1 Número 6 Março de 2021 Outono Bogdan Skorupa Ribeiro dos Santos
Edição Projeto gráfico e diagramação Revisão Redação (Extras) Entrevistado e Redação (texto 1) Revisão técnica Capa Redação (texto 2) Tradução (texto 2) Redação (texto 3)
Thiago Corrêa de Freitas Igor Mottinha Fomin Alisson Thiago do Nascimento Margaret Shipman Ingrid Requi Jakubiak Ana Clara Miranda
Licença Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons: Atribuição (by) 4.0 Internacional. Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho, inclusive para fins comerciais, desde que atribuam o devido crédito ao autor original.
Exceto: Texto 2 (30º aniversário do livro Violin Restoration) de Margaret Shipman, inclusas as fotos, está licenciado com uma Licença Creative Commons AtribuiçãoNãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. E onde mais for especificado: CC-BY-NC-ND.
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2 Leia neste número Bogdan Skorupa R. dos S.
4 Editorial
Igor Mottinha Fomin
6 Texto 1
Margaret Shipman
11 Texto 2
Ana Clara Miranda
15 Perspectivas
19 Referências e Extras
Madeiras para arcos, livro de restauração e fotografia Edição de Outono
Conteúdo 3
Enlaces do fazer Editorial
Seleção de madeiras para arcos de violino Materiais
30º Aniversário do Livro Violin Restoration
Restauração
A estrutura do Som. Fotofilosofias Perspectivas
Referências
Café com Luteria Nº 6, Mar/2021 Curitiba, Brasil
Enlaces do fazer 4
Por Bogdan Skorupa Ribeiro dos Santos
Nesta edição ficamos muito contentes em receber textos de grande qualidade técnica. Ao mesmo tempo, são fenomenais trocas de ideias e mostras dos bons frutos que a colaboração pode gerar. Igor Fomin descreve um processo de seleção de madeiras para seus arcos. Ali veremos uma perspectiva muito esclarecida e fundamentada sobre o assunto. Diferente de usar motes e dogmas canonizados da luteria, como a palavra pau-brasil pode invocar. Mas também longe das tentativas de inovar por inovar algo que a tradição fundamenta. Dizer que o ipê é uma madeira possı́vel para construir arcos não é mero modismo. É um fenômeno prático. Para o segundo texto, temos o grande prazer de anunciar uma colaboração inédita entre duas revistas de divulgação de conteúdos de luteria: a Café com Luteria e a BVMA Newsletter. A BVMA (iniciada em 1994) aborda assuntos sobre construção de violinos em profundidade, tendo como membros tanto profissionais como amadores, que usufruem de um ambiente propı́cio ao desenvolvimento técnico e à troca de informações. Margaret Shipman é quem inaugura esta colaboração com seu texto enviado ao número 97 da BVMA Newsletter de 2020. Fala da terceira edição do livro Violin Restoration, comemorando 30 anos desde a sua primeira publicação (1988) e sucesso entre luthiers do mundo todo. Descreve os curiosos e desconhecidos caminhos tomados para escrita e diagramação do livro. Isto tudo, como quem conta uma corriqueira história. Aprendemos com o livro, tanto quanto ela e Hans Weisshaar aprenderam ao fazê-lo. Suas experiências impressas justificam como a obra se tornou uma fonte de informações indispensável aos luthiers ao redor do mundo.
Madeiras para arcos, livro de restauração e fotografia Edição de Outono
Chega de novidades? Ainda não! A Ana Clara Miranda inaugura uma nova seção: (Perspectivas), neste número, com uma perspectiva fotográfica e filosófica para a luteria. Por Ana: Fotofilosofias: elevando o papel da madeira em nosso ofı́cio ao mesmo tempo que nos mostra uma faceta da construção de cravos através do espineteiro César Ghidini, de Americana-SP. A cada novo número da Café, pelo menos, dois artigos completos escritos ou transcritos de entrevistas por profissionais relacionados com a luteria no Brasil; um artigo da BVMA Newsletter, traduzido e publicado; um olhar alternativo e perspicaz para a luteria. Isto, com certeza, está além de palavras ou conteúdos interessantes sobre luteria (que, por si só, são fenomenais!). Como aconteceu com nossa relação com os cursos da UFPR, Tatuı́ e Tucumán, esperamos que possamos traduzir, adaptar e publicar, entre os leitores da Café, amantes ou profissionais da área da luteria, um espı́rito semelhante de apoio entre colegas. Para isto, contamos com apoio de todos vocês, amantes e profissionais, envolvidos com este fazer espetacular! Quer colaborar? Então, leia a seguir. Editor
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Orientações detalhadas Para fazer um texto INÉDITO, podem ser tomadas bases em experiências e reflexões sobre instrumentos musicais de corda com corpo e braço feitos em madeira. Cada texto (inédito ou de resposta) recebido pelo grupo editorial será conferido se é adequado ao escopo da revista. Depois de revisar a gramática, concordância, coerência e estrutura, os textos são retornados aos autores para correções e aprovação. A versão final é adequada ao modelo da revista através do editor LATEX. As publicações acontecem por ordem de envio e contato com os autores, no máximo, 3 textos por número. Se houver mais textos, serão publicados num próximo número.
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Seleção de madeiras para arcos de violino 6
Por Igor Mottinha Fomin
Bogdan Skorupa entrevistou Igor Fomin no dia 4 de maio de 2020 ao vivo no Instagram. Parte da entrevista foi transcrita e reorganizada, mostrando a possibilidade de usar ipê para construção de arcos de violino. E porque importa mais atentar às propriedades da madeira durante a seleção do que à escolha entre espécies. Ponta de arco feito em ipê. Fonte: o autor.
Desde os 14 anos, ajudava meu pai em serviços elementares da construção dos arcos, como por exemplo, pegar uma vareta de arco grossa, cortar, plainar, etc. Então, fazia o serviço menos refinado na madeira, como todo aprendiz faz. Consegui construir um primeiro arco sozinho quando tinha mais ou menos 16 anos. Após algum tempo, comecei a perceber que, por mais esforço que eu fizesse pra construir um arco, eu não conseguia obter bons resultados de maneira constante. Mesmo colocando aquilo que me foi passado como uma maneira correta de construir. Hoje, vejo que não era uma questão somente de “o arco ficou ruim”. Não era isto. Existe também o fator humano nesta questão. Então, senti-me instigado a pesquisar trabalhos acadêmicos falando desde o funcionamento do arco até a escolha das madeiras. Isto se consolidou mais ainda depois de entrar na UFPR como professor e passar a pesquisar junto a instituição. Pensei então: se eu conheço a construção dos arcos, por que não fazer uma pesquisa pegando tudo aquilo que existe sobre este tema, tentando aplicar na prática? Ainda mais depois de notar que o construtor geralmente não escreve e o pesquisador geralmente não constrói. Isto culminou no meu ingresso como mestrando do Programa de Pós-graduação de Engenharia Florestal da UFPR. Finalizei o mestrado em 2017 com a publicação da dissertação: A madeira de
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ipê (Handroanthus spp.) para arcos de violino: propriedades e avaliação de desempenho técnico. Fato interessante é que, nos primeiros arcos que construı́ na vida, usei a madeira de ipê. Era o que meu pai fornecia para eu treinar. Ele não dava peças de pau-brasil (Paubrasilia echinata 1 ) para aprender, correndo o risco de danificar uma madeira mais difı́cil de obter. Não é uma novidade usar ipê para construção de arcos. Fiz vários arcos de ipê e, dentro do propósito que eles foram feitos, atenderam tranquilamente o que se pretendia. Apesar de ter feito mais arcos de pau-brasil, que considero uma madeira excelente, diga-se de passagem, os problemas para identificar qualidades das peças, tanto no ipê quanto no pau-brasil, pareciam muito semelhantes. Apenas difere que o ipê não tem cor semelhante a do pau-brasil, que é um fator sensorial importante. A gente se preocupa com a cor das coisas, mas é um problema possı́vel de se contornar, no caso, usando algum tipo de tingimento. Na verdade, quero frisar que a escolha entre as duas espécies não é o ponto crucial da seleção de madeiras. Existe um problema muito mais sério do que simplesmente um gênero ou espécie servirem pra fazer arco, que é: encontrar as propriedades 1 Anteriormente, o nome cientı́fico da espécie que chamamos de pau-brasil era Caesalpina echinata, que foi mudado para um gênero especı́fico ao pau-brasil.
Durante a construção do arco, é preciso perceber variações de elasticidade entre varetas de madeira. Fonte: o autor.
Densidade 1000 a 1100 kg/m3 Velocidade de propagação obtida com Lucchı́metro (tábua bruta)
Maior que 5300 m/s Peso do arco finalizado e montado com crina
58 a 62 g Faixas de propriedades utilizadas na construção de arcos de violino. Fonte: o autor.
que servem para fazer arco dentro da madeira de determinada espécie. Isto não é fácil! Isto não é fácil nem para o pau-brasil! A quantidade de madeira adequada para se fazer bons arcos dentro de uma mesma espécie, como o pau-brasil, é relativamente pequena. E no ipê não é diferente. Durante a pesquisa de mestrado, o método que segui para seleção de madeiras foi, em resumo, o seguinte. Li o que a literatura diz a respeito das propriedades e madeiras para fazer arcos. Eliminei as madeiras que, até mesmo pela literatura, não foram tão recomendadas. Por exemplo, o Eduardo Longui escreveu sobre o uso da Maçaranduba e do Ipê. Ele faz notar que a maçaranduba é muito densa, comparativamente ao ipê. E isto é um fator que, no final das contas, é determinante para a construção do arco. A literatura também sugere faixas de propriedades adequadas para construção de arcos. Então, todas as madeiras que eu usei na pesquisa de mestrado, de uma seleção enorme de madeiras, estavam dentro dessas faixas. Existe uma faixa de densidade, em que a literatura é um pouco genérica: acima de 1.000 kg/m3 . Eu já acho que isso é muita variação. Sugiro, mesmo na dissertação, de que uma faixa adequada de densidade para arcos fique entre 1.000 a 1.100 kg/m3 . Abaixo desta, a tendência é que o arco fique muito leve. Acima disso, há tendência do arco ficar pesado. Há uma referência de velocidade de propagação de ultrassom, por exemplo, medida com Lucchı́metro, num valor acima de 5.000 m/s. Eu até penso que é um valor baixo para fazer um arco profissional. Pela minha experiência, para ter condição de fazer um arco profissional, deveria ser de 5.300 m/s para cima. Existe também uma faixa esperada de peso para o arco, tradicionalmente e pela literatura, a média vai de 58 a 62 g em arcos normais. Ainda assim, é uma faixa variável para mais ou para menos, pois já vi bons arcos de violino com 65 g. Particularmente, aqui na região de Curitiba existe uma tendência, pelas escolas de violino, de arcos mais leves, que ficam em torno de 60 g. Estas três faixas podem indicar dados interessantes sobre a madeira a ser selecionada. Especialmente ao notar que a medida de velocidade de propagação sonora é um indicador relacionado ao Módulo de Elasticidade. O Módulo de Elasticidade, tem a ver com o quanto de força é necessária para deformar certo material com certas dimensões, por exemplo, um arco de violino. Podemos notar isto caso escolhamos duas peças de madeira diferentes para fazer um mesmo modelo de arco de violino. Digamos que a primeira tem valor de velocidade de propagação medido
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com Lucchı́metro próximo a 5.300 m/s e a densidade 1.100 kg/m3 . É provável que a madeira tenha Módulo de Elasticidade adequado para ser feito um arco de violino. Agora, noutro caso, digamos que a velocidade de propagação medida é de 5.300 m/s e a densidade 1.200 kg/m3 , pela lógica, a madeira terá um Módulo de Elasticidade também maior. Se fizermos um arco com cada madeira, mantendo dimensões semelhantes será preciso retirar muito material do arco com madeira mais densa para tentar reduzir o peso. Quanto maior a densidade, maior deveria ser a velocidade de propagação. Caso contrário, usando madeira densa e com velocidade de propagação adequada dentro das faixas recomendadas, será preciso retirar muito material para tentar reduzir o peso do arco. Com isso, há um indı́cio de que a rigidez por unidade de massa seria baixa. O resultado será um arco muito flexı́vel em relação ao seu peso, ou um arco pesado. Com estas faixas de propriedades e suas relações definidas, comecei a seleção de madeiras propriamente dita. Isto também foi experimentado durante a pesquisa de mestrado: fui numa distribuidora de deques e pisos de madeira. De algumas pilhas de tábuas, fui selecionando as madeiras que tinham, em primeiro lugar: o corte radial. Esta é uma condição fundamental para o arco. A ruptura da ponta ocorre muito facilmente num arco de violino por ser, naturalmente, uma parte frágil. Se a cabeça não é radial, existe um risco maior da ponta quebrar. A madeira tem a tendência de rachar mais facilmente no sentido do raio (do centro do tronco para a casca). Portanto, a orientação dos anéis deve ser a da figura que detalha a ponta do arco. Durante a seleção na madeireira, esta condição já eliminou a maior parte de uma pilha de madeiras. Das tábuas com corte radial que encontrei, muitas tinham desvios na fibra. Então, mais algumas foram deixadas de lado. Em seguida, medi a velocidade de propagação de ultrassom com o Lucchı́metro no sentido longitudinal. Para isto, tomei as dimensões de comprimento das peças e coloquei cada ponta de teste do Lucchı́metro nas extremidades da madeira. O aparelho emite um pulso de ultrassom e mede quanto tempo demora para este pulso percorrer a peça. O próprio aparelho calcula a velocidade do pulso na madeira, dividindo a distância pelo tempo2 . Algumas das peças não tinham a velocidade de propagação dentro da faixa mı́nima recomendada pela literatura. 2 Importante ressaltar que a velocidade de propagação deste pulso depende das propriedades: densidade e rigidez da madeira; propriedades também muito influenciadas pela umidade.
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Em resumo, no momento da seleção das madeiras na madeireira, procurei os seguintes parâmetros (FOMIN, 2017): 1 – Análise visual das extremidades das tábuas para verificação da orientação do anel de crescimento, objetivando tábuas com corte radial; 2– Análise visual do alinhamento das fibras procurando obter madeiras com grã direita (fibras retas) e textura fina; 3 – Análise visual para evitar nós, rachaduras ou outros defeitos na madeira; 4 – Análise com auxı́lio de lupa, para visualizar a porosidade da madeira, buscando menor presença de vasos por área e vasos pequenos; 5 – Análise sensitiva da massa das tábuas buscando obter madeiras com densidade superior a 1.000 kg/m3 ; 6 – Análise da capacidade de propagação do som com o medidor ultrassônico Lucchı́metro, buscando medições acima de 5.000 m/s. Levei as tábuas que tinham, pelo menos à primeira vista, as propriedades adequadas para fazer arcos. Um segmento da tábua foi destinado para confecção dos arcos em si. Outro segmento, de mesmo comprimento, foi destinado para fazer ensaios mecânicos, com controle de umidade e temperatura Na época do mestrado, tentei vários métodos para descobrir a densidade da madeira. Mesmo dentro da academia não foi simples de conseguir um método que me desse algum resultado preciso. O que mais me serviu foi o método da balança hidrostática para obter a massa especı́fica aparente3 , que é mais ou menos assim: escolha uma das extremidades da madeira e corte um pequeno bloco. Coloque na balança de precisão e anote o nome e o peso do bloco em gramas. Espete este bloquinho com uma agulha (de costura, por exemplo). Pegue um copo béquer ou outro recipiente que você consiga colocar sobre a balança. Coloque água no recipiente, o suficiente para poder mergulhar completamente o bloco de madeira. Zere o marcador (tara), para desconsiderar a massa do recipiente. Com o marcador no 0 g (zero gramas), mergulhe o bloco de madeira sem encostar no fundo, segurando-o pela agulha. Afunde na água até estabilizar o número mostrado pela balança. O primeiro número estável que a balança registra deve ser anotado. Não dá pra esperar muito tempo, pois a madeira começa a absorver água. Assim, com a primeira medida estável, se obtém o volume de água deslocado e, por assim dizer, 3 Na massa especı́fica aparente, além da massa são considerados também os espaços vazios em determinado volume, seria o mesmo cálculo da densidade.
De uma grande pilha de madeira, poucas tábuas podem servir para fazer um bom arco. Fonte: o autor.
“A habilidade de um archetier resume-se em selecionar a madeira e sentir sua elasticidade natural ao mesmo tempo em que se define o diâmetro apropriado para o bom funcionamento do arco.” (BEAMENT, 1997, p. 158). Fonte: o autor.
a massa: lembrando que a água tem densidade muito próxima de 1g/cm3 . Se a balança marcar 1 grama quando mergulhar a peça, ela terá um volume muito próximo de um centı́metro cúbico. Depois, divida o peso da peça de madeira, medido anteriormente, pelo volume de água deslocado. Este é um valor para a densidade da madeira. Esses dados podem ser em g/cm3 ou Kg/m3 , só é preciso cuidado para saber a unidade usada. Agora, um detalhe muito importante deste método é ter um ambiente de temperatura e umidade controladas. Entre a madeira úmida e seca existe uma grande diferença de massa por volume, ou seja, de densidade. Para diminuir o erro, é preferı́vel que toda a madeira a ser testada esteja aclimatada num mesmo lugar e as medições de densidade sejam feitas num mesmo momento. Agora, o que fazer com estes valores? Se é conhecida a velocidade de propagação de ultrassom, como aquela medida do Lucchı́metro, por exemplo, já existe a possibilidade de estabelecer uma relação com a densidade. Na teoria, seria isso aqui: p (V 2 × ρ) (1) ρ
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Onde: V é a velocidade (m/s); ρ é a densidade (kg/m3 ). O resultado é um indicador de qualidade potencial. Um número que pode ser ranqueado. Tenho feito isso para comparar as propriedades das madeiras. . . digamos que. . . dá sorte! A realização da pesquisa de mestrado, inclusive com ensaios das madeiras em laboratório, me leva a pensar que é muito difı́cil de aplicar aquilo tudo que se conceitua na academia sobre a madeira na construção do arco em si. Durante a construção do arco, todos estes parâmetros precisam ser interpretados de maneira sensorial. Por outro lado, eu já tive a experiência de pegar uma madeira que achava que seria fantástica para um arco e não resultou naquilo que eu imaginava. Havia, por exemplo, uma confusão na minha cabeça que sempre ocorreu: muitas vezes a gente acha que uma madeira densa é rı́gida, mas a densidade sozinha não determina a rigidez. No caso do arco, se você tem a madeira muito densa, tem que tirar muito material. Tirando material, perde rigidez. O resultado é que temos um arco flexı́vel demais. Porque ele precisa ser firme, mas dentro de uma faixa esperada de peso. Agora, mais difı́cil do que encontrar madeiras em certa faixa de propriedades é o trabalho necessário para transformar o material num arco de
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violino que realmente funcione. Eu sempre comparo a seleção de madeiras a encontrar diamantes. E ainda será preciso lapidar este diamante, no caso, lapidar a madeira para que ela se torne um bom arco. Selecionar bem a madeira para arcos é uma parte do processo, depois disso ainda é necessário fazer bem o arco. Se estas duas etapas, a da seleção e a da execução, por fim resultarem num bom arco, arrisco dizer que, se eu pudesse quantificar a qualidade de um arco nesses termos, talvez isso compreendesse 80% da questão, e os outros 20% seriam percepções subjetivas do músico a respeito da qualidade de funcionamento do arco. Igor Mottinha Fomin
Igor
Mottinha
Fomin
nasceu em 1983 na cidade de Tatuı́-SP. Qualquer relação com o curso de luteria do conservatório de Tatuı́ não é coincidência: seu pai, Hélcio, fez o curso ainda na época em que Enzo Bertelli lecionava. Pouco depois (1985), vieram para Curitiba. Igor começou a ajudar o pai no ateliê em 1994, fosse plainando e esquadrejando blocos de madeira, nivelando a base da furadeira de bancada. Os primeiros arcos, construiu em 1997. Em 2000 já mostrava seu estilo próprio e gosto particular pela construção de arcos de violino, viola e violoncelo. Professor no curso de Luteria da UFPR de 2012 até hoje. Seus aprendizes podem usufruir do espı́rito investigativo, um lado curioso e pesquisador em permanente atividade, e um lado que procura (e alcança) alta precisão e concentração. Na sala de aula ou no ateliê: luminária e silêncio.
Os 5 arcos de ipê construı́dos para a pesquisa de mestrado, hoje, usados por violinistas. A seleção de madeiras com propriedades adequadas importa tanto quanto um bom trabalho ao construir o arco de violino. Fonte: o autor.
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30º Aniversário do livro Violin Restoration 11
Por Margaret Shipman Margareth Shipman relata o processo de criação do livro, amplamente utilizado, Violin Restoration: a Manual for Violin Makers [Restauração de Violinos: um Manual para Luthiers]. Feito com Hans Weisshaar, com primeira edição de 1988 e na 3ª reimpressão. O artigo a seguir foi publicado originalmente na British Violin Making Association Newsletter. Se você ver esta capa, corra abrir! Fonte: BVMA Newsletter n. 97, mar. 2020.
Recentemente, Julian Pindar me pediu para escrever algo sobre o Violin Restoration: A Manual for Violin Makers para a Associação Britânica de Construção de Violinos (British Violin Making Association). Coincidentemente, era o 30º aniversário de sua publicação. Hans Weisshaar e eu passamos sete anos elaborando esse livro e pensamos que mil cópias saturariam o mercado mundial de luthiers que fazem um trabalho sério de restauração. As pessoas disseram que éramos loucos de imprimir tão poucos. Então, a primeira impressão foi de 2000 exemplares. Eles sempre estiveram disponı́veis (uma surpresa para alguns) e a terceira impressão acaba de ser concluı́da. Eu me impressiono com as contı́nuas vendas, dado que pensávamos que o mercado seria bem pequeno. Mas, então, eu percebi que cerca de um terço do livro se referia à construção de novos violinos. Os 18 gabaritos4 geram interesse por si mesmos. Primeiramente, devo dizer que esse foi um processo longo e estressante. Eu sequer tinha certeza de que se tornaria realidade e costumava dizer “se” em vez de “quando” até mais ou menos a metade do quinto ano escrevendo. Imagine escrever sobre como amarrar os cadarços com uma imagem 4 Nota do Editor: referência de curvatura do cavalete, espelho, como também gabaritos de moldes para medir projeção do espelho no cavalete e de ferramentas úteis na restauração, entre outros. São realmente formidáveis!
acompanhando a explicação: esta se tornou minha comparação. Concordamos que eu escreveria o primeiro rascunho de cada capı́tulo e que trabalharı́amos, eu e Hans, juntos a partir daı́. Comecei a reler o primeiro rascunho que tinha escrito sobre o encaixe do braço no corpo do violino. Joguei o capı́tulo inteiro no lixo e tentei pensar mais sobre o processo. Primeiro, de forma geral, refinadamente depois e, então, adicionado medidas a cada passo e lembrando o leitor de manter a projeção do braço baixa por um bom tempo, pois ela pode ser facilmente aumentada conforme o posicionamento avança5 : muito alta significa que o canal para encaixe do braço no corpo está sendo aberto demasiadamente inclinado em relação ao plano do tampo. 1986 foi o ano das fotografias. Joe Denker, um amigo do Hans, havia passado sua carreira fotografando motocicletas e sabia tudo sobre melhores ângulos e dificuldades para fotografar curvaturas, etc. Joe vinha uma quarta-feira por mês e naquele dia ele tirava umas 15 fotos. Ele queria tudo limpo e ficava surpreso com o quanto algumas texturas da madeira eram gastas e ásperas. Ele chegou a perguntar ao Hans se ele havia realmente consertado um Strad com tal textura. Claro que 5 N.E.: Em italiano, o processo é chamado incastro del manico, encaixe de braço.
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O livro teve como centro das atividades o ateliê de Hans Weisshaar, onde Margaret Shipman também trabalhava. Fonte: cortesia BVMA CC-BY-NC-ND.
Madeiras para arcos, livro de restauração e fotografia Edição de Outono
Hans disse que sim, mas para agradar ao Joe e pensando no visual do livro, foram feitas fotos com texturas diferentes. As fotos também foram um desafio, porque ainda não havia exatamente uma “ordem” no livro. Todo mês, partes de violinos esperavam para serem fotografadas. Decidir o que fotografar e quantas fotos incluir era uma dúvida frequente. O senso de humor seco do Joe foi útil. Ele disse para pegarmos um monte de filmes Polaroid (lembrem-se de que era 1986). Ele tirava fotos até que estivéssemos satisfeitos, e então tirava a “foto real” com uma câmera diferente. Quando viu a pilha de filmes Polaroid, disse: “O quê? Você acha que não consigo fazer direito da primeira vez?”. Pensei que tı́nhamos começado muito mal. Cada capı́tulo foi escrito e reescrito. Alguns foram até mesmo colocados à prova no dia a dia do ateliê. Maxine Podd, nossa fiel secretária/escriturária, datilografou cada versão e cada capı́tulo em sua máquina de escrever Selectric, e disse que gostou de ver cada versão ficar melhor. Você vai, sem dúvida, perguntar: por que não usaram um computador? Se eu soubesse o que eu sei hoje, teria arranjado um computador só pelo Word. Quando havı́amos feito cerca de 3/4 do projeto, demos uma olhada em um, mas nenhum de nós tinha sequer usado um computador. Eu sabia que nem a Maxine, nem o Hans encostariam em um. Para mim, “aprender o computador” era uma tarefa muito complicada para assumir ao mesmo tempo que escrevia e trabalhava no ateliê. Eu ainda escrevo à mão e só depois passo para o computador. Imprimo e faço correções nos momentos de calma e aı́ acrescento as correções no computador. Os millenials vão pensar que isso é loucura, mas eu sou uma das primeiras babyboomers. O mundo era diferente. Eu penso de formas diferentes com um lápis na mão e sentada no computador – algo como um pensamento mais claro, num ritmo mais lento. Pedimos a Bonnie Tamblin, que havia feito designs para a American Federation of Violin and Bow Makers, para criar um desenho para a página de abertura do livro. Ela o fez, mas também se prontificou a fazer o layout das páginas. Como querı́amos descrições para os desenhos lado a lado com as páginas em que estes apareciam, ela pediu para trabalhar diretamente com os capı́tulos para saber se um capı́tulo devia começar do lado direito ou do esquerdo. Demos os tamanhos aproximados das fotos, de A a E, e ela fez um trabalho incrı́vel de organização das páginas – naqueles dias, havia muito para recortar e colar. Quando eu vi o primeiro capı́tulo no protótipo impresso, meu coração deu um pulo. Aquilo pare-
cia incrivelmente profissional: o que é uma ideia um tanto intimidadora. Eu poderia contar infinitas histórias, praticamente uma para cada página do livro, sobre a vida corrida do ateliê e a contı́nua edição durante aqueles anos, mas não saberia por onde começar. Um causo, talvez. A inclinação lateral do braço e do espelho (slant) é para o conforto do músico, e ela fica em direções opostas no caso do violino (e viola) e do violoncelo. Para o violino, o lado da corda sol é mais alto que o lado da corda mi; para o violoncelo, o lado da corda lá é mais alto que o lado da corda dó. Preparando a imagem para o livro, ficamos surpresos ao descobrir quanta inclinação era necessária para o violoncelo. O nosso próprio ateliê foi aprendendo com o processo! Também aprendi algumas coisas de inglês durante as discussões sobre a escrita. O domı́nio de inglês do Hans era excelente, assim como eram seu holandês e seu alemão. A única coisa que pude acrescentar ao conhecimento dele foi de que a palavra “slant” poderia servir para qualquer inclinação/direção. Para ele, slant era algo como uma rampa inclinada para baixo, até o dia que pedi para ele dar meia volta e subir a rampa que ele estava descendo6 . Demos boas risadas e procuramos chegar a alguns acordos. Nós dois sentı́amos que o livro não poderia ser colocado no mundo até que estivesse o mais completo possı́vel, e essa meta amenizou as dificuldades do processo. Já faz 30 anos e três edições desde 1988. O Violin Restoration tem impulsionado minha vida para além das expectativas e deixou um legado significativo de Hans Weisshaar e seus dons para nosso ofı́cio.
Este artigo foi originalmente publicado na BVMA Newsletter, issue 97, mar. 2020. O corpo editorial da BVMA gentilmente encaminhou o texto original para nossa equipe. Fizemos a tradução e revisamos o conteúdo junto do corpo editorial da BVMA, que nos deu permissão para publicar na Café com Luteria – sob licença (vide primeira página). Agradecemos imensamente pela atenção e carinho, especialmente, ao Renato Carrano, que intermediou os contatos inglês-português. Inauguramos uma parceria que esperamos durar por muito tempo! Também agradecemos à Ingrid Requi Jakubiak (Violinista, Bacharela e Licenciada em História pela UFPR) pela tradução deste artigo.
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Margaret Shipman
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asked him to turn around on the slanted board he was walking down.
Hans Weisshaar e Margaret Shipman na época da produção do livro (1981 a 1988). Fotos: cortesia da autora e da BVMA CC-BY-NC-ND.
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Hans Weisshaar nasceu em 25
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de agosto de 1913 em Wilderberg, Alemanha. Ele dizia que queria ser um luthier desde que conseguia se lembrar. Ele se formou na Fachschule für Geigenbau em Mittenwald e trabalhou na Alemanha, na Suı́ça e na Holanda antes de ir para os Estados Unidos em 1937. Hans trabalhou com Simone Sacconi em Nova York, e Lewis and Son em Chicago. Mudou-se então para Hollywood em 1947 para começar seu próprio negócio. Sua fama no trabalho de restauração trouxe estudantes de vários paı́ses, tornando-se a nova geração de artesãos de excelência. Também foi o ı́mpeto de Hans que fundou uma organização nacional para luthiers profissionais: a American Federation of Violin and Bow Makers. Michael e Rena Weisshaar e Daniel, neto de Hans, ainda trabalham ativamente nessa organização e possuem um empreendimento próspero em Costa Mesa, desde 1975.
Margaret Shipman
nasceu em Denver, Colorado, 7 de outubro de 1946. Foi pela primeira vez ao ateliê de Weisshaar em 1969 para consertar seu violoncelo. Fascinada pela forma como seu instrumento ficou muito mais fácil de tocar após passar pela manutenção, perguntou se algum dia poderia apenas observar o trabalho no ateliê durante uma tarde inteira. Hans a convidou para trabalhar. Ficou tão surpresa quanto animada. Foi transformador. Ela trabalhou com Hans por 21 anos até ele falecer em 1991 e continuou na vida de ateliê até 2008. Margaret toca violoncelo e piano e é graduada pela Eastman School of Music. Sua aposentadoria abriu portas para mais música de câmara, tênis, viagens, receber convidados, dar aulas de inglês e compartilhar o trabalho de Rudolf Steiner. Ela diz que aposentado deveria significar trabalho dobrado [Traduzido de: She says retired should just mean ‘re-tired’].
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Madeiras para arcos, livro de restauração e fotografia Edição de Outono
A estrutura do som Fotofilosofias por Ana Clara Miranda
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“Sabedoria das plantas: inclusive quando elas são de raı́zes há sempre um fora onde elas fazem rizoma com algo – com o vento, com um animal, com o homem.” (Deleuze & Guattari, Mil-Platôs I) N.E.: Foto da tarja de capı́tulo por Gabriella Maria.
Honrar a complexidade da natureza, eis a sı́ntese mais potente e desafiadora da qual me dou conta durante os atravessamentos experienciados no meu percurso de vida musical que, aos poucos e arqueologicamente, vêm me conduzindo a pesquisas cada vez mais aprofundadas através de anteparos diversos: sons, imagens, palavras e silêncios. A produção de sentido que se manifesta em cada ser humano, dá contorno à essa forma impossı́vel, seja por sua estrutura única, seja por seu transbordamento horizontal. Nesse território de arte e devir vou formando narrativas abertas embasadas em tudo o que existe desde sempre, mas que não pode ser sempre o mesmo.
A observação do ofı́cio da luteria me trouxe uma percepção de processos históricos e arqueológicos formados sobre estruturas e esqueletos, através dos quais são construı́dos sons, sentidos e sociedades. O caráter único de cada instrumento se consolida através de saberes passados, mãos irrepetı́veis, desejos e necessidades de encomenda ou criação, através de árvores que, a despeito de seu nome classificado e em latim categórico, são únicas, como todos nós. Uma árvore é um portal, não há uma igual a outra, mas uma remete à outra. Nesse sentido, ser único como um instrumento, musical ou humano, nos remete constantemente a esse portal de univocidade atravessada por tudo o que existe.
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O ofı́cio do luthier que se constrói em cada instrumento bem como o ofı́cio do músico, que com o instrumento em mãos dá continuidade a essa mesma e também já outra construção, remontam esse devir-árvore que entrega generosamente seus frutos em forma de música, sem consciência ou controle de seu destino. Nessa construção social somos todos unidos por um fio único condutor de sentidos e afetos, de raı́zes e rizomas, que carregam em sua lógica e organização linear a transcendência desse portal de natureza sempre aberto para quem se dispõe a atravessar e ser atravessado, de onde o som gera o silêncio para a criação de novos sentidos. A construção de um instrumento não se encerra, é uma arquitetura mutável que ganhará vida e movimento através de outras mãos humanas. Assim como uma casa, por mais bela que seja, tem por função ser habitada e transformada em lar, um instrumento ainda que finalizado carrega em sua finalidade a continuidade de sua construção, a mutabilidade do seu som, o atravessar diário desse portal que não é preciso em datação, mas necessário em continuidade cı́clica de som, silêncio e sentido. A estrutura do som ganha vida na habilidade prática do luthier ao reorganizar as partes-galhos dessa nova árvore instrumental enquanto busca nutrir o novo som com a sabedoria silenciosa de suas raı́zes ancestrais ao mesmo tempo que explora o desenvolvimento de novas fontes de água para jorrar suas mais sensı́veis criações. Nesse sentido, a construção de um instrumento musical é uma forma de cocriação contı́nua de um universo em constante expansão. A arte-ofı́cio da luteria lança mão de sua natureza rizomática ao expandir-se horizontalmente, renova a vida daquilo que não morre, mas apenas transcende sua forma. Pois na essência de toda a música está presente a força potente e criadora da natureza da qual somos todos parte social e todo unı́voco, ao mesmo tempo, em ciclo infinito de tempos passados e futuros presentes. Um instrumento é um portal para manifestação da vida.
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Retrato de César Ghidini. Foto: acervo da autora. Madeiras para arcos, livro de restauração e fotografia Edição de Outono
“Meu primeiro contato com César em presença, pois já conhecia seus cravos e espinetas, aconteceu na Semana de Música Antiga de Goiás (SMAG) em 2018, quando me disse que não tinha um bom retrato seu e de seu ofı́cio. Em 2019 fui ao ateliê durante uma oficina sobre manutenção de cravos (sim, eu sei fazer plectros!) e lá construı́ esse retrato importante, tanto para ele quanto para mim, já que não estava acostumada a fazer retratos. De lá pra cá, decidi me aprofundar mais no universo da luteria por me sentir muito feliz e à vontade em sua oficina e decidi passar meu Carnaval de 2020 lá, observando e registrando seu trabalho. Um trabalho embrionário, ı́ntimo e investigativo que pretendo continuar a desenvolver.” Ana Clara Miranda (fotógrafa) César Ghidini (fotografado)
Agradecemos imensamente à Ana e ao César, que tiveram, ao mesmo tempo, seus trabalhos transportados para este artigo. O processo de criação destas fotos passou por anos de convivência e muitas histórias dentro e fora do ateliê de construção de cravos.
Ana Clara Miranda Natural de Niterói-RJ. Desde 2012, dedica-se ao registro fotográfico de óperas, música barroca, recitais, mas também de ballet. Os cliques silenciosos já registraram centenas de músicos e bailarinos, especialmente, aqueles que se apresentaram no eixo Rio-São Paulo. Mais de 10 anos de estudo da fotografia, dos bastidores aos palcos, passando pela ilustração, estamparia e design no trabalho editorial, unidos aos cursos livres no balé e dança histórica, à faculdade de Psicologia (UFF) e Piano Clássico (UFRJ). Completada por sua experiência tocando música de câmara, o olhar de Ana parece conhecer os palcos de dentro para fora. Hoje inclui neste portfólio o registro da luteria. Inicia com o espineteiro César Ghidini de AmericanaSP, em vista de acompanhar e registrar o trabalho de outros luthiers no futuro.
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Veja mais 20
Referências e recomendações dos autores
Seleção de madeiras para arcos de vilolinos Igor Mottinha Fomin
Dissertação: FOMIN Igor M. FOMIN. A madeira de ipê (Handroanthus spp.) para arcos de violino: propriedades e avaliação de desempenho técnico. 87p. Dissertação (Mestrado). Disponı́vel em: acervodigital.ufpr.br
Artigo: FOMIN et al. Igor M. FOMIN et al. O arco de violino. Rev. Bras. Ens. Fı́s., São Paulo, v. 40, n. 4, e4303, 2018. Disponı́vel em: doi: /10.1590/1806-9126-rbef-2018-0069
Livro: BEAMENT James BEAMENT. The violin explained: components mechanism and sound. New York: Oxorford University Press, 1997. Disponı́vel em: amazon.com
Artigo: WEGST Ulrike G. K. WEGST. Wood for Sound. Am. J. Bot., n. 93, p. 1439–1448, 2006. doi: 10.3732/ajb.93.10.1439
30º aniversário do livro Violin Restoration Margaret Shipman
Site: Comitê da BVMA BRITISH VIOLIN MAKER ASSOCIATION. Conheça o Comitê: O comitê administrativo envolve dez membros que, excluindo administrador e editor da BVMA Newsletter, são voluntários para conduzir as atividades da Associação. bvma.org.uk/meet-the-committee
Associação: AFVBM AMERICAN FEDERATION OF VIOLIN AND BOW MAKERS. Dedicada à prática ética da construção, conservação, educação, expertise e divulgação. É uma organização profissional com critérios especı́ficos para associação. afvbm.org
Estrutura do Som. Fotofilosofias Ana Clara Miranda
Livro: DELEUZE; GUATTARI Gilles DELEUZE; Félix GUATTARI. Mil platôs. v. 1. Editora 34, 2020. Disponı́vel em: estantevirtual.com
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Livro: WEISSHAAR; SHIPMAN Hans WEISSHAAR; Margaret SHIPMAN. Violin Restoration: A manual for violin makers. 1988. Disponı́vel em: weisshaarrepairbook.com. Contato: gsv@violinrestorationbook.com
Extras Informações selecionadas sobre luteria
British Violin Making Association A BVMA convida profissionais e amantes da construção do violino a associarem-se. A Associação, desde sua criação em 1995, promove a parceria e contato entre interessados na história e na feitura de violinos. Podem se associar pessoas de todas as partes do globo, que desfrutam da revista com quatro números anuais, acesso a eventos e conferências e a oportunidade de expor no evento Makers’s Day, que ocorre anualmente. Seja Membro bvma.wildapricot.org/join-us
Livros e Publicações
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palestras, um comentário que deve ter passado despercebido para a maioria me chamou a atenção: “Meu avô atuou como luthier amador”. Após certa hesitação, resolvi tentar um contato e, assim, pude resgatar a história de Konstanty Szpyra (18851961), polonês nascido nos arredores de Varsóvia, que emigrou para Curitiba em 1924, onde já vivia um irmão seu. Ainda na Polônia, pôde participar de um curso de artı́fices e posteriormente serviu no exército na Primeira Guerra Mundial. Já em Curitiba, estabeleceu-se no Bacacheri, onde residiu, trabalhou e formou famı́lia. Na luteria, dedicou-se à construção de violinos. Uma informação que demonstra um nı́vel de exigência diferenciado e que foi preservada oralmente consiste nas viagens que Konstanty fazia para São Paulo, em busca de cordas, uma vez que não encontrava aquelas que desejava em Curitiba. Esse resgate só foi possı́vel devido à colaboração dos irmãos Alexandre e Marcelo Szpyro Pereira Cardoso, netos de Konstanty, fornecendo informações e fotos.
www.bvma.org.uk/shop
Orabutã Fine Violins Por Moisés Nesi A Orabutã é um projeto de promoção da luteria brasileira. Oferecemos serviços de consultoria para músicos em busca do que há de melhor no mercado nacional de instrumentos de cordas. Contamos com a participação de luthiers com história fidedigna e instrumentos com proveniência conhecida, que oferecemos aos músicos interessados. Entre em contato para conhecer nossos critérios de compra e venda e profissionais envolvidos. Orabutã Fine Violins
Histórias da Luteria Paranaense Por Thiago Corrêa de Freitas Ao seguir com a pesquisa de catalogação de órgãos no Paraná, acabei por me inscrever em um ciclo de palestras promovido pela Casa da Cultura Polônia Brasil, a fim de melhor compreender o contexto no qual ocorreu a instalação de quatro órgãos. No final de 2020, em uma das últimas
Konstanty Szpyra, luthier atuante no Paraná.
Crônica completa Blog da Café com Luteria.
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Leituras
Rudson di Cavalcanti recomenda...
Marcos Schmitz recomenda...
O Violin Restoration, é um livro especı́fico de técnicas de restauração, utilizado pelos mais importantes restauradores do mundo, e acredito que todo ateliê de restauração deveria ter esse livro em sua bancada. Eu uso sempre e sempre aconselho meus alunos a fazê-lo também!
Três livros que abrangem grande parte da história dos violinos:
William E. HILL; Arthur F. HILL; Alfred E. HILL. Antonio Stradivari: His life & work. 1902
William E. HILL; Arthur F. HILL; Alfred E. HILL. The Violin Makers of the Guarneri Family (1626-1762). 1931
Franz FARGA. Violin & Violinists. 1ªed. 1940. 1ª tradução para inglês: 1950
Os dois primeiros, publicados pela Casa Hill, são históricos, porém, facilmente encontrados na Amazon, e a preços bem acessı́veis. Já Violins & Violinists, não é tão fácil de se encontrar. Sempre aparece alguma reedição, porém, mais cara que os outros dois.
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Que tal uma lista de violinos de autor no Brasil? Procurando referências dos artigos desta edição, encontrei uma lista interessante para consulta, com luthiers de eixos portugueses (ex: Antonio Capela e Domingos Ferreira Capela), poloneses (ex: Jósef Bartoszek), alemães (ex: Ulrike Dederer) e mesmo italianos (ex: Annibale Fagnola), nem sempre citados por aı́! A iniciativa é do Institute of Music and Dance in Warsaw, que preserva o acervo digital com fotos de instrumentos e informações detalhadas. www.violin.instruments.edu.pl Desejo nosso: que seja uma inspiração para uma lista dos bons violinos que temos por aqui!
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Renato Carrano recomenda...
Concurso de luteria Astor Piazzolla
Henry Strobel escreveu e publicou vários livros de forma independente, de grande utilidade e fácil entendimento. Useful measurements for violin makers é o mais barato da série, extremamente compacto e cheio de informações úteis do inı́cio ao fim. Medidas, no mundo da luteria, sempre serão discutidas e repensadas. Neste livro, espere encontrar um ótimo ponto de partida para conhecer a construção de violinos, seja luthier, professor ou violinista.
Organização Patrimônio de Instrumentos Musicais para Uso Solidário, a Optimus foi criada em 2020. Um organização descrita como sem fins lucrativos. Sua proposta, em suma: unir quem precisa de instrumentos musicais e quem os possui, bem como preservar instrumentos de seu patrimônio. Agora, em 2021, oferece uma seleção de instrumentos para compor patrimônio através do Concurso de Luteria Astor Piazzolla. Confira as principais informações do concurso através do edital próprio: Sobre a Optimus optimus.art.br.
Henry A. STROBEL. Useful Measurements for Violin Makers. Aumsville, USA: 9ª reimp., 5 ed. 2010.
In memoriam: Henry A. Strobel (1936-2018) pelo seu valoroso trabalho para a luteria. Conhecido pelas contribuições como o livro citado acima, também lecionou numa escola local em Salem, EUA, cidade onde passou seus últimos dias. A Café com luteria presta esta singela homenagem, certos de que Strobel nos deixou um grande legado.
Concurso e Edital optimus.art.br/2021/03/13/ De acordo com edital, o concurso selecionará e premiará dois violões clássicos e um violino. Os prêmios tem valor máximo de R$4000, 00 para cada autor dos violões selecionados e até R$6000, 00 para o autor do violino selecionado. Os instrumentos devem ser feitos usando modelos e madeiras tradicionais a cada instrumento (detalhes no edital). Serão selecionados por membros da diretoria da Optimus, sem relação com os autorescandidatos. Serão adquiridos para acervo da Optimus e colocados à disposição de músicos estudantes em profissionalização ou iniciantes.
Tem alguma informação que acha relevante aparecer aqui? Entre em contato . Confira as instruções para escrever seu texto.
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Colaboradores 24
Bons companheiros para um café
Carlos Alberto Gomes Filho
Andreas Hellmann
Construção/restauração violino
Prof. de luteria Recife - PE, Brasil +55 (81) 9 97 79 81 93 @luthier.carlosalberto
Munique - Alemanha/ Curitiba - PR, Brasil consertodeviolinos@gmail.com @luthierandreashellmann @ateliehellmanncuritiba
Fabio Vanini Bogdan Skorupa
Construção/restauração violino Construção/restauração violino Curitiba/Ponta Grossa - PR, Brasil bogdanskorupa@gmail.com +55 (42) 9 91 31 79 12 @luthierskorupa skorupaluthier
Silva Bueno 2700, São Paulo - SP, Brasil (fixo) +55 (11) 22 19 01 71 +55 (11) 9 88 91 06 02 @fabiovanini76 fabio.vanini.330
Gedson Bravim Frade
British Violin Making Association
Construção violino Associação Londres, Inglaterra @the bvma www.bvma.org.uk admin@bvma.org.uk
São João del-Rei - MG, Brasil +55 (32) 9 91 67 81 55 gfrade2@hotmail.com @gedsonbravim gedson.frade
Julio Cesar Vesper
Bruno Galli
Construção violão Lençóis Paulista - SP, Brasil +55 (14) 9 97 02 11 76 @brunogalliluthier
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Construção violino João Neiva - ES, Brasil +55 (27) 9 99 00 31 59 @lutierjuliocesarvesper
Henry Guerra
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Renato Carrano
Construção/restauração arco (Pierre Nehr e Henry Guerra) 35. Rue de la Clef 75005, Paris - França (Ateliê Paris): +33 (0) 1 43 36 25 80 +33 (0) 6 23 24 02 48 +55 (83) 9 99 92 93 07
Construção violino/ Admin. BVMA Estudande de Luteria no Merton College, Londres +44 073 87 88 60 21 @renatocarrano renatocarrano@gmail.com
Renato Casara
Igor Fomin Construção/restauração arco Construção/restauração arcos Prof. de Luteria (Universidade Federal do Paraná) Curitiba - PR, Brasil fomin@ufpr.br
rcasara@gmail.com +39 (39) 23 28 31 52
Rudson Di Cavalcanti
Restauração violino
Marcos Pandolfi
São Paulo - SP, Brasil +55 (11) 9 52 78 56 44 @rudsondicavalcantili Construção violino 15 de Novembro 119, João Neiva - ES, Brasil mpandolfiviolino@hotmail.com +55 (27) 9 99 08 74 86 @jnmarcospandolfi violino.jn
Monicky Zaczeski
Saulo Dantas-Barreto
Construção violino São Paulo - SP, Brasil +55 (11) 9 98 93 54 54 saulo@dantasbarreto.com.br
Construção violão Curitiba - PR, Brasil +55 (41) 9 98 23 02 29
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Valeria Verónica Quiroga
Tércio Santos
Prof. violino/Spalla O.S.V./ Luthier Vilhena-RO tercio dsantos https://m.facebook.com/violinartbrasil tercio bmx@hotmail.com
Profª. Espanhol e Português (SEPT - Universidade Federal do Paraná) valeria.quiroga@ufpr.br +55 (41) 9 88 46 11 72 valeria.v.quiroga
Vinicius Fachinetti Thales Gonçalves Barros
Construção violino Construção dedilhados Feitura de modelos autorais Curitiba - PR, Brasil barrosluteria@gmail.com @barrosluteria
Thiago Corrêa de Freitas
Consultoria de projetos sociais Prof. de Luteria (Conservatório de Tatuı́) SP, Brasil +55 (15) 9 88 11 31 97 +55 (27) 9 88 07 11 87 @vinicius.fachinetti
Vlamir Devanei Ramos
Prof. de luteria Prof. de acústica/revisor (Universidade Federal do Paraná) Curitiba - PR, Brasil tcf@ufpr.br @thcfreitas
(Conservatório de Tatuı́) R. Humaitá 274, Tatuı́ - SP, Brasil +55 (15) 9 81 28 25 36
Wilfred Amaral
Túlio Lima Construção violino
Construção/restauração violino Prof. de luteria (Studio Liutai) Petrópolis - RJ, Brasil +55 (24) 9 81 44 58 57 @tuliolima.luthier tuliolima
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João Pessoa - PB, Brasil +55 (83) 9 86 62 00 20 wilfredamaral@gmail.com @wilfred amaral wilfred.amaral
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