e flexibilidade na escolha de atrativos a serem visitados, tempo de permanência em cada lugar, meio de transporte a ser utilizado, local de hospedagem e percurso a ser seguido; 6º - experiência prévia como backpacker, e; 7º - aversão aos pacotes turísticos comerciais. Todas essas razões podem ser resumidas em uma única palavra: LIBERDADE. Para a estagiária de direito Bárbara Pereira, que já perdeu as contas de quantos mochilões fez pelo Brasil, essa palavra define o que significa mochilão. “Nós precisamos de uma válvula de escape. Há varias formas para isso, uns procuram as drogas ilícitas, o álcool. Eu procuro a minha em um sentido mais amplo e real: no ato de viajar, de sair no mundo, sem relógio, sem preocupação com o tempo, tentando viver o meu ‘Real’, estando com a mente aberta às novas culturas, novas forma de viver”, analisa. A definição de Zizo Asnis confirma a independência como característica inata dessa modalidade de turismo.
Com o seu guia O Viajante e um mapa em mãos, Zizo percorre de trem a Europa.
“Mochilão é o ponto máximo do exercício da cidadania universal, com total usufruto da liberdade”, conclui. ECONOMIA, PESQUISA E AVENTURA O aspecto econômico é um dos principais atrativos para quem começa a pensar em colocar a mochila nas costas. A opção por mochilar não é simplesmente a falta de dinheiro, mas a vontade de usar os recursos da melhor maneira possível. Para um mochileiro, é inconcebível, por exemplo, gastar dois mil reais em uma viagem de três dias, por meio de uma operadora de turismo, sendo que, com a mesma quantia, ele poderia viajar por quinze dias no mesmo lugar, caso fosse de forma independente e menos luxuosa. Mesmo que alguém decida mochilar por não ter que gastar muito nesse tipo de viagem, Zizo Asnis cita uma vantagem: “o cara com menos grana geralmente se obriga a viagens mais criativas, a fim de driblar a escassez de recursos”. Uma das maneiras de economizar é pesquisar bastante. Verônica Farias, em seu livro Meu pé que me leva pelo mundo
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ORIGEM: VERÔNICA FARIAS
“A cultura mochileira hoje é um conceito que extrapola o formato de bagagem. ” À direita: Rafael já conheceu seis países da América do Sul e diz que é o tipo de mochileiro que se permite algumas mordomias
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– o barato de mochilar só, com pouca grana e curtindo muito!, reconhece a importância dos meios digitais nessa etapa do planejamento. “A Internet, para o viajante, é tudo! Reservas, mapas, minidicionários, dicas de viajantes como eu, imagens dos lugares que você agora se sentirá obrigado a conhecer e história”, enumera. A maior fonte de informações, sobre qualquer lugar, são as redes sociais, onde os mochileiros compartilham informações, dicas e trocam experiências, roteiros, etc. Na internet não faltam blogs de viajantes que querem contar suas aventuras pelo mundo, indicar as melhores “barbadas” e prevenir os desavisados em relação às piores “furadas”. Nas seções de livros de turismo os mochileiros encontram outra “mina de ouro”. Parte dos viajados, geralmente depois de manter um blog com relatos de viagem – os diários de bordo –, resolve transformar suas memórias em livros, que também podem ser informativos. Contudo, os guias de viagem costumam ser a salvação de quem está fazendo um roteiro. Outra característica que está presente em boa parte dos mochileiros é a sede de aventura e a busca por explorar ambientes pouco conhecidos. Seja percorrer os 1.500 km da Carretera
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Como deusa brasileira sobre Santorini: depois de conhecer 19 países, Verônica Farias resolveu escrever um livro e instigar outras pessoas a mochilar
Austral, localizada na Patagônia Chilena, de bicicleta; ou dormir a dois metros da cratera do vulcão em atividade Myiragongo, que fica na República Democrática do Congo. HOSTELS O que também caracteriza os mochileiros é a sede por conhecimento e novas experiências de vida. Por isso, a principal hospedagem desses viajantes é o hostel, termo inglês para “albergue”. A diária pode sair por menos da metade do preço em um hotel simples, contudo, isso não se reflete na qualidade do estabelecimento. Pelo contrário, muitos hostels oferecem um farto café da manhã e dispõem de internet banda larga livre, para os hóspedes atualizarem, por meio de seus laptops, iPhones ou computadores disponíveis, seus blogs e redes sociais, além de compartilhar com amigos e familiares vídeos e fotos. Alguns também contam com um pequeno cinema, piscinas, áreas de lazer, como salão
de jogos, organizam festas e têm parcerias que dão desconto em pontos turísticos, teatros e apresentações. O baixo preço advém dos quartos compartilhados, que possibilitam maior interação entre as pessoas hospedadas de diversas nacionalidades, e é justamente o que atrai os mochileiros. Verônica Farias conta as vantagens dos hostels: “O albergue é O Lugar de conhecer gente do mundo. É ali que você vai obter bons contatos para futuras viagens, arranjar companhia para ir a algum lugar, bater papos inesquecíveis com o povo do quarto, conseguir dicas perfeitas e ter sua casinha temporária”. É claro que um hostel não tem apenas pontos positivos. Além de ser necessário estar um pouco mais atento a seus objetos (de preferência guardá-los trancados no armário do quarto), esse tipo de hospedagem também tem outros problemas. “Gostar de estar em quarto compartilhado depende tanto do espírito da pessoa como de sua personalidade. O quarto pode estar com ‘futum’ de chulé, bagunçado, com gente bagunceira dentro, e é daí que você deve ter seus trunfos: bom humor (mesmo que esteja cansado), tampão de ouvido e de olho, jeitinho simpático de pedir para o povo pegar leve, ou juntar-se a eles e desistir de se lamentar. É apenas por pouco tempo”, explica Verônica. Em 2009, o movimento dos albergues da juventude (youth hostels) comemorou 100 anos de existência. Segundo o site Hostelling International, em 1909, na Alemanha, um professor chamado Richard Schirmann teve a ideia de criar uma rede de opções de acomodação pelo país, para ser usado por grupos escolares ou viajantes independentes. O primeiro albergue da juventude permanente foi estabelecido na Alemanha, em 1912. Até hoje é possível se hospedar no Altena Castle Youth Hostel. A Federação Internacional de Albergues da Juventude (The International Youth Hostel Federation), atualmente conhecida como Hostelling International (HI), somente surgiu em 1939. A cada ano, de acordo com a rede HI, 35 milhões de pernoites são feitas em albergues da Hostelling International pelo mundo. Mais de 80 países fazem parte da rede, o que equivale a aproximadamente quatro mil hostels espalhados pelo mundo. O Brasil é o 15º país no mundo com o maior número hostels – atualmente são 90, segundo a Federação Brasileira de Albergues da Juventude – e é o líder na América Latina. Aqui, as diárias variam de R$20 a
R$45. Esse número, porém, pode ser maior ainda, já que há hostels que não fazem parte da rede HI. Os que querem economizar mais podem se hospedar em casas de famílias locais, campings ou tentar conseguir um sofá amigo ou hospedagem gratuita por meio dos sites CouchSurfing.com e HospitalityClub.org. COUCH SURFING O Couch Surfing (surfe de sofá, em tradução livre) é um site de relacionamentos em que os membros conversam e se dispõem a oferecer hospedagem gratuita a outros viajantes, em busca apenas de intercâmbio cultural e troca de experiências. Se você não quiser oferecer o seu “sofá”, pode escolher a opção “coffee or a drink” (café ou uma bebida), que consiste em marcar um encontro com esse viajante para lhe apresentar sua cidade ou região. Desde 2004, mais de dois milhões de couchsurfers (como são chamados os membros dessa rede), representando 237 países, estão dispostos a fazer novas amizades. TIPOS DE MOCHILEIROS Como acontece em todo grupo social, há uma subdivisão em outros grupos. Dentre os mochileiros, algumas pessoas fazem divisões em categorias. Contudo, não é algo aceito por todos, nem se trata de um consenso. A mais básica das classificações, que está ligada profundamente ao que é ser mochileiro, é a diferença entre viajante e turista – talvez a categorização mais divulgada e aceita. Segundo o mochileiro Alexandre Grosso, “o turista é aquela pessoa que quer conhecer dez lugares diferentes em dois dias. O mochileiro é o individuo que gosta de ficar mais tempo num lugar, conversar com as pessoas, trocar experiências, descobrir novas culturas na própria pele. Por isso, o mochileiro sempre precisa de um pouco mais de tempo”. Como se transporta os objetos de uso pessoal pode ser mais um classificador. Para a Bárbara Pereira, assim como para muitos, só é mochileiro quem viaja de mochila. Zizo Asnis reconhece essa rotulação. “A cultura mochileira hoje é um conceito que extrapola o formato de bagagem. A mochila facilita a locomoção, mas não quer dizer que o ‘mochileiro’, ou o viajante, de forma mais genérica, não possa estar com uma mala de rodinhas”, opina. Se alguém viaja de mochila ou de “mala e cuia”, isso não importa para o rio-grandense Rafael Jayms (27), que já conheceu seis países da América do Sul, mas reconhece que a mochila é um recurso de fácil mobilidade que ajuda muito nas aventuras. Ele também cita tipos de mochileiros mais Mochileiros S.A. | Dez 2010
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específicos e extremos, uma classificação pouco conhecida. “Existem os ‘radicais’, os ‘guerreiros’, os ‘bárbaros’ que são os mais ‘mendigos’ e os ‘meia-bocas’ que não descartam alguns luxos, como quarto e banheiro bons, comer bem... Acho que esse último sou eu”, assume. Alexandre Grosso também acredita que existe uma diferença significativa entre mochilão solo e mochilão acompanhado. Adepto do primeiro tipo, ele diz que “a vantagem do mochilão solo é que você pode administrar o seu tempo da maneira que bem entender. Além disso, quando se mochila sozinho, você não tem uma pessoa em quem colocar a culpa. Isso de alguma forma ajuda você a conhecer a si mesmo, os seus próprios limites. E essa é a condição essencial para, depois, conhecer o outro”. Fora do país, uma categoria que já é reconhecida é o flashbackpacker. Segundo o Tourism Western Australia, trata-se dos mochileiros com melhor orçamento e que tendem a misturar baixo custo e viagens de luxo. Eles também viajam de forma independente, mas com maior conforto. Uma característica determinante é o fato de levarem sempre aparelhos eletrônicos em suas viagens, como laptops, players de música, câmeras digitais, telefones celulares e até mesmo dispositivos de GPS.
“Qualquer um pode tornar o ‘viajar’ parte de seus costumes. Quer coisa mais gostosa?” FILOSOFIA DE VIDA De acordo com o editor Sinei, também do site Mochileiros.com, o conceito de “Backpacker Tourism” até hoje é pouco conhecido no Brasil. Quando o mochileiro não é visto de forma preconceituosa, ele é confundido com o ecoturista ou com o turista de aventura – ambas as modalidades fomentadas por operadoras de turismo –, o que não condiz com a filosofia mochileira. “Os mochileiros são viajantes independentes que utilizam infraestrutura de turismo receptivo ou estrutura própria e direcionada e chegam por conta própria em seus destinos”, diz. O único avanço é quanto à acomodação, que melhorou nos últimos 10 anos. A quantidade de hostels aumentou bastante. Categorias à parte, pré-conceitos sempre existem em relação a todos os grupos, com os mochileiros não seria diferente. Geralmente, só as pessoas que tem contato muito cedo com viajantes, como a Bárbara Pereira que viaja desde os 13 anos, possuem uma visão menos estereotipada. “Eu sempre tive uma ideia de pessoas livres, calmas e felizes”, comenta. A maioria imagina os mo36
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chileiros como hippies, desprovidos financeiramente ou, até mesmo, loucos. Alexandre Grosso só mudou de opinião em 1990, aos 19 anos, quando foi jogar futebol na Escandinávia e passou a ver “um monte de gente nas estações ferroviárias com mochilas nas costas, um mapa e um passe de trem nas mãos”. Quando acabaram os campeonatos, ele resolveu colocar o pé na estrada. “Achava que era coisa de doido e desocupado, mas percebi que mochilar é a melhor coisa do mundo!”, assume. Agora, em todos os recantos da Terra, existem milhões de mochileiros viajando. Há pessoas escalando a base do Monte Everest com seus filhos recém-nascidos nas costas, assim como há senhores de idade avançada que são verdadeiros cidadãos do mundo e, sem raízes definitivas, fazem da cidade que estão conhecendo seu lar. Idade não é problema. A mochileira Verônica Farias comprova: “Não ter mais idade para se aventurar pelo mundo é algo que também não existe. Vi sessentões em albergues. Pode ser uma pegada mais light, mas estão passeando, seja sozinho ou em excursão. É uma questão de hábito. Qualquer um pode tornar o ‘viajar’ parte de seus costumes. Quer coisa mais gostosa? E, até diria, mais necessária?”. O que falta para que algumas pessoas optem pelo mochilão é a ousadia. Muitos pensam como o mochileiro Rafael Jayms. “Eu somente tinha admiração e vontade (de mochilar), mas não tinha coragem”, reconhece. Entretanto, quando essa barreira é superada, os viajantes percebem as vantagens do mochilão e não querem mais viajar de outra forma. “A economia, o estado de espírito, o conhecimento e o aprendizado” são alguns pontos a favor do mochilão para o Rafael. Ele não é o único. “A vantagem é perceber cada vez mais que precisamos de pouco para viver bem. Desvantagens? Sinceramente nunca pensei nelas”, conta Alexandre Grosso. E é o experiente Zizo Asnis quem completa: “O viajante amadurece, conhece diferentes realidades, vive plenamente, como jamais viveria se mantivesse sua rotina. Desvantagem? Sinceramente, só me lembro da dor nas costas”. Qualquer viagem é uma experiência única, que pode trazer inúmeras vantagens e mudar vidas. Verônica Farias, em seu livro, apresenta o diferencial que uma viagem pode proporcionar. “Uma viagem enriquece seu currículo profissional, mostrando sua capacidade de lidar com situações problema, desenvoltura na comunicação, facilidade de se fazer compreender, independência, maturidade, responsabilidade, capacidade de superação e disposição para mudanças”, lista. Se aliado a tudo isso, ainda conta o fato de ser uma viagem econômica, já está na hora de comprar uma mochila e começar a trabalhar em um roteiro para as suas próximas férias. O mundo te aguarda. v
“Quando se mochila sozinho, você não tem uma pessoa em quem colocar a culpa. Isso de alguma forma ajuda você a conhecer a si mesmo, os seus próprios limites. E essa é a condição essencial para, depois, conhecer o outro” Mochilão solo é a forma como Alexandre prefere viajar. Ao escalar os Três Picos, ele teve a natureza toda para si
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DIÁRIOS DE BORDO BRASIL
POR BRUNO DANTAS
AS CORES DA CAPITAL Brasília pode não ser uma de suas prioridades ao escolher um destino de viagem, mas você não pode morrer sem ter conhecido o coração (ou cérebro) do seu país
FOTOS POR: BRUNO DANTAS
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e Brasília tivesse um Monte Olimpo, não seria o atual Presidente da República quem estaria no trono de Zeus, mas, sim, Juscelino Kubitschek, o responsável pela mudança da capital do Brasil do Rio de Janeiro para o meio do cerrado. “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”, disse Juscelino, em 02 de outubro de 1956. Independente dos motivos que levaram JK a tomar essa decisão (alguns dizem que, caso ficasse no Rio, ele corria o risco de ser deposto), a questão é que, hoje, Brasília é o lar de 2,6 milhões de habitantes. Boa parte vinda de outras regiões, em busca de melhores condições de vida, atrás do “sonho candango”. Para quem não sabe, “candango” foi o nome dado ao trabalhador da construção da capital. Na Praça dos Três Poderes, há uma escultura de Bruno Giorgi, chamada Os Candangos, em homenagem a esses homens e mulheres. Essa mistura trouxe uma característica muito interessante para a cidade: o sincretismo das culturas de várias regiões do país. Brasiliense gosta do churrasco do Sul, do pequi de Goiás, do pão de queijo de Minas, do açaí do Pará, do forró do nordeste, do samba do Rio, etc. Podem dizer que não temos uma cultura própria, nem mesmo um sotaque. Mas também podem dizer que pegamos o melhor de cada lugarzinho deste país. Depende do ponto de vista. Eu sou brasiliense. Bem, não literalmente. Você vai perceber que todo mundo que nasceu no Distrito Federal se autodenomina brasiliense para facilitar o entendimento geral. Na verdade, a cidade Brasília é a Capital Federal, e junto às outras cidades (antigamente chamadas “cidades-satélites”, 38
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por “orbitarem” ao redor de Brasília) formam o Distrito Federal. Então, literalmente, eu moro no Gama, mesma cidade em que nasceu Ricardo Izecson – o jogador Kaká. Vale dizer que Nelson e Nelsinho Piquet, Leila Barros, o jogador Lúcio e o Oscar, do basquete, também são frutos da cidade. No citado Olimpo, o ex-presidente estaria ladeado, sem dúvidas, pelo arquiteto Oscar Niemeyer e pelo urbanista Lúcio Costa – as mentes geniais que transformaram o Plano Piloto (o projeto da capital, no papel) em realidade, em apenas três anos e meio. Comparada a Atenas, capital grega milenar, nossa capital seria ainda um “bebê”, com seus poucos 50 anos, completados em 2010. Obviamente, o pouco tempo de existência e o fato de ter sido planejada do zero (depois de um concurso que escolheu o melhor projeto de urbanização) fazem com que Brasília tenha características únicas. Moderna é o adjetivo que mais descreve a cidade. E, para alguns, isso pode não
ser uma qualidade. Críticos apontam a falta de funcionalidade como o maior erro das obras de Niemeyer. Ao andar por Brasília, você vai encontrar prédios de concreto armado, com cores puras e pilares no pavimento térreo, algumas das características da Arquitetura Moderna Internacional, movimento do qual Niemeyer faz parte. A história que você vai respirar aqui é muito mais recente, provavelmente a história que você mesmo ou seus pais viram e ouviram, pela televisão ou rádio. Do movimento dos caras-pintadas à posse do novo Presidente da República. Para se localizar na cidade, esqueça nomes de ruas e comece a decorar os números. Muitos visitantes vão embora sem entender bem como funcionam as Quadras que formam as asas do “avião”, mas digo que basta entender a lógica para não se perder mais. Bem, ao menos é possível ter uma noção de qual direção seguir.
LOCALIZANDO-SE NO AVIÃO Todo mundo deve ter visto a famosa imagem aérea de Brasília (ou, pelo menos, o desenho), em que a cidade parece um avião. Para entender o projeto urbanístico de Lúcio Costa, basta ter um pouquinho de atenção. 1. Imagine duas linhas que se cruzam. No ponto de interseção está a Rodoviária. Uma das linhas é o chamado Eixo Monumental (o corpo do avião), onde estão os principais monumentos de Brasília. O Congresso Nacional seria a cabine dos pilotos e o Memorial JK, a traseira da aeronave. A outra linha é chamada de Eixão, e passa pelo meio das duas asas, de uma ponta a outra. O Eixão e suas pistas paralelas, na verdade, formam as asas. 2. O Eixo Monumental divide a cidade em (Asa) Norte e (Asa) Sul. O Teatro Nacional, por exemplo, está do lado
Basicamente, existem dois tipos de turismo em Brasília – o arquitetônico e o cívico. É no Eixo Monumental que você vai encontrar os principais pontos turísticos. Se você tiver pouco tempo na cidade e não se incomodar em caminhar, sugiro que conheça o lado leste do Eixo. Se você busca apenas tirar algumas fotos e conhecer os atrativos por fora, existe o ônibus do Brasília City Tour. Indiquei o lado leste do Eixo Monumental, pois lá é onde se encontram os mais importantes monumentos de
Norte. A Catedral de Brasília está do lado Sul. 3. Vamos entender as Quadras, que no total são 32. São 16 quadras na Asa Norte e 16 quadras na Asa Sul. O ponto Zero é a Rodoviária. A partir dali, você conta “de dentro para fora”, 16 quadras para um lado, e 16 para o outro. 4. O Eixão passa pelas 32 quadras, como eu disse, e divide suas ruas paralelas em centenas ímpares (lado Oeste do Eixão) e pares (lado Leste do Eixão). Para saber qual lado é leste ou oeste, basta lembrar se você está na Asa Sul ou Norte, e olhar em direção à outra asa. 5. De um lado do Eixão, você vai encontrar as Quadras 100 (Eixinho), 300, 500 (Avenida W3), 700 e 900. Do outro, as Quadras 200 (Eixinho), 400, 600 (Avenida L2) e 800. Exemplo: Se você for a algum restaurante na “204 Norte”, você sabe que é a 4ª quadra (contando a partir da Rodoviária), do lado direito (leste) do Eixão. Acostume-se, você vai ouvir muitas indicações de lugares como “513 Sul”, “307 Norte”, “914 Norte”, “102 Sul”, etc. Em caso de dúvida, olhar as placas ou perguntar, não faz mal a ninguém.
Brasília. Saia da Rodoviária em direção ao Museu Nacional (que parece uma nave espacial), onde sempre acontecem exposições, e que fica ao lado da Biblioteca Nacional. Um pouco mais à frente está o principal cartão postal da cidade – a Catedral de Brasília. Projetada por Niemeyer, as 16 colunas externas parecem mãos estendidas ao céu fazendo uma prece, e, para entrar na catedral, você passa por um túnel estreito e escuro até chegar ao grande ambiente claro e amplo, representando a iluminação religiosa. Pendurados no Mochileiros S.A. | Dez 2010
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teto estão os três anjos de Alfredo Ceschiatti, que também fez os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, dispostos em frente à catedral. Os vitrais brancos, azuis e verdes, da artista Mariane Peretti, foram recentemente reformados. Aqui abro um parêntesis para falar do que é mais belo na capital – as cores. Já é clichê dizer que o gigante céu azul (parece ser maior por estarmos em uma região plana) é o mar de Brasília. Azul também é o Lago Paranoá – impressionante o fato de ele ser artificial, criado para aumentar a umidade da região. A maioria dos monumentos é branca (menos na época da seca, quando tudo fica meio encardido de poeira). E os grandes espaços com grama, no meio do Eixo Monumental, que ficam verdíssimos com as primeiras chuvas, formam as cores básicas da pintura que é a Capital Federal. Azul, branco e verde. O amarelo do sol (geralmente quente) e dos inúmeros ipês amarelos (quando florescem) torna, literalmente, a vista da nossa capital uma ode ao nacionalismo, colorida com as cores da nossa Bandeira Nacional. Falando em bandeira, depois de passar pela Esplanada dos Ministérios e pelo Palácio do Itamaraty (sede do Ministério das Relações Exteriores), você chega à Praça dos Três Poderes, onde se encontra o Mastro da Bandeira (raras vezes tremulando orgulhosamente), o Museu Histórico, o Panteão da Liberdade (ver os vitrais do lado interno é muito bonito), o Pombal, a Pira da Pátria, e os Espaços Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. O urbanista disse: “Eu queria que a Praça dos Três Poderes fosse um Versalhes, não um Versalhes do rei, mas um Versalhes do povo, tratado com muito apuro”. Lúcio Costa também disse que seu objetivo era acentuar o contraste da parte civilizada, de comando do
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país, com a natureza agreste do cerrado. Conseguiu. A Praça é rodeada por três importantes prédios, que, se traçadas linhas imaginárias ligando-as, formam um triângulo equilátero (mesma distância entre os vértices), o que simboliza a harmonia e o equilíbrio entre os tais Três Poderes. Eles são: Palácio do Planalto (Poder Executivo), com a famosa rampa onde o jogador Vampeta já rolou; Congresso Nacional (Poder Legislativo), onde é possível fazer um passeio guiado muito interessante pelo Senado Federal e Câmara dos Deputados (eles só não falam de casos curiosos como o do assassinato do senador acreano José Kairala pelo pai do Collor, Arnon de Mello, no Plenário do Senado); e o Supremo Tribunal Federal (Poder Judiciário), com a estátua A Justiça à sua frente. Da Praça, sugiro pegar algum ônibus que passe pela Ponte JK e descer uma parada antes ou depois, para conhecer o famoso Lago Paranoá. Se puder visitar o chamado Pontão do Lago (meio complicado sem carro), mesmo que somente para olhar o local e os filhos abastados da cidade, vale a pena. De volta ao Eixo Monumental, ainda falta visitar o Palácio da Justiça e o Teatro Nacional – isso somente do lado leste. Do outro lado do Eixo, temos, ao menos, uma única atração obrigatória, que é a Torre de TV, agora com o chafariz em frente funcionando e iluminado durante a noite. Pesquisando, talvez você consiga comprar algo na feirinha embaixo da torre por um preço razoável. Aliás, fazer compras em Brasília não é algo muito vantajoso. Lembrancinhas típicas da cidade você só vai encontrar nos pontos turísticos e no aeroporto. Um bom lugar para comprar produtos variados e eletrônicos é a Feira dos
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1. Catedral. O projeto de Niemeyer é Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 2. O Museu Nacional Honestino Guimarães foi o último grande monumento que a cidade recebeu 3. As palmeiras pareMochileiros S.A. | Dez 2010 40 cem esperar, como os cidadãos, pelas decisões do Congresso 4. A Justiça, de Ceschiatti, vigia a entrada
Importados (ou Feira do Paraguai) – não exatamente em Brasília. Os shoppings da cidade são os paraísos dos brasilienses nos finais de semana. Se visitar a cidade durante as épocas de promoções, como o Liquida DF, talvez valha a pena passar em algum shopping para conferir. Mas voltando aos pontos turísticos, destaco ainda o Palácio da Alvorada (residência oficial do presidente), Santuário Dom Bosco (702 Sul – dá para ir andando da Rodoviária) e o Templo da Boa Vontade (915 Sul) – os três parte das Sete Maravilhas de Brasília (assim como o Congresso, Catedral, Palácio do Planalto e Ponte JK). Ainda existem vários outros museus e monumentos importantes como o Memorial JK. O mochileiro em busca de natureza vai eleger o Parque da Cidade como o melhor lugar da cidade. Nada como tomar uma água de coco e deitar debaixo das árvores depois de um dia de caminhada. Quem gosta de turismo arquitetônico e cívico, sem dúvidas vai achar a cidade muito interessante. Quem não curte esse tipo de viagem, talvez não veja grandes atrativos em conhecer Brasília. A verdade é que dois dias são suficientes para conhecer os principais pontos da capital. Não vou dizer que um mochileiro catarinense ou amazonense deveria viajar tanto para conhecer apenas Brasília e voltar para casa. Ainda mais pela falta de estrutura e por não ser uma cidade barata. Contudo, é possível aliar Brasília a alguns outros atrativos da região, principalmente naturais. A cidade é próxima de lugares espetaculares, como Pirenópolis, Goiás Velho, Salto do Corumbá, Itiquira e a famosa Chapada dos Veadeiros. Acredito que a maioria dos mochileiros também é interessada em cultura e história. Por que conhecer somente a
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história de outro país? A sua vida é influenciada por essa cidade que é, ao mesmo tempo, cérebro e coração do país. Você pode perceber que, em todas as outras nações, as capitais são sempre valorizadas e reconhecidas no exterior. No nosso caso, o Rio de Janeiro, para muitos estrangeiros, ainda é a capital do Brasil. Pelo jeito a notícia da transferência da capital está atrasada em 50 anos. E parte da culpa é nossa, brasileiros, por ainda não valorizarmos a cidade. Brasília não é só minha, que nasci aqui. Brasília é do Brasil! Ela não pertence somente aos candangos. Já ouvi pessoas dizerem que a cidade é “estranha”, com muito espaço vazio, sem pessoas nas ruas (e aqui não estamos falando do centro – Rodoviária e arredores, mas das quadras). Se você quiser encontrar os brasilienses, vá aos barzinhos das entrequadras, ao shopping mais próximo ou visite o Eixão nos domingos, quando é fechado para as pessoas passearem, pedalarem e correrem. E há quem utilize os espaços vazios da Esplanada dos Ministérios para jogar futebol americano nos finais de semana, por exemplo. Eu avisei que é uma cidade única, diferente... Moderna! Oscar Niemeyer já havia dito: “Quando alguém vai a Brasília e me pergunta sobre os palácios que projetei, logo digo: você vai gostar ou não, mas nunca vai dizer ter visto antes coisa parecida. A surpresa, o espanto, são características fundamentais da beleza e da própria arquitetura”. Se você nunca mochilou com o objetivo de admirar belezas arquitetônicas e cívicas, comece por Brasília. No mínimo, você vai conhecer e admirar as cores da sua capital. Não apenas o azul e branco, como na cidade grega Santorini. Mas o azul, branco... verde e amarelo do Brasil. v
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da mais alta instância do Judiciário: o STF 5. Escultura Os Candangos homenageia os construtores da Capital Federal 6. Característica de Niemeyer: os arcos do Itamaraty parecem se equilibrar sobre a água 7. Os vitrais Mochileiros S.A. | Dez 2010 41 da Catedral Metropolitana trazem as cores de Brasília
ANOTE NO CADERNO w HOSPEDAGEM Como o mochileiro ainda não é o público alvo de Brasília, a cidade conta apenas com um hostel. Caso contrário, o viajante vai precisar gastar um pouco mais para se hospedar. • Albergue da Juventude de Brasília – Setor Recreativo Parque Norte (SRPN), Qd. 02, fone 3343.0531, www.brasiliahostel.com.br, 114 camas. Diária R$35 (HI) e R$47 (não alberguista), em baixa temporada (jan-fev); R$40 (HI) e R$52, em alta temporada (mar-dez) – O fato de não ter concorrência não se traduz em uma menor qualidade do serviço, pelo contrário, o hostel tem uma ótima estrutura e serviço. O hostel tem um grande estacionamento e área verde maior ainda, onde é possível acampar, lavanderia, salão de eventos e um centro de atendimento ao alberguista. Além disso, todos os quartos têm suítes, inclusive os dormitórios compartilhados para seis pessoas. • Saan Park Hotel – SAAN, Qd. 03, Bloco D, fone 3361.0077, www.saanpark.com.br, 70 apartamentos. 1p R$100, 2p R$130 (standard) – Simples, mas organizado. O hotel tem atendimento 24h e conta com sala de ginástica e sauna. Todos os quartos têm varanda e quatro deles são adaptados para pessoas com necessidades especiais. Café da manhã incluído.
f ALIMENTAÇÃO
Se você não se importa com o local onde vai comer, na Rodoviária de Brasília e arredores ou em quase todas as entrequadras da cidade, você irá encontrar algum lugar para matar a fome. Caso queria fazer um rápido lanche enquanto passeia pelo Eixo Monumental, um (já) clichê brasiliense é o Pastel Viçosa, na própria rodoviária, considerado o melhor da 42
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cidade (também na 704/05 Norte) – são 35 combinações de sabores. Se quiser experimentar outro ótimo pastel do DF, terá que pegar um metrô até a estação Feira, no Guará. Lá está a Universidade do Pastel (bancas 348/49 e 365), cujas especialidades são os pastéis de galinha com catupiry e o de banana com canela e queijo. Cada um sai por R$2. Caso prefira uma massa, um lugar bom e barato é o Macarrão na Rua (205/06 Norte), onde você pode fazer uma refeição por R$7, com música ao vivo ou um DVD de blues tocando em um ambiente agradável. Depois de economizar na refeição principal, vale a pena gastar um pouquinho mais com a sobremesa. A torta suflair do Sabor Glacê (108 Norte, SCN Qd. 02 e 201 Sul) é divina e custa R$5 a fatia. Compensa. P PASSEIOS • Brasília City Tour – quem estiver com pouco tempo ou não quiser andar, pode conhecer a cidade no ônibus de dois andares, que conta com um sistema de gravação em três idiomas. As saídas acontecem na Torre de TV e no Brasília Shopping (às segundas, só há saída deste ponto). O primeiro ônibus sai às 10h30 e o último às 19h. É possível descer em algum ponto turístico e esperar o próximo veículo, que demora, geralmente, 1h30 de quinta a domingo. O preço é R$25 para maiores de 12 anos, R$15 para crianças de 06 a 12 anos e, até os 05 anos, o passeio é gratuito. Dentre os pontos turísticos visitados estão alguns fora do Eixo Monumental: Ponte JK, Palácio do Jaburu, Palácio da Alvorada e Parque da Cidade. Site: www.brasiliacitytour.com.br b DESLOCAMENTO
• Como chegar
O Aeroporto Internacional de Brasília – Presidente Juscelino Kubitschek e a Rodoferroviária são bem localizadas e próximas do centro da cidade. Esta última mudou de lugar recentemente e, agora, está ao lado do metrô e do Park Shopping (caso precise esperar algumas horinhas para pegar seu ônibus). A capital tem voos para todo o Brasil e atualmente é diretamente ligada a Lisboa (Portugal - TAP), Miami (EUA - TAM) e Buenos Aires (Argentina - TAM). • Como se deslocar Como o viajante dificilmente vai sair de Brasília para conhecer outras cidades do DF, o transporte na capital é tranquilo e rápido. Um circular, por exemplo, que passa pelo Eixo e pelo Pier 21 (de onde é possível conhecer o Lago Paranoá), custa R$1,50. O metrô é uma boa opção para quem pretende conhecer algumas das principais cidades do DF. Ele custa R$3, de seg-sex, e R$2, nos fins de semana. Contudo, para conhecer o centro e o principal de Brasília, basta ânimo para caminhar. 4 BÁSICO
• Clima No inverno, o tempo costuma ficar muito seco e frio. A cidade chega a ficar mais de 120 dias sem chuvas. No verão, geralmente, fica úmido e chove com frequência. Um bom mês para visitar Brasília é abril, quando o clima fica mais ameno, com boas temperaturas e sem chuva. • Comunicação DDD: 61 • Pesquisas - www.brasiliaconvention.com.br - www.guiabsb.com.br - www.mochileiros.com/goias-distrito-federal-f144.html - www.tablado.com.br (programação cultural)
AMÉRICA
POR JONAS SCHWERTNER
Além de
Machu Picchu FOTOS POR: JONAS SCHWERTNER
Nasca, Arequipa, Cusco e Águas Calientes. Quando visitar o Peru para fazer a famosa Trilha Inca, pense em conhecer cidades próximas que podem tornar a viagem ainda mais interessante
Em mais um dia tranquilo nos arredores de Cusco, nativas trabalham em seu artesanato
LINHAS DE NASCA
U
m sonho de quase todos os mochileiros – se não de todos – é conhecer Machu Picchu, no Peru. Muitos começam as mochiladas nesse destino, por estar localizado em um país vizinho e também pelo custo ser menor. No meu caso, foi um pouco diferente, pois comecei viajando pelos EUA e Europa, porém, em 2010, passei a conhecer mais a América do Sul. Escolhi viajar no mês de julho por ter menos chuvas, principalmente depois de todos os problemas que o Peru teve por causa delas, em janeiro desde ano. Queria evitar esse tipo de contratempo e acertei. As linhas de trem que haviam sido destruídas foram renovadas e melhoradas. Multiplicou-se o número de trens que fazem o trajeto e está bem mais seguro. Saí de Marechal Candido Rondon, no oeste do Paraná, e, aproveitando que tinha milhas, fui até Lima de avião. Depois segui até a cidade de Nasca, onde sobrevoei as linhas com o mesmo nome. Foi um sonho conhecê-las. Fiz o passeio de 30 minutos em um monomotor. O custo foi de 85 dólares, incluindo o transfer.
As Linhas de Nasca são enormes geoglifos localizados no deserto de Nazca, no altiplano peruano. Criados entre os séculos III e VIII, só foram descobertos nos anos 1920, quando aviões comerciais começaram a fazer o trecho Lima-Arequipa. Os geoglifos formam várias formas, como aranha, flor, lagarto, mãos, e o colibri que pode ser visto na imagem acima. A partir de então, inúmeras teorias surgiram, desde serem projetos de irrigação até pistas de pouso para naves extraterrestres. Sem respostas definitivas, estudiosos acreditam que os geoglifos podem ter tido um papel ritualístico na cultura nasca. Hoje, somente é possível conhecer esses enigmas pelo ar.
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No mesmo dia, segui para Arequipa, ao sul do Peru. Fiquei apenas um dia e meio lá, mas deveria ter ficado quatro ou cinco dias, pelo menos. Na cidade, conheci apenas o centro histórico. Queria subir o Vulcão El Misti (5.823m) e fazer passeio de três dias pelo Cânion Del Colca, mas, como o meu tempo era curto, embarquei em outro ônibus com destino a Puno, às margens do lago Titicaca. Fiquei um dia inteiro na cidade e valeu muito a pena, principalmente o passeio pelas Ilhas Flutuantes de Urus. Fiz, também, o passeio até a Ilha de Taquile, contudo, esta não compensou, pois se gasta muito tempo no barco para ficar menos de duas horas na ilha, sendo que ainda é preciso pagar o almoço. Entretanto, o que estava esperando mesmo eram os próximos destinos, os quais deixei para o final: Cusco e Machu Picchu. A viagem de Puno a Cusco foi tranqüila. Assim que cheguei à rodoviária, peguei um táxi (isto é muito barato no Peru, mas negocie antes de pegar um), e fui ao Hospedaje Turistico Recoleta. Gostei muito do mesmo, pois fica próximo ao centro histórico da cidade. As inúmeras igrejas e as construções são magníficas, como a Praça de Armas. Praticamente tudo fica próximo e é possível conhecer caminhando. A alimentação tem um custo semelhante 44
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ao que se paga no Brasil. Existe todo tipo de opções, desde as mais econômicas às mais refinadas, assim como algumas exóticas e comidas típicas, como o Cuy – que é o porquinho-da-índia, em geral, preparado assado. O número de brasileiros é muito grande. O tempo todo encontramos conterrâneos andando pelas ruas. Comprei dólares para ir ao Peru, mas em Cusco é possível trocar reais pelos soles. Atenção: cuidado ao pegar notas, pois existem muitas notas falsas. Evite, mais ainda, pegar notas anteriores a 2006, pois a partir desse ano foram trocados vários itens de segurança. Muitas lojas não aceitam essas notas e elas podem facilmente ser confundidas com notas falsas, sendo, então, retidas em estabelecimentos comerciais. À noite, Cusco oferece muitas opções. Há diversos bares e discotecas. Uma das mais famosas entre os mochileiros é a Mama África. Ela é famosa por ser muito divulgada em sites e livros, como o Lonely Planet. Há muitos turistas e, aos finais de semana, também muitas pessoas locais. Vale a pena conhecer, mas não deixe de participar das festas que o hostel faz. Dois dias são suficientes para conhecer toda a cidade e mais um dia para fazer um passeio pelo Vale Sagrado. Cusco me surpreendeu e superou todas as expectativas. Algumas pessoas reclamam que, no Peru, tudo tem que ser negocia-
Nativas peruanas vivem em Uros, as ilhas flutuantes do Lago Titicaca, feitas de totoras, umas plantas aquáticas que asseguram a flutuabilidade
do, senão você paga muitas vezes mais o que realmente pagaria. Caso você queira fazer uma viagem estilo mochileiro e não se importa em pagar mais, pague o primeiro valor que pedirem. Outro detalhe: sai mais barato fazer as compras de souvenirs, lembranças e objetos em Cusco. Há diversos “mercados” de artesanato e roupas na cidade. Quanto à segurança, cuidado com os batedores de bolsa e carteira. São comuns esses casos e aconteceu, inclusive, com um casal de mochileiros que conheci durante a viagem. Cusco ainda não era o meu principal objetivo e, sim, Machu Picchu (MP), uma das novas sete maravilhas do mundo. Existem diversas alternativas para se chegar a MP, pode ser de trem direto até Águas Calientes (esse trem possui várias opções, desde a classe econômica até a de luxo), ou fazendo a Trilha Inca (para tanto, verifique quando fazê-la, principalmente quanto à questão das chuvas e, em algumas agências, é necessário fazer reserva com antecedência), que pode levar de dois a cinco dias. Também existe um caminho alternativo, que é chegar de ônibus ou de táxi até a Hidrelétrica de Santa Teresa e, de lá, caminhar até Águas Calientes (em torno de quatro horas). Escolhi ir de trem até Águas Calientes, ponto final para se chegar a MP. Essa pequena cidade me surpreen-
deu, pois sempre via fotos apenas de uma estação de trem e nada mais. Fiquei uma noite hospedado na cidade, ao invés de fazer o que muitos fazem – chegar pela manhã, subir direto a MP e, ao final da tarde, voltar para Cusco. Realmente não tem o que se fazer em Águas Calientes por mais do que meio dia e uma noite. Hospedei-me no Pariwana Hostel, achei muito bom e recomendo. Assim que cheguei a Águas Calientes, comprei o ticket para subir a MP de ônibus, no dia seguinte, além do ingresso para entrar na cidade inca, que custa o equivalente a 40 dólares. Existem muitos restaurantes e pequenos supermercados em Águas Calientes. Os valores são um pouco mais caros, contudo são as únicas opções. O primeiro ônibus sai às 5h30 da manhã e, neste horário, eu já estava na fila para pegar o mesmo. A cada dez minutos sobe um. De Águas Calientes até MP, de ônibus, são quinze minutos, mais uma hora de caminhada em uma subida íngreme, mas tranquila. O melhor é ir bem cedo, pois a tarde é muito quente, mesmo no inverno. Eu tinha lido muito e visto inúmeras fotos antes de chegar a MP e a sensação é bem diferente daquelas descritas por pessoas que não se aprofundaram tanto no relato. Por um lado, é quase como se eu já tivesse estado lá antes. Por outro, Mochileiros S.A. | Dez 2010
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mesmo com tantas fotos vistas, não fazia idéia de como era o conjunto – as montanhas, o vale, o clima... Tudo junto é algo indescritível, é preciso viver! Em MP você não vai aprender muito sobre a civilização inca. Para isto, você precisa viajar por muitas cidades que eles habitaram, pois cada lugar soma algo ao aprendizado sobre a cultura deles. Na Ilha de Taquile, apesar do pouco tempo, aprendemos, por exemplo, sobre a questão do casamento inca, que era considerado consumado somente após o nascimento do primeiro filho. No Vale Sagrado e arredores de Cusco, outras cidades foram construídas no alto de montanhas e são interessantes. Machu Picchu, no entanto, continua um mistério. Depois do meio dia, retornei para Águas Calientes e, depois, para Cusco, onde fiquei mais um dia antes de pegar o vôo para Lima. Quem pegar vôos internos e internacionais no Peru precisa estar atento às taxas aeroportuárias, não inclusas na passagem aérea. Ou seja, se você não
pagar, não embarca. A taxa para vôos internos é de aproximadamente 4,20 dólares e, para vôos internacionais, 31 dólares. A viagem foi ótima, e quero regressar para conhecer o que não consegui nesta viagem. v
1. O templo colonial dos padres jesuítas, La Compañía de Jesús, na Plaza de Armas, demorou quase 100 anos para ficar pronto 2. Quase todo mochileiro sonha em fazer esta famosa foto em frente a uma das novas sete maravilhas do mundo 3. O Vulcão Misti teve sua última relevante atividade em 1870, mas, em caso de erupção, Arequipa estaria em grande perigo 4. Vista de Cusco a partir do morro Cristo Blanco, de onde é possível ver também as ruínas incas Sacsayhuamán
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ANOTE NO CADERNO w HOSPEDAGEM
• Arequipa: Hostal Comercio – C. San Camilo 104, fone 202.282, 30 camas. Diária 1p s/12, 2p s/25, 3p s/30 – Quartos simples e não muito limpos, com banheiros compartilhados. Fica entre as C. Piérola e San Juan de Diós, próximo ao Mercado San Camilo. Uma das opções mais econômicas da cidade. Baviera Hostal – C. Palacio Viejo 319, a uma quadra da Plaza de Armas, fone 282.923. Diária 1p s/20, 2p s/40, 3p s/60. Banheiro privativo, TV a cabo, cozinha liberada, atendimento simpático, bem localizado, uma boa opção. Com café da manhã, o preço pode aumentar s/10-15. Tem um terraço de onde se avista o Vulcão El Misti. • Puno: Hotel Nesther – C. Deustua 268, em frente ao Hostal Hacienda, fone 351.631, 48 camas. Diária 1p s/33, 2p s/50. Alternativa bem mais econômica e simples do que seu vizinho de fachada. Quartos satisfatórios e limpos, com banheiros pequenos. Tarifas negociáveis. Hostal Zurit – C. Fermín Arbulú 191, próximo ao Parque Pino, fone 353.665, hotelzurit_puno@hotmail.com, 70 camas. Diária 1p s/50-65, 2p s/65-100, 3p s/100-130. Café da manhã incluído. Quartos limpos, amplos e confortáveis, com bons banheiros. Apesar de a região ser movimentada e um pouco caótica, o hostal é seguro. • Cusco: Hospedaje Turistico Recoleta – Jiron Pumacahua 160, fone 231.323, info@ hostelrecoletacusco.com. Diária US$12 por pessoa. Café da manhã incluído. Perto do centro, a cinco minutos de caminhada da Plaza de Armas, oferece confortáveis quartos, todos com banheiro privado. Tem calefação e oferece serviço de lavanderia. Albergue Turístico HI – Pasage Grace, uma travessa da Av. Sol em frente ao Qorikancha, fone 235.617, 33 camas. Diária dorms s/25/32 (sem/com banheiro); quarto 1p s/25/80 (sem/ com TV e banheiro). Com carteirinha HI tem 10% de desconto. Café da manhã incluído somente para os quartos mais caros, para os demais s/5. Atendimento simpático e prestativo. • Águas Calientes: Pariwana Hostel – Av. Meson de la Estrella 136, no Centro Histórico, fone 233.751, www.pariwana-hostel.com. Diária 1p s/24-34. Café da manhã incluído. Oferece internet wireless, salão de jogos e atendimento atencioso em espanhol e inglês. Hostal Los Caminantes – Av. Imperio de los Incas 140, fone 211.007. Diária 5p-1p s/20/30 (sem/com banheiro). Café da manhã não incluso, s/5. Local muito simples.
f ALIMENTAÇÃO
• Arequipa: A cidade é famosa por sua culinária. Existem dezenas de bons restaurantes, a maioria próxima à Plaza de Armas. O restaurante Manolo – C. Mercaderes 107 e 113, a menos de uma quadra da Plaza – serve uma incrível variedade de pratos, ao preço de s/18. Vale a pena experimentar alguma das sobremesas das confeitarias, como a Confeitaria Lucciano – C. Mercaderes 115 –, especializada em pães, café e doces. • Puno: O calçadão da C. Lima, entre a Plaza de Armas e o Parque Pino, é o ponto gastronômico da cidade. Algumas padarias servem café da manhã a partir de s/1. • Cusco: Na Plaza de Armas é possível encontrar uma boa variedade de restaurantes, mas nas ruas Plateros e Procuradores não faltarão ofertas de lugares, comida e preços. Mama Africa de Peru – Plaza de Armas – bar com petiscos legais e um alto astral ao som de rock e reggae. Chez Maggy – C. Plateros 348 e C. Procuradores 365 – cozinha em forno a lenha, tem boas pizzas, massas, carnes e frangos. • Águas Calientes: A Av. Imperio de los Incas, conhecida também como a rua dos trilhos, é a principal via, onde se encontram os melhores restaurantes.
P PASSEIOS
• Puno: Ilhas Flutuantes de Urus – os povos de Urus são uma das comunidades mais antigas a habitarem o Lago Titicaca. As ilhas estão a cerca de 30min de barco do porto de Puno e há várias embarcações que fazem o trajeto. O mais comum é agendar um passeio em uma das agências, que custa s/20 e dura meio dia, incluindo transporte e guia. • Cusco: Vale Sagrado dos Incas – a região compreendida entre os povoados de Pisac e Ollantaytambo é chamada Valle Sagrado de los Incas. A maneira mais fácil de conhecer o vale é contatando algum dos tours das várias agências de Cusco, que custam, em média, de s/50 as/70. O passeio dura o dia inteiro. Quem quiser conhecer mais, pode pernoitar em algum dos povoados e viajar por conta própria. Saqsaywaman – a ruína inca mais próxima de Cusco. Pode-se chegar com 1h de caminhada a partir da Plaza de Armas, rumo norte a partir da C. Procuradores ou C. Suecia. O que impressiona são os paredões e portais com rochas de toneladas que se encaixam com perfeição, formando uma cidadela. • Águas Calientes: Parque Arqueológico de Machu Picchu – aberto das 6h-17h30, a en-
trada custa s/118,50 (ou s/60 para estudantes com identificação). Na entrada do parque, grupos são formados com guias e o preço é negociado. Vale o investimento. Os ônibus, que saem de Águas Calientes até o parque, fazem o trajeto das 5h30 às 17h. A passagem custa s/20, ou o dobro com retorno. Para informações precisas, cheque em Cusco, pois os valores mudam com frequência. COMPRAS Em Arequipa, a melhor forma de encontrar barbadas é fuçando os mercados populares, principalmente o San Camilo. Quem for conhecer o Cañón Del Colca, deve aproveitar e fazer compras nos vilarejos pelo caminho, onde os preços são mais baixos. Já em Puno, o Mercado de Abastos, próximo à estação ferroviária, é onde os nativos fazem suas compras diárias. Em Nasca, é comum venderem réplicas de cerâmicas pré-colombianas. Quando estiver em Cusco, também vale a pena conhecer os mercados dominicais dos povoados vizinhos, como Pisaq e Chinchero. b DESLOCAMENTO • Como chegar: As melhores maneiras de entrar no país são de avião, admirando os Andes, ou de ônibus, conhecendo os ricos cenários e pobres povoados do país. As principais companhias aéreas são a LanPerú (subsidiária da LanChile), Tans, Aviandina, Aero-Condor, além da Taca e da boliviana LAB, que voam a Lima e Cusco. • Como se deslocar: Se tempo não for problema, uma boa maneira de se deslocar pelo país é por meio de ônibus. As maiores e mais conceituadas empresas são a Ormeño e Cruz Del Sur. As que tiverem “Real” ou “Imperial” no nome, geralmente, são as mais confortáveis. 4 BÁSICO • Fuso Horário: Menos 2h em relação a Brasília. No nosso horário de verão, a diferença aumenta para 3h. • Dinheiro: A moeda é o Nuevo Sol, chamada apenas de sol (soles). R$1 = s/1,65 (out/10). • Documentação: Para entrar no Peru, você precisa de passaporte ou carteira de identidade, e o certificado de vacina contra febre amarela. • Comunicação: DDI: 51 • Pesquisas: Guia Criativo Para O Viajante Independente na América do Sul (de onde grande parte do serviço foi retirado) - www.peru.info - www.mochileiros.com/peru-f114.html Mochileiros S.A. | Dez 2010
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EUROPA
POR VANA GWEN
ESTÁ NOS DETALHES A beleza da capital tcheca, Praga, não está somente nas “cem cúpulas*”, mas, também, nos milhares de detalhes
FOTOS POR: VANA GWEN
* Praga é conhecida como “cidade das cem cúpulas”, pois, no começo do século XIX, o matemático tcheco Bernard Bolzano contou 103 torres. Atualmente, são mais de 500 cúpulas e miradouros.
1º DIA - DE ZURIQUE PARA PRAGA Quem sai de Zurique leva consigo uma lição importante sobre a Europa: eles detêm riquezas inestimáveis, como, por exemplo, educação e respeito. Porém, mais do que isso, são pontualíssimos! Na cidade dos relógios, fui para a estação: entrar no trem, me acomodar e descobrir que aquele assento era um horror! Mas tudo bem, por 36 euros, a barganha compensou, já que, em média, essa viagem sai por 200. Logo de cara, atrás de mim tinha um menino muito simpático e tratei de conversar um pouco com ele. Com meu inglês macarrônico, acabei descobrindo que Peter era Tcheco! Um legítimo! E o melhor de tudo, mochileiro. Muitas risadas e uma apresentação básica, já estávamos dividindo sensações de nossos países e experiências da vida mochileira. Como logo iria anoitecer, pedi uns minutos para ele, pois queria muito ver as paisagens do entardecer nos Alpes Suíços. É. As imagens são de tirar o fôlego! O branco coberto pelo dourado do sol e aquele céu azul, azul, fazem com que os olhos nem pisquem. Com algumas comidas dentro da bolsa, tratei logo de fazer um lanchinho, e aproveitei meu novo canivete suíço para cortar e passar o queijo no meu pão. Até ofereci a Peter, mas o menino estava tão cansado que decidiu logo bodiar na cama. Logo em seguida, peguei meu MP3 e fiquei ouvindo música, aproveitei uma tomada lá no fundo do trem e coloquei meu notebook para carregar, logo mais eu cansaria de dormir e iria precisar do notebook para me distrair. O problema mesmo foi conseguir dormir naquela cadeira. E, o pior, as janelas pareciam não fechar. Então todas as vezes que o trem parava em uma estação eu acordava, ou porque alguém subia e fazia barulho, ou por conta das luzes. Logo pela manhã eu tentei falar com minha mãe. Estava tão desnorteada que acabei me esquecendo que no Brasil eram cinco horas da manhã! Ela queria me matar,
mas, ao mesmo tempo, ficou feliz de falar comigo, foi uma das poucas vezes que consegui falar pelo celular. Muito sono e fome depois de 15 horas de viagem, estávamos chegando em Praga. Como Peter era um nativo, perguntei a ele como fazia para chegar ao hostel Czech Inn Hostel. Ele não só me disse como, mas também me deu um mapa de como chegar. Repetiu várias vezes que o lugar onde eu iria ficar era muito bom. Na estação de trem, ele, ainda preocupado, me deixou seu telefone, pois, caso eu me perdesse, era só ligar que ele dava um jeito de me ajudar, ou por telefone, ou pessoalmente. Adorei a atitude dele. Cambiei alguns euros ali mesmo e tratei de pegar logo o passe de trem e me situar. Com o mapa na mão, fui seguindo até descer na estação onde eu deveria pegar um tram. Quem chega em Praga logo dá de cara com uma cidade um pouco suja, velha e com muitas pessoas. A própria língua te obriga a sair da zona de conforto. O bom é que os Tchecos adoram visitas e tratam muito bem os turistas, além de exibirem, muitas vezes, um excelente inglês. 2º DIA - A GENTE NÃO SE CONHECE HÁ ANOS? Avistei o albergue e logo dei o sinal para descer. Na ladeirinha, me deparei com um albergue que mais parecia um hotel do que um albergue. Até estranhei, já que dizia que o preço dele era de 11 euros! Na portaria dou de cara com um DEUS GREGO AUSTRALIANO que me atende com a maior educação do mundo. Eu quase me apaixonei... Como eu havia chegado antes do horário do check-in, teria que deixar minha mala no storage e, só lá pelas 15 horas, poderia voltar para colocar minhas coisas no quarto, tomar banho, etc. Imagina como eu fiquei depressiva. Quase dois dias sem banho... Eu precisava de um URGENTE! A única coisa que me animou foi o café de 1,5 euros do All You Can Eat (tudo que você aguentar comer). Lá fui eu ver, e tinha tudo mesmo: pão, frios, frutas, cereais, chá, suco, água, bolacha, bolo, doce... Era um banquete. Fazendo meu prato no bar-restaurante me deparei com uma música do Moulin Rouge, e logo comecei a cantar, pois eu adoro esse filme. A menina sentada na mesa ao lado começou a cantar também e, em seguida, estávamos dando risada e conversanMochileiros S.A. | Dez 2010
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do em inglês. Sentei para começar a comer quando a ouço falando com sua amiga, em português. Escancarei a rir e falei: “Ah, tinha que ser brasileira pra ser tão simpática!” Foi assim que conheci Camila e Karine, duas brasileiras fofas e gentis. Também conheci outros oito brasileiros de uma turma maior, mas um pouco mais reservada. Elas me convidaram para fazer um passeio. Eu queria muito, mas elas iriam tomar banho – me bateu uma inveja master. Camila deu uma idéia: conversa com o cara da recepção e pede pra ele deixar você tomar pelo menos um banho. Foi o que eu fiz, e claro que ele deixou. QUE CHUVEIRO ERA AQUELE! Massageador, na temperatura ideal... Quase me casei com o chuveiro. Depois daquele banho, estaria pronta para mais 15 horas de viagem de trem sem dormir! Como eu havia usado muito a câmera em Zurique, estava com as duas baterias descarregadas e pedi pra moça da recepção deixar carregando enquanto eu tomava café. Em vez de pegar a bateria, sai só com a câmera! Ou seja, meu primeiro dia de Praga corria o risco de ficar sem imagens. Isso era inviável! Conversando com Karine, descobri que ela tinha uma Canon, porém não sabia usar. Logo ela tinha desistido de fotografar e deixou a câmera na minha mão. Praga então virou para mim muitas flores, recortes, prédios e muita sombra e luz. A cidade é recheada de detalhes góticos e muita luminosidade. Por fazer parte do Leste Europeu, tem um pouco de decadência, como, por exemplo, ser um pouco suja e ter paredes pichadas. Mesmo isso dá um ar de atualidade em Praga. Parece que os grafites na rua trazem a cidade para séculos adiante. Com o céu num azul repentino, passamos pela Charles Bridge, uma das mais famosas passarelas de artistas do mundo, com os olhos voltados para muita pintura, decoração em metais e música. Conhecida como “cidade das cem cúpulas”, Praga é um dos mais belos e antigos centros urbanos da Europa, famosa pelo extenso patrimônio arquitetônico e rica vida cultural. Olhamos para o Rio Vltava, e nos deslumbramos ao som do Jazz, que é a música de maior destaque na cidade. Depois de muito andar, resolvemos parar para tomar um café e conversar. Descobri muitas coisas sobre as meninas,
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e passei um pouco das minhas sensações a elas. Isso é o que eu mais gosto nas viagens, essa troca infindável de conhecimento e de experiências. Cada pessoa que passa na sua viagem leva, literalmente, um pouco de você e, em contrapartida, deixa um pouco dela. Após o café, falei que queria tirar um cochilo para ver se teria forças para sair à noite. Praga também é conhecida como uma cidade bem noturna, mas não sei se algo me surpreenderia depois que conheci as baladas de Londres. De noite, conversando no bar com as meninas, com todas aquelas pessoas, totalmente enturmada, descobri que sinto falta de ter uma pessoa conhecida na viagem. Claro que viajar sozinha te proporciona outros sentimentos e aventuras, mas é bom ter alguém para dividir as sensações, depois de um dia tão intenso. A chuva do lado de fora caia incessantemente, então decidi ficar no albergue, descansar e, no dia seguinte, curtir uma noitada. Era o melhor a fazer. 3º DIA - DO ALTO, DEBAIXO, DA VIDA Acordar com o sol batendo na janela, te chamando para acordar, é delicioso. Porém, a boba aqui teve que levantar com o barulhinho da chuva mesmo. Cedo, cedo, para ir à lavanderia lavar um pouco de roupa! Pois é, ser mochileira é isso também, pois levamos poucas roupas e elas precisam estar limpas para que possamos reutilizá-las. Nesse dia, iríamos visitar o jardim perto da Torre Petrin (a pequena Torre Eiffel que existe em Praga), algum museu, se possível a Catedral e a Praça do Relógio. Tudo a pé, ou seja, caminhar MUITO. Com a bateria da câmera recarregada, eu estava pronta para fotografar. Nosso primeiro ponto foi pegar um tram e subir até o jardim Rose Garden, que por acaso era um roseiral! O lugar é maravilhoso, com rosas de várias cores e cheiros, além das esculturas e do encanto do lugar. Aproveitamos para tomar um café com aquela vista linda de Praga. A cidade parece ser mais linda do alto. Por acaso, encontramos um museu moderno, que estava fazendo uma homenagem aos Beatles. Incrível! Decidimos parar e almoçar, um típico almoço tcheco. Comemos Goulash e um frango com arroz bem diferen-
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1. Um dos símbolos de Praga, Orloj é um relógio astronômico medieval, feito em 1410, localizado na Praça da Cidade Velha. 2. Estátua de São João Nepomuceno, na Charles Bridge. 3. Um prato típico tcheco: Staročeská hostina de frango. 4. A Catedral de São Vito é adornada com vitrais de Alfons Mucha.
te, mas maravilhoso. Engraçado foi perceber o restaurante cheio de brasileiros. Aliás, Praga é cheia de brasileiros. De lá fomos caminhar, e, de repente, encontramos um caminho para ir até o bairro judeu Josefov. O bairro fica a cinco minutos a pé da praça central e reúne seis das mais antigas sinagogas da Europa, como a Staronová, de 1270, e um cemitério construído em 1470, com 12 mil lápides. O bairro foi reformado na virada do século, por exigência do governo, que via nos edifícios antigos uma ameaça à saúde pública. Hoje, a arquitetura em estilo “art nouveau” domina a paisagem. Chegamos à sinagoga Staronová. Tinha que pagar uma taxa, mas nem me liguei e fui entrando, entrando, e logo estava rodeada por paredes em que estavam escritos milhões de nomes, com um altar no meio, iluminado com uma lâmpada amarelada, e uma senhora em um canto, que mal falava inglês. Entre uma pergunta e outra, ela me explicou que todos aqueles nomes eram de pessoas de Praga que haviam sido assassinadas no Reich II. A sinagoga me deixou mesmo impressionada, com o coração pequeno e os olhos marejados. Vi desenhos de crianças que foram mortas e foi um momento difícil. Entramos no cemitério judeu, dentro da Sinagoga, e vimos um judeu rezando, alguns adolescentes desrespeitando a oração dele e a gente ali, tentando entender o tal cemitério. Uma pedra em cima da outra, como se as pessoas tivessem sido enterradas umas em cima da outras. As pedras grandes significavam famílias ricas, e as pequenas, famílias pobres. Saindo da Sinagoga, demos de cara com uma loja que vendia lenços bem coloridos. As ruas do bairro Josefov, por sinal, guardam as lojas mais caras da cidade. Andamos até a praça principal onde estava o tão comentado Relógio de Praga. Me distanciei pra ver a estátua do meio da praça. A cor esverdeada e a riqueza dos detalhes eram fantásticas. O relógio é lindo mesmo, os bonecos do lado dele são bem engraçados. Corremos, pois a chuva apertou. A noite iria ser bem agitada, já que iríamos curtir uma noite de Jazz com o grupo e de lá esticar para uma noitada. Muitos clubes clássicos exibem os melhores músicos por preços bem baratos, onde vale a pena passar a noite.
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O clube era bem legal, a música fantástica, assim como a comida e a bebida. As pessoas? Bem, as pessoas são um capítulo à parte. Me senti invadindo a festa sem ser convidada. Um pessoal estranho. Meio nariz empinado demais para o meu estômago. Acabei prestando atenção na música e ficando com sono. Não consegui me enturmar. Tentei várias vezes, mas desisti. Curti a noite sozinha, dancei sozinha, bebi sozinha. Estavam todos lá, mas na verdade parecia que não tinha ninguém. Nos clubes de Praga pode-se fumar dentro da balada, então tudo cheirava a cigarro, bebida, e era muito pop. Alguém do grupo pagou uma rodada de tequila para todo mundo. Foi o único momento “todos juntos”. Foi um momento até forçado. Por fim, foi divertido, e não foi. Não sei explicar direito... Até conversei com um estranho, mas, depois de alguns instantes, percebi que ele era estranho demais e desisti. Graças a Deus eles nem quiseram ficar muito. 4º DIA - HORA DE DIZER ADEUS Eu ainda teria boas horas no albergue, não queria me arrumar com pressa. Dormi bem, descansei até mais tarde. Não queria caminhar mais um dia, apesar de Praga ter deixado uma sensação verdadeira de quero voltar. De manhã, não havia mais amigas para rir juntas, nem companhia para fazer o comentário da noite anterior. Conheci, então, um australiano divertidíssimo no café, mas que estava doente. Coitadinho. Deixei tudo pronto e fiquei lá, escrevendo posts sobre a viagem, baixando músicas e editando algumas fotos. Fui à recepção umas quatro vezes e vi o deus grego em algumas delas. Descobrimos que ele é casado com uma garota tcheca... Ela é muito feliz, com certeza! Praga é mais linda com ele ali... Depois, fui ao banheiro com o celular no bolso de trás do short. Esqueci e, quando me sentei, só ouvi o barulho. Ploft! O celular caiu dentro da privada. PÂNICO. Perdi o celular! Véspera de chegar à Itália, e sem celular. Ok. Mais uma história pra contar sobre Praga. Parece que Praga quis demorar um pouco para se despedir de mim, pois cheguei ao aeroporto e esperei mais cinco horas! Atraso de voo. A única coisa que salva é que a internet é gratuita por aqui! v
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5. 12 mil tumbas – a mais antiga é de 1439 – estão amontoadas no cemitério judaico. 6. A música das ruas de Praga é o Jazz. 7. Flores estão espalhadas por toda a cidade, como na varanda de uma viela do bairro Malá Strana. 8. A torre da Ponte Carlos IV fica ao lado do famoso Castelo de Praga.
ANOTE NO CADERNO w HOSPEDAGEM Czech Inn Hostel – Francouzska 76, fone 267.267.601, www.czech-inn.com. Diária €11 (quartos compartilhados), €38 (quartos privativos) e €64 (apartamentos privativos) – Ultra moderno e com um design chique, o hostel é muito barato pela qualidade. O local conta com um bar que faz happy hours todas as noites. Clow and Bard – Borijova 102, fone 222.716.453, www.clownandbard.com, 80 camas. Diária €11-15 (dormitórios compartilhados) e quarto 2p €35/50 (sem/com banheiro) – Não aceita cartões e o pagamento deve ser feito na chegada. Lençóis e café da manhã incluídos; cozinha disponível. Bar funciona até a meia-noite, e é a melhor atração do local, eventualmente com bandas ao vivo. A vizinhança é a mais boêmia de Praga, com bares abertos a noite inteira. Recepção 24 horas. O clima é festivo, mas, se você quer sossego, este não é o local ideal. Dlouhá Pension & Hostel – Dlouhá 33, fone 224.826.662, www.travellers. cz, 164 camas. Diária €16-20 (dormitórios compartilhados), quartos 1p €47/55 (sem/com banheiro), 2p €54/62, 3p €63/75 – Café da manhã e lençóis incluídos, desconto para carteira de estudante. Pertence à cadeia de albergues Traveller’s Hostel; tem internet, lavanderia, bar e um bom serviço de informações. Local popular e central.
f ALIMENTAÇÃO Pode-se comer bem em Praga sem gastar muito. Algumas opções são Hostinec U Kocoura, rua Nerudova 2, no caminho para chegar ao castelo, logo no começo da subida. Ambiente bacana, rústico, dentro do que parece um porão; servem pratos típicos por valores acessíveis. O Apetit Bufet, na Dlouhá 23, tem boas sopas e comidas típicas. Se não entender os pratos, aponte o dedo para a comida dos outros (sim, é feio, mas é prático e funciona). Opção ainda mais em conta para um lanche noturno são as barraquinhas na Václavské Námesti. No Bohemia Bagel, 52
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na Masná 2, próximo ao Jewish Quarter, dá para montar o sanduíche com pãezinhos e vários recheios, de 30Kc a 180Kc. O Pivnice Radegast, Templové 2, tem comida tcheca, aberto das 11h-24h. P PASSEIOS Praga é dividida em áreas, cidades independentes no passado, que podem facilmente ser exploradas a pé em uma tarde ou em um dia. Hradcany, a região do castelo, e Malá Strana, cidade baixa, estão em uma margem do rio; a cidade antiga Staré Mesto, a nova Nové Mesto e o bairro judaico Josefov, no outro lado. Uma boa referência inicial é a praça da prefeitura, Staromestské Námestí (Old Town Square). Vale ter um mapa na mão e traçar um trajeto lógico. Caso você se perca, apenas siga os turistas – ao menos em algum lugar você vai chegar. Observe que muitas atrações fecham às segundas e também oferecem redução de entrada a estudantes com identificação. Em Praga é possível fazer passeios a pé, guiados por universitários de turismo: são os chamados Walking Tours, oferecidos a grupos, formados no dia, a fim de percorrer diferentes roteiros da cidade; os valores variam conforme o passeio e o número de pessoas.
COMPRAS
Uma rua tradicional é a Václavské Námesti, onde há várias lojas e galerias. Para souvenirs, confira as bancas perto da praça central Staromestské Námesti. Famosos em todo mundo, os cristais da Boêmia são encontrados por toda a cidade, em especial no calçadão da Celetná, passando a igreja da praça central de Staré Maestro, mas não espere pagar barato. b DESLOCAMENTO • Como chegar: A estação central de trem, a maior de Praga, Hlavní Nádrazí, fica um pouco ao norte do Národni Muzeum e possui uma estação de metrô de mesmo nome. Os mais dispostos podem ir a pé até o centro. Para destinos internacionais, a estação mais comum é
a Nádrazí Holesovice, ao norte da cidade, também com um metrô homônimo. Há, eventualmente, voos promocionais partindo de grandes capitais, como Londres ou Bruxelas. A companhia aérea tcheca é a Czech Airlines (ou CSA, www.czechairlines.com). Entretanto, o mais barato meio de transporte para quem vem da Europa Ocidental é o ônibus, frequentemente com passagens especiais partindo de Londres ou Paris. • Como se deslocar: Prepare-se para caminhar, é o melhor meio de você atravessar as pontes de Praga, conhecer suas ruas antigas, percorrer as praças históricas e sentir todo o astral da capital tcheca. Algum metrô (funciona das 5h às 24h), no entanto, deve ser inevitável. Existe também o tram, operando (desde 1891) 24 horas. Outros meios de transporte são os ônibus e o funicular. Os preços variam de 18Kc (válido por apenas 20 minutos) a 500Kc (para cinco dias). Os bilhetes devem ser validados e guardados até o final do trajeto. 4 BÁSICO • Fuso Horário: Mais 4h em relação a Brasília. No nosso horário de verão, a diferença aumenta para 5h. • Dinheiro: A moeda é a coroa tcheca, ou Koruna Ceská, representada por Kc. O euro, contudo, é bem aceito. R$1 = 10,37Kc; R$1 = €0,42 (nov/10). • Documentação: Turistas brasileiros, para permanência de até três meses, não necessitam solicitar previamente entrada no país. O passaporte é indispensável. • Clima: Verão ameno e inverno rigoroso, com bastante neve. Chuva foi um problema no verão de 2002, quando houve uma grande enchente. Contudo, é bastante raro acontecer. No inverno, a temperatura varia de 3°C a -5°C; no verão, de 18°C a 24°C. • Comunicação: DDI: 42 • Pesquisas: - Guia Criativo Para O Viajante Independente na Europa (de onde quase todo o serviço foi retirado) -www.mochileiros.com/republica-tchecaf384.html
PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE POR BRUNO DANTAS
Rodolfo de Souza
PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU
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s Cataratas do Iguaçu estão entre as 28 finalistas da campanha mundial de escolha das Sete Novas Maravilhas da Natureza, a serem anunciadas no dia 11.11.11 – ainda é possível votar pelo site oficial (www.new7wonders.com). A indicação não é à toa. Elas são a principal atração do Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939 e tombado, em 1986, como Patrimônio Mundial Natural da Humanidade pela UNESCO. Hoje, é uma das maiores reservas florestais da América do Sul e, desde 2002, um dos sítios geológicos brasileiros. Junto ao Parque w Site: www.cataratasdoiguacu.com.br wComo chegar: Linhas de ônibus urbanos saem a toda hora da rodoviária e passam pelo parque. É possível conhecer o parque também do lado argentino, com entrada na cidade de Puerto Iguazú. Da cidade brasileira até a vizinha argentina, a passagem custa R$3 e dura cerca de 30 minutos. w Entrada no parque: Brasileiros - de R$6 (crianças até 11 anos e idosos) a R$22 (adultos). Mercosul - de R$6 a R$31. Co-
Nacional Iguazú, do lado argentino, em Misiones, a reserva tem aproximadamente 225 mil hectares. Com formação geológica de cerca de 150 milhões de anos, as Cataratas formadas pelas quedas do rio Iguaçu têm, em média, 65 metros de altura. Geralmente, o número de saltos varia de 150 a 300, dependendo do volume de água do rio, e é reduzido a menos de 20 durante o período de cheia. O principal deles é a Garganta do Diabo, em forma de “U” ou ferradura, com 85 metros de altura. Em guarani, o termo “Iguaçu” vem de y (“água”, “rio”) e guasu (“grande”), ou seja, “água grande” ou rio de “grandes águas”. v
munidade do Entorno - de R$4 a R$7. Entrada geral - de R$6 a R$37. O preço inclui o ingresso, transporte pelo parque e uma contribuição para a manutenção do parque. w Melhor época para conhecer: durante o verão (dezembro a março), a vazão do Rio Iguaçu é grande, então as quedas d’água ficam mais fartas e bonitas. Entretanto, de agosto a novembro, existe menos risco de inundação da zona de acesso às passarelas e o calor é menos intenso.
w Passeios: é possível fazer um passeio de barco pelas Cataratas, mas prepare-se para tomar um banho. O Macuco Safári (www.macucosafari. com.br) é quem faz o passeio do lado brasileiro, que custa R$140 e dura 30min. O mesmo passeio (Gran Aventura) no nosso país hermano sai bem mais em conta. Você também pode conhecer as quedas de helicóptero, fazer rafting, arvorismo, rapel, dentre outras atividades. Mochileiros S.A. | Dez 2010
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TOP 10
MELHORES HOSTELS DO MUNDO
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Se existe o Oscar para os filmes, por que não existir o Hoscar para os hostels? Mais de um milhão de pessoas votaram, em 2009, pelo site HostelWorld.com, nos melhores albergues do mundo. Limpeza, segurança, localização e diversão foram alguns dos aspectos avaliados pelos internautas mochileiros. O resultado foi divulgado em janeiro de 2010, durante a 8ª cerimônia anual de premiação. Lisboa continua sendo o paraíso dos mochileiros em relação à hospedagem. Dentre as 23 mil acomodações elegíveis ao redor do planeta, abaixo segue o TOP 10 dos hostels:
TRAVELLER’S HOUSE – LISBOA (PORTUGAL)
ROSSIO HOSTEL – LISBOA (PORTUGAL)
Endereço: Rua Augusta 89, 1st floor w Diária: de €16 (quartos compartilhados) a €30 (quartos privativos) ' Telefone: (+351) 21 346.3156 : Site/E-mail: www.travellershouse.com | info@travellershouse.com
Endereço: Calçada do Carmo 6, 2nd floor right w Diária: de €16,50 (quartos compartilhados) a €24 (quartos privativos) ' Telefone: (+351) 21 3426 004 : Site: www.hostelworld.com | hosteldetails.php/Rossio-Hostel/Lisbon/20929
LIVING LOUNGE HOSTEL – LISBOA (PORTUGAL)
ACADEMY HOSTEL – FLORENÇA (ITÁLIA)
Endereço: Rua Crucifixo 116, 2º w Diária: de €18 (quartos compartilhados) a €30 (quartos privativos) ' Telefone: (+351) 21 346.1078 : Site/E-mail: www.lisbonloungehostel.com | info@livingloungehostel.com
Endereço: Via Ricasoli 9 w Diária: de €28 (quartos compartilhados/baixa temp.) a €45 (quartos privativos/alta temp.) ' Telefone: (+39) 055 2398665 : Site/E-mail: www.academyhostel.eu | info@academyhostel.eu
CARPE NOCTEM – BUDAPESTE (HUNGRIA)
THE RIVERHUSE BACKPACKERS – CARDIFF (PAÍS DE GALES)
Endereço: 1067 Budapest (6th district) Szobi utca 5, 3/8a w Diária: de €13,44 (quartos compartilhados/seg-qui) a €14,40 (quartos compartilhados/sex-dom) Telefone: 0036203658749 Site/E-mail: www.carpenoctemhostel.com | carpenoctemhostel@hotmail.com
Endereço: 59 Fitzhamon Embankment, Riverside w Diária: de €20,61 (quartos compartilhados/4 pessoas) a €21,82 (quartos privativos/ 6 pessoas) Telefone: +44 (0) 2920 399 810 Site/E-mail: www.riverhousebackpackers.com | info@riverhousebackpackers.com
LISBON LOUNGE HOSTEL – LISBOA (PORTUGAL)
GREG & TOM HOSTEL – CRACÓVIA (POLÔNIA)
Endereço: Rua São Nicolau, 41st w Diária: de €16,50 (quartos compartilhados) a €25 (quartos privativos) ' Telefone: (+351) 21 346.2061 : Site/E-mail: www.lisbonloungehostel.com | info@lisbonloungehostel.com
Endereço: Kraków ul.Pawia 12/7 w Diária: de €14,66 (quartos compartilhados) a €22,66 (quartos privativos) ' Telefone: +48 12 422 41 00 : Site/E-mail: www.gregtomhostel.com | info@gregtomhostel.com
THE NAUGHTY SQUIRREL BACKPACJERS HOSTEL – RIGA (LETÔNIA)
LISBOA CENTRAL HOSTEL – LISBOA (PORTUGAL)
Endereço: 50 Kaleju Iela, (Old Town) w Diária: de €7,14 (quartos compartilhados) a €45,71 (quartos privativos) ' Telefone: +371 67220073 : Site/E-mail: thenaughtysquirrel.com | info@thenaughtysquirrel.com
Endereço: Rua Rodrigues Sampaio nº160 w Diária: de €14 (quartos compartilhados) a €30 (quartos privativos) ' Telefone: (+351) 309 881 038 : Site/E-mail: www.lisboacentralhostel.com | global@lisboacentralhostel.com
w Próximo TOP 10: Quais são os melhores PORES-DO-SOL do mundo? Fique por dentro: Você também pode conhecer os três melhores hostels por região, os melhores dentre os maiores (mais de 500 camas), os melhores dentre os menores (menos de 50 camas) e os melhores por tópicos, como o melhor localizado, o mais divertido e o mais equipado, dentre outros, no site: http://www.hostelworld.com/press/Hoscars-2010
NA PLATAFORMA
POR VERÔNICA FARIAS
EPPUR * SI MUOVE
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*Frase dita por Galileu Galilei, significa “No entanto se move”.
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uantas pessoas dizem que o dia deveria ter 30 horas, porque precisam de mais tempo para seus afazeres? Bom é aproveitar o tempo entre essas dificuldades e reorganizar os pensamentos, a forma de fazer coisas, como se leva os dias, principalmente, quando a espera é para chegar e fazer o que se precisa. Esperar é otimizar a vida, jogar fora o que é desnecessário, utilizar coisas de forma útil e viável para ser mais feliz. Esperar pelas férias, então... Quanta coisa para pensar, hein? Sempre gostei de viajar de forma independente, principalmente quando esta é a forma mais econômica de fazê-lo. Escolho o lugar mais distante, dentro das minhas possibilidades, pesquiso passagem aérea, e o resto dou um jeito. Com uns seis meses de antecedência das tão esperadas férias, já estou com tudo em andamento: leio guias de viagem em livrarias (porque tenho que levar o melhor), pesquiso lugares fora de roteiro em blogs e comunidades, preparo a documentação necessária, busco listas de albergues nos lugares que pretendo visitar e até arrisco uma hospedagem gratuita em algumas redes onde os membros disponibilizam suas casas, camas, redes e sofás para viajantes do mundo. Arrisco sempre um camping também. Sou mochileira, bem despojada e econômica nos trajes. Algumas coisas são naturais das pessoas. Gosto da simplicidade e do conforto. Fotos com a mesma cara fazem pouca diferença para mim, o importante é o pano de fundo que sempre tem uma roupagem de outro mundo. Caminho bastante e arrisco falar com estranhos porque eles, em 99% das vezes, serão as melhores conversas que terei em minha vida, com 1% de chance de reencontro, mesmo com as diversas possibilidades de contato das quais dispomos hoje. Pode ser qualquer um. As pessoas do mundo têm cara de alma. E da boa. A beleza deles está na gentileza de tentar entender o que você está querendo dizer, no sorriso, na divisão de uma barra de cereal, num convite para jantar queijo de cabra e vinho, em te acompanhar na plataforma antes do trem chegar, para uma despedida inesquecível. É oferecer o melhor que se tem para o momento e fazer de sua rápida passagem algo que seja sempre lembrada.
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Roupas, cheiros, charmes? Estão lá no pó das trilhas, no suor de um dia inteiro visitando ruas no verão europeu, nos pés cansados da sandália, da botina, nos lenços de pano na cabeça, no presente que será passado para você. E nós, na plataforma, estamos de mala no chão, ou de mochila nas costas, esperando o próximo destino para uma vida melhor. Pensando quem aquele vagão nos trará. Que imagens haverá em nossas janelas, quem sentará ao nosso lado e o porquê de tudo ter que voltar ao ponto zero no fim das férias. Precisa ser assim? Uma viagem, ainda mais independente, mexe muito com a gente. A vida rotineira pode parecer a mesma ao seu redor, mas olhe bem e perceberá que seus olhos agora enxergam muito mais. Fazer uma viagem nesse estilo toca em partes de nosso cérebro que apenas aprovavam ou discordavam escolhas de outrem. Agora, quem tem que concordar ou discordar de algo pesquisado por você é você mesma. Isto é difícil, pois descobrimos que temos defeitos que criticamos nos outros. Veja que é um grande ensinamento de humildade. É como montar um negócio temporário, autônomo, com um funcionário apenas e fazer todas as funções. Além de tudo, você tem que responder a você mesma. Dando certo ou errado, os méritos serão sempre seus. Como o erro e o acerto ensinam, sempre sairemos ganhando. Sempre. O importante é continuar a se mover. E nós, na plataforma, seguindo para nossos trabalhos, tentando equilibrar nossas vidas entre o lazer e a rotina pela nossa sanidade e felicidade, esperando o farol abrir, o ônibus chegar, o metrô passar, a carona pegar, o povo desembarcar... Lembramos daquele dia em que, por sermos principiantes no assunto “Felicidade”, levamos nossa sandália plataforma ao primeiro camping. “Mas é claro!”, diria Jenniffer, “o salto distancia meus pés dos perigosos insetos da grama, da água dos riachos. Fico mais charmosa!”. E, no final de tudo, ele foi, sim, de grande utilidade para todos. Ela pediu para esperar um pouco, saiu da plataforma, e fez dele um martelo para pregar os ganchos da barraca. v
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MOCHILEIRO GLBT
POR HARLEY FLAUSINO
COMO ESCOLHER
DESTINO DE VIAGEM?
UM
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ualquer mochileiro que tenha, sexualmente, a preferência pelo mesmo sexo, é ciente de que dificilmente encontrará, em suas mochiladas, outros iguais: mochileiros gays. Os GLBTs (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros) estão na mídia, nas ruas e nas praças, invadindo e questionando a tradição, os “bons costumes” e a moral judaico-cristã. O que pode parecer uma afronta é, na verdade, a conquista da liberdade de expressão da orientação sexual. O turismo GLBT apresenta-se como um segmento em desenvolvimento e demonstra que vêm alcançando seu espaço no mercado turístico. A segmentação em locais específicos para homossexuais pode se mostrar relevante para os que não desejam assumir publicamente sua orientação sexual, tendo, assim, locais reservados, onde podem vivenciar suas relações. Por outro lado, essa segmentação pode distanciar, cada vez mais, os grupos e aumentar o preconceito na sociedade, o que não é favorável para as pessoas e nem para o turismo. É a falta de tolerância para com o outro que fez com que surgisse, no mercado, empresas especializadas para o segmento. Mas, estudiosos do assunto e gays ativistas se perguntam: Isso não aumenta a homofobia? Será que o trade turístico não deveria se preparar para atender o público GLBT como atende a outros turistas? A comunidade GLBT não acaba se confinando cada vez mais em guetos? Alguns concordam que é necessária a existência de atendimento diferenciado para que não ocorra um choque cultural, pelo menos enquanto a maior parte da sociedade for intolerante e preconceituosa. Por agora, e talvez por um bom tempo, somente nos ambientes GLBTs os gays possam fazer demonstrações de carinho e afeição. Para os viajantes gays uma das coisas que se deve saber é se o país que se quer visitar é gay friendly, palavra de origem inglesa referente a lugares, à política, às pessoas ou instituições que procuram criar um ambiente amigável para o publico GLBT. É uma implementação gradual tanto dos direitos dos homossexuais e da aceitação de políticas no apoio de pessoas “GLBT” no trabalho e nas escolas, bem como
o reconhecimento de gays e lésbicas como consumidores diferentes para as empresas. Algumas cidades conhecidas mundialmente como sendo gay friendly são Londres, São Francisco, Sydney, Tel Aviv e Berlim. Ninguém quer acabar na prisão por demonstração de afeto com seu parceiro. Há uma abundância de sites por aí que podem lhe dar conselhos sobre isso. A escala em que a homossexualidade é aceita varia em diferentes países, mas a maioria das cidades ocidentais tem algum tipo de cena gay. Fora do mundo ocidental, exige-se o exercício de um pouco mais de cautela, especialmente em países mais conservadores ou muçulmanos como a Malásia, Indonésia e - é óbvio - o Oriente Médio. Dê uma olhada ao redor – observe se existem outros casais do mesmo sexo. Não? Então, devese, é claro, respeitar os costumes locais. Não é hora de fazer valer os seus direitos. Mas, em todo caso, websites e fóruns de viagens são os melhores amigos do viajante gay. Se você tiver certeza de que vai ser como é – gay – onde quer que esteja, receber conselhos de alguém que já esteve no local a ser visitado é uma das melhores maneiras de se precaver. O site CouchSurfing.com tem um artigo dirigido aos gays, lésbicas e bissexuais, intitulado “Dicas para viajantes GLBT”. Dentre as dicas destacadas no pequeno manual estão: conhecer comunidades virtuais voltadas aos GLBTs, como a Queer CouchSurfers, dentro do próprio site; lembrar-se que as cidades maiores são mais tolerantes; e tentar preservar a segurança, não expondo um comportamento muito diferente daquele dos habitantes locais. Pesquisar em sites e revistas gays locais é outra dica. O ato de se deslocar é tão antigo quanto à história da humanidade. Os motivos se modificaram ao longo dos períodos da história e, até hoje, continuam se modificando, ou sendo acrescidos de outros motivos, mais conhecidos como motivação de viagem ou motivação turística. Contudo, ainda assim, o mais importante, sempre, não é para onde e como se vai, mas a viagem interior que cada um pode e deve realizar ao visitar outros lugares e ao conhecer novas pessoas. Seja gay ou não. v
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VIAJAR É... POR GABRIEL MOCHILEIRO PEREGRINO
A PEREGRINAÇÃO DE UM
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MOCHILEIRO
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lá! Chamo-me Gabriel, mais conhecido como “Mochileiro Peregrino”. Nesta primeira coluna, falarei a vocês, leitores, como é viajar sozinho. Viajo pelo Brasil pedindo carona e dormindo na casa de nativos. Explorei cavernas, subi montanhas, atravessei a Chapada Diamantina a pé, percorrendo um total de 160 km, em 11 dias, cruzei as dunas inóspitas do Maranhão, sob a luz do luar, entre muitas outras caminhadas, e, a partir de agora, relato alguns dos meus feitos e dou dicas de viagens. Sejam bem-vindos! Pegar carona ou não? Já quase perdi as contas de tantas caronas que peguei. Até mesmo já cai de uma delas (de uma moto). Desci a íngreme estrada dos Marins de carona com um motoqueiro bêbado; sai da cidade de Ibitipoca a bordo de um caminhão leiteiro; e isso foi só o começo. Para pedir carona não sigo nenhuma regra, apenas levanto o polegar e torço para que alguém apareça e me leve junto. Carona é um risco, tanto para quem pega quanto para quem dá, mas são nas caronas da vida que percorro minha jornada. Aonde dormir? Na cidade de Socorro (SP), minha terceira viagem, conheci um taxista que me hospedou em sua casa durante duas noites e, desde então, não parei mais. Seja aonde eu estiver, sempre apareceu alguém que abriu as portas para mim. Contudo, para que as portas se abram devemos bater nelas? O que falar? Como agir? Eu apenas conto quem sou, meu modo de pensar, meu objetivo na vida, minha historia. É isso que passo e digo para todas as pessoas que me ajudam em minhas peregrinações. Mostre o propósito de sua viajem, fale sobre quem você é, o que pensa e, com um pouco de sorte, se encontrar uma boa pessoa, acredito que, assim como eu, será ajudado. Minhas viagens não são voltadas a nenhum centro urbano, pelo contrário, busco paisagens inóspitas. Comigo carrego tudo o que preciso: água, alimento e roupas adequadas, pois devo suportar chuva, vento, frio e toda manifestação da natureza. Já tive minha barraca congelada a quase 2800 metros de altitude, suportei o calor escaldante dos lençóis maranhenses e, na Chapada Diamantina, andei os 20 km mais difíceis até hoje. Para se infiltrar em tais terrenos, deve-se estudar o local, hidrografia, relevo, o caminho a ser seguido, a fauna e flora local, deve-se ter noções de navegação terrestre e um GPS pode ajudar, mas este deve ser usado apenas como complemento. A
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cada região que vou, busco estudar o máximo possível sobre suas características e, acredite, isso é legal, porém não é fácil. O que fazer para ser um mochileiro? Para muitos, basta colocar uma mochila nas costas e sair viajando. Para mim, a pessoa que faz isso é apenas alguém com uma mochila que viaja, e nada mais. Estude seu roteiro detalhadamente, leia livros sobre a região, aprenda a cultura da região, deixe a poeira local infiltrar no tecido de sua roupa, sinta-se em casa. Para o verdadeiro mochileiro, viajar é um sentimento, é algo que toca no fundo do coração. Ser mochileiro não é só dormir em postos de gasolina ou em hospedagens “fuleiras” ou baratas, mas, sim, ser convidado a dormir na casa de algum nativo, poder comer um prato de arroz e feijão ao lado de algum morador local, ser você mesmo e deixar as coisas fluírem a cada curva da estrada ou a cada escarpa da montanha. Traga de volta com você, na mochila, não apenas suas coisas. Carregue sua mochila como um aprendizado de vida que você adquire a cada lugar por onde passa. O que é um peregrino? É alguém que caminha em busca de algo espiritual ou apenas um andarilho. Muitos viajam por aventura, por estarem de férias, por quererem apenas “um momento de paz”. O motivo pelo qual viajo é para aprender a amar e espalhar meu amor pelo mundo. Cada pessoa que cruza meu caminho, cada gota de água que cai do céu, cada raio de sol que vem do alto de uma montanha – tudo é absorvido pelo meu coração, pela minha alma e, com isso, vem a lição de vida, o aprendizado, a busca da verdadeira felicidade do meu ser interior. Isso vem com a convivência com a natureza e com o ser humano. E, hoje, confirmo que tenho bons amigos espalhados em várias terras longínquas. Peregrinar me fez crescer como ser humano. Não se esqueça que sua viagem não terá terminado só quando retornar para casa, mas quando tiver conseguido trazer consigo, dentro do seu coração, o aprendizado de vida adquirido enquanto viajava. Podemos viajar por toda a vida e não encontrarmos nada. Entretanto, podemos viajar e encontrarmos não somente belas paisagens, mas, também, o mais importante significado da vida, o verdadeiro amor em cada um, dentro de cada um de nós. Seja qual for o tipo da sua viagem – de aventura, urbana ou em busca de cenários deslumbrantes em meio à natureza –, não se esqueça de que, na vida, a melhor viagem é feita dentro de cada um de nós. v
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ENTRETENIMENTO
MÚSICA
TRILHAS SONORAS Na Natureza Selvagem (Eddie Vedder)
Comer Rezar Amar (Vários Artistas)
A trilha sonora de Into the Wild (Na Natureza Selvagem, em português) é fantástica. O trabalho é fruto de um relacionamento de Eddie Vedder com o diretor do filme, Sean Penn. Na Natureza Selvagem é o primeiro disco completo e solo do vocalista do Pearl Jam. O processo de composição entre os audiovisuais é o usual: durante os cortes das cenas do filme, o músico assistiu às peças e, inspirado pelas cenas do jovem Chris McCandless, escreveu algumas letras, recolheu outras composições, juntou as peças e fez um ótimo trabalho. Misturou temas folk, guitarras cadenciadas, dedilhados de violas e, com temas bastante americanos, cantou as angústias e vereditos do rapaz que abandonou a vida em sociedade. “Society, you’re a crazy breed / Hope you’re not lonely without me” (Sociedade, você é uma raça maluca, espero que não se sinta só sem mim), cantou Eddie em Society, talvez a melhor faixa do disco e a que mais diretamente relaciona a música ao filme. Se o filme já é enriquecido infinitamente com as músicas, essa é uma das poucas trilhas sonoras que consegue ganhar vida própria fora de filme, seja para nos lembrar das cenas, seja para inspirar novas aventuras.
Já está à venda a trilha sonora do novo filme da Julia Roberts. Mais do que admirar as paisagens belíssimas do filme, é impossível não se encantar com as músicas que fazem parte do longa, sob os cuidados do compositor italiano Dario Marianelli (ganhador do Oscar pela trilha do filme Desejo e Reparação). Os sons, assim como a personagem Liz, passam por vários países. O Brasil é representado com a bossa nova, em canções como Samba da Benção (de Vinicius de Moraes e Baden Powell), cantada por Bebel Gilberto, e Wave (de Tom Jobim), cantada por João Gilberto. A trilha ainda conta com Better Days, composta especialmente para o filme por Eddie Vedder, amigo de Javier Bardem (o brasileiro Felipe, no filme).
Crítica retirada de analisedeletras.com.br/blog
Tracklist: 1. Setting Forth 2. No Ceiling 3. Far Behind 4. Rise 5. Long Nights 6. Tuolumme 7. Hard Sun 8. Society 9. The Wolf 10. End of the Road 11. Guaranteed 60
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Tracklist: 1. Flight Attendant - Josh Rouse 2. Last Tango in Paris (Suite Pt. 2) - Gato Barbieri 3. Thank You (Falettin me be Mice Elf Again) Sly & The Family Stone 4. “Der Hölle Rache Kocht in Meinem Herzen” from Die Zauberflöte (The Magic Flute) - Performed by Wiener Philmarmoniker e George Solti Conductor 5. Heart of Gold - Neil Young 6. Kaliyugavaradana - U. Srinivas 7. The Long Road - Eddie Vedder feat. Nusrat Fateh Ali Khan 8. Harvest Moon - Neil Young 9. Samba da Benção - Bebel Gilberto 10. Wave - João Gilberto 11. Got to Give it up (Part 1) - Marvin Gaye 12. ‘S Wonderful - João Gilberto 13. Better Days - Eddie Vedder 14. Attraversiamo - Dario Marianelli 15. Augusteum - Dario Marianelli
CINEMA
A NATUREZA QUE ARREBATA O filme de Sean Penn leva o espectador a acompanhar – e a se envolver – com a saga de um jovem em busca de si mesmo e da liberdade total
“Não que eu ame menos o homem, mas amo mais a natureza”. Este trecho que inicia o filme Na Natureza Selvagem (Into the Wild, 2007) faz parte de um dos poemas do britânico Lord Byron (1788-1824), e indica o que se verá nas próximas quase duas horas e meia de exibição: uma torrencial sequência de paisagens exuberantes, que enchem os olhos do espectador com os detalhes da natureza.
A natureza passa de cenário à personagem ao longo do filme, e é ela que, por vezes, fica em destaque. As imagens são o que mais impressiona, com planos que sabem valorizar e explorar as magníficas locações no Alasca e parte oeste dos Estados Unidos. A imensidão branca preenche a tela em muitas cenas. A natureza passa de cenário à personagem ao longo do filme, e é ela que, por vezes, fica em destaque. Alexander Supertramp (Superandarilho), nome adotado por Christopher Johnson McCandless (interpretado pelo surpreendente Emile Hirsch), foi um rapaz que podia ter sido bem sucedido na vida – teve uma família bem abastada e estudos. Contudo, por causa do seu idealismo, incentivado pela leitura de escritores como Jack London, Leon Tolstoi e Henry Thoreau, resolveu abandonar a “doente sociedade”, cheia de pessoas materialistas vazias que vivem uma vida de mentira, para sair em busca de um encontro consigo mesmo, livre de todas as amarras capitalistas – quebrou cartões de crédito, literalmente queimou dinheiro, destruiu documentos e doou seu dinheiro à caridade. Ele não queria nada de sobra, ele queria o suficiente. “Coisas, coisas, coisas, coisas”. Não haviam mais coisas para esse andarilho extremista, “um viajante esteta cujo lar é a estrada”, que passou por esse mundo entre os anos 1968 e 1992. Finalmente liberto, ele segue seu caminho rumo à natureza selvagem – o Alasca. Por dois anos esteve sem tele-
fone, carro, piscina e um itinerário fixo, vivendo a custa de bicos e doações, locomovendo-se por meio de caronas ou até descendo em um caiaque, sem licença, as turbulentas corredeiras do Rio Colorado, em meio ao Grand Canyon. Suas decisões o levam ao encontro do “ônibus mágico”, onde acontece o desfecho. Quem leu o livro homônimo biográfico, lançado em 1996, escrito pelo jornalista Jon Krakauer (autor de outros “livros selvagens”, como No Ar Rarefeito), sabe que fim McCandless teve. “Eu fui literalmente aprisionado pela natureza”, segundo palavras do próprio Chris. A trilha sonora de Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, em seu primeiro trabalho solo, é excelente e tem uma ligação umbilical com o filme. No Globo de Ouro, inclusive, o filme concorreu à Melhor Trilha Sonora e ganhou como Melhor Canção por Guaranteed. As interpretações atingem a essência. Hal Holbrook, o simpático senhor Ron Franz que aparece no caminho de Chris, concorreu ao Oscar como Melhor Ator Coadjuvante. Sean Penn, que dirigiu, produziu e fez o roteiro do filme, depois de uma espera de dez anos pelos direitos do livro, conseguiu fazer um trabalho muito bom e impactante. Emile Hirsch, que teve de perder 18 quilos para encarnar o personagem, conseguiu transmitir que existem coisas mais importantes pelas quais se viver do que o dinheiro. Tudo tem seu limite. McCandless foi aconselhado que era um erro ir fundo demais, mas o instinto falou mais alto. Ele buscou humanidade na natureza selvagem. A linha que divide coragem e loucura, no caso dele, foi muito tênue, e ele se valeu de um pouco dos dois para chegar aonde chegou. Às vezes, meio imprudente – ou totalmente –, mas de uma bravura, grandeza e espírito magníficos. Ao menos uma vez na vida, todo ser humano devia se permitir usufruir dessa liberdade mágica, na natureza selvagem, e, ao ouvir a pergunta “aonde você vai?”, responder como Christopher: “Já disse. A lugar nenhum!”. v Mochileiros S.A. | Dez 2010
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LITERATURA
GUIAS O VIAJANTE
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Guia Criativo para O Viajante Independente na Europa, lançado em 2000, foi o primeiro guia de viagens sobre o continente europeu em português, feito por e para brasileiros. A editora O Viajante, desde então, já publicou edições sobre a América do Sul, Argentina, Chile, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de um livro de literatura viajante, Uma Estrada para o Chile, de Alberto Schwanke. A coleção O Viajante é ideal para quem quer viajar sem gastar muito. O melhor guia para o mochileiro bra-
sileiro. Bem completo, ele traz informações sobre quando viajar, onde ir, com quem viajar e quanto dinheiro levar, só para citar algumas. As edições também trazem dados sobre história, geografia, economia, povo, esportes e cultura da nação. Além disso, o leitor vai saber quais documentos levar, como chegar e sair do local, e vai ter informações de saúde, segurança, comunicação e dinheiro. Os países são divididos por regiões. Dentro de cada uma dessas regiões, as cidades que merecem ser visitadas são dissecadas: informações gerais sobre a
cidade e como se orientar nela; onde encontrar casas de câmbio, informações turísticas, agências de viagem, hospitais e embaixadas ou consulados; como viajar a partir da cidade para outras localidades, com dados sobre tempo de duração e preço; várias opções de acomodação; onde comer e fazer compras; as melhores atrações e passeios nos arredores da cidade. Boxes com curiosidades ou personagens, muitas imagens e mapas – de extrema utilidade em uma viagem – completam esses guias, que, sem dúvida, serão grandes parceiros nos seus próximos mochilões.
MEU PÉ QUE ME LEVA PELO MUNDO
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ocê quer mochilar e não sabe por onde começar ou se pode viajar assim? Verônica Farias dos Santos inicia sua carreira literária com um livro que esclarece boa parte dessas dúvidas. Quem quer mochilar ou nem sabe direito o que é “mochilão”, agora, tem mais uma fonte de informações sobre essa modalidade de turismo. A autora, primeiro, conta como a viagem surgiu em sua vida. Depois, a escolha de um destino de viagem e a forma de conseguir informações confiáveis sobre ele são explicadas, bem como informações importantes para qualquer viajante – o que levar na mochila, como manter contato com a família, a importância de se ter um seguro saúde, dentre outras.
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De leitura fácil, agradável e divertida (várias histórias hilárias e assustadoras – como a experiência de vivenciar um terremoto na Califórnia), quando você menos esperar, o livro acaba (são apenas 132 páginas) e fica o gostinho de “quero mais”. Fotos de inúmeras viagens da Verônica pelo mundo dão uma noção da grandiosidade do nosso planeta e de tudo o que ainda é preciso conhecer. O livro Meu pé que me leva pelo mundo – O barato de mochilar só, com pouca grana e curtindo muito! ainda não está à venda em livrarias, mas você pode adquirir o seu através do site www.viajequeteajuda.blogspot. com. Cada livro custa R$18, mas
você pode levar dois por R$30, com frete incluso para todo o Brasil, através de depósito ou transferência bancária. Além de presentear um amigo, se você quiser, a autora, inclusive, pode fazer uma dedicatória especial.
WEB 2.0
LAUNDRY OF THOUGHTS
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e você curtiu o diário de bordo sobre Praga, não pode deixar de ler o blog da nossa mochileira Vana Gwen. Entre o final de agosto e o começo de setembro, ela esteve na Europa e conheceu os principais países e cidades do velho continente. Saiba sobre suas
quentíssimas impressões, dicas e leia suas histórias sobre Barcelona, Paris, Londres, Zurique, Roma... Acesse: : journals.worldnomads.com/vana_gwen/
MOCHILÃO SEM FRONTEIRAS
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pesar de, algumas vezes, ficar fora do ar por problemas técnicos, um ótimo site para ler histórias inspiradoras e aprender um pouco mais sobre a arte de mochilar é o site Mochilão Sem Fronteiras, feito por Eber Guny. Ele foi um dos pupilos da nossa já conhecida Verônica Farias, com quem fez seu primeiro mochilão. Depois disso, sortudo como sempre, ganhou, em um concurso da Central de Intercâmbio (CI) – local onde trabalha atualmente –, uma viagem de um mês pelo Reio Unido. Durante essa viagem, escreveu um diário de bordo. Com duas viagens na “bagagem”, criou a comunidade no site de relacionamentos Orkut – Eber, quero fazer um mochilão!, hoje com quase mil membros. Em seguida, criou o projeto do site Mochilão Sem Fronteiras, entre os primei-
ros resultados em uma pesquisa no Google sobre o tema. Além disso, Eber Guny criou vários vídeos motivacionais sobre mochilão, que podem ser apreciados em seu perfil no Youtube. Recomendo que assistam a todos, mas, abaixo, além de outros links, indico um em especial. Acesse: : www.mochilaosemfronteiras.com : www.youtube.com/user/Eberguny : tinyurl.com/23mdrpd (comunidade no Orkut) : tinyurl.com/26e6yko (diário de bordo no site CI) : tinyurl.com/28mh9on (vídeo “Ousadia - Aventura Enjoy your life”)
Um dos vários “orkontros” dos membros da comunidade “Eber, quero fazer um mochilão!”, em Vinhedo (SP). Dentre os viajantes, estão nossa colunista Verônica Farias (de camisa vermelha), nossa mochileira Vana (no canto esquerdo, abaixo, ao lado da Verô) e o dono da comunidade, Eber (de boné branco). Mochileiros S.A. | Dez 2010
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LET’S PARLER EIN LENGUA!
FRASES BÁSICAS Português
English
Español
Français
Oi/Olá Sim Não Bom dia Boa tarde Boa noite Adeus Até logo Seja bem-vindo! (Muito) Obrigado De nada Com licença Desculpa Por favor Como vai você? Muito prazer! Qual é o seu nome? Meu nome é... Não entendo Você fala...? Fale mais devagar Onde é/fica...? Aqui está meu... O que é isto? Vocês têm...? Quanto custa? Socorro! Aceitam cartões de crédito?
Hi Yes No Good morning Good afternoon Good night/evening Bye/Goodbye See you Welcome! Thank you (very much) You are welcome Excuse me Sorry Please How are you? Nice to meet you! What’s your name? My name is... I don’t understand Do you speak...? Speak slowly Where is…? Here is my… What is this? Do you have…? How much is it? Help! Do you accept credit card?
¡Hola! Sí No Buenos días Buenas tardes Buenas noches Adiós Hasta luego ¡Bienvenido! (Muchas) Gracias De nada Permiso Perdón Por favor ¿Cómo está usted? ¡Mucho gusto! ¿Cómo usted se llama? Mi nombre es… No entiendo Habla… Hable más despacio ¿Dónde está? Aquí está mi… ¿Qué es esto? ¿Tienen...? ¿Cuánto cuesta? ¡Ayuda! ¿Aceptan tarjetas de crédito?
Espera! Saúde! Para que são estas taxas? Não pedi isto! Eu gostaria de beber/comer... Poderia trazer...? Não consigo encontrar meu... Isto é meu! De onde você é? Sou brasileiro! Sou viajante! Sou mochileiro!
Wait! Cheers! What are these taxes for? I didn’t order it! I would like to drink/eat… Could you bring…? I can’t find my… This is mine! Where are you from? I am Brazilian! I am a traveler! I am a backpacker!
¡Espera! ¡Salud! ¿Para qué son estas cargas? ¡No ordené eso!
Salut ! Oui Non Bonjour Bonjour Bonsoir/Bonne nuit Au revoir À plus Bienvenue ! Merci (beaucoup) De rien Excusez-moi Pardon S’il vous plaît Comment allez-vous ? C’est un plaisir ! Comment vous vous appelez ? Je m’appelle... Je ne comprends pas Vous parlez... ? Parlez doucement Où est ? Voici mon... Qu’est ce que c’est? Vous avez... ? Combien coûte ? Au secours ! Acceptez-vous les cartes de crédit? Attendez ! À la santé ! Pour quel sont ces frais ? Je n’ai pas commandé ça! Je voudrais boire/manger... Vous pourriez apporter... ? Je ne trouve pas mon... Ceci est à moi ! Quelle est votre nationalité ? Je suis brésilien(ne) ! Je suis voyageur ! Je suis routard!
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Me gustaría beber/comer… ¿Puede traer...? No puedo encontrar mi… ¡Esto es mío! ¿De dónde eres? ¡Soy brasileño! ¡Soy viajero! ¡Soy mochilero!
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