TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO BRUNO HENRIQUE ZANOTTI
EXPERIMENTAÇÕES: UTINGA, REQUALIFICAÇÃO DE UM BAIRRO
ORIENTAÇÃO: ANTONIO CARLOS BAROSSI UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO JANEIRO 2017
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EXPERIMENTAÇÕES: UTINGA, REQUALIFICAÇÃO DE UM BAIRRO
BRUNO HENRIQUE ZANOTTI ORIENTAÇÃO: ANTONIO CARLOS BAROSSI
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
JANEIRO 2017
AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família, tias e tios, primos e primas, avós, e em especial aos meus pais e à minha irmã, por todo apoio e confiança, pelos anos de dedicação e esforços investidos em mim e pelo Amor que tenho por eles. Aos primeiros amigos que fiz quando entrei na FAU, Lari, Marina, Letícia, Anna, Ju Eiko e Raoni, e aos que conheci com o passar dos anos, Raísa, Gui, Nati, Tati, She, Carlinha, Vir, Marie, Bru Zopo, Ju Polli, Paola, Camis, Li Bravo, Li Magalhães, Yukari, Bru Satin. Aos amigos do FAU-POLI, Mika, Mari, Aline, Fê, Su, Camilla, Gabi, Selma e Penha, pessoas adoráveis, que são tão necessárias naquele ambiente em que nós, da FAU, não estamos tão acostumados. Aos colegas de trabalho, que também se tornaram amigos, Jordana, Mariana, Fernando, Luís, Paulo, Marcia, Julia, Marisa, Victor. Às amigas de Santo André, Débora, Glaucia, Ingrid e Carol. Aos amigos do Engenheiros Sem Fronteiras – núcleo USP, que pude conhecer nesse último ano de graduação. Aos funcionários da FAU, à Telma da xerox, à Cris da cantina, ao Mario da papelaria, à Lili do TFG, que tornam possível o dia-a-dia na FAU. À todos os professores da FAU, que instruem e estimulam os alunos a sempre buscarem uma resposta para suas indagações, acreditando e depositando neles seu otimismo de um mundo mais humano. Aos professores integrantes da banca, Karina Leitão e Milton Nakamura, sempre muito solícitos. Ao meu orientador Barossi, pelos ensinamentos, e orientações empolgantes durante esse período do TFG. À Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Santo André, que me ajudou fornecendo material base para o presente trabalho. Enfim, à todos os meus amigos que compartilharam esses anos de aprendizado, momentos de alegria e sofrimento. Junto deles, espero continuar a construir minha vida.
“O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar.” Oscar Niemeyer
Sumário Apresentação
08
Análise urbana Histórico e dados censitários de Santo André Caracterização do bairro de Utinga Diagnóstico e propostas Definição da área de projeto
13 21 31 32
Proposta de intervenção Plano Geral Habitação de interesse social Estação intermodal de Utinga Parque Central de tratamento de resíduos
48 52 76 96 102
Considerações finais
109
Índice de imagens
110
Bibliografia
112
APRESENTAÇÃO A ideia para o Trabalho Final de Graduação consiste na requalificação urbana do bairro de Utinga em Santo André, São Paulo. Com base nos conhecimentos adquiridos durante a graduação na FAU, foram aplicadas ferramentas de desenho urbano e intervenções pontuais que buscam dignificar o espaço urbano e melhorar a qualidade de vida dos que lá vivem e daqueles que passam por lá. A vontade de gerar mudanças nessa região se deve, pois, como morador de Santo André, cruzo por esse bairro em meus deslocamentos diários – desembarco do ônibus no terminal que lá se localiza, caminho até a estação Utinga da CPTM e lá embarco no trem metropolitano. A partir da minha perspectiva, pude observar a realidade local: »» Estação de trem e terminal de ônibus deteriorados, não atendem a demanda atual de passageiros, falta acessibilidade e conforto, ausência de conexão entre plataformas; »» Comunidade carente instalada nas proximidades da estação de trem, sem infraestrutura adequada; »» Presença de um novo grupo de imigrantes haitianos se instalando no local; »» Região de divisa com o município de São Caetano do Sul – córrego e margens lindeiras poluídas, sujas e deterioradas; »» Galpões de sucata estabelecidos no bairro.
8
Diante dessa situação, observa-se o potencial interveniente que Utinga apresenta. Dessa forma, considerando como nó urbano essencial para os deslocamentos dentro da metrópole e também como local agregador e de permanência de pessoas, no TFG I, foi desenvolvido uma análise urbana da região para entender como se dão tais relações, definindo uma área de interesse para intervenção, Em posse do conhecimento adquirido na etapa anterior, no TFG II, foi elaborado o redesenho urbano da área de interesse e detalhado um estudo preliminar da estação intermodal de Utinga, de um conjunto habitacional de interesse social no qual é implantado numa gleba próxima, de um parque e de uma central de tratamento de resíduos sólidos. À medida que os projetos urbanos e arquitetônicos aqui apresentados se desenvolviam, a ideia do caderno também foi se estruturando e ganhando forma, com a definição de escalas e métodos expositivos que fossem claros e inteligíveis para quaisquer leitores do caderno.
MARG
25 Km
INAL T
MA
RG
INA
LP
IETÊ
SÉ
INH
EIR
OS
UTINGA
ESCALA 1: 250.000
Localização de Utinga na Região Metropolitana de São Paulo. [1] 9
ANÁLISE URBANA
Histórico e dados censitários de Santo André HISTÓRICO O muniípio de Santo André faz parte do ABC paulista, que se localiza no alto da Serra do Mar, sendo eixo de ligação entre o planalto paulista e o litoral do estado, pela qual se deu a interiorização da ocupação do território pelos portugueses, com a fundação da vila de Santo André da Borda do Campo de Piratininga por volta de 1553 pelo português João Ramalho. “(...) Em 1560 o governador-geral do Brasil, Mem de Sá, transferiu a vila para São Paulo de Piratininga, onde os Jesuítas haviam fundado seu colégio para catequização dos nativos em 1554. A transferência dos habitantes deu-se pela vulnerabilidade de Santo André da Borda do Campo de Piratininga aos ataques dos nativos, diferente de São Paulo de Piratininga, que estava em posição mais favorável geograficamente e contava com grande número de nativos catequizados” (Perez, 2010 apud Araújo, 2015, grifo nosso). “(...) Os vestígios da vila foram apagados pelo tempo, de modo que não se sabe a localização exata de onde foi a mesma. Sabe-se que se situava em algum ponto entre o planalto de Piratininga e a Serra de Paranapiacaba. Apesar dos atuais municípios de Santo André e São Bernardo do Campo não terem origem na antiga vila, que deixou de existir como unidade administrativa, passando a pertencer a São Paulo, ambas as cidades consideram 1553 como seu ano de fundação, pois suas áreas territoriais abrangem a região onde supostamente se localizava a vila.” (Ibidem).
13
Em 1637, as terras que hoje se localizam o ABC paulista, pertencentes ao mosteiro de São Bento e denominadas como fazenda de São Bernardo, se estabeleceu um povoado que atendia às tropas por onde ali passavam. No século XIX, com o avanço das plantações de café ao oeste paulista, houve a necessidade de implantação de uma ferrovia, que facilitaria o deslocamento dessas commodities entre o planalto e o litoral. “(...) As obras da linha férrea, bem como a construção da Estrada do Vergueiro (‘Caminho do Mar’) – com traçado praticamente paralelo ao da ferrovia – por iniciativa do governo estadual, demandou a contratação de grande número de trabalhadores, atraindo para a região um exército de migrantes masculinos, tanto brasileiros de diversas regiões, como de estrangeiros, notadamente portugueses, espanhóis e italianos.” (Monteiro, 1997 apud Araújo, 2015). “(...) Em 1812, a oito quilômetros de distância da Vila de São Bernardo, foi inaugurada a estação ferroviária, ao redor da qual se desenvolveu o bairro da estação, que deu origem à atual cidade de Santo André. Em 1868 foi inaugurada oficialmente a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (...)” (Ibidem). “(...) Em 1910 o bairro foi elevado à categoria de distrito com o nome de Santo André, em homenagem a antiga vila fundada por João Ramalho. Em 1938 englobando a própria sede de São Bernardo, o extenso território que é o atual Grande ABC Paulista, tornouse Município de Santo André.” (Gaiarsa, 1968 apud Araújo, 2015).
14
“(...) A criação do município de Santo André abrangendo a área pertencente anteriormente a São Bernardo impulsionou uma onda de movimentos emancipacionistas. A força destes movimentos levaram diversos distritos a se desmembrarem de Santo André, sendo assim, 1945 foi o ano de emancipação de São Bernardo do Campo, 1949 São Caetano do Sul e 1953 Mauá e Ribeirão Pires.” (Silva, 2008 apud Araújo, 2015).
Na década de 1970, período conhecido como “milagre econômico” houve uma expansão da indústria na Grande São Paulo. Entre 1970-1975, enquanto na cidade de São Paulo observava-se queda na participação industrial, era notável a expansão do parque industrial nos municípios do ABC Paulista. Mas já no final da década, São Caetano e Santo André passaram a ter decréscimo na participação industrial, em contrapartida, os outros municípios do ABC, passaram a registrar crescimento neste setor, visto que as indústrias desse período, passaram a buscar novos espaços que viessem ao encontro de suas necessidades, como por exemplo, acesso facilitado ao modal rodoviário. “(...) Na década de 1980 o crescimento desacelerou-se e o Brasil como um todo viveu o período conhecido como “década perdida”, reflexo da crise do petróleo e do endividamento do país. A baixa nas exportações atingiu diretamente o setor industrial, gerando contração salarial e demissões. Neste momento as indústrias do ABC sofreram com a ‘elevação dos custos de aglomeração’ em decorrência dos altos valores a que chegaram os terrenos influenciados pela alta concentração industrial.” (Ferreira, 2013 apud Araújo, 2015)
“(...) Durante toda a década de 1980 e início dos anos 1990 diversas foram as tentativas governamentais para contenção das crises causadas pelo endividamento externo e pelos altos índices inflacionários. Até o início da gestão do presidente Fernando Collor, a economia brasileira era uma das mais fechadas do mundo, o que eliminava a concorrência e desobrigava as indústrias a novos investimentos, fortalecendo a ascensão da inflação.” (Araújo, 2015). “(...) A participação percentual da indústria continuou decrescendo dos anos 1990 até os dias atuais (2013). Concomitantemente o setor terciário começou a ganhar expressão, sendo assim, Santo André passou a receber grandes estabelecimentos comerciais e de serviços ocupando em boa parte as áreas antes pertencentes às indústrias que faliram ou transferiramse para outras regiões.” (Araújo, 2015).
O município de Santo André passou por intensa reurbanização através do projeto Eixo Tamanduateí, cujas ações orientam-se para dar novos usos à região onde as indústrias se concentraram maciçamente no passado – faixa lindeira à linha férrea e ao rio Tamanduateí – através de intervenções coordenadas pelo poder público municipal em parceria com investidores privados, e é nesse contexto que o bairro de Utinga se insere. DIAS ATUAIS O projeto do Eixo Tamanduateí integra a Lei n° 8696 do Plano Diretor de Santo André sancionada em 2004. O mapa Lançamentos residenciais no ABC (20072013) [2] constata que a transformação urbana na
região, onde antigas plantas industriais dão lugar à ocupação residencial, já é corrente, devido a intensa atuação do mercado imobiliário. Todavia, o adensamento populacional nesses locais não está somente relacionado à ação do mercado imobiliário formal, já que muitas dessas áreas coincidem com os assentamentos mais precários, o que se verifica no mapa Aglomerados subnormais, assentamentos precários e densidade dos lançamentos imobiliários residenciais (2007-2013) [3]. É notável, nesses casos, que os grandes eixos viários e o transporte público de massa direcionam o desenvolvimento urbano dessas cidades. A concentração de lançamentos imobiliários ao longo dos eixos viários e das redes de transporte instaladas é positiva, pois otimiza a utilização dos mesmos e facilita o acesso ao uso do transporte público pela população. No entanto, o poder público deve tomar as providências necessárias a fim de garantir áreas para a implantação de equipamentos públicos e de habitação de interesse social, como forma de assegurar que os investimentos públicos sejam usufruídos pela população como um todo. DADOS CENSITÁRIOS Como em várias aglomerações urbanas do Brasil, na região metropolitana de São Paulo, que inclui Santo André, está presente a desigualdade social, ocupações de alto padrão convivem com outras de extrema pobreza, contrastando-se. É preciso haver políticas públicas que supram as carências da população, garantindo-lhes o que é de direito: moradia digna, saneamento básico, saúde, segurança e educação.
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Estação de trem Utinga
Lançamentos residenciais no ABC (2007-2013). [2]
16
Estação de trem Utinga
Aglomerados subnormais, assentamentos precários e densidade dos lançamentos imobiliários residenciais (2007-2013) [3]
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Para isso, é necessário examinar as condições de vida dessa população, não só a partir da renda, mas também sobre a escolaridade, a saúde, as condições de inserção no mercado de trabalho, o acesso aos serviços prestados pelo Estado e as oportunidades de mobilidade social. Conforme os dados da população coletados anteriormente, estratégias e planos podem ser elaborados buscando atender às demandas mais prioritárias da sociedade. Assim, nesse âmbito, para contemplar a questão da desigualdade no estado de São Paulo e obter mais informações à respeito desse fenômeno, a Assembléia Legislativa junto a Fundação Seade criaram o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS). Em relação a cidade de Santo André, que em 2010 (ano dos dados coletados), possuía 666.205 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes mostra que a renda domiciliar média era de R$ 3.207, sendo que em 10,5% dos domicílios não ultrapassavam meio salário mínimo per capita. No que se refere aos indicadores demográficos, a idade média dos chefes de domicílios era de 48 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 11,6% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio, 11,6% tinham até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 7,0% do total da população. O IPVS separa a população em sete grupos de acordo com as situações de maior ou menor vulnerabilidade às quais se encontra exposta, a partir de um gradiente de condições socioeconômicas do perfil demográfico. Os moradores de Utinga encontram-se no Grupo 05, classificado como de vulnerabilidade
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alta, assim, o poder público deve atuar mais nessa região, buscando um distribuição mais equitativa de bens e serviços. O Grupo 05 representa 4,1% do total da população andreense, sendo 27.608 pessoas. Em relação a média, nesse grupo, a renda domiciliar cai para R$ 1.420 e em 29,3% deles a renda não ultrapassava meio salário mínimo per capita. Quanto aos indicadores demográficos, a idade média dos responsáveis pelos domicílios era de 41 anos e aqueles com menos de 30 anos representavam 20,5%. Dentre as mulheres chefes de domicílios até 30 anos, o número aumenta de 11,6% em relação a média para 19,7%, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 10,8% do total da população desse grupo.
Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) INDICADORES 1 – Baixíssima
2 – Muito baixa
5 – Alta
Total
37.783
420.933
27.608
666.205
População (%)
5,7
6,32
4,1
100
Número médio de pessoas por domicílio
2,7
3,0
3,5
3,1
Renda domiciliar nominal média (agosto de 2010)
8.834
3.254
1.420
3.207
Renda domiciliar per capita (agosto de 2010)
3.213
1.070
407
1.026
Domicílios com renda per capita de até um quarto do salário mínimo (%)
0,1
1,0
8,5
2,3
Domicílios com renda per capita de até meio salário mínimo (%)
0,7
6,1
29,3
10,5
3.495
1.161
516
1.131
Mulheres responsáveis com menos de 30 anos (%)
9,3
8,0
19,7
11,6
Responsáveis com menos de 30 anos (%)
8,8
8,6
20,5
11,6
Responsáveis pelo domicílio alfabetizados (%)
99,7
98,0
91,7
96,8
Idade média do responsável pelo domicílio (em anos)
48
51
41
48
Crianças com menos de 6 anos no total de residentes (%)
6,8
5,8
10,8
7,0
População
Renda média das mulheres responsáveis pelo domicílio (agosto de 2010)
Fonte: IBGE. Censo Demográfico; Fundação Seade.
19
Caracterização do bairro de Utinga Inicialmente, para uma aproximação da área de projeto, foi feita uma maquete do bairro na escala 1:1000 englobando toda Utinga podendo visualizá-la de uma posição superior. A maquete foi fundamental no processo de criação e experimentação do projeto, pois permite a visualização das ideias, mas a partir de outros aspectos, no qual o desenho bidimensional não consegue atender, já que a maquete materializa as intenções do arquiteto com um olhar crítico diferenciado, permitindo estudos de conjunto de massa para análise de volumetria, composição e impacto da implantação em relação ao entorno construído e as áreas livres. O modelo físico também é um mecanismo que agrega conhecimento para formação do arquiteto, pois aguça sua percepção visual da forma, do espaço, da geometria, da proporção e da escala. O modelo físico como objeto de investigação agrega fundamentos, processos e conhecimentos em todas as etapas de projeto, do estudo preliminar ao projeto final, podendo ser decisivo em tomadas de decisão, seja de uma ideia formal, estrutural ou qualquer outra análise intrínseca ao projeto. ***
A região de Utinga, escolhida para intervenção, se dá no entorno da estação da CPTM de mesmo nome, que é cortada pela linha férrea 10 – Turquesa, onde situa-se também o Terminal de ônibus abaixo do viaduto Juvenal Fontanella, o qual transpõe a ferrovia e liga a avenida do Estado à avenida Industrial.
À nordeste da estação, localiza-se o rio Tamanduateí retificado junto a avenida do Estado, à noroeste, dirige-se ao centro da capital paulista e à sudoeste, o centro de Santo André. Faz divisa com o município de São Caetano, onde se localiza o início das propriedades da empresa General Motors. Na região, há dois assentamentos precários, sendo que um deles, o Núcleo dos Ciganos, situa-se em um terreno de 29 mil m2 na faixa lindeira à ferrovia, próximo à estação Utinga da CPTM. Registros acerca do estabelecimento das primeiras famílias nessa área são imprecisas. “Segundo o Diário Oficial da União publicado em 03/06/2014 a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), moveu uma ação contra os ocupantes da referida área em 1999 requerendo a reintegração de posse da mesma. Com a extinção da RFFSA em maio de 2005 a União Federal atribuiu a titularidade da área ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que por sua vez indicou a Secretaria de Patrimônio da União como proprietária. Após ter sido aberto e arquivado por diversas vezes o processo foi extinto sem resolução de mérito em 30 de maio de 2014, uma vez que a União Federal solicitou a suspensão do feito (BRASIL, 2014. Seção 1 Pág. 304.).” (Araújo, 2014)
Habitantes de origens diversas convivem nesse local: os ciganos, primeiros a se estabelecerem ali, já não são mais presentes, de acordo com Associação de Moradores do Núcleo Ciganos; prostitutas também vivem
21
na comunidade; e os haitianos que chegaram entre 2011 e 2012, segundo a Prefeitura de Santo André e se fixaram no núcleo. “A partir de 2014 a Prefeitura Municipal estabeleceu diálogo com a comunidade haitiana residente em Santo André. Desde então, a prefeitura fez parcerias para a oferta de cursos de português e cultura brasileira, intermediou relações trabalhistas e de habitação, adequou equipamentos públicos para a recepção dos imigrantes (contratação de funcionários haitianos para atuar em postos de saúde onde existe demanda de imigrantes haitianos, por exemplo) e promoveu eventos de confraternização e intercâmbio cultural.” (Araújo, 2014).
Na região de Utinga analisada, também há edifícios industriais desocupados, muitos em estado de ruína. Como, por exemplo, o caso dos galpões da AGEF, a Rede Federal de Armazéns Gerais Ferroviários, que era empresa controlada pela Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), vinculada ao Ministério dos Transportes. Sua atividade principal consistia na construção, instalação e operação, em âmbito nacional, de terminais, armazéns gerais e silos destinados a complementar, auxiliar e incentivar o transporte ferroviário. A Empresa foi liquidada em 1999 e suas atividades encerradas em 2001, e hoje os dois armazéns encontram-se sem uso. Nas proximidades da estação, também há institutos de ensino superior, a Anhanguera, localizada no antigo terreno da Companhia Brasileira de Cartuchos, e próximo dali, a USCS, Universidade de São Caetano do Sul. A seguir, há um levantamento fotográfico de Utinga.
22
Maquete da regiĂŁo de Utinga. [4] 23
3
1
2
1. Passarela de travessia na Av. do Estado. [5]
2. Viela da favela dos Ciganos. [6]
3. GalpĂľes industriais configuram algumas ruas do bairro. [7] 25
4 4
5 5
4. Terminal de ônibus localizado embaixo do viaduto Juvenal Fontanella. [8]
5. Praça com comércio informal que dá acesso à favela dos Ciganos e à estação de trem Utinga. [9] 26
6 7 8
6. Trajeto entre terminal de ônibus e estação de trem [10]
7. Vista para ramal de trilhos que passam ao lado da estação. [11]
8. Vista da entrada leste da estação para a favela dos Ciganos. [12] 27
9
10
11
9. Vista do viaduto para estação de trem (lado oeste). [13]
10. Acesso de pedestres à estação pelo viaduto Juvenal Fontanella. [14]
11. Terreno desocupado. [15] 28
13
12 14
12. Universidade particular Anhanguera. [16]
13. Galpão industrial abandonado das empresas Pierre Saby e Nordon. [17]
14. Trajeto até a estação de trem pelo lado oeste (córrego de divisa de municípios entre Santo André e São Caetano). [18]
29
Diagnóstico e propostas Decorrente das visitas a campo na área de interesse e após os dados coletados e analisados, mais as conversas com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Santo André, pode-se fazer um diagnóstico de Utinga, elencando seus principais problemas: a Estação de trem de Utinga é subutilizada e tem pouca articulação com os sistemas viário local e sistemas municipais de transporte; as calçadas do entorno são estreitas, não acessíveis, em mau estado de conservação, falta de sinalização e iluminação, ausência de segurança; descarte irregular de resíduos em vias e praças públicas; núcleos habitacionais em áreas públicas e particulares invadidas e em situação de risco, coabitação, comércio irregular e pessoas em estado vulnerável. Diante dessa situação, e apoiado em três princípios – requalificação urbana, melhoria dos serviços públicos, inclusão social e desenvolvimento econômico, foram definidas diretrizes de projeto que buscam sanar os problemas do bairro: melhor aproveitamento das áreas lindeiras à via férrea; ampliação de áreas públicas; implantação de paisagismo; diversificação de usos; habitação de interesse social; formalização do comércio informal; melhoria no sistema de transporte urbano; programas de geração de emprego e renda; reestruturação do Eixo Tamanduateí, propiciando incremento econômico nos bairros de seu entorno. Em posse dessas diretrizes, no tópico seguinte, define-se a área do projeto.
31
MARGINA
L TIETÊ
OSASCO
MA
RG
INA
SÃO PAULO
LP
CIDADE UNIVERSITÁRIA
INH
EIR
OS
S
DIADEMA Área de projeto inserida na RMSP. [19]
GUARULHOS
ÁREA DO PROJETO
SÃO CAETANO DO SUL
SANTO ANDRÉ MAUÁ
SÃO BERNARDO DO CAMPO
ESCALA 1: 100.000
Definição da área de projeto Foram produzidos alguns mapas temáticos e sobrepostos, com o intuito de delimitar a área de projeto. O mapa 1 é a delimitação da área de projeto, os mapas posteriores serviram de apoio para concepção deste. O mapa 2 mostra o relevo da região, definindo vales e cumeeiras e as unidades de microbacia. O mapa 3 é de uso do solo e também verifica a existência de duas microcentralidades, são áreas capazes de agregar diferentes usos num único local. “(...) área de centralidade é definida como as áreas do tecido urbano que abrigam as atividades de comércio varejista e de serviços com capacidade de prestar serviços com certo grau de complexidade devido à quantidade, variedade e acessibilidade, que atende a um conjunto de pessoas em uma escala que não a estritamente local, mas de um bairro, conjunto de bairros ou mesmo da cidade” (Klink, Fonseca et al., 2016 apud PDR do ABC, 2016).
O mapa 4 ilustra a mancha de ocupação da região, onde se pode notar extensas áreas livres passíveis de ocupação e de uso. O mapa 5 reproduz as áreas determinadas para ZEIS, de acordo com o Plano Diretor de Santo André, as áreas de risco de inundação e as faixas de preservação permanente dos corpos d´água. O mapa 6 mostra as áreas residuais na região, ou seja, são os vazios delineados pelo construído sem um uso específico.
Mapa 1 – ÁREA DO PROJETO. [20] 34
C
C C
C
C
5 20 0 10
100 50
ESCALA 1: 5.000
200
Mapa – HIPSOMETRIA [21] MAPA 2 -2HIPSOMETRIA
36
782 à 778
762 à 758
777 à 773
757 à 753
772 à 768
752 à 748
767 à 763
747 à 743
MAPA 3 - USO DO SOLO RESIDENCIAL COMERCIAL/SERVIÇOS
742 à 738
LIMITE MICROBACIAS
LIMITE
MICRO
BACIA
CÓRR
EGO U
TINGA
A
O UTING
CÓRREG
IA
E
IT
LIM
O
CR
MI
C
LIMITE MICROBACIA
780
C BA
RIO TAMANDUATEÍ
O
EG
R ÓR
GA
IN
UT
CIA
BA
O ICR
IS VIA LU S P UTÁ A U LC LI RIA ÁGDA CA LE AME A G AL
E MIT
5
77
5 20 0 10
LIM
100 50
ESCALA 1: 5.000
200
ITE
M
MIC
RO
BA
CIA
MAPA 2 - HIPSOMETRIA
782 à 778
762 à 758
777 à 773
757 à 753
772 à 768
752 à 748
767 à 763
747 à 743
Mapa 3 – USO DO SOLO [22]
MAPA 3 - USO DO SOLO RESIDENCIAL
COMERCIAL/SERVIÇOS MISTO INSTITUCIONAL ESTAÇÃO DE TREM UTINGA IMÓVEIS OCIOSOS/DETERIORADOS PRAÇAS E ÁREAS LIVRES RIOS E CÓRREGOS MICROCENTRALIDADES
38
MAPA 4 - MANCHA DE OCUPAÇÃO MAPA 5 - RISCOS E POTENCIAIS DE OCUPAÇÃO
742 à 738
LIMITE MICROBACIAS
5 20 0 10
100 50
ESCALA 1: 5.000
200
Mapa 4 – MANCHA DE OCUPAÇÃO. [23] 40
ETD-UTINGA
ELETROPAULO
C
R C
C C
C
C
C
C
C C
C
C
5 20 C C
0 10
100 50
ESCALA 1: 5.000
200
MAPA 2 - HIPSOMETRIA
Segundo o Plano Diretor de Santo André, as zonas especiais de interesse social, são porções do território destinadas prioritariamente à regularização fundiária, urbanização e a produção de HIS e HMP. Subdividem-se em quatro categorias, das quais, duas são apresentadas na área de projeto: ZEIS A – Áreas públicas ou particulares ocupadas por assentamentos de população de baixa renda na macrozona urbana, devendo o poder público promover a regularização fundiária e urbanística com implantação de equipamentos públicos, inclusive de recreação e lazer, e comércio e serviços de cárater local. ZEIS C – Terrenos não edificados e imóveis subutilizados ou não utilizados, localizados na área do Projeto Eixo Tamanduateí, onde haja interesse público em produzir HIS e HMP.
782 à 778
762 à 758
777 à 773
757 à 753
772 à 768
752 à 748
767 à 763
747 à 743
MAPA 3 - USO DO SOLO RESIDENCIAL COMERCIAL/SERVIÇOS MISTO INSTITUCIONAL ESTAÇÃO DE TREM UTINGA IMÓVEIS OCIOSOS/DETERIORADOS PRAÇAS E ÁREAS LIVRES RIOS E CÓRREGOS MICROCENTRALIDADES
MAPA 4 - MANCHA DE OCUPAÇÃO
Mapa 5 – RISCOS e POTENCIAIS DE [24] MAPAOCUPAÇÃO 5 - RISCOS E POTENCIAIS DE OCUPAÇÃO ZEIS A ZEIS C ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS ÁREAS COM RISCO DE INUNDAÇÃO (fonte: res. CONAMA núm. 369/nov/06)
FAIXA DE APP 15m (fonte: prefeitura e CPRM)
42
MAPA 6 - ÁREAS RESIDUAIS LOTES VAZIOS PRAÇAS
742 à 738
LIMITE MICROBACIAS
0 10
5 20
50
100
ESCALA 1: 5.000
200
AV. INDUSTRIAL
AV. D. PEDRO II
AV. DO ESTADO
AV. GOIÁS
RUA ALEGRE
MAPA 2 - HIPSOMETRIA 782 à 778 782
762 à 758 762
777 à 773 777 à 773
757 à 753 757 à 753
772 à 772 768 à 768
752 à 752 748 à 748
767 à 767 763 à 763
747 à 747 743 à 743
à 778
* Foram consideradas como áreas residuais: fundos de lotes e canteiros entre pontes ou viadutos.
742 à 738 742
à 758
à 738
LIMITE MICROBACIAS LIMITE MICROBACIAS
MAPA 2 - USO DO SOLO MAPA 3 - USO DO SOLO RESIDENCIAL RESIDENCIAL COMERCIAL/SERVIÇOS COMERCIAL/SERVIÇOS MISTO MISTO INSTITUCIONAL INSTITUCIONAL ESTAÇÃO DE TREM UTINGA ESTAÇÃO DE TREM UTINGA IMÓVEIS OCIOSOS/DETERIORADOS IMÓVEIS OCIOSOS/DETERIORADOS PRAÇAS E ÁREAS LIVRES PRAÇAS E ÁREAS LIVRES
RIOS E CÓRREGOS RIOS E CÓRREGOS MICROCENTRALIDADES MICROCENTRALIDADES MAPA 3 - MANCHA DE OCUPAÇÃO MAPA 4 - MANCHA DE OCUPAÇÃO MAPA 4 - RISCOS E POTENCIAIS DE OCUPAÇÃO MAPA 5 - RISCOS E POTENCIAIS DE OCUPAÇÃO ZEIS A ZEIS A ZEIS CC ZEIS ASSENTAMENTOSPRECÁRIOS PRECÁRIOS ASSENTAMENTOS ÁREAS COM COMRISCO RISCODE DEINUNDAÇÃO INUNDAÇÃO ÁREAS (fonte: res. CONAMA núm. 369/nov/06) (fonte: res. CONAMA núm. 369/nov/06)
FAIXA DE DE APP APP15m 15m FAIXA (fonte: prefeitura prefeituraeeCPRM) CPRM) (fonte:
Mapa56 -6ÁREAS – ÁREAS RESIDUAIS MAPA ÁREAS RESIDUAIS RESIDUAIS
[25]
LOTES LOTES VAZIOS VAZIOS PRAÇAS PRAÇAS ORLA ORLA FERROVIÁRIA FERROVIÁRIA
* ÁREAS ÁREAS RESIDUAIS RESIDUAIS 44
MAPA 61 -- ÁREA PROJETO MAPA ÁREA DE ECOLHIDA PARA O PROJETO
ETD-UTINGA
ELETROPAULO
C
R C
C C
C
C
C
C
C C
C
C
5 20 C C
0 10
100 50
ESCALA 1: 5.000
200
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Plano Geral A área de projeto foi setorizada, baseada no zoneamento dos municípios de Santo André e São Paulo. 8 (oito) setores foram criados com o objetivo de direcionar a urbanização futura nesse local. Abaixo, os parâmetros construtivos considerados para cada zona: Recuos
Frente
Menor que 10m
Maior que 10m
–
–
–
–
0,70
–
–
–
3
–
–
–
–
–
–
2
0,85
0,70
28
5
–
3
ZEIS A
2,5
0,85
0,70
–
5
–
3
ZEIS C
4
0,85
0,70
–
5
–
3
ZDE
2
0,7
0,7
28
5
–
3
AI
4
0,85
0,7
28
–
–
3
Setor
CA máx
Gabarito de Hmáx
TO máx
AL
Lotes até 500m2
Maiores que 500m2
–
–
–
ZEU
4
0,85
ZOE
–
ZM
Fundos e lateral
Fonte: PDESP, 2016.
A zona AL – Áreas Livres – foi criada com intuito de destinar uma área para implantação do parque linear onde situa-se o córrego de Utinga que divide os municípios de Santo André e São Caetano. Os parâmetros construtivos não se aplicam para esta
48
zona, pois é um local não passível de construção. O rio Tamanduateí e uma faixa adjacente ao mesmo foi incorporada pela zona, visto a relevância desse corpo d’água na macrodrenagem do município. Logo, prever projetos de drenagem, tratamento paisagístico, manutenção da permeabilidade, controle de processos erosivos e de inundação devem ser o compromisso do poder público para com esse setor. Vale destacar, ainda na zona AL, a remoção do Núcleo dos Ciganos – faixa de ocupação lindeira à linha férrea – como pode ser visto no mapa seguinte, os domícilios serão relocados na área de ZEIS proposta. A ZEU – Zona de Estruturação Urbana – objetiva a promoção do adensamento construtivo e populacional das atividades econômicas e dos serviços públicos de forma a adequar o uso do solo à oferta de transporte público coletivo, que neste caso será ampliada com a modernização da estação de trem e do terminal de ônibus. A ZOE – Zona de Ocupação Especial – reúne a orla ferroviária e a Estação Intermodal de trem e ônibus. A ZOE, assim como a ZDE, que será explicitada adiante, são porções do território que buscam a manutenção dos usos não residenciais. A ZM – Zona Mista – permite a diversificação de usos e atividades compatíveis, que não entrem em conflito, buscando a manutenção dos usos já existentes. Como já descrito no capítulo anterior, a ZEIS A são áreas públicas ou particulares ocupadas por assentamentos de população carente, no qual cabe ao poder público promover a regularização fundiária e urbanística nesses locais e a ZEIS C são terrenos não edificados e imóveis subutilizados, localizados na área do Projeto Eixo Tamanduateí, onde haja interesse público em produzir HIS e HMP.
AV. GOIÁS
RUA ALEGRE
Estação Intermodal
Parque
AL ZM
ZEU
ZEIS C
ZEIS A AV. INDUSTRIAL
AV. D. PEDRO II
AI
AV. DO ESTADO
ZOE
Central de Tratamento de Resíduos Habitação de Interesse Social
ZEIS C
ZDE
5 20
Área do projeto setorizada. [26]
0 10
100 50
ESCALA 1: 5.000
200
R.F.F.S.A
A ZDE – Zona de Desenvolvimento Econômico – promove as atividades produtivas de cunho industrial, neste setor, no caso, foi implantado uma Central de Tratamento de Resíduos Sólidos num edifício já existente, um dos antigos galpões da AGEF. A zona AI – Área Institucional – é reservada para equipamentos públicos: creche, escolas, postos de sáude, hospitais, teatros, organizações que prestam serviços públicos.
Perspectiva da área do projeto [27] 50
51
Habitação de Interesse Social PREMISSAS DO PROJETO Primeiramente, foi escolhida a gleba, localizada entre a universidade Anhanguera e a linha férrea, para implantação do conjunto habitacional. Originalmente, no plano diretor de Santo André, parte dessa área já é destinada à ZEIS C, e nesse projeto é sugerido a adição de terreno adjacente para mesma finalidade. A prefeitura tem a intenção de abrir uma avenida de fundos para a linha férrea que se extenderia de Utinga ao centro da cidade, aliviando os atuais congestionamentos na avenida Industrial com esta outra opção para o tráfego de veículos. Assim, a gleba foi desmembrada considerando a criação dessa via e a continuidade de uma outra no qual se conectam. O traçado na diagonal da via em relação à fachada dos edifícios permite a criação de “ilhas de convivência” que dão acesso ao interior das quadras, vide planta ilustrativa na página seguinte. A área da gleba totaliza aproximadamente 3,5 ha, destinando 15% para área verde (~0,5 ha) e 5% para área institucional (~0,2 ha), conforme previsto na Lei Federal 6766/99, restam 2,8 ha para loteamento.
ELEVAÇÃO 1 - IMPLANTAÇÃO HIS 52
As células habitacionais se organizam linearmente em relação à circulação horizontal de cada pavimento. São 7 (sete) blocos implantados contra as curvas de nível, que se configuram em “L” ou “I”. Entre as lâminas, há escadarias e rampas que vencem a topografia, e também espaços públicos com quadras e playgrounds, mais segregados do grande fluxo, além de comércio instalado no térreo de cada pavimento. O projeto de HIS visa suprir o déficit habitacional local, com a remoção de aproximadamente 300 domicílios do Núcleo dos Ciganos, criando 480 unidades habitacionais nesse novo conjunto. Ao mesmo tempo em que o desenho dos edifícios era traçado, o processo para definir a planta da unidade também prosseguia. A unidade habitacional escolhida tem área útil de 52 m2, com 2 quartos, uma sala, um banheiro, uma cozinha e uma lavanderia, todos ambientes acessíveis. A célula habitacional tem duas orientações para a fachada, gaantindo ventilação cruzada. A porta de entrada do apartamento disposta perpendicularmente à circulação horizontal, cria um pequeno quintal, além de conformar a sala como “praça” de encontro que distribui aos outros ambientes da unidade habitacional.
O método construtivo adotado é de concreto pré-moldado, lajes alveolares, com vãos de 9,73 m longitudinalmente e 8,17 m transversalmente, incluindo a circulação horizontal nessa modulação, e piso à piso de 2,88 m. As esquadrias são recuadas em relação à fachada, criando um pano gráfico mais interessante. A iluminação natural é garantida nas áreas nobres dos apartamentos, aqueles orientados à noroeste, recebem sol no meio do dia, e os orientados à nordeste, recebem sol pela manhã.
Parcelamento da gleba, implantação dos blocos habitacionais, área institucional, fluídez entre edifício. [28]
53
2
4
1
1 2
5
2
4 5 2
2
3
5
2
3
2
3
2
54
1. 2. 3. 4. 5.
Área Institucional Unidades habitacionais Quadra poliesportiva Playground Praça
IMPLANTAÇÃO HIS
CORTE A
66
67
CORTE B
68
69
CORTE C
70
71
Processo de concepção da unidade habitacional [29]
A
B 5,75
C 5,75
5,35
1
2
A
B 5,75
C 5,75
4
1
4
2
3
A
B 9,73
8,17
1
72
2
ESCALA 1:200
1
2
8,17
1,30m
A
1,20m
2,50m
2,15m
3,30m
3,93m
1,70m
1,40m
2,08m
0,70m
1,20m
2,34m
3,04m
2,74m
3,98m
2,14m
0,70m
1,65m
9,73
2,36m
2,91m
B PLANTA DA UNIDADE HABITACIONAL
ESCALA 1:50
73
REFERÊNCIAS DE PROJETO
Schandorff Square [30] Oslo, Noruega. Ano de projeto: 2009 Østengen & Bergo AS
Ladeira da Barroquinha [31] Salvador, BA, Brasil. Ano de projeto: 2013 Metro Arquitetos
Conjuntos Habitacionais Guarapiranga [32]
São Paulo, SP, Brasil. Ano de projeto: 1994 Abrahão Sanovicz, Edson Elito, João Honorio de Mello Filho, Marcos Carrilho.
74
Conjunto Habitacional Heliópolis [33] São Paulo, SP, Brasil. Ano de projeto: 2011 Biselli Katchoborian Arquitetos Associados
Residencial Sílvio Baccarelli | Heliópolis | Gleba H [34] São Paulo, SP, Brasil. Ano de projeto: 2013 Vigliecca & Associados
Conjunto Residencial Comandante Taylor [35] São Paulo, SP, Brasil. Ano de projeto: 2008 Piratininga Arquitetos Associados
Favela Nova Jaguaré | Setor 03 [36] São Paulo, SP, Brasil. Ano de projeto: 2011 Boldarini Arquitetos Associados
75
PAULISTA CAMPO LIMPO
Estação Intermodal de Utinga IAÍ
JUND
LOCALIZAÇÃO DA ESTAÇÃO UTINGA E PLANOS RECENTES
VA
CABREÚ
SÃO
ROQ
UE
A estação de Utinga existente, se localiza na Linha 10 – Turquesa da CPTM (Companhia de Trens Metropolitanos), que liga o Brás, na capital, ao município de Rio Grande da Serra, vide mapa ao lado. A malha metroferroviária da Região Metropolitana de São Paulo conta com atualmente 336,8 km de extensão, sendo 78,4 km do Metrô e 258,4 km da CPTM. Tal rede não consegue suprir à demanda de usuários de toda RMSP, assim, desde a década de 90, vários são os planos de expansão e modernização da rede engendrados pela STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos), dentre eles, o PITU 2020 e a Rede Futura, publicados em 1999 e 2013, respectivamente. Esses planos são o resultado de uma série de propostas que definem diretrizes de políticas públicas conjugadas à de transporte urbano de passageiros, visando direcionar a futura expansão da rede sobre trilhos, em sintonia com o zoneamento urbano. O PITU 2020, Plano Integrado de Transportes Urbanos com horizonte em 2020, concebeu uma rede estrutural sobre trilhos e propostas para todos os modos de transporte na RMSP. E além de proposições físicas de ampliação da rede, enseja novos métodos de gestão e de cobranças tarifárias no sistema. Já, o PITU 2025, publicado em 2006, tem 2025 como ano de horizonte. A partir de dados da Pesquisa Origem e Destino realizado pelo Metrô em 1997, esse trabalho propõe medidas de expansão da rede de Metrô, totalizando 110 km de acréscimo até 2025 (sobre
IBIÚNA
AÉM
ITANH
MIRAC
ATU
PEDRO DE
TOLED
O
76
IGA
RAT
Á
PAU A LIST
PAULISTA CAMPO LIMPO
ATIBAIA
JAC ARE Í
ÁS
BR
A
OC
MO
A
NG
RA
IPI Í
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A
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EF.
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MA
BA
ITU
AP
GU
S
IRE
OP
IRÃ
E RIB
DE AN GR RA O I R R SE DA L10 – TURQUESA
BERTIOGA
ESCALA 1: 500.000 IOGA
BERT
Rede Metroferroviária atual Linha 10 Turquesa da CPTM
O
ATÃ CUB
NTE
VICE SÃO
Mapa da Rede Metroferroviária da Região Metropolitana de São Paulo, com destaque para a Linha 10 – Turquesa da CPTM, que liga São Paulo à Rio Grande da Serra. [37]
77
a rede existente no início de 2005). Trata-se de uma revisão e atualização do plano anterior, em consonância com o uso do solo da cidade. A Rede Futura, lançada em 2013, com ano meta de 2030, também é uma atualização do plano anterior, no caso, o PITU 2025. A rede proposta nesse plano avança por quase todo território metropolitano com a introdução de diferentes modais – metrô, trem metropolitano, monotrilhos, veículos leves sobre trilhos (VLT) e corredores de ônibus. Tal rede se configura como um metroanel, formado por linhas em arco que são interceptadas por linhas radiais. Devido a quantidade considerável de conexões, a rede mostra-se como um sistema redundante, o que é o ideal, pois, uma vez que o pólo de empregos não se situa no centro, os deslocamentos de casa-trabalho não precisarão mais passar por este nó, desinchando/descongestionando pontos nevrálgicos da rede. Dessa maneira, surgem várias opções de rota para um mesmo destino e se cria efetivamente uma malha de transportes. Enfim, tais planos, através de suas propostas e diretrizes, buscam uma cidade mais equilibrada e sustentável, mas tais resultados dependem da mudança de paradigma na gestão da política urbana associada as intenções do mercado imobilário. ESTAÇÃO DE UTINGA A atual estação de Utinga é um edifício datado de 1960, com plataformas laterais e uma passarela coberta, onde se localiza os guichês de venda de bilhetes, área de apoio dos funcionarios e banheiros públicos, o edifício é ainda cortado pelo viaduto
78
Juvenal Fontanella por onde se dá mais um acesso de pedestres. A estação é uma construção obsoleta, não atende as normas de acessibilidade, não há elevadores, é distante do terminal de ônibus e não há conexões entre plataformas, caso o usuário queira mudar de sentido. Segundo a prefeitura, a CPTM prevê a modernização da estação de Utinga com a construção de um novo edifício. Essa medida faz parte de um plano de reformulação do sistema de trens por meio de: aumento do número de linhas e estações no ABC; implantação do expresso ABC (linha paralela a atual, que fará paradas somente nas estações de maior fluxo); alteração da forma de acesso e construção de novas edificações. Considerando o adensamento populacional no entorno das estações em Santo André, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano reavaliou as estimativas de demanda futura para a linha 10 – Turquesa, levantadas pela CPTM. L10 Turquesa Estação Utinga Pref. Saladino Pref. Celso Daniel Pirelli N° de usúarios
2013*
2020**
Parador
Expresso
Parador
Expresso
10.507 8.013
– –
12.997 8.921
–
56.204
–
12.629
91.658
–
–
52.655 – 178.860
74.724
Fonte: SDUH (Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Santo André) *Dados CPTM **Estimativa para 2020, de acordo com dados da CPTM, revisados pela SDUH.
Em primeiro plano, atual estação de Utinga da CPTM. Em segundo plano, comunidade do Núcleo dos Ciganos. Ao fundo, zona leste do município de São Paulo. [38]
79
PROGRAMA PROPOSTO
O projeto desenvolvido pela CPTM para a estação de Utinga (vide imagem ilustrativa abaixo), apesar de já ter sido elaborado, ainda não foi posto em vigor.
AMBIENTE
Plataforma
2200
Bilhetagem
200
Sanitários
160
Vestiários
160
Bicicletário (208 vagas)
160
Módulos comerciais
250
Informações
15
Primeiros-socorros
40
Mezanino
(área de permanência e circulação)
Proposta da CPTM para nova estação de Utinga. [39] [xx]
Em posse do projeto executivo, pude colher informações à respeito do programa de necessidades básico e dimensões mínimas de uma estação de trem. Assim, foi sugerido o programa de necessidades a seguir:
ÁREA (m2)
4000
Estacionamento (102 vagas)
2250
ÁREA DE APOIO
580
Almoxarifado
40
Vestiários
200
Sanitários
40
Copa
20
Sala de reunião
20
Direção
12
Sala de controle
70
TOTAL
10.015 m2
Vale lembrar que além desse programa de necessidades, há o terminal de ônibus que ficará justaposto à estação de trem, conforme se verificará brevemente no projeto.
80
PREMISSAS DO PROJETO A ideia inicial partia da junção da estação e do terminal num único volume, criando um grande pano de laje que cobriria tudo, mas, num segundo momento, percebeu-se a inviabilidade dessa proposta que foi descartada. Em vista disso, os dois modos de transporte foram separados em volumes distintos, porém, sempre buscando integrá-los harmoniosamente. O edifício da estação não tem como se afastar do formato retilíneo e esguio, devido as dimensões do trem. Logo, criou-se uma plataforma centralizada que atenda aos dois sentidos, o controle de acesso acontecerá no mezanino, por onde também se dará o acesso ao terminal de ônibus, à leste da estação, e ao viário local, à oeste. Além disso, o mezanino está no mesmo gabarito que um trecho do viaduto Juvenal Fontanella, por onde se terá mais um acesso, à 7m do nível do chão. Nota-se que o pavimento do mezanino é fundamental para distribuição dos fluxos por toda a área de projeto – dele se chega à estação, ao terminal de ônibus, ao parque e ao conjunto habitacional. Já para definir o edifício do terminal foram feitos alguns ensaios volumétricos em combinação com a estação, sendo que o formato tringular foi o que mais agradou. Descendo do mezanino, tem-se acesso às plataformas do terminal de ônibus por meio de faixas elevadas.
Ensaios volumétricos para definição de cobertura do terminal de ônibus, último foi escolhido. [40]
81
MÉTODO CONSTRUTIVO O concreto moldado in-loco foi escolhido como método construtivo para a estação, com modulação de 12 m por 12 m, os pilares sustentam a laje do mezanino que é nervurada. Segundo Yopanan, o uso de grelha começa a ser economicamente viável para vãos acima de 7,0 m x 7,0 m. O pré-dimensionamento da laje nervurada é definido pelos seguintes cálculos: h=4%(L+l)/2, sendo h, a altura das nervuras e L e l, os vaõs nos dois sentidos da laje, no caso 12 m; bo =h/3, que se refere a largura das nervuras; e =2h, no quel e é o espaçamento entre nervuras. Os valores obtidos foram h=0,48m~0,50m, bo = 0,17 m e e = 1m. Para a cobertura do terminal, que cobre parte da estação, estruturas metálicas foram adotadas, com uma série de 8 (oito) pórticos treliçados, dispostos no sentido transversal, a estabilidade nesse sentido se daria por travamentos. No entanto, devido ao vão muito grande, viuse necessário uma estrutura de apoio no meio, dessa forma, foi introduzido um pilar de sustentação no meio do vão.
De cima para baixo, corte esquemático da laje nervurada mostrando as dimensões da nervura, perspectiva de laje nervurada, simplificação do pórtico da estrutura da cobertura e forças no apoio. [41]
PLANTA PLATAFORMA COTA 740,00m
82
1
2
7 9
6
3 8
8
8
8
9 5 1
4
9
10 11
11
9
9
10
9
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12.
Plataforma Estação de trem Área de apoio Primeiros-Socorros Bicicletários Vestiários Sanitários Almoxarifado Plataformas Terminal Módulos comerciais Praça Quadra poliesportiva Estacionamento
12
83
11
7 9 8 10 6
5 6
4
2 3
2
1
84
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11.
Mezanino Módulos comerciais Informações Sanitários Controle de acesso | Catracas Bilhetagem Sala de controle Sala de direção Sala de reunião Copa | Refeitório Área de contemplação
CORTE A
PLANTA MEZANINO COTA 746,00m
85
CORTE B
86
87
CORTE C
88
89
CORTE D
90
91
CORTE E
92
93
CORTE F
94
95
Parque O parque tem aproximadamente 1 km de extensão, implantado ao longo do córrego de Utinga e na área que antes era ocupada pelo Núcleo dos Ciganos. A ideia é inserir o parque no tecido urbano existente que hoje em dia o nega, com os terrenos dando fundo para essa área e também integrá-lo com a estação intermodal de Utinga. A proposta é criar mais áreas de lazer e convivência com a abertura dos fundos de lote e um novo passeio, atribuindo novas interações sociais à esse lugar. A ciclovia atravessa o parque que é equipado com dois bicicletários e duas passarelas para cruzar a avenida Goiás e avenida do Estado, além de alguns módulos comerciais e banheiros públicos instalados.
A travessia da linha férrea que cruza o parque, se dá pelo mezanino da estação de trem. A principal função do parque é promover o encontro, buscando suprir à demanda por espaços públicos na cidade, assim, a apropriação espontânea deste local pelas pessoas é algo esperado. Dessa forma, o parque deve ser adaptável aos diferentes usos e necessidades da população No local onde situava o Núcleo dos Ciganos, geralmente inunda e se torna uma área pantanosa, por isso, foi planejado um deck para esse ponto. Também há, na paisagem do parque, torres de linha de transmissão de energia, mas que não interferem no projeto. Bancos de granito e espreguiçadeiras fazem parte do mobiliário urbano do parque, peças que também estão presentes em outros setores do projeto.
4 3
1 4
96
3
2 5
2
1. 2. 3. 4. 5. 6.
Passarelas Bicicletรกrios Mรณdulos comerciais Arquibancadas | Escadarias Ciclovia Deck
6
5 2 1
97
ESPÉCIES VEGETAÇÃO
A. 01. B.
02.
01. Sibipiruna
02. Flamboyant
03. Chapéu de sol
04. Chorão
05. Pata de vaca
06. Ipê amarelo
07. Pau-ferro
08. Figueira
A. Ave do paraíso
B. Giesta
C. Curculigo
D. Capim dos pampas
03. A.
01. 04. 05. 06. 03. 04.
01. 03.
07.
05. 03. D. 08.
B.
08. C.
06.
07.
01.
01. 07.
03.
01. 08.
98
6
2
3
4
4
4
4
5
1
1. 2. 3. 4. 5. 6.
4
Ciclovia Bicicletário Vestiários Módulos comerciais Arquibancadas/Escadarias Passarela
DETALHE – AMPLIAÇÃO 99
CORTE A
CORTE B
100
A ideia é se apropriar de um dos antigos galpões da AGEF que está em desuso, para criar uma Central de Tratamento de Resíduos Sólidos (CTR) para o município de Santo André. O programa de uma CTR se mostra oportuno para a região, isso porque, a área conta com vários galpões de sucata onde se destinam catadores, além de ter pessoas em situação de vulnerabilidade vivendo na região. Logo, a implantação dessa CTR busca incluir tais indivíduos na sociedade, como um primeiro passo para tirá-los desse estado, buscando dar-lhes as condições de usufruir dos mesmos direitos e deveres dos outros cidadãos ao inseri-los no mercado de trabalho. Além disso, do ponto de vista logistico, a CTR se localizaria num local de fácil acesso para veículos pesados – a avenida do Estado – e também ficaria adjacente ao Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), grande gerador de matéria orgânica putrescível – produto base para compostagem que será processado na CTR. O programa da CTR se dividirá em uma Central de triagem1, de onde se separa o material da coleta de lixo regular feito nas ruas, em materiais recicláveis e orgânicos e uma Área de compostagem, com leiras de aeração forçada, trata-se de pilhas enfileiradas de matéria orgânica com injeção de ar para garantir o processo de humificação2. O pré-dimensionamento das áreas de CTR foram realizadas na disciplina PHA 2556 - Tecnologias de Tratamento de Resíduos Sólidos ministrada pelo professor Ronan Cleber Contrera na Escola Politécnica da USP ao qual o autor desse trabalho foi discente.
Vale lembrar que o dimensionamento da CTR foi considerado para um crescimento populacional daqui 20 anos. A população andreense que hoje é de aproximadamente 710.210 habitantes, estima-se que em 2037 será de 863.378 habitantes. A partir daí, para saber a quantidade de resíduos a ser recebida na CTR, foi adotado uma taxa de geração per capita, valor encontrado em bibliografia de 1996, logo, foi estimado um aumento dessa taxa para os dias atuais até o ano de projeção e, em seguida, multiplicado pelo número de habitantes do município. Caracterização e Estimativa dos resíduos sólidos urbanos de Santo André
Geração diária (t/dia)
Central de tratamento de resíduos
Domiciliar
Serviços de saúde
RCD
TOTAL
1996
674
7
1.013
1.694
2017
734
–
1.133
1.867
2037
907
–
1.378
2.285
Fonte: PINTO, Tarcísio de Paula. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidosda construção urbana. Tese de doutorado. Projeções estimadas pelo autor do presente trabalho
Vale ressaltar, que a prefeitura já prevê a implantação de uma CTR na região de aterro da cidade, porém, se viu a necessidade dessa outra, o grande volume de resíduos a ser gerado será dividido entre as duas CTR’s. Apesar de Centrais de Triagem com sistemas mecanizados implantados otimizarem o processo de separação dos resíduos, decidiu-se adotar o método
1 A Central de Triagem é uma etapa preliminar do sistema de tratamento, onde se recebe os resíduos provenientes de veículos de coleta regular (sem distinção entre matéria orgânica e reciclável), visando a separação em frações dos resíduos que serão destinados para reuso, reciclagem, tratamento e disposição final (rejeitos). É um local de estocagem para posterior comercialização dos resíduos segregados. 2 O processo de humificação acontece durante a compostagem, trata-se de um processo aeróbio controlado que transforma os resíduos orgânicos (provenientes de lixos domésticos, feiras livres, jardinagem e varrição, resíduos de madeira, esterco), em resíduo estabilizado – o húmus (substância escura, uniforme, com consistência pastosa, bom condicionador de solo).
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Exemplificação de leiras com aeração forçada, em segundo, localização de onde será implantado a CTR, o galpão à esquerda da imagem. [42]
manual com mesas de separação, acreditando que, como aconselha o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, essa medida favorece a inclusão e integração daqueles em estado vulnerável na sociedade. A área de triagem primária foi dimensionada em aproximadamente 3600 m2. Quanto a compostagem, foi calculada uma área de recepção de 720 m2 para armazenar a matéria orgânica que chega na CTR. Considerando que a central está em zona urbanas, não se optou por tecnologias que apresentassem risco de geração de odores, como o caso das leiras aeradas por revolvimento3, apesar de apresentarem menor custo. Adotou-se então leiras estáticas com aeração forçada, a qual proporciona maior controle da geração de odores, devendo para isso ocorrer o recobrimento das leiras de digestão com material já humificado ou solo e ainda a instalação de filtros na saída do ar aspirado das leiras. Essa tecnologia permite não só o controle de geração de odores, mas também um menor uso de área já que o tempo de detenção pode ser de apenas 30 dias, enquanto leiras aeradas por revolvimento demandariam até 90 dias para estabilização da matéria orgânica. O comprimento da leira foi definido a partir de uma seção triangular com base de 3 metros e altura de 2 metros, ou seja, área da seção de 3 m². Considerando o volume total já triturado e o acúmulo de resíduos durante os 30 dias necessários para realizar a decomposição, chegou-se no comprimento de 2370 m de leira, dividindo em 100 m, dão aproximadamente 24 leiras. Após esse período, ocorre redução de 50% no volume inicial do composto e este deve então ser encaminhado para o processo de maturação onde ainda sofrerá redução de 5% do volume inicial. Assim, uma área de 2500 m2 será suficiente para maturação.
3 Leiras aeradas por revolvimento é um sistema em que a injeção de ar é feita pela mistura periódica da matéria orgânica, sendo um processo exotérmico, que libera calor, a massa que fica concentrada no meio das leiras, se aquece mais e não recebe ar, por isso a necessidade de revolvimento..
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FLUXOGRAMA DE TRIAGEM E SEPARAÇÃO Setor de Coleta
Setor de Coleta
Chegada do Veículo Coletor Carregado
Carregamentos de Rejeitos
Descarga de Resíduos
Retriagem de Rejeitos
Saída do veículo coletor vazio
Triagem com separação em frações
Putrescívei
Pesagem
Destino Final (Reciclagem)
Recicláveis
Acondicionamento das frações e Enfardamento
Estocagem de Materiais
FLUXOGRAMA DE COMPOSTAGEM Putrescíveis
Área de recepção
Trituração
Peneiramento
Acondicionamento em leiras
Estocagem
104
Carregamento dos Recicláveis vendidos
AV. DO ESTADO
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
Triagem Primária Estocagem de plástico Estocagem de papel Estocagem de metal Estocagem de vidro Recepção de matéria orgânica Trituração e peneiramento Prensa e enfardamento Estoque Leiras
AV. INDUSTRIAL
1
2 3 4 5
6 7
9
10
5 20
AV. DO ESTADO
8
100
ESCALA 1: 5.000 R.F.F.S.A
PLANTA DE IMPLANTAÇÃO DA CTR R.F.F.S.A
5 20 0 10
100 50
ESCALA 1: 5.000
200 105
CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde o início deste trabalho busquei sintetizar o conhecimento adquirido durante minha formação na Fau e na Poli, tratando de temas diversos que me instigaram: arquitetura e urbanismo, tratamento de resíduos sólidos, programação visual. A vontade de trabalhar com o bairro de Utinga, ocorreu, devido a minha inquietação ao observar como o espaço público é negligenciado na escala do pedestre, tais locais ficam à mercê da “boa vontade” das autoridades públicas. Então, esse bairro foi um modo que encontrei para responder tal inquietude. Utinga foi um vasto campo de experimentações para o desenvolvimento do TFG. Pode-se notar que é um local com várias carências urbanas, mas que apresenta várias potencialidades de transformação, e o projeto procura mitigar esses problemas. O objetivo de propor um plano para Utinga, e desenvolver projetos específicos para cada setor, como a HIS e a estação intermodal era a intenção desde o início, mas pequisar sobre Utinga e Santo André na escala metopolitana, ampliar suas escalas, ir atrás de informações e analisar dados, avaliar seu entorno, buscar soluções para as questões levantadas, pesquisar por referências, foi o mais enriquecedor de todo processo do TFG. Buscar o adensamento populacional de maneira digna em áreas dotadas de infraestrutura de transportes, promover a diversificação de usos e atividades, assegurar a qualificação paisagística dos espaços públicos foram as premissas que nortearam esse projeto. Enfim, esse trabalho contribuiu não só para minha formação como arquiteto e urbanista, mas também como cidadão comum preocupado com as questões urbanas.
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ÍNDICE DE IMAGENS [1] Localização de Utinga na Região Metropolitana de São Paulo. Fonte: Autor do presente trabalho. [2] Lançamentos residenciais no ABC (2007-2013). Fonte: Plano diretor regional do grande ABC, 2006. [3] Aglomerados subnormais, assentamentos precários e densidade dos lançamentos imobiliários residenciais (2007-2013) Fonte: Plano diretor regional do grande ABC, 2006. [4] Maquete da região de Utinga. Fonte: Autor do presente trabalho [5] Passarela de travessia na Av. do Estado. Fonte: Autor do presente trabalho [6] Viela da favela dos Ciganos. Fonte: Autor do presente trabalho [7] Galpões industriais configuram algumas ruas do bairro. Fonte: Autor do presente trabalho [8] Terminal de ônibus localizado embaixo do viaduto Juvenal Fontanella. Fonte: Autor do presente trabalho [9] Praça com comércio informal que dá acesso à favela dos Ciganos e à estação de trem Utinga. Fonte: Autor do presente trabalho [10] Trajeto entre terminal de ônibus e estação de trem. Fonte: Autor do presente trabalho [11] Vista para ramal de trilhos que passam ao lado da estação. Fonte: Autor do presente trabalho [12] Vista da entrada leste da estação para a favela dos Ciganos. Fonte: Autor do presente trabalho 110
[13] Vista do viaduto para estação de trem (lado oeste). Fonte: Autor do presente trabalho [14] Acesso de pedestres à estação pelo viaduto Juvenal Fontanella. Fonte: Autor do presente trabalho [15] Terreno desocupado. Fonte: Autor do presente trabalho [16] Universidade particular Anhanguera. Fonte: Autor do presente trabalho [17] Galpão industrial abandonado das empresas Pierre Saby e Nordon. Fonte: Autor do presente trabalho [18] Trajeto até a estação de trem pelo lado oeste (córrego de divisa de municípios entre Santo André e São Caetano). Fonte: Autor do presente trabalho [19] Área de projeto inserida na RMSP. Fonte: Autor do presente trabalho [20] Mapa 1 – Área do projeto. Fonte: Autor do presente trabalho [21] Mapa 2 – Hipsometria Fonte: Autor do presente trabalho [22] Mapa 3 – Uso do solo Fonte: Autor do presente trabalho [23] Mapa 4 – Mancha de ocupação. Fonte: Autor do presente trabalho [24] Mapa 5 – Riscos e Potenciais de ocupação Fonte: Autor do presente trabalho [25] Mapa 6 – Áreas residuais Fonte: Autor do presente trabalho [26] Área do projeto setorizada. Fonte: Autor do presente trabalho [27] Perspectiva da área do projeto. Fonte: Autor do presente trabalho
[28] Parcelamento da gleba, implantação dos blocos habitacionais, área institucional, fluídez entre edifício. Fonte: Autor do presente trabalho
[40] Ensaios volumétricos para definição de cobertura do terminal de ônibus, último foi escolhido. Fonte: Autor do presente trabalho
[29] Processo de concepção da unidade habitacional Fonte: Autor do presente trabalho
[41] De cima para baixo, corte esquemático da laje nervurada mostrando as dimensões da nervura, perspectiva de laje nervurada, simplificação do pórtico da estrutura da cobertura e forças no apoio. Fonte: Autor do presente trabalho
[30] Schandorff Square Fonte: Østengen & Bergo AS [31] Ladeira da Barroquinha Fonte: Ilana Bessler, www.metroo.com.br [32] Conjuntos Habitacionais Guarapiranga Fonte: www.elitoarquitetos.com.br [33] Conjunto Habitacional Heliópolis Fonte: Biselli Katchborian, Nelson Kon, www. vitruvius.com.br
[42] Exemplificação de leiras com aeração forçada, em segundo, localização de onde será implantado a CTR, o galpão à esquerda da imagem. Fonte: Notas de aula PHA2556 – Tecnologias de Tratamento de Resíduos sólidos; Google Earth..
[34] Residencial Sílvio Baccarelli | Heliópolis | Gleba H Fonte: Vigliecca & Associados, www.vigliecca. com.br [35] Conjunto Residencial Comandante Taylor Fonte: Piratininga Arquitetos Associados, www. piratininga.com.br [36] Favela Nova Jaguaré | Setor 03 Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, www. boldarini.com.br [37] Mapa da Rede Metroferroviária da Região Metropolitana de São Paulo, com destaque para a Linha 10 – Turquesa da CPTM, que liga São Paulo à Rio Grande da Serra. Fonte: Autor do presente trabalho [38] Em primeiro plano, atual estação de Utinga da CPTM. Em segundo plano, comunidade do Núcleo dos Ciganos. Ao fundo, zona leste do município de São Paulo. Fonte: Google Earth. [39] Proposta da CPTM para nova estação de Utinga. Fonte: Prefeitura de Santo André. 111
BIBLIOGRAFIA »» LANGENBUCH, Juergen Richard. A estruturação da grande São Paulo: estudo de geografia urbana. Rio de Janeiro. Instituto Brasileiro, Departamento de Documentação e Divulgação Geográfica e Cartográfica, 1971. »» ALVES DE AQUINO ARAÚJO, Adriano. Reve de Brezil: A inserção de um grupo de imigrantes haitianos em Santo André, São Paulo – Brasil. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do ABC. Programa de Pós-graduação em Ciências Humanas e Sociais, Santo André, 2015. »» Parque D. Pedro II: plano e projetos. Secretaria Muncipal de Desenvolvimento Urbano, São Paulo Urbanismo; FAUUSP | FUPAM; Laboratório de Urbanismo (LUME); UNA Arquitetos; H + F + Metrópole Arquitetos – São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2012. »» Gehl, Jan. Tradução: Anita Di Marco. Cidade para pessoas. 3 edição. São Paulo. Perspectiva, 2015. »» YANO, Nicholas. Estação Tancredo Neves, infraestrutura como projeto de transformação urbana. Trabalho final de graduação. FAU USP, 2015. »» El Debs, Mounir Khalil. Concreto pré-moldado: Fundamentos e aplicações. São Carlos. EESC-USP, 2000. »» Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS). Disponível em: http://indices-ilp.al.sp.gov.br/ view/index.php. Acesso em: dez. 2016. »» Plano Diretor Regional do Grande ABC. Relatório 02 – Diagnóstico. Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e Universidade Federal do ABC. Junho, 2016. Disponível em: https://www.pdui.sp.gov.br/ biblioteca/. Acesso em: nov. 2016. »» Lei 8696/2004. Plano Diretor Participativo de Santo André. »» ABNT NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Terceira versão, 2015. »» OLIVEIRA, Mariana. Ruína Industrial espera novo destino in: Diário do Grande ABC, Santo André, 2 de outubro de 2005. »» Infraestrutura de Dados Espaciais Ambientais do Estado de São Paulo IDEA – SP. http://datageo. ambiente.sp.gov.br/. Acesso em: julho 2016. »» Dados espaciais de Santo André. http://e-geo.santoandre.sp.gov.br/. Acesso em: maio 2016. »» Centro de Coleta, Sistematização, Armazenamento e Fornecimento de Dados (CeSAD). http://www. cesadweb.fau.usp.br/index.php. Acesso em: junho 2016. »» Gestão urbana SP. www.gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br. Acesso em: junho 2016. »» Vigliecca e Associados. www.vigliecca.com.br. Acesso em: nov. 2016. »» Boldarini Arquitetos Associados. www.boldarini.com.br. Acesso em: nov. 2016. »» Elito Arquitetos. www.elitoarquitetos.com.br. Acesso em: nov. 2016. 112