JANEIRO / FEVEREIRO 2011 Nº 128
Fundador: Francisco Martins Rodrigues
3,00
Ganhou a abstenção Por água abaixo Mais importante que o desaire eleitoral de Alegre foi a derrota política do Bloco de Esquerda. O BE apostou forte nestas eleições e em Alegre, ao ponto de fazer passar por ele e pelo apoio à sua candidatura o eixo da sua política para penetrar no eleitorado do PS e “federar as esquerdas”, e assim se afirmar como partido credível e útil ao sistema. Um partido mais desempoeirado e com maior peso eleitoral que o PCP a ter em conta em futuras coligações parlamentares e, quando o PS se livrar de Sócrates, responsabilidades governativas. Com a derrota de Alegre todo este manobrismo táctico resultou em nada. Num ápice o BE viu ruir o eixo em que assentava a sua política de alianças e assim comprometido o sonho de atrair a si os sectores menos direitistas do PS, isolar o socratismo e derrotar a deriva neoliberal dos socialistas. Uma vã inflexão direitista que lhe vai custar caro. Não só não conquistou a simpatia e o reconhecimento que esperava do PS, como está a ser responsabilizado e colado ao desaire eleitoral de Alegre. Ou seja, o Bloco de Esquerda ainda tem de inflectir mais à direita para se tornar “credível” e “digerível” pelo PS e a sua base eleitoral. E para piorar as coisas, a recente “habilidade táctica” para “entalar” o PSD e se antecipar ao PCP na apresentação de uma moção de censura ao governo, depois de cinco dias antes ter afirmado que fazê-lo era fazer o jogo da direita, foi mais um tiro no pé.
Cerca 5 milhões e meio os portugueses que, não se reconhecendo em nenhum dos candidatos nem se sentindo mobilizados pela disputa eleitoral, não encontraram qualquer razão para neles votar ou se deslocar a uma mesa de voto para votar branco ou anular o seu boletim. Este é o principal facto político destas eleições – o descrédito e o vazio político e ideológico da chamada “classe política”. (Pág. 3)
DITADURAS SOB FOGO
Cesare Battisti
SUPLEMENTO PO
O 18 Janeiro e a Battisti, revolucionário italiano, foi condenado a prisão perpéctua, sendo estipulado luta de tendências no movimento que parte desta pena fosse cumprida sob privação da luz solar. Refugiado no Brasil, operário FRANCISCO MARTINS diz-se inocente e enfrenta a extradição: RODRIGUES “Entre centenas de refugiados dos anos 70 que se encontram em vários países do A abstenção mundo, não fui escolhido eu por acaso e os dilemas nem pela importância do papel de milida esquerda tante, mas pela imagem pública que eu ANTÓNIO BARATA tinha enquanto escritor, o que me dava o acesso à grande mídia para denunciar os Tempos crimes de Estado naquela época e os de barbárie atuais”. (Pág. 11) ANTONIO DOCTOR
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O COMBATE À CRISE } DUAS TENDÊNCIAS NA LUTA CONTRA A
GUERRA – A tendência maioritária do PCP, dos católicos, da UDP, dos poucos socialistas que participam no movimento é para denunciar a guerra em geral, não o imperialismo americano… Julgam que, se nivelarem o movimento pela consciência mais elementar das pessoas simples, não chocarão ninguém e atrairão o máximo de pessoas… Pelo contrário, é o pacifismo choramingas que grita “paz sim, guerra não”, “guerra não é solução”, etc., o responsável pelo atraso do nosso movimento anti-imperialista; é ele que mantém as massas alheadas das grandes questões internacionais e faz de Portugal uma retaguarda segura para as aventuras imperialistas dos Estados Unidos.
} PRESIDENCIAS: ELEIÇÃO SEM HISTÓRIA – O reflexo automático da maioria dos eleitores foi defender a estabilidade, a harmonia entre Presidência e Governo e portanto não querer saber nada acerca dos negócios escuros em que o presidente (Mário Soares) se teria envolvido. Enquanto a massa proletária e pequeno-burguesa estiver presa da ilusão de que a estabilidade política (sob a batuta da direita) pode trazer o sonhado nível de vida da CEE, ela vai ficar amarrada à corrente dominante da burguesia… Soares foi assim o grande triunfador do pântano em que a direita vai desagregando e digerindo a esquerda neste país desde há dez anos. } NÃO À GUERA IMPERIALISTA – Estamos perante uma luta entre potências igualmente reaccionárias, uma guerra inter-imperialista? Afirmá-lo é esquecer a diferença abissal entre o expansionismo iraquiano e o da nação que se apresenta como agente da ordem. O Iraque não opera à escala mundial como os EUA. Não manda os seus exércitos para o outro lado do planeta para defender interesses financeiros e saquear. Não tem multinacionais e bancos gigantes a explorar os trabalhadores de todo o mundo. Não tem poder para derrubar à sua volta os regimes que não lhe convêm ou para colocar governos fantoches no poder. São os EUA que fazem isso. A folha de serviço dos EUA deixa a perder de vista tudo o que Saddam fez, tornando-o um mero aprendiz. Na PO 28, Janeiro / Fevereiro de 1991: - Neocolonialismo em marcha - Presos políticos: Direita bloqueia lei da Amnistia - Guerra do Golfo: CCIG impulsiona movimento anti-guerra - Operários do Irão - a canga religiosa - América Latina: Onda democrática ou compasso de espera? - “Eram necessárias acções armadas para derrubar a ditadura” - entrevista a Maria Helena Vidal - URSS - Regresso à primeira forma? - Perspectiva original sobre o fenómeno soviético - O carácter imperialista da guerra é a chave da nossa linha
Na selv a selva Os estudos desconhecidos do Che Guevara A propósito dos seus Cadernos de leitura da Bolívia Néstor Kohan Edição conjunta Dinossaur o-Abr ente, Dinossauro-Abr o-Abrente, a publicar em meados de Março Tiveram que passar mais de quatro décadas desde o assassinato do Che Guevara para começarem a aflorar, tímidamente, outras facetas da sua vida. O Che como estudioso do capitalismo, analista das dificuldades da transição para o socialismo, teórico dos problemas da revolução mundial e polemista no interior do marxismo. Néstor Kohan estudou essas dimensões do Che como estudioso sistemático do marxismo, leitor dos clássicos do pensamento social e apaixonado explorador da literatura revolucionária. Em suma, o Che como pensador radical.
dinopress@sapo.pt ASSINATURAS Colaboraram neste número: Ana Barradas, Ângelo Novo, António Barata, Antonio Doctor, António Serzedelo, Carlos Morais, João Bernardo, Paulo Jorge Ambrósio, Vítor Colaço Santos Propriedade: Cooperativa Política Operária Correspondência: Apartado 1682 - 1016-001 LISBOA | TM: 960 135 270 Periodicidade: Bimestral | Tiragem: 1100 exemplares Publicação inscrita na DGCS com o número 110858
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10 números
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Continente e Ilhas Europa Resto do Mundo
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Quem ajuda a CIP? A “crise” tem constituído para o patronato uma “janela de oportunidades”. Para investir? Inovar? Racionalizar para melhor produzir? Diversificar? Descobrir novos mercados? Exportar? Não. Tem servido para a Confederação da Indústria Portuguesa se regozijar por os patrões poderem despedir em massa — tanto individual como colectivamente. Tem servido para se colocarem à porta do Estado de chapéu na mão, na pedinchice, enquanto reclamam menos Estado: que despedir é difícil e caro, que pagam muitos impostos, que os custos do crédito e energia são muito altos, etc. etc. e, assim sendo, precisam de mais apoios, de mais isenções, de mais subsídios, de mais bonificações e de mais todas as formas de ir ao bolso dos (papalvos) dos contribuintes, revelando assim o seu eterno espírito de pedintes, aí sim, altamente produtivo. E compensado... Agora a crise também é pretexto para não cumprirem o que haviam acordado na Concertação Social: o aumento do salário mínimo(íssimo) nacional de 475euros para 500 euros em Janeiro de 2011. Choraminga o presidente da CIP, António Saraiva (ex-PS) que as empresas não têm “condições” para pagar um aumento de 82 cêntimos por dia. Se o patronato não tem “condições” para pagar o equivalente ao custo de uma bica por dia, estamos conversados não só quanto ao miserabilismo, mas também quanto ao que o país pode esperar dos industriais portugueses. É bom que a CIP se lembre que os salários pesam nos custos globais de produção, em termos médios, à volta de 3,5%.
Menos Estado É o grito da direita: quando for poder, acabará com os equilíbrios sociais nascidos com o 25 de Abril. Privatizar os lucros e nacionalizar os prejuízos. Menos Estado e melhor Estado, para a direita, corresponde a autoritarismo, governo musculado e malfeitor, repressão a todos os níveis, ausência qualificada de liberdade e dissolução dos laços sociais, cada vez mais escassos. Só que, apesar das ofensivas para os destruírem, ainda não acabaram com eles. Menos Estado e melhor Estado para eles pode ir até à privatização do ar... VÍTOR COLAÇO
Ganhou a abstenção Como se esperava, Cavaco ganhou sem brilho e conseguiu a reeleição à primeira volta, mais por demérito dos seus adversários que por mérito próprio. Perdeu tanto em termos absolutos – mais de meio milhão de votos relativamente à anterior eleição – como percentuais, nem sequer se aproximando dos delirantes 70% anunciados por alguns. Numas eleições marcadas pela mediocridade em que, na falta de ideias e propostas políticas, os candidatos se refugiaram na demagogia, nas tricas, nos “casos” em torno das negociatas de Cavaco com os seus amigos da SLN e do BPN e nos julgamentos morais, nenhum dos candidatos nem os partidos que os apoiaram tem razões para festejar. Pela primeira vez desde o 25 de Abril, mais de metade dos eleitores ignoraram o acto eleitoral – foram mais de 53 % aqueles que se abstiveram. E se a isto juntarmos os cerca de 200 mil votos em branco, que quadruplicaram, e os nulos, que dobraram, temos um presidente eleito por um quarto dos eleitores e um povo que não se sente tocado nem se revê nas candidaturas a concurso. Ou seja, são quase 5 milhões e meio os portugueses que, não se reconhecendo em nenhum dos candidatos nem se sentindo mobilizados pela disputa eleitoral, não encon-
traram qualquer razão para neles votar ou se deslocar a uma mesa de voto para votar branco ou anular o seu boletim. Este é o principal facto político destas eleições – o descrédito e o vazio político e ideológico da chamada “classe política”. Igualmente previsível a pesada derrota de Manuel Alegre, que viu esfumar-se o milhão de votos por si conquistados na eleição anterior, perdendo mais de 300 mil eleitores. Uma derrota anunciada e fácil de entender por quem não tenha o discernimento toldado pelo oportunismo – que crédito tem um candidato que (facto insólito) tem um pé no governo e outro na oposição, sendo simultaneamente apoiado pelo PS, o partido que está no governo e tem conduzido uma política de ataque sistemático aos trabalhadores, e pelo BE, que se lhe opõem; um candidato que por um lado está contra as medidas antipopulares de Sócrates e por outro a favor do Orçamento de Estado que as contempla, tendo até proposto a interrupção da campanha eleitoral para que Cavaco pudesse fazer lóbi junto da União Europeia quando da mais recente venda da dívida pública portuguesa. ANTÓNIO BARATA
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O mês em relance SÓCRATES – Tem um sentido circense que legitima todo o faz-de-conta. É tragicamente incapaz. Já deu o que tinha a dar. Continua por completa ausência de antagonista. É um cadáver político. Está a prazo. Cavaco a curto prazo vai diluí-lo, com um qualquer diluente... Em cinco anos de malfeitorias, o povo já não presta atenção às mensagens de Natal do eng. Sócrates. Basta comparar o que disse com a sua mensagem de há um ano: “Esperança no crescimento da economia e do emprego em 2010”. Agora no patamar de nova recessão, com o desemprego a bater valores impensáveis, que confiança podemos ter neste governo e na sua “agenda de 50 medidas para o crescimento da economia e do emprego”? Falava há um ano da “necessidade de investir em infra-estruturas de transporte e de comunicações, em novas escolas, hospitais e barragens”; neste ano, com um Orçamento PS/PSD/Cavaco, adia tudo, não sem antes recitar uma lista de actos de propaganda para esconder a paralisia do Estado e o seu miserável investimento público. Em 2009 Sócrates apregoava a “solidariedade social, o aumento das pensões e o alargamento da protecção no desemprego”; neste Natal já não teve o descaramento de falar de questões sociais, depois de congelar pensões e cortar na protecção ao desemprego, no abono de família ou no complemento solidário para idosos. Já para não falar da nova repugnante medida do governo – lei das indemnizações – que corta aos trabalhadores as indemnizações a que tinham direito.
As mensagens de Sócrates – e de Cavaco: “eu bem avisei a tempo”, uma mão cheia de nada... – não querem saber dos que ficaram sem trabalho e apoios sociais, dos que vão ganhar menos, mas que irão pagar mais pelos remédios, a educação e os transportes. É a suprema hipocrisia dos mensageiros da falsa esperança, no fundo dos grandes responsáveis da situação que vivemos... Mas um dia isto vai mudar.
PASSOS COELHO – Representa um partido sem grandeza, intelectualmente fraco e politicamente hipócrita. Nunca foi grande coisa. A contrafacção de Sócrates – Passos Coelho é carente de conhecimento, incredível e incapaz. Se a Drª Manuela era um susto, este rapazola detestado pelo “pai” Cavaco procede de uma cultura de ilusionismo político que nem coelho da cartola sabe tirar... A direita espera-o paO anjinho ra demolir o pouco “Como foi possível as supervisões, os governos, os deque resta do Estapositantes e os auditores não terem visto o que se passava?” (Fernando Lima, presidente da Galilei (ex-SLN) e do Social. membro da comissão de honra da candidatura de Manuel Alegre, Expresso Economia, 21 de Janeiro).
Retrato certeiro “Na eminência de uma falência financeira, todos os dias anunciada e todos os dias adiada, num lento processo de tortura e agonia, somos ainda confrontados e desafiados a levar a sério a mais desinteressante, a mais confrangedora campanha eleitoral a que o país assistiu em 37 anos de democracia.” (Miguel Sousa Tavares, Expresso, 15 de Janeiro).
Só pode ser piada “O governo fará o seu dever pondo as contas públicas em ordem sem recorrer a essa agenda liberal de despedir pessoas na Administração Pública.” (José Sócrates, Público, 6 de Fevereiro).
CAVACO – Nunca se engana e raramente tem dúvidas. Disse que se houvesse segunda volta nas eleições presidenciais, iria cair sobre “empresas e famílias” uma altíssima subida de juros. Não houve segunda volta e a taxa de juros não desceu... e as “famílias” elegeram-no com uma
O patronato queria 21 dias de indemnização por cada ano de trabalho em vez de 30? O governo deu-lhe 20. Queria um limite máximo de 12 salários, que lhe permitisse despedir os trabalhadores mais antigos e substituí-los por precários (senão despedi-los e contratá-los depois a “recibo verde” de modo a livrar-se dos descontos para a Segurança Social?). O Governo deu-lhe 12 salários. (Manuel António Pina, Jornal de Notícias). A Caixa Geral de Depósitos enviou aos seus clientes mais modestos uma circular informando-os de que para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção, terão de ter em cada trimestre um saldo médio superior a 1000 euros, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à respectiva conta. Sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal. É o caso de um reformado por invalidez, quase septuagenário, que sobrevive com uma pensão de 243,45 euros, para ter direito ao piedoso subsídio diário de 7,57 euros. Casos como este – e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza – não podem preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria. O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com “obscenas” pensões a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos. (José Vieira, 2/2/11).
absoluta maioria de 23% do total de eleitores. Não se compreende como é que quatro dias depois de, como Cavaco pediu, o terem eleito à primeira volta, os juros da dívida pública continuam a voar por aí acima, cifrando-se na bonita taxa de 7,119%... Teve a simpatia de quase toda a imprensa. Gastou mais de dois milhões de euros na campanha eleitoral... No caso BPN/SLN, confundiu vil baixeza com crítica política. Disse: “Envergonha-nos a todos saber que há portugueses com fome”. Parece que nunca foi governante. De ministro das Finanças a primeiro-ministro até presidente, governou quase 20 anos. A pobreza está-lhe colada à pele de governante. O resultado entre ignorância, amnésia, ausência de consciência política, caciquismo beato e ir ao beija-mão de quem lhes rouba o pão conduziram-no a novo mandato. Besuntem-se com ele. Gostava que o presidente fosse um homem culto, lido, cordial e descontraído. Não é. O país cedeu ao mito do político severo, austero, hirto, cinzento e beato. Salazar também assim foi. Pertence a uma sociedade formatada no autoritarismo em que estes cinco anos de presidência acentuaram a desgraça. A desgraça – durante os próximos cinco anos – vai ficar desgraçada... VÍTOR COLAÇO
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Deriva reformista da CGTP A seguir ao relativo êxito e ânimo criados pela greve geral de 24 de Novembro, a cúpula da CGTP enveredou novamente pela estratégia do pára-arranca, traduzida na pulverização sectorial e descentralização geográfica das lutas, greves e protestos, para decepção dos quadros que, no plenário de sindicatos de 7 de Janeiro, exigiram mais acção firme e unificada. Por que o faz? Para compreender este filme déjà vu é necessário recuar no tempo e analisar todo o percurso dos dirigentes sindicais e da própria central. Em Portugal o ano de 1987 ficou assinalado pela entrada da CGTP para o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS), decorrente em larga escala da adesão do país à CEE, um ano antes, pela mão do então primeiro ministro Mário Soares, que assim protagonizou o desígnio nacional dos capitalistas e da burguesia “europeísta e esclarecida”, ávida de sair do casulo asfixiante e de penetrar em novos terrenos propícios a negócios vultuosos, por via da modernização dos métodos de exploração, de um mercado alargado global, das ajudas de fundos e subsídios e, logo, do crescimento dos lucros e fortunas que tipificariam o novo-riquismo fulgurante desses anos. Anteriormente, nas décadas de 70 e 80, a central boicotava o CPCS – sede institucional da colaboração de classes tutelada pelo governo – apostando mais nas lutas concretas e na ligação às empresas, locais de trabalho, através das comissões de trabalhadores e delegados sindicais. Então, a CGTP era muito próxima da Federação Sindical Mundial (FSM), alinhada pelo ainda aparentemente pujante bloco de Leste, com a URSS à cabeça. Com a implosão e desintegração deste campo dito socialista, e com a perda crescente de influência do movimento operário português no refluxo do período revolucionário e das “conquistas de Abril”, a direcção da CGTP, atenta aos “novos tempos”, ensaia a adesão à social-democrata Confederação Europeia de Sindicatos (CES), na qual seria admitida em 1994. A entrada para a CES foi polémica, fez rolar algumas cabeças, mas concretizou-se pela pressão do aparelho e da maioria dos dirigentes nacionais de então, possibilitando à CGTP constituir-se como parte nas parcerias da formação profissional, higiene e segurança no trabalho, etc., acedendo aos fundos comunitários que entretanto começavam a entrar a rodos. A consequência desta opção, armadilhada, foi colar a CGTP ainda mais à órbita global do sindicalismo “de acompanhamento”
e regulação do sistema, predominante no resto da Europa ocidental, traduzindo-se no abandono definitivo das reivindicações políticas operárias em prol das mais generalistas e socioprofissionais, e da hipertrofia do aparelho sindical e do reforço das cúpulas. Ficava assim para trás uma outra matriz sindical e jamais a CGTP voltaria a fazer, como fez em 1982, uma greve geral subordinada a uma palavra de ordem estritamente política e fracturante como foi “AD fora do Governo”, imposta pela base, muito por acção dos sindicalistas revolucionários então agrupados no Centro “O Trabalho”. Mas não contente com toda esta viragem, a ala direita da central (PS, bloquistas, católicos e independentes) pretende ir ainda mais longe, propondo no último congresso da CGTP a sua adesão à reaccionária CSI – criada em 2006 sobre os escombros da CISL e da CMT e financiada pela reaccionária Fundação Friedrich Ebert, propulsora, já em 1978, da criação da UGT. Não obstante esta adesão ter sido rejeitada por 85% dos delegados ao congresso, os seus defensores continuam a insistir nela. Pelo andar da carruagem, o futuro da central como instrumento da luta dos trabalhadores e de massas ficará ainda mais hipotecado, mas será coerente com este percurso. PAULO JORGE AMBRÓSIO
“Nom pode ser, obreiros na cadeia, corruptos no poder”
O Colectivo Política Operária solidariza-se com Miguel Nicolás, jovem operário metalúrgico de Vigo filiado na CUT, detido pela polícia espanhola na prisão da Lama desde 15 de Dezembro e acusado sem provas de participação em sabotagens contra as instalações do INEM (emprego e segurança social) no Sul da Galiza. As exigências pela sua imediata libertação por parte das organizações galegas, em particular Primeira Linha e NÓS-UP, contam também com o apoio da Política Operária, que com elas reclama a urgente presença de Miguel na luta de contra a exploração capitalista e pela independência nacional do povo galego.
Os pobrezinhos coitadinhos Há tanta vantagem em haver pobrezinhos! Se não houvesse, o que fariam as almas benfazejas? Como poderiam praticar a caridade, socorrê-los, fazer boas acções? É evidente que, para haver muitos, muitos pobrezinhos, tem que haver muito poucas almas caridosas com muitos milhões. Por isso é que o presidente executivo da PT, Zeinal Bava, o tal que com a ajuda do PS, PSD e CDS, se alegrou de o grupo que dirige, e outros, anteciparem a distribuição de lucros, embolsando assim mais uns milhões. É por haver tantos pobrezinhos e tanto “amor” ao próximo que Bava, Faria de Oliveira, presidente da Caixa Geral de Depósitos, e outros notabilíssimos se inscreveram no Banco Alimentar Contra a Fome (BACF). Até deu vontade de chorar... Claro que há mais almas
sensíveis para com os pobrezinhos que eles geram. Há dias vi num hipermercado as/os caixas com camisolas da referida instituição. Não vi o Belmiro nem o Jerónimo – Pingo Doce – equipados mas talvez lá andassem... Juntam o útil ao agradável: a clientela fica sensibilizada com tanta solidariedade e compra mais umas toneladas. (Julgavam que o BACF ia dar borla...). Portanto, graças aos coitadinhos dos pobrezinhos e à generosidade dos que os fazem, até é de pôr em causa a afirmação bíblica: é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus... VÍTOR COLAÇO
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Mais despedimentos e nós pagamos Pela mão da ministra do Trabalho, Helena André, o governo propôs à Concertação Social nova alteração das regras das indemnizações por despedimento. O executivo pretende um tecto máximo de 12 meses nas compensações e o fim do limite mínimo a pagar, além da criação de um fundo para financiar os despedimentos. O trabalhador tem direito a 30 dias por cada ano de casa (mais diuturnidades) e pretende-se reduzir este valor para 20 dias. Actualmente, os trabalhadores despedidos têm direito, no mínimo, a três meses de salário-base e diuturnidades, mas o Governo quer retirar essa opção. Os contratados a prazo vão perder até 45 por cento das indemnizações, e calcula-se que um trabalhador com quase vinte anos de casa tenha uma perda de 55,5 por cento, afirmam os jornais. Os patrões pensam que as regras devem abranger o universo dos trabalhadores e não apenas os novos contratados e aplaudem e regozijam-se. Bruxelas “aberta a negociar”. também. João Proença diz: “Se nos derem os A Confederação do Comércio, caso o Gosalários espanhóis, aceitamos já”. A UGT está verno insista no fundo participado pelas em-
Pasmaceira reformista O ano começou com os anunciados cortes nos ordenados dos trabalhadores do Estado e das empresas por ele tuteladas. Passados dois meses sobre a greve geral, que faz a CGTP (da UGT nem vale a pena falar) para combater estes cortes e demais medidas antipopulares contidas no Orçamento de Estado? Abdica de mobilizar os trabalhadores, de trazer os protestos e a indignação para as ruas, limitando a luta aos tribunais, enchendo-os de processos e providências cautelares, dizendo que vai entupir os tribunais com processos e que vai vencer porque os cortes salariais são inconstitucionais. Pelo meio desencadeia uma semana de mini-greves nos transportes – paralizações desgarradas e simbólicas de meia dúzia de horas, sem qualquer ligação entre si, umas empresas nuns dias, outras noutro, que não produzem qualquer efeito e pasam despercebidas. Nada temos contra o recurso aos tribunais, nem à sua utilização pelos trabalhadores e sindicatos. É mais um campo de luta, como outro qualquer. O problema está em que tal luta, desligada de qualquer mobilização e pressão popular e sem a ela estar subordinada, vai ter como desti-
no certo a derrota. Como aliás já está a acontecer, com a invocação pelo Estado do “interesse nacional”, uma espécie de vaca sagrada contra a qual os tribunais não se atrevem a investir. Foi uma táctica já ensaiada com os professores há meses, com os mesmo argumentos, e que produziu os mesmos resultados nulos de agora, com os juízes a decidir contra os trabalhadores e a favor do governo. Por isso espanta que, dada a envergadura da ofensiva antilaboral e antipopular da burguesia portuguesa, a CGTP nada mais tenha para propor que as greves simbólicas e os processos judiciais, e o PCP e o BE o “combate” parlamentar. É caso para perguntar: o que temem eles? Por que são tão dados à moderação? Por que os aflige tanto a revolta das massas, sabendo, com sabem, que a derrota das medidas antipopulares encomendadas pela União Europeia e postas em marcha pelo governo só podem ser obtida na rua, pelo protesto dos trabalhadores?
presas, garante que estas vão transferir a despesa para os salários. Arménio Carlos, da CGTP-IN, advertiu que se trata de “uma proposta que favorece as entidades patronais”, pondo “os trabalhadores a pagar o próprio despedimento”, o que “generaliza a precariedade” e “baixa os salários”.
INCM
Outro caminho Contrariando a orientação da CGTP de pulverizar a luta dos trabalhadores do sector público convocando greves sectoriais de meia dúzia de horas e sem qualquer articulação entre si, os trabalhadores da Imprensa Nacional Casa da Moeda decidiram em plenário de empresa, em 31 de Janeiro, “juntar-se às lutas dos trabalhadores do sector empresarial do Estado que decorrem na semana de 7 a 11 de Fevereiro”; “propor à CGTP-IN que unifique a luta dos trabalhadores do sector empresarial do Estado com a luta dos trabalhadores da Administração Pública (central e local), e com os trabalhadores da Saúde e do Ensino: ou seja, todos os que são abrangidos pelas medidas de austeridade do Orçamento Geral do Estado” e que “a jornada de luta seja levada à prática da seguinte forma: Greve Geral de 24 horas, com concentrações nos locais de trabalho, seguidas de concentrações junto ao Ministério das Finanças e à residência do 1º Ministro”. Discordando que a crise deve ser paga pelos trabalhadores, exigiram “aumentos salariais, que reponham o poder de compra perdido e a manutenção das promoções nas carreiras profissionais”.
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A revolução democrática pan-árabe Nas últimas semanas, como num súbito capricho atmosférico, a história tomou uma inesperada aceleração no mundo árabe. Primeiro, uma juventude em profundo desespero de vida tomou o destino em mãos e saiu para as ruas, na Argélia e na Tunísia. Neste último país, passadas algumas semanas de constante atrito com o temível aparato repressivo deste Estado policial, o ditador Ben Ali põs-se em fuga, com o seu séquito familiar mafioso. É uma autêntica revolução popular, um espectáculo totalmente imprevisto e inédito no mundo árabe, em várias gerações. De imediato, a primeira onda de choque chegou ao Egipto, à Jordânia e ao Iémen, mas novas ondas se seguirão, pois que estamos perante a abertura de uma era histórica completamente nova. No Líbano, uma imunda conspiração imperialista pseudojudiciária é desmantelada, arrastando nisso a queda do próprio governo pró-“ocidental” de Saad Hariri, que estava de visita a Washington para receber instruções. Perante a mais completa surpresa e a paralisia incrédula da vigilante potência ianque, um novo bloco nacional emerge – a partir do próprio parlamento eleito segundo as viciadas regras “étnicas” em vigor – fazendo aceder pela primeira vez o Hezbollah e a resistência nacional ao poder. O Estado sionista está inteiramente mobilizado para a guerra na sua fronteira norte, mas sabe que esse movimento – quer no simples confronto directo com o Hezbollah e o exército nacional libanês, quer numa possível escalada que envolva a Síria e/ou o Irão – lhe acarretará riscos existenciais incomportáveis. O preço da continuada e impenitente arrogância sionista é que a parada da próxima guerra será sempre de vida ou de morte. Dentro de cinco a dez anos, pode bem já não existir essa chaga aberta que Israel constitui no Médio Oriente, com reverberações em todo o mundo. Entretanto, a cadeia televisiva Al Jazeera, certamente a mando do anafado emir do Qatar Hamad bin Khalifa al-Thani (um dos mais ambíguos e influentes personagens do Médio Oriente actual) aproveita esta ocasião para avançar o seu próprio momento wikileaks, com a divulgação em parceria com o diário britânico Guardian dos “papéis palestinianos”. Trata-se de cerca de 1.700 documentos – memorandos, mapas, minutas de reuniões secretas, e-mails, apresentações em power point, etc. – com milhares de páginas datadas de 1999 a 2010, descrevendo em detalhe o que tem sido discutido no famigerado “processo de paz” israelo-palestiniano, sob patrocínio norte-americano, para além de outras questões relacionadas com a colaboração da Autoridade Palestiniana (AP)
na ocupação sionista. Ao contrário das revelações da Wikileaks, estas são verdadeiramente chocantes e absolutamente demolidoras, indo muito para além daquilo que era possível imaginar sobre os assuntos em causa. Ficamos a saber que a AP traiu da forma mais completa, sem qualquer vergonha ou rebuço, sobre os colonatos sionistas, sobre al-Quods (incluindo o monte do Templo, Haram al-Sharif), sobre o direito de retorno dos refugiados. Sobre tudo, enfim. Traiu sem qualquer sentido político, por simples vício e venalidade, pois que os sionistas registaram bem, mas não aceitaram nenhuma destas rendições, querendo sempre mais. Para além disso, a AP colaborou e executou mesmo, por encomenda israelita, assassinatos de resistentes palestinianos, tendo incitado e participado no bloqueio e na guerra de extermínio movida contra o povo de Gaza. Quando a poeira assentar melhor, e de forma mais completa, sobre estas espantosas revelações, o aparato político e administrativo da AP ficará completamente desacreditado, tanto perante a população palestiniana como a nível regional. O “processo de paz” e, de uma forma mais geral, toda a solução do tipo “dois Estados” ficarão feridos de morte. No momento em que escrevo, o brutal sátrapa imperialista Hosni Mubarak parece estar em vias de cair fragorosamente no Egipto, perante a constante e intrépida arremetida popular que, em quatro dias de combates, varreu por completo das ruas um dos mais temíveis, extensos e sofisticados aparelhos policiais alguma vez erguidos em qualquer país do mundo. O desfecho político definitivo que emergirá desta crise revolucionária ainda não é claro, podendo, verosimilmente, passar por uma solução civilista e demoliberal encabeçada pelo ex-diplomata Mohamed El-Baradei, com a participação da
Irmandade Muçulmana e restantes forças da oposição tradicional, tudo sob a tutela discreta de umas forças armadas fortemente comprometidas e engajadas com o imperialismo norte-americano. De todo o modo, mesmo esta perspectiva política limitada, mantendo as classes trabalhadoras longe da esfera do poder, é já um enorme avanço. Implicará, desde logo, um grande alívio para o povo palestiniano de Gaza, que poderá ver levantado o bloqueio a que está sujeito. A revolução egípcia de 2011 pode ainda vir a revelar-se um momento de viragem decisivo no mundo árabe. Daqui pode partir a boa nova de uma segunda vaga nacionalista, pós-colonial, democrática, progressista, autocentrada e valorizadora dos recursos e tradições próprios. É a possibilidade de uma Primavera dos povos árabes, que leve à derrocada das suas ditaduras submissas e clientelares, com a passagem a um certo não-alinhamento desenvolvimentista, diversificando as suas relações internacionais, em colaboração com os novos países emergentes do terceiro-mundo, dos quais até já há exemplos no mundo muçulmano (Turquia, Irão, Malásia, Indonésia). Para um rumo destes, o Egipto será o país-chave, aquele que pode sinalizar a mudança, pela sua dimensão, pelo seu peso cultural e político e até pela sua localização geográfica no eixo entre o Magrebe e o Machrek. Tudo isto não pode deixar de causar importantes fricções com o imperialismo ianque (e europeu), sendo desde logo um enorme pesadelo para o Estado sionista de Israel. Vai-se agudizar o complexo de cerco do “mundo ocidental”, com acréscimo da sua histeria xenofóbica e, em particular, islamofóbica. Mas são estes os ventos que sopram na história. ÂNGELO NOVO
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Pelo Egipto, todos presentes No dia 2 de Fevereiro houve em Lisboa no abrir telejornais Largo Camões ao fim da tarde uma manif de no momento em que estão reuniapoio à Revolução do Nilo. Estive lá para prestar o meu tributo para das dois milhões com o povo árabo-egípcio que se revolta contra de pessoas no a tirania e luta por eleições livres e democráticas, Cairo, em protesderrubando os “muros do medo” que tanto to crucial demotêm servido de defesa dos ditadores como Mu- crático para derrubar uma ditadubarak, no mundo árabe. ra, não para falar Senti um travo amargo de desilusão. Éramos muito poucos os que ali nos soli- disso, mas para darizávamos com esta importante revolta po- nos dizer quanto pular, ao nível do que foi o fim do apartheid, da estão incomodaqueda do Muro de Berlim, ou do nosso 25 de dos por esperar Abril, e que se triunfar, como parece inevitável, num aeroporto vai mudar todo o xadrez político-diplomático cheio uns 50 ou 100 turistas portugueses que futebolizada, fatimizada, e tabloidizada, de do Médio Oriente e estabelecer formas de rela- foram apanhados pelos eventos e que, por molde a manter os cidadãos alheios a qualquer cionamento diferente com toda a Europa, so- razões de segurança, devem regressar. discussão política e à compreensão do que se Noutros países que tinham lá milhares de passa à sua volta. Ou seja, mantê-los adormecibretudo com os países ribeirinhos do Mediterrâneo, em particular Israel. Sem esquecer a im- turistas que também tiveram de voltar, o caso dos, inconscientes e politicamente analfabetos, portância crucial do canal do Suez que o Egipto valeu-lhes uma nota de rodapé das televisões de forma a poderem ser facilmente manipulácontrola e por onde passam todos os navios locais, exclusivamente direccionadas para dar veis pelos poderes do establishement. que trazem o petróleo com que alimentamos ao público dados, para compreender o que de Não admira portanto que o Largo Camões hora a hora as nossas vidas, e também as po- importante se está a passar no Egipto. estivesse quase vazio de solidariedades, quanEm Portugal o assassinato de um cronista do, aqui ao lado de nós, naquela hora, no mileluímos. Na verdade, presentes, só estavam alguns social de morte macabra num hotel de Nova nário país do Nilo, o povo egípcio lutava para militantes da chamada extrema esquerda, parla- Iorque enche muito mais o “olho” das virar uma página da sua história. mentar ou não, ou seja, gente jovem do BE e notícias, cada vez mais tabloidizadas, que a E nós devíamos estar todos presentes! um deputado desta formação, alguns dirigentes morte, no mesmo dia, de um capitão de Abril de ONGs, e de movimentos que eu chamaria que foi crucial para a estabilização da nossa ANTÓNIO SERZEDELO, democracia e derrube do fascismo como o de fracturantes. EDITOR DO PROGRAMA VIDAS ALTERNATIVAS.EU Percebi quanto no nosso país ainda se vive major Vítor Alves. A nossa informação está propositamente distante da compreensão do fenómeno da globalização, e quanto os partidos e as pessoas ainda estão umbigadas e voltadas para si próprias, sem perceberem o impacto que acontecimentos destes podem vir a ter no nosso dia-a-dia futuro e até FUTEBOL PRÓ-SIONISTA na nossa segurança presente. Israel foi escolhido para organizar em 2013 o Por isso, nem as gentes Campeonato de Europa dos sub-21 da UEFA. O do PS, PCP, Verdes, indepenpresidente da UEFA, Michel Platini, em tempos dentes, sindicatos, CGTP ou ameaçou expulsar Israel dos campeonatos euroda cultura portuguesa acharam peus devido à situação da equipa palestiniana de importante estarem presentes. futebol, que nem sequer pode treinar, por os seus E se eles não acharam, o pújogadores estarem proibidos de se encontrar. blico, leia-se, o povo muito Platini, que gozava de um respeito e de uma menos achou. estima consideráveis, passará a ser conhecido como ESPECULAÇÃO INTERNACIONAL Fora isto um evento acerca aquilo em que ele se tornou: uma marionete nas De 2006 a 2008 subiram nos mercados interde um treinador ou jogador mãos do ocupante israelita. (De um comunicado do nacionais os preços dos produtos básicos, sobre de futebol qualquer que tiComité Solidariedade com Palestina de 30/1/11). tudo arroz, trigo e milho. A tonelada de arroz vesse ficado retido naquela subiu de $600 em 2003 a $1800 em 2008. Quando região por algum entorse da ESPANHA: 4,7 MILHÕES dos distúrbios populares causados por essa subida canela e teríamos as TVs e os DE DESEMPREGADOS no mundo, os preços baixaram tão rápido como jornais em peso, para medir a A Espanha registou um total de quatro mi- tinham subido. tensão popular, e o povo todo lhões 696 mil 600 desempregados no quarto trimestre O informe da FAO diz que os cereais subiram a gritar unido, vivas! ou abaide 2010, 20,33 por cento da população economica- 32% na segunda metade de 2010 e que o índice xos!. mente activa, segundo o Instituto Nacional de Es- composto de açúcar, carne, leite, cereais e oleagiDe resto, que pensar do tadística (INE). Trata-se da taxa de desocupação nosas superou em Dezembro os níveis de 2008. condicionamento a que estamais alta desde o segundo trimestre de 1997, quan- Se não se controlar a especulação, desta vez haverá mos sujeitos pelo nossos mído subiu a 20,72 por cento, sublinhou o organis- distúrbios na Europa. (ARGENPRESS.info, 28/ dias e TVs, quando vemos mo estatístico. (ARGENPRESS.info, 28/1/2011) 1/2011).
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Norte de África em brasa Trinta anos de ditadura vendida aos interesses imperialistas defrontam-se com centenas de milhares de cidadãos em protesto que reivindicam a queda do regime egípcio. A repressão já provocou mais de 500 mortos e milhares de feridos e não dá sinais de abrandamento. Apesar disso, os apelos à ordem não estão a ser respeitados pela população. Cairo e outras cidades ao longo do Nilo e na península do Sinai continuam a manifestar-se. Carros e lojas queimados e saqueados, veículos da polícia e edifícios oficiais incendiados – com a adesão espontânea de centenas de polícias aos protestos – os populares não desarmam apesar do perigo e das ameaças e, na praça central do Cairo, a agora famosa Praça da Liberdade, reclamam o fim do regime que os oprime, cercados por um aparato policial e militar nunca visto e sujeitos às suas agressões. Como por magia, os manifestantes ultrapassaram um patamar a partir do qual perderam o medo e ousaram ir mais longe: a sede do partido de Mubarak e o Ministério do Interior foram queimados pelos manifestantes e eles juram continuar os protestos. O medo aflige agora os todos os governantes da região, bem como os poderes imperialistas que durante tanto tempo os apoiaram. Com efeito, as armas disparadas contra os manifestantes são de fabrico norte-americano. Elas não querem saber que os cidadãos reclamem liberdade de expressão, fim da repressão, pão e melhores condições de vida. As declarações hipócritas de Obama e Hillary Clinton, acolitados por Ba Ki Moon e outros, não servem de álibi. E aqueles que se inquietam contra o radicalismo islâmico terão agora de estar mais atentos em relação aos crimes dos regimes favoráveis aos interesses norte-americanos, os principais responsáveis pela insegurança no Médio Oriente e no mundo. Os factores de crise há muito que se acumulavam. Um relatório do Banco Mundial de há dois anos afirmava que os países árabes impor-
tavam cerca de 60% dos alimentos que consomem e são os maiores importadores de cereais no mundo, dependendo de outros países para a sua segurança alimentar. O aumento dos preços nos mercados mundiais já causou ondas de protestos em dezenas de países de milhões de desempregados e pobres, inclusive nos países árabes (Argélia em 1988, Jordânia em 1989, Quirguistão no ano passado). No Egipto, dois terços da população são jovens abaixo dos 30 anos, dos quais 90 por cento desempregados. Não sabemos como vai terminar esta revolta. Mas sabemos que ela atingiu um nível nunca previsto. Os acontecimentos da Tunísia e o afastamento de Ben Ali, também inesperados na sua espontaneidade, foram a inspiração destes protestos, que alastraram também à Argélia, Jordânia, Síria, Palestina, Sudão, Marrocos e Iémen. Toda a região está em brasa e ninguém sabe como aquietá-la. Estes acontecimentos terão o seu impacto sobre os 360 milhões de pessoas que vivem no mundo árabe. Mas são também um grande
encorajamento para todos os povos oprimidos e todos os trabalhadores que viram os seus direitos diminuídos desde que rebentou a crise capitalista em curso. O Egipto é um país muito importante em todo o Médio Oriente, pelo seu poderio económico e secular papel de liderança, pela confiança e boas relações que os seus dirigentes mantêm com os Estados Unidos e pelo papel sujo que desempenharam fazendo o jogo de Israel contra os palestinianos. Os acontecimentos desenvolvem-se a grande velocidade. Esperamos que no resto da região e do mundo estas manifestações sejam um exemplo a seguir e a centelha que acordará milhões para a luta. O Médio Oriente e o Norte de África conjuram as atenções de todos os revolucionários, no contexto da crise económica global. Há que seguir os passos destes corajosos cidadãos. A solidariedade e propaganda são elementos essenciais para alertar os mais cépticos sobre as possibilidades de rebelião onde e quando menos se espera.
Dilma, vitória do povo? A eleição de Dilma Rousseff foi saudada tanto pela esquerda, que viu na vitória da candidata do PT mais um êxito do campo popular, como pelos centros imperialistas, que não se sentiram minimamente ameaçados por ela. Como entender tão estranha unanimidade? A vitória eleitoral de Dilma, tal como anteriormente as de Lula da Silva, inscreve-se num fenómeno iniciado após a implosão do bloco soviético e o desaparecimento do “perigo comunista”, que foi acompanhado pelo processo de democratização das ditaduras latino-ame-
ricanas, a deposição das armas pelas guerrilha, e o surgimento de uma nova esquerda ligada aos “movimentos sociais”. Uma esquerda nacionalista, pragmática e institucional, democrática e defensora da soberania nacional sobre os recursos naturais, mais anti-imperialista nuns casos que noutros, apostada em promover um programa de reformas profundas, mas sem entrar em rupturas quer com os velhos poderes nacionais, quer com o imperialismo, e que tem vindo a desalojar as velhas oligarquias do centro do poder de Estado que estas detinham há décadas.
O sucesso eleitoral com Lula e agora com Vilma resulta da transformação do PT, de um partido popular e de trabalhadores dirigido por camadas pequeno-burguesas, num partido da nova burguesia brasileira, menos dependente do imperialismo e mais urbano do que no passado. Trata-se de uma burguesia mais bem informada e atenta às questões sociais, distanciada da velha e poderosa oligarquia rural que dominou desde sempre o Brasil, com um projecto nacional de modernização económica e de afirmação do Brasil como grande potência regional e mundial.
ANA BARRADAS
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TUNÍSIA
Declaração da Frente 14 de Janeiro Para afirmar e assegurar a participação na revolução do nosso povo que lutou pelo seu direito à liberdade e à dignidade nacional, este povo que deu dezenas de mártires e milhares de feridos e presos, e com o fim de completar e garantir a vitória contra os inimigos internos e externos e os que tentam sequestrar os sacrifícios do povo, decidimos constituir “A Frente 14 de Janeiro”, marco político para a promoção e garantia da revolução até alcançar os seus objectivos, e para lutar e derrotar as forças contra-revolucionárias. A Frente agrupa os partidos, forças e organizações nacionais, progressistas e democráticas. Os seus objectivos e tarefas urgentes são: 1. Derrubar o actual governo de Ghanouchi ou qualquer outro que inclua pessoas do anterior regime, que fizeram as políticas antinacionais e antipopulares e serviram os interesses do presidente derrubado. 2. Dissolver o partido do ex-presidente, e confiscar as suas sedes, bens, activos financeiros e fundos, porque estes são do povo. 3. Formar um governo de transição que expresse a confiança do povo, das suas forças políticas progressistas e das suas organizações sociais, sindicais e juvenis. 4. Dissolver a Câmara dos Representantes, dos assessores e de todas as instituições, do Conselho Superior da Magistratura e o desmantelamento de toda a estrutura política do antigo regime, e a preparação das eleições para uma Assembleia Constituinte para a elaboração de uma nova Constituição democrática e um novo quadro legal da vida pública, que garanta os direitos políticos, económicos e culturais do povo. 5. A dissolução da polícia política, aprovação de uma nova política de segurança que respeite os direitos humanos e as leis. 6. Pedir responsabilidades a todos os que provadamente saquearam os bens públicos, cometeram crimes contra o povo, como repressão, encarceramento, tortura e assassínios, quer decidindo, ordenando ou executando, bem como a todos os que se prove terem tido má conduta e má gestão da propriedade pública. 7. A expropriação dos bens de toda a família de Zine El Abidine Ben Ali, das pessoas próximas e de todos os responsáveis políticos que utilizaram a sua posição para enriquecer à custa do povo. 8. Assegurar e criar emprego para os desempregados e tomar medidas urgentes que garantam o subsídio de desemprego, a cobertura social e de saúde, melhorar o poder aquisitivo do povo. 9. Construção de uma economia nacional ao serviço do povo, onde os sectores vitais e estratégicos estejam sob controlo do Estado, nacionalizar todas as empresas que foram pri-
vatizadas, aplicar uma uma política económica e social que rompa com a opção capitalista liberal 10. Garantir as liberdades públicas, individuais, e especialmente a liberdade de manifestação, de organização, de expressão, de imprensa, de informação e crença, libertar todos os presos políticos e promover uma lei de amnistia. 11. A Frente 14 de Janeiro saúda o apoio das massas populares e das forças progressistas do mundo árabe e do mundo e incentiva-os a continuá-lo. 12. Rejeitar a normalização das relações com a entidade sionista, criminalizá-la, e apoiar os movimentos de libertação do mundo árabe e do mundo. 13. A Frente apela às massas populares, às forças progressistas e patrióticas para continuarem as mobilizações e a luta através de todas as formas legítimas, especialmente as manifestações nas ruas, até atingirmos os objectivos que nos propomos.
14. A Frente saúda todos os comités, associações e organizações populares, e apela a que ampliem o seu círculo de participação a todos os assuntos públicos e da vida quotidiana. GLÓRIA AOS MÁRTIRES DA INTIFADA E A VITÓRIA PARA AS NOSSAS MASSAS POPULARES REVOLUCIONÁRIAS. Túnis, 20 de Janeiro de 2011 Associação de Esquerda - Os Trabalhadores Movimento Unionista Nasserista Movimento dos Nacionalistas Democráticos Corrente Baazista Esquerdas Independentes Partido Comunista Operário da Tunisia Partido Nacional de Acção Democrática
EUA-CHINA
Jogos imperialistas Pela primeira vez na história, um presidente da República Popular da China visitou Washington, acontecimento que marca um novo rumo nas relações entre EUA e China, os dois gigantes imperialistas. Os norte-americanos tudo fizeram para destruir a revolução chinesa, antes e depois de 1949, data da libertação nacionalista. Durante 25 anos, impediram mesmo a China, onde vive um quinto da humanidade, de tomar assento nas Nações Unidos. O que agora se negociou foram interesses: Washington recebeu da China autorização para firmar contratos comerciais no valor de 45 mil milhões de dólares, em troca de transferência de tecnologia para a China. Uma das principais estratégias dos capitalistas norte-americanos para superar a crise económica é exportar para o vasto mercado chinês, pelo que o presidente Hu Jintao teve uma reunião com 14 executivos das maiores empresas do país (Goldman Sachs, Microsoft, General Electric, Westinghouse, Intel, grupo Carlyly, Dow Chemical, Coca-Cola, etc.). A Boeing conseguiu um contrato para fornecimento de 200 aviões. A General Elec-
tric desevolverá projectos ferroviários e de energia. Apesar de a China ter vindo a reforças as suas forças defensivas, o presidente Hu afirmou que não constituía uma ameaça para os Estados Unidos. Com efeito, os efectivos militares chineses são 30 vezes menores do que os norte-americanos. Em compensação, os porta-aviões, navios de guerra e submarinos americanos ameaçam permanentemente a China, caso do navio George Washington durante a última crise da península coreana. A 7ª Esquadra do comando do Pacífico tem 50 a 60 navios, 600 aviões e 60.000 militares da marinha deslocados para a região, vigiando a China e a Coreia do Norte e formando um eixo Tóquio-Seul-Washington contra aqueles dois países. Por seu lado, os chineses comprometeram-se a cessar o apoio à Correia do Norte. Os dirigentes norte-coreanos afirmaram entretanto que o diálogo e as negociações são “a única forma de evitar uma guerra, apaziguar os confrontos e melhorar as relações intercoreanas.”
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A propósito de Cesare Battisti Cesare Battisti era membro dos Proletari Armati per il Comunismo (Proletários Armados para o Comunismo) quando foi preso em Itália, em 1979, com 25 anos de idade. Três anos depois, ajudado por um grupo de camaradas, conseguiu fugir da prisão e foi para França e em seguida para o México. Entretanto um dos presos, aproveitando o estatuto de arrependido que as autoridades lhe ofereciam, atribuiu a Cesare Battisti a autoria de quatro assassinatos e beneficiou de uma redução de pena. Julgado de novo, mas desta vez à revelia, Cesare foi condenado à prisão perpétua, sendo estipulado que parte desta pena fosse cumprida sob privação da luz solar. Quando o presidente Mitterrand anunciou que daria asilo aos activistas italianos que renunciassem às acções violentas Cesare foi de novo para França, mas depois de Jacques Chirac ter assumido a presidência as autoridades francesas preparavam-se para extraditá-lo para Itália e ele fugiu para o Brasil, onde foi detido em Março de 2007. Desde então o Supremo Tribunal Federal tem mantido Cesare Battisti numa cadeia de alta segurança, apesar de o ministro da Justiça lhe ter concedido refúgio em Janeiro de 2009 e apesar de Lula, no último dia do seu mandato, ter decretado que ele não seria extraditado para Itália. Não creio que seja este o lugar para avaliar juridicamente o caso de Cesare Battisti nem eu tenho competência para tanto nem é esse o cerne da questão. A direita brasileira, mobilizando os grandes órgãos de informação, tem procurado criminalizar os movimentos sociais, especialmente os Sem Terra e os Sem Tecto, e o Supremo Tribunal Federal é uma das peças principais dessa operação. Apesar disto, os movimentos sociais mantiveram-se até há pouco alheados da campanha pela não extradição de Battisti, contando talvez que revertesse em seu benefício o silêncio num caso polémico. Só nas últimas semanas mudaram de posição e o Movimento dos Sem Terra e outros movimentos começaram a participar activamente na campanha. Talvez a situação fosse hoje diferente se essa adesão tivesse chegado antes, mas o que importa agora é que chegou e que a campanha pela libertação de Battisti pode assim contar com novo vigor. Mas não me parece que seja isto o principal. Cesare Battisti foi um dos muitos e muitos activistas de um colossal movimento revolu-
cionário de massas que nas décadas de 1960 e 1970 varreu todo o mundo desde os Estados Unidos e o México até à Checoslováquia e à China, colocando novos problemas e inventando novas formas de luta. Mesmo que possam não o saber, os revolucionários de hoje são os herdeiros directos ou indirectos daquelas lutas. Fomos derrotados então, não espanta que os vencedores nos persigam agora, com a tenacidade do ódio burocrático. E Cesare Battisti pode parecer-lhes um bode expiatório adequado porque, como ele recentemente sublinhou numa carta que enviou da prisão, “entre centenas de refugiados dos anos 70 que se encontram em vários países do mundo, não fui escolhido eu por acaso nem pela importância do papel de militante, mas pela imagem pública que eu tinha enquanto escritor, o que me dava o acesso à grande mídia para denunciar os crimes de Estado naquela época e os atuais”. E há mais ainda. Impondo na prática o anticapitalismo e adoptando uma consciência política quando procediam às expropriações, os Proletari Armati per il Comunismo – tal como nos Estados Unidos os Black Panthers e outros grupos do movimento negro e tal como na França, embora de outro modo, a Cause du Peuple – punham em causa a tradicional fronteira entre as acções que a justiça classifica como crimes políticos e aquelas que classifica como crimes comuns. E é aqui que o arco de círculo se fecha, juntando esta questão com a da criminalização dos movimentos
sociais, porque quando no Brasil os camponeses sem terra ocupam uma extensão inaproveitada ou quando os moradores de uma favela ou de um subúrbio ocupam um prédio devoluto ou erguem tendas num espaço urbano que a especulação deixara vazio, ouvem-se as vozes da ordem proclamar que se trata de um roubo. Todavia, se uma invasão de propriedade ou uma expropriação se apresentarem explicitamente como um protesto contra a injustiça social, então pressupõem uma consciência de classe. E se, além disso, forem organizadas colectivamente e se inserirem numa luta mais ampla, então fazem parte da acção anticapitalista. É isto que está em causa quando o governo italiano pede a extradição de Cesare Battiti e o Supremo Tribunal Federal brasileiro o mantém preso, e quando nós exigimos que Cesare seja posto em liberdade e lhe seja enfim concedido, realmente, o refúgio no Brasil. O leitor interessado encontra aqui o site do Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti: http://cesarelivre.org/ Um dossiê com numerosas análises e intervenções acerca do caso de Cesare encontra-se aqui: http://passapalavra.info/?p=30200 JOÃO BERNARDO
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Haiti, a maldição colonial O violento terramoto de Janeiro de 2010, com os seus 200 mil mortos e mais de dois milhões de desalojados, foi o culminar de uma história sangrenta. O colapso do governo e das instituições, alegado por Obama, abre caminho à ocupação militar ianque em larga escala, com o gigantesco porta-aviões USS Carls Vinson e respectivos navios-escolta, numa primeira fase. A força aérea norte-americana controla o espaço aéreo. Os marines patrulham as principais cidades, reprimindo os populares, mais uma vez a coberto da “ajuda humanitária”. A provar as suas sinistras intenções, o eixo franco-americano promoveu no passado dia 16 de Janeiro o regresso do ditador “Baby Doc”, enquanto mantém Aristide prudentemente à distância. Na ausência de oposição estruturada e solidariedade internacionalista, o povo haitiano e o Haiti voltam a mergulhar no pesadelo da sua maldição escrava e na sua condição de protectorado colonial, peão da geoestratégia imperialista. Com efeito, a História do Haiti – a metade da segunda maior ilha das Grandes Antilhas – até à era moderna é um longo calvário de sangue e lágrimas. Um século depois de Colombo lá ter desembarcado, a população nativa tinha já sido totalmente exterminada ou escravizada pelos colonizadores espanhóis. Em 1697, o território é cedido à França, que logo cuida de pôr em seu proveito a mão-de-obra escrava a sacar o açúcar, café e cacau. Em represália à abolição da escravatura e da independência, declarada em 1804, sofre um bloqueio comercial dos esclavagistas europeus e americanos que duraria 60 anos, até à assinatura do reconhecimento de uma dívida externa à França de 150 milhões de francos. A ditadura sanguinária do clã Duvalier inicia-se em 1957 com a chegada de François “Papa Doc” à presidência. Nos três anos seguintes, dizima toda a oposição política e social e controla a comunicação social e as forças armadas, fundando um regime de terror assente nas milícias dos tontons macoutes e num exército pessoal. A exploração e corrupção extremas e as obras megalómanas, a par do empobrecimento generalizado e da fome da população, caracterizariam um mandato que só termina com a sua morte em 1971, deixando o Haiti como a nação mais atrasada e pobre do continente americano. Sucede-lhe dinasticamente o filho, Jean Claude (“Baby Doc”), que apro-
funda o regime anterior até 1984, quando, por força da miséria, do descontentamento generalizado e da insatisfação dos comandos militares, é aconselhado a um exílio dourado em Paris. Os quatro anos seguintes são marcados pelo golpismo militar que conduz o país a um beco. Em 1990, Aristide, padre e teólogo da libertação, torna-se o primeiro presidente a ser eleito, com apoio de vastas camadas populares. Mas em 2004, no seu segundo mandato, é acusado pela oligarquia de fraude eleitoral e corrupção. No clima de pré-guerra civil insuflado pela França e pelos EUA, acaba por ser removido pelos militares norte-americanos e exila-se contra vontade na África do Sul. Estava reaberto o caminho à intervenção estrangeira, que visava a apetecível posição geoestratégica do país, bem como as suas reservas petrolíferas, de gás natural, diamantes, ouro e tesouros subaquáticos, intenção patente na privatização de portos de águas profundas promovida por Bush através do governo fantoche de Bonifácio Alexandre. As tropas da ONU (em que pontifica o Brasil), sob o falso pretexto pacificador e democratizante, criam condições para a estabilidade da rapina das corporações multinacionais e sufocam qualquer veleidade de sublevação popular. A sua folha de serviços é impressionante: só entre 2004 e 2006, mais de 20 mil haitianos são assassinados por se oporem à ocupação. Os presos políticos aumentam, sem direito a acusação ou julgamentos formais. A situação económica degrada-se, não obstante o país se tornar a meca de milhares de ONGs humanitárias e assistenciais que criam redes fictícias que mal chegam aos destinatários. Com o aparelho judicial substituído e domesticado, os gangues e esquadrões da morte fazem a lei nas ruas. A liberdade de imprensa é uma ficção que os jornalistas pagam com o cárcere e a vida. A miséria e fome agravam-se, com o preço dos alimentos proibitivo, e mesmo o pão é um luxo para a maioria. PAULO JORGE AMBRÓSIO
Testemunho egípcio Os manifestantes atacaram o camião da polícia com canhão de água, abriram a porta do condutor e ordenaram-lhe para sair do veículo. Alguns lançaram pedras e montaram barricadas. Os polícias repeliram os manifestantes a cassetete quando eles tentaram romper os cordões para se juntarem à manifestação principal no centro da cidade. No norte, na cidade portuária de Alexandria, no Mar Mediterrâneo, milhares de manifestantes também marcharam durante o que foi chamado de ‘Dia da Ira” contra o senhor Mubarak exigindo o fim da opressiva pobreza do país. Os manifestantes no Cairo cantavam o hino nacional e levavam cartazes denunciando Mubarak e a fraude generalizada das eleições no país. Os organizadores disseram que os protestos eram um ‘dia de revolução contra a tortura, a pobreza, a corrupção e o desemprego’. Mães com os seus bebés desfilavam e cantavam ‘Revolução até a vitória!’ enquanto os jovens estacionavam os seus carros na rua principal e agitavam cartazes onde se lia ‘FORA!’, inspirados pelos slogans tunisinos ‘DEGAGE!’. Vimos homens com sprays fazendo grafittis onde se lia “Abaixo Hosni Mubarak”. (Washington Post, 20 de Janeiro)
Os dez mais ricos no Brasil Metade do património declarado pelos 567 congressistas empossados dia 1 está nas mãos de apenas dez parlamentares, ou seja, em menos de 2% dos eleitos em Outubro para a Câmara e o Senado. Os dados fazem parte do levantamento feito a partir de informações dos então candidatos à justiça eleitoral. Em média, cada parlamentar declarou possuir R$ 2,9 milhões em imóveis, empresas, fazendas, veículos, objectos de arte, dinheiro em espécie e aplicações financeiras, entre outros bens. O parlamentar com maior património declarado vem do estado com os piores índices de desenvolvimento humano – Alagoas. O deputado João Lyra (PTB-AL) tem uma fortuna declarada de R$ 240,39 milhões. Seguem-se o senador Blairo Maggi (PR-MT), ex-governador de Mato Grosso e proprietário do Grupo Amaggi, um dos maiores produtores e exportadores de soja do Brasil, com negócios que se estendem aos transportes, pecuária e produção de energia eléctrica. Já foi considerado o maior produtor individual de soja do mundo, responsável por 5% da produção brasileira; os deputados Alfredo Kaefer (PSDB-PR), com R$ 95,7 milhões em bens, Sandro Mabel (PR-GO), com R$ 70,9 milhões, Paulo Maluf (PP-SP), com R$ 39,4 milhões em bens (em Março do ano passado entrou para o livro vermelho da Interpol, podendo ser preso se deixar o país. Foi denunciado por um promotor de Nova Iorque por suposta “conspiração com objectivo de roubar dinheiro da cidade de São Paulo, Nova Iorque e outros lugares, e ocultar dinheiro roubado”. O poder económico dos parlamentares reflecte a concentração de riqueza no Brasil. O Instituto de Pesquisa Económica Aplicada mostrou que os 10% mais ricos no Brasil concentram 75% da riqueza produzida no país. (Adaptado de Congresso em Foco, Fevereiro)
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Sindicatos espanhóis voltam a capitular A 2 de Fevereiro, governo espanhol, centrais sindicais amarelas CCOO e UGT e patronato, encenárom em Madrid um novo pato social, no que o PSOE define como o mais importante acordo de “diálogo social” após os Pactos da Moncloa de 1977. O regime logra assim plasmar a tam desejada estabilidade social após um ano de permanente ofensiva contra as conquistas, direitos e liberdades. As corruptas elites burocráticas do sindicalismo espanhol atraiçoam mais umha vez a classe que dizem representar capitulando sem o mais mínimo pudor frente aos patrons e o Estado. A crise económica internacional do capitalismo provocou a brusca queda da careta com a que Zapatero mantivo enganado a amplos setores populares. O falso capitalismo de “sensibilidade social” no qual se apoiou nos primeiros seis anos do seu mandado saltou polos ares pois emanava de umha economia artificial baseada na especulaçom imobiliária, na economia do tijolo e nos subsídios da Uniom Europeia. As pressons internacionais dos mercados obrigárom a que os inquilinos da Moncloa se vissem forçados a aplicar a receita com a dose mais neoliberal possível num capitalismo dependente e periférico como o espanhol. O Estado espanhol constata assim a sua enorme fraqueza, subordinaçom e submissom frente às potências imperialistas. Moncloa aplicou obedientemente as reformas laborais e cortes sociais que Washington, Berlim e o FMI demandárom e impugérom. Espanha semelha mais um protetorado que um Estado soberano. Novamente a severidade e brutalidade empregada contra os interesses nacionais galegos e as reivindicaçons da classe obreira transformam-se em mansidom e genuflexom à hora de aplicar as directrizes do Banco Central Europeu ou de Obama. DERRUIU A FICTÍCIA REALIDADE QUE NOS IMPUGÉROM De um dia para o outro, essa realidade virtual construída polos aparelhos ideológicos de propaganda, e a aparente solvência sob a que se vinha desenvolvendo umha economia sem base produtiva real, que nos últimas duas décadas tinha logrado fazer acreditar à maioria dos segmentos do povo trabalhador que já formava ou podia chegar a formar parte das “classes médias”, derrui como um castelo de naipes. O desemprego disparou-se atingindo cifras recordes: mais de 250 mil pessoas na Galiza; os salários congelárom ou vírom-se reduzidos; a precariedade laboral converteu-se na regra dominante num mercado laboral caracterizado polos abusos e a recuperaçom da legislaçom laboral do século XIX. O constante incremento
de produtos de primeira necessidade, da energia e dos combustíveis provocou que já seja maioria social a que manifeste dificuldades para chegar a fim de mês. A pobreza e a exclusom social som cada vez mais visíveis. A emigraçom da juventude, agora com formaçom técnica e universitária, revive o fantasma do nosso histórico êxodo demográfico. Ao processo privatizador de serviços básicos como educaçom e saúde, à eliminaçom de ajudas sociais, há que acrescentar a recente reforma das pensons. Esta última medida foi assumida polas direcçons de CCOO e UGT, mas provocou a greve geral nacional de 27 de janeiro convocada polo sindicalismo galego. Com essa decisom a burguesia dá um passo mais na ofensiva estratégica. O acordo pactuado hoje empobrecerá amplos setores populares e deixará desamparados e à beira da depauperaçom muitos outros. O alongamento da idade de jubilaçom dos 65 aos 67 anos, e o aumento do período mínimo de cálculo dos atuais 15 anos aos 20-25 provocará umha queda de entre 10-30% do poder aquisitivo, agravada num país como a Galiza onde a dependência nacional que padece por Espanha provoca que já tenhamos as reformas mais baixas do Estado. DISCIPLINAR CLASSE OBREIRA E RECENTRALIZAR ESPANHA A conjuntura internacional está acelerando duas tendências dialeticamente inseparáveis que nom sendo novas, agora incrementam em dureza e velocidade. A burguesia após a queda do socialismo soviético intensificou o processo de paulatina recuperaçom da taxa de ganho que tinha distribuído entre a classe obreira ocidental. O Estado espanhol nom ficou alheio a este fenómeno implementado nas reformas laborais que ciclicamente restruturam as condiçons laborais da força de trabalho num processo de contínua regressom de direitos e liberdades.
Mas o bloco de classes oligárquico espanhol também necessita manter unificado o mercado sobre o que impóm a exploraçom da classe obreira, das naçons oprimidas como a Galiza e das mulheres. Nom pode ceder às demandas de autodeterminaçom dos povos que saqueia. Eis as razons polas que a ofensiva espanholista, isto é, a recentralizaçom do Estado espanhol, questionando o café para todos no que se baseou o morno processo de descentralizaçom administrativa de 1977-81, hoje abandona a prudência começando a demandar a retirada de competências ao que demagogicamente qualifica de 17 míni estados. Setores do PSOE, do PP, e basicamente vozes da grande burguesia reclamam um novo pato que corte as atribuiçons autonómicas. Os acordos semi-secretos do encontro mantido com Zapatero, e previamente com o monarca, polos 37 principais empresários e banqueiros espanhóis no final de novembro de 2010, ou o recente informe do Clube Financeiro de Vigo, vam nesta direçom: as reformas laborais e sociais que se estám a aprovar e as que tenhem previsto impor devem ir acompanhas de mais Espanha. O sindicalismo amarelo espanhol nom só capitula frente ao capital, assome sem matizes nem complexos o paradigma jacobino espanhol fechando fileiras com a burguesia. A próxima reforma da negociaçom coletiva, suprindo os ámbitos “autonómicos”, impondo a sua centralizaçom, reforça Espanha facilitando a impunidade de um modelo sindical que pretende assimilar os específicos quadros nacionais nos que se desenvolve a luita de classes. Assim pois, a acumulaçom de forças operárias e populares na estratégia da Independência e Socialismo antipatriarcal, na que se alicerça o eixo da esquerda independentista galega, constata a sua enorme validez e urgente necessidade para fazer frente às agressons de Espanha, o Capital e o Patriarcado. CARLOS MORAIS
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COM QUE VOZ, Nicholas Oulman, Portugal, 2009.
Documentário de Nicholas Oulman sobre Alain Oulman, seu pai, e sobre a sua estreita relação artística com Amália Rodrigues. O filme percorre a vida de Alain Oulman, compositor, editor literário, encenador e figura política, nascido em Oeiras em 1928 e criado no seio de uma família franco-judaica. Após um breve período em Nova Iorque, regressou a Lisboa e iniciou uma longa parceria com Amália Rodrigues. Além de compor para Amália algumas das suas melhores canções, revolucionou a forma do fado. Alain Oulman compôs partindo das palavras de poetas portugueses. Camões, Pedro Homem de Mello, Manuel Alegre e Alexandre O’Neill, entre outros, chegaram pela sua mão e pela primeira vez ao fado e ao grande público. Considerando que alguns destes poetas eram censurados pelo Estado Novo, esta atitude foi encarada pelo regime salazarista como um desafio à ordem instituída. E na realidade Oulman foi um opositor convicto, tendo apoiado discretamente mas com grande coragem as actividades ditas subversivas, por exemplo as da FAP-CMLP. Após dirigir várias peças teatrais, Alain Oulman foi detido pela PIDE devido à sua orientação política de esquerda e encarcerado na prisão de Caxias. Posteriormente, foi exilado para Paris, onde iniciou a sua carreira como editor literário na Calmann-Levy. Trabalhou com autores incontornáveis e de grande prestígio internacional, como Amos Oz, Patricia Highsmith e Catherine Clément. Morreu em 1990, com 62 anos.
a dependência económica e alimentar de Portugal, a mundialização. Chegado aqui, comete dois TEM COISAS, TI MANEL, grandes erros: - não questiona o sistema ecoTEM COISAS MÁS DE nómico existente, não o põe em ENTENDER… causa e passa ao largo de qualquer MANDARAM FAZER A ideia para o seu derrube. Todas as AÇORDA E AGORA NÃ A QUEREM COMER! (MODA suas soluções, algumas bastante POPULAR ALENTEJANA), detalhadas, são meros exercícios abstractos sobre “como deveria Camilo Mortágua, Esfera do ser”, o que acaba por resultar numa Caos Editores, Novembro de espécie de pregação às boas cons2010. ciências; - o regresso à terra, numa espécie de revisitação das correntes socialistas utópicas anteriores ao marxismo, não é solução nenhuma. Se as pessoas abandonam o campo, é porque este não lhes oferece melhores condições de subsistência que as cidades e as indústrias. Não se vivia melhor nem o país era mais harmonioso e igualitário nos tempos em que a maioria da população era rural. E de certeza que não se vai lá fazendo pregação para que a União Europeia passe a subsidiar as actividades rurais (agricultura, artesanato, criação de gado, etc.) de forma a igualar os custos de produção Camilo Mortágua, resistente entre todos os países da comuniantifascista, integrou o comando dade e tornar atractiva a vida e as ibérico que tomou o navio Santa actividades rurais. Maria, uma das mais espectaculares VIVA A REPÚBLICA! e bem sucedidas acções armadas ABAIXO OS LADRÕES! contra o salazarismo. Depois miliMEMÓRIA IDEOLÓGICA tou na LUAR e durante o Verão NO CENTENÁRIO DA Quente desempenhou papel destaREPÚBLICA, João Varela cado no movimento do proletariaGomes, ed. Letra Livre, 2011, do rural pela reforma agrária. Por 14,00 euros. isso é com alguma tristeza que o vemos escrever as banalidades e as pseudo-soluções para os problemas do país constantes deste seu livro de tão estranho título. Defensor daquilo que se designa por “desenvolvimento rural” e/ou “desenvolvimento local”, autoproclamado “movimento” surgido com a adesão de Portugal à União Europeia e constituído por uma constelação de entidades (associações, ONGs, cooperativas, etc.) que sobrevivem à custa dos dinheiros e dos programas comunitários que a UE disponibiliza para que estas entidades executem as suas políticas sociais de desenvolvimento e coesão, Mortágua mostra-se desapontado e incomodado Varela Gomes, o velho militar com a burocratização e falta de sentido crítico dessas entidades. Cons- antifascista que se define como um tatando a docilidade dessas asso- “autor clandestino numa democraciações e a facilidade com que são cia filofascista”, acaba de editar na “compradas” pelos fundos comu- Letra Livre uma antologia de textos nitários, procura uma saída para o polémicos onde, a partir da análise movimento e para a desertificação da Primeira República, a propósito do interior do país, o abandono das comemorações do Centenário, da agricultura, a fuga para as cidades, desmonta o revisionismo histórico
construído pelos políticos e historiadores da situação e comenta a evolução da II República. GENTE COMUM, UMA HISTÓRIA NA PIDE, Aurora Rodrigues, ed. 100Luz, Fevereiro 2011.
A autora, magistrada do Ministério Público e membro da direcção da APMJ, é conhecida pela sua antiga militância no MRPP e pelas suas duas prisões políticas, uma antes do 25 de Abril e outra depois. Neste livro passa em revista os seus primeiros 25 anos de vida e relata a passagem pela PIDE e a tortura e maus tratos sofridos. A obra foi apresentada na Cadeia de Caxas, por Fernando Rosas e Miguel Cardina, e beneficiou dos cuidados especializados de Paula Godinho e António Cardoso Monteiro.
ALJAZEERA
As emissões da estação televisiva Aljazeera podem ser vistas por cabo ou em computador em http:/ /english.aljazeera.net, transmitindo em inglês. Aconselha-se vivamente a quem queira estar informado a par e passo de tudo o que se passa na crise em curso no Médio Oriente, com imagens impressionantes, depoimentos locais, cobertura com reportagens em direc-
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to, opiniões contraditórias de comentadores ocidentais e outros. Não há melhor forma de se manter ao corrente, a anos-luz das mentiras, exageros e preconceitos dos apresentadores das nossas televisões nacionais, que estão sempre a torcer para o lado errado. No mesmo site pode-se ouvir também a BBC, o Euronews, France 24, CNN e outros.
Mário Branco de apoio à não extradição de Cesare Battisti. Pode ser vista e ouvida em: http://passapalavra.info/?p= 35123, http://vimeo.com/1925 8838 ou http://www.youtube. com/watch?v=R2YYlN9aoGs É uma iniciativa da Comissão de Apoio a Cesare Battisti (Portugal).
GUERRA COLONIAL - OLHARES...
ASSASSÍNIO DE LUMUMBA (30/11/1960)
No dia em que passaram 50 anos dos primeiros ataques a uma prisão e a uma esquadra da polícia, em Luanda, por forças nacionalistas (4 de Fevereiro de 1961) – desencadeando-se assim a guerra colonial – a Associação José Afonso (AJA) Norte inicia no Porto um ciclo de debates e análises sobre O marxista Patrice Lumumba factos e uma época que marcaram a regressou ao Congo Belga no início sociedade portuguesa. de 1959 para dirigir a luta pela independência nacional. A 30 de Junho de 1960, o Congo tornou-se um país soberano, com Lumumba como primeiro-ministro à frente de um governo de coligação e líder do partido maioritário, o Movimento HOJE BATTISTI, AMANHÃ TU, Aldina Duarte, Nacional Congolês (MNC-LuAmélia Muge, Camané, Diana & mumba), que depressa se tornou alvo dos ex-colonialistas da Bélgica Pedro, Virgem Suta, Fernando e de outros países imperialistas, Mota, João Gil, Jorge Moniz, com os Estados Unidos à cabeça. Jorge Ribeiro (grupo Baile Ao fim de três meses o goverPopular), José Mário Branco, Luanda Cozetti (Couple Coffee), no foi derrubado e Lumumba foi Norton Daiello (Couple Coffee), detido em prisão domiciliária por Paulo de Carvalho, Pedro Branco decisão das forças de manutenção e Tim, Lisboa, 25 de Janeiro de da paz das Nações Unidas. O dirigente nacionalista abandonou a 2011 capital e juntou-se aos seus apoiantes na zona leste do país. Porém, foi raptado com o apoio da CIA, que já tentara assassiná-lo, e entregue aos agentes belgas e outros, que o executaram a 17 de Janeiro de 1961. Houve manifestações de indignação em toda a África e no resto do mundo denunciando o Um grupo de cantores juntou- crime imperialista. Lumumba tor-se para interpretar esta canção iné- nou-se um mártir para os combadita de Manuela de Freitas e José tentes nacionalistas.
Lisboa. Segundas, quintas e sextas, das 15 h. às 20 h. Sábados e domingos, das 11 h. às 18 h. 16 a 20 Março - Conferência Internacional “Greves e Conflitos Sociais no Século XX, FCSH Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa.
19 Fevereiro - Dos motins às revoluções e vice-versa, Casa da Achada, 15 h. Mesa redonda com Miguel Cardoso, Pedro Rita, José Soeiro, Manuel Loff, Paulo Granjo 19 e 20 Março - Resist the war e Ricardo Noronha. machine! Assinalando o 8º aniversário da invasão do Iraque realizam-se nos EUA várias protestos convocados pelos Veteranos pela Paz e a ANSWER em Washington DC, e na Vírginia frente à Quantico Marine Base; em San Francisco, sob o lema No to war & Colonial ocupation.
21 Fevereiro - Encontros Imaginários. Bar de A Barraca, 21 horas. Quinzenalmente, às segundas, Helder Costa modera encontros imaginários com personagens históricas. No dia 21 será com Mao Tsé-Tung, Jesus Cristo e Goebels. 1a 8 Março - Jornadas Anticapitalistas. Programa a anunciar. Até 30 Março - 50 anos de pintura e desenho, na Associação Casa da Achada - Centro Mário Dionísio,
A Batalha, 242, Lisboa Abrente, 58, Compostela, Galiza Challenge, Fev., Brooklyn, Nova Iorque Communisme, 62, Bruxelas Contramarcha, 53, Madrid Contropiano, 4/2010, Roma Dans le monde une classe en lutte, Jan., Paris Éxodo, 106, Madrid Insurreçom, 10, Galiza Jornal Fraternizar, 180, S. Pedro da Cova Lutte de classe, 132, Paris Lutte ouvrière, 2218, Paris Monthly Review, Dez. 2010, Nova Iorque
INFORMAÇÃO ALTERNATIVA
Diário Liberdade é um projecto jornalístico alternativo anticapitalista e anti-imperialista, virado para a realidade social e as lutas de classes na península Ibérica, América Latina e África de expressão portuguesa e galega www.diarioliberdade.org
Dona Abastança “A caridade é amor” Proclama dona Abastança Esposa do comendador Senhor da alta finança. Família necessitada A boa senhora acode Pouco a uns a outros nada “Dar a todos não se pode.” Já se deixa ver Que não pode ser Quem O que tem Dá a pedir vem.
Manuel da Fonseca (1911-1993) Foi poeta, contista, romancista e cronista. Fez parte do grupo do Novo Cancioneiro e é considerado por muitos como um dos melhores escritores do neo-realismo português. Nas suas obras, carregadas de intervenção social e política, relata como poucos a vida dura do Alentejo e dos alentejanos.
O bem da bolsa lhes sai E sai caro fazer o bem Ela dá ele subtrai Fazem como lhes convém Ela aos pobres dá uns cobres Ele incansável lá vai Com o que tira a quem não tem Fazendo mais e mais pobres. Já se deixa ver Que não pode ser Dar Sem ter E ter sem tirar. Todo o que milhões furtou Sempre ao bem-fazer foi dado Pouco custa a quem roubou Dar pouco a quem foi roubado. Oh engano sempre novo De tão estranha caridade Feita com dinheiro do povo Ao povo desta cidade.
O Partido luta por uma república dos trabalhadores e camponeses mais democrática, na qual a polícia e o exército permanente serão completamente abolidos e substituídos pelo povo em armas, por uma milícia universal. Os oficiais não só serão eleitos mas estarão sujeitos a serem revogados em qualquer altura a pedido da maioria dos eleitores. Todos os oficiais, sem excepção, serão pagos a uma tarifa não superior ao salário médio de um operário competente. Lenine, Contribuições para a revisão do Programa do Partido, Maio de 1917