Revista Cafeicultura ed. 16 ano 14 Junho / Julho 2016 - Erros no controle das pragas do café

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Foto: Marcelo JordĂŁo Filho



13 FELIPE

MATÉRIA DE CAPA

ERROS COMUNS QUE ESTAMOS COMETENDO NO CONTROLE DAS PRAGAS DO CAFÉ

Nas ultimas safras tem se observado em todo o Brasil dificuldades no controle de algumas pragas do café. Por Bruno S Souza

-Academia do Cafe 02/junho/16 Todos os anos s repete a máxima de que: Este ano a colheita vai se antecipada, o café está amadurecendo mais rápido devido ao clima etc. Sempre colhemos o café na Fazenda Esperança a partir de julho e apesar de estar escutando está máxima a mais de 30 anos quando comecei a participar efetivamente da colheita, este ano acreditei que seria diferente,mas não está sendo. Devido ao atraso nas reparações que estamos efetuando nos tanques e terreiros, não pude começar a colheita no dia 23 como havia programado. Ontem fazendo a avaliação do percentual de grãos maduros chegamos a contagem de 50% de grãos verdes ou imaturos. Colheita de café em Campos Altos só a partir da segunda quinzena de Junho; se você quiser fazer qualidade.

13 questionamentos sobre a importação de cafés pelo Brasil.

6 ADILIO LACERDA

Importância da intermitência na secagem do café.

Por Diogo Dias - 02/junho/16

Como diz o ditado: “todo ano é típico ser atípico”! Tudo estava correndo muito bem até Março, então tivemos um Abril sem nenhuma chuva e muito calor, mas parecia que não teríamos problemas, já que o café adiantou sua maturação mas estava bem homogênea. Em Maio umas poucas chuvas no início vieram para “satisfazer” as necessidades e iniciarmos a colheita com chuva (até aí é típico!) ... porém tivemos uma segunda quinzena de Maio que mais parecia Janeiro e tem prolongado até hoje! O resultado foi: o café passou de maduro para seco em 15 dias, muitos desses grãos secos caíram no chão, o verde está secando sem madurar ... por fim, perda de qualidade. Mas somos brasileiros e não desistimos, ainda temos esperança nas variedades mais tardias. E para fechar ... continua chovendo!!! — em Fazenda Recreio, Sao Paulo, Brazil

9 ROUVERSON

Colheita mecanizada do café.

10 WILLIAMS

Região das Matas de Minas tem clima ideal para produção de café.

14 ANTÔNIO SÉRGIO Brasil em risco fitossanitário com a liberação da importanção de café verde.

19 ENSEI NETO

Cafezinho e Cold Brewe: A elasticidade do tempo.

Jornalista Responsável Antônio Ségio Souza - MTB 11.403 redacao@revistacafeicultura.com.br Capa: Foto Marcelo Jordão Filho Impressão: Gráfica Real 4 cores real4cores.com.br A Revista Cafeicultura é uma publicação da Agência Impacto Patrocínio Ltda CNPJ 86.536.604/0001-72

Por João Carlos Remedio 02/junho/16

Tempo muito louco; muita água e em algumas regiões, muito granizo. A qualidade do Café Arábica está indo embora. E o Mercado não reage, será que não está vendo nada disso???

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SANTINATO

4 ENIO BERGOLI

Correspondência: Caixa Postal 30 Cep 38810-000 - Rio Paranaíba - MG Fone: 34 3855-8253 Whatsapp: 34 9 9167-6506 revistacafeicultura.com.br comercial@revistacafeicultura.com.br fb.com/revistacafeicultura twitter.com/cafeicultura

jun./jul. 2016 - Revista Cafeicultura | 3

Foto: André luiz | Reprod. Facebook

Foto: Diogo Dias | Reprod. Facebook

Foto: Alessandro Guieiro

COLHEITA COM CLIMA ATÍPICO


Foto: Ceplac

Entrevista Exclusiva

Enio Bergoli Antônio Sérgio de Souza

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13 QUESTIONAMENTOS SOBRE A IMPORTAÇÃO DE CAFÉS PELO BRASIL “Pragas como ferrugem e broca, duas das mais temidas do parque cafeeiro nacional, foram introduzidas por falta de cuidados fitossanitários nas relações bilaterais do Brasil”

A

contrariedade do setor de produção à importação de café verde pelo Brasil é justificada e não se trata de conservadorismo comercial. Pragas como ferrugem e broca, duas das mais temidas do parque cafeeiro nacional, foram introduzidas por falta de cuidados fitossanitários nas relações bilaterais do Brasil com países africanos. Há muitos frequentes que devem ser esclarecidos a todos os integrantes da cadeia produtiva do café. Vamos discorrer sobre alguns deles.

*Enio Bergoli Engenheiro Agrônomo/ Incaper Coordenador de Política Agrícola da Sociedade Espírito-Santense de Engenheiros Agrônomos Ex-Secretário de Agricultura do Espírito Santo

É proibido importar café pelo Brasil? Não, inclusive a importação de torrado e moído é uma realidade. Contudo, para a importação de café verde, há necessidade de cumprimento de ritos, pois nenhum país expõe seus plantios a riscos fitossanitários. Procedimentos mundiais sobre o trânsito de vegetais devem ser cumpridos. O que deu margem legal para

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importação de café do Peru? O Ministério da Agricultura entendeu que o procedimento de Análise de Risco de Pragas (ARP), com base em documentações apresentadas pelo Peru, estaria em conformidade para evitar riscos fitossanitários. Uma novela que se arrasta desde maio de 2015, com Resoluções do Mapa, aprovando e suspendendo a liberação. O fato é que a maioria dos técnicos brasileiros considera frágil o sistema fitossanitário daquele país. O que é pior, a importação de verde ou o drawback? O drawback, operação muito combatida no passado, em resumo trata da importação de matéria prima (café) para se industrializar no país (em blends com nossos cafés) e tem como destino exclusivo a reexportação para outros países. Portanto, ao se liberar a importação de café verde, fora do regime de drawback, estamos também abrindo o gigante mercado interno brasileiro para países

concorrentes, que não estão sujeitos a regulações similares vigentes no Brasil. O volume de comercialização de café do Peru assusta? O Peru não faz parte a OIC e suas estatísticas não são confiáveis. Produz oficialmente 3,4 milhões de sacas (fontes apontam para 5 milhões). O consumo é de apenas 650 gramas per capita ano (Brasil – 5,6kg e Europa – 8kg) e os cerca de 30 milhões de peruanos devem consumir no máximo 400 mil sacas de café. O Peru precisa do mercado externo para desovar entre 3 e 4,5 milhões de sacas, o que não é um volume desprezível. Que pragas poderão chegar no Brasil? São várias. A Monilíase, que não está presente no Brasil, é causada por fungo e ocorre nas regiões de produção de cacau e de café no Peru, que são coincidentes, causando prejuízos de 50 a 100% na produção cacaueira. A gravidade é que


essa praga pode vir nos grãos verdes ou na sacaria e os esporos (sementes) do fungo podem ficar viáveis por até 9 meses em condições adversas. Trata-se de uma ameaça à produção de cacau Brasil. Outros três fungos extremamente perigosos para a cultura do café estão presentes no Peru e podem ser disseminados, como Colletotrichum, Fusariose e Rizoctonia, sendo esses dois últimos de ocorrência no solo, o que dificultaria ainda mais o controle. O que pode acontecer se essas pragas entrarem no Brasil? Não há produtos químicos registrados para o controle. E o tempo para se registrar uma molécula química no Brasil pode demorar anos e custar milhões de dólares de investimento. Até lá, uma grande percentagem do parque cafeeiro estaria dizimada e a outra parte teria ampliação de custos para se produzir. Em resumo, quem vai arcar com esses custos serão os produtores. Qual é o custo da sustentabilidade ambiental, social e trabalhista na cafeicultura brasileira? A legislação brasileira é uma das mais rigorosas do mundo. Ao mesmo tempo em que tornam a nossa cafeicultura uma das mais sustentáveis, também incorrem em custos adicionais de produção. Assim, como nossos concorrentes têm custos de produção inferiores por não cumprirem essas premissas da sustentabilidade, uma abertura à importação seria concorrência desleal e injusta. Novamente, os produtores pagariam a conta. Predomina amadorismo nas relações bilaterais conduzidas pelo Brasil? Até a indústria se surpreendeu com a liberação da importação sem salvaguardas. Esse setor, que reivindica a importação, solicitou a inclusão de duas salvaguardas: limitação do volume importado e padrão mínimo de qualidade. Mas o Governo Federal, durante as turbulências do processo de

impeachment, liberou sem critérios. Ainda se comenta uma relação (no mínimo estranha) de exportação de suínos do Acre para o Peru condicionada à abertura do mercado brasileiro ao café peruano, numa operação de cunho político. A abertura de mercado interno de café para o Peru abre precedentes? O rito foi apresentado (aprovado e suspenso) para café arábica, mas procedimentos análogos poderão ser adotados por outros países, tanto para outros arábicas quanto para conilon. Os procedimentos de ARP são basicamente os mesmos para Arábica e Conilon. Há realmente essa necessidade de importar café? Não, segundo a análise dos principais indicadores de mercado. O Brasil tem a cafeicultura mais diversificada do mundo. Produzimos em quantidade e com qualidade as duas espécies de café que são consumidas internacionalmente. Temos diferentes áreas produtoras, em diversos climas, sistemas de produção e variedades. Degustadores e provadores renomados confirmam e atestam essa variabilidade. E ainda, consumimos em média 21 milhões de sacas por ano e disponibilizamos outros cerca de 30 milhões de sacas para o mercado externo. Há argumentação técnica convincente para a importação? Nenhuma. Não há falta de café no país para atender a demanda interna, muito pelo contrário. A indústria tem à disposição muitas variações de qualidade de café e talvez precise investir em inovação e em novos produtos, antes de insistir na importação de outras origens. Recentemente, a Nestlé, gigante da indústria mundial, reconheceu que nosso País tem capacidade de oferta diversificada de aromas e sabores de café e desistiu de requerer a importação para a instalação de uma fábrica de café em cápsulas no interior de Minas Gerais. Existe suspeita de estratégias para derrubar os preços do café

*Fungo Monilíase devastador,

ocorre nas regiões de produção de cacau e de café no Peru e Colômbia.

no Brasil? Tudo leva a crer que sim. Todo ano, no início de safra no Brasil, aparecem os rumores da importação, que parecem ser orquestrados. Nesse episódio em relação ao Peru ficou muito evidente, já que as Portarias são de maio (2015 e 2016). Por ser o principal país no complexo agroindustrial do café, o Brasil desperta muitos interesses, pois se trata do maior produtor e exportador, além de ser o segundo mercado consumidor do produto. Todos estão de olho no nosso mercado interno. E o que fazer daqui em diante? No caso específico do Peru, a solução é continuar pressionando para a continuidade da suspensão da importação. No mínimo, profissionais renomados da cafeicultura brasileira precisam realizar missões técnicas internacionais para atestar a capacidade de controle fitossanitário de qualquer país que tenha como intenção vender café ao Brasil. A indústria brasileira precisa ser competitiva nos mercados nacional e internacional, até para rompermos esse estigma de exportar matéria prima, que gera emprego qualificado e renda em países importadores. Por outro lado, o parque cafeeiro nacional, patrimônio de mais de 200 anos, não pode ser ameaçado com insegurança fitossanitária. Precisamos unificar e aproximar os diversos setores da cafeicultura nacional para que haja ambiência favorável à elaboração de um planejamento compartilhado de longo prazo para esse setor em que o Brasil tem magnitude e deve impor sua liderança no mundo. jun./jul. 2016 - Revista Cafeicultura | 5


Foto: Luiz Roberto Saldanha Rodrigues

Importância da intermitência na secagem do café Adilio Flauzino de Lacerda Filho* alacerda@ufv.br

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ão só internamente, mas, em nível mundial, o consumidor tem se tornado sensível aos cafés especiais, o que tem incrementado o consumo e agregado valor ao produto diferenciado. Este fato leva o cafeicultor à busca e adoção de novas tecnologias em todo o processo de produção. A utilização de novas tecnologias de colheita, preparo e, especialmente, a secagem, tem demandado novos conhecimentos técnicos e operacionais no sentido de preservar as qualidades obtidas no campo, para obter os cafés especiais, além de exigir qualificação profissional para a execução destas operações.

*O autor

Prof. Adilio Flauzino de Lacerda Filho Lacerda Consultoria Ltda Viçosa, MG. Brasil

A secagem do café, se conduzida inadequadamente, pode levar à deterioração do produto, degradando os atributos de qualidade obtidos no campo, resultando em cafés de pior qualidade e, consequentemente, de menor preço. A secagem lenta, e com intermitência no processo, é uma alternativa indicada para se preservar a qualidade do produto, independentemente se pré-processado por via seca ou via úmida. A intermitência no processo de secagem traz vantagens não só para o fruto e sementes de café, mas, também, para sementes e grãos alimentares diversos, com destinação diversificada para a indústria alimentar. Segundo

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Vilela & Peske, citados por Garcia et al. (2004) o intervalo de tempo de equalização ou intermitência, possibilita a redistribuição de umidade no interior das sementes, reduzindo o gradiente hídrico e térmico. Afirmaram que na secagem intermitente é possível aumentar a quantidade de água removida por unidade de tempo, em relação à secagem contínua. Isto é decorrente da velocidade de secagem ser determinada pela velocidade da movimentação da água do interior para a superfície das sementes, depois da remoção da água superficial. O desempenho do sistema é função do período de exposição das sementes ao ar aquecido, da temperatura do ar e do intervalo de repouso, atendendo às características químicas, físicas e biológicas de cada espécie vegetal. A intermitência no processo de secagem consiste em submeter o produto a intervalos subsequentes de repouso, possibilitando que o café natural ou descascado fique sem receber o calor do ar de secagem, em uma câmara apropriada, em intervalos de tempo definidos, durante o processo de secagem. Este procedimento permite que ocorra a migração de água, sob menor tensão, do interior para a superfície dos grãos. Pelo fato desta água ser acumulada na superfície dos grãos, a sua remoção ocorre

na forma de água livre, reduzindo o tempo e o custo de secagem, para a mesma temperatura e vazão de ar aplicada ao processo. Consequentemente, os efeitos do estresse térmico são reduzidos, tais como: rompimento das paredes celulares, menor lixiviação exsudados das células, menor índice de acidez, menor redução de volume do grão, menor tempo e custo de secagem. Rigitano et al. (1964) estudaram a intermitência no processo de secagem de café, demostrando a preocupação destes pesquisadores com os procedimentos operacionais aplicados ao processo, objetivando-se a redução de custo e obtenção de cafés com melhor qualidade. Avaliaram diferentes procedimentos operacionais durante a secagem de café. Na primeira fase experimental, em 1956, trabalharam com café cereja descascado, utilizando secagem mecânica, com temperaturas do ar de 45, 60 e 75 °C. Os períodos de secagem e repouso atenderam, respectivamente, aos seguintes procedimentos: ½ x 1,0 hora; ½ x 2,0 horas; 1,0 x 2,0 horas; 1,0 x 4,0 horas, e a secagem contínua como comparativa. Em uma segunda fase experimental (1961), trabalharam com cafés cereja descascado e natural, com temperatura do ar de secagem de 45; 60 e 75 °C, com tempo de secagem de 1,0; 2,0; 3,0 e 4,0 horas e


Cordeiro (1982) avaliou os efeitos da temperatura do ar de secagem e do tempo de repouso sobre a qualidade, distribuição de umidade e redução no consumo de energia na secagem de café, com meia seca, em secador de leito fixo. Trabalhou com ar de secagem nas temperaturas de 50; 60 e 70 °C, cujo tempo de secagem foi de 9,0; 7,0 e 4,0 horas respectivamente. A vazão de ar utilizada foi de 15,0 m3 de ar min-1 m-2 de piso perfurado. Foram estabelecidos períodos de repouso de 0,0; 6,0 e 12,0 horas. A redução do teor de água foi de 28 para aproximadamente 11,0%(b.u). Concluiu que que o tempo de repouso possibilitou a redução do gradiente de umidade da massa de café, reduziu o tempo de secagem e o consumo de energia, sem que o produto fosse movi-

mentado. Os efeitos sobre a qualidade do café não foram confirmados, considerando-se a baixa qualidade do produto observada no campo, no período em que foi realizado o experimento. Lacerda Filho (1986) trabalhou com a secagem intermitente, em secador de fluxos concorrentes, utilizando café cereja, com meia seca e temperatura do ar de secagem de 90 ºC. Verificou que o consumo de energia por quilograma de água evaporada dos grãos, durante a secagem, foi menor neste sistema, quando comparado com outros secadores, sem prejuízos sobre a qualidade da bebida. Alguns dos resultados observados na qualidade do produto estão apresentados na TABELA-1. Na FIGURA-1A observa-se, no corte do fruto cereja, os círculos demarcados de 01 a 05. Durante o processo de secagem, optando-se pelo processo contínuo, será observado maior teor de água no ponto 1 (centro) em relação ao ponto 5 (superfície). Isto ocorre pelo fato do ar passar continuamente na superfície do fruto e promover, continuamente, a remoção de água. Este fenômeno proporcionará maior redução no tamanho dos capilares por onde flui o vapor d’água, podendo resultar em fissuras e até trincas das sementes de café Além do que, fenômeno proporciona redução no volume das células (Figura 1c) e, consequentemente pode possibilitar a redução de volume dos grãos, o que pode resultar em menor peneira. Além disso, a superfície das sementes estando mais secas que o centro, poderá ficar susceptível à

Fonte: Foto 1c – Atlas de microscopia. Fundação Ezequiel Dias (s. d.). (bit.ly/atlasmicrocafe).

intervalos de repouso estendido até que a massa de café atingisse a temperatura ambiente (30 °C), e a secagem contínua como comparativo. Com base nestas condições experimentais concluíram que: a) a intermitência proporcionou redução no tempo total de secagem, observando-se maior redução de tempo no café descascado; b) para a secagem intermitente, quanto menor a temperatura do ar de secagem, maior foi a redução do tempo total de operação; c) quanto maior o número de intervalos de repouso, menor o tempo total de operação; d) maior tempo por intermitência, no mesmo tratamento, resultou em menor tempo total de secagem; e) a intermitência proporcionou aumento no rendimento operacional do sistema de secagem e f) parcelamentos excessivos em número, pode tornar pouco prático o processo de secagem.

*Figura 1

Ilustração: corte do fruto cereja, verde (a) e seco (b), ilustrando sua aparência e uma vista parcial das células constituintes do grão, obtida por microscopia eletrônica (c).

*Tabela 1

Resultados da análise de café natural, com meia seca em terreiro pavimentado com cimento, processado em secador de lotes, intermitente, de fluxos concorrentes

quebra durante o beneficiamento. No caso de aplicar a intermitência no processo de secagem, durante o intervalo de tempo em que os frutos ou as sementes não estiverem recebendo ar, haverá migração do vapor de água do interior (ponto 1 – Figura 1a) para o ponto 5 (superfície do fruto ou semente). Portanto, com a superfície umedecida, depois do intervalo de repouso, que pode durar entre 04 e 12 horas por intervalo, o ar de secagem irá remover a água superficial das sementes do café, sem causar estresse térmico ao produto, e com menor demanda de energia. Neste caso é possível obter sementes de maior volume depois da secagem. Na Figura 1b observa-se o fruto seco e a distância estabelecida entre a casca as sementes do café. A intermitência de ar quente durante a secagem pode, também, proporcionar menor índice de danos às paredes celulares em função do seu limite de permeabilidade, isto é, quantidade de água que fluirá do interior da célula na unidade de tempo.

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Foto: Marisa HelenaSouza contrera

secador, conforme ilustrado na Figura 2. LITERATURA CONSULTADA

*Figura 2

Croqui: ilustração de um secador intermitente, de lotes (a) e de um sistema de secagem com intermitência (b).

rompimento das paredes celulares pode proporcionar lixiviação de solutos das células, os quais podem ter fundamental importância na qualidade comercial do produto, aumentar o índice acidez, propiciar maior condutividade elétrica, depreciar a bebida, induzir branqueamento, além de outros danos. É importante observar que para o processo de intermi-

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tência, de modo geral, pode ser estabelecida uma relação de 1/3 do tempo residência para a câmara de secagem e 2/3 para a câmara de repouso. É importante esclarecer que esta relação de tempo de residência do produto em abas as câmaras pode ser realizada na estrutura do próprio equipamento ou em silos (tulhas), previamente dimensionados para este fim, posicionado lateralmente ao

Rigitano, A.; Tosello, A.; Sousa, O. F.; Garutti, R. S.; Jorge, J. P. N. Influência do parcelamento na secagem do café. Campinas: Bragantia. Vol. 23, N° 24, p 299322. 1964. (Boletim técnico do Instituto Agronômico do Estado de São Paulo). Cordeiro, J. A. B. Influência da temperatura e do tempo de repouso na secagem de café (Coffea arabica L.) em camada fixa. Viçosa: UFV, 1982. 60p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola. Departamento de Engenharia Agrícola). Universidade Federal de Viçosa). Viçosa, MG: Imprensa Universitária. Lacerda Filho, A. F. Avaliação de diferentes sistemas de secagem e suas influências na qualidade do café (Coffea arabica L.) Viçosa: UFV, 1986. 136p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola. Departamento de Engenharia Agrícola. Universidade Federal de Viçosa). Viçosa, MG: Imprensa Universitária. Garcia, D. C.; Barros, A. C. S. A.; Peske, S. T.; Menezes, N. L. A secagem de sementes. Ciência Rural. Santa Maria, RS. v. 34, n° 2. p. 603-608. 2004. (Revisão bibliográfica). *Publicado originalmente no site Café Point


COLHEITA MECANIZADA DE CAFÉ

M

aior produtor e exportador mundial de café, o Brasil ainda apresenta na mecanização da cafeicultura um ponto de estrangulamento na exploração da cultura. As operações mecanizadas são responsáveis por uma boa parcela do custo de produção, sendo que somente a colheita representa até 40% deste custo, sendo também responsável por elevada demanda de mão de obra. Os avanços recentes nas condições tecnológicas em relação aos maquinários existentes no Brasil permitem suprir a demanda de pequenos, médios e grandes produtores, porém, alguns fatores tais como a escassez de informações, a falta de capacitação e treinamento dos operadores dificultam o acesso dos produtores às tecnologias e máquinas disponíveis. O maior ou o menor emprego da mecanização na cafeicultura brasileira relaciona-se diretamente às características de cada uma das diversas regiões produtoras do país. Desta forma, várias regiões produtoras do Brasil têm investido na mecanização, com destaque para as regiões do cerrado mineiro e baiano, que apresentam topografia mais plana, o que favorece a mecanização agrícola. Por outro lado, produtores das regiões de montanha, como o Sul de Minas Gerais, por exemplo, também têm procurado alternativas para aumentar a mecanização da cafeicultura, principalmente durante a colheita mecanizada. A região do Sul de Minas Gerais é muito conhecida pelo seu relevo montanhoso, característica que dificulta a operação de muitas das máquinas atualmente utilizadas nas lavouras cafe-

eiras e dessa forma, o custo com mão de obra na região acaba sendo superior às demais regiões do país, sendo, portanto, necessário adaptar máquinas de menor porte ou outras técnicas de manejo que minimizem a necessidade de contratação de mão de obra. Independentemente dos problemas regionais, a mecanização é fundamental para que os produtores possam atingir menores custos de produção por saca. Dentre as tecnologias e inovações aplicadas aos sistemas de produção na cafeicultura nesta região, destaca-se o avanço da mecanização da colheita, decorrente da utilização de colhedoras com sistema de auto nivelamento, o que permite que as mesmas operem em áreas com declividade de até 30%, bem como o uso de micro terraços, que possibilita que se possam utilizar colhedoras de menor porte, operando em nível. Esta situação certamente irá permitir que os produtores desta região possam atingir melhores condições econômicas de comercialização da sua produção, pois a derriça mecânica aumenta acentuadamente o volume de café colhido, sendo, portanto, mais uma importante vantagem frente ao processo manual, ainda que possa restar um volume maior de café para ao repasse. No que diz respeito à necessidade do repasse após a derriça mecânica, alguns resultados de pesquisas desenvolvidas pela equipe do LAMMA/UNESP (Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola) têm demonstrado a viabilidade de se realizar, nas regiões de cafeicultura de cerrado, a colheita seletiva, fazendo duas ou três passadas com a colhedora. O uso da mecanização permite a economia com mão de obra, pois uma colhedora de café é capaz de substituir o trabalho de 80 a 100 trabalhadores.

Foto: Ronaldo Vilas Boas Silva

Prof. Dr. Rouverson Pereira da Silva rouverson@fcav.unesp.br Eng. Agron. M. Sc. Tiago de Oliveira Tavares Eng. Agron. M. Sc. Felipe Santinato Eng. Agron. Vantuir de Abulquerque Silva LAMMA - FCAV/UNESP - Jaboticabal

Nas regiões do Cerrado Mineiro e Baiano, onde há a predominância da colheita mecanizada, aliada ao uso da irrigação, os custos de mão de obra representam apenas 9% do custo de produção. Já em regiões montanhosas como o Sul de Minas Gerais, devido às condições topográficas que dificultam a utilização de colhedoras, o custo de mão de obra chega a representar quase 50% do custo de produção. Outro ponto importante em relação à mecanização da colheita diz respeito à elevada variabilidade espacial da produtividade dos cafeeiros, bem como do estádio de maturação dos frutos. Esta variabilidade faz com que em um mesmo talhão sejam encontrados cafeeiros com elevada, moderada e baixa produtividade e com quantidade de frutos verdes, cerejas e secos variáveis. Estes fatores tornam complexa a definição das regulagens da colhedora e, neste contexto, a utilização dos conceitos da Agricultura de Precisão pode ser útil para que se promova a adequada regulagem das máquinas, permitindo o aumento na capacidade de campo operacional e também na redução da desfolha, pois, poderiam ser utilizadas velocidades maiores em algumas situações - elevando a capacidade operacional, e vibrações menores em outras, reduzindo a desfolha.

jun./jul. 2016 - Revista Cafeicultura | 9


REGIÃO DAS MATA MAT CLIMA IDEAL PARA P

Em pleno bioma de Mata Atlântica, na porção leste de Minas Gerais, Na busca pelo reconhecimento da eficiência, transparência e qualida criação de uma nova identidade geográfica dessa área, vinculada à q

Williams P. M. Ferreira1, Gabriela Regina Ferreira2, Thuane K. M. Barbosa3, Marcelo F. Ribeiro4, Elpídio I. F. Filh

F

oi então delimitada uma região nomeada “Matas de Minas”, à qual é formada por 63 municípios produtores de café, sendo a maior parte deles localizada na porção norte da mesorregião geográfica da Zona da Mata mineira e um menor número de municípios localizados na porção sul da mesorregião do Vale do Rio Doce.

de luz solar durante o ano, fazendo com que essa zona apresente temperaturas mais elevadas ao longo do ano do que outras zonas climáticas do planeta. Considerando que o regime térmico de uma região é influenciado pela incidência da radiação solar, já que o aquecimento do ar ocorre a partir do transporte de calor proveniente da superfície terrestre que é aquecida pelos raios solares, as características do relevo acidentado da região das Matas de Minas revela-se como um fator topo climático influente na temperatura reinante na região.

Dentre os fatores ambientais da região destaca-se o clima favorável à produção de cafés de qualidade. As características do clima da região são influenciadas pela localização da região das Matas de Minas, que se encontra na Zona Intertropical e, por isso, recebe grande quantidade Além da influência do dia do ano e 10 | Revista Cafeicultura - jun./jul. 2016


AS DE MINAS TEM TAS PRODUÇÃO DE CAFÉ

, encontra-se uma grande área produtora de cafés de qualidade. ade da cafeicultura praticada na região surgiu a necessidade da qualidade superior do café nela produzido.

ho5, José L. Rufino6

das horas do dia na radiação incidente, a geometria do terreno com diferentes ângulos de exposição das encostas das montanhas na região também influencia no total de radiação incidente na superfície do terreno. A radiação solar que chega à superfície terrestre proveniente de fluxos incidentes devido à radiação direta e difusa é estimada a partir da radiação incidente no topo da atmosfera. Devido ao custo elevado para a manutenção de equipamentos, como os saldos radiômetros, essa grandeza não é comumente medida em muitas estações meteorológicas, sendo comum principalmente em áreas extensas, como a região das

Matas de Minas. A estimativa é realizada a partir do uso de softwares como o ArcGis, que dispõe de uma ferramenta chamada “Solar Radiation” e apresenta um algoritmo que realiza esse cálculo em associação ao uso de Modelos Digitais de Elevação (MDE). No ano de 2016 o solstício de inverno, que é o dia que marca a o início da estação de inverno no Hemisfério Sul, ocorrerá em 20 de junho, e o solstício de verão, que marca o início da estação de verão, ocorrerá em 21 de dezembro. Na região das Matas de Minas a radiação que incidirá no topo da atmosfera nesses dois dias pode ser observada na Figura 1. jun./jul. 2016 - Revista Cafeicultura | 11


a Figura 1.

Radiação solar incidente no dia 20 de junho de 2016, solstício de inverno (a); e no dia 21 de dezembro de 2016, solstício de verão, respectivamente.

b

Pode ser observado que no solstício de inverno (Figura 1a) as áreas que receberão maiores valores de incidência de radiação solar são mais restritas, localizadas nas partes mais altas da região, sendo que os maiores valores deverão variar em torno de 3.300 Wh.m-2 a 4.902 Wh.m2; enquanto que no verão (Figura 1b) as áreas que receberão maior incidência de radiação, apesar de continuarem a ser as de maiores altitudes, serão áreas muito maiores. Nesse caso os maiores valores deverão variar entre 6.400 Wh.m-2 a 7.847 Wh.m-2, ou seja, aproximadamente o dobro da radiação disponível na estação de inverno. A análise da incidência de radiação solar nessas duas datas retratam, de modo aproximado, o comportamento da radiação solar disponível nas estações de inverno e verão na região das Matas de Minas. A localização da região das Matas de Minas na região tropical é bem próxima ao paralelo limite da Zona Intertropical, onde é comum a ocorrência de ampla variação entre as temperaturas

Figura 2.

Relevo da região das Matas de Minas elaborado a partir do SRTM reamostrado para 30 metros no projeto TOPODATA realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE).

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média máxima e média mínima ao longo do ano. Devido ao seu relevo acidentado, essa região também apresenta ampla variação da temperatura do ar ao longo do dia, principalmente na estação do inverno, devido à passagem das massas de ar polares sobre a região. Essas massas contribuem para a caracterização do clima local que, baseado na classificação climáticas de Köppen, destaca-se predominantemente como Cwa definindo o clima regional como ?clima temperado quente?. Assim, a temperatura média do mês mais quente é superior a 22ºC e a temperatura média do mês mais frio, inferior a 18 ºC, sendo que, nesse caso, a época mais seca do ano coincide com o inverno do Hemisfério Sul. Por se tratar de um clima mesotérmico as estações do verão são marcadas por grande volume de chuvas, sendo também o verão a estação do ano em que a nebulosidade é máxima. Por se tratar de região cuja característica principal do relevo são as montanhas, a altitude nas Matas de Minas varia desde 174 até 2.829m, sendo que 78% das áreas da região estão compreendidas entre a altitude de 400 e 1.000m. Abaixo de 400m encontra-se 13% da área e as maiores altitudes, acima de 1.000m - encontradas principalmente nas serras do Brigadeiro e do Caparaó - representam 9% da área total. Tal característica faz com que a altitude média da região seja de 697 metros (Figura 2).

te pelo menos quatro meses é superior a 10oC. Nestas regiões são produzidas, dentre outras culturas, o café, destacando-se a espécie coffea arábica. O café arábica é oriundo de regiões de clima tropical úmido com temperaturas amenas sendo que temperaturas do ar elevadas influenciam no crescimento, nos processos fisiológicos e na produtividade do cafeeiro. Temperaturas elevadas encurtam o ciclo da planta, provocando maturação precoce e comprometendo a qualidade dos grãos. O processo de colheita e a pós-colheita também é antecipada terminando por ocorrer em estação ainda muito quente e úmida. Temperaturas do ar elevadas nos meses de janeiro e fevereiro (Figura 3), na fase de enchimento dos grãos, é prejudicial, pois as temperaturas elevadas quase sempre estão associadas à baixa reserva de água no solo. Temperaturas elevadas podem causar escaldadura nas folhas e comprometer a fotossíntese reduzindo assim a produção de fotoassimilados, o que prejudica o processo de formação de frutos provocando, consequentemente, quebra na produção.

As regiões mais altas nas serras do Caparaó e Brigadeiro atuam como barreiras das correntes dos ventos úmidos que ocorrem nos níveis mais baixos da atmosfera que, ao se elevarem próximo às montanhas, condensam dando origem a formação de nuvens orográficas.

Com base na Figura 3 é possível observar que a distribuição da temperatura média do ar no meses de janeiro e fevereiro ocorre sempre com os maiores valores nos municípios de Muriaé, no sul da região das Matas de Minas, Mutum, na porção nordeste e em Caratinga e Raul Soares, respectivamente ao norte e noroeste da região das Matas de Minas. Os menores valores são alcançados na região montanhosa localizada nas serras do Caparaó, do Brigadeiro, e de São João - essa última localizada em Luisburgo.

Essas nuvens colaboram para o aumento do albedo da região e para a retenção de umidade suficiente nas encostas escarpadas das montanhas, contribuindo para a redução da temperatura do ar e a formação de áreas com microclimas classificados como Cwb, segundo a classificação climática de Köppen, ou seja: clima temperado úmido com inverno seco e verão ameno no qual a temperatura média do mês mais quente é inferior a 22ºC e duran-

O clima no período mais frio do ano torna-se mais tipicamente serrano principalmente durante o período noturno, devido à queda de temperatura que deixa o ar mais denso, favorecendo assim a formação de correntes de ventos que se deslocam nas montanhas na direção morro abaixo e, por isso, podem ser classificados como correntes de ventos catabáticos ou “brisa de montanha”. Essas características térmicas das regiões montanhosas das Matas


de Minas cooperam para que a base das nuvens stratus, formadas próximas às montanhas, cheguem a tocar o solo das montanhas, passando então a serem chamadas de névoa, neblina ou, popularmente, de serração. À medida em que se intensifica a redução noturna da temperatura do ar nos vales entre as montanhas, cujas altitudes médias também são elevadas, aumenta consequentemente a condensação do vapor d´água da massa de ar junto ao solo, favorecendo também a formação da serração nessas áreas de vales entre as montanhas. Após o nascer do sol ocorre o aquecimento da superfície das montanhas nas partes mais elevadas onde a radiação solar direta incide primeiro. O aquecimento das partes mais altas das montanhas contribuem para o aumento da temperatura tornando o ar menos denso e favorecendo assim a formação de correntes de ventos que se deslocam nas montanhas na direção morro acima e, por isso, podem ser classificados como correntes de ventos anabáticos ou “brisa de vale”, que caracterizam o movimento do ar nas regiões montanhosas durante o período diurno. Esses ventos, quando úmidos, contribuem para a ocorrência das chuvas orográficas mais comuns nas montanhas mais altas, contribuindo para que as áreas com maiores altitudes da região apresentem maior volume de chuvas durante o ano. Para a região das Matas de Minas nos meses de fevereiro e março ocorre respectivamente a granação e a maturação dos grãos de café, sendo fundamental um bom volume de chuvas nesses meses para o sucesso da safra. Pode ser observado na Figura 4a que para o mês de fevereiro os maiores volumes de chuva ocorrem na região do município de Caparaó e na porção mais ao sul da região das Matas de Minas, seguindo pela parte mais alta da Serra do Brigadeiro até a altura dos limites municipais entre Araponga, Sericita e Pedra Bonita. Os menores volumes de chuva são alcançados mais ao nordeste e noroeste da região respectivamente nos municípios de Mutum e Raul Soares. No mês

dos mais ao sul da região das Matas de Minas (Figura 5).

a

b

de março (Figura 4b) pode ser observado que os maiores volumes de chuva concentram-se exatamente nas partes mais elevadas na região montanhosa localizada no limite entre os municípios de Simonésia e Manhuaçu, nas serras do Caparaó, do Brigadeiro, e de São João. Na região das Matas de Minas o volume médio anual das chuvas varia entre 1.110mm a 1.819mm, sendo que as áreas mais ao norte e a oeste da região apresentam os menores volumes de chuva. Já os maiores volumes são registrados tanto nas regiões mais elevadas quanto nos municípios localiza-

a

Figura 3.

Valores de temperatura do ar nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro na região das Matas de Minas. (WorldClim, 2016).

Figura 4.

Volume de chuva na região das Matas de Minas (WorldClim, 2016).

b

Figura 5.

Volume médio de chuva que ocorre durante o ano na região das Matas de Minas (WorldClim, 2016).

Por se tratar de clima predominantemente Cwa, o maior volume de chuvas ocorre no verão quando é mais comum a presença das massas de ar tropical atlântica sobre a região das Matas de Minas, associadas aos anticiclones que se formam sobre o oceano Atlântico Sul e, por isso, esses sistemas climáticos deslocam para o continente grandes volumes de ar úmido proveniente do oceano. É nessa estação do ano que também é comum a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) que apresenta localização média nos subtrópicos e está associada a escoamento de ventos da baixa troposfera. Essa extensa faixa de nebulosidade seestende por milhares de quilômetros, com orientação NO/ SE, desde a parte Sul da Amazônia, passando sobre a região das Matas de Minas e chegando até alcançar a parte central do Atlântico Sul. A região das Matas de Minas, devido às características de relevo montanhoso, com altitude média de 697 metros e, principalmente, pela localização na porção leste de Minas Gerais, apresenta clima temperado, com temperaturas amenas em grande parte de sua área; maior incidência de radiação solar nas áreas de maiores altitudes e período bem definido das estações chuvosa e seca, sendo todas essas características climáticas da região favoráveis à prática da cafeicultura para obtenção de cafés de qualidade superior. 1 - Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG UREZM na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais. - williams.ferreira@embrapa.br ou williams.ferreira@epamig.br 2 - Bacharel em Geografia cursando Licenciatura em Geografia na Universidade Federal de Viçosa – Bolsista FAPEMIG/EPAMIG SUDESTE. gabriela.regina@ufv.br 3 - Graduanda em Eng. Agrícola e Ambiental na Universidade Federal de Viçosa – Bolsista FAPEMIG/EPAMIG SUDESTE. thuane.barbosa@yahoo.com.br 4 - Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. - mribeiro@epamig.br 5 - Professor associado no departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, área de atuação: Geoprocessamento elpidio@ufv. br 6 - Engenheiro agrônomo, consultor do Sebrae (MG), que também já atuou como pesquisador na Embrapa Café. jlsrufino@vicosa.ufv.br

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BRASIL EM RISCO FITOSSANITÁRIO COM A LIBERAÇÃO DA IMPORTAÇÃO DE CAFÉ VERDE

O

café perdeu de forma gradativa sua importância nas exportações brasileiras, chegou a representar 70% na década de 20, passando a 50% em 1960 e atualmente representa 6,9% nas exportações do agronegócio brasileiro, sendo o quinto item da pauta de exportações do Brasil. Em contraste as perdas de mercado externo veem ações visando à liberação da importação de café verde de outras origens. Muito se discute da parte comercial, neste artigo vou buscar analisar a parte fitossanitária. Qual a origem das pragas e doenças do café brasileiro? O Bicho Mineiro (Perileucoptera coffeella), “uai”, não é de minas gerais o nome se dá em função da galeria, ou seja, da mina que produz na folha atacada, de origem africana, no Brasil sua presença é relatada a partir de 1851 introduzindo por meio de mudas de café provenientes das Antilhas e da ilha de Bourbon. A Broca-do-café (Hypothenemus hampei), foi registrada pela primeira vez em 1901, na África, os primeiro relatos dela no Brasil são de 1913, com a importação direta de mudas pelos fazendeiros conforme (BERTHET, 1913), sendo que em 1920 já com relatos de danos na produção. Em 1924 é criada uma comissão de combate à praga, originando o Instituto Biológico de São Paulo. A Ferrugem do Cafeeiro (Hemileia vastatrix), também de origem africana, chegou ao Brasil em 1970 se espalhando rapidamente por todas as regiões cafeeiras. Segundo o

Antônio Sérgio Souza*

pesquisado Laercio Zambolim, a queda de produção chega a 35% nas regiões onde o clima favorece a doença. O que ainda temos a temer? Abaixo algumas das doenças que atacam o café, em outros países, que ainda não chegaram e esperamos que nunca cheguem ao Brasil. Do Peru temos a doença fúngica Monilíase do Cacaueiro (Moniliophthora roreri) que também ataca café e cupuaçu. Apresentando grande importância econômica, pois além de já ter provocado perdas na produção mundial de cacau em aproximadamente 30 mil toneladas. Embora ainda não tenha sido constatada em território brasileiro, a Monilíase do cacaueiro é encontrada em 11 países da América Tropical, sendo que alguns são fronteiriços com o Brasil como, o Peru, Colômbia e Venezuela. Da África a doença Coffee Berry Disease (CBD), causado pelo fungo (Colletotrichum Kahawae), que apodrece os frutos de café arábica, levando a perdas que atinge 80% da produção. Identificado em 1922 no oeste do Quênia, perto da fronteira com Uganda, se espalhou para todas as regiões de produção de Coffea arabica da África. Traqueimicose ou murcha-do-cafeeiro (Coffea Wilt Disease – CWD) Notificada em 1927 na República Centro-Africana em Coffea excelsa, 1937 e 1939, a doença disseminou-se no Coffea canephora e Coffea liberica, nas plantações de Camarões, Guiné, Costa do Marfim e República Democrática do Congo, onde mais de 40% das plantações foram infectadas.

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antonio .sergio@ufv.br

*Coffee berry disease – CBD

são lesões negras deprimidas, que podem ocorrer em qualquer parte do fruto,

*Black coffee twig borer

broca que ataca os galhos do cafeeiro, se espelha muito rapido.

*Coffee wilt disease CWD plantas inteiras secas, pode perder toda a lavoura.

*Mancha americana

são lesões negras deprimidas, que podem ocorrer em qualquer parte do fruto

*O autor

é graduando em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa Campus Rio Paranaíba


ERROS COMUNS QUE ESTAMOS COMETENDO NO CONTROLE DAS PRAGAS DO CAFÉ

Felipe Santinato* fpsantinato@hotmail.com (19) 9 8244-7600

N

as ultimas safras tem se observado em todo o Brasil dificuldades no controle de algumas pragas do café. Tudo bem que houve a perda do Endossulfan para o controle da broca-do-café, sendo um fator fundamental para a perda, de forma geral, da eficiência do controle desta praga. Mas o que temos percebido é que pecamos em vários outros pontos, promovendo controles poucos eficientes, desequilíbrios, prejuízos e muitos comentários sem fundamento neste assunto. Primeiramente a forma como avaliamos as pragas, broca-do-café e bicho-mineiro, é na maioria das propriedades, errônea, ou ainda, realizada por qualquer pessoa, sem critérios, metodologias e qualquer treinamento. Em segundo lugar, a gestão da informação. Em muitas Fazendas se tem a planilha de infestações mas elas não é utilizada corretamente, serve apenas para cumprir tabela. Por fim, as recomendações de controle, que muitas vezes são decididas apenas por preço, gosto, ou qualquer outra coisa,

sem parar para pensar o que cada produto faz e como melhor posiciona-lo.

amostral, sendo 50 de cada lado (não precisa atravessar o cafeeiro, apenas coletar das cinco plantas do lado oposto em que esta, facilita!), no terço médio. Nessas folhas são contabilizadas, folhas minadas, larvas vivas e pupas.

Nossa equipe tem seguido uma metodologia fácil e prática, e em muitos casos, aliada à tecnologia da Agricultura de Precisão. Dessa forma, o serviço de avaliação tem rendido mais e gerado dados mais palpáveis e úteis para o gestor da propriedade cafeeira e seus consultores e técnicos. No caso da Agricultura de Precisão delimitamos o perímetro da área e marcamos os pontos automaticamente, sendo o ideal 1 ponto de avaliação para cada hectare. Quando o cafeicultor não dispõe dessa tecnologia fazemos essa marcação manualmente, organizando as linhas que serão avaliadas, sem que haja a necessidade de Zigue-Zagues (difíceis demais na cultura do café). Cada ponto, é composto por 10 plantas, sendo 5 de cada lado. Elas serão sempre avaliadas, de forma não destrutiva, servindo como ponto de comparação entre as avaliações ao longo do tempo. Nesse quadro, fazemos avaliações de praticamente tudo, incluindo pragas, doenças, produtividade, maturação, nematoides e etc. Aqui vamos nos ater somente à bicho-mineiro e broca-do-café. Apesar de haverem várias metodologias, de diversas instituições de pesquisas, todas elas muito boas, para esse tipo de avaliação, mais precisa, e com a necessidade de ter o dados prontamente disponíveis na mesa do gestor da lavoura, fazemos algo mais simplificado. Para bicho-bicho mineiro, avaliamos 100 folhas por ponto

Não contamos número de lesões (minas) por folhas nem número de larvas, o que interessa é saber se estão lá e se estão vivas!, ou seja, se o ciclo da praga esta ocorrendo e com qual intensidade. Em lavouras situadas em locais de pressão maior, Oeste da Bahia e Norte de Minas, por exemplo, fazemos a avaliação concentrada não somente no terço médio, mas 50% das folhas avaliadas no terço superior, onde de fato a praga prefere começar. Isso pois, qualquer vacilo no monitoramento pode refletir no insucesso do controle fitossanitário.

*O autor

e´ enguenheiro agronomo com mestrado em produção vegetal pela UFV. Doutorando na UNESP Jaboticabal. Diretor Santinato & Santinato Cafés Ltda

Folhas minadas, turgidas, indicam que a praga esta no local (secas, abertas não são contabilizadas, pois ali o problema já passou), pupas indicam que em breve teremos uma revoada de mariposas e essas ovopositarão e elevarão a pressão da praga, da mesma forma, a presença de larvas, que além disso afirma que os produtos, no caso, fisiológicos, sistêmicos, penetrantes, não estão fazendo efeito. Para a broca-do-café avaliamos 150 frutos em cada ponto amostral, sendo coletados portanto, aproximadamente 15 por planta. O mais importante desta coleta é não coletar muitos frutos de uma vez (por pegada), isso pode sub

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estimar ou superestimar demasiadamente a avaliação, e sabemos que qualquer % a mais ou a menos significa muitas alterações no manejo fitossanitário desta praga. Os frutos devem ser coletados 33% em cada terço da planta, já que existem lavouras que a broca se inicia no terço inferior, por conta das condições mais adequadas à ela, umidade, temperatura amena, sombreamento e etc. No entanto existem lavouras que a broca se inicia em cima, isso pois em cima o amadurecimento dos frutos é mais acelerado, de forma que estes alcançam o estágio chumbão mais cedo, estágio em que a broca inicia o período de transito. Nos frutos avaliados, separamos os brocados (porcentagem de frutos brocados) e posteriormente os abrimos para verificar a presença da broca viva. É interessante fazer uma subdivisão

De posse desses dados, quando aliado à Agricultura de Precisão, podemos nos nortear como quando pulverizar, o que pulverizar e por onde pulverizar, Figura 1. Nesta figura notamos que a incidência é muito maior no centro do pivô, neste caso. Isso pois ali provavelmente a distribuição hídrica afetou a população da praga. Sabemos que no centro dos pivôs o volume de água aplicado por unidade de tempo é menor do que no perímetro, em que temos uma verdadeira “chuva”. Nesse caso, na Fazenda que demora 9 dias para pulverizar todo o pivô, o inicio do controle deve ser no interior do mesmo e posteriormente nas bordas. Caso contrário a população que já era elevada, em nove dias, se multiplicaria ainda mais. Outra conclusão que tiramos desta imagem é que se aplicarmos algum produto fisiológico, dificilmente o controle seria realizado com satisfação. Isso pois produtos desse tipo demoram mais tempo para reagir, e com isso a população continuaria se multiplicando, levando a crer que o produto não teve eficiência, o que é mentira, na verdade ele foi mal posicionado nesta situação. O que deve ser feito é baixar a população com pulverizações de choque para posteriormente entrar com fisiológicos.

Figura 1

Incidência de bicho mineiro em Pivô de café (porcentagem de folhasminadas com larvas vivas)

de frutos com brocas vivas que indica o real problema, além de mostrar a eficácia dos produtos que esta utilizando.

nos frutos brocados, sendo os que tem perfuração apenas externa e os que tem perfuração até a semente. Isso pois, se a perfuração é apenas externa, indica que a broca ainda não esta iniciando sua ovoposição, bem como se alojando no interior dos frutos (controle difícil). Ela esta perfurando, e revoando para outros frutos, perfurando novamente e assim por diante, pois a umidade do fruto não esta adequada para sua ovoposição. Tal fato indica que o momento da aplicação é o mais ideal possível e que produtos de choque, de contato, funcionam bem, já que ela esta em revoada e ou externamente ao fruto. No entanto o parâmetro principal é se a porcentagem

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Isto é o que chamamos de gestão da informação. O que esses dados nos dizem? Como lê-los e interpreta-los? A avaliação exigiu um trabalho árduo de seu funcionário, e exigiu custo na sua folha de pagamento, então vamos tirar o melhor proveito dela possível e não apenas engavetar a planilha como muitas propriedades fazem. Por fim aqui vamos as recomendações. Para bicho mineiro temos que nos ater ao grau das infestações. Quando se faz um trabalho preventivo, de inseticidas de solo, ou ainda aplicação de produtos fisiológicos com elevado residual temos que ir monitorando a evolução da praga, e se caso ela se eleve a ponto de comprometer o tratamento devemos entrar com complementações. Por isso é sempre importante termos pelo menos três produtos guardados

no barracão para o controle desta praga. Ter uma carta na manga é fundamental, ainda mais em grandes fazendas que seguem normas coorporativas que demoram a colocar o produto prontamente disponível para o gestor da lavoura. O principal nessa situação é saber como aplicar esses produtos. Geralmente o pH da calda pulverizada ou aplicada via drench é baixo, e geralmente a água que utilizamos para compor o volume de calda, muitas vezes é obtida de poços artesianos que tendem a ter o pH elevado. Com isso a desconformidade nos pH, fazendo com que o produto perca eficiência. Essa perda de eficiência pode tirar a cereja do bolo de sua lavoura e comprometer sua produção. Aquele lucro do final do ano? Pode ter sido perdido por esse erro facilmente corrigido. Basta avaliar de vez em quando o pH da água com um equipamento e adicionar a calda um redutor de pH (existem várias marcar, ou ainda ácidos fosfóricos, ácidos muriáticos, ureia, sulfato de amônio) e etc. Outro ponto importante é o preparo do terreno para a aplicação via drench. É extremamente necessário soprar o material vegetal presente sob a saia dos cafeeiros, limpando-a para posteriormente fazer a aplicação. Caso contrário o produto é depositado no material vegetal e se degrada antes mesmo de chegar ao solo, perdendo bastante eficiência. Depois vem falar que o produto perdeu eficiência! Outro ponto, é com relação às aplicações dos produtos fisiológicos. Todos eles por circularem nas folhas requerem umidade, turgidez, e por isso sua aplicação em momentos climáticos secos é complicada não havendo eficiência. Deve-se aplicar quando a capacidade de campo do solo estiver cheia, após boas chuvas em café de sequeiro e em muitas áreas de gotejo, ou ainda após a irrigação normal, no caso do pivô LEPA. Ou seja, ser irrigado, mas com gotejo, muitas vezes não teremos a turgidez necessária para a correta aplicação desta linha de produtos. Quando estamos lidando com uma área amplamente infestada, com elevadas porcentagens de larvas vivas, pupas, e revoadas constantes de mariposas preci-


Nesse caso, é aonde encontramos os maiores erros nas recomendações! Comumente se aplica um ou dois produtos misturados, têm-se um efeito, curto, devendo aplicar novamente, então aplica-se novamente os mesmos, e assim por diante. Ao fazer isso estamos selecionando populações resistentes de bicho-mineiro, sobrevivendo apenas os insetos mais resistentes à tais princípios ativos. Alguns trabalhos evidenciam que mesmo elevando a dose múltiplas vezes, para controlar a população resistente é necessário trocar o modo de ação do produto (se atua no sistema nervoso ou em outros sistemas do inseto), caso contrário a aplicação será em vão. Para tanto temos, uma lista com 87 produtos registrados para bicho mineiro, sempre devendo rotacionar os produtos com modos de ação diferentes, JAMAIS repetindo. De preferencia usar um apenas uma vez no ano. Algumas outras estrátegias de manejo tem efeito coadjuvante

Foto: Felipe Santinato

samos adotar uma estratégia, praticamente militar. Devemos quebrar o ciclo da praga, duas vezes em alguns casos. Isso se faz aplicando produtos específicos para determinado estágio da praga. Por exemplo, aplicação de Ovicida (ex: Cartap) para os ovos, aplicação de Organofosforado ou Piretróide para mariposas (ex: vários), ou Danimen, que tem ação em pupas também. Só após a redução abrupta da população de mariposas é que deve-se entrar com produtos fisiológicos, de efeito mais elaborado e duração de controle maior. Em alguns casos são necessárias várias pulverizações destes quebradores de ciclo.

no controle do bicho-mineiro mas podem ser implementadas. Elevar o volume de calda aplicado, para aumentar o contato com as mariposas. Em algumas lavouras estamos usando 600 L ou mais com sucesso, dependendo do porte, ficando mais difícil para elas se esconderem no mato ou em outro lugar. Soprar o material vegetal presente sob a saia dos cafeeiros, para o meio da rua e posteriormente trincha-lo é interessante pois reduz a pressão do bicho mineiro, pois estraçalha as pupas. Para broca temos os seguintes cenários: A infestação de broca, estando pouco ou muito elevada (frutos brocadas) mas com a característica de que as perfurações estão somente externas: Aplicação imediata de produtos de choque, contato, preferencialmente com adjuvantes (óleos minerais não!). Infestação de broca com perfurações no interior da semente: Produtos de choque, contato acrescidos de desalojante (aumentam a eficácia). Esses tratamentos tem eficiência satisfatória em baixas pressões,

*Na foto

uso de metodologia fácil e prática, e em muitos casos, aliada à tecnologia da Agricultura de Precisão, gerado dados mais palpáveis e úteis para o gestor da propriedade cafeeira e seus consultores e técnicos.

e requerem mais de duas aplicações geralmente. Como foi dito anteriormente, é importante em cada uma delas trocar o principio ativo (modo de ação), para evitar seleção de população resistente. Se por acaso, temos essa segunda situação, e em uma lavoura com produtividade superior a 35 ou 40 sacas de café, ou se trabalhamos com café especiais, devemos partir para produtos com ação mais elaborada, seletivos e etc. como os novos lançados no mercado. A broca-do-café é condicionada às pressões das safras anteriores, da própria Fazenda e as do vizinho. A colheita bem feita é essencial para reduzir sua pressão e o recolhimento também. Caso não seja viável o recolhimento do café de chão em função da pequena carga, ao menos soprar o café e os materiais vegetais presentes na copa dos cafeeiros, para o centro da rua e posteriormente trincha-los.

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CAFEZINHO E COLD BREWE: A ELASTICIDADE DO TEMPO. cia que é devida ao princípio de Solubilidade, que é a facilidade com que um elemento se dissolve em outro. Por exemplo, o sal de cozinha se dissolve com maior facilidade em água do que o açúcar refinado; logo, pode-se afirmar que o sal de cozinha é mais solúvel que o açúcar refinado.

Ensei Neto* cafeotech@uol.com.br

N

o nosso mundo, as reações químicas e bioquímicas são regidas por leis científicas que relacionam algumas condições fundamentais, tais como a Pressão, a Temperatura e o Tempo decorrente. Por exemplo, o Tempo decorrente num processo de Extração mantém uma relação inversamente proporcional à Pressão, isto é, se a Pressão for maior, o Tempo de Extração fica compreensivelmente menor. A relativização do Tempo em relação à Temperatura é diferente, pois sua relação é diretamente proporcional. Uma das Leis da Físico Química diz que a Velocidade de Reação pode dobrar a cada incremento de 10oC no sistema, pois o aumento da temperatura do sistema promove maior eficiência do processo.

*O autor

é coffee hunter, mestre de torra e especialisra em educação sensorial.

A Extração do Café pode ter duas vias distintas, a partir desta perspectiva: a primeira com água nas temperaturas elevadas, quase ferventes, em torno de 93oC, e outra que emprega a água em temperatura ambiente, aproximadamente a 25oC. Para facilitar o raciocínio, lembremos que um serviço de café, independente do modo de extração, obedece a uma sequên-

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Depois de torrado, o grão de café ainda apresenta uma enorme quantidade de substâncias entre os grupos conhecidos como Voláteis e Não Voláteis, resultado do rearranjo molecular promovido pelas Reações de Maillard e de Pirólise. Por simplificação, podemos considerar 4 grandes grupos como majoritários dada sua maior presença (ou concentração): óleos, ácidos orgânicos, açúcares e compostos clorogênicos. Eventualmente moléculas de substâncias que dão aromas/ sabores devem ser consideradas e, no caso, acabam se consorciando com os ácidos orgânicos. Num clássico processo de Percolação (Coador de Filtro de Papel) como o Melitta ou Hario, seguem a seguinte ordem simplificada de extração, baseada na Solubilidade em Água: primeiramente os Ácidos Orgânicos (e eventuais moléculas de aroma), seguidos dos Açúcares e, finalmente, os Compostos Clorogênicos (como a Cafeína). Naturalmente, os Óleos ficam retidos no filtro de papel. É possível verificar que a cada momento um determinado grupo de substâncias está sendo extraída majoritariamente, a partir de sua capacidade de se combinar com a Água, sendo possível separar as frações ao longo do tempo. Sabendo-se que o tempo médio de um processo de Percolação fica em torno de 4 minutos, para um litro de café preparado, o primeiro grupo é solubilizado desde o primeiro contato com a água até entre 30 e 45 segundos; enquanto que o segundo grupo, o dos Açúcares, tem sua extra-

ção majoritária a partir desse momento até por volta de 2 minutos e 30 segundos a 3 minutos. O restante acaba sendo reservado aos Compostos Clorogênicos, que segue até o final do processo. Ao se provar as frações separadamente fica evidente sensorialmente a presença de cada grupo respectivamente No caso do Espresso o processo é exatamente o mesmo, devendo se levar em consideração apenas o menor tempo de extração devido à elevada pressão do sistema (equivalente a 9 atmosferas). Nos últimos anos um serviço que vem ganhando adeptos é o conhecido por Cold Brewe, que é a extração empregando água em temperatura ambiente 22oC a 25oC ou menos. Com uma temperatura muito mais baixa do que numa extração a 93oC (ou algo como 70oC de diferença!), a partir da lei da Físico Química que mencionei no início do artigo, é esperado que o processo se alongue significativamente. Se a cada 10oC a velocidade de processo duplica, podemos, por aproximação, considerar que com 70oC passemos a ter uma velocidade que pode ser representada por 2 elevado a 7a potencia, que resulta em 128. Se numa Percolação tradicional leva-se 4 minutos, seu correspondente em extração Cold Brewe levaria algo como 8 horas 32 minutos [= (128 x 4)/60]. Certamente o resultado sensorial não será o mesmo, uma vez que, mesmo com um tempo de extração extremamente maior, a solubilidade das substâncias na água sofrem alterações. É por isso que um café preparado por este método tem como resultado uma bebida pouco expressiva, com menor acidez e doçura, praticamente sem o amargor típico da família da Cafeína.




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