Revista do Cruzeiro edição 124

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Campeão da Superliga de Vôlei e do Campeonato Mineiro, Cruzeiro confirma supremacia nas quadras e nos gramados. Os capitães William e Fábio falam sobre as conquistas do Maior de Minas

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E MAIS:

Ídolo Tostão relembra sua trajetória com a camisa da Seleção Brasileira

Especial Libertadores , Bate-bola com Lucas Silva E Conrado Almada nas Páginas Azuis

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/////EDITORIAL Gilvan de Pinho Tavares Presidente do Cruzeiro

O PREÇO DE UMA COPA DO MUNDO O torcedor brasileiro teve que esperar 64 anos para o nosso país voltar a sediar uma Copa do Mundo. Foi um longo período em que alimentamos o desejo de ver os nossos estádios serem palcos dos jogos das melhores seleções do planeta. Mas como tudo na vida tem um preço, esse é um sonho que custou caro aos cofres públicos e também aos principais clubes da Série A. Não há um único time que não tenha deixado de jogar em seu próprio campo, ou de sua cidade, ou tenha tido, mesmo como visitante, de se sacrificar para ir até os locais escolhidos para a realização de partidas do Campeonato Brasileiro. Essa é uma conta cara e que para alguns foi ainda mais salgada. Em Minas Gerais, os clubes estão entre os mais penalizados. Quando analisamos os números do Cruzeiro, nos deparamos com cifras assustadoras. Durante o período em que o Mineirão ficou fechado, de junho de 2010 a fevereiro de 2013, perdemos uma receita superior a 50 milhões de reais somente com bilheteria, e ainda vimos uma diminuição drástica de participantes no programa Sócio do Futebol. Mas esse não foi o único prejuízo para o Cruzeiro Esporte Clube. No ano passado, com a paralisação do Campeonato Brasileiro para a realização da Copa das Confederações, ficamos outra vez por trinta dias sem verbas de bilheteria, um grande dano para os cofres do clube. Em 2014, o período sem competições será superior, um total de quarenta e cinco dias, o que nos levará a um sacrifício ainda maior. A solução para atravessar esse momento de grande turbulência foi trabalhar muito, arregaçar as mangas da camisa e ir em busca de parceiros que fossem fiéis ao Cruzeiro, os nossos torcedores.

Mais uma vez eu gostaria de agradecer a todos os apaixonados cruzeirenses que atenderam ao pedido para ajudar o clube de coração a se fortalecer e proporcionaram a diretoria investir na formação de um grande time. Graças à participação hoje de mais de 60 mil torcedores no programa Sócio do Futebol, o Cruzeiro tem um dos melhores times do país, ergueu recentemente o troféu de Tricampeão Brasileiro e uma situação financeira equilibrada. No balanço do exercício 2013, aprovado em reunião do Conselho Deliberativo no dia 25 de abril, constatamos um crescimento na receita do clube de 70 milhões de reais, sem ter que vender nenhuma das estralas do time. Saltamos de 120 milhões de reais, em 2012, para 190 milhões de reais na temporada passada, um crescimento de 60 por cento. Em campo também continuamos uma trajetória vitoriosa. Depois de um jejum de 2 anos, reconquistamos de forma invicta o Campeonato Mineiro, em uma edição histórica, já que se tratava da centésima competição organizada pela Federação Mineira de Futebol. Mas, para que possamos ter sempre planos ambiciosos, é preciso aumentar cada vez mais o número de sócios com todos contribuindo em dia. Assim, o Cruzeiro Esporte Clube vai continuar sua trajetória de vencedor graças à fidelidade da mais apaixonada torcida do Brasil. Um abraço e até a próxima.


EXPEDIENTE

Presidente

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Gilvan de Pinho Tavares 1º Vice-Presidente

José Maria Queiroz Fialho 2º Vice-Presidente

Márcio Rodrigues Silva

CAPA

CAPA

Vice-Presidente Administrativo

José Francisco Lemos Filho

Presidente do Conselho Deliberativo

Wilmer Santa Luzia Mendes

Vice-Presidente do Conselho Deliberativo

João Carlos Gontijo Endereço

Rua Timbiras, 2903 - Barro Preto CEP: 30.140-062 - Belo Horizonte | MG Tel.: 31 3349.1500 www.cruzeiro.com.br REVISTA DO CRUZEIRO Conselho Editorial

José Francisco Lemos Filho Marcone Barbosa Guilherme Mendes Bruno Mateus Rita de Cássia Pereira Ana Flávia Nazaré

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Editor Chefe

Guilherme Mendes

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Jihan Kazzaz

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Jornalista Responsável Bruno Mateus - JP 11.887/MG

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Redação, Edição, Diagramação e Arte Final ETC Comunicação – (31) 2535-5257 etc@etccomunicacao.com.br

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Estagiário de jornalismo

Gustavo Aleixo

Fotografias e capa

Bruno Senna

Diretor Comercial

Assinaturas revista.cruzeiro.com.br A Revista do Cruzeiro, órgão oficial, retrata de forma transparente a história do Clube, dos craques do passado e do presente, categorias de base, contratações, revelações, enfim, sempre mantendo bem informada a nação azul, a maior torcida de Minas. A Revista do Cruzeiro é um produto oficial. Fica proibida a reprodução total ou parcial das matérias sem a expressa autorização da Diretoria de Marketing. O editor não se responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios veiculados ou conceitos emitidos em artigos assinados.

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Jacqueline Dias, Priscilla Gouvêa e Rose Beatriz

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Departamento Comercial

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Equipe de Arte Bruno Marco, Mitiko Mine e Taynná Pizarro

Robson Pires

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Editor Executivo

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ESPECIAL LIBERTADORES

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POLIVALENTE O cruzeirense Conrado Almada atua em várias frentes. Com o talento de um camisa 10, ele dirige campanhas publicitárias, videoclipes, passeia pelas artes plásticas e ainda quer fazer um filme – tudo isso sem deixar de lado o time do seu coração Por Bruno Mateus / Fotos Bruno Senna Como em muitos casos, a paixão pelo Cruzeiro veio de família, de pai pra filho. Ainda criança, aos 6 anos, Conrado Almada foi pela primeira vez ao Mineirão assistir ao duelo entre Cruzeiro e Botafogo, em 1985. Vestido com a camisa azul estrelada, todo orgulhoso, ele se sentiu parte de uma só voz. “Quando vi todo mundo gritando e cantando a mesma música foi uma emoção muito forte”, relembra. A paixão pelo desenho também vem da infância. Desde então, o cruzeirense comemorou muitos títulos do seu time do coração, formou-se em publicidade na PUC Minas, passou dois anos na agência italiana Fabrica, centro de comunicação e pesquisa em arte do grupo Benetton. Lá desenvolveu projetos publicitários e autorais. Hoje, Conrado é reconhecido nacionalmente como um talentoso diretor de videoclipes – ele já dirigiu mais de 30 clipes, “uns 35” pelas suas contas. Além da parceira com o Skank, que já rendeu cinco clipes e outros projetos especiais, o belo-horizontino trabalhou com nomes como Pato Fu, Jota Quest, Capital Inicial, Erasmo Carlos e Sandy, entre outros artistas. 6

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O reconhecimento veio também em forma de prêmios: com o clipe de Não mais, do Pato Fu, Conrado levou o prêmio de melhor edição no Video Music Brasil, da MTV, em 2003. Seis anos depois, foi a vez de levantar o troféu de melhor clipe do ano, também no VMB, pela música Sutilmente, do Skank. Trabalhos no mercado publicitário com propagandas e campanhas institucionais também recheiam o currículo de Conrado, que é diretor associado da Brokolis do Brasil. “É uma produtora com a qual sempre trabalhei e sou muito amigo dos sócios. É uma parceira linda, temos uma sintonia imensa de trabalho. Sinto-me em casa.” Nesta entrevista, o multiartista fala o que espera do Cruzeiro para 2014, diz que está se reaproximando das artes plásticas, planeja uma exposição para este ano e conta que sempre carrega um caderno na mochila, onde anota ideias e pensamentos que poderão em algum momento influenciar seu processo de criação.


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Você já disse que desde criança gosta de revistas em quadrinhos, de desenhar. Quando você percebeu que tinha talento para essa área? Desenho desde muito pequeno. Nunca fiz um curso, mas sempre tive incentivo dos meus pais. Tem criança que gosta de jogar bola, de nadar, e eu gostava de desenhar. Naturalmente, fui me interessando e descobrindo coisas, e sempre produzindo. Quando tinha 12 anos, ganhei uma câmera do meu pai e vi que era outra forma de fazer imagem e que eu conseguiria combinar desenho com imagem e movimento. Aí passei a me interessar também por animação, cinema, videoclipe, propaganda, design. Basicamente, a minha histó-

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ria é fazer imagem, seja ela parada ou em movimento.

Seu pai é arquiteto e sua mãe é paisagista. Isso de alguma forma te influenciou? Como o desenho era um assunto comum em casa, tudo passava por isso, em algum momento tinha o desenho ali. Naturalmente, tinha muito material de desenho à minha volta. E ver os dois na prancheta sempre me interessava.

Você já dirigiu mais de 30 videoclipes... [Interrompe] Uns 35. Estou acabando de fazer um novo para o Skank, de uma música chamada Ela me deixou.

Você e o Skank são grandes parceiros, né? Sempre fui fã do Skank, sonhava em fazer um clipe para os caras, mas não podia parar o Samuel na rua e falar: “Pô, deixa eu fazer um clipe pra vocês”. [risos] Comecei a dirigir, a produzir [clipes] para bandas independentes e fiz alguns que começaram a entrar na programação. Bandas conhecidas viram meu trabalho, o Pato Fu foi uma das que me deu uma projeção boa no início. Alguns anos depois, conheci o Haroldo [Ferretti, baterista do Skank] numa gravação de um clipe que fiz para o Tianastácia. Pouco tempo depois, o Skank me chamou e foi uma sintonia grande. Desde então, fizemos cinco clipes e outras coisas, projetos especiais. Fi-


camos amigos. E quando a gente fala em Skank, fala também em Cruzeiro, em Samuel [Rosa] e Henrique [Portugal].

Na área de videoclipe, especificamente, como é o seu processo de criação? Recebo a música, procuro saber quais são os meus limitadores, que no caso são prazo e verba, basicamente. Tenho que saber quanto tenho para gastar e em quanto tempo tenho que entregar. A partir disso, entro no processo de ouvir a música e fazer anotações, associações livres, vou anotando o que vier em mente. E ouço muito a música, muito. Depois de um tempo, olho para aquilo tudo que pensei e começo a descartar algumas coisas e pensar outras. Não tem uma fórmula, mas o meu procedimento é esse. E recorro muito aos meus cadernos antigos, tenho muitos.

As bandas dão pitacos?

Você já fez muitos trabalhos que não queria? Sim, já fiz. Quando era mais jovem, eu tinha um pouco mais de crise com isso. Chega um momento da vida em que você separa mais as coisas. Meu trabalho tem muito de autoral, mas ao mesmo tempo é trabalho. E a conta chega igualzinho, debaixo da porta vai estar lá bonitinho seu nome, CPF, data de vencimento. Tem trabalhos que não topei, mas outros, que não eram os artistas ou a música que eu mais curtia, topei fazer e muitas vezes me surpreendi. Em propaganda, é mais comum você realizar trabalhos que não são exatamente o que você queria, mas alguma coisa você sempre aprende.

Ser cruzeirense vem de família? Do meu pai, é coisa de pai pra filho.

Lembro-me do primeiro jogo que fui. Hoje tenho filho [Pedro, de 2 anos], e ele já é cruzeirense, mesmo sem saber. [risos] De vez em quando tem uns tios que chegam e [querem dar camisas do rival] eu falo: “Cara, tô precisando de fralda, me dá essa camisa aí”. Você troca de emprego, de cidade, de país, mas não troca de time. Quando me vi criança ainda, peguei uma fase difícil do Cruzeiro, os anos 1980. Vacas magras. Aí vieram os anos 1990 e foi um ressurgimento. O primeiro jogo que vi foi em 1985, mais ou menos. Foi um Cruzeiro x Botafogo, 1 a 1. A imagem que guardo é a de subir a escada do Mineirão, e quando foi revelando o gramado, aquela coisa gigante, me senti parte de uma só voz, com a camisa do Cruzeiro, no meio de um tanto de gente com camisa do Cruzeiro. Quando vi todo mundo gritando e cantando a mesma música foi uma emoção muito forte. Depois disso, sempre fui muito ao estádio. Ainda vou, mas hoje está um pouco mais Eduh Gomes

Varia de artista para artista, alguns se envolvem muito. Não vou revelar nomes, mas já teve artista bem conhecido que não rolou de fazer, porque a pessoa já chegou com o roteiro pronto. A produção me disse que ela já tinha um roteiro. Eles me mandaram e a figura estava muito certa de que era aquilo ali. Perguntei se não dava para modificar algo, disseram que não, que ela queria daquele jeito. “Infelizmente”, eu disse, “já estou com uns compromissos marcados.” Aí não teve jeito. Mas, normalmente, a forma como trabalho com clipe é eu propor a ideia, mas não como um ditador. Apresento a ideia e muitas

vezes os artistas contribuem, sugerem. Sou muito atento às informações que eles me passam.

Parceria de sucesso: Conrado Almada já dirigiu cinco clipes da banda mineira Skank

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difícil por causa do meu filho pequeno. Ano passado fui a alguns jogos e, sempre que posso, eu vou.

Fora esse momento da sua primeira vez no Mineirão, tem algum momento, algum gol, algum lance, algum momento dramático que você acha que daria um videoclipe, um desenho? O famoso Cruzeiro x São Paulo, na final da Copa do Brasil de 2000. Não consegui ingresso e fui ver na casa de um amigo atleticano. Quando entrei, era eu, ele e mais uns sete atleticanos. “Não vou afinar, vou ver esse jogo aqui”, pensei. Aquele jogo tenso, de repente o São Paulo pimba!, 1 a 0. Os caras latiram em cima de mim e eu só respirando. De repente,

pimba!, 1 a 1, e eu respirei fundo, fiquei quieto. Depois, o Geovanni arrancou em direção ao gol, ele ia fazer o gol, mas um zagueiro do São Paulo puxou e fez falta. E os caras comemoraram. Na hora do gol de falta, eu enlouqueci, comecei a gritar na cara deles. Nesse momento, o mundo ficou em câmera lenta. Logo depois, o São Paulo saiu a bola rápido, e o Raí, eu acho, foi na linha de fundo e cruzou. O Marcelinho Paraíba cabeceou, e isso também foi em câmera lenta, lembro exatamente: o André, goleiro, pegou a bola no braço e o Clebão [Cléber, zagueiro] tirou em cima da linha. Acabou o jogo, consagração. Os atleticanos foram embora, não estavam me aguentando. Aí logo depois chegou reforço, uns amigos cru-

zeirenses que estavam no Mineirão. Esse momento foi sensacional.

Fale um pouco do período em que você ficou na Fabrica, do grupo Benetton. Foi em 2004. Eu tinha acabado de me formar e pintou a chance de ir para a Fabrica, que é um centro de comunicação e pesquisa em arte. É como se fosse uma grande agência de publicidade e um polo de criação e desenvolvimento de projetos autorais. Eles recebem portfólios do mundo todo e os caras me chamaram, fiquei dois anos lá. Senti muita falta de ver o Cruzeiro ao vivo. Eu não tinha o Cruzeiro para torcer lá, mas tive uma simpatia grande pelo Inter de Milão e pelo Napoli. Foi um período de muita aprendizagem, vivência, choques culturais variados. Na Itália, de uma forma geral, eles têm muita simpatia pelo Cruzeiro, pela história do clube, Palestra Itália. Quando eu falava que torcia para o Cruzeiro, imediatamente os mais jovens associavam ao Ronaldo e os mais velhos se lembravam de Tostão, Dirceu Lopes. Eu andava direto com a camisa do Cruzeiro e de vez em quando esbarrava com uns cruzeirenses por lá.

Profissionalmente, o que você ainda não fez e que gostaria de fazer?

O artista também tem trabalhos com desenhos, como o do ídolo cruzeirense Sorín (na próxima página) e prepara uma exposição ainda para este ano

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Várias coisas. Tirar um tempo para fazer um filme é uma coisa que eu gostaria, mas pelo meu momento tive que colocar o foco em outras coisas. Tem uma coisa que estou desenvolvendo mais agora que é aquele resgate, um encontro maior com a produção de quadros. Há dois anos, fiz uma exposição meio que por aca-


so, foi superlegal. Este ano, provavelmente vou fazer outra exposição. E tem algumas outras coisas, mas, basicamente, tenho uma vontade de investir mais em artes plásticas e no audiovisual, fora o que já faço, e que eu adoro, que são os clipes e as propagandas.

Voltando a falar de música, o que você escuta? Adoro rock, blues, música brasileira. É mais fácil eu falar o que não ouço: nada contra, mas não é do meu gosto funk, sertanejo e afins. Tem umas coisas tão bizarras, tão fora do meu universo, que começo a achar interessante, como a questão do funk ostentação, mas até como um lado antropólogo de ver esse fenômeno. Comecei a querer entender isso. Quando a música é muito bagaceira, me causa certo fascínio, tipo Beijinho no ombro.

Além do Cruzeiro, você também é torcedor do Los Angeles Lakers. Sou péssimo no futebol, sempre fui perna de pau. Para o basquete, talvez por desenhar, tenho uma coordenação motora boa, e me dei bem quando era mais novo, mas sou baixo para o padrão do basquete. Um amigo do meu pai sabia que eu gostava e trouxe uma camisa do Lakers para mim. Desde então, sei lá, 1990, acompanho basquete diariamente e meu time é o Lakers. E há uns três anos, redescobri um esporte, que hoje é o que eu pratico: o tênis de mesa. Disputo alguns torneios no Minas Tênis.

Dois mil e treze foi um ano fantástico para o Cruzeiro, com a conquista do tricampeonato brasi-

leiro de maneira incontestável. O que você espera do time para este ano? A minha expectativa é (ou era, vamos esperar os resultados) a Libertadores. Eu adoraria ganhar uma Copa do Brasil de novo. E um Brasileirão de novo, como não? E o Mineiro! Na verdade, a gente quer ganhar tudo. [risos] O Cruzeiro, especialmente para o Campeonato Brasileiro, tem time, elenco e fôlego. Copa é aquilo, você toma um gol no final que atrapalha tudo. Acho que o Cruzeiro vai muito bem no Brasileirão.

Estando imerso no universo digital, como você lida com tecnologias, redes sociais? Facebook, Instagram, Twitter... Você é daqueles que não param? A rede social tem essa ilusão que aproxima as pessoas, mas afasta bastante também. É comum você ver uma mesa com seis pessoas e as seis estão mexendo no celular, e isso vai me dando uma aflição. [risos] Ao

mesmo tempo que tenho essa crítica, me vejo nisso também. Hoje, as redes sociais, especialmente para a área de comunicação, de audiovisual, são um grande canal de divulgação. Curto muito o formato do Instagram, o meu é 100% desenho. E rolou muita coisa a partir disso, tenho 37 mil seguidores do mundo todo. Tenho um esquema de comercialização dos desenhos via web. A pessoa paga, eu recebo o dinheiro e as elas ficam muito satisfeitas. É uma forma muito interessante de divulgar meu trabalho com desenho.

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Babi Bowie

De família cruzeirense fanática, “pai, mãe, tios, todo mundo”, Babi Bowie fala com orgulho do clube do coração e se lembra de quando entrava como mascote com o time no Mineirão. “Uma vez entrei com o Alex Alves, eu adorava ele. Já fui muito ao Mineirão, mas ultimamente acompanho mais pela TV”, diz a Colírio, que é formada em design de produto pela Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) e mestre em design pela mesma instituição. De quebra, ela também ataca de DJ e toca em casas noturnas de BH. Há dois anos, quando buscava por uma atividade física, Babi não pensou duas vezes. “Eu queria fazer um esporte e nunca gostei muito de academia. Queria alguma coisa diferente e que me desse prazer. Pensei que o pole dance se encaixava nisso, porque gosto muito de dança também.” Com apenas cinco meses, ela já dava aulas e hoje é professora da modalidade e também de design e fotografia.

Quanto ao “sobrenome” Bowie, ela brinca que não é parente do músico inglês David Bowie, o

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bom e velho Camaleão do Rock. A admiração e uma certa semelhança com o artista lhe rendeu o apelido: “Uma amiga me deu esse apelido porque tenho um olho de cada cor, igual ao David Bowie, que também foi por uma pancada na cabeça. Ele levou um soco e eu caí da rede [risos].” Babi adora viajar, mas é apaixonada por Belo Horizonte e não pensa em morar fora daqui. Com uma rotina bastante agitada, ela ainda tem tempo de se dedicar a um projeto fotográfico pessoal chamado “Espelho de Vênus”, do qual se orgulha muito: “É um apoio à beleza natural, todas as fotos que eu tiro mostram a beleza feminina sem retoque. Incentivo as mulheres a se sentirem bonitas como elas são”, diz a camaleoa azul. Essa, temos certeza, jamais mudará de cor. Fotos: Bruno Senna Maquiagem: Claudinha Goulart Colírio veste: Olympikus, SPR Licenciados e acervo pessoal Produção: Ana Flávia Nazaré


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/////ACONTECE NO CRUZEIRO

Noite de autógrafos Em março, o goleiro Fábio fez a alegria da torcida cruzeirense que compareceu ao Shopping Estação, em Belo Horizonte, para uma sessão de autógrafos do livro Tricampeão Brasileiro, escrito pelo músico Henrique Portugal, tecladista do Skank, e pelo jornalista Bruno Mateus. “Aonde vou recebo esse carinho, por isso tenho essa identificação tão grande com o Cruzeiro e com o torcedor”, disse o goleiro.

Fotos: Cruzeiro/Divulgação

Raposão 11 anos Para festejar o aniversário do mascote mais querido do Brasil, comemorado em março, o Cruzeiro lançou o concurso “Raposão 11 anos” nas redes sociais do Clube. Crianças de 5 a 11 anos mandaram seus desenhos, que foram analisados pelo departamento de marketing cruzeirense. Ágata Boff Rotelli, de 8, foi a vencedora. Aluna do Instituto Educacional Recanto dos Anjos, no bairro Jardim Atlântico, em BH, ela ganhou o Raposão de pelúcia e pôde comemorar os 11 anos do mascote celeste junto com seus colegas de sala.

Construindo o futuro Entre os dias 6 e 31 de março, o departamento de marketing do Cruzeiro promoveu a campanha “Doe um livro – Compartilhe histórias”. Com o objetivo de ampliar o acesso de crianças à leitura, mais de 500 livros de literatura infantil foram arrecadados em todas as Sedes do Clube (Administrativa, Toca da Raposa I e II, Pampulha e Parque Esportivo Barro Preto) e doados à Escola Municipal Francisca de Paula, localizada no bairro Cinquentenário, Região Oeste de Belo Horizonte. O evento contou com apoio da Bioleve e Aritana.

planalto.gov.br

Não ao preconceito

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A Presidente da República, Dilma Rousseff, recebeu, em março, no Palácio do Planalto, em Brasília, o meia Tinga, vítima de um ato de racismo na partida entre Cruzeiro e Real Garcilaso, que marcou a estreia do Clube na Copa Libertadores. Também participaram da audiência, os ministros Aldo Rebelo (Esporte), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Luiza Bairros (Igualdade Racial).


Torcida Doadora A maior torcida de Minas mostrou que também faz bonito fora do Mineirão. Na campanha “Torcida Doadora”, da Fundação Hemominas, que tem o objetivo de incentivar a doação de sangue em Minas Gerais, a China Azul liderou de ponta a ponta o ranking e terminou a campanha na liderança absoluta. Segundo dados divulgados pela Hemominas, os cruzeirenses representaram 56,2% dos quase 32 mil colaboradores. Vale lembrar que, em 2013, a torcida do Cruzeiro também deu show de solidariedade e terminou na primeira posição.

Maior de Minas O Cruzeiro inaugurou, no fim de março, em parceria com a SPR Franquias, a unidade Divinópolis da Maior de Minas. Esta é a 10ª loja oficial em todo o estado e a previsão é que mais uma seja aberta ainda no mês de maio. Além de Divinópolis, a Raposa possui lojas oficiais nos seguintes locais: Barro Preto, Minas Shopping, Itaú Power Shopping, Shopping Del Rey, Mineirão, Sede Pampulha, Shopping Estação BH, Shopping Sete Lagoas e Metropolitan Shopping Betim.

Páscoa no Cruzeiro Como já é tradição na Páscoa, este ano uma das instituições que recebeu a visita dos mascotes Raposão e Raposinho foi o abrigo Cirandinha, que cuida de aproximadamente 15 crianças e adolescentes carentes e também ajuda outras 40 na comunidade do Floramar, região norte de Belo Horizonte. Todos ganharam ovos de páscoa do Cruzeiro e puderam tirar fotos com os mascotes do Maior de Minas, que realizou a ação em parceria com a Arcor Empresa Licenciada.

Balanço fiscal No fim de abril, o Conselho Deliberativo do Cruzeiro se reuniu para análise e aprovação do balancete referente ao ano de 2013. Os números apresentados mostram que o Clube vive um momento de ótimas condições financeiras e econômicas. “A aprovação das contas de 2013 aconteceu de maneira unânime, sem nenhuma contestação. O resultado final foi bastante positivo, sendo alvo de aplausos por parte dos membros do conselho deliberativo”, destacou o presidente do Conselho, Dr. Wilmer Santa Luzia Mendes.

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/////CRUZEIRO RADICAL

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Quebrando tudo Centro de Belo Horizonte é o cenário para as manobras de Leonardo Fernandes Fotos Bruno Senna

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eonardo Fernandes Tizoni Alves, o Léo, ganhou o primeiro patins ainda criança, aos 7 anos, mas a paixão pelo esporte não nasceu naquele contato inicial. Uma década depois, quando morava em Sete Lagoas, na região metropolitana de Belo Horizonte, Leonardo resolveu levar o esporte a sério – comprou um patins profissional e se dedicou à categoria aggressive inline, modalidade que ganhou força no Brasil no início dos anos 1990 e que valoriza a execução de manobras com maior nível de dificuldade, podendo ser praticada tanto em pistas quanto nas ruas. Tanta motivação deu resultado.

Hoje, aos 23, o cruzeirense, que voltou a morar em BH, tornou-se um competidor profissional e cumpre com disciplina uma rotina de exercícios visando competições: de quinta a domingo, Léo treina por volta de duas horas e meia na pista do Barreiro, ao lado da PUC. Ele se prepara para disputar o Campeonato Brasileiro, que acontecerá no mês de setembro em Peruíbe, no litoral de São Paulo. Aos que querem seguir o mesmo caminho ou apenas dar uns rolés sem compromisso, o atleta recomenda: “Tem que ter seriedade e persistência. Não pode desistir no primeiro tombo”.

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///// /////MEU JOGO INESQUECÍVEL

Chuva e título no Barro Preto Por Acir Antão* Ilustrações Taynná Pizarro

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epois de mais um Campeonato Mineiro conquistado pelo nosso Cruzeiro agora em 2014, me lembrei do primeiro estadual vencido pela esquadra azul que assisti, numa tarde chuvosa no Estádio Juscelino Kubitschek, no Barro Preto. Naquela época, os sócios do Clube não pagavam ingresso em jogos em seu campo e tinham o direito de levar um convidado. José Moreira, oficial de gabinete da Prefeitura de Belo Horizonte, não perdia um jogo do Cruzeiro e eu, com meus 11 anos, era sempre o seu convidado. O Cruzeiro disputava a última partida do Campeonato de 1959 num jogo histórico no Barro Preto. Entramos em campo com Genivaldo, Massinha e Procópio; Nilsinho, Amauri de Castro e Clever; Raimundinho, Emerson, Dirceu Pantera, Nelsinho e Hilton Oliveira, este último com 17 anos. Ganhamos do Democrata de Sete Lagoas, que tinha no time o goleiro Caixinha e figuras como Pedrinho, Gegê, Rui, Pedro Luiz e Barrica.

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A tarde começou ensolarada e terminou com muita chuva, o que não diminuiu a vibração dos torcedores que comemoraram gritando “Cruzeiro Duro”, frase que constava do Hino tocado no serviço de alto falante do Clube naquela tarde: “Cruzeiro Duro, Palestra com Carinho”. O Presidente do Clube era Antonino Pontes, o diretor de futebol era Felício Brandi e o técnico campeão Niginho, ex-atleta e de uma família que tem muito a ver com o Cruzeiro, os Fantoni. Depois daquele campeonato de 1959, embalamos, conquistamos os dois anos seguintes e nos preparamos para a inauguração do Mineirão, em 1965, que teve Airton Moreira

no comando da Raposa e uma diretoria liderada por Felício Brandi e Carmine Furletti, o que levou o Cruzeiro a ter o maior time de todos os tempos. *Há mais de 40 anos fazendo parte da equipe da Rádio Itatiaia, o radialista Acir Antão também tem em seu currículo passagens pela Rádio Minas, Rádio Jornal e TV Bandeirantes. Atualmente, apresenta dois talk shows: o Programa Acir Antão, de segunda a sábado, e Acir Antão aos domingos. Apaixonado por música, Acir Antão é cantor nas horas vagas.

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/////ESPECIAL LIBERTADORES

Capitão américa Responsável por levantar o troféu do bi da Copa Libertadores, o exzagueiro Wilson Gottardo ainda se emociona ao falar da conquista e da torcida do Cruzeiro Por Bruno Mateus

Na noite de 13 de agosto de 1997, o Cruzeiro bateu o Sporting Cristal por 1 a 0 e faturou o bicampeonato da Copa Libertadores. Coube ao capitão Wilson Gottardo a honra de levantar o troféu da competição mais importante do continente. O que quase ninguém sabe é que antes de entrar para história e ser clicado pelos fotógrafos com a taça na mão, ele se lembrou de uma particularidade que o chamava a atenção. “Sempre via alguns capitães levantando o troféu de forma inclinada ou na horizontal. Então pensei: ‘Vou levantar na posição vertical, com ele em pé. Acho que esse é o maior respeito que posso ter pela competição, pela conquista, pelo Cruzeiro e pela torcida’. Foi o que passou pela minha cabeça e foi o que aconteceu. E é um troféu pesado, tive que tomar cuidado para não cair.” 26 Revista do Cruzeiro · nº 124


Os mais de 95 mil pagantes no Mineirão foram a plateia de um momento eterno. Mas, para que essa cena acontecesse, muita água passou por debaixo da ponte de um time que superou todas as desconfianças para chegar ao topo da América.

Superação na primeira fase

Arquivo/Cruzeiro

A verdade é que no início de competição o Cruzeiro não foi bem. Grêmio e os peruanos Sporting Cristal e Alianza faziam companhia ao time da Toca no grupo 4. Logo na estreia, os gremistas venceram a partida no Mineirão. Na sequência, duas derrotas fora de casa contra as equipes peruanas. A situação era delicadíssima. Precisávamos vencer os três compromissos restantes.

Wilson Gottardo também levantou a taça do Campeonato Mineiro de 1997

Numa partida heroica, a esquadra azul derrotou o tricolor gaúcho em Porto Alegre com um gol solitário e fundamental de Palhinha. Com as duas vitórias no Mineirão sobre Sporting Cristal e Alianza, o Cruzeiro assegurou a vaga para as oitavas de final. Wilson Gottardo foi contratado quando o prazo para as inscrições da primeira fase já havia se encerrado e só atuou a partir do mata-mata, mas acompanhou de perto a reação da Raposa na fase de grupos. “O treinador [Paulo Autuori] tinha o controle absoluto do grupo e cheguei para fortalecer ainda mais o time, que já era dado como eliminado. Presenciei a dificuldade e vi a superação. Aquilo criou força e confiança”, diz o ex-zagueiro celeste.

Mata-mata O adversário nas oitavas foi o El Nacional, do Equador. A derrota por 1 a 0 em Quito e a vitória por 2 a 1 no Mineirão levaram a decisão para os pênaltis. Naquela época, ainda não havia o desempate com gol marcado fora de casa. Detalhe: o Cruzeiro tinha Dida debaixo das traves. Ele pegou o chute do atacante Chalá, e Gottardo, na última cobrança, estufou a rede. Com a classificação assegurada, o adversário das quartas foi o Grêmio. “No Mineirão, fizemos um jogo muito consistente e dinâmico”, relembra o capitão, sobre a vitória por 2 a 0 no primeiro duelo. Em Porto Alegre, a dificuldades apareceram antes mesmo de o árbitro apitar o início da partida, como aponta Gottardo: “A rivalidade já começou com a torcida na porta do hotel. Eles soltaram foguetes, fizeram barulho a noite inteira. A intenção do Grêmio era eliminar o Cruzeiro, então [o clima de rivalidade] era natural”. Dentro de campo, a Raposa abriu o placar com o volante Fabinho no início do segundo tempo. Depois disso, muita pressão gremista e virada, mas o placar de 2 a 1 não foi suficiente para frear o esquadrão cinco estrelas. “Foi um jogo tenso, mas soubemos administrar”, conta Gottardo. Deixando o forte adversário para trás, era hora de encarar o ColoColo. Novamente, a decisão foi para os pênaltis. E, mais uma vez, Dida foi protagonista, defendeu duas cobranças e garantiu a Raposa na tão sonhada final. “No jogo contra o ColoABRIL / MAIO 2014 27


Arquivo/Cruzeiro

Colo, no Chile, um torcedor mandou um guarda-chuva no Elivélton, que jogou de volta e foi expulso. Foi um fato inusitado”, relembra Gottardo. Libertadores tem dessas coisas.

Uma noite inesquecível Depois do empate no primeiro jogo da final, em Lima, no Peru, contra o já conhecido Sporting Cristal, a maior torcida de Minas lotou o Mineirão na noite de 13 de agosto de 1997. Antes da partida decisiva, os jogadores receberam a visita das famílias na Toca da Raposa I. “Um momento fantástico de motivação da comissão técnica. Foi impressionante e contagiante”, diz o ex-camisa 4 da Raposa. No Mineirão, mais de 95 mil pagantes fizeram o estádio balançar. Jogo truncado, tenso, como conta 28 Revista do Cruzeiro · nº 124

Gottardo: “Não dá para jogar 90 minutos em cima do adversário. Uma hora ou outra a coisa podia escapar, tínhamos que ter muito cuidado na parte defensiva”. Aos 30 minutos do segundo tempo, Elivélton pegou o rebote de um escanteio. Do jeito que a redonda veio, ele emendou de direita, que não era a boa. A bola foi até fraca, é verdade, mas muitos jogadores estavam na frente do goleiro, que não conseguiu impedir que a pelota entrasse no canto direito. O que se viu depois do gol foi uma torcida explodindo em festa e um time prestes a entrar para a história do futebol sul-americano. “O Cruzeiro fez uma final que merecia mais gols. Um a zero foi pouco, poderia ter sido 3 a 1”, afirma o ex-capitão celeste. Em um momento eterno, Wilson Gottardo levantou a

taça e mostrou para quem quisesse ver que a América tinha um novo dono. O zagueiro ainda se emociona ao falar do time bicampeão da Libertadores. Ele diz, sem pensar duas vezes: “Aquele time encarava todo mundo. Não importava o tamanho [do adversário], o local do jogo”. Dezessete anos depois da grandiosa conquista, o ex-zagueiro sente saudades da China Azul no Mineirão, mas também sabe que a gratidão e o carinho dos torcedores são eternos. “Quando vou a Belo Horizonte ou pelas redes sociais, sempre agradecem, mandam mensagens, me chamam de Capitão América. Pelos clubes onde joguei, a relação mais forte hoje é com a torcida do Cruzeiro. Eles me tratam como se tivesse sido ontem”, diz o eterno ídolo celeste.


#WINFROMWITHIN


/////PERFIL

MAIS UM GUERREIRO Com a mesma raça dos tempos de escolinha em Curitiba, Willian Farias quer fazer história com a camisa azul estrelada. O primeiro treinador e a mãe do jogador relembram a trajetória do volante cruzeirense Por Bruno Mateus | Fotos Bruno Senna

Em uma tarde de quarta-feira, Willian Farias está sentado num banco ao lado de um dos campos da Toca da Raposa II. Pouco antes do treino começar, o olhar do jogador se perde no verde da grama e um filme passa pela sua cabeça. Ele se lembra da infância em Curitiba e do que passou para, hoje, vestir a camisa de um clube da grandeza do Cruzeiro. Após alguns segundos de silêncio, o volante cruzeirense fala dessa nova etapa em sua vida: “Encaro como um privilégio, isso é para poucas pessoas. Tenho muita fé, acredito muito em Deus e agradeço todos os dias pela oportunidade de estar aqui, num clube como o Cruzeiro, com a torcida e os jogadores que tem. Vou correr por essa camisa com muita vontade, que é uma característica muito forte no meu futebol”. 30 Revista do Cruzeiro · nº 124

Gana de alcançar seu objetivo realmente nunca faltou ao menino que aos 12 anos de idade passou a encarar a possibilidade de um dia se tornar jogador profissional. Tudo começou a ficar mais sério na vida de Willian Farias quando ela treinava em uma escolinha de futebol de areia em Curitiba. O técnico gostou do que viu e perguntou se ele já tinha jogado em um campo gramado. “Eu disse que não. Ele acabou me levando para fazer um teste no Coritiba”, lembra o volante celeste. Primeiro treinador de Willian Farias e responsável por levá-lo ao clube paranaense, Aramis Bueno diz que a qualidade técnica do garoto chamou muito sua atenção. Mas o fator fundamental foi a postura dele dentro de campo.


ABRIL / MAIO 2014 31


sei: ‘Opa, alguma coisa tem aí’”. “Minha mãe não acreditava muito que o futebol poderia ser o meu trabalho, como é hoje. Mas depois ela me deu respaldo em tudo que precisei”, diz o volante da Raposa.

Washington Alves/Light Press

Pela primeira vez em sua carreira, Willian Farias muda de cidade e de clube. A novidade não o assusta e ele está preparado para o que der e vier “O Willian tinha muita pegada, corria o campo inteiro, não parava um minuto. Tinha muita qualidade de toque de bola e comandava o time, falava muito durante os jogos.” Aramis não esconde o orgulho de acompanhar mesmo que de longe sua “cria” em um clube gigante como o Cruzeiro. Só isso já seria motivo de alegria, mas para quem sabe como foi a luta e o esforço do jogador, a satisfação em vê-lo vencer no esporte parece ser sentida em dobro. Além do próprio Willian, Aramis se lembra de uma personagem fundamental nessa história que deu certo: a mãe do jogador, Ana Lúcia Petar. “Ele tinha muita vontade, desde pequeno. E era só ele e a mãe. Podia ter jogos em locais distantes, a 40 minutos de ônibus de onde treinávamos, mas eles nunca 32 Revista do Cruzeiro · nº 124

faltavam. Era uma família guerreira. O que ele está vivendo hoje é o melhor que poderia acontecer para o futebol dele”, afirma o treinador.

Orgulho da mãe coruja Hoje, Ana Lúcia é só orgulho ao falar do filho, mas houve um tempo em que ela ficou bastante preocupada com as dúvidas que acompanharam a carreira de jogador, que acabou abdicando de algumas coisas importantes, como os estudos, para se dedicar exclusivamente ao futebol. “No início me preocupou muito, sempre disse para ele que algumas coisas [no futebol] são muito incertas. Mas sempre disse também que tudo que ele quisesse conquistar, teria que se dedicar 110%. Quando vi que alguns times da região começaram a procurar por mim, pen-

As incógnitas do mundo do futebol pareciam coisa pequena para Ana Lúcia se comparadas às dores de cabeça que o filho lhe dava. Willian Farias adorava jogar bola na rua, soltar pipa, pular muro e brincar de esconde-esconde. Hoje, ele ri e fala que sempre dava um jeito, apesar de saber que sua mãe não gostava muito dessas escapadas. E foram tantas que se machucar virou uma rotina. Um dia era o dedo esfolado; no outro, torcia a mão e na semana seguinte quebrava o braço. Resultado: de tempos em tempos, Ana Lúcia tinha que levar o filho ao hospital. Em uma dessas ocasiões, aconteceu uma história inusitada. Ela conta: “O Willian havia caído de bicicleta. A médica o examinou e viu o histórico dele na clínica. Ela então pediu para que eu saísse da sala. Depois da consulta, ele falou: ‘Mãe, sabe o que ela me perguntou? Se você me batia!’. Ele machucou o rosto e uma parte do olho ficou muito inchada, roxa. Ficou muito feio. Acho que foi por isso que a médica perguntou”. [risos] Ana Lúcia se emociona ao lembrar a trajetória do atleta. Os obstáculos foram superados, um a um. Os pais do jogador cruzeirense se separaram quando ele tinha nove meses e isso acabou criando uma forte relação de companheirismo e cumplicidade entre mãe e filho. “Às vezes, eu me enrolava, porque tinha que ser mãe e pai, bater e beijar. Muitas vezes eu balançava. Hoje, me emociono ao falar dele. Ver que o Willian conquistou o objetivo que queria é muito bonito. É uma realização imensa vê-lo num time como o Cruzeiro, de renome, de alto nível. Eu nem caibo dentro de mim de tanto orgulho”, brinca a mãe coruja.


Construindo o presente de olho no futuro Depois de 14 anos no Coritiba, pela primeira vez em sua carreira ele muda de cidade e de clube. A novidade não o assusta e Willian está preparado para o que der e vier. Diz que foi muito bem recebido por todos na Toca da Raposa, gostou de Belo Horizonte e considera o grupo de jogadores do Cruzeiro excelente. “O pessoal aqui brinca que sou parecido com o Dagoberto. Até o torcedor já me confundiu”, diverte-se. O volante chegou ao Clube em fevereiro deste ano e ainda está se acostumando com o assédio da torcida cruzeirense. “Em BH, o pessoal acompanha mais futebol. Fiquei 14 anos no Coritiba, tenho uma história lá, mais de 150 partidas. Eu andava no centro da cidade e ninguém me reconhecia. Aqui, aonde vou, é Willian Farias pra cá, Willian Farias pra lá.” Não bastassem todas essas boas novas, Willian Farias e a esposa esperam o nascimento do primeiro filho para o fim de maio. Enzo Gabriel nascerá em BH. No Cruzeiro, o volante reencontrou o técnico Marcelo Oliveira, que foi seu comandante nos tempos de Coritiba, e o meia Éverton Ribeiro, também ex-jogador do clube paranaense. “[O Marcelo Oliveira] Me ligou quando a contratação foi confirmada. Fico feliz, porque ele me indicou aqui. Olho para trás e vejo que fiz um bom trabalho.” Wilian Farias vive novos dias e só pensa no futuro. A vontade e a raça que chamaram a atenção de seu primeiro treinador em Curitiba ainda são características marcantes. O jogador sabe que a oportunidade de vestir a camisa do maior clube de Minas Gerais é uma chance de ouro em sua carreira e não pretende desperdiçá-la. Com a mesma certeza que tinha quando chutava bola na escolinha, ele diz: “Quero escrever uma história bonita aqui no Cruzeiro”. ABRIL / MAIO 2014 33


/////BRASILEIRÃO 2014

RUMO AO TETRA

Atual campeão, Cruzeiro entra na disputa do Brasileirão como um dos favoritos

D

ois mil e treze não poderia ter sido melhor para o Cruzeiro. A Raposa conquistou de forma irrepreensível o Brasileirão e cravou seu tricampeonato na história da competição. Este ano, a equipe cinco estrelas estreou com o pé direito e venceu o Bahia, em Salvador, por 2 a 1. Na segunda rodada, o time de Marcelo Oliveira empatou em 1 a 1 com o São Paulo, em Uberlândia. O caminho será longo e as 38 partidas serão encaradas como verdadeiras finais. Em dezembro, a maior torcida de Minas espera soltar o grito de campeão mais uma vez. Para que isso aconteça, o meia Ricardo Goulart recomenda: “Temos que melhorar [em relação ao ano passado]. Dois mil e treze já passou, fomos muito bem, mas se fizermos um algo a mais este ano também, poderemos conquistar o título”. A força do grupo, que foi uma das principais armas na campanha do tricampeonato, será, mais uma vez, uma forte aliada na busca pelo tetra. “É um campeonato longo, todos vão ser importantes para o time”, afirma o volante Henrique. Para Marcelo Oliveira, muito trabalho, sacrifício e união são aspectos que podem definir o sucesso do Cruzeiro no Brasileirão 2014. Mas não para por aí. “É importante ter um elenco numeroso e bom, diretoria atenta e atuante, participação do torcedor e estipular metas, objetivos. Vamos tentar fazer valer todos esses ingredientes que nos ajudaram tanto no ano passado”, diz o comandante celeste. 34 Revista do Cruzeiro · nº 124


A metade do caminho

Confira os jogos do Cruzeiro no primeiro turno do Brasileirão

20/04

16:00

Bahia 1 x 2 Cruzeiro

Fonte Nova, em Salvador-BA

27/04

16:00

Cruzeiro 1 x 1 São Paulo

03/05

18:30

Atlético-PR 2 x 3 Cruzeiro

11/05

16:00

Atlético MG x Cruzeiro

17/05

18:30

Cruzeiro x Coritiba

Mineirão, em Belo Horizonte

21/05

21:00

Cruzeiro x Sport

Mineirão, em Belo Horizonte

25/05

18:30

Internacional x Cruzeiro

A definir

28/05

21:50

Corinthians x Cruzeiro

A definir

01/06

16:00

Cruzeiro x Flamengo

Parque do Sabiá, em Uberlândia-MG Mané Garrincha, em Brasília Independência, em Belo Horizonte

Parque do Sabiá, em Uberlândia

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) confirmou data e horário dos jogos somente até a nona rodada, quando o campeonato ficará paralisado por conta da realização da Copa do Mundo. 16/07

-

Cruzeiro x Vitória

-

20/07

-

Palmeiras x Cruzeiro

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27/07

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Cruzeiro x Figueirense

-

03/08

-

Botafogo x Cruzeiro

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10/08

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Criciúma x Cruzeiro

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17/08

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Cruzeiro x Santos

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20/08

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Cruzeiro x Grêmio

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24/08

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Goiás x Cruzeiro

-

31/08

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Cruzeiro x Chapecoense

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07/09

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Fluminense x Cruzeiro

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ABRIL / MAIO 2014 35


/////CRUZEIRO NAS COPAS

Arquivo/Cruzeiro

Mineirinho

de ouro Tostão fala sobre as Copas de 1966 e 1970 e relembra sua trajetória na Seleção Brasileira Por Bruno Mateus Quando se destacava nas peladas no conjunto IAPI, em Belo Horizonte, aquele garoto franzino mal sabia que, algum tempo depois, estaria ao lado de Pelé e Garrincha disputando uma Copa do Mundo. O ano era 1966 e Tostão experimentava pela primeira vez a sensação de participar da competição que reúne as melhores seleções do planeta. Poucos podiam imaginar que aquele garoto

36 Revista do Cruzeiro · nº 124

de 19 anos se tornaria um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro. A estreia com a camisa da Seleção aconteceu pouco antes do torneio, no amistoso contra o Chile, no Morumbi, em maio. Vestindo a 8 amarelinha, Tostão começou a mostrar a genialidade do jogador que faria história no escrete canarinho. Dois meses

depois, viajaria com a delegação brasileira para o Mundial da Inglaterra. Buscando o Tri – o Brasil foi bicampeão em 1958 e 1962 - o time comandado por Vicente Feola fez uma péssima campanha e foi eliminado ainda na primeira fase. Tostão foi um dos poucos destaques da equipe e atuou, substituindo o lesionado Pelé, na derrota para a Hungria, por 3 a 1, quando fez o gol de honra dos brasileiros.


Em 1966, o Cruzeiro despontava como um grande time e havia uma expectativa de que eu, Dirceu Lopes e outros jogadores pudéssemos ser chamados. É bom lembrar que naquela época só se convocavam jogadores de São Paulo e Rio de Janeiro; atletas de outros estados não faziam parte da Seleção. Quando saiu a lista, a maioria da imprensa disse que a minha convocação, a do Nado, do Náutico, e a do Alcindo, do Grêmio, eram para agradar os estados. Eles não viam que a gente podia jogar a Copa do Mundo, os comentários na época eram esses. Eu tinha 19 anos, estava jogando muito bem no Cruzeiro, mas em início de carreira e, como falei, não era valorizado como são hoje valorizados jogadores de outros estados [fora Rio e São Paulo]. Fui muito bem nos treinos e amistosos, o Alcindo também, aliás, fazíamos dupla de ataque no time reserva. Na última convocação [para a Copa], eu estava presente. O Brasil não tinha um time formado e foi muito mal. Eu era reserva do Pelé e joguei contra a Hungria, pois ele se machucou. Fiz um gol, depois ele voltou contra Portugal e o Brasil foi desclassificado. Mas eu fui bem contra a Hungria e em todos os amistosos de preparação. Então, a partir de 1966, houve uma renovação e passei a fazer parte de todas as seleções que se formaram.

Como foi para você sair de Belo Horizonte e participar de uma competição que tinha os maiores jogadores de futebol do mundo, como o inglês Bobby Moore e o português

Eusébio, além de Pelé e Garrincha? Foi uma experiência espetacular e uma satisfação grande participar daquilo, estar ao lado do Pelé, do Garrincha, dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro. E me serviu também como preparação para a Copa de 1970. Em 1966, eu ainda não era conhecido internacionalmente, era um jovem como o Kaká em 2002, o Ronaldo em 1994, estava mais para adquirir experiência para outras Copas. Mas quando tive chance de jogar, fiz gol e joguei bem.

Em agosto de 1969, você sofreu o descolamento da retina e passou por uma cirurgia, em outubro. Ainda assim, nas eliminatórias para a Copa de 1970, você foi o artilheiro da Seleção. Havia muita desconfiança sobre sua participação no Mundial? O futebol brasileiro estava sem prestígio na época por conta da Copa de 1966, mas com o técnico [João] Saldanha, o Brasil formou um time que

encantou nas eliminatórias e fui o artilheiro. Foi o meu melhor momento, o meu auge na Seleção, ganhei prestígio nacional e internacional. Depois das eliminatórias, quando tive o descolamento da retina, fiquei ameaçado de não jogar a Copa do Mundo. Quase não deu, fiquei seis meses parado – fui operado em outubro [de 1969] e voltei a treinar já no período próximo à Copa. E ainda havia muita desconfiança, mas acabei me recuperando. Não joguei nas mesmas condições físicas dos outros jogadores, enquanto eles estavam treinando, eu estava me recuperando [da cirurgia no olho], então foi uma dificuldade grande voltar a jogar em boas condições. Fui titular com o Saldanha, mas o Zagallo achava que eu tinha as mesmas características do Pelé, então a Seleção precisava de um tipo específico de centroavante. Ele convocou o Dario e o Roberto [Miranda], e fiquei como reserva de Pelé. Mas próximo à Copa, ganhei a posição e joguei de titular.

O Saldanha foi demitido do cargo em 1970 e substituído pelo Zagallo.

Arquivo/Cruzeiro

Sua estreia na Seleção Brasileira foi aos 19 anos, em maio de 1966. Pouco tempo depois, em junho, você já disputava sua primeira Copa, na Inglaterra.

(da esq. para a dir.) Dirceu Lopes, Piazza e Tostão: trio de ouro do Cruzeiro na Seleção Brasileira ABRIL / MAIO 2014 37


/////CRUZEIRO NAS COPAS De que maneira o grupo absorveu essa mudança de treinador? Todo mundo ficou sentido, todos gostavam do Saldanha. Ele era uma pessoa especial, para mim mais ainda, eu tinha muita admiração por ele, muito mais como pessoa humana e suas atitudes do que como técnico. Mas nós, jogadores, não íamos deixar de nos dedicar inteiramente à Seleção por causa da mudança de treinador. Havia um grande desejo de ganhar a Copa do Mundo. O Zagallo mudou a maneira de jogar do time, colocou mais um jogador no meio-campo, o Rivellino, colocou o Piazza de zagueiro. Será que a Seleção com o Saldanha também ganharia? Imagino que sim, porque muito mais importante que o estilo e o esquema tático era a qualidade dos jogadores, e o Brasil tinha Pelé, Rivellino, Gérson, Jairzinho, Carlos Alberto, Clodoaldo, ou seja, um timaço.

Arquivo/Cruzeiro

Como era atuar ao lado desses craques?

Quando jogava no Cruzeiro, eu era um meia, um jogador que vinha no meio armar as jogadas, eu e Dirceu Lopes trocávamos muito de posição. E na Seleção, me adaptei a jogar numa posição totalmente diferente, de centroavante. Seria mais ou menos hoje tirar o Fred e colocar o Oscar de centroavante. Mas me adaptei, fui um facilitador do Pelé, do Jairzinho, eles tinham uma agressividade enorme e ao lado deles. Meu estilo casou com o do Pelé, do Jairzinho, do Rivellino...

Em 1º abril deste ano, lembramos o 50 anos do golpe militar e é impossível não citar o clima tenso de 1970. Ditadura, repressão, torturas, censura, enfim, uma violência danada. Os jogadores conversavam sobre o assunto? Isso chegou a influenciar a Seleção de alguma maneira? Na verdade, o futebol ficou desvinculado da política. É preciso dizer que as torturas e outras atrocidades foram sendo reveladas com o tempo, na época nós não tínhamos conheci-

mento disso. Eu era totalmente contra a ditadura, dei entrevistas falando sobre isso, inclusive para O Pasquim, que era o principal jornal brasileiro contra a ditadura. Mas a gente [os jogadores] vivia intensamente a preparação para a Copa do Mundo, havia um ambiente de seriedade e profissionalismo para tentar ganhar a Copa, independentemente do que acontecia na política brasileira. Na época, torcedores revoltados com a ditadura falavam que não iam torcer pelo Brasil, mas quando começou a Copa, eles ficaram entusiasmados e todos vibraram com a conquista da Seleção, e ao mesmo tempo odiavam a ditadura. Era uma coisa separada da outra.

Na entrevista para a edição passada da Revista do Cruzeiro, o Piazza disse que foi muito emocionante e motivador ver como a torcida mexicana adotou e torceu pela Seleção Brasileira. Você também sentiu isso? Os mexicanos torceram para o Brasil, ainda mais depois que o México saiu da Copa. Acho que foi pela identificação de modo de vida, pelo fato de o Brasil ser um país parecido com o México, e eles adoravam o futebol brasileiro. Foi uma coisa impressionante como o mexicano incorporou a Seleção Brasileira como se fosse a deles. Foram muitos fatores favoráveis ao Brasil: a torcida do México, o calor, a longa preparação física. Tínhamos tempos para treinar.

Qual é o seu jogo, o seu lance inesquecível daquela campanha do Tri?

O jovem Tostão já se destacava nas peladas do conjunto IAPI, em Belo Horizonte 38 Revista do Cruzeiro · nº 124

Individualmente, eu poderia gado a Copa melhor do que eu tinha condições para isso. joguei porque estava numa

ter jojoguei, Só não função


Arquivo/Cruzeiro

Arquivo/Cruzeiro

mais de facilitador de outros jogadores e não estava na minha melhor forma física. O jogo que tive mais destaque individual foi contra o Uruguai, participei dos dois primeiros gols com dois passes – foram, aliás, dois passes que estão entre os lances mais espetaculares de toda a minha carreira. Também teve o lance contra a Inglaterra, que é mais reverenciado até hoje, todos falam sobre ele, as pessoas me perguntam. Mas o jogo mais importante da Copa foi mesmo contra o Uruguai.

Tem uma frase do Nelson Rodrigues que eu acho fantástica: “A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus”. Era mais ou menos por aí? [risos] O Nelson Rodrigues fala nessa crônica que eu e o Pelé, numa época em que não existia internet, laptop, com-

putador pequeno, só existiam computadores enormes, jogávamos com computadores instalados na meia e no calção, que mediam a velocidade de um e de outro e calculavam todos os detalhes. Eu me lembro dessa crônica, e era uma beleza como o Nelson Rodrigues escrevia.

Quem foi o seu maior parceiro na Seleção? Se é que se pode escolher apenas um. Além do Pelé, que é um caso à parte, o Alcindo, que era um jogador do Rio Grande do Sul e jogamos juntos a Copa de 1966, nos entendíamos muito bem. Me entendi muito bem com o Rivellino, com o Gérson. E foi uma pena que não pude fazer uma dupla com Dirceu Lopes na Seleção. Nós jogávamos com o olhar, um sabia o que o outro ia fazer.

Um dos maiores nomes da história celeste, Tostão marcou 242 gols com a camisa estrelada e é o maior artilheiro da Raposa

Você se lembra de alguma história de bastidores da Seleção, alguma passagem curiosa em Copa do Mundo? Em 1970, o Zagallo resolveu me escalar em um jogo-treino [na preparação para a Copa] de titular, eu era reserva do Pelé. Ele me perguntou se eu poderia jogar de uma maneira diferente, mais na frente, de costas para o gol. Eu disse: “Não tem nenhum problema, vou jogar como o Evaldo joga no Cruzeiro”. Fizemos esse jogo-treino e joguei pela primeira vez nessa função. Foi espetacular, demos um show, a torcida aplaudiu. Quando acabou o treino, que era contra um time do México, ao sair de campo o Zagallo olhou para mim e deu uma risadinha de satisfação. Ali eu tive certeza de que seria o titular na Copa.

ABRIL / MAIO 2014 39


///// CAPA

40 Revista do Cruzeiro 路 n潞 123


De forma absoluta, Cruzeiro conquista a 100ª edição do Campeonato Mineiro e confirma liderança em títulos na era Mineirão Por Bruno Mateus O ano de 1995 não chegou a ser especial para o Cruzeiro. Mas para a seleção de rúgbi de um país localizado na outra costa do Atlântico, a África do Sul, dominado pelo regime de segregação racial Apartheid, foi um ano histórico. Ao sediar a Copa do Mundo do esporte pela primeira vez, os Springboks sul-africanos foram desafiados pelo presidente Nelson Mandela – falecido em 2014 – a conquistar o torneio pela primeira vez. Liderada pelo capitão François Pienaar, a equipe bateu a todos os adversários, inapelavelmente, e com jogadores e comissão técnica, brancos e negros atuando juntos, chegou ao pódio do torneio. A história real deu origem ao filme Invictus (2009), dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon. O presidente do Cruzeiro Esporte Clube, Gilvan de Pinho Tavares, não é Nelson Mandela, e o nosso capitão, o goleiro Fábio, não se parece nem um pouco com o ator Matt Damon. Mas a campanha da Raposa no último campeonato mineiro mereceu ser – e muito – festejada e lembrada pelos torcedores. Foram 15 jogos, 11 vitórias e quatro empates. Setenta e oito dias de competição – da estreia, em 26 de janeiro, à finalíssima, 13 de abril. Mil trezentos e cinquenta minutos buscando os três pontos. Vinte e sete gols feitos e apenas cinco

sofridos. Com esses números e uma campanha quase perfeita, o Cruzeiro conquistou pela 38ª vez na sua história (e pela 11ª de forma invicta) o título de campeão mineiro. Na 100ª edição do torneio, o troféu não poderia estar em melhores mãos. O Maior de Minas teve uma trajetória brilhante, irrepreensível. Fruto de muito trabalho, planejamento e profissionalismo, o triunfo confirma a competência da administração comandada pelo presidente Gilvan de Pinho Tavares, que obtém o segundo título seguido. Assim como aconteceu na trajetória do tricampeonato brasileiro, conquistado em 2013, a força do elenco celeste foi fundamental em mais uma página heroica do Clube. E quando se fala no grupo de jogadores, um fator que merece destaque é a participação dos atletas formados nas categorias de base cinco estrelas. Dos 33 campeões, nada menos que nove foram lapidados na Toquinha. “O Campeonato Mineiro foi muito importante para mim. Estreei no profissional, pude jogar quatro partidas e participar desse grande êxito. Nós, jogadores mais novos, vamos em busca de experiência, observando cada treino, cada jogo”, afirma o zagueiro Wallace, uma das revelações da Raposa, figurinha fácil nas equipes de base da Seleção Brasileira.

Esquentando os motores Como é de praxe, a estreia na temporada foi marcada pela falta de ritmo, afinal, como disse Didi, bicampeão do mundo com a seleção brasileira em 1958 e 1962, “treino é treino, jogo é jogo”. Então, o mais importante era começar com uma vitória. O time de Marcelo Oliveira venceu a URT por 1 a 0, no Mineirão, e conquistou os primeiros pontos no estadual. Nos 10 jogos restantes da fase de classificação, oito vitórias e dois empates deram ao Cruzeiro a melhor campanha e, consequentemente, a vantagem de jogar por dois resultados iguais até as finais. Antes da decisão, o adversário na semi foi o competitivo Boa Esporte. Na partida de ida, em Varginha, jogo difícil, truncado, mas nosso camisa 10, Júlio Baptista, aos 42 minutos do segundo tempo, tratou de tirar o zero do placar e fez o único gol do jogo. No Mineirão, Dagoberto e Bruno Rodrigo marcaram e confirmaram a classificação do melhor time de Minas Gerais para a final do torneio estadual. “Encaminhamos a classificação lá, em Varginha, e precisávamos passar para a final, se possível, produzindo bem, porque esse jogo, além da classificação, também era a preparação para as decisões que viriam”, analisa Marcelo Oliveira. FEVEREIRO/MARÇO 2014 41


///// CAPA A decisão O Cruzeiro chegou à final podendo empatar os jogos contra um velho conhecido: o Atlético-MG. No Independência, igualdade em 0 a 0, o que levou a decisão para a segunda partida, no Mineirão, no dia 13 de abril. Aliás, uma data histórica para o maior clube de Minas, pois o torcedor pôde comemorar dois importantes títulos num espaço de poucas horas. Pela manhã, o Sada Cruzeiro havia conquistado o bicampeonato da Superliga, confirmando a supremacia do vôlei celeste no país. E no cair da tarde, mais uma volta olímpica. Antes que os jogadores celestes e a Nação Azul pudessem soltar o grito de campeão, 90 minutos passaram tensos nos relógios de

cada cruzeirense. A Raposa tinha a vantagem, mas não ficou com o regulamento “debaixo do braço”. Atacou, encurralou o adversário e foi melhor durante todo o jogo. O gol não saiu, mas o empate garantiu o título invicto e incontestável do Cruzeiro. O histórico 100º Campeonato Mineiro chegava ao fim e tinha um campeão à altura. O atacante Borges festejou muito seu primeiro estadual com a camisa estrelada. “São quase dois anos de Clube e tive a oportunidade de comemorar esse título conquistado de forma realmente espetacular. Não é fácil ser campeão, ainda mais invicto. Isso mostra a qualidade do grupo.” Bruno Rodrigo também teve o gostinho de celebrar o primeiro Campeo-

OLHO NO LANCE: AS IMAGENS DO TÍTULO Fotos Bruno Senna, Gualter Naves, Washington Alves

42 Revista do Cruzeiro · nº 124

nato Mineiro pela Raposa. Ele destaca a força e o empenho do elenco, que entrou na competição com um único pensamento: levantar a taça. “Em 2013, batemos na trave, mas este ano coroamos essa campanha maravilhosa com o título”, diz o zagueiro. Começar o ano sendo campeão é importante e um estímulo a mais para o restante da temporada, assim como marca a história do Cruzeiro, da comissão técnica e dos jogadores. Esse título na 100ª edição do Campeonato Mineiro será lembrado como o triunfo de um Clube que joga bem dentro e fora de campo. E que esta conquista tenha sido apenas a primeira de 2014. Afinal, o Cruzeiro vem forte para erguer também as taças da Libertadores, do Brasileirão e da Copa do Brasil. Será que vem uma Quádrupla Coroa por aí?


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///// CAPA

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‘‘

~ COM A PALAVRA, OS CAMPEOES

‘‘

Completei no dia 31 de dezembro [de 2013] dois anos como presidente do Cruzeiro. Agora, com mais alguns meses à frente do Clube, nós já conquistamos dois títulos, o Brasileiro do ano passado com quatro rodadas de antecedência, e o Campeonato Mineiro de forma invicta. Este título é dedicado à torcida, que merece a conquista e tem apoiado incondicionalmente o time.

‘‘ ‘ ‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ ‘‘ Gilvan de Pinho Tavares, presidente do Cruzeiro

Campeão invicto por méritos, com muita raça, muita vontade. Fomos o time que mais venceu, que mais marcou gols. Esse título tinha que vir para o Cruzeiro. Alexandre Mattos, diretor executivo de futebol

O título é sempre muito importante porque é o que marca a história do Clube e é o fortalecimento da linha de trabalho. Todo mundo quer vencer o Campeonato Mineiro pela tradição que ele tem. Fico feliz por ter conquistado da forma que foi: invicto, melhor ataque, melhor defesa. Mas a gente não pode se contentar com isso, [o título] tem que ser um estímulo, um empurrão para alavancarmos coisas maiores.

Sei que meus companheiros estão conscientes de que fomos campeões por méritos próprios, ninguém nos deu nada de presente. Seguramente, no futuro, aos meus filhos vou contar que cheguei num clube tão importante como o Cruzeiro e com quatro meses já fui campeão.

Marcelo Oliveira, técnico

Esse título foi muito especial. Fico feliz por fazer parte de um momento tão comemorado por nós, cruzeirenses. Aprendi a gostar do Cruzeiro desde a minha primeira passagem, então criei uma identificação, uma paixão pelo Clube. Quando visto a camisa, quero defender da melhor maneira possível.

Vim para o Cruzeiro com o objetivo de ajudar o Clube. Foi meu primeiro estadual, bati na trave muitas vezes quando jogava pelo Vasco, e agora tive a oportunidade de conquistar esse título no meu primeiro Campeonato Mineiro. Estou muito feliz aqui. Dedé, zagueiro

Samudio, lateral-esquerdo

Henrique, volante

Minha meta sempre foi ser campeão no Cruzeiro e espero que venham mais conquistas. Começar o ano com um título dá confiança.

Ser campeão invicto é bom, valoriza a campanha, concretiza os números. Não tem como contestar o que foi feito pelo grupo na competição. Cada título é como se fosse o primeiro, cada um tem uma história, suas dificuldades. Levantar uma taça diante da torcida é muito bom e espero que em 2014 possamos ter um ano maravilhoso.

Ricardo Goulart, armador

Fábio, goleiro

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///// CAPA A CAMPANHA Primeira fase z26.01

Cruzeiro 1 x 0 URT Gol: Ricardo Gourlart

z01.02

Caldense 0 x 0 Cruzeiro

z05.02

Cruzeiro 3 x 1 Villa Nova Gols: Fábio Fidélis (contra), Dagoberto e Marcelo Moreno

z26.01

Cruzeiro 2 x 0 América-MG Gols: Léo (2)

z16.02

Atlético-MG 0 x 0 Cruzeiro

z19.02

Cruzeiro 2 x 0 Guarani Gols: Willian (2)

z19.02

Boa Esporte 1 x 3 Cruzeiro Gols: Marcelo Moreno (2) e Júlio Baptista

z01.03

Cruzeiro 0 x 4 Minas Boca Gols: Bruno Rodrigo, Dagoberto (2) e Everton Ribeiro

z05.03

Nacional 1 x 4 Cruzeiro Gols: Iuri Oliveira (contra), Marlone, Willian e Souza

z08.03

Cruzeiro 2 x 1 Tupi

Gols: Marcelo Moreno e Dedé z16.03

Tombense 0 x 3 Cruzeiro

Gols: Julio Baptista, Mayke e Alisson

Semifinal z23.03

Boa Esporte 0 x 1 Cruzeiro Gol: Júlio Baptista

z30.03

Cruzeiro 2 x 1 Boa Esporte Gols: Dagoberto e Bruno Rodrigo

Final z06.04

Atlético-MG 0 x 0 Cruzeiro

z13.04

Cruzeiro 0 x 0 Atlético-MG

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OS ARTILHEIROS 4 gols

Dagoberto e Marcelo Moreno

3 gols

Júlio Baptista e Willian

2 gols

Bruno Rodrigo e Léo

1 gol

Alisson, Dedé, Everton Ribeiro, Marlone, Mayke, Ricardo Goulart e Souza

Gols contra

Fábio Fidélis (Villa Nova) e Iuri Oliveira (Nacional)


DIRETORIA DO CRUZEIRO ESPORTE CLUBE

DEPARTAMENTO DE FUTEBOL

Gilvan de Pinho Tavares

Gilvan de Pinho Tavares

Ronner Bolognani

José Maria Queiroz Fialho

Alexandre Mattos

Jomar Ottoni

Márcio Rodrigues Silva

Valdir Barbosa

Marco Antônio

José Francisco Lemos Filho

Benecy Queiroz

Bruno Faleiro

José Ramos de Araújo

Guilherme Mendes

André Batista

Marcone Barbosa

Marcelo Oliveira

Flávia Almeira

Robson Pires

Tico dos Santos

Barjão

Fabiano de Oliveira Costa

Ageu Gonçalves

Wendel Correa

Aristóteles de Paula Lorêdo

Juvenilson de Souza

Geraldo Barros

Marcelo Rezende Magalhães

Quintiliano Lemos

José Eduardo Gil

José Cesário da Silva Almada Lima

Eduardo Freitas

Vagner Gonçalves

Marco Túlio Martins

Robertinho

Carlos Roberto

Nélio Lopes

Eduardo Pimenta

Otávio Coutiunho

Ercílo Silva Ferreira

Rodrigo Morandi

Theodoro Peluso

Sérgio Freire Júnior

Sérgio Santos Rodrigues

Leonardo Corradi

Deis E. Chaves Fonseca

Walace Espada

Hermínio Francisco Lemos

André Rocha

Wilton Figueiredo

Charles Costa

Presidente

1º Vice-Presidente

2º Vice-Presidente

Vice-Presidente Administrativo Diretor Financeiro

Diretor de Marketing Diretor Comercial Diretor Jurídico

Diretor de Tecnologia da Informação Diretor de Patrimônio e Obras Superintendente Médico

Superintendente da Escola de Esportes Diretor da Sede Campestre Diretor do Parque Esportivo do Barro Preto Diretor de Compras

Superintendente de Gestão Estratégica Diretora de Projetos Incetivados Secretário Geral

Assessor da Presidência

Presidente

Diretor executivo de futebol Gerente de futebol Surpevisor de futebol Diretor de comunicação Técnico

Auxiliar técnico Auxiliar técnico

Preparador físico Preparador físico Preparador físico

Preparador de goleiros Fisiologista

Fisioterapeuta Fisioterapeuta Enfermeiro

Assessor de imprensa Analista de desempenho Nutricionista Massagista Massagista Roupeiro Roupeiro

Auxiliar de campo Almoxarife

Administrador da Toca II

Fisiologista Médico Médico Médico

Fisioterapeuta Fisioterapeuta

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/////PERSONAGEM AZUL

PROFISSÃO MULTIATLETA Com cinco Olimpíadas no currículo, a última delas nos Jogos de Inverno de Sochi, a cruzeirense Jaqueline Mourão cravou seu nome na história do esporte brasileiro Por Bruno Mateus Ao ser escolhida a porta-bandeira da delegação brasileira nas Olimpíadas de Inverno de Sochi, disputada na Rússia, em fevereiro deste ano, a belo-horizontina Jaqueline Mourão entrou para a história do esporte nacional. Ela é a única atleta brasileira, entre homens e mulheres, a competir nos Jogos Olímpicos nas duas versões – verão e inverno. No total, são cinco Olimpíadas, feito também que a coloca ao lado de Fofão, levantadora da seleção de vôlei, e de Formiga, atacante da seleção feminina de futebol, como a mulher que mais vezes participou da competição. Uma vida dedicada ao esporte, uma atleta que transformou a palavra desafio em motivação.

Jaqueline Mourão tomou gosto pelo esporte ainda na infância. Incentivada pelos pais, ela praticou ginástica olímpica dos 6 aos 12 anos, enquanto fazia aulas de natação, basquete, vôlei e balé no tempo livre. Aos 15, sua vida ganhou outro sentido e, sob duas rodas, ela mudou definitivamente sua trajetória. “Com o mountain bike, tive a possibilidade de me exercitar em contato com a natureza. Foi paixão à primeira vista e, como adorava desde criança fazer caminhadas com meus pais na Serra do Cipó, encontrei realmente tudo o que mais gostava”, diz a atleta, que conquistou o quarto lugar no Campeonato Mineiro da modalidade em 1991 e desde então não parou mais.

ção para a belo-horizontina. Tanto que, em 2010, Jaqueline começou a praticar um novo esporte, ao mesmo tempo em que estava grávida de seu primeiro filho, Ian, hoje com 4 anos. A novidade era o biatlo, que consiste na combinação do esqui cross-country e o tiro ao alvo, e foi encarado como um grande desafio.

“O esporte me ensinou a ser mais forte, a lutar pelos meus objetivos, a ser organizada, a fazer um planejamento de curto, médio e longo prazo. Aprendi a lidar com a derrota, a levantar a cabeça e continuar lutando. E também a respeitar o próximo, a lutar com dignidade e nunca desistir.”

Em 2004, Jaqueline Mourão viveu um dos momentos mais especiais em toda sua carreira. Foi quando ela conseguiu a vaga inédita no mountain bike e representou o Brasil nas Olimpíadas de Atenas. O que seria o auge na carreira de qualquer atleta representou ainda mais motiva-

Conciliar a rotina de treinos e as tarefas de mãe é outro desafio que Jaqueline encara com naturalidade. Morando no Canadá desde o final de 2004, quando se casou com Guido Visser, que também é seu treinador, a mineira conta como é o dia a dia de uma mulher que parece não parar nunca.

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O resultado não poderia ser melhor: a atleta conseguiu a vaga para os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, neste ano, e completou sua quinta participação em Olimpíadas – ela também representou o Brasil nos Jogos de Atenas (2004) e Pequim (2008), e nos de Inverno em Torino (2006) e Vancouver (2010).


CBDN/Divulgação

“Treino por volta de quatro a seis horas por dia, além de dirigir duas horas para ir e voltar do campo de tiro. Faço também os treinos de ‘tiro a seco’ em casa, e ainda todos os deveres de mãe, dona de casa e esposa. É uma rotina bastante agitada, mas a família vive em equilíbrio, o Guido é meu treinador e isso ajuda a tomar as decisões corretas rápido.” A alimentação, como não poderia deixar de ser, é ponto fundamental na preparação da atleta. “Adoro tudo que for integral, biológico e o menos industrializado possível”, diz Jaqueline, que se diz uma especialista em inventar diferentes receitas e misturas de sucos. “Às vezes, vou a restaurantes, mas o que gosto mesmo é de convidar amigos e preparar uma comida bem gostosa e saudável em casa”, completa. Já são quase 10 anos longe de Belo Horizonte. Tempo suficiente para sentir falta dos passeios na Pampulha, do abacaxi fresquinho na orla da ABRIL / MAIO 2014 49


#FechadaComOCruzeiro Em Minas Gerais, Jaqueline Mourão tem outra paixão que não as guloseimas e as belezas naturais do estado: o Cruzeiro Esporte Clube. O pai, torcedor do rival, bem que tentou influenciá-la na infância, mas a atleta tem mesmo o sangue azul. Tudo começou na faculdade de educação física, quando ela teve oportunidade de conhecer de perto o dia a dia, a estrutura e a história do maior time de Minas. “Fui algumas vezes ao Cru-

Fotos: CBDN/Divulgação

Arquivo pessoal

Lagoa, do pão de queijo e da broa de milho, entre outras coisas. “Da família, dos amigos, do jeito carinhoso do mineiro, do pôr-do-sol mais lindo do mundo na Serra do Curral. Tirando o trânsito quando tem engarrafamento, tenho saudades de praticamente tudo.”

zeiro realizar testes nos atletas acompanhada pelo professor Emerson Silami e comecei a conhecer o trabalho e toda a estrutura do Clube. Passei a ser mais uma torcedora.”

com um planejamento de longo prazo de fomento aos clubes, às pequenas equipes, detecção de talentos, estrutura de base e ainda educação esportiva da população como um todo.”

Acompanhando a Raposa de longe, pela internet, Jaqueline conta que o marido também tem as cinco estrelas no peito. “No dia em que ele chegou ao Brasil pela primeira vez [em 2003], o Cruzeiro tinha acabado de ser Campeão Brasileiro e ele acabou adotando o time. Assim não tem briga em casa”, ela brinca.

Não foi do nada que Jaqueline Mourão construiu uma carreira marcada por superação, garra e talento. Os títulos e os números ao longo de quase 25 anos de competição a colocam na história do esporte nacional. Mas ela quer mais, não para por aqui. “Vou continuar buscando minha excelência e em melhorar a cada dia. Sonho com um esporte limpo e para todos e espero poder passar tudo o que aprendi para os mais jovens, sendo fonte de inspiração para aqueles que acreditam que é possível”, diz a cruzeirense apaixonada por tudo o que faz.

Feliz com o momento do seu time do coração e com o rumo que sua carreira tomou, Jaqueline Mourão pensa positivo e diz que o Brasil tem potencial para se tornar referência no esporte olímpico. “Mas não é somente com o investimento financeiro, e sim

Jaqueline Mourão na disputa da Copa do Mundo de esqui cross country, em 2009

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/////BATE-BOLA

FINO TRATO Com o estilo de jogo elegante de grandes craques da hist贸ria celeste, Lucas Silva mostra que 茅 preciso tratar bem a redonda para jogar no meio-campo estrelado Por Gustavo Aleixo | Fotos Bruno Senna

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O volante chamava a atenção como atacante e artilheiro. O bom passe e a finalização de longa distância, características que ele agora mostra na Raposa, também foram as credenciais apresentadas pelo jogador, que, aos 12 anos, seguiu para Goiânia. A chegada à capital, porém, colocou um novo obstáculo no caminho do atleta. “Tive um problema de baixa de plaquetas e um período anêmico, o que me impediu de fazer atividades físicas. Graças a Deus, pude me recuperar e readquiri a forma física”, relembra o jogador, que pouco tempo depois recebeu a chance de fazer um teste na Toca da Raposa I.

Disse uma vez o poeta francês Paul Valéry (1871-1945) que “a elegância é a arte de não se fazer notar”. Lucas Silva, no entanto, não precisa de papel e caneta para contrariar o escritor e mostrar que, no futebol, classe e requinte não passam desapercebidos em campo. Promessa que se tornou realidade do Cruzeiro, o prata da casa tem uma qualidade comum aos grandes volantes celestes: o fino trato com a bola. Natural de Bom de Jesus de Goiás, cidade localizada a 218 km de Goiânia, Lucas aprendeu com a vida, no interior goiano, que o caminho do sucesso no futebol passa pela simplicidade. “Minha infância foi bem de interior mesmo. Por eu ter uma aparência ba54 Revista do Cruzeiro · nº 124

cana, muitos acham que não passei por dificuldades na minha vida. Pelo contrário, pelo que vivi na infância é que aprendi que o futebol é simplicidade e objetividade.” Jogar bola era descomplicado como uma pelada na pracinha com a rapaziada. Os problemas financeiros em casa se dissipavam com dois ou três toques na bola. O sonho, nunca distante para uma família presente, ganhava contornos cada vez mais claros, como as linhas de um campo riscado pela marca da cal. Lucas Silva logo começou a disputar torneios pela escolinha da cidade e foi destaque.

“Fiquei duas semanas em avaliação na Toquinha. Foi quando liguei para minha mãe e falei que estava tudo bem no Cruzeiro. Deu para sentir de longe que a voz dela ficou diferente, que ela iria chorar, sabendo que eu não iria voltar porque tinha sido aprovado”, conta. Na base, Lucas Silva foi com o tempo sendo recuado até se tornar volante. Foi naquele momento que a então jovem promessa recebeu o incentivo necessário para se aprimorar cada vez mais na posição. “O Carlinhos Katira [coordenador de testes] falava que eu tinha classe ao jogar e que tinha que trabalhar esse quesito, porque isso é a cara do Cruzeiro. Volante tem sempre que jogar com cabeça erguida, mas nunca se esquecendo da marcação.” Buscando inspiração no ídolo Juninho Pernambucano, o camisa 16 celeste encantava pela qualidade na marcação e pela precisão nos passes de longa distância. Em abril de 2012, após retornar da seleção sub20, o menino de ouro da base recebia a promoção aos profissionais, treinado na época por Vágner Mancini. O jogador esperou com paciência a chegada da sua primeira partida pela equipe principal, que veio a aconte-


cer em um jogo contra a Portuguesa, em julho de 2012, quando Celso Roth era o técnico. “No segundo tempo, o auxiliar técnico me falou que eu iria entrar. Fiquei muito ansioso, tremendo bastante. Na hora que eu estava assinando a súmula, não tinha nem tirado o colete e a calça. O quarto árbitro perguntou se eu ia entrar no campo daquele jeito. A ficha caiu mesmo quando o Fábio gritou o meu nome, falando que era para eu fechar mais o meio-campo. Aí ganhei mais confiança e consegui fazer uma boa partida” A estreia como profissional não lhe rendeu a sequência de jogos esperada, mas sim o seu primeiro fã-clube. “Algumas garotas na Toca me perguntaram se eu tinha um fã-clube e se elas poderiam criar um. Deixei numa boa, foi aí que notei esse outro lado

do futebol. Hoje tenho diversos fã-clubes, só não dá para comparar com o Fábio nesse quesito”, brinca. Na época, Lucas Silva não sabia que o assédio feminino só iria aumentar. Em 2013, sob o comando de Marcelo Oliveira, o volante ganhou seu espaço no plantel e as admiradoras só cresceram. Foi então que o jogador com fama de galã recebeu um apelido que seus companheiros de equipe fazem questão de utilizar. “O ‘Príncipe’ começou nas redes sociais. Me chamavam assim e o Dedé e o Luan viram. No dia seguinte, quando cheguei, só ficavam gritando ‘O Príncipe chegou’ e coisas do tipo. [risos]” No Brasileirão do ano passado, o camisa 16 assumiu de vez a titularidade. Lucas Silva obviamente não jogava de terno, mas vestia o manto cinco

estrelas, o traje de gala certo para exibir em campo sua elegância ao tocar na bola. Com exibições marcantes, como na vitória por 5 a 3 sobre o Vasco, no Mineirão, quando fez dois gols, ele acabou conquistando a China Azul com a mesma finesse que consagrou em tempos passados Piazza, Douglas e Ricardinho no Cruzeiro. O reconhecimento foi natural e o título nacional pela Raposa, com apenas 21 anos, a cereja do bolo. “Amigos e familiares fizeram um outdoor na entrada da cidade e quando cheguei teve passeata, foi algo muito bom. É com muito orgulho que falo que sou de Bom Jesus de Goiás e Campeão Brasileiro”, afirma o garoto, que no domingo após a entrevista para a Revista do Cruzeiro chegou ao segundo título na carreira profissional, sagrando-se Campeão Mineiro de 2014.

Washington Alves/Light Press

Em 2013, o volante se firmou no time titular e foi um dos destaques na campanha do tricampeonato brasileiro

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/////BASE

tudo azul

Confirmando o excelente trabalho realizado na formação de novos craques, Cruzeiro tem representantes em todas as seleções de base do Brasil Por Gustavo Aleixo | Foto Bruno Senna Não é à toa que a seleção brasileira tem como um dos seus uniformes de jogo o fardamento azul e branco. Nos meses de março e abril, nada menos que nove jogadores do Clube estrelado foram convocados para as seleções de base do Brasil. Na categoria sub-21, quatro jogadores do Maior de Minas faziam parte da lista: o goleiro Georgemy, o zagueiro Wallace, o volante Lucas Silva e o armador Alisson. As promessas celestes foram chamadas pelo técnico Alexandre Gallo para um período de treinos em Mogi das Cruzes-SP, visando a disputa do Torneio de Toulon. A convocação final para a competição, a ser realizada na França, será divulgada no dia 9 de maio. Além de preparar os atletas para o torneio francês, a comissão técnica verde e amarela observará jogadores, já pensan-

(da esq. para a dir.) Alisson, Georgemy e Wallace: Cruzeiro bem representado na seleção sub-21. 56 Revista do Cruzeiro · nº 124

do nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. O armador Alisson, atleta do elenco profissional da Raposa, fala sobre a nova oportunidade recebida e ressalta o sonho de defender o selecionado tupiniquim nos Jogos Olímpicos. “É um sonho disputar as Olimpíadas, ainda mais no Brasil, podendo conquistar a primeira medalha de ouro [na modalidade] para o país. Agora é chegar lá e mostrar serviço”, afirma o armador, que balançou as redes nos dois amistosos realizados pela seleção no interior paulista. Também jogador do time de cima do Raposa, o zagueiro Wallace poderá conquistar o bicampeonato do Torneio de Toulon. No ano passado, ele foi um dos líderes da defesa canarinho que, em cinco jogos disputados, sofreu apenas


dois gols. “O Cruzeiro tem uma estrutura fora de série. Tanto na Toca II, quanto na Toca I existem grandes profissionais trabalhando e é com esse trabalho na base que os jogadores acabam evoluindo tanto assim”, destaca. Wallace terá a companhia de outro jogador celeste no sistema defensivo canarinho. No Clube desde os seus 15 anos, Georgemy, jogador dos juniores da Raposa, reforça uma vez mais que o trabalho feito com os goleiros na base cinco estrelas é realmente diferenciado. “A categoria de base do Cruzeiro é uma das melhores do Brasil, sem dúvida. Os goleiros têm um treinamento específico que quase nenhum time do país tem. A convocação é fruto de muito trabalho e, graças a Deus, venho conquistando os meus objetivos”, disse o goleiro de apenas 18 anos, convocado pela primeira vez. Lucas Silva, volante titular da equipe de Marcelo Oliveira, também foi chamado por Alexandre Gallo. No entanto, o jogador acabou sendo liberado do período de treinos no interior paulista a pedido do Cruzeiro, para que o atleta pudesse atuar na partida de ida das oitavas de final da Copa Libertadores contra o Cerro Porteño-PAR. O meio campista, contudo, se coloca à disposição para servir o Brasil em futuras convocações. ”É sempre uma honra servir o país. Estarei sempre disponível, principalmente pensando em Olimpíadas”, pontua o camisa 16, que enalteceu o trabalho feito pelo Clube na formação de jogadores: “Os profissionais da Toca I dão respaldo, fazendo com que os seus atletas representem bem o Cruzeiro na seleção. Isso faz com que os olhares se voltem para o Clube e outros jogadores sejam convocados”.

Na categoria sub-17, quatro jogadores da Raposa foram convocados pelo técnico Caio Zanardi, também para um período de treinamentos na Granja Comary, em Teresópolis: o goleiro Jonathan Braz, o zagueiro Ronaldo, o meia Gabriel Mendes e o atacante Marcelo. Destes quatro atletas, Ronaldo e Marcelo permaneceram no grupo que disputou, em abril, a Copa do Mediterrâneo, na Espanha, e a Copa das Nações, na Itália. “Graças a Deus, estou sendo convocado com frequência. Os profissionais da base estão sempre me dando conselhos para que eu não deixe tudo isso subir à cabeça. Procuro manter os pés no chão e seguir trabalhando para poder retornar sempre à seleção”, destaca o talentoso atacante Marcelo, figurinha carimbada nas convocações para as divisões de base do Brasil. O zagueiro Ronaldo destaca o crescimento que o Clube lhe proporcionou tanto em termos futebolísticos quanto no âmbito pessoal. “O Cruzeiro me deu a oportunidade de realizar meu sonho e me recebeu de braços abertos. Graças a Deus, consegui agarrar esta oportunidade, que me transformou na pessoa que sou hoje.” Com jogadores chamados na sub-21 e na sub-17, faltava somente uma categoria para o Cruzeiro ter atletas em todas as divisões de base do Brasil. No início de abril, o meia celeste Marco Antônio foi lembrado pelo treinador Cláudio Caçapa para a seleção brasileira sub-15, que realizará um período de treinos em Águas de Lindóia, em São Paulo, confirmando que, se o assunto é futebol, o Brasil também é azul celeste.

De olho no mercado O Departamento de Negócios Internacionais da Raposa realizou a clínica de futebol “Cruzeiro Camp Japão 2014”. Com o objetivo de fortalecer a marca do Clube fora do Brasil e mostrar a excelência celeste quando o assunto é levantar troféus e revelar grandes craques para o mundo, centenas de crianças de 6 a 12 anos passaram por treinamentos e conheceram um pouco da história de um dos clubes mais vitoriosos do futebol brasileiro. O Camp Japão 2014 aconteceu entre os dias 22 de março e 6 de abril nas cidades de Tóquio, Nara, Saitama e Kat-

suragi – nesta última, houve um treino para 100 crianças locais que contou com a presença de mais de 300 pessoas. O prefeito da cidade, Kazuya Yamashita, enalteceu a iniciativa do Maior de Minas e já espera que ela se repita também no ano que vem. A comissão cruzeirense foi integrada pelo gerente do Departamento de Negócios Internacionais do Clube, Pedro Moreira, e pelos treinadores das categorias de base celeste Matheus Ornellas e Hamilton Souza, o Careca, ex-atacante da Raposa nos anos 1980. ABRIL / MAIO 2014 57


/////NOVO UNIFORME

Com o Brasil no peito Cruzeiro apresenta novos uniformes que serão usados em 2014. Selo em alusão à conquista do tricampeonato é uma das novidades

Com um visual mais limpo e tradicional, o Cruzeiro lançou uniformes para as disputas do Brasileirão e da Copa do Brasil em um evento realizado no Mineirão, no fim de abril. A novidade da coleção de jogo é um patch no peito em alusão ao tricampeonato conquistado no ano passado e um novo tom de azul. O presidente da Raposa, Gilvan de Pinho Tavares, elogiou o manto celeste que será usando nesta temporada e espera que ele possa ser lembrado também pelas conquistas em 2014. “Esse é um dos uniformes mais bonitos que a gente já fez. Continuam as estrelas soltas, que em minha opinião deixam nossa camisa ainda mais bonita. Acredito que o nosso torcedor vai gostar muito e esperamos que ela seja vitoriosa e nos traga sorte para conquistarmos o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil.” Para o diretor de marketing do Cruzeiro, Marcone Barbosa, a nova camisa apresenta um estilo mais clássico que as anteriores e resgata a história do Clube: “Ela tem linhas tradicionais e ao contrário dos últimos uniformes lançados, que tiveram mais detalhes, é mais clean. Depois de dez anos, o cruzeirense terá a honra de ostentar o patch de campeão brasileiro”, opinou o dirigente. A nova linha de uniformes, produzida pela Olympikus, conta com camisas de jogo e treino, agasalhos e trajes de viagem.

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Fotos: Pedro Vilela/Light Press

Homenagem O ex-goleiro Raul, que atuou em 557 partidas defendendo a meta cinco estrelas, foi homenageado pelo Clube durante o lançamento da camisa. O ídolo, que completa 70 anos em 2014, recebeu das mãos de Fábio um dos modelos do novo uniforme de goleiro do Cruzeiro, inspirado na mítica camisa amarela usada pelo arqueiro na década de 1970. “Neste período, o Clube conquistou a sua primeira Copa Libertadores da América em 1976 e acabamos por decidir fazer esta justa homenagem ao Raul, um dos nossos ídolos eternos”, destacou Marcone Barbosa.

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A PAMPULHA FICOU PEQUENA Pela manhã, o Sada Cruzeiro conquistou o bicampeonato da Superliga, torneio mais importante do voleibol nacional, no Mineirinho e, à tarde, foi a vez do Cruzeiro faturar o estadual no Mineirão. Por Ana Flávia Goulart

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Renato Araújo/Divulgação Sada Cruzeiro

/////SADA CRUZEIRO


Dois canecos num só domingo. Foi assim o dia 13 de abril para os cruzeirenses. Diante do Ginásio do Mineirinho completamente lotado por cerca de 15 mil torcedores celestes, o Sada Cruzeiro atropelou o Sesi-SP por 3 sets a 0 e sagrou-se bicampeão da Superliga Masculina de Vôlei. Em seguida, a China Azul, reforçada pelos campeões no voleibol, só precisou atravessar a Avenida Abrahão Caram para continuar as comemorações: viu a volta olímpica do Sada Cruzeiro antes do clássico no Mineirão e acompanhou a conquista do Campeonato Mineiro sobre o Atlético-MG.

Assim, a equipe campeã mundial confirmou o favoritismo e garantiu o quinto título na temporada 2013/14, incluindo as conquistas do bicampeonato Sul-Americano, Mineiro, Copa Brasil e, agora, o bi da Superliga. Com o feito inédito no voleibol nacional, o Sada Cruzeiro chegou à Quíntupla Coroa, uma marca histórica para o clube que faturou todos os troféus que disputou. O capitão William, levantador cruzeirense, explicou o sucesso do elenco após mais um triunfo. “O nosso time é humilde, respeita todo mun-

A finalíssima Dono da melhor campanha da fase classificatória da Superliga, o Sada Cruzeiro eliminou os paranaenses do Moda Maringá nas quartas de final, os conterrâneos do Minas Tênis na semifinal e chegou à decisão para enfrentar o Sesi-SP, que ficou na segunda colocação. Por isso, a expectativa antes do duelo pelo título era de muito equilíbrio em quadra. Mas não foi o que aconteceu. Com um ritmo de jogo muito intenso, a Raposa se impôs em quadra, não permitiu que o clube formado pela base da seleção brasileira jogasse e fez 3 sets a 0 sobre o rival, com parciais de 21/19, 21/17 e 21/18. Com uma atuação que impressionou a quem acompanhou a partida, o capitão e levantador William foi, mais uma vez, um dos destaques da equipe, distribuindo muito bem as jogadas. Por isso, foi eleito o melhor em quadra e ficou com o Troféu VivaVôlei. O oposto Wallace, pontuador

máximo da competição com 374 anotações, fez 10 na partida e, junto com o ponteiro Filipe, foi o maior marcador da decisão. “A gente vem trabalhando bastante. Essa excelente campanha que estamos fazendo gera certa pressão, não só da torcida, mas nossa também, por sempre ganhar. Mas o time merece por tudo o que tem feito, que tem treinado. Só quem está no dia a dia sabe o quanto ralamos e o mínimo que merecemos é isso: chegar às finais e trazer as conquistas. Acho difícil aparecer um time como o nosso e espero Renato Araújo/Divulgação Sada Cruzeiro

O “Campeonato Brasileiro do Vôlei” foi vencido pela Raposa em uma decisão marcada por muita rivalidade. Sada Cruzeiro e Sesi-SP já protagonizaram grandes confrontos, como a final da Copa Brasil, conquistada pelo time celeste em janeiro deste ano, e a decisão da Superliga de 2010/2011, vencida pelos paulistas. Por isso, o jogo do último domingo, disputado no mesmo palco do revés cruzeirense, tinha cara de revanche. E, desta vez, o plantel estrelado mostrou supremacia em quadra e dominou o adversário do início ao fim do jogo.

do e procura fazer o melhor sempre. É esse o segredo. Nosso time não é melhor nem pior do que nenhum outro, a gente trabalha sério buscando dar o nosso melhor e provamos que o nosso melhor é isto: jogar sempre pra cima, fazer um jogo inteligente e com espírito vencedor.”

Presidente do Sada Cruzeiro, Vittorio Medioli enaltece os números da equipe cinco estrelas e agradece o apoio da maior torcida de Minas. ABRIL / MAIO 2014 61


Renato Araújo/Divulgação Sada Cruzeiro

continuar mantendo esse ciclo vitorioso”, destacou Wallace. Além da taça de campeão garantida pelo Sada Cruzeiro, dois jogadores celestes também foram coroados, carimbando seus nomes na seleção do campeonato. William foi eleito o melhor levantador do torneio pela terceira vez seguida. E o ponteiro Leal recebeu o prêmio de principal atacante pelo segundo ano consecutivo. O cubano Leal ficou feliz com o prêmio e se impressionou com o ginásio repleto de torcedores cruzeirenses: “Foi especial conquistar nosso quinto título dentro deste Mineirinho lotado pela torcida, que queria acompanhar muito esse jogo. A gente fica muito feliz com o apoio que dão a todo o time. Foi um lindo espetáculo. E acho que fizemos a nossa parte dando a eles essa vitória maravilhosa”.

Time que escreve história Com o bicampeonato nacional, o clube mineiro também ampliou no domingo uma impressionante marca. Já são 15 finais consecutivas e 12 títulos conquistados desde 2010. No comando da equipe em todas essas conquistas, o técnico Marcelo Mendez fez questão de destacar a importância do feito cruzeirense. “O que fizemos nesta temporada é incrível. Temos que agradecer a todos, à diretoria do time, toda a equipe, comissão técnica, e temos que desfrutar e comemorar, porque não é todos os dias que se atinge isso que conquistamos”, disse o treinador.

Os campeões deram a volta olímpica diante da Nação Azul, que lotou o Mineirão para comemorar mais um título

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Para o idealizador do projeto e presidente do Sada Cruzeiro, Vittorio Medioli, os números são incríveis. “Nenhum clube de vôlei do mundo conseguiu um desempenho tão marcante como o nosso nesta temporada. Sinto o maior orgulho de dirigir essa


equipe. E temos que agradecer a essa torcida maravilhosa, porque é um atleta a mais em quadra. E a vontade de vencer não para, pois daqui a pouco teremos mundial para encerrar essa temporada, em que conquistamos todos os títulos que disputamos.

Foi um ano fabuloso, em que tivemos habilidade, competência e garra. Melhor impossível.” A histórica marca dá ao elenco estrelado ainda mais motivação para buscar outro importantíssimo resultado

no começo de maio. Entre os dias 5 e 10, diante das principais forças do planeta, o grupo azul vai tentar o bicampeonato do Mundial de Clubes, que será disputado em Belo Horizonte, também no Ginásio do Mineirinho. Renato Araújo/Divulgação Sada Cruzeiro

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11/4/14

10:58 AM


/////ATLETISMO

Conquistador de ruas Promessa do atletismo nacional, o novo atleta da equipe do Cruzeiro, Altobeli Santos da Silva, conta sua história de superação e vislumbra um futuro de títulos com a camisa cinco estrelas Por Gustavo Aleixo | Fotos Bruno Senna O suor escorria no rosto. O arranque veloz e o passar das pernas faziam com que ele quase voasse rente ao chão. Mil metros com o cronômetro girando, seguindo em frente até o fim. A reta final é completada e o tempo para. Dois minutos e 42 segundos. O olhar do treinador mostra satisfação com o rendimento de seu novo atleta. “O melhor tempo de um corredor meu nesta pista”, destaca o comandante Alexandre Minardi. Altobeli Santos da Silva é um novato com 23 anos e uma grande promessa do atletismo celeste e nacional. Em pouco mais de meia hora de conversa, o atleta conta a sua história, cheia de enredos e reviravoltas. As lembranças surgem em sua mente e constroem a figura de um homem que merece receber com toda a justiça a alcunha de vencedor.

Seguindo em frente Filho da baiana Eliene e do carioca Paulo, Altobeli nasceu em Catanduva, no interior de São Paulo. O nome inspirado no atacante campeão mundial pela Itália em 1982, Alessandro 64 Revista do Cruzeiro · nº 124


Altobelli, foi ideia do pai, que se separou de sua esposa três anos após o filho nascer.

no rosto, contado historinhas. Gosto dela, mas acho que por dentro sinto um pouco de mágoa.”

A mãe, que sofreu maus tratos na infância e chegou a morar na rua, se responsabilizou pelo sustento do garoto e de sua outra filha, Michele. “Não tive uma infância normal, de poder ser livre, brincar. Eu tinha que ficar ajudando a minha mãe. Se não ajudasse, apanhava ou ficava de castigo”.

Altobeli recorda os dias em que perambulava sozinho pelas ruas de Catanduva, muitas vezes sem ter o que comer. O jeito era ele se virar. “Tomei conta de carro para comprar comida, passagem de ônibus. Já passei o Natal e o final de ano na rua. Muitas vezes eu chorava. Cheguei a desejar morrer, de tanto sofrimento. É ruim, você ser uma criança e passar situações como essas”.

Não demorou muito para Altobeli buscar o mesmo caminho que dona Eliene trilhou e que sua irmã também seguiu ao completar 14 anos. “Quando eu tinha 13 anos, quis sair de casa. Não saí em definitivo, mas cheguei a dormir algumas noites como um morador de rua”, relembra o corredor. “Minha mãe não me procurava. Ela nunca deu atenção para os filhos. Não sei o que é amor de mãe. Não me lembro dela ter me dado um beijo

Sua mãe não sabia mas, sempre que podia, ele voltava à noite para dormir no aconchego de um lar. O cômodo vazio em cima da laje era ao mesmo tempo esconderijo e abrigo para o adolescente que escalava em silêncio as paredes de casa apenas para ter um lugar onde poderia descansar os pés, cansados de tanto tocar o piso seco das calçadas.

A história se repetiu até os seus 18 anos, quando o garoto começou a trabalhar por conta própria. Altobeli sabia que podia contrariar um futuro que muitas pessoas davam como certo. “Os vizinhos achavam que eu iria virar drogado, mendigo, que ia ser preso, que não ia ser ninguém. Mas eles estavam errados. Meu pensamento foi sempre de vencer na vida, ser um campeão”, ressalta. A reviravolta em seu destino aconteceu quando ele trabalhava distribuindo panfletos. Em um dia de sol quente, o jovem viu um outdoor que anunciava uma corrida que daria ao vencedor uma moto 0 km. No dia da prova, Altobeli correu de chuteiras soçaite, bermuda, boné e uma camisa de manga comprida. O resultado não poderia ser outro senão a 33ª colocação. O ainda inexperiente atleta voltou cabisbaixo para casa, porém, no meio do caminho, ele re-

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cebeu uma notícia que o fez retornar às pressas para o local da corrida: ele tinha sido o campeão da categoria de 16 a 19 anos. Empolgado, Altobeli acabou fazendo um teste com o treinador de atletismo Guilherme Salgado, que ficou impressionado com o potencial que o seu jovem pupilo tinha. Talentoso, o novo corredor, pouco tempo depois, passou a receber um auxílio da prefeitura de Catanduva. “Meu primeiro salário foi de 200 reais. A prefeitura não pagava a hospedagem [dos atletas], então tínhamos que viajar uma hora da manhã, viajava a madrugada toda, sem dormir direito, para chegar na competição às 8h.”

As coisas só melhoraram quando Altobeli recebeu seu primeiro patrocínio. Com seis corridas totalmente pagas durante o ano, ele pôde desenvolver seu potencial e começou a chamar a atenção de equipes mais poderosas do atletismo nacional. Correndo com a nata do esporte, chegou à seleção em 2012. No ano seguinte, o fundista ganhava ainda mais destaque ao conquistar a Meia Maratona do Rio de Janeiro, prova que há oito anos nenhum corredor brasileiro vencia. O bom rendimento em 2013, somado à quinta posição geral na São Silvestre, acabou por despertar os olhares de Alexandre Minardi, diretor e téc-

nico do atletismo cinco estrelas. “Foi a melhor proposta que recebi na minha vida. Eu não estava esperando, foi muito gratificante”, diz Altobeli. Casado e dono de uma casa própria, o antes quase morador de rua vive hoje um momento de estabilidade. Com a cabeça tranquila, vislumbra um futuro ainda melhor correndo pela principal equipe de atletismo do país. “Aqui tenho tranquilidade para treinar, me preparar, escolher as corridas certas e fazer o meu melhor. Só tenho que agradecer ao Cruzeiro por tudo que tem me proporcionado”, finaliza o campeão das pistas e da vida.



Arquivo pessoal

/////SÓCIO DO FUTEBOL

Tratamento cinco estrelas

Recebido pelo presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, Matheus Henrique foi um dos primeiros Sócios a garantir benefícios exclusivos do projeto “Embaixadores”

Em janeiro deste ano, o Cruzeiro, em parceria com a Ambev e o “Movimento por um Futebol Melhor”, lançou um aplicativo chamado “Embaixadores”, voltado para o Sócio do Futebol. Disponível no Facebook, a ferramenta interativa propõe um desafio aos cruzeirenses, que podem convidar outras pessoas a se tornarem associadas ao programa Sócio do Futebol. São cinco categorias: bronze (todo Sócio cadastrado começa o desafio nessa etapa), prata, ouro, diamante e seleção. A cada inscrição efetivada dos indicados, o Sócio ganha pontos e garante benefícios exclusivos. Como sempre acontece quando o assunto é Cruzeiro, a China Azul aderiu ao projeto e no jogo contra o 68 Revista do Cruzeiro · nº 124

Com direito à presença do Presidente Gilvan de Pinho Tavares, Sócios assistem a jogo do Cruzeiro no camarote e são premiados pelo projeto “Embaixadores”

Defensor-URU, em março, pela Copa Libertadores, os primeiros vencedores do “Embaixadores” foram recebidos pelo Presidente Gilvan de Pinho Tavares no camarote oficial do Clube no Mineirão. Os Sócios, que acumularam os bônus referentes à categoria “Embaixadores Prata”, ganharam uma pulseira personalizada do aplicativo, uma carta assinada pelo presidente celeste e um vale-compras no valor de R$ 50 (cinquenta reais), além de uma camisa oficial licenciada pelo Clube com a hashtag #CruzeiroNaBatalha. Um dos Sócios premiados, Matheus Henrique Costa Santos, de 17 anos, mora em Santo Antônio do Monte, Região Oeste de Minas Gerais. A

distância de quase 200 km para Belo Horizonte não é nenhum empecilho para ele – pelo menos duas vezes por mês Matheus sai de sua cidade rumo ao Mineirão ao lado do pai. Sócio da categoria Cruzeiro Sempre desde outubro do ano passado, o estudante soube do “Embaixadores” pelas redes sociais, se cadastrou e incentivou os amigos a se tornarem Sócios. Recebido pelo presidente da Raposa no camarote, ele elogiou muito a estrutura do espaço. “Foi a minha primeira vez no camarote. Muito bom, vi o jogo com todo conforto. O Gilvan me agradeceu por ser Sócio.” Outro torcedor premiado, André Francisco Guedes Silva, de 31, enalteceu a iniciativa do Clube e da Am-


Arquivo pessoal

André Francisco assistiu ao jogo entre Cruzeiro e Defensor-URU, pela Libertadores, no camarote oficial da Raposa no Mineirão

bev. Pelo Site Oficial do Cruzeiro, ele ficou sabendo do “Embaixadores” e também se cadastrou. “Na mesma hora, comecei a divulgar para os amigos”, conta. Como os cinco torcedores indicados por André se tornaram

Sócios, ele atingiu a pontuação que o colocou na categoria “Prata”. Acompanhado pela mulher e pela filha, André Francisco destacou as presenças ilustres que compareceram ao camarote da Raposa no Mineirão.

“Foi bacana encontrar com ex-jogadores e com o Tinga [o volante não foi relacionado para a partida]. Tem o painel com os Ídolos Eternos que também é muito legal. É um espaço diferenciado”, diz.

Nova categoria Neste mês de abril, o Cruzeiro lançou mais uma categoria do Sócio do Futebol. Com o nome de “Nação Azul”, a nova modalidade custará R$ 12 (doze reais) por mês e o torcedor terá descontos em mais de 600 produtos e serviços do “Movimento por um Futebol Melhor”, além de concorrer a prêmios diários, como sorteios de carros 0km e ingressos para jogos da Copa do Mundo. Com vigência de 12 meses, o cartão “Sócio do Futebol Nação Azul” pode ser retirado em qualquer uma das 16 lojas da rede de supermercados Super Nosso. Para ativá-lo, basta acessar o site futebolmelhor.com. br/cartaosociotorcedor e esperar até três dias úteis para começar a usar os benefícios de ser um Sócio do Maior de Minas. Vale lembrar que a categoria Nação Azul não dá direito a compra de ingressos. Atualmente, a Raposa conta com outras cinco categorias no programa: Tríplice Coroa, Libertadores, Brasileiro, Copa do Brasil e Cruzeiro Sempre – nesta última modalidade, o torcedor compra o ingresso pela internet.

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/////SÓCIOS PELO MUNDO

Esta seção é especialmente voltada ao Sócio do Futebol que carrega o amor pelo time em vários cantos do mundo!

Gustavo Mesquita da Silveira Caloundra - Austrália

Irene Maria Cialdrete Veneza - Itália

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Itamar Pereira Rezende Salar de Uyuni - Bolívia

André Porto Lima Buenos Aires - Argentina

Israel Borges de Carvalho Cabo da Boa Esperança - África do Sul

Ricardo Augusto Pagani Moreira Muralha da China - Pequim

Sérgio Alves Neves Madri - Espanha ABRIL / MAIO 2014 71


/////TORCEDOR SANGUE AZUL

L U Z A E U NG A S R O D CE

TOR

Eduardo Faria Cirilo

Walter Lucas Drummond 72 Revista do Cruzeiro 路 n潞 124


Renê Guimarães Ferreira Neto e Maria Luiza Ferreira Mateus

João Pedro

imões

raga S Sofia Assis B

Júlia Vargas

Quer participar? Mande a foto de seu torcedor-mirim para: revista@clube.cruzeiro.com.br ABRIL / MAIO 2014 73


///// O MEU CRUZEIRO

Uma vida dedicada ao maior do mundo Por José Francisco Lemos Filho* Sou Palestrino desde os meus 7 anos de idade. Morava pertinho do Estádio do Barro Preto. O primeiro jogo a que assisti foi um Palestra Itália 3 x 3 Atlético-MG, em 1937. Para entrar no campo em dias de jogos, eu tinha de pular o muro, me esconder debaixo das arquibancadas. Ou carregar a chuteira dos jogadores, assim tinha o direito de entrar no estádio.

Imaginar minha vida sem o Cruzeiro é difícil. Ocupando cargos na diretoria já são 64 anos, mas se contarmos minha época de jogador, são 71. Fui o diretor de basquete, o vice-presidente, o presidente e o conselheiro mais novo da história do Clube. Hoje, sou o conselheiro e o sócio mais antigo.

Assistia aos jogos e sofria demais. Isso criou um amor, uma vontade de fazer com que o time melhorasse. Aos 16 anos, quando o Palestra já era Cruzeiro, joguei no time júnior do Clube e também passei a ser Sócio. Eu era um jogador voluntarioso, mas não era um craque. Aos 20, já como diretor, passei a ser responsável pelo basquete. Pelo êxito que eu e meus companheiros tivemos, fui convidado para ser vice-presidente de esportes especializados. Eram três vices – de futebol, de finanças e eu. Ganhamos muitos títulos, fomos campeões em ciclismo, natação, vôlei, atletismo, basquete.

Vivi grandes momentos no Cruzeiro. Vencer o Campeonato Mineiro de 1959, ser campeão brasileiro em 1966 foi espetacular – esses dois jogos contra o Santos são quase indescritíveis. Depois veio a Libertadores de 1976, com a decisão no Chile e aquele gol do Joãozinho. As inaugurações das sedes também são lembranças que me emocionam muito. É uma soma de coisas, não é só o futebol. Ganhar um campeonato de basquete, de ciclismo, isso tudo sempre me emocionava.

Em 1954, o Cruzeiro passava por uma crise enorme, queriam acabar com o futebol. Ninguém queria ser presidente. Os conselheiros me pressionaram para que eu assumisse. E eu tinha apenas 24 anos. Ocupei o cargo até organizar a situação e, um ano e pouco depois, deixei a presidência e promovi uma eleição. Havia dois candidatos resultados 24 a 23. O Clube já estava normalizado. A construção da sede do Barro Preto, nos anos 1950, foi o primeiro grande passo para a emancipação do Cruzeiro. De duzentos sócios passamos a ter dois mil. Isso nos dava condições de manter o plantel de jogadores. A partir da década de 1960, dominamos o futebol mineiro. Tivemos os timaços de 1960, 1966... Nossa situação financeira mudou, a torcida cresceu muito e o Cruzeiro também. Sem dúvida nenhuma, tornou-se um dos maiores clubes do Brasil. Temos uma estrutura fabulosa. Participei das obras de construção da Sede do Barro Preto, da Sede Campestre, da Sede Administrativa, das Tocas I e II. Fui o coordenador de todas essas obras, exceto da Toca I, da qual participei e ajudei.

Este é um breve resumo da minha participação na história do Cruzeiro e da visão que eu tinha para que ele se tornasse grande. Eu tinha certeza de que podia ajudar. E hoje continuo aqui, graças a Deus. Enquanto puder colaborar, me sentir útil e os dirigentes acharem que posso ajudar, vou continuar. O Cruzeiro faz parte da minha vida, assim como a minha família, como a minha profissão de engenheiro. Pude contribuir muito para que o Cruzeiro se tornasse o que se tornou hoje. Tive visão de como tinha de ser, mas não pensava que ia chegar tão longe assim. Harmonizei a dedicação ao Cruzeiro com a minha profissão e a minha família.

* José Francisco Lemos Filho é vicepresidente administrativo do Clube.

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