Biblioteca Municipal de Viana do Castelo (case-study)

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Mercados para a Cultura: “Biblioteca Municipal de Viana do Castelo” (estudo de caso)

Bruno Miguel Machado de Oliveira – 050401243 Faculdade de Economia da Universidade do Porto

Porto, Novembro de 2009


Mercados para a Cultura – 2009/2010 – Biblioteca Municipal de Viana do Castelo

Índice

1. Introdução ………………………………………………..…………..……………………….......................2 2. História e Missão ……………………….…………………………………………….………………………….3 2.1. Breve História ………………………………………………………………………………………………………………3 2.2. Missão e Objectivos …………………………………………………………………………………………………….5

3. A Biblioteca………………………………………………………………………….………………………………6 3.1. Fundo Documental……………………………………………………………………………………………………….6 3.2. Serviços Específicos ……………………………………………………………………………………………………..6 3.3. Funcionamento ……………………………………………………………………………………………………………6

4. A Biblioteca e a Economia ………………………………………………………………………………......7 4.1. Gestão do Património ………………………………………………………………………………………………….7 4.2. Recursos Humanos ………………………………………………………………………………………………………7 4.3. Comunicação ……………………………………………………………………………………………………………….8 4.4. Recursos limitados face às necessidades …………………………………………………………………….8 4.5. Análise SWOT ………………………………………………………………………………………………………………9

5. A Nova Biblioteca ……………………………………………………….……………………………………..10 5.1. A Necessidade ……………………………………………………………………………………………………………10 5.2. O Edifício ……………………………………………………………………………………………………………………10 5.3. As Vantagens …………………………….………………………………………………………………………………12 5.4. As Desvantagens ……………………………………………………………………………………………………….13

6. Conclusão ……………………………………………………………..…………………………………………..14 7. Bibliografia ………………………………………………………..………………………………………………15 8. Anexos……………………………………………….………………………….…………………………………..16

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Mercados para a Cultura – 2009/2010 – Biblioteca Municipal de Viana do Castelo

1. Introdução No âmbito da disciplina de Mercados para a Cultura, leccionada na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, propus-me realizar um trabalho que mostrasse de que modo a análise económica pode contribuir para a resolução de problemas de génese cultural. Como utilizador assíduo dos serviços da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, consciente das mudanças a que esteve sujeita recentemente e dos benefícios e prejuízos que essas alterações originaram, achei que o estudo do seu caso se enquadrava perfeitamente no tipo de trabalho proposto. A minha pesquisa baseou-se na recolha de dados on-line, na realização de um pequeno inquérito e numa entrevista gentilmente cedida pelo Dr. João Mota Oliveira, técnico profissional de biblioteca, arquivo e documentação. No inicio do trabalho é apresentada uma breve história da biblioteca (2), avançando depois para uma apresentação mais detalhada dos serviços prestados pela mesma (3). No ponto seguinte (4), é feita uma breve reflexão sobre a situação económica da instituição, e a partir daí são lançadas as bases para aquela que é a principal abordagem deste trabalho: Como é que a autarquia resolveu o problema da falta de condições nas instalações da Biblioteca Municipal (5). Neste capítulo é feita uma reflexão detalhada sobre os benefícios e prejuízos da solução adoptada, com especial ênfase no conflito de utilidades que a mesma veio proporcionar. A conclusão centra-se na ideia de que a resolução do problema conduziu a uma nova problemática (6). Afinal de contas, terão sido os recursos disponíveis utilizados da melhor forma para satisfazer as necessidades dos utilizadores da biblioteca?! A resposta encontra-se nas páginas seguintes.

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2. História e Missão

2.1 Breve História A criação da Biblioteca de Viana do Castelo remonta à segunda metade do século XIX. No entanto, no seu inicio, o espaço não era mais do que um amontoado caótico de livros divididos por dois edifícios. No dia 3 de Novembro de 1912, a Biblioteca Municipal é finalmente inaugurada e aberta ao público. O núcleo bibliográfico era em grande parte constituído por livros doados e deixados em testamento. Um desses beneméritos foi José Augusto Palhares Malafaya, que no seu testamento deixou um fundo bibliográfico bastante extenso destinado às classes populares para que “tivessem nas horas vagas leitura fácil e instrutiva”. É a partir desta data que a instituição ganha visibilidade e passa a funcionar de forma efectiva.

Foto 1: Antigos Paços do Conselho (1ª residência da biblioteca)

Foto 2: Palácio dos Cunhas

Em Novembro de 1923, a Biblioteca passa a funcionar no Palácio dos Barbosa Maciel, local onde é actualmente o Museu Municipal (Foto 3). Em 1966, as instalações são transferidas para a Casa dos Alpuins na rua Cândido dos Reis (Foto 4). O seu fundo bibliográfico vinha sendo enriquecido com colecções de particulares e com a aquisição de novos livros no mercado, sobretudo a partir de 1974.

Foto 3: Palácio dos Barbosa Maciel

Foto 4: Sala de Leitura da biblioteca na Casa dos Alpuins

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No ano de 1989, a Biblioteca é renovada no âmbito da Rede Nacional de Leitura e dotada de novas instalações na casa dos Monfalim, na rua Cândido dos Reis (Foto 5). Esta actualização deveuse a um acordo estabelecido entre a Câmara Municipal e o Instituto Português do Livro e da Leitura. Através desta reorganização, foi possível oferecer um serviço muito mais amplo, nomeadamente ao nível da oferta de um fundo bibliográfico de livre acesso, do empréstimo domiciliário e duma maior diversidade de oferta de documentos para consulta, agora também em formato audiovisual e electrónico.

Foto 5: Edifício da Casa dos Monfalim

Foto 6: Sala de Leitura da Biblioteca na Casa dos Monfalim

A Biblioteca afirmou-se como um importante pólo cultural e as instalações tornaram-se exíguas face à procura, não sendo capazes de responder nem ao aumento de utilizadores nem à expansão do fundo bibliográfico. A necessidade de um novo espaço era uma prioridade. A opção acaba por recair na construção de um edifício de raiz, devidamente dimensionado e integrado na envolvente urbana, em local capaz de exercer uma forte atracção sobre o público.

Foto 7: Maqueta do Edifício da Nova Biblioteca

Aproveitando a requalificação da frente ribeirinha de Viana do Castelo, integrada no Programa Polis, é encomendado ao arquitecto Álvaro Siza Vieira o projecto da nova Biblioteca Municipal. Na construção do edifício foram seguidas todas as recomendações do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, com adaptações, quando necessárias, à realidade vianense, tendo em conta as particularidades da Biblioteca Municipal já existente, nomeadamente ao nível do seu fundo bibliográfico. O edifício é inaugurado no dia 20 de Janeiro de 2008, e desde então tem estabelecido uma forte relação comunicacional com os vianenses, tendo já assumido uma posição relevante, não apenas do ponto de vista cultural, mas também no panorama arquitectónico, sendo um ponto de passagem obrigatório para os turistas que visitam a cidade.

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2.2 Missão e Objectivos A Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, cumprindo as directivas do Manifesto da UNESCO sobre Bibliotecas Públicas, tem o objectivo de facilitar o acesso à cultura, à informação, à educação e ao lazer, contribuindo assim para elevar o nível cultural e a qualidade de vida dos cidadãos. A Biblioteca Municipal, como equipamento cultural que é, tem como principais objectivos: 1-Estimular o gosto pela leitura e a compreensão do mundo em que vivemos; 2-Criar condições para a fruição da criação literária, científica e artística, proporcionando o desenvolvimento da capacidade crítica do indivíduo; 3-Conservar, valorizar, promover e difundir o património escrito, em especial o respeitante ao fundo local, contribuindo para reforçar a identidade cultural da região; 4-Difundir e facilitar documentação e informação útil e actualizada, em diversos suportes, relativa aos vários domínios de actividade, satisfazendo as necessidades do cidadão e dos diferentes grupos sociais.

Foto 8: Zona de acesso à Internet na biblioteca

Foto 9: A Biblioteca Itinerante

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3. A Biblioteca

3.1 Fundo Documental A Biblioteca Municipal de Viana do Castelo tem à disposição dos seus utilizadores um fundo documental com mais de 120 mil livros. Os documentos existentes estão divididos em três depósitos: fundos, doações e publicações periódicas. Os fundos estão agrupados em: “fundo geral 1” (engloba todos os artigos publicados antes de 1865) e “fundo geral 2” (artigos publicados após 1865). As doações são documentos oferecidos à Biblioteca por particulares. As publicações periódicas constituem um depósito de jornais e revistas devidamente organizados e identificados por data de publicação. Grande parte destes livros está em exposição permanente e pode ser consultado livremente. As obras mais raras e antigas, encontram-se numa sala de acesso condicionado, e antes de serem consultadas necessitam de uma autorização específica. Os utilizadores da Biblioteca podem requisitar livros através do serviço de empréstimo domiciliário.

3.2 Serviços Específicos A Biblioteca oferece aos seus utilizadores uma série de serviços específicos que se enquadram na sua missão de informar, educar e facilitar o acesso à cultura. Todos estes serviços são gratuitos e de livre acesso:               

Centro de Informação e Documentação Europeia (fundo bibliográfico da União Europeia) Serviço de Empréstimo Domiciliário (empréstimo gratuito de livros) Serviço de Empréstimo Interbibliotecas (empréstimo de livros entre bibliotecas) Serviço de Leitura Especial (serviço de apoio a utilizadores com deficiência) Secção de Viana (documentos sobre a cidade e a região) Sala de Reservados (livros e jornais antigos, obras raras e de carácter patrimonial) Hora do Conto (dramatização de um conto destinado ao público jovem) Sábado com História (actividade semanal destinada às crianças) Quintas-Feiras sem TV (apresentação de livros e palestras de autores) Hora do Conto Sénior (projecto envelhecer com qualidade) Internet (rede Wi-Fi e computadores) Serviço de Audiovisuais (artigos audiovisuais com empréstimo domiciliário) Biblioteca Itinerante (carrinha que se desloca pelas freguesias do concelho) Feira do Livro (realiza-se em Julho no Jardim da cidade) Postos de Leitura (espalhados pela cidade – cafés, barbeiros…)

3.3 Funcionamento A Biblioteca Municipal de Viana do Castelo funciona desde Janeiro de 2008 num edifício próprio construído de raiz para o efeito. Encontra-se aberta ao público de segunda a sábado entre as 10h e as 20h, e localiza-se no centro da cidade, mais precisamente na Praça da Liberdade, entre a principal avenida de Viana do Castelo, o rio Lima e o Jardim Público. 6


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4. A Biblioteca e a Economia

4.1 Gestão do Património A Biblioteca Municipal de Viana do Castelo tem à sua guarda um vasto espólio documental. São mais de 120 mil livros. O seu património aumenta consideravelmente todos os anos, através de compras ou doações de particulares. O orçamento depende exclusivamente do Fundo Permanente que a Câmara Municipal de Viana do Castelo lhe atribui. Economicamente, não há qualquer preocupação com a obtenção de receitas na sua actividade normal. O único serviço pago é o de reprodução documental, e mesmo este, apesar de ter um preço superior ao que se pratica no mercado, não tem em consideração uma perspectiva económica, limita-se a servir de protecção aos direitos de autor.

Foto 10: Fundo documental em exposição

Foto 11: Zona de Leitura

4.2 Recursos Humanos A biblioteca emprega cerca de 30 trabalhadores que laboram divididos em turnos que se prolongam durante o horário de funcionamento (segunda a sábado entre as 10h e as 20h). Todos os funcionários dispõem de formação específica na área, embora não estejam contemplados por nenhum programa de formação contínua. A sua média de idades é relativamente baixa - entre os 30 e os 40 anos - uma vez que a mudança de instalações e o alargamento do horário de funcionamento obrigaram ao reforço do pessoal, tendo sido adoptada uma política de contratação jovem. Com a nova biblioteca, os recursos humanos foram reforçados com mais 13 pessoas. A explicação reside no alargamento do horário, como nenhum funcionário pode trabalhar mais do que 7 horas por dia, foi necessário reforçar o pessoal. Actualmente, durante o horário de trabalho, os técnicos dividem-se em dois grupos (turno 1 e turno 2), ficando os restantes a catalogar.

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4.3 Comunicação A mudança de instalações provocou uma verdadeira revolução na estratégia de comunicação do serviço. Actualmente, os utilizadores podem receber uma newsletter no seu correio electrónico, e aceder através da internet ao site ou ao blog da biblioteca. (mais detalhado no ponto 4.3)

Foto 12: aspecto do site da biblioteca

4.4 Recursos limitados face às necessidades Na última década, o espólio da biblioteca e o seu número de utilizadores aumentou consideravelmente. O espaço utilizado tornou-se exíguo face às necessidades de quem o procurava. Os livros amontoavam-se e a sua exposição estava limitada a um número muito reduzido de estantes. As mesas disponíveis eram poucas e os utilizadores eram constantemente forçados a abandonar o edifício sem conseguir os benefícios pretendidos. A necessidade de mudar de instalações tornou-se uma realidade. A Câmara Municipal procurou um local onde pudesse reinstalar a biblioteca mas nenhum dos seus edifícios desocupados tinha condições para melhorar o serviço e resolver o problema da falta de espaço. Aproveitando o programa da reabilitação da frente ribeirinha da cidade, decidiu-se construir um edifício de raiz capaz de albergar os serviços bibliotecários. O projecto foi encomendado ao conceituado arquitecto Siza Vieira e a sua construção beneficiou de fundos do Programa Polis.

Foto 13: imagem da antiga biblioteca

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4.5 Análise SWOT Análise SWOT (antes da mudança de instalações) Pontos Fortes: Localização (centro da cidade)

Pontos Fracos Falta de espaço e conforto Poucos livros em exposição Horário de funcionamento demasiado curto Falta de comunicação entre serviços e utilizadores

Oportunidades Aposta da autarquia na cultura Falta de concorrência

Ameaças Desinteresse por aspectos económicos Degradação do património Falta de Concorrência

Antes da mudança de instalações, os grandes problemas da biblioteca relacionavam-se com a falta de qualidade no serviço prestado. Factores como o pouco espaço, a escassez de livros e o horário de funcionamento eram os grandes pontos fracos. A grande oportunidade era a aposta da autarquia na cultura, factor que se revelou essencial na decisão de construir um novo edifício. Análise SWOT (após a mudança de instalações) Pontos Fortes: Instalações modernas Conforto RH jovens Leitura especial Identidade Própria Oportunidades Impacto mediático Aposta da autarquia na cultura Falta de Concorrência

Pontos Fracos: Excesso de ruído Poucos livros técnicos

Ameaças Desinteresse por aspectos económicos Falta de concorrência

Actualmente, a análise demonstra uma nova realidade. A qualidade do serviço aumentou, e os pontos fortes são mais do que os pontos fracos. A juventude dos recursos humanos é um factor positivo porque há mais dinamismo e flexibilidade na realização das tarefas. O serviço de leitura especial permite uma justa igualdade no acesso à cultura. Ao nível das oportunidades, a aposta autárquica na cultura é um factor favorável assim como o impacto mediático que a construção do novo edifício acarretou. A falta de concorrência é uma oportunidade porque a nível cultural, a biblioteca consegue garantir uma importante posição de destaque. No entanto, a ausência de outras bibliotecas pode funcionar negativamente, originando um desleixo e uma apatia na inovação e no desenvolvimento. Uma das ameaças pode ser o desinteresse pelos aspectos económicos. No desenrolar deste trabalho, fica bem patente a contribuição que a economia da cultura pode dar a uma biblioteca.

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5. A Nova Biblioteca

5.1 A Necessidade Após várias mudanças de localização, a Biblioteca de Viana do Castelo estava desde 1989 situada numa ala do edifício da Câmara Municipal. Dispondo de uma área muito reduzida e de condições pouco apetecíveis, surgiu a necessidade de procurar um espaço capaz de satisfazer as necessidades de um número de utilizadores cada vez maior. De facto, a década de 90 marcou uma explosão no seu número de visitantes. Este acréscimo deveu-se fundamentalmente ao aumento de jovens da região a frequentar o ensino superior, estudantes que viam na biblioteca o local ideal para completar o seu estudo e preparar os seus exames. Era precisamente na época de exames que se registavam os picos de procura mais elevados. A demanda era tal, que as (poucas) mesas disponíveis não chegavam para receber os interessados em usufruir do espaço. Era natural um indivíduo chegar quinze minutos depois da hora de inicio de funcionamento e já não encontrar lugares disponíveis. Mas não só do lado da procura existiam importantes necessidades de mudança. Em termos de oferta, a carência de novas instalações era ainda mais urgente. Usufruindo de um espaço que não tinha sido planeado para albergar uma biblioteca, verificavam-se graves problemas de temperatura e humidade que colocavam em risco a conservação dos documentos mais antigos. Com os níveis óptimos de conservação estabelecidos em 18 graus para a temperatura e 55 para a humidade, o termómetro do edifício chegava a atingir valores bem superiores aos ideais, temperaturas que de forma continuada provocavam danos irreversíveis no património cultural da biblioteca. Como em qualquer outra biblioteca, a falta de espaço para armazenar um património cada vez mais vasto era outro dos problemas. Dispondo de uma quantidade de estantes bastante reduzida, e de um espaço de exposição ainda mais exíguo, o amontoado de livros guardados em anexo (sala que não estava à vista dos utilizadores) era cada vez maior. Isto reduzia o benefício que a biblioteca poderia causar aos seus visitantes e danificava os próprios documentos que não estando expostos, sofriam uma menor conservação e caiam mesmo no “esquecimento” dos funcionários. Perante tantos problemas, era efectivamente necessário procurar uma solução capaz de dar aos vianenses um melhor usufruto do riquíssimo património que a biblioteca dispunha.

5.2 O Edifício Após a Câmara Municipal ter concluído que não dispunha de nenhum espaço adequado para suprimir os problemas e trazer mais-valia aos serviços da biblioteca, optou-se pela construção de uma infra-estrutura adequada para receber o valioso fundo documental e se assumir como importante pólo cultural da cidade.

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Procurando dar mais visibilidade ao investimento, a autarquia resolveu encomendar ao prestigiado arquitecto Siza Vieira o projecto de um novo edifício. A nova biblioteca começou a ser construída em 2004 e foi inaugurada em Janeiro de 2008 no âmbito das comemorações dos 750 anos da elevação de Viana a cidade. A sua construção foi avaliada em 4,5 milhões de euros e o seu financiamento fez-se com dinheiros comunitários, autárquicos e estatais (através do Programa Polis).

Foto 14: A Biblioteca de Noite

Foto 15: Enquadramento do projecto na cidade

O novo edifício tem uma área total de 3130 metros quadrados, divididos por dois pisos. O volume da Biblioteca é de cerca de 1850 metros cúbicos, com um vazio central, no piso térreo, permitindo, através da elevação do primeiro andar, a vista sobre o rio Lima que se encontra a sul da estrutura. No piso superior, localizam-se as três principais alas de leitura: a ala Luís de Camões, a ala José Saramago e a ala Fernando Pessoa. O edifício foi construído em betão branco, que recobre uma complexa estrutura de ferro, sendo a base em granito.

Foto: 16: vista lateral do edifício (1)

Foto 17: vista lateral do edifício (2)

Este projecto valeu a Siza Vieira o Prémio Nacional de Arquitectura Contemporânea. O galardão, que a partir dessa data passou a denominar-se Prémio Nacional Siza Vieira, foi entregue pela excelência do arquitecto na construção do edifício destinado à biblioteca. A sua obra, juntamente com a Praça da Liberdade projectada por Fernando Távora e o Coliseu de Souto Moura (ainda em construção), forma um tríptico que faz do centro histórico de Viana do Castelo um dos mais valiosos a nível cultural e arquitectónico. 11


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5.3 As Vantagens A mudança de instalações permitiu dar uma nova vida à Biblioteca Municipal. As vantagens em relação ao edifício anterior saltam à vista: o novo espaço é mais amplo, mais iluminado e mais apetecível. O número de estantes aumentou consideravelmente o que levou a uma expansão considerável do património em exposição. A pensar no futuro, as estantes são suficientemente amplas para receber os documentos que no longo prazo irão engrossar o fundo documental. O número de visitantes aumentou exponencialmente. Actualmente, durante o fim-de-semana, passam pela biblioteca cerca de 400/500 pessoas. Acompanhando este ritmo de crescimento, também o número de leitores registados sofreu um aumento significativo. Em Dezembro de 2007, quando a biblioteca funcionava no edifício da Câmara, estavam registados 4000 leitores. Actualmente, o número de leitores registados ronda os 9000, um aumento de 125%. Esta explosão estatística representa uma vitória na política de expansão dos serviços. Hoje, há mais vianenses a ler. Outra das vantagens relacionada com o novo edifício tem que ver com o aumento dos serviços disponibilizados. A nova biblioteca aumentou a sua oferta, e hoje em dia, são diversas as actividades que desenvolve no âmbito da promoção da leitura e da cultura. A existência de um auditório nas suas instalações (auditório Couto Viana) permitiu a organização de várias actividades que outrora eram impossíveis possíveis de realizar. São exemplos “A Hora do Conto”, a “Hora do Conto Sénior” ou “Sábado com histórias” que levam a cultura e a leitura a classes e grupos que normalmente têm mais dificuldade no seu acesso. Outro dos benefícios do investimento está relacionado com o serviço de leitura especial. A biblioteca dispõe de ferramentas que facilitam o acesso de deficientes visuais aos seus serviços. De salientar o facto de estes não serem “relegados” para uma sala escura e afastada como usualmente acontece. Tal como o número de serviços prestados, também o horário de funcionamento foi alargado. No passado, a biblioteca fechava durante a “hora de almoço” e durante o fim-de-semana apenas estava aberta ao sábado de manhã. Actualmente, funciona de segunda a sábado ininterruptamente entre as 10h e as 20h. O aumento da lotação fez com que todos os interessados pudessem usufruir da biblioteca sem condicionamentos relativos à falta de espaço. Uma das mudanças mais importantes registou-se na política de comunicação. Aproveitando uma nova era, lançou-se um site na internet, criou-se um blog, e ainda foi desenvolvida uma newsletter que é enviada a todos os utilizadores que a pretendam receber. A chegada do Marketing à biblioteca foi um factor determinante para o aumento de leitores e utilizadores mencionado anteriormente. Usufruindo do impacto mediático que a construção proporcionou, a instituição soube explorar o interesse do público e conseguiu captar a atenção dos vianenses. Prova da importância dada ao relacionamento pessoal é a carta que os serviços enviam aos leitores registados no seu dia de aniversário.

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5.4 – As Desvantagens A construção de um novo edifício não resolveu todos os problemas da biblioteca. Apesar do investimento realizado, a obra peca em alguns aspectos relacionados com a sua funcionalidade. Um destes pormenores importantes é o piso. Construído em madeira, o piso da biblioteca é extremamente barulhento, o que faz com que a passagem de pessoas seja bastante incomodativa. Outro aspecto negativo, tem que ver com o facto de não existir uma separação entre a zona de adultos e a zona infantil. Obviamente, sujeitas a necessidades diferentes, as crianças não respeitam o silêncio que lhes é exigido. Não havendo uma divisão explícita entre as duas áreas, torna-se bastante complicado satisfazer a necessidade de sossego que a maior parte dos utilizadores pretende quando procura uma biblioteca. Outra das críticas relaciona-se com a abertura “condicionada” do novo espaço. É importante dizer que há serviços prometidos que, passados dois anos após a inauguração, ainda não funcionam. É o caso do serviço Wi-Fi ou do empréstimo domiciliário de artigos audiovisuais. Mais um aspecto grave é a ausência das placas que deveriam identificar as estantes por temas. Para procurar um livro, os utilizadores necessitam obrigatoriamente de pedir ajudar a um dos funcionários, caso contrário, é impossível orientarem-se dentro da biblioteca. As placas não existem porque a sua elaboração está a cargo do arquitecto Siza Vieira, que após ter recebido o prémio, parece ter esquecido a sua responsabilidade. O facto de a biblioteca constituir um património de inegável valor arquitectónico, projectado por um dos mais importantes arquitectos portugueses, tem provocado verdadeiras romarias ao edifício. Todos os dias, a biblioteca é visitada por estudantes de arquitectura que apenas pretendem ver a obra e não utilizar os serviços disponíveis. Este tráfego de visitantes constitui um entrave à satisfação das necessidades dos utilizadores, que são constantemente incomodados por conversas paralelas, ou flashes fotográficos que os desconcentram por completo. Em suma, um dos principais requisitos da biblioteca, o silêncio, está constantemente a ser desrespeitado, algo que tem motivado inúmeras queixas por parte dos utilizadores.

Foto 18: apesar de anunciado, o serviço ainda não funciona.

Foto 19: o grande chamariz da biblioteca é a sua beleza arquitectónica

Foto 20: são raros os momentos calmos na nova biblioteca.

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6. Conclusão O caso específico da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo permite uma melhor compreensão de como a economia pode ter lugar na resolução dos problemas culturais. Na tentativa de resolver o défice de condições nas instalações anteriores, a autarquia resolveu investir recursos na construção de um novo edifício. De modo a chamar a atenção para esse investimento, optou por contratar os serviços de um arquitecto de renome, que prontamente projectou uma obra ao nível dos seus pergaminhos. Aproveitando o mediatismo que o projecto arrecadou, a autarquia lançou uma forte campanha de comunicação, chamando a atenção para a construção de uma biblioteca extremamente moderna, projectada por um arquitecto vistoso, que iria albergar um extenso e rico património cultural. A estratégia teve efeitos positivos, e o número de utilizadores aumentou significativamente. Apesar do sucesso aparente, é interessante verificar que a nível cultural, o investimento não foi rentabilizado ao máximo. A biblioteca peca por ter falhas na sua funcionalidade. Houve uma atenção exagerada na notoriedade da arquitectura, menosprezando a qualidade do serviço. Por outras palavras, o investimento centrou-se na construção de uma relíquia arquitectónica e não no erguer de uma biblioteca de excelência. Com os recursos que foram utilizados, seria prioritário assegurar que os utilizadores teriam todas as condições para maximizar a utilidade que uma biblioteca tem para oferecer. No entanto, por factores que já foram referidos anteriormente, as funções básicas do serviço estão constantemente a ser relegadas para segundo plano. O silêncio é constantemente desrespeitado, e o conflito de interesses entre os visitantes e os utilizadores é uma realidade. De um lado, os utilizadores que procuram sossego e silêncio. Do outro, os visitantes, que contemplam a obra provocando ruído, factor que reduz a utilidade dos primeiros. Concluindo, a construção da nova biblioteca resolveu alguns problemas de fundo, mas deixou outros a descoberto. Tentar fazer da biblioteca um duplo património cultural (pelo edifício e pelo fundo documental) levantou conflitos que dificilmente serão resolvidos. A utilidade de uma biblioteca está no espólio documental e na qualidade do serviço que presta, o resto (neste caso, o património fixo que representa o edifício) é totalmente secundário, e só se torna relevante se não colocar em risco os seus valores e a sua missão fundamental, o que claramente, não aconteceu.

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7. Bibliografia

BIBLIOTECA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO, consultado em 9 de Novembro de 2009, de http://biblioteca.cm-viana-castelo.pt/portalWeb/

INTERNATIONAL FEDERATION OF LIBRARY ASSOSSIATIONS AND INSTITUTIONS, consultado em 10 de Novembro de 2009, de http://archive.ifla.org/VII/s8/unesco/port.htm

CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO, consultado em 10 de Novembro de 2009, de http://www.cm-viana-castelo.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=838:siza-vieira-recebepro-nacional-de-arquitectura-contempora-pela-biblioteca-municipal-de-viana

WIKIPÉDIA, consultado em 11 de Novembro de 2009, de http://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_Municipal_de_Viana_do_Castelo

RTP, consultado em 9 de Novembro, de http://tv1.rtp.pt/noticias/?article=164787&visual=3&layout=10

IOL DIÁRIO, consultado em 9 de Novembro de 2009, de http://diario.iol.pt/noticia.html?id=1046632&div_id=4071

ARQUITECTURA, consultado em 9 de Novembro de 2009, de http://www.arquitectura.pt/forum/f29/viana-do-castelo-inaugura-hoje-nova-biblioteca-de-sizavieira-9399.html

CÂRAMA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO, consultado em 10 de Novembro de 2009, de http://www.cm-viana-castelo.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=473:intervensdo-programa-polis-em-viana-do-castelo&catid=1:noticias&Itemid=692

DIÁRIO DE NOTÍCIAS, consultado em 12 de Novembro de 2009, de http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1173905

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Anexos Anexo 1 - Entrevista Guião da Entrevista 

História e missão da biblioteca

Serviços Específicos

Antigo e novo espaço. Que diferenças.

Vantagens e desvantagens do novo edifício.

Variação nas visitas. Maior visibilidade. Como aproveitar isso.

Apoios da Câmara. Orçamentos.

Preocupações do ponto de vista económico.

Gestão de queixas e melhorias no serviço.

Formação dos recursos humanos

Directiva europeia de taxar empréstimos.

Anexo 2 - Inquérito realizado 1) Já visitou a nova Biblioteca Municipal? A – Sim B – Não

99% 01%

2) Sabe quem foi o arquitecto responsável pelo projecto? A – Não sei B – Souto Moura C – Fernando Távora D – João Graça E – Siza Vieira F – Regino Cruz

14% 01% 00% 00% 85% 00%

3) Justificava-se a construção de um novo edifício para albergar os serviços da biblioteca? A – Sim B – Não

86% 14%

4) Chegou a utilizar os serviços da biblioteca nas suas antigas instalações? A – Sim B – Não

99% 01%

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5) Em comparação com a biblioteca anterior, acha que o serviço: A – Está na mesma B – Melhorou C – Piorou

18% 81% 01%

6) Do seu ponto de vista, quais são os principais problemas da nova biblioteca? (resposta aberta)*

7) Costuma visitar a Biblioteca Municipal com que regularidade? A – Frequentemente B – Ocasionalmente C – Raramente D – Nunca

22% 47% 29% 01%

8) O principal motivo pelo qual costuma visitar a biblioteca é: A – Estudar B – Consultar documentos C – Navegar na internet D – Ver o edifício E – Requisitar livros F – Assistir a apresentações/palestras G – Outro

57% 13% 00% 07% 13% 08% 01%

9) A Comissão Europeia tem acusado Portugal de não estar a cumprir uma directiva segundo a qual, os empréstimos de livros nas bibliotecas têm que ser taxados. Estaria disposto a pagar uma taxa pelo serviço de empréstimo domiciliário (que actualmente é gratuito)? A – Não B – Sim, mas nunca superior a 1€ C – Sim, mas nunca superior a 2€ D – Sim, mas não pago mais do que 3€ E – Sim, pago o que for preciso

64% 21% 08% 03% 03%

Comentário: O inquérito foi realizado on-line entre os dias 12 e 19 de Novembro, tendo sido enviado aleatoriamente para os endereços da minha caixa de correio electrónico e disponibilizado no meu blog e twitter. O seu conteúdo não tem carácter cientifico limita-se apenas a servir de indicador para alguns aspectos do meu trabalho. Responderam ao inquérito 72 pessoas, todas elas residentes ou naturais de Viana do Castelo. Dos resultados obtidos saliento o facto de 85% dos inquiridos saberem quem foi o arquitecto responsável pela obra, e de 57% utilizarem os serviços para estudar (dado que poderá ter sido influenciado pelos meus contactos electrónicos serem essencialmente jovens). Outro dado interessante é o de que 35% dos inquiridos 17


Mercados para a Cultura – 2009/2010 – Biblioteca Municipal de Viana do Castelo

estariam dispostos a pagar para requisitar livros. De seguida apresento todas as réplicas obtidas na questão de resposta aberta (sem edição): Do seu ponto de vista, quais são os principais problemas da nova biblioteca?              

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As senhoras bibliotecárias andarem de tacão e fazerem um barulho infernal no soalho Falta de identificação nas estantes. Não tem parque de estacionamento gratuito próximo. Não sei Não tenho conhecimento suficiente para me pronunciar, contudo penso que a oferta é mais abrangente e diversificada Neste momento nenhum Apenas um inconveniente: só existe 1 volume de cada edição para serviço de empréstimo domiciliário. Pouca oferta em diversas áreas. p.ex. saúde O chão ser de madeira, faz imenso barulho quando as pessoas passam. Falta Wireless A formação profissional dos funcionários e o não cumprimento de regras básicas como manter o silêncio Falta de livros técnicos, o "chão" da biblioteca não é o mais apropriado devido ao ruído quando as pessoas andam -Estruturação dos livros (por secções) Maior divulgação. Como não estudo em Viana é difícil para mim ir frequentemente à biblioteca. Gostaria de saber mais sobre as actividades que desenvolve e a sua contribuição para a educação não formal. O chão, dado que qualquer que seja o calçado que as pessoas usem, faz imenso barulho...quebrando o suposto silêncio que deve existir numa biblioteca. Não ter Wireless... ridículo É demasiado grande, muito pouco funcional (principalmente no que diz respeito ao chão de madeira, que se torna muito incomodativo devido ao barulho que provoca, e também os constantes ecos) ,e não contribui para um bom ambiente de estudo e leitura Falta de livros científicos Falta de silêncio Talvez o número de funcionários, e outro dos problemas será também, o facto de apenas poderem usufruir dos computadores lá existentes, os indivíduos que possuem Cartão da Biblioteca. Não frequento muito a biblioteca o que não me permite identificar problemas. Falta de livros Pouca Bibliografia. Talvez o barulho que se sente por vezes O barulho Silencio O ruído que o soalho faz Problemas materiais não tem. Agora imateriais tem: alguns funcionários continuam os mesmos incompetentes. 18


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 Os empregados são mais barulhentos que os próprios visitantes e o tipo de material utilizado para chão não é o mais adequado, pois faz imenso barulho  A falta de livros.  Ainda que maior que a anterior, por diversas vezes não há espaço para estudo nas épocas mais concorridas. Carece de serviço wireless de Internet. A secção infantil, sem o devido isolamento, perturba as actividades dos adultos com barulho e afins.  O barulho das crianças  Poucas mesas e poucos livros  Barulho  Poucos livros técnicos  Má organização, muito espaço para poucos livros por isso é muito difícil encontrar o que queremos  Ruído por vezes excessivo.  Poucos livros  Devia trazer grandes nomes da literatura nacional e, não só, para palestras, mais vezes!  Não tem wireless.  Em épocas de maior frequência (como alturas de exame) a biblioteca torna-se pequena e o barulho é exagerado ao ponto deste espaço se tornar um apelo ao convívio social. Tendo em conta que o intuito do espaço passa pela sua utilização como lugar de estudo, consulta ou de serviços (nomeadamente a Internet) penso que, apesar de ser público, quando o comportamento de algumas pessoas não fosse o exemplar, estas deveriam ser convidadas a abandonar a biblioteca. E, o que se verifica, é que quem abandona o local são as pessoas que têm como objectivo usar o local com o objectivo devido.  Falta de livros mais técnicos. Zona infantil sem resguardo sonoro.  Pouca diversidade de livros para estudantes universitários  A sua localização. Aliás toda a praça da liberdade não deveria existir. Cortou a ligação visual da cidade para com o rio

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