TFG I 2019

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UNIMEP

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA

PROJETO

PLURAL

BRUNO FRANCO

ARQUITETURA E URBANISMO



UNIMEP UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA FEAU - FACULDADE DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO I ARQUITETURA E URBANISMO

PROJETO PLURAL EM DIREÇÃO A UMA ARQUITETURA COLETIVA

ALUNO BRUNO FRANCO MELO E SILVA ORIENTADOR PROF. Me. PAULO SÉRGIO TEIXEIRA

SANTA BARBARA D`OESTE JUNHO 2019


RESUMO O presente Trabalho Final de Graduação I objetiva propor um projeto multidisciplinar alternativo que discute as novas relações entre espaços para moradia, trabalho e convivência, tendo como seus principais programas o espaço colaborativo de trabalho, ou espaço de coworking e unidades habitacionais.

Para isso o trabalho

apresenta os fatores que levaram a essa mentalidade atual, desde os conceitos de moradia, evolução dos espaços de trabalho, reflexões na economia colaborativa e conceitos de coliving. O terreno escolhido para esse projeto, no bairro de Pinheiro na cidade de São Paulo, teve seu entorno analisado a fim de um maior embasamento para a segunda parte desde trabalho, o desenvolvimento do projeto. Em suma, viver de forma mais coletiva e colaborativa não representa uma novidade na história humana, porém se apresenta como uma alternativa frente as rígidas tipologias atuais, perante mudanças sociais, ambientais e econômicas.


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

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2 CONCEITOS DE MORAR E TRABALHAR

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3 A ECONOMIA COMPARTILHADA

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3.1. A geração que compartilha

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4 A EVOLUÇÃO DO ESPAÇO DE TRABALHO

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5 COLIVING

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6 ESTUDOS DE REFERÊNCIAS

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6.1. Edifício Corujas 6.2. Kasa SP 6.3. The Collective Old Oak

7 ÁREA DE INTERVENÇÃO

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7.1. O Terreno 7.2. Legislação 7.3. Análise do entorno

35 35 37

8.1. Programa de necessidades 8.2. Diagrama de fluxo

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8 DIRETRIZES E DISCUSSÕES GERAIS

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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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BIBLIOGRAFIA

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO O modo como a sociedade ocidental estruturou a vida cotidiana mudou significativamente de uma época para outra. Por exemplo, o início da revolução industrial gerou claras oposições entre o produção e reprodução, assim impondo a divisão entre o trabalho e a casa. Contudo, atualmente, com o início da era da informação, tais oposições se tornam desnecessárias e obsoletas. Com o surgimento de novas formas de trabalho e produção, como o trabalho imaterial (tipo de trabalho que não gera, necessariamente, um resultado palpável, um objeto (SANTOS, 2011)), os limites entre “morar” e “trabalhar” se tornam cada vez mais flexíveis. Como resultado, o trabalho não é mais necessariamente organizado dentro dos padrões tradicionais, no qual o trabalhador é designado em sua determinada mesa, encarregado com sua devida tarefa para ser realizada em predeterminado período, mas sim transborda na vida privada do indivíduo, criando assim uma fusão entre produção e reprodução. Advento a crises econômicas, exageros no consumo, globalização através das novas tecnologias e a internet e uma crescente preocupação acerca da responsabilidade ambiental e social na sociedade contemporânea, a economia compartilhada se apresenta como uma nova vertente para a dinâmica das relações pessoais e com o mercado, não apenas no trabalho mas em todos os aspectos da vida. Essa nova modalidade de economia vem como contraponto à inviabilidade do consumo desenfreado, crise financeira e ambiental, da qual vem introduzindo uma nova mentalidade sobre o consumismo, em que compartilhar é uma solução inteligente e sustentável. Na arquitetura, esse novo modo de viver e trabalhar vem se manifestando em uma dissolução dos espaços de convívio e trabalho, se tornando cada vez mais parecidas uma com a outra. 07


Nesta nova visão de viver e trabalhar e enxergar a economia faz com que ponderemos em uma alternativa arquitetônica que supre esta nova demanda, se distanciando do modelo rígido de tipologias, que constitui espaços de trabalho e moradia como domínios separados. Os modos de produção, consumo, socialização e aprendizado estão cada vez mais entrepondo entre si, fazendo com que estas atividades se tornem interdisciplinares, e os espaços físicos onde estas serão realizadas devem prosseguir com mesmo caráter. Desta forma, o presente trabalho tem como intuito explorar as possibilidades de um projeto que atenda estas novas demandas contemporâneas de moradia e trabalho, de modo a potencializar a criatividade, a transferência de conhecimento e enriquecendo das relações interpessoais através de uma manifestação arquitetônica que segue os conceitos do coliving e coworking. Para isso fora escolhido o bairro de Pinheiros para tal intervenção, este portador da infraestrutura necessária para o projeto. Para tornar legitima a implantação de tal projeto, foi escolhida uma região de rica em cultura, lazer, educação e transporte, e consequentemente uma alta procura habitacional. Foi encontrado tal lugar na cidade de São Paulo, no bairro de Pinheiros, pertencendo ao quadrante da cidade reconhecido como o lugar onde se concentram as principais oportunidades e benefícios da vida urbana da cidade (NAKANO, s/d) O corpo do trabalho está dividido em três partes. A primeira consta um embasamento teórico, na qual foram analisados os conceitos do morar e trabalhar, a economia compartilhada, a evolução do espaço de trabalho e os espaços de coliving. Em seguida foram apresentados projetos cujos suas propostas formais e programas de necessidades auxiliara no desenvolvimento do projeto arquitetônico que será realizado no Trabalho Final de Graduação II. Por fim, a terceira parte apresenta levantamento e analises do local de intervenção, discutindo propostas e diretrizes gerais para a realização do projeto.

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CAPÍTULO 2

CONCEITOS DE MORAR E TRABALHAR Hannah Arendt, filosofa alemã de origem judia, entende a atividade humana sob uma divisão de três atividades as quais melhor correspondem às condições básicas pela qual a vida foi dada ao homem sobre a terra: trabalho, labor e ação, tendo como desenvolvimento destas três atividades a vida activa. Dentre as atividades ela define como a atividade de trabalho como a condição de mundanidade, referindo-se à fabricação de instrumentos ou objetos de uso, além das obras de arte, assim tentando controlar a natureza e criando um mudo artificial de coisas. Ela considera o labor como as atividades necessárias vitais para a sobrevivência humana as quais não podemos evitar, como dormir e comer. Por fim ela define a ação como condição de pluralidade, permitindo que os indivíduos construam o que são para que se diferenciem dos outros, assim criando identidade individual tornando o privado em público (CAMPOS, 2010). Ao decorrer da pesquisa para este estudo fora levantada as distinções teóricas entre dois tipos de labor, o produtivo e o reprodutivo. O primeiro se refere a forma de trabalho que produz mercadoria material e que impacta diretamente a economia, e o segundo é aquele realizado dentro de casa, conceito desenvolvido dentro do Feminismo Marxista (AZEVEDO, 2016). Perante o entendimento dos conceitos apresentados acima podemos ponderar sobre o fato de que anteriormente à Revolução Industrial, ambas produção e reprodução orbitavam a esfera da casa, e era completamente segregada da esfera pública, a casa então era o local da economia, que até o século XVIII definia âmbito doméstico como a gestão da vida. Ocorre uma mudança em relação ao papel econômico o qual fora até então gerenciado pela casa e agora é investido para a cidade (esfera pública) em sua totalidade com a chegada da industrialização. A deslocação da prioridade econômica para

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o espaço de trabalho devido a separação do labor reprodutivo do labor produtivo, fez com que a casa se tornasse um espaço de refúgio na qual seus habitantes possam se recuperar das angustias e dificuldades da esfera pública. Contudo esse pensamento é predominantemente ideológico e simbólico, sendo a casa o centro da produção, uma vez que a população só pode ser produtiva se a vida for mantida e reproduzida (DOGMA, 2015). Neste ponto da história a casa é vista apenas como refúgio seguro da esfera pública e as atividades reprodutivas nela executadas, como zelar pela casa, cozinhar, crias os filhos, papel este designado a mulher na história da civilização ocidental, constantemente é classificada como não produtiva e não é visivelmente um contribuinte ao mercado de trabalho. Mas essa negligência ao reconhecimento da atividade reprodutiva que ocorre dentro de casa se torna difícil de ser justificada devido ao surgimento do trabalho imaterial juntamente com o uso intenso dos computadores e redes informáticas (CARINI, 2017). Este é um período de organização social do trabalho, do sujeito produtivo e de suas relações com a economia e política, no qual a produção passa de ser a materialização de mercadorias para o desenvolvimento de todas aquelas atividades que possuem como característica fundamental o uso do conhecimento, além da cooperação e da comunicação (atuação geralmente associadas com a casa), atividades estas que circundam a publicidade, o marketing e os meios de comunicação (CAMARGO, 2011). A introdução de novas tecnologias tornando a produção onipresente e a relevância do trabalho imaterial baseado em noções que até então eram de domínio doméstico, demostra a importância da reprodução no espaço de trabalho, assim domesticando o mesmo (DOGMA, 2015).

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Figura 01 - Espaรงo coletivo de trabalho na sede da Soundclound, Berlim. Fonte: Archdaily, 2014. Figura 02 - ร rea de descanso na sede da Soundclound, Berlim. Fonte: Archdaily, 2014.

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CAPÍTULO 3

A ECONOMIA COMPARTILHADA É compreendido que o consumo sempre fez parte dos costumes e hábitos dos seres humanos, porém a preocupação crescente acerca da responsabilidade ambiental e social que a sociedade contemporânea tem cultivado gera questionamentos sobre contextos de evolução da humanidade, dentre eles o consumo exagerado, ou hiper consumismo. Raquel Botsman e Roo Rogers, no livro “What’s Mine Is Yours: The Rise Of 1 Collaborative Consumption” (2010), determinam que o século XX é predominantemente

marcado pelo hiper consumismo, enquanto o século XXI será considerado o século do consumismo colaborativo. O consumo colaborativo surge como resposta à inviabilidade do consumo desenfreado advento da Revolução Industrial, estimulado até os dias de hoje através de quatro grandes forças de manipulação das massas: persuasão por propagandas, o costume do acumulo, a cultura do cartão de crédito na qual se compra agora e paga depois e a obsolescência programada a qual força o consumidor a estar sempre substituindo um produto. Este novo modo de consumir não será mais definido por propaganda e posse, mas sim expresso por reputação, comunidade e acesso compartilhado (BOTSMAN; ROGERS, 2011). Devido a compressão tecnológica de bens materiais, como ocorreu na fotografia, de física se tornando digital, houveram mudanças as normas da sociedade em relação a posses, resultando em jovens atualmente possuindo menos objetos e bens e escolhendo compartilhar mais, tendo como um de seus benefícios evidentes os serviços de car-sharing no qual um carro coletivo substitui cinco carros privados, reduzindo o tráfego de automóveis nas ruas e ajudando o meio ambiente (CARINI, 2017). Nesse contexto, emerge o conceito do consumo colaborativo como uma forma 1

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“O Que É Meu É Seu: A Ascensão Do Consumo Colaborativo” (Tradução livre)


de negócios que advém das mudanças tecnológicas, particularmente da internet, desenvolvendo empresas com iniciativas e práticas de caráter colaborativo como Airbnb, Uber, BlaBlaCar, Enjoei e WeWork, empresa que fornece espaços de trabalho compartilhados para startups de tecnologia e serviços para empreendedores, freelancers, pequenas e grandes empresas. “Colaboração” tornou-se a palavra de ordem de economistas, filósofos, analistas de negócios, identificadores de tendências, comerciantes e empresários – e com razão. [...] Quanto mais examinamos estas tendências, mais convencidos ficamos de que todos esses comportamentos, estas histórias pessoais, teorias sociais e exemplos de negócio apontam para onda socioeconômica emergente, os velhos C’s estigmáticos associados ao ato de juntar e ‘compartilhar’ – cooperativas, bens coletivos, comunas – estão sendo renovados e transformados em formas atraentes e valiosas de colaboração e comunidade. Chamamos esta onda de consumo colaborativo. A colaboração no cerne do consumo colaborativo pode ser local ou pessoal, ou usar a internet para conectar, combinar, formar grupos e encontrar algo ou alguém a fim de criar interações entre pares do tipo ‘muitos para muitos’. De maneira simples, as pessoas estão compartilhando novamente com sua comunidade – seja ela um escritório, um bairro, um edifício de apartamentos, uma escola ou uma rede no Facebook. Mas o compartilhamento e a colaboração estão acontecendo de maneiras, e em uma escala, que nunca tinha sido possível anteriormente, criando uma cultura e economia em que o que é meu é seu (BOTSMAN; ROGERS, 2011, p. 18).

Foi assim então que uma nova mentalidade de consumismo foi criada, com o entendimento das novas tecnologias e uma sempre crescente preocupação ao meio ambiente, consumo não por comodidades físicas e sim por experiências compartilhadas.

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3.1. A Geração que Compartilha Geração são grupos de pessoas que nasceram no mesmo período, antes calculado em 25 anos cada geração, correspondente ao tempo para que a próxima geração substituísse seus pais no mercado de trabalho. Mas nos últimos 50 anos, devido aos avanços tecnológicos e modos de produção, o ciclo cai para 10 anos, misturando as gerações que seguem. Consequentemente, enquanto nos anos 60 afirmasse que as diferenças entre as gerações se dava, principalmente, pelos valores, atualmente a diferença é atribuída, sobretudo, aos avanços tecnológicos (ROCHA-DE-OLIVEIRA; PICININI; BITTENCOURT, 2012). Há

três

gerações

convivendo na sociedade atual, todas com valores similares que se expressam de forma diferente, através prioridades,

da

variação

de

expectativas

e

comportamentos

(LAB

SSJ,

2012). Dentre as gerações mais recentes estão os Baby Boomers, X, Y e Z. Baby Boomers é a geração dos nascidos após a Segunda Guerra Mundial até a metade da década de 1960 e a nomenclatura vem do grande aumento na taxa de natalidade nos Estados Unidos neste período.

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Figura 03 - Charge de Costa A ilustrando as diferenças entre as gerações dos Baby boomers e geração Y. Fonte: New Matilda, 2017.


No Brasil os Baby Boomers viveram a Ditadura Militar e as promessas do milagre econômico, cresceram com oportunidades de trabalho ligadas à estabilidade dentro de grandes industriais, resultando em trabalhadores fieis, gerando carreiras de 20 ou 30 anos em uma mesma empresa, portanto valorizam o tempo de experiência dedicado e estimam o status, os cargos e hierarquias (GOMES; MOTTA; VALENTE, 2009). A geração X, nascidos entre 1966 e 1976, é discutida em “Venderam Meu Futuro: Crise e a Nova Geração” (GOMES; MOTTA; VALENTE, 2009, p. 31) por ter menor expressão quantitativa, sendo a geração “espremida” entre os Baby Boomers e a Geração Y. Seguido da geração X veio a geração Y, também conhecida como os Millenials por terem chegado a idade adulta após a virada do milênio. Diferente das outras, essa geração não é mais determinada perante a semelhança entre os aspectos de formação histórica, diferenças sociais e fator econômico de cada país. A geração Y possui valores semelhantes à de seus iguais ao redor do mundo, isso devido a mundialização do consumo e do avanço tecnológico, resultando, portanto, em um recorte geracional planetário e homogêneo (pelo menos no mundo ocidental) que compartilha a mesma compreensão sobre os eventos históricos decorrentes das últimas décadas do século XX (GOMES; MOTTA; VALENTE, 2009). Os jovens Millennials, constituem a geração brasileira de maior número de formados em ensino superior (GUIA DO ESTUDANTE, 2012), e se matricular em uma faculdade longe da cidade natal é o primeiro passo neste processo, mostrando o interesse de sair da casa dos pais para uma maior autonomia como adulto. Estes jovens estão negando a cultura de hiper consumismo da geração passada, e abraçando uma era do consumo compartilhado, e para isso acontecer de maneira otimizada precisam estar pertos uns dos outros, e assim nasce a necessidade deste jovem de estar localizado no centro de grandes cidades. 16


CAPÍTULO 4

A EVOLUÇÃO DO ESPAÇO DE TRABALHO Foram muitos os conceitos e soluções arquitetônicas destinados aos espaços de trabalho nas últimas décadas, em sua grande parte devido ao advento da informática e novas tecnologias. Em 1890 vimos acontecer o taylorismo desenvolvido por Fredick Winslow Taylor (1856-1915). Em 1890, Fredick Winslow Taylor desenvolveu um modelo de gestão de escritório conhecido como taylorista ou layout americano, utilizado por grandes corporações do início do século XX até a década e 1950. Sua teoria foi desenvolvida no princípio que o trabalho deve ser otimizado através de estudos detalhados dos movimentos realizados nas tarefas, visando a padronização, racionalização e o aumento da eficiência. No layout do modelo taylorista os funcionários de baixo escalão eram locados em fileiras no átrio interno, enquanto os inspetores e diretorias eram posicionados estrategicamente nos pavimentos superiores, afim de manter controle e ordem (CALDEIRA, 2005) Após a Primeira Guerra Mundial ocorre a primeira crítica ao taylorismo, reivindicando seu método coercitivo e propondo maior comunicação interna, fazendo com que os funcionários se sintam parte da empresa. Assim é introduzido o Escritório Panorâmico, baseado em princípios humanistas, são espaços menos compartimentados em planta livre, visando funcionalidade e maior integração dos funcionários, além do surgimento de salas de descanso e interação. Este conceito de organização traz para dentro do escritório uma estrutura menos rígida do que a do taylorismo, valorizando o trabalho em grupo, porém, sem abrir mão de um certo nível de privacidade e divisão hierárquica (MURAYAMA, 2013).

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Na década de 1980 houve uma retomada no cuidado ao mobiliário, questionados pelas modernas exigências à identidade corporativa e pela crescente importância da comunicação. Fora desenvolvido então novo mobiliário, os famosos cubículos, componentes para escritórios por parte da pioneira Herman Miller2. A conexão 24/7 favorecida pela exposição intensa à tecnologia eliminou muitas restrições, como horário e local de trabalho. Além disso, transformou a forma como as pessoas se relacionam e se comunicam, fazendo os sistemas hierárquicos menos demarcados. Todos esses fatores têm desafiado as formas tradicionais de gestão do trabalho. Dentro dessa evolução, dois conceitos de espaço de trabalho são desenvolvidos. O primeiro fora apresentado pelo já mencionado escritório Herman Miller, que sugere uma evolução natural para o conceito de planta livre mencionado anteriormente, chamado de Living Office (MURAYAMA, 2013). O segundo conceito é o resultado das recentes mudanças tecnológicas e o aumento no trabalho autônomo resultante da crise financeira, que se manifestou em um espaço de trabalho alternativo para o crescente número de freelancers, autônomos e trabalhadores da economia criativa (LUMLEY, 2014). De acordo com o site Coworking Brasil (COWORKING BRASIL, 2019), criado em 2011 com o propósito de ajudar na divulgação do conceito no Brasil,

o coworking segue as

tendências do freelancing e das start-ups, no qual esses profissionais possam desenvolver seus projetos sem o isolamento do home office ou as distrações de espaços públicos, desfrutando de uma rede de profissionais de diversas áreas em uma estrutura compartilhada. Segundo o censo realizado em 2018 pelo site Coworking Brasil, 51% dos coworkings no Brasil se encotram em cidades com mais de um milhão de habitantes, atuando em todos os segmentos do mercado, sendo frequentados em sua maioria por empresas de três pessoas com permanência de três a 12 meses.

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Herman Miller é uma empresa centenária que revolucionou no design criando inúmeros mobiliários para escritório, sendo um deles os famosos “cubículos” na década de 1960.

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Os dois conceitos possuem uma compreensão atualizada das pessoas e de seu trabalho, visando suas variabilidades. Há momentos em que é necessário um ambiente mais silencioso para maior concentração, em outros momentos é indispensável o compartilhamento de ideias, em outros o descanso é requerido para a recuperação. Quem determina em qual área rende maior desemprenho para tal função é a pessoa, pois nesses dois conceitos de espaço de trabalho não existe mais um posto de trabalho fixo. Na imagem abaixo é possível observar as diferentes modalidades de espaço e suas funções, seja a partir de salas de reunião, ambientes compartilhados, salas individuais ou salas de convivência.

Figura 04 - Conceito Living Office demonstrado com pela marca Herman Miller. Fonte: Herman Miller Inc., 2019

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Por fim, o novo espaço de trabalho, atrelado com as novas tecnologias, onipresença do trabalho e o trabalho imaterial, é baseado no planejamento do espaço a partir das pessoas e o que elas fazem. No passado o escritório tinha uma organização baseada na hierarquia, que então evoluiu para uma organização em grupos, e atualmente é composta por uma rede de conexões de pessoas essencial para o desenvolvimento dos trabalhos.

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CAPÍTULO 5

COLIVING Viver em comunidades sempre foi um dos princípios da relação humana e, gradativamente, com o aumento da densidade democrática, deu-se início ao processo de urbanização. Advento a necessidades personalizadas e demandas privadas específicas, surge construções de habitações próprias. Contudo, devido a vários fenômenos da sociedade contemporânea, como a especulação imobiliária cada vez mais alta, a conscientização coletiva em prol de um planeta mais colaborativo, e o desenvolvimento de um novo modelo de economia criativa, surge um novo conceito de morar. O coliving trata-se da manifestação da necessidade contemporânea de buscar novos modelos de moradia, afim de substituir o modelo consumista individualista atual pelo modelo de compartilhamento, uma troca do benefício da posse, pelo benefício adquirido do uso colaborativo dos bens, atendendo mais pessoas com menos custos individuais (NUNES, 2018). Tendo em vistas as tendências da economia compartilhada, o idealizador da WeWork, empresa que fornece espaços de trabalho compartilhado para todo o mundo, incluindo o Brasil, lançou a WeLive em Nova York. Atualmente, a maioria dos que procuram esse novo modo de morar são os que acabaram de se formar, pelo apelo financeiro. Com os altos valores em moradia nas grandes cidades, e por ser ali que estão localizados os empregos, a solução é compartilhar. Mas agora que estão formados procuram um espaço com maior conservação e melhor infraestrutura em comparação as repúblicas de estudantes, e o coliving é uma boa solução para isso (SOUZA, 2019) Além de funcionalidade espacial e estética atraente, os espaços de coliving estão usando técnicas de design, como unidades de moradia micros e design modular,

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para incentivar a interação social, colaboração e conexão de seus usuários, assim redefinindo as noções de público e privado (PUREHOUSE LAB, 2017). Outro nicho de mercado está sendo formando por pessoas na faixa dos 30 anos, com maior poder aquisitivo e necessidade de maior privacidade e espaço. Em sua maioria sem filhos, acabam de se mudar para uma nova cidade. Diferente daqueles que acabaram de se formar, a busca não é por uma solução financeira, e sim uma busca por um senso de comunidade (SOUZA, 2019). O Space 103 realizou uma pesquisa buscando entender o que as pessoas gostariam em um coliving e o que estariam dispostas a compartilhar. Com uma maior busca por esse modo de moradia, a pesquisa tem como objetivo fundamentar melhor as decisões de design ao criar futuros espaços de coliving. O resultado da pesquisa feita em 147 países, incluindo o Brasil, consta que a maioria se atrai pela moradia compartilhada primeiramente por conta da facilidade de socializar com outras pessoas, e secundariamente por conta de fatores financeiros. Também na pesquisa consta que a maioria prefere conviver com pessoas de diferentes origens e idades e também que não precisam da sua própria cozinha privada, preferindo usar uma cozinha comunitária para poder ter seu espaço privado mais flexível. O movimento do coliving está em ascensão, e alguns podem argumentar que este possui grandes perspectivas de se tornar uma tipologia primária para o setor imobiliário como um todo (PUREHOUSE LAB, 2017).

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Space 10 faz parte do laboratório da IKEA, que através de pesquisas tenta entender o que as pessoas gostariam em um coliving e o que estariam dispostas a compartilhar. 22


CAPÍTULO 6

ESTUDOS DE REFERÊNCIAS A análise de obras relacionadas ao tema desse estudo auxiliará na compreensão de questões arquitetônicas e projetuais, tanto em relação à maneira que o programa de necessidades é abordado quanto a relação do perfil dos ocupantes com o espaço físico. As obras apresentadas aqui foram selecionadas devido a sua organização espacial, dos fluxos, apropriação dos espaços, programa de necessidades e relação usuário edifício.

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6.1. Edifício Corujas Este projeto de um edifício de escritórios realizado pelo escritório de arquitetura FGMF, localizado na Vila Madalena em São Paulo, foi escolhido como estudo de referência por sua preferência em aplicar uma arquitetura de caráter intimista, incentivando a interação entre os profissionais que trabalham ali, criando um espaço favorável para aqueles que trabalham na indústria criativa. O projeto busca proporcionar para seus usuários uma proposta de maior liberdade no fluxo, através de teto jardim, decks e espaços avarandados, possibilitando reuniões externas tanto nos jardins públicos quanto nos privados. “Os conjuntos localizados no nível térreo tratam-se de escritórios com pé direito duplo, aproveitando a inclinação natural do terreno. Assim o visitante chega através de um mezanino e pode descer para a área principal de trabalho, onde há varanda e seu jardim privativo no recuo posterior, local onde já existem árvores frutíferas originais do local. A construção no térreo possui um determinado volume que denominamos “embasamento”, e este volume chega a encostar-se aos limites dos vizinhos e é mais largo do que o restante da construção. Para intensificar essa diferenciação, esse nível é todo envelopado em madeira. ” (FGMF, 2014)

24 Figura 05 - Visão geral do Edifício Corujas. Fonte: Archdaily, 2016


Com o gabarito de apenas nove metros, o projeto teve que buscar solução horizontal, desmembrando o complexo em dois edifícios em um terreno de 3470m². Essa espacialidade horizontal cria um grande pátio de circulação interna e áreas de convívio, e enaltece a escala do pedestre. Há na edificação, no intuito de reforçar essas questões, muitas áreas de convívio, bicicletário, vestiários comuns e até um café para que os usuários se conheçam e possam inclusive trabalhar nas áreas comuns, criando um senso de comunidade.

25 Figura 06 - Visão interna de um dos corredores do Edifício Corujas. Fonte: Archdaily, 2016


Figura 07 - Implantação. Fonte: Archdaily, 2014.

Figura 08 - Primeiro pavimento. Fonte: Archdaily, 2014.

Figura 09 - Segundo pavimento. Fonte: Archdaily, 2014.

Figura 10 - Cobertura. Fonte: Archdaily, 2014.

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6.2. Kasa SP O Kasa, empreendimento definido pelo Grupo Gamaro, é um edifício de coliving com 243 imóveis com área que varia de 23 a 44 metros quadrados e área comum de mais de mil metros quadrados. O edifício, localizado no bairro de Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, possui como uma de suas vantagens a desburocratização dos contratos geralmente presentes na hora de alugar um imóvel, não possuindo exigência de fiador e podendo mudar no mesmo dia da negociação, bastando apenas apresentar documentação básica e depositando o valor de um mês do pacote, que inclui condomínio, aluguel e IPTU.

27 Figura 11 - Fachada do edifício Kasa. Fonte: Kasa, 2018


Este projeto foi escolhido para estudo devido ao seu programa de necessidades, que estimula o convívio dos moradores através de áreas comuns, como academia, lanchonete, lavanderia, solário e salas de coworking, que abrigam cerca de 100 pessoas com infraestrutura completa para que seja possível fazer home office e até reuniões. Cecília Rodrigues Maia, diretora da Incorporadora Gamaro, explica que o empreendimento surge como resposta a um novo padrão de comportamento da sociedade, em que as pessoas não querem mais ficar presas a nada. Para Maia, esta é a melhor opção para quem busca ter o conforto de um apartamento, num bairro nobre e a liberdade de poder se mudar quando for necessário, sem a preocupação com longos contratos ou um fiador.

Figura 12 - Sala de jogos e copa, Edifício Kasa. Fonte: Kasa, 2018. Figura 13 - Espaço de coworking, Edifício Kasa. Fonte: Archdaily, 2014.

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6.3. The Collective Old Oak O projeto é de colaboração do grupo de arquitetura londrino PLP Architects com a empresa The Collective, que visa criar espaços e serviços que promovam a conexão humana e permitam que as pessoas levem vidas mais gratificantes, segundo seu site. The Collective Old Oak, localizado em Londres, possui 16,000m² e é um dos maiores espaços de coliving do mundo. O projeto tem como proposta reinventar o viver coletivamente, compilando uma série de programas e atmosferas complementares, onde o usuário possa viver, trabalhar, criar, socializar e entreter, tudo em um único local. O projeto consiste em dois volumes paralelos que se conectam, pousando sobre a transparência de vidro do pavimento térreo, onde nele acomoda o espaço de coworking, academia comunitária, restaurante, lobby e espaço de comércio. Nos dois terraços, mais de 700 m² de jardins estão espalhados, formando espaços para eventos com vista para o canal. O centro desses dois volumes abriga uma série de espaços de comodidades exclusivos, cada um projetado para atender às necessidades e interesses de jovens profissionais: uma sala de jogos, spa, jardim secreto, cinema, biblioteca e lavanderia, muitos dos quais estão diretamente conectados a cozinhas comunitárias adjacentes. Todos os moradores têm acesso a esses espaços compartilhados, como complemento ao espaço privado, que inclui um quarto, banheiro e cozinha compacta (PLP ARCHITECTURE, 2019).

29 Figura 14 - Fachada posterior do complexo, voltada para o canal. Fonte: The Collective, 2018


No complexo existem duas tipologias de moradias, o ensuite, que é um quarto com banheiro que compartilham uma pequena cozinha com um outro quarto de planta espelhada, e suítes com cozinha privada. Cada andar possui uma grande cozinha com sala de jantar, que é compartilhada por trinta à sessenta residentes. O restaurante e espaço de coworking estão localizados nos dois primeiros pavimentos do edifício.

Copa compartilhada

Copa privada Seu vizinho

Figura 16 - Ensuite com copa compartilhada. Fonte: The Collective, 2018

Figura 15 - Studio com copa privada. Fonte: The Collective, 2018

Banheiro privado

Banheiro privado

30 Figura 17 - Fachada lateral do complexo. Fonte: The Collective, 2018


ÁREA DE INTERVENÇÃO

Cidade de São Paulo

Estado de São Paulo

Distrito de Pinheiros

SUMARÉ

PACAEMBU

VILA MADALENA

BUTANTÃ

BAIRRO DE PINHEIROS

o lote

JARDINS

ITAIM BIBI JARDIM EVEREST

31 0

0.5

1

1.5

2.5km

Figura 18 - Imagem satélete do bairro de Pinheiros e redondezas. Fonte: Google Earth, 2019. Adaptada pelo autor.


São Paulo, a maior cidade do Brasil e da América Latina, é marcada pela diversidade em todos os sentidos, onde pessoas dos quatro cantos do Brasil e do mundo convivem diariamente nesse grande território democrático (VHOUSE, 2018). Essa diversidade é vista e sentida diariamente, principalmente no que diz respeito a sua extensão. O centro por exemplo é dividido em três escalas territoriais, sendo elas o centro histórico, formado pelos distritos Sé e Republica; o anel central, formado por esses dois e mais outros 8 distritos - Sé, República, Santa Cecília, Bom Retiro, Pari, Brás, Cambuci, Liberdade, Bela Vista e Consolação e o centro expandido, que se constitui de uma imensa área que abriga áreas terciarias, alcançando desde a marginal do rio Tietê, até Santo Amaro (NAKANO; CAMPOS; ROLNIK, 2002). Pinheiros, bairro onde compreende o objeto deste estudo, faz parte dessa área chamada de centro expandido, ainda denominado de quadrante sudoeste da cidade, que se constitui como área de maior peso econômico, de comércio e serviços das atuais centralidades. Segundo Nakano (s/d), esse quadrante sudoeste é reconhecido como o lugar onde se concentram as principais oportunidades e benefícios da vida urbana de São Paulo, como a maior parte dos empregos e áreas de moradia para os maiores rendimentos, melhores espaços públicos, hospitais, maior parte de equipamentos de consumo e prestação de serviços privados. Essa estruturação se deu a investimentos públicos e privados, voltados para a construção de edifícios, ampliação da malha viária, da oferta de serviços urbanos de uso coletivo, implantação de infra estruturas, de iluminação pública, além da criação de áreas verdes.

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Segundo Celeiro (2015), Pinheiros é um dos bairros mais antigos do município e mostra o quanto um local consegue acompanhar o desenvolvimento e se manter relevante para diferentes perfis de pessoas. O bairro vive atualmente uma efervescência cultural e valorização imobiliária, atraindo o público jovem para o mesmo. O que mais chama a atenção deste trabalho ao bairro, é a sua localização estratégica. Além de ser próxima a marginal do Rio Pinheiros, também já faz fronteira com a marginal Tietê e em seu território se encontra a Avenida Brigadeiro Farinha Lima, que é um dos cartões financeiros e comerciais da cidade e a Avenida Paulista, um dos maiores centros culturais de São Paulo. Um ponto importante a destacar e que causou grande parte da sua valorização é a presença da linha (Linha 4 – amarela) do metrô. Por ser um lugar com todos esses privilégios, Pinheiros cresce em um ritmo acelerado, com imóveis que chegam a valorizar 150% em cinco anos, segundo o CRECI-SP (2012). Essa eterna valorização do bairro e do vetor sudoeste da cidade, inviabiliza a essa nova gama de jovens que precisam morar e trabalhar nesse grande centro econômico. Devido ao fato do metro quadrado ter um alto valor econômico em Pinheiros, chegando em 2012 à R$ 14 mil, o coliving se coloca como solução para o modelo individualista atual, nesses espaços com alta procura e pouca demanda, com um apelo ainda mais inovador – o de se ter um espaço para trabalho, ainda neste mesmo local. O fato de morar e trabalhar nesses espaços tão qualificados, faz com que o adensamento demográfico, tão necessário, seja vivenciado da maneira mais legítima possível. Devido ao caos da mobilidade, da dispersão da cidade a ocupação de áreas frágeis ambientalmente, entre outras tantas questões, o adensamento das áreas centrais é uma das soluções para reverter esse quadro.

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Além da questão da ocupação territorial, somam-se ao networking facilitado os demais aspectos positivos do modelo, como a redução de custos operacionais e o ambiente de trabalho agradável. Considerando que o grande público destes espaços são os jovens de até 35 anos, que estão iniciando ou desenvolvendo suas carreiras profissionais a pouco tempo, aliar redução de custos com ambiente agradável passa a ser a chave para o sucesso destes espaços. O jovem busca cada vez mais sentir-se autor de suas conquistas e méritos, de forma livre e auto gerenciável, fazendo com que a procura pelos espaços compartilhados seja cada vez maior. A partir de todas as colocações aqui apresentadas e da percepção do potencial do bairro de Pinheiros para tal estudo, encontra se um lote, localizado na rua Cristiano Viana, com um grande potencial construtivo. Além de ser próximo à duas estações de metrô, o terreno é repleto de hospitais, equipamentos públicos e atividades artísticas e culturais. Tendo em vista a autossuficiência do bairro a alta demanda para o público em potencial e o grande potencial econômico, faz-se necessário uma melhor utilização desse espaço, por um grande número de pessoas exercendo as mais variadas atividades, para manter o dinamismo e vivacidade do bairro. Compartilhar é uma habilidade que faz parte da natureza humana e perceber que existem vantagens tanto sociais, como individuais nesse modelo, é essencial para a evolução do pensamento: “A cooperação azeita a máquina de concretização das coisas, e a partilha é capaz de compensar aquilo que acaso nos falte individualmente”, escreveu o historiador estadunidense Richard Sennett em seu livro Juntos – os rituais, os prazeres e a política de cooperação.

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7.1. O Terreno

7.2. Legislação De acordo com o Plano Diretor Estratégico (Lei n° 16.050/14) a área de intervenção se situa em uma Zona Eixo de Estruturação e Transformação Urbana. A ZEU tem como diretriz otimizar a ocupação das áreas com boa oferta de transporte público coletivo e fomentar centralidades locais, permitindo o adensamento construtivo, assim aproveitando melhor da infraestrutura existente, não possuindo gabarito de altura.

O terreno de 1.530 m² está localizado na rua Cristiano Viana, no bairro Pinheiros, São Paulo, e atualmente é ocupado por um estacionamento de veículos. A área onde se encontra contém um gabarito médio com edifícios de 12 à 60 metros, possuindo calçadas de 3 metros de largura e rua de 8 metros. Foi escolhido este lote para intervenção por estar sendo subutilizado em uma área com alto potencial de aproveitamento. 761

762

763

764

51m

Figura 19 - Desenho em perspectiva do lote escolhido e suas redondezas. Fonte: CAPMAPPER, 2019. Adaptada pelo autor.

Av Rebouças

760

R João Moura

R Cristiano Viana

R Artur Azevedo

R Capote Valente

35


Figura 20 - Imagem satélite so lote escolhido para intervenção. Fonte: Google Earth, 2019. Adaptada pelo autor Figura 21 - Foto do lote escolhido tirado da rua Cristiano Viana . Fonte: Google Maps, 2018.

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7.3. Análise do Entorno Após a confirmação e justificativa do escolha do bairro de Pinheiros para a área de intervenção, foi delimitado um raio de 1 quilometro em torno do terreno, conseguindo assim atingir as estações de metrô das Clínicas, Oscar Freire e Fradique Coutinho. Dentro deste raio foram analisados diferentes pontos, como o uso e predominância do solo, meios de transportes e equipamentos públicos, itens estes considerados importantes para o objetivo do presente trabalho.

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Figura 21 - Mapa apresentando de forma gráfica os usos prodominates do solo. Fonte: Elaborado pelo autor

Resid. horiz. médio/ alto padrão Residencial e comércio/ serviços

Resid. vertical médio/ alto padrão Comércio/ serviços e ind./ armazéns

0

100

200

300

500m

Comércio e serviços Equipamentos públicos

USO PREDOMINANTE DO SOLO O mapa apresenta as quadras por uso predominante, afim de entender melhor as dinâmicas locais. Os dados mostram uma grande presença residencial verticalizada envolta do lote escolhido, ao norte da Av. Rebouças, e ao sul maior presença residencial horizontal. Também é destacada a grande mancha rosa representando os equipamentos públicos, que consta o Hospital das Clínicas. Em vermelho e laranja são identificados os comércios, serviços e edifícios mistos. 38


CLÍNICAS

OSCAR FREIRE

FRADIQUE COUTINHO

Figura 22 - Mapa apresentando de forma gráfica os modos de transporte na região. Fonte: Elaborado pelo autor

Metro

Ponto de ônibus

0

100

200

300

Ciclofaixas

TRANSPORTES Acima podemos concluir como a região é rica em transporte público, possuindo três estações de metrô, sendo a estação Oscar Freire a mais próxima do lote escolhido, à 500 metros. A região também é provida de ciclofaixas conectadas a grandes avenidas, como a Av. Brigadeiro Faria Lima e Av. Paulista.

39

500m


Figura 23 - Mapa apresentando de forma gráfica os equipamentos na região. Fonte: Elaborado pelo autor

Museu

Espaços culturais

Educação

0

Lazer

EQUIPAMENTOS Este mapa pontua equipamentos de lazer, cultura, educação e saúdo da região. Podemos notar através dos círculos azuis a quantidade de museus na região, tendo como destaque o Museu Histórico Prof. Carlos da Silva Lacaz, localizado dentro do complexo das Clínicas. Representado na cor laranja são os espaços culturais e alguns deles foram destacados, como a Feira Benedito Calixto, famosa em São Paulo por reunir todos os sábados artigos de antiguidade e artesanato e o Instituto Goethe. Destacado na cor rosa temos os bares e casas noturnas.

100

200

300

500m

Saúde

Museu Histórico Prof. Carlos da Silva Lacaz Escritório da Arte Galeria de Babel Feira Benedito Calixto Instituto Goethe Faculdad de Medicina | USP Bar Boca de Ouro Vienna bar Las Magrelas bar e bicicletaria IND Bar 40


CAPÍTULO 8

DIRETRIZES E DISCUSSÕES GERAIS O objetivo desde estudo é questionar novos modelos e tipologias da relação entre moradia e trabalho, na qual as mesmas complementem uma a outra. Diante de todo o estudo, embasamento teórico e análises apresentados nos capítulos anteriores, será desenvolvido um edifício de uso misto no qual sua gama de programas forneça flexibilidade, segurança, conectividade, estímulos interpessoais e senso de comunidade, perante dois programas primários: unidades habitacionais e um espaço de produção colaborativa.

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8.1. Programa de Necessidades Perante as medidas do terreno, taxa de ocupação e coeficiente de aproveitamento, o programa de necessidades foi dividido em quatro setores para melhor entendimento do fluxograma do edifício. M² Terreno

1530

Taxa de ocupação (T.O.)

70

1071

Coeficiênte aproveitamento (C.A.)

4

6120

Privado

Público

Ambientes

Ambientes

un.

Praça (área livre)

830

Studio A | 25m²

32

800

Comércios

700

Studio B | 45m²

30

1350

1530

Studio C | 55m²

16

800

Total

Total

2950

Semi-privado

Semi-público

Ambientes

Ambientes

Restaurante

200

Cinema VIP

50

Karaokê bar

100

Lavanderia

45

300

Academia

100

Sala de jogos

45

Bicicletário Vestiários

40 30

Total Produção Coletiva Estações de trabalho

350

Salas de reunião

60

Incubadoras

50

Sala de estudos

60

FabLab

Terraço com jardim Total

800 1110

200

Descompressão

50

Café bar

50 Total

820 42


SETOR PÚBLICO Visando o impacto que tal edifício terá no local onde será implantado e tendo em vista a escala humana, o projeto reservará mais que metade de sua metragem térrea para uma praça de domínio público, seguindo as diretrizes do arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl, transcritas no livro “A cidade ao nível dos olhos” (KARSSINBERG et al., 2015). Segundo Gehl, a arquitetura do térreo deve estabelecer funções que convidem o público local, garanta um mínimo de quatro metros de pé-direito para proporcionar espaço para atividades públicas, haja boa arborização para diminuição dos ruídos dos carros, dispor de mobiliário urbano, entre outros. Esta área livre servirá como catalizadora da comunidade da região do projeto, atuando como um espaço de transição harmonioso do âmbito público para o âmbito privado. Com o propósito de manter essa área interessante, movimentada e valorizada, será proposto estabelecimentos comerciais variados, como livraria, cafés e loja de informática. A iluminação do edifício, de preferência na parte térrea, também possui um impacto na orientação, segurança e qualidade visual durante a noite, a qual será proposto projeto luminotécnico com intuito de gerar uma expressão artística para o local, cultivando interesse e fornecendo segurança às pessoas que passam por ali.

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SETOR SEMI-PÚBLICO No setor mais restrito do edifício, o visitante ou o morador poderá desfrutar de um restaurante totalmente equipado. O Karaokê Bar será apresentado como atração noturna ao empreendimento, resultando em uma maior movimentação na parte noturna e atendendo ao público jovem almejado para o mesmo. O edifício também contará com um espaço de produção coletiva, também conhecido como espaço de coworking, com estações de trabalho individuais e em grupos, incubadores, salas de reunião, salas de estudos e laboratório de fabricação digital, podendo acolher empreendedores, coletivos de start-ups, freelancers, e trabalhadores liberais, sendo assim um amparo para aqueles vivendo nas unidades habitacionais assim como as unidades habitacionais servem de apoio para aqueles interessados na infraestrutura do espaço de produção colaborativa. Por meio de todo esse aparato físico e tecnológico, e com o design do espaço tendo como partido criar conexões e estimular a troca de criatividade entre os usuários, o projeto será desenvolvido perante a este estudo de embasamento teórico almeja transformar indivíduos mais autônomos e confiantes, do mesmo modo nutrindo um senso de comunidade e pertencimento.

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SETOR PRIVADO Devido ao alto valor do metro quadrado da área a ser implantado o projeto, o adensamento das unidades habitacionais e verticalização do edifício é essencial. A fim de atender melhor estes usuários e suas variadas preferências, foi estudado três tipologias de plantas: Studio 25 m²: A menor planta, portanto de menor investimento financeiro, possuindo pequena copa. Studio 45 m²: Planta intermediaria, contendo cozinha própria e possuindo varanda. Studio 55 m²: Possui uma possibilidade maior de layout, esta seria a planta de maior investimento financeiro, também possuindo varanda. Foi estudado a implantação de 65 unidades habitacionais, sendo 78 unidades de studios de 25 m², 30 unidades de studios de 45 m² e 16 studios de 55 m². Estas unidades serão distribuídas em três pavimentos de 800 m² cada.

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SEMI-PRIVADO A arquitetura do edifício terá como princípio a conexão e troca de experiências pelos ocupantes, seja sua permanência duradoura ou apenas passageira. Para que isso ocorra de forma legitimada, foi estudado diversos programas os quais suas funções e atributos arquitetônicos permitam e estimulem novos encontros e interações, assim como suprem necessidades básicas dos moradores. Começando pelo térreo, será disponível um bicicletário com vestiários para os moradores e usuários dos espaços colaborativos de trabalho. Lavanderia, academia, cinema VIP com 20 lugares, sala de jogos e terraço com jardim para possíveis eventos serão programas que auxiliarão para um maior senso de comunidade e pertencimento aos moradores, que terão acesso integral a esses espaços.

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8.2. Diagrama de fluxo A partir do programa de necessidades foi possível fazer um estudo através de um diagrama de fluxos e disposição. Na imagem mostra, meramente ilustrativa e não possuindo escala ou exatidão de aplicação, em perspectiva isométrica explodida, como os programas se encaixariam no edifício.

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O

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L

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Figura 24 - Estudo de diagrama em perspectiva isométrica. Fonte: Elaborado pelo autor

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CAPÍTULO 9

CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente Trabalho Final de Graduação I tem como objetivo criar um embasamento teórico em torno das questões sociais, econômicas e ambientais as quais direcionam novas modalidades e pensamentos em relação a moradia, trabalho e convivência. Acredita-se que o levantamento destas questões e analises sirva como base para a elaboração de um projeto arquitetônico e paisagístico chamado Projeto Plural, durante o TFG II, que supra as demandas levantadas neste trabalho.

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