Revista Cafeicultura 2014 nº 14 - Região do Cerrado Mineiro

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om efeitos desatadores o ano de 2014 iniciou com um período de forte seca que afetou a cafeicultura brasileira. E segundo especialistas essa seca ficará marcada na nossa geração de cafeicultores, como o pior evento climático já ocorrido. E deverá comprometer as safras de café até 2016, conforme vemos o relato do Professor Rena. O Professor Paulo Henrique Leme analisa o levantamento anual do Consumo Interno de Café da ABIC que apontou uma queda no consumo interno. Em contrata partida o consultor Jorge Kasai, especialista no mercado de cafeterias gourmet, analisa que o mercado de cafés finos veio para ficar. Na terceira onda do consumo vemos que os últimos anos, um novo perfil de consumo do café surgiu. Trata-se de um consumo exigente e ávido por conhecer a origem e todo o processo produtivo pelo qual passa o café. O ano de 2014 chegou com boas notícias para a Região do Cerrado Mineiro que se tornou a primeira região cafeeira do Brasil a conquistar a Denominação de Origem, estágio máximo de controle de Origem e Qualidade que uma região produtora pode conquistar, concedido pelo INPI. Aproveitando a conquista a Revista Cafeicultura aproveitou para entrevistar dois dos envolvidos nesta conquista que são o Presidente da Federação do cafeicultores do Cerrado, Francisco Sérgio de Assis que acaba de ser reeleito para mais um mandato até 2017 e também entrevistamos o Analista do Sebrae na Região do Cerrado Mineiro, Marcos Alves, que nos falou sobre a atuação da entidade na Região e os planos para o futuro. O Coffee Hunter Ensei Neto escreve neste edição uma matéria especial sobre os desafios da produção do café que por ser um Produto de Território, sua bebida é resultado direto da influência de sua Localização (que leva em conta a Latitude, a Altitude e Modelo de Exposição ao Sol onde a lavoura está plantada), sua Botânica (porque cada variedade, devido à sua carga genética, tem um modo particular de, digamos, trabalhar...) e o Manejo (que são as técnicas e tecnologias empregadas pelo produtor). Saudações cafeeiras e boa leitura !

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Prejuízos

10 Entrevista

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Estiagem

12 Cerrado

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Marketing

Seca provoca prejuízos assustadores para cafeicultura

Por Professor Alemar Rena

Por Paulo Henrique Leme

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Cafés Especiais

Por Jorge Liniti Kasai

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Terceira Onda

Por Moacir Aga Neto

Francisco Sérgio de Assis

A primeira região cafeeira no Brasil a conquistar a Denominação de Origem.

14 Entrevista

Marcos Alves Analista Sebrae

15 26º SCAA Lançamento DO

16 Desafios

Por Ensei Neto

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Prejuízos Assustadores Armando Matielli *

armando@matielli.com

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Aplicar / Facebook

*O autor

é Cafeicultor, Engenheiro Agronomo com MBA em Agronegócio pela FGV e édiretor da SINCAL

Figura 1

a vindoura. A Safra de 2015/2016 com a florada prevista, para setembro / outubro do ano vigente, ocorrerá em um ambiente de extrema secura com consequências previsíveis em relação ao percentual de quebra para 2015/2016. A secura do ar aliado à secura do solo obrigará a desidratação dos tecidos e ocorrerá uma violenta disputa entre os órgãos da planta no encalço da minguada disponibilidade de água e de substâncias nutricionais. Nesta briga fisiológica vencerão aqueles órgãos munidos de maior força de sucção osmótica, sendo que folhas jovens roubam nutrientes e compostos das folhas mais velhas. Os mais prejudicados serão os botões florais e frutos pequenos (chumbinhos) que na maioria abortam. Pouca água, pouca fotossíntese e cessando a transpiração. Não vingarão as floradas e originarão um grande numero de grãos chochos que é muito comum em anos como tal. Ano seco, planta debilitada, solo seco, vegetação seca, recursos hídricos pobres e, o cafeei-

eca lambe tudo pela frente. É crescimento dos ramos plagiotrómais nociva que uma geada, picos, ortotrópicos e do próprio principalmente nessa época sistema radicular. Inibindo o desendo ano. A seca corre entre os volvimento o que interferem diretavales, nas planícies, nos planaltos, mente na queda de produção. nos grotões, nas montanhas, nas CITOCININA: É o horencostas, nos sopés, nos topos, nos mônio responsável pela divisão cumes, ou seja, não escolhe cantos celular. Normalmente o sistema nem recantos. A geada ocorre em radicular produz a citocinina que é locais específicos. transportada pelo xilema, levando Essa seca ficará marcada para todos os órgãos da planta. Nos na nossa geração de cafeicultores, frutos, no caso do café, estimula a como o pior evento climático já divisão celular e o crescimento. A ocorrido. Ainda, os reflexos virão Citocinina atua em conjunto com a nos anos vindouros como: Auxina, sendo responsáveis pela di A diminuição de hormô- visão e alongamento celular simulnios e compostos que impelem taneamente e com isso, formam-se diversos ângulos fisiológicos do ca- folhas, raízes, flores, frutos e é resfeeiro; Queda na produção de Car- ponsável pela mobilização dos nuboidratos; Queda na produção de trientes. A baixa produção de Citoauxinas e citocininas que passare- cinina diminui o crescimento para mos a descrever abaixo; Inibição da as principais fontes de dreno dos conversão de nutrientes em massas frutos dos cafeeiros. produtivas e de órgãos de sobrevivência; Estrangulamento do siste- “hormônios vegetais são fundamentais na produtividade do cafeeiro ma radicular. Atrasando o próximo e são inibidos pela seca com fechamento dos estômatos” ciclo produtivo para 2016/2017, pois, terá que recuperar o sistema Portanto, os hormônios ro procurará se proteger, fechando radicular e a posteriori as partes ve- vegetais, tanto a Auxina e a Citoci- os estômatos das folhas para não getativas como as ramas plagiotró- nina são fundamentais no processo perder mais água e a planta deixa picos, que são os produtivos, onde produtivo do cafeeiro e são inibidos de receber gás carbônico que é um originam as gemas florais na inter- pela seca em decorrência a menor elemento primordial a elaboração secção do par de folhas com o ramo fotossíntese e fechamento dos estô- da seiva e consequentemente predonde originarão flores e rosetas. judicará a fotossíntese. Esse será o matos. AUXINAS: Hormônios Para elucidar o exposto cenário na próxima florada (set/out responsáveis pelo alongamento das passamos na Figura 1 onde obser- vindouro) o que levará a prejuízos células. São normalmente produ- va-se que dentro do ano civil, temos expressivos, com grande probabilizidos pelos meristemas. Em con- na média histórica, 944 mm e nesse dade de perdermos acima de 50% dições de seca como estamos atra- ano teremos uma somatória de 418, da produção de 2015/2016. Além vessando, agora, ocorre uma baixa ou seja, 526 mm a menor no índi- disso, as gemas florais começam produção de auxinas, inibindo o ce pluviométrico. Com esse índice a crescer e inicia a diferenciação pluviométrico de somente 418 mm quando paralisa ou diminui o deaté agosto, torna-se praticamen- senvolvimento vegetativo. O sensacionalismo passa te, impossível a produção cafeeira (vide argumentos no decorrer no longe da técnica. Quando um dos fatores expostos é insuficiente, os artigo). Comparando esse ano prejuízos são inevitáveis e catastrócom a média histórica, temos 601 ficos. Nesse caso, relatado, temos ml de chuvas a menor. Representa a 601 milímetros de água a menor média do cinturão cafeeiro e próxi- que a normalidade, ou seja, 60 cm mo dos levantamentos do PROCA- de uma coluna de água cobrindo totalmente o solo em toda sua exFÉ (MAPA). Esse regime hídrico aci- tensão. Drástico! ma exposto demonstra a catástrofe climática para a safra atual, como

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Estiagem e calor podem afetar safras até 2016

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estiagem e as altas temperaturas que surpreenderam as lavouras de café no início do ano foram alvos de discussão em palestra realizada na Cooxupé, no último dia 28, com a presença do agrônomo e professor Alemar Braga Rena. O evento aconteceu no auditório da cooperativa, reunindo técnicos, agrônomos e, também, produtores. Um dos pontos da discussão foi o comprometimento da safra de 2014. Segundo o Professor Rena, a produção brasileira de café esperada para este ano seria cerca de 50 milhões de sacas, mas a falta de chuva aliada à alta temperatura comprometeu a produção estimada. Questionado sobre as próximas safras, o especialista afirma que no momento é difícil prever, “mas a perda será grande também”, enfatiza. Lavouras do Sul de Minas, da Zona da Mata mineira, do Cerrado Mineiro e da região de Franca, segundo o Prof. Rena, foram bastante atingidas por conta da situação climática. “No Sul de Minas algumas lavouras estão até bonitas, mas afetadas. Parte das lavouras do Espírito Santo e da Bahia também estão com problemas. Em suma, todo o parque cafeeiro do Brasil foi, de certa forma, afetado”, pontua. De acordo com o especialista, o que mais percebemos são frutos com mau desenvolvimento do endosperma, ou seja, a má formação da semente, do grão do café. “Trata-se do pior efeito da seca e da alta temperatura”, aponta. Rena ainda complementa os efeitos gerados pelo clima. “Eu diria que neste ano a temperatura (radiações infravermelhas) e as radiações ultravioletas tiveram um efeito muito grande, determinando fortes inibições (foto-inibições) e ações degenerativas (foto-oxidações) do sistema fotossintético. A cada 11 anos, o sol entra em erupção su-

perficial emitindo massas coronais, das quais somos protegidos, até certo ponto, pela magnetosfera. Este ano, por alguma razão, esse pico está entre os maiores em décadas. Fica até difícil dizer o que foi mais prejudicial às plantas, se foram as radiações eletromagnéticas, as temperaturas muito altas ou sua consequência, a seca”, completa. Especialista em fisiologia vegetal, Prof. Rena também apontou as consequências geradas pelo calor excessivo e pela estiagem ao sistema radicular das plantações. A morte do sistema radicular, ou seja, os danos nas raízes das plantações cafeeiras é o principal motivo que também afetará as próximas duas safras, conforme Rena. “Se não for por demais afetada, a parte aérea acaba voltando a brotar bem (efeito pós-traumático), mas o sistema radicular é lento. Mesmo se a parte aérea tiver brotando bem, o sistema radicular fica para trás quando há deficiência de energia. Ele recebe por último, pois é o dreno ou importador mais fraco do cafeeiro. Infelizmente, o sistema radicular é algo como o cérebro do vegetal e o que comanda boa parcela das atividades fisiológicas da parte aérea, especialmente o equilíbrio hormonal. Tanto é que se essa planta em 2016 estiver aparentemente recuperada e possuir boa carga, caso haja nova adversidade biótica ou abiótica, parecida com a que vivemos no início deste ano, as consequências poderão também ser graves”, prevê o palestrante. O especialista ainda alerta para outra consequência da estiagem e da alta temperatura: o aumento da bienalidade. “A planta que sofrer morte em seu sistema radicular estrutural dificilmente será normal outra vez. No entanto, plantas jovens, de até 4 ou 5 anos, poderão se recuperar bastante. Porém, qualquer ameaça futura de desvio do clima comprometerá as lavouras adultas ainda mais”, declara Rena, apontando que essas alterações climáticas

Cocatrel / Divulgação

Condições das lavouras afetadas pela falta de chuva e altas temperaturas foram debatidas em palestra na Cooxupé com a presença do Professor Alemar Rena *Foto

diretor comercial da Cocatrel Nivaldo Mello, demonstra como será a safra deste ano para os cafeicultores de região de Três Pontas. Os grãos boiando são os mal granados e chochos, que acabam não dando o café de verdade (sai café apenas escolha). Os testes nas lavouras da região de Três Pontas apresentaram 85% de grãos chochos.

também podem gerar outra mudança na cafeicultura: a bienalidade dando lugar à trienalidade de produção. Questionado sobre possíveis alternativas para os cafeicultores tentarem reduzir os prejuízos em futuras lavouras, Rena indicou o gesso como uma forma de prevenção. “Durante o plantio é adicionar gesso à cova. Foi um experimento feito pela Epamig em São Sebastião do Paraíso e em Patrocínio na década de 70 e que terminou nos anos 80. Sem calcário, as raízes das plantas chegaram a 30 cm. Com calcário, de 60 a 70 cm. Já com o gesso (sulfato de cálcio), as raízes atingiram 2 metros de profundidade” revela o especialista, alertando que essa medida não se trata de irrigação branca, que também parece ser uma boa alternativa. Rena ainda complementa: “na hipótese de chover bem até o período da colheita e a temperatura não cair muito, as plantas que não sofreram em demasia poderão ainda crescer 1,5 a 2,0 nós. Mas, chover significa salvar o que se tem e não o que já foi comprometido em 2014. Essa opinião é também compartilhada por outros especialistas”, conclui. Com informações da Assessoria de Imprensa Cooxupé.

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Reviravolta no marketing do café brasileiro

Paulo Henrique Leme * phleme@dae.ufla.br

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*O autor

é Professor na Universidade Federal de Lavras.Consultor em Marketing estratégico no Agronegócio, especializado em café. Realiza palestras e estudos sobre marketing, estratégia, café, certificações,web 2.0, origem e indicações geográficas.

ABIC divulgou no último dia 17/02/2014, o seu levantamento anual do Consumo Interno de Café. E o alerta foi aceso. Ao contrário dos últimos anos, onde assistimos um forte crescimento do consumo interno, o resultado foi uma queda. O total consumido segundo a pesquisa foi de 20,08 milhões de sacas em 2013, contra 20,33 milhões de sacas em 2012. Um decréscimo de 1,23%. O crescimento do mercado interno brasileiro tem sido responsável no Brasil por literalmente segurar os preços do café. Sem ele, as últimas crises de preços teriam sido muito piores. O consumo doméstico é responsável por absorver grande parte do produto não exportada, em termos percentuais, 40% do café produzido no Brasil em 2013 foi consumido pelos brasileiros. As razões para este fato não são simples e merecem reflexão. Como não houve nenhuma mudança aparente na forma de cálculo, e sabendo que a tendência era de alta e constante, devemos olhar para duas questões: a questão macroeconômica, e o comportamento do consumidor. A economia brasileira passa por um período de instabilidade, com taxa de inflação preocupante e um recuo no consumo das famílias. Motivos mais do que suficientes para cortar supérfluos. O problema é que o café não entra nessa lista. Pelo contrário, seu consumo cresceu mesmo em outros momentos turbulentos de nossa economia. E a razão para este crescimento foi o investimento em qualidade e a explosão do consumo de café fora do lar. Uma das razões apontadas pela ABIC para a queda do consumo faz todo sentido. A concorrência com novos produ-

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tos, de sucos a energéticos, gelados e saborosos, é uma ameaça no café da manhã. Praticidade e conveniência são as palavras-chave nesse mercado da primeira refeição do dia. Outro ponto importante é que o consumo de café no mundo está crescendo não em sua forma pura, ou seja, o nosso “pretinho básico”, café puro, não tem ganhado novos adeptos. Por isso se ilude quem analisa o mercado pelos dados macros, é preciso ir mais a fundo para revelar pontos importantes. O consumo de café cresce com o café fazendo parte como ingrediente de outras bebidas, quentes e frias. O café é um detalhe nestes produtos. Investir na qualidade do café consumido pelos brasileiros será ponto fundamental nas futuras estratégias de marketing. E aí mora um grande perigo. O conceito de qualidade do café não é tão simples como se imagina, e nem da forma como este conceito é vendido para os produtores. Qualidade é um conceito multifacetado. Cada pessoa possui uma visão própria, um gosto diferente. Faz todo o sentido investir em cafés especiais e seus atributos de bebida, faz todo sentido investir no marketing da sustentabilidade, é justo compreender que o consumidor quer um café conveniente e saboroso. Mas testes cegos de prova com consumidores de café podem mostrar que as escolhas são muito subjetivas. O consumidor médio brasileiro tem dificuldade de perceber nuances de sabor entre cafés especiais e cafés que ele julga como “padrão” para seus costumes. Por isso, questões subjetivas do comportamento do consumidor devem entrar em cena, como a marca, origem, sabores, ocasiões e sentimentos. E temos que concordar que os cafeicultores fizeram sua

parte, investiram em qualidade, mas muitas vezes o que se vê no mercado é que ninguém quer pagar pelo diferencial de um café de qualidade. Uma equação que não fecha. De qualquer forma, nossas estratégias de marketing para divulgação do café brasileiro precisam mudar urgentemente. Tanto no mercado interno quanto no mercado externo. Os consumidores querem se conectar com suas marcas preferidas, querem sentimentos, querem um relacionamento de fidelidade e admiração mútua. Nós ficamos na estratégia do empurrar. Bradar aos quatro cantos que os “Cafés do Brasil” são os melhores do mundo não funciona. Nenhum consumidor quer ouvir isso. Isso agrade apenas aos nossos cafeicultores, massageia o ego, mas deprime o bolso do produtor. Precisamos chegar à mente dos consumidores. A estratégia não é “empurrar” conceitos. É fazer o consumidor “puxar”, desejar e querer consumir o café brasileiro. Aí eu lhe pergunto: qual mensagem passamos aos consumidores de café? Qual o primeiro desejo despertado nos consumidores quando ouvem a palavra “café”? E quando ouvem “Cafés do Brasil”? O que lhes vem à mente? Este é um momento de reflexão. Costumo separar o comportamento do consumidor de café em três tendências importantes nos dias de hoje. As três conectadas, mas que merecem abordagens diferentes. A cultura do consumo de café, o consumidor e seus desejos, e a conexão com a origem, com o produtor. De qualquer forma, o momento é de construção de uma abordagem holística de marketing. A queda no consumo pode ser passageira, mas requer senso crítico. As mentes de produtores e industriais devem se unir para buscar uma solução. Não podemos deixar um importante pilar de nossa cafeicultura ruir.


O futuro dos cafés especiais

O mercado de cafés finos e ou grãos selecionados, conhecidos como cafés gourmet, veio para ficar. Jorge Liniti Kasai * jorge@kassaicafe.com.br

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perspectiva de crescimento deste segmento para a próxima década é de cada vez mais termos novos adeptos à essa especiaria. Fato que cresce em função do convencimento da qualidade do sabor e das características da bebida. Atualmente, a demanda cresce de 5 a 6 vezes mais em relação aos cafés tradicionais. Concomitantemente aumenta a procura de investidores internos e externos. Falar de café gourmet, cafés finos e/ou grãos selecionados, escapa um pouco da linguagem dos cafés tradicionais, uma vez que: • Os cafés tradicionais competem no mercado globalizado, visando maior rendimento x menor custo. • O mercado de café GOURMET é específico, direcionado aos apreciadores e degustadores no mercado interno e externo que buscam produto de qualidade em detrimento do menor preço. As características desses grãos são resultantes dos cuidados que vão desde a escolha da semente até o processo pós-colheita. O Brasil, além de ser o maior produtor e exportador mundial de café, está se tornando o maior consumidor, ocupando neste último caso, a posição que foi até então dos Estados Unidos. O Brasil detém aproximadamente 40% do plantio mundial de café. Somos o celeiro do mundo, com vocação para o agro-negócio. Mesmo assim, o mercado interno brasileiro não consegue oferecer um produto de qualidade, salvo raras exceções. Mesmo com a crise atual do café no Brasil, não temos tido os problemas graves que enfrentam alguns países da América Central e Colômbia, com os estragos causados pelo surto de ferrugem nos cafezais. O Brasil detêm diversidade de topografia, situação climáti-

ca favorável, altitude, enfim, todos os quesitos desejáveis para cultivo cafeeiro, com diferentes características regionais, que se constituem privilégios de poucos países produtores de café. É público e notório o desânimo do cafeicultor brasileiro, em especial do pequeno produtor, que vive da renda do cafezal. Na situação atual, os rendimentos atuais não cobrem sequer o custo de produção. Se o café está em crise, porque os investidores estão de olho na cafeicultura brasileira? Não é difícil deduzir. Lembremos da frase: a crise é uma oportunidade de negócios! É bem isso que está acontecendo. Sabem por que? Porque o café é a segunda bebida mais consumida no Mundo! E por incrível que pareça, o número de plantio não vem crescendo na mesma proporção. A crise do café não afetará o comércio de cafés finos e/ou Grãos Selecionados (GOURMET). Pelo contrário, a tendência é de crescimento constante, na medida que crescem o número de degustadores/ apreciadores. Com relação ao preço do café, não tenho dúvidas que a médio prazo, voltará a ter o seu valor reconhecido. Quando se tratar de café gourmet, estes terão sempre, o valor agregado. No Brasil, dentre os tomadores de café, 90% tomam ainda o café moído e, dentre os 10% restante que tomam o espresso, são poucos os que conhecem o café gourmet – cafés finos/grãos selecionados. Esse segmento dos cafés de qualidade vem sendo a menina dos olhos dos investidores. Os principais mercados consumidores além do Brasil são: Europa, EUA e Japão que, juntos consomem aproximadamente 70% da produção Mundial. Mas no Brasil, Japão, Europa e EUA, o que mais se consome é o café coado. Nesta estatística não estamos considerando a China, que mal começou a consumir o café.

*O autor

é consultor especializado na formatação de cafeterias Gourmet, já abertas em todas as regiões do Brasil. O Curso de Barista da Kassai Café é o mais tradicional do Brasil, tendo formado centenas de profissionais.

Devemos dirigir a nossa atenção também para melhoria do café torrado e moído. As pesquisas atuais indicam que, os apreciadores não se importam de pagar um pouco mais para obter café de qualidade superior. No mercado atual de cafeterias, usa-se cada vez menos os cafés tradicionais. A Maioria já vem servindo cafés mais finos e/ou Gourmet, uma vez que o (CMV-Custo Mercadoria Vendida) oscila de 4% a 9% sobre o valor final. É arriscado implantar lavouras de cafés tradicionais, visando sua comercialização como comodities, pois isto gera o risco eminente como a que estamos vivendo. Muitos cafeicultores estão migrando para cultivo de cerais e/ ou diversificando suas culturas pela questão do risco do custo de produção do café. Alguns cafeicultores vem agregando valor ao seu produto, classificando/selecionando os grãos e torrando para comercialização. O que julgamos mais coerente é a operação verticalizada, onde se tem o controle completo do processo produtivo: ter o germinador, o viveiro, o plantio, a colheita, a classificação/seleção, a torra e o centro de distribuição. Produzir cafés tradicionais para venda no mercado exige uma preparação para o enfrentamento de uma concorrência acirrada e desleal. É necessário que se estimule as vendas através de metas, com preços compatíveis, marketing ousado e política de desconto. Produzir cafés finos é diferente pois se oferece para serem degustados, não induzindo a venda. O produto fala por si mesmo, e sendo do gosto do apreciador, ele vai adquirí-lo em função do sabor e não do valor. site: www.kassaicafe.com.br

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Entendendo a terceira onda do café

Moacir Aga Neto *

moacir.aga@cerradomineiro.org

N

*O autor

é relações Internacionais e Economia Coordenador Departamento de Novos Negócios

Consumidor

exigente e ávido por conhecer a origem e todo o processo produtivo pelo qual passa o café por excelência.

os últimos anos, um novo perfil de consumo do café surgiu. Trata-se de um consumo exigente e ávido por conhecer a origem e todo o processo produtivo pelo qual passa o café. Além do mais, busca-se resgatar métodos tradicionais de preparo da bebida e experimento de novas formas de extração. Essa nova conjuntura que abarca o consumo moderno de café é conhecida como a “Terceira Onda” de consumo. O termo “Terceira Onda” foi utilizado pela primeira vez no ano de 2005 durante o Campeonato Nacional de Baritas, em Seattle, por Trish Skey em uma entrevista. Trish Skey estudou a indústria cafeeira por mais de vinte anos, sendo que atualmente trabalha como

diretora da torrefadora “Zoka Coffee Roaster and Tea Co.”. Sua teoria presume que o café teve três ondas de consumo. A primeira onda se refere à proliferação do consumo de café no período Pós-Guerra para todo o mundo. Durante tal fase, o café era somente consumido e não apreciado. Era tido como uma bebida estimulante

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que dava animo e vigor para o dia a dia. No que referia a sua comercialização, era praticamente feita por supermercado a preços muito baixos – tinha como objetivo atingir o maior número de consumidores -, sendo que os grãos comercializados eram em sua grande maioria Coffea canephora, ou simplesmente conilon para os brasileiros. Com isso, conclui-se que era um mercado de baixíssima qualidade e visava, portanto, difundir o consumo da bebida. O aparecimento da segunda onda se dá em meados dos anos 70, sendo ela marcada por enorme melhoria na qualidade dos grãos e, consequentemente, da bebida. Durante tal período, foram substituídas as variedades utilizadas, sendo que o conilon foi trocado pelo arábica. O que marcou e impulsionou tal onda foi o surgimento e a proliferação das grandes redes de cafeteria como: Starbucks e Peet´s Coffee and Tea. Deve-se ressaltar que as duas redes são as maiores propagadoras de tal onda. Também se enquadra nesta onda o preparo do café em máquinas de espresso. Com isso, o consumo de café muda, pois ganha um caráter de maior sofisticação e, desta maneira, agrega valor junto ao consumidor final. Em suma, podemos dizer que até então, o consumidor tinha acesso a um produto “comoditizado”, sendo que a grande diferença estava na marca e não no produto. Por isso, os consumidores compravam a confiança nas marcas, a partir de sua oferta de qualidade e boa relação custo-benefício. Enfim, foi uma era de imposições que gerou um mercado de massa e consumidores tradicionais. Na Terceira Onda, há uma mudança substancial nos

hábitos de consumir a bebida. Agora, o consumo de café não se resume somente em consumir uma bebida de alta qualidade. Este período que estamos vivenciando, abrange um mercado consumidor extremamente exigente e sofisticado que busca conhecer a fundo todos os elos da cadeia produtiva: o produtor, variedade, forma como foi cultivado, origem, maneira como foi comercializado e distribuído. Está interessado se o consumo está gerando valor para quem produziu Desta forma, podemos citar como característica fundamental desta onda de consumo a percepção do café como um alimento de maior complexidade, não se pautando somente pela qualidade tangível dos grãos como também pelas características intangíveis como: origem e história. Na Terceira Onda o café é consumido respeitando os processos no qual foi produzido o grão, as pessoas envolvidas, o canal de comercialização e preocupando sempre com a responsabilidade social e ambiental da cadeia. Além disso, um fator muito importante nesta onda é a valorização da experiência em beber um café, objetivando conhecer a fundo as propriedades e nuances da bebida, bem como suas diferentes formas de preparo. Perfil dos consumidores e perspectivas de mercado Os consumidores da terceira onda são na maioria jovens recém-chegados do mercado de trabalho, com visual moderno, tatuagens, cortes de cabelo modernos, coloridos e ligados à arte e cultura. Trata-se de um consumidor exigente, interessado em conhecer a origem do seu café, os detalhes do beneficiamento e as características que diferenciam um do outro. Além disso, querem experimentar métodos de preparo da bebida que vão além do tradicional espresso. De fato, esses consumidores estão em busca de produtos diferenciados, que tenham valores e algo especial para compartilhar, e é por isso que eles es-


tão dispostos a pagar bem mais por uma xícara de café. Fica evidente a migração do consumo em redes de cafeterias para cafeterias de bairros, que sejam locais e únicas, que transmitam experiências coerentes com a cultura local. No que se refere a perspectivas de mercado, o consumo de cafés especiais por esta “Terceira Onda” ainda constitui-se como um nicho de mercado. No entanto, os números verificados neste segmentos de consumos são muito expressivos e consideráveis. Se tomarmos como exemplo nos Estados Unidos, berço difusor desta cultura e o maior consumidor de cafés especiais, entre 2003 a 2010, o consumo entre jovens de 15 a 19 anos subiu, saindo de 85% para 91%. Entre jovens adultos, ou seja, pessoas entre 20 a 26 anos, o consumo cresceu 7%, pois era de 83% e passou para 90%. Ao se analisar o valor monetário no mercado de cafés padronizados, ou melhor comoditizados, gera-se divisas na ordem de US$ 26 bilhões. No entanto, quando se analisa o segmento de cafés especiais, observa-se que há um faturamento de US$ 14 bilhões, representando cerca 53% do valor de mercado estadunidense para cafés. Devemos ressaltar ainda que neste país os cafés especiais recebem um ágil de 20% sobre os cafés comuns. Deve-se destacar que não somente nos Estados Unidos o movimento de Terceira Onda esta em ascensão. Em pa-

íses como Austrália, o movimento já está se espalhando conforme surgem novas cafeterias. De acordo com Fiona Sweetman para reportagem do jornal Folha de São Paulo, o surgimento de pequenas cafeterias locais acabou com os planos da gigante Starbucks, a qual tinha como meta abrir 20 filiais na cidade de Melbourne. Segundo Fiona, a rede americana “perdeu a batalha” pelo fato dos consumidores preferirem grãos cuidadosamente selecionados e torrados. Destaca também o consumo de cafés single origin. Para dimensionar a força deste mercado de “Terceira Onda” na Austrália, a maior atração da Melbourne Food and Wine Festival foi a Fazenda de Café Urbana. Nesse stand feito com caixotes de importação e 125 pés de café, passaram mais de cem mil pessoas para degustar cafés e assistir aos seminários. No Brasil o consumo de cafés especiais, ainda é muito incipiente., porém muito promissor, sendo que existe um movimento de pessoas que estão conectadas à essa tendência.

Terceira Onda o café

é consumido respeitando os processos no qual foi produzido o grão, as pessoas envolvidas, o canal de comercialização e preocupando sempre com a responsabilidade social e ambiental da cadeia.

O principal representante deste mercado no Brasil é o Coffee Lab cujo proprietário é a barista Isabela Raposeiras. Outras cafeterias caminham para esse movimento como Lucca Café em Curitiba e Casa do Barista no Rio de Janeiro. No ano de 2010, o país consumiu 800.000 sacas de grão especiais, ou seja, 4% do consumo nacional. Já no ano de 2012, o número saltou para 1.2 milhões de sacas, representando 6% do consumo no país e um crescimento de 2%. Este crescimento se deu pelo rearranjo do perfil econômico da famílias brasileiras, sendo 52% destas estão incluídas na faixa de consumo de classe média. Vale ressaltar que está classe está ávida por consumir produtos de melhor de qualidade, obedecendo algumas tendências mundiais de consumo alimentar, como confiabilidade/ qualidade e sustentabilidade/ ética. De fato, esses consumidores estão em busca de produtos diferenciados, que tenham valores e algo especial para compartilhar, e é por isso que eles estão dispostos a pagar bem mais por uma xícara de café. O movimento da terceira onda ainda é pequeno, principalmente no Brasil, porém com um potencial de crescimento enorme conforme foi exposto anteriormente. Com isso, podemos observar como uma oportunidade para a Região do Cerrado Mineiro no seu intuito de criar percepção da marca e sua Denominação de Origem.

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Entrevista Francisco Sérgio

“O cafeicultor da Região do Cerrado Mineiro tem uma nova ferramenta nas mãos, a Denominação de Origem”

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rancisco Sérgio de Assis, agrônomo pela Fundação Faculdade de Agronomia Luiz Meneghel, atual Presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado. Foi supervisor técnico de multinacional agrícola. Desde 1986 vem atuando como cafeicultor empreendedor na Região do Cerrado Mineiro e como liderança de entidades representantes de cafeicultores em nível regional, nacional e internacional. Atuou como Presidente da AMOCA – Associação dos Cafeicultores da Região de Monte Carmelo - de setembro de 1992 a maio de 2013; Presidente do Conselho de Defesa Social de Monte Carmelo; Presidente da COOCACER – Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado Monte Carmelo Ltda. – desde 1999; Presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado desde 01º de março de 2001; Conselheiro do CNC - Conselho Nacional do Café, desde 15 de agosto de 2011. Francisco Sérgio possui, portanto, vasta experiência na cafeicultura, como produtor que lida com as questões administrativas do negócio café, bem como líder que visa a melhorias contínuas ao bem estar social e progresso para a cafeicultura da Região do Cerrado RC - Durante o tempo de sua Gestão como Presidente da Federação, liderando projetos e as questões político-institucionais. Quais as principais conquistas da Região você destacaria desde que está na presidência? FSA: Um longo caminho foi traçado desde que surgiu o “Café do Cerrado” em 1992. Muitas conquistas po-

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deriam ser lembradas; focarei nas principais que remetem à nossa história. Nossa ideia inicial era organizar a nossa Região produtora, de modo a agregar valor ao nosso produto, o café, e dessa maneira ficarmos menos suscetíveis às oscilações do mercado. Em 1997 depois de um longo processo depositamos no INPI nosso pedido de reconhecimento da Região como Indicação Geográfica, o que nos foi concedido apenas 08 anos depois, em 2005, assim nasceu a primeira Indicação de Procedência para café registrada no INPI: “Região do Cerrado Mineiro”, em paralelo a marca “Café do Cerrado”. Tanto a marca como a Indicação Geográfica evoluíram, lançamos novas estratégias de marketing e programas de certificação para alcançarmos mercados consumidores que valorizam a qualidade e a origem. Depois com bastante trabalho, em 31 de dezembro de 2013 conquistamos o status máximo que tanto almejávamos, o de Denominação de Origem. Por outro lado, na área político-institucional podemos destacar que temos feito um trabalho intenso junto ao Conselho Nacional do Café – CNC ao longo destes anos, atuando em decisões importantes para o setor, como: no escopo dos programas de opções, na representação em fóruns dos recursos hídricos, nas reformas

dos códigos florestais, brasileiro e mineiro, na lida em pressionar os órgãos competentes quanto aos registros para defensivos eficientes à cultura, dentre tantas outras Atitudes que temos tido no dia a dia em favor da nossa atividade. RC - Quais desafios ainda espera superar ou metas que deseja alcançar frente à Federação dos Cafeicultores do Cerrado? FSA: Nossa primeira meta é tornar a Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro conhecida e reconhecida em nível internacional. Isso fará com que haja demanda de cafés com Selo de Origem e Qualidade conectando a Região do Cerrado Mineiro com o mundo e gerando valor para o nosso produtor. Um dos assuntos que muito temos debatido e cobrado é sobre o substituto do Endosulfan que foi retirado do mercado em 2013 e até agora não recebeu similar regulamentado. Milhares de cafeicultores estão enfrentando a possibilidade de um prejuízo que pode ser causado por um surto de broca e dificilmente terão como combatê-la sem um similar no mercado. Outro assunto amplamente debatido e que ainda necessita de solução é a questão do Georreferenciamento da Cafeicultura. Nenhum órgão oficial, atualmente, tem


100% dos dados da área plantada e nem da produção anual. Esses dados são extremamente necessários para que possamos traçar metas mais reais para nossa cafeicultura. É certo que o Governo de Minas Gerais tem se empenhado para fazer um trabalho neste sentido e esperamos que em breve tenhamos estes dados da cafeicultura, ainda que inicialmente seja somente de nosso estado. Destaco ainda a necessidade de revisão da NR – 31 (Norma Regulamentadora 31) que trata da Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura. Esta norma precisa ser revista, visto que com a dimensão do nosso país, as distinções de cada região e o tratamento igualitário para pequenas, médias e grandes propriedades impede que todas as regras possam ser seguidas. Este trabalho está nas prioridades do CNC, e estaremos acompanhando seu desenvolvimento. RC - Qual a importância para os cafeicultores da Região do Cerrado Mineiro em se manter um relacionamento com os órgãos políticos como o CNC, MAPA e OIC? FSA: Ter uma cadeira nesses órgãos significa ter voz ativa dentro dos órgãos que regem as diretrizes da cafeicultura nacional e internacional, atualmente. Ao invés de apenas recebermos as decisões nós participamos de cada uma delas e podemos levar a demanda do nosso produtor. Além disso, oferecemos àqueles a quem representamos notícias atualizadas e diretamente da fonte, ganhamos tempo para planejarmos o que é melhor para nossa Região. RC - A cafeicultura não enfrenta um dos seus melhores momentos. Quais recomendações você dá aos produtores para passar por este momento com menores traumas? FSA: Nas últimas semanas o preço do café reagiu no mercado e operou em alta, o que tranquilizou um pouco os produtores. Uma alternativa para que não fiquemos reféns do mercado, é

a produção de cafés especiais que tem um público diferenciado que valoriza o produto pela Origem e Qualidade. A Região do Cerrado Mineiro é especialista neste tipo de café e sua altitude, solo e clima favorecem a produção de grãos especiais. Um bom planejamento, a curto médio e longo prazo; além da gestão das propriedades também são essenciais para que as contas fiquem em dia. O mercado futuro, também é uma ferramenta que deve ser utilizada em momentos em que o mercado está em baixa. RC - No final de 2013 um encontro organizado pelo CNC, denominado, Rumos da Politica Cafeeira no Brasil, discutiu metas a médio e longo prazo para o setor cafeeiro do país. O que o produtor pode esperar como resultado desse encontro? FSA: Neste encontro foram definidas várias ações prioritárias a serem desenvolvidas, entre as quais: acelerar processo de liberação de defensivos que substituam o endossulfan na ANVISA; investimentos em marketing para o café brasileiro; acabar com discriminação externa ao café brasileiro; adequação da NR – 31; mecanização da cafeicultura de montanha; ações práticas de promoção ao consumo; dentre outras que com certeza darão subsídios reais ao produtor no seu negócio. Continuaremos trabalhando junto ao CNC para que estas ações sejam desenvolvidas da forma mais eficiente, com o objetivo de que o cafeicultor seja sempre o maior beneficiado. RC - A Região do Cerrado Mineiro tem se destacado na produção de café especiais, e com isso tem conquistado mercados cada vez mais exigentes. O mercado de cafés especiais tem crescido cerca de 15% ao ano, enquanto o mercado de café commodity cresce 2% ao ano. Esses dados devem motivar o produtor em buscar melhorias na qualidade de sua produção como alternativa aos baixos preços? Por onde começar? FSA: É exatamente isso. Esse mercado, de cafés especiais, foge do comércio de commodity e também possui regras próprias de precifi-

cação. A Federação dos Cafeicultores do Cerrado desenvolve em parceria com o Sebrae, Universidade de Lavras e a empresa Agrocert, o Programa de Qualidade para as fazendas da Região. Este programa abordou temas referentes aos cuidados na colheita e pós-colheita com foco na rastreabilidade e qualidade do Café. Para este ano este programa deve acontecer mais uma vez e, é um excelente ponto de partida para o produtor. Além disso, o Projeto Educampo do Sebrae tem feito um excelente trabalho junto ao produtor, orientando para a busca de não apenas quantidade, mas acima de tudo, qualidade para o café que produz. Com a qualidade assegurada o produtor pode fazer uso de Selo de Origem e Qualidade da Região do Cerrado Mineiro e usar esse selo como fator de diferenciação. O cafeicultor da Região do Cerrado Mineiro tem essa ferramenta tão importante nas mãos, que é a Denominação de Origem garantida e atestada pelo Selo e deve usá-lo em seu favor no momento da negociação. RC - Qual a mensagem você deixa para os cafeicultores, como foco para 2014? FSA: Temos um motivo ainda maior para nos orgulharmos de nossa Região: a Denominação de Origem é o reconhecimento do trabalho de cada um de nós que nos dedicamos todos os dias pela nossa cafeicultura. Agora é a hora de usarmos esse reconhecimento a nosso favor e buscar a qualidade de nossa produção para atingirmos o mercado que valoriza e reconhece cafés produzidos com origem e qualidade. A Federação dos Cafeicultores do Cerrado é a entidade que pode auxiliar o produtor na busca pelo desenvolvimento dessa qualidade com foco no mercado de cafés especiais. Convido os amigos cafeicultores a fazerem essa busca e 2014 ser o ano da Origem e Qualidade do Café produzido na Denominação de Origem - Região do Cerrado Mineiro.

Reeleito

Francisco Sérgio foi reeleito Presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado com mandato até 2017.

Obs: A Federação dos Cafeicultores do Cerrado fica em Patrocínio. Rua Rio Branco, 231, Cidade Jardim. Telefone: 34 3831-2096

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Região do Cerrado Mi

A primeira região cafeeira no Br conquistar a Denominação de

Sônia Lopes

O

ano de 2014 começou com novidades para a Região do Cerrado Mineiro. A região cafeeira é a primeira no Brasil a conquistar a Denominação de Origem, estágio máximo de controle de Origem e Qualidade que uma região produtora pode conquistar, concedido pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). De acordo com o instituto, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o registro de denominação de origem evidencia o alto padrão alcançado pela Região do Cerrado Mineiro, na medida em que “reconhece as qualidades e características distintas do produto, resultado da influência do meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos”.

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Região do Cerrado Mineiro atesta sua Origem e Qualidade através de Selo A Região do Cerrado Mineiro é a primeira a região cafeeira do Brasil a alcançar o status Denominação de Origem. Desde 2005 a Região já havia conquistado do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) o reconhecimento de Indicação Geográfica, sendo também pioneira nesta conquista. Em 31 de dezembro de 2013 a Região passou a contar com o reconhecimento de Denominação de Origem ou simplesmente D.O. A Região do Cerrado Mineiro que é composta por 55 municípios e 4.500 produtores que são responsáveis por produzir 5 milhões de sacas por ano. Para gerir toda essa produção e proteger os cafeicultores, é que existe a Federação dos Cafeicultores do Cerrado. Entidade composta por 9 cooperativas e 7 associações controla, rege e protege a Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro.


APROCAM / Divulgação

Mineiro

rasil a Origem

está apto a receber o Selo e dessa maneira se tornar rastreável em qualquer parte do mundo. Este Selo é costurado na sacaria do café, no momento do embarque do lote. Feito de um material resistente ele não rasga ou desbota. Impresso no Selo está um código que ao ser inserido no Site da Região traz todas as informações sobre aquele lote, fazenda em que foi produzido, produtor e também laudo de bebida e curva de torra; informações estas essenciais para a industrialização do café.

Selo para café industrializado As torrefadoras que adquirem o café com o Selo de Origem e Qualidade Região do Cerrado Mineiro podem usar em suas embalagens de café já industrializado, o Selo de Origem e Qualidade, também emitido pela Federação dos Cafeicultores do Cerrado. Neste selo consta um QR Code (lido através de aplicativos na maioria dos smartphones) que leva ao consumidor a história do produtor, dados e localização da fazenda e informações sobre a Região, ou seja, um café totalmente rastreável desde a origem.

Mercado exigente

Selos de Origem e Qualidade O controle do café produzido dentro da área demarcada é feito através de Selos de Origem e Qualidade que atestam que aquele café foi produzido dentro da Região do Cerrado Mineiro e atende a padrões de qualidade como pontuar no mínimo, 80 pontos, na escala da Associação Americana de Cafés Especiais – SCAA (sigla em inglês). A emissão dos Selos, bem como a avaliação do café é feita pela Federação dos Cafeicultores do Cerrado. O Sistema de Cerificação de Origem contempla a Certificação do café verde e também do café industrializado.

Há uma tendência mundial em que os consumidores estão buscando cada vez mais informações sobre a origem do produto que estão consumindo. Esses consumidores, principalmente jovens adultos, querem produtos com origem garantida e rastreável. “O Selo de Origem da Região do Cerrado Mineiro vem cumprir esse papel no mercado de cafés especiais, ele garante a Origem e Qualidade do café produzido no Cerrado Mineiro. Este trabalho de rastreabilidade é pioneiro na cafeicultura brasileira, bem como a Denominação de Origem” – definiu o Superintende da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal.

Selo para café verde Para obtenção do Selo de Origem e Qualidade o café passa por todo processo de análise já citado e só após cumprir todas as exigências é que mar./abr. 2014 - Revista Cafeicultura | 13


Entrevista Marcos Alves

Analista do Sebrae na Região do Cerrado Mineiro

O

Sebrae é um grande parceiro da Região do Cerrado Mineiro e está sempre presente nas conquistas e projetos. Neste bate papo Marcos Alves, Analista do Sebrae na Região fala sobre a atuação da entidade na Região e os planos para o futuro. RC - Qual é a atuação do Sebrae na Região do Cerrado Mineiro? Qual seu papel? MA: O Sebrae atua na Cafeicultura da Região de Cerrado Mineiro através de diversas frentes que convergem na gestão do negócio e produção de Cafés de Qualidade, de forma ética, rastreável e sustentável. Dessa forma, 20 grupos do Educampo atendem a cerca de 400 empresários mensalmente, orientando-os na melhor gestão de seus negócios. Através do Sebraetec são realizadas adequações via consultorias de certificação agrícolas nos principais protocolos internacionais, como o Fairtrade e Rainforest, permitindo que a Região tenha o maior volume de cafés certificados no país. Em relação aos pequenos produtores, além das consultorias de certificação Fairtrade, são também realizadas orientações e acompanhamentos no sentido de criar oportunidade de negócio, respeitando a característica da agricultura familiar. Este conjunto de ações está baseado no conceito da Denominação de Origem da Região do Cerrado Mineiro, onde o Sebrae em parceria com a Federação dos Cafeicultores do Cerrado e suas afiliadas, atuando na estruturação e promoção da Região do Cerrado Mineiro RC - Quais os principais projetos do Sebrae na Região do Cerrado Mineiro, quando falamos em cafeicultura? MA: Formalmente atuamos com 2 projetos: Cafeicultores da Região do Cerrado Mineiro – cujo foco á atuação diretamente ao produtor através do Educampo e suas ações complementares, como cursos, palestras, seminários e consultorias. No aspecto macro, temos o projeto Internacionalização da Região do Cerrado Mineiro, cujo foco é a estruturação e preparação da Região, através da parceria com a Federação dos Cafeicultores do

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Cerrado, para criar um ambiente favorável para os produtores, através da promoção e controle do Selo da Denominação de Origem da Região do Cerrado Mineiro. RC - Como o Sebrae vê o resultados dos investimentos feitos na Região do Cerrado Mineiro. Foram satisfatórios? MA: Temos na região a condição de propor ações arrojadas, visto o preparo e engajamento de suas lideranças e entidades e o retorno é muito grande. Temos orgulho em atender mensalmente 10% dos produtores da Região no Educampo, que representam quase 20% da área e produção do Cerrado Mineiro. Além disso, o trabalho de branding da Marca da Região foi pioneiro em todo sistema Sebrae. A região se tornou referencia nacional nos modelos de certificação agrícola e isto está diretamente vinculado ao nosso apoio. Promovemos o desenvolvimento do negócio de cada empresário rural e criamos condições de Internacionalização da Região e através do sucesso das iniciativas na região, conseguimos extrapolar nossa atuação de forma estruturada para outros segmentos, como Suinocultura e Hortifruticultura, tendo a Cafeicultura da Região como referência, dessa forma foram plenamente satisfatórios os investimentos, indo além do público alvo “café” RC - Quais são as perspectivas para o futuro na parceria Sebrae/ Região do Cerrado Mineiro? MA: Entendemos que a parte de estruturação e preparação da Região está bastante avançada. Nossa perspectiva é de continuarmos a parceria, mas agora com

um foco muito ajustado para o mercado. É hora de fazer o Selo Região do Cerrado Mineiro ser acessado pelos 4 cantos do globo. Obviamente o trabalho de orientação e preparação do cafeicultor é contínuo RC - O que significou para o Sebrae a conquista da Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro, conquistada pela Federação dos Cafeicultores do Cerrado, no último dia 31 de dezembro? MA: O processo de levantamento de informações, organização dos documentos e registro do pedido da D.O foi feito com apoio do Sebrae-MG, onde utilizamos recursos advindos de edital específico do Sebrae-NA ainda em 2010. Dessa forma, além de corroborar com tudo que estamos apoiando no desenvolvimento da Marca e Região do Cerrado Mineiro, estivemos diretamente envolvidos na conquista. RC - Quais suas considerações finais? MA: Acredito que este é a hora e o momento da Região do Cerrado Mineiro. No entanto é fundamental que a sociedade urbana e rural da Região tenham conhecimento da grandiosidade de tudo que vem se desenvolvendo por aqui. A Região do Cerrado Mineiro é uma referencia para demais regiões produtoras e olha que não é só de café que estamos falando. Cabe agora se tornar a referencia e transbordar sua atuação para todos negócios presentes no seu território.


Região do Cerrado Mineiro fará Lançamento Internacional da Denominação de Origem na 26º SCAA

Sônia Lopes

A

contece entre os dias 24 e 27 de abril em Seattle, estado de Washington, Estados Unidos a maior feira de cafés especiais do mundo, a SCAA Event. Promovida pela Associação Americana de Cafés Especiais, SCAA (sigla em inglês) a feira reúne todos os segmentos ligados a cafés especiais, desde regiões produtoras até baristas e torrefadores. Durante estes 4 dias o mundo do café estará atento a Seattle e por isso, a Região do Cerrado Mineiro escolheu este grande evento para realizar o Lançamento Internacional da Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro - DOC, primeira e única no Brasil a possuir tal título. O lançamento conta com forte apoio do Sebrae, parceiro da Região em seus projetos e ações. Buscando atingir torrefadores e todos os membros da cadeia café que trabalham com Origem e alta qualidade, a Região do Cerrado Mineiro atuará em diversas frentes no evento, como conta o Superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Organização que controla a DOC Cerrado Mineiro, Juliano Tarabal. “Nosso grande objetivo é apresentar para um público seleto que estará presente na SCAA o propósito da Região do Cerrado Mineiro. Entendemos que o mercado mundial de café esta em crescimento e transformação, influenciado diretamente por novos consumidores mais exigentes e conscientes. Um novo mundo do café esta surgindo, um novo mercado que demanda uma nova atitude, novas maneiras de pensar e agir, de produzir e se fazer negócio, para conquistar valorização e reconhecimento. Nós acreditamos que a Região do Cerrado

Mineiro tem este potencial, e estamos nos preparando para este novo desafio: tornar a Região do Cerrado Mineiro uma referencia de ‘atitude’ para o novo mundo do café, em termos de produtores, região e produtos.” Para apresentar este propósito, a Região do Cerrado Mineiro irá contar com uma sequência de ações como estratégia para lançar a DOC tão valorizada e reconhecida no mercado mundial.

Lançamento Oficial O dia 25 de abril será especial para a Região. É quando acontece o lançamento oficial da Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro – DOC feito em um almoço para convidados especiais como torrefadores, imprensa internacional, baristas, autoridades produtores e representantes de cooperativas da Região, encontro que acontecerá no mesmo Pavilhão de Eventos da SCAA. Esse encontro tem como objetivo principal apresentar aos participantes a Região bem como demonstrar os benefícios e garantias em se trabalhar com cafés com Origem e Qualidade Cerrado Mineiro, garantidas pelo Selo de Origem da Região. “O lançamento da Denominação de Origem Região do Cerrado Mineiro na feira da Associação Americana de Cafés Especiais – SCAA representa uma fundamental etapa no propósito do Sebrae para Internacionalização da Marca. A aproximação dos produtores e cooperativas da Região junto a mercados diferenciados criam condições para desenvolvimento de novos relacionamentos e parcerias, viabilizando o chamado direct trade (venda direta), preservando e valorizando a Origem e Qualidade dos Cafés produzidos pelos Cafeicultores da Região do Cer-

SEBRAE / Divulgação

sonia.lopes@cerradomineiro.org

SCAA

realizada pela Associação Americana de Cafés Especiais, SCAA a feira reúne todos os segmentos ligados a cafés especiais.

rado Mineiro” – explicou Marcos Alves, Analista do Sebrae na Região do Cerrado Mineiro. Outras ações também marcarão a participação da Região na Feira:

Stand Região do Cerrado Mineiro A Região do Cerrado Mineiro participará da Feira como um dos expositores. Um stand próprio dentro da Feira será o ponto de referência para aqueles que desejarem conhecer mais sobre a única região cafeeira do Brasil a possuir uma Denominação de Origem. No Stand da Região, a Federação dos Cafeicultores do Cerrado estará apresentando aos visitantes da feira toda a plataforma de rastreabilidade, controle de Origem e Qualidade que o Cerrado Mineiro tem para oferecer como garantia e diferencial para quem adquire cafés como Selo de Origem e Qualidade Cerrado Mineiro.

Cupping Outra ação que será desenvolvida no evento da SCAA é o Cupping (prova de café) com os cafés da Região do Cerrado Mineiro. Nesta rodada de provas os torrefadores e compradores terão a oportunidade de conhecerem mais sobre as nuances do café da Região. mar./abr. 2014 - Revista Cafeicultura | 15


Desafios da produção Ensei Neto *

bureaucoffee@uol.com.br

O

café é, por excelência, um perfeito exemplo de Produto de Território, pois sua bebida é resultado direto da influência de sua Localização (que leva em conta a Latitude, a Altitude e Modelo de Exposição ao Sol onde a lavoura está plantada), sua Botânica (porque cada variedade, devido à sua carga genética, tem um modo particular de, digamos, trabalhar...) e o Manejo (que são as técnicas e tecnologias empregadas pelo produtor). Ao mesmo tempo, devido à sua gigantesca produção,

*O autor

é Coffee Hunter, Mestre de Torra e Especialista em Educação Sensorial.

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colocando-se como o segundo produto mais comercializado no mundo, as sementes cruas do cafeeiro, conhecidas no mercado internacional como GREEN COFFEE, faz parte do grupo das chamadas Mercadorias Comuns ou Commodities. As Commodities são regidas por duas leis implacáveis, formuladas por grandes pensadores da Economia: a primeira diz que “a incorporação de tecnologias permite o aumento constante da produtividade”, enquanto que a segunda lei, “em decorrência da Primeira Lei, os preços tendem a ficar mais baixos”. Se observarmos a evolução da cafeicultura ou seu modelo de produção a partir dos anos 1970 sob a ótica da Primeira Lei, que se refere à incorporação de tecnologias, no Brasil ela se comportou perfeitamente! Naquela época, a Geografia da Cafeicultura do Brasil se concentrava entre os Paralelos 21o e 23o Sul: Sul de Minas, Mogiana, Alta Paulista e o pujante Norte do Paraná. Em 1975 ocorreu uma das maiores geadas de todos os tempos, arrasando boa parte da produção do café

brasileiro, principalmente das áreas mais distantes da Linha do Equador. Cafeicultores do Paraná se deslocaram em massa para outras localidades, traumatizados com os estragos do frio invernal, começando a se fixar na pontinha mineira do Planalto Central, que ficou conhecida como Cerrado Mineiro. Cidades como Araguari e Patrocínio receberam grandes levas de produtores paranaenses e também da Alta Paulista, onde recomeçaram sua missão de produzir o Negro Vinho. Áreas planas, extensas a perder de vista; clima estável com apenas duas estações, a chuvosa e a seca. Esse foi o ponto de partida do novo desafio: desbravar o Cerrado, a nova fronteira da cafeicultura. O modelo de plantio mais comum de cafezais no Norte do Paraná e na Alta Paulista, regiões que são bastante próximas, era o chamado Quadrado: as covas onde as plantas eram fixadas formavam quadrados com lado em torno de 3,6 m a 4,0 m, sendo que colocava-se de 2 a 4 plantas de café em cada cova. Se fizermos uma conta rápida, veri-


O Rearranjo Espacial foi suficiente para que a produtividade aumentasse dramaticamente em pouco mais de 15 anos, saindo de pouco mais de 6 sacas de 60 kg/ha para 16 sacas/ha. Já no final dos anos 90, a média de produtividade de café do Brasil começou a se aproximar das 20 sacas/ha. O Plantio Em Renque permitiu que rapidamente um Segmento de Apoio à produção se desenvolvesse: a Mecanização. O final dos anos 1980 e meados de 1990 foi um período muito fértil no surgimento de tecnologias para os trabalhos de campos. Adubadeiras, aplicadoras de calcáreo, pulverizadores e até colheitadeiras surgiram a partir da percepção da indústria e seus “Professores Pardais” de que a mecanização nas lavouras era um caminho sem volta. Até

porque, ainda que pontualmente, era notado um fluxo crescente de trabalhadores do campo para as cidades. Os dados do IBGE mostram claramente que o Brasil naquela época estava consolidando seu perfil populacional como (quase) estritamente urbano, quando mais de 70% da população do pais vive nas cidades. Aumentar a produtividade, atendendo à Primeira Lei das Commodities, naquele período se deu exclusivamente pelo Rearranjo Espacial. Em 1975 ocorreu a Grande Geada, que modificou definitivamente a Geografia dos Cafés do Brasil. Com as plantações arrasadas pela Geada Negra, efeito resultante dos gélidos ventos que sopraram no Norte do Paraná, até então o mais importante Estado Produtor de Café do Brasil, não sobraram muitas opções aos cafeicultores daquela região para sua permanência na atividade. Muitos decidiram deixar as lavouras dizimadas pelo intenso frio, tomando rumo ao Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba, onde puderam adquirir propriedades mais extensas porque o preço da terra era muito menor em relação ao do Paraná. A topografia plana do Cerrado, que faz o olhar se perder na imensidão de seus horizontes, à primeira vista agradou aos fugitivos da geada, bem como o seu clima continental peculiar, que se mostrava muito estável, e o solo, que também tinha tonalidade avermelhada, apenas um tanto mais amarelada que a famosa Terra Roxa típica do Norte Paranaense. Assim, os cafeicultores paranaenses foram se fixando em Araguari, Monte Carmelo, Patrocínio, São Gotardo e Carmo do Paranaíba. A primeira decepção foi dada pelo solo avermelhado do Cerrado, que tinha fertilidade

Arquivo MIS/PR

fica-se que a densidade populacional de cafeeiros (fazendo as contas pelo número de covas) era muito baixa: meras 625 covas por hectare (lembrando que 1 ha = 10.000 m2). Mesmo com 2, 3 ou 4 plantas por cova, o desempenho da lavoura não era tão bom porque problemas com as plantas invariavelmente aconteciam. Foi quando ganhou importância os estudos com espaçamento e o aumento da densidade populacional saltou rapidamente: plantios mais modernos, conhecidos como Em Renque, ou seja, quando os cafeeiros formam uma fila, se tornaram predominantes, fazendo com que essa população por unidade de área passasse para números expressivamente maiores, como 2.500 plantas/ ha, 3.500 plantas/ha e até 5.000 plantas/ha.

Jaime Canet

sentiu na pele a Geada Negra, como governador e como produtor de café. No amanhecer de 18 de junho de 1975, uma das geadas mais intensas do século passado reduziu a zero a área cultivada com café no Estado do Paraná

baixa, muita acidez e teores elevados de alumínio. Mais uma vez, a Natureza mostrou que faz tudo em equilíbrio: a maravilhosa topografia plana, que permite mecanização em quase todas as operações, tinha como moeda de troca a necessidade de forte correção do solo. Porém, foram esses desafios que fizeram com que os produtores se organizassem em associações que serviram de ponto de encontro para troca de experiências e conhecimento, dando origem à região mais organizada dos Cafés do Brasil: o Cerrado Mineiro. Além dos tradicionais cafeicultores paranaenses, haviam muitos “novos” produtores, pessoas que mudaram de ramo para tentar a sorte na cafeicultura, estimulados pelas impressionantes cotações do café na Bolsa de New York (NY/ CSCE). Para efeito de comparação, com 100 sacas de café beneficiado de 60 kg era possível adquirir um carro de bom nível da época, como um Passat, ou, para os dias de hoje, um veículo na faixa de R$ 90 mil. Esse caldeirão de gente que tentava domar o pobre solo do Cerrado, bem como compreender seu clima que apresenta apenas 2 estações bem definidas (6 meses chuvosos com temperaturas altas no dia e forte insolação; 6 meses secos, com grande amplitude térmica), começou a manter estreita relação com os órgãos de pesquisa, o que permitiu que novas tecnologias

mar./abr. 2014 - Revista Cafeicultura | 17


Roberto Santinato

ao combinar a tecnologia de irrigação a um modelo de adubação parcelada, estabeleceu um novo patamar de números a partir do início dos anos 90.

fossem desenvolvidas e rapidamente disseminadas. Junto do plantio em renque (linhas com plantas relativamente próximas), que garante maior estabilidade da produção porque minimiza a bienalidade produtiva dos cafezais, novas metodologias de correção de solo passaram a ser empregadas, assim como um modelo inovador de programa nutricional das lavouras (maior parcelamento com quantidades definidas em razão de cada etapa do Ciclo Fenológico, que é o ciclo da fruta). O resultado: produtividade com números que assombraram o mundo! Ante os parcos 8 a 12 sacas de 60 kg líquido de café beneficiado por hectare, muitas lavouras do Cerrado atingiram média de 4 anos de 36 sacas/ha a 42 sacas/ha, sem falar em picos de 70 sacas/ha a 90 sacas/ha em algumas glebas. Mas, o que parecia o Paraíso em forma de Clima, logo mostrou seu Calcanhar de Aquiles: o período de poucas chuvas ou de sua total ausência afetava impiedosamente as lavouras, tirando a produção por absoluta falta de água! Esforços para desenvolver uma tecnologia revolucioná-

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ria começaram no final dos anos 1980. Começava a história da Cafeicultura Irrigada, que teve Araguari como importante centro irradiador. Duas correntes tecnológicas estavam sendo trabalhadas paralelamente: a Irrigação Localizada, que se iniciou também em Araguari, e que recebeu o nome de “Irrigação por Tripa”, aplicando a água junto aos cafeeiros, e a Aspersão, feita por canhões de água de alta vazão, cuja aplicação era em área total das lavouras. Logo uma terceira corrente surgiu, ainda mais revolucionária para a época, que foi o uso de Pivot Central, que apesar de aplicar água, em área total, tem sua operação toda automatizada, e, finalmente, surgiu o Gotejamento como alternativa de maior precisão. E um novo e magnífico salto de produtividade aconteceu! Combinando a tecnologia de irrigação a um modelo de adubação parcelada, um novo patamar de números começou a se formar a partir do início dos anos 90 através de teorias idealizadas e conduzidas pelo agrônomo Roberto Santinato. A primeira lavoura irrigada que quebrou a barreira dos 100 sacos de 60 kg líquidos/ ha estava plantada em Barreiras, BA, (lembram-se do Sr. João Barata?). seguindo-se de outras no Cerrado, incluindo-se a lendária Fazenda Lagoa Torta, que se tornou sinônimo dessa escola. Números exuberantes, mas cujos custos de produção deixavam de ser razoáveis. Essa discussão deu início à busca ao ponto de equilíbrio entre Custo de Produção e Produtividade. E desde então o Custo de Produção passou a ser obsessivamente pesquisado, estudado e anotado em todas as origens produtoras. De qualquer forma, o ponto de partida usado por Santinato foi

muito instigante: qual seria o verdadeiro potencial produtivo de um cafeeiro? Se sua capacidade produtiva era definida geneticamente, como essa função poderia ser trabalhada: com altíssimas produtividades e curto horizonte de tempo ou produtividades médias e tempo de vida mais prolongado? Em termos práticos, seria como imagiar que uma área de 1 hectare tivesse potencial produtivo de 1.600 sacas de 60 kg, esse questionamento poderia ser formulado também desta forma: 16 de vida produzindo 100 sacas anuais ou 80 anos produzindo 20 sacas anuais. Qual seria sua escolha? O ano de 1991, em meio a mais uma grave crise de preços, uma torrefação italiana comandada por visionário e simpático químico, Ernesto Illy, dava início a um projeto que foi o estopim de uma revolução pela qualidade sensorial: estabelecer um polpudo diferencial nos preços pagos à excelentes lotes de cafés. Foi o princípio da Era dos Concursos de Qualidade de Café. A italiana illycaffè se tornou uma referência entre os cafeicultores de torrefação que reconhecia o esforço em produzir cafés de alta qualidade através de preços diferenciados (por exemplo, em 1991, enquanto que em média a saca de café fino no mercado commoditie recebia US$ 40, a illy pagava US$ 90, numa verdadeira prática de Fair Trade – Comércio Justo). Foi ela também que inaugurou no Brasil o modelo de Compra Direta (Direct Trade), quando pessoalmente Dr. Ernesto, como era carinhosamente tratado, juntamente com sua troupe visitava as fazendas para conhecer como trabalhava e vivia cada fornece-


dor de café para sua torrefação. Durante os primeiros anos do hoje tradicional Concurso Illy de Qualidade de Café para Espresso, uma região se destacou, chegando a ter 10 cafeicultores entre os 10 primeiros colocados! Era o Cerrado Mineiro, que despertou a curiosidade do Dr. Ernesto para compreender o porquê da região produzir uma profusão de excelentes cafés. Latitude mais baixa do que o restante das origens produtoras brasileiras e um inverno impecavelmente seco era a fórmula que a Natureza se encarregou de apresentar. Os cafés Naturais, secos com a casca, passavam por uma secagem cuidadosamente lenta, além do fato dos frutos terem sido colhidos maduros. Simples assim... Mas, o final dessa incrível década de 1990 iria apresentar uma tecnologia que iria modificar definitivamente a forma de se secar café no Brasil: o descascamento mecânico. No Sul de Minas, em meio a paisagem dominada por cafezais em morros sem fim, um dos grandes pesquisadores do extinto IBC – Instituto Brasileiro do Café, João Romero, testava o sistema clássico de secagem das sementes (ah, lembre-se que do fruto do cafeeiro se quer apenas as sementes para se preparar uma incrível bebida!) para a grande escala. O princípio do chamado CD – Cereja Descascado se baseia na retirada da casca externa do fruto Maduro (conhecido por Cereja), após a passagem pelo lavador, onde é separado dos outros em diferentes estágios de maturação, como Verdes e Passas. Isso é

fundamental porque a semente germina somente quando está fora da casca externa; por outro lado, se rapidamente ficar com baixa umidade em seu interior (abaixo dos 12%) sua germinação é suspensa. Os terreiros passaram a mudar sua coloração durante o período de colheita, pois sementes apenas cobertas pela casca interna, conhecida por Pergaminho, dava um tom claro ante o quase negro dos Naturais. Origens de Cafés do Brasil mais próximas ao Oceano Atlântico sofrem com a alta umidade relativa do ar, daí poder secar as sementes do cafeeiro mais rapidamente e, além disso, usando uma área menor de terreiro só poderia ser uma maravilha! Com a popularização dos equipamentos de descascamento de café, verificou-se que havia, a princípio, um ganho significativo na qualidade média das sementes porque esse método de Pós Colheita tende a uniformizar os lotes pela perspectiva do ponto de maturação. Descascar os frutos cerejas trouxe uma mudança radical nos resultados dos Concursos de Qualidade de Café no Brasil, que proliferaram endemicamente por todas as regiões produtoras. Por exemplo, o Cup of Excellence, coordenado pela BSCA - Associação Brasileira de Cafés Especiais, já no início dos anos 2.000 tinha 10 lotes de cafés CD entre os 10 primeiros colocados, que passaram a ser disputados avidamente por pequenas torrefações Premium mundo afora.

dade, nada mais do que o simples resultado de alta tecnologia aplicada na produção, algo que os brasileiros são muito hábeis, levando a safras grandiosas. No entanto, um novo componente entrou no enredo quase que sorrateiramente, tornando o quadro mais agudo do que o normal: o Vietnam com uma impressionante produção de Robusta e que rapidamente deslocou a Colômbia do posto de segundo maior produtor mundial de café. A espécie é robusta ou canephora, sim, mas ainda café! A década de 1990 foi marcada no Brasil pela instalação dos pilares da abertura do mercado para o serviço de Espresso, propagado por novos locais para se apreciar o Café: as Cafeterias.

Cereja Descascado

Descascar os frutos cerejas trouxe uma mudança radical nos resultados dos Concursos de Qualidade de Café no Brasil, que proliferaram endemicamente por todas as regiões produtoras.

As primeiras tinham como referência a marca da casa, digamos assim, onde o que bastava era o fato de se oferecer o Espresso e suas variações como as estrelas da casa. É o que denomino de Cafeterias da Primeira Geração. Fran’s Café e o emblemático Café do Ponto são as referências desse grupo. A primeira metade dos anos 2.000 trouxeram ao público um novo tipo de cafeteria, onde um personagem ganhou destaque: o

Ou seja, o CD simplesmente acabou com o reinado do Natural... Rei Morto, Rei Posto! O início dos anos 2.000 trouxe também uma das mais longas crises de preços enfrentadas pelos cafeicultores. Na realimar./abr. 2014 - Revista Cafeicultura | 19


ligados ao consumo do café, desde máquinas e equipamentos até apetrechos e produtos. Colocar “a cabeça para fora da porteira” fez com que essa nova classe de Cafeicultores-Torrefadores experimentassem novos e diferentes desafios.

Lattè Art

estimulados a mostrar que uma xícara poderia servir de fundo para expressão artística.

Barista. Profissão que teve sua origem na Itália, berço também do serviço de Espresso, trouxe para o mercado brasileiro um novo patamar através dos visionários Marco Suplicy e seu Suplicy Cafés Especiais e o Santo Grão Café. A preocupação em torrar os cafés para uma oferta diária com frescor juntamente com uma turma de jovens animados e estimulados a mostrar que uma xícara poderia servir de fundo para expressão artística: o Lattè Art. Nesse momento o Café Coado foi relegado a um segundo plano, como um produto de classe inferior ao Espresso. Num ambiente fervilhante como esse, um novo segmento foi se instalando rapidamente a partir do campo: as fazendas passaram a torrar uma seleção do que produziam como forma de agregação de valor e, portanto, perfeita rota de fuga dos baixos preços do Café Cru (Green Coffee) e suas cotações via Bolsa de New York. A pioneira foi a Ipanema Coffees, de Alfenas, que teve a ousadia de estabelecer uma cafeteria na cidade de São Paulo. Depois outras como a Fazenda Pessegueiro e .. com o seu café Orfeu ganharam o mercado. Estava aberta uma nova via que logo deu vigor a um vertiginoso crescimento de todos os setores

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2010 dá início a um período particularmente efervescente no mercado do café, trazendo diversas respostas aos desafios que surgiram nas décadas anteriores. Depois da ascensão impressionante do CD – Cereja Descascado, com as sementes em pergaminho forrando de cor palha os terreiros Brasil afora, grãos secos pelo clássico método Natural voltaram à cena de forma retumbante. Percebeu-se que alguns perfis sensoriais de bebida só eram obtidos caso as sementes fossem secadas com as cascas externas, como foi feita em nosso país por mais de 120 anos. Ao mesmo tempo, os produtores começaram a perceber que o emprego dos equipamentos para descascar e desmucilar as sementes encarecia a operação, acarretando, ainda, problemas adicionais como a destinação ou reprocessamento da água que se contaminava no processo. Concursos especialmente destinados aos chamados Cafés Naturais começaram a pipocar em todas as regiões produtoras, juntamente com Congressos e Seminários Internacionais sobre o tema, estimulando a aplicação desse tradicional método de preparo de secagem. Portanto, aquele processo que era considerado de baixa tecnologia e até depreciado por alguns profissionais do mercado, retomou seu lugar pela possibi-

lidade que tem de proporcionar bebidas de perfil mais complexo, cheio de sutilezas e arroubos aromáticos. Enquanto isso, na ponta das Cafeterias, outra retomada ocorria, resgatando um clássico preparo que ficara ofuscado pelo Espresso por alguns anos: a Percolação ou, simplesmente, Café Coado. Na verdade o Espresso ganhou muito espaço devido as campeonatos regionais, nacionais e mundiais de baristas, onde o principal desafio estava focado justamente no Espresso. Mas, gradativamente baristas do Noroeste dos Estados Unidos descobriram utensílios de uma empresa japonesa mais conhecida por sua atuação no setor de vidraria de laboratório, mas que lançou uma linha com belo e inovador design de moinhos para café, cremeiras e até um sistema de percolação que conquistou rapidamente o gosto do mundo: o Hario V60. Para tornar ainda mais charmoso o retorno triunfal da Percolação, passou a ser tratado como “Pour Over”, justamente porque boa parte do segredo da performance deste processo está no forma de verter a água sobre o café moído. Como conseqüência, os serviços de Café Coado se tornaram estrelas nas cafeterias, pois a concentração menor (na faixa recomendada de 7% m/v) permite uma percepção muito maior das sutilezas de aromas e sabores da bebida em relação ao Espresso. Afinal, nosso Palato foi desenhado para trabalhar em baixas concentrações! Os primeiros anos do novo Milênio trouxeram à tona um tema precioso, que é a Denominação de Origem no Café,


tal qual feito nas principais origens vinícolas do planeta. Ao pioneirismo do Cerrado Mineiro, se seguiram denominações como o da Serra da Mantiqueira (MG), Norte Pioneiro do Paraná e, mais recentemente, a Alta Mogiana (SP). Produto de Território por excelência, o Café expressa seus atributos de bebida como resultado da combinação de sua localização, botânica empregada e manejo. Cafés com notas florais e de grande acidez cítrica, por exemplo, ratificam as características de produção em área montanhosa como nas cidades do Circuito das Águas que compõe a área de abrangência da APROCAM – Associação dos Produtores de Café da Mantiqueira, sediada em Carmo de Minas. Diversas origens de café são famosas pelo perfil sensorial único de suas bebidas, como é o emblemático caso dos cafés do Kenya, que apresentam naturalmente expressiva concentração do Ácido Fosfórico. Na semente existem uma diversidade fantástica de componentes, inclusive ácidos, porém o ponto mais importante que deve ser observado é a concentração necessária para se tornar perceptível ao nosso palato. Os chamados Elementos de Território (adoro esse nome!)

fazem com que um ou outro atributo sensorial se expresse mais, ou seja, que sua concentração se torne suficientemente alta para que possa ser percebida e reconhecida num simples ato de beber uma xícara de café ou uma taça de vinho. No entanto, no início de 2013 tornou-se público que a gigantesca rede Starbucks solicitou uma série de patentes para promover a “melhoria da qualidade” dos grãos crus que ele vier a adquirir. Dentre as tecnologias que ela está requerendo, duas particularmente chamam muito a atenção. A primeira se resume em uma tecnologia para minimizar o teor de substâncias sensorialmente ruins, como grãos que apresentam os críticos defeitos conhecidos por PVA (Pretos, Verdes e Ardidos). Ou seja, com isso poderiam adquirir cafés com diversos dos chamados Defeitos Capitais, que por isso são mais baratos, para industrialmente tornarem sua bebida razoável. A segunda é a que permite incorporar determinados sabores nos grãos de qualidade mediana. Neste caso, ao adquirir lotes de café de qualidade mediana (que podem são aqueles cujo preço refletem a média do mercado), a Starbucks poderá ter bebidas com notas florais ou frutadas como cafés do Leste Africano ou mesmo de um determinado país

Produto de Território

por excelência, o Café expressa seus atributos de bebida como resultado da combinação de sua localização, botânica empregada e manejo.

da América Central. Portanto, o que seria uma característica determinada pelos Elementos de Território passariam, a partir deste grupo de tecnologias patenteadas, como resultado de processo industrial. É como se qualquer café produzido em qualquer localidade do mundo pudesse ter seu clone sensorial. Pode parecer angustiante, mas certamente no momento em que esse processo entrar em linha industrial, uma resposta virá de alguma forma, seja pelos intrépidos Coffee Hunters e Baristas, seja pelos Cafeicultores ou por um movimento dos consumidores apaixonados. A bem da verdade, os desafios existirão sempre, mudando a cada momento da história, mas, por outro lado, não ficarão sem respostas! ENSEI NETO Verão/2014

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illycaffè inicia tour global para divulgação da EXPO Milão 2015

A

Divulgação

torrefadora italiana deu partida para uma grande celebração mundial da illycaffè. Responsável pelo pavilhão do café (Coffee Cluster) da EXPO Milão 2015, na Itália, a torrefadora começou, na capital mineira, um tour que passará por 9 cidades e 3 continentes durante 20 meses, até a data da inauguração da mostra universal, dedicada ao tema “Alimentando o Planeta, Energia para a Vida”. Já são mais de 140 países confirmados na exposição, que deve receber cerca de 20 milhões de visitantes de maio a outubro de 2015. Cada país que receberá o tour, apoiado pela Organização Internacional do Café (OIC), terá dois embaixadores. No caso brasileiro, os escolhidos são o produtor José Carlos Grossi, em nome de todos os cafeicultores do país, e o fotógrafo Sebastião Salgado, como personalidade pública, ambos mineiros e vinculados aos valores e princípios da illycaffè.

Governo declara emergência fitossanitária por causa da broca-do-café

Medida deverá agilizar registro de produtos substitutivos ao Endosulfan.

Silas Brasileiro Presidente Executivo do CNC

E

STADO DE EMERGÊNCIA FITOSSANITÁRIA Na quinta-feira, 13 de março, 2014 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio de assinatura do ministro Antônio Andrade, publicou, no Diário Oficial da União (DOU), a portaria Nº 188, que declara, por prazo de um ano, “estado

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de emergência fitossanitária relativo ao risco iminente de surto pela infestação da praga Hypothenemus hampei, no Estado de Minas Gerais, considerando a gravidade pelo ciclo curto e grande capacidade de proliferação: a baixa capacidade de resposta disponível pela ausência de alternativas eficientes para seu manejo e os efeitos sobre a economia agropecuária por causar grandes perdas na produtividade e na qualidade de café”. A publicação desse normativo é uma vitória do setor produtor da cafeicultura nacional, haja vista que, desde 2012, quando o Conselho

Nacional do Café (CNC) e a Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tiveram ciência que o Endosulfan, único princípio ativo existente para o combate da broca-do-café no Brasil, sairia de circulação sem a aprovação de produtos substitutivos, iniciaram reuniões com o Governo Federal, haja vista que, conforme apuração junto a especialistas, para cada 5% de frutos atacados pela broca, até 1% dos grãos apresenta defeito, interferindo diretamente na renda, na qualidade da bebida e, consequentemente, no preço ao cafeicultor.



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