Performance Sustentável - Um estudo de caso no Pecém

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

PERFORMANCE SUSTENTÁVEL Um estudo de caso no Pecém

por

BRUNO DE PAIVA Y RAVIOLO sob orientação do

PROF. DR. DANIEL RIBEIRO CARDOSO


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

R211p

Raviolo, Bruno. Performance Sustentável: um estudo de caso no Pecém / Bruno Raviolo. – 2017. 119 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, , Fortaleza, 2017. Orientação: Prof. Dr. Daniel Ribeiro Cardoso.

1. Espaço de Escritório. 2. Conforto Ambiental. 3. Tipologia Arquitetônica. 4. Simulação Computacional. 5. Eficiência Energética. I. Título. CDD


BRUNO DE PAIVA Y RAVIOLO

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Daniel Ribeiro Cardoso (orientador) Universidade Federal do Cearรก

Prof. Dr. Renan Cid Varela Leite Universidade Federal do Cearรก

Profa. Dra. Maria Gabriela Caffarena Celani Universidade Estadual de Campinas

20 DE JULHO DE 2017


AGRADECIMENTOS


FORAM MUITAS as experiências vividas durante todos estes anos na universidade: monitorias, pesquisas, participação no centro acadêmico, grupos de estudo, encontros e congressos. De certa maneira todas elas contribuíram para este trabalho final, proporcionando oportunidades de estudo em diversos campos que acabaram por convergir. Sem dúvidas desde a mais singela das monitorias até as pesquisas das quais participei se mostraram fundamentais no desenvolvimento desta tarefa, o que em um momento de redução de investimentos na educação superior acaba levantando uma série de incertezas a respeito das oportunidades que o nosso ensino vai oferecer. Dedico a realização do trabalho final as muitas amizades que fiz durante meu curso. À minha querida turma 2009.1, excepcional em todos os sentidos.

Aos amigos que foram para suas ilhas, seus sertões, seguindo os caminhos da vida. Aos companheiros de copo, ao gato do muro. Cada qual com seu rumo. Também dedico a finalização desta etapa ao contínuo suporte de minha família, que sempre manteve constante e irrestrito apoio, faça chuva ou faça sol. Menciono as reflexões feitas junto ao meu amigo e orientador, Daniel, ao longo do percurso acadêmico, considerando-as contribuições essenciais para a produção deste trabalho final. Por fim, que fique marcado o intuito de que este trabalho possa, em algum caso e em algum dia, inspirar alguém a buscar algo mais, a não se conformar com as limitações contextuais, a propor as melhores soluções possíveis para ajudar a transformar nossa realidade.


SUMÁRIO


APRESENTAÇÃO 10 1

REPENSAR O SUSTENTÁVEL

12

2

ARQUITETURA E PERFORMANCE

22

3

O PAPEL DA TIPOLOGIA NO PENSAMENTO COMPUTACIONAL

38

4

ESPAÇO DE TRABALHO

58

5

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

80

CONSIDERAÇÕES FINAIS

114

BIBLIOGRAFIA 116


APRESENTAÇÃO


O QUE SE PRETENDE apresentar neste trabalho é a construção de um pensamento que envolve os temas da sustentabilidade, a exploração do conceito de performance e a emergência de uma tipologia computacional. Seu rebatimento direto é o projeto e a construção da sede administrativa da Energia Pecém, uma empresa geradora de energia instalada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), no Ceará. A viabilização desta proposta se dá através de um projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) realizado dentro do departamento de Arquitetura e Urbanismo e Design, na Universidade Federal do Ceará. Através da da lei 9.991 (2000), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) obriga que geradoras e distribuidoras de energia destaquem parte de seus ganhos e apliquem em projetos de P&D.

A realização da edificação é uma chance ímpar de articular o pensamento construído em um projeto de arquitetura como possibilitar a sua materialização, demonstrando assim a viabilidade do conceito em um contexto tecnológico limitado. Também foram enfrentadas dificuldades durante a execução, incluindo as alterações corriqueiras durante a obra. O processo de projeto se deu a partir de práticas colaborativas entre os integrantes da equipe do projeto de pesquisa, com determinados membros sendo destacados para as atividades mais técnicas de simulação e programação computacional. Este trabalho, então, informa como ocorreu a concepção da arquitetura e se aprofunda nas atividades pertinentes ao autor, como a simulação computacional de dinâmica dos fluidos durante o processo de projeto.


REPENSAR O SUSTENTÁVEL CAPÍTULO 1


HOJE CONSIDERADA uma urgência global, o debate sobre a sustentabilidade de nossas ações vem ganhando importância ao longo de várias décadas. Em face às crises ambientais que vem se intensificando continuamente, o paradigma arquitetônico tradicional precisa ser reorientado para valores adequados ao nosso contexto atual, marcando uma ruptura com a produção feita até então. Diferentes abordagens têm emergido na construção civil para lidar com o problema especialmente através de práticas mercadológicas como etiquetagens, normalmente de caráter meramente descritivo. Contudo, uma leitura do histórico propicia o entendimento de que é necessário uma profunda mudança que precisa de alcance estrutural, que, no caso, virá da própria disciplina de Arquitetura. Um

apanhado de visões de diferentes arquitetos revela possíveis caminhos para propor edificações e cidades mais sustentáveis, dentre os quais são explorados especialmente inovações metodológicas no processo de projeto, capazes de render saltos de qualidade; a transformação do paradigma vigente para uma abordagem pautada por uma integração ambiental, no qual a arquitetura é entendida não como um objeto isolado, mas um sistema inserido em um ambiente; e por último explorações estéticas, uma vez que podemos entender o edifício como o produto de um determinado ambiente. Ao adotar estas diretrizes o desenvolvimento de um projeto estará alinhado com valores sustentáveis.


O QUE É UM PROJETO SUSTENTÁVEL? A emergência da discussão sobre a sustentabilidade se inicia com os desdobramentos causados pelas mudanças geopolíticas e econômicas durante a década de 80, quando a implosão do sistema político comunista permitiu a consolidação do processo de globalização do capitalismo (MALLGRAVE, GOODMAN, 2011). Com isso formaram-se novos centros de riqueza espalhados pela Ásia, América do Sul, Leste Europeu e Oriente Médio, onde o ciclo de prosperidade levou ao surgimento de novas áreas urbanas, ao investimento maciço em grandes programas de construção e a uma péssima qualidade ambiental nas cidades. Como conseqüência do crescimento econômico, o ritmo do consumo de recursos e sua conseqüente emissão de carbono atingiu níveis jamais vistos1. Neste cenário, a humanidade já conseguiu alcançar aumentar o nível de CO2 de 280 ppm, nível antes da revolução industrial, para a marca de 400 ppm - nível que se aproxima de eras pré-históricas na qual a Terra possuía temperaturas bem mais elevadas. Esta situação instável de consumo desenfreado de recursos inicia uma fase de rompimento na sociedade enquanto entendida como sistema, abandonando assim a sua metaestabilidade advinda de um modelo consumista e não-sustentável e passando a buscar novas formas de obter permanência, o que configura uma expansão hiperbólica. (VIEIRA, 2008) Assim, nesta fase de discussões e alternativas, o debate sobre a sustentabilidade como novo atrator social renasce de seu estado dormente desde a década de 60, fazendo com que diversas organizações internacionais somem esforços para definir o desenvolvimento sustentável, chegando a uma síntese publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma atividade que “lida com as necessidades atuais sem comprometer a capacidades das futuras gerações de lidar com suas próprias necessidades”2 (ONU, 1987 apud MALLGRAVE, GOODMAN, 2011, p. 217). Através dessa ótica antropocêntrica pode-se entender, então, que “a sustentabilidade não trata de salvar o mundo, mas sim a nós mesmos e alcançar a maior longevidade possível para nossa civilização.”3 (RAMAN, 2005, p.43). Assim, ao contrário da imagem reducionista da minimização tanto do consumo energético como da emissão de carbono, a sustentabilidade se desdobra em cinco diferentes aspectos, se revelando um campo muito mais amplo e profundo, sendo o social, econômico, ecológico, espacial e cultural (PROCEL Edifica, 2011). Quando o sistema social adentra na fase de preparação, passa a se organizar, identificando as reservas potenciais para a próxima fase de expansão. Acerca da 1  Como exemplo, a China consumiu em um período de três anos, compreendido entre 2011 a 2013, 6,6 gigatoneladas de concreto. Esta quantia foi superior ao que os Estados Unidos consumiu em cem anos, de 1901 aos anos 2000: 4,5 gigatoneladas (RHETT, 2014; McCARTHY, 2014). Para cada tonelada de concreto produzido, até 410kg de CO2 são liberados na atmosfera, e a estimativa é que o cimento seja responsável pela emissão de 5% das emissões globais de dióxido de carbono (ROAF et al, 2007). 2  Do original: “(...) meets the needs of the present without compromising the ability of future generations to meet their own needs.” 3  Do original: “Therefore, sustainability is not about saving the world — it is about saving ourselves and achieving as much longevity as possible for our civilization.”


Sustentabilidade isto se traduz através de uma série de tratados, assinados ao buscar uma redução da emissão de gases poluentes, mas que por diversas razões políticas e econômicas obtiveram sucesso muito limitado. Em contraste com a frustração destas iniciativas globais, contudo, se contrapõe uma perspectiva ecológica adotada diretamente no planejamento de arquitetura verde, que busca operar sob uma lógica de mercado para valorizar a sustentabilidade das edificações, mas que resulta, também, na sua utilização como canal na competição do livre mercado capitalista. Dentre alguns exemplos, temos o Green Building Programme, originário da União Européia; BREEAM, do Reino Unido; Green Star, da Austrália; CASBEE, do Japão; o LEED, dos Estados Unidos; o DGNB, da Alemanha; o ACQUA, do Brasil, dentre outros. Estes programas produzem selos que têm como função certificar, em certas dimensões, a sustentabilidade das edificações, organizando processos de avaliação que pedem uma documentação detalhada de várias disciplinas, para então aferir o resultado em função de critérios específicos, objetivos e individuais de cada selo. Entretanto, a definição individual da sustentabilidade varia de acordo com cada programa essencialmente por conta das distintas realidades de seus locais de origem. Neste contexto, grandes escritórios envolvidos na construção civil e com atuação global, como a ARUP, já desenvolvem seus próprios códigos para projetos sustentáveis como forma de orientar seus processos internos e de se antecipar a quaisquer regulamentações. As críticas mais contundentes à postura de etiquetagem dizem respeito à exploração de consumidores desinformados a respeito das boas práticas sustentáveis, culminando em práticas puramente mercadológica tem como finalidade agregar valor a um produto sem uma preocupação real com a sustentabilidade, como o efeito Green Wash4 e a falta de integração sistêmica da edificação com seu ambiente, enfatizando o objeto arquitetônico descontextualizado5 sem levar em consideração seu entorno. A prática dos selos sustentáveis é muito similar à operação das legislações que regulamentam a atividade da construção nas cidades: A sua natureza arbitrária pode não apresentar inteligência para o cumprimento de determinados quesitos, o que resulta em uma avaliação inflexível e desvinculada de um contexto específico; por estarem embasadas na atual prática construtiva, podem não ser capazes de reconhecer a validade de novas estratégias, propostas radicalmente diferentes do que é feito hoje em dia. Percebe-se que a necessidade de se pensar sobre uma Arquitetura sustentável já é concreta, manifestada nesta valorização social que dá origem aos selos e a estas práticas emergentes. O tema pode e deve ser debatido profundamente em qualquer área da sociedade, contudo, a grande discussão atual da sustentabilidade como necessidade para se pensar no planeta a longo prazo é recortada, aqui, no 4  Termo que designa a corrupção da parceria entre o capital da construção civil e o valor agregado pelo selo, dando margem para a criação de certificados de validade duvidosa. 5  Alguns selos internacionais mais recentes e até mesmo nacionais, como o Selo Azul da Caixa, já começam a inserir as dimensões sociais e urbanas como parâmetros de avaliação da edificação.


domínio da Arquitetura e do Urbanismo. Dentro da Teoria Geral dos Sistemas, este momento da Arquitetura caracteriza a terceira fase do Evolon: Uma expansão evolutiva intensiva (parabólica) na direção de um atrator: a sustentabilidade. Isto significa superar a atual crise que a sociedade enfrenta através da diversidade de alternativas propostas voltadas para este atrator (VIEIRA, 2008). Para trazer o assunto para dentro do campo arquitetônico, é necessário definir a sustentabilidade sob a ótica do projeto para que assim seja possível obter diretrizes que norteiem a sua reestruturação e a sua reorganização. Como parte deste processo, primeiro se apresentam questões pertinentes que, quando respondidas, fornecem objetivos claros que permitem traçar estratégias coerentes com a tipologia a ser produzida. Com base nesta estruturação, o presente trabalho tomou como base um questionário verde apresentado por Sykes (20113), no qual cinco arquitetos deram suas visões sobre arquitetura sustentável com base nas seguintes perguntas: 1. Qual é sua definição ou prática de projeto sustentável? 2. Quais são suas principais preocupações como arquiteto interessado na sustentabilidade? 3. Como você avalia o sucesso de um edifício na era “verde”? 4. De que maneira você usa a natureza como guia? Os arquitetos entrevistados foram: »» Norman Foster (Foster + Partners) »» Jan Kaplický (Future Systems) »» Richard Rogers (Rogers Stirk Harbour + Partners) »» Ken Yeang (Hamzah and Yeang) »» Thomas Herzog (Herzog + Partner) A partir das opiniões destes arquitetos, os aspectos mais relevantes apresentados nas respostas foram analisados e serviram para sintetizar princípios para o projeto, estando de acordo com o tipo arquitetônico proposto no presente trabalho, bem como com os processos tecnológico e produtivos para a viabilização da arquitetura. Os princípios se desenvolvem em axiomas , que por sua vez, no projeto, tornam-se em ações. Princípios para um projeto sustentável: 1. Racionalização sistêmica de energia 2. Exploração estética 3. Metodologia projetual


RACIONALIZAÇÃO SISTÊMICA DE ENERGIA O princípio da racionalização de energia é uma integração sistêmica precognizada por Ken Yeang que ocorre na intersecção entre o ambiente natural e o construído, quando nossas atividades são realizadas de maneira harmônica em relação ao uso racionalizado da água, uso de energia, produção de resíduos, et.c (YEANG apud SIKES, 2013). Esta racionalização toma forma através de um gerenciamento de máximos e mínimos: máxima eficiência energética no desempenho de atividades, mínimo conteúdo energético dos recursos investidos para a realização das atividades (PROCEL Edifica, 2011). Para isso, o uso sistêmico e racional de energia significa estabelecer conexões funcionais com o meio-ambiente através de uma integralização temporal e física. No campo da Arquitetura, a edificação precisa despender o mínimo de energia possível para manter o ambiente necessário para as funções humanas previstas em projeto, precisa também aumentar ao máximo a eficiência dos seus subsistemas através de seus dispositivos e materiais, minimizando desta maneira a sua perda operacional. Assim, a edificação deve captar os recursos naturais disponíveis para diminuir seu esforço energético, se integrando à biosfera através de analogias naturais para alcançar este objetivo, sem bordas nem sobressaltos. Uma edificação sustentável poderá, dependendo da caracterização climática de seu ambiente, evitar ganhar energia térmica nos dias mais quentes do ano; evitar perder energia térmica nos dias mais frios; captar ventos para alimentar seus processos internos de resfriamento; utilizar ao máximo a iluminação natural de uma maneira adequada; reciclar resíduos e captar água das chuvas, e no que extrapolar os limites das técnicas passivas de conforto ambiental, resolver de maneira eficiente e inteligente através da automação de seus mecanismos de controle. Como diretriz, a integração entre tecnologia e fontes renováveis visa co-geração de energia a partir de dispositivos integrados à edificação, bem como alcançar um alto desempenho em função da automação de seus mecanismos. Moreno (2009) expõe o diretamente o pensamento de Richard Rogers: “Para os arquitetos, o desafio é desenvolver edifícios que incorporem tecnologias sustentáveis, e dessa forma reduzam a sua poluição e custos de funcionamento.” A co-geração de energia a partir de recursos naturais também é uma estratégia para reduzir o consumo energético, tendo como formas mais comuns o uso de painéis fotovoltáicos para aproveitamento da energia solar ou de geradores eólicos para captar a energia cinética dos ventos, energia esta que aumenta exponencialmente de acordo com a altitude da edificação. Ambas as formas de energia são limpas, com mínimo impacto possível no ambiente urbano, permitindo uma co-geração off-grid que, em certos casos, pode até mesmo gerar receita ao reverter a energia excedente para a rede elétrica. Dentro de uma ótica racional estas duas estratégias devem estar otimizadas em função de suas especificidades: Tanto pela trajetória solar como pela força dos ventos incidentes.


EXPLORAÇÃO ESTÉTICA Uma exploração em busca de novas estética se torna um quesito fundamental para um projeto que pretende ser sustentável, tendo em vista que este paradigma social precisa encontrar uma forma de expressão adequada a seus valores e assim irradiar uma transformação na sociedade. Como elaborado por Vidler (2013), hoje se torna clara a superação da dicotomia Forma x Função, discussão com origem na adoção da linguagem abstracionista do Modernismo e que resultou em um amálgama formal entre arquitetura e escultura. Este entrelaçamento deu origem a novas vertentes de expressão, que hoje buscam, ainda segundo Vidler (2013, p.247): “[...] reconstruir os fundamentos da disciplina, não tanto em termos singulares, mas através de conceitos mais amplos que reconheçam um campo ampliado, enquanto procuram superar os dualismos problemáticos que atormentaram a arquitetura por mais de um século [...]”. Dentro desta situação, os novos desafios propostos pelo desempenho da edificação fundem beleza e design em novas categorias de importância para a arquitetura. A atual produção ainda está em processo de transformação de um paradigma industrial para um novo paradigma sustentável baseado no desempenho, onde até o presente momento, salvo um pequeno número crescente de obras de exceção, a produção dita verde não passa de protótipos, são apenas tentativas de sustentabilidade (KAPLICKÝ apud SYKES, 2013). A preocupação estética é fundamental para a afirmação dos novos valores da sociedade, reiterando a experiência gnosiológica da obra de arte através da apreensão do observador. (GIANNETTI, 2006). Como afirma Herzog (apud SYKES, 2013): “[...] A beleza e o design de um edifício são tão importantes quanto sua função e usabilidade. Somente edifícios em que se prezou pela beleza contribuem de maneira sustentável para nosso ambiente construído e serão considerados dignos de preservação.” Também não deve se deve ter como amarras a produção passada como limitantes de propostas, como foi exemplificado através do caso do centro Georges Pompidou por Rogers (2001, p. 80): “É necessário desafiar a estética tradicional baseada em edifícios que se adaptam aos adjacentes. [...] Será que precisamos nos proteger contra o choque do novo como uma condição sine qua non?” Pela opinião de Yeang (2007), nós devemos atentar tanto para o ambiente natural como para o antrópico, estudando as interações e interfaces que são mediadas pela conectividade destes ambientes. Com isso, a prática projetual não se volta mais para uma obra de arte arquitetônica, mas sim para suas relações com o ambiente


natural e como os dois se comunicam - o chamado eco-design. A beleza deste novo paradigma reside essencialmente na eficiência da integração entre seus subsistemas construtivos e o meio-ambiente através não só da forma, como principalmente pelo seu funcionamento, o que Ken Yeang reitera: “Deve-se imitar a natureza, e nossos sistemas construídos devem ser ecossistemas miméticos”. Remete-se assim à eficiência das formas orgânicas encontradas na natureza, que segundo Kaplický, “em geral, (...) são muito mais eficientes que as dos homens”. Esta eficiência é justamente resultado dos complexos processos naturais que lidam com formas emergentes, descortinando assim mecanismos de otimização evolucionária. Os mecanismos citados serão discutidos posteriormente, mas já podem ser entendidos de maneira simplificada, no momento, como um método para obter um resultado próximo do ideal em função de critérios objetivos. A natureza passa a servir, então, como fonte de inspiração, informação e analogia para o projeto, uma vez que este, sob a forma de edificação, obtêm sua permanência através de uma integração adaptativa com seu ambiente. Esta simulação da inteligência natural, quando interpretada na linguagem da Arquitetura, se traduz na integração cuidadosa com a condição local, através de, por exemplo, o microclima, a topografia, a hidrologia, os recursos naturais, a massa volumétrica do entorno. Estes e outros condicionantes arquitetônicos precisam ser identificados a fim de possibilitar canais de expressão estética, orientando a formalização da edificação. Torna-se imperativo uma estética que busque a harmonia entre os condicionantes do sítio e as necessidades programáticas através

de estratégias morfogenéticas, mimetizando a emergência resultante da natureza não por mero resultado formal, mas sim em essência - integralizando os subsistemas correlacionados aos condicionantes de maneira coerente e otimizada.

METODOLOGIA PROJETUAL Neste universo digital contemporâneo, a constelação de técnicas e ferramentas para os mais diversos fins é apropriada pelo artista na forma de máquinas, linguagens de programação, algoritmos, pacotes de softwares e base de dados (MACHADO, 2009), daí derivando tecnologias que hoje permitem alcançar a hiper-racionalização via processos de form-finding, processos estocásticos de otimização para objetivos multi-critério, simulações e análises de comportamento, dentre outros. O uso destas ferramentas e técnicas na forma de um conjunto permite lidar coerentemente com um volume cada vez maior de dados de maneira interconectada, desembocando no se poderia de chamar um projeto inteligente, que, se voltado para a sustentabilidade, “direciona os benefícios e vantagens do projeto ambiental passivo integrado por meio de orientação, forma e da organização da edificação”. Segundo Yeang (2007), “Eco-design é o projeto de tal maneira que o ambiente antrópico ou o nosso método de design se integra de modo benigmo e sem rupturas com o ambiente natural”6, integralização esta que ocorre de maneira física, sistêmica e temporal. Esta infusão de informação no projeto mediante o uso deste conjunto de ações acaba por 6  Do original: “Eco-design is designing in such a way that the human built environment or our design system integrates benignly and seamlessly with the natural environment”


agregar valor através do capital intelectual (ROGERS, 2001), dando um salto qualitativo no produto final - se tornando mais sustentável ao cumprir o objetivo proposto por Yeang especialmente no campo da integração física. Para a metodologia ser capaz de agregar tamanho volume de dados no projeto, ela precisa ser aberta ao empréstimo de diversas técnicas, relações e disposições, as “pequenas” verdades efêmeras, a priori consideradas apenas falatório com origem de fonte aberta. Speaks (2013) enxerga que a inteligência de projeto é caracterizada pelo seu pragmatismo ao reunir estas verdades sob a forma de um conjunto que possibilita a inovação mesmo diante de um cenário de constantes incertezas, inovação esta que é a chave para o trunfo na atual sociedade - situação que Graafland (2013) aponta como a acumulação de capital flexível e de uma organização adaptável, qualidades decorrentes de um processo de superação do modelo fordista de produção. Esta inovação denota a capacidade de se adaptar e que, ao criar conhecimento pela prática, as ações não só provam sua validade enquanto metodologia como também configuram um corpus deleuziano no processo. É este corpo que Speaks afirma ser capaz de transformar o falatório a priori em informação confiável, em inteligência de projeto de fato. De natureza “mais empreendedora para buscar oportunidades de inovação que não podem ser previstas por nenhuma idéia, teoria ou concepção.” Speaks também afirma que “a inteligência se tornou a tônica intelectual dominante das pós-vanguardas do século XXI.” Contudo, se redobra a atenção para que a metodologia não seja esvaída de inquietação teórica como conseqüência de uma promoção de práticas profissionais flexíveis, que no fundo se relacionam com a necessidade de

sobrevivência em um mercado global ferozmente competitivo (GRAAFLAND, 2013). Este corpus mencionado por Speaks e que é formado por um conjunto de ações, sendo transposto para um ambiente de modelagem digital voltado para projetos de arquitetura, se torna instrumento para novas técnicas de representação que permitem, segundo Vidler (2013, p. 251), ”[...] assimilar, integrar e, basicamente, constituir todo tipo de dados, de maneira que as conseqüências de decisões programáticas possam ser avaliadas em termos de alternativas de projeto.” Transcendendo uma mera exuberância formalista ou obcecada pelo novo e passando a ser capaz de configurar argumentos formais para lidar com a realidade, propondo então “[...] intervenções políticas, sociais e tecnológicas, que, por sua vez, incluem a crítica de sempre ao mundo dos negócios.” (VIDLER, p.251) Desta maneira, a metodologia não é subvertida por uma obsessão pela instrumentalidade denunciada através de uma “[...] reflexividade estética insípida, impulsionada por softwares.” mas sim remetendo à infusão de informação voltada para a sustentabilidade proposta por Rogers (2005). A contribuição metodológica para um projeto sustentável é agregar inteligência à etapa de concepção, inovando ao reunir em um conjunto específico ações e ferramentas dispersas, através das quais alcança os objetivos necessários via simulações de cenários. A complexidade resultante da metodologia não reside necessariamente na geometria do artefato, que pode ser simples em si; mas sim em sua concepção, por ser um processo pragmático aberto à quaisquer informações disponíveis que possam se provar úteis.



ARQUITETURA E PERFORMANCE CAPÍTULO 2


A DISCUSSÃO SOBRE Performance na Arquitetura vem ganhando força pelo discurso ecológico da sustentabilidade característico da contemporaneidade, no qual o realinhamento de valores sociais passa a enfatizar a eficiência do consumo de recursos durante as etapas de projeto e operação da edificação construída. Neste contexto, o termo performance vem sendo resignificado a partir de visões que orbitam entre as disciplinas de engenharia e arquitetura, mas que se distanciam da sua origem enquanto expressão artística, se tornando sinônimo apenas de pura eficiência, o desempenho. O capítulo propõe uma crítica arquitetônica via análise dos valores originais da performance enquanto movimento artístico independente, associada a linhas teóricas na Arquitetura que propiciem uma relação dialética. Para tanto, uma revisão bibliográfica explora as origens da performance, identificando e transportando suas qualidades, bem como elencando as linhas teóricas na Arquitetura que apontem direções para sintetizar seus valores dentro de um repertório formal arquitetônico. A transdução dos valores da performance para a arquitetura extrapola os critérios físicos, objetivos, e entra no campo dos critérios sociais. Juntos, estes critérios contextuais oriundos do entorno atuam sobre a concepção do

objeto através de um campo ambiental, que confronta o tradicional emprego de tipologias arquitetônicas enquanto instrumento projetual. Neste encontro, o tipo é conformado de acordo com sua posição no campo, produzindo um artefato voltado para a performance. Portanto, como forma de compreender o ambiente e sintetizar uma arquitetura performática voltada para além dos aspectos descritivos físicos, os valores da Performance são identificados e transduzidos para a Arquitetura, com ênfase na integração entre o homem, suas atividades desempenhadas, e o espaço arquitetônico. Ocorre que para mapear as forças ambientais é necessário primeiro analisá-las isoladamente, o que, principalmente para a categoria de forças físicas, só é possível mediante simulações computacionais. O resultado destas análises gera um grande volume de informação que apresenta um alto grau de inter-relação, resultando em um crescendo de complexidade no ato de projetar. Consequentemente, também é levantada a discussão sobre a atual fratura metodológica causada pela complexidade informacional, se fazendo necessário mediá-las através de ferramentas computacionais de representação paramétrica que garantam a coerência máxima com seu contexto ambiental.


Fig. 1. A action painting de Jackson Pollock. Fonte: Wikimedia.org

ORIGEM As raízes da performatividade na arte vem desde as décadas de 50 e 60, sendo vista por Cohen (2013) como uma evolução dinâmico-espacial das artes plásticas ao passar pela action painting, enviroments e body art. Ao mesmo tempo, a performance também dialoga com as artes cênicas através dos happenings1. Dentro do seu contexto histórico, naquele momento era articulada uma oposição vigorosa ao paradigma estético do movimento moderno, pautado ainda por princípios rígidos de pretensões universais imanentes. A reação, principalmente através da media art, foi composta por uma confluência de vários movimentos artísticos emergentes, tendo como alguns de seus maiores expoentes o grupo Fluxus, os artistas Nam June Paik e Jackson Pollock, este através de suas performances gestuais. Em uma definição mais próxima do ponto de vista historiográfico, primeiramente se entende que a performance, como definida por Broeckmann (2007, p.267), é: “(...) um termo universal para música, dança, teatro e suas variações experimentais, [e] pode ser entendido como a apresentação ao vivo não-participativa dos movimentos do corpo, imagens e sons.” Alternativamente, também se entende a performance como desempenho pela qualidade de um aparelho técnico em operação, um conceito mais alinhado com seu uso corriqueiro. 1  De acordo com Cohen (2013) os happenings podem ser entendidos como um gênero teatral anterior à performance, sendo considerado um dos mais radicais - sem estruturação de cenas, mais espontâneo e suscetível ao improviso - podendo ser realizados em qualquer local. Posteriormente, com a passagem para a performance, a entropia é reduzida - a organização aumenta em detrimento da liberdade criativa, ao passo em que há um ganho estético.

Uma importante característica da Performance é explorada por Cohen (2013), ao enxergar que ela está situada na fronteira entre artes plásticas e artes cênicas, apresentando uma linguagem híbrida com origens na primeira e finalidade para a segunda. É entendida como uma função do espaço e do tempo, no qual algo precisa estar acontecendo naquele instante, naquele local. P = f(s,t) A linha dos enviroments possui origem nas assemblages, e posteriormente evolui para as instalações, espaços multimídia precognizados por Moholy-Nagi e que freqüentemente servem de palco para as performances. Nos enviroments preponderam princípios em comum, dentre os quais podemos destacar: a ruptura com a forma fechada do objeto; o protagonismo da noção de processo; a ênfase na idéia de site-specifity e a investigação na relação entre contexto, tempo e partes componentes. (GIANNETI, 2006; COHEN, 2013) Todas estas características são cruciais para o desenvolvimento de uma pensamento que seja capaz de transportá-las para o domínio da Arquitetura durante a discussão sobre performatividade.


CONTEXTO NA ARQUITETURA Como explorado por Hensel (2013) e Braham (2005), as críticas ao Funcionalismo e Racionalismo na Arquitetura durante o final da década de 60 marcaram uma situação cujo desenvolvimento desembocou em uma pluralidade de movimentos, como o Neo-Funcionalismo, Neo-Racionalismo, Pós-Funcionalismo, etc. configurando um salto entre uma etapa de rompimento para uma de expansão do Evolon moderno (VIEIRA, 2008). Neste momento surge o embrião da performance, descendente de uma linha crítica com raízes na Teoria Geral dos Sistemas e Cibernética (GIANNETI, 2006; HENSEL, 2013). Como principal ponto defendido está a rejeição ao programa de necessidades enquanto relação estrita entre o espaço e o seu uso, contrariando a abordagem metodológica predominante com origem nos hard-systems nascidos durante a corrida espacial e que fazem parte de uma longa história sobre determinismo e funcionalismo na Arquitetura. Como dito por Neuman (2012) e Denari (2012), já no início da década de 90, após o esgotamento de um movimento pós-moderno enviesado pela semiótica e caracterizado pela apropriação de símbolos dentro de um contexto cultural, a produção arquitetônica foi marcada pelos experimentos formais viabilizados pela Revolução Digital. A ascensão desta cultura digital foi marcada pelos avanços tecnológicos das ferramentas de representação para projeto, permitindo elaborar uma variedade de novas formas impossíveis de serem desenhadas até então, imediatamente despindo a complexidade moderna do movimento Desconstrutivista do final da década de 80. As obras de alguns nomes, como Marcus Novak e Frank Gehry, mostravam que essencialmente a tradicional visão formalista se mantinha de pé, em sua plena aridez reducionista, desta vez sustentada pela novidade das formas ditas complexas. Segundo a opinião de Denari (2012, p. 29): “Uma nova maneira de criação formal havia emergido, uma que desafiava todas as ideologias predominantes não através de um diferente corpo teórico, mas através de uma técnica”.2 2  Do original: “A new regime of form-making had emerged, one that challenged all prevailing ideologies not through a different conceptual ideology but through a technical one.”

Fig. 2. Croqui do Fun Palace, projeto idealizado por Cedric Price e que incorporava os princípios da Cibernética em uma estrutura mutável, adaptativa. Fonte: JSTOR.org


Fig. 3. Museu Guggenheim de Bilbao, projetado por Frank Gehry, que aposta em uma exuberância formal proporcionada pelos avanços nas ferramentas de representação. Fonte: Wikimedia.org

Novamente, ficava clara a desconexão entre a forma e os sistemas culturais, sociais e políticos; desta vez exacerbada pelos avanços tecnológicos. Recentemente o interesse nos vínculos entre a Arquitetura e Performance veio a ser renovado por um conjunto de vários fatores, mas que dentre os quais é motivado principalmente pela crise da Sustentabilidade, como diz Kolarevic (2014, p.105) ”que se tornou uma discussão na esfera sócio-econômica”. Através deste argumento que parece já configurar uma etapa de transição do Evolon, a performance é rediscutida dentro do campo do projeto, debatendo agora o desempenho especialmente no campo da eficiência do consumo de recursos, reincorporando a essência do seu lado artístico. Esta interseccção entre os significados de ação artística e o desempenho revela o aspecto fundamental da Performance: Trata-se de um sistema de execução autoral, cuja finalidade, expressada por Broeckmann (2009, p.267), “(...) pode ser entendida como a apresentação, como tornar presentes (e perceptiveis) os resultados de uma execução”. Deve-se ressaltar então que, por conta de sua própria essência, um objeto performático precisa apresentar um claro princípio de coerência, como definido por Vieira (2008), entre sua ação de fato e sua força genética, seu intuito. Ele demonstra aquilo o que ele é, sua essência. Uma vez esclarecida a necessidade do aspecto técnico da eficiência, é importante ressaltar a visão sobre a forma performática de Neuman (2012, p.4), que: “É um componente integral e produto de processos inclusivos baseados tanto na natureza, bem como na cultura”3 e que se desenvolve através de uma subdivisão entre uma linha técnica e uma linha subjetiva que correm paralelo, existindo uma interação constante entre ambas. Transcendendo isso, o mesmo autor propõe uma relação dialética que, ao partir de parâmetros compartilhados por ambas, cria espaços mais complexos, tendo maior impacto na complexidade da forma. Caso 3  Do original: “It is an integral part and the outcome of the inclusive processes based on nature as well as culture.”


contrário, o resultado seria novamente a estética maquínica moderna, hipertrofiando agora eficiência de recursos ao invés da função ergonômica. Portanto, deve-se requalificar a forma enquanto produto otimizado advindo do uso técnico da Arquitetura, mas também incorporar os aspectos simbólicos, perceptivos e comportamentais em sua concepção.

ESSÊNCIA Pela visão de Grobman (2012), a performance é uma etapa fundamental em um processo que media o binômio moderno forma versus função, para isso comportando três classes de dimensões: empírica, cognitiva e perceptiva. Enquanto a primeira é objetiva e lida com performances individuais que são facilmente mensuráveis (informações físicas), as outras, subjetivas, são menos tangíveis e lidam com apercepções e funções mentais. Como forma de poder começar a explorar principalmente estas últimas duas dimensões, se faz necessário retroceder e formular alguns conceitos baseados em sua origem na arte. Sobre a essência da performance, tanto sua natureza (como sistema de execução autoral) bem como seu duplo significado entre uso técnico e construção cultural acabam por denotar a existência de figuras: A presença de um ator, agente que realiza o ato em si. Cada ação precisa de um lugar, um palco, local onde ocorre o ato; e por fim precisa de um tempo definido, um período temporal marcado pelo início e pelo fim do ato e conseqüentemente da performance. Durante a transdução destas figuras da Performance para a Arquitetura seus conceitos são aprofundados. Entendendo a Arquitetura como a estrutura ambiental para as ações humanas, como o resultado do planejamento dos espaços, temos com isso o lugar da performance: O local onde as ações serão desenvolvidas pelo

agente. Como diz Neuman (2012, p.33): “Arquitetura, então, constitui a plataforma sobre a qual certas ações podem ser desempenhadas [...] oferecendo uma gama de possíveis ações, algumas das quais o sujeito realiza [...]”4 Portanto, o lugar precisa apresentar as qualidades ambientais adequadas para tais ações, conciliar as relações entre as propriedades físicas de seu espaço com as necessidades das atividades que irão ser desempenhadas e propor algo além: Que comportamentos imprevistos sejam capazes de surgir espontaneamente. O ocupante da edificação torna-se o ator, o agente, desempenhando suas tarefas e ações dentro de um certo grau de imprevisibilidade - que na verdade é conseqüência de uma generalização advinda da impossibilidade de refletir suas especificidades (KOLAREVIC, 2014). Sua agenda pode ser estimada através de um programa de necessidades que deriva tanto do cliente como da tipologia, mas nunca será totalmente determinada por conta de sua natureza subjetiva. É a quarta linha citada por Hensel (2013), que se aproxima do conceito de happening, e dá ênfase nas apropriações espontâneas pelo usuário, cujo expoente é Bernard Tschumi através dos pavilhões projetados para o Parc d’la Villette - conjunto de estruturas sem uso específico.5 Tschumi e Jacques Derridá trabalharam juntos neste projeto, alcançando os pavilhões, abertos e de variadas formas, que são a obra-prima desta parceria. 4  Do original: “Architecture, therefore, constitutes the platform from which certain actions can be performed [...] offers a range of possibilities of action, some of which the subject performs [...]”. 5  Deve ser ressaltado que as estruturas propostas por Tschumi materializam o Desconstrutivismo proposto por Derridá, filósofo francês, com um pensamento que é pautado pelo rompimento da lógica binária ocidental (dentro versus fora, feio versus belo, etc).


Fig. 4. Uma das instalações projetadas por Bernard Tschumi para o Parc d’la Villette. Fonte: Wikipedia.org

O tempo para a performance na Arquitetura vem de múltiplos períodos: Desde períodos cíclicos baseados no ambiente natural (como dia e noite ou o período de um ano); até um domínio temporal aberto, que começa com a construção do prédio e termina com o final de sua vida útil. Os períodos cíclicos estão relacionados ao desempenho físico dos ambientes da Arquitetura, iluminação, temperatura, etc; já o domínio temporal aberto fala sobre como a necessidade do ator transforma o espaço ao longo do tempo para que este se adapte a suas necessidades, em suma, discute a permanência de um sistema. Por sua própria natureza estrutural, a Arquitetura voltada para a Performance deve servir como espaço auxiliar às ações possíveis de seus atores - dar suporte aos usuários que a ocupam e que necessitam de condições ambientais subjetivas para os acontecimentos que ali ocorrerão. Há de se ressaltar que mesmo com um tipo de uso previsto no uso prático, os acontecimentos podem na verdade ser os mais diversos, e mesmo quando são similares no que diz respeito ao tipo de atividade, apresentam sempre particularidades que não podem ser pré-estabelecidas e conseqüentemente não podem ser abarcadas pelas técnicas, porque como

diz Leatherbarrow (2005, p.11), “[...] planejamento é essencial para o raciocínio tecnológico. A técnica é sempre antecipatória [...]”6 Assim, um auditório pode comportar uma palestra de maneira satisfatória, mas não ser bom o suficiente para uma exibição de vídeo, ou menos ainda para uma aula que requeira interação direta entre os diversos participantes. A experiência destes atores em função do espaço para os eventos é um fenômeno - com todos os seus limites borrados que são impossíveis de serem agarrados pela objetividade da técnica. É por isso que o mesmo autor, quando leva seu pensamento à instâncias mais radicais, afirmando logo em seguida (KOLAREVIC, 2004, p.11): “[...] arquitetura performática não é o produto de tecnologias de projeto ou da edificação, nem mesmo das tecnologias digitais mais atualizadas. Tudo o que a técnica pode dar à arquitetura é uma funcionalidade melhorada.”7 Não é uma ciência determinística, e não pode ser encarada como tal. 6  Do original: “[...] foresight is essential to technological thought. Technique is always anticipatory [...] 7  Do original: “[...] performative architecture is not the outcome of building or design technology, even up-to-the-minute digital technology. All that technique can give architecture is enhanced functionality.”


FUNÇÃO, PERFORMANCE, FORMA Uma vez que a edificação age como uma interface entre o ator e o meio-ambiente natural, ela irá mediar o impacto das intempéries climáticas para equilibrar a sua qualidade ambiental, garantindo algo similar a uma homeostase em função das mudanças físicas no ambiente externo. É de se esperar que quanto melhor definidas estas forças da natureza forem através de uma caracterização climática, mais fácil seja traçar a reação da edificação. Contudo, como diz Leatherbarrow (2005, p.15) “[...] há certo grau de previsibilidade nos desenvolvimentos, resultados advindos de experiências passadas, mas nunca certeza.”8 Afirmação que se torna especialmente importante em tempos de mudanças climáticas, onde o clima apresenta cada vez mais um comportamento errático e as tradicionais tipologias começam a falhar no conforto ambiental. Por uma extensa série de fatores históricos e tecnológicos que se entrelaçam e causam uma evolução tipológica nos espaços de trabalho, o princípio da envoltória hermética advindo dos hard-systems da corrida espacial vai gradualmente se desenvolvendo na Arquitetura, tendo sido impulsionada pela confluência de vários atores, eventos e avanços tecnológicos (HENSEL, 2013). Até hoje perdura este paradigma dentro da prática da construção tradicional, ficando exacerbada a dependência crescente de sistemas artificiais no interior da edificação como desvantagem latente. Dentre as estratégias de implementação de uma arquitetura voltada para a performance, podemos explorar as a busca por uma envoltória ativa9; o paradigma do dispositivo; e uma a integração sistêmica com o meio ambiente. Como forma de reverter a direção da atual prática de isolamento, a performance propõe a integração com o meio-ambiente. Para tanto, investigando edificações sem condicionamento artificial e abordagens adaptativas para o conforto térmico10, Hensel (2013) questiona a necessidade de se regular homogeneamente o espaço, formulando então o conceito de envoltória ativa, que produz diferenciação espacial na medida em que cria áreas com diferentes qualidades ambientais através de uma estratégia de interação entre princípios físicos e a materialidade construtiva. Esta estratégia é exemplificada através de uma tipologia da arquitetura vernacular norueguesa, com peças de madeira espaçadas e permeáveis ao vento, similares às casas machão do litoral do nordeste brasileiro, que se vale do comportamento higroscópico da madeira para criar zonas de diferentes sensações de umidade. Este mesmo princípio é aplicado por Peter Zumthor no seu Pavilhão da Suíça na Expo 2000. A possibilidade de que o edifício se ajuste mesmo com determinado grau de incerteza é um princípio a ser adotado, já que sendo o próprio autor (LEATHERBARROW, 2005, p.16) “[...] edifícios ruins são aqueles que não conseguem 8  Do original: “[...] there is some degree of predictability of developments, resulting from past experiences, but never certainty.” 9  Active boundary, do original. 10  Para maiores informações, conferir a European Standard EN 15251: Allowing for Thermal Comfort in Free-Running Buildings.


Fig. 5. Pavilhão da Suíça na Expo 2000 - Pether Zumthor. Possibilidades de se pensar a performance a partir da materialidade. Fonte: Deezen. com

responder as condições inesperadas porque se voltaram firmemente à normas ambientais.”11 Tendo isso em mente, é imperativo pensar em como atender todos os vários atores dentro de seu espaço, o que Leatherbarrow (2005, p.13) reafirma: “O primeiro passo para desenvolver uma arquitetura voltada para a performance é traçar estratégias de ajustes.”12 Assim, como abordado por este autor, uma das possibilidades é o emprego de mecanismos móveis que permitam a regulação com o meio externo, o que ele chama de paradigma do dispositivo.13 A inteligência de tais dispositivos é medida pela sua capacidade de se ajustar a condições previstas e imprevistas, ou seja, sua versatilidade, independente da natureza da força que o opera ou da quantidade de estados (como aberto ou fechado) que consiga alcançar, desassociada também de qualquer grau tecnológico. A partir desta estratégia, a contextualização com exemplos na Arquitetura local remetem a dois dispositivos de controle: O cobogó e as esquadrias com venezianas móveis. O primeiro é imóvel, fixo, não apresentando qualquer capacidade operativa para se adaptar; o segundo, por sua vez, dependendo do modelo, pode apresentar diversos movimentos e normalmente dois estados para as venezianas: abertas ou fechadas. 11  Do original: “[...] bad buildings are those that cannot respond to unexpected conditions because they have been so rigidly attuned to environmental norms.” 12  Do original: “The first step in the development of a performative architecture is to outline strategies of adjustment.” 13  Device paradigm, do original


Partindo de uma integração sistêmica em vários aspectos precognizada por Yeang (2013) como forma de alcançar a sustentabilidade, a arquitetura performática requer que seus elementos constituintes estejam organizados de modo a se justapor perfeitamente de acordo com a complexidade de seu contexto ambiental, ganhando coerência. Um conceito-chave para o entendimento desta organização é a politropia topográfica, como identificada por Leatherbarrow (2005, p.16): “A topografia sobre a qual a edificação realiza sua performance é justamente o oposto do espaço: politrópica, heterogênea e concreta; suas regiões contrastam, entram em conflito e algumas vezes dialogam uma com as outras. [...] Como eventos, paisagens - sejam elas urbanas ou não - contêm potenciais ocultos, e os demonstram através de várias formas que se oferecem para a percepção.”14 Os potenciais podem ser entendidos como forças físicas que são a combinação das qualidades naturais do sítio com o ambiente antrópico do entorno. Na primeira categoria se encaixam, por exemplo, a insolação, inclinações do terreno, direção do escoamento das chuvas; na segunda, o sombreamento das volumetria das edificações vizinhas, o efeito de turbulência no vento pelo entorno, os níveis sonoros em função do uso humano e a reflexão de ondas acústicas pela massa edificada. É interessante notar que há também a atuação de forças sociais - de natureza muito mais subjetiva - que são difíceis de serem mensuradas. Preferências espaciais, pontos de interesse, fluxos, afetividade, marcos históricos. Cabe ao arquiteto ser o intérprete desta cultura, mensurando adequadamente as forças sociais do contexto para fornecê-las ao projeto.

FORÇAS ATUANTES E NEGAÇÃO DA LIMIARIDADE A partir do pensamento de Grobman (2012), percebe-se duas classes gerais de forças: As forças de natureza física e as de natureza social. Elas capazes de orientar o desenvolvimento do artefato porque, uma vez identificadas, fornecem a informação necessária para mapear áreas no sítio com diferentes propriedades (daí a politropia), revelando as potencialidades em sua plena complexidade ambiental. Apenas compreendendo este cenário é que se pode propor uma plena organização para o arranjo dos elementos arquitetônicos. O emprego destas estratégias explícitas para descrever fluxos, forças ou elementos influenciam assim a produção das edificações, configurando uma prática morfogenética (BRAHAM, 2005). Neste ponto é importante acrescentar a visão de arquitetura voltada para a performance trazido por Hensel (2013, p.31):

14  Do original: “The topography in which buildings perform is just the opposite of space: polytropic, heterogenous and concrete; its regions contrast, conflict and sometimes converse with one another. (...) Like events, landscapes — whether they are urban or not — contain unforeseen potentials, and show these potentials in the various ways they offer themselves to perception.”


“A arquitetura voltada para a performance está embasada no entendimento de que a arquitetura desdobra suas capacidades performáticas ao estar embebida em ordens conjugadas de complexidade, sendo auxiliar a diversas condições e processos: tais arquiteturas são essencialmente não-discretizadas.”15

Fig. 6. MuBE Museu Brasileiro de Escultura, em São Paulo. Autoria do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Exemplo trazido por Hensel de arquitetura não-discretizada,no qual paisagem e edifício se fundem. Fonte: Flickr. com

Para falar da não-discretização primeiro será necessário esclarecer o significado da discretização, ou discreetness no original, que de acordo com Hensel (2013, p.31) “[...] significa vários tipos e graus de desconexão de um determinado contexto de maneira a se destacar, e está presente em várias práticas arquitetônicas. [...].16 Através do pensamento morfogenético descrito anteriormente, aponta-se para uma proposta que vai no caminho da não-discretização, isto é, um produto que é resultado do contexto no qual está inserido sem a intenção de se destacar enquanto artefato, e conseqüentemente apresentando coerência máxima (teoricamente). Tal objeto é caracterizado pelo borramento da relação figura-fundo, priorizando uma continuidade espacial através de constantes transições suavizadas entre os ambientes (essencialmente removendo limiares), mas ainda mantendo suas particularidades referentes ao programa de necessidades, em contraste às formas herméticas que possuem limites definidos e bem compartimentalizados. É importante perceber que a não-discretização da Arquitetura não é o objetivo da integralização contextual em si, apenas um produto secundário se esta for levada às últimas conseqüências, uma vez que durante a concepção de um projeto voltado para a performance, segundo Kolarevic (2014, p.105): “A ênfase é colocada sobre os processos de geração de forma baseados em estratégias performáticas para projeto que são embasadas, por um lado, em intangibilidades, tais como performances culturais; e por outro, em aspectos quantificáveis e qualificáveis da construção como estrutura, acústica e projetos ambientais.”17 15  Do original: “Performance-oriented architecture is based on the understading that architectures unfold their performative capacity by being embedded in nested orders of complexity and auxiliary to numerous conditions and processes: such architectures are essentially non-discrete.” 16  Do original: “[...] implies various kinds and degrees of disconnection from a given context in order to stand out and arises from a number of predilections of architectural practice [...]” 17  Do original: “The emphasis shifts to the processes of form generation based on the performative strategies of design that are grounded, at one end, in intagibilities such as


Assim esculpindo um objeto que é resultado de um processo de mediação como já foi explicado anteriormente, o que é reiterado por Hensel (2013, p.54): “Assim o objeto - seja ele uma edificação, um sítio, ou uma malha urbana inteira [...] - seria definido não por como ele se apresenta, mas através de suas práticas: Aquelas que apenas ocorrem no objeto e aquelas que são internalizadas por ele.”18

COMPLEXIDADE E FRATURA METODOLÓGICA Como efeito colateral desta abordagem, os modelos de arquitetura performática tendem a possuir uma alta complexidade inerente que dificulta sua manipulação, estando emaranhados em interações complexas de múltiplos níveis que tornam difícil decidir quais tipos de relações de causa-e-efeito multidirecionais serão levadas em consideração, e que ao mesmo tempo permitam a influência de contingências (Hensel, 2013). Um exemplo menos abstrato pode ser entendido através de um subsistema de vedação vertical, onde o dimensionamento de suas aberturas, peças para proteção e materiais trabalham em conjunto para definir, por exemplo, propriedades térmicas e acústicas, velocidade e direção dos ventos, além de níveis de iluminação admitidos. Assim, a mudança da dimensão de uma peça reconfigura inteiramente a eficiência do subsistema em vários tipos de desempenho. Outro exemplo seria o de uma coberta, cujos parâmetros para orientação, quantidade de águas e inclinação cultural performance and, at the other, in quantifiable and qualifibiable performative aspects of building design, such as structure, acoustics and enviromental design.” 18  Do original: “Thus the object - be it a building, a compound site, or an entire urban matrix …. - would be defined now not by how it appears, but rather by practices: Those it partakes of and those that take place within it”

tem um significativo impacto na velocidade e pressão dos ventos nas aberturas de uma envoltória; estas, por sua vez, operam através de parâmetros como posicionamento, dimensionamento, quantidade e permeabilidade. Juntos, os subsistemas de cobertas e fenestrações criam padrões de fluxo de vento dentro do espaço. Estes pequenos exemplos mostram como os elementos construtivos da Arquitetura influenciam no todo. Embora não seja novidade alguma, ressalta a dificuldade de se trabalhar a performance quando há uma alta complexidade projetual envolvida. Para lidar com esse problema, ainda segundo Hensel (2013, p.55), “Normalmente a complexidade de um dado problema é ‘reduzida’ em prol da inteligibilidade e para estabelecer convenções e facilidade de uso.”19 Assim, uma abordagem sistêmica para a performance é fundamental porque, se quisermos que seus elementos (subsistemas arquitetônicos) trabalhem sinergeticamente para aumentar seu desempenho ao ganhar coesão, devemos dar ênfase na relação entre as partes, pois é através da interação delas que o todo (o desempenho) emerge. Continuando o pensamento de Hensel (2013, p.54): “[...] uma abordagem sistêmica pode ajudar a definir os limites das interações relevantes a serem incluídas no projeto e processos arquitetônicos.”20 O que se desenvolve mais através de Braham (2005, p.59): “Em defesa, ele argumentou que as ‘interações entre componentes de um sistema podem ser mais importantes 19  Do original: “Tipically the complexity of a given problem is ‘reduced’ for the sake of intelligibility and to establish convention and ease of use.” 20  Do original: “[...] a systems approach can help to define the extent of relevant interactions to be included in architectural design and processes.”


Fig. 7. Planta baixa do Guggenheim de Bilbao. Desconexão entre forma externa e qualidade de formas internas. Fonte: Wikimedia.org Fig. 8. Planta baixa do Riverside Musem, Zaha Hadid Architects. Fonte: Wikimedia.org

que os próprios componentes’ e que ‘modelos computacionais incorporam a teoria de uma estrutura de sistemas’21. Dessa maneira, desenvolveremos uma idéia de delineação metodológica que envolva uma abordagem sistêmica mediada pelo computador como forma de lidar com a alta complexidade projetual voltada para a performance. Como prova dessa situação, segundo Hensel (2013, p.32): “Quaisquer que sejam os processos de projetos que estes sigam, a realidade de tais esquemas é que os arquitetos esculpem o exterior, enquanto no interior predomina o uso de soluções desarticuladas e normalmente comuns.”22 Torna-se mais claro que na prática, mesmo nos projetos que optam pela na performance, há uma clara fratura metodológica quando se trata do projeto dos espaços internos, especialmente pelos seus aspectos subjetivos. Como diz Grobman (2012, p.12), “Atualmente o arquiteto precisa, em um certo momento do processo de trabalho, “congelar” a configuração formal e trocar por um processo de projeto analógico que lida com as dimensões adicionais que, no presente momento, não podem ser incorporadas no processo de trabalho.23 A falta de ferramentas adequadas para avaliação ambiental faz com que seja necessário voltar ao método tradicional para reduzir a complexidade do modelo, causando 21  Do original: “In defense, he argued that the “interaction between system components can be more important than the components themselves” and that the “computer model embodies a theory of system structure.” 22  Do original: “Whatever design process these projects follow, the reality of such schemes is that architects sculpt the exterior, while the interior trends to consist of unrelated and often quite normative solutions.” 23  Do original: “Today, the architect at a certain stage of the production process has to ‘freeze’ the formal configuration and switch to a process of analogical design that relates to the additional dimensions which at the present cannot be incorporated into the production process.”


uma desconexão entre processo morfogenético do corpo da edificação e a de seus espaços internos. Entretanto, é cabível realizar dois adendos: Primeiro, espaços com menores restrições técnicas e funcionais apresentam maior plasticidade nas composições contemporâneas, como os grandes vãos de museus. Contudo, quando o projeto se debruça sobre questões mais restritas, a produção tende a ser tradicional, como exemplificado nas plantas anteriores. Em segundo lugar, vale mencionar que existe o desenvolvimento de ferramentas aplicáveis na dimensão social e psicológica, como no caso uso da sintaxe espacial através do software DepthmapX, cuja aplicação é primeiramente urbana, e depois, quando trazida para o contexto de espaços arquitetônicos, é capaz de gerar mapas de visibilidade, isovistas e simulação de percursos. Porém, mesmo com um fluxo de trabalho sem gargalos ou fraturas metodológicas, a utilização destas ferramentas não é de sobremaneira determinística, como diz Braham (2005, p.60): “Na maior parte das vezes estes projetistas tem sabiamente evitado as conclusões determinísticas de suas técnicas, usando-as como componentes generativos no que seriam relações de um projeto convencional”24. Cabe ao arquiteto ponderar a importância da criatividade e eficiência dentro de uma relação equilibrada, formulando uma estrutura a partir de informações e processos digitais que contemple o que há de melhor nos dois campos (BENJAMIN, 2012), e que por vezes sacrifique um destes aspectos em benefício do outro.

ESTÉTICA DO DEVIR Após o entendimento da natureza da performance na Arquitetura, percebe-se que o artefato arquitetônico é um ponto inserido em um campo de energias (energias de natureza físicas e sociais). Moldado por este campo, ele se adeqüa ao seu contexto (ganhando coerência) e se desenvolve de maneira orgânica (o que nos levaria à não-discretização, ou perda de limiaridade). Durante toda esta transformação os seus subsistemas constituintes devem trabalhar em conjunto para garantir um grau de operatividade dentro de critérios objetivos e técnicos, como também subjetivos e psicológicos. Esta questão do entendimento da essência estética é explorada por Johnson (2014, p.12): 24  Do original: “For the most part those designers have wisely avoided the fully deterministic conclusion of their techniques, using them as generative components in otherwise conventional design relationships.“

Fig. 9. Simulação de percurso em espaços arquitetônicos baseado em mapas de visibilidade. Fonte: Bartlett UC


“[...] edificações voltadas para a performance são concebidas como criaturas em transformação, operando dentro de um campo otimizado de comportamentos aceitáveis. Elas são profundamente pós-clássicas, concebidas em uma transformação constante ao invés de um ponto estático.” Ao mover-se pelos campos de energia do sítio, o objeto (enquanto tipo arquitetônico) apresenta o seu devir ao se conformar para obter a performance de acordo com sua posição (que fornece os valores de energias). O tipo é, portanto, simulado de acordo com um dado momento e uma posição específica dentro do campo, e é com este movimento que são criadas novas versões do tipo que simulam um grau de operatividade, um simulacro, como diz Gianetti (2006): “do ponto de vista estético, o simulacro implica uma relação entre tecnologia e busca de consistência operativa”. O objeto então já conformado, uma instância do modelo, é nada mais que uma das infinitas possibilidades que foi materializada. Portanto, uma estética da performance é profundamente orgânica, fluida e anti-clássica, já que possui características opostas aos sistema clássicos inflexíveis, que se baseiam nos conceitos de harmonia e ordem, cuja remoção de um elemento destrói um conjunto. Logo, como diz Braham (2005, p.64) “[...] quando uma ordenação clássica é imposta em um sistema orgânico — um cujas partes são relacionadas a funções e processos que estão estes mesmo em fluxo — o resultado é uma aparente ordem e na realidade, caos.”25

25  Do original: “[...] when a classical order is imposed upon an organic system — one whose parts are related by functions and processes that are themselves in flux — the result is apparent order and actual chaos.”

DIRETRIZES A partir da caracterização de uma Arquitetura voltada para Performance foram elaboradas diretrizes para guiar o desenvolvimento do trabalho, atuando como axiomas na concepção do objeto. É importante ressaltar a similaridade entre as diretrizes desenvolvidas para a performance e as de sustentabilidade apresentadas anteriormente, cuja proximidade ressalta a afinidade entre os temas. Cabe então ao projeto apresentar os seguintes pontos: »» Integração sistêmica com o sítio, obtendo uma alta coerência ambiental com as diversas forças atuantes no entorno; »» Versatilidade do espaço projetado, respeitando as limitações programáticas mas contribuindo para uma maior qualidade ambiental, propiciando maior possibilidade de usos; »» Fluidez espacial, borrando a limiaridade e nitidez dos espaços, trabalhando a não-discretização como resultado de um processo de formação; »» Expressão formal de um processo morfogenético, no qual a forma do objeto informa sua origem, sendo conseqüência de seus valores genéticos.



O PAPEL DA TIPOLOGIA NO PENSAMENTO COMPUTACIONAL CAPÍTULO 3


PARA EMBASAR a metodologia de projeto de arquitetura através do design computacional, é sentida a necessidade de revisão acerca da natureza da tipologia arquitetônica e a compreensão da potência de representação proporcionada pelos meios digitais através da computadorização do processo de projeto. Uma leitura rápida sobre pensamentos diferentes expõe as intersecções das variadas interpretações de um tipo, bem como desvela a evolução do pensamento tipológico. A partir do que é visto e à luz da Teoria Geral dos Sistemas, ressalta-se como a tipologia apresenta os parâmetros básicos de permanência, memória e autonomia. Como um sistema, as diversas forças que compõem a necessidade suprida pela tipologia sofrem

realinhamentos com a evolução da sociedade, exercendo uma pressão que atualiza o seu repertório em busca de uma melhor adequação ao seu contexto. Para tornar possível uma relação dialética entre tipologia e design computacional, conceitos como algoritmos e parâmetros são abordados, entendendo suas potencialidades e limitações dentro do ambiente de projeto para que seja possível, então, migrar a discussão para a o campo da representação tipológica computacional através de ferramentas de programação. Compreendendo as similaridades entre algoritmos e tipos, se torna possível buscar uma síntese de uma abordagem híbrida que tire proveito de ambas metodologias e compense suas deficiências mútuas.


TIPOLOGIA O IDEAL ILUMINISTA O tradicional emprego do termo “tipo edilício” oscila dubiamente entre uma caracterização formal com ênfase em aspectos plásticos e uma categorização funcional da edificação embasada pela sua utilização programática. A utilização sobreposta dessas duas interpretações confirma a imprecisão no uso do termo. O rótulo funcional e alguma característica formal se unem em uma só classificação na tentativa de tornar mais compreensível a descrição: templo de planta circular; torre de escritórios e casa-pátio são alguns exemplos de nomenclaturas de bivalência do termo. (NASCIMENTO, 2010, p. 105). Através da ótica iluminista, que busca a ampliação do conhecimento através de uma sistematização que permita universalizações, Quatremère de Quincy desenvolve uma visão especulativa-intuitiva sobre o tipo enquanto potencial regra que precede o modelo, “um conteúdo sem forma definida, mas plenamente reconhecível”. Segundo Ströher (2001), esta visão vai adquirindo contornos similares ao do pensamento platônico, no qual a Idéia (razão pura) é anterior a qualquer imagem realizada, - uma lei geratriz interna abstrata; já o modelo, este definido e detalhado, é reprodutível e passível de cópia, sendo um produto do primeiro. Assim, o tipo arquitetônico (com paralelo na Idéia platônica) serviria de princípio ao modelo arquitetônico (com paralelo na Cópia), uma versão mundana de sua essência, mas que crucialmente apresenta semelhança. Durante sua sistematização do conhecimento, Quatrèmere chega nos critérios pragmáticos de fatores sociais e econômicos que precedem a edificação de um abrigo ao estabelecer uma conexão entre três tipos de abrigos primitivos (caverna, tenda, cabana) com os padrões relacionais de diferentes sociedades (nômades caçadoras, coletoras e agrárias), demonstrando que o tipo não é um dado extraído da dimensão material dos edifícios em si, mas uma instituição social, uma solução a demandas eminentemente relacionais dos indivíduos. (NASCIMENTO, 2010) Uma analogia entre Tipologia e Cópia platônica reside no método da divisão exposto por Deleuze (2009) ao abordar os simulacros platônicos. Percebe-se que o critério para a prova perante o modelo é o ponto de convergência dos vários pretendentes que participam do campo; ele é a semelhança do pretendente com as relações e as proporções constitutivas da essência interna da Idéia, cuja finalidade é autenticação desta através da seleção de uma linhagem (DELEUZE, 2009). Este critério de semelhança baseado nas práticas sociais é reforçado por Rafael Moneo, ao esmiuçar o pensamento tipológico de Quatrèmere, no qual a partir destas reações surge um viés historicista, já que: O tipo se identificava com a lógica da forma, com base na razão e no uso, de maneira que podia pensar-se em todas aquelas obras de arquitetura que ao


largo da história haviam alcançado a categoria de típicas ao identificar-se com uma forma precisa, eram filhas daquela suposta lógica que as dotava de sentido, ao mesmo tempo em que estendia uma ponte em direção ao passado [...]. (MONEO apud STROHER, 2001, p. 31). Sob a ótica da Teoria Geral dos Sistemas, percebe-se que a tipologia está imersa em um contexto próprio que apresenta características culturais, sociais, econômicas, etc. Deve ser aberta em algum grau para manter trocas de informação com o ambiente no qual está inserida, de modo que esta relação dialética entre tipologia e seu contexto de inserção já indica a atuação do parâmetro sistêmico básico de permanência (VIEIRA, 2008).

MEMÓRIA A PARTIR DA SÉRIE Argan (2008) dá uma outra importante contribuição ao abordar as questões de permanência e memória no campo tipológico. Seu pensamento é pautado pelo contínuo de práticas arquitetônicas que traçam uma trilha histórica, da qual emerge um princípio esquemático que contêm a possibilidade de infinitas variações formais e modificações estruturais do “tipo” em si. Assim a tipologia é validada pela recorrência, experiência e história: (...) quando um ‘tipo’ é definido pela prática ou pela teoria da arquitetura, ele já existia na realidade como resposta a um complexo de demandas ideológicas, religiosas ou práticas ligadas a uma determinada situação histórica em qualquer cultura. (ARGAN, 2008, p. 269). Ströher, ao explorar o pensamento de Argan, ressalta que o uso da tipologia enquanto ferramenta de projeto freqüentemente subjaz até mesmo em escolhas inconscientes, já que é capaz de eliminar uma fase notável do processo de projeto ao colocar como ponto de partida um esquema válido que reúne os costumes e as exigências funcionais. Seu emprego desta maneira implica uma aceitação destes princípios, porém, por sua natureza não ser imitável, a instância não resulta em uma mímese árida, mas em prosseguimento do princípio original, pois A aceitação do ‘tipo’ implica a suspensão do juízo histórico e é, portanto, negativo, apesar de também ‘ intencional’, direcionada para a formulação de um novo tipo de valor, porque exige do artista - em sua negatividade uma nova determinação formal. (ARGAN, 2008, p. 271). Portanto, o “tipo” se constitui pela redução de um complexo de variantes formais à forma básica comum, um esquema. Por se originar deste processo de regressão, não se pode tomar a forma original como análoga a uma coisa tão neutra quanto uma grade estrutural (ARGAN, 2008, p.270). Caso este esquema possa ser apropriado pelo método de projeto como forma de deslocar o seu ponto de partida, avançando-o, é possível também classificá-lo em razão de sua proximidade com


o ponto final de um projeto, o que permite Mitchell (2008) indicar que os tipos se desdobram em subtipos, sendo passíveis de hierarquização de acordo com seu grau de especificidade, de adequação. A hipótese da tipologia como apoio ao processo de projeto é levantada por Ströher (2001), a partir do entendimento de que as obras de arquitetura podem ser vistos como objetos produzidos a partir de uma série - e justamente encontra sua essência nesta diferenciação entre cada objeto. Pois se Quatrèmere buscou uma visão universalista, na opinião de Nesbit (2008), Rafael Moneo acaba por pensar o tipo como uma ordem formal e estrutural inerente, derivando daí agrupamentos, distinções e repetições de objetos arquiteturais, o que Rafael Moneo (MONEO apud STROHER, 2001, p. 27) expõe, pois Talvez possa ser definido como aquele conceito que descreve um grupo de objetos caracterizados por ter a mesma estrutura formal. (...) O conceito de tipo se baseia fundamental na possibilidade de agrupar os objetos servindo-se daquelas similitudes estruturais que lhes são inerentes, poderia dizer que inclusive o tipo permite pensar em grupo. Quando Deleuze (2009) explora o tema da série1, a arquitetura assume o papel da série de significado, com as informações que a constituem surgindo como séries significantes, sempre mais numerosas que os significados possíveis. Todas as séries convergem para um ponto específico no espaço-tempo, que pode ser entendido como o sítio para a edificação em um dado momento. É deste ponto que o tipo arquitetônico, entendido enquanto série heterogênea, detêm uma ou mais séries significantes subsumidas que sejam capazes de manter a coerência de sua síntese com os princípios de adequação. A principal contribuição da série tipológica de Moneo é trespassar a figura do tipo ideal iluminista e se apresentar como uma entidade mais ou menos definida, cuja difusividade é indício de sua capacidade de se adequar a um contexto particular, um ambiente específico. A produção serial derivada daí é o alicerce do parâmetro sistêmico básico da memória, pois são as materializações produzidas que narram a evolução tipológica, que dão a sua dimensão temporal.

ELEMENTOS DE UMA CLASSE, INSTÂNCIAS DE UM TIPO Para melhor definir o produto das séries é adotado o conceito de instância, fundamentado por C. S. Peirce e utilizado por William Mitchell (2008) quando este desenvolve uma sistematização de classes de objetos na arquitetura. As clas1  Deleuze entende que a síntese heterogênea sob a forma serial é essencialmente multiserial, pois se realiza necessariamente na simultaneidade de, no mínimo, duas séries. Não se pode falar apenas de uma série, pois esta série é homogênea em relação a sua classe (de posição, de grau ou de tipo). Todas convergem para um ponto comum. Uma obrigatoriamente é a significante, e outra, o significado. Os termos de cada série estão em perpétuo deslocamento relativo diante das outras - são discretizados. Há sempre um desequilíbrio nos termos de cada série, com o significante apresentando maior densidade em relação ao significado.


ses são mais gerais, pois representam nesta concepção tipos de objetos, e delas derivam elementos, estes específicos, únicos. Assim, um elemento de um objeto é uma instância de um determinado tipo de objeto. A instância produzida pela série tipológica abordada aqui significará um projeto que representa uma possibilidade particular, um estado de mundo projetual (MITCHELL, 2008). Os seus condicionantes específicos geram uma resposta formal única. Aqui, os conceitos de propriedades essenciais e acidentais também são expostos: as primeiras são aquelas comuns aos demais objetos pertencentes ao mesmo tipo; as outras podem variar entre as instâncias de um mesmo tipo. Tudo aquilo que não é difuso na série tipológica conseqüentemente são propriedades essenciais dos tipos: Uma similitude estrutural que é resultado de diversas demandas formalizadas, legitimadas através de uma recorrência temporal, ao mesmo tempo abertas à lentas influências de seu ambiente mas sem perder a coesão das instâncias. Aquilo que transforma o tipo em uma instância, que torna a série heterogênea, são as propriedades acidentais, relacionadas com seu ambiente imediato, com uma materialização específica e são o foco da atividade do projeto que adota a tipologia enquanto método. Assim, entende-se que apenas radicais transformações nos valores das séries que constituem as propriedades essenciais do tipo são capazes de reconfigurar bruscamente o seu esquema interior, sua natureza. As pressões extrínsecas que atuam sobre a estrutura difusa do tipo criam as propriedades acidentais, respeitando o grau de maleabilidade que comporta os ajustes a serem operados durante o processo de projeto.

Alterações nos seus princípios constitutivos ou pressões demasiadas significam que o tipo poderá ser coerente ou até mesmo viável, mas não será bom o suficiente, e deverá ser descartado em prol de outro tipo mais adequado de acordo com a hierarquização tipológica. Portanto, o viés historicista é a conseqüência da adequação das propriedades essenciais de um tipo e da maleabilidade (ou adaptação) das propriedades acidentais. Esta relação da série, se for estável, valida a instância e sintetiza uma trilha que será legitimada pela história. Este é o indício do parâmetro sistêmico básico da autonomia: Pode-se pensar a autonomia tipológica através do emprego do tipo enquanto método validado no momento da materialização. É a produção que valida os hábitos e assim estes geram uma memória. A autonomia talvez pudesse ser pensada através desta memória: Recorre-se à tipologia por sua confiabilidade em experiências passadas, portanto esta legitimação histórica seria o seu indício. Contudo, a relativa estabilidade que prevaleceu durante boa parte de nossa história dentro dos nossos campos conhecimentos é rompida com as revoluções que seguem um crescendo exponencial de velocidade. O Evolon moderno é deslocado de uma etapa de estabilidade para uma de instabilidade, levando a um rompimento que precederá uma nova fase de expansão (VIEIRA, 2008) - o que se reflete na necessidade de atualizar o repertório tipológico da Arquitetura, da mesma maneira que as tipologias industriais foram criadas na era moderna (ARGAN, 2008).


REPRESENTAÇÃO TIPOLÓGICA COMPUTACIONAL PARÂMETROS E ALGORITMOS Uma discussão sobre a representação tipológica com uma abordagem computacional que tire potência dos meios digitais passa inicialmente pelo esclarecimento das diferenças de definição entre um processo de projeto computacional e a computadorização do processo de representação. Ambos os termos acabam sendo frequentemente confundidos, sendo estranhos aos arquitetos uma vez que são conceitos distantes da formação média daqueles. Como traz Kostas Terzidis2 (XI, 2006): Enquanto a computação é o ato de calcular, ou seja, determinar algo pelo método matemático ou lógico, a computadorização é o ato de inserir, processar ou acumular informação em um computador ou sistema computadorizado. A computadorização é sinônimo de automação, mecanização, digitalização e conversão. Geralmente envolve a digitalização de entidade ou processos que são pré-concebidos, pré-determinados e bem definidos. Diferentemente, a computação é a exploração do indeterminado, vago, do incerto, e normalmente de processos pouco definidos. Por conta de sua natureza exploratória, a computação almeja emular ou estender o intelecto humano. É sinônimo de racionalização, reflexão, lógica, algoritmo, dedução, indução, extrapolação, exploração e estimativas. Entretanto, a metodologia de projetos computacionais já paira sobre a Arquitetura há algum tempo, sendo notável a contribuição da Gramática da Forma, ou Shape Grammar, idealizada por James Stiny e James Gips. Como muito bem apresentado por William Mitchell (2008), através dela é possível analisar o objeto arquitetônico sob o prisma de regras lógicas de formação. Estendendo sua definição, a Gramática da Forma poderia permitir que o objeto arquitetônico seja o produto de atuação das regras definidas a priori, cujas sucessivas operações são passos exploratórios em um processo de projeto. A computadorização do processo de representação arquitetônica o aproxima das qualidades dos meios digitais, tais como acesso ao poder de processamento, sendo capaz de lidar com um grande volume de informação; hibridização das mídias, permitindo a colagem informacional; telemática e reprodutibilidade ilimitada, podendo ser compartilhado, replicado infinitamente, reforçando práticas colaborativas; grafismo e animação, sendo possível visualizar em tempo real uma 2  Do original: “While computation is the procedure of calculating, i.e. determining something by mathematical or logical methods, computerization is the act of entering, processing, or storing information in a computer or a computer systemi. Computerization is about automation, mechanization, digitization, and conversion. Generally, it involves the digitization of entities or processes that are preconceived, predetermined, and well defined. In contrast, computation is about the exploration of indeterminate, vague, unclear, and often ill-defined processes; because of its exploratory nature, computation aims at emulating or extending the human intellect. It is about rationalization, reasoning, logic, algorithm, deduction, induction, extrapolation, exploration, and estimation.”


representação virtual dinâmica e interativa. Quando a representação é imbuída destas características, ela é elevada a um novo patamar qualitativo e o processo de projeto passa a ser capaz de explorar novas fronteiras. Dentro de uma abordagem computacional para projeto, surgem os conceitos de parâmetros e algoritmos. Hoje estes já se encontram relativamente incorporados dentro da discussão sobre arquitetura contemporânea graças à disseminação de softwares e novas teorias, mas se faz necessário precisar uma definição, sem negar sua independência de processos computadorizados. Parâmetros são informações que variam no tempo3, tendo origem nas funções matemáticas e podem ser entendidas, sob este aspecto, como as variáveis associadas que alteram o seu resultado. Estas funções, por sua vez, podem ter sido incorporadas por um sistema, que no nosso caso é o algoritmo. Portanto dentro deste recorte, os parâmetros estão classificados em vários tipos de dados: Caracteres, números, variados elementos geométricos, vetores, etc. Os parâmetros de entrada, também chamados de inputs, alimentam o processo interno do algoritmo, e este por sua vez retorna parâmetros de saída, os outputs, que podem ou não ser combinados e convertidos em tipos de dados diferentes neste percurso. O algoritmo é entendido como um conjunto de instruções lógicas cuja estrutura estabelece conexões coerentes entre suas funções internas com o intuito de realizar uma função maior, específica. Logo, também é organizado. Para desempenhar esta função, o algoritmo necessita de informações de entrada para transformá-las em informações de saída. Assim, apresenta a noção de processualidade. É importante ressaltar que ele não necessariamente é computadorizado, mas será essencialmente computacional. Na prática computadorizada as instruções lógicas e seqüenciais são formadas por associação de funções de uma linguagem de programação, ou comandos de um software. Dentro do ambiente digital, algoritmos podem ser associados em diferentes arranjos, de acordo com as possibilidades permitidas por sua linguagem de programação. Dentro dos vários tipos de linguagem de programação disponíveis se destaca pela extrema simplicidade a abordagem baseada em grafos, especialmente o subtipo de sistemas baseados em propagação da informação. (Fig. 10) A forma mais comum é uma associação em série, no qual as funções internas são associadas linearmente, onde o output de uma função logo se torna o input de outra, gerando um encadeamento de informações, também denominado propagação (WOODBURY, 2010). Dentro de uma linguagem visual de Programação Associativa, o algoritmo toma a forma de um grafo direcional acíclico, no qual as suas funções estão encadeadas em uma seqüência clara. Suas principais vantagens são a sua confiabilidade, velocidade e clareza; sendo necessário, contudo, explicitar o que é conhecido para se chegar ao desconhecido através da organização da informação (WOODBURY, 2010).

3  O critério para esta variação será desenvolvido mais adiante.


Fig. 10. Diagrama dos passos lógicos de dois algoritmos em linguagem de sintaxe visual. Fonte: DAVIS, 2013

O seguinte exemplo vem do ambiente de programação visual do plugin Grasshopper, que é utilizado neste trabalho e será apresentado mais adiante. (Fig. 11) Uma função que representa um círculo terá quase sempre um atributo chamado centro ou posição e outro chamado raio. Como tanto a sua localização específica e seu tamanho exato são desconhecidos pela definição desta função específica, acabam servindo de inputs. Além da necessidade de nomeação para a manipulação, os atributos normalmente aceitam apenas um tipo específico de dado. No caso, apenas valores numéricos são válidos para as coordenadas de um ponto, ponto que por sua vez é necessário para criar o plano que localiza e orienta o círculo, bem como um parâmetro numérico para o seu raio. Em certos sistemas orientados a objetos, por exemplo, uma função pode representar um retângulo a partir de atributos como ponto do centro, plano, largura e altura. Outra, contudo, pode representá-lo a partir de apenas dois vértices opostos, enquanto que uma terceira pode criar um retângulo a partir de três pontos. Estas primitivas, como são conhecidas tais entidades básicas, podem ser descritas graficamente através de diferentes funções que são escolhidas pelo usuário de acordo com a necessidade específica do algoritmo, estando ele limitado pelo seu domínio da ferramenta. Logo, assim como diferentes funções que descrevem uma mesma entidade, algoritmos distintos podem realizar uma mesma função.

Fig. 11. Exemplo de algoritmo dentro do Grasshopper para gerar círculos variando sua localização e raio. Fonte: Autor


É muito importante ressaltar que para um algoritmo alcançar um objetivo específico ele precisa organizar suas funções de modo que a possibilidade de comportamento do seu produto (output) seja restrito na medida certa: Nem rígido demais, o que ocasionaria uma falha em se adequar à mudança imprevista; nem demasiadamente amplo, o que o levaria a um resultado incompatível com sua função. Este gradiente de outputs mais específicos denota a aplicação de progressivas restrições à sua organização informacional, sendo uma forma de reduzir a sua generalidade em prol da especificidade, sendo chamado aqui de estados de organização. (Fig. 12) Por exemplo, um algoritmo baseado em coordenadas que geram pontos e que por sua vez geram linhas pode apresentar vários níveis de organização informacional. O resultado menos organizado seriam apenas linhas independentes, produto sem coerência que nada formam. Assim que um polígono é criado, o output passa a possuir forma, proporção e escala variáveis; o próximo estado de organização, o retângulo, apresenta apenas proporção e escala variáveis; finalmente o quadrado varia apenas em escala. A modulação é uma estratégia de emprego recorrente para racionalizar a estruturação das funções internas de um algoritmo. Nela um agrupamento de funções é repetida N vezes de forma que a quantidade de repetições deste trecho de código forneça o mesmo desempenho que uma outra estruturação mais sintética e de maior qualidade. (Fig. 13) Nota-se assim que tanto a quantidade como a qualidade de funções embebidas em um algoritmo são os principais indicadores de sua integralidade, o que denota uma forma de complexidade (VIEIRA, 2008). O percurso da informação de entrada original dentro de um algoritmo passa por nume-

rosas funções, todas requerendo poder de processamento computacional, o que implica em um aumento do custo total deste. Deve ser ressaltada que a propagação informacional de um algoritmo suficientemente complexo só se torna viável na prática através da computadorização do processo, pois é nela que reside a sua potencialidade enquanto metodologia de projeto ao conferir potência de processamento informacional. A partir de uma amostragem de algoritmos disponibilizados em fórum online, Davis (2013) demonstra a correlação entre a complexidade ciclomática4 e a extensão de um algoritmo. 4 A complexidade ciclomática é uma métrica comum na engenharia de softwares e é definida como a quantidade de caminhos independentes através de um gráfico direcionado acíclico (DAVIS, 2013).

Fig. 12. Progressivos estados de organização informacional para geração de formas. Fonte: Autor Fig. 13. Exemplo de algoritmo dentro do Grasshopper que adota estratégia de modulação para gerar um volume sólido a partir do controle de coordenadas dos pontos. Fonte: Autor


REPRESENTAÇÃO COMPUTACIONAL DE UM TIPO

Fig. 14. Gráfico de complexidade ciclomática por tamanho do algoritmo. Fonte: Davis (2013)

Sob o ponto de vista da Teoria Geral dos Sistemas, o algoritmo também é uma estrutura que apresenta organização, uma instrução de passos lógicos com produção coerente. É relevante mencionar que um algoritmo complexo apresenta uma alta conectividade, desenvolvendo as ilhas citadas por Vieira (2008) através da forma de subalgoritmos, subsistemas discretizados que desempenham funções bem específicas necessárias ao algoritmo maior e que são um resposta para lidar com a sua alta complexidade inerente. Como posto, estes subsistemas incorporados ao algoritmo serão chamados de passos, pois justamente descrevem os passos exploratórios do processo de projeto. Esta estratégia metodológica será posteriormente discutida por Davis (2013), mas se mostra válida como modo de diminuir a rigidez do sistema e ganhar flexibilidade através da redução de sua integralidade.

A tipologia pode ser entendida como um pensamento projetual que classifica hierarquicamente um tipo arquitetônico em diferentes níveis de definição, partindo de uma origem abstrata e generalista pautada por demandas reais para uma instância definida, agindo como um sistema aberto sujeito à influências de forças acidentais que conformam sua produção e é dotado de intencionalidade. Um algoritmo também pode ser apropriado como ferramenta de representação adequado a este pensamento, pois opera em um nível de precisão definido a priori e é confeccionado exclusivamente para representar um tipo específico, com uma estrutura algorítmica que pode representar as forças essenciais de uma instância arquitetônica, estando aberto às influências de seu entorno informacional virtual análogas ao entorno real, que o complementam com forças acidentais. As tradicionais análises de entorno feitas durante o princípio do projeto detectam os elementos mais relevantes a serem considerados, e através de sua decomposição fornecem elementos que orientam o desenvolvimento da etapa de concepção. De modo análogo, ao deslocar as informações do entorno do projeto, isto é, seu contexto, do campo real para o virtual, elas podem ser entendidas como os parâmetros necessários para um algoritmo iniciar a representação do objeto. O entorno real passa a ser simulado por um entorno informacional dentro do ambiente digital, uma réplica que contêm os dados análogos. Por exemplo, se falarmos sobre um percurso unidimensional, nos interessaria analisá-lo como uma única curva com seus pontos constituintes discretizados, apresentando a


propriedade de comprimento, ou de raio, etc. Direções de ventos ou da insolação podem ser representado através de vetores com intensidades diferentes, o entorno construído pode ser feito a partir de volumes extrudados, e assim adiante. Contudo, é importante ressaltar que a sensibilidade de um sistema para captar as informações de seu ambiente passa diretamente pela figura do arquiteto, seja no método de projeto tradicional como no computacional. Atuando como o umwelt deste sistema, um filtro perceptivo como o descrito por Jakob von Üexkull, ele dá o critério para gerar os parâmetros iniciais, o que em uma metodologia computacional significa planejar todos os passos desta conversão, explicitando seus critérios. Enquanto método, a tipologia desloca o arquiteto para um ponto mais avançado no processo de projeto ao fazer com que ele assuma um ponto de partida reiterado por um contínuo de experiências. Um algoritmo também o faz, ao apresentar uma estrutura definida ao mesmo tempo em que incorpora parâmetros, informações variáveis em seus subsistemas que permitem um grau limitado de adaptabilidade, assim como tipos genéricos que podem ser adequados a um contexto particular. Mais ainda, uma abordagem computadorizada abre a oportunidade de tirar proveito das qualidades provindas dos meios digitais, que não apenas aceleram a representação arquitetônica mas permitem a exploração de novas possibilidades. A relação sobre a produção e reprodução de algoritmos pode parecer borrada, mas como todo algoritmo é essencialmente voltado para uma finalidade específica, logo é construído com este objetivo em mente. A intenção de explorar tais ferramentas profundamente em projeto, contudo, não é nada recente. As origens de um pensamento computacional para a representação em arquitetura remontam ao Sketchpad de Ivan Sutherland, um embrião de sistema de representação do tipo Computer Aided Design (CAD) desenvolvido no MIT em 1963 (DAVIS, 2013; WOODBURY, 2010). Desde então se questionou a interface homem-máquina no processo de projeto em si, como exposto: “Quando Sutherland criou o Sketchpad, ele passou um tempo considerável refletindo sobre como uma ‘mudança de uma parte essencial [do modelo] vai resultar automaticamente em uma mudança nos seus componentes relacionados’ (Sutherland, 1963, 22). No vocabulário atual isto poderia ser descrito como paramétrico, o que significa que a geometria (a ‘parte relacionada’) é uma função explícita de um conjunto de parâmetros (a parte essencial)” 5Davis (2013, p.4) Reiterando o que foi dito anteriormente, uma abordagem computacional na arquitetura não requer que esteja subsumida pela computadorização do processo do projeto, tendo como um dos primeiros exemplos de uma abordagem computacional 5  Do original: “When Sutherland created Sketchpad, he spent considerable time considering how a ‘change of a [model’s] critical part will automatically result in appropriate changes to related parts’ (Sutherland 1963, 22). In today’s lexicon this could be described as parametric, meaning the geometry (the related” part) is an explicit function of a set of parameters (the critical part).”


Fig. 15. Utilização do SketchPad, em 1963. Fonte: Davis (2013) Fig. 16. Estádio projetado por Luigi Moretti. Fonte: Davis (2013)

analógica o estádio projetado por Luigi Moretti em 1960, cujos dezenove parâmetros diferentes geram instâncias de um mesmo tipo de estádio (DAVIS, 2013). Um design paramétrico diz respeito justamente a estrutura que se estabelece em função da informação variável. Esta estrutura é o esquema organizador que confere coesão à sua produção. São de certa forma instruções que aceitam variações, estas alimentadas pelos seu ambientes informacionais sob a forma de parâmetros, sendo capazes de produzir séries heterogêneas. Ainda, segundo Davis (2013, p. 15): [...] o ponto central de um modelo paramétrico não são os resultados do modelo, mas sim a necessidade de construir e manter relações associadas ao modelo.6 O foco de um sistema paramétrico passa do objeto em si para a relação entre as suas partes constituintes, sendo necessário planejar cuidadosamente as diversas possibilidades de arranjo destas. Para tanto, ferramentas tradicionais como o croqui servem para rapidamente avaliar cenários, inferir regras, sendo de suma importância mesmo em um processo imerso na computadorização. Passa a ser obrigatório explicitar graficamente o princípio genético de uma dada referência, abstrair princípios e ser capaz de descrever as suas relações. 6  Do original: “(...) the defining feature of a parametric model is not the outputs but rather the need to construct and maintain relationships associated with the model.”


FERRAMENTAS Para o desenvolvimento deste trabalho foi escolhido como ferramenta principal o plugin Grasshopper7, atuando dentro do modelador Rhinoceros. Ele cria uma interface de programação visual do tipo programação associativa que opera com base nos comandos nativos deste modelador (DAVIS, 2013), criando uma interface mista, onde há um espaço para a programação em si, o chamado canvas; e o ambiente de modelagem tridimensional de um sistema computacional orientado a objetos. Como pontos favoráveis para sua escolha estão: Interface gráfica amigável; uma comunidade ativa, sendo composta tanto por profissionais como por acadêmicos; possui também uma ampla oferta de complementos que adicionam funções desenvolvidas por terceiros; bem como detém um histórico de liderança dentro deste segmento. Como fator negativo pesa o fato de que o Rhinoceros é apenas um software do tipo Computer Aided Design (CAD)8, portanto não fornece9 ferramentas voltadas especificamente para a prática do projeto arquitetônico; o Grasshopper também apresenta limitações estruturais de uma linguagem de programação associativa (não permitindo loops nem iterações). Esta característica interfere no seu desempenho para tarefas mais complexas, o que culminará na adoção de uma limitação no grau de representação desejado, como será explorado mais adiante. Dentro do seu ambiente, as funções emprestadas do Rhinoceros são apresentadas como pequenas cápsulas que, ao ser interligadas, geram os grafos direcionais acíclicos mencionados anteriormente. Elas estão classificadas em grupos como geometria, matemática, conjuntos de dados, vetores, curvas, superfícies, malhas, etc. Também é ressaltada a complementação do Grasshopper com outras extensões, que adicionam facilidades e funções que não existem nem seriam possíveis no plugin original.10 O controle dos dados é realizado através da visualização das relações entre as funções sob a forma de conexões, o que em casos extremos de algoritmos muito extensos requer estratégias auxiliares para a identificação dos passos. Para o presente trabalho, se mostrou fundamental criar um código cromático de agrupamentos com 7  Outras ferramentas relevantes também merecem ser mencionada, como o GenerativeComponents da Bentley, que mescla linguagem de programação associativa em interface visual com scripts de C+, bem como o Dynamo da Autodesk, outra interface visual desta vez embebida no sistema BIM, no Revit. Nenhuma delas, contudo, apresenta a relevância para um trabalho deste como o Grasshopper, que apresenta principalmente uma comunidade consistente e receptiva. 8  Alternativas mais específicas para a realidade da arquitetura passam primeiramente pelo Building Information Modeling (BIM) e Computer Aided Architectural Design (CAAD). 9  É sabido que certos complementos disponíveis como VisualARQ e GeometryGym oferecem novas possibilidades de representação de desenhos arquitetônicos e interoperabilidade com sistema BIM através do formato IFC. Contudo, estes complementos não fazem parte do núcleo do plugin e muitas vezes carecem de uma integração profunda com as outras funções disponíveis. 10  Algumas das extensões são o WeaverBird, Geco, Kangaroo, ExcelWriteRead, PanelingTools, Lunchbox e DIVA. Cada uma propõe uso específicos, como manipulação de malhas, vínculos informacionais com softwares de simulação, motores físicos, leitura e gravação em banco de dados, etc.


Fig. 17. Exemplo de lista indexadora dos subalgoritmos incorporados ao trabalho. Classificação cromática organizada por funções e subsistemas arquitetônicos. Adiciona-se uma função Jump a cada ponto para que o usuário possa facilmente acessar o trecho correspondente do algoritmo. Fonte: Autor.

funções específicas, bem como inserir uma seção de referência, incluindo numeração, descrição e a adição de meta-funções Jump que levam o usuário de uma posição a outra dentro do algoritmo com apenas um comando. (Fig. 17) Outro artifício útil para algoritmos extensos é acoplagem de uma função memória a cada passo (Figura X). A função memória é um módulo cuja finalidade é apenas registrar a variação dos parâmetros ao longo do processo de projeto e tornar visível um memorial de sua variação, uma vez que o caráter exploratório associado à complexidade informacional inerente a este método de representação pode demandar um esforço extraordinário para o arquiteto levar em conta todas as variáveis envolvidas.. Ainda assim é possível sentir a limitação de uma programação de linguagem visual, ao invés de script11, durante o desenvolvimento de um determinado projeto, pois para quaisquer modificações além de meros refinamentos12 locais podem emergir dificuldades devido à estrutura do algoritmo. 11 Nas linguagens de script a programação é diretamente escrita linearmente. Contudo, os subalgoritmos tomam a forma de funções independentes que podem ser rapidamente chamadas para completar processos distantes, ou independentes, um modo de trabalho diferente de uma programação visual. 12 Chamo de refinamento as pequenas alterações que ocorrem dentro de um agrupamento de funções específicas (subalgoritmo) e cujos resultados não perturbam o fluxo informacional posterior, sendo assim resolvidas inteiramente dentro de um único passo de um algoritmo.


Fig. 18. Exemplo de ilha de informação que se torna um subalgoritmo ao descrever os passos no processo de projeto (roxo) e tem seus parâmetros atrelados a uma função memória (laranja). Fonte: Autor

FRAGILIDADE TOPOLÓGICA Dentre os principais pontos de fragilidade de uma metodologia para projetos arquitetônicos em ambientes computacionais expostos por Davis (2013), destacamos, ironicamente, mudanças em decisões já tomadas: O algoritmo é um sistema computacional que é feito para apresentar adaptabilidade, mas que as realiza até um certo limite prático. Isto vai de encontro com a natureza exploratória do projeto, e muitas vezes mudanças profundas não são comportadas na sua representação do modelo. Na prática paramétrica há um grande esforço cognitivo na antecipação das possíveis mudanças, planejamento da hierarquia de seus funções que comportam as acomodações naturais em projeto, e nem mesmo a incorporação massiva de parâmetros é capaz de resolver esta condição de maneira satisfatória: “Dada a importância da antecipação da flexibilidade uma resposta óbvia seria fazer todo o modelo ser flexível: Adicionar parâmetros para cada vontade do projetista. Contudo, parâmetros possuem um custo. Eles requerem trabalho antecipado para serem implementados e mais ainda para serem modificados. Este inveswtimento pode não trazer retornos se os parâmetros forem utilizados raramente. Logo, a habilidade de antecipar a flexibilidade é encontrar o ponto certo entre muita e pouca flexibilidade.”13 (DAVIS, 2013, p. 41) Este problema do suporte às mudanças se desenvolve ao ganhar escala dentro do algoritmo, quando as alterações não atuam apenas na esfera dos parâmetros ou em suas funções menores, mas sim em grandes partes, mudando a conectividade que forma este sistema, alterando sua topologia14 ao reorganizar a estrutura. Neste 13 Do original: “Given the importance of anticipating flexibility, a seemingly obvious response is to make every aspect of a model flexible; add parameters for every possible whimsy of the designer. But parameters come at a cost. They require work upfront to implement, and they require even more work to change. Th is investment may not pay off if the parameter is rarely used. Therefore, the skill of anticipating flexibility is getting the balance right between too much and too little flexibility.” 14 A topologia é um ramo da matemática que lida com grafos e a conectividade de seus elementos. Sua intersecção com a Arquitetura e Urbanismo são os diagramas de bolhas, utilizados para setorização; bem como está presente na teoria da Sintaxe Espacial.


ponto as referências apontam um claro dilema entre se debruçar sobre problemas pontuais no algoritmo para resolvê-lo ao custo de bastante tempo, ou simplesmente remover parte do algoritmo (ou até mesmo descartá-lo integralmente!) e refazer a programação. Assim, um sistema paramétrico se mostra particularmente suscetível a alterações de decisões que já estão inseridas em sua estrutura (DAVIS, 2013). O problema da fragilidade topológica seria o equivalente a declarar, no campo da tipologia, que aquele tipo já não faz mais sentido, não está coerente com as necessidades que o geraram. E caso durante o processo de projeto estas alterações forem freqüentes, especialmente durante a fase de concepção, coloca-se em questão o benefício de se investir mais tempo na elaboração de um algoritmo que é passível de ser descartado parcial ou inteiramente, em vez da modelagem tradicional, potencialmente mais rápida, porém menos adaptável. Esta seqüência de pensamento descortina o fato de que, para o alívio de alguns, modelos paramétricos dificilmente são reutilizados, menos ainda quando operados por terceiros - e não pelos criadores originais que possuem o entendimento de sua estrutura. Pois apesar de essencialmente apresentarem a capacidade de acomodar diferentes parâmetros que constituem suas propriedades acidentais, a topologia de seu algoritmo é criada a partir de uma condição que lhe é própria, e representaria um tipo arquitetônico específico prestes a se tornar uma instância. Assim, uma segurança é proporcionada pela certeza que o umwelt informacional se apresentará dentro de uma expectativa definida, que não se espera ampla variação das condições de entorno que geram os parâmetros. Ao tirar partido de sua finalidade específica e tomar como certa um ambiente informacional estável, é possibilitada uma maior rapidez ao método de projeto. Uma estratégia metodológica passível de ser adotada para contornar este problema consiste no agrupamento de subalgoritmos em passos, que, como concei-

Fig. 19. Redistribuidores de dados ao início e final de cada passo. Sua função é unificar o fluxo de informação a ser redistribuído no algoritmo para facilitar a edição das funções internas dos subalgoritmos incorporados. Fonte: Autor


tuados anteriormente, são compostos por um conjunto de funções associadas de tal modo que desempenham um claro papel específico dentro do algoritmo. Ao final de cada segmento dos subalgoritmos é inserida uma função de transferência genérica de dados com o único intuito de centralizar os inputs e outputs derivados, permitindo ganhar tempo em modificações realizadas através do que se pode chamar de redistribuidores. Do ponto de vista teórico, durante o planejamento do encadeamento informacional em um algoritmo é possível prever cada tipo de dado envolvido no percurso da informação, bem como suas transformações. Com uma certa experiência, isto permite trabalhar as funções redistribuidoras de forma que atuem como filtros de dados ao explorar o grau de especificidade das entidades envolvidas, ajudando a manter controle sobre os estados de organização informacional. Uma função, por exemplo, pode ser intencionalmente utilizada para atuar apenas sobre superfícies (seja ela cortada ou não-cortada), mas não sobre entidades do tipo Brep15, restringindo as possibilidades de outputs. Também poderia atuar apenas sobre linhas (um tipo de curva), mas não sobre todos os tipos de curvas, que seriam mais abrangentes. Este pensamento apresenta potenciais similaridades com o que Davis (2013) expõe ao descrever o método da cascata, comum à engenharia de softwares, pois nela “(...) o projeto é separado em diferentes etapas: necessidades, o ato de projetar, implementação, verificação e manutenção. (...) Cada etapa é completada antes de se proceder para a próxima, na esperança de que se os requerimentos forem cumpridos antes de se iniciar a etapa de projeto (ou qualquer outra subsequente), não existirão mudanças posteriores derivadas de alterações inesperadas na etapa de necessidades (ou qualquer outra etapa precedente).”16 Ele também a critica, afirmando que uma alternativa seria uma abordagem baseada em protótipos de algoritmos a serem descartados naturalmente durante o processo de projeto. Dependendo das circunstâncias de trabalho, como um objeto pequeno ou a utilização instrumental17 de um algoritmo, seu argumento fará sentido. Contudo, em um trabalho extenso cuja abordagem é realizada quase que inteiramente dentro de um ambiente paramétrico, torna-se impossível gerar um novo protótipo de algoritmo a cada vez que surja uma modificação estrutural. 15  Brep é a abreviação de boundary representation, uma superfície complexa, formadas por um conjunto de superfícies secundárias, que pode ser aberta ou fechada em si mesma. 16  Do original: In the waterfall method, a project is broken down into a series of stages: requirements, design, implementation, verification, and maintenance. (...) Each stage is completed before proceeding to the next, with the hope being that if the requirements are finalised before commencing the design (or any other subsequent stage), then there will be no late changes from unexpected alterations to the requirements (or any other proceeding stage). 17  A utilização instrumental é definida aqui como o emprego de algoritmos como parte complementar e secundária de um processo de projeto tradicional a fim de tirar proveito das suas qualidades derivadas de um ambiente digital.


LIMITES DA REPRESENTAÇÃO COMPUTACIONAL A representação arquitetônica tem como necessidade inerente a descrição geométrica com um dado grau de detalhamento, o que em níveis mais precisos dentro de um ambiente computacional como o descrito anteriormente causa um grande aumento na quantidade de funções incorporadas por um algoritmo, elevando o número de conexões em sua estrutura, e como conseqüência disso também a sua complexidade. A tarefa de programar passa a consumir mais tempo e a sua própria execução fica mais lenta, pois a propagação informacional contém mais operações a serem processadas e o software fica limitado à potência do hardware. Isto causa problemas ao usuário, pois para passar a sensação de ser responsivo um modelo paramétrico precisa apresentar uma resposta visual em tempo real, cujo latência ideal é <1/30 de segundo (WOODBURY, 2010) mas tolerável até aproximadamente um segundo (DAVIS, 2013). Por conta dos dois seguintes pontos, o primeiro sendo a baixa eficiência na relação detalhamento/tempo destes ambientes de programação devido à complexidade algorítmica e o segundo uma demanda crescente de poder de processamento para lidar com o encadeamento de processos, é necessário uma resposta metodológica adequada. Uma opção é a adoção da sistematização informacional de sistemas BIM como forma de apoio ao processo de projeto. Portanto, toma-se emprestado a classificação do Level of Development (LoD), que sugere um nível de detalhamento informacional e geométrico de um objeto virtual em função do grau de desenvolvimento de um projeto. Esta sistematização busca classificar patamares de detalhamento em modelagens voltadas para a construção civil, nas várias etapas de desenvolvimento de uma edificação, como posta em sua descrição: “Especificar e articular com um alto grau de clareza o conteúdo e a segurança de Modelos de Informação de Edificações nas várias etapas do processo de projeto e construção.”18 (BIMFORUM, 2015, p.11) O modelo não necessita ser exclusivamente composto por elementos com um nível específico de desenvolvimento definido, mas seus elementos buscarão se aproximar desta meta, e em certos casos poderão até mesmo ultrapassá-la, caso seja necessário em função da complexidade ou outras especificidades dos objetos (BIMFORUM, 2015). Para representar os objetos que constituem um projeto dentro de um ambiente parametrizado, uma marca que parece ser razoável é o LoD 200-300. Ambos os níveis possuem a mesma descrição: “O elemento é representado graficamente dentro do modelo como um sistema genérico, objeto ou conjunto em similar quantidade, tamanho, forma, localização e orientação. Informações tabulares também pode estar inseridos no elemento.”19 (BIMFORUM, 2015, p. 11) 18  Do original: (...) specify and articulate with a high level of clarity the content and reliability of Building Information Models (BIMs) at various stages in the design and construction process.” 19  Do original: “The Model Element is graphically represented within the Model as a generic system, object, or assembly with approximate quantities, size, shape, location, and orientation. Non-graphic information may also be attached to the Model Element.”


Contudo, a interpretação da publicação difere sobre os dois níveis, ilustrando seu conceito através da representação da articulação de um pilar metálico com sua base de fixação: LoD 200: Neste nível de desenvolvimento os elementos são genéricos e demarcam espaços. Eles podem ser reconhecíveis com os objetos a que representam, ou eles podem ser massas que reservam espaços. Qualquer informação derivada de elementos com nível de desenvolvimento 200 deve ser considerada aproximada.20 LoD 300: “A quantidade, tamanho, forma, localização e orientação do elemento designado pode ser mensurada diretamente do modelo sem ser necessário recorrer a outras informações que não estão modeladas, como observações ou cotas.”.21

ORIENTAÇÕES Tipologia e representação paramétrica podem estar associadas de modo se complementarem. O algoritmo define o limiar para a generalidade tipológica, permitindo explorar as qualidades dos meios digitais em projeto ao mesmo tempo em que é complementado pela riqueza de um pensamento validado pela recorrência temporal, reduzindo as chances de fraturas topológicas. Contudo, em vista das ferramentas disponíveis bem como de suas limitações, são ressaltadas as seguintes características a serem levantadas no desenvolvimento de uma metodologia híbrida: »» Baixo grau de detalhamento de um modelo paramétrico, especialmente se for o tipo a ser representado for complexo; »» Dificuldades para trabalhos colaborativos diretamente no ambiente de programação visual, tendo em vista a necessidade de protocolos de comunicação e interfaces adequadas. »» Possibilidade de aumentar o grau de sensibilidade e adaptabilidade de um tipo arquitetônico enquanto sistema aberto perante seu ambiente, explorando os estados-limite de organização informacional. »» Transduções de forças acidentais para o ambiente digital, tais como legislação incidente, forças ambientais, forças sociais, elementos de paisagem e algum grau de reconhecimento de entorno.


ESPAÇO DE TRABALHO CAPÍTULO 4


A EVOLUÇÃO DO ESPAÇO de trabalho revela a influência as transformações que a sociedade passa em variados aspectos. Sistemas econômicos, políticos e tecnológicos possuem uma grande parte de responsabilidade no condicionamento das propriedades essenciais da tipologia comercial, propriedades estas que articulam a grade organizadora neutra que dá origem aos tipos arquitetônicos e as instâncias, materializações específicas destes. Uma análise histórica da tipologia comercial ressalta que durante o seu desenvolvimento importantes pontos de convergência são evidenciados, como similaridades arquitetônicas apesar de distanciamento geográfico; o vínculo com tecnologias que, em um primeiro olhar, independem da Arquitetura. Nesse ponto, a Revolução Industrial proporciona a condição para um período de intensa experimentação

que ocorre subsequentemente, marcando a virada da transformação do comércio para administração em escritórios. Esta complexificação da atividade comercial coincide com uma explosão demográfica, tomando uma forma condicionada pela crescente demanda de espaços urbanos. As cidades, então, se adensam a uma velocidade frenética, produzindo respostas formais à demanda de solo urbano, ao mesmo tempo em que a invenção de tecnologias e sua adoção pela arquitetura levam a um constante processo evolutivo na tipologia. Mudanças comportamentais e normativas condicionadas pelas novas tecnologias passam, então, a produzir edifícios que adotam um paradigma de isolamento ambiental, cujo contínua separação entre ambiente externo e edificação vai pouco a pouco se transformando em vínculo de dependência.


O ESPAÇO DO COMÉRCIO EM ÉPOCAS ANTIGAS

Fig. 20. Estoa de Átalo, construída no período helenístico pelo rei Átalo II de Pérgamo e restaurada em em 1950. Exemplo de estoa com variação de pé-direito em seus pavimentos. Fonte: Flickr.com

Fig. 21. Plantas da estoa de Átalo. Andar superior (acima) e térreo (abaixo). Fonte: Adaptado de Wikimedia.org

Uma retrospectiva sobre o espaço de escritório traz à luz tipos específicos, que embora primitivos, constituem os fundamentos da construção de uma evolução tipológica: A estoa grega e as casas de guildas renascentistas. Do nosso ponto de vista podemos entender que o comércio da época se apresentava de uma forma rudimentar, pouco sofisticada. Entretanto, a idéia subjacente que se mostra relevante para o entendimento do seu desenvolvimento até os dias de hoje é adequação dos espaços às demandas impostas pelos sistemas econômicos, pelas tecnologias e pelas sociedades. No mundo greco-romano, a história do espaço da atividade comercial se firma principalmente através da tipologia da estoa grega, um grande salão aberto margeado por colunas que podia ser usado como espaço de trabalho e trocas de mercadorias, cujo exemplar marcante é estoa de Átalo. (Fig. 20) Ressalta-se como a arquitetura da estoa, ao apresentar uma colunada, configura um espaço público aberto, com maior visibilidade e interação social, mas ao mesmo tempo também conta com celas, espaços fechados e mais privados, abrigando lojas ou pequenos escritórios (UFFELEN, 2013). Através de um desenvolvimento linear, este tipo de espaço comercial já apresenta uma estrutura espacial que vincula um agrupamento de pequenas células privadas a um ambiente maior, público. Hensel (2013) as utiliza como exemplo de


arquitetura antiga que incorpora a performance, pela qual um simples sombreamento é capaz de diferenciar espaços, fazendo com que qualidades ambientais heterogêneas emerjam. Outro importante exemplo de tipologia se encontra no breve hiato da idade média, que marcou uma implosão da atividade comercial dentro da Europa por conta da fragmentação territorial; retorno a uma economia agrária; e insegurança pelas invasões de magiares, sarracenos e vikings. Contudo, após a estabilização social e retorno do crescimento da atividade agrícola (formando excedentes comercializáveis), o comércio saiu de um estado catatônico e refloresceu, adquirindo novas formas de organização através de grandes guildas no Renascimento - como a liga Hanseática - e cidades-estado que iriam buscar ativamente novas rotas de comércio através do mar Mediterrâneo, como Veneza e Pisa. Este tipo de atividade requereu o desenvolvimento de espaço especializados para a execução de novas tarefas administrativas, o que anteriormente era suportado pela solidez do Império Romano. Não por acaso, surgiram neste momento tanto em cidades como Florença, no mar mediterrâneo, como em Bruges, no mar báltico, os tipos das grandes casas de comércio, sob a forma de um centro cívico integrado a uma área de comércio e pousada que serviam de palco e apoio para as transações (UFFELEN, 2013). Mesmo com as enormes distâncias envolvidas, tendo em vista as limitações de transporte da época, o surgimento de um mesmo tipo arquitetônico em cidades longínquas demonstra o sucesso de uma tipologia particular em abarcar as necessidades da atividade comercial em variados pontos geográficos, demonstrando o seu caráter essencial e uma baixa variabilidade em suas propriedades acidentais. Com o tempo, o comércio vai se desenvolvendo, ganhando sofisticação e acumulando recursos que futuramente iriam definir uma economia plenamente capitalista, confirmando a tendência de que, à medida em que os outros subsistemas sociais ganham complexidade e passam por fases de crises e expansão, a Arquitetura, enquanto subsistema social, é assim influenciada e fornece respostas através de seu repertório tipológico, que é formado também pelo conhecimentos formais e pelas tecnologias construtivas desenvolvidas à época. Consequentemente, os espaços de trabalho vão adquirindo características morfológicas como áreas de recepção próximas ao térreo e salas nos pavimentos superiores; maior demanda por espaços; acesso à luz natural; especialização espacial em função de trabalhos específicos.

Fig. 22. Centro cívico de Stralsund, Alemanha. Construído em estilo gótico. Fonte: Wikimedia.org


Especialmente no século XIX há um grande salto nas técnicas construtivas, técnicas de framing em ferro fundido são desenvolvidas, a produção do vidro aumenta e o seu preço se torna mais acessível. De acordo com Uffelen (2013), a quantidade de edifícios europeus de administração pública aumenta rapidamente, apresentando em muitos casos uma recepção no térreo e um conjunto de espaços de trabalho interligados por corredores nos andares superiores. Nas cidades da Europa setentrional, especialmente na Inglaterra e nas cidades da liga hanseática, as counting houses passaram a oferecer escritórios flexíveis, passíveis de serem subdivididos sem estarem confinados a um layout rígido. Às portas da revolução industrial, o espaço de trabalho ganha sofisticação ao apresentar tendências de especialização espacial, adaptabilidade de sua planta, e qualidade ambiental para o desempenho das atividades.

O IMPACTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL O período da primeira revolução industrial marca profundas mudanças estruturais na sociedade que sepultam a atividade arquitetônica patrocinada pela monarquia, clero e nobreza, enquanto que a burguesia ascende socialmente através de um alavancamento econômico. A produção cresce de maneira tão espetacular que gera a necessidade de controle e administração de uma forma nunca antes vista. Como explorado por Vargas (2014, p. 174) ao afirmar que "o aumento da produção industrial e o tamanho das fábricas do início do século XX vai exigir a centralização das atividades de decisão e de administração em um mesmo local, separadas do chão de fábrica." O conceito bullpen é formatado quando os pensamentos arquitetônicos baseados nas teorias tayloristas e fordistas desta época são formalizadas no setor terciário. Neste momento, as tarefas de administração que ocorrem em escritórios ganham independência da produção ou do comércio. Como conseqüência, emerge uma tipologia de edifícios que centralizam as tarefas administrativas das indústrias, sendo construídas por elas mesmas e inicialmente projetadas para acomodar ambas as funções em um mesmo sítio (VARGAS, 2014). O layout dos espaços internos no conceito bullpen passa a ser conhecido como american office, vindo a predominar até meados de 1950, o qual: “ deveria ser conseqüência da organização administrativa: andares superiores para o alto escalão com salas grandes e fechadas; espaço único para os funcionários de menor hierarquia, enfileirados em suas mesas como uma grande linha de montagem, passíveis de serem controlados pelo escalão intermediário, em posição mais elevada.” (Andrade, 2007, apud VARGAS, 2014, p. 174) Na organização espacial desta tipologia, os grandes espaços eram reservados à massa trabalhadora de baixo escalão, enquanto a parte superior da hierarquia detinha


ambientes privativos e de maior qualidade. A homogeneidade de qualidade espacial dos grandes vãos dos escritórios bullpen se encaixa em um pensamento industrial de estandartização das necessidades humanas, apresentando um layout de ordenamento rígído e sem privacidade que depois revelou-se nocivo à produtividade do trabalhador.1 Dentre os agentes que participam na produção imobiliária, Vargas (2014) também caracteriza os interesses das empresas na Arquitetura, os também chamados clientes corporativos. A intenção destes está voltada especialmente ao uso para uma determinada atividade, buscando encontrar no projeto eficiência, produtividade, imagem, conforto, baixo custo de manutenção, retorno permanente pelo bom negócio. Não por acaso, estes serão os principais pontos nos projetos de arquitetura desenvolvidos diretamente para a indústria, como ilustrado pelo conceito bullpen. Deve ser notado que a pressão da lógica de produção fordista na arquitetura resulturara em uma cultura imperativa no espaço de trabalho pela eficiência para o capital, que orientou o desenvolvimento deste rumo a uma homogeneidade espacial apoiada pelas tecnologiasl: O conceito de usuário padrão predomina, em parte, porque simplifica o problema de uma modo negativo. A padronização espacial excessiva pasteuriza a diversidade, suprime a riqueza de possibilidades, como colocado ainda por Hensel (2013): "Os aspectos quantitativos sobrepujaram os qualitativos enquanto as aspirações sucumbiam a uma espiral decrescente de expectativas reduzidas e monotonia."2 1  Como resposta posterior, deve ser notado que o conceito adotou a mobília cubicular como forma de demarcar espaços mais reservados, pessoais, solução que se mostrou posteriormente não ser tão bem aceita. 2  Do original: "The quantitative has defeated the qualitative as aspiration has succumbed to a deflationary spiral of reduced expectation and monotony."

A ORIGEM DOS EDIFÍCIOS CORPORATIVOS O grande incêndio que Chicago sofre em 1871 devasta uma cidade simples, construída à base de madeira, mas cria a oportunidade para uma reconstrução e adensamento entre 1880-1900. Os protótipos dos arranha-céus nascem para, segundo Frank Lloyd Wright, "multiplicar as áreas afortunadas quantas vezes for possível, vender e revender a área do terreno original" (Wright apud BENÉVOLO, 2014) apresentando coerência com a lógica matemática e econômica do loteamento americano aberto a infinitas expansões. O processo de adensamento do local original da antiga aldeia a converte para um centro de negócios moderno, propiciando a oportunidade para o surgimento de uma escola de Arquitetura caracterizada por um estilo orgânico e pela busca da identidade americana através de formas robustas ao mesmo tempo em que reage ao conceito bullpen: a Escola de Chicago (VARGAS, 2014). Deve-se ressaltar que no contexto da escola há o impacto de um conjunto de tecnologias que começa a transformar as possibilidades arquitetônicas: os elevadores, em 1854, que permitiram uma expressão cada vez mais vertical da forma, invertendo completamente a lógica tradicional de desvalorização dos pavimentos em função de sua altura (VARGAS, 2014); o telefone, em 1876, ponto de partida da telemática e que permitiu a conexão informacional instantânea e bidirecional sem que o usuário precisasse se deslocar fisicamente; e a estrutura em aço, que liberta a fachada da função estrutural e permite uma esbeltez impossível de ser alcançada com qualquer outra técnica construtiva (BENÉVOLO, 2014). Também são notada as limitações apresentadas até


então pelos sistemas de ventilação e iluminação artificial, bem como restrições na compartimentalização da planta devido ao espaçamento estrutural; assim, ficou estabelecido um limite prático para a largura das edificações que variava entre 15 a 20 metros (VARGAS, 2014). Segundo Vargas (2014), neste período as grandes contribuições de Frank Lloyd Wright para a organização interno dos escritórios Bullpen ocorrem especialmente por meio de duas edificações: O Larkin Building e a sede da Johnson Wax Company. Os dois edifícios possuem espaços de trabalho introvertidos, protegidos da interferência do ambiente externo para aumentar a concentração dos trabalhadores, e é de singular interesse ressaltar a adoção de estratégias para a iluminação natural dos ambientes. Fig. 23. Corte dos escritórios da Johnson Wax Company. Fonte: Archdaily.com Fig. 24. Vista do salão dos escritórios da Johnson Wax Company, projetado por Frank Lloyd Wright e construído entre 1936 e 1939. Destaque para os pilares pungiformes, iluminação zenital e introversão do espaço de trabalho para ganho de concentração. Fonte: Dezeen.com


Fig. 25. Larkin Building, rojetado por Frank Lloyd Wright em 1905 e hoje demolido. Aqui, o prédio possui incorpora o conceito bullpen. Sua forma pesada e impenetrável feita por tijolos contrasta com um átrio que permite a entrada de luz por sua abertura zenital, privilegiando um grande espaço interno para trabalho. Fonte: Wikimedia.org

Fig. 26. Vista do salão interno do Larkin Building, que conta com iluminação natural através da abertura zenital, funcionando efetivamente como um átrio. Fonte: Wikimedia.org Fig. 27. Planta baixa do Larkin Building. Relevante destacar as proporções da planta e o posicionamento das esquadrias e do átrio central em função das limitações da iluminação natural. Fonte: Wikimedia.org


Fig. 28. Schlesinger and Meyer Store (1899-1904), obra de Louis Sullivan. Também conhecido como Carson and Pirie Scott Building. Fonte: Pinterest. com

Outra componente crucial para a evolução tipológica do espaço de escritório é a verticalidade, requerendo uma exploração estética adequada. É pela obra de Louis Sullivan em que a edificação comercial é reinterpretada esteticamente em função da sua condição de produto do mercado imobiliário em face à escassez de terra, de modo que sua composição trabalha a subdivisão em base, fuste e capitel (VARGAS, 2014). O embasamento abrigaria os comércios, estando tanto acima de um pavimento técnico no subsolo e abaixo de outro intermediário (possivelmente com função compositiva), requerendo "vastas áreas, luminosidade difusa e entrada fácil" (SULLIVAN apud BENÉVOLO, 2014, p. 250); o fuste é formado através da repetição indefinida do pavimento-tipo e entendido como um bloco único; e por fim o capitel ou ático, onde não há nada mais senão o final do sistema de circulação vertical e a finalização da composição externa. Nesta visão estética, é o espaço do escritório o módulo da composição tanto no eixo vertical como no horizontal, determinando o dimensionamento estrutural e conseqüentemente a cadência do ritmo na fachada. Assim, a lógica de operação de multiplicação do valor da terra através do adensamento ganha, pela visão de Sullivan, uma forte preocupação compositiva, enfatizando as proporções espaciais e a busca por uma linguagem adequada mediada pelos novos materiais. Mesmo que a Escola de Chicago tenha se esfacelado em função do retorno de um classicismo europeu cujas causas Benévolo (2014) explora, já se identifica neste momento as transformações que o espaço de comércio sofre e a emergência de uma nova tipologia genuinamente americana: o arranha-céu.


A TRANSFORMAÇÃO PELA CRISE DE 1929 Com o declínio da Escola de Chicago marcado pelos resultados neoclássicos da Exposição Colombiana de 1893, o palco de efervescência arquitetônica se transfere para Nova York. Dentre os acontecimentos notáveis, podemos destacar o impacto da legislação local na forma da edificação3, que para controlar o nível de insolação das ruas em função de uma verticalização rápida, obrigou os arranha-céus a terem um capitel escalonado, diminuindo seu tamanho progressivamente a partir de uma determinada altura para aumentar a penetração do sol no nível do pedestre. Um exemplo notável é o Chrysler Building (1930), projetado por William van Allen para um cliente corporativo em estilo art-deco. A construção do Empire State Building (1931) pelos arquitetos Shreve, Lamb & Harmon, marca o fim do art déco americano e do primeiro período de intensa verticalização. O prédio atravessou o contexto da grande crise de 1929, permanecendo vazio por muito tempo, o que fez com que, posteriormente, os edifícios de escritório assumissem a condição de produto imobiliário, sem cliente definido, 3  Segundo Vargas (2014, p. 179), a Lei de Zoneamento de Nova York, de 1916, “[...] fazia a largura das lajes diminuírem com a altura, assumindo a forma piramidal dos zigurates. Essa opção em formato de zigurate implicava em uma solução de planta diferente das anteriores, posicionando o core (elevadores, escadas e áreas molhadas) na parte central dos edifícios, com os escritórios iluminados somente pelas laterais.” É importante ressaltar que esta solução perdura até os dias de hoje pela sua racionalidade também estrutural, pois o core em posição central, normalmente executado em concreto, otimiza o comprimento dos vãos e serve como apoio estrutural para cargas estáticas e contraventamento para as dinâmicas.

Fig. 29. O Empire State Building recém-inaugurado em 1931. Por conta da dificuldade para encontrar arrendatários, o edifício marca o sepultamento do paradigma vigente da produção de espaços de escritórios, que se torna então mais próximo de uma commodity e passa a reorientar a arquitetura. Fonte:karashall.blogspot.com. br/2011/07/empire-state-building.html


Fig. 30. O Chrysler Building marca a importância da Arquitetura para as corporações através de do capitel revestido em cromo, assim como os automóveis produzidos por esta indústria, buscando alcançar o status de prestígio.


projetados principalmente para arrendamento, pensados como valor de troca e investimento. Segundo Vargas (2014), os proprietários rentistas olham o imóvel como valor de troca, visando ao aumento da renda ou da riqueza, buscando em projeto: flexibilidade, rentabilidade, imagem, baixo custo de produção e operação, retorno imediato e liquidez. Esta reorientação de valores cria um claro contraste entre as qualidades priorizadas pela produção arquitetônica da época do bullpen, onde os clientes eram as próprias indústrias, e a transformação do espaço comercial que se aproxima de uma commodity, priorizando a comerciabilidade do espaço. Após a grande crise de 1929, o reordenamento econômico através do New Deal estabelece a intervenção estatal na economia baseado em teorias keynesianas e um estado de bem-estar. A recuperação dos Estados Unidos se efetiva no pós-guerra e o país passa a atuar como banqueiro internacional em troca da abertura dos mercados de capitais e de mercadorias, formando assim mercados globais. O revigorado cenário econômico permite a regulamentação do mercado imobiliário, abrindo caminho para a recuperação deste. Neste contexto, a invenção do ar-condicionado em 1924 e sua subseqüente adoção é de especial importância para o entendimento da evolução tipológica. Esta tecnologia é apontada como uma das principais responsáveis por uma mudança brusca de paradigma ao guiar a edificação rumo a um isolamento do ambiente natural, obtendo grande êxito em sua aceitação ao redor do mundo, inclusive em regiões de clima quente e úmido, ao aumentar o desempenho no trabalho ao garantir conforto térmico, ainda seguindo modelos pautados pela homogeneizaçao da força de trabalho.

O ESTILO INTERNACIONAL O desenvolvimento do Estilo Internacional começara anos antes, com o embrião sendo escrito um manifesto de 1922 por Philip Johnson e Henry Russel Hitchcock. Os princípios deste estilo de natureza euro-americana4 enfatizam a leveza, as proporções, a unidade, regularidade e perfeição técnica, banindo a participação do ornamento (VARGAS, 2014). Um marco de sua produção é a finalização do Seagram Building em 1958, em Nova Iorque. Projetado por Mies van der Rohe e Philip Johnson, o edifício incorpora uma estética racionalista que suprime o ornamento para dar lugar a uma clareza volumétrica, pela qual o ritmo marcado pela estrutura metálica e materiais de alta qualidade ganham destaque na composição.

4  É importante ressaltar a participação vital do Museu de Arte Moderna (MoMA, no original) de Nova York, ao publicar o manifesto pela primeira vez em 1932 em uma exposição, e antes mesmo de entrar em detalhes, saber que o próprio MoMA havia sido fundado por corporações norte-americanas que buscavam uma imagem em si mesmas na arquitetura de seus edifícios, o que acabou desembocando na importação de idéias européias.


Fig. 31. Vista do Seagram Building, à época de sua inauguração.

A conjugação de estrutura independente, cortinas de vidro e simplicidade vai se complementando com a planta-livre - característica que reforça a possibilidade do edifício ser comercializado sem estar atrelado a um cliente específico. Esta característica complementa perfeitamente o conceito alemão de landscape office (escritório panorâmico), que atingiu seu pico em 1950. Nele, os ambientes de trabalho contam com células organizadas e parcialmente abertas, evoluindo posteriormente para estações de trabalho, estas mais reservadas. Como explorado por Hensel (2013, p. 71): "Escritórios de paisagem ou Bürolandschaften eram constituídos por amplos espaços livres, nos quais agrupamentos de estações de trabalho eram organizadas de acordo com um fluxo de trabalho planejado previamente. Argumentava-se que a homogeneização do ambiente interno minimizaria quaisquer distrações visuais, auditivas ou táteis, otimizando assim o rendimento do trabalho e, conseqüentemente, elaborou-se um conjunto de diretrizes para obter uma organização espacial nestes ambientes."5 O edifício open-plan (planta livre) acaba também por transferir para o mobiliário a responsabilidade de organização de seus espaços internos e o custo destes para os futuros usuários; ampliam o número de possíveis clientes ao neutralizar o espaço; retiram do empreendedor o custo da construção das divisórias, diminuindo o peso da estrutura e facilitando a sua construção. Esta nova condição cinde o projeto de arquitetura em dois: o do prédio, com o proprietário rentista, 5  Do original: "Office landscapes or Bürolandschaften constituted vast open-plan spaces in which clusters of workstations were arranged according to anticipated workflow. It was argued that a homogeneous interior environment minimised any visual, aural or tactile distractions, thus optimising the workflow, and a corresponding set of rules for environmental homogenisation was laid down accordingly."


que busca maximizar o seu retorno financeiro, e o dos escritórios, no qual o usuário precisa adaptar um espaço genérico e pouco adequado a suas necessidades específicas. Dada uma posição de liderança política e econômica dos Estados Unidos no ocidente, a arquitetura do Estilo Internacional se torna um símbolo do progresso econômico. Adicionalmente, a combinação entre entendimento do espaço como um tipo de commodity e o progressivo distanciamento do ambiente natural propiciado pela adoção de tecnologias acabou por criar uma conjuntura que facilitou replicação destes tipos de torres do Estilo Internacional em regiões de clima quente e úmido. Isto resultou em um processo de importação de soluções arquitetônicas para o mesmo tipo de uso, agora em um ambiente diferente, que de certa forma é análogo ao surgimento de grandes casas de comércio renascentistas, mas desta vez em escala global. Contudo, salienta-se que a produção do Estilo Internacional é marcada pelo emprego do vidro nos sistemas de vedação nas fachadas para maximizar o ingresso da iluminação natural. Isto é possível porque o edifício utiliza o ar-condicionado para manter o controle da temperatura dos ambientes internos. Em um clima quente e úmido, e especialmente próximo à linha do equador, os ganhos térmicos aumentam o consumo energético da edificação por refrigeração dispara. Ainda assim a produção contemporânea de espaços corporativos no Brasil segue a fórmula original do Estilo Internacional, não apenas seguindo o paradigma de isolamento hermético como ainda replicando a estética de volumes envidraçados. Mesmo no mercado de edifícios corporaitvos de luxo, os chamados triple A, os lançamentos não buscam novos caminhos (VARGAS, 2014). Um destes casos é a Infinity Tower projetada pelos escritórios Aflalo e Gasperini em parceria com a KPF, construído em São Paulo no ano de 2012. (Fig. 33 e 34)

Fig. 32. Plantas do Seagram Building. Da esquerda para a direita: a) Planta do pavimento térreo; b) e c) Opções de diferentes layouts na planta do pavimento tipo.


Fig. 33. Vista da Infinity Tower, em São Paulo. Fonte: Flickr.com Fig. 34. Planta do pavimento tipo da Infinity Tower. Fonte: Cedido pela KPF e adaptado pelo autor.

Este projeto recebeu a certificação do selo LEED no nível Gold, o segundo maior do programa de etiquetagem. Foram aplicadas uma série de elementos tecnológicos, como especificação técnica de vidros com alto fator de proteção solar, baixa emissividade; utilização de equipamento de refrigeração do tipo VRF; instalação de dispoisitivos KERS nos elevadores. Certas práticas de gestão sustentável durante a sua construção também foram adotadas, como a redução e reciclagem dos resíduos gerados durante a obra. Apesar de todos os esforços para mitigar os efeitos da inadequação climática (e que são traduzidos em um custo maior da obra e menor consumo durante sua vida útil), a edificação essencialmente ainda pertence ao mesmo tipo arquitetônico desenvolvido no Estilo Internacional, uma vez que possui uma fachada completamente envidraçada, utiliza o resfriamento por sistemas ativos, apresenta uma estrutura independente que gera uma planta-livre, aproxima o espaço de trabalho das esquadrias e possui um núcleo central de circulação e serviços que serve como estrutura.


INADEQUAÇÃO E INEFICIÊNCIA A replicação de edifícios que seguem o Estilo Internacional sem considerar as variáveis climáticas do seu entorno acaba por aumentar a necessidade de utilização de sistemas ativos para garantir conforto ambiental aos usuários e conseqüentemente, elevando os gastos energéticos (MALLGRAVE, 2011). O progressivo abandono de práticas projetuais que prezavam pela integração ambiental sistêmica foi outro fator crucial no desenvolvimento desta relação entre sistemas ativos e arquitetura. Tais estratégias remetem à era pré-industrial e vinculavam espaço construído e espaço natural por meio de estratégias passivas de conforto ambiental, mas que, devido principalmente aos avanços tecnológicos e à adoção da climatização artificial, vieram a ser consideradas defasadas e retrógradas diante de exigências normativas cada vez mais rígidas (JOHNSON, 2014). Desenvolve-se, assim não só um vínculo de dependência durante a evolução tipológica dos edifícios, como também uma cultura de climatização no espaço de escritório, aumentando o consumo de energia elétrica das edificações, que por sua vez é amplificado por arquiteturas dependentes de sistemas ativos para climatização e inadequadas ao seu contexto climático (JOHNSON, 2014; HENSEL, 2013). Uma vez que as pessoas passam a maior parte do seu tempo dentro de espaços edificados para desempenhar suas atividades diárias, as características de conforto ambiental dos edifícios acabam por ser determinantes no perfil de consumo energético desse setor (MONTEIRO, 2015). Para se ter uma idéia da magnitude do problema, dados retirados do Balanço Energético Nacional informam que 50,8% da energia elétrica do Brasil é consumida pelo setor de edificações (EPE/ MME, 2016), ocorrendo principalmente durante a vida útil do edifício, para sua operação e atividades cotidianas dos usuários (UNEP, 2009). Deste montante, a maior parte é consumida por sistemas artificiais para iluminação, condicionamento de ar e aquecimento de água. Em climas quentes e úmidos, a demanda energética de sistemas ativos, como climatização e iluminação artificial chega a ser 47% e 22%, respectivamente, da demanda energética total de edifícios de escritórios (ELETROBRÁS, 2007). Torna-se, então, imperativo propor alternativas ao ambiente tradicional de trabalho. Uma possibilidade para a redução significativa da demanda energética das edificações é um retorno à arquitetura bioclimática. Este caminho oferece respostas mais sustentáveis, que são capazes de reduzir a demanda energética através de sistemas passivos adequados às características do clima local onde ele será construído, fazendo uso de sistemas passivos, como, por exemplo, o aproveitamento de iluminação e ventilação naturais (GIVONI, 1994).


ESTUDO DE CASO: MENARA MESINIAGA

Fig. 35. Vista da Menara Mesiniaga. Fonte: Flickr. com

Como estudo de caso para o trabalho, escolheu-se o Menara Mesiniaga, projetado pelo arquiteto Ken Yeang, uma vez que o edifício adota uma integração bioclimática com seu ambiente, fazendo um contraponto ao paradigma do isolamento hermético característico ao Estilo Internacional. Precursora dos edifícios bioclimáticos contemporâneos, esta torre é fundamental para a discussão acerca da sustentabilidade na Arquitetura, e a compreensão desta enquanto sistema inserido em um ambiente. Também foi fator decisivo para a escolha a semelhança climática entre Fortaleza e Subang Jaya, com altas temperaturas, baixa amplitude térmica e umidades constante ao longo do ano. A edificação foi projetada para abrigar a Mesiniaga, importante empresa de tecnologia da Malásia, à época subsidiária da IBM. É importante ressaltar que foi um pedido do próprio cliente possuir uma edificação de alta tecnologia que servisse como showcase da própria empresa e que fornecesse uma atmosfera confortável para seus empregados.


Fig. 36. Vista de satélite do Menara Mesiniaga. Fonte: Google Earth

Localização: Subang Jaya, Selangor, Malásia (3°03’N 101°35’L) O entorno do Menara Mesiniaga é uma transição entre espaço natural e construído. Dentre os elementos da paisagem estão um lago, passível de ser visto em todos os pavimentos da edificação; alguns conjuntos residenciais, edifícios de escritório e uma mesquita. Também é importante destacar que o prédio se situa praticamente em uma das junções de uma importante auto-estrada que liga Kuala Lumpur a seu aeroporto, em um terreno de alta visibilidade. O programa de necessidades do projeto é subdividido em três agrupamentos funcionais: áreas de trabalho, com o espaço de escritório propriamente dito; áreas de convivência e lazer, incluindo academia, café, piscina; áreas técnicas e de apoio, com banheiros, circulação e equipamentos. Deve ser notado que a influência do conceito de arquitetura bioclimática contribuiu para a inclusão de áreas de jardins neste cômputo de área total como espaço essencial para o desempenho de atividades. O agrupamento de salas técnicas e de apoio contabiliza dez salas de reuniões, uma sala de conferência, um auditório com 130 lugares, seis salas de aula, salas para exibição de produtos e capela.

Arquitetura: TR Hamzah and Yeang Principais membros: Ken Yeang Tempo de Projeto: 1989-1992 Tempo de Finalização: 1989-1992 Uso: Corporativo Cliente: Mesiniaga Sdn. Bhd. Área da Edificação: 6,503m² Número de Pavimentos: 14+1 Altura da Edificação: 63m Estrutura: Aço e concreto Custo: $55.324.705,63 (conversão aproximada) Premiações Relevantes: Prêmio Aga Khan

PROGRAMA Escritórios Academia, café, etc.

m² 6.741,50 476,34

Varandas e jardins

1.981,38

Circulação e banheiros

2.318,45 1.981,38

Salas técnicas

1.424,02

Garagem (145 vagas)

404,00

Área Total

12.345,69

Área do Terreno

6.503,00


Fig. 37. Isométricas da edificação. Da esquerda para a direita: a) Edifício completo; b) Jardins circundantes; c) Orientação solar; d) Brises em ACM.

Diferente de uma forma fechada, o Menara Mesiniaga é entendido como uma forma orgânica integrada ao seu ambiente produzida pelo entendimento da arquitetura enquanto sistema. Portanto, já que uma classificação tradicional não é capaz de descrever a qualidade estética do objeto, é necessário levar em consideração as principais forças de conformação que atuam sobre ele. Estas são o percurso solar de baixas latitudes, a iluminação natural assim como os ventos locais. Partindo desses pressupostos, a análise formal também deve levar em consideração o grau de experimentalidade do edifício, o amadurecimento desta abordagem bioclimática e a época no qual foi produzido. Apesar do seu processo de concepção, percebe-se no projeto um gesto artístico através do croqui de Ken Yeang, que mostra a intenção de serpentear a edificação com uma massa vegetal, partindo do talude e chegando até o topo. Contudo, como o resultado obtido tem um efeito diferente do planejado, é possível imaginar que algum tipo de restrição orçamentária para as lajes jardins tenha contribuído para a notável ausência da vegetação. O zoneamento dos pavimentos da torre posicionam o bloco de circulação vertical e áreas de apoio na lateral leste da planta circular. Este arranjo periférico aumenta o aproveitamento do espaço ao aumentar sua continuidade. Todos os pavimentos de espaço de trabalho também possuem áreas externas que contêm vegetação, propiciando visuais para a paisagem e oferecendo espaços com qualidades diferenciadas.


De maneira incomum, as salas reservadas aos executivos de alto escalão, feitas em divisória, são locadas no centro do círculo e não nas áreas com melhores vistas, fazendo com que aproximadamente 60% dos ocupantes da área de trabalho fiquem próximos das janelas, luz natural e com visão para o ambiente externo.

Fig. 38. Amostra de pavimentos da torre. Esquerda superior, primeiro piso; direita inferior, cobertura. Fonte: Adaptado de Weston (2011) Fig. 39. Isométrica de um pavimento. O espaço de trabalho é distribuído perifericamente, enquanto que salas de reuniões ficam no centro. Fig. 40. Cortes da edificação. Detalhe para o talude artificial que protege os três primeiros pavimentos da insolação direta. Fonte: Adaptado de Weston (2011)


O Menara Mesiniaga apresenta um sistema estrutural misto e independente. O elementos verticais de apoio são tubos cilíndricos feitos em aço com revestimento em compostos alumínicos (ACM). Estes pilares periféricos criam uma planta-livre que busca a versatilidade do espaço. As lajes foram executadas em concreto que aparenta ser uma tecnologia similar à laje nervurada. Deve-se ressaltar que, por conta das características climáticas do sítio e da exposição de certos materiais, houve a corrosão dos elementos metálicos. Dentre as principais estratégias passivas incorporadas pela edificação, pode-se numerar como as mais relevantes: »» A ventilação natural sob a forma de ventilação cruzada, realizada em todos os pavimentos através de janelas do tipo maxim-ar instaladas ao longo do perímetro da planta, em virtude dos ventos locais que possuem um padrão pouco previsível; »» O sombreamento das aberturas por meio do emprego de brises em ACM e especificação de vidros de alto desempenho, ao mesmo tempo permitindo a abertura das janelas para realizar a exaustão do ar; »» Emprego do bloco de circulação e serviços para proteção contra radiação solar direta, servindo para amortecer e atrasar o fluxo térmico, uma vez que o percurso solar de baixa latitude possui pouca variação ao longo do ano; »» Inércia térmica resultante de um talude que recobre os três primeiros pavimentos, protegendo-os do sol da manhã através ao mesmo tempo em que cria espaço para a garagem no subsolo; »» Inserção de áreas abertas nos pavimentos de trabalho, aumentando os níveis de iluminação do espaço interno e facilitando o aumento das taxas de renovação de ar, bem como proporcionando espaços auxiliares que melhoram a sensação do ambiente de trabalho.

Fig. 41. Vista do acesso no piso térreo. Destaque para o sistema estrutural revestido em composto alumínico. Fonte: Flickr.com



DESENVOLVIMENTO DO PROJETO CAPÍTULO 5


O PROCESSO DE PROJETO da sede da Energia Pecém é pautado pelo paradigma da integração bioclimática, que deriva análises, identifica de estratégias passivas adequadas; ao mesmo tempo em que a proposição de um espaço de trabalho voltado para a performance se apropria destas estratégias para a espacialização de um escritório. A priori, é conhecida a importância da ventilação natural para o clima do litoral do estado do Ceará, mas que, para se tornar parte fundamental do processo de projeto, carece de uma análise rigorosa. Portanto, como trazido por Srebric (2011), as considerações de projeto na perspectiva da ventilação natural devem incluir três etapas: Análise

climática e de entorno; posicionamento e dimensionamento de fenestrações na envoltória; projeto da planta e posicionamento de partições internas. Estas três etapas não são independentes umas das outras e o processo de projeto pode ser iterativo, recursivo. Interligados, ventilação natural e espaço de trabalho se entrelaçam para o desenvolvimento de um partido orientado para a integração bioclimática, nos quais os requisitos programáticos fornecerem oportunidades no emprego dos ventos, o que gera uma necessidade de análise climática, que por sua vez informa cenários para as simulações computacionais, finalizando um ciclo de retroalimentação


COMPLEXO INDUSTRIAL E PORTUÁRIO DO PECÉM - CIPP Situado a pouco mais de 50km de Fortaleza, nos municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) nasce de um projeto desenvolvimentista, na década de 90. O seu objetivo era criar um parque industrial com atividades estruturantes através de grandes empreendimentos petroquímicos e siderúrgicos, de modo que sua interdependência técnica criasse um ambiente sinergético. Tais investimentos estariam associados à infra-estrutura logística multimodal que serviriam de indutores para o surgimento de atividades complementares (CEARÁ, 2013). Em 2008 se confirmam as intenções de grandes empreendimentos no CIPP, dentre os quais a siderúrgica CSP e a termelétrica Energia Pecém, fazendo com que a Secretaria de Infraestrutura do Estado do Ceará - Seinfra, redefina um novo Plano Diretor da infraestrutura para o complexo. Contudo, em 2015 o CIPP sofre um duro golpe com o cancelamento da refinaria da Petrobrás, que de fato seria a indústria-âncora indutora de desenvolvimento industrial. Hoje, o complexo teve sua área reduzida de 335km² a 161,08km² e serve de escoadouro da produção econômica através do Terminal Portuário do Pecém, servido de infra-estrutura sob a forma da BR-222 e CE-348 e CE-156. O objeto de trabalho a ser projetado é a sede administrativa da Energia Pecém, empresa parte do grupo EDP, que opera a usina termelétrica instalada no setor I do CIPP, ao seu noroeste. A termelétrica possui atualmente duas unidades geradoras, que quando combinadas, apresentam capacidade total de 720 MW, utilizando carvão mineral como fonte de geração de energia.

Fig. 42. Imagem de satélite. Fonte: adaptado de Google Earth. Fig. 43. Mapa do plano diretor do CIPP com os setores que o compõe. Fonte: Ceará (2013)

CIPP Fortaleza, Ceará Latitude 3°46’ S Longitude 38°32’ W Distância: 43,6km

Fortaleza


PORTO DO PECÉM

SETOR I

SETOR II

SETOR IV

SETOR III


SITUAÇÃO Fig. 44. Vista de satélite da termelétrica da Energia Pecém, localizada no setor I do CIPP. Fonte: Google earth.

Fig. 45. Imagem de satélite do terreno e entorno. Fonte: Google Earth, adaptado pelo autor. Fig. 46. Visada nordeste ao sul do terreno. Edificações de caráter provisório do entorno. Fonte: Autor Fig. 47. Visada noroeste ao sul do terreno. Torres de resfriamento da termelétrica em segundo plano. Fonte: Autor

O terreno fica dentro da área da termelétrica, em um platô artificial, localizado a sotavento das torres de resfriamento, como pode ser visto na Figura 45. Uma visita ao local mostrou que as edificações adjacentes são razoavelmente espaçadas, possuindo baixa estatura, sendo todas térreas, e uma parte dos edifícios é de caráter temporário. (Fig. 46 e 47) Em função da ampla cobertura vegetal de mata nativa presente a sotavento, os ventos apresentam uma direção constante, apresentando pouca turbulência. Quanto às preocupações sobre a qualidade do ar do CIPP devido às emissões gasosas da termelétrica, um estudo de dispersão atmosférica do estudo de impacto ambiental do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, realizado, em 2010, constatou que as condições de ventilação da região são altamente favoráveis à dispersão de poluentes, garantindo assim a qualidade do ar (CEARÁ, 2013).



PROGRAMA O programa de necessidades desenvolvido para a Energia Pecém é formado primariamente por espaços de escritórios para o desempenho de atividades técnico-administrativas, função a ser servida por espaços secundários que incluem toda a estrutura que dá suporte para a atividade fim, como auditórios, arquivo, sala de servidor, etc. Uma lista foi, então, elaborada com base nas necessidades da empresa. Para a concepção da arquitetura, dois conceitos já adotados pela empresa são fundamentais: O primeiro é a política organizacional clean desk, que a partir da mobilidade proporcionada pela portabilidade derivada dos avanços tecnológicos nas ferramentas de trabalho (notebooks, celulares), permite que os usuários possam migrar livremente pelos espaços ofertados pela edificação. O outro são as áreas de descompressão, espaços inicialmente pensados como descanso e lazer dentro do próprio ambiente de trabalho, construindo um ambiente mais descontraído. Estes dois conceitos são incorporados no partido a partir da leitura climática do sítio. Destacam-se aqui especialmente os aspectos valorizados pelos clientes corporativos, uma vez que estes buscam encontrar no projeto de arquitetura a eficiência, produtividade, imagem, conforto, baixo custo de manutenção, retorno permanente pelo bom negócio (VARGAS, 2014).

ESPAÇO

OCUPANTES

ÁREA ALVO (m²)

Escritório

116

300

Reunião

8

20

Suprimentos

-

96

Diretoria

4

25

1+3

14

Reunião

8

20

Auditório

37

66

Recepção

1+3

20

Arquivo

1

48

Acesso controlado, utilizar arquivos deslizantes

Servidor

-

12

Acesso controlado

Elétrica

-

8

Acesso controlado

15

36

7+1 acessível

8

-

30

Secretaria

Copa Banheiros Casa de Máquinas

OBSERVAÇÕES

Duas salas diferentes

Até três palestrantes

Dois blocos diferentes Fonte emissora de ruído


LEITURA CLIMÁTICA Como forma de identificar corretamente as estratégias passivas adequadas para o clima local, é realizada uma etapa de levantamento de dados climáticos. Escolheu-se o arquivo disponibilizado pelo programa INMET 2016, com formatação Typical Metereological Year (TMY) para a leitura climática. Esta formatação indica que o arquivo contem um ano fictício, construído a partir de meses escolhidos com base em uma seqüência de anos registrados (Fig. 48). Em virtude da falta de arquivos climáticos adequados sobre o clima do CIPP e dada a sua proximidade do sítio com a cidade de Fortaleza, é possível utilizar o arquivo climático desta cidade sem maiores prejuízos (BARNABY, 2011). Os registros foram plotados através do software MATLAB em gráficos nos quais são compostos pelos registros horários (ordenadas) ao longo de um ano construído (abscissas).

Fig. 48. Temperatura do Ar medida por Bulbo Seco. Fonte: INMET 2016. Gráfico elaborado pelo autor. Fig. 49. Radiação Global em Plano Horizontal. Fonte: INMET 2016. Gráfico elaborado pelo autor. Fig. 50. Umidade Relativa. Fonte: INMET 2016. Gráfico elaborado pelo autor.


Fig. 51. Projeção ortográfica da carta solar de Fortaleza cruzada com o parâmetro de radiação solar direta. Fonte: INMET 2016. Gráfico elaborado pelo autor. Fig. 52. Diagrama bioclimático com as médias registradas a cada mês (em vermelho) e a zona de conforto por ventilação destacada (preenchida em azul claro). Fonte: INMET 2016, gráfico elaborado pelo autor.

Por conta de sua proximidade com a linha do equador (-3,87°S, -38,5°W), Fortaleza possui uma carta solar praticamente simétrica, denotando altos índices de radiação solar durante o ano todo, o que se reflete especialmente em uma enorme carga térmica recebida pelas cobertas e outras superfícies horizontais, bem como principalmente nas fachadas leste e oeste. Percebe-se uma leve assimetria na radiação solar direta, provavelmente por conta da diminuição da nebulosidade durante o período vespertino. Os estudos caracterizam o clima do sítio como possuindo uma alta incidência de radiação solar direta; elevadas temperatura média com baixa amplitude térmica devido ao seu caráter litorâneo. Nesta clima quente e úmido, o emprego do diagrama bioclimático apresentado por Givoni (1994) revela a ventilação natural como principal estratégia passiva para alcançar o conforto ambiental durante a maior parte do ano. (Fig. 51 e 52) O sombreamento de paredes e aberturas nas fachadas, protegendo contra a insolação excessiva, também foi considerada uma prioridade, evitando o superaquecimento dos ambientes. Tais diretrizes também estão previstas na NBR 15.220 (ABNT, 2005), para a Zona Bioclimática 81, com aberturas grandes e sombreadas. Também se mostra importante ressaltar o papel da arborização na qualidade da ventilação natural para a obtenção do conforto térmico. Como apresentado por Pastro, Callejas, Nogueira, Durante (2012), a redução dos valores de temperatura de ar entre um piso de concreto e um sombreado por árvores é estimada em 1,6º C, seguido de um acréscimo de 2,2% na umidade relativa. Outra função desempenhada pelo paisagismo é a retenção de poeira do ar, cuja presença é sensível no local dada as condições industriais. Segundo Izard, Guyot (1983), a área resultante da projeção da copa de uma árvore fixa dez vezes mais poeira que uma mesma área de grama, e de trinta a sessenta vezes mais que uma superfície asfaltada. 1 A Zona Bioclimática 8 incorpora grandes porções da região norte, todo o litoral da região nordeste, trechos do centro-oeste e o estado do Espírito Santo. A CIPP e Fortaleza estão dentro desta região.


ESTRATÉGIAS PASSIVAS E SISTEMAS INCORPORADOS Foram definidas as seguintes estratégias para conforto ambiental adequadas ao contexto climático do local, além da incorporação de sistemas ativos para a redução e cogeração de energia como: a) Ventilação natural, por sua eficácia e constância ao longo do ano, sob a forma de ventilação cruzada, no qual o vento apresenta uma maior velocidade no ambiente interno; b) Coberta com alta inércia térmica para reduzir e atrasar o fluxo de calor para dentro do ambiente interno, tomando a forma de uma laje jardim e separando fisicamente o teto das áreas climatizadas e o fundo da laje; c) Sombreamento das aberturas nas fachadas, utilizando elementos vazados dominados pelas técnicas locais, como brises-soleil e cobogós, barrando a insolação direta, mas permitindo a passagem dos ventos; d) Iluminação natural indireta, captadas através de um sistema de abertura zenital no qual a iluminação direta atravessa o vidro que veda as mesas das nervuras da laje, sendo transformado em iluminação indireta para dentro do ambiente após reflexões em anteparos reflexivos; e) Elaboração de um projeto paisagístico para a integração dos ambientes externos e internos, causando um efeito de continuidade por meio da permeabilidade visual e reduzindo a temperatura do ar interno por meio de espécies de médio e grande porte. f) Emprego de placas fotovoltáicas na laje jardim, tanto aproveitando a energia incidente para microgeração como reduzindo a carga térmica na coberta e assim baixando a temperatura média radiante do espaço interno;

VENTILAÇÃO NATURAL A ventilação natural é uma estratégia passiva que se apresenta de maneira simples e eficaz para o clima quente e úmido (GIVONI, 1994), com grande potencial para redução de consumo energético (SREBRIC, 2011), e cujos principais fatores que governam o efeito de resfriamento pelos ventos são a temperatura do ar e sua velocidade (LEITE, 2015). Uma vez que a ventilação cruzada já está apropriada pela cultura local, foi adotada como principal estratégia passiva para alcançar conforto térmico. Outra opção seria a ventilação forçada por efeito chaminé, entretanto as diferenças de temperatura entre ambiente externo e internos são muito pequenas para justificar a sua adoção. Para comprovar a eficácia da ventilação natural para a obtenção de conforto térmico é utilizado o modelo de conforto adaptativo. Partindo de determinadas premissas2 e nos registros de temperatura do ar, o modelo prevê o cálculo de uma temperatura neutra a ser discretizada ao longo do ano, gerando uma faixa de conforto térmico com determinada amplitude. Medições da temperatura operativa dentro desta faixa significam provável conforto térmico para os usuários dentro de um grau de aceitabilidade (HUMPHREYS 1978 apud NICOL, 2004). Além disso, o limite superior da faixa de conforto pode ser modificado devido à determinados níveis de umidade relativa bem como pela velocidade dos ventos, uma vez que é um fator para acelerar as perdas térmicas por evapotranspiração (NICOL, 2004).

2  Os critérios são: estar em um clima quente sem grande amplitude térmica (25-30°C); que o usuário desempenhe atividade metabólica entre 1 a 1,3 met; que este use vestimentas entre 0,5 a 1,0 clo e que seja capaz de ajustá-las, bem como ser capaz de mudar sua postura.


Inicialmente a faixa de conforto térmico teve amplitude definida a partir do que é apresentado na ASHRAE-55 (2013), com ±3,5°C para 80% de aceitabilidade dos usuários, e ±2,5°C para 90% de aceitabilidade. Contudo, em virtude da alta umidade relativa apresentada pelo ambiente e que reduz a admissibilidade a elevadas amplitudes por conta do vapor de água em suspensão no ar, foi utilizada uma faixa mais restrita, de apenas ±2°C (Nicol, 2004). Para este trabalho, a temperatura neutra foi calculada a partir do modelo apresentado por Lamberts et al. (2013), no qual o valor considera a temperatura média diária e dos seis dias antecedentes, com decrescente ponderação para refletir a adaptação dos usuários à variação natural de temperatura.

Fig. 53. Faixa de conforto térmico baseado na ASHRAE-55 (2013). Em azul escuro, faixa de conforto para 90% das pessoas, e em azul claro, para 80%. O ponto destacado é em função da temperatura operativa do ambiente e da temperatura média mensal. Fonte: CBE Thermal Comfort Tool. Equação 1. Cálculo da temperatura neutra de acordo com os dias antecedentes. Fonte: Lamberts et al. (2013) Fig. 54. Faixa de conforto térmico de Fortaleza gerada a partir da temperatura neutra de Lamberts (2013) e com amplitude de ±2°C (Nicol, 2004). Os pontos representam as médias de temperatura do ar diárias. Fonte: Autor. Equação 2: Fórmula de incremento do limite superior da faixa de conforto térmico através da velocidade do ar. Unidade em graus celsius. Fonte: Nicol (2004)

É utilizado também um modelo de incremento da faixa limite superior do modelo de conforto adaptativo devido à aceleração do processo de evapotranspiração por conta da ação dos ventos sugerido por Nicol (2004):

Também são adotados limites superiores para a velocidade do ar, uma vez que ventos excessivamente velozes podem trazer desconforto ao usuários pela forma de inconvenientes práticos para o desempenho de atividades, como papéis voando, cabelo incomodando, etc. (ASHRAE, 2013) Assim, foi estabelecido adicionalmente um limite prático de 1,5m/s. Uma meta para o conforto térmico é extraída do programa PROCEL Edifica, no qual edificações comerciais e públicas que utilizem ventilação natural e que buscam atingir o nível máximo


de eficiência energética devem apresentar conforto térmico durante 80% do seu período de ocupação, a chamada POC (Percentual de Ocupação com Conforto) (PROCEL et al, 2010). Adicionalmente, também se mostra importante calcular os grau-hora de desconforto por frio e calor, uma vez que, para uma mesma POC, é preferível ter graus-hora de desconforto menores (NEGREIROS, 2010). Um algoritmo foi desenvolvido no ambiente do Grasshopper para ler as variáveis pertinentes a partir de um arquivo climático, calculando o percentual de horas de conforto para uma dada faixa de horário e velocidade do vento, analisando, nesta situação, 3285 horas.

Como cenário de pior caso, superestimou-se a temperatura operativa ao equipará-la a temperatura do ar, o que na prática construtiva local dificilmente seria o caso em função da inércia térmica dos materiais. Os registros são visualizados em gráficos nos quais são compostos pelos registros horários (ordenadas) ao longo de um ano construído (abscissas). Em vermelho estão as medições acima da faixa de conforto (desconforto por calor), e em azul as medições abaixo da faixa de conforto (desconforto por frio).

Fig. 55. Algoritmo desenvolvido no Grasshopper para avaliação preliminar do potencial de conforto térmico através de modelos de conforto adaptativo. Imagem em maior escala no anexo.Fonte: Autor.

Fig. 56. Análise do potencial de conforto térmico com velocidade dos ventos igual à 0,27m/s. Fonte: Autor Fig. 57. Análise do potencial de conforto térmico com velocidade dos ventos igual à 1,5m/s. Fonte: Autor Tab. 1. Valores para faixa de conforto térmico para atingir uma POC de 80%, com amplitude de ±2°C. Fonte: Autor

VELOCIDADE

POC

GRAU-HORA FRIO

GRAU-HORA CALOR

TOTAL GRAU-HORA

0,27m/s

80,51%

55,9

331,2

387,1

1,5m/s

97,65%

55,9

1,1

57


VENTOS Foi utilizado um arquivo climático de Fortaleza com formatação TMY realizado pelo projeto SWERA 3, uma vez que os dados são captados na altura padronizada de 10m, medição registrada no aeroporto local, com um entorno desobstruído. Os principais ventos locais, os chamados ventos alísios, se concentram em um quadrante e apresentam sazonalidade expressiva, com um período de menor intensidade concentrado no primeiro semestre deste ano construído, e que configura um cenário de pior caso a ser utilizado. Fig. 58. Plotagem gráfica da velocidade dos ventos para todas as horas do ano típico. Fonte: SWERA. Gráfico elaborado pelo autor.

As principais direções do quadrante foram analisadas separadamente dentro do recorte temporal do período de funcionamento da edificação projeto experimental, de 7 às 16h, bem como no primeiro semestre do ano construído, reduzindo a velocidade dos ventos. Para reduzir a quantidades de cenários a serem simulados, também computou-se um vetor resultante único a partir da leitura das direções prévias. É importante salientar que os valores de velocidade média e ângulo de incidência a serem encontrados são resultados de uma decomposição vetorial, como trazido por Cóstola (2006), ao invés de simples média aritmética. Fig. 59. Plotagem gráfica da velocidade dos ventos com destaque para a faixa de horário de 7-16h, incluindo apenas o primeiro semestre do ano construído. Fonte: SWERA. Gráfico elaborado pelo autor.

Através de um algoritmo desenvolvido no grasshopper, os registros climáticos adequados aos condicionantes foram lidos e os parâmetros adequados calculados. O resultado discrimina as três principais direções, bem como o computo total destas, e é apresentado na Tabela 2. 3  Solar and Wind Energy Resource Assessment (SWERA). Arquivo digital disponível em: http://www. labeee.ufsc.br/downloads/arquivos-climaticos/formato-try-swera-csv-bin>


Fig. 60. Algoritmo desenvolvido no Grasshopper para avaliação da direção e velocidade predominantes dos ventos mediante decomposição vetorial. Imagem em maior escala no anexo. Fonte: Autor.

Domínio Azimutal Freqüência Velocidade Azimute de Incidência

Tab. 3. Rosa dos ventos com a plotagem dos registros do arquivo climático. Dados filtrados por faixa horária (7-16h), período do ano (dia 1o ao 183o), e azimute (67,5° - 202,5°). Fonte: Autor.

LESTE

SUDESTE

SUL

QUADRANTE

67,5° - 112,5°

112,5° - 157,5°

157,5° - 202,5°

67,5° - 202,5°

41,7%

36,7%

11,4%

89,8%

4,60m/s

5,17m/s

4,22m/s

4,27m/s

95,4°

131,2°

172,7°

123,3°

Tab. 2. Parâmetros dos ventos locais. Fonte: Autor


CONCEITO O partido arquitetônico propõe a articulação tipológica entre e o conceito de integração bioclimática e a cultura corporativa (GONÇALVES; MARCONDES, 2015), empregando o modelo de conforto adaptativo em conjunto com sistemas ativos de condicionamento de ar. A combinação dos dois cria um espaço de trabalho de operação mista, contando com áreas que atuam de maneira similar a edificações do tipo free-running4 e outras como zonas convencionais, respeitando as preferências tradicionais por ar-condicionado (ETHERIDGE, 2012). Este partido vem do conhecimento de que os usuários em espaços de escritórios que empregam sistemas ativos possuem, normalmente, uma tolerância menor a flutuações de temperatura devido a diversos fatores, como comportamentais, aclimatação fisiológica, psicológicos e expectativas culturais (ETHERIDGE, 2012; GONÇALVES; CAVALERI, 2015). Ao mesmo tempo, também é sabido que edifício ventilados naturalmente possuem uma temperatura interna que se aproxima do padrão de temperatura do ar externo (GIVONI, 1994). Uma vez que uma abordagem exclusivamente voltada para áreas do tipo free-running poderia criar conflitos entre o projeto arquitetônico e as expectativas dos usuários, uma alternativa menos radical foi desenhada para promover um processo de mudança nesta tipologia, facilitando a sua adoção por parte de investidores e construtores, os quais freqüentemente são mais conservadores e preferem evitar riscos (ETHERIDGE, 2012). A proposta compreendeu, então, a elaboração de um projeto onde coexistissem pelo menos dois tipos de ambientes - os climatizados e os não-climatizados. Neste segundo tipo de ambiente foram localizadas as áreas de descompressão, previstas no programa de necessidades como espaços de trabalho, mas também de descanso. Com isso esses ambientes foram associados ao conceito de free-running buildings, no qual edificações operam sem qualquer tipo de condicionamento artificial (HENSEL 2013; ETHERIDGE, 2012). Adicionalmente, foi adotado o conceito organizacional clean desk, explorando a heterogeneidade das qualidades ambientais do edifício, como diferentes níveis de iluminação, de privacidade e de velocidade dos ventos. O partido de Arquitetura fundiu esses valores e concebeu a área de descompressão como uma rede de espaços de caráter híbrido ao funcionar como circulação, descanso e espaço de trabalho ao mesmo tempo, operando com ventilação natural e iluminada primariamente por um sistema de iluminação natural. Ela é um espaço de trabalho alternativo, respeitando as preferências da cultura corporativa por áreas climatizadas artificialmente, ao mesmo tempo em que oferece espaços auxiliares sem uso definido, explorando o conceito de performance na arquitetura (HENSEL, 2013).

4  Free-running buildings são edificações que operam sem qualquer tipo de condicionamento artificial. Quando aplicado à ventilação natural, um modo de operação free-running denota ausência de sistemas artificiais de climatização.


ESTUDOS INICIAIS Estudos volumétricos iniciais desenvolveram figuras de caráter linear, formas que possuem uma alta proporção entre área de paredes para área de piso, sendo menos compactas mas que em contrapartida facilitam as trocas térmicas da edificação com o seu ambiente, e, crucialmente, uma forma alongada com tais características maximiza a área de superfície voltada para o vento, aumentando o alcance da ventilação natural em seus espaços, aumentando também a eficácia da ventilação cruzada (GIVONI, 1994).

MATERIALIDADE No cenário internacional a materialização de projetos experimentais voltados para a performance freqüentemente envolve conceitos como geometrias complexas e personalização em massa. Tanto para sua produção industrial como para a montagem em um canteiro-de-obras, tecnologias do tipo CAM (Computer Aided Manufacturing) como maquinário Controle Numérico Computacional (CNC) ou robotização podem ser necessárias (DUNN, 2012). O conflito reside nos altos custos envolvidos, pois muitas vezes tais tecnologias estão confinadas à prototipagem rápida mesmo em ambientes de elevado contexto tecnológico. Assim, faz-se necessário aproximar o projeto das técnicas a serem empregadas na execução, buscando meio-termos adequados que sejam factíveis para a capacidade das indústrias locais, mas que não comprometam a performance do projeto, reduzindo os custos de produção e instalação para facilitar o processo de adoção. Portanto, sistemas e elementos arquitetônicos foram selecionados de acordo com o domínio da mão-de-obra local de modo a viabilizar a execução de uma arquitetura voltada para a performance utilizando a tecnologia construtiva tradicional, em uma tentativa ainda mais ortodoxa que a linha High-Low, onde a simulação e produção de peças personalizadas para execução em canteiro de obras encontra-se com a mão-de-obra tradicional (BEAURECUEIL, 2015). Tal postura justifica a adoção de tecnologias como lajes nervuradas, vigas-faixa, pisos de concreto polido, o uso de alvenaria cerâmica tradicional, brises e cobogós. Todas estes sistemas e elementos já são dominadas pela mão-de-obra, reduzindo os riscos e custos para uma execução.

SIMULAÇÕES INTEGRADAS Atualmente a otimização dos sistemas passivos durante o processo de projeto pode ser facilitada pelo uso de simulações computacionais. Segundo Gonçalves, Moura e Kuniochi (2015), a adoção dessas simulações como ferramenta de teste para avaliar a performance da edificação é muito importante para a redução da demanda energética se realizada nas etapas iniciais de concepção arquitetônica. Tais ferramentas vêm encontrando cada vez mais espaço dentro da prática de projeto ao redor do mundo, cuja adoção foi impulsionada principalmente pela preocupação com projetos mais eficientes energeticamente em escritórios de Arquitetura de grande porte (ANDERSON, 2014).


Fig. 61. Semi-matrizes indicando as relações de proximidade e afastamento entre os ambientes. Os ambientes são 0 - Recepção/Espera; 1 - Diretoria/Secretaria; 2 - Auditório; 3 - Casa de Máquinas; 4, 5, 6 e 7 - Reunião; 8 e 9 - Banheiros; 10 - Área de Trabalho; 11 - Arquivo; 12 - Suporte/Contratos; 13 - Copa; 14 e 15 - Áreas de Trabalho; 16 - Circulação Vertical Fonte: Aderson Passos.

O emprego das simulações computacionais na arquitetura desemboca no projeto baseado em performance, na qual o desempenho da edificação se torna um norteador do processo de projeto, a par ou até mesmo superando o aspecto formal (KOLAREVIC, 2014). As simulações adicionam mais camadas de informação ao processo de projeto, podendo ser empregadas em diferentes etapas deste. Os seus resultados permitem o refinamento do projeto, guiando o seu desenvolvimento em direção à uma maior eficiência (GONÇALVES; BRUNELLI; BODE, 2015). Assim, o emprego dessas simulações é crucial, especialmente durante o princípio do projeto, quando os potenciais ganhos de eficiência são maiores e as decisões arquitetônicas têm maior impacto na performance da edificação. Contudo, a complexidade resultante desta crescente quantidade de informação dificulta seu progresso, fazendo com que as decisões tomadas atinjam múltiplos aspectos do projeto simultaneamente, provocando interações que alteram o projeto de uma forma difícil de prever, o que torna o processo decisório custoso e complicado (HENSEL, 2013). Uma alternativa é realizar paralelamente não só as simulações durante as primeiras etapas de projeto, como também buscar realizá-las dentro de um mesmo ambiente, onde a informação resultante retroalimente o modelo, configurando uma arquitetura generativa, onde a forma é uma resposta a um problema formulado previamente. O design paramétrico entra como metodologia que viabiliza o processo de um projeto complexo ao tirar partido da potência computacional na representação, permitindo a execução de processos generativos, no qual as sugestões de solução são produtos do problema estruturado a partir de critérios desejados (KOLAREVIC, 2014). A representação de geometrias nesta abordagem requer a construção topológica do objeto, ou seja, explicitar a organização de seus elementos constituintes de modo que os critérios qualitativos da forma e os parâmetros alimentados pela simulações subsidiem um algoritmo computacional para que este encontre um estado coerente que satisfaça as condições previamente explicitadas (KOLAREVIC, 2014). Para explorar um processo de projeto generativo pautado pela performance, primeiramente foi utilizado um algoritmo para auxiliar o processo de zoneamento da edificação, e posteriormente simulações computacionais de dinâmica dos fluidos. Para a primeira etapa foi aplicado um algoritmo no grasshopper desenvolvido pelo arquiteto Aderson Passos. Através de um processo de form-finding5, o algoritmo espacializa um esboço de zoneamento, para isso extraindo as informações de uma semi-matriz elaborada a partir do programa de necessidades e informando as relações entre os diversos ambientes que o compõe. (Fig. 61)

5  Processos de form-finding encontram respostas, normalmente formais, ao confrontar diferentes forças em torno de um objeto. Exemplos analógicos são encontrados nos estudos de Antonio Gaudí com suas catenárias de correntes, cujas formas eram espelhadas para encontrar arcos funiculares, e as superfícies mínimas de Frei Otto, realizadas com bolhas de sabão.


Empregando algoritmos genéticos6 associados a um motor de simulação física7, os ambientes previstos são representados por bolhas interligadas entre si, cujas conexões atuam para estabelecer uma relação de forças, fazendo com que as bolhas busquem de um estado de equilíbrio que satisfaça as relações estabelecidas previamente na semi-matriz. Assim, relações de distanciamento características à etapa de zoneamento são simuladas a partir do design paramétrico em um processo generativo. Durante este processo, adicionou-se uma componente linear para orientar a implantação do volume, expondo-o ao azimute de incidência dos ventos predominantes de forma que os ventos pudessem atingir uniformemente a fachada principal.

PLANTA-BAIXA Com base no resultado do processo de form-finding e inspirado nos estudos de ventilação na morfologia urbana apresentados por Olgyay (1998), no qual blocos ficam dispostos em fileiras desencontradas para melhorar a circulação do vento, foi imaginado uma rede de espaços para conectar as áreas de sobrepressão da fachada a barlavento diretamente às áreas de subpressão, a sotavento.

6  Algoritmos genéticos podem ser entendidos como ferramentas que alteram os inputs de uma dada equação, chamados aqui de genes, para que o resultado desta se aproxime de um valor alvo, chamado de fitness. A ferramenta específica, Galapagos, utiliza diretamente conceitos da teoria da evolução, derivada da Biologia, para encontrar soluções adequadas ao fitness. Neste caso especificamente, o fitness se refere a uma distância equivalente ao valor inserido na semi-matriz. 7  Os motores de simulação física permitem que o ambiente digital do modelador Rhinoceros e Grasshopper adote forças derivadas da Física clássica. Objetos possuem movimento, chocam-se e causam reações, fazendo com que o ambiente de trabalho outrora estático se torne dinâmico. Neste caso foi utilizado o complemento Kangaroo, que adiciona novas funcionalidades ao Grasshopper.

Fig. 62. Diagrama topológico após o processo de form-finding. Principais espaços de trabalho estão em amarelo claro, servidos de ambientes secundários. Nas extremidades opostas, recepção (roxo) e casa de máquinas (vermelho). Fonte: Aderson Passos

Fig. 63. Diagrama com a rede de espaços conectando áreas de sobrepressao e subpressão. Fonte: Autor


Fig. 64. Planta baixa da edificação. Fonte: Autor

17

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19

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15

07 10 05 06

03

08

02 04

09

01

01 - Casa de máquinas - 37,30 m² 02 - WC Fem 01 - 9,52 m²

0

5m

10m

15m

20m

03 - WC Masc 02 - 11,84 m² 04 - Copa - 53,10 m² 05 - Servidor - 10,10 m²

11 - Sala de reunião 02 - 12,84 m²

17 - WC 01 - 2,66 m²

06 - Sala elétrica - 6,88 m²

12 - Área de trabalho 02 - 162,77 m²

18 - WC 02 - 2,94 m²

07 - Arquivo - 53,25 m²

13 - Sala de reunião 03 - 22,46 m²

19 - WC Masc 02 - 12,34 m²

08 - Área de trabalho 01 - 162,76 m²

14 - Sala de reunião 04 - 21,42 m²

20 - WC Fem 02 - 9,44 m²

09 - Sala de reunião 01 - 22,66 m²

15 - Diretoria - 27,75 m²

21 - Auditório - 85,02 m²

10 - Circulação/Descompressão - 253,16 m²

16 - Secretaria - 11,56 m²

22 - Recepção - 21,41 m²


Como exposto por Grobman (2012), neste ponto de desenvolvimento o método de projeto reverteu ao convencional para realizar ajustes mais finos na planta. Os ambientes tradicionais de trabalho foram subdivididos em zonas térmicas independentes, cujo dimensionamento foi racionalizado durante o processo de projeto de modo a reduzir a carga térmica necessária para refrigeração, minimizando conflitos típicos de escritórios provocados pela disputa dos set-points ar-condicionado, ao mesmo tempo em que preservou a funcionalidade e quantidade necessária dos postos de trabalho. A geometria facetada e fragmentada dos volumes climatizados ajuda a criar zonas de sobre e subpressão através do efeito Venturi (BLOCKEN et al, 2008), uma vez que funciona de modo análogo a tubeiras8 e difusores9. Ao alterar a pressão e velocidade do ar, conseqüentemente cria um campo de qualidade ambiental heterogênea (HENSEL, 2013). O conceito do espaço de trabalho aponta, assim, para um nomadismo, no qual o usuário percorre a área de descompressão em busca de ambientes adequados a suas preferências pessoais (MONTEIRO; BITTENCOURT; YANNAS, 2015).

MODELO COMPUTACIONAL DE DINÂMICA DOS FLUIDOS Levando em conta que a complexidade geométrica do projeto impossibilita o uso de equações semi-empíricas ou modelos de redes multizonais para descrever o comportamento da ventilação natural na edificação, a única alternativa é empregar uma simulação computacional de dinâmica dos fluidos (SREBRIC, 2011). Das ferramentas para quantificação e visualização do comportamento do ar, o CFD é o mais complexo e normalmente é incorporado nas etapas finais de projeto, demandando um conhecimento específico pouco próximo dos arquitetos. Neste trabalho utilizou-se o software ANSYS com seu módulo CFX, no qual a edificação foi modelada de acordo com as orientações de um modelo CFD. A representação dos ventos não é transiente, mas sim estacionária10. Por este motivo foi realizado o trabalho estatístico de caracterização dos ventos, reduzindo assim a quantidade de modelos a serem simulados, mas ainda conservando uma relevância estatística. Durante o processo de projeto foram gerados diferentes modelos, representando estados específicos de desenvolvimento da arquitetura e pondo-a à prova para 8  Tubeiras, também chamadas de bocais, convertem a energia termodinâmica de um fluido (em forma térmica e de pressão) em energia cinética. A velocidade do ar aumenta acompanhada da diminuição de sua pressão e temperatura. 9  Difusores são estruturas inversas às tubeiras. Dependendo do seu grau de abertura, efeitos aerodinâmicos entram em efeito e podem fazer com que o fluxo de ar se espraie gentilmente, baixando sua velocidade, ou tome a forma de um jato concentrado, com velocidade mais alta que seu entorno. 10  Do original steady-state. Indica que um momento específico foi simulado, ou seja, não se modelam variações nas inlets do modelo.


realizar modificações. Dada a complexidade da atividade, fez parte do método o relaxamento de alguns parâmetros envolvidos para o ganho de agilidade do processo de projeto, interessando mais visualizar o comportamento geral da edificação dentro de uma margem reduzida de precisão. Os dados seguintes, contudo, são referentes à simulação final, realizada com o maior rigor, descrevendo o comportamento real da edificação com um maior grau de fidelidade. A partir de visita ao terreno, registros fotográficos e imagens de satélite, construiu-se um perfil de velocidade dos ventos locais11 a partir da fórmula exponencial fornecida pela Building Research Establishment (1978 apud LEITE, 2015). A análise classificou o terreno como campo aberto com obstáculos espaçados, cujos coeficientes são k = 0,52 e a = 0,20. O parâmetro de altura (z) é calculado automaticamente no software. Equação 3. Descrição do perfil de velocidade dos ventos para terrenos com diferentes níveis de rugosidade aerodinâmica. Fonte: BRE, 1978, apud Leite (2015)

Uma simulação do tipo Reynolds Averaged Navier-Stokes (RANS) foi realizada seguindo a metodologia apresentada em Leite (2015). Este método modela a turbulência através do emprego modelos de viscosidade para simplificar o cálculo das médias das equações de Navier-Stokess. Conseqüentemente, o resultado das variáveis obtidas representa um valor médio. Dos vários tipos de simulação CFD, a RANS apresenta uma menor ordem de precisão, mas em contrapartida é o método mais rápido disponível e que menos consome recursos computacionais (SREBRIC, 2011). A simulação integrada12 e estacionária adotou uma turbulência de 10% na inlet utilizando o modelo k-ε, refletindo assim a maior turbulência da camada limite planetária durante o período diurno (CÓSTOLA, 2006). As simulações foram todas isotérmicas e usaram ar a 25°C, sem levar em consideração forças convectivas dada à baixíssima diferença de temperatura entre ambiente externo e interno derivada da ventilação cruzada (GIVONI, 1994). O critério de convergência dos residuais foi definido em 10-4 e que pode ser considerado como razoavelmente convergido13. 11  Dada a rugosidade aerodinâmica devido à presença e considerando também a altura média de obstáculos de um dado entorno,, a velocidade do ar do local é diferente da registrada no arquivo climático, normalmente reduzida. O seu comportamento é não-linear, ou seja, a sua velocidade aumenta exponencialmente conforme a altura. 12  Do original wholefield. Como comentado por Etheridge (2012), a simulação integrada incorpora os elementos de escala urbana, como edificações adjacentes, bem como representa o interior da edificação. Pelo o que explica Leite (2015), a excessiva porosidade da fachada do projeto (superior à 20%) traria distorções significativas no resultado final. Portanto, o modelo CFD não pode ser utilizado pelo método desacoplado, no qual é primeiro feita uma simulação externa, para só depois seus resultados parciais serem transferidos para uma interna, onde se encontra o resultado final. 13  Valores de residuais com ordem de grandeza de 10-3 são utilizados durante os testes de calibração do modelo e podem ser considerados rascunhos. Quando os valores apresentam ordem de grandeza de 10-5 podem ser considerados muito bem convergidos. A ordem de grandeza utilizada neste trabalho, contudo, é aceitável, especialmente quando se leva em consideração o inevitável acúmulo de incertezas derivada da metodologia adotada.


Uma malha desestruturada tetraédrica foi utilizada em conjunto com uma camada de células hexaédricas no piso e nas faces das edificações dentro de um domínio prismático, com duas laterais, além do topo e da base configuradas como wall, uma inlet e uma outlet. Também foram observadas as devidas proporções mínimas para a redução do efeito de blocagem, de 5 vezes o tamanho do conjunto de objetos para as laterais, e quinze vezes em sua altura. A malha contou com um número total de 6.229.127 células. O seu critério de independência foi definido como variação de 5% dos valores dos monitor points em relação à simulação anterior, indicando que não há mais ganho prático na redução da imprecisão através de refinamentos subsequentes (LEITE, 2015). Deve ser destacada a utilização da opção por precisão dobrada em função da discrepância entre os maiores e menores volumes das células da malha. O valor máximo de y+ encontrado na superfície da edificação foi 902,97, com valor médio de 343,05. O entorno modelado incorporou as edificações adjacentes a nível de estudo volumétrico de modo a incorporar as interferências do ambiente construído ao fluxo de vento.

Elementos arquitetônicos que permeiam a fachada da edificação em toda sua extensão, como os brises-soleil e cobogós, acabam por agregar detalhamentos excessivos à geometria do modelo, fazendo com que sua complexidade resultante fugisse dos padrões estabelecidos na literatura especializada, especialmente pela alta porosidade da fachada. Em função das dificuldades enfrentadas nesta tarefa, o modelo desenvolvido para simulação CFD apresenta simplificações geométricas para a redução do número de elementos totais da malha, reduzindo o tempo

Fig. 65. Modelo do edifício com edificações do entorno. Fonte: Autor


de processo e facilitando a convergência,. Por estes mesmos motivos também aplicaram-se técnicas de relaxamento local de malha (timesteps). A supressão dos elementos da fachada, em especial os cobogós, resulta em uma edificação mais permeável ao vento, e conseqüentemente aumenta a velocidade da corrente de ar. O resultado real deve ser considerado menos veloz, porém com padrão de distribuição semelhante ao simulado, sendo relevante também ressaltar que o trabalho foi realizado em um cenário de pior caso para a velocidade dos ventos, bem como o modelo de conforto adaptativo está desconsiderando a temperatura média radiante, o que reduziria a sensação de calor dos usuários. Assim, a simulação CFD dá um resultado confiável com determinado grau de precisão, que é coberto pelos critérios adotados neste cenário de pior caso. Dada as características apresentadas da simulação CFD, a velocidade e direção do ar tornam-se o principais indicadores de performance a serem monitorados, uma vez que a pré-análise já leva em conta a temperatura do ar. Pontos de monitoramento são inseridos nos mobiliários da área de descompressão para a verificação da adequação dos espaços como postos de trabalho confortáveis. O efeito de resfriamento do ar devido ao modelo de Nicol (2004) é também observado, mas de uma perspectiva mais qualitativa.

Fig. 66. Velocidade do ar, em metros por segundo. Fonte: Autor


Fig. 67. Velocidade do ar com demarcação das zonas de possível desconforto (em cinza), possuindo valores de velocidade abaixo de 0,27m/s ou acima de 1,5m/s. Fonte: Autor

Fig. 68. Efeito de redução da sensação térmica pelo modelo de Nicol (2004), em graus celsius, em função da velocidade do ar. Fonte: Autor



Fig. 69. Perspectiva da copa, em ambiente ventilado naturalmente. Fig. 70. Espaรงo de trabalho nas ilhas climatizadas.



Fig. 71. Espaço de descompressão, suportando a atividade de trabalho em ambiente ventilado naturalmente, ao lado das ilhas climatizadas.

Fig. 72. Perspectiva externa da edificação, com jardim para geração de microclima local.



No sentido horário: Fig. 73. Pilares de concreto em processo de desforma. O concredo armado foi utilizado em função da sua resistência aos efeitos corrosivos do local. Fig. 74. Fachada frontal da edificação em execução. Fig. 75. Espaço interno. Estrutura metálica para as áreas climatizadas. Fig. 76. Laje jardim em execução. Fig. 77. Detalhe da abertura zenital com nervuras para captação da iluminação natural. Fig. 78. Formas da laje nervurada. Fonte: Autor


No sentido horário: Fig. 79. Laje jardim finalizada. Fig. 80. Vista para o jardim a barlavento. Fig. 81. Área de descompressão, vistas para os cobogós. Fig. 82. Interior das ilhas climatizadas.

Fig. 83. Área de descompressão, vistas para os brises. Detalhe do anteparo reflexivo para captação da iluminação natural. Fig. 84. Execução do acabamento do espaço interno. Fonte: Autor



No sentido horário: Fig. 85. Vista para o interior de uma sala de reunião. Fig. 86. Autor conferindo coisas que não deram muito certo. Instalação de armários na área de descompressão. Bancada da copa. Fig. 87. Mobiliário parcial para as áreas de descompressão. Fig. 88. Área de descompressão na copa. Detalhe para a paisagem através dos brises. Fig. 89. Ilhas climatizadas sendo utilizadas pelos funcionários. Fonte: Autor



CONSIDERAÇÕES FINAIS


UM DIFERENTE TIPO arquitetônico de escritório foi proposto, enfatizando questões ambientais através de um processo de projeto pautado por uma revisão tipológica através da ótica da sustentabilidade, pela leitura dos parâmetros climáticos do sítio, e pela adoção de ferramentas computacionais para guiar o seu desenvolvimento e lidar com uma alta complexidade inerente. A sede da Energia Pecém explora uma performance sustentável através da incorporação de estratégias bioclimáticas, reduzindo a demanda energética da edificação e criando um campo espacial heterogêneo, apresentando diferentes velocidades de ar para uma determinada direção de vento incidente. A premissa do emprego de baixa tecnologia nos sistemas construtivos toma forma por meio da execução de elementos e sistemas dominados pela mão-de-obra local, como brises e cobogós, laje nervurada, vigas-faixa e laje jardim. Mesmo as eventuais alterações no decorrer da execução não alteraram significativamente a conceito inicial. O simples arranjo geométrico das ilhas climatizadas é capaz de causar variações na velocidade do ar, acelerando ou reduzindo sua velocidade, tornando-se assim um elemento de projeto para edifícios ventilados naturalmente. Os elementos de proteção solar são conjugados de maneira a barrar a insolação a partir de uma planta

de geometria relativamente complexa, o requer a sua discretização em segmentos únicos. Explorando as potencialidades deste estratagema, explora-se uma estética anti-clássica, despreocupada com a euritmia, apresentando em seu lugar um contínuo efeito transformação discretizado ao longo de suas fachadas. Percebeu-se também que um desafio para o emprego de ferramentas computacionais que atuem diretamente na gênese da forma é a integração informacional. Vários modelos foram gerados durante o processo de projeto, incluindo os paramétricos, de CFD, termo-energéticos e BIM. Contudo, cada um deles apresenta diversas particularidades que inviabilizam a elaboração de um único modelo centralizado a ser alimentado por todas as análises e simulações. Recentes avanços no vínculo informacional entre Grasshopper e ArchiCAD podem ajudar a superar o entrave da integração. Estudos iniciais com nível de detalhamento baixo, mais adequado à modelagem paramétrica direta, podem abarcar simulações computacionais de baixa resolução, mais rápidas e simples, para que, depois que o modelo seja transportado para um ambiente BIM, aumente o nível de detalhamento e só então as simulações mais complexas ocorram em ambientes separados.


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ANEXO


Anexo 1. Corte Longitudinal Anexo 2. Corte Transversal


Anexo 3. Algoritmo desenvolvido no Grasshopper para avaliação preliminar do potencial de conforto térmico através de modelos de conforto adaptativo.Fonte: Autor.


Anexo 4. Algoritmo desenvolvido no Grasshopper para avaliação da direção e velocidade predominantes dos ventos mediante decomposição vetorial. Fonte: Autor.



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