Rickson Gracie

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PERFIL

se agarra aos ensinamentos das gerações passadas de sua família para resgatar, no jiu-jitsu, a filosofia e o desenvolvimento puro da arte marcial: “O respeito, a força interior. Não quero levar o cara ao pódio, mas fazê-lo se sentir bem. Acho mais relevante a doutrina do que propriamente se sentir um campeão no tatame”. Hoje, o Mestre, como é chamado, não quer nem saber de competição. Ele, que já é avô, mora no Rio, onde recebeu a Ragga, com a mulher e quatro cachorros. Dono de uma tranquilidade nirvânica, nem de longe parece ser o cara que finalizava japoneses, americanos e quem viesse pela frente. Pega onda, promove seminários e dá aulas particulares. Ser fiel às suas referências agora é o maior desafio de Rickson Gracie.

MAIOR NOME DO CLÃ GRACIE, RICKSON, O LUTADOR INVICTO, BUSCA MOTIVAÇÃO NO RESGATE DA FILOSOFIA E DOS ENSINAMENTOS DO JIU-JITSU. O HOMEM QUE TREINOU CHUCK NORRIS AGORA VIVE, SABIAMENTE, DIA APÓS DIA, SEM SE PREOCUPAR COM O FUTURO por Bruno Mateus fotos Bruno Senna Ele nunca gostou de esportes coletivos e com o sobrenome que tem, a história não poderia ter sido muito diferente. Enquanto as outras crianças sonhavam em repetir as jogadas de Pelé, Rickson Gracie, com apenas 6 anos, era iniciado pelo pai na arte do jiu-jitsu. Mas o que ninguém podia apostar é que ele seria o representante mais vencedor da família que popularizou a modalidade no Brasil e no mundo e carrega a honra e a responsabilidade de ser a referência maior do esporte. Terceiro filho — de um total de nove — e caçula do primeiro casamento de Hélio Gracie, Rickson tornou-se uma lenda viva das artes marciais e um dos maiores lutadores da história. Nos seus 20 anos de profissionalismo, nunca deixou que o adversário sentisse o gosto da vitória. Em 460 lutas, venceu todas. A primeira delas, um combate histórico com Rei Zulu, outro mítico lutador. Se o esporte só lhe trouxe glórias, a vida se encarregou de aplicar no vencedor um duro golpe: a morte do filho Rockson, então com 19 anos, em 2001, época em que eles moravam nos Estados Unidos. Sem dúvida nenhuma, a maior porrada que já levou. Reverenciado no Japão, Rickson lançou, no mês passado, na terra do sol nascente, “um livro filosófico de autoajuda”, como ele mesmo define, ainda sem previsão para chegar ao Brasil. “Falo muito de conquistas, estratégia, coragem, amor, perda e amizade.” Após uma longa temporada de 20 anos em Los Angeles, onde mantém uma academia administrada por Kron, um de seus três filhos, em 2006, Rickson voltou ao Brasil, país que faz tão bem ao seu espírito. Dez anos depois de sua última luta profissional e “sem a mínima chance de voltar”, Rickson, como um mestre que sabe com clareza qual é a sua missão,

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Agora são 11h27. O que você já fez? Como é sua rotina?

PROCURO SEMPRE ORGANIZAR minha mente, meu físico e meu espírito antes de fazer as minhas tarefas do dia. A primeira é comigo mesmo. Então, acordo por volta de 7h, faço uma boa refeição, que é geralmente um café com torrada e queijo, uma coisa mais leve. Duas horas e meia depois, faço outra refeição à base de frutas e vou fazendo até completar seis refeições ao longo do dia, pelo menos. A parte da manhã reservo para fazer um bom alongamento, pegar onda, fazer exercícios. A partir do meio-dia, tenho aulas ou faço algumas reuniões. O meu “business day” começa por volta de meio-dia, 13h, inclusive porque, morando na Barra, qualquer coisa que você tenha que fazer na Zona Sul na hora do rush é terrível, então vou para lá na hora do almoço e volto antes do rush. E os treinos?

NÃO TENHO mais uma rotina de treino, porque quando decidi me aposentar o treinamento diminuiu totalmente. Agora, estou focado no que acredito e essa é a nova motivação da minha vida: o resgate de uma filosofia, de um componente que está meio adormecido dentro das artes marciais que realmente favorece a sociedade, a comunidade. Esse resgate chamo de força invisível, a atitude do guerreiro da paz. Esses são os componentes que, hoje, me dão motivação para continuar envolvido com o jiu-jitsu e tentar passar uma filosofia que engrandece o ser humano, independente se ele está envolvido em competições ou não. Encaro a minha missão hoje como algo muito maior do que a minha própria célula de alunos. Vai além de ser Gracie. Você tem um histórico de 460 lutas e 460 vitórias. Pode-se dizer que você


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