Agronegócio em Análise Janeiro de 2010
Reduzidos estoques mundiais de café deverão dar sustentação aos preços no mercado internacional Forte expansão da demanda nos países emergentes acumulada nos últimos anos implicou em significativa redução dos estoques mundiais de café, levando a relação estoque consumo ao nível mais baixo da série.
Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos
De fato, o consumo mundial de café vem crescendo anualmente em média 2,9% nos últimos cinco anos, com maior robustez nos países importadores
emergentes (países do Leste Europeu, asiáticos e Rússia) que representam 16,6% da demanda global. A demanda cresceu em média 6,6% nesses países, em função do incremento de renda e da ocidentalização dos hábitos. Nos países produtores emergentes localizados na América do Sul (Brasil, Colômbia) e na Ásia (Vietnã, Indonésia e Índia), o consumo cresceu em média 5,3% no período. Somente no Brasil a ampliação do consumo foi de 4,5% ao ano.
Consumo de café nos países importadores e exportadores em mil sacas de 60 kg 2003 - 2008 03/04
04/05
05/06
06/07
07/08
08/09
Crescimento médio anual
Part. %
1. Países Produtores
28.374
30.307
31.846
33.500
35.367
36.703
5,3%
28,2%
Brasil
14.088
14.760
15.390
16.133
16.927
17.526
4,5%
13,5%
Indonésia
1.958
1.958
2.375
2.750
3.208
3.333
11,5%
2,6%
Colômbia
1.400
1.500
1.556
1.794
2.050
2.200
9,6%
1,7% 0,8%
Vietnã
500
629
722
829
938
1.021
15,5%
Índia
1.142
1.188
1.272
1.337
1.438
1.518
5,9%
1,2%
Outros produtores
9.286
10.272
10.531
10.657
10.806
11.105
3,7%
8,5%
2. Países Importadores
84.541
88.955
88.091
90.044
92.614
93.302
2,0%
71,8%
2.1 Países Importadores Desenvolvidos
68.843
72.030
70.197
71.974
72.103
71.781
0,9%
55,2%
União Européia
39.734
41.193
39.277
40.941
40.543
39.850
0,1%
30,7%
EUA
20.193
20.973
20.998
20.667
21.033
21.652
1,4%
16,7%
Japão
6.770
7.117
7.128
7.268
7.282
7.065
0,9%
5,4%
Canadá
2.146
2.747
2.794
3.098
3.245
3.214
8,9%
2,5%
2.2 Países Importadores Emergentes
15.698
16.925
17.894
18.070
20.511
21.521
6,6%
16,6%
Rússia
3.582
3.086
3.212
3.263
4.055
3.716
1,5%
2,9%
Ucrânia
637
739
1.025
968
1.057
1.733
24,5%
1,3%
China
235
235
275
300
300
320
6,6%
0,2%
Fonte e projeção: OIC (Relatório dezembro/09) Elaboração: BRADESCO
70%
61,0%
60,4%
60%
Importadores Desenvolvidos 58,5%
58,3%
56,3%
55,2%
27,6%
28,2%
50%
Participação % dos grupos de países no consumo mundial de café 2003 - 2008
40%
Produtores 30%
25,1%
25,4%
26,6%
27,1%
Importadores Emergentes
20%
13,9%
14,2%
14,9%
14,6%
03/04
04/05
05/06
06/07
16,0%
16,6%
07/08
08/09
10%
Já nos países desenvolvidos, que são grandes importadores e representam 55,2% da demanda global, o consumo cresceu em média 0,9%.
Fonte: OIC Elaboração: BRADESCO
Nesses países, o café já faz parte da cesta básica de consumo e o crescimento acompanhou o incremento populacional. 1
em mil sacas de 60 kg 135.000
Consumo mundial de café 1992 - 2009
132.000 127.977
130.004
123.554
125.000
119.262119.936 115.000 109.595 105.431 104.304 103.162 101.497 99.617
105.000
95.924
99.124 97.419
112.915 110.268
96.222
95.000
Consumo nacional de café 1990 2008
Fonte e projeção: OIC Elaboração: BRADESCO
09/10*
08/09
07/08
06/07
05/06
04/05
03/04
02/03
01/02
00/01
99/00
98/99
97/98
96/97
95/96
94/95
93/94
92/93
85.000
18,3 17,7 17,1 16,3 15,3
15,5 14,9 14,0 13,6
13,7
13,2 12,7
12,3 12,2 11,5 11,0 10,1
1993
1994
8,2
9,1
9,3
8,9
1992
9,3 8,5
Naturalmente essa mudança estrutural marcada por abertura de novos mercados impulsionada pela ampliação de renda nos países emergentes e pela ocidentalização 52,0%
200,0
Preços Internacionais
180,0
42,3%
42,2%
180,0
42,0% 37,0%
34,6%
32,0%
2008
2007
2006
2005
2004
2003
Relação estoque consumo mundial de café 1990 - 2009
160,0
Relação Estoque Consumo
34,4%
2002
2001
dos hábitos, levou os estoques mundiais de café aos níveis mais baixos já registrados, dando impulso aos preços internacionais desde o início dos anos 2000.
48,9%49,4%
47,0%
143,8 140,0
29,2%
116,1
27,0%
120,0
125,3
25,8% 24,5% 23,7%
22,0%
20,0%
85,0
100,0
21,5%
20,7% 19,3% 17,6%18,4%
18,0%
80,0
17,0%
54,7 12,0%
(*) Projeção de estoque: USDA, Projeção de Consumo: OIC (*) Projeção de preço: média dos preços futuros
60,0
13,1%13,6%
67,9
10,4% 40,0
Concomitantemente a esse quadro bastante ajustado, as estimativas do USDA 1 para a safra mundial de café
09/10*
08/09
07/08
06/07
05/06
04/05
03/04
02/03
01/02
00/01
99/00
98/99
97/98
96/97
95/96
94/95
93/94
92/93
91/92
7,0% 90/91
Agronegócio em Análise
2000
1999
1998
1997
1996
1995
1990
1991
6,3
Fonte: Abic Elaboração: Bradesco
Fonte: Nybot, OIC e USDA Elaboração: BRADESCO
no ciclo 2009/10 apontam redução de 3,7%, em razão da bienualidade2 da cultura. Dentre os três maiores
1 USDA – Sigla em inglês do Departamento de Agricultura dos EUA. O USDA realiza dois levantamentos por ano para a safra de café, um em junho e outro em dezembro. 2 Bienualidade é uma característica fisiológica da planta que leva a produção a ser elevada em um ano e baixa no ano seguinte.
DEPEC
2
players mundiais, apenas a Colômbia deverá registrar elevação de produção, pois no Brasil a safra será 15,5% menor e no Vietnã 2,8% inferior 3.
USDA em junho de 2009 era de 12,2 milhões de sacas, voltando, dessa forma ao nível histórico de produção. No entanto, na estimativa de dezembro, o USDA reviu a produção colombiana para 9 milhões, uma retração significativa em relação à previsão inicial. Esta revisão foi motivada pelas condições climáticas desfavoráveis, com grande volume de chuvas, o que favoreceu o crescimento de fungos, quadro este agravado pela descapitalização dos produtores que ficaram desincentivados a investir na lavoura. Com esse nível, ainda assim a produção colombiana ficará aquém do nível histórico, que é de 12 milhões de sacas de 60 kg.
A produção de café colombiano será de 9 milhões de sacas, ou 3,9% superior à safra passada, porém com crescimento sobre uma base muito baixa de comparação que foi a safra 2008/09 muito afetada pela estiagem e pelos elevados custos de produção com fertilizantes vigentes no início de 2008, que limitaram os tratos culturais nos países da América Central. Para a atual temporada (2009/10), a estimativa inicial de produção para a Colômbia esperada pelo
Produção e exportação mundial de café - em mil sacas de 60 kg
Produção
País
Colheita
Brasil
Maio
Safra 04/05
Exportação Produção
Vietnã
Outubro
Exportação Produção
Colômbia
Outubro
Exportação Produção Mundial
Safra 06/07
Safra 05/06
Safra 07/08
Safra 08/09
Safra 09/10*
Var %
43.600
36.100
46.700
39.100
51.450
43.500
-15,5%
24.505
21.264
26.185
23.770
28.396
24.100
-15,1%
14.500
16.335
19.500
18.000
18.000
17.500
-2,8%
14.200
15.600
18.700
16.283
16.333
16.675
2,1%
11.532
11.953
12.164
12.515
8.664
9.000
3,9%
10.352
10.042
10.507
10.656
7.941
8.300
4,5%
122.616
116.951
133.565
122.180
130.030
125.214
-3,7%
Fonte e Projeção: USDA - relatório de 18/12/09 Elaboração: BRADESCO
Adicionalmente, a demanda mundial por café deverá permanecer sustentada nos países desenvolvidos e acelerar nos países emergentes4. Nesse sentido, a combinação de expansão do consumo e retração da produção deverá provocar um recuo dos estoques mundiais de café, piorando a relação estoque consumo que já está no nível mais baixo desde o início da década de 90. Dessa forma, o ano de 2010 inicia-se com um déficit de produção e com estoques ainda mais baixos. As primeiras estimativas para a safra 2010/11 são da produção brasileira, que tem início de colheita em maio, devendo chegar a 47,3 milhões de sacas5, um incremento de 20% em relação à safra anterior. Mesmo com este incremento significativo, esse volume não
será suficiente para zerar o déficit de oferta mundial. Além disso, destaque-se que por conta do excesso de chuvas, a safra poderá ser frustada no seu potencial, pois as condições climáticas adversas podem afetar a qualidade do café e proliferar doenças nos cafezais. Em conclusão para este ano, apesar da elevada oferta de café por conta da bienualidade, o quadro de suprimento deverá ficar apertado, com a combinação de consumo vigoroso e baixos estoques de passagem, dando firmeza aos preços internacionais. Os contratos futuros da bolsa de Nova Iorque apontam uma alta de 15% da média de 2010 em relação à média do ano passado. Nesse contexto, os preços domésticos ao produtor também deverão seguir esse movimento de alta em 2010, e esperamos incremento em torno de 3%.
mil sacas 60 kg
Agronegócio em Análise
43.000
37.000
41.158
Estoques privados de café no Brasil 2001 - 2009
36.292
30.880
31.000
29.445
25.000
22.976
21.839
19.000
14.629
14.656
13.000
Fonte: Conab em 31/03/09 Elaboração: BRADESCO
7.000 2001/2002
2002/2003
2003/2004
2004/2005
2005/2006
2006/2007
2007/2008
2008/2009
3
A safra 2009/10 já está finalizada no Brasil e está em fase de colheita no Vietnã e na Colômbia. Projetamos uma taxa de crescimento do PIB dos países desenvolvidos de 2% para 2010 e para os emergentes de 5,6%. 5 Média entre o limite inferior 45.889 e 48.658 limite superior. 4
DEPEC
3
Produção nacional de café 1994 - 2010
mil sacas 60 kg 51.000 48.480
47.274
45.992 42.512 41.000
39.470
39.272 36.070 34.547 32.944 31.100
31.000 27.500
21.000
28.820
28.137
27.170
26.000
18.860 16.800
10/11*
09/10
08/09
07/08
06/07
05/06
04/05
03/04
02/03
01/02
00/01
99/00
98/99
97/98
96/97
95/96
94/95
11.000
Fonte e projeção: Conab 1º levantamento jan/10 Elaboração: BRADESCO Em R$ por saca 60 kg
Café Arábica Cepea Esalq – preço ao produtor – praça SP 2000 - 2010
390,0
337,0
340,0
291,5
305,1
291,4
290,0
269,3 239,8
240,0
230,4 193,0
190,0
Agronegócio em Análise
232,2 218,2
199,0 143,8 130,5
162,8 117,8
104,4
90,0
jan/00
281,6
245,8
223,6
140,0
267,8
jan/01
jan/02
jan/03
jan/04
jan/05
jan/06
jan/07
RETRATO DO SETOR • Os maiores players mundiais de produção e exportação de café são: Brasil, Colômbia e Vietnã. Juntos respondem por 60% da produção mundial e por 57% das exportações; • Brasil: Responde por 35% da produção mundial e por 27% das exportações. Exporta 67% da produção interna. Safra tem início em maio; • Vietnã: Responde por 14% da produção mundial e por 19% das exportações. Exporta 95% da produção interna, o consumo interno é muito baixo. Safra tem início em outubro; • Colômbia: Responde por 7% da produção mundial e por 9% das exportações. Exporta 92% da produção interna, também tem o consumo interno muito baixo. Safra tem início em outubro; • O café é produzido em países de clima tropical e o consumo é mais elevado em países de clima frio e de renda elevada. Cerca de 73% do café produzido são consumidos pelos países importadores e os 27% restantes pelos países produtores; • Países consumidores/importadores: EUA, União Européia e Japão, respondem por 55% do consumo entre os países importadores. Têm elevado consumo, porém dependem de importação;
jan/08
•
•
•
•
• •
•
jan/09
jan/10 dez/10
Fonte: Cepea Esalq Elaboração e Projeção: BRADESCO
Países produtores/exportadores: países da América do Sul e Vietnã. Têm baixo consumo interno (exceção para o Brasil) e as exportações são representativas; O café tem a característica da bienualidade da cultura, que é a alternância da quantidade produzida, ou seja, num ano a planta rende bastante, porém no ano seguinte tem produção reduzida; A mão-de-obra responde por cerca de 50% dos custos de produção do café, em razão da colheita manual. Os fertilizantes e defensivos agrícolas representam cerca de 30%; 85% da produção de café se concentra na Região Sudeste do Brasil. A Bahia responde por quase 5% da produção nacional e o Paraná por quase 4%. Em Rondônia se concentra 4% da produção nacional; O café responde por 2,4% da pauta brasileira de exportações; As exportações brasileiras de café respondem por 67% em média da produção nacional. O café verde responde por 96% do total exportado e o café solúvel por 4%; Os principais destinos das exportações brasileiras são os países europeus, EUA e Japão.
DEPEC
4
Agronegócio em Análise
Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo / Fernando Honorato Barbosa Economia Internacional: Fabiana D’Atri / Daniel Valladares Weeks / Daniela Cunha de Lima /Igor Velecico / Thomas Henrique Schreurs Pires Matheus Ribeiro Machado Economia Doméstica:
Robson Rodrigues Pereira / Andréa Bastos Damico / Ana Paula Almeida / Ellen Regina Steter / Rita de Cassia Milani / Myriã Bast
Análise Setorial:
Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Lívia Semensato Sacchetti
Pesquisa Proprietária:
Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão
Estagiários:
Andrea Marcos Angelo / Felipe Priolli da Cunha
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DEPEC
5