Santidade pessoal bruce wilkinson

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SANTIDADE PESSOAL EM TEMPOS DE TENTAÇÃO

Bruce H. Wilkinson São Paulo: Mundo Cristão, 2002.

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Por mais de vinte anos, tenho servido ao Senhor lado a lado com o mais extraordinário grupo de líderes comprometidos e piedosos que já conheci: a equipe Executiva do Ministério Através da Bíblia. Esses líderes servos fizeram, com fé, do MAB a obra ampla e eficiente que é hoje, por meio da oração fervorosa, do trabalho extenuante, da liderança inovadora e administração diligente. Juntos, vimos o Senhor multiplicar nosso trabalho, de forma que o MAB realiza anualmente mais de 10 mil seminários sobre a Bíblia e treinamentos ao redor do mundo; publica dez guias de devocional por mês (recentemente ultrapassamos a marca de 100 milhões de exemplares); distribui inúmeros cursos em vídeo para milhares de igrejas e dezenas de denominações, organizações cristãs e missões; transmite o programa de televisão MAB para milhares de lares todas as semanas; ministra à crescente equipe de apoio do MAB, por intermédio do Conselho do Presidente e da Equipe de Oração; atualmente ministra ativamente em mais de 70 países, em 50 idiomas. Sempre que estou perto desses homens e mulheres formidáveis, meu coração bate mais forte pelo Senhor e seu chamado para pregarmos sua Palavra a todo mundo para que haja transformação de vidas. Sempre que estou com esses líderes piedosos, meu coração fica mais resoluto para seguir adiante com o compromisso de “ser santo, porque eu [Deus] sou santo”. Quando pensei a quem este livro deveria ser dedicado, encontrei‐me diante de apenas uma opção – agradecer à Equipe Executiva do Ministério Através da Bíblia pela honra de servir ao Senhor a seu lado, para a glória dele. SUMÁRIO Agradecimentos Eu? Santo? PARTE UM: VOLTANDO SEU CORAÇÃO PARA A SANTIDADE 1. Santidade pessoal 2. A santidade da salvação 3. Apresentar‐se a Deus 4. Quero ser mais parecido com Cristo PARTE DOIS: VITÓRIA SOBRE A TENTAÇÃO 5. Como crescer em santidade 6. A verdade sobre as tentações 7. Ferramentas para a vitória 8. A pior tentação em nossa cultura PARTE TRÊS: DESENVOLVENDO HÁBITOS SANTOS 9. Buscando a santidade 10. Os hábitos fundamentais da santidade 11. O hábito do diário 12. Avançando na santidade 3


AGRADECIMENTOS À medida que a última página deste livro saía de minha fiel impressora jato de tinta, alguns minutos atrás, senti o imenso peso que todo escritor conhece muito bem ser tirado de meus ombros. Como é bom finalmente poder dizer: “Terminei!” A próxima emoção que senti foi uma profunda gratidão por aqueles que correram a meu lado nesta grande corrida, ou que torciam das laterais. A equipe da Harvest House, sob a soberba liderança de Bob Hawkins, demonstrou excelência em todas as fases – é um prazer trabalhar com essa editora! O editor sênior hip MacGregor orientou e liderou em todo o processo de publicação de modo formidável. Seus conhecimentos, encorajamento genuíno e identificação provaram ser uma luz‐guia em todo o processo. Obrigado, hip – é um verdadeiro prazer trabalhar com você! Carolyn McCready, Julie McKinney e Bill Jensen, todos cooperaram com seus conhecimentos, pelo que sou imensamente grato. Na fonte deste livro está um pequeno grupo de amigos que sempre me incentivaram a publicar esses conceitos. Sem Bill Watson, Jill Milligan, Jim Kinney, John Nill, Bob Westfall, Terry Sparks, Phil Tuttle, Frank Wilson e Norm Clinkscales, este livro só estaria disponível numa série de vídeos! Sou muitíssimo grato à diretoria do ministério Através da Bíblia, que há muito tempo me desincumbiu das responsabilidades operacionais para me concentrar na agradável tarefa de desenvolver novos e criativos seminários bíblicos, vídeos e livros – este livro tem profundas raízes no sonho dos vinte anos. Obrigado a Paul Johnson, Robert Boyd, Howard Hendricks, John Van Diest e John Isch. Àqueles que trabalharam sob a pressão dos cronogramas, aos que tiveram que reescrever e revisar as provas, sempre reservamos nossa mais profunda apreciação e afeição. Para minha família, que permaneceu fiel a meu lado durante as horas intermináveis que passei sentado diante do computador – obrigado Darlene e Jéssica por me compartilharem com este livro. Jamais poderia tê‐lo feito sem a compreensão, a paciência e as orações de vocês. Agora tudo o que resta é seguir as antigas palavras do monge do século XV: “O livro está terminado! Que o escritor brinque!” EU? SANTO? Imagine‐se fazendo uma entrevista para o emprego de seus sonhos. Você foi bem em todo o processo de seleção, e hoje é o teste final: uma entrevista com o presidente. Depois de uma conversa simples, ele faz uma pergunta inesperada: “Se você tivesse de descrever‐se com apenas cinco palavras, quais seriam elas?” Seu coração palpita enquanto pensa na melhor resposta – como alguém pode fazer um resumo de si mesmo em apenas cinco palavras? À medida que você se concentra para responder, nota que o presidente pega em cima da mesa uma pequena pilha de cartões, com lista de palavras em cada um. Vendo seu desconforto, ele mexe lentamente nos cartões e diz: “Não seja tão duro consigo mesmo, apenas escolha cinco palavras. Nosso departamento pessoal já fez essa mesma pergunta a vários amigos seus, parentes e alguns ex‐colegas de trabalho. Estamos curiosos para ver se sua resposta corresponde ao modo como todos o vêem”. Reflita por um momento. Que palavras outras pessoas usariam para descrevê‐lo? Se o presidente permitisse que você olhasse os carões, o que encontraria neles? Será que algumas daquelas pessoas colocariam a palavra “piedoso” entre as cinco? Você escolheria a palavra “santa” para descrever sua vida? Se você é como a maioria das pessoas, a idéia de chamar a si próprio de santo jamais passou por sua mente. O conceito de ser “santo” parece ser uma daquelas qualidades reservadas para as manhãs de domingo e para descrever missionários e servos de Deus – não pessoas como você e eu. Recentemente, num sábado de manhã, fiz esta experiência com um grupo de homens de minha igreja. Depois de pedir que escolhessem as cinco palavras que melhor descrevessem sua vida, perguntei se alguém tinha incluído “santo”. A resposta foi um silêncio embaraçoso. Alguns se mexeram na cadeira, outros cruzaram os braços e a maioria olhou para os lados, evitando encarar alguém na sala. Quando perguntei por que se sentiram desconfortáveis descrevendo‐se como santos, os homens não tiveram dificuldade de explicar as razões: “Ser santo é para pregadores! Eu usaria essa palavra para descrever mártires e missionários e não a mim mesmo! É para santos, não pecadores. Pode ser que eu seja santo depois de morrer, mas por enquanto sou apenas uma pessoa normal”. Para as “pessoas normais”, a santidade existe em 4


algum lugar “longe” – com santos empoeirados, distantes e mortos; não estão por aí calçando botas, dirigindo caminhões e trabalhando das 8 às 17 horas. Para entender melhor a atitude desses homens com relação à santidade, pedi a eles que descrevessem uma pessoa santa. Os exemplos que me deram foram: “A santidade é uma pessoa severa, de roupas escuras e meias pretas, de passos rígidos – mulheres usando espartilhos apertados!”; “As pessoas que se descreveriam como ‘santas’ vivem com dificuldades, com problemas ocultos, carregam enormes Bíblias pretas por toda parte para lembrá‐las do que não devem fazer.”; “Ser santo é viver no vale do ‘NÃO’ – não para tudo aquilo que possui cor, alegria, espontaneidade, humor, variedade e criatividade; não para o futebol, música com ritmo e para o filé enorme e suculento!” Um dos homens, o mais engraçado do grupo, respondeu: “Santidade é como aquela velha pintura da casa dos velhos, de pé ao lado do celeiro, com expressão severa e segurando um ancinho!”. Quando terminou, todos irromperam em gargalhadas, porque sua resposta descrevia o que todos tinham em mente. Definimos santidade com palavras como sóbrio, triste, entediante, severo e super religioso, mas não a definimos com algo real ou recente. Quanto mais eu ouvia as respostas naquela manhã, mais compreendia por que ninguém colocou “santo” na lista de cinco palavras. Quem quer permanecer rígido, de olhar severo, com um ancinho na mão? QUAL É SEU “QUOCIENTE DE ATRAÇÃO” DE SANTIDADE? Quanto mais eu pesquisava, mais preocupado ficava. Sabia que aqueles homens não eram os únicos – de fato, tiveram a reação normal ao serem chamados de “santo”. Santidade parece ser um elemento da geração passada, alegremente descartado. As pessoas parecem aliviadas por verem que finalmente a santidade está enterrada no passado distante, e a maioria não deseja voltar para desenterrar seus restos gastos e indesejáveis. Pense em você mesmo por alguns instantes... sente‐se atraído pela idéia de santidade? No mundo empresarial, os especialistas em marketing descrevem o sentimento de uma pessoa em relação a alguma coisa como Quociente de Atração (QA), utilizando uma escala de 1 a 100. Quanto mais uma pessoa se sente atraída a um produto ou conceito, maior é o seu QA; quanto mais a pessoa evita o produto ou conceito, menor é seu QA. Agora imagine que a Empresa de Marketing Santidade contratou você para pesquisar o Quociente de Atração de santidade. Em primeiro lugar você pesquisa como as pessoas que vivem num raio de um quilômetro de sua casa se sentem com relação à santidade; segundo, você afunila mais a pesquisa, restringindo‐a àqueles que são membros de igrejas e estabelece o QA médio entre eles. Por último, você faz uma pesquisa comparativa do QA das três últimas gerações. Qual você imagina que será o resultado? Qual o QA de sua geração com relação à santidade? E da geração de seus pais? E da de seus avós? Qual é a tendência – as pessoas estão mais ou menos atraídas pela santidade? Agora digamos que a Empresa de Marketing Santidade deseja saber se existe alguma relação clara entre santidade e qualidade de vida. Ou seja, à medida que a santidade declina rapidamente, o que acontece com as bases da sociedade? Por exemplo: 1. Com o declínio da santidade, qual é a tendência nos casamentos e nas famílias? O índice de divórcios aumenta ou diminui? O relacionamento entre pais e filhos se fortalece ou enfraquece? Os abusos tornam‐se mais ou menos freqüentes? 2. Com o declínio da santidade, qual é a tendência na vida das crianças? A juventude torna‐se mais honesta, íntegra, disciplinada e respeitosa? Ou mais desonesta, egoísta e sem respeito pela autoridade? 3. Com o declínio da santidade, qual é a tendência na mídia? Os filmes, programas de TV e de rádio e revistas promovem valores sólidos, fidelidade sexual e integridade nos relacionamentos e negócios? Ou estão promovendo imoralidade sexual, a ganância e a violência? 4. Com o declínio da santidade, qual é a tendência na população carcerária? A porcentagem de condenações, a idade média dos detentos e o nível de violência na sociedade aumenta ou diminui? 5. Com o declínio da santidade, qual é a tendência nas moléstias físicas?Há mais pessoas saudáveis ou doentes? Os distúrbios psicológicos aumentam ou diminuem? Os indivíduos usam mais ou menos drogas para escapar dos problemas?

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6. Com o declínio da santidade, qual é a tendência na moral da sociedade? As pessoas se sentem mais seguras? Nossas cidades são lugares mais seguros? O alcoolismo e a dependência de drogas aumentam ou diminuem? Os processos por direitos civis tornam‐se mais ou menos predominantes? 7. Com o declínio da santidade, qual é a tendência na qualidade geral de vida? As pessoas têm uma vida mais equilibrada, com mais paz e contentamento? A bondade e a boa vontade entre os homens tornam‐se mais ou menos prevalecentes? O que você descobriu? As tendências são inquestionáveis. Embora você tenha relacionado o conceito de “santidade” com casamento, família, mídia, moléstias físicas, bem‐estar psicológico, vícios, imoralidade e qualidade de vida, a Bíblia não apenas faz essa conexão como também repetidamente apresenta uma relação inquestionável de causa e efeito entre santidade e os aspectos da vida cotidiana. Com base nessa verdade, você consegue agora começar a enxergar o resultado devastador da atitude negativa geral com relação à santidade? REPOSICIONANDO A SANTIDADE Anos atrás, uma das palavras da moda no mundo empresarial era “posicionamento”. Como determinado produto ou serviço está “posicionado” na mente do público? Quando um produto é “reposicionado”, as pessoas respondem de maneira totalmente diferente. Um exemplo bem conhecido é o reposicionamento das palavras “made in Japan”. Nos anos 60, elas deixavam uma impressão de produto de má qualidade; atualmente, porém, “made in Japan” imprime a idéia de produtos da mais alta qualidade. O Quociente de Atração, que costumava ser muito baixo, subiu consideravelmente – a prova é a grande procura por esses produtos. É surpreendente com as coisas podem mudar em apenas 30 anos. Antigamente, ninguém iria comprar um carro Datsun; hoje, porém, marcas como Toyota, Nissan, Honda, Lexus e Mitsubishi praticamente monopolizaram o mercado de automóveis importados. Com a mudança da posição, mudou também a procura no mercado. De modo semelhante, o título “presidente dos Estados Unidos” costumava produzir o mais elevado respeito – era o símbolo de liberdade, integridade, honestidade, liderança e elevada moral em qualquer lugar do mundo. Hoje o título parece ter sido bem reposicionado. Quando você considera a santidade e sua influência na vida diária, a maneira como se sente exerce um grande poder sobre suas escolhas e sua vida. Se dado conceito é genuinamente perigoso, então uma aversão emocional proporciona uma segurança útil e mantém o indivíduo longe dele. Mas, se um conceito percebido como negativo na verdade é algo benéfico e útil, precisa ser reposicionado. Caso contrário, terminaremos evitando aquilo que é melhor para nós. A meu ver, a Bíblia revela nossa percepção equivocada da palavra “santo”. Os inimigos da santidade adotaram de maneira deliberada e incansável a estratégia de reposicionar esse conceito até que ele suscite somente emoções negativas nas pessoas. Os santos não são apenas pessoas severas, usando roupas sombrias. Aqueles que se consideram santos não vivem necessariamente no Vale do “Não”. Como disse o grande escritor cristão C. S. Lewis: “Quão pouco conhecimento têm aqueles que acham a santidade insípida. Quando alguém encontra a verdadeira santidade, descobre que é irresistível”. Você acha que Lewis está correto? Quando você encontra alguém que considera a santidade insípida, será que isso não prova que ele realmente não sabe muito sobre o assunto? Quando você encontra uma pessoa que é genuinamente santa, será que ela não é uma das poucas realmente felizes? Na geração atual, a santidade tem sido reposicionada em muitas mentes como algo indesejável e até perigoso, quando, na verdade, é benéfica e cheia de alegria. Assim tive de dizer àqueles bons cristãos de minha igreja, que se sentiam desconfortáveis com a santidade, que estavam pagando um alto preço pelo erro. Através dos anos, passei a crer que C. S. Lewis tinha razão. Minha atitude com relação à santidade foi reposicionada. Passei a crer no que a Bíblia diz sobre a santidade, e o propósito deste livro é reposicionar a santidade em sua mente. Se eu tiver sucesso, em algum momento no futuro, quando lhe pedirem para descrever a si mesmo, você usará a palavra “santo”! Talvez amigos e familiares pensem na palavra “santo” quando tiverem de descrever você. Prepare‐se, meu amigo, pois vamos atrás da santidade em sua vida. A santidade é o centro da vontade de Deus para você e é o tema deste livro. O próprio Deus santo quer que você seja santo. 6


O PROPÓSITO DESTE LIVRO Este livro tem um objetivo claro: sua santidade pessoal. Minha fervorosa oração é que, ao terminar de ler, seu coração e seus hábitos sejam direcionados para a santidade. Este livro é dividido em três seções, com quatro capítulos cada. Cada parte pode ser lida independentemente das outras, embora as três se desenvolvam numa ordem lógica. A Parte Um trata do conceito bíblico de santidade e apresenta seus três estágios. O primeiro capítulo apresenta uma visão geral do que é santidade e do que não é. O capítulo 2 focaliza o primeiro estágio da santidade e revela o segredo de como se tornar “santo” aos olhos de Deus. Você descobrirá o que o Espírito Santo faz por você neste estágio e o que você faz para alcançar o primeiro nível. O capítulo 3 focaliza a santidade no coração e prepara o leitor para entrar na Cerimônia de Consagração. O último capítulo desta seção trata da “santidade progressiva”, questionando os dogmas teológicos, desmascarando os principais equívocos sobre santidade e equipando o leitor para avaliar a própria santidade na “Tabela da Santidade”. A Parte Dois faz a transição para o “lado escuro da santidade” e prepara o leitor para ser vitorioso diante dos problemas “profanos” da vida diária. O capítulo 5 treina o leitor para usar os “Dez Passos da Pureza Profunda” para os maiores problemas com pecado; o capítulo 6 marcha diretamente sobre o campo do inimigo e revela suas estratégias básicas para derrotar o cristão: as tentações. O capítulo seguinte fortalece o leitor revelando seu Quociente de Tentação e descrevendo os sete estágios de toda tentação. O último capítulo lida ousadamente com uma das mais duras tentações culturais: a imoralidade sexual. Se o cristão não pode se libertar dessas amarras, a santidade continuará sendo apenas um sonho desejável e não uma realidade a ser experimentada. A Parte Três passa para o “lado brilhante da santidade” e prepara o leitor para se fortalecer no homem interior por meio do exercício de hábitos santos. O capítulo 9 introduz o leitor a esses hábitos e revela o princípio do plantar e colher. Então, os capítulos 10 a 12 examinam os seis maiores Hábitos Santos praticados pela igreja através dos séculos. Este livro concentra‐se na prática e na fácil utilização – portanto, alegre‐se com as descobertas de tantos conhecimentos bíblicos e ferramentas práticas que o ajudarão em sua peregrinação em direção à santidade nesses tempos de tentação. Bruce H. Wilkinson Atlanta, Georgia PARTE UM VOLTANDO SEU CORAÇÃO PARA A SANTIDADE 1 SANTIDADE PESSOAL Quão pouco conhecimento têm aqueles que acham a santidade insípida. Quando alguém encontra a verdadeira santidade, descobre que é irresistível! Se somente 10% da população mundial possuísse essa qualidade, o mundo todo não seria salvo e feliz em menos de um ano? C. S. Lewis O professor de teologia entrou na sala para a última aula em sua carreira de cinqüenta anos. Como de costume, a grande audiência se alvoroçou, cheia de expectativa pela disciplina intitulada “A vida de Santidade”. Entretanto, durante o semestre, uma tendência de debates e argumentações tinha arruinado a aula. Alguns alunos insistiam que santidade significava uma coisa, outros discordavam, argumentando que era outra coisa. Uma facção afirmava que a santidade deve ser vivida de uma forma, enquanto que outras facções alegavam que é impossível alcançar a santidade. Apesar de seus cinqüenta anos de experiência docente, o velho professor não era capaz de mudar a atitude dura e as divisões que surgiram entre os alunos. Para onde olhava dentro da sala, via pequenos grupos isolados. Tinha acontecido o que mais temia. Não importava o que ele dizia sobre santidade, surgiram grupos teológicos conflitantes que argumentavam uns com os outros, de modo dogmático e rude, a ponto de 7


acabarem se separando física e emocionalmente. Cada grupo repetia incansavelmente versículos. Ninguém cedia, ou chegava a ouvir realmente os versículos ou opiniões do grupo oponente. Durante praticamente todo o semestre, o professor tentou transpor aquela atitude de julgamento e de espírito independente, mas não obteve sucesso. Depois de refletir durante vários dias, dentro do seu gabinete, buscando uma possível solução, ocorreu‐lhe uma última idéia. Era um plano arriscado, mais talvez fosse necessário para a cura. Naquele dia, em vez de iniciar a aula como fazia sempre, o professor lentamente escreveu uma única palavra no meio do quadro negro: “Tronco”; ficou olhando para ela, atraindo a atenção de toda a classe. Voltou‐se, encarou os alunos e falou, medindo bem cada palavra: “Esta aula será a mais desafiadora de toda a graduação. Façam grupos pequenos e, por favor, definam esta palavra e relacionem todas as razões por que crêem que sua definição está correta. Não discutam suas opiniões com os outros grupos, nem me façam nenhuma pergunta. Daqui a dez minutos, um representante do grupo lerá a resposta encontrada”. O professor fez uma longa pausa. “Quero avisar desde já que há somente uma resposta correta para esta questão; as respostas serão fundamentais na sua nota final”. Com essa revelação sóbria, o professor virou‐se e saiu da sala com calma e firmeza de volta a seu gabinete. O canto de seus lábios levantou‐se num leve sorriso, enquanto ele descia o corredor, perguntando‐se sobre as discussões que deviam estar em andamento na sala de aula. Passaram‐se os dez minutos. Quando o ponteiro do relógio marcou os dez minutos, o professor entrou na sala, abriu o livro de notas, fitou a sala e perguntou se algum grupo queria começar. Não houve resposta. A confusão reinava no lugar mais improvável de toda a universidade: na sua sala de aula. O professor aguardou durante um tempo que pareceu uma eternidade. “Bem, se não há voluntários, esta opção está cancelada. Por favor, coloquem o nome de todos os membros do grupo no final do papel com a resposta e passem adiante”. Houve um murmúrio de protesto no fundo da sala: “Isso não é justo! Alem disso, o que ‘tronco’ tem a ver com a santidade pessoal?” Sem dar qualquer atenção às reclamações, o professor voltou‐se para o quadro e acrescentou duas palavras na frente de “tronco”: “O grande”. Olhou novamente para a classe. “Depois de pensar melhor, decidi atenuar minha atitude anterior e dar‐lhes mais uma chance. Sigam as mesmas instruções. Quero avisá‐los de novo: há somente uma resposta correta e sua resposta valerá para a nota final”. Com essas palavras, a sala quase explodiu de frustração. O professor, porém, saiu em silêncio da sala, sem olhar para trás, voltando para sua segurança no final do corredor. Dez longos minutos se passaram até que retornou, novamente pedindo um voluntário. Dessa vez, alguns dos alunos mais ardorosos nos debates baixaram a cabeça, sentindo a decepção nos olhos do querido professor. Novamente os papéis foram recolhidos e empilhados sobre a mesa, em cima dos anteriores, deliberadamente perto do livro de notas. Pela terceira vez, o professor virou‐se para as palavras escritas no quadro, e acrescentou mais duas: “O grande tronco se movia”. Colocou o ponto final com ênfase exagerada. “Pensei bem e resolvi dar‐lhes uma terceira oportunidade. Sigam as mesmas instruções. Lembrem‐se: há somente uma resposta correta e as respostas serão de grande peso na nota final de vocês”. Fez uma pausa e acrescentou: “Ah, sim, por causa da importância desta resposta em seu futuro teológico, depois que terminarem de responder, por favor, discutam as descobertas com os outros grupos, para que sejam consideradas todas as perspectivas”. Ao sair da sala, o professor franziu a testa. “Como os alunos se sairão nesta tarefa, considerando as atitudes defensivas e dogmáticas que demonstraram nas discussões sobre santidade ao longo de todo o semestre?”, pensou. Desta vez, virou à direita depois de sair da sala de aula, dirigindo‐se ao andar de cima, onde ficava a cabine de som. Queria observar os resultados de seu plano em primeira mão. A sala estava em caos, com cada estudante expressando sua frustração. Ouvia‐se o som dos debates e das discussões por toda a sala, não somente entre os grupos, mas também dentro deles. Vozes e braços subiam e desciam. Finalmente, depois de quinze minutos de debate. Pela última vez, entrou na sala. Nunca sentira tamanha divisão numa sala de aula. Tampouco sentira tamanha responsabilidade para lidar imparcialmente com uma questão. Dirigindo‐se à classe, começou a desafiar o pensamento de seus alunos. Primeiro, pediu a todos os grupos que relacionassem no quadro o significado da palavra “tronco”. Foram relacionadas quatro definições: (1)Parte mais grossa das árvores ; (2)parte do corpo humano; (3)origem de família, raça; (4)termo usado em telecomunicação. A seguir, o professor perguntou se tinham mudado de opinião durante as discussões. Quase todos admitiram que tinham mudado de idéia pelo menos uma vez. O professor repetiu mais uma vez que havia somente uma resposta certa e perguntou se algum grupo tinha tanta certeza da 8


resposta a ponto de arriscar a nota do semestre. Ninguém se moveu. “Por que não arriscam? Não têm certeza de que sabem a resposta?” Os alunos quase gritaram em coro: “Não, porque não temos todas as informações necessárias!” Lentamente, o professor assentiu e virou‐se para o quadro. Com grande cuidado, tocou o ponto que colocara no final da frase e num movimento dramático moveu o giz para baixo, transformando o ponto numa vírgula. Ainda virado para o quadro, virou o rosto par ver o efeito da sua ação inesperada. Então, terminou a frase: “O grande tronco se movia, com a violência das chibatadas”. Houve um murmúrio na sala. Nenhum grupo tinha acertado. Com o primeiro sorriso do dia, o professor fez uma pergunta crucial: ‐ Agora, quantos arriscariam anota do semestre na resposta? – Todos ergueram a mão. – Que fator aumentou tanto sua confiança? O aluno mais velho da classe, que raramente falava, resumiu o pensamento de todos: ‐ Finalmente temos todos os elementos necessários para a resposta. Antes tínhamos apenas uma palavra, e estávamos errados. Depois, conhecíamos apenas alguns fragmentos e ainda estávamos errados. Quando você escreveu “se movia”, muitos mudaram de opinião, pensando que finalmente tinham a resposta. Somente quando você escreveu a frase completa, soubemos toda a verdade. O professor concordou. Sabia que a classe estava prestes e a aprender uma lição estratégica. ‐ Bom. Deixe‐me fazer uma pergunta: Quantos de vocês estão errados em suas respostas anteriores? A resposta foi em coro: ‐ Todos! ‐ É verdade, todos estavam errados. Apesar dos intensos debates, todos estavam errados! Apesar de muitos estarem convictos de sua posição, não tinham as informações necessárias para se sentirem seguros. Não podemos ser dogmáticos sobre alguma coisa, a menos que tenhamos todas as informações. Virando‐se para o quadro, o professor acrescentou: ‐ Agora quero perguntar o que significa outra palavra. O professor apagou a frase e escreveu a palavra “santidade” no lugar de “tronco”. Um lampejo de compreensão atravessou a sala. Naquele momento, tocou o sinal do término da aula. O professor largou o giz e disse: ‐ Certifiquem‐se de que possuem todas as informações antes de tomarem uma decisão. Sorriu e caminhou para a porta. O único som que se ouvia eram os aplausos dos alunos, cujos corações tinham sido tocados pela verdade. Em sua busca pela santidade, você sabe para onde está indo e o que está procurando? Você saberá quando alcançou seu alvo – não do seu ponto de vista, mas aos olhos de Deus? Afinal, santidade não é uma idéia humana, é uma idéia sobrenatural, vinda diretamente do trono de Deus. Se está um pouco incerto, talvez decida ficar mais um pouco depois da aula. Lamento informá‐lo de que o velho e sábio professor não está por perto… Você tem aqui apenas um homem que gosta de caminhar “através da Bíblia”... I. SANTIDADE SIGNIFICA “SEPARAÇÃO” O primeiro passo na busca é entender claramente o que Deus quer dizer com “santidade”. Esta palavra tem sido definida das formas mais variadas por indivíduos e denominações – envolvendo muita bagagem emocional, como o professor experimentou. O conceito básico de santidade, porém, é inquestionável, e é exposto pela primeira vez na Bíblia no episódio da sarça ardente: “Então disse [Moisés] consigo mesmo: Irei lá e verei essa grande maravilha; por que a sarça não se queima? Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés, Moisés! Ele respondeu: Eis‐me aqui! Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Exôdo 3:3‐5” Terra santa? Como a “terra” pode ser santa? Se Moisés pegasse um punhado de terra “profana” e comparasse com aquela, teria visto alguma diferença? Se na semana anterior tivesse passado por ali com seus rebanhos, a terra já seria santa? Ou se Moisés tivesse levado daquela terra para sua tenda, estudando seus grãos minuciosamente, teria descoberto alguma alteração na sua natureza, ou veria que se tratava da mesma velha terra do deserto? Desde que nada mudou na natureza da terra, por que o Senhor a classificou como “santa”? 9


1. A santidade pode estar na mente daquele que crê Se você tivesse um daqueles enormes dicionários hebraicos ao alcance da mão, como eu tenho, descobriria rapidamente as respostas. Descobriria logo que a base do conceito de santidade está na palavra “separação”. A terra tornou‐se santa simplesmente porque Deus a separou como o único local onde se revelaria a Moisés. Num sentido, todo o restante do deserto permaneceu profano porque Deus não escolheu outro local para sua conversa. Se Deus tivesse se movido alguns metros para o norte e falado de lá, aquela parte do deserto seria santa. Amplie um pouco sua compreensão da santidade por meio de uma ilustração hipotética. Imagine que, depois de uma das grandes festas realizadas pelo rei Salomão, um dos sacerdotes chegasse em casa e dissesse à esposa: “Querida, preciso de uma nova faca sagrada para o templo. Nenhuma das que tenho lá tem um bom corte; você se importa se eu levar uma das nossas?” No momento em que o sacerdote a dedicasse ao serviço do Senhor, aquela faca comum se tornaria uma faca santa do templo. A santidade pode descrever a “separação” na mente da pessoa com relação à faca, areia, uma cidade, ou muitas outras coisas. Chamo isso de “santidade mental”, desde que a separação ocorre somente no pensamento das pessoas. Por exemplo, além de a natureza da areia continuar a mesma, ninguém teria reconhecido aquela terra como “santa” se Deus não tivesse se revelado ali. A santidade em nós é a cópia ou a transcrição da santidade de Cristo. Assim como a cera duplica cada detalhe do selo, e o filho tem a mesma aparência do pai, assim a santidade em nós é como a dele. Philip Henry 2. A santidade deve ser separação “de” e “para”, ou não é santidade Santidade exige separação de uma coisa e separação para outra coisa. Pense sobre isso um instante e imediatamente se torna óbvio que não se pode ter uma sem a outra. Para que a faca se tornasse santa, tinha de ser separada da casa e separada para o templo. Novamente note que a natureza da faca não mudou para torná‐la santa – somente a separação a tornou santa. Santidade exige divisão. Até o momento de o sacerdote tirar a faca de sua casa, ela não poderia ser santa. Por que não? Porque estava com todas as outras facas, sem distinção. Antes de o Senhor escolher aquela parte do deserto para ali se revelar, ela não poderia ser chamada de santa. Santidade, então, exige afastamento. Santidade exige desconexão. Nesse sentido, para uma pessoa se tornar santa, tem de separar‐se de algo, ou a santidade é impossível. O segundo aspecto da separação requer que a faca se torne unida a algo. O sacerdote tirou‐a da cozinha e colocou‐a no templo. A santidade requer reconexão. A santidade requer adição. Novas pessoas, novas práticas ou novos alvos devem ser adicionados à sua vida, substituindo os antigos padrões profanos. Nós abandonamos nossos antigos caminhos profanos e buscamos os santos caminhos de Deus. Sem os dois aspectos da separação, a santidade bíblica não é possível. Separar “de”, sem separar “para” não representa a santidade bíblica. A santidade bíblica deve ter um “parar” seguido de um “começar”. Aquele que crê deve fugir de algo e depois seguir atrás de algo. Note essas duas partes distintas em 2Timóteo 2:22: “Foge [separe‐se], outrossim, das paixões da mocidade. Segue [separe‐se para] a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.” Sempre que uma pessoa buscar apenas a metade dessa equação, no final sua vida será abalada pela falta de equilíbrio e pelo engano. Em grande parte, a impressão negativa que as pessoas têm da santidade é resultado da ênfase exagerada em “fugir”. Santidade não é viver no mundo de “não”, mas abandonar o mundo de “não” para entrar no mundo do “sim!” Se você não consegue olhar para trás em sua vida e identificar as áreas onde se separou ou se afastou, bem como as áreas onde acrescentou ou buscou, certamente neste momento está carecendo de santidade. Por todo o Antigo e o Novo Testamento, o radical “santo” e todos os seus derivados são traduzidos por termos como separar, dedicar e consagrar. Qualquer que seja o contexto no qual sejam empregados, sempre estão fundamentados no conceito de “separação”. O versículo‐chave deste livro é extraído de 1Pedro 1:15,16: “...segundo é santo aquele que vos chamou, tornai‐vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.”

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Nesse versículo, vemos o chamado do Senhor para você, individualmente: o Senhor o chama para ser santo. Ele o convoca para se levantar da multidão, separar‐se de e para ele, afastando‐se de tudo aquilo que não é como ele, devotando‐se totalmente a ele e à sua vida gloriosa. Em essência, a “santidade” prática para o cristão ocorre quando deixa para trás os padrões do mundo para tornar‐se semelhante a Cristo, em seu caráter e conduta. Que seu coração se afaste de tudo aquilo que não é santo e busque tudo o que é. II. A SANTIDADE TEM PADRÕES Toda cultura adota algum tipo de santidade. Em algumas, certos locais são considerados “sagrados” enquanto outros itens são chamados de “tabu”. Ambos os termos descrevem a questão da separação do que é secular daquilo que é sagrado. Para que a separação seja classificada como santidade, são necessárias duas etapas adicionais. Por exemplo, quando um casal vive em conflito e decide divorciar‐se, indo cada um “para seu lado”, ninguém poderia chamar tal separação de santa, poderia? Por que não? 1. A santidade exige a separação do “secular” para o “sagrado” Em primeiro lugar, a separação relacionada à santidade deve incluir a separação do que é “secular” para aquilo que é “sagrado”. Deve‐se incluir o Divino na santidade para que ela seja genuína. Culturas pagãs têm “homens santos” que se separam e se consagram para a busca dos deuses tribais e seus supostos poderes sobre a natureza, doenças, colheitas e inimigos. Os cristãos, porém, são chamados para deixar esse tipo de atitude profana para trás e buscar a vontade de Deus. Quando você pensa sobre sua santidade, seja do que for que decida se separar, deve se separar para o Senhor. Essa reflexão proporciona a base do entendimento de muitas coisas santas na Bíblia, como o Santo Templo, o Santo Sábado, o Altar Santo, o Lugar Santo e a Assembléia Santa. Nesses casos, a natureza não mudou, mas esses lugares e dia foram separados do uso natural e dedicados ao sobrenatural, separados do serviço ao homem para o serviço a Deus. Várias vezes em meu ministério fui convidado a consagrar publicamente uma sala ou um edifício ao Senhor. Num sentido real, aquele edifício torna‐se santificado, separado para o Senhor, para sua obra e sua glória. O local torna‐se “santo para o Senhor”. Darlene e eu dedicamos nossa casa e todos os nossos bens ao Senhor. Primeiro caminhamos ao redor do terreno que compramos e o dedicamos oficialmente a Deus e sua glória. Depois, juntos, dedicamos toda a nossa casa ao Senhor e sua obra. Até ali, nunca tinha pensado em dedicar oficialmente nossa casa ao Senhor. Em nossa mente, ainda era uma casa “comum” – depois que a dedicamos, porém, ela passou para a esfera das coisas santas. Somos apenas administradores dos bens do Senhor e trabalhadores em sua casa. Talvez você já tenha participado de uma cerimônia de ordenação de um indivíduo ao serviço do Senhor. No momento mais solene da cerimônia, pede‐se ao indivíduo que se ajoelhe diante da congregação, e os líderes impõem as mãos sobre ele, dedicando‐o e devotando‐o oficialmente ao Senhor e a seu ministério. Você estaria correto ao considerar santa tal cerimônia, realizada num local santo, para um propósito santo, resultando na dedicação oficial de uma pessoa santa. Os indivíduos então podem devotar‐se ao Senhor de uma maneira que o céu descreve como santa. Portanto, a separação não ocorre somente no tangível mas também no intangível – no mundo visível e no invisível. Uma faca pode tornar‐se santa ao ser dedicada ao serviço do Senhor. De modo semelhante, um homem ou uma mulher podem escolher dedicar coração, alma e forças ao Senhor, separando‐se assim de mente e coração. O Antigo Testamento está repleto de exemplos dessa dedicação e separação. Quando Israel concordou em ser a nação santa de Deus, o Senhor estabeleceu algumas formas bem incomuns de separá‐la de todas as outras nações. Esses “regulamentos de santidade” específicos lembravam constantemente os judeus e os povos vizinhos de que eles não eram como as outras nações; pertenciam ao Senhor, um fato que influenciava praticamente todas as áreas de suas vidas. Vejamos dois exemplos em Levítico 19.19: “No teu campo, não semearás semente de duas espécies; nem usará roupa de dois estofos misturados.”

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Em outras palavras, para que o judeu do Antigo Testamento fosse cerimonialmente “santo”, ele não poderia plantar dois tipos diferentes de sementes ou vestir roupas de tecidos mistos Suas roupas tinham de ser somente de algodão. Pense nisso: será que hoje eu seria profano por usar uma camisa de tecido misto? Certamente que não! Por quê? Porque essas “leis de santidade”, específicas e únicas , aplicavam‐se aos judeus daquela época para distingui‐los e separá‐los de todos os outros povos. Todas as manhãs, quando se vestiam, tinham de se lembrar que, por serem a nação do Senhor, eram separados das outras nações e chamados a praticar essa separação. Em outras palavras, vestir uma roupa de tecido sem mistura não mudava o caráter do indivíduo; era apenas, um sinal externo da aliança com o Senhor. Há outro exemplo interessante de “comportamento santo” em Levítico 27:30: “Todas as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos frutos das árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR.” Como os “cereais do campo” ou os “frutos das árvores” podem ser santos? Somente porque o Senhor revelou que “as dízimas da terra ou 10% de toda semente e frutos eram seus e deviam ser “separados dos” demais e separados para” ele, por meio da dedicação e doação. 2. A santidade bíblica é definida pelo Senhor e por sua revelação O ponto alto da santidade bíblica, porém, não é meramente separação, ou separar de algo a fim de separar para, ou separação do secular para o sagrado, ou separação por meio da dedicação no coração, mas separação específica, conforme revelada pelo próprio Senhor Deus. E outras palavras, aqueles “homens santos” encontrados em tantas culturas não adoram nem ao Senhor nem a seu Filho Jesus; em vez disso, conectam‐se com um espírito do mundo invisível. A Bíblia os descreveria como “homens anti‐santos” porque se dedicam e servem aos inimigos de Deus. Da mesma forma, muitas culturas praticam rituais específicos e práticas religiosas considerados o ponto máximo da santidade, mas o céu os considera vãos e abomináveis. “Homens santos”, que percorrem quilômetros de joelhos até os templos santos não estão fazendo a vontade de Deus, nem agradando a Deus. “Vacas sagradas”, que perpetuam a pobreza e engordam enquanto as pessoas ao redor passam fome, são uma abominação para o céu. O Senhor do céu jamais revelou que vacas são sagradas ou devem ser tratadas como tal. De fato a Bíblia fala claramente que aqueles que ensinam a abstinência de certos alimentos para alcançar a “santidade” na verdade estão obedecendo a espíritos enganadores! Veja por si mesmo: “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade; pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado [tornado santo]. 1Timóteo 4:1‐5” Este princípio é absolutamente fundamental para a santidade bíblica. O Senhor – e não o homem! – estabelece o padrão do que é santo. Se ele não revelasse padrões objetivos para sua santidade, imagine a confusão e as distorções que reinariam, à medida que cada pessoa fizesse “o que considerasse certo!” A Bíblia é absolutamente clara, meu amigo: independentemente de quão sincero e devotado o indivíduo possa parecer, se ele estabeleceu padrões de santidade com base em suas emoções, pensamentos, ou em qualquer outra literatura além da Bíblia, seus padrões não refletem a santidade bíblica. Por exemplo, muitas seitas proíbem o casamento. Ensinam que os níveis mais elevados de santidade ou serviço ao Senhor exigem a condição de solteiro. Deus revela em 1 Timóteo 4 que o padrão que “proíbe o casamento” não só não procede do Senhor como procede de “espíritos enganadores”. 3. Santidade criada por homens é santidade inútil Não perca de vista este ponto fundamental: a santidade é definida pelo Senhor, não pelo homem. A santidade criada pelo homem é inútil! Se você inventou padrões ou métodos não bíblicos de santidade, provavelmente se abriu sem necessidade ao sofrimento e comportamento sem valor. Veja como em Colossenses 2:20b‐23b fala sobre isso: “Por que... vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques 12


aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens?...Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum.” Quando viajo por várias regiões do mundo, meu coração se parte repetidamente, quando vejo “cultos de si mesmo” e doutrinas de homens que causam grande dor e sofrimento às pessoas, mas não têm nenhum valor. O que devemos fazer, então, se buscamos os métodos apropriados e eficientes de santidade pessoal? Veja a resposta revelada pelo Senhor em Êxodo 19:5,6a: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. Para que o povo seja santo aos olhos de Deus, deve “ouvir a sua voz” e “guardar sua aliança”. É o Senhor quem deve definir os limites do que é santo e do que não é. Nenhuma religião ou seita, nenhum “homem santo” nem denominação pode fazer isso. Somente o Senhor Deus estabeleceu os padrões da verdadeira santidade bíblica. Deve‐se evitar qualquer acréscimo ou subtração ao padrão bíblico , o que seria considerado “doutrinas de homens” ou “tradições humanas” Durante a vida de Jesus os líderes judeus e os mestres ensinavam e prescreviam amplamente sua visão particular de santidade. Veja como Jesus os confrontou fortemente em Mateus 15:1‐3,7‐9: “ Então, vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem. Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? [...] Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra‐me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” Portanto, muitas vezes “preceitos de homens” são ensinados como se fossem “doutrinas bíblicas”, quando na verdade não são. É exatamente o que está acontecendo hoje em muitas igrejas e grupos religiosos ao redor do mundo. Preferências e padrões pessoais são ensinados como santidade bíblica e geralmente com mais fervor emocional do que com base nas Escrituras. Leia com mais atenção a passagem acima, pois ela revela a tendência natural: nossas tradições tornam‐se mais importantes do que os mandamentos de Deus. Em outras palavras, desobedecemos à verdadeira santidade bíblica por causa de nossas tradições! Tenha extremo cuidado para não definir os padrões da verdadeira santidade bíblica fora dos limites da própria Bíblia! Todos nós conhecemos pessoas que estão profundamente enganadas em sua busca de santidade, por meio de ensinos e tradições de homens. 4. Santidade exterior sem santidade interior não é santidade bíblica O padrão final da santidade bíblica também é revelado nessa mesma passagem de Mateus. Depois de chamá‐ los de hipócritas, o Senhor diz aos fariseus que “seu coração está longe de mim”. Para que a pessoas seja santa, seu coração e seus motivos devem ser puros diante de Deus ou suas ações não poderão ser santas. Ou seja, é possível que a pessoa faça algo que a Bíblia claramente define como santo e mesmo assim não apresente a santidade bíblica. A santidade pode ser falsa, porém, o céu a chama de nada menos que impureza! Não somente o comportamento deve ser santo – o coração também deve ser. Quando um cristão busca a santidade, praticando os ensinamentos bíblicos, mas permite que seu coração permaneça arredio, ou até mesmo rebelde para com Deus, tal atitude pode ser chamada de profana – mesmo que externamente seu comportamento seja santo. Para que o Senhor avalie algo como santo, tanto os hábitos como o coração devem ser separados para ele. Um sem o outro cria somente uma impureza destrutiva. Santidade exterior sem santidade interior cria a hipocrisia. A santidade hipócrita inevitavelmente degenera‐se para as cadeias do legalismo. Santidade interior sem santidade exterior cria o emocionalismo. A santidade emocional inevitavelmente degenera‐se para as cadeias do fanatismo. A santidade bíblica não fica à deriva nas águas perigosas do legalismo e do fanatismo. A santidade bíblica define separação interior e exterior de acordo com os padrões da Palavra. Que você tenha uma visão clara do que é realmente a santidade bíblica – e que almeje ter um coração e hábitos cheios de santidade genuína e equilibrada. 13


III. A SANTIDADE TEM ESTÁGIOS Na semana passada, os pais de minha esposa nos visitaram e passaram horas montado um enorme quebra‐ cabeça, com mais de 2 mil peças. Eles realmente são “montadores de quebra‐cabeça” veteranos. Dei uma olhada nas peças e percebi que era um dos mais difíceis que já tinha visto. O desenho não era bem distinto. Céu, montanhas, colinas e o lago tinham cores difusas e mescladas. Se você pegasse uma peça, imediatamente perceberia que ela poderia encaixar‐se em quase todos os lugares! Entretanto, no final, cada peça só cabia em um único lugar. Quando você estuda sobre santidade, imediatamente reconhece sua abrangência. Peças da santidade estão espalhadas por todos os 66 livros da Bíblia! Entretanto, diferente da figura única de meus sogros, estou convencido de que a santidade bíblica tem várias figuras distintas em seu quebra‐cabeça! Em outras palavras, creio que a santidade bíblica é um assunto unificado com significados bem diferentes, dependendo do contexto bíblico. Voltemos um momento ao exemplo do professor. Os alunos estavam separados e isolados e até mesmo hostis uns com os outros por causa das diferentes perspectivas sobre a santidade. Cada grupo escolheu certa parte do quebra‐cabeça da santidade (com uma figura completa e distinta), levantou muros ao redor e passou a defendê‐la com unhas e dentes. Obviamente, quando consideravam sua figura, descobriam numerosas peças (textos bíblicos) que só cabiam ali e em nenhuma outra parte. Estavam absolutamente corretos – e desde que a visão deles era bíblica, qualquer um com uma perspectiva diferente não somente estaria errado como seria potencialmente herético. Não admira que a santidade seja realmente um “quebra‐cabeça”! Depois de ler e estudar muitas passagens na Bíblia sobre o assunto, percebi sua amplitude e abrangência. Quando lia certas passagens, podia imaginar meus amigos presbiterianos aplaudindo; quando lia outras, imaginava meus amigos metodistas e wesleyanos aplaudindo; outras passagens, meus amigos batistas; outras, meus amigos pentecostais e carismáticos. Dependendo do grupo de “peças bíblicas” do quebra‐cabeça da santidade no qual você se concentra, seu entendimento será influenciado e finalmente controlado. Durante todo o processo, deixei de lado meus próprios preconceitos. Para que este livro tenha integridade bíblica, deve revelar o que ela ensina e não o que eu creio ou não creio. Assim, comecei a ler novamente cada passagem, com apenas uma pergunta na mente: o que esta passagem realmente diz? Com base em meus conhecimentos, deixei de lado aquelas “caixas teológicas” com todos os seus limites e mantive apenas um limite: as palavras, frases, versículos e parágrafos na “revelação bíblica” diretamente relacionados à questão da santidade. Como foi frustrante! Não é de admirar que existam tantos grupos diferentes proclamando que têm a “verdade” sobre a santidade. Minha conclusão? Na maioria, creio que os grupos estão absolutamente corretos – eles têm a verdade. Eles têm a verdade, mas talvez não toda a verdade. Por exemplo, aqueles estudantes estavam certos, ao definir “tronco” como parte da árvore? Sim. O outro grupo estava certo, defendendo que “tronco” é uma parte do corpo humano? Sim. Se pesquisarem no dicionário, certamente comprovarão que essas definições estão certas. Mas será que “tronco” sempre significa parte do corpo humano? Nem sempre. Em outras palavras, o indivíduo pode ter a verdade, mas não toda a verdade. Alguém pode estar totalmente dentro dos limites do que uma passagem bíblica ensina, e totalmente fora do que é ensinado em outras passagens. Minha conclusão é de que a maior parte da confusão em torno desse assunto tão vital é resultado do erro sincero de se defender a santidade com base numa peça muito pequena do quebra‐cabeça. Será que a santidade não se encaixa numa figura, mas tem três figuras diferentes e distintas dentro do mesmo quebra‐cabeça? Então, todas as partes devem encaixar‐se dentro do todo, sem contradição. Nos próximos três capítulos, apresentaremos três partes distintas – embora correlacionadas – da santidade bíblica. Essa três partes na verdade são três estágios diferentes da santidade. Antes de você terminar de ler os três capítulos, poderá descobrir, talvez pela primeira vez, onde você se encontra nessa vida de santidade. A SANTIDADE DA SALVAÇÃO Aquele que nos criou sem nossa ajuda não nos salvará sem nosso consentimento. Agostinho de Hipona 14


Folhas de papel cheias de versículos do Antigo e Novo Testamentos sobre santidade estavam espalhadas por cima de minha mesa de trabalho. Depois de uma séria consideração, tinha decidido deixar de lado todas as minhas convicções sobre santidade e começar tudo de novo – apenas com a Bíblia e uma nova abordagem, deixando que a Bíblia falasse por si mesma, em vez de eu falar por ela. Aquelas folhas continham todos os versículos bíblicos que traziam a raiz original “santo”, independentemente de como foi traduzida para nosso idioma. À medida que eu lia os versículos, palavras como santo, santidade, santificação e separado atravessavam as folhas com dificuldade. Por alguma razão, eu esperava que essa etapa fosse relativamente fácil no processo do desenvolvimento do assunto, mas minhas expectativas estavam muito distantes da realidade. Eu nem imaginava que essa tarefa criaria mais frustração e confusão do que luz e compreensão. O problema surgiu quase que imediatamente: como esse conceito básico de santidade podia ser revelado na Bíblia como algo que já aconteceu, em outros textos como algo que deve acontecer no presente e em outros versículos como algo que acontecerá no futuro? Como a santidade pode ser algo que Jesus fez por mim, em outros versículos ser algo que o Espírito Santo faz em mim, e depois, em outros versículos, ser um mandamento? Descobri os quatro tempos verbais da santidade: santidade descrita no pretérito; santidade descrita no presente; santidade descrita no futuro; santidade descrita no futuro, referindo‐se ao estado eterno daqueles que crêem. Quanto mais eu lia, mais confuso ficava! Eu já era santo ou não? Se já era santo, por que a Bíblia ordena que seja santo? Como os cristãos podem ser chamados de “santos” num texto, e depois, no mesmo capítulo, ser veementemente exortados a parar de viver no pecado? Como podem ser santos, se são impuros? Seguidamente eu sentia ondas de frustração e confusão. Em vez da santidade bíblica ser um assunto fácil de revelar e ser apresentado de uma forma compreensível e prática, rapidamente estava se tornando um emaranhado de fios. Naquele momento, eu podia apanhar um punhado daquelas folhas e provar que você já é santo – assim, viva de maneira santa. Podia pegar outro maço e provar que um dia você será santo, por isso, faz bem em continuar crescendo em santidade. Como você pode crescer em santidade, se já é totalmente santo? Não é de admirar que existam tantos pontos de vista e teologias diferentes em torno desse assunto intrigante e intrincado. Nesse ponto, já pensava seriamente em deixar outra pessoa escrever este livro! Por que escrever sobre um assunto no qual tantas pessoas piedosas discordam? No Ministério Através da Bíblia, esforçamo‐nos muito, nos últimos 25 anos, para ensinar a Bíblia de forma aberta, clara, sem divisões e sem entrar nas disputas denominacionais. O Senhor abençoou essa abordagem, e temos amplas oportunidades ministeriais, transpondo as barreiras culturais e denominacionais em 71 países e em 52 idiomas. Então, por que correr o risco de ofender alguém, agora? Se o Senhor não tivesse me ensinado profundamente sobre santidade pessoal na ultima década, asseguro a você que teria abandonado este projeto. Se os homens e as mulheres que participaram do início do preceito deste material não tivessem respondido de forma tão profunda ao que Deus fez em seus corações, teria abandonado o livro ainda na fase de elaboração. Por meio deste processo de clarificação, fiquei convencido de que este livro não deveria ser sobre teologia da santidade. De fato, propositalmente você não encontrará nele nenhuma nota de rodapé. Você não encontrará uma avaliação minha sobre o ponto de vista de outras pessoas, nem fazendo exegese minuciosa de todos os pontos de certa passagem. Por que não? Porque tenho alguns objetivos bem claros em mente, os quais serviram como diretriz para tudo o que foi escrito: primeiro, no final deste livro seu coração terá sido tão profundamente instigado em relação ao chamado do Senhor para ser santo que você solenemente o direcionará para a santidade. Segundo, você entenderá exatamente o que a Bíblia ensina e o que não ensina sobre santidade e o que fazer para alcançar o alvo do Senhor para você ser “santo como ele é santo” e ser “santo em todo o seu procedimento”. Por último, você estará equipado com três conjuntos de ferramentas para experimentar a santidade – ferramentas para libertá‐lo das cadeias da impureza em sua vida; ferramentas para capacitá‐lo a vencer as tentações que o assaltam; e ferramentas para buscar a santidade pessoal por meio de hábitos santos usados pelo povo de Deus através dos séculos. Em outras palavras, este livro visa a equipá‐lo de modo que possa dar passos maiores na santidade pessoal. Em vez de se concentrar na santidade do Senhor, este livro se concentra em sua santidade. Em vez de 15


enfatizar o conhecimento, este livro enfatiza profundas mudanças na vida. Em vez de buscar sistemas teológicos, este livro busca transformação pessoal. Com essa introdução, vamos começar uma investigação de como eu finalmente encontrei sentido em todas aquelas folhas de versículos. OS TRÊS ESTÁGIOS DA SANTIDADE PESSOAL Quando comecei a preparar este trabalho, nenhum de meus conceitos “esboços” sobre santidade tinha sequer remotamente algo a ver com “estágios” de santidade. Pelo contrário, posso dizer que tropecei por acidente nesta idéia ao tentar organizar todos os textos aparentemente contraditórios sobre o assunto. Não era difícil compreender cada versículo isoladamente; entretanto, quando se comparavam dois ou três, pareciam ensinar justamente o oposto; eu sabia que certamente estava perdendo algo fundamental. Finalmente, comecei a prestar mais atenção ao tempo dos verbos em cada versículo e então os organizei em várias categorias de passado, presente, futuro e eternidade. Como você pode prever, quando os versículos dentro de cada categoria eram estudados, faziam um sentido exato e lógico. Contudo, entre as categorias, as coisas pareciam não se encaixar de nenhuma forma lógica. Com mais estudo e um tempo considerável de reflexão, comecei a notar: santidade pretérita tem certas características e verdades; santidade presente tem outras características e verdades; santidade futura tem outras características e verdades; santidade eterna tem outras características e verdades. Já que a ênfase do livro é a santidade aqui e agora, a categoria “santidade eterna” foi deixada de lado. Os versículos de cada categoria foram estudados com cuidado, e os três estágios da santidade logo se tornaram um esboço extremamente útil para a compreensão da santidade pessoal. Tudo isso pode parecer meio confuso neste momento, mas nos próximos capítulos sua compreensão sobre a santidade rapidamente se tornará ais clara. Vamos começar. O PRIMEIRO ESTÁGIO DA SANTIDADE Leia com atenção o versículo a seguir e veja se consegue localizar as duas palavras que são traduzidas a partir do mesmo radical de santidade: “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.1Co 1:2” A primeira palavra relacionada ao radical é “santificados” e a outra é “santos”. Talvez você já soubesse que “santo” vem do mesmo radical de santidade; isso amplia nossa compreensão. Note que esse versículo descreve a “igreja de Deus que está em Corinto” de duas formas diferentes. Primeiro, eles eram “santificados em Cristo Jesus”, o que significa que foram santos (ou separados) em Cristo por meio de sua morte e ressurreição. Segundo, foram “chamados para ser santos”, uma expressão que o apóstolo utiliza para descrever quem eles são. Você notou que nesse versículo existem apenas duas palavras em itálico? Quando algumas traduções da Bíblia trazem uma palavra em itálico, significa que ela não se encontra no texto original grego ou hebraico, mas os tradutores a adicionaram para tornar o sentido mais claro. Assim, sabemos que “para ser” não consta no texto original, mas foram adicionadas pelos tradutores. Geralmente, quando leio Bíblia, sou grato aos tradutores pelos acréscimos que fizeram, que são de grande ajuda na compreensão dos textos. Infelizmente, neste caso, senti que o acréscimo me desviou completamente do rumo de meu estudo da santidade. Caminhe junto comigo e veja o que descobri. Se a Bíblia quer dizer “chamados para ser santos”, percebi que “santo” representa algo em que aqueles cristãos deviam crescer ou ter esperança de “ser” no futuro. Essa interpretação de “chamados para ser santos” incentiva os cristãos a viver um estilo de vida santo no mais alto nível, de modo que algum dia talvez alcancem aquela rara classificação de “santidade”. Por outro lado, se a Bíblia quer dizer “chamados santos”, como está no texto original grego, então os cristãos de Corinto perceberiam, surpresos, que já eram “santos”. Em vez de santidade ser um objetivo futuro, seria um estilo atual. Se “chamados para ser santos” representava a melhor tradução, então sem dúvida pouquíssimos cristãos coríntios tinham alcançado este estado elevado; mas, se a melhor tradução fosse “chamados santos”, todo 16


indivíduo cristão de Corinto já tinha alcançado o título de “santo”. Leia e reflita sobre os versículos abaixo e procure uma compreensão mais clara por si mesmo: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em Filipos ... Filipenses 1:1” “A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos, graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Romanos 1:7” “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto e a todos os santos em toda a Acaia. 2Coríntios 1:1” Quando esses versículos similares são colocados lado a lado (outros poderiam ser acrescentados), não é difícil perceber que a Bíblia está se referindo aos cristãos como santos, não como cristãos que deveriam procurar ser santos. De fato, quando você segue esse fio condutor de “santos” através de todo o Novo Testamento, descobre com surpresa que ele se refere aos crentes nascidos de novo como cristãos apenas 3 vezes, mas 62 vezes como santos! Quais são, então, as implicações de ser santo? O radical para santo, santidade ou santificação é a palavra grega hagios. Como você viu no capítulo anterior, a santidade traz consigo o conceito básico de separação. Quando a palavra hagios é utilizada como substantivo no Novo Testamento, é traduzida como “santo”, que significa literalmente “separado” ou “chamado para fora de”. A palavra “santo” não representa um estado de elevação de piedade, mas sim um estado de separação para Deus. Grande parte de nossa confusão sobre essa questão vem da prática de classificar‐se alguns cristãos notáveis como “São João” ou “Santa Maria”. A história da igreja registra claramente que a designação de santo ocorreu muitos anos depois da conclusão do Novo testamento e da morte dos apóstolos e discípulos. Denominar alguns notáveis de santo não era prática, nem ensino específico do Novo testamento, mas uma prática eclesiástica. É interessante notar que nas 62 vezes em que “santo” é utilizado no Novo Testamento, nenhuma delas, na linguagem original, está no singular – está sempre no plural. Não há menção na Bíblia, por exemplo, a “São Paulo”, mas sim a “santos de Roma”, de Corinto ou de Filipos. Usar a palavra “santo” como título seria o mesmo que usar as palavras “cristão” ou “crente” como títulos: O “cristão” Paulo é o mesmo que o “crente” Paulo, que é o mesmo que “santo” Paulo. O Novo Testamento utiliza “santo” para descrever cada crente em Jesus Cristo nascido de novo. Se você é nascido de novo, você já é santo ou separado. Se você ainda não é nascido de novo, não é santo nem separado. O termo “santo” nos introduz no primeiro estágio da santidade, que é a santidade no pretérito. Em que momento ocorre essa “separação” de maneira que os crentes podem ser adequadamente chamados de separados? Note os dois versículos a seguir, que traduzem o mesmo radical para a palavra “santificados”: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus. 1Coríntios 6:11”; “Nesta vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Hebreus 10:10” “Fostes santificados” e “temos sido santificados” revelam claramente que certo tipo de santidade ocorre no passado. A Bíblia não ensina que apenas alguns cristãos “foram santificados” ou eram “santos”, mas todos – “Todos os santos..que vivem em Filipos” ou “Todos os santos em toda a Acaia”. Muita confusão surge neste ponto, dentro das igrejas, concernente à santidade; não é difícil entender a razão. Desde que a bíblia ensina que todos os cristãos são santos e “foram santificados”, então aqueles que não vivem como “santos” ou não agem de forma “santificada” certamente não podem ser cristãos, não é? Pode ser uma questão, entretanto, a Bíblia ensina aberta e repetidamente que um “santo” pode realmente viver de forma bem indigna durante um período de tempo. É neste ponto crítico que muitos cristãos se tornam um tanto confusos sobre as dramáticas diferenças entre os três estágios separados da santidade. COMO O PRIMEIRO ESTÁGIO DA SANTIDADE TORNA VOCÊ SANTO? O primeiro estágio da santidade começa com seu ato de entrega ao Senhor Jesus Cristo e de recebê‐lo como Salvador pessoal. Naquele momento você se torna “santo” e “[é] santificado”. Será que este estágio de

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santidade – quando você se torna um santo e é santificado – significa que seu comportamento reflete a verdade sobre você? Pense um momento sobre a igreja de Corinto. Paulo chamou os cristãos dali de “santificados em Cristo Jesus” e “chamados para ser santos”. Mesmo assim, poucos capítulos adiante ele profere palavras duríssimas contra os pecados que cometiam, inclusive imoralidade, processos legais, divisões, inveja, etc. De todas as igrejas do Novo Testamento, obviamente a de Corinto era a mais pecaminosa e “ainda carnal” (1Co 3:3). Entretanto, quando você lê as duas cartas de Paulo endereçada a eles, o apóstolo não os desafia a se tornarem cristãos, mas a mudar de comportamento. Ele não diz que por causa do comportamento indigno, não podiam ser “santos”. Em vez disso, argumenta que por serem “santos” deviam viver de acordo. A Bíblia é incrivelmente clara: os cristãos são santos que ocasionalmente podem escolher viver como pecadores. Se os cristãos vivem como pecadores, serão confrontados e exortados ao arrependimento, a se submeterem ao Espírito Santo e andar em santidade. O que quero mostrar aqui é a clara diferença entre “santificação pretérita” e “santificação presente”. Todos os cristãos foram santificados, mas nem todos têm vidas santificadas. Você está plenamente convencido de que essa perspectiva tem total base bíblica? Creio que muitas passagens dão base a esse conceito, inclusive 1 Pedro 2:9‐12, que apóia o que estou tentando deixar claro. Note os três passos distintos em sua argumentação: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”; “Vós, sim, que, antes não éreis povo, mas agora sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia”; “Amados, exorto‐vos como peregrinos e forasteiros que sois a vos absterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando‐vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.” Quando as pessoas aceitam a Cristo como Salvador pessoal, como Pedro afirma, são trazidos “das trevas para a sua maravilhosa luz”. Antes daquele momento da salvação “não eram povo [de Deus], mas agora são povo de Deus”. Até o momento do perdão, não “tinham alcançado misericórdia” [o perdão do pecado e a salvação da punição eterna no inferno], mas agora alcançaram misericórdia [a salvação eterna e a riqueza da herança na glória]. Desde que ninguém duvidaria que tais pessoas são claramente nascidas de novo, sendo, portanto, “santas” e “tendo sido santificadas”, então por que nos versículos seguintes, Pedro as “exorta” a se “absterem das paixões carnais”? Somente porque naquele exato momento estavam se envolvendo em paixões carnais e pecando contra o Senhor, não tendo um “procedimento exemplar no meio dos gentios”. O ponto deve ser claro: a santificação que ocorre por causa da fé na obra consumada de Jesus não é igual à santificação que ocorre no comportamento do cristão. Se seu comportamento não se torna santo durante o primeiro estágio da santidade, então como exatamente uma pessoa se torna santa? Como as outras “coisas” que a Bíblia descreve como “santas” chegam a esta condição? Tome a famosa passagem da tentação de Cristo: “Então, o diabo o levou à Cidade Santa...” (Mt 4:5). Respondeu a essa pergunta, como alguém, naquela época, poderia referir‐se a Jerusalém como algo remotamente santo? Você diria que o comportamento dos cidadãos daquela cidade poderia ser definido como piedoso e moralmente puro? (lembre‐se da ocasião em que Moisés teve de tirar as sandálias por causa da “terra santa”, apesar de nada ter mudado na natureza da areia). Quando algo é “separado” do secular, para o sagrado, biblicamente é chamado de santo, independentemente de sua natureza ou comportamento. Quando o Senhor escolheu Jerusalém e a separou para si, como a “menina de seus olhos” e o local do “trono de Davi”, a cidade passou a ser santa. Quando o Senhor escolheu aquela parte do deserto para falar com Moisés, separando‐a para si, o solo em redor tornou‐se santo. Ambos foram descritos como santo não porque tinham mudado de comportamento ou de natureza, mas simplesmente porque foram separados para Deus e seus propósitos. Não somente um objeto pode ser santo sem mudança em sua natureza, como também uma “pessoa” pode ser descrita como “santa” num sentido, sem mudanças em sua natureza. Pense nos exemplos do Antigo Testamento e você lembrará das palavras “sacerdócio santo”. Dê uma olhada nos pronunciamentos de vários profetas no Antigo Testamento e verá denúncias contra a impiedade dos sacerdotes – mesmo assim ainda eram considerados o “sacerdócio santo”. 18


Santos sacerdotes ímpios. Pense nisso um momento: sacerdotes santos vivendo como pessoas impuras. Parece‐me o mesmo problema de Corinto, centenas de anos mais tarde: santos vivendo de maneira profana. Assim, a essência do primeiro estágio da santidade não está na mudança do comportamento da pessoa, mas na mudança da mente do Senhor com relação a ela. A terra tornou‐se santa somente porque o Senhor decidiu usá‐la para seus propósitos. A cidade de Jerusalém tornou‐se santa pelo mesmo motivo. A tribo de Levi tornou‐se sacerdócio santo somente porque Deus a nomeou como tribo sacerdotal. De forma idêntica, o Senhor separou para si cada pessoa que crê em Jesus Cristo com seu Salvador pessoal. No momento da fé, a pessoa (não seu comportamento) torna‐se “santa” ou “santificada” na mente do Senhor. Por isso todo crente nascido de novo é santo e santificado. Se não fosse, então não seria realmente salvo, pois a essência da salvação é o que ocorre na visão de Deus em relação a nós, e não nossa visão em relação a ele. Cremos em Jesus, e ele nos separa para si. COMO ENTRAR NO PRIMEIRO ESTÁGIO DA SANTIDADE Tornar‐se santo é um evento instantâneo, não um desenvolvimento progressivo de piedade. Para aprofundarmos sua compreensão do notável “desfecho da história” neste primeiro estágio da santidade, exploraremos os papéis do Espírito Santo, de Jesus Cristo e do indivíduo que crê: 1. O papel do Espírito Santo no primeiro estágio O texto de 2 Tessalonicenses 2:13 é extremamente útil no entendimento do que o Espírito Santo faz no primeiro estágio: “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade.” O Espírito Santo é o agente por meio do qual o primeiro estágio da santificação é instituído: “...para salvação, pela santificação do Espírito...” No momento em que exercitamos a fé salvadora, o Espírito Santo nos separa para Deus. Ele nos regenera de maneira que nascemos de novo (Jo 3:3‐8), nos sela até o dia da redenção (ef4:30), é enviado pelo Pai aos nossos corações onde clama “Aba, Pai” (Gl 4:6), habita em nós (Rm 8:11), nos batiza no Corpo de Cristo (1 Co 12:13), nos dá dons espirituais (1 Co 12:7,11,18) e produz em nós frutos espirituais (Gl 5:22). Esse incrível processo do primeiro estágio da santificação é primariamente a obra do Espírito Santo. Todas essas bênçãos são concedidas no mesmo instante ao cristão pela sua obra santificadora, quer este saiba disso ou não. Note bem que é o Espírito Santo quem faz a obra e não o próprio cristão. 2. O papel do Senhor Jesus Cristo no primeiro estágio A obra de santificação é realizada pelo Espírito Santo com base na obra de salvação consumada pelo Senhor Jesus Cristo. Note como isso fica bem claro em 1 Coríntios 6:11: “...vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.” A pessoa é santificada e justificada somente por meio do Senhor Jesus. Se ele não tivesse consumado sua obra, o espírito não teria como realizar a sua. Hebreus 10:10, 12,13 oferece uma visão profunda da obra maravilhosa de Jesus: “Nessa vontade [o papel do Pai na salvação] é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.”; “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou‐se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés.” Uma revelação tão profunda, apresentada em tão poucas palavras. O ser humano pode ser aceito por Deus e separado para seus propósitos somente por causa do sacrifício definitivo de Jesus. Cristo morreu uma vez – por todos os pecados, por todas as pessoas, por todas as épocas. Deus considera que a humanidade ou está de um lado ou de outro do primeiro estágio da santidade. Ou o homem é profano, ou ele é santo. Se o homem é profano, está separado de Deus; se é santo, então é separado para Deus. O homem profano está separado de Deus por causa de seu pecado e rebeldia, bem como sua rejeição do sacrifício de Jesus. A penalidade por tal desobediência direta contra Deus é a morte, tanto física como espiritual, no inferno.

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Quando Cristo morreu, ofereceu sua vida como pleno pagamento por nosso pecado. Se ele não tivesse pago, toda a humanidade não teria outra alternativa senão a condenação eterna. Por sua graça, misericórdia e amor, Deus enviou seu único Filho para morrer, a fim de que você e eu pudéssemos viver. Muitas pessoas hoje estão confusas quanto à natureza da salvação e à obra de Cristo. Pense por um momento: quando seus pecados foram pagos por Jesus Cristo? Ele pagou por seus pecados há 2.000 anos, quando morreu na cruz. O Pai aceitou o pagamento de Cristo como suficiente por todos os seus pecados naquele momento; caso contrário, seus pecados ainda estariam sobre Jesus, não pagos, e ele não teria sido aceito de volta no céu. Onde você estava quando Cristo morreu por você, por causa de seus pecados, há 2.000 anos? Desde que você existia, exceto na presciência de nosso Deus onisciente, não poderia estar presente na crucificação. Deus colocou sobre Jesus todos os nossos pecados, e ele pagou por cada um deles. Quando Cristo morreu, há 2.000 anos, quantos de seus pecados já tinham sido cometidos? Todos eles, desde que estavam todos no futuro, porque você nem tinha nascido! Os pecados que você cometeu no passado estavam no “futuro”, para Cristo como os pecados que comete hoje, amanhã e daqui a vinte anos. Todos os seus pecados foram pagos antes de qualquer um ter sido cometido. Sua salvação baseia‐se na obra completa de Jesus Cristo; você e eu não tivemos absolutamente nada a ver. Porque ocorreu há 2.000 anos (“está terminado”) e nunca mais se repetirá (“ele ofereceu um único sacrifício para sempre”), seria tolice e arrogância dizermos que tivemos alguma participação. Desde que Cristo consumou a obra da salvação na cruz há 2.000 anos, ninguém que vive hoje teve alguma parte naquele antigo ato de sacrifício. “Não é você aceitar a Cristo que o salva, mas o fato de ele ter aceitado você!” Charles Haddon Spurgeon 3. O papel do indivíduo A obra de Cristo consumou tudo o que é necessário para nossa salvação; o Espírito a aplica a você. Assim, o que você deve fazer para ser salvo? Absolutamente nada! Não há nenhuma obra inacabada para você completar. A bem conhecida passagem de Efésios 2:8,9 captura a essência da maravilha da idéia de “nenhuma obra” da nossa salvação: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” A Bíblia não poderia ser mais clara, poderia? A salvação “não vem de nós mesmos” e não vem “de obras”. Não pode ser baseada naquilo que você faz, desde que foi Cristo quem fez. Não pode ser uma obra que você realiza, desde que Cristo já realizou a obra completa. Desde que suas obras não têm nada a ver com a obra de Cristo, então nunca mais devemos ficar confusos sobre essas duas questões principais: Primeiro, a noção de que “tenho de praticar boas obras para ser salvo”. Segundo, a idéia de que “devo parar de praticar ‘obras más’ para ser salvo”. “Boas obras” é apenas outra forma de descrever “obras”. Desde que a morte de Cristo na cruz é a única “obra” que o Deus Pai aceita como pagamento por seus pecados, suas “boas obras” são totalmente irrelevantes diante daquilo que Cristo fez. Além disso, suas obras estão 2.000 anos atrasadas, para fazer alguma diferença! A outra dificuldade de tentar encontrar uma solução para o problema do pecado contra Deus fazendo “boas obras” é que Deus não determinou que serviços comunitários e esmolas seriam um pagamento aceitável para a rebelião contra ele. Pelo contrário, desde o início (já no jardim do Éden) Deus disse que a punição para a desobediência seria a morte. Serviços comunitários podem ser um bom pagamento para excesso de velocidade e embriaguez, mas não substituem a pena de morte, não importa quantas horas de serviço você faça.”Obras más” também é apenas outra maneira de descrever “pecados”. Desde que a morte de Cristo na cruz já pagou por cada “pecado” individual, que você já cometeu ou ainda cometerá, parar de praticar “obras más/pecados” não mudará nada com relação à sua salvação. O fato de você pecar ou não amanhã não muda em nada a obra consumada de cristo há 2.000 anos! Quando você sente medo em seu coração sobre “o que acontecerá se eu cometer um pecado grande, terrível, no futuro... será que Deus vai me perdoar?”, esqueceu que todos os seus “pecados grandes e terríveis” estavam no futuro quando Cristo morreu por você. Um pecado terrível cometido há vinte anos e um pecado terrível a ser cometido daqui a vinte anos já foram pagos na morte de Cristo. Portanto, com relação à sua salvação, você deve se sentir inteiramente impotente. Não importa para onde se vire, não há nada que possa fazer para corrigir o problema. Não adianta se esforçar mais e praticar mais boas 20


obras. Nem se esforçar mais e evitar mais obras mais. Você não pode fazer nada para resolver o problema de seu pecado, ou para merecer o perdão divino. Então, o que você deve fazer para se salvar? Repito: absolutamente nada! Assim, deixe‐me ajudá‐lo a reformular a questão: “Desde que sou pecador, e voluntariamente desobedeci a Deus e mereço o castigo da morte eterna, como me conecto com o que Cristo fez por mim na cruz e recebo o perdão de Deus e a vida eterna? O querido apóstolo João tinha sua pergunta em mente quando escreveu: “Mas, a todos quantos o receberam, deu‐lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1:12). Já que não há absolutamente nada que você possa fazer, e desde que Jesus terminou completamente a obra por você, tudo o que lhe resta é crer que ele fez tudo e recebê‐lo como Salvador. Nada mais funcionará. Nada menos funcionará. O DOM DA SALVAÇÃO Você quer dizer que é só isso? Parece tão simples, tão fácil. É como simplesmente estender a mão e receber um presente que está sendo oferecido especialmente a você. Paulo disse à igreja de Éfeso: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2:8). João disse à igreja em geral: “Quem crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3:36). Paulo e Silas disseram ao carcereiro filipense: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16:31). Filipe discutiu sobre isso com o eunuco etíope: “Então, Filipe explicou e, começando por esta passagem da Escritura, anunciou‐lhe a Jesus. Seguindo eles caminho fora, chegando a certo lugar onde havia água disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que seja eu batizado? [Filipe respondeu: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus]” (At 8:35‐37). Jesus disse a Nicodemos: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Assim, meu amigo, quantas outras pessoas alem de Paulo, Silas, João, Filipe e o próprio Jesus terão de dizer a mesma coisa, para que reconheçamos que nossa salvação é obra de Cristo e que requer nossa fé naquilo que ele consumou na cruz? Ele derramou seu precioso sangue, como pagamento pleno e total por nossa pena de morte, por causa do pecado contra Deus. Se você nunca se prostrou diante do rei da Glória e recebeu seu dom incomparável da vida eterna, então agora tem a chance de se ajoelhar e dizer para ele, de todo coração: “Senhor prostro‐me humildemente, confessando que sou pecador e que mereço a pena de morte que tu declaraste como pagamento justo por todo meu pecado. Confesso que nada que eu faça poderá pagar pelo meu pecado, exceto minha morte física e eterna. Aceito a morte e a ressurreição de Cristo por mim, e recebo seu dom maravilhoso da vida eterna. Aceito o senhor Jesus Cristo com meu Salvador. No nome dele, amém.” Se você acabou de receber o dom da salvação de Deus, então realmente nasceu de novo e entrou no primeiro estágio da santidade! 3 APRESENTE‐SE A DEUS Consagração é entregar a Deus uma folha em branco, com o nosso nome assinado embaixo, para que ele preencha. M.H. Miller Meu coração ainda estava descompassado e o suor ensopava minhas costas. A intensidade dos últimos 35 minutos de palestra tinha me exaurido. O Senhor tinha se movido poderosamente no estádio, e milhares de homens vinham à frente, demonstrando arrependimento genuíno e o coração aberto para um novo compromisso. Eu estava sendo encaminhado por um longo corredor para o interior do estádio, para uma pequena sala, onde faria a ultima entrevista de rádio do dia. Nunca esquecerei o momento em que a porta se abriu, revelando sete microfones, todos apontados em minha direção, como pontas de lanças numa selva hostil. Todos os entrevistados queriam fazer a primeira pergunta, mas uma pergunta se destacou: ‐ Dr.Wilkinson, o senhor não acredita de fato que aqueles homens foram mudados, não é? Todos sabemos que ninguém muda simplesmente indo à frente e tomando uma decisão emocional numa conferência. 21


Era um momento propício para alguém mais desembaraçado, como meus amigos Tony Evans ou Joe Stowell – o que eu estava fazendo ali? ‐ É uma boa pergunta – arrisquei – Deixe‐me responder com outra pergunta: você é casado? ‐ Que diferença isso faz? – o repórter respondeu na defensiva, mas depois acrescentou: ‐ Sim, sou. Sem perder o contato visual, continuei: ‐ Quando casou, você foi à frente? Caminhou pelo corredor central? Naquele momento, você não estava tão emocionado quanto todos ficam no momento do casamento? O repórter atenuou um pouco sua atitude defensiva: ‐ Suponho que sim... mas o que isso tem a ver? ‐ Quando você foi à frente naquele dia assumiu um grande compromisso, não diria que aquela decisão emocional literalmente mudou toda a sua vida? A hostilidade desapareceu completamente da face dele. Abrandou sua atitude, quando a verdade penetrou sua incredulidade. Pense nisso: será que uma única decisão pode mudar a vida de uma pessoa? É claro que pode. E não somente isso: uma decisão pode mudar sua vida, e é exatamente assim que todas as pessoas são mudadas! De fato, se você fizer um retrospecto de sua vida, descobrirá que ela tem sido determinada exatamente pelas decisões que tomou. Cada decisão representa um ponto crucial – um momento que influenciou seu futuro, moldou sua carreira profissional, sua família e até determinou seu destino eterno. Jamais subestime o significado de uma decisão, principalmente as decisões mais importantes. As decisões mudam sua vida. No final deste capítulo, vou convidá‐lo a tomar uma decisão que, como você verá em breve, pode mudar sua vida para sempre. O SEGUNDO ESTÁGIO DA SANTIDADE Você já ficou perplexo diante de algo que já conhecia, mas que de repente passou a ver num contexto diferente? Foi exatamente o que aconteceu comigo, quando reli todas as referências no Novo Testamento em que aparecia a palavra “santidade”. Fiquei perplexo ao ler Romanos 12:1 – um texto conhecido de longa data. Minha primeira inclinação foi ignorá‐lo, ao buscar uma idéia nova, mas felizmente decidi não deixar nada de lado e refazer aquele caminho bem conhecido. Para minha grande surpresa, Romanos 12:1 revelou distintamente o segundo estágio da santidade. Esse texto não somente não se encaixava no primeiro estágio como vinha na seqüência, de forma lógica e bíblica. Veja o esboço de sete partes deste versículo: 6. Agradável a Deus, 1. Rogo‐vos, pois, 4. Que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, 7. Que é o vosso culto racional. 2. Irmãos, 5. Santo e 3. Pelas misericórdias de Deus, Como você pode ver imediatamente, esta santidade não tem nada a ver com se tornar crente em Jesus Cristo. O apóstolo Paulo está falando sobre “apresentar” seu corpo como sacrifício vivo ao Senhor, uma ação que segue a decisão de tornar‐se cristão. Desde que “santo” significa separado, este segundo estágio requer que o cristão se “separe” para o Senhor de uma maneira “santa” aos olhos de Deus. Entenda o que estou dizendo: um segundo estágio no processo de santidade ocorre quando o crente toma a decisão de “apresentar‐se” ao Senhor. Trata‐se de um compromisso com Deus, separado da decisão de crer em Jesus Cristo, e que leva o crente adiante, no caminho da santificação. Lamentavelmente, a maioria dos cristãos hoje não compreende este segundo estágio da santidade e subestima sua importância na busca da santidade prática. Além de a Bíblia mostrar claramente seu poder fundamental, as experiências de cristãos por toda a história da igreja dão testemunho do significado estratégico deste segundo estágio. Romanos 12:1 convida o indivíduo que já passou pelo primeiro estágio a dar o próximo passo. Em trinta anos de ministério ao redor do mundo, descobri que apenas uma pequena porcentagem de cristãos dá este passo. Sem compreender e irromper pelo segundo estágio, você se encontrará repetidamente titubeando em sua busca da santidade pessoal. 22


O CONVITE PARA APRESENTAR‐SE A SI MESMO Este capítulo vai explorar a questão de “apresentarmo‐nos” a Deus. Na realidade, este processo divide‐se em três partes: convite, motivação e cerimônia em que o cristão decide apresentar‐se plenamente ao Senhor. Enquanto atentamos para o que as Escrituras têm a dizer sobre a apresentação, minha oração é para que você decida unir‐se àqueles que compreendem e escolhem tomar essa decisão fundamental de apresentação pessoal. 1. A apresentação não é uma ordem, mas um convite “Rogo‐vos, pois” estabelece o tom do restante do versículo. Em vez de uma ordem, o apóstolo Paulo “roga” à sua audiência – o que significa “suplicar” ou “pedir com insistência” – para que façam algo. Sempre que você roga a uma pessoa, está tentando atingir seu coração e sua mente. Paulo reconhece que para que a apresentação de alguém a Deus tenha significado e cause mudanças na vida, tem de ser de coração. Entretanto, ele não pede aos seus leitores que forcem tal apresentação; se desejasse mais obediência, teria dado uma ordem. 2. A apresentação é oferecida aos cristãos nascidos de novo Provavelmente Romanos é o livro mais profundo do Novo Testamento. Paulo destaca nele as principais doutrinas da fé cristã e as apresenta da forma mais lógica e incisiva. Para interpretar corretamente essa epístola e aplicá‐la de maneira adequada, temos de considerar sua estrutura e sua audiência. A epístola aos Romanos sem dúvida foi escrita para cristãos. “A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos...” (Rm 1:7). Lembre‐se que no primeiro estágio da santidade indivíduos chamados “santos” são nascidos de novo e separados na mente e no coração de Deus. Além de serem nascidos de novo, Paulo vai adiante, descrevendo‐os em termos radiantes: “Em todo o mundo, é proclamada a vossa fé”. Portanto a audiência original da epístola era formada pelos salvos. De fato, Paulo refere‐se a eles como os “amados de Deus” (1:7) e “irmãos” (12:1). Não há nenhuma duvida de que este versículo foi escrito para aquele que crê em Jesus Cristo para a salvação, pois é impossível para um incrédulo fazer o que o texto ensina com qualquer outro resultado exceto a frustração. Se uma pessoa que não é “santa” ou “amada de Deus”, ou parte dos “irmãos” busca devotar‐se ao Senhor, não será recebida. Sua apresentação como sacrifício vivo não é “santa” nem “agradável a Deus”. Por quê? Porque como Paulo relacionou cuidadosamente em Romanos 1‐5, a única forma válida e aceitável de aproximar‐se de Deus é por meio do sangue derramado de Jesus Cristo. Quando indivíduos que não crêem em Jesus buscam se devotar a Deus, estão tentando alcançar o favor divino por meio de um ato de sacrifício pessoal e não por meio do sacrifício de Cristo. Deus é bem claro, a salvação não existe exceto pela morte e ressurreição de Jesus Cristo. A apresentação a Deus como sacrifício vivo só pode ser aceitável por causa da aceitação do sacrifício vicário de Cristo na cruz. 3. A apresentação é separada da salvação e segue a ela Cada geração encontra suas próprias dificuldades com relação ao Cristianismo bíblico. De alguma forma, a verdade é misturada com um pouco de mentira e depois espalhada, sendo aceita como plena verdade. Há algumas semanas, deparei com uma situação dessas. Não importa a freqüência com que isso ocorra no ministério, todas as vezes sou apanhado desprevenido. Havia acabado de concluir três dias de ensino intensivo sobre santidade pessoal para um grupo de pastores e líderes. O Senhor tinha operado com poder, de várias formas, e muitos expressaram como suas vidas tinham sofrido mudanças profundas. Depois do final da conferência, eu estava expressando minha gratidão e incentivando os participantes a ensinar sobre o assunto em suas igrejas e organizações. Um jovem pastor apertou minha mão e expressou entusiasmado como tinha sido tocado pelo curso e estava disposto a ensinar a outros. Disse que ia mostrar a série de vídeos Personal Holiness in Times of Temptation (Santidade Pessoal em Tempos de Tentação) aos homens de sua igreja e depois acrescentou: ‐ É claro que mostrarei apenas as partes 2,3 e 4. Não posso mostrar a parte 1. Seu comentário me deixou confuso, por isso perguntei: 23


‐ Por que não mostrar a parte 1 da série? Nunca esquecerei sua resposta. ‐ Porque na parte 1 você apresenta o falso evangelho. Quase caí de costas! Jamais, em todos os meus anos de ministério, tinha sido acusado de apresentar um “falso evangelho”. Em uma de suas epístolas, o apóstolo Paulo fala claramente: “Ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl 1:8). Não conheço afirmação mais séria. Assim, ao ouvir aquelas palavras, respirei fundo e pedi ao pastor que explicasse o que queria dizer. Quando compreendi seu ponto de vista, fiquei com o coração partido. Ele acreditava que temos de nos apresentar como sacrifício vivo para sermos salvos. O que você acha que é necessário para que um indivíduo receba o dom da vida eterna proporcionado por meio do sangue derramado de Jesus Cristo? Mais especificamente, o que a pessoa precisa fazer, além de crer na obra completa e total de Cristo? Você tem de se consagrar a ele, de alguma forma, para ser salvo? Tem de se devotar a ele para ser salvo? É claro que não – a Bíblia é clara: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo...” (At 16:31) Crer e devotar‐se são coisas diferentes. Posso crer em alguém sem entregar minha vida a ele. Será que é um falso evangelho ensinar que crer em Jesus é uma ação separada e distinta de se apresentar a ele em consagração plena ou devoção? Embora eu já tenha lido muitos argumentos a favor de se acrescentar coisas à fórmula “crê no Senhor Jesus e será salvo...”, continuo firme em minha convicção de que a Bíblia ensina que nada salvará uma pessoa exceto a fé genuína em Cristo e o que ele realizou por meio de sua morte vicária e sua ressurreição há 2.000 anos. Acrescentar outro passo ou outra condição é antibíblico. A apresentação ocorre quando o cristão nascido de novo voluntariamente dedica‐se e consagra‐se ao Senhor. Será que ele precisa “dedicar‐se e consagrar‐se voluntariamente” ao Senhor para ser salvo? Não. Aquele pastor bem‐intencionado entendeu que por eu deliberadamente separar “dedicação a Cristo” de “crer em Cristo” ensinava um falso evangelho. Em seu ponto de vista, a menos que uma pessoa se devotasse totalmente a Jesus Cristo – inclusive na consagração e dedicação – não poderia ser salva. O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE SALVAÇÃO E DEDICAÇÃO Romanos 12:1 apresenta uma resposta muito clara a essa questão importantíssima. “Rogo‐vos, pois irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. Pense assim: 1. O Livro de Romanos foi escrito pra cristãos. 2. Portanto, os leitores da carta já eram nascidos de novo. 3. Romanos 12:1 exorta os cristãos a se apresentarem a Deus. 4. Com base nisso, concluímos que alguns cristãos ainda não tinham se apresentado a Deus. 5. Assim, a apresentação a Deus não é exigida para se ter uma experiência de salvação. 6. Desde que cristãos nascidos de novo são exortados a se apresentarem a Deus, a apresentação pode seguir e não tem de ocorrer simultaneamente. 7. Além disso, desde que Romanos 12:1 exorta os cristãos de Roma como grupo, usando o plural “irmãos”, vários cristãos naquela igreja ainda não tinham se apresentado a Deus. 8. A situação dos cristãos numa igreja local na qual uma parte dos membros ainda precisa se apresentar a Deus pode ser mais regra do que exceção. 9. Desde que Romanos 12:1 foi escrito a vários cristãos que tinham sido salvos num período que podia variar de alguns dias a muitos anos, pode haver um extenso período de tempo entre a decisão de crer em Cristo como Salvador e a decisão posterior de se devotar totalmente a Deus. 10. Embora o texto não declare explicitamente, creio que Romanos 12:1 permite supor que um cristão verdadeiro, nascido de novo, pode viver toda a sua vida cristã sem “se apresentar”. A salvação não depende da consagração ou dedicação, senão provavelmente Paulo diria: “Vocês ainda não se apresentaram ao 24


Senhor, e isto prova que não são nascidos de novo! Em vez disso, ele roga que como cristãos se dediquem totalmente a Deus. Resumindo, a consagração ao Senhor não ocorre necessariamente ao mesmo tempo que a salvação e não é uma exigência para que ela se realize. Consagração é um ato voluntário de um cristão verdadeiro e pode ocorrer no momento da salvação, logo depois ou muitos anos mais tarde. Talvez nunca ocorra! Paulo não disse que os cristãos romanos que não haviam se apresentado a Deus não eram salvos. Nem os advertiu que perderiam a salvação se não dedicassem a vida ao Senhor. Consagração e salvação são coisas distintas, separadas (em alguns casos) por vários anos. A apresentação (ou consagração, dedicação ou o termo que preferir), portanto, não é uma exigência para que haja salvação. A consagração ocorre quando o cristão decide, por livre e espontânea vontade, dedicar‐se a Cristo de forma mais profunda e significativa. O conceito de “fé madura” ou “discipulado” deve ser separado como uma verdade distinta da “salvação” ou o evangelho é tragicamente maculado. Considere com cuidado as palavras de Oswald Chambers: “Discipulado e salvação são duas coisas diferentes: o discípulo é alguém que, reconhecendo o significado da expiação, deliberadamente entrega‐se a Jesus Cristo em profunda gratidão. Jesus Cristo sempre falou sobre o discipulado com um “se”. Temos toda a liberdade de menear a cabeça e dizer: “Não, obrigado, é demais para mim” – e o Senhor não dirá nada. Podemos fazer exatamente o que preferirmos. Ele jamais nos obrigará, mas a oportunidade está lá.” TOMANDO A DECISÃO A Bíblia – não nossas opiniões e experiências – é a autoridade suprema. Embora as experiências possam validar nosso entendimento das Escrituras, quando vivemos em obediência a seus princípios, sempre que o ensino contradiz a norma do comportamento cristão de gerações de homens e mulheres piedosos, devemos ficar imediatamente preocupados. Ou nossa compreensão da Bíblia está equivocada, ou nossa conduta claramente está em desobediência e mal‐direcionada. Eis o âmago da questão: desde que Paulo “rogou” aos cristãos nascidos de novo para que se consagrassem, qual é a norma do cristão nessa questão? Quantos cristão nascidos de novo, em determinada igreja, já experimentaram esta “apresentação de compromisso”? Quantos anos normalmente se passam depois da salvação, até que os cristãos se apresentam a Deus? Antes de revelar minhas descobertas, deixe‐me fazer uma pergunta: você já se consagrou ao Senhor, plena e completamente? Se o fez, quanto tempo isso ocorreu depois de conhecer a Cristo? Quando ensinei esse tópico recentemente numa conferência de pastores, fiz essa pergunta. A idade média dos participantes era 40 anos. Veja o que descobri: 1. Muitos pastores e líderes admitiram que nunca havia se consagrado ao Senhor da maneira mostrada em Romanos 12:1. Quando os desafiei a se consagrarem, alguns se ajoelharam em resposta. 2. Quando perguntei à parte da audiência que já tinha se consagrado ao Senhor (com faixas etárias de 20 a 60 anos) quantos anos tinham se passado entre o momento da salvação e o momento da consagração, descobrimos que o período variava de dois a mais de vinte anos. Para aqueles pastores e líderes, o tempo médio entre salvação e consagração era de quinze anos. Algumas semanas mais tarde, eu estava ensinando a 100 homens na sede internacional do Através da Bíblia, em Atlanta. Depois de explicar o conceito de apresentação, perguntei se aqueles homens que conheciam Jesus Cristo como Salvador ainda não tinham se apresentado a ele em plena consagração. Mais de 75% dos presentes imediatamente levantaram a mão. Então, quando perguntei se alguém desejava se apresentar a Deus em sacrifício vivo, mais de 50 homens ficaram em pé. Foi um momento pungente, com todos aqueles homens se ajoelhando e se apresentando ao Senhor. Em outra ocasião recente, eu estava ministrando a cerca de 500 pessoas na Califórnia. Depois de falar sobre a apresentação, perguntei se algum dos presentes desejava apresentar‐se a Deus. Em todo o auditório, homens e mulheres se ajoelharam numa dedicação solene, muitos deles em lágrimas. Quando questionados sobre quanto tempo havia passado entre a salvação e a dedicação, a resposta foi em média mais de dez anos. A apresentação não precisa ser simultânea à salvação, mas é uma decisão que todo cristão deve tomar e que muitas vezes ocorre muitos anos mais tarde. O Senhor incentiva todos os seus filhos a se apresentarem a ele como sacrifício vivo já no momento da salvação; para muitos, porém – inclusive os cristãos do novo 25


testamento – a decisão só ocorre depois de vários anos de vida cristã. Uma de minhas orações, na elaboração deste livro, é que o Senhor o utilize como ferramenta para levar os cristãos na direção desta importante decisão. A MOTIVAÇÃO PARA A APRESENTAÇÃO Mathew se debatia num carrossel espiritual – andando em círculos sem sair do lugar, sem progredir em sua vida cristã. Ele cresceu bastante como novo convertido, mas finalmente parou, estacionou e começou a declinar. Nós nos conhecemos numa noite de sexta‐feira, e ele desejava saber se eu podia ajudá‐lo. Depois de lhe fazer algumas perguntas, logo percebi seu problema: nunca havia chegado a um ponto de sua vida em que tivesse se entregado totalmente ao Senhor. É inevitável que tal obstáculo no coração dê lugar à frustração, confusão e declínio espiritual. A menos que o cristão coloque Cristo em primeiro lugar, será incapaz de experimentar uma vitória constante. Mathew logo se abriu e compartilhou que, embora desejasse dedicar sua vida ao Senhor, toda vez que tentava acabava “pisando no freio”, terminando sempre no fundo do poço. Com um suspiro de resignação, confessou que não sabia o que fazer e apenas tinha esperança de um dia conseguir superar o problema. Coloque‐se no lugar de Mathew. Por que ele sofria fracassos tão constantes? Será que só podia ter uma vaga esperança de um dia conseguir vencer? Espero que você não tenha caído na armadilha de pensar que a vida espiritual é complicada demais, difícil demais, causal demais, que a pessoa fica à deriva no oceano, esperando que algo mude. Será que a Bíblia não nos dá nenhuma ajuda específica? 1. A motivação para a apresentação está nas “misericórdias de Deus” Por Romanos 12:1 ser o texto‐chave acerca de “apresentar‐se por sacrifício vivo”, a resposta pode estar na ponta de nosso dedos. Qual a razão usada pelo apóstolo Paulo para encorajar a igreja de Roma a se consagrar? “Rogo‐vos, pois irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo...” A motivação para se apresentar está nas misericórdias de Deus, e não em nós. Diferente de muitas áreas da motivação, Paulo revela que a consagração não é causada por um senso de responsabilidade ou de dever, mas por um senso de gratidão. Em vez de “eu sei que devo...”, a idéia é : “sou grato pelo que ele fez; por isso quero...” Você percebe a diferença? Paulo não está tentando nos motivar por meio da promessa de algum tipo de recompensa, ou ameaçando com disciplina ou dor, ou apelando para alguma forma de responsabilidade moral – não menciona nada disso. A motivação para a dedicação a Deus baseia‐se unicamente no que Deus fez por nós. As misericórdias de Deus proporcionam a motivação para você se apresentar. Agora, veja como aplico essa verdade a nosso amigo Mathew e veja se pode prever o que acontecerá no desenrolar da história. ‐ Então, Mathew, de tudo o que o Senhor tem feito por você, o que tem significado mais profundo? Matt só conseguiu pensar em duas coisas e começou a sentir‐se embaraçado, sabendo que obviamente devia lembrar de muitas outras – mas não lembrava. Certamente não lembrava. Por quê? Porque este princípio nunca falha: cristãos que relutam em se entregar totalmente sempre têm dificuldade para lembrar as muitas misericórdias de Deus em suas vidas. As misericórdias de Deus e a consagração do cristão são sempre inseparáveis. Quanto maiores as misericórdias, maior a consagração. Se você conhece alguém que está lutando para se consagrar, automaticamente conhece alguém cujo “banco de dados das misericórdias” tem poucas informações. Do mesmo modo, se você pergunta a um indivíduo altamente consagrado o que o Senhor tem feito por ele, é provável que fique tocado com a abundância de testemunhos. Portanto, qual é a resposta bíblica clara para o problema de Mathew? Encha seu banco de dados com as misericórdias de Deus! Uma vez que as misericórdias divinas são o segredo da motivação para toda consagração, o que você esperaria que o apóstolo Paulo fizesse com elas, com relação a seus leitores? Exatamente. Ele encheu o banco de dados deles até transbordar e tocou a emoção deles com a lembrança das misericórdias de Deus. Então, e só então, ele rogou que apresentassem seus corpos.

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Embora alguns não concordem comigo, cheguei à conclusão de que todo o livro de Romanos gira em torno desse ponto. Depois da salvação (lembre que Paulo escreveu a cristãos), o próximo passo estratégico no crescimento espiritual é a “apresentação”. O que motivaria a igreja a faze algo tão notável? Somente uma compreensão profunda do que Deus tem feito por ela e por todo mundo. Pense em Romanos 1‐11: versículo após versículo, capítulo após capítulo, Paulo apresenta a incrível misericórdia de Deus de forma rápida e lógica, até que culmina em Romanos 11:30‐36. Note o tema dessa misericórdia que estamos discutindo, enquanto lê os versículos 30‐32: “Porque assim como vós também, outrora, fostes desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia, à vista da desobediência deles, assim também estes, agora, foram desobedientes, para que, igualmente, eles alcancem misericórdia, à vista da que vos foi concedida. Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos. Talvez agora fique claro porque a terceira palavra em Romanos 12:1 é “pois”. Ela resume não somente os últimos versículos, mas todo o livro, de 1:1 a 11:32. Tudo se encaminha para Romanos 12:1, e tudo o que se segue é resultado da apresentação pessoal como sacrifício vivo. 2. A motivação para a apresentação aumenta até que se torna o passo mais lógico Embora a apresentação possa ser feita de forma bem emocional, a raiz da ação sempre deve ser racional e lógica para a pessoa. Não deve envolver apenas o coração, mas também a mente. Quanto mais o indivíduo conhece as misericórdias e a compaixão de Deus e as traz à memória, mas racional será seu ato de apresentação. O ato de entrega a Deus deve ser a coisa mais lógica e racional que fazemos. Se a apresentação é feita numa base emocional, em vez de racional, a “vida de entrega” pode fracassar. Por isso Paulo diz: “Rogo‐vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12:1) Certa vez, no alto das Montanhas Rochosas, observei este processo resumido em duas horas na vida de um empresário da região de Colorado Springs. Como Mathew, ele buscava irromper em sua vida espiritual, quando reconheceu sua falta de consagração. Por duas horas provei delicada porém incansavelmente seu coração, seu conhecimento da Palavra e consciência do envolvimento pessoal do Senhor em sua vida. Quanto mais eu abria seus olhos para a verdade das misericórdias de Deus, mais ele se quebrantava. Uma por uma, tratamos de todas as áreas ocultas em que seu coração estava endurecido, por compreensão equivocada da verdade. Repetidamente sua dureza transformou‐se em confissão, louvor e adoração. Juntos, meditamos nas incríveis misericórdias divinas reveladas na redenção, na expiação, na reconciliação, na adoção e no dom do Espírito Santo. Finalmente algo se quebrou no fundo de seu coração, e ele caiu de joelhos. “Senhor, como posso ficar longe de ti? Como tenho sofrido por dizer ‘não’ a ti e ‘sim’ a mim mesmo! Como tenho sido tolo lutando contra ti, quando lutaste por mim e sacrificaste teu Filho em meu favor! Há algum outro Deus além de ti, que seja digno de receber minha vida? Senhor, humilho‐me diante de ti e me ofereço a ti por sacrifício vivo!” Veja bem, caro leitor, quando você vê toda a verdade sobre o Senhor, seu amor e cuidado, compaixão e fidelidade a você, a única coisa lógica a fazer é entregar‐se aos braços amorosos dele, total e imediatamente. 3. A motivação da apresentação deve ser alimentada pelo crente e pela igreja Como eu sabia que veria Mathew no dia seguinte, dei‐lhe uma tarefa para encher seu banco de dados com a verdade das misericórdias de Deus, na esperança de que seu coração s libertasse. Pedi que lesse Romanos 1‐ 11, Efésios 1‐3 e Colossenses 1‐2, fazendo uma lista de tudo o que o Senhor tinha feito por ele, pessoalmente. Nós nos encontramos na noite seguinte. Mathew levou várias folhas, cheias de anotações. Quando o vi, notei que seu olhar estava mais brando e demonstrava mais paz. ‐ Bem, Mathew, o que encontrou? ‐ Eu não tinha idéia... quer dizer, onde estive durante todos os anos em que sou cristão? Veja esta lista, nem tive tempo de terminar todos os capítulos. O Senhor é incrível! Mathew tinha um banco de dados cheio das misericórdias de Deus, mas a verdade ainda não tocara o fundo do seu coração. ‐ Então, Mathew, diga‐me como se sente com relação ao primeiro item da lista. Ele falou, relacionando boas informações, mas sem permitir que a verdade lhe tocasse fundo o coração.

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‐ Devagar, Mathew. Permita que seu coração assimile a verdade que sua mente já conhece. Que emoções você experimenta, por exemplo sobre Deus tê‐lo adotado como filho? Era essa tampa que eu estava procurando, pois dentro de poucos minutos os olhos dele estavam marejados de lágrimas, reprimidas durante toda a sua vida cristã. A bondade de Deus atingiu seu coração – e quase o fez sucumbir. Logo Mathew estava soluçando, seu coração quebrantado pela primeira vez, pelo amor que Deus tinha por ele, e por todas as coisas incríveis que Deus fizera por ele. Sabe o que aconteceu naquela noite, sob as altas árvores do norte da Califórnia? O céu exultou de alegria por outro cristão relutante que finalmente se tornou um sacrifício vivo. Se percebo que minha própria consagração está se desvanecendo, o que faço para reanimá‐la? Volto para as misericórdias de Deus nas Escrituras e instigo meu coração com a verdade. Pego meu próprio diário e leio sobre todas as muitas misericórdias e compaixões que escrevi após reler os diários do ano anterior. Fiz isso há poucas semanas e acabei celebrando a maravilhosa e abundante bondade de Deus em meu favor. Abro meu diário de oração e leio lentamente centenas de respostas específicas que registrei no passado. Abro meu coração e inundo o trono da graça com meu louvor e adoração. Não paro até que minha consagração seja completa. Não importa o quanto meu coração tenha se desviado, tenho plena certeza de que ele precisa de controle – e será controlado – até que esteja plena e alegremente submisso ao Senhor da glória! Infelizmente, porém, muitos cristãos não sabem o que fazer com o próprio coração. Minha oração, neste momento, é que você se levante e reavalie os arquivos em sua mente marcados com “misericórdias de Deus” e estique as cordas de seu coração até que elas toquem em uma bela harmonia com a melodia celestial. Embora este livro não seja escrito para pastores e líderes cristãos, sinto‐me inclinado a revelar o que descobri nas igrejas nos Estados Unidos e praticamente em todo o mundo. Com raras exceções, descobri que as igrejas raramente ensinam sobre consagração bíblica ou fazem algum desafio. Há 50 anos os pastores desafiavam abertamente o rebanho para a Vida de Consagração. Hoje, porém, o assunto raramente é abordado dos púlpitos! Como as igrejas têm sofrido por causa disso! Alguns pastores apelam para o emocionalismo inadequado, enquanto outros se retiram para as arengas teológicas, em vez da pregação ungida e poderosa que Deus usa para transformar vidas. Entretanto, o lado brilhante disso tudo está no coração dos leitores por todo o mundo. Sem exceção, os cristãos a quem tive oportunidade de ministrar por toda a América, África do Sul, Rússia, Cingapura, Ucrânia, Malásia e outros países estão famintos e com grande desejo por uma consagração mais profunda. Mesmo assim, na maioria das vezes receberam pouco ensinamento e carecem de líderes que os ajudem no processo. Sem dúvida essa maravilhosa abertura nem sempre permanece, mas a igreja do Senhor atualmente está sensível à consagração – que os líderes se levantem e cumpram seu chamado! A APRESENTAÇÃO DE SUA VIDA Paulo nos instrui para “apresentarmos” nossos corpos por “sacrifício vivo” – uma noção que muitos cristãos hoje não entendem. Como “apresentamos” nossos corpos a Deus? O que significa “sacrifício vivo”? 1. O significado de “apresentar” A palavra “apresentar”, em Romanos 12:1, traz um sentido geral e um específico. Em termos gerais, ela significa oferecer ou trazer. Como muitos especialistas em grego destacam, a palavra “apresentar” também é usada em termos técnicos para descrever o pecador que oferece ou apresenta um cordeiro como sacrifício por seu pecado. Quando essa palavra está ligada a “sacrifício”, como no versículo de nosso estudo, os leitores do Novo Testamento podiam imediatamente visualizar a apresentação oficial de um cordeiro diante de Deus. Quando uma pessoa apresentava ao sacerdote seu cordeiro para ser morto, era um ato oficial e definitivo pelos pecados cometidos até aquele momento. O cordeiro morria uma vez. Os israelitas jamais apresentariam novamente aquele mesmo sacrifício, pois já tinha sido completado. O Senhor busca nossa decisão mais importante de apresentarmos a nós mesmos como “sacrifício vivo” e então voltarmos repetidamente para renovar esse compromisso. No Evangelho de Lucas, essa mesma palavra “apresentação” descreve o que José e Maria fizeram com o bebê Jesus no templo: “Passados os dias da purificação deles segundo a Lei de Moisés, levaram‐no a Jerusalém para

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o apresentarem ao Senhor, conforme o que está escrito na Lei do Senhor: todo primogênito ao Senhor será consagrado.” (Lc 2:22,23) Esse texto ilustra o conceito de apresentar‐se uma pessoa de maneira que seja “santa ao Senhor”. Quando José e Maria apresentaram Jesus, ofereceram‐no de volta a Deus, dedicando‐o a seus propósitos. Por terem dedicado o filho ao Senhor, separando‐o para o Senhor, ele era “santo” para o Senhor. Pais tementes a Deus podem oferecer os filhos ao Senhor como “sacrifícios vivos”, por meio de dedicação – sabendo que é agradável a Deus. Entretanto, cada indivíduo, posteriormente, deve conhecer a Cristo e escolher dedicar‐se totalmente ao Senhor. 2. O significado do “sacrifício vivo” Embora todos compreendessem o que era “sacrifício vivo” na época em que a epístola foi escrita, muitos fatores devem ter chocado os destinatários. Primeiro, o Senhor falava do sacrifício de uma pessoa e não de um animal. No Antigo Testamento, todos os animais sacrificados deveriam estar vivos, saudáveis e não possuir defeito, ou o Senhor não os aceitaria. Nada de novo era revelado nos termos “sacrifício vivo”, mas o que deve ter imediatamente instigado os sentimentos dos leitores foi o fato de o Senhor trocar os animais por pessoas. Divinamente inspirado, Paulo escolheu algo que ilustrava como o Senhor queria todas as áreas da vida do cristão. Segundo, pense em quem trouxe o sacrifício. No Antigo Testamento, o israelita trazia o animal a Sr sacrificado, o qual era oferecido a Deus. No Novo Testamento, o cristão traz a si mesmo como sacrifício, oferecendo‐se a Deus. Os mais maduros da igreja de Roma imediatamente lembraram do único sacrifício humano exigido por Deus na Bíblia: Abraão, oferecendo seu amado filho Isaque. Quando Abraão estava prestes a matar o filho, um anjo do Senhor o impediu e revelou a razão por trás do sacrifício. “Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho” (Gn 22:12). O Senhor levou Abraão a uma crise de consagração. Quem seria o primeiro em sua vida: seu filho ou Deus? O teste do sacrifício vivo é muito similar. Em vez de seu filho, porém, o Senhor exige de você sua própria vida. Novamente a questão subjacente é quem ocupará o primeiro lugar em sua vida – você mesmo ou o Salvador? A terceira distinção está naquilo que deu valor ao sacrifício vivo. Nos sacrifícios do Antigo Testamento, o animal só tinha valor no momento da morte. Sua vida não tinha mérito; seu corpo morto não tinha mérito. Pelo contrário, o próprio ato de morrer proporcionava a expiação pelo pecado do homem. No sacrifício do Novo Testamento, porém, o “valor” real do cristão ocorre depois do momento da apresentação. O contraste é bem claro. No Antigo Testamento, o valor do sacrifício vivo centralizava‐se no momento da morte. No Novo Testamento, o valor do sacrifício vivo está na vida subseqüente. O cristão morre para si mesmo, a fim de viver para Deus. 3. O significado de “santo” A palavra “santo” em Romanos 12:1, proporciona a evidência que me leva ao conceito de apresentar‐se por sacrifício vivo como um ato separado da salvação e que age na obediência diária. Como podemos ver no texto, a consagração da vida ao Senhor ocorre na mente e no coração do cristão, quando ele se separa totalmente para o Senhor, com seu servo. Particularmente creio que essa apresentação é bem similar à decisão de seguir a Cristo como discípulo e não somente como aquele que crê. Lucas 14 mostra as condições para o discipulado, que não tem absolutamente nada a ver com a salvação externa, mas tudo a ver com obediência e serviço. No meio daqueles versículos poderosos, o Senhor exorta aqueles que estão considerando se devem ou não se tornar um de seus discípulos a avaliar bem os custos que terão de pagar. Lucas 14 e Romanos 12 apresentam um convite que parece ser uma decisão importante na vida, seguida por uma ação que deve ser avaliada com cuidado e que traz resultados de longa duração. Em vista da seriedade e das conseqüências dessa decisão, muitos que a tomam experimentam profunda emoção. Quanto mais velho for o cristão, mais traumática a decisão parece ser. Aconselhando e orientando muitos homens em crise de consagração, notei que é comum a luta durar de 18 a 24 meses. O ato final da consagração é feito com tal conhecimento de suas implicações que o cristão com freqüência experimenta

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quase que as dores de um parto espiritual. Esse compromisso ao Senhor muitas vezes é tão dramático e profundo que um grande número de pessoas parece não entender bem o que realmente aconteceu. Infelizmente, por causa do ensinamento de que não pode haver salvação sem consagração, muitos cristãos adultos interpretam erroneamente o ato de consagração e de discipulado. Há duas semanas, ministrei no México um curso de imersão sobre Seven Stages of a Pilgrim’s Progress (Sete Estágios de um Peregrino), que relaciona os estágios pelos quais todos os cristãos têm de passar para chegar à plena conformidade com Jesus Cristo. A consagração é um dos sete estágios. Mais da metade da audiência ajoelhou‐se, apresentando‐se a Deus. Depois disso, adverti a todos para não pensarem que aquele ato tivesse algo a ver com salvação eterna. Muitos daqueles adultos de meia‐idade tinham aceitado a Cristo como Salvador pessoal na infância, mas não decidiram entregar‐se totalmente a Deus até a idade adulta. Quando a consagração é muito intensa e emocional, muitas pessoas são tentadas a “reescrever” a vida espiritual e apagar a verdadeira experiência de conversão, em vista da profundidade da entrega atual. Se, quando criança, o indivíduo decidiu por livre e espontânea vontade entregar‐se a Jesus Cristo como seu Salvador pessoal e creu genuinamente que ele morreu por seus pecados e que somente por meio de sua morte e ressurreição poderia ser salvo, então recebeu a vida eterna naquele momento! Nunca esqueça desse fato e jamais permita que outra pessoa o confunda: a salvação é somente por meio do sacrifício de Cristo, e a consagração é somente por meio de nosso sacrifício a Cristo. Um ato foi completado na cruz há dois mil anos, e o outro pode ser consumado em seu coração durante a vida. Antes de encerrar o significado de “santo” em Romanos 12:1, mais uma questão deve ser discutida. Atualmente muitas pessoas ensinam que para nos apresentarmos a Deus como sacrifício vivo nossa vida tem de estar em plena obediência, ou o Senhor não aceitará tal sacrifício. Reconheço que o que vou apresentar aqui pode perturbar alguns, mas estou convicto de que se trata da interpretação correta desta passagem. O significado da palavra “santo” deve ser determinado pelo contexto, não por nossas idéias pré‐concebidas; do contrário cairemos no erro do “tronco”. Lembre‐se: nós nos tornamos “santos” aos olhos de Deus no momento em que cremos em Jesus Cristo – é errado interpretar a santidade salvadora como santidade comportamental. Essa santidade salvadora é a separação que ocorre na mente de Deus, não em nossa mente ou comportamento. É algo similar à terra santa, que não mudou sua natureza, mas mudou apenas no pensamento de Deus. Este é o segundo estágio da santidade bíblica, e lamentavelmente muitas pessoas forçam o estágio dois e três, como se fossem apenas um. Romanos 12:1 convida o cristão a separar‐se em sua mente para o Senhor, como sacrifício vivo. Portanto, o primeiro e o segundo estágios são similares, no sentido de que ocorrem na mente e no coração e não no comportamento. O primeiro ocorre na mente do Senhor e o segundo ocorre na mente do cristão. Romanos 12:2 faz a rápida transição para o estágio três, que se concentra inteiramente nas ações de obediência, piedade e serviço: “E não vos conformeis com este século, mas transformai‐vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Portanto, a pessoa tem de mudar todo o seu comportamento para tornar‐se um sacrifício vivo? Se o fizer, creio que erroneamente acrescentou condições que a Bíblia não relaciona diretamente a tornar‐se um sacrifício vivo! A ordem do Novo Testamento é bem clara: primeiro, apresente‐se ao Senhor, e depois não se conforme com o mundo, mas seja transformado pela renovação de sua mente. A ordem não é: “Não se conforme com este mundo, mas transforme‐se pela renovação de sua mente, e, então, pelas misericórdias de Deus, apresente‐se como sacrifício vivo”. A idéia contida em Romanos 12:1 é encorajar os cristãos a voluntariamente apresentarem‐se ao Senhor abandonarem‐se à liderança dele. Depois de tomarem essa decisão, tornam‐se adequadas as características de como obedecer e servir a Deus. A única exigência para obter a salvação é crer no que Cristo fez na cruz. A única exigência para alguém se transformar num sacrifício vivo é apresentar‐se a ele. Entretanto, as exigências para o terceiro estágio são muitas e variadas e serão estudadas nos capítulos restantes deste livro. 4. O significado de “agradável a Deus” A penúltima frase de Romanos 12:1 é uma das mais inspiradoras da bíblia. Como você pode ter certeza de que Deus aceitará seu sacrifício? Jamais esquecerei a ocasião em que aconselhei uma jovem que buscava 30


intensamente devotar‐se ao Senhor, mas, por causa de uma longa vida de imoralidade sexual, tinha certeza de que Deus não aceitaria seu desejo. Com foi maravilhoso poder mostrar‐lhe o “pré‐compromisso” do Senhor para com ela! Em Romanos 12:1, ele revela que todo que se entrega a ele como sacrifício vivo será “agradável”. 5. Um coração sincero de consagração tem grande valor para Deus! Permanece ainda uma questão: por que o Senhor deseja que escolhamos nos apresentar como sacrifício vivo? O que é alcançado com tal ato? A resposta a essa pergunta novamente demonstra a incrível graça de Deus. Veja a verdade sobre você, mesmo antes de apresentar‐se ao Senhor: “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo. 1Coríntios 6:19,20 Quem já possuía seu corpo desde o momento em que você creu em Cristo? O próprio Senhor! Cristo comprou toda a sua vida pagando o preço com a vida dele. Sua morte foi o preço estipulado para nossa vida. Portanto, “não somos de nós mesmos”; até este momento, porém, é possível que você viva como se sua vida lhe pertencesse exclusivamente! Por que, então, Paulo não escolheu anunciar a verdade que eles já eram de Deus, em Romanos 12:1, instruindo os leitores que faziam bem em viver de acordo? Simplesmente porque o Senhor sempre busca o serviço voluntario de seus filhos. Sabe que, a menos que nosso coração esteja comprometido, nossas ações serão sem compromisso. Assim, apesar de você e eu já pertencermos ao Senhor, ele nos convida a apresentar nossos corpos a ele como sacrifício vivo – abandonando o direito sobre nós mesmos, em favor dele. A CERIMÔNIA DE CONSAGRAÇÃO Este capítulo deve culminar numa pergunta: “Você apresentará seu corpo como sacrifício vivo ao Senhor, agora?” em caso afirmativo, quero que você separe alguns minutos como “santos”, dedicando‐os ao Senhor. Separe o local onde está sentado como “terra santa”, para ter nele um encontro com Deus. Gostaria de estar com você neste momento, a seu lado, para poder me ajoelhar com você e ajudá‐lo com a oração a seguir. Se seu coração o instiga a atender ao apelo do céu, por favor, ajoelhe‐se neste momento, com este livro nas mãos e faça esta oração: “Querido Pai Celestial, Ajoelho‐me, humilde, diante do teu trono. Chego à tua presença por minha própria vontade e desejo estar aqui contigo. Tu és a pessoa mais amorosa e cheia de graça do universo. Tua bondade para comigo não tem limites nem fronteiras. Teu amor guia tudo o que fazes por mim. Tuas misericórdias renovam‐se a cada manhã, grande é a tua fidelidade! Teu amor enviou Jesus Cristo para morrer em meu lugar, proporcionando‐me a vida eterna. Agora, respondo a teu amor, entregando‐me a ti neste momento solene. Perdoa‐me por demorar tanto para chegar a este ponto de consagração total. Assim, elevo‐me até teu altar, apresentando‐me com sacrifício vivo. Eu me consagro e me dedico a ti pelo resto de minha vida. Obrigado por aceitar esta apresentação sincera! Em nome de Jesus, amém. Será que este momento transforma a vida dos cristãos? Quer você creia ou não, nesta semana mesmo recebi uma carta de um homem, relatando o que lhe acontecera ao assistir a uma série de vídeo que produzi há um ano sobre esse assunto. Como meu coração se alegrou ao ler suas palavras: “Quando você perguntou se eu tinha respondido ao Senhor dando minha vida totalmente a ele, morrendo para mim mesmo estando ainda vivo, senti um calafrio de antecipação. Tenho certeza de que o Espírito saltou dentro de mim diante daquele pensamento, pois eu não podia esperar para me oferecer como sacrifício vivo. Isso aconteceu às 7 horas da manhã, 18 de março, no chão de minha sala de estar. Louvados seja o Senhor! Agora pertenço totalmente a ele!” Caro leitor, o chão aguarda seu joelho e seu Pai espera sua vida. Experimente a incrível alegria de dar sua vida àquele que deu a vida por você. 31


4 QUERO SER MAIS PARECIDO COM CRISTO “A grande obra da natureza é transformar a luz do sol em vida. Assim, o propósito supremo da vida cristã é transformar a luz da verdade nos frutos do viver santo” Adoniram J. Gordon Todas as noites, depois do jantar, nos reuníamos em torno da fogueira, sob o maravilhoso céu do deserto. Naqueles dias, um raro contentamento enchia nossa vidas, quando todos nós nos tornávamos novamente “garotos” acampando à margem de rios distantes, pescando de manhã à noite, em busca dos incomparáveis salmões. Nosso guia conhecia todos os recantos daquelas águas revoltas e de alguma forma sabiam onde ficavam os “bolsões” secretos, apenas aguardando nossas iscas e ansiedades. Num grupo de vinte amigos passamos uma semana de pesca inesquecível, entretanto, os momentos compartilhados ao redor da fogueira tornaram‐se a lembrança mais valiosa. As noites eram o ponto alto. A Bíblia era aberta, e nossos corações se derretiam sob o mover do Espírito Santo. Praticamente ninguém ia se deitar sem ser tocado e transformado. Na noite de quinta‐feira, eu sabia que chegara a hora de tratar de uma das áreas mais difíceis para aqueles homens, numa abordagem aberta, clara e direta. Ao falar sobre a santidade pessoal, perguntei se algum dos participantes já tinha experimentado uma verdadeira revolução numa área da vida – em que costumavam cair em pecado e que agora não mais pecavam. Houve silêncio, até que alguém atirou uma lenha na fogueira, fazendo com que as fagulhas subissem como foguete. Então, um dos homens sentados em círculo disse: ‐ Acho que posso começar. Eu amava o dinheiro. Quer dizer amava mesmo. O dinheiro governava minha vida e quase destruiu minha família. Eu era obcecado por dinheiro. Deus começou a mostrar‐me que o dinheiro era meu deus, e eu o adorava acima de tudo. Por cerca de seis meses, o Senhor foi me encurralando, até que finalmente me quebrantei e confessei minha cobiça. Agora não amo mais o dinheiro; de fato, consegui quebrar de tal maneira o meu amor por ele que agora tenho prazer em compartilhar com outros! Posso dizer honestamente que sou uma pessoa diferente – não amo mais o dinheiro. Isso é ótimo! Muitas cabeças assentiram ao redor do círculo. Eu conhecia bem aquele homem – os dois lados de sua vitória. Realmente ele era uma pessoa diferente, e sua família não podia estar mais feliz! Entretanto, quando olhei para o círculo, percebi pelo menos seis homens olhando para o fogo, enquanto ele falava. Por quê? Eu os conhecia bem e sabia que nenhum deles poderia dizer que estava livre do amor pelo dinheiro. Na semana anterior, tive algumas conversas muito sérias com um deles sobre esse problema. Então, um homem que muitos do grupo haviam procurado para conversar naquela semana pediu a palavra. ‐ Isto pode surpreender vocês, mas durante anos fui escravo de vários tipos de pornografia. Creio que não seria exagero dizer que era viciado. Nunca cheguei a ser infiel à minha esposa, nem me envolvi fisicamente com outras mulheres, mas vivia numa escravidão sexual e infidelidade por meio de revistas, vídeos filmes pornôs. Vocês sabem o que quero dizer. Algumas cabeças assentiram, embora muitos parecessem prender a respiração. Tal honestidade e transparência atraem a atenção, não é? ‐ Há uns dez anos, o Senhor e eu tratamos dessa questão. Eu desejava intensamente me livrar daquela escravidão. Não conseguia orar, não conseguia ler a Bíblia por me sentir culpado. Sempre que participava dos trabalhos na igreja sentia‐me um grande hipócrita. Comecei confessando meu pecado ao Senhor e decidi que não poderia ter vitória sozinho. Por isso, contei tudo, tudo mesmo, a dois dos meus melhores amigos, a os quais passei a prestar contas! Calou‐se e encarou seriamente cada um daqueles homens, um por um do círculo, e depois continuou: ‐ Hoje estou livre daquela perversão sexual! Não pequei nesta área por quase dez anos! Vocês falam sobre liberdade em Cristo! Podem imaginar o que aqueles pecados causavam a meu casamento e à minha vida sexual com minha esposa? Ele começou a rir, um riso que vinha do fundo de seu ser: ‐ Sou livre! Se você está escravizado, também pode se libertar! Fale comigo mais tarde ou me acompanhe em meu barco amanhã. Eu o ajudarei a dar o primeiro passo! Depois de alguns comentários adicionais, finalmente voltei ao ensinamento bíblico sobre santidade pessoal:

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‐ Irmãos, vida cristã é exatamente isso! É esta alegria de olhar para trás e poder dizer com honestidade: “Eu cometia este pecado, mas agora não o faço mais. Caminho em santidade nesta área”. Se você tem crescido em santidade em sua vida, deve ter no mínimo uma área principal em que o pecado não o domina mais. É isso que a obra de Cristo proporciona a todos nós – a promessa da santidade progressiva! No ano que vem, quando nos encontrarmos novamente, talvez haverá mais duas ou três áreas onde você progrediu até a vitória completa. Quantos de vocês podem citar pelo menos uma área principal que costumava ser impura, mas que hoje é santa? Cerca de 12 homens, dos 20 ali reunidos, levantaram a mão, enquanto o restante olhava para o fogo com um interesse intenso demais... ESTÁGIO TRÊS: “SANTIDADE PROGRESSIVA” Santidade progressiva significa que o cristão cresce de um nível de santidade para outro mais elevado, diminuindo seu nível de impureza. Santidade progressiva significa que você pode e deve seguir e subir adiante em sua vida espiritual – que você pode ser cada vez mais semelhante a Cristo. A santidade progressiva começa no momento da conversão e termina com a morte física. Nessa janela do tempo, esteja ela aberta por um curto período, esteja por mais de 100 anos, a santidade progressiva deve ser um dos maiores objetivos e paixões de sua vida. O que você semeia determinará sua colheita, seja santidade, seja impureza. No momento da conversão, todo cristão é santo aos olhos do Senhor (lembre‐se da santidade posicional: o Senhor o separa para si, em sua própria mente), mas dali em diante o quanto nos tornamos “santos porque ele é santo” dependerá de nossa resposta à sua obra em nossa vida. A Bíblia revela claramente que o Senhor deseja que todos nós nos tornemos santos como ele. A falta de santidade em nossa vida não é falha dele, mas nossa. Deus trabalha continuamente para nos conformar ao seu Filho, e qualquer falta de conformidade se deve à nossa resistência, não à pouca participação de Deus. Portanto, a impureza na vida de todo cristão deve‐se à resistência e à rebeldia contra o chamado e a obra do Senhor. Além de nos chamar a ser santos na essência de quem somos a santidade progressiva também nos chama a ser santos em tudo o que pensamos, sentimos e fazemos. “Segundo é santo aquele que vos chamou, tornai‐ vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (1 Pe 1:15). Um caráter santo (“sede santos”) sempre produzirá uma conduta santa (“tornai‐vos santos em todo o vosso procedimento”). Esses dois versículos (15 e 16) são imperativos, por isso os dois lados da santidade progressiva não ocorrem automaticamente, precisam ser obedecidos para que se realizem. Portanto, na conversão, meu caráter não é totalmente semelhante a Cristo, tampouco minha conduta. Santidade progressiva significa que continuo tornando‐me mais e mais semelhante a Cristo em meu caráter e conduta. O nível em que me torno semelhante a Cristo nesses dois aspectos é o mesmo em que serei santo aos olhos de Deus. A santidade progressiva é vista e notada de forma objetiva pelo próprio indivíduo e pelos outros. Quando sua conduta muda, você perceberá que não se comporta mais com de costume – e nem deve! Outras pessoas também notarão e expressarão admiração por seu crescimento. Quando seu caráter muda, seus motivos e suas reações normais também mudam. Em vez de responder com ira, você responderá com paciência e autocontrole. Em vez de sucumbir ao egoísmo, você colocará cada vez mais ou outros em primeiro lugar, cuidando dos interesses do próximo antes dos seus. Em vez de fazer fofocas e criticar, você guardará sua língua e só falará aquilo que edifica e constrói. Em vez de escravo da imoralidade, você praticará a fidelidade sexual e a lealdade. Essas mudanças refletem a transição das “obras da carne” para o “fruto do Espírito”. À medida que você cresce em santidade, sua vida será transformada bem diante de seus olhos, à imagem de Cristo. Paulo reconhecia a santidade progressiva quando escreveu essas palavras: “... purifiquemo‐nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2 Co 7:1b) Note que Paulo revela que esse tipo de santidade requer que “nos purifiquemos” – a purificação é absolutamente essencial! Entretanto, note também que o apóstolo revela que a verdadeira santidade não é um processo já terminado, mas que exige constante “aperfeiçoamento”. A palavra grega traduzida como “aperfeiçoando” significa levar a um final, terminar, completar. A santidade nasceu no coração da conversão, e Paulo exorta os cristãos a se esforçarem para completá‐la em todos os seus aspectos.

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Além de a palavra e si denotar um processo contínuo, Paulo sob a inspiração de Deus, coloca “aperfeiçoar” no tempo presente (no grego), o que geralmente dá mais a idéia de uma ação contínua do que intermitente ou já finalizada. Portanto, esse versículo mostra claramente que o terceiro estágio da santidade deve ser progressivo e contínuo, durante toda a nossa vida cristã. Você é santo, está se tornando mais santo e finalmente depois da morte, se tornará totalmente santo como Cristo. DESFAZENDO AS CAIXAS TEOLÓGICAS Enquanto escrevia essas palavras em meu fiel laptop, na casa de um amigo no Colorado, fiz uma pausa e orei por você, para que o Espírito Santo abra mais e mais seus olhos para as verdades bíblicas sobre santidade pessoal. A verdade nos liberta. A verdade nos liberta, e a falta da verdade nos mantém presos. Quanto mais você for capaz de entender as verdades sobre a santidade, mais liberdade você experimentará. O assunto da santidade está entre os mais mal‐interpretados de toda a Bíblia. Por causa disso, muitos cristãos são incrivelmente escravizados e vivem em constantes derrotas. Veja o resultado da confusão que um homem fez sobre o que a Bíblia ensina sobre santidade. Tarde da noite, depois de uma intensa e cansativa reunião no Meio‐Oeste, saí do local da conferência, encontrando o ar fresco da noite, ansiando por chegar logo ao hotel para uma noite de sono mais do que necessária. Quando terminava de descer as escadas, antes de virar à esquerda na calçada que me levaria ao estacionamento, avistei um homem na noite clara. Sua cabeça baixa e ombros encurvados denotavam tanto desânimo que meu coração se compadeceu dele, mesmo antes de saber quem era. Apressei o passo e notei que Le também me viu, diminuindo imediatamente o passo para chegarmos ao mesmo tempo à esquina. Então vi quem era: um conhecido estadista cristão de 72 anos, que tinha servido ao Senhor com tamanho sacrifício e exercera uma liderança tão nobre que conquistara o respeito de todos que o conheciam. Paramos e nos cumprimentamos, comentando rapidamente sobre a conferência em que estivéramos envolvidos durante todo o dia. Quando ele falou, senti que o Senhor fizera nossos caminhos se cruzarem com um propósito. Fitei‐o direta porém gentilmente e perguntei: ‐ Meu amigo, sinto que o Senhor pode ter nos unido aqui nesta esquina escura por uma razão importante. Posso ser‐lhe útil de alguma maneira? Quer abrir seu coração comigo? Ele suspirou pesadamente mas com alívio, como se o Senhor também o tivesse alertado sobre aquele encontro inesperado. Depois de alguns momentos de hesitação, compartilhou comigo seu triste fardo. Fazia poucas horas, durante o jantar, uma jovem havia se inclinado na frente dele para apanhar um garfo que caíra no chão. A blusa da jovem era bem decotada. Meu respeitável amigo confessou que olhou deliberadamente para a jovem, alimentando pensamentos de cobiça. ‐ Bruce, como pude fazer aquilo? Pequei, cobiçando aquela jovem! Isso prova que não sou um cristão verdadeiro. Infelizmente já fiz isso antes, há três anos. Sou um terrível pecador! Já tinha consagrado minha vida ao Senhor. Como pude fazer isso? Começou a menear a cabeça. ‐ Agora sei que jamais serei salvo! Como meu coração se partiu, por causa daquele irmão! Se havia um verdadeiro cristão, nascido de novo, que andava em santidade e servia a Deus com coragem e fidelidade, era aquele homem. Mesmo assim, ali estava ele, convencido de que por causa de seu pecado não podia ser salvo. O trauma emocional e o medo interior assolavam um líder cristão maduro – tudo por causa da profunda confusão em torno da salvação e da santificação. Conversamos por cerca de trinta minutos, e o Senhor abriu seus olhos para a diferença entre a “salvação da alma” e o “aperfeiçoamento da santidade”. Ele orou ali mesmo, confessou seu pecado e a deslealdade emocional para com a esposa, e pela primeira vez na vida experimentou a alegria de saber que de fato já tinha a salvação eterna. Ele tinha pecado? Sim. Seu pecado provava que não era nascido de novo? É claro que não! Mas provava que tinha pecado e que aquela área de sua vida precisava crescer consideravelmente em santidade. Aquele pecado provava que ele não era realmente consagrado a Deus? Claro que não! Aquele homem daria tudo que tinha por Cristo a qualquer momento e, se lhe fosse solicitado, daria sua própria vida para Cristo. Como, então, alguém poderá afirmar que seu pecado provava que não era consagrado? Ele era! Seu pecado provava

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que, embora seu coração fosse totalmente devotados a Deus, seus olhos ainda não eram devotados em todas as situações, nem estava praticando o princípio “levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. Você percebe a rapidez com que podemos nos confundir? Em vez esclarecê‐los, queremos combinar os três estágios da santidade pessoal: Santidade Posicional (primeiro estágio) não é o mesmo que Santidade de Apresentação (segundo estágio), que não é o mesmo que Santidade Progressiva (terceiro estágio). A salvação de nossa alma não é o mesmo que a consagração de nossa vida, que não é o mesmo que a santidade de nosso caráter e conduta. Deus me separando para si em seu coração não é o mesmo que eu me separando para ele em meu coração, que não é o mesmo que eu separando meu coração e hábitos para ele, em meu estilo de vida. Crer em Jesus Cristo como meu Salvador não é o mesmo que apresentar meu corpo a ele em sacrifício vivo, que não é o mesmo que aperfeiçoar a santidade em meu caráter e conduta. Quanto mais você entende os três tipos de santidade, mais fácil será para que o conceito faça sentido em sua vida espiritual. Como, então, você responderia a essas perguntas? 1. Você pode ser “santo e ainda ter atitudes impuras? 2. Você pode ser realmente nascido de novo e não ser consagrado ao Senhor? 3. Você pode ser consagrado ao Senhor e mesmo assim ter áreas de sua vida caracterizadas pelas impurezas? 4. Você pode ter áreas de seu caráter e conduta que são realmente “santas” aos olhos de Deus e dos homens e ao mesmo tempo ter outras áreas “impuras”, aos olhos de Deus e dos homens? 5. Você pode conhecer Jesus Cristo como Salvador e viver anos sem crescer o suficiente – e mais tarde ter uma crise de consagração, em que realmente se consagra ao Senhor, para servi‐lo em obediência? 6. Você pode ser um cristão nascido de novo, tendo se dedicado a Deus quando tinha 14 anos, num retiro da igreja, freqüentar a igreja ocasionalmente quando adulto, cantar no coral, raramente fazer devocional, raramente orar, exceto nas refeições e nos cultos, ler a Bíblia duas vezes por semana, assistir à TV mais de 20 horas por semana, inclusive programas impróprios, tomar bebidas alcoólicas quando está longe das vistas dos conhecidos, não crescer realmente em santidade, participar de uma conferência de avivamento em sua igreja e se arrepender com sinceridade de sua falta de santidade em seu caráter e conduta porque não mudou nada em décadas, morrer a caminho de casa e ainda ir para o céu? COMO AS PESSOAS PENSAM INCORRETAMENTE SOBRE SANTIDADE PESSOAL? A santidade pessoal é uma das verdades mais simples e desafiadoras da Bíblia. Tenho observado que muitos cristãos perdem o equilíbrio nessa área pelo menos duas vezes no curso da vida cristã, seja no que pensam sobre santidade, seja como tentam se comportar para se tornarem mais santos. Antes de entrar no âmago deste capítulo, pode ser útil apresentar um breve panorama das interpretações errôneas mais comuns. À medida que você lê, veja se pode identificar‐se com alguma delas (no passado ou no presente) ou se conhece alguém que está preso nesses becos sem saída de santidade. Infelizmente o espaço aqui não permite respostas completas a cada erro, mas apenas algumas observações gerais. Equívoco nº 1: “Se sou de fato nascido de novo, automaticamente viverei uma vida santa” Essa idéia prende as pessoas! O pensamento fundamental é de que salvação é o mesmo que santidade, geralmente em vista da interpretação errônea de 2 Coríntios 5:17: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. Como você verá na próxima seção, em que os estágios da santidade são contrastados, a salvação garante‐nos a vida eterna e o dom do Espírito Santo, mas não nos garante uma perfeição isenta de pecados. Pelo contrário, o Novo testamento está repleto de cartas escritas para cristãos que infelizmente estavam vivendo como não‐cristãos. Repetidamente o apóstolo Paulo confronta tal comportamento e diz para mudarem – obedecendo a Cristo e não apenas crendo nele. Se você deseja uma prova ampla de que homens e mulheres nascidos de novo infelizmente ainda pecam, leia 1 Coríntios. A verdade? Se você é de fato nascido de novo, recebe a salvação eterna, mas não se torna instantaneamente isento de pecados. Se ainda está se perguntando se salvação significa isenção de pecado, leia 2 Timóteo 2:19b, que prova sem dúvida que o verdadeiro cristão ainda peca: “Aparte‐se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor”. 35


Equívoco nº 2: “Desde que todos nós somos pecadores e pecamos o tempo todo, ninguém pode ser realmente santo” Este cristão decidiu que se a santidade é impossível, qual o sentido de iniciar o processo? Sempre que um cristão aceita esse pensamento, inevitavelmente pensa que todos pecam o tempo todo. Isso é verdade? Você peca o tempo todo? Lembre do texto de 2 Timóteo 2:19b, que acabou de ler – você acha que todo cristão possui uma quantidade ilimitada de pecados dos quais deve “se apartar” para ser santo? Se você começasse a obedecer a essa passagem e muitas outras semelhantes, apartando‐se do pecado e purificando‐se deles um por um, acha que nunca terminaria? Este erro é o oposto ao primeiro. O primeiro pensa que automaticamente nos tornamos santos na conversão; este acha que ninguém consegue chegar a um nível em que não se peca mais o tempo todo. Pense em nosso versículo central: “Segundo é santo aquele que vos chamou, tornai‐vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento (1 Pe 1:15). Você percebe as palavras “em todo o vosso procedimento”? A vontade de Deus é que você e eu tenhamos vidas santas em todos os nossos caminhos. Isso significa que nunca iremos pecar? É claro que não – embora não tenhamos de pecar, ainda estamos sujeitos ao pecado. Você deve ter períodos em sua vida nos quais pode dizer honestamente, diante de Deus e dos homens, que é santo em todo o seu procedimento? Evidentemente este é o ponto principal! Santidade progressiva significa que, pela graça de Deus, existem períodos cada vez mais longos entre seus pecados. Ontem, ao ler a biografia do famoso pregador e escritor Charles Haddon Spurgeon, recebi grande encorajamento por meio de suas palavras: “Eu não viveria deliberadamente violando nem mesmo a menor das leis de Deus...” O céu deve concordar que este ano você pecou menos do que no ano passado meu amigo! Equívoco nº 3: “Finalmente serei santo, quando passar por aquela crise da ‘experiência de santidade’ Existem muitos nomes diferentes para essa “experiência de crise”, dependendo da tradição à qual você pertence. Para muitos, essa crise na verdade é o ato de consagração da vida a Cristo, que já discutimos no segundo estágio da santidade. Embora a apresentação ao Senhor influencie profundamente a vida, não elimina imediatamente toda a luta contra o pecado. Mesmo o apóstolo Pedro, incrivelmente honesto e consagrado a Jesus no cenáculo, posteriormente o traiu. Consagração não proporciona santidade instantânea. Outros relacionam o “batismo do Espírito” ou o “enchimento do Espírito” com a erradicação de todo pecado. Embora ninguém deva negar que o Espírito Santo ocupe o lugar central em qualquer discussão sobre santidade, será que um “batismo” ou “enchimento” poderoso e emocional corrige todos os problemas futuros da vida santa? Novamente a vida dos santos do Novo Testamento apresenta uma resposta rápida e óbvia. De todas as igrejas neotestamentárias, a igreja de Corinto inegavelmente era a mais abundante de indivíduos “batizados e cheios de dons”. Mesmo assim, em todo o Novo Testamento, aquele grupo demonstra o nível mais baixo de santidade. A verdade? Embora a genuína “experiência de crise” na consagração ou relacionada ao Espírito Santo afete radicalmente o compromisso e a santidade do indivíduo, não nos leva à santidade duradoura. Talvez por essa razão o apóstolo Paulo nos instrui a continuar nos enchendo do Espírito, para não satisfazermos à concupiscência da carne. COMO DEVO ENCARAR MINHA SANTIDADE HOJE? Antes de responder a essa pergunta profunda e estratégica, quero lhe fazer uma pergunta preliminar. Quão santo você se considera, na fase atual de sua vida? Seja o mais honesto possível e selecione a resposta que, a seu ver, melhor descreve sua santidade pessoal: • “Nem fale... Não tenho feito muito progresso na santidade.” • “Acho que estou na média – como a maioria dos cristãos que conheço.” • Tenho dado mais importância à santidade e estou fazendo mudanças em minha vida.” • “Estou longe de poder dizer que sou santo, mas hoje meu caráter e conduta definitivamente estão mais semelhantes a Jesus do que há dois anos.” • “A santidade pessoal é extremamente importante para mim – estou buscando ativamente o Senhor e purificando todas as áreas da minha vida, que agora são santas aos olhos de Deus.”

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Santidade é um daqueles grandes conceitos, que para a maioria das pessoas parece tão assustador, tão complicado que o deixam para sempre dentro da famosa “Caixa da Procrastinação”, escondida em nosso interior. Descobri que para fazer progresso em qualquer área da vida duas coisas são necessárias: Primeira, a vida deve tornar‐se simples o suficiente para que você a entenda facilmente e possa explicá‐la a outros depois de ouvi‐la apenas uma vez – sem anotações e sem ajuda do professor. Segunda, a área deve tornar‐se óbvia o bastante para que você perceba instintivamente como ela se aplica à sua vida e saiba o que fazer para experimentar progresso significativo – sem que ninguém tenha de lhe dizer o que fazer. Este capítulo busca alcançar esses dois objetivos na área da santidade. Depois de lê‐lo, principalmente as próximas páginas, você compreenderá tão bem “o quadro geral” da santidade que poderá explicá‐lo a seu vizinho de 10 anos de idade. E, quando você perceber onde se encontra no processo de santidade, saberá exatamente o que fazer (sem ninguém ter de lhe dizer) para fazer avanços em sua vida. Minha esperança é de que seu desejo seja tão intenso que você consiga. Infelizmente a santidade parece cercada e escurecida por intriga e mistério. Parece algo tão grande e complicado que muitos cristãos desistem de alcançá‐la, frustrados, depois de pouquíssimos esforços. Quando você pergunta às pessoas o que pretendem fazer para ser mais santas, a reposta mais comum é um olhar vago. Como você, eu creio que não é plano de Deus que nos tornemos místicos ou confusos com relação à santidade pessoal, ou frustrados sobre o que deveríamos fazer como indivíduos que desejam uma vida santa. Assim, vejamos se podemos tornar o “conceitual” mais “concreto” e o “profundo” mais “prático”. Uma das melhores maneiras de tornar compreensível um conceito difícil é a visualização. Com você pode visualizar sua santidade na prática, de uma forma que represente o ensino bíblico sobre santidade? USE SUA TABELA DE SANTIDADE E OS “MARCADORES MÁGICOS” Resuma toda sua vida na “Tabela de Santidade” – um grande pedaço de papel – desenhando um quadrado dividido em 100 pequenas caixas, 10 caixas na vertical e 10 na horizontal. Cada caixa é numerada e representa um aspecto de seu caráter (“Sede santos, porque eu sou santo”) ou conduta (“Tornai‐vos santos em todo o vosso procedimento”). Por exemplo o nº 14 pode ser a “caixa da verdade”, o 23 a caixa da fofoca, o nº 54 pode ser a “caixa da bondade”, o nº 72 poder ser a “oração”, o nº 83 pode ser “serviço ao Senhor” e o nº 92, a “raiva”. Portanto, tudo o que compõe “você” deve ser representado em uma das caixas. Então, faça um pequeno auto‐exame honesto. Digamos que o Senhor tenha lhe dado o poder de afastar‐se um pouco de sua vida e perceber imediatamente quão santo ou profano você é em cada uma dessas caixas. Pegue os nº 14 (sua verdade) e 92 (raiva). Imediatamente o Senhor traz diante de seus olhos todas as vezes, nos últimos 12 meses, que você falou a verdade (comportamento santo) ou mentiu (comportamento profano). Para simplificar, digamos que houve apenas dez situações em que a verdade foi necessária em sua vida no ano passado (de fato, foram milhares de vezes certo?). Você marca qual foi sua reação a cada uma dessas dez situações, seja como santo, seja como profano. Aqui está o que descobriu sobre verdade e raiva: “Verdade” – Caixa 14 “Raiva” – Caixa 92 Situação 1: Profano Situação 1: Santo Situação 2: Santo Situação 2: Santo Situação 3: Santo Situação 3: Profano Situação 4: Santo Situação 4: Profano Situação 5: Profano Situação 5: Profano Situação 6: Santo Situação 6: Profano Situação 7: Santo Situação 7: Profano Situação 8: Santo Situação 8: Santo Situação 9: Santo Situação 9: Profano Situação 9: Santo Situação 9: Profano 80% santo (20% profano) 30% santo (70% profano) Portanto, você acabou de descobrir que, em relação à “verdade”, você foi 80% santo e 20% profano. Com relação à raiva, não teve tanto sucesso: 30% santo e 70% profano. Lembre‐se: o Senhor não opera de forma 37


generalizada. Ele mantém registros até das palavras que você profere! Como você poderia anotar suas descobertas na tabela? Digamos que você tenha uma caixa com 100 marcadores mágicos de tonalidades diferentes de cinza, que vão do preto ao branco, com todos os tons intermediários. Esses “marcadores da santidade”foram numerados de 1 a 100 com o nº maior representando o nível mais elevado de santidade. O preto representa apenas 1% de santidade (ou totalmente profano), enquanto o branco é o 100%, representando a santidade completa.Eis uma amostra dos 100 marcadores: Nº do Marcador Descrição Significado 1 Preto 1% santo 25 Cinza‐escuro 25% santo 50 Cinza‐médio 50% santo 75 Cinza‐claro 75% santo 100 Branco 100% santo

Cor

Agora pinte a “verdade” na caixa 14 com 80% de santidade e a “raiva”, na caixa 92, com 30% de santidade. Você imediatamente notará o quanto sua conduta está próxima do mandamento do Senhor para ser santo (branco total – 100%) nestas duas áreas de sua vida: Verdade Raiva Caixa 14 Caixa 92 80% santo 30% santo

O Senhor, então, abre os seus olhos para ver o que ele registrou em cada uma das 100 áreas de sua vida. Depois de cada revelação de sua santidade pessoal, você escolhe um dos 100 marcadores e pinta cada caixa com a tonalidade de cinza apropriada. Que revelação! Em algumas de suas caixas, você foi santo durante todo o ano: a caixa está branca. Por exemplo, você pintou a caixa de “roubo”, nº 17, com o marcador branco, pois não roubou nada e sempre respeitou a propriedade alheia. Em outras caixas, como “perseverança”, teve de usar o marcador 15, porque quando as coisas se tornaram difíceis, em vez de praticar o comportamento santo da paciência e da perseverança, você foi impaciente e desistiu. Por meio de cada caixa colorida, você vê com seus próprios olhos quão santo o Senhor o considera. A santidade deixa de ser aquele termo religioso complicado e torna‐se compreensível – de fato, você percebe que trata‐se apenas de outra forma de descrever quanto você é parecido com Cristo em cada área de sua vida. Quanto mais você olha para sua tabela de santidade, mais percebe que em algumas áreas foi muito mais santo do que esperava! Fica animado! Outras áreas, porém, são quase totalmente pretas – não é de admirar que se sentisse derrotado nelas. Você deseja ter um quadro mais amplo de sua própria vida, mas não sabe o que fazer. Curioso, pega a caixa de marcadores e nota algo escrito em letras pequenas, embaixo: “Se deseja saber como o Senhor o vê, afaste‐se uns dez passos de sua folha e olhe novamente”. Você coloca a folha sobre uma pilha de livros e começa a caminhar para trás, um passo de cada vez – e não pode crer no que vê! Quanto mais se afasta, menos consegue distinguir cada caixa e as cores de cada uma vão se mesclando. Oh! É assim que o Senhor me vê! Então fica se perguntando como poderia ter uma visão mais clara de sua própria vida. Fica ali pensando, até que a resposta se torna óbvia! Você traz a caixa de marcadores e compara as várias cores, até que escolhe um marcador que caracterize a cor de sua tabela de santidade. Ali está – você é o marcador 62! 1 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Você imagina ouvir uma voz do céu dizendo: “Você progrediu mais do que imagina no caminho da santidade pessoal! A meus olhos, você já percorreu 62% do caminho em direção à minha vontade para sua vida”. Agora você pode ver que está seguindo adiante, tornando‐se cada vez mais parecido com Cristo. Está começando a ser “santo em todo o seu procedimento”! Daqui a um ano, poderá ter dado mais passos em direção à imagem de Jesus Cristo! Faz sentido pra você? Muitos cristãos pensam que “santidade” é algo inatingível, mas nossa santidade não é nada mais, nada menos do que quanto somos puros nos vários aspectos de nosso caráter e conduta. Não é complicado. De fato, quando você olha assim, é imediatamente aprovado ou repreendido. Muitas áreas de

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sua vida são “santas” aos olhos de Deus porque você cresce em graça nelas, não comete mais os mesmos pecados e começa a viver como Cristo viveu nessas áreas. Alegre‐se por essas áreas! Por outro lado, muitas áreas estão paradas no meio do caminho, por causa de um comportamento inconsistente – às vezes santo, às vezes profano. Outras áreas são cinza ou totalmente pretas, refletindo os maiores fracassos ou derrotas. O pecado reina nelas, e elas precisam de uma forte obra da graça. Por último, a santidade não é apenas a ausência de impurezas, é? A santidade significa que numa área em particular de sua vida você se separou do pecado e se separou para Deus. Por exemplo, a santidade na caixa da “raiva” não significa que você nunca fica irado. Pelo contrário, significa que, quando seus direitos são violados, você responde com paciência, perdão e fala a verdade em amor. Quanto mais escura a caixa, maior o controle da carne/ego; quanto mais clara, maior o controle de Cristo/do Espírito. Sabe de uma coisa? Não há nenhuma experiência que transfira você instantaneamente do preto para o branco! Em vez disso, a Bíblia revela que é um processo de transformação no qual você é mudado de uma quantidade de santidade para outra maior. Outra palavra que a Bíblia utiliza para descrever a santidade é “glória”. Quanto maior a santidade, maior a glória. Leia com cuidado o comentário de Paulo em 2 Coríntios 3:18b: “...somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Veja, meu amigo, Jesus Cristo está no final da Escala de Santidade, sendo 100% santo. Ele é a “própria imagem” na qual todo cristão está sendo transformado – todo cristão está neste processo! Por isso, direcione seu coração para a santidade e busque o alvo de “aperfeiçoar a santidade no temor de Deus” (2 Co 7:1b) PARTE DOIS VITÓRIA SOBRE A TENTAÇÃO 5 COMO CRESCER EM SANTIDADE Conquistei um império, mas não fui capaz de conquistar a mim mesmo. Pedro, o Grande “Cinja os lombos”, o apóstolo Paulo diria. Em termos modernos, “arregace as mangas”, pois este capítulo é uma abordagem prática da questão mais importante: o que exatamente você deve fazer para crescer em santidade. Não abordaremos nenhuma teologia ou conceitos de filosofia neste capítulo: apenas comunicação direta, com base no senso comum, sobre santidade prática. A essa altura, espero que a santidade não esteja mais encoberta, em mistério ou cercada de confusão. Espero que agora ela tenha um poderoso “Quociente de Atração” em seu coração e que você esteja pronto para aprender os segredos práticos daqueles que não só estão ansiosos por santidade mas que sabem o que fazer para crescer nela! Tenha em mente o princípio fundamental de 2 Coríntios 7:2, que o Senhor chama você para “aperfeiçoar” (tornar completa) sua santidade pessoal. AS DUAS METADES DA SANTIDADE Quando você chega a um ponto na vida em que realmente deseja buscar a santidade pessoal, deve compreender os principais métodos para crescer em santidade. A santidade não ocorre naturalmente, não é? De fato, a Bíblia revela que a impureza ocorre naturalmente! Portanto, prepare‐se para perseguir a santidade. Dê passos decisivos na direção correta ou poderá acabar no lugar errado. No texto de 2 Timóteo 2:19b‐22, estão as duas metades da santidade. Leia esses versículos e descubra quais são elas: “Aparte‐se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor. Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra. Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.” Quatro verbos‐chave revelam as ações que o Senhor requer de todo aquele que faz parte do povo da “honra”, “santificado” e “preparado para toda boa obra”. Três descrevem a primeira metade e o quarto descreve a outra metade: 1. “Aparte‐se da injustiça” (ou seja, abandone o pecado). 39


2. “Purifique‐se” (abandone seus velhos caminhos profanos). 3. “Foge das paixões da mocidade” (abandone seus desejos egoístas). 4. “Segue a justiça” (persiga a santidade). Escolhemos abandonar os velhos caminhos e buscar um novo. Volte por um momento à tabela da santidade para visualizar essas duas metades de outra forma. Você lembra quando avaliou sua “verdade” (caixa 14) e “raiva” (caixa 92) e notou quantas vezes você agiu de maneira santa ou profana em cada uma delas? Aquelas duas ações refletem as duas metades da santidade. A primeira metade concentra‐se em abandonar a iniqüidade, purificar‐se do pecado e fugir das paixões. A segunda metade concentra‐se na busca da justiça. Imagine‐se sobre a linha de sua vida. Olhe para trás, para aquelas áreas profanas aos olhos do Senhor – fuja, afaste‐se e purifique‐se! Esta é a primeira metade da santidade. Então, olhe para a frente, para Jesus Cristo em pé no final de sua vida, desafiando você a se tornar exatamente como ele, em seu caráter e conduta. Agora busque a justiça. Esta é a outra metade. Hebreus 12:1,2a é outra passagem que coloca diante de nós as duas metades da santidade: “Portanto, também nós, visto que temos a rodear‐nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando‐nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus...” De modo semelhante, Hebreus descreve a primeira metade da santidade como “desembaraçando‐nos...do pecado que tenazmente nos assedia” e a segunda metade como “corramos com perseverança...olhando firmemente para Jesus”. É interessante notar que em ambas as passagens o escritor claramente pressupõe que seus leitores precisam purificar‐se do pecado presente, buscando a justiça e Jesus. Não pense – nem por um momento – que você é uma exceção nessas duas admoestações! Paulo descreveu as duas metades de formas diferentes em alguns de seus livros. Você leu sua descrição (purifique/siga) para o jovem pastor Timóteo. Agora veja como ele encoraja uma igreja local em Colossenses 3:8, 12b‐13ª: “Agora, porém, despojai‐vos, igualmente, de tudo isso: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. [...] Revesti‐vos... de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai‐vos uns aos outros, perdoai‐vos mutuamente...” Você nota a ordem? Primeiro, “despojai‐vos”, depois, “revesti‐vos”. Embora sejam atos separados um do outro, ambos são necessários para seu crescimento na santidade. Você e eu temos de continuar a “nos despojar” e “nos revestir” para crescermos na santidade. Jamais pense que você é exceção nesta instrução de fazer as duas coisas! A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA PURIFICAÇÃO DE TODO PECADO CONHECIDO Purificar‐se de todo pecado conhecido é a coisa mais difícil para o cristão. Se você é um cristão comum de hoje, provavelmente não se preocupa muito com os pecados que comete. Pecados pessoais não parecem estar no topo de nossa lista de “coisas a fazer” – a menos, é claro que você tenha decidido que é hora de levar a sério a busca da santidade. Então, não terá escolha! A base para todo crescimento na santidade pessoal é sempre a purificação do pecado. Por quê? Porque seu pecado não é nada mais, nada menos do que impureza. Portanto, você deve iniciar a busca da santidade tratando daquelas áreas de sua vida que permitiu ficarem fora da vontade de Deus. Até este momento, você pode estar racionalizando ou na defensiva com relação ao pecado em sua vida. Quando você busca a santidade, não tenta mais justificar o pecado – quer apenas se purificar dele e tirá‐lo de sua vida. Quanto maior o seu desejo por santidade, mais disposto estará para pagar qualquer preço pela plena purificação, para ter uma consciência limpa diante de Deus e dos homens. Sabe como a Bíblia chama tal movimento em direção da purificação pessoal? O início de um avivamento pessoal. Avivamento bíblico ocorre quando um cristão nascido de novo, que se desviou ou recuou em sua vida cristã, faz um acerto com Deus (as antigas gerações chamavam tal indivíduo de “desviado”). Você nunca experimentará nenhum nível de santidade se buscar a justiça sem primeiro pedir ao Senhor que o purifique do pecado. Por isso existem tantas pessoas que fazem devocional regularmente, mas não andam em santidade. Elas louvam ao Senhor, mas não o agradam por causa do pecado em suas vidas. O cristão deve purificar‐se e ter comunhão com Deus, sem nunca negar uma coisa em detrimento da outra. Pessoas que se

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concentram em se purificar dos pecados sem aprender a ter comunhão com Deus tornam‐se severas, julgadoras e legalistas. Note o equilíbrio estratégico da santidade positiva e negativa na passagem central das Escrituras sobre avivamento (santidade corporativa) em 2 Crônicas 7:14. Muitos cristãos lêem este versículo assim: “Se o meu povo que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, então eu ouvirei dos céus, os ajudarei a se converter dos seus maus caminhos, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” Em outras palavras, se nós, como povo de Deus, fizermos a nossa parte – “se humilhar, orar e buscar” –, O Senhor promete que responderá, fazendo a sua – “ouvir, nos ajudar a nos converter dos nossos maus caminhos, perdoar e sarar”. Para experimentarmos o abandono da maldade (de acordo com essa linha de raciocínio), temos de nos humilhar, orar e buscar ao Senhor. Então ele finalmente derramará sobre nós a ajuda de que sempre precisaremos para “nos convertermos dos nossos maus caminhos”! Você já tentou fazer isso, e nada aconteceu? Eu já passei por isso,. Muitas vezes. Depois de um tempo, fiquei frustrado, desanimado, deprimido finalmente desisti de tudo, em total desespero. A santidade pessoal e avivamento simplesmente não funcionaram. Não importava o quanto eu me esforçava para fazer minha parte, parecia que Deus não fazia a dele. Eu sabia que ele me ouvia. Entretanto, com certeza não me dava o que eu precisava para limpar minha vida. Eu ficava do mesmo jeito, preso nas cadeias do pecado pessoal. Um dia, porém, li novamente o mesmo texto – e senti um choque em minha vida! Baseado em minha formação religiosa e nos ensinamentos que recebi sobre avivamento e santidade, eu tinha meus preconceitos sobre como a santidade funciona e lia o texto de forma totalmente errada. Como você fez, quando leu! Veja como este versículo deve ser lido: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” Você percebe? “Converter‐se dos maus caminhos” ocorre antes do avivamento ou da santidade, não depois! A porta de entrada da santidade pessoal sempre é a purificação do pecado. A Bíblia ensina que o próprio indivíduo é responsável por abandonar os maus caminhos. O Senhor não é o responsável por isso – é uma escolha que eu devo fazer, em resposta a seu mandamento. Nós nos chegamos a Deus, pedimos perdão e ele nos purifica. Não espere mais – converta‐se agora! Uma das maiores mentiras do inimigo é que não sou capaz de me converter de meus maus caminhos agora mesmo. Até que Deus me ajude a realmente “querer” ou “poder”, simplesmente não consigo – é difícil demais! (desde que orei e pedi a Deus que me ajudasse e ele não respondeu, então, por alguma razão não é o momento de eu me purificar!) A VERDADE ALARMANTE SOBRE A QUANTIDADE DE PECADOS NA VIDA DOS CRISTÃOS DE HOJE No início deste livro, compartilhei que minha experiência provou sem sombra de dúvida que a maioria esmagadora dos cristãos não está buscando ativamente a santidade pessoal. Em vez disso, apenas uma pequena minoria é séria em relação a “tornar‐se santa em todo o seu procedimento”. Pense nos cristãos que você conhece. Quantos deles estão buscando a santidade no caráter e no comportamento? Nos últimos seis anos, tive o privilégio de servir num grande movimento que envia missionários por um ano à Rússia. Em sua maioria. Esses missionários eram a “nata” dos leigos das melhores igrejas. Sentiram o chamado divino em suas vidas e deixaram em sacrifício, tudo para trás, a fim de servir ao Senhor. A liderança da missão me convidou para ministrar a cada grupo, antes de ser enviado à Rússia. Assim, durante 12 conferências de treinamento, ministrei diretamente àqueles homens e mulheres maravilhosos. A cada sessão de treinamento , eu liderava os aspirantes a missionários (com idade média entre 35 e 45 anos), que já eram cristãos havia muitos anos (a maioria fazia 25 ou 30 anos), a um período de purificação de pecados. Depois de ensinar os princípios bíblicos da purificação, pedia que orassem e pedissem a Deus que revelasse todos os pecados não confessados que o entristeciam e jaziam entre o Senhor e eles. Eles escreviam tudo o que o Senhor mostrava naqueles momentos de convicção – relacionamentos rompidos, imoralidade, mentira, rebeldia à autoridade, ou qualquer outro pecado. Pediam que levantassem à mão, se o Senhor tivesse mostrado pelo menos três ou quatro coisas que queria que purificassem. Você sabe quantos daqueles irmãos dedicados levantaram a mão? Mais de 95%. Muitos tinham mais de um dezena de pecados específicos marcados no papel. 41


Então eu os desafiava a fazer o que fosse necessário para ter uma consciência purificada antes de serem oficialmente comissionados, dentro de três dias. Quando a lista estivesse completa, deveriam escrever a palavra “concluída” nela – assim outros podiam encorajar sua obediência – e ao notarem que algum membro do grupo ainda não tinha terminado, deveriam orar por ele e animá‐lo. Depois de realizar esse processo cinco ou seis vezes, através dos anos, com centenas de adultos, finalmente fiz uma pergunta para determinado grupo depois que todos se tinham purificado completamente de todos os pecados conhecidos. “Quantos de vocês diriam que esta é a primeira vez em toda a sua vida que experimentam uma purificação completa diante do Senhor, sem deixar nenhum pecado conhecido de fora?” Mais de 70% daqueles cristãos comprometidos levantaram as mãos. Vamos assimilar essa informação por um momento. Você acha que estou exagerando quando digo que a vasta maioria dos cristãos não anda em santidade? Cerca de 90% de toda a “nata” confessou muitos pecados conhecidos; 70% dos missionários prontos para ir ao campo disseram que era a primeira vez em toda a sua vida que estavam sendo purificados. A menos que eu não esteja me fazendo compreender, se um cristão reconhece que há três grandes pecados entre ele e Deus, você diria que ele está andando em santidade? Em todos os lugares onde pedi à audiência que fizesse uma lista dos pecados pessoais, para mais de 70% pelo menos de três a cinco pecados vêm imediatamente à tona. Quantos pecados há em sua lista neste momento? Lembre‐se de que o “Quociente de Atração” mencionado na Introdução era um teste fácil de como você se sente com relação ao conceito de “santidade” e tornar‐se uma pessoa “santa”. Aplique o que aprendeu anteriormente e descubra seu “Quociente de Atração” em relação a como se sente quanto ao pecado. Embora talvez não seja algo confortável, será extremamente revelador. Obviamente seus sentimentos honestos em relação ao pecado influenciam profundamente sua escolha de pecar ou não. Escolha o nível que expressa melhor seu posicionamento atual na vida: 1. Eu busco deliberadamente o pecado 2. Não penso muito nisso, o pecado apenas acontece 3. Na maioria das vezes, tento evitar o pecado 4. Sinto‐me mal quando peco 5. Fico furioso quando cometo um pecado 6. Fico profundamente triste quando peco 7. Odeio e abomino o pecado Pense em como a Bíblia e Deus “sentem‐se” com relação ao pecado. Se não consegue, comece pedindo a Deus que mude sua mente e molde suas emoções, para combinar com a resposta do coração dele a seu pecado. AVALIE ONDE VOCÊ ESTÁ, NA QUESTÃO DA PURIFICAÇÃO DO PECADO Depois de ajudar muitos cristãos na purificação dos pecados, tenho observado cinco etapas distintas no progresso do cristão na santidade por meio da purificação do pecado. À medida que você lê, identifique qual delas descreve melhor onde você está e o que precisa acontecer a seguir. 1. Rejeição da purificação por causa da dureza do coração Durante esta fase da vida cristã, o cristão endurece seu coração contra o Senhor, por causa do desejo de continuar no pecado. O cristão não tem uma vida devocional, não se sente próximo do Senhor e está preso a pelo menos um pecado principal, que continua a escravizá‐lo. 2. Purificação ocasional por causa de influências externas Nesta fase da vida cristã, o cristão responde à obra de convicção do Espírito Santo em sua vida, mas sem um propósito duradouro. Experiências dolorosas, pregações poderosas ou outros fatores tocam seu coração, e ele responde com genuíno arrependimento, mas não permite nenhuma mudança duradoura. 3. Profunda purificação inicial ocasionada por um desejo intenso pelo Senhor Durante esta fase, o cristão cresce espiritualmente, tem uma vida devocional regular, com nunca tivera antes, serve ao Senhor com maior compromisso, dá frutos e tem profunda comunhão com Cristo. Por causa do prazer, da alegria e realização inesperados nesse relacionamento com o Senhor Jesus, o cristão deseja mais e pede a Deus que lhe mostre o caminho para conhecê‐lo melhor. 42


O cristão está cumprindo, sem saber, as quatro condições para avivamento (humilhar‐se, orar, buscar ao Senhor e converter‐se dos pecados mais duradouros), por isso o Senhor responde num nível muito mais profundo, que ele jamais experimentou. Durante esta “profunda purificação inicial”, o cristão implorará ao Senhor que lhe mostre todo pecado que impeça um caminhar mais íntimo com ele. Não raro o cristão, nesse estágio, faz uma lista de várias páginas de pecados específicos que nunca foram tratados adequadamente. Pode ser a primeira vez em sua vida que o Senhor abre seus olhos para a dimensão e o alcance de seu pecado. Dependendo da resposta do indivíduo – seja buscando a purificação, seja se escondendo nas trevas –, o Senhor o levará à sua primeira experiência de purificação plena. Trata‐se de uma experiência de grande humildade para o cristão. Uma compreensão mais profunda da graça e da humildade sempre acompanha o cristão que passa pelo terceiro estágio. 4. Repetidas purificações ocasionadas pelo desejo de santidade Depois da profunda purificação inicial, o cristão pensará que seu coração está totalmente limpo diante do Senhor. Num sentido, seu coração realmente foi purificado, mas na verdade o Senhor não lhe revelou a plena abrangência do pecado em sua vida. Deus sabe que se o cristão enxergasse todo o pecado acumulado nas semanas, meses, anos e à vezes até décadas, ficaria tão desolado que poderia até desistir de começar a limpar. Entretanto, quando o cristão maduro continua a buscá‐lo, o Senhor coloca em seu coração o desejo de ser cada vez mais à imagem de Cristo. Primeiro, o cristão pedirá ao Senhor que o trone mais e mais semelhante a Cristo. Segundo, o cristão pedirá ao Senhor que lhe permita servir mais a Cristo. Terceiro, o cristão pedirá ao Senhor um caminhar mais íntimo com Cristo. Como você já sabe, o Senhor requer a santidade para realizar cada um desses pedidos. Portanto, mais uma vez sem sabê‐lo, o cristão pede ao Senhor que opere profundamente em sua vida. O obstáculo para cada uma dessas três respostas está nos pecados profundamente entrincheirados na vida do cristão. Durante essa fase, o Senhor expõe níveis mais profundos de pecado ao indivíduo, de modo que possa purificar‐se. Como ensino na série Seven Stages of a Pilgrim’s Progress (Sete Estágios de um Peregrino), do ministério Através da Bíblia, a purificação vem do exterior para o interior e para o eterno. Primeiro, há a purificação da conduta, na qual pedimos ao Senhor que nos purifique daquilo que fazemos. Em segundo lugar vem a purificação do caráter, na qual nos purificamos daquilo que somos. Em terceiro vem a purificação do âmago, na qual nos purificamos dos motivos de nossas ações. O Senhor traz à tona um nível por vez, num período que varia de alguns meses a uma década, dependendo da resposta do indivíduo e da profundidade do pecado. Quanto mais profundamente o Senhor nos purifica, mais tempo leva. Além disso, quanto mais profunda a purificação, mais dolorosos e difíceis são os pecados com os quais temos de tratar. A santidade exige um preço elevadíssimo. Quando você encontra um indivíduo realmente santo, pode ter certeza de que a vida dele já passou por várias fornalhas de purificação. Se você já passou pela purificação da conduta, um bom número de pecados externos, conhecidos das outras pessoas, agora já não faz parte de sua vida. Se você já entrou na purificação do caráter, sua “essência” foi transformada, tornando‐se mais à imagem de cristo. Os outros notarão um semblante mais amável, gentil, compassivo, terno, resignado, amoroso e alegre e comentarão com você sobre essas mudanças preciosas. Finalmente, a purificação no âmago lida com as verdadeiras motivações. Ela pode estar oculta de nossa verdadeira percepção até que a conduta e o caráter sejam purificados. Questões enraizadas, como ambição egoísta, inveja, ciúme e desejo de autoglorificação, emergem e devem ser erradicadas pela obra profunda do Senhor na vida, no coração e na alma do cristão. 5. Purificação regular ocasionada pelo relacionamento mais profundo com o Senhor Nesta fase o cristão humilhou‐se profundamente e aprendeu a alegria de caminhar com o Senhor numa escala e intensidade ascendentes. O coração do cristão tornou‐se tão quebrantado que ele sabe que se tornou totalmente sensível a qualquer pecado, o qual ele limpa rápida e completamente por meio dos princípios encontrados em 1 João. O cristão torna‐se consciente da pessoa do Espírito Santo de uma maneira mais profunda do que antes. O cristão cresce em seu relacionamento íntimo com a Pessoa do Espírito Santo. Aprende sua natureza mansa, sua lealdade, bondade, compaixão e gentileza infinita. Esse relacionamento com o Espírito é muitíssimo valorizado, e o cristão aprende mais e mais o que o entristece e apaga, respondendo rapidamente com a purificação pessoal, a fim de preservar o relacionamento íntimo com ele. 43


Durante essa fase, o indivíduo presta contas regularmente ao Senhor, confessa e faz restituição diariamente, momento a momento, de maneira que a purificação maior e mais profunda não seja mais necessária. Embora por um momento possa parecer que a purificação jamais terminará, há um final glorioso. Como é feliz e realizado o cristão que conhece a liberdade de caminhar em pureza de corpo, alma e espírito! UTILIZE OS “DEZ PASSOS DA PURIFICAÇÃO” PARA A PURIFICAÇÃO MAIOR O maior obstáculo a santidade não é o problema da motivação, mas do acúmulo! Os cristãos sentem frustração e derrota na vida espiritual por causa do acúmulo de pecados não confessados e não tratados deixados sob a superfície. Prepare‐se para esta seção prática sobre os “Dez passos da purificação” meditando sobre o segredo da pureza em 1 João 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. A confissão é um componente exigido tanto para o perdão como para a purificação de toda injustiça. Escolhemos ir ao Senhor, e ele escolhe nos purificar. Nesta passagem, nossa confissão é feita diretamente a Deus e significa que concordamos com ele – aquilo que fizemos é pecado contra ele. Agora, deixe‐me compartilhar um processo de dez passos, o qual já ajudou milhares de pessoas o redor do mundo a experimentar a purificação pessoal, muitas delas pela primeira vez na vida! Pense na liberdade e sensação de alegria que você experimentará no final do processo. 1. Sente sozinho num lugar tranqüilo por pelo menos uma hora, com algumas folhas de papel, caneta e sua Bíblia. 2. Acalme seu coração diante do Senhor, sentando‐se quieto, fechando os olhos, preparando seu coração para buscá‐lo. Deixe de lado todas as distrações, preocupações e pensamentos em sua mente. Fique diante do Trono tempo suficiente para saber que finalmente está em contato com Deus. Não fique frustrado, pois isso pode demorar um pouco. 3. Ore a Senhor, agradecendo por ele ter trazido você a este momento em sua vida – onde você deseja ser purificado diante dele e de sua santidade. Peça que lhe dê coragem e graça, à medida que se humilha diante dele. Comprometa‐se a não fugir de sua obra profunda em sua vida e a permanecer no processo até que ele revele que está totalmente purificado diante dele. Prepare seu coração para este processo e convença‐se de que você completará o processo, independentemente do custo ou das conseqüências. 4. Peça ao Espírito Santo: “Por favor, revela‐me os pecados específicos na minha vida – mesmo aqueles que esqueci – que estão entre mim e o Senhor. No nome de Jesus, amém”. 5. Anote no papel tudo o que o Espírito Santo lhe revelar. Não hesite, e não caia na tentação de omitir os pecados mais graves. Quando não conseguir pensar em mais nenhum, ore pela segunda vez: “Espírito Santo, desejo confessar todos os pecados entre mim e o Senhor. Por favor, revela‐me qualquer outro pecado – dá‐ me tua coragem e graça”. Depois de relacionar tudo, sente‐se quieto por exatamente cinco minutos – marque o tempo – e talvez você se lembre de mais algum. Quando a lista estiver completa, numere os pecados na ordem de dificuldade para confessá‐los e fazer restituição, sendo o número “1” o mais difícil. 6. Confesse seus pecados um por um diante do Senhor. Comece pelos mais difíceis usando palavras com estas: “Senhor, confesso a ti que cometi o pecado de __________. Perdoa‐me por esse pecado e purifica‐me totalmente dele”. Siga a lista toda, confessando um pecado de cada vez, até o final. 7. Antecipe a batalha pessoal pela qual passará, pois você jamais esteve disposto a enfrentar essas questões e confessá‐las diante de Deus. Não fique alarmado com o forte desejo que sentirá de fugir, como todos sentem – mantenha seu compromisso. Dê a si mesmo um máximo de três dias para acertar cada item da lista. 8. Espere ter de se humilhar diante de pelo menos uma pessoa no processo de restituição. Pegue as situações mais difíceis primeiro e fale pessoalmente com as pessoas envolvidas. Se não for possível, use o telefone; se também não for possível, escreva uma carta. Talvez você terá de confessar algo a elas, ou fazer algum tipo de restituição. Às vezes, terá de retornar a uma loja e devolver dinheiro por mercadorias que roubou, ou confessar a um professor que trapaceou na prova – sempre faça mais do que seria esperado de você para satisfazer ao Senhor e à pessoa ofendida. 9. Escreva “FEITO!” na folha, depois que tiver “confessado, feito restituição, perdoado e recebido a purificação de Deus!” Depois, queime as folhas como um ato simbólico da certeza do perdão total e completo da parte de Deus. Jamais permita que o acusador o ataque novamente nessas questões. Se você for assolado 44


por idéias do tipo “não fui perdoado” ou “tenho de confessar mais uma vez” ou “preciso sofrer para ser perdoado”, perceba que tais pensamentos não procedem de Deus e que deve interrompê‐los imediatamente. Para casos mais recorrentes faça esta oração em voz alta: “Senhor, confessei o pecado de ____________ e sei que tu perdoaste. Permaneço no teu perdão e purificação. Amém”. 10. Agradeça ao Senhor, depois de terminar a lista. Louve‐o pelo perdão e agradeça pela purificação. UTILIZE O “CICLO DE PURIFICAÇÃO” PARA A PURIFICAÇÃO REGULAR Uma vez que a purificação principal esteja completa você se surpreenderá ao sentir que o Senhor o está levando a mais duas ou três purificações nas próximas semanas e meses. Embora você tenha pensado que já tratou de tudo na primeira purificação, porque foi sincero ao pedir ao Senhor que lhe mostrasse seus pecados, ele somente revelou no nível em que sabia que você seria capaz de tratar com sucesso. À medida que você cresce em santidade, Deus lhe revelará outras categorias de pecados, que você pode ter esquecido, desde os primórdios de sua vida cristã. Não fique surpreso! Pelo contrário, espere que aconteça. Anime‐se, prepare‐se e depois repita os mesmos “Dez passos da purificação”. O “ciclo de purificação” é um remédio preventivo, cujo propósito é evitar que você tenha de submeter‐se à purificação mais profunda. Entre aqueles que caminham com o Senhor, este processo é geralmente chamado de “prestar contas regularmente a Deus” e significa que não permitiremos que se passe muito tempo entre o pecado e a confissão. Pecado cometido

Crise: “O Vale da Procrastinação” Quanto tempo se passa entre o pecado e a confissão?

Pecado confessado

Quando você se compromete com uma vida de santidade, uma das primeiras coisas que deve aprender a praticar – até que se torne um hábito – é confessar seus pecados no mesmo instante em que são cometidos. Obviamente, nenhum de nós deseja pecar, mas, até que entremos pelos portões do céu, estamos sujeitos a pecar. Portanto, considere os cinco “ciclos de purificação” que podemos usar em nossa vida. 1. Ciclo do momento Sempre que você comete um pecado, seja por praticá‐lo, seja por omissão, confesse imediatamente ao Senhor e faça a restituição necessária. Quanto mais essa atitude é praticada, mais se torna uma ferramenta poderosa para se evitar o pecado! Se você pratica o “ciclo do momento”, quando você pensa sobre um pecado por uma fração de segundo, a noção de que terá de ir diante do Senhor e confessar certamente o ajudará a se disciplinar! 2. Ciclo diário Quando fizer seu devocional, de manhã ou à noite, sempre dedique um tempo de sua oração para esperar em silêncio diante de Deus, pedindo que ele mostre se há questões pendentes do dia anterior, que precisam ser confessadas. Nesta manhã,quando me levantei, orei a respeito do dia anterior, e Deus me revelou um ato de impaciência. Sabe o que eu fiz? Isso mesmo: confessei. 3. Ciclo semanal O Senhor estabelece as épocas e as estações de nossa vida, não é? Desde minutos, horas, dias, semanas, meses, até anos, décadas e toda uma vida. Todas essas unidades são maravilhosos blocos de tempo, durante os quais podemos reavaliar e examinar nossa vida. Às vezes os pecados são notados no momento em que são cometidos; outras vezes, porém, só são notados num exame mais minucioso. Aparentemente durante toda a história do povo de Deus, o Sabbath, no Antigo Testamento, e o domingo, no Novo Testamento, foram utilizados para um exame pessoal mais profundo e para a confissão. Talvez as últimas horas do domingo seja um tempo valioso para ficar sozinho e fazer uma revisão da semana anterior e da próxima – do ponto de vista de Deus e não do nosso. Você pode surpreender‐se como uma perspectiva mais ampla vai revelar áreas que precisam de sua atenção e confissão, de forma diferente do “método do momento” e do “método do diário”. 4. Ciclo mensal

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No primeiro dia de cada mês, sempre leio meu diário para “colher” as lições de vida que o Senhor está operando em mim e comigo. Por exemplo, tenho trabalhado em algumas áreas profundas de minha vida, as quais demoram em se conformar à imagem de Cristo. Ontem à tarde, mais alguns entulhos foram removidos em uma hora de conversa com um dos colegas do ministério Através da Bíblia. Assim, nesta manhã, em meu devocional, comecei confessando valores profundamente arraigados, os quais estou enxergando com maior clareza e que não são a perfeita vontade de Deus. Estivera comigo durante toda a minha vida, mas quanto mais me aproximo do Salvador, mais pecaminosos eles parecem! Um de meus melhores amigos tira um dia inteiro, todos os meses, e o dedica totalmente ao Senhor, sondando o próprio coração, confessando, adorando e fazendo planos. 5. Ciclo anual Por último, o “método anual” é um dos mais úteis para muitos cristãos. Muitos líderes que conheço investem considerável tempo entre o Natal e o Ano Novo lendo os diários pessoais e de oração para perceber o que a mão do Senhor esteve fazendo em suas vidas durante o ano. Novamente descobri que esta abordagem é nova e encorajadora – mostrando de forma notável a agenda de Deus para minha vida. Quando você lê sobre o ano anterior, áreas em que o pecado foi confessado e abandonado no início do ano não aparecem novamente no final do ano. Áreas que ainda eram nebulosas no início do ano estão bem claras no final. É impressionante quanta perspectiva se desenvolve em 12 meses de retrospecto! Quanto mais amplo o retrospecto, maior o novo entendimento. Como você pode ver, esta “purificação” não é uma questão pequena ou fácil. Para aqueles cristãos que buscam ao Senhor de todo o coração, toda alma e toda a força, a confissão e a purificação são um estilo de vida. Uma última consideração a fim de prepará‐lo melhor para sua peregrinação pessoal: quanto mais perto do Senhor você caminha, mais percebe quanto é pecaminoso! Portanto, embora você esteja pecando muito menos por causa da obra de Deus em sua vida, sentirá o pecado de forma muito mais profunda. Que o desejo de seu coração pelo Senhor e pela santidade dele o conduza à santidade em toda a sua conduta. 6 A VERDADE SOBRE AS TENTAÇÕES Nenhum homem sabe quanto é mau até que tenta ser bom. Muitos defendem a tola idéia de que pessoas boas não sabem o que significa a tentação. C. S. Lewis Você está prestes a penetrar no território de seu pior inimigo. Enquanto caminha entre as hostes inimigas, ficará chocado ao descobrir qual é a maior arma dele contra seu desejo de viver em santidade. Se você é como seus predecessores no seu aprendizado do conteúdo deste capítulo, provavelmente sua vida jamais será a mesma. Quando seus olhos forem totalmente abertos, você reconhecerá as armas do inimigo em todas as situações e saberá exatamente o que fazer para derrotá‐lo, bem como seus planos ardilosos contra você. Qual é a principal estratégia do inimigo para levar as pessoas ao pecado? É uma palavra de oito letras: “Tentação”. Se você conseguir anular a habilidade do inimigo em usar a tentação em sua vida, ele ficará imediatamente impotente. Pense um instante sobre como as tentações operam realmente. Como uma pessoa como você, nascida de novo e que ama aos Senhor, passa de santa a profana? Qual é o passo inicial ou a estratégia que leva o cristão da santidade à impureza, da obediência à desobediência e da justiça à iniqüidade? Como você logo descobrirá, a mesma estratégia de tentação é utilizada milhões e milhões de vezes ao dia contra as massas – que não suspeitam de nada. Essa estratégia funciona? Bem ,na maioria das vezes, uma tentação ou uma série de tentações estrategicamente posicionada é tudo de que se precisa para derrubar uma pessoa que caminha em santidade. Na última vez em que você “caiu” em pecado, na verdade foi “empurrado” pela mesma mão da tentação que sempre “empurra” ou “puxa” você em direção ao pecado. Outra palavra que pode descrever a tentação é o “incentivo”. Um incentivo é algo que motiva ou incita o indivíduo a fazer algo. No mundo empresarial, o incentivo é amplamente utilizado. Por exemplo, quando você entra numa loja e há duas bebidas de marcas diferentes sendo vendidas e uma delas faz a promoção: “Compre uma garrafa e leve grátis!”, a que você é levado (ou tentado)a fazer?

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Se seu chefe anuncia que naquela semana há um excesso inesperado de produtos “vermelhos” e que haverá um bônus para cada produto desta linha que for vendido, quando você entra em contato com seus clientes, acha que deixaria de promover os produtos da linha “vermelha”? Como pai, você encoraja seus filhos a arrumar o quarto e tirar melhores notas na escola com algum tipo de recompensa ou incentivo. O incentivo é errado? Não, se ele incentiva que um comportamento correto seja feito de forma correta. Quando você lê a Bíblia não pode deixar de perceber que o próprio Deus utiliza o incentivo com freqüência para motivar. O incentivo, porém, pode ser usado não somente para fins benéficos mas também maléficos. Sabe como a Bíblia define um mau incentivo? Tentação. O propósito primário de toda tentação é motivar o indivíduo a pecar. Diferente dos bons incentivos, os maus incentivos usam o engano e a manipulação para nos motivar ao pecado. Você acha que seu inimigo o avisa formalmente de que vai enviar uma tentação nesta tarde, às 3h13, e que, se você for tolo e cair nela, arruinará sua reputação, sua família, seus filhos e seu trabalho? Pense em como seria bom que você entendesse todo o processo da tentação. Neste capítulo a verdade sobre as tentações será revelada, afastando qualquer suposição sobre o que é tentação e como funciona. No próximo capítulo, mostraremos os sete estágios de toda tentação numa única passagem bíblica. Você aprenderá como discernir imediatamente em qual dos sete estágios se encontra em determinado momento e como quebrar a tentação naquele ponto em que ela é mais vulnerável! Quanto mais você compreende a verdade sobre a tentação e aprende a discernir os estágios da tentação pela qual está passando, mais livre será para quebrar imediatamente seu poder e permanecer na santidade. A PASSAGEM‐CHAVE SOBRE TENTAÇÃO Quando você desejar extrair uma verdade da Palavra de Deus, comece buscando uma “passagem‐chave” que contenha a verdade mais ampla sobre o assunto. Estude‐a para desvendar seus segredos. Quando estudamos sobre a tentação, a passagem‐chave bíblica é 1 Coríntios 10. Leia os versículos 12 e 13 atentamente, antes de ver as sete verdades sobre tentação e sua aplicação: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.” (ARC) 1. A tentação é a razão primária para desejarmos pecar O elo é claro: a “queda” no pecado sempre é precedida pela tentação, que “vence você”. A tentação é sempre a motivação para o pecado. Se não existisse tentação, você não teria motivação para cometer pecados. Diante de todo pecado que cometemos esconde‐se a tentação. Quando você abre as primeiras páginas da Bíblia, o que encontra satanás fazendo? Tentando Adão e Eva, induzindo‐os a desobedecer às instruções de Deus para não comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Note a tentação sutil ou o incentivo que ele usou contra Eva: “É certo que não morrereis” – Satanás incentiva Eva a duvidar da advertência clara de Deus: não deviam comer, porque senão morreriam. E outras palavras, a tentação tem de negar a verdade conhecida que se opõe ao pecado, ou este não será cometido. Se Eva não caísse na tentação de duvidar que a morte realmente se abateria sobre ela, talvez nunca tivesse cedido às outras tentações. A tentação sempre minimiza os perigos reais e maximiza os benefícios imaginários. “Se vos abrirão os olhos” – Satanás sutilmente dá a entender que os olhos deles estavam fechados e como seria maravilhoso abri‐lo! Por falar nisso, quem mantinha os olhos deles “fechados”, em primeiro lugar? Que ataque sutil ao caráter de Deus, insinuando que ele deliberadamente os mantinha cegos! Ligue esta segunda tentação para duvidar do caráter de Deus à primeira, para duvidar de sua palavra. A tentação sempre gera a dúvida sobre a palavra e o caráter de Deus. “Sereis como Deus” – Satanás incita a imaginação de Eva com o pensamento de se tornar “semelhante a Deus”. O que poderia ser mais excitante do que ser “como” Deus? Neste ponto, a tentação dá um passo ousado. Naquele momento, Adão e Eva eram mais “semelhantes a Deus” do que qualquer outra criatura em todo o universo, e por toda a eternidade! Foram criados por Deus, de forma sobrenatural, à sua imagem e semelhança! Eles já eram “como Deus”! Entretanto, ao comerem o fruto, escolheram tornar‐se o mais “diferente de Deus” possível! Então, qual era o método para ser “igual a Deus”? Pense nisto – o meio que Satanás propôs para 47


serem iguais a Deus era fazer justamente o oposto do que Deus lhes dissera! Somente escolhendo desobedecer a Deus, eles seriam “como Deus”. A base da mentira da tentação é grandiosa. Cada tentação individual baseia‐se em pelo menos uma grande mentira, a qual é apresentada como a resposta aos anseios da pessoa. “Sereis conhecedores do bem e do mal” – Satanás sabe o que representa para o ser humano a tentação do “conhecimento proibido”. O que poderia ter mais poder do que conhecimentos secretos? Com esta tentação é enganadora! Adão e Eva já tinham a plenitude do conhecimento do “bem”: estavam no jardim do Éden, andando com o Deus Todo‐Poderoso! Por que desejariam “conhecer” o mal, já que este nunca promove o bem e sempre o destrói? Toda a vida gira em torno da busca do “bem”; então, por que nos afastar dele, escolhendo aquilo que destrói o “bem”. Aqui o tentador usa o desejo ou a “cobiça” de algo totalmente fora dos limites estabelecidos para o homem. O homem não foi criado para romper a cerca de segurança que o separa do bem e do mal. O Senhor providenciou uma abundância de bem e o protegeu com a ausência do mal. Escolhendo saber aquilo que Deus deliberadamente estava retendo, Adão e Eva caíram no mesmo pecado do próprio Satanás, o desejo de independência e de subverter os limites da soberania divina. A tentação sempre incita a cobiça de se conhecer e experimentar o “mal” proibido por Deus, na falsa busca daquilo que é “bom”! Por que Satanás utilizou essas tentações? Porque sem a tentação ou a motivação, por que Adão e Eva considerariam a possibilidade de desobedecer a Deus? Você percebe o papel crucial da tentação em nossa vida? Sem ela, qual seria nossa motivação para escolher o pecado? De modo semelhante, considere o que Satanás fez ao procurar derrotar Jesus: ofereceu três tentações poderosas. Note como Jesus repreendeu e revelou a natureza de seu ataque: “Não tentarás o Senhor, teu deus”. Nunca mais perca de vista a estratégia usada por Satanás em sua vida. Todo pecado que você comete sempre é precedido por uma “tentação” na qual você acreditou, sentiu motivação e então agiu de acordo, desobedecendo a Deus e pecando voluntariamente. 2. A tentação é mais perigosa quando você acha que não cairá 1 Coríntios 10:12 começa com uma forte advertência sobre tentação: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”. Talvez este alerta seja colocado em primeiro lugar porque revela o oposto do que as pessoas “normalmente” pensam sobre as tentações. O que é melhor: pensar que não pode cair em pecado ou pensar que pode cair? Quanto mais forte você pensa ou sente que é, usando frases como: “Nunca cometerei este pecado!”, “Jamais poderei fazer isso!”, “Como aquela pessoa pôde fazer aquilo?” ou “Sinto‐me tão perto do Senhor que acho que hoje não pecarei”, são sinalizadores gigantes e sirenes gritando, avisando do perigo iminente. Por que não devemos nos sentir fortes e poderosos diante de alguma tentação? “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv 16:18). Quando achamos que não podemos cair, o orgulho impera. Quando o orgulho impera, a destruição vem logo atrás. Sempre que vemos a arrogância, seja explícita, seja cuidadosamente escondida, podemos ter certeza de que em breve haverá uma “queda”. Quais são a atitude e a ação corretas em face da tentação que nos levam à vitória e não à destruição, para uma posição firme e não à queda? Os versículos abaixo revelam que a resposta é vigilância, oração e dependência ativa do Senhor. “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” Mateus 26:41; “Chegando ao lugar escolhido, Jesus lhes disse: Orai, para que não entreis em tentação.” Lucas 22:40; “O Senhor sabe livrar da provação os piedosos e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia do Juízo.” 2 Pedro 2:9 Nosso foco sempre deve ser nossa fraqueza e o poder de Deus. Ore diariamente para que o Senhor o livre das tentações. Se elas vierem, que ele lhe dê forças para superá‐las. 3. A tentação busca vencer você A tentação não é inativa, mas ativa. Ela não foge de você – procura “vencer” você. Experimentar uma tentação é sentir‐se “vencido”: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia. Não veio sobre vós tentação...” Mesmo nas atividades mais espirituais, as tentações podem adiantar‐se e envolver você com poder e persistência. As palavras usadas por Paulo, “veio sobre”, dá idéia de alguém vindo sobre você rápida e inesperadamente, como um inimigo.

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Paulo ensina que a tentação é ativa e tem uma realidade quase independente. Ela sobrevém – se abate, assalta e prende – e tenta nos pressionar até que pequemos. Você pode notar, em todas as tentações descritas na Bíblia, bem como em sua própria experiência, que quando você cede, ela deixa de existir. A tentação só existe de um lado do pecado: antes de ele acontecer! A tentação vem antes de todo pecado. Se você derrotar a tentação, não cometerá o pecado! 4. A tentação que você experimenta nunca é única, mas é sempre comum Sem exceção, se você pecou repetidamente em determinada área, sempre conclui que as tentações não são do tamanho “normal”, mas realmente incomuns e mais fortes, Entretanto, qual é a verdade sobre elas? “Nenhuma tentação se abateu sobre você, exceto aquelas que são comuns a todos os homens.” Depois de uma reunião em que falei sobre santidade pessoal para um grupo de homens, um jovem me procurou, obviamente por convicção. Compartilhou que desejava grandes mudanças em sua vida, mas enfrentava dificuldades. Logo revelou que vivia com uma mulher e que tinha vivido com muitas outras nos últimos dez anos. Perguntei porque não parava com seu estilo de vida imoral e profano. Ele respondeu que desejava, mas não tinha forças diante das tentações sexuais. Olhei para ele e disse: ‐ Puxa, seu apetite sexual deve ser realmente forte! Ele respondeu imediatamente: ‐ Bem... fico feliz que você entenda. Meu apetite sexual é tão poderoso que a tentação torna‐se forte demais. Assenti e disse: ‐ Provavelmente seu apetite é muito maior do que o dos homens normais. Ele enrubesceu de vergonha por ter sido descoberto e fez um sinal de assentimento. Finalmente parecia que encontrara alguém que o compreendia – seu pecado não era de fato sua culpa – eram aquelas tentações gigantescas que o atacavam. Perguntei se faria alguma diferença para ele se as tentações sobreviessem num tamanho normal. ‐ Puxa! Eu faria qualquer coisa para ter tentações normais. Finalmente seria capaz de dizer “não” e parar. Olhei ao redor e percebi que a sala estava ficando vazia rapidamente, pois os homens estavam voltando ao trabalho. Continuei: ‐ Então, se suas tentações fossem iguais às de Chuck, Bob, Forest e dos demais homens, o que você faria? Ele perguntou de imediato: ‐ Como assim, o que eu faria? Em relação a quê? ‐ Em relação a continuar com seu estilo de vida imoral e pecaminoso. Você obedeceria ao Senhor e se afastaria desse tipo de vida? É claro, só no caso de suas tentações sexuais serem do tamanho “normal”, como as de todo mundo. Aquilo lhe soou bem, de maneira que assentiu deliberada e alegremente. Era óbvio que ele sabia a resposta. Ninguém podia resolver seu problema. Por que se preocupar? Então, pedi que lesse 1 Coríntios 10:13 em voz alta: “Não veio sobre vós tentação, senão humana...” Foi um choque para ele ter de reconhecer que suas tentações eram absolutamente normais e não eram diferentes das várias tentações que assolam a vida de todo homem. Ele tinha acreditado na mentira: “Sou impotente diante do tipo de tentação que enfrento, e que ninguém mais enfrenta. Se minha tentação fosse ‘comum’, certamente eu poderia resistir”. Apontei para outros homens que ainda permaneciam na sala e lhe disse: ‐ Eles enfrentam exatamente as mesmas tentações que você – só que eles dizem “não”, enquanto você diz “sim”. Nos momentos seguintes, presenciei a luta daquele jovem contra a trágica mentira em que sempre acreditara. Essa mentira o tinha enterrado sob o grande peso do auto‐engano paralisante. Quando a mentira foi confrontada pela luz da Bíblia, caiu impotente a seus pés. Com lágrimas nos olhos, ele repetia: ‐ Minhas tentações não são diferentes. Fui enganado. Vou me libertar hoje. Vou dizer não às minhas tentações sexuais. Vou sair daqui... e caminhar em santidade. A verdade sempre os liberta; a mentira sempre nos prende em amarras. Se você está preso a um pecado, é somente porque acreditou numa mentira. Independentemente de sua opinião a respeito das tentações que enfrenta – sobretudo aquelas que o levam a pecar repetidamente –, a Bíblia ensina que elas não são em nada diferentes das que todas as outras pessoas enfrentam. Pense nas mentiras que dizemos a nós mesmos: 49


• “A tentação foi muito forte; não pude fazer nada!” • “Sou diferente, ninguém enfrenta tentações como as minhas!” • “Faz parte de minha herança familiar – meus ‘genes’ me obrigam a agir assim!” • “Sempre fiz isto – é tarde demais para parar agora.” • “O diabo me obrigou a fazer aquilo.” • “Não me preocupo com as tentações; sou forte.” • “Não é minha culpa; fui tentado além de minhas forças.” • “Orei sobre a tentação, mas não consegui parar.” • “É culpa de Deus; ele sabia que eu era fraco demais.” • “Deixe para lá – ninguém é perfeito.” Se você lê com atenção nosso versículo‐chave (1 Co 10:13), logo notará que a idéia é: “Não veio sobre vós tentação exceto aquela que é humana”. O texto não somente ensina que não existe tentação “incomum” com acrescenta uma verdade mais profunda – a tentação que nos sobrevém é especialmente “comum”! Quando você pecar, lembre que a tentação só pode ser tipo comum. O sentido literal de “humana”, neste versículo é “comum a todos os homens”. Toda tentação é normal e, portanto, totalmente resistível. Como, então, podemos explicar como “nos sentimos” quando formos assaltados por tentações “incomuns”? Talvez um pequeno cão possa terá resposta. Você lembra do mago que dominava a terra de Oz? Todos tinham medo dele e tremiam por causa de sua força e poder. Até que um cão pequeno e sujo passou por baixo da cortina sagrada! Ali Dorothy e seus amigos descobriram um homem velho, pequeno e fraco, que mudava a voz e se cercava de efeitos especiais. Você lembra o que ele fizeram, ao descobrir a verdade sobre o “poderoso mago”? Eles se entreolharam irados, chocados e caíram na gargalhada! Imediatamente a verdade os libertou. Quando o engano da tentação vem à luz, ela perde seu poder. A verdade sempre nos liberta. Levante a cortina que cerca sua tentação e descobrirá duas verdades: primeira, sua tentação é do tipo comum, que cresce como mato pela paisagem humana; segunda, sua tentação é cheia de ar quente e desaparecerá no ar, quando você simplesmente disser “não”. 5. Deus é fiel e não permite que você seja tentado além de suas forças Todas as vezes que você acha que Deus não está por perto, certamente, dizem respeito aos momentos em que é tentado a pecar! A Bíblia, porém, revela que o Senhor está diretamente envolvido em toda tentação. Ele não as envia, mas se certifica de que você pode suportá‐las sem ceder a elas. “Fiel é Deus”, o texto afirma, “que vos não deixará tentar acima do que podeis”. As palavras de Paulo proporcionam um encorajamento maravilhoso e garantem a esperança diante das tentações. Em vez de nos sentirmos “impotentes” nas tentações, 1 Coríntios 10:12,13 nos assegura de que somos “auxiliados” em toda tentação. Auxiliados pelo próprio Senhor Deus do universo. Certifique‐se de que esta verdade está bem arraigada em sua mente. Em vez de evitá‐lo quando você está diante da tentação, o Senhor se aproxima de você para protegê‐lo e ajudá‐lo. Ele está a seu lado, no meio da batalha, assegurando que você não está sendo forçado a se submeter a nenhum tentação. O princípio anterior deixou claro que toda tentação que você enfrenta é “comum” ou natural a todos os homens. Esse princípio muda o foco, passando da “tentação” para aquele que está sendo “tentado”. Embora toda tentação seja comum,as pessoas são bem diferentes umas das outras. Por exemplo, um indivíduo pode ser tentado pela gula, outro pela pornografia, outro pela fofoca e outro pela ira. O que representa uma tentação a uma pessoa pode não ser para outra. Por exemplo, digamos que você e um amigo vão ao supermercado juntos. Você é tentado pela gula, por isso trava uma luta nas gôndolas de doces, enquanto seu amigo enfrenta um conflito diante das prateleiras de revistas. Será que você enfrentará a mesma luta diante das revistas? Provavelmente não. Diferentes tentações tentam diferentes tipos de pessoas. Portanto, posso enfrentar tentações que são comuns, mas, por ser extremamente fraco em certa área, posso ceder e cair numa área em que você não cai. Neste versículo (1 Co 10:13) o Senhor deixa clara a verdade sobre seu papel, protegendo pessoalmente você das tentações que podem estar além de suas forças: Deus não permitirá que você seja tentado além daquilo que pode suportar individualmente. Portanto, o Senhor coloca um regulador divino nas tentações, de acordo com sua capacidade única de lidar com uma tentação específica. Imagine isso! Pense no que isso significa, como o Senhor está intimamente comprometido com você e sua vitória sobre as tentações! Nunca mais aceite a mentira de que Deus fica 50


zangado ou se afasta quando você está diante de tentações. Na verdade, ele se envolve pessoalmente nas tentações. Deus desenha uma linha e ordena que a tentação chegue até ali, mas não ultrapasse. Por que o Senhor estabelece essa linha, para você e para mim? Porque, se não o fizesse, certas tentações literalmente nos subjugariam, e não seríamos capazes de dizer “não”. Em sua sabedoria e onisciência, o Senhor estabelece o limite a toda tentação abaixo de nossa capacidade de resistir e evitar o pecado. Portanto, em sua vida passada, presente ou futura, o Senhor jamais permitirá que enfrente uma tentação que não tenha condições de resistir. Na tarde em que escrevia este capítulo, fiz uma pausa e saí para caminhar pela vizinhança, com minha esposa, Darlene. Enquanto andávamos, passamos por um grande carvalho, que se elevava muito além de nossas cabeças. Ficamos maravilhados com a força e a majestade daquela árvore, como tinha resistido durante décadas a tempestades e ventos. Perguntei a Darlene se ela achava que alguma tempestade pudesse derrubar o grande carvalho. Ela disse que sim, pensando naqueles tornados incrivelmente poderosos, que destroem tudo o que encontram no caminho. Será que existe alguma “tentação tornado” capaz de literalmente derrubar você, destruindo seu forte compromisso com a santidade? Não. O Senhor nos protege e limita o poder de toda tentação. Embora Satanás possa facilmente nos forçar a pecar, o Senhor limita sua liberdade para nos empurrar além da “linha vermelha”, quando enfrentamos tentações. Por que acha que o Senhor intervém em seu favor centenas – talvez milhares – de vezes durante sua vida? Há três palavras em nosso texto que respondem a essa pergunta: “Deus é fiel”. Fidelidade significa permanecer firme, na afeição e na lealdade e permanecer firme em manter as promessas feitas no relacionamento. A fidelidade inclui lealdade, constância e firme resistência a tudo aquilo que possa resultar em traição e deserção. Em que sentido Deus é fiel, neste contexto? Deus é fiel a você. Ele é fiel à sua Palavra. Ele é fiel a seus propósitos. Fiel às suas promessas. Ele é fiel à justiça. Será que Deus seria fiel se ordenasse que você fosse “santo em todo o seu procedimento” e ao mesmo tempo permitisse que as tentações forçassem você a pecar, apesar de você fazer tudo o que estivesse a seu alcance para evitar o pecado? Dependa totalmente dos limites soberanos impostos a suas tentações, pois o Senhor é inabalavelmente fiel. Entretanto, o que acontece quando nós somos infiéis repetidas vezes e escolhemos pecar quando tentados? Obviamente o Senhor deve ter um limite para sua fidelidade, dependendo do quanto somos “fiéis” a ele, certo? Em outras palavra, a fidelidade de Deus tem limites? Leia 2 Timóteo 2:13: “Se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar‐se a si mesmo”. Portanto, a verdade sobre sua tentação é que o Senhor Deus nunca o deixará ou abandonará diante das tentações. Ele sempre – em todas as circunstâncias e todas as vezes – limita soberanamente as tentações, para que nunca ultrapassem sua capacidade de dizer “não”. Não é de admirar que Deus nos diga para “sermos santos em todo o nosso procedimento” – ele já providenciou tudo do que precisamos e limitou tudo o que não precisamos. Algumas implicações vêm imediatamente à tona com esta verdade: Primeiro, Deus limita as tentações que enfrento de acordo com minha capacidade e não a de outrem. Deus não limita minhas tentações de acordo com as forças dos outros cristãos, mas com as minhas. Independentemente do que seja verdade em relação às tentações dos outros, você sempre tem a certeza de que o Senhor tem a atenção voltada a você e sua capacidade. Ele limita soberanamente suas tentações, tendo apenas você em mente. Quer dizer que se você e um amigo enfrentam uma tentação grande e inesperada, o Senhor a limitará de forma diferente para cada um. A mesma tentação é limitada pelo Senhor, de acordo com as diferentes habilidades de cada indivíduo. Segundo, Deus limita a tentação, mas, não aumenta necessariamente nossa força. Imagine que está diante de um haltere de 200 quilos e tenta levantá‐lo com todas as suas forças, mas não consegue. O que o Senhor faz? Aumenta sua musculatura, por meio de um milagre? Não. A Bíblia não ensina (em 1 Co 10:13) que “o Senhor é fiel e aumentará sua capacidade, para que seja capaz de superar a tentação”. Ela diz que “Deus é fiel e não permitirá que você seja tentado além de suas forças”. Deus o capacita a obedecer‐lhe tirando pesos do haltere, até chegar a um peso que sabe que você tem condições de levantar. Ele não aumenta sua força. Portanto, nunca espere que o Senhor o fortaleça milagrosamente, mas sim que ele limite o peso das tentações. Depois que você se afasta, outra pessoa se aproxima do mesmo haltere. Sabe o que o Senhor faz por ela? 51


Terceiro, Deus limita as tentações de acordo com minhas habilidades em diferentes situações. Além de sua habilidade de superar tentações ser diferente da de outros indivíduos, ela muda de acordo com o que acontece em sua vida. Digamos que alguém próximo a você morreu, você teve sérios problemas financeiros e esteve doente por um logo período. Você diria que numa situação dessa, sua capacidade de resistir a tentações seria tão forte como é normalmente? É claro que não. Assim, sabe o que o Senhor faz? Uma vez que sua capacidade de resistir está bem reduzida, o Senhor limita ainda mais as tentações. Qualquer que seja sua capacidade de resistir, em determinado momento de sua vida, é ela que define o limite que Deus estabelecerá sobre a tentação. Não sei como você se sente em relação ao Senhor, ao compreender sua tremenda fidelidade a você. A compaixão e a graça que Deus manifesta para comigo me deixam literalmente maravilhado. Por isso o Senhor pode ordenar que sejamos santos em todo o nosso procedimento. Ele assegura que sejamos capazes! 6. A tentação sempre é acompanhada por um livramento providenciado por Deus De todas as revelações notáveis contidas nesses dois versículos, nenhuma toca mais do que esta provisão divina: “Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes com a tentação dará também o escape...” Depois de considerar a primeira provisão de Deus, você pode sentir‐se com eu: o que mais Deus poderia fazer , além do que já fez? Entretanto, quando você medita neste princípio que estamos vendo, talvez se sinta maravilhado por esta segunda ação. A primeira ação de Deus em face da tentação é a limitação: Ele não permite que você seja tentado além de sua capacidade de suportar. A segunda ação de Deus em face da tentação é a provisão: Ele providencia o meio de livramento. A fidelidade de Deus para conosco o estimula a tomar duas atitudes diferentes. Primeiro, não permite que nenhuma tentação supere nossa capacidade de resistir; segundo, nos providencia o livramento, para que possamos escapar da tentação sem pecar. Diante da tentação, o Senhor diz “não!” para ela e “sim!” para você. Seu propósito supremo é sua vitória total e completa sobre toda tentação, sem cair no menor pecado. Assim como ocorreu co Cristo, em toda a sua vida, todos nós experimentamos inúmeras tentações. Como Cristo, somos chamados a resistir às tentações e ser “sem pecado”. “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer‐se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisa, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4:15). Jesus foi tentado da mesma maneira que nós somos, mas sempre disse “não”. Sempre escolheu o livramento de Deus. Estude essas palavras com atenção: “Antes, com a tentação, dará também o escape...”. A introdução “antes” leva a um contraste inesperado com o comentário anterior. Deus limita nossas tentações, mas também proporciona o livramento. O fato de a tentação ser limitada não significa que podemos nos livrar dela. O que aconteceria se todas as rotas de fuga fossem bloqueadas por nosso perverso inimigo? Pergunta: Com que freqüência Deus providencia o livramento? Resposta: Com cada tentação, Deus providencia o livramento. Em outras palavras, um novo livramento é elaborado por Deus “com a tentação” que você enfrenta. Livramentos passados, que funcionaram em outras situações, não serão de nenhuma ajuda quando você está acuado à beira do abismo. Cada tentação é diferente, e por isso o livramento também tem de ser diferente. Deus não “encontra” um livramento para você; ele “elabora” um livramento. Quer dizer, quando a tentação tenta derrubá‐lo, Deus, em sua soberania, inventa e depois cria uma “rota de fuga segura” para que você escape. Se você ainda duvida se o texto fala de um livramento literal, leia novamente e note que a Bíblia utiliza artigo definido antes de “escape” e não o indefinido. O versículo não deixa uma idéia vaga, que junto “com a tentação” talvez haja um escape, mas diz que “com a tentação” haverá também “o escape”. A rota de fuga é providenciada por Deus de forma sobrenatural, para sua tentação natural. Deus intervém na tentação e providencia pessoalmente “o escape”. A palavra “escape” dá a idéia de uma passagem secreta entre as montanhas. Imagine um exército emboscado entre as montanhas, sem nenhuma rota de fuga; subitamente encontram uma passagem estreita e todo o exército foge por ela, sem nenhum dano. Veja como o apóstolo Pedro descreveu o ensinamento de Paulo: “Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos...” (2 Pe 2:9, ARA).

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A aplicação prática literalmente salta sobre nós. Quanto Deus é fiel a nós diante das tentações? Totalmente fiel. Ele limita e providencia. Não permite que a tentação prevaleça, mas intervém providenciando um livramento único e original. Quanto mais a verdade sobre a tentação torna‐se clara em seu coração, mais o mandamento “tornai‐vos santos... em todo o vosso procedimento” mostra‐se absolutamente realista. 7. A tentação não pode ir além do que você pode suportar Esse princípio final demonstra o coração de Deus em seu envolvimento em nossas tentações. Ele busca uma Igreja santa e por isso possibilita a santidade em todas as situações imagináveis. Como você já viu, o Senhor limita e providencia, capacitando você a “suportar”. “Fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis; antes, com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (ARC). A maior mentira relacionada à tentação é: “Não posso dizer ‘não’ a esta tentação, não importa quanto me esforce”. Você sabe que isso não pode ser verdade, do contrário o Senhor seria totalmente infiel. Nunca mais aceite esta mentira que derrota, porque no momento em que você a acalenta, mesmo por um segundo, já começa a escorregar em direção do pecado. Como você já entendeu, a Bíblia ensina abertamente que, seja qual for a tentação, você sempre será capaz de suportá‐la sem ser forçado a pecar. Não quer dizer que sempre será fácil permanecer firme – nem sempre será. Jesus encarou a mais difícil de todas as tentações. Note o nível de usa luta: “Considerai, pois, atentamente, aquele [Jesus] que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo... na nossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue” (Hb 12:3,4). Talvez em algum momento de sua vida você enfrente tentações tão ferozes que terá de “resistir até ao sangue”. Se isso acontecer, lembre‐se de que o Senhor não permitirá que a tentação vá além do que você pode suportar. Sempre há o livramento, mas o Senhor pode não revelá‐lo rapidamente, ou mesmo quando você pede. Em muitos casos, o livramento está bem diante de nós – como “foge das paixões”, o que significa que o livramento está nos pés, movendo‐nos na direção oposta! Outras vezes, porém, o livramento exige “resistência” total mesmo até a morte física. A verdade fundamental é que o mais importante é permanecer firme contra a tentação ao pecado. Mesmo que isso signifique a morte. O “livramento” para muitos cristãos que sofrem martírio em toda a história, e mesmo atualmente, foi permanecer firme diante da tentação mais ameaçadora, com risco da própria vida. Embora muitos tenham sacrificado a vida, outros que conheciam a Cristo e seu chamado correram para as trevas, negando o Senhor que os redimira,apara salvar a própria vida. Você sabe qual foi a mentira que ouviram e abraçaram? “Não posso resistir – é difícil demais”. Meu amigo, mesmo a morte não é difícil demais, porque o Senhor jamais permitirá que alguma tentação exceda sua capacidade de resistir sem pecar. Aqueles que cedem o fazem somente porque acreditaram na mentira. Enquanto você está sendo tentado, sempre é capaz de resistir – permanecendo santo em todo o seu procedimento. A VERDADE SOBRE A TENTAÇÃO Duas semanas depois de ensinar essas verdades sobre a tentação a um grupo de homens, encontrei‐me por acaso com um deles na rua. Você precisava ouvi‐lo contando o que o Senhor fizera em sua vida nas duas últimas semanas. ‐ Não conseguia acreditar como estive enganado toda a minha vida sobre a tentação. Eu a via como um gigante enorme, contra o qual não podia lutar. Depois de um tempo, desisti de lutar, porque achava que jamais iria vencer. Então aprendi a verdade sobre as tentações em 1 Coríntios 10 e foi como se todo o ar saísse de dentro delas – vi a verdade pela primeira vez. Agora sei que Deus limita minhas tentações, antes que “sobrevenham”. Sei que Deus não fica furioso comigo quando sou tentado – e que não preciso me esconder dele. Ele é meu verdadeiro libertador e sempre providencia o livramento. Que Deus maravilhoso nós temos! Ele não parava de falar: ‐ Você não vai adivinhar o que me aconteceu nessas duas últimas semanas. As mesmas tentações que costumavam me derrubar não me derrubam mais. De fato, quase não acredito, mas durante essas semanas, permaneci na verdade sobre as tentações e não pequei da maneira que havia anos! Realmente funciona!

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Creio que pela primeira vez realmente tenho esperança de que posso me tornar santo em todo o meu procedimento, antes de morrer! Na próxima vez que você sentir que está enfraquecendo diante da MENTIRA da tentação, pronuncie essas palavras poderosas de VERDADE e ficará surpreso como as tentações fogem para as trevas – para o lugar de onde você foi tirado e ao qual elas pertencem. A verdade sempre o libertará! “Reconheço que estou no meio de uma tentação para pecar. Quero me entregar nas mãos do Senhor, depender do Espírito Santo e não pecar. Sei que o Senhor está limitando a tentação, e ela não é mais forte do que minha capacidade de resistir. Sei que ele está providenciando o livramento para mim. Sou capaz de resistir à tentação até que ela termine. Escolho obedecer ao mandamento de Deus de “ser santo em todo o meu procedimento”. Obrigado, Senhor, por tua fidelidade para comigo! Amém.” 7 FERRAMENTAS PARA A VITÓRIA O homem santo não é aquele que não pode pecar. O homem santo é aquele que não pecará. A. W. Tozer Agora que você sabe que o Senhor intervém em toda tentação que você enfrenta, este capítulo abrirá seus olhos para o que exatamente deve fazer ao enfrentar tentações. Embora o Senhor as limite e providencie o livramento, você ainda precisa enfrentá‐las e vencer. Precisa travar suas próprias batalhas e chegar à vitória. Embora devamos orar e depender do Espírito de Deus, a Bíblia é bem clara e diz que nós devemos ser “fortes” e devemos “vestir a armadura”. Ela nos lembra de nossa “luta” e que devemos “resistir” e “permanecer inabalável”. Tudo o que o Senhor faz nos momentos de tentação é visando a nossa vitória. Este capítulo lhe proporcionará ferramentas poderosas para derrotar as tentações. Se você está decidido a se tornar uma pessoa santa, deve tornar‐se especialista em derrotar tentações. Deve saber como elas operam contra você de forma singular e exatamente o que fazer para experimentar a verdadeira vitória, numa batalha de cada vez. Posso prometer uma coisa, enquanto você lê este capítulo: você nunca mais olhará da mesma maneira para as tentações. Você as derrotará cada vez mais à medida que desenvolve a habilidade de utilizar essas armas. Deixe‐me compartilhar um último pensamento antes de embarcarmos. Pense na alegria e na liberdade que terá quando se tornar um hábil “guerreiro da tentação” – lutando contra as tentações com a provisão de Deus e sua diligência pessoal. Quero que você saiba que essas ferramentas realmente funcionam – utilizo‐as regularmente em minha vida. Quando comparo minha vida antes e depois de empregá‐las, vejo uma diferença acentuada e duradoura. A santidade está do outro lado da vitória sobre a tentação! SEU “QUOCIENTE DE SUSCETIBILIDADE À TENTAÇÃO” Você tem uma ferramenta que lhe permite fazer uma “leitura rápida” de si mesmo e determinar quanto está vulnerável a ataques em dado momento? As tentações são dirigidas contra nós com todo cuidado, no momento mais oportuno. Elas maximizam o poder de destruição atacando‐nos nos momentos de maior vulnerabilidade. Do profeta Moises ao rei Davi, as tentações tiveram sucesso em derrubar os mais fortes entre nós atacando‐nos nos pontos fracos e nos momentos de fraqueza. Estude os homens e as mulheres da Bíblia em sua luta contra as tentações e verá a mesma tendência. As tentações atacam onde o cristão é mais fraco e quando ele menos espera. Quando Satanás tentou Jesus? Depois que este passara 40 dias sem se alimentar, no meio da debilidade física e completo isolamento. Quando você está mais fraco e mais vulnerável às tentações? O “Quociente de Suscetibilidade à Tentação” (QST) é uma ferramenta notável, que levará dois minutos para ser usada, depois que você praticar algumas vezes. O objetivo do QST é alertá‐lo sobre quanto está vulnerável quando certa tentação ataca. Existem dez categorias diferentes, com o lado negativo à esquerda e o positivo à direita. A cada momento de sua vida, você está em algum ponto da escala, do ponto mais baixo, o número 1, ao mais alto, 10 das dez categorias. Agora faça um círculo ao redor do número que melhor o representa neste momento: 1. Fisicamente Exausto / cansado 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Cheio de energia / forte 2. Emocionalmente desanimado / deprimido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Encorajado / animado

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3. Mentalmente entediado / descontente 4. Espiritualmente acomodado / vazio 5. Geograficamente distante / sozinho 6. Relacionalmente distante / frio 7. Internamente sem esperança / triste 8. Pessoalmente inseguro / incerto 9. Secretamente amargo / irado 10. Profundamente ferido / magoado • Hoje, meu QST é:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Motivado / contente Em crescimento / pleno Próximo / acompanhado Íntimo / caloroso Esperançoso / feliz Seguro / confiante Disposto a perdoar / aceitar Apreciado / amado

Depois de circular onde você está neste momento, dentro de cada categoria, some os números. Você obterá seu quociente. Veja como interpretar resultado. 90 – 100 Você já foi glorificado no céu! 80 – 89 Muito forte, mas fique atento ao orgulho e à arrogância sutis. 70 – 79 Forte, mantenha sua dependência no Senhor. 60 – 69 Adequado, mas preste atenção em suas tendências; você está na linha de fogo. 50 ‐59 Fraco, você está emocionalmente vulnerável. 40 – 49 Perigo! Guarde‐se intensamente – você está patinhando. 30 – 39 Extremo perigo! Procure seu melhor amigo cristão e grite por “socorro!”. 20 – 29 Situação crítica – provavelmente já caiu em pecados graves. 10 – 19 Estão levando você para o necrotério; mexa‐se... 0 – 9 É um pesadelo; belisque‐se e tente novamente! Se você está abaixo de 70. É melhor levantar a “bandeira amarela”, porque as coisas estão muito piores do que aparentam na superfície. Se está abaixo de 60, com certeza está em águas turbulentas, a caminho de um naufrágio. Se fico abaixo de 60, compartilho com minha esposa Darlene (geralmente ela percebe antes que eu fale, por causa de nossa proximidade): “Querida, estou me sentindo muito vulnerável e com pouca estabilidade – ore mais por mim nesses próximos dias. Se eu estiver um pouco impaciente e insensível, lembre‐se que não é nada com você”. Se você desce abaixo de 50, é melhor solicitar o apoio da artilharia pesada. Basta uma palavra a seu melhor amigo – como “sinto‐me meio frio”, ou “estou passando por lutas” – e você abrirá a porta para que ele entre em sua vida e lhe dê o apoio tão necessário. Entretanto há certas lutas que você enfrenta que é melhor não compartilhar com pessoas do sexo oposto (exceto seu cônjuge) – senão, você acaba caminhando para outra armadilha. Nunca faça tal coisa. Nunca! Você sabe quantos de meus amigos já tiveram sérios problemas por compartilhar questões profundamente pessoais com pessoas do sexo oposto? Muitos. Proteja‐se de mais tentações – procure amigos do mesmo sexo. Quantas vezes você deve medir seu “QST”? Provavelmente uma vez por semana, a cada 12 semanas. Por que você não copia a tabela, coloca dentro de sua Bíblia e a utiliza durante os avisos na igreja, todo domingo? (ou em outro lugar, se você é daqueles que prestam atenção nos avisos!). Se não funcionar, escolha outra ocasião e um local onde possa ir toda semana, para que essa prática se torne parte de sua rotina. Registre seus pontos semanais na “Tabela de Tendência do QST” e avalie seus progressos. Levará apenas alguns segundos, mas abrirá radicalmente seus olhos. Pontos semanais 90‐100 80‐89 70‐79 60‐69 50‐59 40‐49 30‐39 20‐29 10‐19 0‐9

1

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Como você notou, a Tabela de Tendência do QST tem três categorias com tons diferentes: 55


Área Saudável Área de Perigo Médio (na verdade é a área de transição) Área de Crise Todos nós subimos e descemos nessas três áreas. Por exemplo, neste momento estou no 59 – vigiando e orando para que o Senhor “não me deixe cair em tentação” e “me fortaleça no homem interior quando me submeto ao Espírito Santo”. Na semana passada meus pontos foram 76 e na semana anterior 83. Quer saber? Minha tendência inspira cuidados. Se na próxima semana meus pontos caírem abaixo de 50, terei de aumentar consideravelmente meus esforços diante do Senhor, alertar pelo menos um de meus amigos e concentrar‐me em restaurar a saúde e a força em minha vida. O valor dessa tabela de tendência é dar a você uma visão da direção em que está indo. Pense sobre isto: Não conheço nenhum cristão que tenha caído em pecados graves e cuja tabela de tendência não estivesse na “Área de Crise” por pelo menos três semanas consecutivas! Se você está determinado a levar uma vida de santidade, deve ficar mais alerta com relação à sua própria vida e suas condições. Quanto mais baixo o QST, maior deve ser o cuidado. Quanto mais o QST cai abaixo de 50, maior deve ser a preocupação. Duas semanas de 50 ou menos devem fazer você gritar “FOGO!” e fazer mudanças imediatas em sua vida. Não menospreze sua própria condição durante mais uma semana! Se você faz parte de um grupo que está estudando este livro, comece a compartilhar com outros membros qual foi o QST da semana. De fato, para ter benefícios ainda maiores, compartilhe qual tem sido a Tendência do QST de cada um. Não sinta como se sua tabela fosse a única inferior a 95! Lembre‐se de que sua pontuação não é um sinal de pecado – é um sinal do que está ocorrendo em sua vida. Muitas vezes os eventos em sua vida estão totalmente fora de controle. Não desanime por causa de sua pontuação, mas use‐a como alerta de sua condição diante das tentações! À medida que o QST vai se tornando parte de sua vida, logo você será capaz de olhar para suas atividades da próxima semana e quase prever o que vai enfrentar. Tome medidas para buscar o equilíbrio e assuma o controle de sua vida. Fazendo isso, você se tornará mais forte contra as tentações, preservado a santidade. DESVENDANDO O JOGO DA CULPA É importante que você entenda todo o desenvolvimento da tentação que o leva ao pecado. É surpreendente, mas o Senhor revela em sua Palavra os passos exatos que o inimigo dá contra nós! Você logo verá que novamente a Bíblia vem em nosso favor ensinando abertamente as estratégias do inimigo. Toda tentação passa por sete estágios esboçados em Tiago 1:13‐17. Imagine como seria saber em que estágio você está durante uma tentação e ter o poder de saber o que esperar a seguir. Essa informação é incrivelmente valiosa – por isso o Senhor a compartilha conosco! Leia com atenção os versículos a seguir, pedindo a Deus que abra seus olhos para tudo o que ele revelou para sua vitória sobre as tentações: “Ninguém ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. Não vos enganeis, meus amados irmãos. Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” Quando Tiago escreveu sobre os sete estágios da tentação, usou como introdução um ataque direto contra a pior mentira concernente à tentação: “Ninguém ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus”. Você sabe o que cada ser humano vai fazer depois que as reais conseqüências dos pecados cometidos finalmente emergirem? Culpar. Culpar os outros. Culpar as circunstâncias. Finalmente, quando não houver mais nada para culpar, culpará o próprio Deus. Como as pessoas detestam aceitar a plena culpa dos pecados que cometem! Desde o início da criação, todos lançavam a culpa do pecado sobre os outros. Quando Deus perguntou a Adão se ele tinha comido do fruto

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proibido, ele respondeu: “A mulher....me deu da árvore, e eu comi”. Quando Eva foi interpelada: “A serpente me enganou, e eu comi”. Culpar os outros significa não aceitar a responsabilidade pessoal pelas próprias ações e acusar outros pela falta cometida. Geralmente a culpa é chamada de a “batata quente”, até que não haja, mais ninguém para quem passá‐la. Como presidente de uma organização, isso é familiar para mim. Quando pecamos e há conseqüências dolorosas e destrutivas, a “batata quente” muitas vezes pode chegar até o topo. Deus deve ser o responsável! Você notou que não citei a resposta completa de Adão. Na verdade, ele disse: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi”. Quem era o maior culpado pelo pecado de Adão? Deus. Era como se ele estivesse dizendo: “Deus – tu me deste aquela mulher; se não tivesses dado, eu não teria pecado. Deus, tu és a causa suprema do meu pecado – não eu. Tu enviaste a tentação, me dando a mulher. Portanto, não me culpes, pois no fundo sou inocente”. Você já culpou Deus por seus pecados? “Deus poderia ter me impedido”, ou “se Deus sabe de todas as coisas, sabia que eu iria pecar desde o começo; portanto, poderia ter me parado antes”; “eu orei, e Deus não afastou a tentação; o pecado não foi minha culpa”. Tudo isso soa familiar, não é? Agora você sabe exatamente por que Tiago começou sua profunda revelação sobre tentação com as palavras: “Ninguém ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus”. Deus não é a fonte de nenhuma tentação. Sempre que você se descobre pensando: “se Deus tivesse...” ou “não foi minha culpa, porque...” sabe que está tendo uma atitude de culpar outros que só resultará em terremotos em sua vida. A Bíblia é clara: O Senhor não tenta a ninguém – direta ou indiretamente. Nunca. DEUS: O DOADOR DE TODA BOA DÁDIVA A passagem, porém, vai adiante e revela algo surpreendente. Se Deus não é a causa da tentação, então qual exatamente é a sua causa? Leia com atenção as últimas linhas do texto de Tiago: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (v.17). Se você conhece o Livro de Tiago, é possível que já se tenha perguntado o que essas palavras têm a ver com tentação. A resposta é: tem tudo a ver! Veja bem, a tentação busca somente nosso pecado, e o pecado busca nossa destruição (como você verá logo a seguir). Se Deus está por trás das tentações, em última análise deve ser um Deus vil, que tem prazer em nos ver sofrer r sentir dor. Será que este é o caráter de Deus? Lamentavelmente, creio que é assim que pensamos, nos recantos mais sombrios de nosso coração, até conhecermos a verdade. Veja como soa: “Se Deus me amasse, não permitiria que aquela tentação me atacasse” ou “Se Deus realmente se preocupasse comigo, saberia como sou fraco e certamente teria me ajudado – mesmo que só um pouco –, mantendo a tentação longe de mim”. Você percebe o que estamos fazendo! Atacamos os motivos de Deus! Despedaçamos seu coração. Ele poderia ter interrompido a tentação, então não teríamos pecado. Já que ele não o fez, seu coração deve ser frio, duro e até cruel. Tiago deve ter antecipado a perversidade de nosso coração e nossos pensamentos dúbios, de maneira que revelou a verdade sobre Deus e as tentações. Em vez de enviar dardos de destruição, veja o que Deus envia: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito”. Tenha isso bem claro em sua mente: Deus não é autor de nenhuma tentação. Ele sempre é o autor de todo o bem em nossa vida. Como poderíamos saber desse fato sobre Deus, se a Bíblia não revelasse? Como eu poderia saber que por trás de “toda boa dádiva e todo dom perfeito” está a mão de Deus? Normalmente pensaríamos que as “coisas boas” que nos acontecem são o resultado de nossos esforços ou apenas “acontecem”. Isso, porém, nem de longe é verdade. Será que podemos acreditar que Deus está por trás de toda tentação que nos acomete, mas não conseguimos crer que ele está por trás de cada boa dádiva? É como se Tiago estivesse prevendo nossa incredulidade – ele utiliza duas vezes a palavra “todo” num grupo de sete palavras. “Toda” – isso mesmo: “TODA” é o que ele tem em mente. Toda boa dádiva, e todo dom perfeito – procedem do alto. Podemos receber uma “dádiva” de outro ser humano, entretanto, se ela é “boa” e “perfeita”, você pode estar absolutamente certo de que em última análise “desceu do Pai das luzes”!

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Assim, qual é o verdadeiro motivo e o método de Deus? Somente boas dádivas e dons perfeitos procedem de suas mãos. Nunca tentações malignas. Não esqueça o que Paulo ensinou sobre o envolvimento divino em nossas tentações, como vimos no capítulo anterior: em sua soberania, Deus limita toda tentação que vem sobre nós e nos dá um meio de livramento. Além de nos dá tudo de que precisamos para nos livrar do mal, ele também nos dá tudo o que é bom! Sempre que cometemos um pecado com graves conseqüências, imediatamente somos tentados a acreditar que o coração de Deus não está cheio de amor. Somos tentados a pensar que está cheio de más intenções. Note como a serpente levantou essa dúvida quanto ao caráter de Deus no jardim do Éden: “Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:4,5). Preste atenção nessas palavras sutis e enganadoras e verá duas mentiras fortíssimas esgueirando‐se na mente de Eva: primeiro, a serpente diz que o caráter de Deus não é perfeito porque ele mentiu. Deus pode ter dito: “Certamente morrereis...”, mas a verdade é que “certamente não morrereis”. Portanto, argumentou a serpente, Deus pode mentir novamente – você não pode confiar nele ou em sua Palavra. Segundo, os motivos de Deus não são perfeitos porque deliberadamente Deus retém algo que vocês poderiam e na verdade deveriam possuir: “ Deus sabe [e não contou a vocês, não é?...] que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5). Portanto, Deus não tem compromisso com vocês e com seu bem‐estar. Ele é egoísta e retém o que lhes pertence por direito. Você percebe como essa estratégia sempre funciona? Difamar e distorcer o caráter de Deus é uma estratégia usada constantemente pelo inimigo. Por quê? Porque no momento em que a dúvida sobre Deus entra em seu coração, você escancara a porta para muitas tentações. Deus disse a verdade? Certamente, pois Adão e Eva morreram, exatamente como ele dissera. A motivação de Deus era buscar o bem deles? Certamente, pois eles não se tornaram iguais a Deus – tornaram‐se iguais a seu inimigo. Juntamente com o “conhecimento do mal” veio toda sorte de males sobre suas vidas. Quando você reflete no significado das palavras de Tiago, percebe que novamente ele antecipou o que nós estaríamos pensando: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1:17) Haverá algum momento em que essas duas verdades sobre o caráter e a motivação de Deus não se aplicarão? Será que Deus poderia ficar tão irado ou frustrado conosco, a ponto de seu coração se voltar contra nós e ele mandar tentações para pecarmos? Tiago descreve o Senhor com aquele “em quem não pode existir variação ou sombra de mudança”, Deus não mandou, não manda e jamais mandará tentação contra você. A terceira mentira sobre tentações é que não podemos conhecê‐las ou compreendê‐las, porque são misteriosas e ocultas. Nada poderia estar mais distante da verdade! As “tentações” são compreensíveis; quanto mais você presta atenção nelas, mais as compreende e tem controle sobre elas. Com o tempo, é possível até antecipá‐las, sabendo quando e onde emergirão das sombras. Não devemos ignorar os métodos das tentações! O Senhor jamais envia tentações sobre alguém. O Senhor sempre é a fonte de toda boa dádiva e todo dom perfeito. O Senhor revela abertamente como as tentações operam. Agora, vamos realmente tratar de como você pode derrotar as tentações – exatamente onde elas são mais vulneráveis! OS SETE ESTÁGIOS DE TODA TENTAÇÃO Ao ler a Bíblia, você depara com uma verdadeira mina de ouro de verdades. Quanto mais cava, maior o tesouro que extrai. Tiago 1:14,15 tem apenas três dezenas de palavras, mas desvenda completamente a obra interior de toda tentação: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cônica, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”. 58


Número Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4 Estágio 5 Estágio 6 Estágio 7

Texto Bíblico “Quando esta o atrai, a própria cobiça, e seduz a cobiça, depois de haver concebido, dá a luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”

Estágio OLHAR COBIÇA SEDUÇÃO CONCEPÇÃO NASCIMENTO CRESCIMENTO MORTE

O versículo 14 introduz a questão “cada um é tentado...” e apresenta os sete passos, que relacionamos abaixo de forma resumida: ESTÁGIO 1: OLHAR – “QUANDO ESTA O ATRAI” Você é tentado “quando” alguma coisa acontece – se nada acontece você não cai na tentação. “Cada um é tentado... quando esta o atrai”. A palavra “atrai” é emprestada da caça e da pesca, quando um peixe vai saindo lentamente para fora de seu esconderijo, ou quando um animal vai até o local onde há uma armadilha pronta para pegá‐lo. O quadro é de uma pessoa sendo distraída por algo que desvia sua atenção de um foco principal. Pense sobre ser “atraído” – trata‐se de uma linha sutil, quase imperceptível, entre estar num estado seguro e protegido, cuidando de sua vida, e escorregar para um estado de risco, no estágio inicial da tentação. A menos que você seja distraído daquilo que está fazendo, não pode ser atraído para a tentação. Veja como acontece: um ruído, alguém que passa por você, um telefonema, um “pensamento distraído” que parece surgir do nada, uma carta, uma pessoa que atravessa seu caminho, um perfume que traz velhas lembranças de pecados anteriores, uma carteira de dinheiro caída entre as árvores, seu vizinho que constrói uma linda piscina, enquanto seu próprio quintal é feio, o caixa que lhe dá dinheiro a mais por engano, alguém que lhe conta uma fofoca apimentada, o colega de trabalho casado que fica dando dicas tentadoras sobre o que poderia acontecer durante a próxima viagem de negócio juntos. Esse primeiro estágio é chamado de “olhar” porque desempenha o papel da porta de entrada na terra da tentação. A tentação jamais poderá tocá‐lo sem primeiro “atrair” seu olhar. Guerreiros hábeis aprendem como discernir quase imediatamente quando estão sendo atraídos – e recuam no mesmo momento! Se você não entra pela porta, não pode ser tentado! O segredo do Estágio 1 é: recue imediatamente quando sente que está sendo atraído! ESTÁGIO 2: COBIÇA – “A PRÓPRIA COBIÇA” Faça uma “checagem de tentação”. Pense sobre você mesmo e as maiores fontes de tentação que enfrenta. Por exemplo, com que freqüência ouve alguém dizer: “Aquela garrafa é uma tentação” ou “aquele dinheiro sobre a mesa era uma tentação muito forte”; “meu chefe é a pessoa mais injusta que conheço e me faz trabalhar tanto que uma hora vou perder a cabeça e começar a roubar a empresa, para compensar”; “se meu cônjuge fosse mais romântico, eu não seria tão tentado a buscar satisfação com outra pessoa”; “eles cortaram minhas horas extras, de maneira que tive de mentir na declaração de IR, para poder pagar as contas”; “ela se insinuou para mim de maneira tão forte, sábado à noite, que não consegui resisti à tentação”. Seja qual for a motivação de sua tentação – raiva roubo, imoralidade, ódio, egoísmo, inveja, embriaguez, pornografia ou mentira –, veja se você não consegue identificar as maiores fontes de suas tentações: 1. A principal “pessoa” que me tenta:__________________________________________ 2. A principal “situação” que me tenta:_________________________________________ 3. O principal “objeto” que me tenta:__________________________________________ 4. O principal “lugar” onde sou tentado:________________________________________ 5. O principal “pensamento” que me tenta:_____________________________________ Imagine se todas essas coisas que o tentam simplesmente desaparecessem! A vida seria maravilhosa, não seria? A santidade se tornaria uma “sopa”, se essas fontes de tentação se desvanecessem. Certo? Errado. Veja essas palavras chocantes: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz”. Qual é a fonte de toda tentação que você enfrenta? Você mesmo. Eu??? Sim, você. A única razão pela

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qual a tentação “tenta” você é sua própria cobiça. Se ela não estivesse operando em sua vida, aquela situação ou pessoa não o importunariam. A única razão para você atravessar aquele portal é que ouve seu “nome” sendo chamado! Seus desejos ocultos o atraem. Sem tais desejos, por que faria alguma coisa? Neste momento, estou no meio de uma dieta de um mês, para perder cinco quilos indesejáveis. São 15h32, e a fome esta começando a incomodar meu estômago. Digamos que minha esposa venha até mim com alguns biscoitos de chocolate e uma xícara de café quentinho. Quanto eu seria tentado? Agora, vamos mais adiante com este mesmo exemplo. Digamos que terminei de fazer uma refeição e comi dois pedaços de torta de amora na sobremesa. Vamos nos sentar na varanda, e Darlene traz dois dos biscoitos de chocolate. Será que eu seria tentado? O que fez diferença e minha vulnerabilidade à tentação? A tentação só é eficaz por causa do que há dentro de você e não fora. Que revelação poderosa na Palavra de Deus! Portanto, quando o jovem que aconselhei recentemente disse: “Aquela garota me tenta demais!”, qual era a verdade? Ou no caso do adolescente que diz: ”Não pude me controlar: aquele dinheiro sobre a mesa era tentador demais”. A mulher não era a fonte de tentação, mas sim seu próprio coração cheio de cobiça. O dinheiro esquecido sobre a mesa não era a fonte de tentação, mas sim seu coração ganancioso. Quando a Bíblia diz “pela sua própria cobiça”, a palavra “cobiça” significa algo que nos atrai, qualquer coisa que desperta em nós um desejo incontrolável. Quando você deseja comida, é positivo, mas se você permite que o desejo por comida ultrapasse a barreira do autocontrole, cai no pecado da gula. Cada desejo que temos foi dado por Deus. Deus colocou dentro de nós todos os desejos humanos, como um ato soberano da criação. Juntamente com os desejos, o homem tem também a liberdade de utilizar os meios apropriados para satisfazê‐los sem pecado. A tentação sempre age sobre um desejo dado por Deus e tenta nos induzir ao pecado em duas direções. Primeira, induzindo o desejo dado por Deus a ultrapassar seus limites normais e exceder‐se. Segunda, induzindo o desejo dado por Deus a buscar sua satisfação usando meios “fora dos limites”. A sede de toda tentação que você enfrenta é seu próprio coração. Se você é tentado, nunca culpe outras coisas ou pessoas: pegue um espelho e aponte o dedo para a pessoa que vê diante do espelho. Agora, cada vez que for tentado, você já sabe que há desejos espreitando dentro de seu coração. O segredo do Estágio 2: Toda tentação só é eficaz por causa de meus desejos pessoais. ESTÁGIO 3: SEDUÇÃO – “E SEDUZ” Este terceiro estágio é chamado “sedução” porque é exatamente o que o texto quer dizer. Se você já pescou, conhece a importância estratégica de utilizar a isca certa e como fazê‐la se mover pela água. Este é o estágio em que o desejo em você cresce de uma pequena atração para uma vontade avassaladora. É quando você é seduzido, aliciado e atraído com destreza para cada vez mais perto do objeto de desejo. Seduzir significa atrair com habilidade suscitando esperança ou desejo. Não esqueça que embora um objeto em particular só possa tentá‐lo por causa de seu desejo interior, aquele mesmo objeto pode influenciar seu desejo, incitando‐o cada vez mais. Um versículo interessante em Provérbios mostra os dois lados da sedução: o interior e o exterior: “Não cobices no teu coração [sedução interior] a sua formosura, nem te deixes prender com as suas olhadelas [sedução exterior]” (Pv 6:25) Qual é o propósito de toda sedução? Aumentar seu desejo, de forma que ele influencie seus pensamentos e atitudes. Este é o estágio em que você realmente “quer” fazer algo. Quando seu desejo torna‐se mais forte, você se torna cada vez menos consciente de tudo o mais em sua vida e concentra‐se no objeto do desejo. O desejo incontrolável cega, não é? Há uma passagem mais clara em Provérbios que mostra como a sedução aumenta o desejo: “Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta e astuta de coração. É apaixonada e inquieta, cujo pés não param em casa; ora está nas ruas, ora, nas praças, espreitando por todos os cantos. Aproximou‐se dele, e o beijou, e de cara impudente lhe diz: [...] Vem, embriaguemo‐nos com as delicias do amor, até pela manhã; gozemos amores. Porque meu marido não está em casa, saiu de viagem para longe. [...] Seduziu‐o com as suas muitas palavras, com as lisonjas dos seus lábios o arrastou. E ele num instante a segue, como o boi que vai ao matadouro...” Provérbio 7:10‐22 Tudo o que o Estágio 3 faz é atirar lenha seca no fogo ardente de seu desejo. A lenha pode ser atirada por seu próprio coração, ou por ações externas de outros. Todas as ações externas da sedução focalizam‐se em 60


apenas uma coisa: fazer seu desejo crescer a tal ponto que você não se importa mais com o preço que terá de pagar para satisfazê‐lo. Em áreas de tentações nas quais você cometeu pouco pecado ou jamais pecou, geralmente se passa um longo tempo de sedução repetitiva até que seu desejo cresça o suficiente para fazê‐lo pecar. Entretanto, se você peca repetidamente em certa área, assim que a tentação ergue sua cabeça enganadora acima do horizonte, seu desejo é aguçado com muita rapidez, como se você nem tivesse passado pelo estágio da sedução. Na realidade, seu desejo nem precisou ser instigado, ele já tem vontade própria e compromisso com o pecado. A sedução pode ser interrompida. Se a tentação é externa, fuja. Se é interna, pare com aquela conversa interior imediatamente. Quanto mais rápido você extingue as chamas do desejo, mais rápido você o controla. Quando seus desejos são controlados, a tentação se desvanece. O segredo do estágio 3 é: Extinga os desejos impróprios interrompendo todos os processos interiores e fugindo da sedução externa. ESTÁGIO 4: CONCEPÇAO – “A COBIÇA, DEPOIS DE HAVER CONCEBIDO” Há um abismo enorme entre nosso “desejo” e sua satisfação por meio do “pecado”. Toda tentação tem um – e apenas um – objetivo: levá‐lo ao pecado. Primeiro a tentação o atrai, então seu desejo responde; depois, seu desejo cresce com a sedução e finalmente “concebe” a decisão de pecar. Note com atenção a sequência neste versículo: “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá a luz o pecado...” Quando termina a sedução e começa a “concepção” nos estágios da tentação? No momento em que você toma a decisão de satisfazer seu desejo por meio do pecado, a sedução senta – seu trabalho está terminado. A sedução é o elo poderoso entre o desejo e a decisão. Desejo Sedução Decisão A sedução só pode começar quando o desejo é instigado. Como você pode seduzir alguém que está dormindo, ou com a atenção voltada para outra direção? O fluxo da sedução dirige o desejo para cima, até que ele literalmente supera seu poder de decisão. É por isso que quando você toma a decisão de pecar, sente‐se quase aliviado ou experimenta algum tipo de alivio emocional. A pressão atenua‐se, e chega a hora de pecar. Quanto mais prolongada a sedução, maior é a transição entre as três fases específicas. Quanto maior é o estágio da sedução, maior é a facilidade de identificar em que fase você se encontra. • Fase 1 da sedução: Foco emocional – “sentimentos” • Fase 2 da sedução: Foco mental – “pensamentos” • Fase 3 da sedução: Foco volitivo – “escolhas” As três fases – sentimentos, pensamentos e escolhas – sobrepõem‐se e influenciam‐se entre si. Passando do “desejo” para a “defesa”, e finalmente desta para a “decisão” de pecar. As três fases da sedução Desejo (sentimento) Defesa (pensamentos) Decisão (escolhas) Durante a Fase do Desejo, você experimenta uma atração emocional crescente pela tentação e “sente” com força cada vez maior que quer fazer aquilo. O desejo finalmente instiga seus pensamentos, racionalizando e buscando uma justificativa para entregar‐se ao pecado. Durante a Fase da Defesa, você começa a racionalizar consigo mesmo por que é justificável cometer aquele pecado. Duas táticas de defesa são usadas com freqüência: a negativa e a positiva. Para cometer o pecado, você precisa diminuir as razões para não fazer (negativa) e aumentar as razões para fazer (positiva). As emoções nunca têm o poder de fazer a pessoas pecar. A mente e a vontade sempre estão envolvidas, e você precisa da permissão e da afirmação delas. Lentamente você retira os pesos da Balança da Decisão para mudar seus pensamentos das razões para não fazer algo para as razões para fazê‐lo. Às vezes você na verdade retira as razões para não fazer algo da 61


balança, ou as esconde nas cavernas da mente. Outras vezes você transforma a razão para não fazer algo numa razão para fazê‐lo, trazendo à memória a mágoa que uma pessoas possa ter‐lhe causado no passado, ou inventando maus motivos para ela em sua imaginação. A razão mais poderosa para se cometer u pecado é quando você pega uma razão negativa para não pecar e a transforma numa razão positiva. É incrível como todos nós somos criativos quando somos impelidos pelas emoções. Por exemplo, muitas pessoas casadas, que são tentadas a ter um envolvimento adúltero, começam com as razões negativas, dizendo que “são casadas” e que “fizeram votos”. Depois, porém, destroem essas razões lembrando de todas as coisas ruins que o cônjuge já fez, terminando com uma razão positiva: meu cônjuge vai ter exatamente o que merece, aquele rato sujo!” Durante a Fase da Decisão, você faz a escolha. É o último estágio da concepção, quando você decide cometer o pecado e começa a planejar quando e como o fará. Lembre que as três fases deste estágio são relativamente fáceis de perceber em sua vida. Primeiro, você começa ficando emocionalmente atraído pelo pecado; segundo, você começa a elaborar boas razões para cometer o pecado; terceiro, começa a planejar como cometer o pecado. Embora as primeiras tentativas possam ser difíceis, aprenda a medir seu próprio “pulso” nesta questão. Preste atenção como está e ficará surpreso com o que descobrirá. ESTÁGIO 4: O PONTO MAIS FRACO DA TENTAÇÃO – “A COBIÇA, DEPOIS DE HAVER CONCEBIDO” Em minha experiência em aconselhamento, tenho visto que essas três fases são úteis para discernir onde um cristão está, ao cair no pecado. Fazendo duas ou três perguntas, do tipo: “Como você cometeria este pecado, se decidisse fazê‐lo?”, você ficaria impressionado com as respostas. Se não sabem como fariam, é bom sinal, pois mostra que não estão na fase da “escolha”. Este gráfico ajuda a resumir os sete estágios da tentação. 1 2 3 4 5 6 7

Olhar Cobiça Sedução Concepção Nascimento Crescimento Morte Emoção Pensamento Vontade Não peca Não peca Não peca Decide pecar Peca Mais pecado Pecado maior

Ao olhar para este gráfico, fica claro que a vitória sobre a tentação fica mais fácil quanto mais cedo você interrompe a tentação. Quando você começa a prestar mais atenção aos próprios sentimentos, pensamentos e escolhas, discernirá exatamente onde está dentro dos sete estágios. Este quarto estágio é o ponto mais fraco de toda tentação e o local onde você deve concentrar cuidadosamente seus esforços. Lembre das três fases: • A fase inicial: Você sente fortemente que quer cometer o pecado. • A fase intermediária: Você pensa rápido sobre as razões para cometê‐lo • A fase final: Você planeja com cuidado como consumar o pecado. Todos os três – sentimento, pensamento e planejamento – ocorrem dentro de você. Não são atitudes subconscientes, mas sim conscientes, que emanam bem do centro de sua vida. Embora talvez você nunca as tenha notado antes, são os atores principais em toda tentação que você enfrenta. Assim, o que você deve perguntar a si mesmo? Primeiro, o que sinto que desejo fazer? Numa escala de 1 a 10, quanto eu realmente quero cometer este pecado? Há quanto tempo me sinto dessa forma? Segundo, o que estou pensando sobre este pecado? Estou tentando racionalizar por que este pecado não seria tão mal? Estou tentando me justificar usando os erros de outras pessoas? Terceiro, o que estou planejando fazer com este pecado? Já pensei sobre quando e onde eu o cometeria? Já projetei o quadro em minha imaginação? Ao fazer essas perguntas simples, você descobre exatamente onde está nessas três fases perigosas. Se não consegue imaginar nenhum plano de ação, mas apenas começou uma lista de razões, você está no início da fase intermediária. O que você deve fazer depois que descobre exatamente onde está? Reconheça que ainda não cometeu nenhum pecado – portanto, não é tarde demais. Reafirme seu compromisso com a verdade e sua obediência a ela, dizendo em voz alta: 62


1. Tenho compromisso em ser “santo em todo o meu procedimento”. 2. Submeto‐me ao Senhor e escolho fazer sua vontade para minha vida. 3. Sujeito‐me ao Espírito Santo e à sua obra em minha vida. 4. Renuncio a todas as paixões da carne. 5. Reconheço que esta é uma tentação comum, que todos enfrentam. 6. Creio que o Senhor está limitando esta tentação, para que eu possa resistir. 7. Creio que o Senhor está providenciando um meio de livramento. 8. Sei que o Senhor não é o causador desta tentação. 9. Sei que o Senhor é o doador de toda boa dádiva e todo dom perfeito. 10. Sei que o Senhor me ama e deseja o melhor para mim. 11. Sei que este pecado entristece a Deus e me causará dores. 12. Fui seduzido por esta tentação. 13. Sinto meus desejos me impelindo na direção da tentação. 14. Levo “cativo todo pensamento a Cristo” e paro com todos os pensamentos sobre este pecado. 15. Afirmo que estou plenamente consciente desta tentação e não estou sendo enganado. 16. Sei que esta tentação tem como alvo minha destruição. 17. Portanto, escolho voltar as costas para ela. 18. Submeto‐me totalmente a Cristo e resisto ao diabo. 19. Apresento todos os meus membros como armas da justiça. 20. Agradeço ao Senhor o seu sangue derramado e a minha salvação eterna. Só pelo fato de você orar e declarar essas verdades, “a verdade o libertará”, você quebrará o poder da mentira! Você ficará surpreso com a rapidez com que a tentação foge na noite, quando você traz a Luz! O “Princípio Cuspir Rápido” é uma ilustração engraçada, mas muito útil, extraída de uma viagem de pescaria que fiz ao Colorado, junto com meu filho, David. Tínhamos um guia que nos levou ao local mais “quente”, onde garantiu que poderíamos pescar quantas trutas quiséssemos. “É um local tão bom”, ele disse, “que toda vez que jogarem uma das minhas iscas feitas a mão pegarão uma truta”. Ele nos lembrou também de que era um local onde tínhamos de “pescar e soltar”, por isso teríamos de usar somente anzóis lisos. O guia nos levou até o local, nos posicionou na margem do rio e nos orientou para atirarmos a linha em certa área, deixando a isca ser levada pela correnteza. Joguei a linha coma isca e fiquei observando a bóia ser levada pela correnteza. Nada. Quando me preparei para recolher a linha, ouvi o guia dizendo: “deixou escapar um”. Fiquei surpreso, mas lancei a linha novamente. Enquanto observava a bóia sendo levada, o guia repetiu: “Deixou escapar outro”. Depois de uns momentos, acrescentou: “Acabou de deixar um peixe escapar”. Eu não sabia se ele era louco, ou estava zombando de mim! Frustrado, entreguei a vara de pescar ao guia e sugeri que me mostrasse como fazer. Afastei‐me da margem. Sorrindo triunfante. Ele atirou a linha no mesmo local onde eu atirara antes. Imediatamente uma grande truta mordeu a isca! Meu filho dobrava‐se de tanto rir, enquanto o guia me devolvia o equipamento, lembrando que havia muitos peixes ali, apenas esperando para ser fisgados, de maneira que eu “não podia deixá‐lo escapar”. Voltei à margem do rio, achando que o guia tinha “amaciado” o local para mim e que agora era minha vez de pegar a próxima truta. Joguei a isca exatamente no mesmo lugar e esperei, cheio de expectativa. Embora eu não seja especialista em pescaria, já peguei muitos peixes, e aquela situação estava se tornando embaraçosa. Depois de uns trinta segundos, ouvi o guia repetir aquelas palavras impossíveis: “Deixou outro peixe escapar”. Eu não acreditava! Não tinha sentido a mínima vibração na vara de pesca. Entreguei vara novamente ao guia, e outra truta me fez de tolo, sendo fisgada assim que ele atirou a linha. Eu não agüentava mais aquela situação e pedi que o guia me contasse seu segredo. Então ele sorriu pela primeira vez. ‐ Os peixes são realmente espertos. Como eles vivem num local onde os peixes devem ser soltos depois de apanhados, já foram fisgados dezenas de vezes, talvez centenas. Ficam observando a isca, depois tocam nela de leve, com a ponta da boca. Se sentirem qualquer coisa dura dentro, cospem imediatamente. É só uma fração de segundo. A razão de você não ter apanhado nenhum não foi porque eles não morderam a isca, mas sim porque você ainda não desenvolveu a sensibilidade necessária para fisgá‐los naquela fração de segundo antes que eles “cuspam” a isca!

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Enquanto eu refletia naquilo durante o restante do dia, ocorreu‐me que, como aquelas trutas, precisamos desenvolver um incrível senso de consciência. A tentação pode estar tentando nos apanhar, por isso temos de aprender a cuspi‐la rapidamente, sem lhe dar tempo de nos “fisgar”. Aquelas trutas eram como os cristãos mencionados em Hebreus: “Pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” (Hb 5:14). Que você e eu possamos nos tornar aqueles que têm tanta prática na santidade que possamos discernir imediatamente quando o desejo do coração está indo atrás daquilo que pode levar ao pecado. Como você pode vencer a tentação? Pratique o “cuspir rápido”! O segredo do Estágio 4 é: Decida com antecedência não pecar. Nunca se permita pensar numa boa razão para pecar, assim você jamais tomará a decisão de pecar. ESTÁGIO 5: NASCIMENTO – “DÁ À LUZ O PECADO” No instante em que a decisão de pecar é tomada, o “esperma” do pecado penetra no “óvulo” da vontade do indivíduo e a vida da escolha para o pecado é concebida. Na maioria dos casos, depois que o indivíduo concebe o pecado decidindo pecar, este nasceu ou é cometido rapidamente. Em alguns casos, ocorre uma lacuna entre a “concepção” e o “nascimento”, durante a qual o cristão tem uma última oportunidade de mudar de idéia e evitar o pecado. Durante esta “janela de oportunidade”, o Espírito Santo frequentemente opera com poder, insistindo com o cristão para que ele interrompa o pecado. A convicção inunda o coração, e o Senhor mais uma vez estende sua misericórdia, oferecendo ao indivíduo uma última chance de livramento. O segredo do Estágio 5 é: Se você está no caminho de pecar, obrigue‐se a se submeter à convicção do Espírito Santo e aborte o pecado, antes que seja tarde demais. ESTÁGIO 6: CRESCIMENTO – “E O PECADO, UMA VEZ CONSUMADO” Todo pecado cresce. Se você se entrega à ira, a ira cresce. Se você se entrega à cobiça, a cobiça cresce. Se você se entrega ao amor ao dinheiro, o amor ao dinheiro cresce. O pecado não se satisfaz numa única vez. O pecado é um vício. O pecado cresce como um organismo vivo, da concepção ao nascimento, e deste à maturidade. Entre o nascimento e a maturidade estão todos os estágios intermediários, à medida que ele cresce e se desenvolve. Um pecado cresce e espalha‐se até o próximo pecado e dali para o próximo. O pecado não se satisfaz no mesmo nível de pecado e degenera‐se em pecados maiores e mais longos. O pecado busca o controle. O segredo do Estágio 6 é: Cada pecado que você comete cava sua sepultura. Nunca acredite, nem por um momento, na mentira: “Vou pecar apenas mais esta vez”, pois o pecado se fortalece mais contra você a cada vez que você o comete. ESTÁGIO 7: MORTE – “O PECADO... GERA A MORTE” O poder e a presença do pecado crescem com maior firmeza à medida que o cristão repetidamente pecar. Com o tempo, e por causa das constantes derrotas diante de uma tentação em particular, o cristão lentamente começa a experimentar uma tendência ainda mais destrutiva. Nos estágios iniciais da prática deste pecado, ele poderia facilmente parar; nos últimos estágios, porém, mal consegue resistir – apesar de toda a sua determinação e orações sinceras. Embora alguns cristãos hoje ensinem que um cristão verdadeiro não pode cair nas garras do pecado, a Bíblia ensina que você pode e a experiência geral comprova isso. A Bíblia adverte repetidas vezes sobre o enorme perigo de o cristão cair sob o domínio do pecado. Pode‐se escrever todo um livro sobre este assunto, mas eis algumas passagens que podem estimular seu estudo: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões [...] Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para 64


obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça? [...] Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação. Romanos 6:12,14a, 16, 19b Quando você lê Romano 6, pelo comando de Paulo “não reine o pecado”, fica claro que certamente o pecado pode dominar a vida do cristão – por isso ele deu tal instrução. O pecado pode ter “domínio” sobre qualquer cristão que repetidamente sucumbe às suas tentações. Além disso, “iniqüidade leva a mais iniquidade”, confirmando o conceito de que um pecado sempre leva a um pecado maior. Por último, note a frase “seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça”, a qual ilustra a “morte” que se espalha com câncer na vida do cristão que vive sob o domínio de certos pecados. Com é esta “morte”? É como uma escuridão que se espalha lentamente, como a neblina matinal que se espalha pela paisagem da vida do indivíduo. A alegria, a paz e a segurança lentamente vão se desvanecendo, sendo substituídas pela depressão, ansiedade e dúvida. Tenho visto que os cristãos que experimentam um período prolongado sob o domínio do jugo pesado do pecado no final começam a duvidar de tudo, até da própria salvação. “Como alguém que é salvo pode levar uma vida secreta de pecado, com eu?” A resposta da Bíblia é: apresentando continuamente sua vida a um pecado, você não somente pode levar uma vida de pecado, como isso será inevitável. O pecado contínuo espalha trevas: “Aquele que diz estar na luz e odeia a seu irmão, até agora, está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos”. 1 João 2:9‐11 Quanto mais fundo no pecado o cristão penetra, mais fundo cai nas trevas. Quando o cristão continua cometendo o pecado, seus olhos lentamente vão ficando cegos. Não pode enxergar o que antes enxergava com facilidade. Quando você encontra um cristão que está “cego” ou “endurecido” diante de uma verdade óbvia sobre um aspecto de sua vida, imediatamente você sabe que pode haver pecados mais graves em sua vida, praticados há algum tempo. Aquela pessoa pode estar em amarras terríveis. Quando a amarra aumenta, até os pensamentos sobre o que fazer para se libertar se desvanecem naquela pessoa. Não pode enxergar por causa da escuridão do domínio do pecado. O terrível jugo do pecado continua empurrando e empurrando, até que o cristão perde todo o autocontrole naquela área de pecado: “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente; disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando‐se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade. 2 Timóteo 2:24‐26 Que revelação chocante! Embora alguns ensinem que esta passagem não se aplica aos cristãos, o contexto prova o contrário. Não se trata de uma passagem sobre “salvação”, pois o parágrafo anterior claramente descreve o comportamento pecaminoso e não a incredulidade em Jesus com Salvador. Será que de fato um cristão pode ser “feito cativo pelo diabo para cumprir sua vontade” em alguma área de sua vida? Certamente. Já perdi a conta do número de ocasiões em que estive em contato com cristãos desesperados, em vários lugares do mundo, que buscam ajuda para se livrar da terrível escravidão do pecado. O problema não é a salvação eterna desses indivíduos. Eles perderam a “sensatez”, caíram “nos laços do diabo” e tornaram‐se “cativos... para cumprirem a sua vontade”. Não perderam a salvação por causa dos pecados que cometeram – precisam apenas ser libertos deles e voltar a caminhar em santidade. Por isso Paulo disse aos Romanos, presos sob o domínio do pecado, para que se apresentassem ao Senhor e se colocassem sob o domínio da justiça. Paulo não disse que eles precisavam de salvação, nem que precisavam se converter novamente. Paulo não disse a Timóteo para levar os cativos à fé em Jesus Cristo como Salvador. Em vez disso, diz para “discipliná‐los em mansidão”, para que Deus “lhes conceda arrependimento” do pecado, para que possam “conhecer plenamente a verdade”, retornem à “sensatez”, escapem do “laço do diabo” naquela área e quebrem aquele cativeiro terrível. O segredo do Estágio 7 é: Independente do nível da escravidão sob a qual você se encontra, a obra de Cristo é suficiente para torná‐lo totalmente livre. 65


VOCÊ PODE VENCER A TENTAÇÃO No ministério, dificilmente há algo mais maravilhoso do que testemunhar o milagre da libertação do domínio do pecado ocorrer na vida de um cristão. É maravilhoso! Nas últimas três semanas, tratei com dois homens exatamente nesta questão. O primeiro levou quatro horas e meia até ajoelhar‐se e chorar: finalmente recobrou a sensatez e chorou amargamente diante do Senhor, quebrando o jugo do inimigo sobre si. O segundo levou menos de uma hora. Você precisava tê‐lo visto junto com sua esposa na manhã seguinte. Totalmente transformado! Aqueles homens eram cristãos sinceros? Certamente. Estavam escravizados pelo diabo em pelo menos uma área específica? Sim, e reconheceram isso rapidamente. Suas mentes estavam cegas? Com certeza. Estavam andando em trevas em algumas áreas de suas vidas? Sem dúvida. Estavam escravizados pela vontade do inimigo? Ambos se descreveram com palavras como “desesperado” e “preso”. O primeiro era pastor havia quinze anos. O segundo era pastor fazia quarenta e cinco anos. Havia dezoito meses o primeiro estava preso. O segundo estava vivendo em escravidão por mais de cinqüenta anos. Jamais pense que tal coisa não pode acontecer co você, meu amigo. A escolha consciente de pecar tem conseqüências terríveis e destrutivas, que literalmente podem devastar sua vida e a das pessoas a seu redor. Mas a boa notícia é que o sangue preciso de Jesus nos deixou completamente livres. De fato, 1 João 3:8b faz uma declaração poderosa: “Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo”. A libertação de todas as amarras do pecado foi providenciada pela morte e ressurreição de Jesus e é o direito e privilégio de todo aquele que crê. Meu amigo, se você está preso pelo pecado em sua vida, quero animá‐lo. Nunca é tarde demais para voltar, arrepender‐se, retornar à sensatez e ser libertado de todas as amarras do inimigo. Sua vida pode ser totalmente purificada. Sua consciência pode ficar limpa. Nenhum pecado, nenhuma amarra e nenhum demônio podem vencer nosso Libertador, o Senhor Jesus! Volte ao capítulo 5 e passe novamente pelos Dez Passos da Purificação. Se você ainda está em luta, procure seu pastor ou algum irmão piedoso. Revele seu pecado e peça ajuda. O Senhor sempre dá graça para aqueles que se humilham e buscam a purificação! 8 A PIOR TENTAÇÃO EM NOSSA CULTURA A sensualidade é facilmente o maior obstáculo à piedade... hoje e está causando o caos na Igreja. Piedade e sensualidade se excluem mutuamente. Aqueles que se apegam à sensualidade, enquanto estiverem presos nessa doce prisão, não alcançarão a piedade. R. Kent Hughes Recentemente numa reunião com um grupo de 40 homens, perguntei quais eram as três maiores tentações que os homens enfrentam hoje. Um deles, que estava nas primeiras filas, respondeu imediatamente: “Número 1: sexo; número 2: sexo; número 3: sexo!” Toda a sala explodiu em gargalhadas! Numa pesquisa recente, foi solicitado aos homens cristãos que relacionassem os pecados com os quais se debatiam com maior freqüência. Quando os resultados foram compilados, a imoralidade sexual, seja qual for o tipo, aparecia em 62% das respostas (o segundo pecado mais mencionado aparecia em apenas 12% das respostas). Para os homens, o problema da imoralidade sexual é cinco vezes maior do que o próximo problema grande que enfrentam. Embora possamos achar que seja um problema exclusivamente masculino, há cada vez mais evidência de que as mulheres são tão tentadas quanto os homens – de fantasias a envolvimentos físicos. Veja as telenovelas, tão populares entre as mulheres, cujos enredos saltam de um envolvimento sexual para outro. Recentemente, quando comentei sobre este problema com um vendedor que viaja bastante, ele riu alto e disparou: “Nos casos de envolvimento sexual em nosso escritório, ou nas ‘noitadas’ durante as viagens a trabalho, noto que sempre há uma mulher tão envolvida quanto o homem!” Há dois dias, Darlene e eu lideramos um retiro para casais, durante o qual um empresário compartilhou sobre a luta enfrentada pelas mulheres jovens que se envolvem em imoralidade sexual com colegas de trabalho e com chefes, para galgarem os degraus da carreira profissional.

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Pesquisas têm revelado que os sites mais visitados hoje na Internet não são de negócios ou de informação, mas de pornografia. Se você acredita que este é um problema “secular”, que não se infiltrou nos meios evangélicos, converse com alunos de seminários e de instituições cristãs e comprove como este problema é abrangente e destrutivo. Portanto, antes de entrarmos no tópico da “santidade positiva”, creio que seria útil avaliar a maior tentação isolada de nossa sociedade. A imoralidade sexual é claramente o pecado mais difundido e mais destrutivo de nossa cultura, apesar de raras vezes ser abordado e discutido nos círculos cristãos. Deixado sem oposição, ele acaba controlando e arruinando a vida daqueles que vivem sob seu domínio. Logo homens e mulheres perdem toda esperança de um dia ser “livres” e “purificados” novamente – adentrando a prisão sombria e solitária da derrota e do desespero. DEUS COMPREENDE SEU IMPULSO SEXUAL? Deixe‐me lhe fazer uma pergunta estratégica: você acredita que o Senhor realmente compreende seus impulsos sexuais? Crê que ele o criou, inclusive com desejos sexuais, mas que algo deu errado no processo? Talvez Deus olhe para o outro lado, fazendo “vista grossa” à imoralidade. Quem sabe, quando ele disse “sede santos em todo o vosso procedimento”, tenha decidido ignorar o problema da imoralidade sexual. Talvez você acredite que o Senhor de fato criou o ser humano com fortes impulsos sexuais, mas tem prazer em vê‐los se debatendo para se controla. Nesse caso, Deus deve ser um grande sádico – dando‐nos algo que desejamos intensamente e depois zombando e dizendo: “Não faça isso!” Todos esses pensamentos não poderiam estar mais distantes da verdade. O Senhor inventou o sexo e colocou o impulso sexual na humanidade, como um presente maravilhoso, por muitas razões boas. Deus conhece e compreende os desejos e as necessidades que acompanham esse presente e providenciou uma resposta notável para seu pleno gozo e realização. Não esqueça, quando Deus disse “tornai‐vos santos em todo o vosso procedimento”, incluía também a área sexual. Você deve ser santo em cada parte de sua vida e seu comportamento – inclusive em tudo o que diz respeito a sua vida sexual. Esta é uma questão delicada, por isso precisamos ter três coisas em mente ao explorarmos o assunto. Primeiro, temos de nos manter dentro do ensino bíblico. A Bíblia não nos deixa no escuro sobre essa questão, mas revela a mente e o coração de Deus sobre a sexualidade e a imoralidade. A principal passagem do Novo Testamento sobre imoralidade sexual será apresentada sem constrangimento como a resposta divina ao problema. Não acrescentarei comentários psicológicos ou sociológicos à Palavra de Deus sobre esta questão: pelo contrário, abrirei os textos bíblicos que contêm respostas diretas às perguntas. Segundo, precisamos ser diretos. De todos os capítulos, este será o mais difícil de escrever e, talvez, de ler. A sexualidade é uma questão muito particular. Quando me debatia sobre como abordar essa questão, o Senhor me lembrou de que aquilo que ele disse (e como disse) nas Escrituras revela exatamente o que deseja que saibamos. Nem mais, nem menos. Com essas discussões, vamos abordar uma passagem básica, escrita por Paulo, sob inspiração divina, para uma igreja local. Quando esta carta foi recebida, foi lida em voz alta para toda a congregação. Paulo escreveu essas palavras bem diretas para uma audiência mista, que a ouviu num local publico. Portanto, serei tão direto quanto a Bíblia é nessas questões relacionadas à sexualidade. Terceiro, precisamos manter o foco. Este livro tratará da tentação sexual e não atacará os males da imoralidade em nossa sociedade como um todo. Se você achar que estou ignorando questões culturais relevantes, lembre‐se de nosso foco: o que a Bíblia ensina sobre imoralidade sexual? O espaço não nos permitirá uma apresentação ampla e completa do amor no casamento, portanto, este capítulo se limitará a uma apresentação específica do que uma passagem do Novo testamento ensina sobre a solução de Deus para a imoralidade sexual. O PADRÃO DIVINO PARA A CONDUTA SEXUAL Muitas pessoas, inclusive cristãos, na entendem com clareza o que é um comportamento “santo” e o que não é na área da sexualidade. Há alguns anos, quando ministrava a conferência de treinamento 7 Leis do aprendiz num hotel, senti em primeira mão a profunda confusão em torno dos padrões sexuais de Deus, de uma maneira surpreendente. Na segunda tarde da conferência, muitos dos participantes estavam espalhados ao 67


redor da piscina, conversando sobre o que tinham aprendido a respeito dos métodos pedagógicos. Eu me juntei a um pequeno grupo, e ficamos um tempo conversando, até que pedi que cada um dissesse o nome, de onde era e por que estava participando da conferência. Cada um foi falando, a te que chegou a vez de uma jovem, a qual disse que estava apreciando a conferência e que viera de outro Estado, junto com o namorado. Disse que o namorado não estava ali no grupo, que ficara no quarto assistindo ao beisebol na TV. Sorri e perguntei se ele também estava matriculado no curso. Ela respondeu: “Não, ele ainda não é cristão, mas quis me acompanhar”. Como você pode imaginar, a afirmação daquela jovem, de que estava compartilhando um quarto com o namorado numa conferência do ministério Através da Bíblia criou uma situação delicada. Perguntei se tinham passado a noite juntos, e ela respondeu que sim sem nenhum constrangimento e acrescentou que já viviam juntos por quase dois anos (notei naquele momento que ninguém no grupo, antes tão animado, parecia sequer respirar). ‐ Você já é cristã, ou ainda está se chegando a Cristo? – perguntei. ‐ Já sou cristã há quase cinco anos e estou crescendo – ela disse a que igreja pertencia e emendou, entusiasmada, que realmente gostava da classe da Escola Dominical. Fiz uma oração silenciosa pedindo graça e perguntei: ‐ Como acha que Deus se sente por você e seu namorado morarem juntos? ‐ Não tem problema! – ela respondeu com um sorriso radiante. – Creio que ele se tornará cristão, e então iremos nos casar. ‐ Se Deus lhe dissesse que não devia ter envolvimento sexual com seu namorado, nem morar com ele antes do casamento, o que você faria? Pela expressão corporal da jovem, percebi que tal idéia nunca passara por sua cabeça. ‐ Bem, teria de pedir a meu namorado que mudasse de casa. Seria difícil, mas eu amo a Deus e obedeceria a ele. Por que pergunta? Olhei ao redor para o pequeno grupo, mas como era de esperar, não é comum que alguém leve a Bíblia para a piscina, numa tarde de sol. ‐ Por que você não vai até seu quarto e apanha a Bíblia? Quero mostrar‐lhe algo muito importante sobre a vontade de Deus para sua vida e de seu namorado. Creio que você gostará de saber. Ela foi buscar a Bíblia. Nenhum dos presentes parecia ter algo a dizer. Os mais maduros estavam orando em silêncio, percebendo claramente que Deus tinha um propósito naquela conversa. Nos minutos que se seguiram, mostrei àquela jovem as passagens bíblicas sobre a questão e pedi que lesse em voz alta. Logo ela percebeu qual era a vontade de Deus – ninguém teve de dizer‐lhe, porque ela leu por si mesma na Bíblia. Então, pela primeira vez, ela demonstrou seu desconforto. Não por causa dos presentes ali na piscina, mas por causa da obra interior de convicção do Espírito Santo. Lentamente a jovem levantou os olhos da Bíblia e disse: ‐ Então, o que estou fazendo é “fornicação” – e é um pecado grave aos olhos de Deus, certo? Assenti, esperando que o Espírito Santo conduzisse. ‐ bem – ela continuou, com os olhos marejados –, então meu namorado terá de ir embora. Não podemos morar juntos sem nos casar. Certo? Assenti, enternecido. Como o Senhor foi bondoso, mostrando sua vontade àquela jovem de forma mansa e delicada. Nunca esquecerei o que ela disse a seguir: ‐ Não cresci num lar cristão. Não conhecia nenhum cristão. Todas as minhas amigas dormiam com os namorados, por isso nunca me preocupei com isso. Mas já sou cristã há cinco anos, vou à igreja quase toda semana. Por que ninguém me falou que dormir com o namorado sem estar casada era pecado? Naquele momento, todos no grupo desviaram o olhar. Ninguém falou, quando a convicção do Senhor moveu‐ se do pecado daquela jovem para o pecado coletivo dos cristãos em todo lugar, que escondem o claro ensinamento da Bíblia por medo de ser rejeitados ou ridicularizados. Algo no fundo de meu ser quebrou, quando ela fez aquela pergunta difícil e dolorosa. Desde então, não considero nenhuma verdade insignificante. Que o Senhor crie essa mesma convicção em todo aquele que conhece sua Palavra. 68


DEFININDO IMORALIDADE SEXUAL O que exatamente é pecado sexual? Abaixo, relacionamos as cinco principais descrições bíblicas de imoralidade sexual: 1. Imoralidade sexual é ter relações sexuais antes do casamento, com qualquer pessoa. Um padrão inconfundível na Bíblia concernente ao comportamento sexual é que o sexo antes do casamento, com qualquer pessoa, é pecado. Em geral, o sexo entre pessoas solteiras é chamado de fornicação. Entre pessoas casadas é chamado de adultério e entre pessoas do mesmo sexo é chamado de homossexualismo. O sexo antes do casamento, praticado com o futuro cônjuge, é tão pecaminoso quanto com qualquer outra pessoa. Noivos não são casados, até que a união seja oficializada pelas autoridades civis e religiosas. Relações sexuais entre noivos antes da oficialização do casamento, é fornicação. Casais de noivos que fazem “votos secretos” entre si para poderem ter relações sexuais antes de estar formalmente casados não estão casados aos olhos de Deus e estão cometendo fornicação. De vez em quando encontro casais que não são legalmente casados, que tiveram relações sexuais e que acharam que assim estavam casados aos olhos de Deus. O sexo antes do casamento nunca foi chamado de casamento na Bíblia – é sempre chamado de fornicação ou adultério. A vontade de Deus é clara: não se deve manter relações sexuais com ninguém, antes do casamento. 2. Imoralidade sexual é ter relações sexuais após o casamento com outra pessoa além do cônjuge. Depois do casamento, a relação sexual mantida com qualquer outra pessoa além daquela com quem o indivíduo está casado é sempre chamada de imoralidade 3. Imoralidade sexual é qualquer atividade sexual praticada com qualquer pessoa além do cônjuge. Inclui qualquer coisa que uma pessoa faça com outra (exceto com o cônjuge) com o propósito de obter prazer ou satisfação sexual. Ou seja, atividades sexuais solitárias, com crianças, com membros da família (incesto) ou com um parceiro contratado (prostituição). Todas essas atividades são imorais aos olhos do Senhor. 4. Imoralidade sexual é fazer qualquer coisa em si próprio com o propósito de instigar o desejo sexual. Este princípio geral é muito útil para ajudar o cristão a definir se está indo na direção da imoralidade. A Bíblia direciona a realização dos desejos sexuais para o cônjuge. Buscar deliberadamente instigar ou satisfazer os desejos sexuais com qualquer outra pessoa além do cônjuge ou de qualquer outra forma está fora dos limites da vontade de Deus. Isso inclui as linhas eróticas “0900”, sites eróticos na internet e casas de massagem com propósitos sexuais. Relacionamentos muito íntimos entre casados e pessoas do sexo oposto também podem levar à infidelidade emocional ou sexual e devem ser evitados. 5. Imoralidade sexual inclui pensamentos de cobiça. Jesus definiu claramente os “pensamentos impuros” como imoralidade sexual em Mateus 5:28: “Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela”. A pornografia inclui revistas eróticas, novelas apimentadas, boates de strip‐tease, filmes com cenas de nudez e sexo e entrevistas de conteúdo imoral. Todos esses elementos são produzidos com o propósito de estimular a imoralidade sexual. Agora que você já conhece o padrão divino da conduta sexual, como avalia seu comportamento nesta área, nos últimos meses? Tem sido sexualmente puro ou impuro? Tem buscado – direta ou indiretamente – estimular ou satisfazer seus desejos sexuais com qualquer pessoa além do cônjuge? Se você não é casado tem praticado o celibato tanto mental quanto fisicamente? Se você é como muitos, deve estar se sentindo mais do que desafiado em relação aos padrões divinos e seu comportamento. Muitas vezes, surgem três perguntas importantes neste ponto: • Qual é a resposta divina a meu impulso sexual? • Como posso lidar com minha dificuldade em autocontrolar‐me? • Como posso resistir às tentações sexuais quando elas surgem? Neste capítulo, você lerá a notável – e talvez até chocante – revelação da poderosa resposta da bíblia a essas três perguntas. A PROVISÃO PRIMÁRIA DO SENHOR PARA AS TENTAÇÕES SEXUAIS 1 Coríntios 7:2‐5 apresenta a notável resposta divina às tentações sexuais. Leia esta passagem com atenção, antes de estudar os sete princípios extraídos dela: “Por causa da impureza, cada um tenha a sua própria 69


esposa, e cada uma, o seu próprio marido. O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência. 1. O Senhor revela que “por causa da impureza” [imoralidade sexual], as pessoas devem se casar Paulo escreveu: “Por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido”. Pense por um momento: Se alguém lhe perguntasse qual é a solução bíblica para a imoralidade sexual, o que você diria? Orar? Ler a Bíblia? Exercitar o domínio próprio? Todas são boas idéias, mas nenhuma delas é a resposta específica dada por Deus. A provisão divina para o combate à imoralidade é o casamento! Este texto de 1 Coríntios é a revelação mais direta concernente ao plano de Deus para a satisfação de nosso impulso sexual de uma maneira que o agrada. Portanto, o casamento deve ser considerado “santo” e separado para ele. O casamento não poderia ser realmente a resposta para todos os tipos de imoralidade sexual, poderia? E quanto à pornografia? Como o casamento pode resolver o problema das tentações na Internet? E quanto às tentações que enfrentamos nas lojas e ruas? Não perca a resposta de vista: o casamento é a solução para todos os tipos de “imoralidade”. Por quê? Porque a imoralidade sexual sempre se relaciona a uma única coisa: seu impulso sexual. As imoralidades sexuais são as várias maneiras que as pessoas encontram para satisfazer o impulso sexual. Quando esse impulso é satisfeito, as várias imoralidades são atenuadas. O casamento é a solução primária de Deus para as tentações sexuais. As palavras “cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido” são imperativas – mandamentos positivos que devem ser obedecidos, a menos que Deus abra uma exceção à norma com o raro “dom do solteiro”. Deus ordena que as pessoas se casem, por causa da impureza. Esse mandamento não é um princípio geral, mas bastante pessoal, como mostram as palavras “cada um” e “cada uma”. A imoralidade é um problema tanto de homens com de mulheres, e a solução é a mesma para ambos: casem‐se! Na época do Novo Testamento, geralmente as pessoas casavam‐se durante a puberdade. O casamento permitia que o impulso sexual que desabrochava fosse satisfeito e não fosse reprimido. Atualmente, porém, os casamentos são adiados até a idade adulta, por pressões educacionais, profissionais e financeiras. Quanto mais o ser humano adia o casamento além da puberdade, mais tentações sexuais terá de enfrentar. A maioria dos jovens, inclusive muitos cristãos, são sexualmente promíscuos e cometem fornicação antes do casamento. Talvez a razão mais forte seja o adiamento da época de casar. Aparentemente o jovem cristão decidiu que a fornicação é preferível ao casamento, em vista das restrições culturais da prioridade da formação profissional/acadêmica e dos prazeres pessoais de um estilo de vida independente e sem compromisso. As pessoas devem casar, quando não conseguem controlar o impulso sexual dado por Deus? A Bíblia é bem clara: “Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado” (1 Co 7:9). Diante do atual adiamento (não natural) do casamento, muitos indivíduos entregam‐se às tentações e tornam‐se promíscuos, de uma maneira ou de outra. Essas concessões sexuais fora do casamento enfraquecem drasticamente o esquema divino. Ao encontrarem satisfaça sexual fora do matrimônio, milhões de solteiros estão contornando a pressão estabelecida por Deus de encontrar um parceiro para se casar, adiando a época natural do casamento. Tenho falado em muitas conferências cristãs para solteiros e posso dizer que, tragicamente, a maioria esmagadora dos solteiros é sexualmente ativa, vivendo, assim, na imoralidade. Por encontrarem “alívio” para os impulsos dados por Deus por meios condenados por Deus, o relógio pessoal para o casamento é radicalmente afetado. Existem exceções nessas situações? Certamente. Todas as pesquisas, porém, sejam cristãs, sejam seculares, mostram claramente que as exceções consistem em situações extremamente raras. Em que idade você acha que a maioria dos cristãos comete fornicação? Entre os 14 e 19 anos de idade. Em que idade você acha que a maioria dos cristãos se casa? Entre os 24 e 30 anos.

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Nunca esquecerei uma conversa que tive com um amigo numa de nossas conferências em Phoenix, no Arizona. Uma sessão matutina sobre imoralidade tinha suscitado grande interesse e discussão. Quando eu voltava para meu gabinete, um amigo de longa data começou a conversar comigo. ‐ Bruce, não sei mais o que dizer a esses jovens – ele disse. ‐ O que você quer dizer? – realmente fiquei surpreso, pois ele trabalhava com discipulado havia mais de cinqüenta anos. ‐ Bem – continuou um tanto constrangido – alguns desses jovens têm sérios problemas sexuais, inclusive tentações e imoralidade. Eu não sei o que lhes dizer. Depois de uma pausa, acrescentou: ‐ Bruce, não consigo me identificar com os problemas deles. Minha esposa sempre supriu minhas necessidades sexuais. Simplesmente não tenho nenhuma frustração nesta área. Ainda me lembro do impacto de suas palavras honestas e vulneráveis. Parei bem no meio do corredor e olhei‐ o diretamente nos olhos. ‐ Você descobriu a resposta bíblica! Não é só por causa de seu compromisso com Cristo que você não comete imoralidade sexual, mas porque está cumprindo o plano perfeito de Deus contra a tentação sexual: o sexo no casamento! Citei para ele o texto de 1 Coríntios 7 e disse: ‐ Mostre‐lhes estes versículos, ensine, não omita nenhuma palavra e não ceda nem um milímetro. Mas... compartilhe também como funcionou maravilhosamente seus 50 anos de casamento! O casamento é a solução primária de Deus para a imoralidade sexual. 2. O Senhor ordena que os cônjuges “cumpram suas obrigações sexuais” Paulo continua: “O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido” (1 Co 7:3). O Senhor antecipou este problema específico. Nem todas as tentações sexuais desaparecem imediatamente só porque uma pessoa se casa. O casamento é o único alívio aprovado por Deus para o impulso sexual, mas não traz alívio para muitos homens e mulheres. De fato, muitos casados são os mais imorais. Veja bem, não é o casamento que é a resposta... o sexo dentro do casamento é a resposta! Entretanto, o que acontece se o marido não corresponde aos avanços sexuais de sua esposa? O impulso sexual dela fica frustrado, e ela tentada nesta área. A Bíblia ensina que o casamento é um prazer, bem como uma obrigação. Uma “obrigação” é uma responsabilidade legal ou moral, decorrente de certa posição. É obrigação de cada cônjuge atender ao impulso sexual do parceiro. Note que a Bíblia revela que tal obrigação é voltada para o cônjuge: o marido tem uma obrigação para com a esposa, e a esposa para com o marido. O pensamento subjacente a essas palavras não é que o marido tem obrigação de ter relações sexuais com a esposa quando ele quer, mas é sua obrigação atender sua esposa quando ele deseja ter relações, e vice‐versa. A obrigação não é da pessoa que toma a iniciativa sexual, mas daquela que responde. Por exemplo, digamos que o marido faz alguns avanços em direção à esposa. Esse versículo ensina que é obrigação dela ter relações com ele. Por quê? Porque neste caso, o marido tem um impulso sexual que está buscando satisfação, e a esposa tem obrigação de garantir que tal necessidade seja suprida. Portanto, sempre que seu cônjuge toma iniciativas sexuais, lembre‐se de suas obrigações matrimoniais. Você pode surpreender‐se com todas as palavras que Deus poderia ter escolhido para expressar qual era sua vontade no contexto do casamento – e ele escolheu a palavra “devido”. Esta palavra relaciona‐se a obrigação e responsabilidade. Quando você casa, está sob a obrigação divina de conceder a seu cônjuge a satisfação de suas necessidades sexuais. A mesma frase (em 1 Co 7:3) usa também a palavra “conceda”: “O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa [conceda], ao seu marido”. Conceder significa abrir mão, permitir a plena realização, liberar, desenvolver o pleno potencial. “Conceder o que é devido” significa cumprir plenamente uma promessa ou cumprir uma obrigação. Uma vez que o que é “devido” se relaciona a guardar o cônjuge de cometer imoralidade, as ações de ambos os parceiros devem satisfazer de tal forma as necessidades sexuais que ambos se sintam realizados. Assim, o termo “completamente satisfeito” captura o sentido da expressão bíblica “conceder o que é devido”.

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Qual dos dois cônjuges deve decidir se os impulsos sexuais ou desejos foram totalmente satisfeitos? O que tomou a iniciativa. Em outras palavras, a única maneira de o marido saber se “concedeu o que é devido” à esposa é perguntando a ela: “Suas necessidades sexuais foram totalmente satisfeitas?”. Depois de aconselhar centenas de casais nos últimos trinta anos, posso lhe garantir que são raros os casais que compreendem e aplicam este princípio bíblico. Sua “obrigação” sexual nunca é voltada para você mesmo, mas para seu cônjuge. O senso de conceder o que é devido refere‐se às necessidades do cônjuge. A Bíblia definitivamente coloca a responsabilidade de satisfazer as necessidades sexuais sob a “obrigação” do cônjuge. Em termos gerais, o marido (ou a esposa) deve encarar como obrigação fazer o que for preciso (que não seja ilegal ou imoral) para satisfazer as necessidades sexuais do cônjuge. Tive uma conversa marcante com um homem num estacionamento, depois de uma Conferência de Santidade Pessoal. Ele tinha caído em adultério várias vezes, até que sua esposa descobriu e seu casamento acabou em divórcio. Era um homem destruído. Ele me disse com os olhos marejados: “Se minha esposa acreditasse no ensino bíblico sobre sexo no matrimônio, minha vida talvez não fosse a desgraça que é hoje. Ela protegeu e manteve o controle sobre o próprio corpo, usando‐o como recompensa ou punição em minha vida. Sei que meu adultério não é culpa dela, mas minha. Mas se ela tivesse tido relações comigo mais de uma vez por mês, talvez nada disso tivesse acontecido. Ela me privou dezenas de vezes durante nosso tempo de casamento, até que não me arriscava mais a sentir a dor da rejeição. Comecei a procurar em outros lugares. O mais surpreendente é que eu não queria ir a outro lugar. Eu amava minha esposa – mas ela concluiu que se eu tinha relações com outras mulheres era porque não a amava. Por isso pediu o divórcio. Imagino como a vida poderia ter sido diferente se ela conhecesse e cresse nas Escrituras”. Sempre há circunstâncias extenuantes que levam ao divórcio, mas me pergunto se aquela esposa sabe a participação que teve nos pecados do marido. Ela deliberadamente o privou da única satisfação aceitável de suas necessidades sexuais. Este é o ponto de nosso texto bíblico – por causa da impureza, ela devia cumprir suas obrigações. Ambos pecaram gravemente desobedecendo aos mandamentos claros de Deus. 3. O Senhor deu a autoridade sobre seu corpo físico a seu cônjuge “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher”. 1 Coríntios 7:4 Quando você entende o que Deus disse neste versículo, pode ficar chocado. Quando captei seu pleno sentido, comecei a compreender como o Senhor abomina a imoralidade e a ampla provisão que ele fez para nossa pureza sexual. Este versículo revela a notável amplitude na qual o marido e a esposa devem cumprir suas obrigações concernentes às necessidades sexuais de ambos. Soberanamente Deus tira algo do matrimônio e devolve como um presente de casamento para seu cônjuge. O Senhor não pergunta se pode fazer, nem pergunta se você quer. Soberano, ele tira a autoridade que você possui sobre seu próprio corpo enquanto viver. Ele dá o direito sobre seu corpo a seu cônjuge. Não pode haver confusão com relação à seriedade com que Deus encara a imoralidade sexual e sua provisão para a satisfação sexual. Qual é o único lugar onde seu cônjuge pode expressar suas necessidades sexuais e ser santo? Com você – e somente com você. Não com outras pessoas. Nem mesmo sozinho. A Bíblia revela como a santidade pode ser totalmente satisfeita em relação os desejos sexuais: pelo sexo no matrimônio. Para ter certeza de que você não vai reter a única provisão dada por ele para o sexo, Deus tira o direito de seu corpo de suas mãos e o entrega como um presente a seu cônjuge. Literalmente seu cônjuge tem o direito sobre seu corpo. Como Deus deu seu corpo a seu cônjuge, ele na verdade está apenas sendo gentil em pedir. Seu cônjuge não “toma seu corpo emprestado”, não precisa “implorar” por seu corpo, nem mesmo precisa “conquistar” seu corpo. Em termos simples e claros, Deus deu meu corpo para minha esposa, e eu não tenho nada a dizer sobre isso. O termo “poder” nesta passagem significa claramente que o cônjuge “tem direito sobre” ou “tem exclusividade” sobre o corpo do outro. Como uma autoridade altamente respeitada escreveu sobre este versículo: “Pessoas casadas não controlam mais seu próprio corpo, mas devem sujeitar a autoridade sobre ele aos cônjuges”. O sucesso e a vitória no casamento sempre resultam da obediência aos ensinamentos da Bíblia, em bases regulares e duradouras. É confortador e animador pensar que essa idéia não é humana, nem de Satanás, mas do próprio Deus. Também não foi idéia do Senhor apenas para o prazer e a proteção de seu cônjuge, mas sua 72


também. Além de lhe dar impulso sexuais e desejos, o Senhor também o protege dos traumas e da destruição causados pela infidelidade conjugal. Sua principal proteção contra todo tipo de imoralidade sexual é o presente divino do corpo de seu cônjuge, para sua satisfação sexual. Este ensinamento claro da Bíblia vai diretamente contra nossa cultura moderna, independente e egocêntrica. A idéia de que Deus deu seu corpo a seu cônjuge para sua satisfação sexual suscita várias reações, as quais precisam ser avaliadas com cuidado, na vida de cada casal. Depois de discutir esse assunto com muitos casais, percebo que parece inevitável que surjam três conceitos errados. Primeiro, algumas pessoas acham que o sexo é inerentemente sujo, pecaminoso ou com o único propósito de procriação. A Bíblia ensina que o sexo é um dom de Deus, que os casais podem apreciar a relação intima independentemente da procriação e que estar nu diante do cônjuge não é nada vergonhoso. Deus não o exortaria a “cumprir suas obrigações sexuais” e “entregar seu corpo a seu cônjuge” se o sexo dentro do casamento fosse errado ou profano. O casamento é “santo” porque o Senhor separou este relacionamento de todos os outros relacionamentos no mundo. O segundo conceito errado é que o sexo é uma recompensa ou uma punição. O Senhor já deu a autoridade sobre seu corpo a seu cônjuge, portanto, o sexo não deve ser tratado como punição ou concedido como recompensa. Não deve ser oferecido somente porque o parceiro tem sido bondoso, trouxe presentes, chegou em casa na hora certa, limpou a casa, não ultrapassou o limite do cartão de crédito ou por alguma razão “merece” uma relação sexual. Da mesma forma, o sexo não deve ser negado porque o cônjuge agiu mal, foi mal‐educado, esqueceu algo, não arrumou direito a casa ou gastou demais. Deus retira o sexo da arena da “punição e recompensa” e o coloca dentro da autoridade de seu cônjuge. O terceiro conceito errado sobre o sexo é que ele é uma parte opcional do casamento, dependendo do humor ou das preferências de um dos cônjuges. Muitos casais tendem a considerar a intimidade sexual como algo sob seu poder e não sob a autoridade do cônjuge. Muitos relutam em tomar iniciativa na relação temendo a rejeição – embora nosso texto descarte totalmente esta atitude. As lendárias desculpas da “dor de cabeça”, “cansaço” ou já “já tivemos sexo a noite passada!” caem sob a falsa premissa de que meu corpo me pertence e posso fazer com ele o que bem entendo. Quando o cristão casado adota plenamente a delegação de autoridade, o casamento passa por uma transição maravilhosa e surpreendente. Como você pode ver, 1 Coríntios 7:4 traz profundas implicações. Os casamentos cristãos devem refletir o caráter divino e ser caracterizado pelo amor abnegado. Não é de admirar que a imoralidade seja tão abrangente – a solução primária de Deus contra ela é desprezada por muitos! A vontade de Deus é que homens e mulheres casados experimentem satisfação e realização na vida sexual. Não é a vontade de Deus que experimentem frustração e desapontamento na vida conjugal. 4. O Senhor ordena que os casais parem de “privar um ao outro” do sexo “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência”. 1 Coríntios 7:5 Imagine uma cena: você chega em casa, vindo do trabalho, às 6 da tarde. Entra pela porta e grita: ‐ Estou morrendo de fome! Mal posso esperar o jantar! Sua esposa olha para você e responde: ‐ Como assim? Eu fiz seu café da manhã. Você o tomou. Saiu para almoçar e comeu. Agora quer que eu faça o jantar para você? Você é algum tipo de glutão? Como você se sentiria, diante de uma situação dessa? Quando pensa em responder, sua esposa continua: ‐ Além do mais, você só pensa em você mesmo. Na sua fome. Nos seus horários. Você é um egoísta! Obviamente este exemplo não deveria acontecer. Por que não? Porque sabemos que o café da manhã e o almoço não são suficientes para alimentar uma pessoa até a hora de dormir. Ninguém chamaria você de egoísta por causa do desejo de se alimentar – concedido por Deus – em todas as refeições, não é? Assim, se um homem teve relações sexuais na noite anterior, por que deveria sentir‐se “egoísta” por ter o mesmo desejo na noite seguinte? Como devemos olhar para uma mulher que tem um desejo sexual mais forte que o do marido? O desejo por alimentos é dado por Deus e bom? O desejo sexual é dado por Deus e, portanto, bom? A resposta deve ser “sim” para as duas perguntas.

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Por que, então, há tanto problema, confusão e frustração emocional em torno do impulso sexual e o desejo por alimentos é encarado com naturalidade? Até onde sei, existem três razões. Primeiro, a fome pode ser satisfeita sem a participação de outras pessoas. Minutos atrás, fui à cozinha e me servi de uma xícara de café e torrada. Quer saber? Não precisei da ajuda de ninguém. O impulso sexual, por outro lado, exige a participação ativa de outra pessoa, sempre que for satisfeito de acordo com a Palavra de Deus. Segundo, o desejo por comida foi dado a todos na mesma medida. Todos sentem fome pelo menos três vezes por dia. Em nossa cultura, a maioria espera comer no café da manhã, no almoço e no jantar. E, salvo em situações excepcionais, a maioria das pessoas sente fome nos mesmos horários. O Senhor criou homens, mulheres e crianças para sentirem fome mais ou menos com a mesma freqüência. O impulso sexual, por outro lado, na maioria dos homens é muito mais intenso do que na maioria das mulheres. Essa diferença representa uma escolha soberana do Criador. Ele força todos os casamentos a experimentar certo equilíbrio, em relação ao nosso relógio sexual interno. É grande o número de homens que se sentem “egoístas” por causa dos impulsos sexuais que lhes foram dados por Deus. A variação de intensidade na necessidade sexual não tem nada a ver com homens ou mulheres e tudo a ver com Deus. Os homens não são “egoístas” por precisarem de sexo com maior freqüência, nem as mulheres são “altruístas” por necessitarem menos. O egoísmo não deve ser aplicado ao impulso sexual, assim como não pode ser aplicado à fome três vezes ao dia. Sempre que ensino esta série. No inicio algumas mulheres na audiência ficam na defensiva: “Se eu tiver relações com meu marido toda vez que ele quiser, vamos ter relações toda noite!” Leia novamente esta afirmação, mas agora da perspectiva de Deus. Voltemos um momento ao exemplo da fome. Digamos que quando a esposa chega em casa para jantar, embora seja a vez do marido de cozinhar, ele não só não preparou nada como também trancou a despensa e a geladeira. O que a esposa seria tentada a fazer naquela noite? Certo: vasculhar a cozinha atrás de alguma comida. Digamos que o marido fale: “Se comer em algum outro lugar, estará sendo infiel e provará que não me ama”. Você sabe o que logo acontecerá? Aquela esposa deixará de procurara alimento em sua própria casa e começará a procurá‐lo na cozinha de outras pessoas, antes de voltar para casa. Poderá também começar a estocar comida embaixo da cama ou bem no fundo de uma gaveta. Reconheço que muitas pessoas têm dificuldade com o texto bíblico que estamos estudando. Para os homens que não atendem às iniciativas sexuais das esposas, negando‐lhes seus corpos repetidamente, o versículo tem profundas implicações: “Não vos priveis um ao outro... para que Satanás não vos tente por causa da incontinência” (1 Co 7:5). Existem duas perspectivas bem diferentes sobre impulso sexual dentro do matrimônio. Uma delas é que a maneira do cristão de lidar com o impulso sexual é exercitar um considerável autocontrole, privando‐se com freqüência e ter relação sempre que o cônjuge estiver disposto. A outra perspectiva é que o cristão deve exercitar considerável auto‐realização, privar‐se o mínimo possível (geralmente só em caso de viagem e enfermidade) e ter relações sempre que desejar. Você percebe a profunda diferença entre as duas perspectivas? Quando fazemos uma votação informal nos seminários e conferências, a audiência cristã indica que mais de 80% dos casais cristãos praticam o conceito “privando‐se com freqüência”. Entretanto, o que a Bíblia diz sobre a privação sexual dentro do contexto do casamento? “Não vos priveis um ao outro” (1 Co 7:5) Em vez de ensinar: “Privem‐se pelo autocontrole”, a Bíblia diz: “Não vos priveis um ao outro”! A resposta bíblica à imoralidade não é aprender como estar contente na privação, mas estar contente aproveitando o sexo com o cônjuge. O Senhor não deseja que você viva frustrado na área sexual, ou inibido, dentro dos limites da vida conjugal. A palavra traduzida como “priveis” significa literalmente “não roubeis um ao outro” ou “não defraudeis um ao outro”. Os comentaristas concordam que a defraudação pode ocorrer no casamento porque um parceiro pode ser desonesto com seu cônjuge, negando‐lhe e retendo o que é seu por direito. Se um parceiro nega seu corpo quando o cônjuge busca ter relações, biblicamente está cometendo fraude. O Senhor deu o corpo do indivíduo a seu cônjuge. Ao negar algo que não lhe pertence, ele está defraudando o outro.

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Sempre lembro de algo que aconteceu depois que ensinei sobre isso a um grupo de 500 líderes cristãos. Depois da palestra, muitos choraram em arrependimento. Uma senhora distinta, de 65 anos, aproximou‐se de mim depois que todos já tinham ido embora. Seus olhos estavam vermelhos, e ela não conseguia mais esconder a dor que sentia. “Eu não tinha idéia de que defraudei meu marido durante toda a nossa vida conjugal. Dizia “não” para ele por qualquer motivo – apenas para evitar ter relações com ele. Finalmente ele parou de me procurar, e receio que tenha encontrado em outro lugar. Sei que pequei contra Deus e contra meu marido. Será que é tarde demais?” Passamos um tempo precioso conversando naquele dia, à medida que a chuva caia do lado de fora e a água purificadora da Palavra de Deus lavava a vida daquela senhora. Quando ela foi embora, era uma pessoas diferente. Ao se despedir, ela disse: “Talvez meu marido tenha um ataque cardíaco, mas a partir desta noite vou fazer mais do que cumprir minha obrigação de suprir suas necessidades sexuais!” 5. O Senhor revela que há só quatro condições para que os casais possam “privar” um ao outro “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência”. 1 Coríntios 7:5 “ Quais são as exceções? Será que de fato a Bíblia diz que sou obrigado a ter relações sexuais com meu cônjuge cada vez que ele deseja? Felizmente a Bíblia não nos deixa no escuro sobre essa questão tão importante – ela relaciona quatro condições nas quais o cônjuge pode privar o outro. Primeiro, pode haver privação quando há “consentimento mútuo”. Você não pode decidir sozinho privar seu cônjuge de sexo. Ambos devem concordar em não ter relações, para se encaixarem nessa exceção. Eis como isso pode funcionar na vida real. Digamos que na noite passada seu cônjuge tomou iniciativas sexuais. Por causa do dia longo e exaustivo, você disse: “Hoje estou realmente cansado. Você se incomodaria de esperar até amanhã à noite? Se não quiser, meu amor, pode ser hoje. O que você prefere?” Biblicamente falando, quem tem a palavra final nesta decisão? O “parceiro cansado” ou o “parceiro que tomou iniciativa”? O que toma a iniciativa sempre tem a palavra final, pelo fato de ambos estarem sob a obrigação divina de cumprir o papel conjugal e reconhecer que o próprio corpo está sob a autoridade do outro. Se o cônjuge deseja ter relações mesmo depois de ouvir o pedido do outro, continua tendo “autoridade” sobre seu corpo. Entretanto, o fato de seu corpo pertencer a seu cônjuge não significa que você não tem a liberdade de negociar! Quando o parceiro que toma iniciativa percebe uma atitude disposta, sem rejeição, apesar do cansaço, geralmente age com compreensão. A Bíblia não dá margem para que um cônjuge prive o outro, exceto com consentimento mútuo. Segundo, pode haver privação quando ambos concordam em suspender as relações por um período. Sempre que um casa concorda em privar um ao outro de intimidade sexual, os dois devem estar de acordo sobre quando terão relações novamente. Concordar em “hoje não” não segue o princípio bíblico. A Bíblia utiliza uma palavra grega bem específica para “algum tempo”, a qual significa “um período específico de tempo”. Terceiro, pode haver privação quando o casal dedica‐se à oração. O texto diz: “Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração”. Certamente temos aqui uma razão clara e bastante incomum para a privação de relações sexuais, na sociedade moderna. O único propósito bíblico para que um casal se prive das relações sexuais é a oração – quando ambos se concentram num objetivo espiritual no casamento. Quarto, somente deve haver privação até que ambos decidam voltar a ter relações sexuais. Você percebe como rapidamente a Bíblia nos leva de volta à questão de que a intimidade sexual deve ser a regra e não a exceção? É quase como se o autor tentasse estabelecer a exceção, para voltar rapidamente à “regra da vida conjugal”. 6. O Senhor adverte que, se os cônjuges privam um ao outro, ficam abertos aos ataques de Satanás Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência”. 1 Coríntios 7:5 “

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Esse versículo afirma claramente que na área sexual os cônjuges devem se unir novamente depois de um período de abstenção, ou ficarão vulneráveis a ataques satânicos desnecessários nesta área. As tentações sexuais podem ser incrivelmente poderosas por causa do impulso que Deus colocou nos seres humanos. Depois de um período de abstenção, o casal deve unir‐se novamente, senão Satanás vai contra os dois cônjuges com tentações, impelindo‐os para a imoralidade. Quanto mais a relação sexual for adiada e os cônjuges demorarem em se unir, maior é o risco de se cair na tentação satânica. 7. O Senhor adverte que os cônjuges “perdem” o autocontrole quando se privam das relações sexuais O que acontece com pessoas casadas, quando ficam sem ter relações sexuais por vários dias? A Bíblia afirma que Satanás os tenta por causa de uma razão: a incontinência. Privando um ao outro de sexo, os cônjuges enfraquecem mutuamente o autocontrole na área sexual. Em algum lugar, na mente das pessoas, está o conceito errado e perigoso de que não existem conseqüências reais em se “privar” o cônjuge das relações sexuais, exceto a frustração imediata e de pouca duração. O texto bíblico mostra outra realidade: o adiamento contínuo de relações sexuais dentro do casamento coloca uma pressão real e desnecessária sobre a pessoa. Se entendi corretamente as palavras de 1 Coríntios 7:5, indivíduos casados serão mais tentados por Satanás se suas necessidades sexuais forem negadas do que se satisfeitas. Com base nesta passagem, podemos concluir que o cônjuge que priva ou defrauda seu parceiro pode representar a causa primária de tentações satânicas a imoralidades sexuais. APROVEITANDO O DOM DO SEXO Uma das realidades que enfrentamos no ministério Através da Bíblia são as viagens longe de casa. Com mais de 3 mil cursos bíblicos, ministrados em mais de 70 países e em 50 idiomas, você pode imaginar a experiência que acumulamos em quase 25 anos de ministério. Em cada reunião nacional de treinamento, nossa liderança se reúne para cursos de aperfeiçoamento e comunhão. Nosso deão e sua equipe falam sobre a seriedade das tentações sexuais. Da maneira mais discreta possível, ele exorta os membros da liderança a compartilhar abertamente com seus cônjuges a importância de terem suas necessidades sexuais supridas antes de saírem da cidade, diminuindo assim a força das tentações que enfrentarão durante as viagens. Muitos homens me procuram, expressando profunda apreciação por esta apresentação direta – principalmente quando as esposas estão presentes. Às vezes até os mais corajosos entre nós acham difícil e desconfortável expressar essas coisas. Alguns ainda preservam um pouco de senso de culpa por causa do desejo de ter relações sexuais com as esposas antes de viajarem. Minha esposa e eu estávamos conversando num galpão de hotel durante uma conferência de treinamento, quando a esposa de um de nossos “veteranos” se aproximou e pediu para falar conosco em particular. Contou que apreciava demais as “conversas sobre sexo”. Apesar de ter um casamento feliz (seu árido estava no ministério pastoral) de mais de 25 anos, os conceitos que compartilhávamos sobre a necessidade que os casais tinham de ter relações sexuais antes das viagens de um dos cônjuges eram novos e até surpreendentes para ela. Disse que pelo fato de ser mulher e ter necessidades sexuais bem diferentes das do marido, jamais saberia aquelas coisas, a menos que outra pessoa lhe dissesse. Aquela senhora, que já tinha quase 60 anos, nos disse o quanto ficara desapontada porque nem sua mãe, nem qualquer outra mulher mais velha, lhe informara sobre algo tão vital. Ela sorriu, desviou os olhos de mim e olhou diretamente para Darlene: “Sabe Darlene, agora que sei a verdade, jamais deixo meu querido marido sair em viagem sem o presente especial que só eu posso lhe dar – mesmo que ele não esteja com vontade! Não é apenas a disposição dele no momento que me preocupa, mas sim a disposição dele no dia seguinte à noite quando eu não estarei por perto. Quero continuar sendo a única pessoa que ele se sinta tentado a procurar para receber aquele presente! 76


PARTE TRÊS DESENVOLVENDO HÁBITOS SANTOS 9 BUSCANDO A SANTIDADE Não podemos dizer “não” à tentação sem dizer “sim” a algo muito melhor. Erwin W. Lutzer Cada palavra que escrevemos até aqui foi para prepará‐lo para este capítulo. Você sabe que “santidade” significa separação, que deve incluir separação “do” secular “para” o sagrado e ser definida pelos padrões do Senhor e de sua Palavra. Entende que “santidade posicional” significa como Deus o vê no momento em que você aceita a morte vicária de seu Filho por seus pecados, “santidade de apresentação” significa que por causa das misericórdias de Deus você dedica toda a sua vida a serviço dele e que parte da “santidade progressiva” consiste em você se purificar constantemente de tudo o que o Senhor considera profano. Entretanto, discutimos pouco sobre o que normalmente vem à sua mente quando pensa em santidade: conduta e caráter semelhante aos de Cristo. A Bíblia descreve uma ordem específica para a santidade progressiva – veja se descobre a ordem em Efésios 4:22‐24: “...vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. Infelizmente muitos cristãos não percebem este padrão bíblico e experimentam constantes derrotas (e até desespero) nas tentativas sinceras que fazem na busca as santidade. A Bíblia revela o padrão que deve ser seguido: primeiro, devemos nos purificar da impureza e então buscar a pureza. Embora obviamente o Senhor se agrade de todas as ações relacionadas à busca da justiça, a Bíblia nos alerta para o fato de que pode haver impureza atrapalhando nosso crescimento nas áreas da santidade. Em outras palavras, tire o carpete estragado, antes de tentar fixar o novo. “Despojar” antes de “revestir”. “Afastar‐se da iniquidade” antes de “buscar a justiça”. Quer dizer que nunca devemos buscar primeiro as características positivas da justiça? É claro que não. Mas talvez a verdadeira perspectiva bíblica seria esta: Busque a santidade purificando‐se primeiro de toda impureza; depois que toda a impureza conhecida é retirada, concentre‐se mais diretamente na busca da santidade positiva. Quando os cristãos buscam os atributos positivos de santidade, permitindo a permanência de áreas de pecado, o Senhor pode considerar até nossas ações positivas como pecaminosas. Por quê? Porque é possível que estejamos racionalizando nossos pecados achando que nossa vida devocional ou ações positivas podem fazer com que o Senhor “esqueça” ou pelo menos “faça vista grossa” a nossos pecados. Repetidamente, por meio dos profetas do Antigo Testamento, o Senhor revelou seu desagrado para com o povo de Israel, por causa da tentativa que faziam de obedecer e ao mesmo tempo cometer o pecado. O pecado opõe‐se à obediência – quer dizer, a santidade positiva pode ser rejeitada pelo Senhor como indigna, por cauã da santidade negativa. Buscar o Senhor em algumas áreas e ao mesmo tempo se rebelar em outras áreas pode destruir todo o processo. Veja o que Cristo falou no Sermão do Monte sobre qual metade da santidade deve receber nossa primeira atenção: “Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar‐te com teu irmão; e então, voltando, faze a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão”. Mateus 5:23‐25 Como princípio geral, sempre procure se purificar em todas as áreas onde há impureza em sua vida antes de se concentrar nas áreas celestiais de santidade positiva. Não faça confusão: ambas as áreas precisam igualmente de santidade! Embora os cristãos pensem que a santidade positiva seja “melhor” do que se despojar da santidade negativa, a Bíblia não ensina tal coisa. Em outras palavras, busque a santidade primeiro purificando‐se do pecado e depois acrescentando maior obediência. A ordem é bíblica, e tenho visto na prática que é uma verdade central desprezada na mente da maioria dos cristãos. O avivamento começa com arrependimento e purificação, depois prossegue numa maior intimidade com Cristo e mais obediência a ele. 77


A SEGUNDA PARTE DA SANTIDADE PROGRESSIVA A primeira parte da santidade progressiva concentra‐se na eliminação de tudo o que é negativo em sua vida, enquanto a segunda parte concentra‐se em ajudar você a acrescentar o que é positivo. Ambas as partes são processos e não eventos, e ambas são duradouras e jamais podem ser completadas de uma vez por todas. Termine de purificar‐se de todo pecado conhecido e depois chegue diante de Deus com honestidade, com uma consciência limpa em todas as áreas. Não caia na armadilha do conceito de que “você jamais pode ser totalmente purificado”. A Bíblia ordena que você caminhe nesta direção, “purificando‐se” até que o processo se complete naquele momento em particular. Não caia em outro falso conceito de que, por ter completado o processo aos olhos de Deus e a seus próprios olhos, você não precisa mais trabalhar no mesmo processo em sua vida. Reflita um pouco mais nas duas partes da santidade: Impureza “Santidade Negativa” Completada Primeiro Atos pecaminosos de injustiça “Purifique‐se” Exclua toda a impureza Despoje‐se do “velho homem” “Obras da carne” Vida egoísta Desobediência

Santidade “Santidade Positiva” Buscada em segundo lugar Atos piedosos de justiça “Busque a santidade” Inclua toda a santidade Revista do “novo homem” “Fruto do Espírito” Vida no Espírito Obediência

Quando você olha para esta lista, reconhece que, embora ambas se relacionem à santidade, são totalmente diferentes e distintas. Ninguém se torna biblicamente santo apenas apagando os pecados da vida.Um número excessivo de cristãos pensa assim: “Se eu abandonar esses pecados, serei santo!” A Bíblia não ensina que santidade é apenas a ausência de algumas coisas – é também a presença de outras. Pense mais nesta questão: por que você e eu não nos tornamos automaticamente santos no momento em que obedecemos à Bíblia e nos purificamos de toda impureza? Porque “por baixo” de tudo, nosso coração continua enganosamente ímpio. Ao contrário de muitos dos teólogos liberais modernos, a Bíblia é mais do que clara ao dizer que o homem no fundo não tem um coração “bom” – mas sim um coração “ímpio e enganoso”. Portanto, quando obedecemos à Bíblia, purificando‐nos de toda injustiça, não fomos cheios de toda santidade – apenas não somos impuros naquele momento. Depois, precisamos nos revestir de Cristo. A santidade não existe meramente pela ausência de impureza. Por isso a Bíblia, ao discutir a santidade, quase sempre exorta o cristão a dar atenção aos dois lados da equação progressiva: purifique‐se e busque a justiça. Despoje‐se do velho homem e revista‐se do novo. Assim, será que você “se reveste do novo homem” apenas “se despojando do velho”? É claro que não! O lado negativo e o positivo devem ser realizados, ou o Senhor não nos descreveria como santos em todo o nosso procedimento. A conduta santa é caracterizada pela ausência de pecado e pela presença de justiça. Portanto, a segunda metade da santidade progressiva é a busca ativa e constante de tudo aquilo que condiz com a imagem de Cristo. A VERDADE PERTURBADORA SOBRE A BUSCA DA SANTIDADE Em vista do enorme índice de impureza que existe hoje na comunidade cristã, provavelmente podemos concluir que deve haver uma santidade ainda menos positiva na vida dos cristãos. Como princípio geral, a santidade negativa (a quantidade de pecados conhecidos e preexistentes) é sempre maior do que a santidade positiva (quantidade de justiça praticada e preexistente). Das duas partes, a santidade positiva é a mais avançada. Então, para ter um vitória duradoura, a santidade negativa (purificar‐se de toda injustiça) é um pré‐requisito geral para a santidade positiva. Esse único princípio pode esclarecer muito sobre sua vida espiritual, quando você reflete sobre ele. Talvez seja útil apresentarmos algumas implicações: 1. Se o cristão busca aprofundar seu caminhar com o Senhor, o primeiro passo é sempre buscar primeiro a purificação. A razão pela qual muitos cristãos fracassam repetidamente na vida devocional não é a falta de disciplina. Nem falta de vontade. Nem falta de perseverança. De fato, o fracasso deve‐se à falta de purificação 78


dos muitos pecados conhecidos e preexistente. Tais pecados agem como obstáculos enormes e quase irremovíveis na peregrinação da santidade. 2. A quantidade de santidade positiva habitual e constante (explicarei com mais detalhes mais adiante neste capítulo) na vida de uma pessoa é um indicador confiável da quantidade de pecado que existe atualmente em sua vida. Quanto menor a santidade positiva, maior a santidade negativa. Em outras palavras, se um cristão não ora muito em particular, não lê a Bíblia regularmente, não investe seu dinheiro na obra de Deus, não serve ao Senhor com seus talentos, não louva nem adora em público ou a sós, não investe sua vida em coisas eternas, não ajuda os necessitados, não compartilha o evangelho com os perdidos, pode‐se presumir que há áreas de pecados sob a superfície na vida dele. 3. Esse princípio geral aplica‐se não somente à vida de cristãos individuais mas também às famílias, igrejas locais ou organizações cristãs. Um das formas mais fáceis de medir o pulso da santidade é monitorar algo tão simples como a vida de oração. Averiguando a quantidade de tempo e de energia que você investe na oração pessoal por um período de três meses, você terá uma boa indicação da santidade de sua conduta e caráter. Pessoas que não oram muito não são muito santas. Igrejas que não oram muito também não são muito santas. Lembro‐me de uma vez que mudamos de cidade e visitamos uma igreja próxima que alguém nos indicou. Cerca de 400 adultos participavam do culto todos os domingos de manhã. Numa quarta‐feira à noite, fui ao culto de oração. O pastor estava pregando no templo. Numa pequena sala nos fundos da igreja finalmente localizei o grupo de oração. Quatro mulheres piedosas, todas idosas, reuniam‐se semanalmente para orar. Sabe o que descobri posteriormente sobre aquela igreja? Não havia muita santidade nem vida ali. Da próxima vez em que estiver junto com alguém que ora bastante, pergunte se aquela pessoa experimenta muitas sessões de purificação em sua vida. Provavelmente ela sorrirá e assentirá. Assim, como você descreveria a quantidade de santidade positiva na vida dos cristãos verdadeiros de hoje? Eis o que descobri em minhas próprias observações nos últimos trinta anos de ministério ao redor do mundo: • Sem contar as orações feitas nas refeições e nos cultos, o cristão médio ora menos de dois minutos por dia. • Sem contar a leitura da Bíblia durante os cultos e reuniões na igreja, junto com outras pessoas, o cristão médio lê a Bíblia menos de três minutos por dia. • De acordo com as estatísticas, o cristão médio doa menos de 3% do total de suas finanças a causas cristãs. Esses fatos o surpreendem ou chocam? Duvido. Se você já é cristão há algum tempo, sem dúvida já sentiu que esta pode ser também a sua situação. Pode ter se sentido desconfortável diante de tais estatísticas, porque chegam muito perto de sua própria descrição. Toda esta seção do livro foi escrita para você. Além de desejar que você se liberte dessa vida espiritual superficial, Deus quer também que você a torne mais profunda. Portanto, faça isso! POR SEUS FRUTOS OS CONHECEREIS Há duas semanas, passei uma tarde com um estudante em um de nossos seminários mais respeitados.Perguntei‐lhe se tinha apreciado os três anos de estudos, preparando‐se para o ministério. Ele rapidamente expressou apreciação pelas muitas cosias que aprendeu, mas depois desviou o olhar e proferiu essas palavras reveladoras: “Estou feliz por ter vindo para o seminário, e sei que aprendi muito. Mas tenho um grande desapontamento: nunca me ensinaram e eu nunca aprendi como andar com Deus. Aprendi sobre teologia, Bíblia, missões, educação cristã, evangelismo, apologética e outras matérias importantes. Tive até um curso de um semestre sobre vida espiritual. Entretanto, nunca aprendi realmente como orar, nunca aprendi a ter comunhão com Deus nem a andar com ele. Receio que, embora tenha aprendido muitas cosias e possa realizar o “ministério” melhor do que quando entrei aqui há três anos, na verdade não seja uma pessoa mais santa do que quando comecei. De fato, meu coração está menos sensível e eu oro menos do que antes de iniciar todo este processo. De alguma maneira, eu estava errado. Pensei que o seminário iria me ensinar como andar com Deus e me conduzir no caminho de como me tornar um homem santo. Isso não aconteceu. De fato, nunca tentei seriamente. Sentei‐me alguns momentos atrás e pensei em tudo isso. Embora esteja num dos três melhores seminários do país – conhecido por sua ênfase na evangelização – em todos os meus 79


três anos de estudo intenso, menos de 2% desse tempo foi investido em como andar com Deus e caminhar em santidade.” O aluno olhou para mim e fez a pergunta que eu temia que fizesse: ‐ O senhor acha, Dr. Wilkinson, que este seminário reflete os valores de Jesus? O senhor acha que ele adota o modelo de treinamento que Jesus usou com os discípulos? O senhor acha que é mais importante aprender grego e teologia do que aprender como andar com Deus,como orar e como ser santo? O senhor acha que só 2% do conteúdo das cartas do Novo Testamento fala sobre andar com Deus, andar no Espírito, oração e viver em santidade? O que você responderia àquele jovem seminarista? O rio corre na mesma direção que a nascente. Os pastores e missionários são influenciados pelo seminário. As igrejas são influenciadas pelos pastores e missionários. Os cristãos são influenciados pelas igrejas e organizações cristãs. Talvez uma última observação seja útil nessa questão importante. Digamos que você seja novo na cidade e deseje descobrir qual é a reputação da igreja na qual está interessado. Entretanto, em vez de perguntar aos membros da igreja, você bate em oito casas escolhidas ao acaso, todas próximas da igreja. O que as pessoas diriam se você perguntasse? “Você pode me dizer algo sobre aquela igreja ali?” Se minha experiência lhe serve de modelo, não faça o que fiz. Você deveria ouvir as respostas que recebi. As divisões da igreja. Os argumentos de que toda a cidade sabia que o regente do coral havia fugido com a secretária. E sobre o pastor que expulsou pessoas da igreja porque se colocaram diante de seu caminho. Quando me afastei da última casa, as palavras de Jesus me vieram á mente: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens,para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16). Veja bem, a santidade deixa sua marca nas ruas da cidade. Ela espalha boas obras em todas as direções. Por quê? Porque a santidade positiva influencia o comportamento e controla as ações. Por isso Jesus proferiu aquelas palavras em Mateus 7:15‐20: “Acautelai‐vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. [...] Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. [...] Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis.” Você percebe a lógica divina? O que há dentro de uma pessoa é o que sai dela. Se há bondade dentro dela, ela dará bons frutos. “Bom fruto” nada mais é do que “boas obras”, já que os dois conceitos são frequentemente interligados no Novo Testamento. Quando a pessoa é santa, seu comportamento transborda de boas obras. Quando uma igreja é santa, seu comportamento transborda de boas obras, e todos que estão ao redor reconhecem isso. Não esqueça que as pessoas que veriam as boas obras referidas por Jesus em Mateus eram os não‐cristãos, portanto, a quantidade de santidade positiva de uma igreja pode ser medida perguntando‐se aos vizinhos – não aos membros! OS FRUTOS DA IGREJA Infelizmente, embora haja notáveis exceções, a vasta maioria das igrejas é mais conhecida pelas obras malignas de divisões, imoralidade, líderes com sede de poder e escândalos financeiros. Quando a comunidade não consegue mencionar nem mesmo uma única boa obra da igreja, podemos ter certeza de que aquela igreja não está transbordando de santidade. A santidade bíblica sempre transborda na comunidade, em forma de boas obras. Se a comunidade não sabe nada sobre as boas obras da igreja, é sinal de que ela carece de santidade. Por quê? Porque, com Jesus destacou, as árvores sempre produzem frutos. Boas árvores produzem bons frutos, e árvores ruins produzem frutos ruins. Se a comunidade tem conhecimento apenas de frutos ruins, a igreja não pode ser santa aos olhos de Deus. Então, como deve ser uma igreja realmente “santa”? Hoje de manhã terminei de ler sobre a vida de um pastor de 20 anos de idade que assumiu uma igreja pequena, de 200 membros. Quando o pastor morreu, aos 58 anos, o ministério literalmente tinha se espalhado por todo país. Veja as “boas obras” que aquela igreja realizou na comunidade: 1. Fundação de 23 agencias missionárias que trabalhavam ativamente em toda a comunidade. 2. Vinte e seis classes de Escola Dominical ministrando ativamente em toda a comunidade, principalmente nos bairros pobres da cidade. 80


3. Mais de 1.000 membros trabalhando nas áreas mais pobres, todos os domingos pela manhã. 4. O estimulo de avivamentos maiores e mais duradouros em toda a região. 5. A construção de um templo com capacidade para mais de 5.000 pessoas, totalmente paga. 6. Planejamento e construção de um grande instituto bíblico, no qual são treinados mais de 100 pastores anualmente. 7. Mais de 200 classes de estudo bíblico todas as semanas, por toda a região. 8. Planejamento e desenvolvimento de uma grande Sociedade de Folhetos. 9. Início de uma livraria, que distribuía grande quantidade de livros cristãos por meio de visitas a residências, que muitas vezes resultavam em classes de estudo bíblico. Em um ano, 926.290 lares foram visitados! 10. A fundação de mais de 200 novas igrejas por toda a região. 11. Construção de 17 asilos para viúvas e idosas abandonadas, com a doação de todo o alimento necessário e pagamento das despesas de manutenção. 12. Planejamento e construção de um orfanato para abrigar cerca de 400 crianças em período integral, sustentando‐o totalmente sem ajuda do governo. 13. Início de um ministério com livros, doando dezenas de milhares de livros cristãos, enviando‐os gratuitamente a missionários e pastores pobres em todo o mundo. 14. Fundação da Sociedade Beneficiente de Senhoras, que confecciona roupas para as crianças órfãs da cidade. 15. Por meio de todos esses ministérios, mais de 39.000 novos convertidos foram batizados em apenas doze anos. Esses são apenas 15 dos 66 ministérios diferentes lançados, fundados e mantidos por aquela igreja! Você pode imaginar o que a comunidade achava daquela igreja e de seu humilde líder, Charles H. Spurgeon? Se você o tivesse visto pregando a Palavra de Deus nos domingos, teria visto as pessoas chegando aos milhares para conhecer a Cristo. Quando os cristãos começam a viver realmente como povo de Deus, dão bons frutos, de acordo com o plano divino. Quase todas as marcas da santidade positiva estão ausentes na vida da grande maioria dos cristãos e nas igrejas locais. Que possamos nos arrepender diante do Senhor, purificando nosso coração e nossa ações, e buscar a santidade de todo coração, alma e força. Quando fizermos isso, não somente o céu irromperá em júbilo como também os ímpios que estão a nosso redor glorificarão a Deus, porque verão as obras dignas de louvor: “Amados, exorto‐vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando‐vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.” 1 Pedro 2:11,12 AVALIE ONDE VOCÊ ESTÁ NA BUSCA DA SANTIDADE Às vezes há grande mérito em examinarmos o progresso que estamos fazendo. Por agora, você deve reconhecer que a Bíblia revela que este terceiro estágio da santidade é progressivo, começando no momento do novo nascimento espiritual e terminando com a morte física. Entre esses dois pontos estão as únicas oportunidades que você terá em toda a eternidade para crescer na santidade. Meça o pulso de sua santidade avaliando esses sete estágios da maturidade e selecionando aquele que melhor representa sua posição na busca da santidade positiva: 1. Tenta manter uma vida devocional, mas fracassa constantemente. O primeiro estágio na busca da santidade parece sempre girar em torno da vida devocional. Se você tem experimentado dificuldades consideráveis em iniciar e manter uma vida devocional regular, ainda permanece no ponto de partida da caminhada da santidade. Considere a possibilidade de voltar ao capítulo anterior e submeter‐se novamente aos “Dez passos da purificação”, que apesar de ser um processo doloroso traz libertação. Por favor, não acredite na mentira que a razão de você não ter uma vida devocional regular é falta de disciplina ou falta de vontade. O peso negativo dos pecados preexistentes em sua vida é tão forte que você só consegue carregá‐lo por alguns dias e logo desiste. Entretanto, sem um tempo regular com a Palavra, você não pode e não vai crescer na santidade.

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2. Serve ativamente ao Senhor em pelo menos um ministério regular. Em alguns casos, este estágio pode vir antes do primeiro. O Senhor sempre encoraja seus filhos a servi‐lo, e muitas vezes este é um primeiro passo e mais fácil em direção a Deus. Se você ainda se limita a freqüentar a igreja e permanecer à margem do serviço ao Senhor, está na hora de aproximar‐se do centro dele. Lembre‐se, o Senhor o salvou por sua graça, mas o salvou também para sua obra: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10). 3. Aspira a profundamente viver uma vida muito mais santa. Em algum ponto, durante o movimento progressivo em direção da santidade, o cristão chega a uma encruzilhada. Como forma de preparação, o Senhor geralmente o conduz a várias decisões menores, as quais o levarão mais perto ou mais longe da santidade. Se o cristão continua escolhendo o caminho da obediência, então finalmente o Senhor o leva à “grande decisão”: se vai ou não buscar a santidade em sua vida, ativa e conscientemente. Pense um momento em nossa Introdução, sobre aqueles homens que foram desafiados a se descrever em poucas palavras – se “santidade” apareceria em alguns de seus cartões. Você se lembra da aversão deles ao conceito? Santidade não era algo que desejavam, por isso ficavam presos num beco sem saída da vida espiritual. 4. Apega‐se a Cristo por meio da vida devocional regular e de qualidade. Nesta fase da caminhada, o cristão já experimentou várias purificações profundas e quebrantamento. Seu coração já se tornou mais fervoroso e sua fome pelo Senhor cresceu consideravelmente. Por causa desse desejo ardente, finalmente está disposto a pagar o preço exigido pela purificação mais profunda, para experimentar mais do Senhor. Como resultado, o Senhor permite que o cristão experimente um relacionamento mais significativo e mais satisfatório com ele. Neste ponto ocorre uma transição mais importante: A devoção sai da categoria “obrigação”, a qual exige muita determinação e disciplina e passa para a categoria “prazer”, o que significa que o resultado excede muito o esforço. O sacrifício parece insignificante em relação ao que se alcança. A devoção cresce e atinge o ponto mais elevado da vida do cristão naquele momento. 5. Avança fielmente, obedecendo ao Senhor em áreas específicas da imagem de Cristo. Depois que o senhor alimenta profundamente seu filho, por meio da devoção íntima, começa a chamá‐lo para uma obediência maior. Neste ponto, o cristão deseja mais do Senhor com tamanha intensidade que está mais do disposto a fazer tudo o que ele exige. À medida que o relacionamento com Deus se aprofunda, o cristão também se torna mais sintonizado com seu coração e anda com maior cuidado, não desejando entristecer ou extinguir o Espírito Santo. Neste ponto,o cristão ultrapassa mais uma barreira em sua vida espiritual: a obediência não é mais um fardo, uma obrigação que a Bíblia ordena que cumpra. Pelo contrário, a obediência é a alegria do relacionamento porque seu amigo mais próximo e Senhor mais compassivo o desafia a ser como ele. Que diferença! É durante este período da vida espiritual que o cristão começa a ver com outros olhos os mandamentos do Novo Testamento. Aqueles que anteriormente eram desprezados agora se tornam diretrizes pessoais recebidas de um Pai amoroso. O cristão não mais racionaliza áreas inteiras de sua vida – de fato, ele busca com determinação: “Revesti‐vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai‐vos uns aos outros, perdoai‐vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós” (Cl 3:12,13). 6. Aumenta o investimento de tempo, talento e finanças na obra do Senhor. Nesta fase do progresso do cristão em direção à santidade pessoal, são tantas as áreas de sua vida que começam a trabalhar juntas pela primeira vez que o cristão se sente como se estivesse sendo carregado pelo Senhor (e está mesmo!). Quando seu coração é quebrantado, purificado e redirecionado, o cristão começa a ver a vida da perspectiva celeste e não da terrena. Essa mudança dramática de perspectiva faz uma diferença fundamental na tomada de decisões. Áreas da vida do cristão que antes eram prioritárias agora são deixadas de lado, quando ele percebe sua falta de significado eterno. Com o passar do tempo, o Senhor continua convidando o cristão a buscar níveis cada vez mais profundos de santidade. É durante esta fase que ele percebe que é mordomo de usa vida e não dono. Quando se submete ao Senhor, começa a redirecionar seu tempo, talentos e recursos para a obra do Senhor. O tempo do cristão torna‐se um bem precioso, o qual ele “administra” como nunca. Seus talentos agora são vistos com um bem que lhe foi confiado, o qual o Senhor o chama para multiplicar para a eternidade, como revelado na parábola 82


dos talentos em Lucas 19. Por fim o cristão libera o dinheiro do Senhor (em vez de retê‐lo para proveito próprio ou por medo do futuro) e alegremente contribui com uma porcentagem maior de seus ganhos para o serviço divino. 7. Abandona tudo para conhecer a Cristo e servi‐lo. Creio que o nível “supremo” da santidade positiva é a completa conformidade à imagem de Jesus Cristo em todas as áreas da vida. Tudo o que o cristão deseja neste estágio final é ser um com Cristo e servi‐lo, da mesma maneira que Cristo serviu ao Pai – de maneira absoluta, fiel e fervorosa. Paulo registrou sua atitude e suas ações neste sétimo estágio em Filipenses 3:8‐14. Note o profundo despojamento e a intensidade da comunhão e do serviço: “Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo [...] para o conhecer, e o poder da sua ressurreição [...] prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. [...] esquecendo‐me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o premio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” A esta altura, você deve estar se perguntando se a atitude de Paulo é de fato realista. Devemos buscar seguir os passos de Cristo e no final demonstrar a mesma atitude, ações e aspirações? A Bíblia responde a esta questão nos versículos seguintes: “Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se porventura pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. [...] Irmãos, sede imitadores meus e observais os que andam segundo o modelo que tendes em nós. Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas. Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” Filipenses 3:15,17‐20 Faça uma pausa e avalie onde você está em seu progresso em direção à santidade. Nível 1 Tenta manter uma vida devocional, mas fracassa constan‐ temente

Nível 2 Serve ativa‐ mente ao Senhor em pelo menos um mi‐ nistério regular

Nível 3 Aspira a profun‐ damente viver uma vida muito mais santa

Nível 4 Apega‐se a Cristo por meio da vida devocional regular e de quali‐ dade

Nível 5 Avança fielmen‐ te, obe‐ decendo ao Se‐ nhor em áreas específi‐ cas da imagem de Cristo

Nível 6 Aumenta o investi‐ mento de tempo, talentos e finanças na obra do Senhor

Nível 7 Abandona tudo para conhecer a Cristo e servi‐lo

PLANTE SANTIDADE HOJE PARA COLHER SANTIDADE MAIS TARDE A santidade não é algo natural, ela é sobrenatural. Ela não vem como resultado de uma ou duas “crises de experiência”. Ela se desenvolve ao longo de anos e anos de vida piedosa. Os padrões de santidade são bem claros e incluem “todo o nosso procedimento”, de acordo com as palavras de Pedro. Nas palavras de Zacarias, em Lucas 1:74,75, há uma notável profecia sobre a obra de Jesus por nós: “Conceder‐nos que, livres das mãos de inimigos, o adorássemos sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias.” Quando você considera esses dois versículos, percebe que podem conter o resumo mais notável de toda a Bíblia do objetivo de nossa vida de santidade: adorar ao Senhor, em santidade e justiça, todos os dias de nossa vida! Quanto mais caminho com o Senhor, mais me convenço de que um dos segredos da vida espiritual está nas palavras: “todos os nossos dias”. Não diz “todas as semanas de nossa vida”, “todos os meses de nossa vida”, nem “todos os anos de nossa vida”. A santidade cresce mais com a vida cotidiana, portanto, nesta seção do livro a maior parte das aplicações práticas é diária e específica, gerando resultados garantidos em sua peregrinação para a santidade pessoal em tempos de tentação. As palavras “resultados garantidos” podem soar um tanto exageradas, mas deixe‐me dizer que não são de forma alguma uma afirmação otimista demais. Pelo contrário, são tão certas quanto as leis imutáveis do 83


plantar e colher. Aquilo que se planta inevitavelmente será o que se vai colher. Plante sementes no jardim da santidade e você colherá o fruto da santidade. Não por algum tempo, nem na maioria das vezes, mas sempre. Que encorajador! Significa que se você planta sementes de santidade, as verá crescer,florescer e dar frutos de santidade. Não há necessidade daquela “esperança cega” de que talvez o Senhor as faça germinar. Precisamos lembrar de quatro coisas quando iniciamos esta seção: 1. Lembre que o tempo entre a semeadura e a colheita exige grande paciência A paciência não é necessária no processo de plantio ou de colheita, mas ela é necessária basicamente no período entre ambos. Lembro quando plantei minhas primeiras sementes de legumes no quintal de casa, quando era criança. Todas as manhãs eu descia as escadas correndo, saía em disparada pela porta de trás para ver a pequena horta de 3m x 90cm que parecia um enorme campo aos meus olhos de 4 anos de idade. Verificava todos os dias para ver se meus pés de tomate, berinjela e rabanete já tinham crescido. Depois de três dias, eu queria desenterrar as sementes para ver se ainda estavam lá! Dia após dia, nada acontecia,e eu ficava mais e mais desanimado. Meu sábio pai me dizia repetidas vezes que eu precisava ter paciência, que as sementes brotariam quando chegasse o tempo certo. Talvez Paulo conhecesse bem a tendência dos cristãos de ficarem impacientes e perderem a esperança de que seus esforços seriam recompensados quando escreveu Gálatas 6:7,9 (com alguns comentários meus, à guisa de explicação): “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. [...] e não nos cansemos de fazer o bem [plantando sementes de santidade], porque a seu tempo [exatamente dentro do programado] ceifaremos [não que talvez ceifemos ou esperemos ceifar, mas ceifaremos], se não desfalecermos [desanimarmos porque nada acontece rápido o suficiente e pararmos de semear e cuidar da lavoura no meio tempo].” Nunca duvide, nem por um momento, que, se você continuar nesses hábitos de santidade, de fato experimentará uma “colheita de santidade” gloriosa e abundante. Quanto maior for a colheita que você deseja, mais deve semear. Deus garante resultados diretamente proporcionais à semeadura, mas em quantidade muitíssimo maior. Sabe por quê? Porque você sempre colhe muito mais do que planta. Plante uma única semente de melancia e faça planos de convidar todos os seus vizinhos para ajudá‐lo a comer os frutos da colheita. 2. Lembre que a confiabilidade de sua colheita depende da qualidade da semente Plante sementes de tomate, e, não importa quanto você trabalhe, espere e se esforce, não pode nem vai conseguir colher pepinos. Se você busca a santidade, deve plantar sementes de santidade. Se plantar sementes de tomate de má qualidade, os resultados não serão garantidos. Se você plantar e regar sementes ruins, o retorno não será satisfatório, pelo contrário, será desanimador. Muitos cristãos se apóiam em práticas emocionais e incomuns para desenvolver santidade em suas vidas. Tais práticas parecem ter rompantes de tremendo sucesso, mas são seguidas por escorregões que acabam culminando em derrota. Em todas as partes do mundo por onde viajo, encontro muitos cristãos desiludidos, que por um motivo ou outro se desviaram da busca da santidade. Uma grande porcentagem parece ter confiado em “semente ruim” para produzir frutos. Em vez de buscar “os bons e velhos padrões de santidade” usados pela Igreja através dos séculos, certo número de cristãos parece ser atraído pelos métodos novos de santificação, a exemplo da mariposa que é atraída para a luz. Depois de décadas observando esta prática, posso encorajá‐lo a não se desviar do caminho estreito e direto? Se certa prática de santidade não é ensinada claramente nem há exemplos na Bíblia, se não foi praticada pela Igreja através da história (por exemplo o compartilhamento), não adote tal método. Posso dar um exemplo pessoal: na noite passada, fui dormir depois de escrever o parágrafo acima. Nesta manhã, eu estava lendo o famoso livro de John Bunyan, O Peregrino, escrito na metade do século XVII. Note a advertência contra esta mesma tendência perigosa: “No pouco tempo que tenho de cristão, observei que há muitos correndo para lá e para cá – alguns por este caminho, outros por ali; mesmo assim, deve‐se temer que muitos não estão no caminho certo. Como resultado, embora corram tão rápido quanto o vôo de uma águia, não têm nenhum benefício. Alguns correm atrás de agitação, outros correm atrás de barulho; outros ainda vão atrás de batismo, e outros querem independência... É possível que todos esses... estejam correndo na direção errada...” Como alguns de meus amigos, no decurso dos anos, têm entrado por vários desses caminhos, venho intercedendo por eles diante do Senhor e buscando a raiz do erro. Embora possa haver algumas exceções, 84


tenho chegado a algumas conclusões: a grande maioria dos cristãos que perdem o rumo e desviam‐se na busca da verdadeira santidade geralmente tem um desses três traços em comum: Primeiro, exibem uma propensão para uma atitude “cola rápido” para uma questão que não permite tal procedimento – ou seja, geralmente não estão dispostos a praticar as “coisas difíceis” relacionadas à santidade, preferindo buscar métodos mais simples, mais fáceis e mais rápidos. Segundo, exibem uma tendência de tomar decisões com base em experiências emocionais e “sinais” em suas vidas, os quais validam a direção incomum que escolhem. Em outras palavras, acreditam, com base em numerosas experiências pessoais, que o Senhor os está chamando de forma sobrenatural para aquele método incomum. É quase universal o fato de aqueles que caem nesta armadilha acabarem defendendo suas posições com as palavras: “mas o Senhor me disse...” Terceiro, exibem uma ambição egoísta profundamente oculta, a qual os impele a buscar as “coisas profundas de Deus” acima dos amigos, da família e dos colegas. Em algum ponto desse caminho para a desilusão, acreditam que encontraram uma “verdade perdida” ou uma “verdade desconhecida” sobre a vida espiritual, a qual Deus lhes revelou com exclusividade. As outras pessoas não apreciam suas idéias, ações, ou direção simplesmente porque não foram iniciadas nesse “nível mais profundo de verdade”. Caro leitor, se você se identifica com um desses três traços, está em águas perigosas, e tempestades muito maiores poderão abater‐se sobre sua vida. Fuja dessas águas! Abandone este barco. Pare de ler qualquer literatura que esteja lendo. Pare de ir a qualquer reunião que esteja indo. Pare de ouvir as “fitas” que promovem tais atitudes. Volte para o caminho reto e estreito de todo aquele que encontra a bêncão da santidade. Embora você sem dúvida atravesse águas bem menos empolgantes por algum tempo, sua vida espiritual será levada a um porto seguro. 3. Lembre que entre a semeadura e a colheita você precisa continuar cuidando da lavoura Na busca da santidade, não esqueça que é inevitável que surjam ervas daninhas. Se você é novo nesta busca, aguarde muitos tipos diferentes de ervas! Por quê? Porque antes, em sua vida, você deixava seu “solo” livre, à mercê da natureza. Todos os tipos de espinhos e ervas indesejáveis entravam e praticamente dominavam seu jardim. Quando você cria um jardim, no início parece que nunca vai terminar de arrancar as ervas daninhas. “Todo esse trabalho apenas por alguns tomates!”, talvez você acabe falando. No ano seguinte, porém, terá menos ervas daninhas e muito mais tomates. Quando você dedica sua atenção àquele pedaço de terreno, e as sementes e raízes de ervas indesejáveis são arrancadas e queimadas, lentamente o solo vai se tornando totalmente devotado à sua vontade e às sementes que você planta. Em vez de lutarem para crescer em seu jardim cheio de ervas daninhas, suas plantas selecionadas experimentarão uma liberdade quase total de crescer sem aquelas poderosas distrações, diversões e desastres. Assim, você pode perceber que sua vida pode estar coberta por todo tipo de erva daninha, capim e espinhos. Não desanime, continue trabalhando! Confesse e purifique‐se sempre, à medida que novas sementes de pecado continuam aparecendo. Com o tempo, cada vez menos aparecerão, por causa das repetidas limpezas feitas no jardim. Você acha que as pessoas maduras têm a mesma quantidade de erva daninha depois de décadas de jardinagem espiritual, cuidadosa e diligente? Dificilmente. E você precisa ver a colheita que fazem! 4. Lembre que santidade exige plantar e colher vários “hábitos santos” Quando nossa família morou pela primeira vez no campo, plantávamos apenas duas coisas: melancia e batata‐ doce. Tivemos uma grande colheita, mas também aprendemos uma dura lição! Três semanas depois da colheita, todos sentíamos que, se víssemos outra melancia ou batata‐doce, iríamos sair gritando. Demos sacos cheios de batatas e melancias a nossos amigos e decidimos que no ano seguinte seríamos muito mais sábios na hora de plantar. Plantar apenas um ou dois produtos leva ao tédio. Você sabe o que parece ser o inesperado culpado da busca sincera que os cristãos fazem pela santidade? O tédio. Inicialmente o cristão sente‐se culpado por se sentir entediado. Como alguém pode sentir‐se entediado pela santidade? Limitando‐se a apenas um ou dois tipos de práticas de santidade em sua vida. Torne‐se um praticante da santidade altamente diversificada. Por exemplo, pense por um momento e relacione todos os métodos que você utiliza atualmente na busca de sua santidade. Tente disciplinar‐se por um instante e preencha esta pequena tabela: *Método 1 para busca da santidade *Método 2 para busca da santidade

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*Método 3 para busca da santidade *Método 4 para busca da santidade *Método 5 para busca da santidade

O que você descobriu? Ontem à noite, Darlene e eu conversávamos bastante sobre nossos vários métodos de santificação, como indivíduos e como casal. Chegamos a uma boa lista, quando relacionamos as várias ferramentas que são significativas nesta fase atual de nossa vida! Muitas vezes os cristãos se restringem ao uso de apenas um ou dois métodos para buscar ao Senhor e a santidade. Quero encorajá‐lo a descobrir mais alguns e fazer uma lavoura rotativa. Deixe sua “terra” descansar de um método e passe para outro. Lembre‐se, os métodos de santificação são apenas ferramentas em suas mãos, para ajudá‐lo a alcançar a santidade aos olhos de Deus. Seja qual for a ferramenta que funcione para você (seja bíblica, seja comprovadamente utilizada pela Igreja durante sua história) é aceitável! Que seu coração não apenas se volte para a santidade mas que seus hábitos também se voltem para ela! Venha, junte‐se a nós e conheça os hábitos primários de santidade. 10 OS HÁBITOS FUNDAMENTAIS DA SANTIDADE A beleza serena e silenciosa de uma vida santa é a influência mais poderosa do mundo, depois do poder do Espírito de Deus. Blaise Pascal No início do século XX, Samuel Smiles expressou o tema deste capítulo: “Plante um pensamento e você colherá uma ação; plante uma ação e colherá um hábito; plante um hábito e colherá um caráter; plante um caráter e colherá um destino.” Essas ações articuladas da vida são inquestionáveis e inquebráveis. Nós passamos dos pensamentos à ação, desta ao hábito; e os hábitos dão forma ao nosso caráter. Essas etapas nunca mudam de ordem em sua vida; nenhuma delas é saltada. Em última análise, seu destino é controlado por seus hábitos e pensamentos. Bem no meio dessa cadeia de cinco etapas (do pensamento à ação, da ação ao hábito, do hábito ao caráter, do caráter ao destino) encontra‐se o conceito de “hábito”. Um hábito é uma tendência estabelecida ou uma maneira usual de comportamento adquirido pela repetição constante ao longo do tempo, de modo que se tornou quase ou completamente involuntário. Quando um hábito é criado, um caráter é formado. Ao pensar sobre isso, você percebe que o caráter é a soma total das atitudes habituais e qualidades de uma pessoa. Quando há uma grande mudança de hábito, a parte do caráter correspondente também muda. Por exemplo, se uma pessoa mente constantemente, seu caráter torna‐se indigno de confiança. Se ela aprende a dizer habitualmente a verdade, seu caráter torna‐se totalmente confiável. Digamos que você está numa festa da empresa onde trabalha e uma de suas colegas está se comportando de modo impróprio. Ao descrever as atitudes dela a seu chefe perplexo, você diz que ela está “fora de si”, o que significa que ela não está agindo de forma habitual. Mude seus hábitos, e no tempo devido você mudará seu caráter. Portanto, para ter uma vida de santidade, substitua seus hábitos por hábitos santos. Se você deseja ser uma pessoa com um caráter santo, precisa identificar e desenvolver hábitos pessoais santos. Quanto maior o tempo e a intensidade que esses hábitos forem praticados, mais se tornarão parte de sua vida – até que finalmente se tornem “todo” você! Os hábitos que se tornam involuntários são chamados de “qualidades de caráter”. Quando as pessoas tentam mudar o próprio caráter, devem mudar seus hábitos. Passar da impureza para a santidade significa, pelo menos em um sentido, que os hábitos passaram de hábitos negativos e impuros para hábitos positivos e santos. Quando as pessoas buscam seriamente a santidade, a realidade do que significa tornar‐se santo deve passar do geral para o específico. A santidade não é uma existência utópica difusa, pintada dentro de uma aura reluzente e suave de nuvens. A santidade é específica e objetiva e deve ser praticada totalmente por aqueles que professam o nome d Senhor Jesus. O Senhor nos chama para ser “santos em todo nosso procedimento” e providenciou tudo de que necessitamos para viver na justiça e na piedade.

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A Bíblia ensina que a santidade é ao mesmo tempo uma posição e um processo, por isso temos de continuar pensando com clareza sobre como ela realmente funciona. A santidade começa quando aceitamos Jesus Cristo como Salvador pessoal. Nesse momento, o Senhor nos separa para si como seus filhos e membros de sua família. Dali em diante, ele nos chama para sermos transformados de glória em glória à imagem exata de Jesus Cristo. Com o passar do tempo, todos nós devemos mostrar os mesmos traços do caráter de Cristo – amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e autocontrole. Embora nossa vida possa ter fases em que há uma aceleração na santidade, o crescimento é gradual e firme. Ninguém pode perceber o crescimento de uma planta ou flor enquanto ele ocorre. No entanto, se sairmos de casa pela manhã e voltarmos à noite, é possível que um botão tenha se transformado numa linda rosa. Da mesma forma, nosso crescimento será lento, mas significativo. Dê tempo para que ele ocorra naturalmente e você verá diferenças notáveis. Em 2 Coríntios 7:1 Paulo nos exorta: “Purifiquemo‐nos de toda impureza, [...] aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus”. “Aperfeiçoando a nossa santidade” reflete o processo vitalício de nos tornarmos semelhantes a Cristo. Lembre‐se: os hábitos determinam o caráter. O caráter não pode ser transformado a menos que hábitos ligados aos pensamentos, crenças e comportamentos sejam mudados. Quando você muda seus hábitos, seu caráter também muda. Você não precisa “esperar” que, de alguma maneira ou forma, seu caráter mude, pois sabe que com certeza ele mudará. Não instantaneamente, mas com certeza. Da mesma forma que não pode ver uma rosa abrindo suas pétalas, você também não será capaz de ver seu caráter desabrochando em Cristo. Entretanto, faça uma avaliação de sua vida depois de alguns meses e você não se reconhecerá! Como é possível que a santidade resulte de tais hábitos? Porque a Bíblia várias vezes nos exorta a praticá‐los – muitas vezes com promessas e benefícios vinculados. Durante toda a história da Igreja, cristãos com você e eu praticam esses hábitos e sempre tiveram os mesmos resultados benéficos. Você não precisa sair por aí à caça de alguma palavra mágica ou de rituais secretos de iniciação – esses hábitos são óbvios e estão ao alcance de todos nós. Faça a experiência: pense na pessoa mais piedosa que você conhece. Entre em contato com ela e diga que você está lendo este livro e que o autor o incentivou a fazer uma pergunta: “Quais são os três segredos de sua caminhada com Deus e seu estilo de vida piedoso?” Se minha própria experiência reflete a regra, você descobrirá que a resposta será as mesmas disciplinas espirituais relacionadas neste capítulo e no próximo. Não espere nada novo ou exótico. O mais importante: a resposta só poderá ser coisas que fazem uma diferença significativa quando aplicadas regularmente por um longo período de tempo. HÁBITO SANTO 1: CRIE SEU HÁBITO DEVOCIONAL Atualmente qual é o centro de sua vida? Seu trabalho? Seu casamento? Sua família? Sua igreja? Seu dinheiro? Seus negócios? Qualquer que seja o centro de sua vida, você deve passá‐lo para o segundo lugar, para que o Senhor e seu tempo com ele possam reinar como figura central. A mudança individual mais importante que você pode fazer para plantar sementes de santidade e depois colher santidade é colocar seu “hábito devocional” diário na lista de prioridades neste exato momento. Metade do “hábito devocional” é a palavra “devoção”, que significa “separar para um fim especial e muitas vezes mais elevado”. O foco da devoção diária não são os procedimentos específicos seguidos, mas o relacionamento íntimo com Deus. Você se devota ao Senhor e por isso escolhe dedicar seu tempo diariamente a ele, como prioridade. Ele é a pessoa mais importante do mundo para você, por isso você não permite que ninguém ou nada lhe tenha precedência. Eis algumas dicas que podem melhorar seu hábito devocional. 1. Escolha o local para seu “hábito devocional” A primeira chave para uma vida devocional bem‐sucedida é escolher um local favorito em sua casa. Deve ser um local confortável, absolutamente quieto e o mais particular possível. Na casa de Wilkinson, o “lugar de Darlene” é na sala da frente, na cadeira de balanço verde; o “lugar de Jessica” é o quarto dela; o “lugar de Bruce” é o porão, no canto que dá para o quintal.

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Naquele canto está minha cadeira azul favorita, presente inesperado de um amigo do Colorado. Bem em frente da cadeira, ao longo da parede, há uma estante com meus livros de “vida espiritual”, meus registros mais recentes e meu caderno de oração. À esquerda há uma luminária e uma pequena mesa; à direita, um grande globo, que uso para orar pelas nações do mundo. Para mim, o local é perfeito. Com o passar do tempo, separei aquele lugar para o Senhor e o dediquei como local em que me elevo para encontrá‐lo pela manhã. É um lugar cheio de louvores, adoração, meditação e amizade profunda. 2. Separe o horário para seu “hábito devocional” Eu cresci como uma pessoa de hábitos noturnos. Tinha certeza de que não fazia diferença para Deus o horário que escolhia para fazer a minha devocional, e lembro‐me de defender minha opinião com veemência, no início do seminário. Um dia, há muitos anos, estava discutindo essa questão com um velho professor, e ele me perguntou se os gigantes espirituais da história em geral faziam devocional de manhã ou à noite. Tive de admitir que todos os que eu conhecia faziam devocional pela manhã, mas rapidamente destaquei que aquilo não provava nada. Quando terminei, o professor cruzou os braços, sorriu e se sentou – sem dizer nada. Finalmente, quando eu não tinha mais argumentos, ele falou de forma gentil, mas bem séria: “Bruce, enquanto você não parar de defender sua preguiça e não se levantar cedo, não encontrará a Cristo como deseja”. Depois, se levantou e foi embora. Aquele amigo estava absolutamente certo. As primeiras horas da manhã são as horas da santidade. Com o tempo as coisas mudaram, e eu me tornei uma pessoa comprometida com o hábito de levantar cedo. O Senhor e eu gostamos de nos encontrar enquanto o Sol ainda está nascendo para se unir a nós. Isso pode significar alterações em sua rotina, com ir mais cedo para a cama ou diminuir as horas de sono. Para ser honesto, na vida agitada da maioria das pessoas, quando há uma mudança de prioridade com essa, geralmente o sono é prejudicado até que se aprenda a ser mais disciplinado. Seja qual for sua escolha, encontre‐se com o Senhor no mesmo horário todos os dias da semana. Com relação ao sábado e domingo, você deve escolher um horário apropriado no fim de semana. Pessoalmente costumo me levantar cedo aos domingos, mas não aos sábados. O sábado geralmente permite um horário mais flexível, e duvido que o Senhor não aprecie nosso tempo de descanso. Cuidado para não cair na tentação de tornar‐se legalista em sua caminhada cristã. Seu tempo devocional deve seguir o fluxo da vida, considerando‐se as emergências, a exaustão e as situações inesperadas. Enquanto eu ministrava em Asheville, na Carolina do Norte, há alguns dias, fiquei aconselhando durante o dia todo e por boa parte da noite. Na manhã seguinte eu estava tão exausto emocional e fisicamente que me levantei cedo, coloquei uma cadeira confortável perto da lareira e aproveitei a presença do Senhor em silêncio. Não cumpri meus procedimentos usuais, não segui minha lista de oração, não escrevi em meu diário, nem mesmo li a Bíblia. O que eu fiz? Apenas me sentei na presença de Deus por uma hora – adorando e me alegrando nele. Lembre‐se, a devocional pertence ao homem e não o homem à devocional. 3. Organize sua agenda “devocional” para cada dia do ano Nada parece arruinar as boas intenções mais rapidamente do que cambalear até o local da devocional, de manhã, e não saber ao certo o que fazer – desperdiçando aqueles momentos preciosos em frustração, tentando pensar no que poderia fazer. Tire essa complicação de sua vida! Estabeleça uma rotina que você possa seguir todas as manhãs. Descobri que o melhor é estabelecer uma nova rotina para cada ano, com base no que se descobriu no ano anterior. Assim, quando finalmente sento em minha grande cadeira azul, com meu suco de laranja ou café, não perco um segundo. É maravilhoso, mas tenho de admitir, infelizmente, que levei anos para chegar a esse ponto. Ainda me lembro a frustração de ficar folheando a Bíblia, tentando escolher um texto para ler, ou sobre o que orar ou como começar. Agora, isso não acontece mais. É maravilhoso! Qual o segredo? Avalie o que funciona para você. Escreva o que descobriu num cartão, ou numa folha de papel, e tente repetir no dia seguinte, fazendo depois uma avaliação. A princípio o processo pode levar algumas semanas – relaxe e não tente estabelecer uma rotina imediatamente. Inicie o procedimento e faça alterações na lista de etapas até que se sinta confortável com ela, então siga as etapas durante o resto do ano. A questão não é quantas coisas você faz, mas as coisas que faz realmente funcionarem para você. 88


DICAS PARA O SUCESSO Você deve começar pela coisa mais fácil, mais motivadora e que realmente desperte seus sentidos. Não comece se debatendo com as coisas difíceis, mas prepare‐se para elas. Por exemplo, uma das amigas de Darlene começa a sua devocional de manhã, ligando uma fita de cânticos de louvor, fechando os olhos e cantando por uns dez minutos. Eu costumo ler um trecho da biografia de algum homem de Deus ou outro livro de devoção – isso carrega minha bateria. Lembre‐se de que a chave é você começar com aquilo que acha mais fácil, mais agradável e que lhe traga ânimo imediato. Não há nada mais espiritual do que começar a devocional com a oração. Entretanto, se eu começo pela oração, corro o risco de pegar novamente no sono! Darlene, no entanto, começa seu dia com oração e louvor, depois lê a Bíblia, faz suas anotações e termina com outro tempo de oração. A ordem estabelecida deve ser importante para você, não para os outros. Segundo, quando você estiver pronto para buscar ao Senhor de todo coração, pare e prepare‐se para o encontro. Feche os olhos e acalme seu coração. Concentre‐se na sala do trono nos lugares celestiais. Traga cada pensamento cativo e não permita que sua mente fique divagando, distraindo‐se com outras coisas. Se tudo isso é novidade para você, pode ser que fique bastante frustrado por ver que sua mente se comporta como um cachorrinho inquieto e indisciplinado, saltando e correndo para todos os lados. Nos primeiros meses, essa inquietação mental pode durar algum tempo, mas não se desanime. Com o tempo, levará apenas alguns segundos para colocar seu coração em foco. Terceiro, siga os procedimentos na mesma ordem, todos os dias. Não pule nenhuma etapa, não importa quanto seja tentado a fazê‐lo. Discipline‐se e não permita que a “tentação da fuga” se aposse de sua determinação. O sentimento de “fuga” pode ser muito forte, mas pode ser totalmente controlado. Siga como dedo a etapa em que está na devocional e não o mova para a próxima enquanto não tiver terminado. Quando sinto vontade de pular alguma etapa, observo‐a e faço um asterisco nela, como um alerta da oposição espiritual. Seja o que for que você faça, não permita que sua concentração se afaste do Senhor e daquilo que se comprometeu a fazer naquela etapa da devocional. Quando você mantém sua atenção em Jesus Cristo, a oposição sempre se desvanecerá bem diante de seus olhos. Não duvide disso. Hoje mesmo, pela manhã, quando cheguei ao número 16 de minha lista de oração, inesperadamente experimentei esse tipo de oposição e lembrei que isso acontecera nos dias anteriores. Por quê? Não sei, nem preciso saber – assim, renovei meu fervor e fui adiante. Amanhã chegarei a este ponto com fé e submissão ao Senhor, sabendo que a oposição fugirá para a escuridão. Quarto, não permita que nada substitua esses dois absolutos: a oração e a Palavra de Deus. Não permita que nenhum livro, por melhor que seja, tome o lugar da Bíblia. Jamais pule ou diminua o tempo da oração. Independentemente do que você faz em sua devocional, pelo menos 50% do tempo total deve ser dedicado aos “dois grandes”: a oração e a leitura da Palavra. Faça isso agora mesmo. Pegue um pedaço de papel e crie o primeiro esquema de sua devocional. Amanhã, depois de seguir as etapas, faça uma revisão. Se for seu primeiro ano, limite‐se a três ou quatro etapas, do contrário vai começar a se exercitar com muito peso. Valorize mais o hábito do que a dificuldade ou a intensidade neste estágio! Pegue essas etapas básicas e coloque‐as na ordem que seja melhor para você: Leitura da Bíblia, Oração, Louvor, Anotações, Leitura de um livro cristão. O que acontece se você falhar um dia? Ou uma semana? Ou mesmo um mês? Prepare‐se para reiniciar este hábito santo e retorne exatamente onde parou! Não tente recuperar o tempo perdido, apenas siga em frente. Nunca se permita construir uma montanha a ser conquistada a fim de “pagar” sua negligência em relação ao Senhor. Cristo pagou por todos os seus pecados e pelos meus. Seu pagamento foi suficiente para o Pai, portanto, deve sê‐lo também para você. Peça perdão ao Senhor, como faria a um amigo, por evitar sua companhia e receba o perdão e o abraço caloroso do Senhor. Ele sentiu sua falta mais do que você sentiu a dele. Lembre‐se: nenhum relacionamento dura muito tempo se estiver baseado apenas na culpa e na obrigatoriedade. 89


HÁBITO SANTO 2: MEDITE NAS ESCRITURAS De todos os hábitos santos específicos que promovem a santidade e controlam diretamente sua transformação numa pessoa santa, a leitura da Palavra de Deus é o de alta prioridade. Embora você possa achar que a oração é o segredo da transformação, não creio que seja isso que a Bíblia ensina. Pelo contrário, ela própria é o agente transformador básico. Evidentemente, o Espírito Santo é o transformador por excelência, mas ele utiliza a Bíblia como sua ferramenta principal de transformação. Note como o apóstolo Paulo descreve esta transformação em Romanos 12:2b: “Transformai‐vos pela renovação da vossa mente”. A transformação começa na mente do cristão, e não em seu comportamento. Todos nós agimos exatamente de acordo com aquilo que cremos. Embora possamos pensar que nosso comportamento não reflita nossas convicções mais profundas, a Bíblia revela que ele reflete. De fato, nunca há exceção. Se eu peco, é porque, naquele momento, considerando todas as opções, concluo que o pecado atende melhor meus interesses, caso contrário, eu não pecaria. Quando eu realmente acredito que a melhor opção é a obediência, então esta será minha escolha. Aquilo que eu penso determina o que faço. Meus pensamentos determinam meu comportamento. Já que esta é a verdade, então a questão crucial é que minha mente seja mudada para pensar exatamente o que a Bíblia ensina. De modo geral, nossa mente não é transformada de imediato, num lampejo, mas aos poucos, à medida que compreendemos mais e mais a verdade e cremos nela. Paulo revelou que a transformação é um processo, pois escolheu a palavra “renovação”, que literalmente significa “tornar novo outra vez”, outra vez e outra vez. O cristão deve tornar sua mente nova repetidamente, até que cada pensamento da “antiga” maneira de pensar tenha sido extirpado e tudo que faz parte da “nova” (bíblica) maneira de pensar tenha sido firmemente plantado e tenha criado raiz. A transformação ocorre pela renovação da nossa mente pela Bíblia, não apenas pela leitura dela. Embora a leitura bíblica certamente influencie nossa vida de muitas maneiras maravilhosas, a transformação só ocorre quando nossa mente é mudada, deixando de acreditar numa mentira para crer na verdade. Se a leitura da Bíblia não se ajusta à nossa maneira de pensar, então a Bíblia não transformará, num toque mágico, nosso comportamento. Nunca esqueça as famosas palavras de D. L. Moody: “A Bíblia não foi dada para nossa informação, mas para nossa transformação”. Não leia a Bíblia buscando apenas informações; leia‐a para a transformação por meio da renovação de sua mente. 1. Renove sua mente lendo a Bíblia toda ou o Novo Testamento anualmente A leitura da Bíblia toda ou do Novo Testamento anualmente é uma prática maravilhosa, adotada por centenas de milhares de cristãos comprometidos. Não há nada melhor para a vitalidade espiritual em geral do que ler grandes passagens bíblicas todos os dias. Como você pode prever, o Ministério Através da Bíblia é profundamente comprometido com esta prática. Já publicamos mais de 100 milhões de guias devocionais e muitas Bíblias para que as pessoas possam ler e renovar a mente por meio da Palavra de Deus. Teremos prazer em ajudá‐lo, encorajando‐o a desenvolver o hábito diário de ler a Bíblia e meditar 2. Renove sua mente meditando em textos cuidadosamente selecionados Diferentemente da leitura de grandes trechos bíblicos, este hábito seleciona cuidadosamente pequenas passagens que se concentram em áreas específicas que precisam ser transformadas para que você agrade totalmente a Deus. Como você pode saber em quais textos deve meditar? Observe seu próprio comportamento e atitudes. Sempre que você descobrir pontos que não condizem com Jesus, é sobre eles que deve meditar! Selecione a área em que aparecem os pontos e procure de três a cinco versículos ou capítulos na Bíblia que tratem diretamente do problema. Escreva os versículos ou capítulos em pequenos cartões e leia‐os em voz alta todos os dias. Dedique pelo menos um mês para cada área, pois você não conseguirá renovar sua mente por completo em poucos dias. Medite bastante sobre esses versículos, pedindo ao Senhor que lhe mostre qual é a mentira que precisa ser descartada e qual a verdade que deverá substituí‐la. 90


Sempre que você ler os versículos, faça uma marcação no cartão e mantenha‐se firme até que a mentira ou a verdade sejam reveladas. Se você descobrir a mentira na qual acreditou até este momento em sua vida, que representava o poder por trás de seu pecado, renove sua mente de forma cuidadosa e ativa nessa área determinada até você reconhecer que sua mente foi literalmente transformada e começar a ver a realidade de uma nova perspectiva. Se o conjunto de pecados que recobrem essa determinada “mentira” não fizer mais parte de sua vida, você pode parar de meditar sobre o assunto, pois sabe que houve uma transformação! O âmago da meditação sobre as Escrituras não é o fato de você ter meditado, mas de você ter se transformado completamente naquela área. Portanto, o processo só tem valor para você na medida em que lhe traga transformação! Muitos cristãos bem‐intencionados memorizam muitos textos bíblicos, mas sem experimentar nenhuma transformação. Acham que, se conseguirem se lembrar do versículo, a transformação ocorrerá de forma automática e sobrenatural. Alguns dos cristãos mais carnais que conheço sabem citar de cor muitos textos bíblicos! A memorização das Escrituras apenas coloca os textos em seu “banco de memória”, para que possa meditar neles e ser transformado por eles. Se o objetivo é a memorização, então ela se torna um fim em si mesma mais do que um meio para o objetivo bíblico da transformação. Se você realmente deseja que sua vida seja transformada por meio da memorização de versículos, escolha uma área da vida que precise mudar. Defina essa área de sua vida com uma palavra bíblica, como ira, roubo, cobiça ou fofoca. Procure de três a cinco versículos bíblicos sobre o assunto que falem claramente a verdade e a diretriz para sua vida. Escreva os versículos em pequenos cartões. Carregue‐os consigo e leia‐os em voz alta várias vezes. Pense em cada palavra e busque a “sabedoria” que reside em cada versículo. Ore e peça ao Senhor que revele as “mentiras” que você está acatando na área determinada, confesse os pecados que tem cometido nela, um de cada vez. Identifique bem o que você costumava crer (a “mentira”) e que agora sabe que não é bíblico e declare a verdade bíblica, juntamente com suas atitudes e comportamentos piedosos: “A Bíblia diz que...” Apóie‐se ativamente no Espírito Santo para aplicar essas verdades e para capacitá‐lo no compromisso de conhecer a verdade e experimentar a liberdade de obedecer ao Senhor. A questão não é quantos versículos você memorizou, mas quantas áreas de sua vida foram transformadas! Não colecione versículos como “troféus”, quando o único troféu que causa júbilo no céu é sua vida santa. 3. Renove sua mente transformando textos bíblicos em oração Este é um hábito maravilhoso, que deve ser praticado regularmente. Selecione textos bíblicos que são particularmente significativos para você e transforme‐os em orações ao Senhor. Nos livros de Salmos, Provérbios, Efésios, Colossenses e Filipenses há passagens fáceis para esse propósito. Quando você faz orações ao Senhor com base em textos bíblicos, uma parte diferente de sua vida será influenciada e transformada. Geralmente a meditação toca sua mente. A meditação em forma de oração toca sua mente e seu coração. Quando você ler as Escrituras e nelas meditar, não deixe de fazer anotações pessoais em sua Bíblia. Marque a data em que o Senhor se comunicou com você, de uma forma especial, por meio de uma passagem. Um de meus primeiros professores no seminário um dia nos mostrou sua Bíblia – tinha linhas, setas, cores, círculos e anotações por toda parte! Mal pude acreditar. Fiquei imaginando se um dia faria o mesmo com minha própria Bíblia. Agora, passados trinta anos, quero encorajá‐lo a fazer o mesmo. Sempre que pego minha Bíblia para ler, apanho uma caneta azul e uma vermelha para marcar o que aprendo na própria Bíblia. Portanto, mude sua maneira de olhar para a Bíblia. Ela é um presente de valor incalculável, para todo o corpo de Cristo, bem como para cada cristão individual. Quanto mais você aproximar sua vida dos planos evidentes da Bíblia e usá‐la para os propósitos aos quais ela se destina, mais você experimentará o cumprimento das promessas divinas de transformá‐lo à imagem de Jesus Cristo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” 2 Timoteo 3:16,17 91


11 O HÁBITO DO DIÁRIO A santidade surgiu para mim com uma natureza doce, agradável, encantadora, serena e calma. Trouxe uma pureza, um brilho, uma paz e um arrebatamento inexprimíveis à alma. Em outras palavras, ela fez da alma um campo ou um jardim de Deus, com todos os tipos de lindas flores. Jonathan Edwards Primeiro você está deitado, depois ergue a cabeça, vira‐se de um lado para o outro, engatinha, fica de pé, cambaleia, caminha, anda depressa e finalmente corre. Primeiro aprende a contar, depois a somar, subtrair, multiplicar e dividir, depois aprende a resolver equações, aprende geometria e finalmente resolve problemas de trigonometria. Em todas as áreas da vida, sempre há “primeiros passos”, seguidos de “passos intermediários”, que por sua vez são seguidos de “passos avançados”. Este capítulo apresenta dois passos intermediários para a santidade, construídos sobre os hábitos fundamentais mencionados anteriormente. Como você pode prever, há segredos e habilidades de “especialistas”, que serão abordados no próximo capítulo. Se você conseguir praticar e, por fim, dominar todos os seis hábitos santos, posso garantir que sua vida será transformada radicalmente à maravilhosa imagem de Jesus Cristo. HÁBITO SANTO 3: O DIÁRIO DE ORAÇÃO O terceiro hábito santo que deve se tronar a “habilidade central” de quem busca a santidade é a oração. De todas as disciplinas espirituais, creio que esta é a mais discutida e a menos praticada. Muitas pessoas acham que a oração é ao mesmo tempo um dos aspectos mais fáceis e mais difíceis da vida cristã. Se a Bíblia é a ferramenta básica para a renovação da mente, a oração é a ferramenta fundamental para a renovação do relacionamento com o Senhor. A oração é a linguagem da comunhão e abre a porta da intimidade entre o humano e o divino. Sem uma forte vida de oração, sua caminhada à santidade será apenas uma tentativa unilateral de melhoramento humano. A oração é o agente catalisador do relacionamento e cria um elo entre seu coração e o coração de Deus. Além da oração ser a linguagem do relacionamento, Deus a designou para ser a ferramenta básica de liberação das respostas sobrenaturais a seus desejos, esperanças e situações impossíveis e emergenciais da vida. Embora alguns promovam o conceito de que Deus não intervém de forma sobrenatural hoje em dia, a Bíblia está repleta de mandamentos para buscarmos exatamente isso: uma resposta sobrenatural. O que é uma resposta sobrenatural? É quando Deus ouve a oração e responde a ela, e você se torna o recipiente de uma mudança proposital em sua “natureza” que Deus promoveu de modo “sobrenatural” em você. Ao entender que Deus respondeu a suas orações repetidas vezes, sua confiança no poder da oração crescerá exponencialmente. De fato, quanto mais você observa o Senhor responder, mais você se sente encorajado a orar por milhares de coisas que nunca sequer sonhou em pedir a ele. A Bíblia é claríssima e totalmente consistente no que diz sobre a oração: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma cosia ao Pai, ele vo‐la concederá em meu nome. Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” (Jo 16:23b,24). Deus faz alguma exigência para responder a suas orações? “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” João 15:7. Note que a primeira palavra é “se”, que geralmente precede uma condição que deve ser cumprida para que a resposta seja concedida. Além de João 15:7 requerer o “permanecer em Cristo” para o cumprimento da maravilhosa promessa da resposta às orações, exige também que “as palavras dele permaneçam em nós”. Tiago 15:16b‐18 vincula a oração de um “justo” às respostas: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos”. Essa passagem é notável, porque sua tese principal é de que o cristão do Novo Testamento pode experimentar respostas notáveis e, sim, sobrenaturais a suas orações – como as que foram feitas pelo profeta

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Elias: a oração do profeta literalmente interrompeu o ciclo normal das chuvas por três anos. Deus responde àquele que é justo e que ora com “insistência”. PEDIR NO NOME DE JESUS Não há dúvida quanto à razão pela qual hoje em dia as pessoas não estão recebendo muitas respostas às orações. Elas não mantém um relacionamento íntimo com Cristo nem obedecem à sua Palavra (santidade). Portanto, não podem herdar a promessa magnífica porem condicional de que Deus lhes dará o que pedirem – e a incrível alegria que tal resposta dá ao cristão. Não menospreze essas afirmações memoráveis e diretas, feitas pelo próprio Jesus, sobre a oração: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” João 14:13,14; “Pedireis o que quiserdes, e vos será feito” João 15:7b; “A fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo‐ lo conceda” João 15:16b; “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo‐la concederá em meu nome. Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa” João 16:23b,24. Você sabe o que a Igreja de Cristo faz com esses versículos? Basicamente, arranca‐os do Novo Testamento. Por quê? Por que os cristãos decidiram que não funcionam e, se não funcionam, não devem ser verdadeiros! Será que é assim? Não. Se os ensinamentos claros e repetidos da Bíblia não surtem efeito em nossa vida, não é porque a Bíblia de repente deixou de ser verdadeira, mas sim porque nós deixamos de cumprir os requisitos para obter as promessas. Leia novamente as passagens citadas e descubra quais são as exigências universais que Deus soberanamente vinculou às promessas. Cumpra essas condições, ore com fervor e fé e veja como o Senhor cumprirá suas promessas a você! Há pouco tempo, conversei sobre essa questão com um amigo íntimo, que é um guerreiro da oração. Jamais esquecerei o que aconteceu naqueles 20 minutos de conversa. Aquele homem de oração apenas sorriu e pegou seu diário de oração em cima de uma escrivaninha. Era 30 de abril de 1998. Ele foi folheando as páginas do diário, voltando até 1º de janeiro de 1996, e contou 368 orações que o Senhor havia respondido naqueles dois anos e quatro meses. Deus dissera ‘sim’ a 368 pedidos específicos daquele homem de oração! Permaneci sentado e emudeci. Você consegue imaginar uma vida de oração maravilhosa assim? Ele estava sorrindo, e ás vezes ria abertamente ao compartilhar algumas respostas miraculosas memoráveis que tinha recebido. Fantástico! Quando ele fechou o diário de oração, olhei profundamente em seu coração cheio de alegria e percebi que a Promessa de Deus em relação à oração tinha se cumprido na vida daquele homem. Por que há toda essa discussão sobre o fato de que Deus realmente responde a orações – muitas delas? Porque o Senhor ordena que você ore a ele e peça respostas, para que ele as dê e faça com que sua alegria literalmente transborde, como ocorrera com meu amigo. E qual é o problema? Você deve permanecer nele e andar em santidade. Um preço pequeno para uma alegria tão grande. “Se guardardes os meus mandamentos [...] assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai [...] o vosso gozo seja completo” (Jo 15:10,11). Quase todos aqueles que avançam além dos níveis básicos da oração costumam manter algum tipo de diário de oração. Antes de eu me tornar um homem comprometido com a oração regular e organizada, com o uso de diário, minha vida de oração produzia mais culpa do que outra coisa! O método mais prático de manter um diário de oração é usar um fichário de folhas avulsas, com divisões de plástico. Compre um bloco de folhas coloridas e inicie seu próprio diário. Você descobrirá vários exemplos nas próximas páginas, mas por agora lhe apresento três dicas bastante práticas sobre como maximizar sua vida de oração na busca da santidade. PADRONIZE SEU TEMPO DE ORAÇÃO A rotina é o grande provedor da eficácia. Ao estabelecer uma rotina diária e semanal para a oração, você destrói os três maiores obstáculos da oração. O primeiro obstáculo mais comum é a falta de um local adequado, de tempo e de um procedimento a seguir. Quando você determina um tempo de oração, num momento específico, dentro de seu hábito devocional, a oração torna‐se natural. Por exemplo, descobri que 93


para mim a oração torna‐se melhor depois que li a Bíblia e fiz minhas anotações. Com Darlene, ocorre o oposto. Repito, selecione a melhor ordem e, depois de algumas tentativas iniciais, não mude mais. Qualquer frustração que sentir provavelmente estará ligada à “tentação da fuga” sobre a qual já falamos. O segundo obstáculo mais comum à oração é não saber o que orar o momento da oração. Se isso não for determinado com antecedência, você desperdiçará tempo e energia tentando decidir o que fazer. O terceiro obstáculo é o que chamo de “divagação”, que parece assolar praticamente todos os cristãos nos primeiros estágios da oração. Estabelecendo um esquema de oração fixo e escrito, a chance de “divagação” diminui rapidamente e até desaparece. Abaixo listamos algumas categorias que você pode escolher para desenvolver seu esquema de oração. Entretanto, comece devagar e vá acrescentando uma categoria de cada vez, usando‐a pelo menos durante um mês antes de acrescentar outra. Se você está nos estágios iniciais do hábito da oração, comece com quatro a seis categorias, mantendo esse número por alguns meses. 1. Pecado Confesse todos os pecados conhecidos e espere em silêncio diante do Senhor, purificando seu coração diante dele em todas as áreas 2. Ego Confesse sua natureza independente, morra para o próprio ego e entronize a Cristo. Humilhe‐se diante dele, colocando‐o como Senhor e Mestre deste dia. Apresente‐se a ele como sacrifício vivo. Apresente os membros de seu corpo como armas que ele pode usar neste dia. 3. Oração de santificação São os pedidos que você fará em oração por toda a sua vida, expressando seu desejo de tornar‐se mais semelhante a Cristo em áreas específicas. Essa oração nunca será totalmente respondida, pois sempre haverá algo a melhorar. 4. Orações específicas São os pedidos concretos, aqueles que você saberá com certeza quando forem respondidos pelo Senhor com “sim”, “não” ou “mais tarde”. 5. Espírito de Deus Reafirme o compromisso de não entristecer ou apagar o Espírito Santo. Peça a ele que tenha sua vida para o serviço neste dia. Dependa dele para direção, sabedoria, fortalecimento e liderança. 6. Dons espirituais Agradeça ao Senhor os dons que soberanamente lhe deu. Peça a ele que aprofunde cada dom e purifique você do orgulho e da ambição egoísta que possa ter por causa dos dons. Peça ao Senhor que o ajude a estabelecer um objetivo claro em sua vida, para que possa se concentrar cada vez mais no uso de seus dons, para a glória dele. 7. Visão espiritual Peça ao Senhor que lhe dê visão quanto a sua vida, seu casamento, sua família e aos lugares onde serve, inclusive sua igreja. Concentre‐se nas coisas celestiais e procure ver sua vida da perspectiva divina. 8. Serviço espiritual Ore pelos aspectos específicos do dia, inclusive por suas principais responsabilidades, reuniões de que participará, decisões importantes a tomar etc. 9. Batalha espiritual

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Vista toda a armadura de Deus, uma peça por vez, certificando‐se de que não há nada fora do lugar. Comprometa‐se a ficar firme e a resistir ai inimigo. Peça ao Senhor que o guarde das tentações e do maligno e comprometa‐se a escolher a obediência. 10. Fortalezas espirituais Confesse todas as fortalezas das quais deseja ser purificado e experimente a renovação por meio da meditação na Palavra. Renove sua mente em oração, confessando todos os pensamentos e ações contrários à Bíblia. Peça ao Senhor que derrame sua misericórdia e sua graça sobre você e opere profundamente em sua vida. 11. Sabedoria espiritual Peça para ter a mente e os pensamentos de Cristo para os desafios do dia. Peça sabedoria e generosidade na administração de duas finanças. Peça a sabedoria do alto, que é pura, pacífica e indulgente, ou compreensiva. 12. Gratidão espiritual Agradeça ao Senhor pelo menos dez coisas específicas que tenha recebido nos últimos dias, sem omitir nenhuma. Não saia desta seção até que seu coração esteja exultante de gratidão. 13. Objetivos espirituais Ore por seus objetivos principais no ano, pedindo ao Senhor que lhe dê sabedoria, paciência, graça e poder para alcançá‐los. 14. Intercessão espiritual Ore por cada um dos membros de sua família, pelos demais parentes, pelas pessoas com as quais trabalha, amigos da igreja, pessoas que não conhecem ao Senhor, seu pastor e líderes cristãos, pelos governantes de seu país e pelas pessoas que você está discipulado. ESCREVA SEU PEDIDO EM SEU DIÁRIO DE ORAÇÃO A motivação sem dúvida é uma das portas que precisam ser destrancadas para uma vida de oração duradoura e significativa. Quando Deus nos criou, ele vinculou a motivação que sentimos às coisas que consideramos importantes e às pessoas que amamos. Quanto maior a importância que damos a algo, mais motivados nos sentimos para ir em sua direção. Assim, quando termino de orar pelos pedidos específicos que fiz nos dias anteriores, pergunto a mim mesmo que resposta desejo receber do Senhor hoje. Se as coisas que vêm à minha mente são importantes para mim e não estão em desacordo com a vontade ou o caminho divinos, escrevo esses pedidos específicos em meu diário de oração. No dia seguinte, sabe qual é o pedido mais recente da lista? Certo – o mais importante e oportuno para mim. Desde que comecei a fazer isso, não tive mais problemas com motivação em minha vida de oração! Quando oro por esses pedidos específicos, vejo se o Senhor respondeu a alguma oração desde o dia anterior e, então, faço uma marca. É uma tremenda aventura diária! Depois de experimentar vários métodos de registro dos pedidos, cheguei a um formato que parece funcionar muito bem: Número 1 2 3 4 5

Pedido Específico

Data do Início

Data da Resposta

Número De dias

Sim/ Não

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Número: É o número do pedido. Por exemplo, se você iniciou hoje, provavelmente pensará em cinco pedidos importantes, numerando‐os como o exemplo acima. Amanhã, depois que tiver orado do pedido 1 ao 5, o próximo que fará será o 6. Pedido Específico: Nesta linha escreva o pedido ao qual deseja que o Senhor responda. Deve ser o mais específico possível, para que você saiba se o Senhor respondeu a ele ou não. Uma das últimas lições que aprendemos neste assunto é não estabelecer a data em que desejamos que um pedido seja respondido, a não ser que haja uma razão para isso. Descobri que muitas vezes o Senhor respondia a minhas orações, mas seu tempo inexplicavelmente não coincidia com a data que eu tinha estabelecido. Percebi que especificava a data em meus pedidos apenas porque não queria esperar. Aprendi que, ao determinar uma data para questões “sem data”, eu estava colocando Deus dentro de uma prazo. Assim, ele tinha de se apressar e atender a meus pedidos de acordo com meu cronograma. Não era este o plano de Deus. Data do Início/Data da Resposta: São as datas em que você escreveu o pedido em seu diário de oração e a data em que recebeu a resposta do Senhor. Veja como ficariam essas datas numa página do diário: 4/3/96 – 5/9/96; 4/3/96 ‐16/3/96; 23/9/96 – 30/4/98. Número de Dias: Este ponto é bem pessoal, mas eu gosto de ter uma idéia de quantos dias orei até obter uma resposta do Senhor a minhas orações. Como o intervalo de tempo entre a data em que começo a orar por um pedido e a data em que Deus responde. Olhando para uma antiga página de meu diário, em que todos os pedidos foram respondidos, vejo algo assim: 181 dias, 1248 dias, 12 dias, 90 dias, 12 dias, 2 dias, 54 dias, 60 dias, 75 dias, 15 dias, 15 dias, 60 dias, 90 dias, 164 dias, 15 dias. Sim/Não: Quando o Senhor dá uma resposta, sempre anoto na forma de “sim”, “não” ou “0”se acontece algo que torna a resposta impossível. Coloco a resposta do Senhor na última coluna da lista, à direita, com uma caixa ao redor dela. É um grande encorajamento! Assim, quando abro o diário, olho para a última coluna à direita, procurando a caixa vazia, e oro por aquele pedido. Entretanto, como você pode imaginar, cada página tem várias caixas com “sim” e “não”, de modo que o processo diário me encoraja profundamente a continuar minha vida de oração. Olhando as respostas mais recentes do Senhor a minhas orações, veja como fica a caixa do sim/não: sim, sim, não, não, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, não. Este hábito de oração aprofunda sua consagração a Deus. Você não acha que, se anotasse todas as respostas miraculosas que recebe, não ficaria plenamente convicto da ação e do envolvimento de Deus em sua vida? ESTABELEÇA UM OBJETIVO DE ORAÇÃO PARA TODA A VIDA De vez em quando, o mundo empresarial surge com um conceito que se mostra útil para nós, que estamos no ministério. Um dos melhores conceitos que surgiram nos últimos anos foi o método de estabelecer o “padrão” mais elevado de qualidade, que então é utilizado como novo padrão para avaliação de desempenho. No Ministério Através da Bíblia, os vários ministérios desenvolvem seu próprio padrão de qualidade. Por exemplo, o ministério dos seminários – que já dura 23 anos – pesquisa qual foi o ano em que teve o melhor desempenho nas seguintes categorias: 1. Número total de seminários realizados durante o ano. 2. Número total de participantes. 3. Número total de convertidos. 4. Número total de pessoas que manifestaram ter passado por uma experiência espiritual que mudou suas vidas. 5. Número total de pessoas que se comprometeram a ler a Bíblia. 6. Número total de entradas financeiras, de todas as fontes. 7. Número total de oportunidades para novos ministérios. Esses padrões, então, tornam‐se uma medida prática pela qual a equipe dos seminários ora e se empenha para alcançar e superar a cada ano. Por exemplo, em 1997 o Ministério Através da Bíblia estabeleceu o objetivo de realizar 1.600 seminários em apenas 12 meses, nos Estados Unidos. Em 1998 o vice‐presidente dos seminários elevou o padrão de excelência e agora deseja realizar 2.000 seminários em apenas 12 meses. Como você pode imaginar, o desempenho vai melhorando cada vez mais, em vista de termos um padrão conhecido, com o qual avaliamos nosso desempenho anterior. 96


Que medida você está usando em sua vida de oração? Creio que é sábio que um mordomo tenha três medidas específicas para avaliar sua vida. Primeiro, use as medidas bíblicas sempre que encontrá‐las. Segundo, use o padrão de desempenho que você alcançou no anterior e procure melhorá‐lo em qualidade e em quantidade. Terceiro, encontre o padrão mais elevado naquela área e coloque‐o com “linha de chegada”, a qual você gostaria de alcançar antes de encontrar‐se com o Senhor no fim de sua vida. Particularmente costumo chamar o padrão mais elevado que alguém coloca em determinada área de “padrão de vida”. Obviamente Jesus Cristo é o padrão supremo em muitas áreas de minha vida. Em outras áreas, porém, ele não foi chamado pelo Pai para alcançar os mesmos objetivos que Deus estabeleceu para mim. Lembre que Jesus disse que terminou a obra que Deus o chamou a fazer, mas nunca foi chamado a escrever um livro. Quando tento descobrir quem é a pessoas que recebeu o maior número de respostas de oração, não tenho dificuldade. Embora alguns cristãos tenham escrito verdadeiras obras‐primas sobre oração e outros tenham recebido respostas maravilhosas, não conheço ninguém que ao menos chegue perto do homem que viveu para provar que Deus responde a orações: George Muller. Até o dia de sua morte, George Muller registrou mais de 10 mil respostas específicas que Deus lhe concedera diretamente, durante sua vida. Há duas semanas, Darlene, Jessica e eu tivemos o prazer de passar uma semana esquiando no Colorado, hospedados por um amigo em sua linda cabana nas montanhas. Enquanto subíamos pelo teleférico, até o topo das montanhas, literalmente envolto em nuvens, sentíamos com se estivéssemos indo para o céu! Nunca me esquecerei de uma tarde de neve em que deparei com um sol brilhante ao irromper as nuvens e fitei extasiado o magnífico cenário da cadeia de montanhas. Fiquei sem fôlego. Quando penso na montanha que George Muller escalou em oração diante de Deus, só posso chamá‐lo de “Padrão Muller para a Vida de Oração”. Junte‐se a nós nesta empolgante aventura de seguir os passos daquele gigante da oração. Embora eu talvez ainda esteja no sopé da montanha, estou determinado a me manter firme no objetivo e não olhar para trás. Talvez algum dia, antes que me encontre com o Senhor, pela graça dele eu possa romper as nuvens e pelo menos vislumbrar o altíssimo “Padrão Muller”. Por isso, meu amigo, coloque as botas de alpinista, ajoelhe‐se e escreva seu Pedido de oração nº1. HÁBITO SANTO 4: SEU DIÁRIO Minha esposa adora escrever cartas. Detesto escrever cartas tanto quanto ela adora. Se há dez anos alguém tivesse me falado que algum dia eu escreveria um livro sobre os valores e a prática de manter um diário, eu não teria acreditado. De fato, para dizer a verdade, creio que durante toda a minha vida já comecei seis ou sete diários, os quais depois de três semanas foram atirados no fundo de uma gaveta, longe de minha visão e pensamento! Se não estiver enganado, cada um daqueles falsos começos era inaugurado com a data “1º de janeiro de...” e provavelmente o último registro era feito entre fevereiro e março. Sempre começando, recomeçando e começando novamente? E finalmente desistindo? Quando se tratava de manter um diário, finalmente concluí que era algo além de minhas boas intenções. Se você tem me acompanhado durante toda esta apresentação, sabe que a razão pela qual o diário não funcionava anteriormente em minha vida era a falta de outras disciplinas espirituais básicas. Eu tentava construir o “5º andar da disciplina espiritual” sem construir o terceiro e quarto andares! Quando eu tinha 38 anos, algo aconteceu e felizmente mudou minha vida. Não sei quantos diários escrevi e completei desde então, mas posso dizer que foram dezenas deles. Hoje cedo, às 5 horas da manhã, meu diário foi novamente aberto. Tenho grande proveito e alegria no processo. Em 1985, no meio de uma crise difícil de meia‐idade, atravessei o país para me encontrar com um homem especializado na formação e no desempenho de líderes cristãos. Depois de ouvir pelo telefone meu desejo de abandonar o ministério, minha frustração e desespero, ele me convidou para encontrá‐lo e passarmos uma tarde juntos. O que ele compartilhou comigo naquela tarde marcou minha vida para sempre. A primeira coisa que ele pediu foi que eu contasse a história de minha vida. Quando fiz um retrospecto geral, até uns dois anos antes daquela data, ele me interrompeu e perguntou se ele podia concluir a história. Indaguei como poderia saber o 97


que aconteceu comigo. Ele apenas sorriu e esperou que eu me calasse. Quando começou a falar, eu não podia acreditar no que ouvia! Quanto mais ele falava, maior era minha surpresa, porque ele expressava exatamente o que tinha me acontecido. Quando terminou, perguntei‐lhe se havia solução para uma pessoa como eu! Ele riu e disse: ‐ Você está dentro do programado Embora não tivesse idéia do que aquelas palavras significavam, suspirei, com profundo entusiasmo de que talvez as coisas finalmente pudessem melhorar. Então ele estendeu as duas mãos na minha frente, com a mão esquerda um pouco mais elevada do que a direita. Disse que, no começo de minha vida cristã, minha vida interior com Deus era forte (a mão esquerda) e minha competência no ministério era fraca (mão direita). Assenti com a cabeça. Então ele disse que com o passar do tempo, depois do Instituto bíblico e do seminário, minha competência cresceu rapidamente, mas minha caminhada com Deus provavelmente diminuiu. Enquanto descrevia essa situação, ele moveu lentamente as mãos, de maneira que a direita, que representava a competência, elevou‐se acima da esquerda, que representava minha caminhada interior de santidade devocional. Concordei com a cabeça e comecei a sentir uma crescente convicção. Então ele disse que meu desejo de abandonar o ministério devia‐se ao fato de que meu senso de satisfação pelo ministério tinha sido tirado pelo Senhor e, independentemente do quanto eu me esforçava no serviço a Deus, eu não conseguia obter a realização e a alegria que o ministério me proporcionava antes – o Senhor não permitiria. Lembro que fiquei me perguntando como aquele homem sabia daquilo... Então ele tirou o resto da venda de meus olhos carentes. ‐ O que ocorre neste momento de sua vida é que o Senhor sabe que a menos que essas duas mãos troquem mais uma vez de posição, voltando à ordem original, você nunca será o líder espiritual que ele o criou para ser. Então ele me fez algumas perguntas penetrantes sobre a disciplina espiritual em minha vida. Eu fazia devocional todos os dias, mas de forma relaxada. Lia a Bíblia regularmente, mas não extraia ajuda nem alimento dela. Embora orasse, eu não orava muito nem recebia respostas a minhas orações. Novamente ele riu e assentiu, sem nenhum sinal de condenação na voz ou nos olhos. Como eu agradeço a Deus a vida daquele homem e seus conselhos, naquele momento crítico de minha vida. Então, sua mão que estava mais baixa, representando minha vida espiritual, começou a forçar a mão da competência. Ele disse que o Senhor deliberadamente estava me pressionando, retirando o senso de realização de “fazer” para que eu redescobrisse a realização mais plena de “ser”. Ele me disse que havia uma convicção que o senhor trazia à vida de todos, na qual ele chama a andar com ele mais do que trabalhar para ele, e que essa mudança deve ocorrer. Então, aquele mentor disse que eu devia voltar para minha cidade e concentrar meus melhores esforços para aprender e praticar as disciplinas espirituais. Então ele me deu a idéia de manter um diário espiritual! Disse que é uma ferramenta incrivelmente poderosa, que nos auxilia na peregrinação do fazer para o ser. Aquele homem estava absolutamente certo. Passei a me dedicar ao Senhor durante aqueles meses transformadores e jamais olhei para trás. Louvo ao Senhor por aquelas “mãos” terem trocado de posição, corrigindo as prioridades em minha vida. Agora, para mim, andar com o Senhor é o ponto alto de minha vida, mais do que trabalhar para ele. Finalmente meu ministério é baseado em “ser” e não em “fazer”. DICAS PARA SEU DIÁRIO Obviamente, pode‐se escrever todo um livro sobre cada uma dessas disciplinas, inclusive sobre como obter grande vitória por meio da prática de manter um diário. Eis alguns dos segredos que descobri: 1. Escreva em seu diário todos os dias em que fizer a devocional. 2. Dedique toda uma página do diário para cada dia. 3. Coloque a ponta da caneta no início da página e só a levante quando tiver terminado a página toda. 4. Dê a si mesmo três meses de prazo até se habituar. Não se sinta frustrado. 5. Seja totalmente honesto sobre o que escreve, inclusive sobre seus pecados. 6. Lembre‐se de que o diário deve ser o termômetro de sua vida espiritual. 98


7. Tente várias abordagens diferentes e mantenha aquilo que lhe foi mais útil. O que você deve escrever em seu diário? Eis uma lista das categorias que eu mesmo utilizo. Lembre‐se, porém, de que no próximo ano poderei fazer modificações – use tudo o que funcionar para você nesta fase de sua vida. Se não funcionar, seja paciente e continue tentando, pedindo ao Senhor que lhe dê sabedoria sobre o que fazer. Vá em frente! Talvez essas dicas sejam práticas: 1. Registre suas orações ao Senhor. 2. Registre os pensamentos que lhe vieram à mente ao meditar. 3. Registre suas confissões de pecados (muitas pessoas mantém o diário em um lugar trancado) 4. Registre suas frustrações e temores e converse sobre eles com o Senhor. 5. Registre seus sonhos, visões e desejos pessoais. 6. Registre as lições extraídas do sucesso e do fracasso. 7. Registre seu fervor e adoração ao Senhor. Existem alguns livros cristãos muito úteis sobre como manter um diário; visite as livrarias evangélicas e informe‐se. Seja o que for que escolha fazer, aprenda a escrever seu diário com o coração. Se você lesse meu diário, logo me conheceria por inteiro – como o Senhor me conhece. Os homens e as mulheres que começaram este hábito santo tornaram‐se maravilhosamente “viciados” na alegria de manter um diário! 12 AVANÇANDO NA SANTIDADE Uma vida santa é uma voz; ela fala quando a língua está em silêncio e é ou uma constante atração ou uma perpétua reprovação. Robert Leighton Se você visitar uma livraria evangélica e perguntar pela seção de livros sobre disciplina ou vida espiritual, sem dúvida encontrará muitos livros excelentes sobre mais de vinte disciplinas diferentes da vida espiritual. Obviamente, como discutimos apenas seis aspectos neste livro, talvez sua disciplina favorita nem tenha sido mencionada. Não pense, porém, que jejum, grupos de estudo bíblico, grupos de compartilhamento, solitude, serviço, viagens missionárias e retiros espirituais não sejam elementos de importância fundamental em sua visa. Eles são. Depois de encorajar a vida espiritual das pessoas em vários lugares do mundo, descobri que os seis hábitos santos que apresentamos aqui são os mais básicos, utilizados pelos cristãos que andam com Deus e que causam impacto no mundo. Além disso, esses seis hábitos são apresentados na ordem em que observei os cristãos começarem a praticá‐los e finalmente dominá‐los. Obviamente, quando nos limitamos a apenas um livro sobre santidade pessoal, há mais informações fora do livro do que nele! Pessoas como você e eu não têm grande interesse em livros de 3.000 ou 4.000 páginas... Assim, você terá de ler outros livros para aprender a andar no Espírito, aprender sobre a união com Cristo, batalha espiritual, teologia da vida espiritual e discipulado. Nas próximas páginas, porém, aprenderá sobre dois hábitos espirituais avançados. HÁBITO SANTO 5: LOUVOR E ADORAÇÃO É incrível – nós chamamos de “culto de adoração”, mas acontece de tudo naquela hora e meia, menos adoração genuína. A adoração é definida como o ato reverente de oferecer respeito, admiração ou devoção extremos a nosso mais elevado objeto de estima: nosso Deus. A raiz da adoração vem do conceito de “dignidade” ou de “digno”; portanto, quando dizemos que adoramos o Senhor, expressamos a ele como nos sentimos e como ele é digno. Adoração não é nada mais e nada menos do que expressar ao Senhor Deus, de forma pessoal ou corporativa, como ele é digno. Recentemente eu estava participando numa conferência sobre liderança em outra cidade. No domingo de manhã, fui a uma igreja próxima. Durante o principal momento de “adoração”, quando todos cantavam hinos 99


de louvor, ousei dar uma espiada na congregação. Contei 20 adultos numa fileira. Entre eles apenas seis estavam cantando. Ao observar a expressão dos rostos e corpos desses seis, percebi que nenhum deles sequer remotamente demonstrava estar conectado a Deus enquanto cantava, para dedicar a ele a glória e a honra devidas. Você já sentiu assim em um “culto de adoração”? Enquanto escrevo estas linhas, meu coração transborda de lembranças de uma experiência oposta, que tive poucos meses antes. Numa viagem internacional pelo Ministério Através da Bíblia, tive o privilégio de falar numa grande igreja em Cingapura e na semana seguinte numa grande igreja na Malásia. Você sabe o que aconteceu nos dois cultos? Os líderes conduziram a congregação num período de uma hora de louvor antes de me convidarem a falar a Palavra. Em ambos os países, ninguém se sentou durante aquela uma hora de adoração. Quando observei a congregação, procurando sinais confiáveis de verdadeira adoração, vi exatamente o oposto do que ocorreu na igreja que antes mencionei. Milhares de pessoas expressavam no rosto e na voz que Deus era digno de louvor! Como a adoração daquelas pessoas devia ser agradável ao Senhor! Você já aprendeu a louvar e adorar a Deus? Nos Estados Unidos, dois movimentos recentes trouxeram o louvor e a adoração de volta às igrejas. O primeiro é o movimento carismático e o segundo é o Movimento Guardadores da Promessa. Já falei em muitos eventos organizados pelo Movimento Guardadores da Promessa e vi essa mesma cena de adoração muitas vezes. Homens que nunca adoraram realmente a Deus em toda a vida são iniciados na maravilha do louvor ao Senhor. Primeiro, eles cantam hinos, como sempre fizeram. Depois,começam a cantar com o coração, enfatizando bem as palavras. Depois, começam a entrar em comunhão com Deus enquanto cantam. Finalmente, as pessoas ficam tão enlevadas que parecem não querer mais parar de louvar. Uma vez que experimentam o sabor do verdadeiro louvor bíblico, nunca mais desejarão voltar aos cultos de louvor e de adoração desprovidos de louvor e de adoração. A tragédia, porém, é que voltam. O pior é que a maioria dos homens e mulheres jamais aprende como louvar e adorar por si próprios, sem todo o incentivo do ambiente da reunião, dos eventos especiais e das conferências. O quinto hábito santo consiste em sua prática contínua da adoração individual e pública. Até onde sei, o Senhor concedeu o dom do louvor e da adoração a apenas duas entre o imenso número de suas criaturas vivas: aos anjos e à humanidade. Entretanto, o simples fato de termos sido criados por Deus com habilidade e desejo inatos de louvar não significa que usamos tal capacidade com o propósito designado por ele. Sem aprender e praticar este incrível dom de adoração, o cristão permanece limitado e experimenta a vida somente no plano horizontal. Milhões de cristãos “adoram” ano após ano sem jamais entrar na verdadeira comunhão com o Senhor num nível pessoal e profundamente transformador. O cristão pode fazer devocional diariamente, sem adorar nem louvar. Pode ir aos cultos da igreja toda semana sem adorar nem louvar. Pode orar regularmente sem adorar nem louvar. Louvor e adoração são experiências únicas e representam o quinto hábito santo. EXPRESSANDO A DEUS QUE ELE É DIGNO A primeira característica do louvor bíblico é expressar a Deus que ele é digno. Estou convencido de que a razão primária pela qual tão poucos cristãos realmente adoram a Deus é simplesmente o fato de os cristãos estarem distantes da grandeza e do poder de Deus. Embora muitos possam achar que os cristãos não adoram nem louvam a Deus porque não foram ensinados, minha convicção é de que não é bem assim. Quando nós entramos na presença de Deus depois da morte, adoramos e louvamos a Deus imediata e intensamente. Na Bíblia, vemos que sempre que um indivíduo deparava com um anjo, em toda a sua glória, imediatamente se prostrava e adorava. A adoração é a resposta inata e imediata à presença e ao poder de Deus. Indivíduos que conhecem a Deus e sua glória sempre o adoram. Indivíduos que não adoram a Deus sem dúvida estão cegos por suas próprias glórias. A razão pela qual a adoração e o louvor são o quinto hábito santo, em vez do primeiro, segundo, terceiro ou quarto é que os cristãos não adoram de forma constante e significativa sem que os outros hábitos sejam praticados. Sem devocional, meditação na Palavra e oração regular, o cristão vive um tipo de meia‐vida que jamais conseguirá romper para experimentar a verdadeira majestade de Deus. 100


A menos que a pessoa que lidera o culto de adoração, e sobretudo a música tocada, saiba conduzir as pessoas ao louvor ao Senhor na adoração, a congregação será direcionada de uma maneira que impede a adoração, em vez de promovê‐la. Depois de trinta anos de ministério em centenas de lugares, tenho observado que menos de 10% das igrejas guiam a congregação ao louvor e à adoração. Lembre‐se: se o coração do cristão não se conecta com o Senhor, para que possa expressar que ele é “digno”, então a adoração e o louvor bíblicos não ocorrem, independentemente do que ocorre externamente. Por exemplo: • Cantar não é adorar; é expressar palavras dentro de uma escala musical. • Cantar rapidamente ou devagar não é adorar; é ter ritmo. • Cantar a plenos pulmões ou a meia voz não é adorar; é volume. Quando realmente ocorrem a adoração e o louvor? Quando o indivíduo (ou grupo) entra em comunhão com o Senhor para expressar o quanto ele é maravilhoso. A adoração e o louvor são uma interação íntima, em que o cristão “elogia” o Senhor de forma tão pessoal e direta que sente como se fosse a única pessoa na presença divina naquele momento. Se o cristão não busca essa “comunhão” pessoal com o Senhor, não pode haver adoração bíblica. Por isso o Senhor recebe tão pouca adoração e louvor, mesmo no meio dos cultos de adoração numa grande igreja. A congregação concentra‐se em cantar o hino e não em adorar a Pessoa a quem a música é dirigida. O foco deve sair do processo de cantar, para que o hino seja o veículo que leva e entrega o louvor que vem do coração. Cantar pode ser o método mais fácil de louvor e adoração. Entretanto, se o líder exigir toda a atenção para si, então o Senhor não recebe a atenção. Quando isso ocorre, o dirigente corre o risco de tornar‐se um obstáculo, em vez de promover a adoração. Em algum ponto da execução do hino, a congregação deve fazer a transição do ato de cantar para o ato de adorar. As palavras e o ritmo do hino tornam‐se secundários, de modo que a pessoa possa expressar louvor e adoração em seu interior. Ensinar um novo hino pode ser um obstáculo ao louvor, a menos que o líder tenha habilidade de ensinar a congregação de uma maneira que ela aprenda a cantá‐lo ao Senhor em vez de se concentrar na letra ou melodias novas. Se você reparar nas canções de louvor mais recentes, verá que elas têm letra e melodia bem simples. Os cristãos mais velhos geralmente criticam tais hinos de louvor, acusando‐as de falta de profundidade. Na verdade, porém, creio que o propósito dos hinos é adorar e louvar ao Senhor e não comunicar verdades doutrinárias profundas. Obviamente, muitos hinos mais antigos estão repletos de verdades doutrinárias significativas e alguns também incentivam o louvor, embora outros na realidade atrapalhem. A música é uma parte importante da vida da igreja e nem sempre precisa culminar com a adoração. Algumas vezes os cânticos são boas ferramentas didáticas. Entretanto, se o coração do cristão não expressa adoração durante o cântico, então não há verdadeiro louvor. O Senhor não deseja receber serenata. Ele quer ser adorado. Assim, retorno à minha questão original: você adora e louva ao Senhor? Em caso afirmativo, você é um “adorador corporativo”? Quer dizer, só adora quando tem um ambiente externo adequado, no qual você é “induzido” à adoração? Digamos que você é afortunado e participa de uma igreja onde há verdadeira adoração ao Senhor: você o louva também durante a semana, quando está sozinho? Se não louva, então pode ser que você saiba mais como ser “induzido ao louvor” do que realmente “louvar ao Senhor”. Muitas vezes a parte do culto em que o pastor prega é marcada no boletim com “Adoração através da pregação”. Novamente, pode ou não haver adoração por meio da pregação. Sei quando há adoração ao ouvir alguns homens de Deus pregando nos púlpitos. Eles exaltam a Deus de tal forma que não consigo me controlar – tenho de agradecer e louvar ao Senhor! Quanto mais alto o pregador exalta ao Senhor, mais espontaneamente eu o louvo em meu coração. Entretanto, o que ocorre nos “cultos de louvor” também vale em muitas “pregações”. Na maioria dos púlpitos, mesmo naqueles que contam com pregadores que crêem na Bíblia e têm um sólido conhecimento dela, a Bíblia é pregada de forma verdadeira, mas o Senhor não e exaltado de modo a levar a audiência a adorá‐lo. Muitos sermões explicam o significado dos textos bíblicos, mas raramente permitem que o pastor cumpra seu maior chamado – por meio da pregação da Palavra, levar o coração da congregação à presença gloriosa de 101


Deus, para que as pessoas sejam tocadas por sua graça, grandeza e glória e respondam a ele em adoração e louvor sinceros. Os sermões devem desenvolver‐se em três estágios distintos: focalizar o pregador, depois focalizar a Bíblia e finalmente focalizar o próprio Deus. Se a conclusão é feita antes de os corações sedentos tocarem o coração de Deus, então infelizmente ocorreu um trágico aborto no processo da pregação. A pregação deve fazer uma conexão tão forte entre o céu e a terra que no final o pregador torna‐se totalmente irrelevante na mente dos ouvintes! Depois de uma pregação assim, o povo vai embora não somente apreciando a Palavra de Deus mas, muito mais do que isso, cativado pelo Deus da Palavra. Sempre que o foco permanece na Palavra e não no Senhor das Escrituras, nossa resposta a ele é abortada. Agora, porém, vamos mudar o foco da música e da pregação de volta para você. Sem isso, essa explanação não lhe servirá de nada, exceto lhe dar razoes para pecar por meio da crítica, da racionalização e da culpa pela falta de adoração e louvor. Em última análise, o Senhor nos chama para adorá‐lo e louvá‐lo, mesmo que o líder do louvor ou o pastor não facilitem esse processo. ADORAÇÃO PESSOAL Minha maior adoração ocorre em minha “cadeira devocional”. Meu louvor e minha adoração pessoais mais intensos ocorrem entre os domingos e não aos domingos. Assim deve ser com você também. O domingo é o tempo de os cristãos se reunirem para a adoração corporativa, mas não deve ser o único momento em que você adora ao Senhor. Por que não? Porque a grandeza de Deus não diminui quando você sai do templo. Portanto, sua resposta a ele não deve mudar! Este não é um livro sobre louvor e adoração, mas sobre santidade. O hábito do louvor produz santidade em duas direções. Primeiro, quando você se separa para tributar ao Senhor glória e força, você se dedica a este propósito sagrado. Segundo, quando você exalta ao Senhor em sua própria mente e o separa acima de tudo e de todos, você o torna santo em seu coração. Quanto mais você o exalta em sua mente e o separa, reconhecendo sua magnificência, mais você o adora na beleza da santidade. Quanto mais seu coração louva ao Senhor por sua santidade, mais profundamente você começa a viver em santidade. Durante toda a elaboração deste livro, tive de lutar contra o desejo natural de escrever sobre santidade de Deus em vez da nossa. Este livro, porém, dedica‐se à sua santidade, principalmente em tempos de tentação. Talvez possamos dar uma rápida olhada na santidade divina. Quando você atravessa o último portal e entra na presença de Deus, o que você verá os vinte e quatro anciãos, os quatro seres viventes, os milhões e milhões de anjos e a multidão de santos fazendo? O Senhor revelou essa resposta diretamente ao apóstolo João. Eis o cântico dos vinte e quatro anciãos e dos quatro seres viventes: “Digno és de tomar o livro e de abrir‐lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. Vi, e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor” Apocalipse 5:9‐12. Essa visão chega ao clímax com a seguinte revelação. Não esqueça quem disse: “Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” Apocalipse 5:13. Você já se perguntou por que todos estarão falando ou cantando a mesma coisa, por toda a eternidade? Porque quando vemos o Senhor e sabemos a verdade sobre ele e sobre o que fez, faz e fará, não conseguiremos impedir nosso coração de irromper em adoração inexprimível e inexaurível. As primeiras palavras serão: “Tu és digno!” Quando você crer na verdade sobre quanto o Senhor é digno, não conseguirá evitar de proclamar isso. Quando você desejar expressar seu coração cheio de admiração, gratidão e louvor, quererá que apenas uma Pessoa ouça – o próprio Deus. Quando desejar ardentemente ter comunhão com Deus e expressar que ele é digno, saiba que entrou pelos portais da verdadeira adoração. 102


FERVOR DIANTE DE DEUS A segunda característica do louvor bíblico é que você entra em comunhão com Deus cheio de fervor. A Bíblia dá diversas instruções sobre como devemos louvar e adorar ao Senhor. Elas estão em todas as nossas Bíblias – e são claras e diretas. Não estão escondidas em passagens complicadas, e você não precisa saber grego e hebraico para compreendê‐las. Pelo contrário, estão bem na superfície, mais visíveis do que qualquer outro ensinamento das Escrituras. Então, qual é o problema? Cada denominação ou igreja local seleciona um grupo de passagens bíblicas sobre louvor e adoração e então exclui ou evita as demais, embora sejam tão claras e diretas como aquelas que escolheram para afirmar e praticar. Não é só isso. Para justificar sua escolha, cada grupo acaba atacando a prática de outros grupos cuja “lista selecionada” de “práticas aprovadas” de louvor e adoração são diferentes. Quando viajamos ao redor do mundo, ministrando em muitas denominações e grupos diferentes, nossos olhos são forçados a se abrirem diante de nossa mente estreita! Bem no início, lembro‐me de literalmente suar porque não sabia o que fazer com as mãos. Em alguns países, sentia‐me desconfortável por não saber o que fazer com os pés. Em outras situações, lembro que mordia os lábios até quase sangrarem, porque não sabia o que dizer em voz alta, enquanto outros gritavam. Veja bem, fui criado numa igreja com uma tradição maravilhosa. Agora, olhando para trás, percebo que se tratava da “posição passiva do louvor”: quanto menos, melhor. Quanto mais silencioso, mais bíblico. Quanto mais escuras as roupas, mais santas. Quanto mais lento o ritmo, mais profunda a adoração. Entretanto, não é possível encontrar base para este tipo de adoração na Bíblia. Finalmente percebi que preciso descobrir exatamente o que o Senhor espera de seu povo no louvor e na adoração. Assim, descobri que Deus nos instruía a adorá‐lo com fervor. Quão “fervoroso” você é na adoração e no louvor? Pense nas últimas semanas e dê uma nota para seu nível de fervor no louvor e na adoração. Se “zero” significa que você não demonstra nenhum fervor e “100” significa que experimentou extrema intensidade na adoração, que nota você daria? Com que fervor você torce para seu time de futebol? Com que fervor comemora o fechamento de um bom negocio? Com que fervor você lê o Livro de Salmos? Se sua adoração e seu louvor permanecem lânguidos entre as notas 10 e 30, além de o Senhor não ficar muito impressionado, você também não terá motivação de voltar aos corredores da adoração. Por quê? Porque é algo que o entedia até à alma. Compare sua atitude com o fervor das pessoas na Bíblia. O termo bíblico para adoração fervorosa é a palavra hebraica “hallelujah!” (aleluia). O Salmo 150 (VR) mostra a atitude de adoração e louvor cheia de fervor – eu o chamo de “Coral Aleluia do Antigo Testamento”: “Louvai ao Senhor! Louvai a Deus no seu santuário; louvai‐o no firmamento do seu poder! Louvai‐o por seus atos poderosos; louvai‐o conforme a excelência da sua grandeza! Louvai‐o ao som de trombeta; louvai‐o com saltério e com harpa! Louvai‐o com adufe e com danças; louvai‐o com instrumentos de cordas e com flauta! Louvai‐o com címbalos sonoros; louvai‐o com címbalos altissonantes! Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor. Louvai ao Senhor!” Note os pontos de exclamação e as instruções específicas neste salmo. Quando uma pessoa torna‐se fervorosa, muitas vezes sua voz se eleva e o corpo se movimenta mais. Para um rápido estudo sobre como é fervor, observe os jogadores de futebol e ouça os torcedores nas arquibancadas. Observe o que fazem, principalmente em relação ao placar e à proximidade do final do jogo. Você olha para as arquibancadas e não vê nenhum torcedor sentado, nenhum torcedor calado e nenhum torcedor com as mãos no bolso. Por quê? Porque o fervor deve manifestar‐se fisicamente. Você acha que as leis do fervor que se manifestam nos estádios mudam quando se trata de um serviço religioso? Quando alguém louva ou adora a Deus com fervor, fica difícil, ou até mesmo impossível, permanecer sentado. Além disso, quanto maior a intensidade do indivíduo ao louvar ao Senhor, mais ele enxerga o céu. É interessante notar a postura de Cristo quando orou antes da multiplicação dos pães para os 5.000: “... tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos ao céu, os abençoou” (Mt 14:19b). Obviamente a Bíblia não ordena tal postura para a adoração todo o tempo, e não há nada inerentemente melhor entre “inclinar a cabeça para orar” ou “olhar para o céu”. Entretanto, você perceberá, observando a si mesmo e as outras pessoas, que quanto mais intensos forem sua adoração ou seu louvor, mais você olhará para o céu, mesmo sem perceber. 103


Isso não se aplica apenas à posição do rosto. Descobri algo surpreendente também com relação às mãos. Quanto mais intensa for a adoração, mais as mãos tendem a erguer‐se. Para uma pessoa que cresceu num ambiente onde a santidade era definida como “mãos abaixadas”, mal posso crer o quanto me desviei (ou me aproximei, dependendo de que lado das “mãos” você esteja!). A tendência pode ser observada numa reunião do povo de Deus em que as pessoas oram ou louvam com fervor. Tenho observado esse fenômeno muitas vezes nas conferencias dos Guardadores da Promessa. Na sexta‐feira à noite, apenas alguns homens erguem as mãos durante o louvor e é provável que se sintam um tanto deslocados. Na reunião do sábado de manhã, 30 ou 40% da audiência ergue a mão espontaneamente quando cantamos “Maravilhosa Graça”. No meio da tarde, quando cantamos “Santo, Santo, Santo”, não há ninguém cujas mãos e rosto não estejam voltados para o céus. Acredito que a maioria dos preletores não levanta as mãos em suas igrejas locais, por que as levantam durante nas conferências dos Guardadores da Promessa? Pelo mesmo motivo que levantariam as mãos se a adoração e o louvor se concentrassem intensamente no Senhor em qualquer outro local. Não me entenda mal, não estou defendendo a questão da mão erguida ou abaixada. Estou apenas compartilhando minhas observações sobre o que “as mãos” parecem fazer numa reação diretamente proporcional ao fervor da oração ou da adoração: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens [...] Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade” (1 Tm 2:1,8). Outro conceito relacionado ao fervor é a postura do corpo. Não consigo encontrar na Bíblia a ordem: “sente‐ se e ore!” ou “sente‐se e louve!”, mas posso encontrar passagens que mostram que “levantar” e “ajoelhar” são atitudes bíblicas. “Prostrar‐se sobre o rosto” é bíblico (“dançar” também é bíblico, mas depois de “erguer as mãos”, é melhor não ser bíblico demais!). Portanto, se você deseja seguir o modelo bíblico, não leve muito tempo orando ou louvando sentado. Alguns dos maiores homens e mulheres de Deus só liam a Bíblia ajoelhados. Apocalipse fala que os 24 anciãos “prostraram‐se” diante de Deus para adorá‐lo. Portanto, faça a seguinte pergunta a si mesmo: Será que me sinto confortável ampliando minha “zona de conforto” e adotando a norma bíblica no louvor e na adoração ao Senhor? Você pode susurrar? Pode gritar? Pode ajoelhar‐se? Pode prostrar‐se? Você chora? Pode aplaudir com entusiasmo? Você já dançou diante do Senhor, no recôndito de seu quarto, no meio de um bosque, ou mesmo na imaginação de seu coração exultante? Você poderia acompanhar o rei Davi, enquanto ele “dançava com todas as suas forças diante do Senhor” (2Sm 6:14a) ou obedecer à instrução dos salmistas, quando nos dizem para louvar com todo tipo de instrumentos? Embalado neste tipo de discussão livre sobre “estilos de adoração” vai o incentivo para que você seja um pouco mais tolerante! Você acha que quando estiver no céu, as hostes celestes nunca baterão palmas, mexerão os pés, erguerão as vozes, ou gritarão “glória Deus!”? Se o céu proporciona liberdade para que expressemos nossa adoração indo além de um “amém” susurrado mais ou menos a cada quatro anos, talvez seja bom começarmos a nos preparar para quando “for para valer”! Como podemos saber se atingimos o ponto real em nossa adoração? Quando nos comportamos diante de Deus como se acabássemos de receber uma resposta de emprego depois de meses desempregados! Quando os limites da adoração são ampliados, então sua eficácia aumenta drástica e automaticamente. Imagine se você superasse suas inibições concernentes ao louvor e à oração! Quanto mais amplo foi o estilo da adoração, mais profundo e satisfatório é o louvor. DECLARE AO SENHOR QUE ELE É DIGNO Quantas razões diferentes você tem para adorar e louvar a Deus? Quanto mais razoes você tem, maior é seu potencial para louvar. Se você consegue pensar em cinco ou seis motivos para louvar a Deus, logo se afastará da adoração e do louvor honestos e significativos. Quanto mais categorias de louvor você conhece e utiliza, mais sua vida será plena de adoração e louvor. Considere alguns motivos para louvar ao Senhor. 1. A criação é um motivo maravilhoso e quase ilimitado de louvor. Para qualquer lugar que você olhar, encontrará a obra das mãos do Criador. Quanto mais você conhece sobre um organismo vivo, mais

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impressionado fica com as obras de Deus! Em todas as partes da natureza o Senhor imprimiu seu gênio criativo, não apenas para nosso deleite mas também como um convite sutil para exaltarmos sua grandeza. 2. A misericórdia do Senhor permeia toda a história humana, passando por todo o seu passado, presente e futuro. Quando você se propõe e ver as obras de Deus em sua vida, com certeza terá razoes de sobra para louvá‐lo e adorá‐lo. Nossa consciência da misericórdia divina deve nos proporcionar uma nova lista de razões para adorá‐lo a cada dia. Jeremias falou sobre isso: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam‐se cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3:22,23). Você percebe o fluxo do raciocínio do profeta? Ele viu uma nova realidade nas misericórdias de Deus que imediatamente dirigiu seus pensamentos aos Senhor, numa frase de louvor: “Grande é a tua fidelidade!” 3. O caráter do Senhor torna‐se o foco mais precioso da adoração, à medida que você o conhece, em sua caminhada de santidade. Por quê? Porque a coisa mais importante sobre uma pessoa não é o que faz ou diz, mas o que ela é. Talvez seja por isso que Jeremias não agradeceu a Deus a renovação de sua misericórdia, mas exaltou a grandeza de sua fidelidade. Depois de anos de prática de louvor, tenho notado minha própria tendência de apreciar, respeitar e “valorizar” o caráter de Deus, mas do que seus feitos, suas promessas, seus milagres e suas profecias. Exalto sua compaixão, fidelidade, misericórdia, paciência, força, sabedoria, longanimidade, bondade e benignidade. Ainda não encontrei um cristão que vive continuamente em comunhão com o Senhor, o louva com fervor e que não tenha prazer na devoção regular, na leitura da Bíblia e numa vida de oração consistente. Eis o que o rei Davi revelou sobre esta maravilhosa fonte de alegria e de prazer, a qual nunca se esgota: “Na tua presença há plenitude de alegria, na tu destra, delicias perpetuamente” (Sl 16:11). Que cada um de nós possa experimentar esta “plenitude de alegria” por meio da adoração ao Senhor deste lado do véu da eternidade, e que desfrutemos no presente uma prova das “delicias perpetuas”! HÁBITO SANTO 6: JEJUM Quando você caminha pelos corredores de qualquer shopping, vai a qualquer restaurante ou caminha entre as gôndolas de alimentos dietéticos e de baixo teor de gordura nos mercados, percebe rapidamente que não somos uma geração que acredita no jejum e o pratica regularmente. Quantos cristãos você conhece que já jejuaram pelo menos por dois dias, mais do que umas duas vezes na vida? O jejum é uma arte perdida para a maioria dos cristãos de hoje. Entretanto, quando você faz uma rápida pesquisa bíblica para ver quem jejuou, veja o que descobre: Moisés, o povo de Israel, Samuel, Davi, Elias, os ninivitas, Neemias, o rei Dario, Daniel, Ana, Jesus, João Batista e seus discípulos, os fariseus, os apóstolos, Paulo e os primeiros cristãos. O que exatamente é o jejum espiritual? Jejum é a prática da abstenção de algo específico durante um tempo específico, feita pelo indivíduo, casal, pela família, igreja, cidade ou nação – por razões espirituais. Por que o jejum espiritual funciona? Em sua soberania, o Senhor decidiu que sempre que uma pessoa se abstém de alimentos, de sono, de falar (silêncio) ou da presença de outras pessoas (solitude) com um propósito espiritual, os resultados espirituais são multiplicados. Lembre‐se, por exemplo, da dificuldade que os discípulos estavam enfrentando em Mateus 17:14ss, quando tentaram curar o homem epilético que tinha demônio. Eles pediram ao Senhor que explicasse o que tinham feito de errado e devem ter ficado chocados com a resposta: “Esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum”. A oração normal e os procedimentos normais para problemas demoníacos não tiveram poder suficiente para expulsar aquele tipo específico de demônio. Entretanto, quando se acrescenta o jejum à oração, o demônio sairá. O Senhor multiplica o poder da oração quando seu povo jejua e ora. Os cristãos escolhem jejuar quando estão lutando numa área importante de suas vidas. Muitas pessoas, quando jejuam, não o fazem porque gostam – pois o jejum não é agradável nem atraente –, mas porque ajuda a alcançar a vitória. Alguns jejuam para se libertar de um pecado insistente, outros para agradecer a Deus uma resposta recebida e outros para concentrar toda a atenção no relacionamento com Deus. 105


Você pode jejuar para receber direção do Senhor numa decisão importante, para se arrepender e humilhar‐se diante de Deus, ou para buscar a proteção divina contra a guerra, a tragédia ou a destruição. Alguns cristãos jejuam para buscar um avivamento. Entretanto, você somente jejuará quando realmente necessitar de uma resposta específica e souber que o Senhor é Aquele que pode atender. Você somente jejuará quando crer realmente que o Senhor é poderoso e está interessado o suficiente para atender a seu pedido e intervir na situação pela qual está orando. Você não jejuará até concluir que, ao se abster e se humilhar diante do Senhor, sua oração terá um grau maior de influência. Muitas vezes as pessoas são impulsionadas ao jejum pela crise. Se um terrível acidente automobilístico coloca a pessoa que mais amamos entre a vida e a morte, muitos de nós fariam jejum em vista de uma oração mais fervorosa, pedindo a intervenção miraculosa do Senhor. Com que freqüência você deve jejuar? Sempre que desejar. Entretanto, não informe às pessoas que está jejuando. Não se levante em publico para pedir oração para suportar o jejum! Conforme Jesus instruiu, vista suas melhores roupas, mostre seu “melhor sorriso” e proteja seu jejum dos olhos dos homens. O que deve fazer se for convidado a almoçar ou jantar fora? Comunique que não vai comer por “razões pessoais”, mas que gostaria de desfrutar da companhia das pessoas. Algumas pessoas participam de um jejum anual, escolhendo a mesma data todos os anos e criando o hábito de sempre jejuar juntas. Outras participam de um jejum semanal, escolhendo o mesmo dia da semana para jejuarem regularmente. Um método prático é começar a jejuar domingo à noite e só se alimentar novamente na segunda‐feira à noite. Você também pode tentar um jejum rápido, sempre que surge uma questão importante e precisa buscar a ajuda divina com maior intensidade. Pule uma refeição e utilize esse tempo extra para concentrar‐se diretamente na presença do Senhor. Alguns cristãos praticam o jejum de Daniel, alimentando‐se apenas de frutas verduras durante uma semana. Não tocam em café, refrigerante, pão, carne nem doces por sete dias. Darlene e eu descobrimos que todo jejum de Daniel traz uma tremenda liberação no sexto dia – e nunca queremos parar no sétimo dia, por causa da obra que o Senhor realiza em nossa vida. O jejum de Daniel funciona muito bem no contexto familiar e permite que você mantenha suas responsabilidades sociais com maior facilidade. Um pastor espiritualmente maduro praticou um total de quarenta dias de jejum por catorze anos. Há dois meses, descobri que muitos membros de sua igreja o acompanham neste jejum espiritual todos os anos e que o número cresce cada vez mais. Que maravilhoso! Você precisa ouvir os testemunhos de bênçãos tremendas que ocorrem na vida dos participantes e da igreja como um todo. O jejum é um hábito santo avançado, que proporciona a seus praticantes recompensas valiosíssimas na caminhada da santidade e com Deus. Se você não pratica nenhum tipo de jejum em sua vida, por que não tenta o jejum de Daniel por uma semana? Posso garantir por experiência própria que você ficará maravilhado! TER UMA VIDA SANTA Para concluir, posso lhe dar uma palavra pessoal? Quando você pensa sobre sua vida hoje, com está praticando esses hábitos santos? Pare um momento antes de prosseguir na leitura e reflita um pouco. Preencha a tabela a seguir, da maneira que melhor expresse sua atual situação. Quando terminar, some os pontos para ter uma idéia de seu progresso nos “hábitos santos” neste momento de sua vida. Independentemente de sua pontuação nos hábitos santos, não desanime! O mais importante não é onde você se encontra hoje, mas sim onde estará amanhã, daqui a um ano e daqui a dez anos. Reconheça que você é o administrador de sua própria vida e que está sendo desafiado pelo Senhor a continuar progredindo na santidade. Hábito Santo Pontuação 1.Devocional 2.Bíblia 3.Oração 4.Diário

Não Comecei 0

Tento e Fracasso 5

Sucesso Esporádico 10

Prática Habitual 15

Satisfação Habitual 20

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5.Adoração 6.Jejum Total

De todos os hábitos santos, qual deles você acha que fará a maior diferença em sua vida, aos e aprofundar mais em cada um deles? É justamente com este que deve começar! Não tente implementar todos de uma vez, pois este é um meio garantido de fracasso. Pegue aquele que você mais deseja aplicar e concentre‐se apenas nele pelos próximos trinta dias. Todos aqueles que experimentaram grandes vitórias nestes hábitos diários descobriram que é preciso pelo menos um mês para construir um hábito sólido. Lute contra a tentação de começar pelos hábitos avançados, sem obter um forte índice de sucesso nos hábitos fundamentais. Resista à tendência natural de querer corrigir tudo em apenas um dia. Rejeite tal tentação, pois quase sempre ela procede de seu orgulho carnal e desejo de perfeição. Pelo contrário, alegre‐se com a vitória e com as mudanças duradouras ocasionadas pelo sucesso na prática de um hábito por vez. Depois que você o pratica por algum tempo e não exige mais um grande esforço, escolha outro (sempre aquele que mais deseja) e trabalhe nele por mais um período. Pense em como será sua vida dentro de alguns anos! Finalmente, deixe‐me compartilhar algumas palavras de incentivo. Primeiro, viva sob a graça e não sob a lei: Não se transforme num escravo legalista de seus hábitos. Dê a si próprio espaço para respirar e não tenha medo de falhar com eles um dia ou outro. Nos domingos, tenho uma rotina totalmente diferente e na segunda‐feira de manhã estou mais do que pronto para reassumir minha rotina semanal. Você não estará cometendo nenhum pecado mortal por relaxar um dia, ou mesmo alguns dias – deixe sempre um espaço para as surpresas e adversidades que a vida traz. O Senhor entende muito bem! Segundo, alegre‐se mais acrescentando variedade à sua rotina: Se você está um pouco entediado ou está ficando difícil levantar cedo para fazer a devocional, tente outra coisa: compartilhe com o Senhor que nos próximos dias irá dormir um pouco mais, pois crê que será uma companhia melhor se tiver um pouco mais de descanso. Vá dormir o mais cedo possível e durma o máximo que puder. É incrível o que um pouco mais de descanso pode fazer por um guerreiro exausto! Depois, para recarregar as baterias, escolha um livro cristão motivador, ou fita, e o inclua em seu devocional. Comecei a fazer isso alguns anos atrás e percebi que, ao mudar regularmente minha dieta literária, não tive mais problema com meu interesse e minha motivação. Terceiro, antecipe a alegria dos hábitos santos de “baixa disciplina”: Depois de praticar esses hábitos santos por um tempo, o retorno que você recebe será tão grande e recompensador que não vai querer perdê‐lo por nada! Deixará para trás aqueles dias em que tinha de usar toda a autodisciplina para levantar cedo e ter comunhão com o Senhor. Pelo contrário, sua motivação interna o empurrará para fora da cama. Se você pensar nisso por um momento, perceberá que a disciplina é necessária quando você no fundo não deseja fazer algo ou tem um hábito contrário ao que está tentando fazer. Quando você tiver desenvolvido hábitos santos fortes e significativos, entrará numa esfera diferente da vida, em que a devocional, a oração, o diário, a adoração e a meditação acontecem naturalmente. O que faz com que algo ocorra “naturalmente”? O hábito. O que acontece com seu caráter quando seus hábitos são naturalmente santos? Você se torna santo. Portanto, comece a desenvolver esses hábitos hoje mesmo e caminhe na direção da santidade pessoal.

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