Matéria Dirceu Lopes - Revista do Cruzeiro (fevereiro/março 2014)

Page 1

/////ESPECIAL LIBERTADORES

Era uma vez

na América Dirceu Lopes relembra a primeira participação do Cruzeiro na Copa Libertadores. Em 1967, o time da Toca começou a colocar seu nome na história da competição mais importante do continente Por Bruno Mateus

Mil novecentos e sessenta e sete foi um ano pra lá de agitado no mundo inteiro. Efervescência política, revoluções no comportamento e nas artes. Os Beatles lançaram seu mítico álbum Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, Che Guevara foi assassinado nas serras da Bolívia, o movimento hippie espalhava a mensagem de paz e amor e a Guerra do Vietnã continuava contabilizando vítimas para todos os envolvidos. No Brasil, os festivais internacionais da canção, a Tropicália e a tensa atmosfera de repressão e medo eram o cenário de um país que vivia sob o comando de uma ditadura militar.

26 Revista do Cruzeiro · nº 123


Mil novecentos e sessenta e sete também marcou a história do Cruzeiro, pois foi naquele ano que o Clube disputou pela primeira vez a Copa Libertadores da América, o mais importante torneio do continente. E logo como cartão de apresentação, o time celeste fez bonito, chegou a semifinal e mostrou que a fama de time copeiro não é à toa.

Aconteceu em 1967... Credenciado pela vitória histórica diante do Santos na Taça Brasil de 1966, o Cruzeiro embarcou para sua primeira competição internacional oficial. Dirceu Lopes foi um dos jogadores que defenderam a camisa estrelada na estreia do Cruzeiro na competição. Disputada pelos campeões e vices de 10 países (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela), a Copa Libertadores, no entanto, não contou com 20 times, já que o Santos, vice-campeão brasileiro de 1966, optou por não jogar o torneio.

Na fase de grupos, o time celeste teve a companhia de quatro times: os venezuelanos Deportivo Italia e Deportivo Galicia e os peruanos Sport Boys e Universitario. Com partidas de ida e volta contra todos os adversários, o Cruzeiro foi soberano: foram sete vitórias e um empate, 22 gols marcados e apenas seis sofridos, o que nos valeu a melhor defesa da competição na primeira fase. Na etapa seguinte, os dois melhores de cada grupo foram divididos em duas chaves de três equipes, e o Peñarol, campeão da edição de 1966, entrou na disputa. O time uruguaio então se juntou ao conterrâneo Nacional e ao Cruzeiro em um dos dois grupos e a semifinal estava armada. Dirceu Lopes se lembra bem dos confrontos contra os hermanos No Mineirão, duas vitórias apertadas – 2 a 1 diante do Nacional e 1 a 0 sobre o Peñarol. Na terra dos adversários, a história foi diferente, como Dirceu se recorda: “Lembro os dois jogos que

perdemos no Uruguai. Fomos roubados lá dentro pela arbitragem. Esses dois jogos são inesquecíveis também pela condição do gramado, era um lamaçal. Jogar no Uruguai era complicado”. Formado pelos mesmos jovens craques que pararam o timaço de Pelé um ano antes, na Libertadores de 1967 o Cruzeiro, além de vencer os adversários dento de campo, tinha de superar os desafios impostos pela catimba, para dizer o mínimo, dos nossos hermanos. Os comandados de Aírton Moreira foram guerreiros e enfrentaram tudo e todos de peito aberto. “Naquela época não tinha a tecnologia que temos hoje, não tinha transmissão pela TV. Os times tinham muita maldade e nós, muito jovens, só nos preocupávamos em jogar futebol. Os argentinos e uruguaios jogavam o antifutebol. Cusparada, soco na cara, era impressionante”, relembra Dirceu Lopes, que marcou quatro gols em 10 partidas. “E ainda não tinha exame antidoping”, completa.

Extremamente habilidoso, quando Dirceu Lopes não era caçado em campo, o camisa 10 deixava os adversários caídos no chão

Fotos: Cruzeiro/Arquivo

Fevereiro/março 2014

27


menta o ex-camisa 10 cruzeirense.

De roupa nova em busca do tri

Foi com a conquista da Taça Brasil de 1966 que o Cruzeiro garantiu presença em sua primeira Copa Libertadores

A campanha da Raposa na Copa Libertadores de 1967 foi digna de uma equipe acostumada a jogar competições internacionais. Embora fosse sua primeira participação, o Cruzeiro avançou até a semifinal do torneio e encerrou a disputa com números bastante respeitáveis: 12 jogos, nove vitórias, um empate e duas derrotas; 27 gols a favor, 12 contra. Gols, vitórias, sangue e suor que escreveram os primeiros capítulos da história de um time que cruzou as montanhas de Minas para ser conhecido e respeitado em todo o continente como La Bestia Negra.

Quarenta e sete anos depois Em 2014, a Raposa voltou à disputa continental de olho no tricampeonato. O ídolo celeste acredita que a equipe comandada por Marcelo Oliveira tem totais condições de repetir os títulos de 1976 e 1997. “O Cruzeiro tem que repetir o futebol que jogou no ano passado, que até lembrava em 28 Revista do Cruzeiro · nº 123

algumas coisas o time de 1966. O caminho é esse, jogar o futebol do ano passado”, afirma Dirceu Lopes, um dos maiores jogadores da gloriosa história do Cruzeiro Esporte Clube. Quarenta e sete anos depois de pisar pela primeira vez em campos sul-americanos, o ex-jogador acompanhou incrédulo a derrota na estreia celeste da competição. Não pelo resultado, que é coisa do esporte. Mas o que espantou um dos maiores craques da história da Raposa foram os atos de racismo contra o jogador Tinga. Toda vez que o meia tocava na bola, a torcida, numa demonstração reprovável de intolerância e preconceito, imitava sons de macaco. “Esse fato me deixou muito chateado. Tive o prazer de conhecer o Tinga, é um cara diferenciado. Todas as vezes em que vou à Toca, ele me dá muita atenção, me trata bem. Fiquei revoltado com o que aconteceu. É estarrecedor ver isso na época em que estamos”, la-

O Cruzeiro lançou, no início de fevereiro, a camisa que será usada exclusivamente na Copa Libertadores deste ano. Em mais uma ação inovadora do departamento de marketing do Clube, os guerreiros celestes já mostram espírito de luta necessário para conquistar o título e chegaram à cerimônia, realizada na Toca da Raposa II, em um caminhão do exército. “A apresentação do uniforme para a Libertadores é uma alusão ao fato de que nossos jogadores são valentes, guerreiros e entram em campo para ganhar todas as partidas”, comentou o presidente celeste, Gilvan de Pinho Tavares. O novo uniforme apresenta detalhes que remetem à camisa da campanha de 1976, quando a Raposa sagrou-se campeã pela primeira vez. O mandatário celeste espera que o Cruzeiro comemore o título da Libertadores pela terceira vez. “O novo uniforme lembra, e muito, o que foi utilizado pelos nossos guerreiros campeões em 1976. Sei que nossos atletas vão honrar essa camisa para que possamos conquistar de novo o título, que é um sonho da torcida doAlves/Light Cruzeiro”, Washington Press Washington Alves/Light Press destacou.


#WINFROMWITHIN


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.