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paradigma das obras públicas

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prefácio

prefácio

Piscina de D. Afonso Henriques. Banho ou Caldas de Lafões. Estes são outros nomes destas termas romanas construídas no século I d.C. Com 2000 anos de utilização contínua e tido como um dos complexos termais de origem romana mais importantes em Portugal, terá sido frequentado por D. Afonso Henriques após fratura sofrida na Batalha de Badajoz, em 1169. Ao longo dos séculos teve inúmeras utilizações. Após 70 anos de encerramento e de um longo processo de valorização, reabilitação e conservação, coordenado pelo arquiteto João Mendes Ribeiro, reabriu em 2019 e é visitável. Este monumento nacional classificado desde 1938 venceu o Prémio Nacional da Reabilitação Urbana 2021, na categoria de “Impacto Social”.

TERMAS ROMANAS DE SÃO PEDRO DO SUL

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JOÃO MENDES Arquiteto

O espaço termal romano de S. Pedro do Sul situa-se na margem do rio Vouga, a cerca de 500 metros da nascente de água termal. O edifício, de fundação romana (século I d.C), manteve até hoje grande parte da sua estrutura primitiva e encontra-se classificado, desde 1938, como Monumento Nacional. A sua longa e diversificada ocupação ao longo dos séculos ficou marcada por pequenos sinais, que não impediram, no entanto que a estrutura romana inicial tenha prevalecido, mantendo-se ainda grande parte da altura das paredes e o arranque das coberturas da época romana. O projecto de valorização, reabilitação e conservação teve como base a recuperação do edifício, propondo a intervenção mínima necessária para a sua utilização e correcta percepção. A recuperação das características mais marcantes do ambiente do período romano foi trabalhada a partir da escala, da luz e da presença da água. No volume a nascente recuperaram-se as dimensões originais, os sistemas construtivos e os materiais tradicionais. Recuperou-se ainda a geometria da fachada, nomeadamente a métrica de cheios e vazios, reconstruindo as paredes que ruíram. A poente, no edifício de origem romana, optou-se por manter a ideia de ruína, trabalhada quer como vestígio arqueológico, quer como matéria expositiva. A sugestão da forma e escala do espaço romano é dada pela reposição da altura original do edifício, bem como pela construção de uma abóbada em tijolo que segue a configuração da abóbada romana original, marcada nas paredes de topo. A nova abóbada destaca-se das estruturas existentes, suspensa a partir da cobertura e sem tocar nas paredes romanas. O ambiente luminoso original das termas romanas é recuperado com a introdução de luz zenital, através de um lanternim inclinado a sul, captando a maior quantidade possível de luz para o interior. No exterior, o tanque de água fria e a piscina natatio foram recuperados e a natatio revestida com opus signinum, à semelhança do período romano. A reconstrução do corpo nascente do edifício foi feita de forma a não tocar no limite original da natatio, trabalhando em balanço e criando um desnível no interior da recepção.

De acordo com as sondagens arqueológicas, desenvolvidas pela arqueóloga Helena Frade, existiam evidências da existência de um peristilo que circundava a natatio, que originou o desenvolvimento de um projecto de montagem das colunas, fragmentadas e dispersas pelo terreno, desenvolvido por João Gomes da Silva. A montagem foi baseada num inventário de todos os elementos existentes, utilizando o processo de anastylosis e a proporção e êntase do cânone proposto por Vignola, completada por novos elementos que, de acordo com a Carta de Atenas, se destacam dos existentes. Complementarmente ao peristilo, foi acrescentado um muro que acentua a entrada no peristilo. A importância da água no edifício termal é resgatada, voltando a ser o elemento central do espaço. Esta recuperação é feita na tentativa de recriar a atmosfera termal romana, imprescindível para a compreensão e leitura do espaço. O sistema de captação e condução da água é recuperado, permitindo que exista um circuito hidráulico por todo o edifício, associado a uma ideia de percurso, complementado pelo reúso do tanque exterior de água fria e da piscina natatio. A água adquire assim uma conotação lúdica, cruzando-se com a história e a gravidade do edifício pré-existente, numa nova leitura baseada em relações visuais e auditivas, indiciando percursos ou antevendo espaços.

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