Contributos para a sustentabilidade do regadio a sul do tejo

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FICHA TÉCNICA AUTORES José Rato Nunes; Antonio López-Piñero; Luís Loures; Ana Viegas; José Paulo Pimentel.

INSTITUTO POLITÉCNICO DE PORTALEGRE C3i

DESIGN G RÁFICO Ana Viegas

IMPRESSÃO FORTISGRAF

Nº DE EXEMPLARES 500

DEPÓSITO LEGAL Nº 366621/13

ISBN

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Os autores expressam o seu agradecimento à Rede Rural Nacional pelo financiamento do projeto, sem o qual este trabalho não poderia ter sido realizado, e à Associação de Beneficiários do Caia pelo apoio prestado, quer ao nível da realização do trabalho de campo, quer na recolha de amostras de solo e de água. V


VI


ÍNDICE

Agradecimentos

V

Índice de Quadros

VII

Índice de Figuras

XI

1

Uma visão geral sobre o regadio

1

2

Alguns impactes do regadio – a realidade do mediterrâneo

9

3

O perímetro de rega do Caia – breve caracterização e abordagem metodológica

27

4

Regadio versus Sequeiro – alterações nas propriedades químicas do solo

33

5

A sustentabilidade do regadio a sul do Tejo – algumas recomendações

75

Referências Bibliográficas

83

VII


ÍNDICE DE QUADROS 3.1

Composição média da água de rega utilizada no Perímetro de Rega do Caia

30

4.1

Número de pontos de amostragem correspondentes aos diferentes sistemas culturais e às diferentes classes de antiguidade em regadio, para os distintos grupos de solos existentes no Perímetro de Rega do Caia

36

4.2

Valores de pH (água) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

37

4.3

Valores de pH medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

38

4.4

Valores de CE medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

39

4.5

Valores de CE medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

39

4.6

Teores de matéria orgânica medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

40

4.7

Teores de matéria orgânica (%) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

41

4.8

Teores de azoto total (%) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

43

4.9

Teores de azoto total (%) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

44

4.10

Teores de fósforo “assimilável” medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

45

4.11

Teores de fósforo “assimilável” (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

46

4.12

Teores de potássio “assimilável” medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

47

4.13

Teores de potássio “assimilável” (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

48

4.14

Teores de cálcio “assimilável” medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

49

4.15

Teores de cálcio “assimilável” (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

50

4.16

Teores de magnésio “assimilável” medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

51

4.17

Teores de magnésio “assimilável” (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

51

4.18

Teores de calcário activo (%) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

53

VIII


4.19

Teores de calcário activo (%) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

54

4.20

Teores de sódio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

55

4.21

Teores de sódio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

55

4.22

Teores de cálcio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

58

4.23

Teores de cálcio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

58

4.24

Teores de magnésio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

59

4.25

Teores de magnésio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

60

4.26

Teores de magnésio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

61

4.27

Teores de potássio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

61

4.28

Teores de sódio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

62

4.29

Teores de sódio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

63

4.30

Valores de acidez de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

64

4.31

Valores de acidez de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

64

4.32

Valores de Capacidade de Troca Catiónica (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

66

4.33

Valores de Capacidade de Troca Catiónica (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

66

4.34

Teores de ferro (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

67

4.35

Teores de alumínio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

68

4.36

Teores de cádmio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

68

4.37

Teores de crómio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

69

4.38

Teores de cobre (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

70

4.39

Teores de zinco (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

70

IX


4.40

Teores de manganês (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

71

4.41

Teores de chumbo (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

73

4.42

Teores de níquel (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro

73

X


ÍNDICE DE FIGURAS 1.1

Importância da superfície regada na SAU, 2009

5

2.1

Gráfico termopluviométrico do clima mediterrânico

11

2.2

Mapa representativo da temperatura média anual

11

2.3

Mapa representativo da precipitação acumulada anual

11

2.4

Regadio

12

2.5

Regadio

12

2.6

Matéria orgânica

13

2.7

Matéria orgânica

13

2.8

Matéria orgânica

13

2.9

Agricultura em regime de regadio

14

2.10 Agricultura em regime de sequeiro

14

2.11 Plantação de algodão

15

2.12 Plantação de batata

15

3.1

29

Mapa de localização da área de estudo

XI


XII


1


2


O clima mediterrânico é caracterizado por possuir um verão quente e seco e chuvas na estação fria (Feio, 1991; Rêgo, 1992; Azevedo, 1998; e, Sousa, 1999). Nestas condições a actividade agrícola sofre fortes limitações. De facto, quando as culturas possuem condições pouco favoráveis, em termos de luminosidade e temperatura, para o seu crescimento, as disponibilidades hídricas no solo são elevadas, enquanto, pelo contrário, quando a intensidade luminosa é mais elevada e a temperatura atinge valores susceptíveis de induzirem maiores produtividades, a falta de água impede que as plantas exprimam todo o seu potencial genético (Azevedo, 1998). Em virtude do que acabamos de dizer, o fornecimento artificial de água durante o final da primavera e o verão surge como uma forma de colmatar o principal óbice à obtenção de elevadas produtividades nos países da bacia mediterrânica (estes países ocupam uma área de 4.300.000 km2 segundo Yaalon, 1997), fazendo coincidir temporalmente as condições mais adequadas ao crescimento e produção das culturas (Santos, 1996). A necessidade de regar nos períodos de carência hídrica não é tema novo. Com efeito, desde sempre, os agricultores que viviam em climas áridos e semi-áridos se confrontaram com a necessidade de fornecer água às plantas, por forma a garantir que estas completassem o seu ciclo e assim os pudessem alimentar (Ribeiro, 1986). Neste âmbito aparecem relatos de sistemas de regadio na antiga Mesoptânea em 3500 AC (Eaton, 1950; e, Jacobsen & Adams, 1958; citados por Letey & Knapp, 1995). Posteriormente, surgem no Egipto obras de engenharia hidráulica com elevada relevância, regando vastas áreas do delta do Rio Nilo. Mais recentemente temos testemunhos arqueológicos de vastos sistemas de rega construídos pelos romanos, com vários exemplos de barragens datadas dessa época no Sul de Portugal (comunicação pessoal do Professor Ário Lobo de Azevedo), ou de sistemas, bastante evoluídos do ponto de vista tecnológico, deixados pelos árabes, tendo mesmo alguma dessa tecnologia chegado até à presente data (Sousa, 1999). Nos dias de hoje a área regada a nível mundial situa-se ao redor dos 220 milhões de ha, ocupando cerca de 18% da superfície cultivada e sendo responsável por 35% da produção agrícola (FAO, 2011). De modo a satisfazer as crescentes necessidades alimentares da humanidade, que se estima possa atingir em 2025 os 8.500 milhões de habitantes, a produção agrícola mundial deveria aumentar 40 a 50% nos próximos 15 a 20 anos, o que só poderá ser conseguido através de um aumento de 2 a 3% ao ano na área regada. Como consequência do que acabamos de dizer, prevê-se que nos próximos anos a área de regadio sofra um importante incremento, crescendo a taxas necessariamente superiores ao 1% ao ano que se verifica actualmente. Portugal não é excepção a este figurino, e embora a sua população 3


permaneça aproximadamente constante, a necessidade de aumentar as nossas produtividades conduz a que novos projectos hidroagrícolas estejam continuamente a ser implementados. Desta forma, Portugal, de acordo com os dados mais recentes que se encontram disponíveis (INE, 2011), possui uma área agrícola de 3.668.145 ha dos quais só 15,0% são zonas potencialmente regáveis (INE, 2009). Contudo, num futuro relativamente próximo (até 2020), nomeadamente com a entrada em funcionamento dos empreendimentos do Alqueiva, Minutos, Xévora, Moinho do Escarvelho, Pardiela e Ribeira de Canção, pensa-se que as zonas irrigáveis aumentarão significativamente (Avillez, 1996; Faria, 1996; e, Sousa, 1999). De facto, em Portugal, o regadio e os sistemas de armazenamento e gestão da água a ele associados assumem particular importância, dada a carência de recursos hídricos com que somos frequentemente confrontados. Embora, aparentemente, Portugal possua abundantes recursos hídricos - segundo Correia (1996) Portugal é dos países mais ricos em água da Europa com 17.500 L por dia e por habitante, bem mais que o Reino Unido ou a Alemanha -, não possuí a capacidade de os armazenar e gerir. Segundo Morais (1996), a capacidade total de armazenamento das albufeiras existentes não atinge sequer os 10% dos recursos disponíveis, estando estas localizadas, essencialmente, onde menos falta fazem do ponto de vista agrícola, ou seja, no Norte do país. Em Espanha, por exemplo, a capacidade de armazenamento ronda os 50%, excedendo em algumas regiões os 100%. Pelo que acabamos de dizer se compreende que o armazenamento de água, que geralmente aparece associado a zonas regadas, é em Portugal, mais que um imperativo agrícola, um imperativo estratégico no intuito de evitar a desertificação ambiental e humana de vastas regiões do Interior Sul do país. Mas caracterizemos um pouco melhor o regadio em Portugal e as perspectivas que se lhe colocam. Da superfície agrícola portuguesa (3.668.145 ha), só 540.593 ha são potencialmente irrigáveis. Acresce ao que acabamos de dizer o facto desta área de regadio estar desigualmente distribuída. Evidência disto mesmo é o facto das regiões Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, Beira Litoral, Beira Interior, Ribatejo e Oeste, Alentejo e Algarve possuírem 6%, 12%, 3%, 9%, 11%, 53% e 2%, respetivamente, da área agrícola do país e conterem 39,0 %, 9,0 %, 41,0%, 11,0%, 26,0%, 7,0% e 18,0%, respetivamente, da superfície regada. A região Sul, constituída pelas sub-regiões do Alentejo e Algarve, por seu lado, representa 55,0% da área agrícola portuguesa, possuindo somente 25% da área potencialmente regada do nosso país (INE, 2011). Interessa também aqui destinguir o próprio tipo de regadio, dado que enquanto a Norte predomina o pequeno regadio tradicional de iniciativa privada ou os pequenos perímetros de rega colectivos, a Sul predominam os perímetros com maiores dimensões de iniciativa estatal (Serralheiro, 1997 e INE, 2011). 4


Figura 1.1 – Importância da superfície regada na SAU, 2009

No que toca ao Alentejo em particular, só 8,0 % da sua área agrícola utilizada poderá ser regada. Se dividirmos o Alentejo em Alto Alentejo, Alentejo Litoral, Alentejo Central e Baixo Alentejo, verificamos que também neste caso existe alguma disparidade na distribuição das áreas de regadio. Assim, enquanto no Alentejo Litoral 11,1% da sua área agrícola poderá ser regada, no Alto Alentejo e no Alentejo Central este valor desce para, respectivamente, 8,1% e 7,0% e no Baixo Alentejo desce ainda mais, situando-se nos 5,8% (INE, 2011). Em termos culturais, podemos dizer que, segundo dados do INE relativos ao Recenseamento Geral da Agricultura de 2009, 60% da área regada corresponde a culturas temporárias, 29% a culturas permanentes e 11% a pastagens permanentes. A cultura temporária mais importante é o milho híbrido para produção de grão, ocupando cerca de 61% dessa área. Seguem-se a batata com 34% e as culturas forrageiras com 25%. Nas culturas permanentes a mais importante é a macieira com 34%, seguida da vinha e dos citrinos, ambos com 31% da área. Também neste aspecto as assimetrias regionais são enormes. Assim, no Norte predomina a cultura do milho (45,1% da área regada), sobretudo ligada à pecuária. Na região Centro o 5


figurino acaba por ser muito semelhante ao que vimos para a região Norte, com o milho nas suas várias vertentes (silagem, híbrido, regional e milharada) a ocupar 48% da área regada, seguido das forragens e prados com 21,5%. De salientar que na região Centro a cultura da batata aparece com alguma importância, ocupando 9,1% da área regada. A região de Lisboa e Vale do Tejo acaba por, no figurino nacional, parecer uma das regiões mais equilibradas, tendo a sua área de regadio distribuída de forma relativamente equitativa por várias culturas. Assim, salientamos como culturas de regadio mais representativas desta região, o milho híbrido para produção de grão, com 27,9% da área regada (as outras variantes da produção de milho possuem pouca representatividade), as hortícolas, com 11,2%, os pomares, com 9,5%, e o tomate para indústria com, 9,4%. No Algarve a área de regadio encontra-se distribuída por um número muito restrito de culturas. De facto, nesta região, os pomares ocupam cerca de 73,8% da área regada e, de entre estes, os pomares de citrinos correspondem a 91%. Além das fruteiras, as únicas culturas que possuem alguma importância, embora reduzida, são as hortícolas de ar livre que correspondem a 4,5% do total da área regada na região. O Alentejo assume no âmbito do presente trabalho um interesse particular, conduzindo a que seja dado um maior ênfase aos temas relacionados com esta região. No que diz respeito à distribuição da área regada pelas diferentes culturas, sobressai o facto dos cereais praganosos de Inverno assumirem aqui um relevo muito maior que em qualquer outra região de Portugal (trigo mole com10,9% e trigo duro com 7,1% da área total), o mesmo acontecendo com o girassol (9.7% da área total) e com o olival (6,0% da área total). O milho híbrido para produção de grão é também neste caso a principal cultura de regadio (17,7% da área total), detendo o arroz também uma área considerável (8,4% da área total), que só encontra paralelo na região Centro de Portugal que possui uma área de arroz a rondar os 7,6% da sua área total. No que respeita à importância económica da agricultura de regadio em Portugal, e apesar de todos os esforços realizados, não foi possível obter números credíveis a esse respeito, uma vez que o Instituto Nacional de Estatística não os possuí. Fica desde já a sugestão para que em próximos inquéritos e recenseamentos agrícolas se torne possível obter esta informação que, na nossa opinião, se reveste de enorme interesse. Relativamente às perspectivas futuras da agricultura de regadio no nosso país, elas parecem risonhas. De facto, assiste-se hoje a um crescente interesse dos agricultores no regadio, como resposta à necessidade de inovação sentida em face da perda de competitividade das formas tradicionais de produzir (Serralheiro, 1997). Sousa (1999) vai mesmo mais longe e afirma que o regadio é a chave para o futuro da agricultura portuguesa. Neste âmbito, e como

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anteriormente referido, prevêem-se acréscimos significativos da área regada já num futuro próximo, sobretudo, com a entrada em funcionamento do empreendimento do Alqueiva. Apesar de todas as vantagens que temos vindo a apontar ao regadio, nomeadamente o facto de melhorar a gestão da água e de aumentar a produtividade agrícola, e das perspectivas existentes a nível nacional e mundial para a sua expansão, estes sistemas agrícolas podem ter uma sustentabilidade limitada no tempo, podendo ser responsáveis por uma acentuada degradação ambiental (Schwab et al., 1995; e, Silva, 1997). De facto são inúmeros os autores que dizem que uma actividade que utiliza mais de 80% da água doce consumida no planeta 80%, segundo Diaz-Ambrona (1996) e Sousa (1999); 85% segundo Mendes (1996); e, 90% segundo Pereira (1996)) -, acrescentando-lhe durante o uso fertilizantes e fitofármacos, pode ser responsável por uma degradação irreversível desse recurso escasso, impossibilitando a sua utilização futura para fins mais nobres, como é o caso do consumo humano (Correia, 1996; e, Gil, 1996). Por outro lado, o regadio, dependendo de vários factores como a qualidade da água de rega utilizada, solo, técnicas culturais, fertilização e tratamentos fitossanitários, cultura praticada e clima, pode degradar severamente o solo, fazendo com que o aumento de produtividade registado inicialmente não seja sustentável e, após um período de tempo maior ou menor, dependendo das circunstâncias, apareçam graves problemas de fertilidade física, química e biológica que, no limite, poderão pôr em causa a própria actividade agrícola. Longe de pretendermos ser alarmistas, são contudo inúmeros os exemplos do que acabamos de dizer, e vastas regiões do globo antigamente férteis são, hoje, quase completamente estéreis, devido à deterioração do solo provocada pelo regadio. É neste contexto, quando as áreas de regadio tendem a crescer a um ritmo cada vez maior, impondo a realização de estudos que contribuam para o conhecimento dos efeitos do regadio sobre as características do solo e que permitam inferir da sustentabilidade destes agrosistemas, que surge o presente trabalho. Neste sentido, delineámos um estudo bastante detalhado das características químicas da camada superficial dos solos que constituem o Perímetro de Rega do Caia, visando a comparação de vários parâmetros da composição química de solos mantidos em sequeiro ou depois de submetidos a diferentes períodos de. Os resultados deste trabalho, poderão, com os necessários cuidados e adaptações, ser extrapolados para outras regiões de idênticas características na bacia mediterrânica, podendo constituir um instrumento para a melhoria da gestão dos recursos solo e água, diminuindo assim o impacte ambiental desta prática.

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A AGRICULTURA E O REGADIO 10


A agricultura é a atividade económica caracterizada por um processo produtivo que depende da Natureza e que a influencia ao utilizar alguns dos seus recursos, nomeadamente, o solo e a água (MADRP, 1999). O modo como a agricultura utiliza os recursos naturais pode ter efeitos negativos sobre os mesmos, sendo que as opções efetuadas ao nível da seleção dos sistemas produtivos e de práticas culturais são fundamentais para evitar a sua degradação (MADRP, 1999). O clima no nosso país é caracterizado pelos verões quentes e secos e chuvas no inverno (Sousa, 1999, Azevedo, 1998 e Feio, 1991). Segundo Koppen o clima de Portugal Continental classifica-se como mediterrânico (Figuras 2.1, 2.2 e 2.3), constituindo um fator de elevado impacte ao nível da agricultura uma vez que quando a temperatura e a luminosidade são pouco favoráveis para o crescimento das culturas, a disponibilidade hídrica do solo é elevada enquanto, pelo contrário, quando a intensidade luminosa é mais elevada e a temperatura atinge valores suscetíveis de introduzirem maiores produtividades, a falta de água impede que as plantas exprimam todo o seu potencial genético (Azevedo, 1998).

Figuras 2.1, 2.2 e 2.3 – Gráfico termopluviométrico do clima mediterrânico e mapas representativos da temperatura média anual e precipitação acumulada anual. Fontes: IM (2008).

Tendo em consideração os factos apresentados torna-se muitas vezes necessário regar as culturas no período do ano em que a água das chuvas não chega para suportar as suas necessidades. É por este motivo que a agricultura é a atividade que apresenta o consumo de água mais elevado, consumindo cerca de 70% da água total do nosso país (MADRP, 1999). As consequências para o solo da prática continuada do regadio (Figuras 2.4 e 2.5) são muitas e variadas. (Nunes, 2003) e devem-se a vários fatores, nomeadamente à composição da água da

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rega, à quantidade de água aplicada no solo, às atividades culturais (fertilizações, mobilizações, rotações, culturas, tratamentos fitossanitários, sistemas de rega) e às características do próprio solo. As várias relações estabelecidas entre estes fatores dificultam a individualização do efeito do regadio sobre um só fator.

Figuras 2.4 e 2.5 – Regadio. Fontes: Junta de Freguesia do Ferro (2011) e Club of Mozambique (2011).

O regadio é uma prática que não se limita à “passagem de um agro-sistema em que a água aparece como fator limitante para um agro-sistema em que este recurso existe em abundância” (Nunes, 2003), surgem associados a ele a intensificação cultural (ou seja, o aumento do número de culturas, a introdução de novas espécies e de novas variedades...) e o aumento da frequência de mobilização do solo, fatores que não podem ser ignorados no momento em que se aferem os efeitos do regadio no solo. Dadas as circunstâncias, as opiniões dos vários autores acerca deste tema são muito divergentes.

MATÉRIA ORGÂNICA Segundo ECAF, 1999, Whitbread et al., 1998, Santos 1996 e Bauer e Black, 1994, citados em Nunes, 2003, a matéria orgânica (Figuras 2.6, 2.7 e 2.8) é um elemento essencial na fertilidade física, química e biológica do solo. Trata-se de um reservatório de azoto, que fornece uma parte significativa do fósforo e do enxofre, protege o solo da erosão e fornece substâncias que contribuem para a formação de agregados estáveis. Outros autores (Whalen et al., 2000, Bauer e Black, 1994, Bowman et al., 1990, Miller e Donahue, 1990, e Russel, 1977) defendem ainda que contribui, de forma marcante, para a capacidade de troca catiónica dos solos, que é fonte de carbono para os organismos heterotróficos, serve de tampão às variações de acidez, alcalinidade e salinidade, bem como contribui para o decréscimo dos impactes provocados pela utilização de pesticidas e de toxicidade dos metais pesados, sendo ainda responsável pela melhoria das condições de arejamento e de movimento de solutos. No seguimento do 12


anteriormente referido, teores de matéria orgânica inferiores a 2% são suscetíveis de pôr em risco a estrutura e fertilidade do solo (Greenland et al., 1977).

Figuras 2.6, 2.7 e 2.8 – Matéria orgânica. Fontes: Agricultura Research Service (2007), Semeato (2012) e Redes Regionais de Agroecologia (2007).

A matéria orgânica existente nos solos deve-se à quantidade de resíduos orgânicos deixados ou adicionados ao solo e à taxa de decomposição desses mesmos resíduos. Estes aspetos dependem, por sua vez, das atividades agrícolas desenvolvidas no solo (mobilizações, rotações, fertilizações, intensidade cultural...) e das características e composição do mesmo (temperatura, teor de humidade, concentração de nutrientes, pH, arejamento, textura, presença de sais, etc.) (Omay et al., 1997, Santos, 1996, e Miller e Donahue, 1990). Embora sejam contraditórios, os fatores dos quais dependem os teores de matéria orgânica no solo, têm em comum o facto de provirem de natureza biológica, e das condições do meio que favorecem a maior produção de matéria orgânica, visto as condições que fomentam a produtividade vegetal, serem exatamente aquelas que promovem a sua destruição, uma vez que favorecem a vida microbiana que é a responsável pela mineralização da matéria orgânica (Miller e Donahue, 1990 em Nunes, 2003). Segundo Glauber et al. (2002), o processo de mineralização da matéria orgânica, embora seja lento e gradual, é de grande interesse para a agricultura, uma vez que o teor em matéria orgânica do solo tem um efeito direto na produtividade. A mineralização da matéria orgânica do solo depende, entre outros factores, da temperatura, arejamento e condições de humidade.

O sistema cultural (regadio ou sequeiro, Figuras 2.9 e 2.10) é um dos fatores que mais afeta os teores de matéria orgânica do solo, embora o seu efeito seja também alvo de alguma controvérsia. De facto, enquanto um teor de humidade adequado permite um ótimo desenvolvimento das plantas, favorecendo desse modo a produção de matéria vegetal, o mesmo teor de humidade permite aos microrganismos trabalhar na sua máxima eficiência,

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colaborando para a decomposição da matéria orgânica. Quando os teores de humidade aumentam ou diminuem consideravelmente, conduzindo a situações de aridez ou semi-aridez ou, pelo contrário, conduzindo a situações de alagamento e consequentes deficiências de arejamento, a produção de matéria orgânica diminui, no entanto, a decomposição desta sofre igualmente uma diminuição (Miller e Donahue, 1990). Em virtude do mencionado anteriormente, pode constatar-se que existe uma enorme dificuldade em demonstrar a influência do teor de humidade nas quantidades de matéria orgânica existentes no solo. Contudo, no clima Mediterrânico parece haver consenso, entre vários autores (Carvalho e Bash, 1999 e Azevedo, 1998), de que a subida do teor de humidade no solo, conduz a uma inevitável diminuição na quantidade de matéria orgânica presente nos solos (Sequeira, 1997 e Santos, 1996).

Figuras 2.9 e 2.10 – Agricultura em regime de regadio e em regime de sequeiro. Fonte: MSN Notícias (2010).

Este facto é confirmado em vários trabalhos experimentais, nomeadamente, no de RibamarPereira e Cordeiro (1987), que estudou o efeito da rega sobre algumas características específicas de um vertisolo (localizado numa região semi-árida do Brasil) e no de McKenzie et al. (1991), que ao comparar solos cultivados com algodão (Figura 2.11) em regadio e em sequeiro, verificou que no primeiro caso houve uma considerável redução nos teores de matéria orgânica, que atingiu os cerca de 25% ao fim de 15 anos. No mesmo sentido vão os trabalhos de Porter et al. (1999) que referem que a cultura da batata (Figura 2.12) em regadio, quando comparada com a mesma produção em sequeiro, leva a uma diminuição nos teores de matéria orgânica do solo.

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Figuras 2.11 e 2.12 – Plantação de algodão e plantação de batata. Fonte: Sementes Farroupilha Semeando o Futuro (2008).

Pelo contrário, considerando os resultados obtidos por Grigoryev et al. (1993) verifica-se que o teor de húmus na camada superficial do solo aumentou devido à rega, nunca descendo dos 2,5 a 3%, em diferentes tipos de solo e ao longo de 8 anos após o início do regadio. Verifica-se ainda que a recuperação da fertilidade, após a ocorrência de erosão, foi melhor nos solos irrigados, sendo também nestes a maior aumento da produtividade vegetal. A explicação encontrada para este resultado poder-se-á dever a vários fatores, nomeadamente ao clima da região onde foi desenvolvido o estudo (por ter temperaturas muito baixas durante grande parte do ano, limita a ação dos organismos decompositores, permitindo o aumento dos teores de matéria orgânica originados por uma maior produção). Outra possível justificação estará no facto da região apresentar uma pluviometria na ordem dos 500 a 600 mm, que não sendo potencalmente limitante para a atividade microbiana, faz com que esta não sinta de forma positiva o aumento de humidade proporcionado pelo regadio, sendo este muito mais importante para o aumento da produção. Assim, a atividade microbiana permanece mais ou menos constante enquanto a produção aumenta, conduzindo a acréscimos na quantidade de matéria orgânica presente no solo. De uma forma geral, em ambiente mediterrânico, pode dizer-se que à exceção dos Vertissolos (Nunes, 2003) todos os solos sofrem um decréscimo nos teores de matéria orgânica quando colocados em regadio, que acorre progressivamente ao longo do tempo e que as culturas realizadas em regadio influenciam de forma diferente os referidos teores deste componente do solo, sendo que isso depende das diferentes quantidades de água e/ou fertilizantes de que as culturas carecem.

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PH

O pH é outro dos elementos do sistema produtivo a sofrer alterações pela prática continuada do regadio. A intensificação cultural é apontada como um dos fatores a causar estas modificações, no entanto, este fator tem gerado alguma controvérsia ao nível da comunidade científica. Segundo Chan et al. (1988), o pH do solo tende a subir com a intensificação cultural e dão como exemplo um estudo, em solo argiloso, onde não foram utilizados fertilizantes (que habitualmente aumentam a acidez do solo). No entanto, Nunes (2003), Lal (1997) e Dalal e Mayer (1986a) demonstram que o pH dos solos diminui em consequência do aumento da frequência de cultivo, impulsionado pelo regadio, e Blake et al. (1999), acrescentam ainda que as causas deste facto são a fertilização com o consequente aumento da poluição do solo. Para Santos (1996) e Schwab et al. (1989) parece evidente que não se pode acusar diretamente a intensificação cultural pela diminuição do pH dos solos, contudo é ela que obriga a uma série de operações culturais nos sistemas agrícolas, nomeadamente fertilizações frequentes, e estas sim são responsáveis pela acidificação dos solos. Santos (1996) e Schwab et al. (1989) defendem também que a utilização de fertilizantes com azoto na forma amoniacal (ou em formas que evoluam para a amoniacal), tem como consequência a acidificação dos solos. Relativamente ao efeito da prática continuada do regadio nos valores de pH do solo, existe um grande desacordo entre os autores. Enquanto uns defendem que a mesma não influencia os valores, outros dizem que o regadio alcaliniza os solos e outros ainda justificam que, através da lixiviação de bases provocada pelo regadio, os valores de pH do solo diminuem. Os estudos elaborados por McKenzie et al. (1991) e Ribamar-Pereira e Siqueira (1979) demonstram que o regadio não alterou os valores de pH no solo. Também Patil et al. (1992), depois de um estudo comparativo entre parcelas regadas e parcelas em regime de sequeiro, referem que em ambas os valores de pH são idênticos, o que significa que a rega não alterou esta característica do solo. No entanto, Falkiner e Smith (1997) e Taneja et al. (1981) referem que a prática do regadio conduz a subida consideráveis do pH dos solos, mas enquanto que Falkiner e Smith (1997) dizem que este facto ocorre independentemente da quantidade e da qualidade de água utilizada, para Taneja et al. (1981) o aumento dos valores de pH é muito superior quando a água da rega é de má qualidade. Grigor’yev et al. (1993), num ensaio semelhante ao realizado por Patil et al. (1992) compararam parcelas de solo regadas e não regadas e, ao contrário de 16


destes últimos, concluíram que o pH na camada superficial dos solos irrigados era consideravelmente superior do que na camada superficial dos solos mantidos em sequeiro. Para outros autores, a irrigação dos solos e a lixiviação de bases que esta fomenta, pode ser a causa da acidificação dos solos. Isto que é defendido por autores como Miller e Danahue (1995, 1990) e Ribamar-Pereira e Cordeiro (1987) e que é fortalecido por Santos (1996) ao dizer que “os solos em regadio têm tendência para se acidificar em maior extensão, devido a uma maior perda e remoção de bases” (Nunes, 2003). Para Porta et al. (1994) quanto mais intensa for a “lavagem” do solo, mais ele acidifica. Através da análise efetuada assume-se que o regadio por si só não tem um efeito concreto no que diz respeito ao valor de pH no solo, dependendo o seu efeito de fatores como a composição da água, as práticas culturais e o solo em causa. Foram então considerados estudos de autores que se focaram em analisar a reação do pH tendo em consideração estes fatores. Por exemplo, Deo e Lal (1982) trabalharam com duas culturas e 5 qualidades de água diferentes, num solo limo-arenoso, e concluíram que à medida que a condutividade elétrica (CE) da água da rega aumenta o pH do solo diminui, acontecendo exatamente o contrário relativamente à variação dos valores da razão de absorção de sódio (SAR). Mostafa et al. (1992) trabalhou em três solos de diferentes texturas e obteve resultados muito semelhantes com os anteriores, visto que à medida que a CE da água aumentava, o pH do solo decrescia, essencialmente em solos argilosos. Com águas com diferente salinidade num solo arenoso, Khandelwal et al. (1990) constataram que com o aumento da CE da água da rega, os valores de pH decresciam significativamente facto que, segundo os autores, pode dever-se à redução da espessura da dupla camada difusa do complexo de troca. Assim, segundo Nunes (2003), conclui-se que com o aumento da CE da água de rega contribui para a acidificação do solo, enquanto o aumento da SAR contribui para a sua alcalinização.

SALINIDADE Entende-se por salinidade a acumulação, no solo, de sais mais solúveis que sulfato de cálcio (gesso), e por salinização a acumulação de sais mais solúveis que gesso em quantidades suficientes para interferir no crescimento da maioria das plantas (Porta et al. 1994 e Benito, 1991). É, por isso, considerada um grave problema agroambiental, que leva a ser o tema mais estudado ao nível do impacte do regadio no solo (Heuperman, 1993).

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A salinização pode provir da meteorização de rochas (Miller e Donahue, 1995) – salinização primária -, da aplicação de sais por parte do Homem (sobre a forma de adubos, aplicação de água de rega com má qualidade) - salinização secundária – (Santos, 1996 e Harding et al., 1958), e ainda, devido a subidas, por capilaridade, dos sais a partir de toalhas freáticas salinizadas (Ceuppens et al., 1997 e Armstrong et al., 1996). Há uma década atrás, estudos indicavam que a salinização afetava a produtividade de cerca de um quarto das zonas agrícolas do globo. Grande parte desta área corre o risco de ficar improdutiva caso não sejam tomadas medidas corretivas rapidamente (Ashraf e Sharif, 1996). Segundo Nunes (2003), o regadio é, geralmente, responsável pelo aumento da salinidade dos solos, e esta salinidade aumenta significativamente ao longo do tempo em que o solo é submetido à rega. O efeito do regadio sobre a salinidade dos solos, segundo vários trabalhos, depende da qualidade da água da rega utilizada, do solo, da geologia, do clima, da posição topográfica e das técnicas culturais utilizadas (Santana et al., 2007 e Benito, 1991). Por exemplo, o estudo de Ayars et al. (1993), que trata de parcelas de um dado solo, regadas ao longo de 6 anos com águas de qualidade distinta, conclui que o regadio conduz a um aumento considerável na concentração de sais, e esse facto é mais evidente na rega com água com maior salinidade. Os riscos para a produtividade do solo devem ser controlados através do uso de água com menos salinidade ou com águas da chuva. O trabalho de Khandelwal et al. (1990) analisa a utilização de águas de rega com salinidade diferente num solo arenoso e constataram que à medida que a CE da água aumenta, aumenta consideravelmente a CE do solo. Patil et al. (1992), num estudo com uma metodologia muito semelhante ao anterior, num vertisol, observaram que o aumento da CE na água da rega levou ao aumento dos valores de CE no solo. Relativamente à investigação efetuada por Ribamar-Pereira e Siqueira (1979) num oxissolo, depois de 7 anos de cultura intensiva em regadio, as conclusões obtidas foram que a CE subiu 4 vezes, ao longo de todo o perfil devido aos sais presentes na água de rega e à quantidade de fertilização aplicada no solo. Embora o valor atingido não seja suficiente para prejudicar a produção, devem ser tomadas medidas para evitar a salinização do solo. No entanto, outros autores referem que o regadio não conduz a alterações nos valores deste parâmetro. Por exemplo Ribamar-Pereira e Cordeiro (1987) e Tripathi et al. (1971) defendem, após 17 anos de estudos, que não existem diferenças consideráveis nos valores de CE entre as parcelas de solo regadas e as parcelas mantidas em sequeiro. 18


O grau de salinização a que a rega com água de uma determinada qualidade conduz, tal como já foi referido, está muito dependente das características do solo onde o regadio é praticado (Benito, 1991), sendo que a textura é a que mais influencia (Sharma e Dubey, 1988). Segundo estes autores, a rega implica sempre a salinização dos solos, sendo que os que possuem uma textura mais pesada são os que apresentam maiores problemas de salinidade devido a deterem uma menor condutividade hidráulica e uma menor taxa de infiltração, que tem como consequência a acumulação de sais à superfície. Este facto é o principal motivo para que as culturas vejam a sua produtividade reduzida logo após o início da utilização de águas salinas. O mesmo não acontece com solos com textura ligeira (e de elevada permeabilidade) onde os efeitos da salinidade se fazem sentir a maior profundidade (Costa et al. 1991). Para alguns autores (Sharma e Dubey, 1988) os aumentos da salinidade dão-se essencialmente nos primeiros 5 anos após o início do regadio, tendendo depois a estabilizar. É também praticamente unânime, entre a comunidade científica, que o aumento da fertilização dos solos conduz a uma forte salinização dos solos (Santos, 1996), mas, para Taneja et al. (1981), quando se trata de adubação, como a produtividade aumenta, a salinização do solo permanece intacta visto que há um maior consumo de nutrientes - nomeadamente sais. Os mesmos autores defendem também que, no caso de intensificação cultural, quanto maior for o número de culturas e a sua produtividade, menor será a concentração de sais no solo. A salinidade do solo, quer seja característica do mesmo ou consequência da adição de fertilizantes, adubos, ou da qualidade da água da rega pode ter como resultado a diminuição do potencial osmótico do solo, sendo que quando este potencial osmótico se tornar inferior ao potencial osmótico das plantas, estas deixaram de absorver água e nutrientes e consequentemente vêm o seu crescimento comprometido ou, em caso extremo, acabam por perder a vida (Santos et al., 2010, Fontes et al., 2005, Soltanpour et al., 1999 e Santos, 1996).

SODICIDADE A sodicidade do solo pode provir da rocha que deu origem a esse solo (Nadler e Magaritz, 1986), dos fertilizantes utilizados nas culturas (Santos, 1996) e da rega com águas sódicas (Costa et al., 1991, Puntamkar et al., 1988 e Sharma e Dubey, 1988). No que se refere aos efeitos do regadio sobre a sodicidade do solo, Nunes et al., (2005) defendem que “o regadio influencia de forma altamente significativa o teor de sódio presente no solo”, e que elevados valores de sodicidade implicam graves problemas de fertilidade física

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do solo, nomeadamente uma forte expansão e desfloculação de colóides, com a consequente destruição da estrutura do solo. Estes factos podem conduzir a uma acentuada diminuição da taxa de infiltração e da condutividade hidráulica e a uma redução notória da sua produtividade (Santos, 1996, Miller e Danahue, 1995, McKenzie et al., 1991, Sigala et al., 1988 e Omar e Aziz, 1982). Existem vários estudos que comprovam o referido. Churchman e Tate (1986) ao estudarem, durante 10 anos, o efeito da rega com águas de distintas, verificaram que quando se usava água de menor qualidade, a taxa de infiltração decrescia significativamente. Na opinião dos autores este decréscimo na taxa de infiltração está relacionado com o aumento do valor de SAR nos solos, que terá provocado uma dispersão das argilas e um consequente entupimento dos poros. Do mesmo modo Zhen-Hua et al. (1992) constataram através dos seus estudos que os valores mais elevados de SAR têm um efeito negativo sobre a Condutividade Hidráulica do solo. Neste caso, ao passar de SAR igual a 0 para SAR igual a 15 e 30, a Condutividade Hidráulica do solo diminuiu, respetivamente de 11% e 29%. A resultados semelhantes chegaram Singh et al. (1992). Estes autores, num estudo com a duração de 6 anos, num solo areno-limoso, utilizando águas de rega com diferentes combinações de CE e SAR (5, 10, 20, 30 ou 40), verificaram que na rega utilizando água com SAR igual a 20 e 40, a taxa de infiltração decresceu para, respetivamente, 12% e 7% dos valores iniciais obtidos nesse solo. Os autores puderam ainda constatar que os solos regados com água de SAR mais elevada possuíam uma maior capacidade de retenção de sais, sendo a lixiviação menos eficiente para a mesma quantidade de água aplicada.

CAPACIDADE DE TROCA CATIÓNICA Entende-se por troca catiónica o processo em que uma superfície, provida de cargas elétricas negativas, liberta para a solução do solo catiões, adsorvendo, simultaneamente, quantidades equivalentes de outros catiões. Com este processo estabelece-se um equilíbrio dinâmico entre os catiões existentes em solução e os catiões adsorvidos nas superfícies coloidais (Porta et al., 1994 e Sparks, 1986). A capacidade de troca catiónica (CTC) de um solo é definida pela quantidade de catiões de troca existentes por unidade de peso de solo e é expressa em centimoles de carga positiva por quilograma - cmol(+) kg-1 ou cmolc kg-1 - (Miller e Danahue, 1995). Só alguns constituintes do solo possuem a capacidade de trocar catiões, essencialmente aqueles que têm a possibilidade 20


de desenvolver cargas à superfície, como é o caso das substâncias húmidas e das argilas, segundo (Sparks, 1986). Nesses constituintes, a densidade de cargas apresentadas varia muito consoante a sua composição e consoante o pH do solo (Miller e Danahue, 1995 e Sparks, 1986). Neste sentido, os componentes da água de rega possuem um papel determinante no impacte provocado pelo regadio sobre o complexo de troca do solo (Morshedi e Samedi, 2000). Sempre que a água de rega tem uma composição diferente da água da chuva, a quantidade e proporção em que as diferentes bases de troca passam a existir no complexo de troca do solo, reflete os desvios existentes entre estas composições (Porter et al., 1999, Falkiner e Smith, 1997 e Biederbeck et al., 1995). O tipo e a composição do solo é outro fator que influencia as alterações no complexo de troca motivadas pela prática continuada do regadio. Estudos recentes, mencionados por Nunes et al. (2009), afirmam que utilizando água de rega de composição idêntica, praticamente a mesma fertilização e as mesmas técnicas culturais, em dois tipos de solos distintos, (Oxissolo e Vertissolo) obtiveram resultados distintos no que respeita à influência do regadio sobre a Capacidade de Troca Catiónica, sendo que o complexo de troca do Oxissolo é muito mais suscetível a alterações induzidas pelo regadio que o do Vertissolo. O terceiro fator a influenciar de forma marcante a composição do complexo de troca do solo é a quantidade de fertilizantes aplicados (Vera e Romero, 1994, McKenzie et al., 1991 e Chan et al., 1988). É sabido que a aplicação de catiões ao solo sob a forma de fertilizantes conduz a alterações na proporção destes elementos no complexo de troca do solo sendo que quanto maior for a quantidade aplicada mais grave a situação se torna. Consequentemente é em sistemas agrícolas mais intensivos, onde se situa o regadio, que se torna mais notória a influência da fertilização (Nunes, 2003). Assim sendo, embora a influência do regadio sobre o complexo de troca do solo dependa em larga medida dos fatores enumerados, a generalidade dos autores é unânime em afirmar que, para a maioria dos condicionalismos agro-climáticos do nosso país e de outros países de clima idêntico, a introdução do regadio conduz a um decréscimo nos valores de capacidade de troca catiónica (Nunes et al., 2006 e Santos, 2003). O decréscimo nos valores de capacidade de troca catiónica acontece devido a vários aspetos que atuam cumulativamente, nomeadamente o regadio (ao proporcionar melhores condições de vida aos microorganismos), fomenta a mineralização da matéria orgânica, diminuindo assim os teores do componente do solo com maior capacidade de trocar catiões (Vera e Romero, 1994); o regadio provoca alguma erosão, sendo a fração argilosa a mais arrastada (o que conduz a decréscimos importantes nos teores da única componente da fração mineral do solo com 21


propriedades coloidais (Miller e Donahue, 1995), por último o regadio induz, geralmente, um aumento dos teores de sódio no solo, que sendo um elemento desfloculante, promove a destruição dos colóides, sobretudo minerais, aí existentes (Nunes et al., 2007, Santos, 2003, Varennes, 2003, e Miller e Donahue, 1995). Além do regadio em si, a intensificação cultural propiciada pela existência de água (com o consequente aumento na utilização de fertilizantes), pode conduzir a alterações no complexo de troca dos solos (Vera e Romero, 1994 e McKenzie et al.,1991, em Nunes, 2003). Para Vera e Romero (1994), o aumento da frequência de cultivo num vertisol conduz a aumentos significativos nos valores de CTC desse mesmo solo devido aos acréscimos nos teores de cálcio de troca. Em suma, as alterações provocadas no complexo de troca do solo pelo regadio são múltiplas e variadas. A composição da água de rega e as técnicas culturais utilizadas (fertilizações) contribuem para a alteração (aumento ou diminuição) da quantidade e proporção das diferentes bases de troca. Definir com exatidão a influência da prática continuada da rega no complexo de troca do solo é muito complicado, e para ser real implica um aprofundado conhecimento da composição da água e do solo e a quantidade e qualidade dos fertilizantes utilizados.

NUTRIENTES Segundo Nunes (2003), é complicado avaliar o impacte da rega nos nutrientes do solo visto que a rega tanto pode conduzir ao aumento como à diminuição dos teores de nutrientes no solo. O aumento da velocidade de mineralização da matéria orgânica, a dissolução mais rápida dos minerais constituintes das rochas e a introdução de elementos nutritivos presentes na própria água são alguns dos efeitos positivos do regadio no teor dos nutrientes do solo. No entanto, e tal como já foi referido, também existem efeitos negativos onde se destaca a lavagem e o arrastamento desses mesmos elementos nutritivos para zonas mais profundas no solo, onde as plantas têm dificuldade a chegar. O fator que mais dificulta a análise das alterações no regadio no teor de nutrientes presente no solo é a introdução de fertilizantes (consequência do regadio), que o aumenta indubitavelmente. Esta realidade é evidente quando comparadas parcelas de solo em regime de sequeiro e em regime de regadio (de um mesmo tipo solo) e são mínimas as diferenças (principalmente para os nutrientes mais frequentemente adicionados (nomeadamente azoto, fósforo, potássio). No caso de não serem as fertilizações a alterar o teor de nutrientes do solo, 22


outro fator que pode influenciar as concentrações de nutrientes é a composição da água de rega, visto que possui diferentes quantidades de sais. Mostafa et al. (1992) realizaram um estudo em três solos distintos do Egipto, regados com águas de diferente composição de salinidade e SAR. Dos resultados obtidos, os autores concluíram que, em qualquer dos solos, o teor de azoto não foi muito afetado pela rega. Na opinião dos autores este facto pode explicar-se através da tendência que o húmus apresenta para se ligar com argilas (formando complexos de elevada estabilidade, e ficando assim protegido do processo de mineralização que levaria à libertação deste nutriente). Madeira e Pereira (1990) e Falkiner e Smith (1997) chegam a resultados contrários acerca deste tema. Os primeiros referem que o regadio aumenta de forma considerável os teores de azoto no solo, enquanto os segundos defendem que a rega provoca uma grande diminuição nos teores deste nutriente, essencialmente na camada superior do solo, e reforçam ainda que este último resultado se deve ao aumento da mineralização provocada pela rega (com a subsequente perda de azoto inorgânico por lavagem). Num trabalho desenvolvido por Ribamar-Pereira e Cordeiro (1987), que estuda o efeito do regadio e da fertilização sobre os teores dos diferentes nutrientes do solo, verificou-se que a quantidade de azoto total existente (até 60 cm de profundidade) no solo cultivado, era cerca de 40% superior à encontrada numa parcela do mesmo solo deixada inculta (sem rega nem fertilização). No caso do azoto amoniacal (em particular) os seus teores eram pouco superiores no solo cultivado, mantendo-se esta diferença ao longo de todo o perfil (120 cm). No caso do azoto nítrico, o solo cultivado apresentava teores deste nutriente superiores aos registados no solo inculto (diferença muito mais acentuada à superfície e perdendo importância em profundidade). Este aumento nos teores de N pode ser justificado pela fertilização realizada (não sendo possível descortinar qual o efeito exclusivo da rega). Através dos seus estudos, Madeira e Pereira (1990), Ribamar-Pereira e Cordeiro (1987) e Ribamar-Pereira e Siqueira (1979), puderam constatar uma subida, neste caso bastante significativa, nos teores de fósforo “assimilável” existentes nas camadas superiores superficiais do solo. Este facto confirma que a aplicação de fertilizantes fosfatados no solo altera os teores nestes nutrientes (e assim dificulta este tipo de investigação), pois para maiores profundidades os aumentos de concentração de P reduzem-se de forma muito considerável e, a partir dos 60 cm, praticamente não se verificam diferenças relativamente ao solo original. No que diz respeito ao potássio, à medida que aumenta a salinidade da água de rega verificase um aumento significativo nos seus teores (Madeira e Pereira, 1990, Ribamar-Pereira e

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Cordeiro, 1987, e Ribamar-Pereira e Siqueira, 1979). E quanto à influência do regadio nesses mesmos teores, Dantas et al. (1998), num estudo onde foram comparadas parcelas regadas e não regadas de um mesmo solo, verificaram que o regadio induzia um aumento significativo nos teores de K (não há informação acerca da qualidade da água). Zaman e Rahman (1998) chegaram a resultados idênticos, utilizando água de boa qualidade. Os macronutrientes secundários são, normalmente, consumidos em menor quantidade que os primários e, por isso, não carecem tanto de ser aplicados artificialmente (através de fertilizações). Este facto faz com que o efeito do regadio seja mais evidente, pois os resultados obtidos passam a depender principalmente da quantidade e qualidade da água de rega aplicada. De entre os trabalhos que se referem à influência do regadio sobre os teores de macronutrientes secundários no solo, salientam-se os dos autores Mostafa et al. (1992), Koriem et al. (1988), Dantas et al. (1998) e Zaman e Rahman (1998) e os resultados foram unânimes. Mostafa et al. (1992) referiram que houve aumentos significativos nos teores de Ca e Mg e sulfatos após o aumento da salinidade provocada pelo regadio. Dizem ainda que os aumentos nos valores de SAR da água de rega contribuíram para diminuições significativas nos teores de cálcio e magnésio, tendo os teores de Na solúvel aumentado significativamente. Koriem et al. (1988) concluíram que houve um aumento significativo nos valores de Ca e Mg devido à irrigação, e que o K não sofreu grandes alterações. Estes autores verificaram ainda que o aumento da SAR conduziu a uma diminuição do número e na estabilidade dos agregados. Por fim, Dantas et al. (1998) e Zaman e Rahman (1998) evidenciam um crescimento significativo dos teores de cálcio e magnésio nas parcelas regadas, em comparação com parcelas do mesmo solo mantidas em sequeiro. E dizem que estes resultados se devem às quantidades destes elementos conduzidas pelas águas de rega. Os elementos ferro, manganês, zinco, cobre, boro, molibdénio e cloro incluem-se entre os micronutrientes. Sem estes nutrientes as plantas não conseguem sobreviver, e daí a importância de conhecer qual a alteração no teor de micronutrientes que o regadio provoca. Com o objetivo de estudar o efeito da rega com águas subterrâneas, nas concentrações de zinco, cobre, ferro, boro e manganês existentes no solo, Zaman e Nuruzzaman (1994) elaboraram um estudo, em 42 tipos de solo distintos, no Bangladesh, onde comparam a composição de parcelas desses solos submetidas a regadio e mantidas em sequeiro. Os resultados obtidos pelos autores indicam que a média das concentrações de zinco nos solos regados foi ligeiramente superior à verificada nas parcelas dos mesmos solos mantidas em sequeiro. O mesmo resultado foi obtido no que respeita ao cobre. Relativamente ao manganês, a média das suas concentrações nas parcelas regadas e nas parcelas mantidas em 24


sequeiro era exatamente igual, não havendo qualquer influência da rega nos teores deste elemento. No caso do boro, a média das concentrações nas parcelas em sequeiro era significativamente superior à média das concentrações nas parcelas em regadio e a explicação para este resultado prende-se com as quantidades, elevadas, de boro que existiam nas águas de rega e ainda com as subidas registadas nos valores de pH (que terão favorecido a mobilidade deste elemento). Para o ferro o resultado é muito semelhante, ou seja, o valor médio das concentrações de ferro nas parcelas regadas era ligeiramente superior ao valor médio das concentrações nas parcelas mantidas em sequeiro, contudo as diferenças registadas possuem significado estatístico. Ribamar-Pereira e Cordeiro (1987), através de um estudo da mesma natureza, verificaram que quer os teores de cobre quer os teores de manganês eram significativamente superiores nas parcelas de solo cultivadas e em regadio, comparativamente às parcelas do mesmo solo que permaneceram sem culturas e em regime de sequeiro. Este facto pôde dever-se à solubilização de compostos contendo cobre e manganês ou, mais provável, a resíduos de fungicidas contendo estes elementos, que seriam aplicados com alguma frequência nesses solos. Quanto ao zinco, verificaram que os teores deste micronutriente, nas duas situações em análise, é praticamente igual. No que diz respeito ao ferro, os teores deste nutriente encontrados no solo cultivado foram significativamente superiores aos verificados no solo inculto (esta diferença aumentava com a profundidade) - a causa para este resultado poderá estar relacionada com as condições de oxidação-redução decorrentes de um maior teor em água nos solos regados. No que se refere aos micronutrientes aniões, Koriem et al. (1988) verificou a existência de um aumento significativo nos teores de cloro à medida que a salinidade da água de rega aumenta. Ao mesmo tempo verificaram também um aumento significativo nos teores de Na, enquanto os teores HCO3 não sofreram qualquer alteração. Mostafa et al. (1992) chegaram a resultados muito semelhantes e salientam que os teores de cloretos sobem à medida que a salinidade da água de rega aumenta, sendo este resultado mais evidente nos solos contendo maior quantidade de argila.

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A região em estudo é o Perímetro de Rega do Caia, localizado nos Concelhos de Elvas e Campo Maior, na confluência dos rios Caia e Guadiana (Figura 1). A geologia do local consiste essencialmente em formações câmbricas e silúricas, com algumas rochas eruptivas associadas a rochas alcalinas e hiper-alcalinas. Os solos mais comuns na área de estudo são os fluvisolos (42,7 %), os luvisolos (21,7 %), os calcisolos (16,1 %), os cambisolos (6,1 %) e os vertisolos (1,8 %). Quanto a clima (estação meteorológica de Elvas – 38º 53´ N e 7º 9´ W) a Evapotranspiração potencial (ETo) é maior que a precipitação entre Abril e Outubro, conduzindo a condições de aridez. A maioria dos 483 mm de precipitação média anual acontece coincidindo com os meses de Outubro a Março, quando a ETo é menor, conduzindo a um excesso de água no solo. A temperatura média mais alta acontece em Julho com um valor de 24,7 ºC, enquanto a temperatura média mais baixa é atingida em Janeiro com um valor de 8,8 ºC. As culturas mais frequentes na região são o milho (Zea mays) - 49 % da área total, o trigo (Triticum aestivum) – 17 % da área total, o girassol (Helianthus annuus) – 7 % da área total, Tomate (Lycopersicum esculento) – 6,1 % da área total e Olival (Olea europea) – 4 % da área total.

Figura 3.1 – Mapa de localização da área de estudo.

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CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA DE REGA UTILIZADA NO PERÍMETRO DE REGA DO C AIA A água utilizada no Perímetro de Rega do Caía é de boa qualidade. A composição média dessa água, dados recolhidos semanalmente durante a última campanha de rega, em dez pontos diferentes do sistema de canais existentes neste Perímetro de Rega, é apresentada no quadro seguinte.

Quadro 3.1 – Composição média da água de rega utilizada no Perímetro de Rega do Caia Parâmetro pH CE (dS m-1) Ca (mg L-1) Mg (mg L-1) P (mg L-1) K (mg L-1) NO3- (mg L-1) Na (mg L-1) Cl (mg L-1) SAR

Média 7,89 0,20 18,72 6,65 4,97 2,65 3,00 11,15 18,42 0,20

Variação 7.37 – 8.50 0.19 – 0.22 16.35 – 23.40 5.72 – 7.28 4.72 – 5.34 2.25 – 3.10 Vest. – 8.80 8.60 – 13.90 17.70 – 20.25 0.16 – 0.22

Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization) esta água de rega pode ser classificada como “sem restrições para regadio” (Ayers & Wescott, 1985) e segundo a USDA (United States Departement of Agriculture) pode ser classificada como C1S1 ou C1S2 (USDA, 1954).

MATERIAL E MÉTODOS RECOLHA DE AMOSTRAS DE SOLO Dividimos os 12540 ha que constituem a área de estudo em quadrados, iguais, de 11,1 ha, sendo georeferenciado o centro de cada um desses quadrados no sistema de coordenadas Haford Gaus (pontos indicados no mapa de localização da área de estudo – Figura 1). Em cada quadrado eram recolhidas 10 amostras que, depois de cuidadosamente misturadas, passavam a constituir uma das amostras levadas para o laboratório para análise. Quando os quadrados previamente marcados eram heterogéneos no que respeita a tipo de solo, sistema cultural, etc., procedia-se à subdivisão destes em dois novos polígonos, sendo então georeferenciado o centro destes novos polígonos, e associando a esse ponto toda a informação analítica obtida.

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MÉTODOS ANALÍTICOS As amostras após entrada no laboratório eram secas ao ar e em seguida crivadas por um crivo inox de 2 mm de malha. Os métodos analíticos utilizados são os constantes no Manual for soil and water analysis (1996).

MAPEAMENTO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO A gestão da informação relativa aos factores em análise, nomeadamente no que respeita a sistema cultural (regadio versus sequeiro), antiguidade em regadio - para as áreas de regadio (< 15 anos, entre 15 e 25 anos e > 25 anos) e tipo de solo (Fluvissolos, Luvissolos, Calcissolos, Vertissolos, Regossolos e Cambissolos), foi realizada com recurso a software SIG (Sistemas de Informação Geográfica), mais precisamente com a utilização do programa informático Arc View 3.2

TRATAMENTO ESTATÍSTICO Foi realizada uma ANOVA seguida de comparação múltipla de médias pelo teste de DUNCAN, para um nível de probabilidade de 95%, utilizando o software SPSS 11.2.

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Das 1417 amostras de solo pertencentes ao Perímetro de Rega do Caia que analisamos para este trabalho, 677 pertenciam a solos em regadio, 631 referiam-se a solos em sequeiro e 109 eram de solos que embora em sequeiro na ocasião em que foram recolhidas as amostras, haviam sido submetidos a regadio em anos agrícolas anteriores. Para o âmbito deste trabalho e de forma a cumprir o objectivo de avaliar a influência da prática continuada do regadio sobre as principais características químicas do solo, excluímos da análise estatística realizada as 109 amostras cujo historial em termos agrícolas era dúbio, comparando somente as situações de sequeiro e regadio e, dentro deste último sistema de cultivo, a duração do período em que estava submetido a regadio. Sendo notoriamente difícil, com precisão, estabelecer o número de anos a que determinada parcela estava a ser regada, optámos, como forma de diminuir o erro, por classificar os solos em 3 grupos consoante a sua antiguidade em regadio. Um primeiro grupo para os solos que estavam em regadio à menos de15 anos, um segundo grupo para os solos que estavam em regadio à mais de 15 e menos de 25 anos e um terceiro grupo para os solos que estavam em regadio à mais de 25 anos. Dentro de cada um destes grupos é possível algumas incorreções, devido nomeadamente à inexistência de informação, que pensamos insignificantes dado o número de amostras recolhidas, constituindo cada um dos grupos um conjunto de situações de regadio bastante homogéneas. Antes de iniciarmos a análise de resultados para cada um dos parâmetros em estudo, achamos contudo necessário fazer uma caracterização complementar do Perímetro de Rega do Caia, dada a importância dessa informação para a análise e discussão dos resultados obtidos. Neste âmbito começamos por fazer uma divisão, quer dos solos em regadio quer dos solos em sequeiro, pelos principais grupos de solo que constituem o Perímetro de Rega do Caia. Para esta divisão utilizamos a carta de solos por nós elaborada, executada segundo o método de classificação proposto pela FAO.

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Quadro 4.1 – Número de pontos de amostragem correspondentes aos diferentes sistemas culturais e às diferentes classes de antiguidade em regadio, para os distintos grupos de solos existentes no Perímetro de Rega do Caia Grupos de solos

Sequeiro

Regadio < 15 anos

Fluvisolos Luvisolos Calcisolos Vertisolos Regossolos Cambissolos

218 169 143 15 7 50

15 a 25 anos

230 66 7 0 0 36

43 58 70 10 2 1

> 25 anos 118 15 10 0 0 0

Neste trabalho fizemos ainda a análise da variação dos valores dos diferentes parâmetros, quer em sequeiro quer em regadio, em função da cultura ou rotação cultural instalada, contudo dado a extensão máxima proposta para este manual não nos será possível incluir aqui esses resultados.

PH

Nos resultados obtidos podemos verificar que a prática do regadio provoca uma acidificação dos solos. Assim, enquanto nos solos de sequeiro o pH (água) se situa nos 6,95, em regadio este valor decresce, de forma altamente significativa, para 6,66. A explicação para este resultado, que é semelhante ao obtido por autores como Rechcigl et al. (1985), Ribamar-Pereira & Cordeiro (1987), Foth (1990), Porta et al. (1994) e Miller & Danahue (1995), encontra-se no facto do regadio provocar uma lixiviação das bases de troca e outros componentes de carácter alcalino, processo que na opinião dos autores anteriormente citados é o principal responsável pela acidificação dos solos. De facto, como veremos posteriormente, o regadio conduz a um decréscimo dos teores de, sobretudo, cálcio e magnésio de troca, o mesmo acontecendo com a soma das bases de troca. Prova adicional do que acabamos de dizer é o facto do pH do solo se encontrar correlacionado de forma positiva e altamente significativa com estes três parâmetros anteriormente referidos. Complementarmente, não podemos deixar de referir que são os solos de regadio aqueles em que se utiliza de forma mais intensa os factores de produção, nomeadamente adubos, que dado o seu caracter predominantemente acidificante, contribuirão igualmente para esta acidificação do solo. Este resultado, idêntico ao obtido por Jolley & Pierre (1977), Schwab et al. (1989) e Santos (1996), entre muitos outros, é particularmente evidente, na opinião destes

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autores, quando se aplicam fertilizantes azotados que, no caso do Perímetro de Rega do Caia, são de longe os utilizados em maiores quantidades. No que diz respeito aos valores de pH, verificou-se que os tipos de solos mais sensíveis à acidificação provocada pelo regadio são os fluvisolos e os regosolos, apresentando valores de pH significativamente inferiores quando regados, relativamente ao que acontece se mantidos em sequeiro. As restantes grupos de solos, nomeadamente os luvisolos, os calcisolos, os vertisolos e os cambisolos, não vêem o seu pH afectado significativamente pela prática do regadio, tendo inclusive valores de pH ligeiramente superiores quando regados (quadro 4.2).

Quadro 4.2 – Valores de pH (água) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Valores de pH observados Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em regadio

Em sequeiro

6,25 a 7,01 a 7,86 a 7,84 a 5,90 a 6,29 a

6,52 b 6,95 a 7,80 a 7,74 a 7,61 b 6,10 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

O facto da prática do regadio não afectar da mesma forma os vários grupos de solos, no que diz respeito à evolução dos valores de pH, deve-se a vários factores que passamos a referir: começamos pelas características dos solos. As diferentes grupos de solos têm características distintas, nomeadamente no seu conteúdo em argilas e matéria orgânica, que conduz a que possuam poderes tampão para as variações de pH do solo muito distintos. É este aspecto que leva a que um cambissolo ou um luvissolo, e especialmente um vertissolo, possuam um poder tampão para as variações de pH muito superior ao que habitualmente se verifica para um fluvissolo ou para um regossolo. Quando analisamos as variações nos valores de pH do solo em função da sua antiguidade em regadio (quadro 4.3), não tendo em conta a representatividade de cada um dos grupos de solo dentro das várias classes de antiguidade, verificamos que existe de facto uma acidificação progressiva dos solos. A explicação para este resultado, mencionado por diversos autores a que fizemos referência no capítulo de revisão bibliográfica, prende-se com a natureza dos factores que conduzem à acidificação, que sendo cumulativos, conduzem indubitavelmente a uma diminuição dos valores de pH com o passar do tempo. 37


Quadro 4.3 - Valores de pH medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos regadio < 15 anos Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

6,65 b 6,87 a 8,23 b

15 a 25 anos

> 25 anos

6,22 a 6,98 a 7,78 ab

6,20 a 7,10 a 7,34 a

CONDUTIVIDADE ELÉCTRICA O sistema de cultivo (regadio versus sequeiro) influencia de forma altamente significativa os valores de condutividade eléctrica (CE) medidos no solo. Com efeito verifica-se que os solos em regadio apresentam valores de CE (0,17 dS m-1) significativamente superiores aos solos que foram mantidos em sequeiro (0,12 dS m-1). Este resultado goza de largo consenso entre os autores consultados, nomeadamente Cerda et al. (1986), Thellier et al. (1990), Costa (1991), Falkiner & Smith (1997), Dantas et al. (1998) e Kiriiwa et al. (1998), apontam nos seus trabalhos para resultados em tudo idênticos, salientando a correlação altamente significativa, também verificada neste caso, que existe entre valores de CE e sistema de cultivo. A explicação para este resultado prende-se com dois aspectos distintos: o primeiro desses aspectos deve-se ao facto da água usada em grandes quantidades no regadio, introduzir no solo quantidades relevantes dos sais que entram na sua composição (Ferreres, 1983; Papadopoulos, 1988; Benito, 1991; e Fritzpatrick et al., 1994). O segundo aspecto, neste caso, em particular, talvez o mais importante, prende-se com o facto de no sistema agrícola de regadio o uso de factores de produção ser muito mais intenso, nomeadamente o uso de fertilizantes, conduzindo assim a uma importante salinização secundária dos solos de regadio. Quando fazemos esta análise tendo em conta os diferentes grupos de solo presentes no Perímetro de Rega do Caia (quadro 4.4), verificamos que, para quaisquer dos grupos de solo, não existem diferenças com significado estatístico entre as situações de regadio e sequeiro. Contudo, à excepção dos regossolos e dos cambissolos, verifica-se que a condutividade eléctrica dos solos em regadio é substancialmente superior à registada para os solos da mesma família quando em sequeiro.

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Quadro 4.4 – Valores de CE medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Valores de condutividade (dS m-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em sequeiro

0,17 a 0,17 a 0,17 a 0,22 a 0,04 a 0,11 a

0,12 a 0,10 a 0,10 a 0,10 a 0,09 a 0,11 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

No caso dos regossolos, com um resultado contrário ao esperado, a explicação para tal encontra-se igualmente no facto ser um grupo de solos onde predominam as texturas ligeiras, o que conduz a elevadas eficiências de lavagem de sais. No estudo que efectuamos sobre a influência da duração da prática do regadio na CE do solo (quadro 4.5), verificamos que quanto mais longo o período a que os solos são submetidos a este sistema de cultivo, maior o valor de CE que apresentam. Este resultado, referido de forma praticamente unanime pelos autores consultados, era por nós esperado. Contudo, num estudo mais pormenorizado dos outros parâmetros em análise, verificamos que é a CE o parâmetro mais sensível à antiguidade do regadio, com diferenças altamente significativas entre as várias classes de antiguidade. Este facto leve-nos a pensar que seja de facto a CE do solo um dos principais factores a analisar quando pretendermos verificar a degradação da qualidade do solo devido à prática continuada do regadio.

Quadro 4.5 – Valores de CE medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos

Antiguidade em regadio < 15 anos

Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

0,14 a 0,13 a 0,08 a

15 a 25 anos 0,17 a 0,18 a 0,18 a

> 25 anos 0,25 b 0,29 b 0,18 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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MATÉRIA ORGÂNICA O teor de matéria orgânica é influenciado de forma altamente significativa pelo sistema de cultivo utilizado (Ribamar-Pereira & Cordeiro, 1987; Aguilar et al. 1988; Miller & Danahue, 1990; Vera & Romero, 1994; Santos, 1996; e Sequeira, 1997). Neste caso verifica-se que o sistema agrícola de regadio possui um teor de matéria orgânica de 1,23 %, significativamente inferior ao que pode ser encontrado no sistema agrícola de sequeiro, com 1,41 %, em média. A justificação para este resultado, segundo a bibliografia consultada, deve-se ao facto do regadio ao proporcionar um teor de humidade mais adequado à actividade microbiana, conduzir a uma mineralização mais rápida da matéria orgânica que uma maior produtividade vegetal, proporcionada igualmente pelo regadio, não consegue compensar, levando assim, em última análise, a um decréscimo no teor de matéria orgânica no solo (Miller & Danahue, 1990; e Omay et al., 1997). Este resultado tem sido constatado em praticamente todos os trabalhos de investigação realizados nas nossas latitudes. Se fizermos igualmente a comparação dos teores de matéria orgânica em regadio e em sequeiro, tendo agora em conta os diferentes grupos de solos existentes no Perímetro de Rega do Caia (quadro 4.6), verificamos que, à excepção dos vertissolos, todas os restantes agrupamentos de solos apresentam teores de matéria orgânica mais baixos em regadio comparativamente ao sequeiro, sendo esta diferença significativa no caso dos fluvissolos e dos calcissolos.

Quadro 4.6 – Teores de matéria orgânica medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de matéria orgânica (%) Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em regadio

Em sequeiro

1,13 a 1,30 a 1,52 a 1,54 a 0,95 a 1,18 a

1,48 b 1,43 a 1,76 b 1,47 a 1,17 a 1,45 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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Quanto ao resultado obtido no grupo dos vertissolos, poderá encontrar explicação no facto dos vertissolos, sendo uma das grupos de solos com maior potencial produtivo, terem visto a sua produtividade aumentar proporcionalmente mais que nos restantes grupos. Como a uma maior produtividade corresponde uma maior quantidade de resíduos deixados no solo, pode acontecer que este acréscimo seja superior ao aumento de mineralização registado devido ao regadio e, desta forma, haver um aumento do teor de matéria orgânica presente no solo. Uma segunda explicação, adiantada entre outros por Mostafa et al. (1992), tem a ver com o facto dos vertissolos possuírem grandes quantidades de argilas expansíveis. Este tipo de argilas, dada a sua elevada densidade de carga superficial, liga-se às substâncias húmicas, formando o vulgarmente designado complexo argilo-húmico, o qual “protege” essas macromoléculas orgânicas da mineralização, levando assim a que o teor de matéria orgânica no solo aumente. Ao analisar o efeito do factor tempo em regadio sobre os teores de matéria orgânica do solo (quadro 4.7), constatamos que são os regadios mais antigos (mais de 25 anos) a apresentar os menores valores para este parâmetro. De notar que entre as duas primeiras classes de antiguidade não se registam diferenças significativas nos teores de matéria orgânica, sendo os valores praticamente iguais. Desta forma poderemos dizer que, no nosso caso, o efeito do regadio sobre este componente do solo só se faz sentir de forma significativa passados 25 anos após o início desta prática cultural.

Quadro 4.7 – Teores de matéria orgânica (%) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos

Antiguidade em regadio < 15 anos

Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

1,22 b 1,40 a 1,90 b

15 a 25 anos 1,00 a 1,21 a 1,48 a

> 25 anos 0,99 a 1,21 a 1,39 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

AZOTO TOTAL A influência do sistema agrícola (regadio versus sequeiro) sobre teor de azoto total no solo, é um dos aspectos mais estudados, dadas as implicações agrícolas e ambientais que possui (Mostafa et al., 1992). Dos vários trabalhos consultados emerge como principal conclusão que não existe hoje em dia uma ideia clara e precisa sobre a influência do regadio nos teores deste

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macronutriente principal. Com efeito, sabe-se que o regadio é responsável por um forte decréscimo do teor de azoto existente no solo devido a: por um lado à lixiviação que faz deste nutriente, sobretudo quando este se encontra na forma nítrica, e por outro devido ao maior consumo que as culturas de regadio, naturalmente, realizam (Falkiner & Smith, 1997). Contudo, também é do conhecimento de quantos se dedicam ao estudo deste tema, que os sistemas agrícolas de regadio empregam uma muito maior quantidade de fertilizantes azotados, frequentemente em excesso, o que pode levar ao aumento do teor de azoto no solo, com os consequentes problemas ambientais (Madeira & Pereira, 1990). Acresce ao que acabamos de dizer, o facto do regadio ao contribuir para um aumento da taxa de mineralização da matéria orgânica, também levar a uma libertação suplementar deste nutriente para o solo. Desta forma o aumento ou decréscimo do teor de azoto no solo está, como já havíamos referido no capítulo referente à revisão bibliográfica, altamente dependente destes fenómenos, que sendo antagónicos, fazem depender o teor de azoto no solo dos equilíbrios que pontualmente se estabelecem entre eles (Santos, 1996). No estudo por nós desenvolvido, verificou-se que o teor de azoto total existente no solo não difere significativamente dos agrosistemas de regadio para os agrosistemas de sequeiro Desta forma, enquanto os teores de azoto total nos solos de regadio se situa, em média, nos 0,091%, nos solos de sequeiro o seu valor sobe ligeiramente para, em média, 0,092%. Quando realizamos esta mesma análise para cada um dos principais grupos de solos existentes no Perímetro de Rega do Caia (quadro 4.8), verificamos que, à excepção dos regossolos, não existem diferenças significativas entre os teores de azoto medidos nos solos em sequeiro e em regadio. Existe contudo, com excepção dos vertissolos, uma tendência para que o teor de azoto total seja ligeiramente superior nos solos em sequeiro. No caso dos regossolos, o facto de se verificar que as parcelas mantidas em sequeiro apresentam teores de azoto total significativamente superiores às parcelas que passaram para regadio, deve-se, na nossa opinião, a: por um lado este tipo de solo, como já havíamos referido, é um dos que apresenta um menor potencial produtivo e, desta forma, um dos que recebe menores doses de fertilizantes, o que associado ao maior consumo deste nutriente realizado nos agrosistemas de regadio, pode conduzir a uma diminuição importante nos teores deste nutriente. Por outro lado, e devido a ser o solo com os menores teores em matéria orgânica, acaba por ser aquele que tem menor capacidade de receber azoto de outras fontes alternativas aos adubos, o que também poderá conduzir a este decréscimo nos teores de azoto total. Por fim, e sendo esta família de solos das que possui menor teor em argila e matéria orgânica, é lógico que a retenção de catiões, entre eles o azoto amoniacal, seja das 42


mais baixas, o que associado a uma maior lixiviação provocada pelo regadio, pode levar a maiores decréscimos nos teores deste nutriente. Quando analisamos os resultados que se verificaram nos vertissolos, opostos à tendência geral, podemos dizer que estes encontram explicação em motivos praticamente opostos aos comentados relativamente aos regossolos. De facto, sendo os vertissolos caracterizados por estarem entre as grupos de solo que possuem um maior teor de argila e de matéria orgânica, assim como entre os que possuem um maior potencial produtivo, é normal que sejam dos solos que recebem maiores doses de fertilizantes, nomeadamente de fertilizantes azotados, assim como dos que conseguem por uma maior resistência às perdas de nutrientes por lixiviação. Estes dois aspectos conduzem a que os teores deste nutriente aumentem em regadio, ao invés de decrescerem como acontece para os restantes grupos de solo. Quadro 4.8 – Teores de azoto total (%) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos

Teor de azoto total (%) Em regadio

Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

0,086 a 0,093 a 0,105 a 0,123 a 0,040 a 0,083 a

Em sequeiro 0,096 a 0,093 a 0,112 a 0,094 a 0,110 b 0,096 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Quanto à influência da antiguidade em regadio sobre os teores de azoto total do solo (quadro 4.9), verifica-se que esta não é estatisticamente significativa, sendo os valores obtidos muito semelhantes para as três classes de antiguidade consideradas Quando analisamos a influência da antiguidade em regadio nos teores de azoto total medido nos diferentes grupos de solo considerados no âmbito deste estudo (quadro 4.9), verificamos que, qualquer que seja o grupo de solos considerado e tal como referimos de forma genérica para a totalidade dos solos de regadio, os valores obtidos para as várias classes de antiguidade são muito semelhantes, não diferindo significativamente entre si.

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Quadro 4.9 – Teores de azoto total (%) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos

Antiguidade em regadio < 15 anos

Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

15 a 25 anos

0,087 a 0,094 a 0,084 a

0,080 a 0,090 a 0,110 a

> 25 anos 0,089 a 0,099 a 0,114 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

FÓSFORO “ASSIMILÁVEL” O teor de fósforo “assimilável”, ou melhor o teor fósforo extraível pelo método de EgnerRiehm, não difere significativamente, em termos estatísticos, entre os solos cultivados em sequeiro e os solos cultivados em regadio. Assim enquanto o teor de fósforo “assimilável” nos solos de sequeiro se situa, em média, nos 197,33 mg kg-1 nos solos de regadio este valor decresce para os 157,40 mg kg-1. Embora a diferença seja notória, o facto dos valores se apresentarem muito heterogéneos conduz a que, em termos estatísticos, estas diferenças não sejam significativas. O facto dos teores de fósforo ser inferior nos solos de regadio pode ser explicado por nesse sistema agrícola os consumos de nutrientes serem muito superiores e a maior utilização de fertilizantes não chegar para compensar este maior consumo. Outro aspecto que poderá concorrer para esta explicação, é a lavagem de fósforo realizada pela água da rega, contudo, para este nutriente em particular, dado que forma facilmente compostos de baixa solubilidade no solo, a lixiviação é muito reduzida, sendo que as maiores perdas ocorrem por erosão só passível de acontecer em regadios tecnicamente mal conduzidos. Na nossa opinião o aumento ou diminuição dos teores de fósforo com a prática do regadio estará sobretudo relacionado com o facto dos fertilizantes aplicados superarem ou, pelo contrário, não serem suficientes, para suprirem as necessidades das culturas aí praticadas, levando assim ao aumento ou decréscimo dos teores de fósforo no solo. Este facto também explica a heterogeneidade dos resultados encontrados, uma vez que estes, para além do sistema de cultivo praticado, estão altamente dependentes das práticas culturas realizadas. Ao analisarmos, para os diferentes grupos de solos existentes no Perímetro de Rega do Caia, as alterações verificadas nos teores de fósforo “assimilável” devido ao regadio (quadro 4.10), verificamos que, à excepção dos vertissolos, a tendência, embora sem significado estatístico, é

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em tudo idêntica à apresentada nos parágrafos anteriores para a totalidade da área submetida a regadio ou, pelo contrário, mantida em sequeiro.

Quadro 4.10 – Teores de fósforo “assimilável” medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de fósforo “assimilável” (mg kg-1) Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em regadio

Em sequeiro

144,78 a 169,80 a 209,11 a 204,40 a 97,00 a 101,18 a

188,39 a 170,73 a 211,42 a 121,13 a 148,85 a 107,30 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

No caso dos vertissolos o resultado obtido é substancialmente diferente. De facto neste grupo de solos a o teor de fósforo “assimilável” apresentado em regadio é cerca de 70% superior ao registado para os solos do mesmo grupo mantidos em sequeiro. A explicação para este resultado reside, na nossa opinião, no facto dos vertissolos, sendo dos solos mais ricos, albergarem geralmente as culturas mais produtivas, como se pode constatar no caso do Perímetro de Rega do Caia em que 80% dos vertissolos em regadio estão ocupados com milho grão. Por este motivo, estes solos recebem elevadas quantidades de fertilizantes, nomeadamente de adubos contendo fósforo, que sendo fornecidos em quantidades superiores às necessidades da planta, levam ao aumento dos teores deste nutriente no solo. Com as restantes grupos de solos, em especial os fulvissolos, luvissolos e calcissolos, usados para uma maior diversidade de culturas, com distintos potenciais produtivos, pode acontecer que sejam fertilizados em excesso, mas, na maioria dos casos, serão certamente fertilizados em défice, o que leva a um decréscimo dos teores deste elemento nos agrosistemas de regadio. Ao analisarmos as variações que ocorrem nos teores de fósforo “assimilável” ao longo do tempo, em cada um dos três grupos de solos que possuem representatividade nas três classes de antiguidade consideradas (quadro 4.11), verificamos que, embora as variações registadas não possuam significado estatístico, quer os fluvissolos quer os luvissolos, apresentam os teores mais elevados de fósforo “assimilável” na classe média de antiguidade (entre 15 e 25 anos). Os calcissolos, cuja grande maioria, cerca de 80%, como já referido, foram colocados em 45


regadio à mais de 15 e menos de 25 anos, os teores de fósforo “assimilável” apresentam uma tendência para um decréscimo ao longo do tempo, mais acentuado inicialmente e depois tendendo para uma maior estabilização. Na nossa opinião, estes diferentes resultados devemse, sobretudo, a aspectos relacionados com diferentes técnicas e ocupações culturais, não sendo possível a sua explicação com base em factores relacionáveis unicamente com o regadio.

Quadro 4.11 – Teores de fósforo “assimilável” (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos

Antiguidade em regadio < 15 anos

Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

140,44 a 170,15 a 271,57 a

15 a 25 anos 170,14 a 179,84 a 206,74 a

> 25 anos 144,21 a 138,00 a 182,00 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

POTÁSSIO “ASSIMILÁVEL” Ao comparar os teores de potássio “assimilável” nos solos cultivados em sequeiro com o existente nos solos de regadio, verificamos que estes não diferem significativamente entre si. Assim enquanto os primeiros apresentam um teor de potássio“assimilável” de 214,81 mg kg-1, os segundos apresentam um teor do mesmo nutriente que se situa nos 220, 17 mg kg-1. Estes valores, com uma tendência semelhante à que constatamos no caso no fósforo “assimilável”, apresentam-se

contudo

muito

mais

homogéneos. O

motivo

desta

homogeneidade prende-se provavelmente com o facto dos solos do Perímetro de Rega do Caia serem, maioritariamente, razoavelmente providos de potássio, como constatamos nos solos incultos e sem utilização agrícola, o que faz com este seja dos macronutrientes principais o menos aplicado e, desta forma, menos dependente das fertilizações realizadas. A excepção ao que acabamos de dizer só se faz sentir para as culturas agro-industriais, em que, devido à valorização qualitativa que sofrem em função do seu teor em açucares, e sendo o potássio de extrema importância na síntese e armazenamento de hidratos de carbono, conduz a aplicações quantitativamente superiores deste nutriente. Quando a análise de resultados é realizada tendo em conta os diferentes grupos de solo representadas no Perímetro de Rega do Caia, verificamos que os teores de potássio

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“assimilável” nos solos em regadio e sequeiro são, na maioria dos casos, muito semelhantes (quadro 4.12).

Quadro 4.12 – Teores de potássio “assimilável” medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de potássio “assimilável” (mg kg-1) Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em regadio

Em sequeiro

194,57 a 232,53 a 303,90 a 252,50 a 51,50 a 153,86 a

199,12 a 229,08 a 278,69 a 177,53 a 126,71 a 178,10 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

A excepção ao que acabamos de dizer encontra-se nos grupos dos vertissolos

e dos

regossolos, nos quais, e peso embora as diferenças registadas não possuam significado estatístico, os valores apresentados são sensivelmente diferentes. No caso dos vertissolos, verifica-se que os solos em regadio possuem teores de potássio “assimilável” superiores aos solos em sequeiro. A justificação para este resultado prende-se com o facto dos vertissolos, vulgarmente e segundo a classificação de solos de Portugal designados por barros, serem tidos como solos que não necessitam da aplicação de potássio por serem já naturalmente ricos neste nutriente. Desta forma é prática comum não aplicar nos agrosistemas de sequeiro este nutriente, conduzindo ao empobrecimento progressivo do solo. Nos agrosistemas de regadio, havendo a noção das maiores necessidades das culturas neste nutriente por um lado e, por outro lado, por ser aí que se praticam as culturas industriais, é comum a aplicação de potássio ao solo, com o consequente aumento da concentração deste nutriente. Nos regossolos a situação será diferente. Neste caso, por serem solos geralmente mais pobres e de menor capacidade produtiva, é comum reduzir-se ao mínimo a aplicação de fertilizantes. Logo será o sistema mais produtivo, neste caso o regadio, a conduzir a uma maior remoção de nutrientes e logo a um maior empobrecimento deste solo. A isto acresce o facto dos regossolos, de textura mais grosseira e geralmente pobres em matéria orgânica, terem uma reduzida capacidade para reterem catiões, incluindo o potássio, o que leva a que sobretudo em regadio onde as percolações internas são mais frequentes e intensas, se dêem elevadas perdas deste nutriente, conduzindo assim ao empobrecimento em potássio dos solos de 47


regadio. Por último não podemos deixar de fazer referência ao facto da representatividade dos regossolos entre os solos em regadio ser muito reduzida, como se pode observar no quadro 4.13, donde os resultados que agora apresentamos para esta família de solos tenham de ser encarados com algumas reservas, como já anteriormente tínhamos referido. Se analisarmos a influência da antiguidade em regadio nos teores de potássio “assimilável” medidos nos diferentes grupos de solo (quadro 4.14), verificamos que, ao contrário da tendência genérica anteriormente apresentada, para os fluvissolos e para os luvissolos os valores apresentados nas três classes de antiguidade são praticamente idênticos, sendo mesmo a classe de antiguidade média a apresentar os teores mais baixos de potássio “assimilável”. No caso dos calcissolos, pelo contrário, é a classe de antiguidade média a apresentar os maiores teores de potássio “assimilável”, com uma diferença substancial relativamente às restantes classes de antiguidade, sem que contudo esta diferença possua significado estatístico.

Quadro 4.13 – Teores de potássio “assimilável” (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos

Antiguidade em regadio < 15 anos

Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

197,73 a 236,30 a 274,86 a

15 a 25 anos 167,30 a 227,93 a 313,04 a

> 25 anos 198,28 a 233,20 a 260,30 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

CÁLCIO “ASSIMILÁVEL” Ao deixarmos a análise dos macronutrientes principais, entramos num conjunto de nutrientes que só muito raramente são alvo de aplicação sobre a forma de fertilizantes, podem-nos dar uma ideia mais correcta sobre a influência do regadio nos teores dos vários elementos existentes no solo. No caso do cálcio “assimilável” verifica-se que o regadio conduz a um decréscimo altamente significativo nos teores deste nutriente existente no solo. Assim, enquanto os solos de sequeiro apresentam um teor médio de cálcio “assimilável” de 3404,95 mg kg-1, os solos em regadio apresentam, em média, somente 2380,44 mg kg-1 deste nutriente. As justificações para este resultado são óbvias: por um lado o maior consumo deste nutriente que as culturas em

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regadio realizam, dado que em igualdade das restantes condições serão sempre mais produtivas e logo com maiores extracções, e por outro lado a lixiviação deste nutriente que a percolação pelo solo da água de rega realiza. Quando analisamos, para cada um dos grupos de solos existentes no Perímetro de Rega do Caia, a influência do regadio sobre os teores de cálcio “assimilável” (quadro 4.14), verificamos que no caso dos fluvissolos, dos luvissolos, dos calcissolos, dos regossolos e dos cambissolos, existe uma tendência, significativa no caso dos regossolos, para que o regadio conduza a um decréscimo nos teores existentes no solo deste macronutriente secundário. A justificação para este resultado é a que adiantamos no parágrafo anterior. Para os vertissolos, embora sem significado estatístico, denota-se uma tendência para que o regadio conduza a aumentos nos teores de cálcio “assimilável”. A justificação para este último resultado poderá encontrar-se no facto dos vertissolos serem, de entre as várias grupos de solos presentes no Perímetro de Rega do Caia, aqueles que possuem uma maior capacidade de troca catiónica, dado o seu maior conteúdo em argilas expansíveis, e logo uma maior capacidade de retenção de catiões, em particular de cálcio que é um dos catiões adsorvidopreferencialmente.

Quadro 4.14 – Teores de cálcio “assimilável” medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de cálcio “assimilável” (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

1473,7 a 3041,9 a 5527,5 a 5308,2 a 476,0 a 1195,3 a

Em sequeiro 2248,2 a 3327,9 a 5972,3 a 4438,2 a 2710,9 b 1442,5 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Quando analisamos a influência da antiguidade do regadio sobre os teores de cálcio “assimilável”, verificamos que quanto mais antiga é esta prática agrícola, menor é o teor deste nutriente presente no solo. Se tivermos em conta os diferentes grupos de solo existentes no Perímetro de Rega do Caia (quadro 4.15), verificamos que quer para os fluvissolos quer para os calcissolos, existe uma tendência, significativa em termos estatísticos, para que os teores de cálcio “assimilável” no solo decresçam ao longo do tempo. Esta tendência é particularmente evidente durante os primeiros 15 anos de regadio. 49


No caso dos luvissolos, os teores de cálcio “assimilável” nas três classes de antiguidade em regadio são muito semelhantes, não apresentando uma tendência clara de variação. A justificação para este resultado poderá ser a maior capacidade deste solo para reter catiões, a qual, embora não tão evidente como no caso dos vertissolos, poderá ser suficiente para um maior poder tampão deste solo no que diz respeito às perdas de cálcio devido ao regadio. Quadro 4.15 – Teores de cálcio “assimilável” (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos Antiguidade em regadio < 15 anos Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

15 a 25 anos

2082,6 b 3214,5 a 6342,9 b

1348,7 a 2901,0 a 5519,3 a

> 25 anos 1503,6 a 3048,3 a 4445,0 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

MAGNÉSIO “ASSIMILÁVEL” À semelhança do que acontecia para o nutriente cálcio, os teores de magnésio “assimilável” são significativamente mais baixos nos solos de regadio - 279,48 mg kg-1, comparativamente ao que se verifica para os solos de sequeiro - 332,66 mg kg-1. A justificação para este resultado é a mesma já adiantada para a variação registada nos teores de cálcio “assimilável”. É óbvio que os resultados obtidos, quer para o cálcio quer para o magnésio “assimiláveis”, estão altamente dependentes da qualidade da água usada na rega, nomeadamente do seu teor em cálcio e magnésio. No nosso caso a água utilizada na rega no Perímetro de Rega do Caia é, segundo análises por nós realizadas, de boa qualidade, tendo baixos teores dos vários nutrientes. Ao compararmos, para cada grupo de solos representado no Perímetro de Rega do Caia, os teores de magnésio “assimilável” nos agrosistemas de regadio e de sequeiro (quadro 4.16), verificamos que também neste caso os resultados seguem de muito perto os que havíamos apresentado para o cálcio “assimilável”. Assim, enquanto nos fluvissolos, luvissolos, calcissolos,

regossolos

e

cambissolos

os

teores

de

magnésio

“assimilável”

são

substancialmente superiores em sequeiro, comparativamente ao que acontece em regadio, nos vertissolos o resultado obtido é exactamente o oposto. De salientar que as diferenças registadas, qualquer que seja o grupo de solo em análise, embora notórias, não possuem significado estatístico, o que indicia uma elevada variabilidade nos resultados obtidos. 50


Quadro 4.16 – Teores de magnésio “assimilável” medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de Mg “assimilável” (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

250,2 a 316,9 a 316,6 a 377,7 a 79,0 a 327,2 a

Em sequeiro 310,8 a 407,2 a 350,5 a 218,9 a 120,4 a 480,1 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Ao analisarmos a influência da antiguidade em regadio sobre os teores de magnésio “assimilável” medidos no solo (quadro 4.17), constatamos que

não existem diferenças

significativas entre as três classes de antiguidade consideradas (<15, entre 15 e 25 e >25 anos). Contudo, denota-se uma tendência para que sejam os solos em regadio à menos tempo a apresentar os teores de magnésio “assimilável” mais elevados, o que pode indiciar algum decréscimo nos teores deste nutriente ao longo do tempo. Os dois últimos grupos de antiguidade (entre 15 e 25 anos e mais de 25 anos) apresentam valores muito semelhantes entre si.

Quadro 4.17 – Teores de magnésio “assimilável” (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio. Grupos de solos Antiguidade em regadio < 15 anos Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

256,1 a 350,6 a 553,1 a

15 a 25 anos 253,4 a 282, 4 a 375,3 a

> 25 anos 219,0 a 321,7 a 284,5 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

CALCÁRIO ACTIVO Ao analisar a influência do sistema de cultivo (regadio versus sequeiro) sobre os teores de calcário activo no solo, verificamos que os solos de regadio apresentam teores de calcário activo significativamente inferiores aos registados nos solos de sequeiro, 1,44% nos primeiros contra 2,39% nos segundos. 51


A explicação para este resultado pode, na nossa opinião, encontrar-se no facto do regadio, ou melhor, a percolação da água de rega pelo solo inerente aos sistemas agrícolas de regadio, levar a um arrastamento de componentes do solo, dos quais o calcário activo é certamente um deles. Ao analisar a influência do regadio sobre os teores de calcário activo nas diferentes grupos de solos (quadro 4.18), constatamos que a influência desta prática agrícola esta intimamente dependente da família de solo, estando estes dois aspectos correlacionados de forma altamente significativa. De facto, e embora as diferenças registadas não possuam significado estatístico, constata-se que nos fluvissolos, nos luvissolos e nos regossolos o regadio conduz a uma redução substancial dos teores de calcário activo no solo, enquanto para os calcissolos, vertissolos e cambissolos o resultado é exactamente o contrário, levando o regadio a um aumento dos teores de calcário activo. A justificação para o resultado obtido no primeiro conjunto de três solos é o anteriormente apresentado ao comentar os resultados de forma genérica. Convêm também referir que foi o resultado obtido para estes solos, sobretudo para os fluvissolos e para os luvissolos, que sendo majoritários no Perímetro de Rega do Caia, acabou por influenciar decisivamente o resultado genérico a que fizemos alusão no primeiro parágrafo deste item. Quanto ao resultado obtido pelo segundo conjunto de três solos a que fizemos referência, ou seja, um ligeiro aumento da quantidade de calcário activo nos solos em regadio, a explicação prende-se, na nossa opinião, com o diferente material original que dá origem, predominantemente, os vários grupos de solos. De facto, o regadio frequentemente conduz a um maior arrastamento superficial do solo, o que leva a que zonas anteriormente mais internas no perfil fiquem a fazer parte das camadas superficiais. Como são essas camadas subsuperficiais, que no caso dos solos terem origem em rochas calcicas ou calcárias, contêm mais calcário activo, ao aproximarem-se da superfície conduzem a um aumento do teor deste componente na camada arável. Este aspecto acaba por ser agravado pelas mobilizações, mais frequentes em regadio, também elas susceptíveis de trazerem para a superfície materiais anteriormente a maior profundidade.

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Quadro 4.18 – Teores de calcário activo (%) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de calcário activo (%) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

0,43 a 1,63 a 5,57 a 6,67 a 0,00 a 0,29 a

Em sequeiro 1,34 a 2,04 a 5,17 a 5,06 a 1,44 a 0,18 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Quando analisamos a influência da antiguidade em regadio sobre os teores de calcário activo no solo (quadro 4.19), verificamos que são os solos em regadio à menos tempo a apresentar os teores mais baixos deste componente. De facto, se o regadio, em alguns tipos de solo conduz a um aumento do teor de calcário activo pelos motivos anteriormente apresentados, é natural que este seja um processo progressivo ao longo do tempo, como se pode verificar nestes resultados. Ao analisar, em função da antiguidade da prática do regadio, os valores de calcário activo nos diferentes grupos de solos com representação no Perímetro de Rega do Caia (quadro 4.19), verificamos que, enquanto nos fluvissolos e nos luvissolos existe a tendência para um decréscimo progressivo nos teores de calcário activo ao longo do tempo, nos calcissolos a tendência, significativa em termos estatísticos, é exactamente a oposta. A explicação para este resultado, mais uma vez dependente do grupo de solo em análise, prende-se com os aspectos que temos vindo a referir, ou seja, para os dois primeiros solos a lixiviação de calcário activo levada a cabo pela água de rega e, para o terceiro solo, com origem obrigatoriamente em rochas calcárias e com um horizonte cálcico a menos de 1 m de profundidade, o trazer progressivamente à superfície componente de carácter alcalino.

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Quadro 4.19 – Teores de calcário activo (%) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos Antiguidade em regadio < 15 anos Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

15 a 25 anos

1,21 b 2,21 a 1,37 a

0,47 a 1,05 a 5,88 b

> 25 anos 0,27 a 1,05 a 6,31 b

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

SÓDIO O regadio influencia de forma altamente significativa o teor de sódio presente no solo. Assim, enquanto os solos em sequeiro possuem um teor de sódio de 39,92 mg kg-1 nos solos de regadio o teor deste elemento sobe para 48,31 mg kg-1. Este resultado é particularmente importante dado que, como veremos em seguida, o teor de sódio na solução do solo está directamente relacionado com o teor de sódio no complexo de troca do solo. Sendo do conhecimento geral que um aumento do teor de sódio de troca é, acima de determinados limites, responsável pela destruição dos agregados do solo, com a consequente pioria das características físicas desse solo. A justificação para este resultado, encontra-se obviamente nas elevadas quantidades de sódio transportadas pela água de rega (Puntamkar et al., 1988; Sharma & Dubey, 1988; e, Costa et al., 1991). Quando analisamos a influência do sistema agrícola (regadio versus sequeiro) sobre os teores de sódio medidos nos diferentes grupos de solos (quadro 4.20), verificamos que, para quaisquer das grupos em análise, o teor de sódio nas parcelas em regadio é sempre substancialmente superior ao medido nas parcelas que foram mantidas em sequeiro. A explicação para este resultado, significativo do ponto de vista estatístico no caso dos vertissolos, encontra-se nos motivos apresentados no parágrafo anterior. O facto do resultado obtido nos vertissolos ser o único com significado estatístico, a que acresce o facto de ser este o grupo de solos com maior teor de sódio, justifica-se igualmente pelas características particulares deste tipo de solo, a que já fizemos referência. Contudo, é de salientar que dada a capacidade do sódio, quando presente no complexo de troca, de destruir argilas e a agregação existente, este poderá, obviamente, ser o grupo de solos mais afectado

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pelo aumento do teor de sódio e aquele onde as precauções a tomar deverão ser maiores (Curtin et al., 1994a e Miller & Danahue, 1995)

Quadro 4.20 – Teores de sódio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de sódio (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

47,97 a 47,67 a 51,35 a 76,80 b 29,50 a 40,59 a

Em sequeiro 37,96 a 32,76 a 37,79 a 47,86 a 17,85 a 30,38 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Ao analisarmos os resultados existentes no quadro 4.21, verifica-se que o teor de sódio no solo cresce significativamente, qualquer que seja o grupo de solos em análise, ao longo do tempo. Este resultado assume particular importância, uma vez que com o decorrer do tempo, e se não forem tomadas medidas correctivas, corre-se um risco efectivo de sodização do solos do Perímetro de Rega do Caia. É nossa convicção de que este parâmetro, em conjunto com o teor de sódio de troca e à semelhança do que já havíamos referido para a, deveria ser monitorizado com alguma frequência, precavendo, se necessário, os graves riscos para a fertilidade física que advém de um aumento nos teores deste elemento.

Quadro 4.21 – Teores de sódio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio. Grupos de solos Antiguidade em regadio < 15 anos Fluvisolos Luvisolos Calcisolos

36,41 a 40,65 a 41,00 a

15 a 25 anos 63,74 b 50,07 a 49,87 a

> 25 anos 66,60 b 72,07 b 69,00 b

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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COMPLEXO DE TROCA DO SOLO Cálcio As bases de troca são, segundo a bibliografia consultada, dos elementos que vêem a sua concentração mais alterada devido à prática do regadio (Ribamar-Pereira & Siqueira, 1979; Amiel et al., 1986; Ribamar-Pereira & Cordeiro, 1987; Thellier et al.,1990; e, Falkiner & Smith, 1997. No caso dos teores de cálcio de troca presentes no solo, verifica-se um decréscimo, altamente significativo, devido à prática do regadio. Assim, enquanto os solos de sequeiro apresentam um teor médio de cálcio de troca na ordem das 9,66 cmol(+) kg-1 , nos solos em regadio este valor baixa para 6,15 cmol(+) kg-1. A justificação para este resultado vem de duas ordens de factores: em primeiro lugar a lavagem de cálcio de troca provocada pela percolação interna da água de rega. Em segundo lugar, afectando todas as bases de troca e sobretudo o parâmetro que no fundo mede a quantidade de locais disponíveis para troca existentes no solo, ou seja, a Capacidade de Troca Catiónica (CTC), temos uma diminuição da quantidade de colóides existentes no solo. Este último aspecto será tratado com maior profundidade quando abordarmos a alteração dos valores de CTC provocada pela prática do regadio. Este decréscimo nos teores de cálcio, o mesmo acontecendo relativamente às restantes bases de troca, com excepção do sódio, como veremos posteriormente, é particularmente importante, visto ser frequentemente apontado na bibliografia como um dos motivos para a acidificação dos solos de regadio que, como vimos anteriormente, também se verificou no nosso caso. Convêm abrir aqui um parêntesis para tentar explicar o motivo que, na nossa opinião, justifica o facto do regadio conduzir a uma diminuição dos teores de cálcio, magnésio e potássio de troca, enquanto os teores de sódio de troca, como veremos posteriormente, aumentam. A explicação para a diminuição dos teores das bases de troca em regadio, relacionada com a percolação interna da água adicionada artificialmente através da rega, é uma realidade. Contudo, se assim é, porque não influência todas as bases de troca da mesma forma? A explicação para este facto prende-se, na nossa opinião, com a composição da água de rega. Se repararmos, a proporção das diferentes bases no complexo de troca do solo em sequeiro é: cálcio – 78,9 %; magnésio – 16,4 %; potássio – 2,1 %; e, sódio – 2,5%; enquanto, a proporção destes diferentes elementos na água de rega é: cálcio – 45,0 %; magnésio – 16,8 %; potássio – 6,6 % e sódio – 31,6 %. Analisando estes dados facilmente compreendemos que a água de rega tem uma proporção de sódio muito superior ao que acontece no complexo de troca do solo, o 56


que faz com que este seja o elemento mais “beneficiado” pelo regadio, enquanto, no polo oposto, a água de rega possui uma proporção de cálcio muito inferior à existente no complexo de troca, conduzindo a que este seja o elemento mais “prejudicado” pelo regadio. Como as reacções de troca são, segundo autores como Sparks (1986) entre muitos outros, baseadas no equilíbrio existentes entre a composição da solução do solo e a composição do complexo de troca, é lógico que exista uma libertação de cálcio dos colóides para o meio, dando lugar ao sódio, cuja concentração na solução do solo aumentou mais que proporcionalmente em relação aos aumentos verificados para o cálcio. É este aspecto que justifica que a proporção de cálcio do complexo de troca decresça 6,2% entre as situações de sequeiro e regadio, enquanto a proporção de sódio de troca aumenta 42% (de 2,5 % para 4,2 %). Por último é de referir que este resultado só não é mais prenunciado, em virtude do cálcio ser adsorvido preferencialmente ao sódio no complexo de troca (Porta et al, 1994 e Santos, 1996). Contudo, numa análise mais pormenorizada, tendo em conta os diferentes grupos a que os solos do Perímetro de Rega do Caia pertencem, constatamos que o efeito do regadio sobre os teores de cálcio de troca não é uniforme (quadro 4.22). De facto existem grupos de solos, como os fluvissolos, os luvissolos, os calcissolos ou os regossolos em que o regadio provoca diminuições importantes, ainda que não significativas do ponto de vista estatístico, nos teores de cálcio de troca; solos, como os cambissolos, em que o regadio conduz somente a um ligeiro decréscimo nos teores de cálcio de troca; e solos, como é o caso dos vertissolos, em que o regadio conduz a acréscimos sensíveis nos teores de cálcio de troca. As explicações para estes resultados prendem-se com as características que os vários grupos de solos apresentam, nomeadamente com a diferente capacidade de retenção de cálcio no complexo de troca. Assim, enquanto os vertissolos apresentam, de entre os vários grupos de solo consideradas, os mais elevados valores de capacidade de troca catiónica, mercê especialmente do seu maior conteúdo em argila, a que corresponde uma maior capacidade de retenção de cálcio no complexo de troca, os restantes grupos de solo possuem esta capacidade mais diminuída, o que conduz a maiores perdas deste elemento. Desta forma, quando se adiciona água ao solo, através do regadio, os solos com maior capacidade de retenção de cálcio não perdem este elemento e inclusive aumentam as suas reservas. Nos restantes grupos de solo, face à sua menor retenção de cálcio, devido a uma menor capacidade de troca catiónica, o efeito de lavagem pela água de rega conduz a uma diminuição evidente nos teores deste elemento de troca.

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Quadro 4.22 – Teores de cálcio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de Ca de troca (cmol(+) kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em sequeiro

4,44 a 7,23 a 12,06 a 16,08 a 3,05 a 3,39 a

7,35 a 8,84 a 16,81 a 11,10 a 4,81 a 3,90 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Pela análise do quadro seguinte podemos verificar que o efeito do regadio sobre os teores de cálcio de troca do solo é tanto mais pronunciado quanto mais antiga for esta prática. Este resultado, enquadra-se na explicação que anteriormente referimos ao compararmos os dois sistemas agrícolas em análise. De facto se o decréscimo nos teores de cálcio de troca se deve principalmente ao efeito da água de rega ao percolar o solo, quanto maior for a antiguidade desta prática, menores serão os teores existentes desta base de troca. De notar que esta análise não foi realizada para os vertissolos, uma vez que todos os vertissolos em regadio pertencem à mesma classe de antiguidade (entre os 15 e os 25 anos), com se pode observar no quadro 4.23. Se fosse possível fazer essa análise os resultados obtidos, provavelmente, desviar-se-iam desta tendência geral.

Quadro 4.23 – Teores de cálcio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos

Antiguidade em regadio < 15 anos

Fluvissolos Luvissolos Calcissolos

5,79 a 8,34 a 14,56 a

15 a 25 anos 4,34 a 7,18 a 11,77 a

> 25 anos 4,21 a 7,10 a 11,74 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Magnésio À semelhança do verificado para o cálcio de troca, também os teores do magnésio de troca no solo são influenciados de forma altamente significativa pelo sistema agrícola utilizado (regadio

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versus sequeiro). Desta forma enquanto nos solos de sequeiro o teor de magnésio de troca ronda, em média, os 2,01 cmol(+) kg-1, nos solos em regadio este valor desce para, em média, 1,57 cmol(+) kg-1. A explicação para este resultado é exactamente a mesma que adiantamos ao comentar os resultados relativos ao cálcio de troca. Na análise que efectuamos tendo em conta a distribuição dos solos do perímetro de Rega do Caia pelos diferentes grupos da nomenclatura FAO (quadro 4.24), constatamos que, também neste caso, à excepção mais uma vez dos vertissolos, todas os restantes grupos de solo apresentam teores de magnésio de troca substancialmente superiores nas parcelas mantidas em sequeiro comparativamente às parcelas em regadio. No caso dos vertissolos, o resultado obtido, à semelhança do que havia acontecido para o cálcio de troca, é exactamente o oposto, apresentando as parcelas regadas teores de magnésio de troca substancialmente superiores aos registados nas parcelas em sequeiro.

Quadro 4.24 – Teores de magnésio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de Mg de troca (cmol(+) kg-1) Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em regadio

Em sequeiro

1,48 a 1,67 a 1,55 a 2,20 a 0,69 a 1,84 a

1,71 a 2,56 a 1,90 a 1,21 a 0,92 a 2,24 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

A influência da antiguidade em regadio é para o magnésio de troca muito menos evidente do que no caso do cálcio. De facto, os teores de magnésio de troca nas três classes de antiguidade em regadio são muito semelhantes, não diferindo estatisticamente entre si (quadro 4.25). Nota-se contudo uma tendência para que sejam os solos mais recentemente submetidos a regadio a apresentar os teores mais elevados de magnésio de troca, sendo também evidente que os decréscimos verificados nos teores desta base de troca se fazem sentir, principalmente, nos primeiros 15 anos de prática do regadio, havendo a partir daí uma tendência para a estabilização dos resultados.

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Quadro 4.25 – Teores de magnésio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos Antiguidade em regadio < 15 anos 15 a 25 anos > 25 anos Fluvissolos 1,54 a 1,43 a 1,34 a Luvissolos

1,99 a

1,72 a

1,54 a

Calcissolos

2,42 b

1,45 a

1,45 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

POTÁSSIO Os teores de potássio de troca existentes no solo não parecem ser significativamente influenciados pelo sistema agrícola em uso. Assim enquanto os solos mantidos em sequeiro apresentam um teor de potássio de troca, em média, de 0,26 cmol(+) kg-1, nos solos em regadio esse teor decresce, de forma não significativa, para, em média, 0,21 cmol(+) kg-1. O facto dos valores de potássio de troca obtidos nos solos em regadio e nos solos em sequeiro se encontrarem muito próximos, ao contrário do que temos constatado para as anteriores bases de troca, deve-se, na nossa opinião, ao efeito da aplicação de fertilizantes. Embora a aplicação de fertilizantes potássicos não se manifeste de imediato e directamente nos teores de potássio de troca, como acontece nos teores de potássio “assimilável”, acaba por se manifestar, havendo um aumento da proporção de potássio no complexo de troca depois de uma fertilização com este elemento. Assim, é fácil compreender que ao invés da esperada diminuição dos teores de potássio de troca no solo, motivada pela lixiviação, que naturalmente ocorre nos solos em regadio, se assista à quase manutenção nos teores deste elemento, podendo, inclusive, nos solos ocupados pelas culturas em que se utilizem maiores quantidades de fertilizantes potássicos, assistir-se a um aumento dos teores desta base de troca. Ao analisar os resultados obtidos para cada uma das famílias de solos em análise, enquanto nos fluvissolos e nos cambissolos o regadio conduz a um decréscimo, sem significado estatístico, nos teores de potássio de troca existentes no solo, nos luvissolos e calcissolos não se constata qualquer diferença, enquanto nos vertissolos e nos regossolos o regadio é responsável por um aumento, igualmente sem significado estatístico, nos teores desta base de troca (quadro 4.26).

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A explicação para estes resultados são invariavelmente encontradas nas diferentes relações que se estabelecem entre lixiviação através da água de rega, por um lado, e adição de potássio sobre a forma de fertilizantes e como componente da água, por outro.

Quadro 4.26 – Teores de magnésio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de Ca de troca (cmol(+) kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em sequeiro

0,20 a 0,20 a 0,21 a 0,25 a 0,22 a 0,16 a

0,36 a 0,21 a 0,22 a 0,14 a 0,13 a 0,19 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

A antiguidade em regadio não influencia de forma significativa os teores de potássio de troca existentes no solo (quadro 4.27), qualquer que seja a família de solos em análise. Nota-se contudo uma tendência, sem significado estatístico, para um decréscimo muito ligeiro nos teores de potássio de troca à medida que aumenta o período de tempo a que o solo foi submetido a regadio.

Quadro 4.27 – Teores de potássio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio

Grupos de solos

Antiguidade em regadio < 15 anos

Fluvissolos Luvissolos Calcissolos

0,22 b 0,21 a 0,23 a

15 a 25 anos 0,17 a 0,19 a 0,22 a

> 25 anos 0,20 ab 0,20 a 0,14 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Sódio No caso do sódio de troca os resultados são notoriamente dispares dos verificados para as restantes bases de troca. Desta forma enquanto nos solos mantidos em sequeiro o teor do sódio de troca ronda, em média, os 0,31 cmol(+) kg-1, nos solos em regadio este valor sobe, 61


significativamente, para os 0,35 cmol(+) kg-1. Este resultado é de extrema importância enquanto reflecte um dos principais impactes ambientais do regadio, ou seja, a sodização dos solos. Constatamos assim que, embora como vimos anteriormente a água utilizada no Perímetro de Rega do Caia possua boa qualidade e elevada aptidão para ser usada em regadio, o teor de sódio no complexo de troca aumenta, enquanto o teor das demais bases de troca decresce, o que conduz a um aumento muito significativo na proporção de sódio no complexo de troca do solo, com todas as desvantagens em termos de propriedades físicas do solo a que fizemos alusão no capítulo referente à revisão bibliográfica. Convém salientar que embora nós atribuamos a este aumento na proporção de sódio no complexo de troca no solo uma elevada importância, sendo na nossa opinião o principal impacte do regadio sobre a composição química do solo, na actualidade o grau de saturação com sódio do complexo de troca dos solos do Perímetro de Rega ainda se encontra, na esmagadora maioria dos casos, muito afastado dos 15% referenciados pela FAO ou pela USDA como o valor limite, a partir do qual já se começam a verificar fortes impactes negativos sobre a produtividade, ou mesmo dos 10% referenciados por autores como McIntyre (1979) citado por Shainberg & Letey (1984), Curtin et al. (1995) e Miller & Danahue (1995) como valor limite. Contudo este deverá ser um parâmetro constantemente monitorizado, podendo-mos desta forma, se for caso disso, interditar temporária ou definitivamente as áreas mais sensíveis à prática do regadio. A explicação para este resultado é, obviamente, a enorme quantidade deste elemento que é veiculada pela água de rega e as características intrínsecas dos próprios solos, nomeadamente a sua maior ou menor capacidade de reter catiões.

Quadro 4.28 – Teores de sódio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de Na de troca (cmol(+) kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

0,35 a 0,36 a 0,33 a 0,43 a 0,23 a 0,35 a

Em sequeiro 0,33 a 0,30 a 0,29 a 0,33 a 0,24 a 0,26 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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Quanto á influência da antiguidade da prática do regadio sobre os teores de sódio de troca no solo, verificamos que, embora de uma forma não significativa em termos estatísticos, os teores de sódio tendem a crescer ao longo do tempo (quadro 4.29). Este crescimento, embora com reduzida expressão, leva-nos a constatar que o aumento da proporção de sódio no complexo de troca se tende a agravar com o tempo, de onde, mais uma vez, se conclui da necessidade de se fazer uma monitorização constante dos teores de sódio de troca nos solos. A explicação para este resultado prende-se com o facto da acumulação de sódio ser um processo progressivo e continuado, que se não houver qualquer medida em contrário, se vai agravando ano após ano.

Quadro 4.29 – Teores de sódio de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos Antiguidade em regadio < 15 anos Fluvissolos Luvissolos Calcissolos

0,33 a 0,33 a 0,32 a

15 a 25 anos 0,36 a 0,37 a 0,36 a

> 25 anos 0,36 a 0,40 a 0,40 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

ACIDEZ DE TROCA A acidez de troca não é influenciada de forma estatisticamente significativa pelo sistema de cultivo do solo. Contudo verifica-se que os solos cultivados em regadio apresentam uma acidez de troca (3,73 cmol(+) kg-1) ligeiramente superior à que se verifica nos solos que foram mantidos em sequeiro (3,58 cmol(+) kg-1). Este resultado, embora sem significado estatístico como oportunamente referimos, vem na sequência do que anteriormente dissemos ao analisar o parâmetro pH, ou mesmo quando analisamos o parâmetro cálcio de troca, ou seja, a prática continuada do regadio é suscetível de provocar uma acidificação dos solos, nomeadamente ao promover a remoção das bases de troca mais importantes quantitativamente como o cálcio e magnésio. Pensamos que os resultados obtidos no que respeita à influência do regadio sobre a acidez de troca do solo poderiam inclusive ser mais expressivos, só que, sendo a acidez do solo um aspecto fortemente limitante da produtividade, os agricultores procedem com alguma frequência a operações de calagem, de forma a colmatar este óbice. Assim sendo introduzem no solo elevadas quantidades de CaCO3 e MgCO3 que para além de fazerem subir os valores de 63


pH, levam a um aumento da proporção de bases no complexo de troca e a uma diminuição da acidez de troca, que desta forma não pode espelhar corretamente o efeito do regadio sobre este parâmetro. A prática da calagem nos solos ácidos, minoritários no Perímetro de Rega do Caia, tem inclusive outras implicações, nomeadamente ao serem introduzidas elevadas quantidades de cálcio e de magnésio, faz-se igualmente um combate ao aumento da proporção de sódio no complexo de troca no solo, evitando também por este meio que esta atinja proporções perigosas com maior rapidez. Quadro 4.30 – Valores de acidez de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de Ca de troca (cmol(+) kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em sequeiro

3,96 a 3,44 a 3,08 a 3,42 a 3,60 a 3,71 a

3,71 a 3,59 a 3,45 a 2,95 a 2,11 a 4,03 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

A influência da antiguidade em regadio sobre a acidez de troca do solo é evidente. De facto constata-se que quando se passa da primeira classe de antiguidade (< 15 anos) para a segunda classe de antiguidade (15 a 25 anos) a acidez de troca no solo cresce significativamente. Contudo entre esta última classe e a terceira classe de antiguidade (> 25 anos) já não se verificam diferenças com significado estatístico (quadro 4.31). Destes resultados poderemos concluir que o aumento da acidez de troca no solo, quando existe, se faz notar principalmente nos primeiros anos desta prática agrícola . Quadro 4.31 – Valores de acidez de troca (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos Antiguidade em regadio < 15 anos Fluvissolos Luvissolos Calcissolos

4,10 a 3,39 a 2,80 a

15 a 25 anos 4,46 b 3,50 a 3,06 a

> 25 anos 3,90 a 3,55 a 3,39 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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CAPACIDADE DE TROCA CATIÓNICA (CTC) A capacidade de troca catiónica (CTC) do solo decresce de forma altamente significativa com a prática do regadio. Assim, enquanto os solos em sequeiro possuem uma CTC, em média, de 15,82 cmol(+) kg-1 nos solos em regadio este valor decresce para 11,99 cmol(+) kg-1. A explicação para esta redução nos valores de CTC, importante em termos de fertilidade do solo uma vez que o complexo de troca é um dos pilares bases dessa fertilidade, prende-se com duas ordens de factores: Em primeiro lugar, como vimos anteriormente, o regadio induz um decréscimo nos teores de matéria orgânica do solo, ao promover a sua mineralização. Com o decréscimo nos teores de matéria orgânica decresce, consequentemente, o número de locais disponíveis para adsorsão de catiões, uma vez que é este o constituinte do solo com maior capacidade de desenvolver cargas à superfície. Em segundo lugar o decréscimo de CTC deve-se ainda a uma destruição dos agregados do solo, nomeadamente dos agregados que se formam entre os compostos orgânicos e os minerais de argila (complexo argilo-húmico), e dos próprios minerais de argila. Este facto deve-se, sobretudo, a um aumento do teor do ião sódio, que, como é do conhecimento geral, tem um forte poder desflocolante, destruindo os colóides do solo. De notar que o decréscimo da CTC possui uma importância muito maior que a mera substituição das bases de troca por catiões de outro tipo. Neste caso estamos a assistir a uma diminuição efectiva da capacidade do solo de reter os nutrientes catiões, diminuindo assim a sua capacidade para manter uma concentração aproximadamente constante de nutrientes ao longo das épocas culturais e para reter elementos que de outra forma ficarão livres, podendo ser facilmente arrastados por lixiviação, com graves consequências em termos de poluição ambiental. A única maneira de obstar este decréscimo da CTC, é através do fornecimento de matéria orgânica ao solo. Isto pode ser feiro artificialmente, com todas as dificuldades e custos inerentes, ou através da incorporação no solo do restolho das culturas. Se analisarmos o efeito do regadio sobre a CTC dos vários grupos de solo (quadro 4.32), constatamos que no caso dos fluvissolos, luvissolos, calcissolos e cambissolos esta prática cultural é responsável por decréscimos sensíveis, ainda que não sejam significativos do ponto de vista estatístico, nos valores de CTC. No caso dos regossolos, com os valores mais baixos de CTC de entre as grupos de solo consideradas, verifica-se que a CTC medida nas parcelas em sequeiro é praticamente igual à CTC medido nas parcelas em regadio. De facto, numa família de solo com teores em matéria orgânica muito baixos e caracterizada por possuir texturas

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ligeiras, onde a argila aparece em quantidades diminutas, o regadio pouco pode alterar uma situação que naturalmente já conduz a valores de CTC muito baixos, sendo, na nossa opinião, normal este resultado. No caso dos vertissolos, o acréscimo significativo da CTC registado nas parcelas regadas comparativamente às parcelas em sequeiro, deve-se, na nossa opinião, a um aumento nos teores de matéria orgânica que se registou. aumento do teor de matéria orgânica no solo, mais do que qualquer outro aspeto, repercutiu-se neste aumento significativo registado nos valore de CTC.

Quadro 4.32 – Valores de Capacidade de Troca Catiónica (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de Ca de troca (cmol(+) kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

10,45 a 12,92 a 17,23 a 22,37 b 8,01 a 9,74 a

Em sequeiro 13,47 a 15,51 a 22,68 a 15,84 a 7,99 a 10,63 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

Quando analisamos a influência da antiguidade em regadio sobre os valores de CTC do solo (quadro 4.33), facilmente verificamos que, também para este parâmetro, se assiste a um decréscimo significativo dos seus valores logo na primeira década em regadio, havendo a partir daí uma tendência para a estabilização dos resultados.

Quadro 4.33 – Valores de Capacidade de Troca Catiónica (cmol(+) kg-1) medidos nos vários grupos de solos em função da sua antiguidade em regadio Grupos de solos Antiguidade em regadio < 15 anos Fluvissolos Luvissolos Calcissolos

10,53 a 14,50 a 20,09 a

15 a 25 anos 11,04 a 12,72 a 16,79 a

> 25 anos 10,10 a 12,84 a 17,58 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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FERRO Relativamente aos teores de ferro no solo, verificamos que o sistema agrícola de regadio apresenta um conteúdo neste elemento (93,51 mg kg-1) superior ao medido no sistema agrícola de sequeiro (61,99 mg kg-1), sendo este resultado idêntico para quaisquer das famílias de solo em análise. De salientar que embora existam diferenças notórias entre os teores de ferro medidos em regadio e em sequeiro, estas não possuem significado estatístico. Este resultado leva-nos a concluir que teores de ferro no solo se apresentem bastante heterogéneos e com elevada variabilidade, o que se compreende pelas distintas práticas agrícolas usadas para as diferentes culturas, nomeadamente no que diz respeito à aplicação de ferro sob a forma de fertilizantes. De facto enquanto em culturas como o milho ou tomate estas aplicações são frequentes, como veremos em seguida, noutras culturas, como o olival, praticamente nunca se realizam.

Quadro 4.34 – Teores de ferro (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de ferro (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em sequeiro

113,43 a 76,33 a 32,06 a 37,53 a 104,00 a 111,86 a

78,97 a 55,94 a 29,09 a 27,88 a 54,14 a 78,46 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

ALUMÍNIO No que respeita aos teores de alumínio no solo, qualquer que seja a família de solo em análise, verifica-se que o regadio conduz a um acréscimo, embora sem significado estatístico, nos teores deste elemento. Assim, enquanto os solos de sequeiro possuem um teor médio de alumínio de 21,08 mg kg-1, nos solos de regadio este valor sobe para 23,97 mg kg-1.

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Quadro 4.35 – Teores de alumínio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de alumínio (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

25,07 a 24,03 a 20,52 a 22,51 a 19,50 a 20,83 a

Em sequeiro 23,80 a 22,65 a 16,16 a 15,74 a 9,35 a 20,69 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

CÁDMIO O sistema cultural (regadio versus sequeiro) influência de forma altamente significativa o teor de cádmio presente no solo. Desta forma enquanto nos solos em sequeiro o teor deste elemento se situa nos 0,169 mg kg-1, nos solos em regadio decresce significativamente, situando-se nos 0,097 mg kg-1. A explicação para este resultado deverá residir no fato do regadio provocar sempre alguma lavagem de elementos para zonas mais profundas do perfil. De notar que este resultado é contrário ao que aparece frequentemente na bibliografia, onde autores como Ribamar-Pereira & Cordeiro (1987) ou Koriem et al. (1988) indicam o regadio como conduzindo a um aumento do teor de vários metais pesados no solo.

Quadro 4.36 – Teores de cádmio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de cádmio (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

0,052 a 0,106 a 0.285 a 0,317 a vest. a 0,049 a

Em sequeiro 0,111 a 0,129 a 0,350 a 0,333 a 0,149 b 0,028 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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CRÓMIO À semelhança do que se verificou para o cádmio, a prática do regadio conduz a um decréscimo altamente significativo nos teores de crómio medidos no solo. Assim, enquanto o teor de crómio medido nos solos de sequeiro se situou, em média, nos 0,697 mg kg-1, nos solos de regadio este valor decresceu, em média, para pouco mais de metade, situando-se nos 0,384 mg kg-1.

Quadro 4.37 – Teores de crómio (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de crómio (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

Em sequeiro

0,235 a 0,440 a 0,991 a 0,700 a 0,020 a 0,273 a

0,506 a 0,629 a 1,213 a 1,007 a 0,452 a 0,260 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

COBRE Não se verificam diferenças, com significado estatístico, entre os teores de cobre medidos nos solos em regadio e nos solos em sequeiro. Contudo, nota-se uma tendência para serem os solos em regadio, com 1,37 mg kg-1 de cobre, a apresentar os teores mais elevados deste elemento, comparativamente aos solos em sequeiro que possuem teores médios de cobre na ordem dos 0,93 mg kg-1. Este resultado está em consonância com o referido por autores como Zaman & Nuruzzaman (1994). Embora as diferenças registadas não possuam significado estatístico, constata-se que no caso dos fluvissolos e dos vertissolos a prática do regadio levou a aumentos sensíveis nos teores de cobre no solo, enquanto nos luvissolos, calcissolos, regossolos e cambissolos o regadio teve um efeito oposto, levando a uma diminuição nos teores deste elemento.

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Quadro 4.38 – Teores de cobre (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de cobre (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

1,349 a 1,215 a 1,682 a 2,301 a 0,860 a 0,712 a

Em sequeiro 1,125 a 1,467 a 1,792 a 0,909 a 1,157 a 0,758 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

ZINCO O sistema de cultivo (regadio versus sequeiro) influência significativamente o teor de zinco existente no solo. Assim enquanto nos solos em sequeiro o teor de zinco ronda em média os 0,71 mg kg-1 nos solos em regadio este valor sobe para 0,94 mg kg-1. A explicação para este aumento do teor de zinco que se verifica nos solos colocados em regadio, encontra-se na aplicação de fertilizantes e fitofármacos, sobretudo insecticidas, contendo este elemento. Estas aplicações realizam-se mais frequentemente, ou quase em exclusivo, nas culturas em regadio.

Quadro 4.39 – Teores de zinco (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de zinco (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

1,05 a 0,74 a 0,87 a 0,59 a 0,78 a 0,71 a

Em sequeiro 0,83 a 0,54 a 0,70 a 0,58 a 0,51 a 0,55 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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MANGANÊS O sistema de cultivo influencia significativamente o teor de manganês existente no solo. Assim enquanto no sistema agrícola de sequeiro os solos apresentam um teor médio deste elemento de 43,78 mg kg-1, nos solos em regadio este valor sobe significativamente para 58,06 mg kg-1. Este aumento do teor de manganês nos solos de regadio não poderá ser explicado com base na aplicação de fertilizantes especiais, que facilmente explicava os resultados obtidos para os micronutrientes anteriores, uma vez que o manganês não é, em regra, utilizado na formulação de adubos. A única explicação que poderá ser adiantada tem a ver com o facto do regadio conduzir, como vimos anteriormente, a uma acidificação dos solos, fazendo com que o manganês se torne mais solúvel e deixe de estar nas formas precipitadas em que normalmente se encontra, subindo assim os seus teores no solo (Zaman & Nuruzzaman, 1994). Quando se analisa o efeito do regadio sobre os teores de manganês medidos nos vários grupos de solo em análise (quadro 4.40), constata-se que, à excepção dos regossolos, são as parcelas em regadio, comparativamente às parcelas mantidas em sequeiro, a apresentar os maiores teores deste elemento. A explicação para este resultado é a mesma que anteriormente apresentamos ao comentar os resultados obtidos para a totalidade dos solos em regadio versus solos em sequeiro.

Quadro 4.40 – Teores de manganês (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de manganês (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

63,06 a 55,13 a 42,90 a 39,78 a 15,50 a 58,94 a

Em sequeiro 55,24 a 48,47 a 39,32 a 26,56 a 24,95 a 47,46 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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CHUMBO Relativamente ao elemento chumbo, que à semelhança do elemento manganês é mais conectado com o facto de ser um metal pesado de elevada fitotoxidade do que com o facto de ser um nutriente necessário à sobrevivência das plantas, constata-se que os solos em sequeiro apresentam teores deste elemento significativamente superiores aos doseados nos solos em regadio. De facto enquanto os solos em sequeiro possuem em média 3,34 mg kg-1 de chumbo, nos solos em regadio este valor baixa para, em média, 2,64 mg kg-1 de chumbo. A explicação para este resultado é o efeito de lavagem provocado pela pratica continuada do regadio, potenciado pelo facto deste ser um elemento muito menos retido no solo do que, por exemplo, o manganês. Quando a análise do efeito do regadio sobre os teores de chumbo no solo é feita para cada um dos grupos de solo em estudo (quadro 4.41), em vez de para a totalidade das parcelas em regadio ou sequeiro, como fizemos anteriormente, verificamos que o comportamento das diferentes família de solo é notoriamente distinto. Assim, e embora as diferenças registadas não possuam significado estatístico, verificamos que nos fluvissolos, luvissolos, regossolos e cambissolos as parcelas regadas possuem um teor em chumbo menor que as parcelas mantidas em sequeiro, já para os calcissolos e vertissolos o resultado obtido é exactamente o oposto. A explicação para o resultado obtido nos primeiros 4 grupos de solo, será a que anteriormente apresentamos ao discutir os resultados da comparação genérica entre as situações de regadio e sequeiro. O resultado obtido nos calcissolos e vertissolos, na nossa opinião, deve-se às características destes dois solos, nomeadamente no que diz respeito ao conteúdo em argila e, no caso dos calcissolos, ao pH. De facto, um maior conteúdo em argila aumenta a capacidade do solo de reter catiões, conduzindo a menores perdas por lavagem, e logo a uma maior capacidade de manter teores elevados desses elementos, mesmo em regadio. No caso dos calcissolos, o elevado teor de hidróxidos que lhe está associado, conduz a que nestes solos se formem complexos de baixa solubilidade com o chumbo, o que impedindo a sua perda por lavagem, conduz igualmente a maiores teores deste elemento no solo.

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Quadro 4.41 – Teores de chumbo (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de chumbo (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

1,87 a 3,04 a 5,05 a 5,68 a 1,10 a 1,94 a

Em sequeiro 2,70 a 3,22 a 4,77 a 4,79 a 3,99 b 2,07 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

NÍQUEL O sistema de cultivo não influência significativamente os teores de níquel existentes no solo. Desta forma enquanto nos sistemas agrícolas de sequeiro os teores de níquel se situam, em média, nos 1,71 mg kg-1, nos sistemas agrícolas de regadio este valor decresce ligeiramente para 1,51 mg kg-1.

Quadro 4.42 – Teores de níquel (mg kg-1) medidos nos vários grupos de solos em regadio e em sequeiro Grupos de solos Teor de chumbo (mg kg-1) Em regadio Fluvissolos Luvissolos Calcissolos Vertissolos Regossolos Cambissolos

1,40 a 2,19 a 2,43 a 3,04 a 0,02 a 1,10 a

Em sequeiro 1,42 a 2,30 a 2,78 a 1,89 a 1,71 a 1,32 a

Nota: Numa dada linha os valores seguidas da mesma letra não diferem significativamente entre si (p<0,05%).

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CONCLUSÕES 1.

pH (água)

1.1. O regadio conduz a uma acidificação dos solos. Contudo este facto não é independente do grupo de solo em causa. Assim a acidificação é significativa nos fluvissolos e regossolos, enquanto nos luvissolos, calcissolos, vertissolos e cambissolos o pH do solo não é afectado pelo regadio; 1.2. Esta acidificação tende a agravar-se ao longo do tempo. Contudo, também este aspecto depende do grupo de solos em análise; 1.3. São as culturas de regadio mais intensivas, em termos de utilização de água de rega e de fertilizantes, que conduzem a uma maior acidificação nos solos onde estão implantadas. De salientar que a análise da influencia das várias culturas em regadio, para a totalidade dos parâmetros, só foi realizada para os grupos dos fluvissolos, luvissolos e calcissolos. No caso das culturas em sequeiro a análise só foi realizada para os grupos dos fluvissolos, luvissolos, calcissolos e cambissolos. Não se realizaram as análises anteriormente referidas para os restantes grupos de solos, por falta de resultados que o permitissem do ponto de vista estatístico.

2. Condutividade eléctrica 2.1. O regadio é responsável, à excepção do grupo dos regossolos, por um aumento da salinidade do solo; 2.2. Esta salinização aumenta significativamente ao longo do tempo a que um solo é submetido a regadio; 2.3. Embora as diferenças registadas não possuam significado estatístico, são as culturas mais intensivas que conduzem a uma maior salinização dos solos.

3. Matéria orgânica 3.1. À excepção dos vertissolos, em todos os restantes grupos de solo o regadio conduz a um decréscimo nos teores de matéria orgânica; 3.2. Esta delapidação dos teores deste importante componente do solo ocorre progressivamente ao longo do tempo; 3.3. As culturas realizadas em regadio influenciam diferentemente os teores de matéria orgânica do solo, sendo invariavelmente nos solos onde estão instaladas as culturas que necessitam de maiores volumes de água e maiores quantidades de fertilizantes a apresentarem os menores teores de matéria orgânica.

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4. Azoto total 4.1. O regadio não influencia de forma significativa os teores de azoto total presentes no solo. Existe contudo, à excepção dos vertissolos, uma tendência para que sejam os solos em sequeiro a apresentar teores ligeiramente mais elevados deste nutriente; 4.2. Não se constata um efeito significativo da antiguidade em regadio sobre os teores de azoto total no solo; 4.3. As culturas de regadio influenciam significativamente os teores de azoto total presentes no solo, sendo as culturas com menores consumos fruto do seu menor potencial produtivo a apresentar os teores mais elevados de azoto total.

5. Fósforo “assimilável” 5.1. O regadio não influência significativamente os teores de fósforo “assimilável” existentes no solo; 5.2. As variações ocorridas nos teores de fósforo e de outros nutrientes frequentemente adicionados sobre a forma de fertilizantes, encontram mais frequentemente explicação na acção humana directa ao aplicar esses nutrientes ao solo, do que em causas naturais na sequência de uma determinada prática agrícola.

6. Potássio “assimilável” 6.1. O regadio não influência significativamente os teores de potássio “assimilável” existentes no solo.

7. Cálcio “assimilável” 7.1. À excepção do grupo dos vertissolos, o regadio é responsável por um decréscimo significativo nos teores de cálcio existentes no solo. Nos vertissolos, fruto de uma maior capacidade de retenção de catiões, ainda que as diferenças verificadas não possuam significado estatístico, assiste-se a um aumento nos teores deste nutriente nos agrosistemas de regadio relativamente ao que se passa em sequeiro; 7.2. Este decréscimo nos teores de cálcio avoluma-se ao longo do tempo em que os solos são mantidos em regadio; 7.3. Para quaisquer dos grupos de solos em análise. São as culturas de regadio mais intensivas em termos de utilização de água de rega aquelas que conduzem a menores teores de cálcio nos solos onde estão instaladas. As culturas de sequeiro não exercem uma acção evidente sobre os teores de cálcio do solo.

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8. Magnésio “assimilável” 8.1. O regadio, à semelhança do que acontecia para o elemento cálcio, é responsável por um decréscimo significativo nos teores de magnésio “assimilável” existentes no solo. A excepção a este resultado, é uma vez mais apresentada pelo grupo dos vertissolos, que apresentam um resultado oposto a esta tendência geral que acabamos de enunciar; 8.2. O decréscimo verificado nos teores de magnésio “assimilável” nos sistemas de regadio é gradual ao longo do tempo, sendo contudo particularmente evidente nos primeiros 15 anos de regadio.

9. Calcário activo 9.1. O efeito do regadio sobre os teores de calcário activo no solo está altamente dependente do grupo de solo em causa. Nos fluvissolos, luvissolos e regossolos o regadio é responsável por um acentuado decréscimo nos teores de calcário activo no solo. Para os calcissolos, vertissolos e cambissolos o resultado obtido é exactamente o contrário; 9.2. O efeito do factor tempo sobre os teores de calcário activo é também dependente do grupo de solo em causa. Assim enquanto a tendência geral e para um ligeiro aumento dos teores de calcário activo ao longo do tempo, nos fluvissolos e luvissolos a tendência apresentada é exactamente a contrária; 9.3. As culturas de regadio influenciam de forma significativa os teores de calcário activo presentes no solo, sendo que as culturas mais intensivas conduzem a uma redução nos valores deste parâmetro.

10. Sódio 10.1.

Qualquer que seja o grupo de solo considerado, o regadio é responsável por um

aumento notório na quantidade de sódio presente no solo; 10.2.

Este aumento no teor de sódio nos agrosistemas de regadio acentua-se

significativamente com o decorrer do tempo; 10.3.

São os solos onde estão instaladas as culturas de regadio mais intensivas, em termos

de utilização de água e fertilizantes, que possuem os maiores teores de sódio.

11. Bases de Troca 11.1.

Os teores de cálcio, magnésio e potássio de troca decrescem de forma notória em

regadio. A excepção ao que acabamos de dizer encontra-se relativamente aos vertissolos, os quais, em virtude da sua maior capacidade de adsorção de catiões, veem os teores destas bases de troca aumentarem quando submetidos a fornecimento artificial de água; 79


11.2.

Com exceção dos regossolos, o regadio conduz invariavelmente a um aumento sensível

nos teores de sódio de troca, com todas as desvantagens para a fertilidade física do solo que tão bem conhecemos; 11.3.

Os teores cálcio, magnésio e potássio de troca são tão mais baixos quanto mais

dilatado for o período de tempo a que os solos se encontram em regadio. Donde podemos concluir que, em regadio, o teor das bases de troca, à exceção do sódio, tende a decrescer ao longo do tempo; 11.4.

O teor de sódio de troca no solo aumenta ao longo do tempo nos agrosistemas de

regadio. Este aspeto é importante, uma vez que a partir de determinados limites o aumento do teor de sódio no solo pode-se tornar fortemente limitante para a produtividade das culturas; 11.5.

Os teores de sódio de troca no solo são influenciados pela cultura de regadio instalada.

São as culturas que usam maiores volumes de água na rega que conduzem aos maiores teores de sódio no solo.

12. Valores de Hissink 12.1.

Nos fluvissolos, luvissolos, calcissolos, regossolos e cambissolos, o regadio conduz a

decréscimos significativos nos valores de CTC. Nos vertissolos o resultado obtido é exactamente o oposto, com acréscimos evidentes de CTC nas parcelas regadas comparativamente à parcelas mantidas em sequeiro; 12.2.

Este decréscimo dos valores de CTC, ou pelo contrário o seu aumento no grupo dos

vertissolos, é tanto mais evidente quanto mais antiga for a prática do regadio numa dada parcela; 12.3.

As culturas de regadio mais intensivas em termos de utilização de água na rega, são

aquelas que conduzem a valores de CTC mais baixos nos fluvissolos, luvissolos e calcissolos. Não foi, para qualquer dos parâmetros em estudo, possível analisar o comportamento para as restantes famílias de solo.

13. Ferro 13.1.

Quaisquer que seja o grupo de solo considerado, as parcelas em regadio apresentam,

em média, teores de ferro significativamente superiores às parcelas mantidas em sequeiro; 13.2.

A antiguidade em regadio também afecta significativamente os teores de ferro, sendo

nos solos colocados em regadio à menos tempo que se encontram os maiores teores deste nutriente. 80


14. Alumínio 14.1.

O regadio, independentemente do grupo de solo, conduz a aumentos sensíveis no teor

de alumínio existente no solo; 14.2.

Há um aumento significativo dos teores de alumínio ao longo do tempo a que uma

parcela está submetida a regadio.

15. Cádmio 15.1.

À excepção dos cambissolos onde o regadio conduziu a um acréscimo nos teores

cádmio do solo, em todos os restantes grupos de solos o regadio é responsável por um decréscimo significativo nos teores deste metal pesado; 15.2.

Não há uma variação sistemática dos teores de cádmio relacionável com a antiguidade

que uma parcela tem em regadio.

16. Crómio 16.1.

Este elemento possui uma variação em tudo idêntica à registada para o cádmio.

17. Cobre 17.1.

O regadio não afecta significativamente os teores de cobre medidos no solo, sendo os

pequenos aumentos ou diminuições verificados nos teores de cobre função do grupo de solo em causa (aumentos de teor de cobre nos fluvissolos e vertissolos e decréscimos nos luvissolos, vertissolos, regossolos e cambissolos).

18. Zinco 18.1.

Qualquer que seja o grupo o grupo de solo em análise, o regadio conduz a acréscimos

nos teores de zinco presentes no solo.

19. Manganês 19.1.

Com a excepção dos regossolos, em todos os restantes grupos de solo o regadio é

responsável por um aumento notório nos teores de manganês.

20. Chumbo 20.1.

Verifica-se que nos fluvissolos, luvissolos, regossolos e cambissolos o regadio é

responsável por um decréscimo sensível dos teores de chumbo no solo. Nos calcissolos e vertissolos o resultado obtido é exactamente o oposto.

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21. Níquel 21.1.

O sistema de cultivo não influência significativamente os teores de níquel medidos no

solo. Contudo, á excepção dos vertissolos, existe uma ligeira tendência para que sejam os solos em sequeiro a apresentarem os maiores teores deste elemento; 21.2.

Nos solos de regadio existe uma tendência, sem significado estatístico, para um

decréscimo nos teores de níquel á medida que o tempo em regadio aumenta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Não obstante às conclusões apresentadas, importa salientar também os diferentes comportamentos aos vários grupos de solo relativamente a vários dos parâmetros analisados. De facto, é importante ver o que acontece em cada grupo de solo, não ficando unicamente por uma análise genérica dos resultados, porque devido às diferentes características dos distintos grupos de solo, nomeadamente, de textura e teor em matéria orgânica, o efeito do regadio é notoriamente diferente. Por fim reforçamos a importância da necessidade de monitorização constante de parâmetros como pH, condutividade eléctrica, sódio e sódio de troca por forma a evitar a potencial degradação dos solos submetidos a regadio. Se forem tomadas as necessárias precauções de vigilância constante destes indicadores, estamos certos que os agrossistemas de regadio podem ser sustentáveis a médio e longo prazo.

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