Política Operária 130

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MAIO / JUNHO 2011 Nº 130

Fundador: Francisco Martins Rodrigues

Mudam as moscas...

3,00

NÃO PAGAMOS!

Os políticos do regime andaram nestes últimos meses a dizerem-nos de várias maneiras que não valia a pena protestar contra uma situação cada vez mais grave, porque os PECs, depois o FMI e por fim as eleições é que iam resolver os problemas. Em vez disso, os resultados nas urnas mostram que só serviram para nos fazer escolhê-los de novo de modo a continuarem a dar cabo da nossa vida. O alto índice de abstenção, que todos eles procuram esquecer, é sinal de descrédito profundo deste estafado sistema antipopular. A maioria relativa do PSD, que não chegou a ser absoluta, obrigou Passos Coelho a abrir mão de umas quantas pastas governativas para o CDS-PP, com o evidente deslizamento para a direita que já se anuncia. A justa penalização de Sócrates mostrou como se tornou odioso o seu governo e como o eleitorado fez questão de o castigar. Todos pensam, inclusive dentro do próprio PS, que é bem feita. A queda estrondosa do Bloco de Esquerda, que viu os seus deputados reduzidos a metade, mostra como ficou preso das suas próprias contradições e por elas pagou um preço pesado, ao contrário da CDU, sempre fiel a si própria e ao seu estilo reformista radical, cuja subida é de assinalar. O governo seguirá à risca o memorando da troika e promete-nos tempos difíceis, para os quais todos se preparam com resignação e sem esperança de melhorar de vida. Todos percebem que, com os sectores económicos estratégicos reduzidos ao mínimo, o endividamento nacional e a sujeição aos interesses da Europa mais rica vão atirar o país para a dependência total.

Chávez e as FARC Chavez continua a dizer que vai “ continuar avançando no processo de consolidacão da revolução bolivariana”. Isso soa cada vez mais a oco. Com as recentes prisões e deportações de membros das FARC vai, isso sim, consumando a sua reaproximação aos EUA. (Pág. 9)

Estaleiros de Viana do Castelo

SUPLEMENTO PO Não pagamos, não pagamos ANA BARRADAS

A Índia radiante e a verdadeira ARUNDHATU ROY

Durante anos os Estaleiros serviram para “premiar” os boys de todas as cores. Porque têm de ser os trabalhadores a pagar o resultado de anos de gestões ruinosas. (Pág. 8)

A revolução tecnológica no coração das contradições do capitalismo senil SAMIR AMIN


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} ARMAS À PORTA DO CEMITÉRIO NÃO GANHAM

PERDÃO – A 10 de Maio, o rançoso folhetim da amnistia ao caso FUP/FP-25 conheceu mais um episódio rocambolesco. Desejosos de assinalar a chegada do Papa, alguns ex-activistas das FP-25 entregaram à polícia um pacote com armamento, num comovente sinal de boa vontade… O percurso seguido pelos presos e ex-presos que se agrupam em torno da Comissão Pró-Amnistia Otelo e Companheiros tem descido todos os degraus da súplica, desde que se iniciaram as negociações secretas com o Estado… Temos de reconhecer que falhámos nos nossos esforços para erguer um combativo movimento popular pró-amnistia, em confronto com as autoridades e os partidos de direita... O caminho da mobilização da opinião pública em acções de rua, diziam-nos que “não dá nada”… Alguns, mais boçais, chegaram a desconfiar se não estaríamos a prejudicar deliberadamente a saída iminente dos presos… não se pode fazer uma campanha de esquerda pela Amnistia total e incondicional aos presos do caso FUP/FP-25 se os próprios a não desejam.

} QUE BELA DEMOCRACIA! – Os ricos vivem os seus anos de ouro. Na bolsa jogam-se milhões na compra das nacionalizadas; a corrupção, as traficâncias, o desperdício exibem-se com insolência... Os dinheiros da CEE fazem enriquecer muito vigarista… por toda a parte, empresas que fecham, reformas antecipadas, corte nas regalias; em seu lugar, trabalho eventual, horários mais pesados, desqualificação, mais incerteza no futuro… O governo gaba-se de ter acabado com o desemprego e diz que a CEE está pasmada com o crescimento da economia portuguesa. Ora, os números oficiais da CEE revelam que Portugal continua a ser o “bairro de lata” da Europa... A “grande realização” de Cavaco é o descaramento com que falsifica os números da inflação, a colossal mentira de apresentar a prosperidade dos burgueses como bem-estar geral… Agora todos querem arrebanhar votos, prometendo que as eleições vão abrir uma “grande viragem na vida nacional”. Mas para os operários derrotarem a ofensiva capitalista não basta irem votar contra Cavaco e o PSD; uma vitória meramente eleitoral só serviria para pôr o PS no lugar do PSD, a fazer uma política semelhante. Não é com votos que se metem os capitalistas na ordem. É com luta directa, nas empresas e nas ruas. } MARÉ NEGRA – A censura em torno da questão religiosa não acabou. Em nome do “respeito pelas crenças religiosas” continua a proibir-se de facto toda a discussão livre em torno da questão… Em Portugal admite-se que haja pessoas sem religião, desde que não falem contra a religião. Se eu amanhã quisesse fundar uma sociedade ateísta caí-me meio mundo em cima. Em contrapartida, a religião tem carta branca para ofender todos os dias com as suas crendices e baboseiras as convicções materialistas.

IMPRESSÕES DE UM PRIMEIRO DE MAIO EM BERLIM Pode ver-se certa uniformidade na cabeceira do cortejo matinal (há outro à tarde) onde figuram os grandes sindicatos, aos quais se segue um festival de faixas de todas as formas e feitios. A manifestação termina na Porta de Brandenburgo, e na grande avenida que se prolonga por trás do monumento instala-se uma longa fila de bancas ou pequenas barracas das diferentes organizações, com as suas revistas, jornais, etc., tudo amenizado com cerveja, salchichas, pequenos grupos musicais, alguns de emigrantes que exibem o seu próprio folclore, e pequenas esplanadas com mesas e cadeiras para beber, comer e conversar. Não estavam só alemães. Havia organizações de França, Tunísia, Líbia, Egipto, Irão, Marrocos, Iraque, etc., cada uma com os seus cartazes e publicações. A maioria das organizações denominam-se marxistas ou marxistas-leninistas. Muita animação, bom ambiente e grande participação, mas uma pessoa não deixa de se perguntar se não nos debilita esta dispersão de forças, mesmo que tenhamos que dizer que as nossas em Espanha mostran um enfrentamento maior entre si, na Alemanha parece que respeitam os respectivos terrenos. Recolhi panfletos de todas as cores e não vi neles ataques de uns contra os outros. Sem poder evitá-lo, vinham-me à mente os tristes cortejos que as CC.OO e a UGT organizam, com os estandartes elevando as suas siglas ao céu, as suas braçadeiras, bonés, autocolantes, sem outra mensagem que as siglas repetindo-se até à náusea. Os operários há que tempos que os abandonaram e aproveitam os alvores da Primavera para sair da cidade e desfrutar de um dia no campo. À tarde encontrámos ao sair do metro um destacamento policial de grande aparato numa praça onde desembocam várias ruas. Todas estavam ocupadas e havia carros celulares, pequenos tanques e ambulâncias. Os companheiros alemães já me tinham advertido de que a manifestação da tarde é mais “dura” que a da manhã, mesmo que boa parte dos da tarde estivessem também na de manhã. Dois polícias andando de costas abriam o cortejo, seguidos de umas filas de jovens vestidos de negro e com capuchos, de braços dados para formar uma massa compacta. Depois vinha uma heterogénea mescla com as suas faixas. Isto durou mais de meia hora. De vez em quando abriam-se espaços vazios, possivelmente para as diferentes organizações se separarem e deixar que se vissem bem as enormes faixas que levavam à altura do chão. O cortejo marchava em direcção à praça a que tínhamos chegado de metro, o que indica que aquele dispositivo policial era para esperar os que chegassem, porque possivelmente nesse ponto podiam ocorrer desordens. No final do cortejo contei 14 veículos da polícia, entre eles algumas ambulâncias e carrinhas. Outra coisa chamou-me a atenção. O Bairro de Kreuzberg está literalmente tomado pelos emigrantes da Turquia e do Médio Oriente, incluindo os restaurantes com as suas comidas tradicionais, assim como as lojas, sobretudo de tecidos, sapatos e pequenos supermercados. Estes têm o costume de colocar na rua, à frente da loja, grandes expositores com enorme quantidade de frutas, verduras e hortaliças. Admirámo-nos ao ver que os preços são muito semelhantes aos de Espanha (sendo que aqui o poder aquisitivo do trabalhador é mais elevado). Vimos morangos de Huelva (naquelas cestinhas de plástico de ½kg que trazem a denominação de origem) a 50 cêntimos. Estavam todos frescos, como que acabados de apanhar. Como se explica isto? Bem, há que ter em conta a iníqua exploração que sofrem os emigrantes que apanham o morango nos campos de Huelva. Isso afecta também os que se vendem mais caros em Espanha. Portanto só se pode deduzir que em Espanha há mais intermediários, que o encarecem. Também os produtos de beleza são sensivelmente mais baratos. O mesmo se pode dizer de outros productos como os frascos de iogurte grego de um quilo, a metade do preço do Lidl do meu bairro. Fica portanto uma pergunta no ar: como se formam os preços em Espanha? Isto é intrigante, tendo em conta que tanto o governo espanhol como os banqueiros e os empresários estão lançados a reduzir o custo da mão-de-obra. Acontece que, ganhando menos, estamos a pagar os produtos de primeira necessidade mais caros que numa Alemanha, que tem os salários mas altos que aqui.

António Doctor - Saragoça

dinopress@sapo.pt ASSINATURAS Colaboraram neste número: Ana Barradas, António Barata, Anjo Torres Cortiço, Antonio Doctor, Paulo Jorge Ambrósio, Vítor Colaço Santos Propriedade: Cooperativa Política Operária Correspondência: Apartado 1682 - 1016-001 LISBOA | TM: 960 135 270 Periodicidade: Bimestral | Tiragem: 1100 exemplares Publicação inscrita na DGCS com o número 110858

5 números

10 números

5 números

12,50 euros 17,50 euros 20,00 euros

25,00 euros 35,00 euros 40,00 euros

25,00 euros 35,00 euros 40,00 euros

(1 ano)

Continente e Ilhas Europa Resto do Mundo

(2 anos)

(apoio)

Pagamento por cheque ou vale de correio em nome de POLÍTICA OPERÁRIA e endereçado, Apartado 1682, 1016-001 LISBOA, ou por transferência bancária para o NIB 0033 0000 4535 4654 3330 5


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Os ricos que paguem a crise

Mais do mesmo Sem pesca, sem agricultura e sem indústria dignas desse nome, o pequeno campesinato sucumbe como uma classe a extinguir, sectores inteiros da população que viviam do sector secundário ficam desocupados ou são obrigados a converter-se e a emigrar e todo este desperdício de energia, trabalho e capacidade produtiva são provocados pelas elites que governam o Estado sujeitando-se servilmente a Bruxelas, Berlim e Paris. O Movimento 12 de Março iniciado pelos precários “à rasca” não consegue reelevar-se ao ponto alto que viveu naquela data e afunda-se em iniciativas e programas de melhoramento do sistema, associando-se a forças moderadas que nada ajudam a alargar a corrente de simpatia inicialmente conquistada. Os excluídos, pobres e deserdados não se revêem neste agrupamento juvenil que não consegue amadurecer. Após três anos de crise, os trabalhadores assistem à deterioração da sua situação laboral e económica e o nível de desemprego atinge índices nunca vistos neste país. A alternativa que os novos governantes oferecem é mais do mesmo: a da defesa do capital, a continuação do roubo e exploração, o empobrecimento da grande maioria e a destruição das poucas condições de subsistência autónoma que ainda restam ao país. Os sindicatos, supostamente representantes dos trabalhadores, não dão resposta à ofensiva patronal e baixam os braços, deixando que se extingam um a um os direitos conquistados desde o 25 de Abril. As perspectivas não são encorajadoras: privatização de grande parte da saúde e da segurança social, subida brutal da electricidade, gás, transportes, rendas de casa e impostos, ao mesmo tempo que o governo, o novo como o antigo, se dedica a gastar milhões para, com as forças militares nacionais integradas na NATO, consentir e participar em operações bélicas imperialistas um pouco por toda a parte, no bombardeamento do Iraque, do Afeganistão e da Líbia, matando população civil, para benefício das gasolineiras, construtoras e bancos — os abutres que se apoderam do festim.

Justiça com nota dez...

Várias dezenas de candidatos a magistrados foram apanhados a copiar num teste do Centro de Estudos Judiciários. O facto causa terror, pensando que eles vão estar dentro de algum tempo nos tribunais a debitar sentenças. Se estes responsáveis pela justiça passam a juízes de forma ilícita e

na ignorância, não admira que os portugueses se queixem tanto... e muitos imigrantes em Portugal também. Trocaram o trabalho pelo facilitismo contribuindo para afundar mais ainda esta justiça que já estava no fundo. VÍTOR COLAÇO SANTOS

Perante a falência do modelo de “desenvolvimento” abraçado pelas classes ricas e o patronato português com a adesão à União Europeia e ao euro, traduzido no enriquecimento brutal de uns tantos e no empobrecimento da generalidade dos que trabalham, no endividamento galopante do país pondo-o à beira da insolvência, os trabalhadores e o povo português são colocados perante o falso dilema de aceitar o pacote de medidas draconianas do FMI e da União Europeia, negociado pelo PS, PSD e CDS, ou rever esse mesmo pacote, dilatando-lhe os prazos. A chantagem que nos é vendida como a única saída possível, é inaceitável por duas razões: - os trabalhadores portugueses não são responsáveis pela destruição da capacidade produtiva do país nem pelo endividamento da sua classe dominante. Há 30 anos que os seus direitos, salários e regalias têm vindo a ser reduzidos em nome de um amanhã melhor que nunca chega, e que contrasta com os rendimentos milionários e sempre em crescimento dos gestores e dos grandes patrões. Não foram os trabalhadores que descapitalizaram as empresas e desviaram os lucros do sector produtivo para a especulação bolsista e imobiliária. Foram os patrões e os governos que traficaram influências, levaram bancos à falência, inventaram as Parcerias Público-Privadas, e por aí fora; - não é possível pagar a dívida externa portuguesa. O país não tem uma economia capaz de gerar a riqueza suficiente para pagar juros próximos dos 6% (o exemplo grego, obrigado a pagar juros mais baixos, é elucidativo). O que significa que, com a aplicação do pacote imposto pela troika, o país caminha para uma espiral interminável e suicidária de pedidos de empréstimos sucessivos para pagar empréstimos e os respectivos juros, e cujo único fim é o de garantir o pagamento das dívidas à banca europeia. Para os trabalhadores e o povo português, a única alternativa válida é a do não pagamento da dívida. Acei-

tar o pacote da troika ou renegociar a dívida é um beco sem saída. Em qualquer dos casos, o resultado só pode ser o crescimento da miséria, do desemprego e a limitação das liberdades e dos direitos dos que pouco ou nada têm. Sabemos que esta não é uma ideia popular. A sua imposição obriga a uma alteração da correlação de forças entre o capital e o trabalho, e essa alteração só se pode alcançar pela luta, nas ruas. Ela não virá pelo voto, nem pela conciliação e concórdia nacional. É inútil andar a pregar moral aos patrões sobre os malefícios da especulação financeira e a dar-lhes conselhos sobre como hão-de regenerar o tecido produtivo – se fosse do seu interesse desenvolver a indústria, a agricultura e as pescas, há muito o teriam feito. Com o actual quadro político e social, dizer aos trabalhadores que a crise e o pacote do FMI podem ser rejeitados e combatidos por um “governo de esquerda” ou por um governo “patriótico e de esquerda”, como fazem o BE e o PCP, é uma fraude, uma forma de engodar o povo acenando-lhes com uma miragem. Não estamos condenados a suportar a canga que nos querem impor. É possível alterar este estado de coisas com a mobilização e a luta contra o pacote da troika, recusando os despedimentos e cortes nos salários, pensões e demais regalias; exigindo o aumento do salário mínimo e o reforço das ajudas sociais de combate à miséria e ao desemprego; recusando a precariedade, o trabalho sem direitos e a carestia de vida; exigindo o julgamento dos especuladores e dos corruptos, o fim das mafiosas negociatas com que o sector público financia o privado, o fim dos obscenos privilégios de administradores, políticos e outros detentores de altos cargos, públicos e privados, e das suas escandalosas reformas milionárias; pela redução das despesas militares e a não participação das forças armadas portuguesas nas aventuras imperiais da NATO e da União Europeia, ou ao serviço da ONU. ANTÓNIO BARATA


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O mês em relance PSD E PASSOS COELHO – Portugal é guesa – temos mais de 1000 km de costa –, um país pequeno, quem nos governará, maior não é. Passos Coelho (PC) insiste em se intitular de “social-democrata”. Devia encher-se-lhe a língua de pimenta. Ele é perigoso pelo que afirma e esconde. Ameaça “mudar” tudo. Quer ir além das medidas dos prestamistas agiotas da troika, levou ainda mais para a direita o PSD, o campeão das empresas municipais-que-não-servem-para-nada. As suas ideias baseiam-se no programa selvagem do neoliberalismo. PC rege-se pela “discrição” e “elegância formal”. Mas a História está cheia de tiranos simpáticos. O FMI não veio fazer retoques na pintura ou restauros em portas e janelas, veio mudar o edifício de alto a baixo, veio traçar o destino do país... Mas PC diz que vai mandar. Mandar é como quem diz, bem entendido. Vai mandar aquilo que a troika lhe manda. Acautelemo-nos...

CAVACO – Escreveu no facebook: “se abdicarem de votar, não têm depois autoridade para criticar as políticas públicas”. Temos toda a autoridade porque o voto não é a arma do povo (alguma vez o foi?), não gostamos das regras do jogo eleitoral e também não gostamos que nos tratem como eleitores só durante as campanhas eleitorais. É deprimente ver a enlutada tristeza do povo e o modo como os vários governantes malfeitores arruinaram as nossas fundadas esperanças. Os figurões, autores destas misérias têm nome. Até hoje não foi feita a radiografia da calamidade dos dez anos de Cavaco no governo. O imobilismo, a falsa ideia de prosperidade – estávamos no pelotão da frente da UE –, a ausência de crítica por falta de vontade dos intelectuais e a apatia cúmplice da esmagadora imprensa criaram o fenómeno. O embuste. O presidente da República distribuiu medalhas no 10 de Junho – “dia da raça” como disse há um ano – e botou discurso. Engalanou com uma o peito da sra. Manuela Ferreira Leite. Porquê? A que propósito? Que serviço(s) prestou para tal honraria? Porventura ter sido uma medíocre ministra da Educação e péssima ministra das Finanças. Como pode este omem(sem h) atribuir e distribuir medalhas de mérito se ele próprio é uma criatura sem qualidade? Anda empenhado em promover o regresso de Portugal ao mar e à agricultura... Ora, lembremo-nos, o abate da frota pesqueira portu-

o desmantelamento da agricultura e o pagamento de subsídios para não se produzir(!) começou nos tempos em que o actual presidente era primeiro-ministro. Particularmente em 1992, quando Portugal assinou a Política Agrícola Comum. À época, dizia que o futuro da economia portuguesa iria assentar nos serviços, que nunca se enganava e raramente tinha dúvidas. Agora o discurso mudou. É preciso muita lata. Mas a memória permanece...

CDS E PAULO PORTAS – O CDS acoita ex-monárquicos ressabiados e arrependidos, caciques e ultra-conservadores, salazaristas trauliteiros, encapotados e reciclados, e direitistas “modernaços”. Seu líder, Paulo Portas (PP) – com barretes diferentes em cada feira visitada, a que só vai quando quer abocanhar votos – após o resultado eleitoral disse: “Quem dá mais é que é o patrão”. Quando ministro da Defesa, no seu último dia de trabalho tirou setenta e tal mil fotocópias! de documentos, no Ministério... Porquê? Para quê? Para quem? Ninguém quis saber, nada (ainda) se sabe. Fez também negócio com uma empresa alemã: a compra por mil milhões de euros de 2 submarinos que servem para coisíssima nenhuma. As autoridades alemãs processaram o consórcio vendedor porque descobriram que ele pagou dezenas de milhões de euros em subornos para ser preferido pelo comprador. E em Portugal? Nada sucedeu como é costume. PP, o responsável máximo pelo negócio é uma pomba branca. Em todo o caso o Estado português pagou trinta milhões de euros a mais, mas ninguém deu uma explicação para isso, nem se sabe onde foi parar o dinheiro. Num país com alguma decência este fulano seria expulso da política para sempre. Ainda como ministro da Defesa mentiu sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque, o que serviu de pretexto para a agressão anglo-americana a este país em 2003. Regressado de uma visita de Estado aos EUA, disse que “vira provas insofismáveis de armas de destruição maciça no Iraque”. Não afirmou que lhe tinham dito, garantiu que vira as provas. Ora como as armas não existiam, logo as provas também não. Mentiu deliberadamente. O Paulinho das feiras prepara-se para ser ministro dos Negócios... Estrangeiros – isto dá vontade de morrer! VÍTOR COLAÇO SANTOS

7500 EUROS POR REUNIÃO - Estes são alguns dos senhores bem-falantes com lugar cativo nos meios de comunicação. Destacam-se pelo fervor com que defendem os cortes nos salários e nas prestações sociais, pela defesa que fazem do “menos Estado” e o tom moralista com que zurzem o “despesismo” e as “gorduras da despesa pública”. Por cada reunião do conselho de administração das cotadas do PSI-20, os administradores não executivos – ou seja, sem funções de gestão – receberam 7427 euros. Esta foi a média de salário por eles obtido em 2009: Proença de Carvalho, advogado, é quem detém mais cargos entre os administradores não executivos das companhias do PSI-20, e também o mais bem pago. É presidente do conselho de administração da Zon, membro da comissão de remunerações do BES, vice-presidente da mesa da assembleia-geral da CGD e presidente da mesa na Galp Energia. Estes são apenas os cargos em empresas cotadas, já que desempenha funções semelhantes em mais de 30 empresas. Só nestas quatro empresas (só é possível saber a remuneração em empresas cotadas em bolsa) recebeu 252 mil euros. Tendo em conta que esteve em 16 reuniões, auferiu em média 15,8 mil euros por reunião; Vítor Gonçalves, vice-reitor da Universidade Técnica de Lisboa, tem apenas dois cargos como administrador não executivo. Recebeu mais de 200 mil euros. É membro do conselho geral de supervisão da EDP e presidente da comissão para as matérias financeiras da mesma empresa e administrador não executivo da Zon, tendo um rácio de quase 5700 euros por reunião; João Vieira Castro, advogado, é o segundo mais bem pago por reunião. Recebeu 45 mil euros por apenas quatro reuniões. É presidente da mesa da assembleia-geral do BPI, da Jerónimo Martins, da Sonaecom e da Sonae Indústria; António Nogueira Leite, economista, é administrador não executivo na Brisa, EDP Renováveis e Reditus, entre outros cargos. Recebeu 193 mil euros, estando presente em 36 encontros destas companhias, o que corresponde a mais de 5300 euros por reunião; José Pedro Aguiar-Branco, ex-vice presidente do PSD, é outro dos “campeões” dos cargos nas cotadas nacionais. Advogado, é presidente da mesa da Semapa (que não divulga o salário), da Portucel e da Impresa, entre vários outros cargos. Por duas AG em 2009, Aguiar-Branco recebeu 8080 euros, ou seja, 4040 por reunião; António Lobo Xavier, advogado, é administrador não executivo da Sonaecom, da Mota-Engil e do BPI. Auferiu 83 mil euros (falta contabilizar o salário na operadora de telecomunicações, que não consta do relatório da empresa). Presente em 22 encontros dos conselhos de administração destas empresas, ganhou por reunião mais de 3700 euros. (dados colhido no DN Bolsa, 16/4/2010)


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BAIRRO DA TORRE / CAMARATE

Os pobres não são lixo Cerca de 80 famílias a viver no que resta do bairro da Torre, em Camarate, correm o risco de a qualquer momento verem chegar os bulldozers da Câmara Municipal de Loures, mais a respectiva escolta do corpo de intervenção da PSP, e ficarem com as suas barracas derrubadas e a viver na rua. São cerca de 300 pessoas, a maioria crianças, muitos doentes e mulheres. São principalmente santomenses, ciganos e alguns portugueses. Uma parte dos doentes são pessoas que viram para Portugal para serem tratadas ao abrigo dos acordos de cooperação existentes entre as ex-colónias e o Estado Português. Gente sem qualquer apoio, impedida de voltar aos seus países de origem por não terem dinheiro para a viagem de regresso, e que por isso cá vão ficando. São poucos os que tem emprego, e muitos os que sobrevivem com o Rendimento Mínimo. O bairro da Torre, pelo que se conseguiu saber, é propriedade da ANA e de um particular. Há muito que tem vindo a ser demolido, tendo sido realojadas as pessoas recenseadas pelo PER (Programa Especial de Realojamento). Depois, a conta gotas, começaram os desalojamentos dos que não estão abrangidos pelo PER, e que por isso são simplesmente postos a viver na rua. Em Abril apareceram editais e umas assistentes sociais no bairro dizendo que ele iria ser demolido até ao fim do mês. Com a ajuda de algumas pessoas solidárias os moradores mobilizaram-se e combinaram formas de resistência. Manifestaram-se junto à CM de Loures, que invadiram perante a recusa desta em os receber, dispostos a lá montar um acampamento. E afinal o presidente, que estava muito ocupado, lá arranjou um tempinho. Foi uma primeira vitória, em que se conseguiu tra-

var os despejos e as demolições. Perante a aparente ausência de alternativas – a câmara veio com a habitual ladaínha de não ter casas disponíveis nem dinheiro para as construir a curto prazo – foi-lhes dito que elas existiam. Basta que recorram ao PROHABITA, programa que disseram desconhecer (o que é extraordinário!). Concordaram em estudar o programa e apresentar uma proposta, que veio semanas depois. Com base no PROHABITA a câmara propunha-se recorrer a uma das soluções nele previstas, que é a de durante dois anos assegurar o pagamento das rendas das casas que os moradores alugassem. De imediato estes começaram a procurar e a recolherem a documentação necessária. Chegados aqui depararam-se com dois velhos problemas enraizados na sociedade portuguesa – o dos preconceitos raciais e o do mercado ilegal de habitação. Os senhorios, uns recusam-se a alugar casas a pretos e ciganos, outros não tem plantas das habitações, uma das exigências burocráticas do PROHABITA. Perante o impasse os moradores voltaram a reunir com a câmara, propondo que a demolição do bairro fosse suspensa até estarem resolvidos os problemas burocráticos; que o apoio fosse de 12 anos e não de dois, como também prevê o PROHABITA, Fanfarronadas… por temerem que os dois “Perante a complexidade dos problemas pode parecer que anos só sir vam para estamos em mar nunca dantes navegado. Mas isto jamais assustou os portugueses. Vergaremos medos e dificuldades e não largaremos o leme até chegarmos a porto seguro”. (Pedro Passos Coelho, na tomada de posse do governo, 21 Junho).

...e cautelas “Pôr todas as expectativas no Governo é limitar muito o trabalho que se espera da sociedade.” (Manuela Ferreira Leite, Jornal de Negócios, 22 Junho).

Não tem mesmo nada a ver! A necessidade de renovação é consensual… não queremos a renovação do dia para a noite como se fosse por causa dos resultados, mas que aconteça pela renovação de gerações”, (José Gusmão, ex-deputado do BE, i, 21 Junho).

adiar o problema; e que os serviços de recolha do lixo limpassem o bairro, coisa que não fazem há meses. Se por parte dois técnicos camarários foi patente a abertura às reivindicações dos moradores, o mesmo não se verificou com a sua chefe de divisão que, visivelmente incomodada e de forma desabrida disse os maiores dislates – que os moradores são mentirosos, que tem de sofrer as consequências de quererem viver num bairro de lata, que se não tem dinheiro que façam rifas e vendam os carros… terminado com a ameaça de que mais rapidamente derrubava as casas do bairro que mandava fazer a recolha do lixo. Como a reunião não terminou bem e os moradores não se intimidaram, estes voltaram a reunir-se para discutir novas formas de luta e de alargamento da rede de solidariedade. Recordemos que o PER foi um programa para a erradicação dos bairros de lata e degradados até 1994, financiado pela União Europeia, após a adesão de Portugal à então CEE. O programa não foi concluído nos prazos previstos. Mas o mais grave, e fonte de todos os atropelos aos mais elementares direitos humanos é que, decorridos 20 anos, mais nenhum levantamento foi feito sobre as necessidades habitacionais para os mais pobres. Ou seja, neste país só os que foram recenseados antes de 1993, pelo PER, tem direito a ser realojados. Os outros, ficam a viver na rua. ANTÓNIO BARATA

Corruptos e corruptores Nenhuma obra pública em Portugal é paga pelo preço por que foi adjudicada. O seu custo final chega a ser superior em quatro ou cinco vezes mais do preço ajustado, sem que ninguém seja responsabilizado por tal. Em Coimbra, um prédio de uma empresa pública, é vendido às 10 horas da manhã por cerca de 15 milhões de euros, e às 3 horas da

tarde é revendido por cerca de 20 milhões. A empresa que intermediou o negócio e abichou esse lucro tinha como consultores remunerados o presidente da Comissão Concelhia do PSD e o presidente da Comissão Concelhia do PS. Nenhum deles foi importunado nem as direcções nacionais dos seus partidos se interessaram pelo assunto... VÍTOR COLAÇO SANTOS


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O capital que pague a dívida, o capital que pague a crise NOVA AVANÇADA DA DIREITA

Na semana que antecedeu as eleições foi posta circular esta tomada de posição conjunta sobre a crise, a anunciada vitória eleitoral da direita e as condições que entendemos necessárias para que se realize uma viragem da situação a favor dos trabalhadores no nosso país.

É evidente que a direita vai ganhar as eleições de 5 de Junho. Só não o reconhece quem ainda acreditar que o PS é um partido de esquerda ou quem for na cantiga de José Sócrates de que o PS vai defender (agora!) os pobres e o Estado Social. Longe de ter sido, como pretendem os seus dirigentes, uma barreira ao avanço da direita, o PS foi, pelo contrário, a gazua que abriu portas a uma nova onda contra os assalariados impulsionada por toda a classe capitalista. A par do PSD e do CDS, o PS é uma das três máscaras com que, alternadamente, o capital tem conduzido a sua guerra de classe contra os trabalhadores nos últimos 36 anos – retirando-lhes direitos, piorando-lhes as condições de trabalho, cortando-lhes salários, atirando-os para o desemprego. Com a política de que o PS foi o fiel executor nos últimos seis anos, o patronato conseguiu desarticular as poucas protecções sociais do Estado e minar as defesas legais do trabalho. Viu assim amadurecer as condições para um governo declaradamente de direita e para subir trabalhadores (apesar das repetidas lutas e das grandes manifestações de protesto) não foi sumais um degrau no ataque aos assalariados. ficiente para pôr o patronato em respeito. A pressão do poder e do capital torna-se, UM GOVERNO PARA APLICAR porém, cada dia mais insuportável. AcumulaO PROGRAMA DA TROIKA -se a indignação e a revolta. O surgimento de A política do próximo governo – a um, a manifestações maciças de jovens que reclamam dois ou a três – está definida: é o programa uma vida digna são um primeiro sinal de que acertado com a troika FMI/BCE/UE. O seu se alarga o campo da luta de classes; de que objectivo central e imediato foi saldar a dívida cresce o número dos que se dispõem a respondo capitalismo português à banca europeia. E, der ao terror social imposto pelo patronato. Não como penhor do empréstimo contraído para são forças alternativas, mas sim forças que se esse efeito, os três partidos do capital deram somam às do movimento sindical e a todas as como garantia... o drástico empobrecimento da demais que têm vindo a resistir – e que lhes população trabalhadora portuguesa, o desem- podem trazer mais energia combativa e sangue novo. prego maciço. É preciso incentivar esta disposição de luta Nenhum outro propósito tão palpável e tão imediato consta do memorando firmado com e rejeitar toda a chantagem sobre os “perigos a troika. É isso que conta desde já e acima de de uma convulsão social”. Sob o argumento tudo. Por baixo das miragens de um “crescimen- da ordem, do civismo, do sossego o que as clasto económico futuro” está uma realidade muito ses dominantes pretendem é assegurar as condimais crua: o capital leva a cabo uma política ções para continuarem a esmagar os de baixo. Contra isso, é preciso unir todas as forças que de esmagamento das classes trabalhadoras. Este é o único caminho que o patronato se juntam à luta de massas e declarar a legitimiconhece para fazer face à crise dos negócios. dade da luta social em todas as suas formas. Por isto mesmo, não é o sistema económico capitalista que convém aos trabalhadores, mas RECUSEMOS PAGAR sim um sistema donde sejam banidos o lucro e OS CUSTOS DA CRISE a exploração, os verdadeiros causadores das Diante da crise, parece haver só duas posicrises. ções viáveis: a que quer descarregar os custos sobre os trabalhadores, totalmente e de imediaUNIR FORÇAS À ESQUERDA to (defendida pelos partidos do poder); e a que Só foi possível chegar ao ponto em que es- pretende promover uma partilha dos custos entamos porque o patronato, através dos seus tre trabalhadores e patrões (como defendem o partidos, levou a cabo, sem desfalecer, a sua BE e o PCP). O ponto central da nossa posição é de que missão de explorar o trabalho tanto quanto possa; e porque, do outro lado, a resistência dos os trabalhadores devem rejeitar pagar os custos

da crise e pugnar pelos interesses próprios da sua condição de classe. Não lhes cabe, nem podem, resolver os problemas do capital – mas sim defender os seus interesses enquanto assalariados. As suas armas são a acção de massas, o apoio mútuo, a solidariedade de classe (nacional e internacional). Consideramos que a resposta à crise do capitalismo não está na habilidade ou na imaginação das “soluções” propostas, mas na força colocada no confronto de classes. Patrões e forças do poder sabem onde está a fonte de riqueza que os alimenta. Não é por falta de melhores ideias que espoliam os assalariados. Dar-lhes conselhos é perda de tempo. Este ataque não pode ser travado com tentativas de concertação. Acreditamos, sim, que é possível forçar o patronato a recuar se, do lado dos trabalhadores, se reunirem as forças sociais dispostas a obrigar o capital a pagar a crise. QUATRO MEDIDAS PARA QUE O CAPITAL PAGUE A CRISE Trabalho para todos - Ponto final nos despedimentos. - Contra o desemprego e a precariedade, reduzir o horário de trabalho sem reduzir salários. Combate à pobreza e à degradação do nível de vida - Aumento dos salários e pensões, redução do leque salarial. - Não ao aumento dos preços. - Uso dos dinheiros do Estado e da Segurança Social em exclusivo para apoio ao emprego e ao bem-estar dos trabalhadores. - Corte drástico nas despesas militares. Regresso de todas as forças militares e policiais em missões no estrangeiro. Mais justiça social em vez de polícia - Apoio social aos bairros pobres, aos imigrantes e à população empurrada para a miséria. - Fim ao esbanjamento dos dinheiros públicos. Revogação das Parcerias Público-Privadas. - Julgamento dos especuladores e corruptos. Expropriação das suas fortunas em benefício da Segurança Social. - Fim dos privilégios dos administradores e políticos. Extinção das reformas milionárias. - Impostos fortemente progressivos sobre o capital e as fortunas. Unidade popular contra o capital - Recusa do acordo com a troika. - Combate à política de terrorismo social do patronato. - Não votes nos partidos de quem te explora. 31 de Maio de 2011 Colectivo de Comunistas Revolucionários Colectivo Mudar de Vida Colectivo Política Operária


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Duas greves malditas No passado mês de Maio, dois sindicatos representativos dos maquinistas da CP e do pessoal de voo da TAP, quebraram a paz podre interclassista e anunciaram calendários de greves com a duração de um mês e dez dias, respectivamente. Estas lutas visavam, no primeiro caso, obrigar a gerência ao cumprimento do Acordo de Empresa (AE), que consagrou um regime mais favorável que o da administração pública. No segundo caso, a luta era igualmente pela aplicação do AE e contra a intenção da administração em reduzir (leia-se dispensar) pessoal. Está visto que no actual quadro das lutas laborais – cada vez mais atrofiado pelo sindicalismo institucional-reformista e suas lutas de opereta, paralisações de faz-de-conta e subsequentes vitórias de Pirro – estas greves “malditas”, porque longas, de previsível adesão maciça, grande impacto no sector chave dos transportes e ainda por cima decorrendo no sacrossanto período de eleições, tinham forçosamente que ser diabolizadas. E logo no ovo, junto da opinião pública, também ela, diga-se de passagem, cada vez desorientada, atemorizada, e bovinamente submetida à canga da UE, BCE ternacional da bandeira da companhia, num tempo de “forte concorrência internacional, de e FMI. crise económica profunda e de sacrifícios a repartir por todos”. Aliás, o argumento ameaçaPATRÕES AO ATAQUE dor de as empresas, exangues pelos passivos Governo, patrões, políticos e jornalistas astronómicos acumulados, já não comporta“responsáveis”, em sagrada união nacional e a rem mais greves tinha feito a sua aparição ainda uma só voz, apressaram-se por isso a agitar os em Abril, quando foi posto a circular de forma costumeiros espantalhos das “pretensões irrea- sensacionalista que o Estado, “em rotura de listas e corporativas”, dos “chorudos ordena- tesouraria, já não poderia assegurar os vencidos dos trabalhadores”, dos “prejuízos aos mentos de Maio a militares e professores”, senutentes”, e ainda, sinal dos novos tempos, tam- do também por essa altura anunciado que os bém de estar em causa a própria sobrevivência salários dos ferroviários estariam em risco já das empresas. Na CP a administração chegou em Junho e que na CP, Soflusa e Metro (curioà baixeza de, alegadamente para prevenir maio- samente todas com processos de luta em curso) res efeitos da futura greve, não fretar transpor- seriam, por consequência, dispensados milhates alternativos e suprimir os comboios em to- res de trabalhadores contratados e efectivos. do o país na quadra de santo António, com o Esta ameaça estender-se-ia ainda ao sector claro intuito de virar os passageiros contra os bancário. Puro terrorismo patronal, portanto. trabalhadores em greve. Isto, dias antes da imprensa noticiar que “cinco gestores da CP têm auto- O BOMBEIRO SAMPAIO móveis de luxo cuja renda anual paga pela empresa A estas almas juntou-se a do “bom demoascende aos 55 mil euros”(CM). Na TAP, em vésperas da apetecida privatização e cujo presi- crata” Jorge Sampaio, afiançando candidamendente com os seus 420 mil euros anuais é o te à RTP no dia 3 de Junho “não compreender gestor público mais bem pago, a administração estas paralisações, a greve da TAP e as greves da não hesitou em apelar descabeladamente ao CP, nesta altura em que os corporativismos devem patriotismo dos trabalhadores e ao prestígio in- ser postos de parte, e todos devem fazer um esforço

Peticionários do 24-A Estes peticionários (http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N 10810) também a sabem toda: hoje nega-se a greve ao pessoal da TAP, amanhã aos demais trabalhadores dos transportes, depois aos médicos, aos enfermeiros, aos professores, etc., etc. e por aí fora. Atente-se na sua frase final: “Assim sendo, solicitamos a Vexas que decretem requisição civil caso esta classe não cancele de imediato a greve prevista”. Para esta gente, fazer greve só no dia em que o rei faz anos. Como nos tempos de Salazar e Caetano...Qual será a sua próxima petição? Pela restauração da PIDE/DGS e a reabertura do Forte de Peniche?

para ajudar o país a sair da crise”. Tal como em 2007 perante a ameaça de greve de todo o sector da justiça, Sampaio, fazendo mais uma vez o frete ao patronato mais boçal e fascizante, saia a terreiro condenando as greves “abusivas”. Mas estas suas declarações revelaram no seu bojo algo de ainda mais tenebroso: elas materializaram o desejo de afunilar ainda mais o direito à greve – a inscrever na futura revisão das leis do trabalho e da constituição – já reivindicado à boca estendida por associações patronais e bem visto pela troika do capital. TRABALHADORES NÃO SE ENTREGAM Não se acobardaram porém os trabalhadores com todo este rijo foguetório, tornando claro às direcções sindicais que qualquer levantamento da greve teria de ser por si democraticamente ratificado. E assim, ao mesmo que tempo que ainda surgiam apelos e ameaças veladas à requisição civil (ver caixa), o governo Sócrates, ansioso por apagar este desagradável foco de contestação, promovia à lufa-lufa reuniões de “concertação”. Estas, perante a firmeza dos sindicatos, ditariam o desfecho positivo das lutas, com a cedência patronal em toda a linha. Na segunda semana de Junho a greve na CP era desconvocada obtendo os maquinistas em troca o aval da inspecção geral das finanças à aplicação do AE em detrimento do regime de trabalho em funções públicas, nomeadamente nas matérias de trabalho extraordinário, em dias de descanso e feriados. Na TAP o pessoal de voo conquistou o aumento dos períodos mínimos de descanso, passagem efectivos de todos os tripulantes contratados, repartição em partes iguais dos proveitos da retirada de um tripulante dos voos e uma folga antes e depois das férias para dois períodos. PAULO JORGE AMBRÓSIO


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ESTALEIROS DE VIANA DO CASTELO

Mais um caso exemplar Antecipando o pacote de medidas anti-laborais e de privatizações contidas no programa de governo da troika, a administração dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo anunciaram no dia 20 de Junho que iam proceder à implementação “imediata” do plano de reestruturação de recursos humanos, o que numa linguagem menos polida e mais terra-a-terra quer dizer que vai despedir 380 dos 720 trabalhadores daquele estaleiro até final do ano. Ou seja, mais de metade. Durante anos, e à semelhança das outras empresas públicas, os Estaleiros de Viana de Castelo têm servido principalmente para “premiar” os boys de todas as cores. À sua administração nunca deixaram de chegar toda a sorte de carreiristas que pululam nos partidos da alternância. Seja porque falhou a sua eleição para a presidência da Câmara, estava na altura de “compensar” anos de dedicação ao partido ou ao líder, ou por qualquer outra razão, pela sua administração passaram as nulidades habituais pagas a peso de ouro. E o resultado também foi o habitual: afundamento económico, sucessivas injecções de dinheiros do Estado e outros tantos planos de reestruturação pagos principescamente... até que lá se descobriu (com mais outro caríssimo “estudo” de viabilização) que a salvação está na inevitável privatização. Mas só depois da empresa ter sido devidamente saneada, de forma a torná-la atractiva para os investidores e os mercados, o que por norma significa despedimentos, baixa de salários, perda de direitos, trabalho precário e o fim da contratação colectiva. Pelo que o recente anúncio de despedimento em massa nos estaleiros segue a ordem natural das coisas, dada a sociedade em que vivemos e a conjuntura que atravessamos. É como se de uma fatalidade se tratasse. Mas nada está mais longe da verdade. O despedimento, segundo o administrador público demissionário Carlos Veiga, destina-se a evitar o encerramento do estaleiro, alter-

} Sem surpresa - As instituições económicas mundiais começaram a rever as suas previsões relativamente a Portugal após a imposição do pacote da troika. Primeiro a Comissão Europeia, agora a OCDE. Os resultados coincidem num ponto, contrariando a fezada do PS, PSD e CDS e seu governo, de que vamos de cumprir os encargos da dívida e fazer crescer a econo-

nativa que considera “muito custosa, porque para não ter de se explicar. Assumindo a papel então não estamos a tratar de [despedir] 380 de vítima, disse ter sido alvo de insultos e tentrabalhadores, mas estamos a falar de mandar tativas de agressão por parte dos operários chetoda a gente embora, pagar a fornecedores, gando a “temer pela própria segurança. Foi aos bancos. Custaria muito dinheiro ao erário uma cobardia, juntarem-se assim em magotes. público”. É a velha estratégia da chantagem, Fiquei dentro do carro, rodeado por pessoas a do mal menor para dobrar os trabalhadores à insultarem-me sem qualquer hipótese de delógica do “realismo”. Senão, como compreen- fesa”. O “cagaço” terá sido grande. O certo é der estes despedimentos no preciso momento em que os estaleiros, ao contrário do que se que Carlos Veiga aproveitou o incidente para passava há pouco mais de um ano, estão com airosamente fugir às suas responsabilidades, uma “boa carteira de encomendas”, como as pedindo a demissão. Alegou não estar disponíconstruções para a Marinha portuguesa, no vel para continuar a trabalhar com um tal clima valor de 500 milhões de euros, e dois asfaltei- e, por isso, indisponível para continuar à frenros, por 150 milhões de euros, para a Vene- te da administração do maior estaleiro naval português. zuela? Quem também não compreende as razões da administração e porque têm ser eles a pagar o resultado de anos de gestões ruinosas são os 620 trabalhadores Quem é Carlos Veiga do estaleiro que, reunidos em Nomeado há um ano para plenário no dia 22 de Junho (em a presidência dos Estaleiros que convocaram uma manifestaNavais de Viana do Castelo, ção para dia 29 de Junho) fizeram com a missão de os viabilizar, sentir a sua indignação durante a Carlos Veiga Anjos e acumufuga de Carlos Veiga do estaleiro

mia, mesmo que de uma forma anémica. Diz a OCDE que a economia portuguesa vai encolher 2,1% e a taxa de desemprego atingir os 12,7% no próximo ano. Mais pessimista está Comissão Europeia, que prevê um desemprego de 13% ainda este ano. Portugal será o único país em recessão de entre os 34 analisados pela OCDE.

lou diversos cargos de administrador. É aquilo a que se pode chamar um gestor bem sucedido, como atestam as suas passagens pela TAP, EMPORDEF – Empresa Portuguesa de Defesa, Siderurgia Nacional, SOPONATA, CIVE - Companhia Industrial de Vidros de Embalagem, Celulose do Caima, EDM - Empresa de Desenvolvimento Mineiro, Ferrominas e Lusalite. Foi presidente da hidroeléctrica de Cabora Bassa, onde ganhava 23.750 euros brutos mensais. Em 1996 realizou um estudo sobre a privatização do Arsenal do Alfeite, recebendo 95 mil euros pelos quatro meses de trabalho. O que foi justificado pelo Ministério da Defesa por se tratar “de um consultor a nível internacional com um vasto currículo”.


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Chávez e as FARC: deriva sem fim compensadas pela administração Obama. Dias CHAVISMO: UMA DERIVA SEM FIM depois, Santos anuncia a captura de dois subDeste modo, proclamações puristas de Chácomandantes do ELN, também na Venezuela. Julián Conrado, compositor e cantor popu- vez como a feita recentemente ao governo cular conhecido como “o cantor das FARC”, inte- bano – “de continuar avançando no processo grou em 1998 e 2002 a delegação das FARC de consolidacão da revolução bolivariana” – nas negociações estabelecidas no quadro da so- vão soando cada vez mais a oco. Vai-se consulução negociada do conflito, então proposta pe- mando isso sim, e à luz do dia, agora com esta lo primeiro-ministro colombiano Andrés Pras- repugnante leva de prisões e deportações, o trana, e que viria a gorar-se. Seis anos depois, descrédito total, o encosto à direita e a reaproConrado sobrevivia ao ataque do exército co- ximação aos EUA de uma liderança presa da lombiano ao acampamento das FARC, em solo sua base de apoio e naturais contradições. Este equatoriano, que assassinaria o comandante era aliás o desfecho previsível de um processo Raúl Reyes e ao corte de relações diplomáticas que nunca sendo revolucionário, chegou a ser, do Equador com a Colômbia. Neste momento, no seu início, socialmente progressista, perodepois de preso e transportado da Venezuela nista com laivos anti-imperialistas, alicerçado para a Colômbia, o destino provável de Conra- na aliança entre sectores populares, forças arDAS PALAVRAS AOS ACTOS do será a extradição para os EUA sob a acusa- madas e a burguesia nacional desejosa de maior No dia 23 de Abril, Joaquín Pérez Becerra, ção de narco-guerrilheiro e o julgamento num autonomia de classe. Um filme déja vu, hoje na Venezuela, mas antes em muitas outras áreas jornalista colombiano naturalizado sueco, di- odioso tribunal ianque. do globo, inclusive no nosso país. rector de ANNCOL, activista e difusor da cauPAULO JORGE AMBRÓSIO sa das FARC, é preso de surpresa pela polícia, ao desembarcar na Venezuela de um voo proveniente de Frankfurt. Interrogado e tratado com rudeza durante dois dias, vê indeferidas por Caracas as diligências de três advogados progressistas para obter o habeas corpus. No dia 25 é enfiado num avião da polícia nacional e deportado para Bogotá, onde era apontado pelo presidente-torcionário da Colômbia, Juan Manuel Santos, de “ser o cabecilha das FARC na Europa e denegrir o bom nome da Colômbia”. Enfrenta agora acusações de “associação criminosa, financiamento do terrorismo e detenção de meios para operações terroristas”, arriscando condenação pesada que poderá ir à prisão perpétua. Mas se a intelectualidade marxista e a opinião pública democrática mundial repudiaram grosso modo esta atitude de Chávez, também na Venezuela esta execrável entrega de Becerra não passou impune, sendo o governo alvo de enérgicos protestos por ocasião da celebração do Domingo da Ressurreição, em que jovens manifestantes, aproveitando a tradicional “quema de Judas”, fizeram arder bonecos com as efigies do chanceler venezuelano Nicolás Maduro e do ministro da Comunicacão, Andrés Izarra. Estas manifestações incomodaram Chávez ao ponto de se lhes referir, apoAcusados de participar em actos de sabotagem no sul da Galiza contra interesses da burguesia e do Estado espanhol encontram-se presos os camaradas Miguel Nicolás dando os seus autores de “marxistas-leninistas e Telmo Varela. Detidos em 15 de Dezembro e 9 de Março, respectivamente, ambos mais papistas que o papa”, lamentando-se que são operários metalúrgicos e membros da central sindical galega CUT (Telmo é “a Venezuela se limitou a honrar compromissecretário da Comarca de Vigo), tendo desempenhado papel destacado nas massivas sos internacionais” e – à laia cínica de Pilatos –, greves gerais de 29 de Setembro e 27 de Janeiro. referindo-se à sorte de Becerra, “espero que A sua prisão insere-se na persistente campanha do Estado espanhol de na Colômbia respeitem os seus direitos humacriminalização das lutas dos trabalhadores, com o objectivo de os atemorizar e nos e a sua defesa e que se demonstre que é desmobilizar e, em particular, golpear os seus elementos mais conscientes. Contra falso o que o acusam” (!).

Na PO 121 comentámos a condenação pública feita por Hugo Chávez da luta armada na Colômbia, esboçada já no Verão de 2009 quando admoestou as FARC sugerindo à sua direcção que libertasse sem condições os prisioneiros de guerra, abandonasse a luta armada e a negociasse sob os auspícios da OEA, justificando que “a guerra de guerrilhas na América Latina e no Caribe já passou à história”. Estas declarações, tanto mais significativas porque durante anos Chávez tinha apelado ao reconhecimento das FARC como força revolucionaria beligerante, eram já premonitórias. Os mais recentes desenvolvimentos comprovam-no e obrigam-nos a voltar ao assunto.

Miguel e Telmo, liberdade!

SEGUE-SE CONRADO, O CANTOR DAS FARC A 1 de Junho, o presidente-torcionário da Colômbia anunciava a captura na Venezuela de Julián Conrado, numa operacão conjunta das policías da Colômbia e Venezuela, depois de localizado com base em informações, ao que tudo indica, solicitadas e chorudamente re-

eles tem vindo a ser desenvolvida pela imprensa uma obscena campanha de intoxicação e condicionamento da opinião pública e do sistema judicial, condenandoos antes de sequer serem julgados. Aos amigos e leitores da PO apelamos a que manifestem a sua solidariedade com os camaradas galegos presos escrevendo para: Miguel Nicolás Aparício CP Lama – Módulo 9 CP Monte Racelo s/n 36.830 Lama – Galiza

Telmo Varela Fernández Lama – Módulo 12 Monte Racelo s/n 36.830 Lama - Galiza


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A embrulhada líbia A agressão da NATO à Líbia marca tanto um ponto de viragem das potências ocidentais face aos levantamentos populares iniciados na Tunísia, como põe em evidência as disputas entre os blocos imperialistas norte-americano e europeu. Passada a surpresa e a desorientação inicial perante as revoltas que derrubaram os ditadores “bons” da Tunísia e do Egipto, a “comunidade internacional” parece ter recuperado e voltado a tomar as rédeas da nova ordem internacional. Ao que tudo indica ainda não vai ser desta vez que os povos do norte de África e Médio Oriente vão subverter as vassalagens geoestratégicas das suas classes dominantes e privar-nos do gás natural e do petróleo que sustenta o bem-estar e o progresso das “nossas” democracias e faz a miséria desses povos ricos em matérias-primas. Mas se as potências coincidem e cooperam neste ponto, o de controlar e encaminhar as revoltas populares, isso está longe de significar que nesta guerra de influências e domínio geoestratégico elas não travem uma outra guerra, entre si, para enfraquecer a posição do aliado e reforçar a sua. Só assim (para além das debilidades militares dos europeus face aos EUA, que no caso líbio as obrigaram a todo um conjunto de manobras para comprometer Obama com mais uma guerra que sabem não estar capazes de travar sozinhas) se compreende a intervenção da NATO na Líbia, mas não na Síria; o apoio que aos regimes ditatoriais do Iémen e principalmente do Baharaine, e a pressão sobre os ditadores amigos de Marrocos, Argélia e Jordânia para que façam reformas democráticas que não sejam só de fachada e antecipem algumas reivindicações populares. E que relativamente à Tunísia e ao Egipto estejam a canalizar avultados meios financeiros e a disponibilizar toda a sorte de “conselheiros” para ajudar a democratizar esses países. Contrariamente ao esperado pela “comunidades internacional” a agressão à Líbia, vendida como mais uma “guerra humanitária” e de defesa das populações civis, somada ao apoio político e aos milhões que têm sido canalizados para os rebeldes, não está a resultar. Kadafi resiste e a guerra parece ter entrado num impasse, ameaçando eternizar-se. O que a acontecer irá obrigar ao seu

recrudescimento. O gás natural e o petróleo líbio são demasiados importantes para que alguma potência possa abrir mão deles. Os recentes ataques aéreos a alvos civis podem indiciar que uma escalada na guerra pode estar em curso, agora apostando no terror para minar a base de apoio de Kadafi.

Dadas as divergências surgidas no seio da NATO, nas câmaras dos EUA e entre os países europeus devido à duração da guerra a às vítimas civis que os bombardeamentos estão a provocar, a opção da invasão terrestre pode vir a ser colocada como forma de resolução rápida do conflito, uma vez que

NOVA FROTA DA LIBERDADE A CAMINHO DE GAZA Hoje, 22 de Junho, partiram de Madrid para Atenas um grupo de 50 activistas pró-palestinianos. Na capital grega embarcarão no Guernika, um barquito em segunda mão comprado com a solidariedade de milhares de pessoas, que irá juntar-se à 2ª Nova Frota da Liberdade rumo a Gaza. São 12 barcos que vão tentar romper o bloqueio ilegal e criminoso imposto pelo exército israelita à faicha de Gaza, onde 1,5 milhões de palestinianos vivem com falta de alimentos, medicamentos, no meio de infra-estruturas civis destruídas pelos bombardeamentos. Do porto Málaga partiram mais 4 activistas para se juntarem à frota, tendo sido acompanhadas ao longo da costa por umas 100 pessoas com bandeiras palestinianas. A imprensa esteve ausente. Vídeo do barco de Málaga em: http://www. youtube.com/watch?v=zjduxP-HP38 (Manolo García, CCOO, 19/6).

ACTIVISTAS ANTI-NATO PRESOS Três membros da ASI foram presos em Belgrado durante um protesto conta a NATO. Um dos detidos, Ratibor Trivunac, ex-secretário-geral da AIT, foi condenado a 15 dias de prisão, acusado de organizar um protesto não autorizado e de perturbar a ordem pública. A ASI vai realizar uma manifestação de protesto frente ao Palácio da Justiça de Belgrado se Ratibor não for libertado. Apela ainda à mobilização e solidariedade internacional e se enviem cartas de protesto ao ministro da Justiça da Sérvia (kabinet@mpravde.gov.rs) e que delas se dê conhecimento à campanha Anti-NATO (antinatokampanja@gmail.com) Vídeo da prisão dos activistas anti-NATO em:

forças anti-Kadafi não estão a dar conta do recado. O que a acontecer, significa que depois do Afeganistão e do Iraque os imperialismos norte-americano e os seus aliados europeus caminham para novo atoleiro. ANTÓNIO BARATA

http://youtu.be/RpN_AV31Oso (AntinatoKampanje, 13/6).

80 MIL NA RUA Cerca de 80 mil gregos protestaram no centro de Atenas neste domingo (5 Junho) para denunciar políticos, banqueiros e a evasão fiscal. O protesto foi a resposta ao anúncio de que o governo se prepara para impor medidas extras de rigor fiscal exigidas pelos credores internacionais. “Ladrões, desonestos, banqueiros”, lia-se num dos cartazes. Milhares de pessoas encheram a Praça Sintagma, frente ao Parlamento da Grécia, para expressar a sua frustração diante do desemprego crescente, culpando a corrupção política pela crise. Segundo a polícia, mais de 80 mil pessoas encheram a praça, embora os manifestantes a acuse de normalmente subestimar os números. Os manifestantes reúnem-se na praça todas as noites, há 12 dias. Mas domingo foi de longe a maior concentração do movimento que se inspira em protestos semelhantes na Espanha. No meio a uma série de mãos espalmadas acenando para o Parlamento – gesto considerado ofensivo pelos gregos –, um manifestante empunhava um cartaz onde se lia “Bravo, Iémen” – o presidente iemenita foi submetido a uma cirurgia na Arábia Saudita por ferimentos sofridos num ataque ao seu palácio. Outro cartaz fazia comparações com os protestos do Cairo, que derrubaram o presidente egípcio Hosni Mubarak: “Da Praça Tahrir à Praça Sintagma, nós apoiamos vocês!” O governo do primeiro-ministro grego, George Papandreou, está a preparar um plano económico para impor medidas de austeridade ainda mais graves em troca de um segundo programa de ajuda externa. (Notícias RSS, 6/6).


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Vem aí o papão! Dizem que situações extremas requerem soluções extremas. O capitalismo, com a água pelo pescoço, recorre à mais tradicional e antiga maneira de manter as crianças sob controlo, ao velho Vem aí o papão! Vem aí o papão!, ou à sua variante O homem do saco, com que tradicionalmente se atemoriza os meninos mal comportados. Porque para políticos e banqueiros – analisando mesmo que superficialmente o conteúdo dos seus contos – somos crianças. Com a agravante de que actualmente, à escala planetária, dispõem de um aparelho descomunal destinado a manter viva a velha receita, em que conforme os casos o papão pode ser a Al Queda, o Hamas, Chávez, Morales ou a ETA. Vejamos o método: os Ministérios que sempre foram da Guerra são agora “Ministério da Defesa”, sustentado por um exército armado até aos dentes. Esta designação encerra uma lógica: estamos preparados para a guerra. Mas uma postura defensiva (implícita em “Ministério de la Defensa”) implica a existência de um inimigo, presente ou potencial, de que nos temos de defender. Qual é esse inimigo? Vejamos a Espanha. Quem nos ameaça do exterior e nos obriga a manter um tal aparelho militar? Não serão, com toda a evidência, os quatro gatos da ETA que, logicamente, do ponto de vista da manutenção da “unidade da pátria”, são um assunto da competência dos corpos policiais. A Pátria do “Tudo pela pátria” dos quartéis é o território nacional, o Estado espanhol. Volto a perguntar: Que país ou países o ameaçam? Não há nenhuma resposta convincente, da mesma forma que não a haverá se a criança se lembrar de perguntar: Papá, quem é o papão? Ou seja: infantilizam-nos (ou tentam)

LÍBIA

Limpeza étnica

simplesmente para que nos sintamos ameaçados, e assim controlados. E se a criança é curiosa e não se conforma com a resposta, esta só servirá para provocar novas perguntas, até que chegue o inevitável anda, deixa-me em paz e vai brincar! Agora impingem-nos as “missões humanitárias” em que participam as nossas tropas, não com alimentos, medicamentos ou roupas, como seria lógico, mas com tanques, bombas e metralhadoras. Curioso humanismo. E seguimos enfiando a carapuça. Há que manter a todo o custo o clima de que vem aí o papão! É então que entram em cena os meios de comunicação. Há que filtrar as notícias e o trabalho dos jornalistas. O que é fácil: só se dá trabalho aos que se deixam censurar ou se autocensuram para manter o emprego e manda-se para o desemprego os que respeitam a profissão e não se censuram a si mesmos. Depois deixa-se que se espraiem a seu gosto os que pela sua própria natureza são mestres na arte da tergiversação de notícias e no ataque, por vezes insultuoso, aos que são contrários às orientações editoriais da empresa que lhes dá de comer. É então que o menino vai brincar! se transforma em vai ver televisão! Aquela que no Estado Espanhol, depois da introdução da TDT, se transformou, qualquer que seja a cadeia (há excepções honrosas, mas muito poucas), numa sucessão de velhas séries enlatadas de Hollywood, interrompidas a cada passo pelos intermináveis espaços publicitários. E se os meninos fazem birra e protestam por estar a ser enganados, lá estão os Mossos de Escuadra e a Policía Nacional para os pôr na linha. Barcelona, Valência, Madrid, Salamanca Valladolid e Burgos são provas recentes disso mesmo. Séculos de Historia, salpicada de grandes pensadores, cientistas e artistas para chegar a isto. ANTÓNIO DOTOR

Os líbios negros correm o risco sofrer uma limpeza étnica. No leste do país, os líbios árabes ligados às elites económicas das cidades produtoras de petróleo assimilaram a ideologia racista dos ingleses e norte-americanos, de quem recebem treino, dinheiro e armas para dividir o país e permitir o roubo do petróleo pelas potências ocidentais.

O este alerta foi lançado no início de Junho pelo bispo Mussie Zerai, em Roma. Ele relatou que em Misrata, sob controlo dos rebeldes, mais de 800 negros africanos foram assassinados. Segundo o bispo, de origem eritreia, os massacres foram relatados por refugiados africanos que desembarcaram na Itália e traziam vários vídeos e fotografias, agora colocadas no site da agência Habeshia, testemunhando actos de extrema crueldade cometidos pelos rebeldes. Esta denúncia confirma relatos anteriores feitos por trabalhadores emigrantes africanos em fuga pela fronteira com a Tunísia, de estarem a ser perseguidos unicamente pela cor da sua pele, o que aos olhos dos insurgentes, os colocava na condição de mercenários ou de apoiantes de Kadafi. Dom Zerai afirmou que na Líbia há dois grupos étnicos de origem não-árabe e que o risco deles se virem a tornar vítimas de limpeza étnica, em consequência dos confrontos sangrentos entre os partidários de Kadafi e os rebeldes, é muito alto. O clérigo denunciou a indiferença ocidental relativamente a estas perseguições e chamou a atenção para que os líbios negros não sejam massacrados, como aconteceu a centenas de milhares de sudaneses no Darfur: “milhares de pessoas poderem ser esmagadas pela intolerância que se está a espalhar nos territórios ocupados pelos rebeldes... quem garante a civilidade dos novos senhores da Líbia, defendidos pela Europa? Precisamos a todo custo evitar um novo genocídio no continente africano.” Depois desta denúncia outras organizações relataram massacres contra a população negra do leste da Líbia, tornados possíveis com a intervenção militar da NATO e o apoio financeiro e diplomático da União Europeia e EUA aos grupos rebeldes.


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BRASIL - ARGENTINA

Fedor democrático

“Há uma provocação constante para que a ETA rompa a trégua”

A Argentina e o Brasil passam por ser Estados de direito, democráticos, respeitadores das liberdades políticas e cívicas, com governos de “esquerda” moderados. Denunciamos aqui dois casos que deixamos à atenção dos inflamados detractores de Cuba e de uma certa esquerda modernaça mais ou menos deslumbrada com a governação de Dilma e Kirchner.

Karina Germano Lopez é filha de um militante montonero raptado e desaparecido após ter entrado na sinistra Escuela Superior de Mecánica de la Armada (ESMA) durante a ditadura de Videla. Em 2002 foi presa no Brasil com um grupo de militantes chilenos da Frente Patriótica Manuel Rodriguez e do MIR, implicados num sequestro. Barbaramente torturados e condenados a 16 anos de prisão, em 2003 foram sujeitos a novo julgamento porque a justiça brasileira achou que os seus “crimes” afinal não eram políticos, e a pena foi agravada para 30 anos. Karina foi condenada apesar de Mauricio Norambuena (dirigente da FPMR, Frente Patriótica Manuel Rodríguez) ter declarado em tribunal que ela e outros três companheiros só se encontravam na casa em que todos foram presos por acidente e nada tinham a ver com o sequestro. Depois de passar 5 anos na prisão de Carandirú, em Novembro de 2006 foi deportada para a Argentina e aí novamente julgada, desta vez por um juiz e um acusador público conhecidos por colaborarem com os assassinos do Campo de Extermínio da ESMA. Condenada a sete anos de prisão sem direito a saídas temporárias, Karina Germano Lopez cumpre pena na prisão de Ezeiza.

Roberto Martino é um velho militante argentino das causas populares. Esteve preso nos anos 70 devido à sua militância revolucionária. Encontrava-se detido desde Maio do ano passado na prisão de Marcos Paz por combater o sionismo e organizar manifestações de denúncia dos bombardeamentos israelitas durante o cerco e a invasão de Gaza em 2008, que custaram a vida a mais de 1500 palestinianos. Na Argentina reside a mais numerosa e influente comunidade judia da América Latina, pelo que a luta conta o sionismo se reveste de particular importância. Daí que seja particularmente activa a perseguição policial aos que se solidarizam com causa palestiniana e esta se revista de aspectos que fazem lembrar os métodos expeditos dos tribunais dos tempos da ditadura. À semelhança de outro activista político, Juan Beica, da Convergência Socialista, preso e condenado pelos mesmos motivos cerca de um ano antes, Roberto Martino foi acusado de “prepotência ideológica”, uma figura jurídica recentemente inventada pela justiça argentina, e de ser nazi, eles que se definem como socialistas, anticapitalistas e anti-imperialistas. Em Junho, devido à forte mobilização popular exigindo a sua libertação, foi posto em liberdade condicional, por ter cumprido mais de um ano de prisão. Roberto Martino milita no Movimento Teresa Rodriguez e na Frente de Acción Revolucionária.

Qual é a sua perspectiva sobre o cenário aberto com o anúncio da ETA decretando o cessar-fogo permanente? A respeito de Euskal Herria não posso deixar de estar do lado da esperança e muito feliz com acontecimentos eloquentes como a manifestação de 8 de Janeiro, de solidariedade com os presos políticos. Ficou claro que a luta pela paz não pode ser feita à custa da humilhação de um povo. O povo basco recusa a humilhação contínua que lhe querem infligir com as detenções e a tortura dos activistas políticos e patrióticos. Há muitos anos escrevi uma nota – quando colaborava com o diário El País – expressando o meu repúdio enérgico pela “pacificação”. Estou contra a “pacificação” de Euskadi. Porquê? Porque a “pacificação” em causa não conduz à paz. Só haverá paz se esta assentar nos princípios de liberdade e justiça. A paz nunca está na ponta das baionetas, como verificamos aqui, dia a dia. Estamos a realizar jornadas de luta com muita força e esperança, mas o inimigo mostra que não está disposto a caminhar para a paz. Há uma provocação constante para levar a ETA a romper a trégua que anunciou, e faça um atentado. Isso seria uma boa notícia para o inimigo. Para eles foi uma má notícia a opção da ETA pela luta política. (Excerto de uma entrevista do escritor e dramaturgo madrileno Alfonso Sastre ao jornal Resumen Latinoamericano, Abril).

Brassens fora da lei Em 27 de Maio o tribunal correccional de Cherbourg condenou um habitante de Renes a 40 horas de trabalho a favor da comunidade e a pagar uma indemnização de 100 euros a dois polícias, porque na noite de 24 de Julho de 2009 cantou Hécatomb, uma canção de George Brassens narrando um famoso enfrentamento, no mercado de Brive-la-Gaillard, entre comerciantes e gendarmes. A sua janela estava aberta e três polícias que passavam na rua. O juiz considerou que “interpretar a canção frente ao espelho, ainda vá... mas diante de polícias, é um ultraje”. (Lutte Ouvriére, Junho de 2011)


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NÓS-Unidade Popular cumpre 10 anos de luita independentista, socialista e feminista Foi em junho de 2001 quando o denominado Processo Espiral, visado à criaçom da nova organizaçom unitária da esquerda independentista galega, culminava numha Assembleia Nacional Constituinte decorrida na capital da Galiza, Compostela, na que NÓS-Unidade Popular nascia. Era o resultado de um processo iniciado a finais da década de 90 e que pretendia a renovaçom e reativaçom de um movimento independentista emagrecido, enfrentado e sem rumo claro após os reveses políticos e militares dos anos anteriores. Desde entom passárom dez anos em que NÓS-UP, se bem nom conseguiu aglutinar sob as suas siglas todo o independentismo, sim foi um revulsivo para o movimento. De NÓS-UP partírom novas estratégias de construçom nacional, umha renovaçom ideológica do independentismo que o vinculou sem dúvidas a umha visom de classe e antipatriarcal, separando-o dos flirteios com o interclassismo e com o nacionalismo autonomista do BNG, e umha grande vontade de luitar, de estar nas ruas acompanhando todos os combates do povo trabalhador galego e de questionar a “normalidade democrática” do regime bourbónico. Esta trajetória, breve no tempo mas intensa, foi comemorada o passado 5 de junho na Romaria organizada para celebrar estes primei-

ros dez ano de luita. Perante as dificuldades impostas pola cámara municipal compostelana, denegando espaços e recursos que pertencem a todo o povo, foi o Cámpus Sul da Universidade de Santiago de Compostela o que acolheu as diferentes atividades previstas. Companheiras e companheiros, de antigos e antigas militantes e de simpatizantes da Unidade Popular chegados de todo o País, partilhárom umha jornada de convívio onde houvo tempo para o lazer, para as atividades culturais e para o ato político que abre umha nova etapa para a organizaçom e para o conjunto do Movimento de Libertaçom Nacional Galego. Umha jornada que também contou com o caloroso apoio internacionalista transmitido polos comunicados enviados por organizaçons amigas do País Basco, Países Cataláns, República Dominicana, Aragom, Argentina, Madrid, Castela e Equador, assim como do Movimento Continental Bolivariano e, como sempre, da Política Operária desde o irmao Portugal. No ato político, após as intervençons de diferentes militantes, atuais e passados, o porta-voz nacional de NÓS-UP, Alberte Moço, realizou um repasso e umha valorizaçom crítica do caminho percorrido pola Unidade Popular desde aquele 2001 e anunciou a convocatória da manifestaçom independentista do 25

de Julho, Dia da Pátria Galega. Com esta convocatória NÓS-Unidade Popular recupera a iniciativa que nos últimos anos cedera a iniciativas como as Bases Democráticas Galegas ou Causa Galiza, projetos impulsionados por diferentes setores soberanistas para promocionar o debate autodeterminista no contexto de umha hipotética reforma do Estatuto de autonomia que nunca se chegou a concretizar. No seu discurso, o Alberte Moço destacou que esses debates e propostas estavam já superados pola realidade, marcada pola crise do sistema capitalista, a ofensiva machista, o crescente descrédito popular na democracia burguesa e a crise nacional pola que atravessa a naçom galega. O porta-voz de NÓS-UP concluiu remarcando que a convocatória de um Dia da Pátria independentista marca o início de umha nova etapa em que as propostas de mínimos devem ser abandonadas ante o novo horizonte de luitas que se alvisca. NÓS-UP, assinalou, seguirá a coincidir na rua e nas luitas com outras organizaçons e setores, mas nom pode ficar presa de dinámicas que nom apontam ao Estado obreiro, à República galega, como soluçom para a classe operária e do conjunto do povo trabalhador galego. ANJO TORRES CORTIÇO


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“GATZA” EM LIBERDADE

CLASSE, Andrea Cavalletti, ed. Antígona, Outubro de 2010.

soante esse papel vêem mais ou menos condicionado o seu acesso à riqueza criada e ao exercício do poder, sendo socialmente e hierarquicamente “arrumadas” segundo a posse e o acesso ao capital, aos bens de raiz e aos meios de produção. Segundo a pretensiosa demonstração do ilustre académico, classe é outra coisa, é uma multidão em fúria perseguindo objectivos políticos. Entrámos no domínio da parvoíce. Não dá para levar a sério. António Barata

CHE GUEVARA, Frank Niess, ed. Expresso – Colecção A Minha Vida deu um Livro, 2011. A televisão australiana SBS emitiu uma reportagem sobre “Gatza”: Jose Mari Sagardui, “Gatza”,o entrevistado, é o principal protagonista do vídeo emitido a partir da sua libertação da cadeia ao fim de 31 anos, que lhe valeu o cognome de “o Nelson Mandela do País Basco” . O vídeo está inserido no contexto político que se vive em Euskal Herria. “Gatza” saiu há umas semanas da prisão e estava marcada uma manifestação popular de boas-vindas na cidade onde reside agora. Depois da proibição pela polícia, deu-se uma concentração “espontânea” no parque em frente da sua casa, com milhares de pessoas, prontamente mandadas dispersar pela polícia, mas não sem que antes cantassem de punho erguido o hino nacional basco, com a família de Jose Mari e ele próprio à varanda. Está tudo no vídeo, que pode ser visionado em http://www. s b s. c o m . a u / d a t e l i n e / s t o r y / watch/id/601176/n/A-NewBeginning

Num exercício de pedantismo insuportável (não há página em que não sejam citados dois ou mais autores, sem que se perceba a utilidade) o autor salta de assunto em assunto, falando de tudo e de nada numa linguagem e modos ao estilo do intelectual de café com pretensões a erudito, tornando a leitura penosa. Para que, diz-se na contracapa, o académico, ensaísta, conferencista e colaborador de Il Manifesto nos faça “perceber como a massa informe e a multidão se transformaram em classe, mostrando-nos como a multidão perigosa e excitada reemerge no espaço político”. Ou seja, uma classe, ao contrário do que Marx e vários outros antes dele já haviam descoberto, não é um conjunto de pessoas que desempenham um determinado papel na produção, na economia e no Estado, e que con-

Distribuída gratuitamente com o jornal Expresso de 9 de Abril, esta é uma biografia escorreita e despretensiosa do grande revolucionário latino-americano. De leitura fácil, tomamos conhecimento não só dos episódios familiares, as suas aventuras e viagens de juventude, como da evolução da sua consciência e pensamento político. Longe das vulgatas laudatórias

muito em voga que fazem das suas divergências com Fidel e das críticas à URSS um assunto tabu, neste trabalho estes assuntos são frontalmente abordados de uma forma honesta, sem facciosismos. Como esta é uma biografia feita a pensar no grande público, as questões políticas e ideológicas não têm o aprofundamento que mereciam, o que não impede que este seja um trabalho cuja leitura se recomenda, principalmente aos que conhecem mal a figura de Guevara. Estranhamos que na vasta bibliografia a que recorreu o autor e por ele referida não conste um trabalho fundamental para se conhecer um período fundamental da vida, da evolução política e ideológica de Che Guevara. Referimo-nos às memórias da sua primeira mulher, Ilda Gadea, intitulado, na edição portuguesa, Os meus anos com o Che – da Guatemala ao México, Edições Dinossauro, 1996, e Años decisivos, no original. Também existe uma edição italiana.

CADERNOS SOS RACISMO, 2011. Interessantes estes cadernos temáticos que o SOS Racismo começou a editar, em Maio já no seu número três. O primeiro, intitulado Perguntas frequentes sobre os chineses em Portugal, dá-nos um retrato muito preciso da comunidade chinesa residente no nosso país, e é da autoria de Michelle Chan, descendente de imigrantes chineses, com base nas perguntas que lhe costumam fazer os seus amigos e conhecidos; no segundo, Islamofobia, reúnem-se textos de Daniel Bensaid,

INFORMAÇÃO ALTERNATIVA

INFORMAÇÃO ALTERNATIVA

Diário Liberdade é um projecto jornalístico alternativo anticapitalista e anti-imperialista, virado para a realidade social e as lutas de classes na península Ibérica, América Latina e África de expressão portuguesa e galega www.diarioliberdade.org

kaosenlared é um projecto alternativo de contra-informação anticapitalista e anti-imperialista. Com importante e relevante presença internacional, conta com uma execelente rede alargada de colaboradores ibéricos e latinoamericanos www.kaosenlared.net


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11 r/c e 11B – Mouraria, Lisboa, às 18 horas.

Agustín Unzurrunzaga, Mamadu Ba e outros sobre a laicidade, o uso do véu e o medo ao islão nas sociedades europeias; o terceiro é sobre a Extrema Direita na Europa e nele reúne-se bastante e elucidativa informação sobre os movimentos extremistas xenófobos e racistas na Europa.

Na

7 - 10 Julho – MANIFesta - VIII Assembleia, Feira e Festa do Desenvolvimento Local organizada pela rede de associações de 5 Julho – O muro da vergonha. desenvolvimento local Animar. Debate sobre o muro que separa a Montalegre. Palestina dos israelitas, com Shaad Wadi (Comité Palestina), Sérgio 11 - 17 Julho – Semana de acção Vitorino (M12M), António Serze- de protesto e proposta organizadelo (Opus Gay) e Renato Teixeira da pela CGTP, em todo o país (Rubra). Na Casa do Alentejo, contra o pacote da troika. Lisboa, às 21,30 horas.

selva

Até 9 Outubro – Manuel da Fonseca, por todas as estradas do mundo. Exposição evocativa do centenário do nascimento deste nome grande do movimento neorealista português. Museu do NeoRealismo, Vila França de Xira.

Os estudos desconhecidos d e Che de Guevara A propósito dos seus Cader nos de leitura da Bolívia Cadernos Néstor Kohan Edição conjunta Dinossauro - Abrente Tiveram que passar mais de quatro décadas desde o assassinato do Che Guevara para começarem a aflorar, tímidamente, outras facetas da sua vida. O Che como estudioso do capitalismo, analista das dificuldades da transição para o socialismo, teórico dos problemas da revolução mundial e polemista no interior do marxismo. Néstor Kohan estudou essas dimensões do Che como estudioso sistemático do marxismo, leitor dos clássicos do pensamento social e apaixonado explorador da literatura revolucionária. Em suma, o Che como pensador radical.

300 páginas - Preço: 20 euros

Até 25 Setembro – Exposição Mário Dionísio – vida e obra. Na Casa da Achada, às segundas, quintas e sextas, das 15 às 20 horas; aos sábados e domingos, as 11 às 18 horas. Cronologia, fotografias, documentos, vídeos, livros, desenhos e pinturas.

14 Julho – Manu Chao, concerto no Festival Marés Vivas, Cabedelo – Vila Nova de Gaia. 25 Julho – Manifestação independentista, socialista e femi- A Batalha, 244, Lisboa nista convocada por NÓS – Uni- Abrente, 59, Compostela, dade Popular. Galiza. Galiza Challenge, Junho, Brooklin, Nova Iorque Che fare, 74, Roma Dans le monde une classe en lutte, Maio, Paris Échanges, 136, Paris Éxodo, 108, Madrid Insurreiçom, 11, Galiza Lutte de classe, 136, Paris Lutte ouvrière, 2237, Paris Monthly review, Maio, Nova Iorque n+1, Abril, Turim O reino suevo da Gallaecia, FESGA, Galiza Partisan, 248, Paris Proletari communisti, Março, Taranto 29 Julho – Homenagem a Mikis Resoluções do 5º Congresso Theodorakis. Passagem da pri- de Primeira Linha, meira do filme Mikis Theodo- Compostela, Galiza rakis - a cor da liberdade. Casa Resumen Latinoamericano, da Achada, na Rua da Achada, nº 112, Donostia/San Sebastián


Que tem o meu Canto

Julián Conrado

Como ao SuperMan e ao burguês da minha nação Lhes desagrada a minha canção, ameaçam-me, ameaçam-me que me castigarão com a lei de extradição, se me deitar à agua um vendaval, se chegarem a dar-me caça. Dizem que estão para aí a elaborar a lista, Onde anunciarão “procura-se por terrorista”, Que recompensarão quem lhes dê alguma pista, E nesse afã estão os bichos imperialistas. CORO Que tem, que tem Que tem o meu canto Que causa espanto aos opressores (bis) Será porque diz a verdade E denuncia a injustiça Toda a imundície desta sociedade capitalista, egoísta.

Julián Conrado, o cantor das FARC, que se pensava ter sido morto no raide de 2008 a um acampamento das forças guerrilheiras no Equador, foi agora detido pelas autoridades venezuelas, que se preparam para o entregar à polícia terrorista da Colômbia. A canção que aqui reproduzimos pode ser escutada na próp r i a v o z d e C o n ra d o e m h t t p : / / w w w. m e g a u p l o a d . c o m / ? d = G T 1 S F6QV

Não quebrarão com terror a minha convicção, A fé na revolução mais me cresce, mais me cresce Mas como conseguirão que morra uma canção, Que no próprio coração Do povo é que floresce, Do povo é que floresce. Que me prenderão e me levarão a tribunal, E me exibirão como um terrível bandido, E que me julgarão, Me julgarão ao seu estilo, Ou seja, que comprarão para me afundar uma testemunha CORO Será porque fala da igualdade, E apregoa a justiça, Todas as delícias de uma sociedade socialista, Humanista.

O Estado dos burgueses não é mais do que um seguro colectivo da classe burguesa contra os seus membros individuais e contra a classe explorada. Karl Marx, La socialisation de l’impôt, Neue Rheinische Zeitung, 1850


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