Comentários Sobre Pérola na Areia Em Pérola na Areia, Tessa Afshar criou personagens instigantes que deram um novo sentido a esta adorável história bíblica. — Jill Eileen Smith, autora do best-seller Michal e Abigail Pérola na Areia, a história de Raabe, a prostituta que foi uma das ancestrais de Cristo, transmite verdades muito poderosas, como: o perdão, a redenção e o poder transformador de Deus. O site Novel Journey e eu recomendamos esta leitura inesquecível. — Ane Mulligan, escritora do site Novel Journey
pérola na
areia
A História de Raabe
Tessa Afsh ar
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EDITOR RESPONSÁVEL Claudio Rodrigues COEDITOR Thiago Rodrigues ADAPTAÇÃO CAPA Chayanne Maiara
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DIAGRAMAÇÃO Larissa Almeida REVISÃO DE DIAGRAMAÇÃO Hellen Arantes TRADUÇÃO Mitsue Siqueira PREPARAÇÃO DE TEXTO Paula Maricato REVISÃO DE ESTILO Christiano Titoneli Gabriela Amaral REVISÃO DE PROVAS Amanda Porto
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AFSHAR, Tessa. Pérola na Areia - A História de Raabe. Rio de Janeiro: BV Books, 2013. ISBN 1ª edição Impressão e Acabamento Categoria
978-85-8158-028-9 Junho | 2013 Promove Ficção
Impresso no Brasil | Printed in Brazil
À Emi, Minha irmã, minha amiga e minha grande alegria
Observações da Autora
O
título deste romance e o uso de pérolas na história são resultado da licença poética. Embora os egípcios usassem madrepérola dentre suas joias naquela época, não houve evidências arqueológicas referentes ao uso propriamente dito das pérolas até os séculos mais recentes. No entanto, Madrepérola na Areia não teria o efeito proposto. As Escrituras nos dizem que Raabe era uma prostituta (meretriz era o eufemismo usado para essa palavra), e a Bíblia hebraica usava duas palavras diferentes para descrever a prostituição: a primeira, kedeshah, se refere ao templo das prostitutas; a segunda, zonah, se refere aos tipos mais comuns de prostituta. Independentemente de a profissão de Raabe ser mencionada ou não, a palavra zonah é usada. Nossa história gira em torno dessa distinção. Muitas referências feitas a Raabe, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, incluem o termo zonah (Raabe, a zonah), uma indicação de que o povo de Israel nunca esqueceu totalmente do passado dessa mulher. Embora a maioria das descrições associa-
das a ela tenha tendências positivas, este relato mostra que Raabe talvez tenha tido uma recepção um tanto quanto ambígua em seu novo lar. Por um lado, ela foi bem-vinda e admirada; por outro, seu passado ainda repercutia no presente. O nome de Salmom aparece escrito de várias maneiras diferentes no original hebraico, como Salmon, Shalmon e Salmone. Na maioria das versões bíblicas de nossa língua, traduziu-se como Salmom, o que felizmente acabou por não coincidir o nome do nosso herói com o nome de peixe. Sempre que possível, este livro recorre a fontes bíblicas e arqueológicas. A situação no capítulo dezessete, que compara a experiência de Raabe em Jericó à situação de Israel no Egito durante a primeira Páscoa, foi inspirada em um capítulo do livro Reading The Women of the Bible, de Tivka Frymer—Kensky (Nova York: Schocken Books, 2002, pp. 297-300). No entanto, este livro é por essência um romance — um registro ficcional de uma mulher que teve grande importância histórica tanto para os judeus quanto para os cristãos. A Bíblia hebraica revela que, após a destruição de Jericó, Raabe foi viver permanentemente em Israel, mas não há maiores detalhes sobre sua vida (Josué 6:25). Para os cristãos, o destino de Raabe é revelado em um fragmento de um dos versículos de Mateus, em que se descreve a genealogia de Jesus. Estas palavras simples nos mostram seu destino maravilhoso: “E Salmom gerou, de Raabe, a Boaz” (Mateus 1:5). Ou seja, Salmom e Raabe se casaram e tiveram um filho. A Bíblia nos dá uma visão geral do passado de Salmom por meio de diversas genealogias (1 Crônicas 2:11; Rute 4:20-21). Certamente, ele veio de uma família bastante distinta de Judá; seu pai, Naassom, era o líder do povo de Judá e a irmã de seu pai era casada com Arão (Números 2:3-4). Nada se sabe sobre as realizações e feitos de Salmom, mas ainda assim o versículo de Mateus é impressionante. Como seria possível um homem que é praticamente um aristocrata judeu, importante o suficiente para ter seu nome registrado nas Escrituras, casar-se com uma mulher cananeia que ganhava a vida entretendo homens? Grande parte desta obra aborda esse questionamento, e obviamente esse aspecto do romance é puramente ficcional. Sabemos apenas que Salmom
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casou-se com Raabe, teve um filho com ela e o próprio Jesus enumera a prostituta cananeia como uma de Suas ancestrais. No entanto, a Bíblia não nos revela de que maneira esse casamento aconteceu ou quais obstáculos a relação enfrentou. Ler um romance não é a melhor maneira de estudar as Escrituras, para isso temos a Bíblia. De forma alguma, esta história tem a intenção de substituir o poder transformador que o leitor encontrará nas Escrituras. Para uma melhor descrição bíblica de Raabe, leia Josué 1-10, Mateus 1:1-7 e o livro de Rute.
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Capítulo Um
A
inda não havia amanhecido quando Raabe acordou com uma cotovelada insistente. “Deixe de ser preguiçosa, garota. Seu pai e seus irmãos já estão quase prontos para ir”. Depois disso, sua mãe lhe deu mais uma cotovelada. Raabe suspirou e decidiu levantar. Com os olhos turvos e com o corpo pesado, ela se esforçou para ficar em pé. Há dois meses Raabe executava tarefas de homem, acordando antes do dia amanhecer e trabalhando duro na terra, com pouca comida, pouca água e sem o descanso necessário para renovar as energias. Mas era inútil, até uma menina de apenas 15 anos conseguia ver isso. As terras não haviam produzido nada, a não ser poeira, e assim como o restante de Canaã, Jericó estava sob o domínio de uma grande seca. Embora soubesse que seus esforços seriam desperdiçados, todos os dias ela dava o melhor de si ultrapassando os limites da tolerância, porque, enquanto houvesse trabalho, seu pai tinha esperanças. Tão desesperada, Raabe não conseguia nem pensar.
“Rápido, menina!”, sua mãe a apressava. Porém, Raabe já tinha arrumado sua cama, estava quase terminando de se vestir e acabando de fazer tudo em silêncio, com calma. Ela não se apressaria nem que o exército do rei estivesse à sua porta. Seu pai apareceu triste, mastigando um pedaço de pão envelhecido, com o rosto pálido e cansado brilhando por causa do suor. Raabe vestiu seu cinturão com um movimento rápido e pegou um pedaço endurecido de bolo de cevada que serviria como café da manhã e parte do almoço. Ao dar um abraço apertado no pai, ela disse: “Bom dia, papai”. Ele se esquivou de seu abraço e disse: “Deixe-me respirar, Raabe”. Voltando-se para sua esposa, ele afirmou: “Tomei uma decisão. Se eu vir que não há nada a ser colhido hoje, desisto”. Raabe suspirou espantada enquanto sua mãe deixava escapar um lamento inquieto: “Inri, não! O que será de nós?” Seu pai encolheu os ombros e saiu. Aparentemente, suas esperanças haviam findado. Ele admitiu a derrota. Em meio à escuridão, Raabe o seguiu sabendo que aquele dia não seria diferente dos outros, mas, só de pensar na desgraça de seu pai, sentiu-se mal. Seus irmãos, Joa e Karem, esperavam do lado de fora. Karem mastigava um bolo de uvas, privilégio que a mãe preservava para o filho mais velho. A esposa de seu irmão, Zoarah, se aproximou falando baixo por causa de Raabe. Apesar da preocupação, Raabe mostrou um sorriso enquanto seu irmão, casado há um ano, dava as mãos à esposa. Os dois se casaram por amor, o que não era comum em Canaã. Mesmo implicando, sempre que havia chance, com seu irmão mais velho, o coração de Raabe batia mais forte ao pensar em uma união como aquela. Às vezes, em meio à escuridão, enquanto toda sua família dormia, ela sonhava em ter um marido que a amasse tanto quanto seu irmão amava Sarah. Porém, nos últimos dias, seus pensamentos estavam tão consumidos pela preocupação que não lhe restava mais tempo para sonhar acordada.
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Esperando no limite mais afastado do pequeno terreno da família, Joa, o filho mais novo, de 14 anos, olhava para o nada. Raabe não o ouviu proferir mais do que três palavras durante tantos dias; era como se a seca tivesse acabado também com sua fala. Ela percebeu que o irmão estava com uma olheira muito forte e com o corpo debilitado, apesar da alta estatura. Provavelmente, ele tinha saído de casa sem comer nada. Raabe pegou o pão que estava guardado em seu cinturão, dividiu-o em duas partes e levou para Joa. O que não era o bastante nem mesmo para ela, imagine tendo de dividir para dois. “Coma isso, rapaz!” Joa ignorou a irmã e ela perguntou: “Você quer que eu te perturbe até chegarmos à lavoura, ou não?” Ele olhou irritado para ela, mas estendeu a mão. Ela continuou por perto para certificar-se de que ele tinha comido, e em seguida foi atrás do pai. À medida que eles andavam em direção aos portões da cidade, os passos assumiam um ritmo mais acelerado. Raabe notou que até mesmo Karem, que costumava não se preocupar, parecia bastante angustiado. Finalmente, ele quebrou o silêncio que pairava sobre eles. “Pai, fui até Hebrom, na venda que o senhor falou, mas ele se recusou a vender óleo ou cevada por aquele preço. Ou ele dobrou os preços desde a última vez que o senhor comprou, ou o senhor se enganou em relação ao valor.” “Então mande Raabe ir até lá. Foi ela quem negociou da última vez.” “Raabe. Tinha que ser”, Karem afirmou com um ar de bondade reluzindo de seus olhos. “Apenas um olhar para esse rostinho lindo que todas as possibilidades de lucros e quantias desaparecem de Hebrom.” “Não é bem assim!”, Raabe retrucou muito irritada. “Não tem nada a ver com o meu rosto; eu apenas sou melhor nas negociações do que você, só isso.” “E você chama isso de negociação? Dar piscadinhas com os olhos não me parece negociação.”
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“Eu vou é dar vassouradas se você não tomar cuidado com o que fala.” “Chega!”, ordenou o pai deles. “Assim vocês me deixam com dor de cabeça.” “Perdão, papai”, disse Raabe corrigindo-se imediatamente. Seu pai não precisava de mais problemas e ela deveria aprender a controlar seus impulsos. Ele já estava com tantas preocupações pesando sobre os ombros que ela queria ser um conforto, não um fardo a mais. Raabe não conseguia o consolar em palavras. Em vez disso, seguindo seus instintos, ela estendeu a mão à procura da mão do pai e a segurou. Por um instante, ele pareceu não perceber sua presença. Em seguida, virando-se para ela e meio disperso, ele percebeu a proximidade. Raabe lhe ofereceu um sorriso reconfortante, mas ele afastou a mão. “Você já está muito grande para andar de mãos dadas.” Ela ficou envergonhada e escondeu a mão por entre as roupas. Diminuindo o ritmo de seus passos, Raabe ficou para trás andando sozinha e seguindo as pegadas dos três homens. Na lavoura, os quatro examinaram cada parte da plantação buscando por sinais de vida. Salvo alguns besouros com cascas grossas, eles não encontraram nada. Quase ao meio-dia, Raabe estava abatida demais para continuar e se sentou enquanto eles concluíam cuidadosamente a inspeção. Quando eles voltaram, seu pai murmurou em voz baixa: “O que nós vamos fazer? O que vamos fazer?” Raabe desviou o olhar. “Vamos para casa, papai.” Em casa, ela abriu a velha cortina que servia como porta principal e entrou, mas sua mãe a escorraçou gesticulando: “Dê um pouco de privacidade a mim e ao seu pai”. Raabe consentiu com a cabeça e saiu. Em seguida, se recostou na parede repleta de lodo em meio às grandes sombras. Ela só queria achar uma forma de ajudar a família, mas nem mesmo seus irmãos conseguiram arrumar trabalho na cidade. A cidade de Jericó, que já estava abarrotada de lavradores desesperados em
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busca de trabalho, não os animava muito. De que jeito ela, uma simples menina, poderia ser útil? O som de seu nome ecoando pela janela resgatou sua mente distraída. “Deveríamos tê-la oferecido como esposa de Ian no ano passado em vez de esperar uma oferta melhor”, disse a mãe. “Como iríamos saber que enfrentaríamos uma seca que nos levaria à falência? De qualquer modo, o dote que ele nos ofereceu não daria para nos sustentar nem por dois meses.” “Mas seria melhor do que nada. Fale com ele, Inri.” “Mulher, ele não a quer mais. Eu já perguntei, e ele está na mesma situação que a nossa.” Raabe prendeu a respiração tentando não perder detalhe algum da conversa. Em circunstâncias normais, a vontade de escutar a conversa alheia jamais passaria por sua cabeça, mas algo na voz de seu pai a fez especular. Raabe se arrastou como uma lagartixa pela parede e continuou ouvindo. “Inri, se fizermos isso não teremos como voltar atrás.” “O que mais podemos fazer? Diga.” Um silêncio intenso se juntou à ira de seu pai. Quando ele falou novamente, a voz dele estava mais calma e aparentemente cansada. “Não há outro jeito. Ela é a nossa única esperança.” Raabe sentiu um enjoo no estômago. Em que seu pai estaria pensando? As vozes ficaram muito baixas para ouvir. Frustrada, ela foi andando até o fim das terras de sua família. Em uma estrebaria quase destruída, dois cabritos definhados roíam um arbusto ressequido no qual não havia mais nada a não ser madeira. Com os homens e Raabe trabalhando na lavoura todos os dias, ninguém teve tempo de cuidar da estrebaria. O cheiro pútrido agredia seus sentidos — um pano de fundo perfeito para suas emoções mais intensas, ela pensou. Seus pais se referiram a ela como a única forma de salvar a família, mas eles não falavam sobre casamento. De que outra maneira uma menina de quinze anos conseguiria ganhar dinheiro? Com a respiração rápida, Raabe levou as mãos ao rosto. Papai nunca me obrigaria a fazer isso. Nunca. Ele preferiria morrer. Tudo não passava de um malentendido. Mas o enjoo no estômago se intensificava cada vez mais. 17
,. “Sua mãe e eu estávamos pensando em seu futuro, Raabe”, disse o pai no dia seguinte enquanto Raabe se levantava. “Filha, você pode ajudar sua família inteira, mesmo que seja difícil para você. Eu sinto muito—”. Ele parou de falar de repente como se não soubesse mais como prosseguir. Ele não precisou falar mais nada. O terror a apavorou de tal maneira que ela não conseguia respirar. Com grande espanto, Raabe se deu conta de que seus piores medos haviam se tornado realidade. O pesadelo que ela havia interpretado como um malentendido na noite anterior era verdade. O pai realmente queria vendê-la como prostituta. Ele queria sacrificar o futuro, o bemestar e a vida dela. “Muitas moças precisam fazer isso — algumas mais novas do que você”, disse ele. Raabe olhou apavorada para o pai; ela queria gritar. Raabe queria agarrá-lo e implorar. Pense em outro jeito, papai. Por favor, por favor! Não me obrigue a fazer isso. Eu pensei que fosse sua garotinha preciosa! Eu pensei que o senhor me amava! Mas ela sabia que seria em vão. Seu pai já tinha tomado a decisão e não se abalaria com suas súplicas. Assim, ela engoliu cada palavra, assim como os argumentos e esperanças. Você nunca mais será o meu pai, ela pensou. Desde quando aprendeu a falar, ela já chamava seu pai de papai com uma ternura infantil, que demonstrava sua afeição pelo homem mais importante do que qualquer outro no mundo. Mas aquela ternura infantil havia se acabado para sempre. A dor dessa constatação era quase pior do que ter de vender seu corpo em troca de dinheiro. Como se estivesse ouvindo algumas palavras não ditas, ele perguntou novamente: “Que outra escolha eu tenho?” Raabe se virou para que não precisasse olhar para o pai. O homem que ela amava mais do que qualquer outro, em quem confiava e quem tanto estimava estava disposto a sacrificá-la para o bem de toda a família.
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Esse não era um acontecimento inusitado em Canaã. Muitos pais jogavam suas filhas na prostituição para sobreviver. Mas, mesmo assim, ainda que a escolha de seu pai não fosse nada fora do comum, Raabe não se conformou. Havia nada mais sujo e baixo para ela do que viver como prostituta. Seu pai estava respirando rápida e intensamente. “No templo você vai ter reconhecimento. Você será bem tratada.” Raabe se esforçou para falar, como se alguém a estivesse enforcando. “Não. Eu não vou para o templo.” “Você vai me obedecer!”, seu pai gritou. Em seguida, mexendo com a cabeça, ele abrandou a voz. “Precisamos de dinheiro, filha. Senão, morreremos de fome, inclusive você.” Raabe segurou o grito contendo-se para parecer tranquila. “Não estou me recusando a obedecer ao senhor, meu pai. Apenas estou dizendo que não irei a templo algum. Se temos de fazer isso, não vamos incluir os deuses nessa história.” “Seja sensata, Raabe. Lá, você terá proteção e respeito.” “Você chama o que eles fazem de proteção? Eu não quero o respeito que as mulheres conseguem no templo.” Ela se virou e olhou para ele diretamente nos olhos, mas ele desviou. Ele sabia sobre o que Raabe estava falando. No ano anterior, a irmã mais velha de Raabe, Izzie, ofereceu o primeiro filho ao deus Moloque. O bebê era uma grande alegria, e desde o momento em que sua irmã disse que estava grávida, Raabe sentiu que tinha uma ligação especial com ele. Ela o segurou minutos depois de seu nascimento, revestindo-o e embalando-o, admirando sua boquinha perfeita que abria e fechava como se estivesse mandando beijos para ela. O amor por ele a invadiu desde aquele momento de pureza. Mas sua irmã preferiu a estabilidade financeira, pois estava cansada da pobreza. Então, ela e seu marido Gerazim concordaram em oferecer o filho a Moloque para o próprio bem do menino. Eles não deram a mínima atenção quando Raabe implorou que eles mudassem de ideia. Os dois estavam decididos. “Nós teremos outro filho”, disseram eles. “Ele será tão lindo quanto esse e terá tudo o que quiser, o que é melhor do que ser criado na pobreza e passar necessidade.”
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Raabe foi ao templo com eles no dia do sacrifício na esperança de fazê-los mudar de ideia. Mas nada do que ela disse convenceu o casal. Seu sobrinho não foi o único bebê sacrificado naquele dia. Havia pelo menos uns doze. O lugar estava cheio de pessoas que assistiam aos sacrifícios, e algumas encorajavam os sacerdotes, que ficavam diante de fogueiras enormes cobertos do pescoço até os tornozelos, a oferecer sacrifício. Raabe se apavorou com o que viu e ficou pensando em como seria a natureza de um deus que prometia uma vida boa às custas da morte de um bebê indefeso. Que tipo de felicidade alguém poderia comprar por esse preço? Ela manteve o filho de sua irmã nos braços até quando pôde, murmurando palavras de conforto enquanto observava aquele pequeno corpo. Ele exalava o cheiro do leite e do pão de mel mais doces. Raabe o apertou contra o peito pela última vez enquanto lhe dava beijos de despedida. O bebê gritou quando mãos brutas o arrancaram do colo de Raabe, mas aquilo não foi nada em comparação ao seu último grito à medida que o sacerdote se aproximava da fogueira ardente... Raabe deu um passo incerto na direção de Gerazim, mas viu que Izzie já estava em seus braços. Naquele dia, Raabe prometeu que jamais se curvaria diante de tais deuses. Ela os odiava. Apesar de todos encantos fulgentes, ela tinha visto quem eles realmente eram: consumidores da humanidade. As terras de Izzie e Gerazim estavam tão devastadas quanto as de Inri, e eles fizeram tanto em favor das bênçãos de Moloque. Ela nunca recorreria a ele. Não, o templo não era lugar para ela. “Raabe”, seu pai argumentou enquanto mordia uma das unhas já roídas, “pense em como será a sua vida fora do templo. Você é jovem, não entende”. Não se tratava de não ter medo. A vida das prostitutas fora dos templos era difícil, arriscada e vergonhosa. Mas ela sentia menos medo de ter aquela vida do que de servir aos deuses de Canaã. “Pai, por favor. Não sei se consigo aguentar a vida no templo.” Esperava-se que as filhas obedecessem aos seus pais sem hesitar, e as objeções e os argumentos de Raabe poderiam ser considerados 20
desobediência. Seu pai poderia levá-la à força para qualquer templo e vendê-la sem que ela tivesse chance de se defender. Ela imaginou que seu pai nunca se rebaixaria a tal comportamento, mas depois se lembrou da noite anterior em que também achava que ele nunca exigiria que ela se prostituísse. Raabe perdeu o chão, e nada mais lhe parecia seguro. Karem, que chegou no meio da conversa entre os dois, afirmou de repente: “Pai, o senhor não pode fazer isso com essa menina. A vida dela será destruída!” Inri deu um golpe no ar com um gesto impaciente. “E por acaso você descobriu alguma outra maneira de mantermos nossa família durante o inverno? Você arrumou algum trabalho? Ou conseguiu herdar dinheiro de algum tio que nós não conhecemos?” “Não, mas eu ainda não tentei tudo. Há outros trabalhos, outras possibilidades.” O coração de Raabe bateu mais forte com esperança por causa do apoio de seu irmão, mas a esperança logo se acabou com a resposta do pai. “Quando você se der conta de que não tem mais nada, sua linda esposa e seu filho que ainda nem nasceu morrerão de fome. Raabe é a única certeza de que sobreviveremos. Esse é o único jeito”, repetiu ele com uma convicção absurda. Karem abaixou a cabeça e não falou mais nada. Raabe caiu no chão sem conseguir conter as lágrimas. Inri foi para o outro lado da casa e sentou-se em um canto olhando para o nada. A discussão findou à medida que suas palavras não ditas os separavam. Em meio àquele silêncio, Raabe sentiu que uma parede havia se erguido entre ela e o pai, e que a parede era tão inabalável quanto os muros da cidade. Aconteceu que os dois estavam sentindo muita vergonha; Inri, porque tinha fracassado como pai — como protetor — e ela, por causa do que estava prestes a se tornar. Raabe ficou paralisada pela traição do pai, e um sentimento de solidão mais sombrio do que tudo que ela conhecia fora aprisionado em seu coração como um corpo na sepultura.
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,. Depois de tudo, Inri não poderia recusar o único pedido de sua filha. Porém, o fato de Raabe não querer entrar no templo deixou seus pais em uma situação ainda mais difícil. De que maneira eles arrumariam clientes para ela? As coisas no templo eram simples e diretas, mas ninguém sabia como proceder de acordo com o desejo de Raabe. “Tem uma mulher que mora perto de nós; ela treinava as mulheres do templo”, sua mãe sugeriu. “Agora ela ajuda mulheres que trabalham em outros lugares.” “Eu sei quem é ela”, Inri murmurou. “Ela me parece rigorosa.” “Eu também a conheço.” Raabe uma vez viu a mulher agredindo uma das moças até sair sangue da orelha dela. “Talvez essa não seja a melhor ideia.” “Você nunca aceita as minhas sugestões”, respondeu a mãe com a voz trêmula de censura. “Você tem ideia de como isso dói em mim? Você sabe como é difícil para um coração de mãe ter que suportar a dor de um filho?” “Não, eu provavelmente não sei”, Raabe afirmou com palavras fortes como pedra. Ela achou melhor engolir quaisquer referências óbvias à sua própria dor. Dizê-las apenas faria sua mãe ter outro ataque de culpa e sofrimento, e Raabe não estava disposta a consolá-la enquanto sofria por causa de seus próprios sonhos destruídos. “Por que eu precisaria dar metade dos meus lucros a uma mulher que me bateria? Se a intenção é me fazer ganhar o suficiente para manter a família, não podemos ter uma parceira desonesta.” “Raabe, nós não sabemos como... como fazer isso”, disse o pai batendo os dedos na mesa. Raabe sentiu o gosto amargo da raiva na garganta. Ignorando-o, ela falou: “Vamos até Zedeque, o ourives. Ele saberá o que fazer”. De vez em quando, seu pai fazia alguns favores a Zedeque. Ele era um homem rico, ourives do rei, e tinha boas relações na aristocracia de Jericó. Durante os últimos seis meses, por todas as 22
vezes que Zedeque viu Raabe, ele olhava para ela com um desejo tão intenso que não lhe restava dúvida. Ela sabia que ele não a queria como esposa, pois se quisesse, já teria pedido ao seu pai. Contudo, Raabe sabia que ele pagaria bem pelos seus serviços, e ela queria fazê-lo pagar um bom preço. Já que era preciso passar por essa situação horrível, ela queria conquistar um pouco mais do que o alimento que garantiria a sobrevivência de sua família durante a seca. Raabe se libertaria do pai; ela ainda o amava e sua dedicação pela família continuava a mesma, mas estava determinada a nunca mais depender da proteção dele. “O que Zedeque tem a ver com isso?”, perguntou a mãe. Inri não respondeu. Ele fechou os olhos, esfregou as mãos na cabeça e disse: “Nada não”. Raabe saiu em silêncio para chorar sozinha.
,. “Quanto será necessário para nos alimentar por um ano?”, Raabe perguntou ao pai enquanto seguiam para o comércio de Zedeque. Suas pernas tremiam mais e mais a cada passo, porém ela se recusava a submeter-se ao medo que a desolava em seu íntimo. “Por quê?” “Peça a quantia necessária para isso e mais um cordão, brincos e braceletes de ouro para mim.” “Garota, você é bonita, mas não é tão bonita. Nenhum homem em sã consciência pagaria tanto por uma noite, ainda mais para você.” Seria ela atraente o bastante para convencer Zedeque a lhe dar uma boa quantia? Raabe sabia que já atraía os olhares dos homens nos últimos dois anos, quando seu corpo tomou forma e seu cabelo perdeu a placidez adolescente ganhando cachos firmes castanho-avermelhados. O que ela faria por Zedeque? “Não apenas uma noite”, ela respondeu distraída. “Três meses. Ele me terá enquanto ainda sou jovem e pura... antes de mais ninguém...”.
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Sua voz sumiu. Ela mal conseguia pensar em passar por aquilo de noite em noite, com homens diferentes entrando e saindo de sua vida. Talvez ter um cliente com alguma estabilidade a faria tolerar a situação por mais tempo. “Eu vou pedir, mas não espere que ele aceite.” “É um bom negócio. Ele aceitará. Mas olha, três meses e nem mais um dia.” Seu pai olhou como nunca havia olhado para ela antes; talvez ele não a conhecesse. Nem mesmo ela conhecia a si mesma. Zedeque era um homem gordo e dentuço. Ele se vestia muito bem, ornado com ouro da cabeça aos pés, com enfeites em sua barba e guizos delicados nos sapatos de tecido. Quando ele viu Raabe e o pai entrando no comércio, foi direto ao encontro deles atropelando alguns clientes. “Bom dia, Inri!”, disse ele olhando fixamente para Raabe. Pelas pupilas escuras de Zedeque, ela conseguia ver o reflexo do próprio rosto — seu nariz pequeno, seus lábios arredondados e seus olhos grandes, inchados por causa das lágrimas. Raabe havia lavado os cabelos para aquela visita; seus cachos escapavam por debaixo do véu, as mechas castanhas em forma de espiral davam forma ao seu rosto e caíam em cascata sobre as costas. Ao se lembrar do motivo que a fez lavar os cabelos, ela demonstrou vergonha e desespero — e pensou no olhar de Zedeque. Seu pai pigarreou. “Podemos falar com você, meu senhor? Em particular?” Zedeque barganhou o quanto pôde, mas Inri, pensando em si mesmo, não cedeu. Zedeque olhou para Raabe, passou os dedos nos lábios e fez uma última tentativa. Quando Inri a negou gesticulando com a cabeça, Zedeque virou as costas e saiu. Raabe segurou a mão do pai e se levantou para ir embora; o pai lançou-lhe um olhar desesperado, mas ela continuou irredutível e ele cedeu. Zedeque, vendo a determinação dos dois, voltou e aceitou a oferta. Raabe percebeu que seu pai parecia espantado, mas assumiu uma feição branda, disfarçando a própria surpresa. Assim como seu pai, ela mal podia acreditar que Zedeque estava disposto a pagar tanto por ela.
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Pelos três meses seguintes, Zedeque foi seu mestre. Ele gostava de ver que ela não sabia nada, e gostou de vê-la chorando durante a primeira semana. Depois, ele também gostou de consolá-la e não foi cruel. Ele nunca bateu ou abusou de Raabe. E se algo lhe despertou repugnância ou nojo, tanto dela mesma quanto dele, ela jamais o deixou perceber. Quando os três meses se passaram, Zedeque entregou uma sacola cheia de ouro a Raabe. Além da sacola, ele deu algumas tornozeleiras conforme ela havia pedido. Ao conferir a quantia, Raabe percebeu que ele havia lhe entregado dinheiro a mais e voltou para prestar contas. “Meu senhor”, ela disse, “o senhor me deu dinheiro a mais.” “Minha querida Raabe está recusando dinheiro?” “Eu não trapaceio meus clientes.” “Clientes?” Ele revirou os olhos. “Você só teve um, e não está me trapaceando, menina. Eu estou dando a você.” Raabe se curvou agradecendo e segurou a sacola de dinheiro com firmeza, quase desejando que Zedeque pedisse para ela ficar por mais tempo. Ele estava certo; ela não tinha conhecido homem algum além dele. Raabe não gostava do contato com ele, mas ela preferia estar apenas com um homem a ser um brinquedinho de muitos outros. No entanto, Zedeque não mostrou interesse em continuar com ela. Certamente ele já estava satisfeito. Ela voltou para casa e entregou a sacola de ouro ao pai. “Zedeque mandou o pagamento pelos três meses.” Seu pai olhou fixamente para dentro da sacola e exclamou: “É muito! Nunca pensei que ele pagaria tanto!” “E não vai haver mais outra. Zedeque já está satisfeito. Ele não me quer mais.” Raabe tentou repelir as lágrimas. “E o que você esperava?” Inri olhou de relance para ela antes de fixar o olhar novamente na sacola. “Foi muito bom ele ter ficado todo esse tempo com você, Raabe. Ele é um cidadão do mundo e está acostumado com o melhor.” Como se ela não fosse boa o bastante. Raabe se deixou cair em uma almofada, e as palavras de seu pai a fizeram ver uma verdade que ela não ousava admitir para si mesma. Depois que 25
um homem a conhecesse daquela forma, ele a rejeitaria. De qualquer maneira, ela seria indesejável ou não seria o bastante. Seu pai sabia disso; Zedeque sabia disso, e agora ela também sabia. De repente, ela se sentiu gélida. Raabe apoiou a cabeça nos joelhos, envolveu as pernas com os braços e começou a tremer. Seu pai foi até seus irmãos e sua mãe mostrar a sacola de ouro. Se não fosse pelo trigo e pelo óleo que Zedeque deu, a família já teria morrido de fome. Aquela quantia de ouro era o bastante para o ano inteiro e para comprar sementes para a colheita do ano seguinte. Através da velha cortina que separava os cômodos, Raabe ouviu a voz abafada dos pais enquanto conversavam. “Inri, o que vai ser dela agora?”, perguntou a mãe com uma voz aguda. “Você consegue convencer Zedeque a ficar com ela?” “E como eu poderia fazer isso? Ele já está cheio dela, é isso.” “E o que devemos fazer? Ninguém vai querer se casar com ela agora.” “Você sabia a resposta para isso desde o primeiro dia, mulher. Ela terá de tirar proveito disso, assim como todos nós. Sua beleza será útil a ela; ainda deve haver outros homens interessados. Bem, pelo menos por um tempo.” Raabe se retraiu ainda mais e engoliu um gemido. Sem pensar, ela pegou uma parte do grande tecido de seda do vestido em cada uma das mãos, amaciando-o como uma criança assustada faria com o cobertor. Ela se sentia apavorada pelo medo à medida que pensava no futuro — e em todos os Zedeques que entrariam e sairiam de sua vida e de sua cama. Ela lamentou pelos sonhos que jamais se realizariam e pelo destino que ela jamais teria. Raabe lamentou pelas escolhas que não fez e, por fim, cansada de tanto chorar, ela fechou os olhos e se deitou no chão frio. Em meio ao desespero, um pensamento lhe ocorreu. Ainda lhe restava uma escolha; embora estivesse sujeita a vender seu corpo por dinheiro, ela poderia escolher seus amantes. Escolheria cada homem de acordo com sua vontade própria. Raabe tinha sido rejeitada por Zedeque, e aquilo foi muito difícil de engolir. Pelo menos aquela amargura ela evitaria. Ela seria
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dona do seu próprio coração, sem deixar que ninguém entrasse, e expulsaria cada homem antes mesmo de ele se dar conta de que ela não merecia ser amada, como fez Zedeque.
,. Durante os meses em que Raabe esteve sob os cuidados de Zedeque, ela teve contato com outros homens importantes que ele conhecia. Muitos deles deixaram claro que, quando Zedeque terminasse, eles ficariam felizes em tê-la. Raabe escolheu cuidadosamente, e um homem de cada vez. Ela restringia suas escolhas: tinha poucos clientes, mas muito generosos. Seu critério incomum aumentou sua popularidade entre os homens das classes altas, e cada um deles gostaria de ser escolhido. Raabe tornou-se a competição que eles desejavam ganhar. “Raabe, você é a mulher mais bonita de Jericó”, muitos homens afirmavam. “Nem mesmo o rei tem uma mulher no palácio que se compare a você”, sussurravam eles em seu ouvido. Em poucos dias, essas palavras colocaram sorrisos em seu rosto, mesmo que aquela alegria fosse superficial e passageira. Em seu interior, ela sabia que todos aqueles homens que a consideravam incomparável se cansariam dela depois de três meses, jogando-a fora como se faz com os ossos depois do banquete. Às vezes, depois de estar com um homem, Raabe pegava a esteira e a sacudia sem parar. Havia dias em que ela dava beijos de despedida no cliente, sorria como se ele fosse o homem mais importante do mundo, fechava a porta e vomitava. Ela odiava o que fazia, mas não parava. Ela achava que não havia alternativa. O que mais ela poderia fazer depois de ter se prostituído? Sua vida se restringira a esse destino. Quando Raabe alcançou os dezessete anos, tinha uma quantia em prata suficiente para comprar uma estalagem próxima aos muros da cidade, e sair de casa foi mais fácil do que ela imaginava. Dois anos de noites em claro e de dias constrangedores fizeram-na se afastar da família. O seu corpo a levava para onde seu coração já estava há muito tempo. Mas isso não queria dizer que
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ela não amasse mais a família como antes. Muitas vezes, em sua estalagem, ela sentia falta deles; porém, descobriu que estar com sua família apenas a fazia sentir-se mais solitária. Então, cada vez mais ela dedicou o tempo às necessidades de sua estalagem. A maioria das donas de estalagem em Canaã também eram prostitutas, e isso era tão comum que os dois quase significavam a mesma coisa. Todavia, Raabe pensava em sua profissão separadamente. Nem todos que entravam eram recebidos em sua cama. Ela fazia questão de que sua estalagem fosse reconhecida como um lugar de elegância e conforto. Decorando-a com tapeçarias e com carpetes valiosos, ela recusou-se a aderir à ornamentação pomposa das outras estalagens. A localização ajudava: os muros ainda eram uma parte exclusiva de Jericó e, apesar do tamanho pequeno das residências e estabelecimentos construídos naquela região, eles eram algumas das propriedades mais cobiçadas de Jericó. Quando Raabe fez vinte e seis anos, sua estalagem era tão popular quanto ela, apesar de não ser tão acessível quanto seu corpo. Foi essa exclusividade que fez a entrada em sua estalagem ser tão requisitada.
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