Porém, frente ao derrotismo, frustraçom e desmobilizaçom dos colectivos dirigidos pola pequenaburguesia que entusiasticamente promoveu cheques em branco ao novo governo, ou frente à cínica satisfaçom de aqueles que fôrom simplesmente cooptados pola lógica institucional a golpe de talonário e subsídios milionários, cumpre recompor e impulsionar estruturas unitárias e plurais de luita. Os exemplos de Vigo e Ferrol, do metal e da oposiçom a Reganosa, marcam o caminho a seguir. A esquerda independentista e socialista que nós representamos acha necessário avançar, dar passos firmes na construçom de umha alternativa nacional e anticapitalista, de luita e mobilizaçom, que ocupe o espaço político-ideológico e a representatividade institucional de amplos sectores populares. O nosso nascimento e configuraçom emana desta análise, e boa parte dos esforços realizados por buscar confluências e acordos com outros sectores confirmam este objectivo. Mas para podermos participar na reconfiguraçom da esquerda soberanista é necessário que se cumpram umha série de requisitos e princípios que permitam a cómoda integraçom de todas as correntes, sem exclusons, única garantia do seu sucesso. Neste Dia da Pátria, participaremos na manifestaçom unitária convocada por Causa Galiza. Independência, Antipatriarcado!
Socialismo
e
reportagem
Sete anos agindo sem trégua
Heterossexismo e libertaçom sexual NÓS-UP analisa os resultados do 27-M Sem oposiçom da esquerda soberanista, o bipartido ganha espaços no ámbito municipal
Memória e repressom na Galiza do franquismo
Voz Própria entrevista Paulo Parga, membro da Executiva Comarcal da CIG-Construçom e Madeira- em Lugo e um dos co-portavozes da Causa Galiza
Palestina: Hamas é a resistência, Al Fatah a claudicaçom
análise
Falsidades à defensiva para desviar a atençom na fase terminal de Reganosa
dossier
avançar no uso do galego constrasta com os fabulosos orçamentos destinados a seguir construindo o megalómano projecto da Cidade da Cultura. Mas, para que prosseguirmos numha relaçom de carências que é bem conhecida? Nada disto nos surpreende. Em Junho de 2005 manifestamos que nom depositavamos a mais mínima expectativa no novo governo. Que nom passava de meras ilusons, de superstiçons, de fantasias, confiar na capacidade transformadora de um executivo carente de vontade política para introduzir mudanças reais, para além da mera retórica. A realidade confirma os nossos prognósticos. A dia de hoje, é inegável que acertamos na caracterizaçom continuísta do governo PSOE-BNG. Nom podia ser de outro jeito. A construçom nacional da Galiza de posiçons de esquerda voltou a perder dous anos enquanto a espanholizaçom do País avança imparável. Eis o diagnóstico inegável, que a dia de hoje já nom se pode maquilhar.
entrevista
O Dia da Pátria deste ano tem lugar numha conjuntura sóciopolítica semelhante à de 2006, embora a desilusom e indiferença popular perante as promessas incumpridas dos inquilinos de Sam Caetano caracterize a atitude de amplos sectores sociais. Dous anos depois da chegada do PSOEBNG ao governo da Comunidade Autónoma, todo continua na mesma. A única mudança desta– cável é a substituiçom de elites. Agora som centenas de cargos públicos e de livre designaçom, funcionários, assessores vinculados com o social-liberalismo espanhol e o regionalismo, que se lucram de salários astronómicos e dos privilégios derivados da gestom do poder institucional. De resto, todo continua inalterável. Umha acçom política continuísta, portanto, regionalista e neoliberal, ao serviço exclusivo de Espanha e do Capital, sintetiza estes 730 dias. Nom foi aplicada nengumha das 444 medidas concretas para umha nova política nacional e de esquerda que NÓS-UP apresentou em Setembro de 2005 ao bipartido. De facto, até os dias de hoje o governinho de Tourinho e Quintana nem tivo a decência de responder à proposta cursada via registo na Conselharia de Presidência. Os hábitos prepotentes, o desprezo das formas e práticas democráticas, som umha das muitas herdanças do fraguismo. Esse continuísmo na genuflexom aos ditames da burguesia em matéria sócioeconómica é tam evidente que até umha organizaçom como a CIG, com excessivas vinculaçons com o BNG, nom participa no pacto social autonómico. A classe trabalhadora perde poder aquisitivo, enquanto som cada vez maiores os lucros empresariais. A reduçom do desemprego é a custa da precarizaçom selvagem do contratos. A Junta entregou dúzias de quilómetros de costa, e algumhas das melhores paragens naturais do País, à especulaçom selvagem das imobiliárias, dos parques eólicos, piscifactorias, canteiras, campos de golfe, seguindo as directrizes da lógica turistificadora que Madrid e Bruxelas tenhem atribuído à Galiza. Um ano depois da catástrofe ecológica provocada polos incêndios florestais, nom se sentárom os alicerces para mudar a política nesse sector, no agrícola, urbanístico, de ordenaçom do território; nem se adoptou a prática totalidade das medidas prometidas para evitar neste Verao umha nova desfeita. O esbanjamento económico em iniciativas propagandísticas, e a falta de medidas para defender e
NÓS-UP entregou à Junta a simbologia fascista retirada durante o último ano e meio
internacional
editorial
Simbologia Fascista
Como é sabido, NÓS-UP iniciou em Novembro de 2005 umha campanha pola retirada da simbologia fascista presente em edifícios, sedes e espaços públicos da Galiza. Umha campanha que deu continuidade às acçons simbólicas anteriores com que denunciamos a falta de compromisso institucional na eliminaçom dos símbolos que exaltam a ditadura militar e o golpismo espanhol.
NÓS-UP entregou à Junta a simbologia fascista retirada durante o último ano e meio
sete anos
agindo sem trégua leis quanto à necessária eliminaçom dos símbolos franquistas que ainda inçam o nosso país. Em simultáneo, passado o meio-dia de hoje, militantes de NÓS-UP, incluindo vários membros da Direcçom Nacional, depositárom directamente todos esses símbolos às portas da entrada
principal da sede administrativa da Junta da Galiza, à vista das cámaras e microfones dos meios de comunicaçom previamente convocados para assistirem ao acto de desagravo democrático. Tal e como indicou Maurício Castro, porta-voz nacional de NÓS-
UP, durante a conferência de imprensa realizada às portas de Sam Caetano, a via repressiva como tem sido encarada a campanha de higiene democrática efectuada pola nossa organizaçom mostra as graves carências do sistema monárquico espanhol em vigor na Galiza actual. Devemos, finalmente, destacar que
nesse mesmo dia se viveu mais um episódio de assédio policial à actividade antifascista, com a identificaçom de um companheiro integrante na Direcçom Nacional de NÓS-UP presente no acto reivindicativo. Um novo episódio que deve ser somado à perseguiçom policial e judicial verificada durante toda a campanha pola
eliminaçom dos símbolos fascistas, incluindo denúncias de forças políticas como o PP, o PSOE e IU contra membros de NÓS-UP acusados de retirar placas dedicadas a fascistas como José Antonio Primo de Rivera e a genocidas como Francisco Franco. Umha vez concluída a campanha con-
tra a simbologia fascista, queremos parabenizar todos os galegos e galegas, nom sempre militantes da nossa organizaçom, que participárom na mesma de umha forma ou outra no importante labor de limpeza e denúncia realizado. Um labor que só concluirá quando conseguirmos ver o nosso país limpo de lixo fascista.
reportagem
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reportagem Simbologia Fascista
A seguir, apresentamos o conteúdo integral da carta entregada por membros da Direcçom Nacional de NÓS-UP no Registo Geral da Conselharia da Presidência da Junta da Galiza, em Compostela. Nela, pola terceira vez no último ano e meio, a nossa organizaçom reclama que o Governo autonómico assuma as suas responsabilidades e retire todos os símbolos apologéticos do fascismo ainda existentes em edífícios e espaços públicos da Galiza.
Gema Branco Martins, Maurício Castro Lopes e Bruno Lopes Teixeiro, em representaçom da Direcçom Nacional de NÓS-UP, entregárom, 13 de Junho, no Registo Geral da Conselharia da Presidência, no edifício administrativo central de Sam Caetano, em Compostela, a documentaçom relativa à campanha, incluindo o censo das centenas de placas, cruzes, escudos, símbolos falangistas e outros elementos de propaganda fascista retirados de espaços públicos da Galiza neste último ano e meio. Junto ao censo, umha carta dirigida ao presidente da Junta, Emilio Peres Tourinho, e ao vice-presidente, Anxo Quintana, em que, pola terceira vez neste ano e meio, se reclama o cumprimento das
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Simbologia Fascista
urinho, Emílio Peres To a, iz al G da a nt ves, nte da Ju uintana Gonçal Q l ue Senhor Preside an M o nx sidente, A Senhor Vice-Pre
scista é equida simbologia fa ça en de es pr a r Permiti ha, Portugal ou ruas da Aleman s çom independe na za a e ni di ga qu a a or l m , ve se lar pará Popu de solini contas NÓS-Unidade stes um ano e meio , Salazar e Mus er de va itl le H de , , ga da lia le ui Itá ga in nt lista scista, umentos. A co às dentista e socia a “Simbologia fa hoje com mon ha humilhaçom to da campanh . um en m 05 o, vi lt 20 ol su de nv in o se br de um em é ov s N io íg vest iniciada em famílias. fora da Galiza”, timas e às suas ví às os am ane nos dirigirí ade, um flagr anunciamos qu itar a retiraumha ilegalid lic s é so Naquela altura, do m ra ta bé pa op m za ta ad ali Mas ordos icas da G es ento dos ac 1, instituiçons públ im 98 dos, águias, cruz pr /1 cu m 33 es , cu i as in Le ac A pl te as. o de rana çons espanhol da de todo o tip te impostos du polas institui utubro, obrigou O tos directamen en do de s em 19 ico el bl os de pú tr E s l. ço BO e ou na pa io no es uc e o s tit ad public lo cons o em edifício do franquista po desse mesmo ntinuam a exalcu te o franquism co es is o r po ui de tit os bs su bro e 30 an , a 19 de Dezem Assim se fijo. nosso país, e qu rePosteriormente lpismo fascista. a novamente a go st o in e 1 ra 98 du /1 ta 64 di 29 lo tar a to bo re ec sím D ano, o rém, este meses após a da ditadura. Po os os ci do uc ifí cu po ed , es s, 05 o 20 ho ar tir concel ubro de presente em OE-BNG, umha Em 19 de Out continua ainda vo governo PS no liciais, etc. npo do s ce m ra ro ço ad st ui constit quartéis, esqu tregou no regi is, en ia P ic U of SÓ N sife delegaçom de a em que man Conns Públicas do tano umha cart imo és ig tr do e de Administraço tral de Sam Cae ad 3 de id a om im u iss ox vo pr om ro a C ap e A a rant de Espanh anco, um os Fr ad co ut távamos que, pe cis Lei ep D ean s -d Fr gresso do osta nom falecimento de inumeráveis 04 umha Prop a 20 a saniversário do sit ce de vi ne o a br as ou id , em Nov as, praças ar as “med nom podia evista a impulsion in passeio polas ru ís in s pa lo se o bo al ss qu sím no la de do po cionais desapariçom franquisa r ra ce du re ta so edifícios institu vo di es fa gr de sárias para o XXXVI Con quarenta anos . Previamente, tar lembrar os constitucionais” 2004 umha reso o lh u a 3 de Ju de as vo ta. ar ro ap ám E C O de PS s do ente , aos seus presid emos resposta luçom exigindo qual nom obtiv gia franquista. lo do e bo , qu ito sim o cr rn da es ve a go ad tir Neste de re a do s ai or ip Munic que, no ac ra os vinmanifestávamos do seu Julho de 2005 pa de 23 a ria om e desinteresse ár aio e m ad va id no iv a ss e ambos assin pa qu ia galidade, nesPerante a anos, se recolh imento da le política na pr ça m ran douros quatro cu ud m no o ha govern escudos e dive “possível um documento, as de placas, zi do oeleitoral fazia dú m , , om es as uç es tu od m tá tr es tes ópria in s em forma de aliza tivo umha Galiza”. Na pr s monumento a iconografia so mente que “G ad ri ta ec va de rr s ai co ns m iço a am itu e st , in os r afirmav st te bu de e a, sabotada com nólitos inha truncad foi retirada ou 36”. m 19 oportunidade, ag be o m ou pontos co rá ta is pe fasc data tem mais variados autogoverno em r-de-rosa nos co a ur nt . pi al ografia nacion nossa carta re e lugares da ge es depois da es m epr ve ta no is , sc m fa Poré Pologia NÓS-Unidade tirada da simbo nada fijo para e meio depois, is clamando a re o ve o an sá rn on ve um sp go re e, u oj H a o se 20 de aos máximos a ar e eg qu tr lo en sente na Galiz sím po , s de pular deci todos esse do lixo fascista aniversármanência de pe 70 . o limpar o País da po s m m ai te co on o te ci institu e todo es , coincidind l l retirado durant polo exército ia ia Julho de 2006 r er er ta at at ili m m m o do s to lo io bo ciamen o inventár s, noito ga cr le es ga te s rio do pronun es de a Anexamos aioria das cida que, marcas do País. espanhol na m iu novamente nas distintas co o er ad qu tir re re P U , Stica vamente NÓ ade democrá erimenstiça e dignid os que este requ ra ream pa rd s ua na ag tu s, por higiene, ju ai or cionária, mas Umha vez m as medidas op mildade revolu hu . m ís ir co se adoptassem pa o o ad ss liz to –rea presenta o sent bologia do no rteza de que re ce a no tirar esta sim ia m ca co m m bé no tam vo– es do nosso po a resposta que amplos sector êncio foi a únic de sil o o z, o, ve id rt ha Mais um governo bipa esquecimento. “progressista” l estado de ve recebemos do tá en m la o anifesto o de 2007 panhola e a qual pujo de m a burguesa es aliza, 13 de Junh ci G ra oc u m se de do saúde da ormadora política transf nula vontade governo.
análise
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Falsidades à defensiva para desviar a atençom na fase terminal de Reganosa
análise
reportagem
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Diferentes instantáneas da entrega na Junta de Galiza
análise
Planta de gás análise fora da ria
Carmelo Teixeiro Responsável de Infraestruturas e Meio na A.C. Fuco Buxan
Para a vaporizaçom do GNL, há projectos de Plantas de Gás que incluem vaporizadores de circuito fechado, quer dizer, sem usar a água do mar nos vaporizadores chamados abertos onde a água sai esterilizada e matam-se milhons de milhons de espécies marinhas. Para além de que todos os operadores eléctricos estám ao negócio de produzir electricidade e de que na Galiza nom corre pressa a produçom de electricidade com gás
porque esta a ser exportado 40% da electricidade que se produz, a Junta da Galiza tem alternativas de outros promotores melhores que os de Reganosa, (nengum é ENAGAS) que aparecem por mor das OPAS a Endesa. Som promotores com solvência a nível europeu, que no ano 2010 podem garantir umha Planta de Gás e umha plataforma gasista na Galiza destinada à produçom de electricidade, também para subministraçom a particulares,
sem ameaçar a vida da populaçom e respeitando o ambiente, condiçons a exigir nos seus projectos para serem compatíveis com o desenvolvimento sustentável das Rias Galegas. Os trabalhadores do mar agora sabem que os seus 600 postos de trabalho estám ameaçados de extinçom polo derrame de 600.000 toneladas diárias de águas se Reganosa consegue o alargamento que tenciona até os
800.000 m3 por hora de gás natural regasificado, equivalentes a 105 metaneiros por ano, com capacidade cada um de 140.500 m3 de GNL, quer dizer, um meteneiro cada três dias. Actualmente, Reganosa tem autorizados 322.500 m3 por hora de gás natural regasificado, equivalentes a uns 50 metaneiros por ano, um cada oito dias, para o que utilizaria 300.000 toneladas diárias de água do mar que já sai esterilizada, com restos de cloro e de bisulfito sádico, numha sopa química que se observa em forma de espuma à beira do dique oeste nas provas que Reganosa está a realizar. Isso explica que os mariscadores se tenham mobilizado no contexto do Comité Cidadao para bloquear os primeiros gaseiros carregados de GNL que, desde 9 de Maio, acabárom entrando na Ria de Ferrol, com apoio de forças de choque policiais que sementárom a desordem na cidade de Ferrol e atacárom os cidadaos que pacificamente intervínhamos num protesto social. Os metaneiros carregados de GNL entrárom pola força e de modo temerário e irresponsável, pois nom está garantida a sua saída ao mar em caso de urgência, polos seus meios e com a rapidez que requer a normativa aplicável. Mas a maior ameaça é para a vida humana. Após a prisom injustificada do Patrom Maior da Confraria de Pescadores de Ferrol, o conflito
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Planta de gás fora da ria
social que venhem provocando os promotores de Reganosa, os seus corifeus e La Voz de Galicia, criárom umha falsidade mais, com a pretensom de apresentarem o problema como só dos mariscadores, que som as primeiras vítimas nos seus empregos e é lógico que exijam da Junta da Galiza que se faga cargo dos danos e perdas que Reganosa lhes poda provocar. Antes já houvo outras vítimas expulsas das suas casas, com a cumplicidade dos últimos presidentes da Cámara de Mugardos e os seus sócios de governo municipal mugardês, mais outros cidadaos de Ferrol que por medo aos .perigos da Planta de Gás decidírom abandonar as suas moradas, por terem Reganosa nos seus focinhos. Há também agora um dilema falso que algumhas pessoas “preocupadas” exponhem “alertando” que o traslado de Reganosa ao Porto Exterior custa 40.000 milhons de pesetas. Há que dizer-lhes o seguinte: a) A vida humana ameaçada vale muito mais e nom lhe podem pôr preço, nem os 40.000 milhons de pesetas, nem qualquer outro preço. Portanto, por favor, que deixem de olhar para outro lado. b) Nom falam em representaçom dos promotores de Reganosa, cuja
O Orgulho da diversidade frente a violência do Patriarcado
análise
Sexualidade
Ângelo Meraio Militante de NÓS-UP e membro de CGC (Colectivo Gay de Compostela)
formulaçom é prepotente e nom querem trasladar-se para o Porto Exterior. Se fosse essa a sua vontade, já teriam construído a Planta de Gás no Porto Exterior. Mais ainda, a informaçom disponível é que o “pacto á siciliana” assinado em Julho do 2000 e o resto de actuaçons prepotentes vam destinadas a situar a Planta de Gás em Ponta Promontório encostada ao Complexo Petroquímico do Grupo Tojeiro, cuja concessom caduca a 13 de Julho de 2017. Quer dizer, os promotores de Reganosa em nengum momento colocárom, nem colocarám, o transferência para o Porto Exterior,
nem querem o emprego de circuito fechado nos vaporizadores, preferem matar a água do mar, porque querem fazer negócio fácil à conta de ameaçar a vida e do ambiente, sacrificando a Ria de Ferrol. Ainda que lhes dessem indemnizaçom nom aceitariam ir-se para o Porto Exterior. Afinal, contam já com ter que carregar com o morto. Em resumo, a mais fácil de soluçom do problema é que nom seja autorizada a entrada em funcionamento de Reganosa, porque lhe é impossível resolver os condicionados da sua autorizaçom de construçom, em
distáncias à populaçom e na saída de urgência dos barcos gaseiros. Desse modo, Reganosa nom terá direito a indemnizaçom e é um problema dos seus promotores reciclar essas instalaçons para actividades compatíveis com a envolvente natural da Ria de Ferrol. Também, enquanto existam outros promotores alternativos, é fictício e falso o risco de que a Planta de Gás poda ir para outro sítio.
No ano em curso, 2007, na Galiza e no conjunto de Estado espanhol o movimento LGBT ainda sofre a ressaca “pós-casamento”. A modificaçom de umha legislaçom que discriminava por motivos de orientaçom sexual e mantinha um status diferente para os casais homem/mulher aos homem/ homem ou mulher/mulher em primeiro lugar. A aprovaçom de umha lei de “identidade de género” que permite o reconhecimento oficial do género real das pessoas transexuais em segundo. Comocionárom teatralmente a sociedade e ilusionárom umha comunidade LGBT que enxergou a miragem da igualdade real, da erradicaçom da diferença, algumhas e alguns até sentiram a ilusom da superaçom do preconceito. Sem desvalorizarmos o interesse estratégico desta equiparaçom de direitos civis e sem entrarmos a divagar sobre o rejeitamento da instituiçom do casamento, é importante, é responsabilidade do movimento pola libertaçom sexual definir objectivos e metas claras que nom perdam o norte, o combate frontal da homofobia, ou melhor da lesbigaytransfobia. É ainda, responsabilidade da
esquerda e do movimento antipatriarcal integrar as reivindicaçons de lésbicas, gays e transgéneros e superar as dificuldades e desconfianças que a comunidade LGBT ainda desperta. Estes receios derivam, em primeiro lugar, de um mal endémico. A falta de consciência sobre a realidade sexual humana, o rechaço e incompreensom mais ou menos activo e/ou violento da diversidade e a ainda a carência geral de assunçom da heterossexualidade como ideologia opressora, como arma do patriarcado juntamente da construçom do género. Há relativamente pouco tempo que a ciência médica abriu de maneira nada afortunada o binómio hetero/homo, foi no século XIX quando os termos heterossexual e homossexual começaram a ser usados com normalidade. Foi a partir da consideraçom da homossexualidade como doença, consideraçom que só no ano 1990 foi retirada pola OMS da sua listagem de afecçons psiquiátricas. É sobre esta contradiçom homo/hetero que na nossa sociedade capitalista ocidental é criada a falsa consciência sexual e o encaixotamento de todos os
nossos sentimentos, afectos e prazeres nesses dous minúsculos rótulos nos quais nom entra nem o mais mínimo da diversidade sexual humana. Da mesma maneira antes, o patriarcado tinha criado os papéis de género, atribuindo de maneira igualmente artificial características limitadas a cada um dos dous sexos biológicos e construindo assim a primazia e o domínio violento do homem sobre a mulher. No caso que nos corresponde agora, heterossexual/homossexual, evoluímos da consideraçom geral de doença e/ou crime à equiparaçom cada vez maior de direitos civis. Falamos, em todo o momento, no chamado “mundo ocidental”, é preciso lembrarmos que a homossexualidade ainda é crime em 75 países do mundo, pagado com penas de prisom (nalguns casos perpétua) e até com a própria morte. Porém, a heterossexualidade, a ideologia, nom a tendência sexual, é considerada e sentida moralmente superior pola grande maioria da nossa sociedade. As atitudes individuais vam do total rechaço: ódio irracional e cruel que provoca a violência homofóbica; à total indiferença por se acreditar livre dessa opresssom. Passando ainda, pola simples incompreensom de umha luita, LGBT, que é vista como inecessária ou até ridícula por quem nom padece a opressom directamente nas suas carnes. Esta confusom aberta, vê-se agudizada polo alto grau de banalizaçom e
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análise
HETEROSSEXISMO E LIBERTAÇOM SEXUAL
análise
desideologizaçom que a comunidade LGBT padece. Com umha crescente desvirtuaçom e mercantilizaçom do movimento, que se centra principalmente no hedonismo gay (homossexual masculino) que cria umha imagem estereotipada do homossexual: Jovem de corpo “perfeito” de ginásio, gostos requintados, fashion-consumista e com alto poder aquisitivo. Este é o produto em que o capitalismo converteu as reivindicaçons LGBT. De umha óptica machista, como nom podia ser doutra maneira. A virtualidade deste produto nom podia ser mais contrária à realidade social de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais: gordos/as e magras/os, novas/os e velhos, ricas/os e pobres... mas principalmente trabalhadoras e trabalhadores, polo simples facto de ser esta a maioria da nossa sociedade. Som precisamente as e os eleguebetês, as do povo trabalhador quem sofrem o heterossexismo e a homofobia mais cruamente com deficiência de recursos sociais e económicos para o outing ou o simples acesso a “vias de escape”. Vivendo em tantíssimos casos umha sexualidade e afectividade que nom lhes é própria, umha vida alheia e/ou um corpo com o qual nom se identificam. Somemos esta opressom às outras conhecidas e referidas. As lésbicas entretanto sofrem duplamente enquanto mulheres, vítimas da violência machista e enquanto lésbicas, atacadas por um heterossexismo que as torna invisíveis como pessoas e nega e
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Sexualidade desconsidera a sua sexualidade. Com a triste identificaçom geral de relaçom sexual (“foder”) com penetraçom, o sexo lésbico é visto como um “jogo erótico inocente” desvirtuado na pornografia machista heterossexual, que só existe para a delícia dos machos que desconhecem por completo que as mulheres nom precisam de um pénis, nem de sucedâneos, para terem umha relaçom sexual completamente plena. Eu até me atreveria a dizer que as relaçons sexuais lésbicas som numha imensa maioria mais prazenteiras que as das mulheres heterossexuais. E o que acontece com as e os transgéneros? Enquadremo-nos, antes de mais, na grave confusom e falta de informaçom-educaçom, ou melhor, na visom ignorante e interesseiramente deturpada sobre os nossos corpos. Consciência inculcado com a inestimável ajuda, nom queria deixar de falar nisto, da Igreja Católica no concreto, e dos valores (i)morais da tradiçom judaico-cristã no geral. A transexualidade ainda é vista
como um “caso extremo” do “problema homossexual”. Género, sexo biológico e orientaçom sexual misturam-se com a ignoráncia como fundo, oferecendo como resultado a incompreensom, a discriminaçom, a marginalizaçom, a exclusom social. A construçom do género masculino/ feminino, que aplica um papel artificial a cada sexo biológico traz consigo a violência machista contra as mulheres e portanto agride aos e especialmente às transexuais. Pessoas que decidem corajosamente construir o seu próprio género, o que sentem como próprio. A transexualidade é sentida como extremamente transgressora, por atacar em várias frentes as débeis e virtuais construçons do patriarcado sobre os nossos corpos e as nossas mentes. A contestaçom é violenta, sendo as transexuais excluídas e marginalizadas da sociedade, conduzidas em muitos casos ao exercício da prostituiçom nas condiçons mais deploráveis. Som, sem dúvidas, as mulheres transexuais
as que se encontram no patamar mais baixo da opressom, as que sofrem mais terrivelmente a violência homofóbica, ou melhor, transfóbica. Nom quero deixar de mencionar aqui um exemplo da mais extrema das violência contra umha pessoa. Gisberta: imigrante, sem-abrigo, transexual, toxicodependente, trabalhadora do sexo, seropositiva e tuberculosa. Torturada e violada com paus no ânus durante um período de três dias para depois ser atirada para um poço e deixada morrer numha obra abandonada. Crime de ódio acontecido em Abril de 2006 no Porto e que tem como autores 15 jovens (14 deles menores), os quais se encontravam sob a responsabilidade de umha instituiçom dependente da Igreja. Crime que, mais de um ano depois, está impune. Isto é com o que se enfrenta o movimento LGBT, porque a homofobia nom é um simples preconceito e a heterossexualidade nom é umha simples orientaçom sexual. Cumpre umha resposta forte e
As lésbicas, os gays , as/os bissexuais e as/os transexuais devemos deixar de umha vez para sempre de pedir permissom, aceitaçom, toleráncia a quem nos exclui e acredita na sua superioridade moral, a quem beneficia das vantagens da sua superioridade social . Devemos deixar esta modéstia forçada de lado para convertermo-nos em autênticas e autênticos agentes da (re)construçom da realidade. Porque a nossa forma de sentir e amar, os nossos afectos e prazeres som dignos e bons. Porque a sexualidade humana é, felizmente, muito mais diversa que esses rótulos “gay”, “lésbica”, “bissexual”, “transexual”, “hetero”, ... sob os quais somos obrigadas a encaixotarnos. Rótulos, no entanto, que hoje temos de defender com firmeza e portar com ORGULHO.
CONTRA A MERCANTILIZAÇOM DA LUITA LGBT Combatamos o heterossexismo, erradiquemos a lesbigaytransfobia Chega o 28 de Junho, dia do Orgulho LGBT, e encaramos novamente um dia de comemoraçons, festejos e reivindicaçons. Neste ano é celebrado na capital do Estado espanhol o Europride, um evento a nível europeu disfarçado de marcha polos direitos LGBT que nom é outra cousa que umha macro-festa patrocinada por multinacionais. Isto desprestigia, disfarça e dissolve a nossa luita, a luita da sexualidade dissidente, o trabalho verdadeiro de lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros do mundo polo simples direito à igualdade, ao respeito. Na data de hoje, NÓS-Unidade Popular quer apoiar as iniciativas reivindicativas das organizaçons LGBT do nosso país, especialmente as que combatem mais frontalmente o heterossexismo e rechaçam a desideologizaçom do movimento.
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A nossa organizaçom tem participado e participa destas iniciativas e entendeas como parte da sua luita por umha Galiza melhor, em que podamos viver livremente como mulheres, como galegas e galegos, como trabalhadoras e trabalhadores e também como transexuais, gays e lésbicas. Somos conscientes de que rotularmonos como heteros ou homos, e mantermos essa contradiçom é só umha estratégia. Acreditamos na artificialidade dessa construçom em que a heterossexualidade é o modelo imposto violentamente e ligado indiscutivelmente ao patriarcado. Defendemos umha sexualidade despojado dessas limitaçons, umha sexualidade sá e livre do preconceito. Neste sentido a escola é um instrumento básico e fundamental, devemos lutar por um ensino livre de homofobia, em que se aprenda a desfrutar do nosso corpo e nom a
repudiá-lo a viver a nossa sexualidade e nom a reprimi-la. Encontramos isto aliás, grandemente ligado com a luita contra o patriarcado. O heterossexismo e o machismo som caras de umha mesma moeda, a moeda da violência que esta sociedade capitalista desumana aplica contra quem é diferente, contra quem “se desvia” da norma estabelecida. Da mesma maneira que a construçom de género masculino/feminino, aplicando um papel artificial a cada sexo biológico, traz a violência machista contra as mulheres, discrimina, humilha e agride especialmente às e aos transexuais que decidem corajosamente construir o seu próprio género. Mais um ano queremos mostrar a nossa solidariedade com os colectivos LGBT e alimentarmos a combatividade pola igualdade total de direitos, contra o preconceito e contra o ódio irracional. A lesbigaytransfobia, que lésbicas, gays,
Sem oposiçom da esquerda soberanista, o bipartido ganha espaços no ámbito municipal
combativa, que nom se limite ao meramente folclórico nem a tímidas reivindicaçons limitadas por complexos completamente entendíveis mas que necessitamos superar já.
bissexuais e transgéneros sofrem cada dia em todo mundo. Somos conscientes do caminho já andado mas também sabemos que a Galiza e o mundo que queremos ainda fica muito longe. Por último nom queremos deixar de criticar a falta de compromisso real dos nossos governos, cujos representantes dam hoje apoios pontuais e posam na foto e no resto do ano desouvem as necessidades dos colectivos LGBT. Colectivos que com o seu trabalho fam possível que mais um ano as ruas da cristianíssima Compostela se tinjam de todas as cores da diversidade. Combatamos o heterossexismo, Erradiquemos a lesbigaytransfobia. Viva o 28 de Junho! Permanente Nacional de NÓS-UP 28 de Junho de 2007
Antes mesmo de chegarem, as eleiçons do passado dia 27 de Maio tinham já confirmado o principal dado de relevo para as espectativas do significativo sector social adscrito ao soberanismo de esquerda: nom há referente eleitoral unitário e capaz de aglutinar o voto anticapitalista e autodeterminista, apesar das imelhoráveis condiçons objectivas para que esse sector pudesse plasmar a sua verdadeira dimensom social nas instituiçons municipais. Para além desse facto incontornável, o 27 de Maio deixou em evidência três grandes tendências: a fortaleza do abstencionismo, tradicionalmente de esquerda; a perda de apoios do PP e do BNG; e o aumento do PSOE e de Izquierda Unida. Quanto ao aumento da abstençom, que atingiu 37’03% e 977.322 votos, deixa ver a existência de muitos milhares de votos de esquerda que nom tenhem opçom válida e optam por ficarem na casa. Quando se consegue umha activaçom extraordinária desse voto, para forçar derrotas do PP, por exemplo, é que se confirma o carácter maioritariamente de esquerda desse sector tam numeroso de abstencionistas que, desta vez, voltou a afirmar-se como força maioritária, apesar da intensa e milionária propaganda. O Partido Popular perdeu mais do que indicam esses 39.000 votos e 1,6 pontos percentuais. Perdeu o controlo de numerosos concelhos, nomeadamente os mais povoados, e de mais duas deputaçons (Lugo
e Ourense), que se somam à da Corunha, que já dominavam o PSOE e o BNG. Nas cidades, todo indica que o PP ficará fora dos governos das 9 principais (Vigo, Corunha, Compostela, Ourense, Lugo, Ferrol, Ponte Vedra, Vila Garcia e Narom). Apesar de ser ainda a força mais votada, o seu poder perde posiçons quantitativa, mas sobretodo, qualitativamente. O caso do BNG é mais paradoxal. Perdeu 11.000 votos em relaçom às eleiçons de 2003, mas aumentou de maneira importante o número de cargos públicos e concelhos que poderá vir a governar. Vai integrar-se em governos de coligaçom de todas ou quase todas as cidades (ficam Ferrol e Narom na dúvida), apesar de ter perdido votos e vereadores na maioria delas (Ourense, Ferrol, Ponte Vedra, Compostela, Vigo, Vila Garcia…). Mas vai governar também Monforte com maioria absoluta, e outros concelhos importantes, como Carvalho, coligado. Perdeu também maiorias absolutas destacáveis, como a das Pontes, e outras históricas como a de Fene (com presidente da Cámara do BNG desde 1979), mantendo, no entanto, outras como Mugardos (em coligaçom) ou as absolutas de Alhariz, Rairiz de Veiga e Vilar de Santos. Em definitivo, o BNG continua a perder apoios eleitorais, mas sai reforçado em representaçom institucional, o que dá oxigénio à sua direcçom até a chegada das próximas eleiçons, único referente da anémica vida orgánica do Bloque. À sua esquerda, IU ocupa um espaço historicamente identificado
com o BNG, apesar de, na realidade, o “esquerdismo” sucursalista nom passar de um reformismo vácuo. A razom de que IU consiga recuperar votos (uns 3.000 votos, superando já os 22.000 e chegando aos governos de Ferrol, Vila Garcia e Cangas), está, de umha parte, nesse abandono expresso das “veleidades” de esquerda polo BNG; e de outra parte, no referente mediático que, apesar do seu declínio, a marca espanhola continua a fornecer à sucursal galega. E, finalmente, a situaçom de fragmentaçom da esquerda independentista galega dificulta que poda surgir umha alternativa anticapitalista e soberanista. Isso é o que também nos mostrou o passado dia 27: das três listas soberanistas que se apresentárom (umha em Ponte Areas e duas em Vigo), só a primeira (Ponte Areas de Esquerda) conseguiu um resultado minimamente aceitável, superando o 1% dos votos emitidos (1’26%). As duas apresentadas em Vigo (Vigo de Esquerda e FPG) ficárom por baixo de 1% inclusive somadas, dando mostras das carências da esquerda soberanista no campo eleitoral. Quanto à candidatura de esquerda apresentada em Cangas, que conseguiu um mui positivo resultado (3 representantes que condicionarám a formaçom do novo governo), nom pode ser definida como de esquerda soberanista, ao integrar umha força autonomista e reformista como é
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NÓS-UP analisa dos resultados do 27-M
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Eleiçons Municipais
Izquierda Unida. NÓS-Unidade Popular avalia, portanto, estas eleiçons, como as da consolidaçom do bipartido no poder municipal, graças em boa medida ao poder de influência de contarem PSOE e BNG com o poder autonómico; as do relativo declínio do PP, nom tam marcado como parece indicar a perda de importantes praças institucionais; as da recuperaçom de espaço por parte de IU, aproveitando a fugida ao centro do BNG; e as do chamado à reflexom do relativamente amplo espaço sociopolítico soberanista e de esquerda, que nom consegue afirmarse no ámbito institucional devido à falta de um projecto unitário e plural que afronte, entre outras, essa necessidade objectiva para o nosso povo trabalhador. Fazendo essa leitura e assumindo a quota-parte que nos corresponde na responsabilidade polas carências indicadas, NÓS-UP continuará a trabalhar, na convicçom de que, seguindo o exemplo dos companheiros e companheiras de Ponte Areas, passo a passo, é possível avançarmos em direcçom ao objectivo da consolidaçom, na Galiza, de um projecto político pola soberania nacional plena e o socialismo. Direcçom Nacional de NÓS-UP Galiza, 1 de Junho de 2007
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Eleiçons Municipais
Valorizaçom de Vigo de Esquerda É indubitável que os resultados eleitorais fôrom adversos para o projecto plural e integrador da esquerda soberanista representado por Vigo de Esquerda. Os 313 votos atingidos pola nossa candidatura estám muito por baixo das possibilidades reais do espaço sócio-político que pretendiamos ocupar. Nom fomos capazes de arrastar o apoio eleitoral de centos de trabalhadoras e trabalhadores, de jovens, que umha vez mais optárom polo mal chamado “voto útil” ou pola abstençom. Esta situaçom, unida a divisom do campo da esquerda soberanista com a apresentaçom da candidatura da FPG, deu como resultado que Vigo de Esquerda foi incapaz de superar o mais negativo cenário. Perante este diagnóstico Vigo de Esquerda nom pode mais que reconhecer publicamente o pésimo resultado da iniciativa eleitoral, polo que nos vindouros dias adoptará umha decisom
a respeito do nosso futuro, derivada dumha leitura mais pormenorizada e com maior perspectiva. Finalmente queremos agradecer a confiança depositada às 313 pessoas que contra vento e maré optárom por apoiar Vigo de Esquerda. Vigo, 30 de Maio de 2007
Ponte Areas de Esquerda valoriza resultados eleitorais
Os resultados eleitorais de Ponte Areas de Esquerda som positivos por quanto constatam um incremento espectacular do voto da esquerda independentista na localidade. Os 159 votos, (1.26%), de Ponte Areas de Esquerda suponhem a multiplicaçom por sete dos resultados atingidos por NÓS-UP nas europeias de Junho de 2004 e nas autonómicas de Junho de 2005. Embora ainda estamos muito longe do mínimo respaldo eleitoral necessário para lograrmos representaçom institucional o apoio recebido 27 de Maio é umha modesta, mas esperançadora e
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clara mensagem de apoio ao trabalho realizado pola esquerda soberanista nestes dous últimos anos.
vimos fazendo, o melhor para os interesses da classe trabalhadora de Ponte Areas.
Ponte Areas de Esquerda quer agradecer publicamente a coragem e firmeza das 159 pessoas que apostárom pola nossa opçom conscientes das imensas dificuldades de atingir o número necessário de votos para poder ter representaçom municipal. A todas elas manifestamos que o projecto sócio-político que estamos construindo vai continuar, e que vamos seguir defendendo desde fora do Concelho, tal como até agora
Finalmente apelamos aos sectores soberanistas e de esquerda da localidade a converger connosco no desenvolvimento desta alternativa plural e integradora que Ponte Areas de Esquerda representa.
Ponte Areas, 29 de Maio de 2007
e a i r ó m Me m o s s e r p e r o d a z i l a na G o m s i u q fran O Dossier deste novo Voz Própria analisa um dos episódios menos conhecidos da nossa história contemporánea: a brutal repressom do fascismo sobre o povo galego após o golpe de estado militar contra a II República. Menos conhecido, mas também um dos que mais condicionam e melhor permitem entendermos o presente. Com o objectivo de eslarecer parte destes acontecimentos que provocárom milhares de mortes, dezenas de represálias e forçárom o exílio de amplos sectores sociais, apresentamos quatro trabalhos de prestigiosos historiadores. O professor da Universidade de Vigo, Ángel Rodríguez Gallardo, analisa em ”A repressom na Raia. Portugal solidário” as intensas relaçons
entre franquismo e salazarismo, mas basicamente o apoio solidário do povo português com o antifascismo galego. Dionísio Pereira aprofunda em Às voltas com a memória dos vencidos a imensa lousa de esquecimento e ocultaçom provocada por 40 anos de ditadura e os acordos vergonhentos da Transiçom Eliseo Fernandez constata o grave dano provocado à vigorosa organizaçom da classe operária existente em 1936 em A repressom franquista contra o movimento operária. Finalmente Carlos Velasco, professor da Universidade de Corunha, sintetiza as estratégias e conseqüências das múltiplas e diversas medidas repressivas em Repressom franquista na Galiza.
DOSSIER CENTRAL
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A repressom na Raia Portugal solidário Ángel Rodríguez Gallardo Universidade de Vigo Com o golpe fascista de 1936, a Raia galego-portuguesa viu-se blindada por forças policiais e militares portuguesas e espanholas que tinham a missom de impedirem a fuga de pessoas galegas para Portugal. A vigiláncia da fronteira foi um assunto estratégico para Portugal, receoso com a entrada ilegal de pessoas refugiadas, especialmente daquelas reconhecidas como ‘vermelhas’. Entre Agosto e Dezembro de 1936, data em que a Raia entre Espanha e Portugal ficou a ser controlada definitivamente polos militares golpistas, o número de militantes de organizaçons galegas de esquerda que entrou en Portugal foi notável.
fronteirizas, escondidos galegos.
Desde Agosto de 1936, para entrar legalmente em território português era necessário levar umha carta do Cônsul do país de origem, com a garantia tanto de nom defender ideias extremistas como de carecer de antecedentes penais.
Inicialmente, do conjunto de pessoas apanhadas a fugir, as autoridades portuguesas priorizavam as devoluçons das personalidades relevantes reclamadas pola Espanha; esta medida alargou-se logo ao resto de refugiados no intuito de intimidar as populaçons de ambos os lados da Raia com as conseqüências previsivelmente violentas dessas entregas.
Desde os primeiros dias do conflito bélico, produzírom-se apresamentos de galegos em terras lusas. De facto, a polícia política portuguesa estivo seriamente preocupada com a passagem clandestina da Galiza para Portugal, sobretodo através da Raia Seca. Em várias ocasions, a PVDE (a antiga PIDE) pediu ao Ministério do Interior Português para se realizarem batidas nas zonas montanhosas
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onde permaneciam bastantes refugiados
Eram especialmente civis de filiaçom republicana ou esquerdista que fugiam de Franco e da repressom, mas também havia antigos militares, carabineiros e guardas civis, e, a partir de Janeiro de 1937, jovens ou reservistas galegos que se recusavam a ir para a tropa ou à guerra. A proximidade fazia de Portugal umha alternativa, quer para ficar algum tempo até se reduzir a violência, quer para exilar-se nos países da América Latina ou para incorporar-se à zona republicana.
Nos finais de Setembro de 1936 a maioria dos 500 presos estrangeiros nas cadeias da PVDE eram espanhóis; 65 eram galegos. Ainda, nesses dous meses de conflito bélico, 75 pessoas vinculadas laboral, política ou socialmente ao espaço geográfico galego sofrêrom algum tipo de
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detençom por terem vínculos directos ou indirectos com as pessoas refugiadas (por subministrarem documentaçom falsa, facilitarem alojamento ou por realizarem algumha gestom que permitisse umha rápida saída do país). Só se acrescentarmos os nomes portugueses e espanhóis da repressom em Portugal aos dos refugiados e refugiadas galegas, poderemos entender o verdadeiro efeito que os dous fenómenos repressivos peninsulares –o franquista e o salazarista– tivérom nas consciências comunitárias dos dous lados da Raia. Nom deve ficar de fora de este complexo fenómeno repressivo intercomunitário o antifascismo português, acusado de manter vínculos com as pessoas refugiadas e a militáncia comunista galega; tampouco os portugueses veteranos, acusados de formar parte das organizaçons de esquerda galegas; detidos pola PVDE ou entregados às autoridades lusas, protagonizárom julgamentos nos Tribunais Militares portugueses. Temos de incorporar à análise final da repressom na Raia as conseqüências da debandada de “carrilanos” (trabalhadores do caminho de ferro Samora-Ourense) quando se produz a vitória das tropas facciosas na Frieira (comarca do Berzo); umha certa percentagem eram castelhanos ou andaluzes que foram detidos
nos postos da PVDE de Chaves e Bragança. De estas detençons e de outras, havemos de interpretar um sentido colectivo do facto repressivo que apenas se pode compreender desde um profundo hibridismo sociocultural. Porque o fenómeno repressivo ligado à Raia a partir de 1936, só pode analisarse dentro de um contexto que abrange um espaço com ligaçons geográficas, históricas e culturais muito estáveis, onde as redes comerciais, laborais, sociais e familiares tinham presença nesse espaço fronteirizo desde muitos séculos atrás, como traços identificadores de certa coesom mais ou menos permanente. Este contexto amalgamado explica que muitas pessoas galegas, ou portuguesas ou espanholas que trabalhavam na Galiza, atravessassem a Raia para se abrigarem da perseguiçom dos militares rebeldes e dos falangistas. Sabiam que do outro lado da Raia contavam com cumplicidades familiares, de amizade ou económicas, porque levavam anos a se relacionarem entre si e a partilharem as mesmas redes de sociabilidade. Essa secular mestizagem galego-luso-espanhola evidenciou-se com a deflagraçom da guerra civil; muitos portugueses e espanhóis ajudárom directa ou indirectamente os galegos e as galegas que atravessavam a fronteira. Este grau de implicaçom da populaçom transfronteiriza explica que o número de portugueses e espanhóis detidos pola PVDE acusados de protegerem antifranquistas ou indocumentados galegos, de passarem pessoas para Portugal, de serem enlaces da guerrilha, de realizarem propaganda política ou de colaborarem com os prófugos militares seja tam elevado como o número de refugiados galegos detidos pola mesma polícia. Entre 1936 e 1950 fôrom detidas oficialmente 474 pessoas galegas pola PVDE (da província de Ourense 245, de Ponte Vedra 198, da Corunha 24 e de Lugo 7); chegam a 508 se acrescentarmos 34 presos de procedência duvidosa que semelham também ser originários da Galiza. Nesse mesmo período, entre 1936 e 1950, os portugueses e espanhóis (especialmente asturianos, leoneses e samoranos) detidos nos postos policiais e fronteirizos do Norte de Portugal chegam a 592. Muitos portugueses e portuguesas comprometidas com a causa
republicana fôrom imediatamente expulsas da Galiza, entregues aos postos da PVDE da fronteira e conduzidas às direcçons centralizadas da polícia internacional portuguesa, nomeadamente à de Porto ou Lisboa. Quer dizer, a repressom franquista na Galiza estende os seus efeitos ao território português através das pessoas de nacionalidade portuguesa ou espanhola que atravessárom a fronteira por qualquer ponto do Norte de Portugal. Se juntarmos os dous dados –502 galegos detidos e 592 nom galegos vinculados vitalmente ao Norte de Portugal–, obtemos o número final de 1.100 pessoas detidas pola PVDE relacionadas com esse espaço geográfico que denominamos Raia. Seria interessante extrapolarmos esses dados por forma a conhecermos o número de famílias afectadas, de aldeias e vilas castigadas ou de comarcas e regions fiscalizadas policial e militarmente. Um número importante de refugiadas e refugiados galegos permanecêrom na fronteira portuguesa em busca e captura durante meses, e mesmo anos, até conseguirem a documentaçom que lhes permitisse sair do país ou deslocar-se. Estamos a falar, é claro, de documentaçom falsa que era subministrada por umha rede em que estavam envolvidos membros de diferentes setores sociais portugueses. Outros refugiados atravessárom a Raia com documentaçom de familiares de origem brasileira ou argentina que já tinham morrido, onde incluíam como “morada” os alojamentos ou casas portuguesas que os acolhiam. Estas falsificaçons provam que havia umha considerável rede de enlaces em território português para aqueles galegos ou galegas que necessitavam a documentaçom para se moverem polo país. A identidade como súbdito da América Latina garantia um melhor e mais seguro tránsito por Portugal e acelerava o processo de embarque para a América. Esta rede completava-se com contactos nas agências de emigraçom e mesmo em certos Consulados em Portugal. O Ministério espanhol dos Negócios Estrangeiros queixou-se em mais de umha ocasiom da atitude dos seus cônsules, que autorizavam o tránsito de espanhóis em Portugal sem esperarem a confirmaçom oficial dos governadores civis (responsáveis últimos da autorizaçom). Em todo o caso, estamos a falar de passaportes amanhados e de documentaçom
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arranjada, que devia ter um custo final elevado. Em diferentes países europeus, durante os anos trinta, quando os judeus que fugiam do Hitler pretendiam entrar em Portugal, os passaportes lusos chegárom a custar 70.000 francos, 2.000 liras ou 3.000 marcos. No final da guerra civil, o PCE mantinha pontos de entrada no norte de Portugal controlados por refugiados que ali operavam. O grupo de refugiados estabelecido nessas serras diversificou durante vários anos as actividades, pois nom só se dedicárom a actividades políticas ou guerrilheiras, mas também ao contrabando ou à obtençom de documentaçom para sair de Portugal ao México. Parte dos refugiados galegos que entraram em território português desde o início da guerra contou com o apoio da comunidade espanhola residente em Lisboa simpatizante da República. No fim da guerra, recebêrom umha ajuda de umha organizaçom humanitária relacionada com a Igreja quaker americana: a American Friends Unitarian Service Committee, cujos membros eram habitualmente conhecidos como os “unitarian” e tinham contactos clandestinos com os partidos comunistas da Europa. Em Portugal, os Unitarian Service Committee (USC) sintonizárom com a oposiçom portuguesa, especialmente com os comunistas, e participárom nas actividades de ajuda e distribuiçom de material para os refugiados espanhóis durante a guerra civil. A PVDE controlou logo a USC, já que tinha suspeitas da relaçom que mantinha com os serviços soviéticos e do labor de colaboraçom logística e operativa com os exilados espanhóis. De maos dadas com a polícia ou com o exército espanhol, a PVDE perseguiu muitos destes refugiados espanhóis e galegos acusados de comunistas, de militarem durante a guerra em organizaçons de esquerda ou de fazerem parte dos grupos guerrilheiros que empregavam o Norte de Portugal como ponto de apoio. Apesar das periódicas quedas, em Novembro de 1940, a estrutura do PCE em Portugal estava relativamente estabelecida, com umha tipografia clandestina do Mundo Obrero nas redondezas de Lisboa e com duas ligaçons importantes de entrada na Espanha, umha delas no Norte, com o apoio de umha célula em Vigo. A 5 de Março de 1941 produz-se
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um enfrentamento no Porto entre um grupo de refugiados comunistas galegos e vários polícias portugueses, com o resultado de um legionário português e um soldado da Guarda Fiscal falecidos e un agente da PVDE gravemente ferido. Se antes de este enfrentamento as autoridades portuguesas já estavam a intensificar o controlo sobre os refugiados galegos e espanhóis no Norte de Portugal, a partir de este incidente agravou-se a repressom sobre essa comunidade de exilados; desmantelárom-se os pontos de apoio do PCE entre Março e Abril de 1941 (também a tipografia clandestina do Mundo Obrero), os contactos com os refugiados no Norte de Portugal e a maior parte da estrutura que sustentava a comunidade espanhola em Lisboa, onde havia umha boa representaçom de galegas e galegos. Muitas de estas galegas, vinculadas ao comércio lisboeta, padecêrom a vaga repressiva com vários meses de cadeia nas prisons portuguesas. Apesar de que a partir de Julho de 1941 o PCE retoma o objectivo de manter umha estrutura sólida em Portugal, os erros de organizaçom e as quedas de quadros em diferentes lugares da Península acabam por impossibilitálo; nom podemos esquecer que isto acontece num contexto de militantes bandeados por deslocamentos clandestinos constantes em penosas condiçons, no meio de umha guerra mundial e dentro dum país que padecia umha ditadura pro-nazi. Os grupos de refugiados e de
guerrilheiros que empregavam Portugal como lugar de protecçom começárom a ter problemas com a cada vez maior presença de forças policiais portuguesas na Raia, especialmente aqueles que tinham contactos estáveis na zona de Montalegre, Chaves e Vila Verde da Raia (em Outubro de 1939 a passagem de um grupo de asturianos encabeçados por Marcelino Fernández Villanueva “Gafas” que pretendia embarcar no Porto, deixara umha primitiva rede de enlaces e apoios que fôrom utilizados por outros guerrilheiros, sobretodo entre 1942 e 1946, durante os quais a Federaçom de Guerrilhas de LeomGaliza conseguiu vertebrar quase um cento de homens). Nesses anos o controlo da Raia aumentou depois das mortes de dous chefes da Falange, de um guarda civil perto de Ourense e de outras três mortes nas terras de Montalegre. O enfrentamento em Setembro de 1945 dos membros do grupo de Demétrio Garcia Álvarez O Pedro e Juan Salgado Riveiro O Juan, vizinhos de OimbraVerim, com apoios no Cambedo e no Barroso, quando tentavam assaltar a carreira Verim-Ourense e fôrom surpreendidos pola Guarda Civil, piorou a situaçom dos refugiados no norte de Portugal, já que no combate morreu o motorista do autocarro e um guerrilheiro. A partir de este acontecimento incrementou-se o operativo de controlo sobre a fronteira. A 22 de Dezembro de 1946 produziuse o cerco e bombardeamento do
Cambedo, no qual fôrom mortos Juan Salgado Rivero e Bernardino Garcia; Demétrio Garcia Álvarez e mais de um cento de portugueses fôrom detidos. Esa batalha, a de Cambedo, permanece na memória colectiva da Raia como símbolo da solidariedade fronteiriza, e tem umha significaçom política e social acrescentada: as comunidades que partilham secularmente o mesmo espaço geográfico como pano de fundo das relaçons estám por cima da constituiçom arbitrária dos Estados.
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As voltas com a memória dos vencidos Dionísio Pereira
Grupo de guerrilheiros nos montes galegos no ano 1942
Quando em Dezembro de 2006 o reeleito presidente da Cámara Municipal de Cerdedo, Sr. Balseiros Guinarte (PP), justificou a decisom do seu Grupo de revogar a decisom tomada meses atrás pola Vereaçom de retirar o rótulo de umha rua dedicada ao ex-presidente Manuel Gutiérrez Torres, na realidade tentava referendar a história oficial construída no franquismo em relaçom ao derradeiro presidente cerdedense filiado à Falange Espanhola.
Gallego numha entrevista realizada em 14/3/1954 definia o munícipe como “activo e dinámico autarca”, amiúde debruçado na ingente tarefa de erigir “o Centro Rural de Higiene e a Casa do Médico; abertura de duas ruas em Cerdedo; iluminaçom pública no Município; construçom de 39 fontes, 23 lavadouros e 33 bebedouros para animais nas diferentes paróquias e, próximo a inaugurar-se em Cerdedo um formoso edifício escolar, com residência para o mestre”.
O actual presidente afirmou que o Grupo Popular mudou de opiniom depois de umha investigaçom levada a cabo nos arquivos municipais e na qual nom só nom fôrom encontradas provas da suposta implicaçom do seu antecessor no cargo na repressom desatada após o golpe militar, mas, revisada a documentaçom, acreditariase também que tinha sido um bom alcaide e até significado polas suas atitudes “humanitárias”: diz que se arruinou por cobrar de menos nos medicamentos às pessoas necessitadas na farmácia que geria.
Até aqui a recriaçom oficial; umha história de vencedores ao seu próprio serviço. Mas há outra história, a dos vencidos, que, nom sem múltiplos entraves, tenta avançar questionando a versom oficial que, de forma teimosa e cúmplice, tenta perpetuar o actual munícipe de Cerdedo. Partindo destas premissas, quem foi na realidade o expresidente Gutiérrez?
A história oficial, sustentada na documentaçom emanada pola Cámara Municipal no tempo da Ditadura, refere-se a umha cheia de obras públicas e infraestruturas, que, supostamente, se deveriam ao labor incansável do joseantoniano autarca. Ainda mais; o jornal El Pueblo
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MGT fazia parte de umha família profundamente conservadora, alicerce da reorganizaçom das capas monarquizantes em Cerdedo durante a etapa republicana. Numha necrológica dedicada aos irmaos Gutiérrez falecidos na contenda, o referido jornal correspondente ao dia 11/10/1938 conceituava Angel, Luis, Manuel e Francisco Gutiérrez Torres como “camisas velhas” e “os mais firmes activos da Falange de Montes”. Umha Falange cerdedense que um vizinho
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de Figueiroa, Rogelio Arca, assinalou numhas Memórias como responsável polo assassinato do seu pai Francisco e do seu camarada da CNT Severino Bugalho, na noite de 13 de Agosto de 1936. Em conseqüência, era factível e verosímil estabelecer hipóteses partindo da suposta intervençom de MGT e de outros assinalados correligionários cerdedenses nas represálias, que dérom como resultado o assassinato à brava ou o fusilamento de 18 vizinhos, ademais das detençons, penas de cadeia, expropiaçons, malheiras, etc. Era factível, além do mais, porquanto umha dúzia de informantes assinalárom a suposta presença de MGT nalguns destes factos, destacando a sua condiçom de mando falangista. Nos últimos tempos, estando já a família de MGT “em advogados”, as novas informaçons ao nosso dispor chovem sobre molhado: • Numha entrevista publicada no Faro de Vigo o dia 9/8/2006, MVC declarou que o seu pai, conhecido mestre socialista avizinhado em Cerdedo, fora preso e conduzido ao quartel da Guarda Civil por MGT e um número da “Benemérita”. • Umha informante, OV, de fusilado, apontou
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filha que,
efectivamente, na farmácia de MGT faziam-se descontos aos que apresentavam um carimbo que punham no Cámara municipal nas receitas dos aditos ao Regime, mas que a sua família nunca recebeu semelhante trato de favor. • As memórias manuscritas de JCC, antigo falangista cerdedense conhecido de MGT, descrevemno parando e registando umha camioneta à ponta de pistola a 21 de Julho de 1936, data em que a Guarda Civil e os falangistas se figérom com a vila. Posteriormente, situa três irmaos Gutiérrez (falta Francisco) no Quartel de Milícias da Falange ponte-vedresa, antes de saírem para a frente no dia 20 de Agosto de 1936. Tal e como relata JCC, nove dias antes foram conduzidos àquele mesmo Quartel seis vizinhos de Terra de Montes, dos quais quatro apareceriam mortos no dia seguinte na estrada de Ponte Vedra a Santiago. O escrito nom concreta autores, mas sim aponta que “o dos 6 anteriores nom pudem saber nada... nom sei se fôrom de Cerdedo, algum falangista, mas creio que sim por rumores e porque havia nervosismo em alguns”. Naquela estáncia sinistra tem lugar a seguinte cena, representativa do talante daqueles fascistas: “... quando estávamos a adormecer, ouvimos umha bofetada sonora que lhe deu Manolo Gutiérrez, que estava de imaginária, a um pobre diabo da inclusa que estava a fazer barulho e discutindo com Gutiérrez, que lhe tinha dado três vezes chiss! para que deixasse dormir...”. • No Arquivo da RAG conservase a ficha da Falange de MGT datada em 1951, pouco depois de aceder à Presidência da Cámara; e eis o seu informe político: “Com anterioridade ao GMN estava já filiado à FE, onde destacou polo seu grande entusiasmo polos ideais falangistas tendo sido detido pola sua actuaçom1. Foi voluntário desde os primeiros momentos da Cruzada Nacional, enrolado na Bandeira Legionária de FE. Ocupou diversos cargos na Organizaçom e na actualidade é Chefe Local do Movimento em Cerdedo e desempenha a Presidência da Cámara”. Completando esta ficha, no Arquivo Histórico Provincial encontram-se vários ofícios datados em 1945, nos quais MGT figura como Chefe Local da Falange. Ademais, o seu irmao
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Francisco ostenta o referido cargo entre 1937 e 1938. • MGT estivo pouco tempo na frente e encontramo-lo novamente em Cerdedo em Agosto de 1937, assinando um escrito incluído na Causa 8/37 seguida contra o falangista Ramom Bao Lagares (de Quireça), acusado de tentativa de fraude e homicídio frustrado. Naquele escrito, MGT, o seu irmao Francisco e um grupo de vizinhos de Cerdedo de ideologia direitista, exerciam de valedores do tal Lagares, apesar da confessom deste de se ter dedicado a extorquir, malhar e ameaçar convizinhos de Quireça e a Estrada conceituados como esquerdistas. • Por último, novas testemunhas orais reforçam a suposta implicaçom de MGT, e nom só em Cerdedo mas também na contorna de Soutelo de Montes: assim, JLV entrevistado em Cachafeiro (Forcarei), aponta MGT como um dos falangistas que prendêrom o seu irmao, militante da FETE-UGT, nos primeiros dias do chamado “Movimento Nacional”. Caberia, pois, concluir que a história “oficial” deita umha mesta brêtema sobre o passado supostamente obscuro de um autarca exemplar, merecedor do ponto de vista do actual presidente, dos edis do PP e, até poderia dizer, da maioria dos vizinhos do concelho de Cerdedo, de um reconhecimento especial como referente cívico das novas geraçons cerdedenses. Cousa que, com certeza, dá que pensar. Mas se a história oficial nom conta toda a história, para o investigador ou investigadora que tenta resistir aos fastos triunfais que acompanham o carro dos vencedores, nom é nada fácil. O seu labor, prolongado e incerto, é quando menos arriscado. Para levar a cabo umha recriaçom do passado crítica com a fachenda dos vencedores, deita mao de todo o tipo de fontes históricas para contrastar as hipóteses de partida: documentais, hemerográficas, bibliográficas, orais... A partir delas, pretende explicar uns factos de que os seus autores tentárom eliminar as pegadas, à procura de umha impunidade perdurável com a cumplicidade das novas autoridades. As fontes documentais som fragmentárias, havida conta da destruiçom, mutilaçom ou
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desorganizaçom de numerosos fundos, produto da inimiga dos franquistas inseridos na Administraçom, ou do desleixo induzido por umha desmemoriada Transiçom. E cabe lembrar que aos arquivos militares tam só pudemos aceder há poucos anos, quando os sobreviventes daqueles factos já som muito escassos. Contodo, a informaçom que as fontes escritas subministram em relaçom à “repressom paralegal” é bem modesta, porque muito poucos juízes investigárom aqueles factos que, excepto algum caso excepcional, ficárom impunes. Eis a referida Causa 8/37 seguida contra o falangista Bao e instruída no seu início polo juiz da Estrada e antigo galeguista Fermim Bouça Brei. Pois bem, apesar da explícita confissom do encartado descobrindo polo miúdo as falcatruadas cometidas no OutonoInverno de 1936 polas bisbarras de Tabeirós e Terra de Montes, quando o sumário passou à jurisdiçom militar a Causa foi arquivada sem mais, e os numerosos processados ficárom livres e sem mácula. Para acabar com as eivas e os entraves que os historiadores e historiadoras debruçadas nestas lideiras encontramos nestas fontes documentais, cabe lembrar que em muitos concelhos o acesso aos Registos Civis dista de ser público, e cumpre enfrentar a oposiçom de presidentes autárquicos, secretários ou juízes.
Afinal, a esta dura corrida de obstáculos acaba em mais ocasions das devidas aplicando-se a Lei de Enjuizamento Civil aprovada por Aznar no ano 2001; umha normativa que, esgrimida por chegados dos presumíveis repressores, salvaguarda a suposta honra destes ao mesmo tempo que dissuade historiador@s e informantes, coarctando a liberdade de criaçom científica em que se insere o labor d@s investigador@s. Para finalizar e já que estamos a falar da Justiça, Walter Benjamin opinava que o que a torna justa nom som os julgamentos justos, mas a presença de todas as injustiças. No nosso caso, esta premissa tam só é possível cumpri-la recuperando a memória dos vencidos, umha memória que a caverna teima em afundar, provocando umha segunda morte para quem se comprometeu com um ideário libertador e foi represaliad@ por essa circunstáncia.
Notas Na realidade MGT passou no depósito municipal de Cerdedo a noite do dia 19 de Julho, mais que nada para o proteger de possíveis represálias. 1
Quanto às fontes orais, conceituadas como as mais fiáveis no tocante à repressom “paralegal”, lembremos que na Galiza partimos ainda com mais atraso que no resto do Estado, pois o continuado domínio da direita na Junta intimidou nom poucos possíveis informantes, quanto mais se à sua frente estivo um antigo ministro de Franco. E já que mencionamos as intimidaçons, os que habitamos em zonas rurais onde nunca tivo lugar umha deslegitimizaçom do franquismo a nível municipal, sabemos de que estamos a falar. Os informantes, pessoas de idade e muito vulneráveis, continuam a receber de maneira directa ou através dos seus familiares numerosas recomendaçons para nom mexerem no passado. Os interesses criados nalguns descendentes de represaliados e o medo ao confronto vicinal nas aldeias fam o resto, sendo difícil a realizaçom de entrevistas com garantias mínimas para a sua conversom em fontes.
DOSSIER CENTRAL
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A repressom franquista contra o movimento operário
republicana. A resistência operária foi efectiva em muitas outras zonas da Galiza, dependendo basicamente de dous factores principais: o apoio de integrantes dos corpos armados leais à República e a possibilidade de obter algum tipo de armamento. O apoio dos carabineiros foi importante, por exemplo, na defesa de Tui ou na resistência no Barbança, enquanto que a posse de armamento prolongou a resistência dos carrilanos do sul da província de Ourense, ou dos mineiros de Vilaoudriz, Viveiro e Lousame, apetrechados a temível dinamita. Entre os episódios mais salientáveis da resistência antifascista está o das colunas de mineiros de Lousame e Viveiro que saíram para a Corunha. Quando
Só um mês depois do golpe militar, a situaçom laboral ficou estabilizada e as novas autoridades conseguírom reiniciar a vida normal da cidade. O preço que pagou a classe trabalhadora foi bem alto, pois os militares mesmo assassinárom militantes sindicais para conseguirem o fim da greve geral. Cinco destacados sindicalistas corunheses fôrom passeados pola cidade, sob ameaça de serem assassinados caso nom se reiniciasse a actividade laboral. Isso nom aconteceu, e os socialistas José Quintas e Juan Sábio, e os anarcosindicalistas Francisco Balhom, Jaime Rodrigues e Cipriano Alvite fôrom executados a 14 de Agosto de 1936. O assassinato de militantes sindicais nom foi exclusivo dos primeiros dias
as velhas estruturas dos sindicatos servírom para manter nos primeiros tempos da chamada guerra civil, algumhas estruturas clandestinas. Na Corunha cumpre destacar os trabalhadores dos sindicatos da pesca, de tendência anarcosindicalista, que entre os anos de 1936 e 1938 protagonizárom por volta de duas dezenas de fugas por mar que servírom para levar mais de um cento de militantes de todas as tendências da esquerda para a zona republicana. Enquanto alguns dos organizadores das fugas passavam à zona republicana, outros, como o veterano anarco-sindicalista corunhês Manuel Montes, mantivérom-se nos postos de “combate” ate 1938, com a desarticulaçom da rede clandestina e o
Eliseo Fernández
O levantamento de Julho de 1936 foi um golpe de estado executado polo exército, patrocinado pola oligarquia económica e inspirado nos mais bolorentos valores do catolicismo ultramontano e na imitaçom dos novos regimes fascistas europeus. Umha das motivaçons de este movimento foi a de acabar com o progressivo incremento de poder da classe trabalhadora organizada, que questionava as relaçons entre a classe trabalhadora e os proprietários dos meios de produçom, e mesmo ameaçava com a execuçom de umha transformaçom social radical mediante a força revolucionária. O período da II República representou para o movimento operário o momento culminante de um processo de acumulaçom de forças que tem as raízes no último quartel do século XIX. Desde a criaçom das primeiras organizaçons continuadoras da Internacional em Ferrol, Corunha ou Vigo, o movimento operário mantivo, com altos e baixos, umha luita continuada a favor da melhora das condiçons de trabalho e vida da classe operária, e polo incremento da participaçom nos processos de tomada de decisons; umha participaçom que se expressou politicamente nas sociedades de corte socialista, e de um modo mais diverso (associacionismo cultural e social de todo o tipo) no obreirismo anarquista.
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Ainda que o movimento operário tivo um espaço de influência primordial no cativo tecido industrial da Galiza, nos anos republicanos conseguiu ultrapassar esse ámbito para chegar a ter umha certa implantaçom no mundo agrário. Até esse momento as sociedades agrárias mantiveram um caminho praticamente independente do societarismo operário, mas a partir de 1931 (e especialmente no final do período) deu-se a criaçom de numerosas sociedades mistas de operários e agricultores. Este facto marcou umha mudança radical na sociedade galega: conseguiu introduzir no espaço rural muitos dos avanços preconizados polo movimento operário: melhoras laborais, culturais e sociais conquistadas em paralelo ao retrocesso do caciquismo mantido polas oligarquias conservadoras e clericais. Do mesmo modo, foi no período da II República que ocorreu umha forte incorporaçom da mulher ao movimento operário. Apesar da importáncia do trabalho feminino na nossa terra (tanto no mundo industrial como no agrário), a filiaçom a sindicatos de classe e a apariçom de um associacionismo especificamente feminino só se generalizou neste período. As melhoras laborais e económicas obtidas na luita sindical, por um lado, e a consolidaçom de umha consciência revolucionária exprimida
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nos levantamentos insurreccionais de 1933 (anarco-sindicalistas) e 1934 (socialistas), polo outro, eram umha séria ameaça para as oligarquias dominantes. Esta ameaça fijo-se ainda maior a partir de Fevereiro de 1936, quando a vitória das esquerdas nas eleiçons abriu o caminho a umha nova época reformadora a nível político e ao contraataque do movimento operário no campo económico-social. Quando ocorreu o golpe militar de Julho de 1936, a força organizada da classe trabalhadora viu-se forçada a assumir aquelas competências militares que os organismos do estado nom conseguiram exercer: detençom de conspiradores, confisco de armas, mantimento da ordem pública e luita frontal contra os militares sublevados. Em claras condiçons de inferioridade, as trabalhadoras e os trabalhadores galegos conseguírom dar a batalha aos golpistas e, em algumhas zonas da Galiza, mantivérom um efémero controlo do território face às tropas sublevadas. A resistência operária foi mais importante nos núcleos urbanos, onde a classe trabalhadora estava mais organizada e era mais numerosa: na Corunha, em Vigo e Ferrol (aqui com a cooperaçom de muitos militares da Armada), os sindicatos convocárom a greve geral e luitárom rua a rua para defender a legalidade
1936, enterro dum militante obreiro em Vigo
chegárom aos arredores da cidade, já estava em poder dos militares, mas o combate casa por casa, utilizando a dinamita, fijo com que os militares recuassem até os cantons e estivessem prestes a perder o controlo da capital provincial. Só o facto de esgotar-se o explosivo e o elevado número de baixas padecidas no combate conseguírom vencer os mineiros e dar o controlo da cidade aos militares sublevados. Há que salientar também, na cidade da Corunha, a prolongaçom da greve geral na maior parte dos ofícios até os meados do mês de Agosto de 1936.
do golpe militar, mas foi convertido em prática habitual das novas autoridades. Por toda a Galiza, organizadores operários e agrários fôrom objectivo principal das brigadas do amanhecer e dos pelotóns de fusilamento. A perseguiçom era o castigo pola actividade reivindicativa ou revolucionária nos tempos anteriores ao golpe, mas também representava umha acçom de pacificaçom da retaguarda e preventiva pola possibilidade da reorganizaçom da resistência operária. Apesar da dureza da repressom,
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seu assassinato. Militantes sindicais da Corunha e Ferrol participárom também em tentativas insurreccionais em esquadras de estas duas cidades, que, evidentemente, fracassárom. Nos quarteis de Intendência e de Atocha, na Corunha, e no de Dolores, em Ferrol, militantes de esquerdas que foram recrutados para luitar no bando nacional, tentárom tomar os aquartelamentos e iniciar um contragolpe que recuperasse estas cidades para o bando republicano, mas todos os intentos fôrom abortados e as pessoas que participárom neles
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pagárom com a vida a sua generosidade na luita antifascista. A maior parte das iniciativas clandestinas do primeiro tempo fôrom obra de militantes anarcosindicalistas. A militáncia comunista, menos numerosa que a anarcosindicalista ou socialista, viu limitada a actividade pola fraqueza das suas forças, e só conseguiu fazer algum tipo de actividade na cidade da Corunha, colaborando com as redes libertárias de evasom e publicando algumha folha clandestina. Socialistas ou republicanos, com menor experiência na luita clandestina, tivérom muitos problemas para desenvolver outra actividade que nom fosse sobreviver no estado repressivo fundado a 18 de Julho. A repressom física sobre os militantes sindicais foi acompanhada desde o primeiro momento pola desarticulaçom de todo o tecido asociativo ligado ao movimento operário: os sindicatos e as sociedades culturais ou desportivas suspeitas de esquerdismo fôrom dissolvidas e os seus bens fôrom roubados ou destruídos. A perseguiçom mesmo afectou as bibliotecas de centros sociais ou de particulares, “limpas” de todas aquelas obras que cheirassem às chamadas ideias “avançadas”. Alguns dos locais sindicais incautados passárom a ser utilizados pola Falange ou polos novos sindicatos da Central Obrera Nacional Sindicalista (CONS); umha organizaçom que fora criada em plena República, mas que nom conseguiu atrair a classe trabalhadora, e que foi refundada depois do golpe militar com o objectivo de aumentar o controlo sobre a classe trabalhadora e eliminar qualquer possibilidade de surgimento de conflitos laborais. Nom só os velhos locais sindicais fôrom aproveitados polo novo
sindicalismo fascista, mas alguns antigos militantes sindicais prestárom colaboraçom à CONS. Quer fosse por medo, debilidade nas conviçons ou por conveniência, alguns destacados militantes de esquerda participárom na articulaçom do sindicalismo fascista. Neste sentido cumpre lembrar o antigo militante anarcosindicalista Ernesto Sam Tisso, que colaborou na organizaçom do sindicato fascista en Culheredo, ou do antigo deputado socialista Alfonso Quinta e o advogado republicano Florentino Gonçales Vilamil, que participárom no lançamento do novo sindicalismo na comarca de Ferrol. No entanto, cumpre também destacar o exemplo do anarco-sindicalista corunhês José Vila Verde, que, umha vez detido, pudo ter salvado a vida em troca de colaborar com os sindicatos fascistas; Vila Verde rejeitou aquela envenenada oferta e foi assassinado. A repressom contra o movimento operário nom foi exclusiva dos primeiros tempos do golpe militar nem dos anos da guerra civil, mas um processo contínuo e constante de aniquilaçom física e moral da oposiçom destinado à erradicaçom total do sindicalismo de classe na nossa terra. Os militantes sindicais galegos fôrom assassinados na sua própria terra ou morrêrom bem longe dela, combatendo no exército republicano, na II Guerra Mundial, ou extinguindose no ingrato exílio. Depois da desapariçom das primeiras redes clandestinas, só sobrevivêrom redes informais de antigos militantes sindicais e familiares seus, que mantivêrom actividades de solidariedade com as pessoas presas e perseguidas. Estes restos do tecido societário serviriam no começo dos anos 40 de base para umha efémera recuperaçom das forças de esquerda, bem no campo político (com organismos como a UNE e a
ANFD) ou no militar, como apoio aos grupos guerrilheiros. Na breve Primavera que coincidiu com o fim da II Guerra Mundial, mesmo houvo umha ligeira recuperaçom do sindicalismo operário em cidades como Ferrol ou Vigo, onde tivérom lugar movimentos de protesto polos problemas laborais e sociais da classe trabalhadora. Primeiro foi nos estaleiros ferrolanos, onde os trabalhadores figéron umha greve de braços caídos em Junho de 1946, em protesto pola supressom de parte do racionamento de azeite. A “greve do azeite” nos estaleiros ferrolanos foi seguida de um movimento similar na fábrica de cerámica “Álvarez” de Vigo, alguns meses depois, quando 500 trabalhadores se declarárom em greve ao nom receber o racionamento que lhes correspondia. Mas a consolidaçom do regime franquista a partir dos anos 50, graças ao apoio dos USA, e o fracasso das tentativas de restauraçom republicana, levárom ao esmorecimento total do sindicalismo de classe na Galiza. A repressom que seguiu às actividades clandestinas dos anos 40 levou novamente à cadeia muitos organizadores operários e frustrou o renascimento das organizaçons sindicais. A transmissom da “cultura operária” ficou reduzida a ámbitos cada vez mais restritos e a sua influência no novo sindicalismo surgido nos anos 60 foi mais bem escassa. Ainda que as novas geraçons militantes do final do franquismo consideravam o sindicalismo de pré-guerra como referente ideal, a níveis práticos, o regime franquista desfigera totalmente aquele vigoroso movimento operário dos anos republicanos.
Sindicato de padeir@s vigueses
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Repressom franquista na Galiza Carlos F. Velasco Souto Entre 1936 e 1954 Galiza sofreu umha das maiores carniçarias da sua história. Milheiros de galegos e galegas da mais variada condiçom social e adscriçom profissional fôrom assassinados, presos, torturados, roubados, vexados… numha operaçom de calculado genocídio executada polos representantes do fascismo na nossa terra. As razons que subjazem a esta monstruosa campanha de extermínio há que procurá-las no alto grau de articulaçom e consciência de classe alcançado pola nossa sociedade durante o período republicano (19311936). Contrariamente ao afirmado durante tanto tempo, Galiza estava muito longe de ser na altura o país amorfo, conformista e submisso que certas visons tópicas e interesseiras teimárom em nos transmitir durante o pós-guerra e boa parte da mal chamada Transiçom. O ricaz tecido associativo de todo o tipo e mais o próprio dinamismo característicos desta sociedade (em transe de mutaçom qualitativa, com umha classe operária emergente e afouta e umha populaçom altamente politizada nos seus segmentos de vanguarda) estám aí para o demonstrarem. Pois bem, foi precisamente a necessidade, para as classes dominantes alentadoras do fascismo, de destruírem a todo o custo essa vertebraçom social sem precedentes das camadas subalternas (pequena-burguesia democrática, operários, labregos e marinheiros) o que motivou em última instância a extraordinária dureza da repressom franquista no nosso território. Com
maior motivo se levamos em conta o facto de essas mesmas camadas serem o suporte fundamental de um regime republicano visto como umha ameaça para o modelo de dominaçom da burguesia e os seus aliados, o exército e a igreja. Os afectados pola vaga repressiva fôrom homens e mulheres pertencentes a todas as classes conformantes do corpo social galego, com especialíssimo destaque para as camadas humildes: operários, camponeses, marinheiros e trabalhadores manuais em geral. Fôrom elas, sem dúvida, as mais duramente golpeadas pola sanha dos carrascos, em razom tanto da sua maior organizaçom quanto de terem sido as mais resolutas a fazer frente à tentativa insurgente. Mas o rodopio sangrento atingiu também intelectuais, pequenos empresários, gentes de profissons liberais, donas de casa e mesmo militares opostos ao golpe e burgueses de simpatias republicanas, que haver os houvo. Igualmente fôrom represaliados os representantes da autoridade constitucional republicana em todas as suas escalas e níveis, bem como pessoas relacionadas com todo o abano de forças políticas e sindicais, correntes de pensamento e ideologias vencelhadas à Frente Popular, para além, naturalmente, do movimento libertário. As modalidades exibidas pola repressom abrangem desde o assassinato legal e para-legal (fusilamentos e passeios) até a prisom (quer em cárceres, quer em campos de concentraçom e trabalhos forçados),
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passando por multas, roubos, extorsons e saques de diversa índole (repressom económica), a discriminaçom laboral, a censura e o obscurantismo ideológico; sem contarmos as tundas, torturas, violaçons, maus tratos e humilhaçons de todo o tipo padecidas polos vencidos. Quanto ao número e identidade das vítimas, ainda nom possuímos a sua relaçom completa. Mas havemo-los de ter a nom tardar, umha vez concluídas as investigaçons actualmente em curso. Só o número de assassinados, ultrapassa com toda a probabilidade os cinco milhares. Quando vam lá mais de setenta anos desde o início da tragédia, é de desejar que este passado Ano da Memória tenha suposto um primeiro e decisivo impulso para a recuperaçom da nossa história recente e o reconhecimento (com toda a honra devida) de aqueles nossos devanceiros que tanto sofrêrom. Em qualquer caso, fiquemos sabendo que, se sofrêrom, nom foi por um caprichoso azar do destino, mas por aspirarem a umha vida melhor e terem trabalhado conscientemente para a conseguir; por considerarem, em definitivo, que pagava a pena luitar. Que isto nos sirva ao menos de mínima reparaçom aos seus descendentes e nos forneça da vontade de seguirmos o seu exemplo, neste tempo em que de novo a negra sombra do fascismo, sob capa de Partido Popular, paira ameaçadora sobre o nosso futuro colectivo.
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Paulo análise Parga
Quais som as bases e os princípios ideológicos sobre os que se alicerça o projecto? O fundamento de Gausa GZ é o de compactar forças autodeterministas, e ao mesmo tempo socializar a reivindicaçom do direito a decidir do Povo galego. Todo isto de umha perspectiva de esquerda, quer dizer, unindo os direitos nacionais da Galiza com os direitos da maioria social, a classe trabalhadora galega. O modelo organizativo permite a presença de forças políticas e organizaçons sociais, assim como adesons individuais. Como se estrutura internamente Causa Galiza? Causa GZ tem umha base assemblear, embora haja umhas comissons técnicas abertas- que por enquanto fôrom mui
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entrevista
Paulo Parga
Madeira- em Lugo e um dos co-porta-vozes da Causa Galiza, iniciativa convocante do Dia da Pátria deste ano com o apoio da totalidade do soberanismo de esquerda
Como foi o processo de gestaçom e desenvolvimento da iniciativa que partiu de umha reuniom convocada a inícios de Março deste ano polas Bases Democráticas Galegas? A partir de umha primeira junta, houvo umha série de reunions preparatórias de um Plenário Nacional decorrido a 2 de Junho, onde umha ampla representaçom da esquerda independentista e/ou autodeterminista aprovou o que hoje é a iniciativa chamada Causa Galiza. Causa GZ é umha entidade que luita polo reconhecimento do direito democrático a que Galiza decida livremente o quadro jurídico-político e social que arela.
participativas– onde se fai o trabalho mais técnico. Com este modelo é possível que qualquer pessoa –esteja organizada políticamente ou nompoda participar em igualdade de condiçons. Aliás, para fazer operativos os labores própios de Causa GZ existe o seguinte organigrama: umha comissom de finanças, umha comissom de comunicaçom e outra de propaganda. Com que apoios conta até o momento Causa Galiza? No seio de Causa GZ acha-se a maioria do abano de forças políticas da esquerda patriótica galega, além disto, há representaçom do ambientalismo, do feminismo ou do movimento antirepressivo. A participaçom de pessoas a título individual é também importante, assim como a de representantes da rede de centros sociais nacionalistas. Som públicas entre a base social da esquerda independentista a existência de divergências no seu seio a respeito dos parámetros ideológicos e da orientaçom da reivindicaçom nacional. Acho que se costuma magnificar muito as diferenças existentes entre o socialismo identitário. As diferenças som muito menores do que se poderia pensar às vezes, pretender afondar nessas diferenças é um grande erro. O cómodo é estar cada qual com o seu grupinho de afins, mas o patriótico é tentar superar as pequenas diferenças que há e unir forças pola Causa galega. Só há que respeitar as micro-identidades e pôr em valor
entrevista
entrevista entrevista análise
Voz Própria entrevista Paulo Parga, membro da Executiva Comarcal da CIG-Construçom e ano sirva para coesionar um bocadinho mais a base social do soberanismo de esquerda. A linha autonomista e neoliberal do BNG parece plenamente consolidada. No seu interior há núcleos dissidentes, mas muito indecisos sobre que fazer. No entanto, existe um espaço sóciopolitico sem vertebraçom unitária e sem representaçom política. Que consideras necessário para superar esta situaçom e dar passos firmes na articulaçom de umha esquerda independentista com projecçom de massas? Entendo que o que precisa a esquerda o pluralismo, que sempre deve ser enriquecedor e nom um factor de divisom. Por isso, fago um chamado
da sociedade galega a nova fraude que supom a reforma estatutária. Só há que ver o que aconteceu nos
“O fundamento de Gausa GZ é o de compactar forç forças autodeterministas de umha perspectiva de esquerda” à responsabilidade política das partes implicadas em Causa GZ, para entre todas e todos construir a Naçom galega no dia-a-dia. A iniciativa tem vontade de perdurar além do 25 de Julho. Está previsto impulsionar umha campanha pedagógica em prol do direito de autodeterminaçom e participar activamente no previsível referendo do novo Estatuto que as forças espanholas e regionalistas pretendem consensualizar. Sim, editará-se material para espalhar, da forma mais didáctica possível, o que é o direito de autodeterminaçom e o que isto poderia supor: a partir do ámbito da libertaçom nacional, da perspectiva de classe ou de género. Tal como nós entendemos o direito de autodeterminaçom, nom só é um termo jurídico, senom como um meio para transformar Galiza. Aliás, denunciaremos diante
últimos 25 anos na Galiza: perda de galegofalantes, precariedade laboral, agressom contínua ao meio natural e a espoliaçom dos nossos recursos. Nós –a diferença dos autonomistas e regionalistas- nom pretendemos transformar Espanha, nós queremos transformar Galiza e construir un Estado galego livre, socialmente justo e solidário com o resto dos povos do mundo. Para todo isso é preciso o direito de autodeterminaçom, sem o qual nom há democracia; assim de simples. Quais som as previsons da manifestaçom convocada para o Dia da Pátria? Mais que avaliar a manifestaçom em termos quantitativos, gostava que no Dia da Pátria Causa GZ socializasse o mais amplamente possível a reclamaçom do direito de autodeterminaçom. Ja em chave interna, gostava que o 25 de Julho deste
ortográfica do galego, podendo usar tanto a norma da Academia Galega como a reintegracionista da AGAL. Isso sim, tendo presente que a maioria da Comunidade Nacional Galega –a parte da sociedade galega que reconhece a Galiza como naçom- opta sem dúvida nengumha pola soluçom ortográfica da Academia Galega. O reintegracionismo e o independentismo nom som lógicas antagónicas, mas sim diferentes. 3- É precisso ligar o social com o político, sendo necessário articular umha ferramenta de intervençom política plural e unitária que luite por atingir os objetivos comuns. Da minha prespectiva, o idóneo é umha coaligaçom eleitoral formada por
“Há que respeitar as partes existentes na esquerda independentista, e olhar o pluralismo como algo positivo, ja que também fai parte no nosso pequeno património político” independentista é dar o passo –qualitativamente importante– de ser um sector político fragmentado e marginal, e passar a ser um sector político embora seja minoritário mas com umha boa projecçom, se age de maneira coesa e com umha só voz. Para atingir isso, entendo que seria necessário o seguinte: 1- Como dixem antes, há que manter o respeito entre as partes existentes na esquerda independentista, e olhar o pluralismo como algo positivo, ja que também fai parte no nosso pequeno património político. 2- Há que relativizar a importáncia de debates como o da questom
base a políticas concretas e dirigidas a quem é responsável das mesma –em grande medida a sua direcçom, e nom fazer críticas conjunturais, por que isso o que fai é que se fechem as fileiras internamente. Isto tem bastante importáncia, já que umha parte importante da gente que está hoje no autonomismo, está a estudar atentamente o que acontece no independentismo. Chegado o momento, é possível que essa massa crítica adira ao soberanismo, já que
sem dúvida, cada dia a direcçom do autonomismo está a fazer renúncias maiores, tanto no nacional como no social.
colectivos e pessoas; para, por umha parte, manter a independência das partes e, por outra, agir juntos e, portanto, fazê-lo de umha forma mais eficaz. No que se refere à massa crítica que há no autonomismo, penso que até que haja umha alternativa solvente na esquerda independentista nom haverá grandes movimentos, já que hoje o que se percebe é que a esquerda independentista é um caldo de siglas de difícil digestom. Por isso é urgente umha recomposiçom do soberanismo socialista em chave unitária. Por outra parte, as critícas ao autonomismo devem fazer-se em
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internacional
internacional Palestina
Palestina: Hamas é a resistência, Al Fatah a claudicaçom
Dado o carácter supersticioso e reaccionário, em geral, das religions, é lógico que num confronto entre elementos religiosos e laicos, éstes últimos contem, a priori, com a simpatia da esquerda ateia. Mas os tempos mudam. Por isso é oportuno fazer umha reflexom sobre os acontecimentos que se produzem na Palestina, que tenhem como protagonistas Hamas, Al Fatah, Mahmud Abbas -presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP)e o omnipresente imperialismo capitalista. Esta reflexom pretende advertir em que bando estám situados, actualmente, os implicados no conflito.
análise análise
Al-Fatah é umha organizaçom nacionalista laica, muito influente no seio da ANP, que durante anos foi umha referência na luita contra o imperialismo. Mas a fins dos 80 começou –junto à ANP-, a variar a sua posiçom a respeito de Israel, o que terminou na assinatura da Declaraçom de Princípios com Tel Aviv no ano 1993 onde, além de renunciar às suas reivindicaçons históricas, abandonou o recurso à luita armada. Algo que, digase de passagem, serviu de bem pouco, pois Israel continua com os ataques e assassinatos selectivos cada vez que tem vontade sem se preocupar com a filiaçom das suas vítimas. Actualmente, muitos líderes de Al Fatah vivem instalados na corruptela e o roubo, o que constitui umha afronta para a imensa maioria dos palestinian@s que subsistem na miséria. Por seu turno, Hamas pratica um islamismo nacionalista que tenta compatibilizar com políticas sociais de educaçom e assistência sanitária. Embora conte com poucos recursos, logrou estabelecer umha rede assistencial de que se beneficiam milhares de pessoas. A sua vitória nas eleiçons gerais de 2006 foi irrepreensível e está avalizada por observadores internacionais. O êxito eleitoral nom só se deveu a que continua a luita armada contra o
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J. M. Álvarez (La Haine) invasor sionista, senom também à sua denúncia implacável da corrupçom que salpica os dirigentes palestinianos históricos, que esbanjam as ajudas internacionais. Hamas é considerado como terrorista pola Uniom Europeia e polos EUA, país que, paradoxalmente, lidera o ranking mundial de genocídios terroristas. No Médio Oriente, convergem notáveis rivalidades entre as potências imperialistas, encabeçadas por EEUU, que competem por controlar umha zona estratégica vital para os seus respectivos interesses espoliadores. Nom há mais que ver como poucas horas depois de que a UE levantou o bloqueio económico, para apoiar o golpe de Estado do presidente Mahmud Abbas, os EUA, temerosos de perder terreno, fijo o mesmo, e entre todos apressárom a bloquear a faixa de Gaza, com a intençom de desesperar os seus povoadores/as para @s utilizar contra Hamas. Com o levantamento do bloqueio na Cisjordánia, pagaram-se os salários atrasados (armas já tinham, entregara-lhas Israel) aos milhares de pistoleiros integrados nas Forças de Segurança palestiniana e na Força 17, corpo de elite que mudou de bando, alinhando com o imperialismo, face aos seus irmaos. Durante a Guerra Fria, o capitalismo empregou recursos semelhantes com o fim de debilitar aos comunistas. No Médio Oriente existiam organizaçons marxistas palestinianas muito activas e países, como Síria ou Iraque, com partidos de corte socialista (baazistas) que representavam um perigo, devido às suas relaçons com a Uniom Soviética. Em conseqüência, os EUA utilizárom umha estratégia cívicoreligiosa. Aproveitárom, de umha parte, o início da deriva reaccionária da ANP e, de outra, consentírom a existência de Hamas (além de apoiarem Al-Qaeda e os talibáns no Afeganistám). Nom era nada de novo. Poucos anos antes, tinham secundado o presidente egípcio Anwar El Sadat e grupos fundamentalistas desse país
(que terminárom assassinando Sadat) para darem cabo do legado de Nasser. Após a desapariçom do campo socilaista, a situaçom mudou, e agora Hamas reclama o direito a ocupar um espaço político e económico na sua terra. Depois da sua vitória eleitoral, os dirigentes de Hamas propugérom a Al Fatah formar um governo de Unidade Nacional que nunca coalhou, ao ser torpedeado do exterior por Ocidente, consciente de que essa organizaçom nom aceitaria umha política conciliadora como a da ANP. Depois de promover múltiplos confrontos armados entre palestinianos, que Hamas tratou de resolver mediante a criaçom de novos governos de unidade-, EUA ordenou ao cônsul geral norte-americano em Jerusalém para que transmitisse ao presidente Mahmud Abbas a ordem de liquidar Hamas, ordem que foi transladada numha junta que tivérom na Cisjordánia. Poucas dúvidas podem ficar ao respeito, depois de vermos Mahmud Abbas a eleger Primeiro Ministro do seu “Governo” Salam Fayyad, ex-membro do Banco Mundial e de nacionalidade estado-unidense. Embora Mahmud Abbas, devido aos ataques indiscriminados de Israel, tenha acusado Tel Aviv de praticar “terrorismo de Estado” contra os os palestinian@s, nunca duvidou em sentar-se a dialogar com os assassinos do seu povo, nem pujo problemas para aceitar armas de Israel, que lhe fôrom entregadas para agravar o conflito inter-palestiniano. Al Fatah, através de Mahmud Abbas, está a espezinhar o equilíbrio democrático palestiniano com o apoio do Ocidente, que
tenciona apresentar como legítimo o Governo proclamado polo presidente da ANP, embora saibamos que as pretensas qualidades democráticas dos capitalistas só se manifestam quando vencem nas urnas os seus compinches (recordemos o seu apoio ao golpe de Estado contra Hugo Chávez). Hamas tem direito a existir, e como ganhador das eleiçons gerais deve controlar e exercer o poder. A sua religiosidade nom deve gerar tanta confusom. No mundo islámico nom existe um Papa inquisidor e isso facilita umha melhor utilizaçom social dos sentimentos religiosos. É absurdo defender que o apoio popular a determinados movimentos islámicos do Médio Oriente se deva tam só a umha regressom fanática e nom a umha comunhom programática entre o social e o combate anti-imperialista, o qual nom tem por quê ser vinculado, necessariamente, com umha atitude revolucionária. Hamas nom escolheu o caminho do suicídio político para controlar o poder, porque éste já lho entregara o povo palestiniano democraticamente. Tivo que optar polo mesmo caminho que o da insurgência iraquiana, a resistência armada contra o imperialismo, porque é a única via posível para quem se nega a viver de joelhos. Se Hamas nom o impede, os dirigentes da ANP, que optárom pola claudicaçom e o compadreio corrupto, farám da Palestina um protectorado mendicante do Ocidente ou, o que é pior, um Estado vassalo, sujeito aos vaivéns das contradiçons imperialistas na regiom.