olhares
da mem贸ria
olhares da mem贸ria
Sobral, Sobr So b all, outubro ouutubrro de outu de 2007 20007
JOSÉ LEÔNIDAS DE MENEZES CRISTINO Prefeito de Sobral JOSÉ CLODOVEU DE ARRUDA COELHO NETO Vice-Prefeito de Sobral JÚLIO CÉSAR DA COSTA ALEXANDRE Secretário da Educação ANA ROSA DE ANDRADE PARENTE Secretária-Adjunta da Educação JOAN EDESSOM DE OLIVEIRA Diretor da Escola de Formação Permanente do Magistério PROJETO OLHARES DA MEMÓRIA ESCOLA DE FORMAÇÃO PERMANENTE DO MAGISTÉRIO GRUPO DE PESQUISA HISTÓRIA E MEMÓRIA SOCIAL DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA, DA UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ CAIO DANIELI Projeto gráfico e editoração Todas as imagens petencem aos arquivos particulares dos autores exceto: Páginas 13, 20, 22, 26, 28, 29, 41, 51,54, 59 (Caio Danieli) Página 33 (Arquivo pessoal de Liduíno Sá)
Sumário Memórias em um tempo veloz, 07 Júlio César da Costa Alexandre Secretário da Educação Acerca de árvores e lembranças, 09
Joan Edessom de Oliveira Diretor da Escola de Formação Permanente do Magistério
A força da Memória e da História, 11 José Edvar Costa de Araújo
A Escola Serviço de Promoção Humana, 13 Heldeana Romão Carvalho
A professora do Sertão, 15 Jânia Maria Carneiro
Como me descobri professora, 18 Teresa de Jesus Oliveira
Escrever: uma arte, uma história, uma conquista, 20 Marcos Arruda Portela
Escola Ivonir Aguiar Dias: histórias e memórias, 22 Juliana Maria Ferreira Leite
Escola Raul Monte, 24
Maria Auxiliadora Eufrásio de Paula
Meu primeiro livro, 26
Florência Cavalcante de S. Ferreira Meus (velhos) tempo de FEBEMCE, 28 Antônio Barbosa de Oliveira
Nossa terra, nossa gente, 30 Raimundo José Machado da Ponte
Aprendi tanto com ela..., 32 Maria Francisca Dolores da Gama
O olhar sobre uma escola por uma grande educadora, 34 Leonilda Siqueira Costa Lima
O professor-educador faz a diferença, 36 Maria da Conceição Neta Costa
Realização de um Sonho, 38 Francisca Verônica Lira Arruda Retomando a memória do passado, 40 Antônia Monteiro Lopes
Revisitando a escola na década de 1960, 42 Maria da Penha Cardoso
Tempo de aflição, 46 Jaqueline Maria Ximenes Rodrigues
Uma boa alimentação, 49
Francisca Maria Guilherme Barros Ferreira
Uma professora à frente do seu tempo, 50 Benedita Eliene Divino Freire
Sala nota dez, 52
Franscisco Robério Linhares Rodrigues Instituto de Teologia e Pastoral: um pouco do histórico, 54 Regina Andrade de Aguiar Alves Aula de Campo, 56 Maria do Carmo Castro Araújo Silva A minha sala de aula, 59 Ana Carmem da Silva Sobre os Autores,
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MEMÓRIAS EM UM TEMPO VELOZ
“Quando chegava a minha vez de fazer a leitura em voz alta para a turma e que trocava a pronúncia de uma palavra, ela fazia repetir tantas vezes fosse necessário até acertar. A Profa. Liduína corrigia dizendo: “como é a palavra, Teresa?” Nestes momentos, é bem verdade, o coração batia tão forte que parecia sair pela boca, o rosto ardia que parecia ter labaredas de fogo; no entanto, nem eu nem ela desistíamos. Os colegas ficavam aflitos, esperavam “meu acerto” e este vinha acompanhado de uma explosão de aplausos”. (Teresa de Jesus Oliveira, Coordenadora Pedagógica da Escola Professor Gerardo Rodrigues)
SOBRAL, UMA CIDADE ONDE O TEMPO É VELOZ. Esse fenômeno evidencia o processo de complexidade urbana que nossa cidade desenvolveu, permitindo que surjam idéias com a intenção de resgatar sentimentos que parecem esquecidos e sem valor. No caso em questão, isso foi feito por meio da recuperação e registro das memórias das pessoas, tendo como referência a Educação. São memórias que não são apenas um retorno a um passado, mas que, ao serem narradas, lembradas e relembradas, adquirem novos significados que podem ajudar a repensar o presente em que se vive e o futuro que se deseja. São memórias que surgem a partir de fotografias, documentos e, principalmente, da história das pessoas. O estudo da história exige a procura de um ponto de vista imparcial, entretanto, a memória enquanto categoria de estudo mostra até onde essa procura pode chegar. A memória não permite que a pessoa se distancie da
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história, de sua história. A recuperação da memória contada pelas próprias pessoas permite que as pessoas apareçam como sujeitos dessa história. Nesse processo, não são mais heróis, autoridades e fatos marcantes que fazem a história, mas as pessoas comuns em seu cotidiano comum. Sintomática é a citação da professora Jânia Maria Carneiro em seu texto, “A professora do sertão” quando relata a influência que exerceu D. Maria Dagmar Carneiro em sua opção de ser professora: “E hoje aos oitenta e oito anos, seus ex-alunos vêm visitá-la e com orgulho a chamam de “minha professora”. Durante as visitas que duram horas a fio, a conversa é apenas relembrar com grande saudade e alegria os bons tempos da escola da Dona Dagmar nas Pedras de Fogo. Estas histórias contadas, inumeráveis vezes, por minha avó, aguçaram em mim um enorme desejo de viver essa bela aventura de ser professora. E hoje, assim como vovó já tenho muitas histórias pra contar”. Sejam bem vindos. Julio César da Costa Alexandre Secretário da Educação de Sobral
ACERCA
DE ÁRVORES E LEMBRANÇAS A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento... (Riobaldo Tatarana, professor, jagunço dos gerais, em Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa)
ASSENTADO A MINHA MESA DE TRABALHO, no terceiro piso da Biblioteca Pública Municipal Lustosa da Costa, tenho abaixo de mim milhares de livros. Quase ao lado, cotidianamente, corre o velho rio das garças, o Acarau, vindo de caminhos e lugares e tempos os mais distantes. Olho para esse rio e para essa cidade e reafirmo minha condição quase todos os dias: sou sertanejo, um sertanejo que lembra, que planta e colhe lembranças e memórias manhã após outra, memórias e lembranças banhadas por esse sol e por essa água, irmãos imemoriais. Daqui, desse lugar que há alguns séculos deve ter parecido uma parte do paraíso, as margens do rio contrastam e se complementam. Um barqueiro atravessa as pessoas de um ao outro lado, Caronte cruzando o Aqueronte em direção ao Hades. Não sei ao certo em qual dessas margens está o inferno mitológico e o real. Daqui, desse lugar, junto com alguns bravos que aturam minhas rabugices de velho, dirijo a Escola de Formação Permanente do Magistério. Foi a partir dela que surgiu a idéia de realizar o Olhares da memória, não como um simples exercício de contar e relembrar o passado, mas como tentativa de fazer esse passado ser mestre e luz para os nossos passos presentes. Com o resultado final do trabalho em minhas mãos, percebo que as memórias dos nossos professores cumprem esse papel. Não é apenas um percurso de nostalgia, mas percebo nelas o garimpo, a tentativa de arrancar lições, de extrair dessas memórias palavras e forças para a docência, para a lida diária. Há outra coisa, são boas memórias, felizes, ainda quando se encontre nelas um quê de tristeza e de melancolia. E são memórias “rosianas”, iguais àquelas contadas por Riobaldo,
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professor e jagunço do Mestre João Guimarães. Trechos diversos, múltiplos, díspares, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros se misturando, essas lembranças da vida guardadas durante tanto tempo e agora reveladas. Essas mulheres e esses homens, ainda sem o perceber, nos fazem uma delicada e preciosa oferenda. As lembranças, as memórias, constituem o que eu tenho de mais precioso, de mais íntimo. Contá-las, partilhá-las, é entregar aquilo que eu guardo com mais cuidado e ciúme. Doravante, as memórias desses professores serão públicas, saberemos da vida desses homens e dessas mulheres. Mas é assim que vamos aprendendo, com o que eles nos contam agora. E aprendemos todos, eles também. Ao nos contar, ao dividir conosco, levam algo em troca, aprendemos juntos, nos irmanamos. Acho que era esse o espírito do Olhares da memória. Quando, junto com Júlio César e Edvar Costa, por proposta desse último, pensamos isso, acho que nem nós próprios esperávamos um resultado tão bom e um trabalho tão bonito. Penso que isso faz parte do nosso trabalho de formação, desse trabalho que desenvolvemos em Sobral, essa cidade heráldica e sertaneja, medieval e contemporânea a um só tempo. A formação dos professores se dá não apenas na sala de aula mas também nesses momentos que buscamos garantir, espaços e vozes diversas. Os trabalhos que aqui apresentamos mostram essas memórias como fala, imagem, cor, cheiro. Lembramos com os sentidos, palavras lidas nos fazem cócegas nas mãos, imagens falam em nossos ouvidos, as memórias de todos se confundem com as nossas próprias. É outubro, e no cinza sem fim dessa caatinga explode, aqui e acolá, o amarelo-ouro do pau-d’arco, ipê-amarelo. Os olhares da minha memória se voltam para aí, agora grávidos e prenhes dessas lembranças de outros. Joan Edessom de Oliveira Diretor da Escola de Formação Permanente do Magistério
A FORÇA DA MEMÓRIA E DA HISTÓRIA OS RICOS SIGNIFICADOS DAS MEMÓRIAS DO QUE FOI VIVIDO estão na confluência de diversos fatores. Entre eles, estão as emoções de recordar e recuperar para o presente, de modo vivo, os fatos e seus sentidos pessoais. Contudo, mesmo originalmente individuais, as emoções e recordações trazem também os testemunhos e os vestígios de outras pessoas, das instituições, dos costumes, dos sabores, dos cheiros de um tempo que se reconstrói; ao serem vistas, como nesta exposição, despertam também a imaginação de outros. É o que acontece com cada um que lê estes textos e vê as imagens que os acompanham. Por isto é que se acredita que, para chegar a uma história abrangente de uma época ou de uma atividade, não bastam os documentos; sejam eles os documentos tradicionais, sejam de outros tipos. As memórias dos que viveram os acontecimentos, transmitidas direta ou indiretamente, são essenciais para compor uma história que reflita a complexidade da saga dos humanos. Estes são os princípios fundamentais que animam esta primeira produção, aqui exposta, do trabalho memorialístico de educadores das escolas públicas da rede municipal de Sobral. Narrativas muito simples, diretas. Talvez por isto mesmo, por revelarem a emoção, o sentimento e a humanidade de quem constrói e se constrói nesta lida, tem ao mesmo tempo a capacidade de comover e de mostrar os principais desafios da educação em qualquer época. Não sendo história, na acepção da intenção e do esforço do sistemático e científico, estes testemunhos sinalizam temas que merecem e precisam ser investigados para se conseguir aperfeiçoar os processos educativos, na escola e nos demais espaços de socialização e aprendizagem.
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É com base nestas convicções que o Grupo de Pesquisa História e Memória Social da Educação e da Cultura, formado por professores e estudantes do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú, recebeu e aceitou o desafio da Secretaria da Educação de Sobral para abrir esta fronteira a mais no esforço que vem sendo feito para ampliar os horizontes de quem exerce o ofício de educador. Ao mesmo tempo nos anima a expectativa de que este tipo de colaboração construirá uma aproximação construtiva, capaz de identificar contribuições concretas que a universidade pode e deve dar, compatíveis com as necessidades contemporâneas da sociedade desta região cearense. A adesão apaixonada dos que escreveram neste primeiro momento, a diversidade e a importância dos aspectos revelados, as informações obtidas sobre pessoas interessadas e guardiãs da memória social e pessoal – tudo isto dá a certeza de que as próximas colheitas serão maiores não só na qualidade mas também em quantidade. Por outro lado orientam sobre os próximos passos a serem dados. As perspectivas, a serem consolidadas futuramente no Memorial da Educação de Sobral, espaço de preservação de acervos mas também de convivência e de reflexão, trarão benefícios para todos: os educadores no exercício da profissão, os estudantes no período de sua formação inicial, os pesquisadores da universidade e o cidadão comum. Afinal de contas, como os próprios testemunhos desta produção demonstram, a memória e a história da educação não se constituem apenas de narrativas saudosas do passado; elas são poderosos instrumentos de análise para atuar sobre o presente e o futuro – sobre o que somos e o que queremos e precisamos ser. José Edvar Costa de Araújo Grupo de Pesquisa História e Memória Social da Educação e da Cultura/UVA
A ESCOLA SERVIÇO DE PROMOÇÃO HUMANA Heldeana Romão Carvalho
A ESCOLA É UM ESPAÇO ONDE PASSAMOS uma grande parte de nossas vidas. Ela nos deixa memórias marcantes. Iniciei minha vida escolar aos cinco anos de idade no jardim II em uma escola convencional dirigida pelo Monsenhor Arnóbio Andrade. Era uma escola pequena e bastante aconchegante. Mas naquele momento, para mim, a escola não era um bom lugar, pois eu estava cercada de pessoas estranhas e chorava bastante por ser muito ligada à minha mãe, uma característica desta idade. Os anos foram passando e fui conhecendo e explorando aquele espaço com a ajuda de meu irmão mais velho que já estudava lá. Aquela escola passou a ser significante na minha vida.
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A cada ano que passava ela crescia um pouquinho em virtude da demanda. A Escola Serviço de Promoção Humana ainda fica localizada próximo à Fábrica de Tecidos. Essa proximidade foi um diferencial para a minha matrícula, pois meu pai trabalhava naquela fábrica e nos pegava na saída. Na frente da escola tem duas árvores; logo na entrada tinha a secretaria e duas salas no corredor. Ao final deste ficava outra sala e depois a cozinha; ao lado tinha mais uma sala e um pátio que era cobiçado por todos por causa dos pés de sapoti que havia lá e eram os tesouros da Irmã Francisca, responsável pelo prédio, uma espécie de vice- diretora. Na hora do recreio era impossível que nenhum aluno quisesse subir naquelas árvores, mesmo que fosse apenas para provocar a irmã. A nossa maior diversão era aquela, pois não tinha parque. Brincávamos muito de pega-pega e as árvores nos serviam de “ligo”. A merenda era a gente que levava, mas lá eram vendidos uns picolés feitos de refresco, nas vasilhas do “redoxon”; eram bons demais. Conhecíamos todos os professores, alunos e seus pais. A cada ano tinha vontade de estudar numa outra sala para acompanhar meu irmão. Foi nesta escola que aprendi as primeiras letras e até hoje essas lembranças estão muito vivas em mim. Ah! Como sinto saudades desse tempo! Na minha santa inocência aquele espaço seria meu por muito tempo. Como a vida é feita de perdas e ganhos, aqui deixo registradas essas minhas doces memórias.
A PROFESSORA DO SERTÃO Jânia Maria Carneiro
ERA MIL NOVECENTOS E QUARENTA E OITO (1948) quando Maria Dagmar Carneiro começou a lecionar em Pedras de Fogo, localidade de Santana do Acaraú. Ela lecionou por doze anos. Quatro anos particular, ganhando dois mil réis por aluno ao mês; e oito anos pela prefeitura, remunerada com cem cruzeiros ao mês. O ano letivo iniciava em janeiro e terminava no mês de dezembro. As aulas eram ministradas na sala da casa da professora. Na sala tinha uma mesa e uns bancos compridos para os alunos sentarem. Havia também uma pequena lousa móvel sobre a mesa para a professora escrever. A aula iniciava às oito horas e terminava às treze. Ao entrar na sala, os alunos, sentados, conversavam esperando a professora que terminava de colocar o almoço no fogo e de alimentar seus quatro pequenos filhos. A professora ensinava do primeiro ao quarto ano. As lições estavam contidas no primeiro, segundo, terceiro e quarto livros; as contas de somar, subtrair, multiplicar e dividir eram feitas pela tabuada que a professora confeccionava para cada aluno. Dona Dagmar conta: “todo dia havia chamada individual de leitura e de tabuada. Aquele aluno que errava a lição ou a tabuada eu punia com meia dúzia de bolos dados com uma palmatória. Mas aquele aluno que acertava a lição e a tabuada eu recompensava com um pequeno pedaço de rapadura. Minha irmã, Dinorah, me ajudava a tomar a lição e a tabuada dos alunos”. A professora disciplinava os alunos travessos com meia dúzia de bolos dados com a palmatória. Viajando pelas lembranças, ela conta: “os alunos mais travessos eram a Maíza e o Manoel do Amadeu. Os meninos acusavam a Maíza dizendo: - Dona Dagmar, a Maíza está dizendo que flerta comigo. Então eu pegava a palmatória e dava meia dúzia de bolos na Maíza. Outra
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As irm達s: Dagmar e Dinorah
vez eu fui conversar com o Manoel Raul, pai da Maíza, porque ela apagou a conta de multiplicar do Clóvis, que estava bem certinha”. Já o Manoel do Amadeu gostava de chamar atenção e subia na parede da sala enquanto a professora ajudava algum aluno a tirar conta. Quando Dona Dagmar, minha avó, olhava com um olhar de reprovação, ele descia para receber meia dúzia de bolos na sua mão com a palmatória. E o Manoel do Amadeu dizia: “Dona Dagmar eu estou errado, eu mereço outros bolos; por favor, dê mais bolos na outra mão”. E a professora assim fazia. Quando minha avó ensinava particular a merenda era por sua conta e, geralmente, era banana. A prefeitura dava carne do sul e feijão para a sopa que era feita pela professora, em sua casa, antes de começar a aula. Os alunos merendavam em seus próprios lugares, não havia recreio. Algumas vezes alguns alunos almoçavam na casa de Dona Dagmar. Na escola não acontecia reuniões com os pais. Ela sempre conversava com eles à noitinha, quando se encontravam. Num caso mais sério, a professora ia até a casa do pai do aluno, inclusive para anunciar o resultado final do ano letivo, as aprovações e reprovações. Minha avó como que voltando no tempo relembra: “o povo achava a minha escola boa. Eles falavam: - a Dona Dagmar ensina muito bem”. E hoje aos oitenta e oito anos, seus ex-alunos vêm visitá-la e com orgulho a chamam de “minha professora”. Durante as visitas que duram horas a fio, a conversa é apenas relembrar com grande saudade e alegria os bons tempos da escola da Dona Dagmar nas Pedras de Fogo. Estas histórias contadas, inumeráveis vezes, por minha avó, aguçaram em mim um enorme desejo de viver essa bela aventura de ser professora. E hoje, assim como vovó já tenho muitas histórias pra contar.
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COMO ME DESCOBRI PROFESSORA 20
Teresa de Jesus Oliveira
NO INICIAR DOS ANOS 80, JÁ COM MEUS 18 ANOS, começava o ensino fundamental II na escola pública Thomaz Pompeu de Sousa Brasil na belíssima cidade litorânea de Acaraú. As experiências marcantes e fortíssimas de amizade e convivência com os colegas, professores, diretores e coordenadores, bem como o reconhecimento e a valorização que recebia de ambas as partes, foram determinantes no florescer da minha juventude para que brotasse em mim o desejo de ser professora.
Guardo até hoje as doces lembranças das experiências de convivência naquela escola: dos colegas a confiança de que a garota estudiosa, responsável e comprometida que eu era, pudesse representá-los. Por 4 anos consecutivos fui escolhida líder de sala com a finalidade de, junto com os outros, preparar eventos escolares e fazer a escola melhor. Dos professores a motivação para estudar e ser professora. Da professora Liduína que lecionava língua portuguesa e que não admitia nunca o “erro” de um aluno seu. Quando chegava a minha vez de fazer a leitura em voz alta para a turma e que trocava a pronúncia de uma palavra, ela fazia repetir tantas vezes fosse necessário até acertar. A Profa. Liduína corrigia dizendo: “como é a palavra, Teresa?” Nestes momentos, é bem verdade, o coração batia tão forte que parecia sair pela boca, o rosto ardia que parecia ter labaredas de fogo; no entanto, nem eu nem ela desistíamos. Os colegas ficavam aflitos, esperavam “meu acerto” e este vinha acompanhado de uma explosão de aplausos. Da doce professora Ana, de ciências. Ah! Que doces saudades dos seus conselhos, das suas orientações, do seu encorajamento para que eu progredisse nos meus estudos. Dizia: “Você Teresa, vai longe”. Dona Ana, era assim que a chamávamos, sabendo que eu era uma das mais humildes alunas, enchia-me de presentes para que não desistisse de estudar. Mas o que de mais fantástico ela fazia era emprestar-me sua coleção de livros do Machado de Assis. Li todos, acompanhada de um dicionário - orientações de Dona Ana. A diretora Dona Fátima, inscrevia-me nos concursos escolares mesmo quando eu resistia em participar e dizia: “mostre-se, você é talentosa”. Assim fui fazendo minha coleção de medalhas e de alguns livros ganhos nas competições. Foi assim, vivenciando experiências tão deliciosas que “descobri” que em mim existia uma eterna professora. Eterna porque enquanto a vida eu tiver quero, desejo, preciso ser professora.
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ESCREVER: UMA ARTE, UMA HISTÓRIA, UMA CONQUISTA Marcos Arruda Portela
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NO INÍCIO DOS TEMPOS, O SER HUMANO SENTIU a necessidade de registrar sua existência, costumes, arte, meio sócio-econômico, entre outros acontecimentos importantes da natureza e principalmente do homem. Partindo dessa perspectiva, é que surgiram várias formas de conservar a história. Uma das principais foi a escrita. Na década de 90, a Escola Vicente Antenor Ferreira Gomes, localizada no Distrito Rafael Arruda, Sobral, instituiu o primeiro curso de datilografia da história de Rafael Arruda, destinada aos educandos adolescentes da época. Para tal, o professor Hosanã, diretor em exercício naquele período, intermediou a aquisição das novas máquinas de escrever junto à Secretaria da Educação de Sobral. A novidade encantava os mais velhos e apaixonava os jovens, pois muitos ainda não conheciam de perto essa nova forma de entrar num mundo dos sonhos e da imaginação; só conheciam o resultado datilográfico, não o processo. O curso contava apenas com dois instrutores, que ensinavam as técnicas e aceleravam a velocidade de execução das mesmas. Atendia a quatro alunos por turno, entretanto, não supria a demanda. Então,
formavam-se filas de espera lutando por uma vaga. Uma comunidade que só via pela televisão os avanços da informática, tendo que esperar anos até que alguém pudesse comprar algo semelhante. Recordo-me bem das tardes quentes, em que passávamos horas repetindo alguns exercícios como: “... ASDFG, ÇLKJH...” até que automatizássemos os movimentos sem olhar para as teclas. Caso contrário, o professor prometia colocar uma caixa de papelão sobre a máquina com passagem só para as mãos. Com tanta motivação pelo novo, não nos cansávamos do ritual de todas as tardes durante os três meses de curso. Outro fato interessante acontecia com os alunos que melhor e mais rápido datilografassem os textos; iam direto preparar os certificados de conclusão de “Grau” da “8ª série” e “3º científico”, entre outras obrigações da secretaria da escola. Isso era uma honra para quem fosse escolhido; em algumas ocasiões recebiam gratificação da direção da escola. A implantação do curso aconteceu em 1993, vinte e cinco anos depois da criação da escola. Os que participaram dessa experiência sempre recordam dos encontros de conclusão dos módulos, que eram comemorados com muita empolgação. Atualmente, surgiram novas tecnologias, que não vieram extinguir as antigas, mas somar conhecimento no grande caminho sem volta da evolução tecnológica.
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ESCOLA IVONIR AGUIAR DIAS: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS Juliana Maria Ferreira Leite
24 HÁ ALGUNS ANOS ATRÁS, EM DETERMINADAS escola municipais de Sobral havia postos de saúde com consultórios dentários, que tinham o intuito de atender aos alunos e seus familiares. Na Escola Ivonir Aguiar Dias existia uma dessas unidades de saúde na qual, entre os anos de 1990 e 1997, trabalhou minha mãe, que é enfermeira. Por este motivo, eu costumava ir à escola para visitar seu local de trabalho e assim matar a curiosidade própria de criança: saber onde, como e o que faz a mãe nos momentos em que permanece fora de casa.
Desde então, tudo o que se relacionava a esta escola aguçava o meu interesse e curiosidade, pois era bem diferente do local onde eu estudava: a arquitetura do prédio, que ao invés de escadas tinha rampas; a falta de local adequado para brincar na hora do recreio, pois a escola é situada nos segundo e terceiro andares do prédio; e principalmente as diversas histórias a respeito do comportamento violento de certos estudantes. Algumas vezes cheguei a presenciar brigas entre alunos e, por conta disto, concordava com o imaginário popular da cidade que passou a denominar a escola como “Carandiru”, em alusão à famosa casa de detenção que existia à época em São Paulo; tanto pelas características físicas do prédio como pelos constantes atos violentos cometidos por determinados alunos, muitas vezes necessitando até da intervenção policial. No início do ano de 2006, surgiu um convite para trabalhar na Escola Ivonir Aguiar Dias, só que agora, diferentemente de minha mãe, na área da educação propriamente dita. Aquelas histórias e memórias de um passado ainda recente me fizeram pensar: será que valia a pena deixar de lado a conturbada imagem que tinha desta instituição e me arriscar? Atualmente sei que não é fácil conviver com os diversos problemas relacionados à indisciplina ou mesmo com a constante agressividade de determinados alunos que nesta escola estudam ou que freqüentam as tantas outras escolas públicas de nosso país. Hoje, de uma coisa tenho certeza: existem alunos e professores que fazem com que nós tenhamos vontade de permanecer na escola pública e de lutarmos por uma educação de qualidade para todos, independentemente de cor, raça ou condição social. Acreditando sempre que esse é o único meio de mudarmos a imensa desigualdade que castiga o nosso povo e assim vivermos num Brasil melhor ainda do que ele já é.
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ESCOLA RAUL MONTE
Maria Auxiliadora Eufrasio de Paula
26 A ESCOLA RAUL MONTE ORIGINOU-SE NO ESPAÇO que algumas pessoas utilizavam para jogar bola. Numa noite, em momento de campanha política, veio ao bairro o Sr. Joaquim Barreto Lima fazer grande comício. E em um dos seus discursos, falou para a comunidade que naquele espaço iria ser construída uma escola, pois o bairro não tinha. E assim o fez. Terminada a campanha ele foi eleito o prefeito da cidade de Sobral e durante seu mandato cumpriu com a promessa feita para a comunidade. No dia 24 de fevereiro do ano de 1972 ele fundou a escola, colocando o nome Grupo Escolar Prof. Raul Monte. Este nome dado à escola homenageia um dos seus professores, que lecionava em sua residência e muito contribuiu com a educação em Sobral. A escola tinha o formato de um “L”, construídas apenas 08 salas de aulas, uma cantina e uma sala de direção, que também funcionava como secretaria. Após alguns anos veio outra campanha política e nessa o candidato a prefeito Sr. Cid Ferreira Gomes foi eleito. E no dia 24 de Fevereiro de 1999, o então prefeito reinaugurou a escola dando-a uma nova estrutura física; foram construídas 12 salas de aula, 01 sala de computação, 01 sala de direção, 01 de coordenação, 01 secretaria, 01 sala de professores, 01 pátio coberto, 01 quadra de esportes e área de lazer e 01 biblioteca. Daí então a
escola recebe um novo nome, Escola Raul Monte de Ensino Fundamental e Educação Infantil. Por alguns anos funcionou em três turnos, atendendo a comunidade do bairro e dos demais vizinhos com ensino de 1º grau, desde a educação infantil até a 8º série. Mas diante das mudanças efetuadas pela Secretaria da Educação, desde o ano de 2000, a escola passou a funcionar apenas em dois turnos: Matutino e Vespertino atendendo aos alunos de 1º a 4º série. Hoje a Escola Raul Monte que tem como missão alfabetizar e consequentemente melhorar o nível social e cultural de sua comunidade, conta com 558 alunos na escola pólo, 108 alunos na creche Lindalva Constâncio, 39 funcionários, entre diretora, coordenadoras, professoras, secretárias, vigias e serviços gerais. Todos contribuindo da melhor forma possível para a melhoria da qualidade de vida da nossa comunidade.
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MEU PRIMEIRO LIVRO Florência Cavalcante de S. Ferreira
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SÓ TINHA ONZE ANOS E FAZIA O QUINTO ANO, mas já gostava de campanhas; agora era a da venda de livros, livros de literatura infantil, feita pela professora Sinhá e eu. A grande mestra listou os nomes de alunos que iriam fazer pedidos dos livros com seus respectivos títulos e em seguida perguntou-me: - qual o que você vai pedir? Logo respondi: - Nenhum, pois no momento meus pais estão muito aperreados e não poderão comprar, deixe para a próxima oportunidade. Alguns dias depois chegaram as tão esperadas encomendas e na sala foi aquela festa, pois todos estavam ansiosos para receber aquele pedido. A diretora Irmã Rozália chegou a negociar o silêncio em troca daquela caixa tão pesada que ela segurava. Dona Sinhá chamou um a um, cada aluno, e começou a entrega dos livros. Após terminar a última entrega ela me chamou e disse: - Florência este livro é seu. Ele tem muito a ver com você. Chama-se Polyana menina. Tenho a certeza que você fará bom uso dele e da felicidade que estou lhe dando neste momento. Agora quero que me garanta a compra da Polyana moça, mesmo que seja daqui a alguns anos. Assim ela me deu um forte abraço e mandou que eu lesse a dedicatória. Chorando e tremendo li: “À você menina-moça especial e leitora dos pensamentos grandiosos, muito embora ainda pequena, uma lembrança. Professora Sinhá”.
Dona Sinhรก
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MEUS (VELHOS) TEMPOS DE FEBEMCE Antônio Barbosa Oliveira
30 LEMBRO DE MINHA PRIMEIRA ESCOLA, quando iniciei as atividades de educador. Isso nos meus dezesseis anos de idade, quando fui convidado pela diretora Jane Guedes, da FEBEMCE do Núcleo do Sumaré. Nesse tempo, na década de 70, eu era catequista de crianças do Grupo de Jovem da Santa Casa, que se reunia todo sábado à noite: era o JAC – Jovens Amigos de Cristo. Tínhamos um compromisso coletivo, todos tinham que ser catequistas. Foi daí que eu e outro colega organizamos a nossa turma de catequese. Foi o início do meu despertar para ser educador. E a festa da primeira
Antigo prédio da FEBEMCE-Sumaré (atualmente depósito de materiais da Prefeitura de Sobral)
comunhão de meus alunos foi na FEBEMCE, para onde eles foram com seus familiares. A maioria das crianças estudava lá e morava no Sumaré, Alto Novo (Dom José), Santa Casa, Rua da Lagoa e Jânio Quadros. No final da festa surgiu o convite para trabalhar na FEBEMCE, onde fui monitor por cinco anos. Atendia a crianças de nove, dez e onze anos. Trabalhei com atividades lúdicas e com atividade de reforço escolar. Eram feitas visitas duas vêzes por semana à casa dos alunos. Essa, para mim, foi uma das atividades muito importantes, pois a presença dos monitores nas casas dos alunos estreitava muito mais os laços da FEBEMCE com as famílias. Na FEBEMCE havia o planejamento em conjunto com os outros núcleos. Essa troca de experiência ajudava os monitores a buscarem soluções para os nossos desafios. Nesse período haviam os núcleos do Sumaré, Dom Expedito e Sinhá Sabóia.
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NOSSA TERRA, NOSSA GENTE Raimundo José Machado da Ponte
A LOCALIDADE DE SALGADO DOS MACHADOS, fundada no século XIX pelo Sr. Domingos Machado, era uma comunidade pouco desenvolvida e seus habitantes não tinham perspectiva de viver dignamente, mas sonhavam em possuir uma escola em sua localidade para atender os anseios de seus moradores. Os estudantes da região conheceram em Sobral dois Voluntários da Paz, integrantes do Rotary Club - os americanos Brian Honm e John Jansen -, que se interessaram em conhecer a localidade e ajudálos no seu desenvolvimento.
Ao chegar naquele lugarejo iniciaram um movimento liderado pelo senhor Humberto Guimarães Machado para construção da escola; fundaram uma associação para arrecadar recursos nos Estados Unidos e mobilizaram os moradores da região para um trabalho voluntário para realizar este sonho que era a escola, que levou o nome de Domingos e tinha seu slogan: saber, sentir, saúde e servir. No ano de 1969, as aulas foram iniciadas tendo como professora a Dona Raimunda Adeodato Paiva, que anos depois foi auxiliada pela professora Maria das Graças Cordeiro Siqueira; trabalhavam na escola de maneira dedicada, plantando uma semente do conhecimento, dando uma esperança à comunidade. A Escola Domingos Machado não tinha vinculo oficial com a gestão municipal, dificultando o seu funcionamento; caminhava a passos lentos. Em 1983, a então diretora Odete Maria da Ponte Machado preocupouse com a parte burocrática fazendo o reconhecimento da escola no Conselho Municipal de Educação. No ano de 2001 a escola integrou-se ao complexo Escola Senador Carlos Jereissati, passando a ser um de seus anexos, sob a administração da professora Maria da Penha Cardoso que indicou a professora Magna Maria Prado Sousa para vice-diretora. Com esta nova gestão a escola passou a mobilizar-se, elevando sua auto-estima, conseguindo bons resultados e comemorando suas datas comemorativas como festas religiosas, festas juninas, Independência do Brasil, festa de doutores do ABC. Atualmente a Escola Carlos Jereissati, anexo Domingos Machado, funciona com a educação infantil, ensino fundamental do 1º ao 5º ano e na educação de jovens e adultos, abrindo uma nova perspectiva de aprendizagem na nossa região.
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APRENDI TANTO COM ELA... Maria Francisca Dolores da Gama
34 PASSEI NO VESTIBULAR DO ANO DE 1994 para o curso de Estudos Sociais, na Universidade Vale do Acaraú. Na época ouvi falar de uma professora chamada Minerva Sanford. Diziam que “marcava” os alunos, que suas provas eram pesquisadas e que ninguém tirava mais que a nota 7. Por azar ou sorte a ‘’famosa’’ professora seria a minha professora de História Geral . No primeiro dia de aula fez chamada olhando para cada aluno. Quando chegou a minha vez aquele friozinho na barriga não deixou de acontecer. Fiquei pasma diante da professora e dizia pra mim mesma: “ tenho que estudar”. As minhas colegas diziam: “Essa professora é ruim, ela reprova aluno só na conversa”. Descobri que a professora só falava do autor Souto Maior. Comecei a estudar outros autores que falassem mais claro sobre a nossa história como Pe. Oscar Beozzo, Francisco Gutiérrez, e outros. Eu e a professora começamos a debater idéias. Em uma dessas discussões a professora pediu que eu me retirasse da sala de aula. Mas eu não aceitei e argumentei: “professora, só saio se a senhora me mostrar que no Estatuto da UVA está escrito que o aluno tem que se retirar da sala quando questiona uma professora ”. As minhas colegas diziam: “Ela vai te reprovar”. E eu falava: Como ? Essa história está muito distorcida!”. Havia uma colega superpreguiçosa que nos dias de provas as minhas costelas ficavam doloridas de tanto ela beliscar. Ela dizia: “Se você me ajudar pagarei merenda pra você”. Como não tinha condições para merendar todos dos dias na Universidade, pelo menos nas provas a merenda já estava garantida. Então, comecei a “ajudar” quem necessitava. Assim era nos trabalhos de grupos e etc.
Quando chegou o final do ano passei com boas notas nas provas da professora Minerva Sanford. Ela muito satisfeita me parabenizou e me abraçou. E eu só comigo: “Ela nem sabe o quanto sofri e por algum tempo vou deixar de ouvir falar de Souto Maior e ver aquele caderninho de Plano de Aula meio amarelinho”. Quando terminou de entregar as provas, ela saiu. O meu coração bateu forte já com saudade das aulas duras e divertidas da professora Minerva Sanford .
Profª. Minerva Sanford
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O OLHAR SOBRE UMA ESCOLA POR UMA GRANDE EDUCADORA Leonilda Siqueira Costa Lima
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MINERVA SANFORD FROTA, EDUCADORA DE DESTAQUE no município de Sobral, dedicou sua vida à formação de cidadãos desde a educação básica até o ensino superior. Lecionou durante 44 anos, iniciando sua vida profissional na Escola Professora Cecy Cialdine. Durante alguns anos trabalhou em importantes instituições de ensino como a Escola da Fazenda Mucambinho, mantida pelo Governo Federal, a Escola de Comércio Dom José, o Colégio Estadual Dom José Tupinambá da Frota e a Escola Trajano de Medeiros. A Escola Trajano de Medeiros foi criada em 1960 para atender funcionários da CIDAO (Indústria de Beneficiamento de Algodão e Oiticica) e seus filhos, se destacando como uma das escolas pioneiras mantidas por indústria. Esta instituição de ensino era financiada com recursos da CIDAO e funcionava em terreno da própria indústria. É importante salientar que os estudantes tinham todas as despesas com educação custeadas pela indústria, além da assistência à saúde das crianças pelo médico Dr. Guarany Mont’Alverne, médico da CIDAO. A idéia de fundar a escola foi do Sr. Edmilson Moreira, apoiado por seu irmão e maior acionista do Grupo, José Moreira. Para estruturar a escola foi reformado um prédio de propriedade da CIDAO, onde funcionava alfabetização, primeiro, segundo e terceiro anos primários – atual sede do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU de Sobral. Os estudantes da referida escola eram encaminhados ao Grupo Escolar Professor Arruda para darem continuidade aos estudos.
Minerva Sanford Frota desempenhou um importante papel, atuando como primeira professora e administradora da Escola Trajano de Medeiros durante 13 anos. A carreira da educadora motivou a conclusão do Curso de História pela Faculdade de Filosofia Dom José na década de 70. Nesse período foi convidada para lecionar a disciplina de História do Brasil, substituindo o prof. Dr. José Euclides Ferreira Gomes, o qual deixava a Faculdade para a candidatura à Prefeitura Municipal de Sobral. Durante 17 anos dedicou–se aos Cursos de História e Estudos Sociais da Faculdade de Filosofia e da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, deixando por ocasião da aposentadoria. Nesta mesma época gerenciou o Museu Diocesano e foi professora do Colégio Sobralense. É importante destacarmos o papel dessa grande educadora, possibilitando um bem extraordinário: a consciência crítica e reflexiva, colaborando na formação de profissionais éticos e comprometidos com a realidade social. Na sua atuação profissional sempre se preocupou em indagar, questionar, investigar, debater, discernir, propor caminhos de soluções, avaliar na medida em que exercita as funções de criação, conservação e transmissão da cultura, imprimindo eficácia na ação transformadora do homem sobre si mesmo e sobre as instituições que historicàmente colaborou.
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O PROFESSOR-EDUCADOR FAZ A DIFERENÇA Maria da Conceição Neta Costa
NOS ANOS DE 1976 A 1982 ESTUDEI NO COLÉGIO SANTANENSE, da rede Cenecista, em Santana do Acaraú. Prédio escolar de cor amarela, rodeado de carnaubeiras, sem janelas, iluminado e ventilado por com combogós, piso de mosaico, carteiras duplas enfileiradas em suas salas de aula.
À extrema esquerda: Profª. Miriam e Prof. Galvino
Toda a escola cantava o hino nacional, enquanto um aluno fazia o hasteamento da bandeira. Escola formada por um quadro de professores bem conceituados, entre os quais dois faziam a diferença. Dona Miriam Arcanjo, professora de didática, doce, humilde, encorajava- nos a concluir o magistério, enfatizando bem a postura de um bom professor. Professor Galvino Arcanjo dava aulas de OSPB, Sociologia e História. O professor Galvino valorizava os alunos, não pela posição social e sim pelo potencial e história pessoal de cada um. Apesar do seu jeito “turrão” questionava a verdadeira beleza do ser humano e despertava a sede que cada um deveria ter em aprender. Falava assim: - Fulana era tão feia que fazia canhão dobrar esquina, mas quando abria a boca, quem a ouvia ficava boquiaberta. Era uma mulher linda. Questionava também: - Todos nós somos espelhos de alguém. Você quer ser um espelho límpido ou opaco? Para gente como eu, que vinha de família pobre, na época minha mãe já era falecida, as aulas de Dona Mirian e Seu Galvino eram encorajadoras.
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REALIZAÇÃO DE UM SONHO Francisca Verônica Lira Arruda
40 ESTA FOTOGRAFIA ME RECORDA UM ACONTECIMENTO muito importante na minha vida: foi quando participei de um curso de corte e costura no período de dois de maio a onze de agosto do ano de 1977. O mesmo aconteceu na casa das Irmãs Missionárias Reparadoras da Igreja do Menino Deus, tendo como responsável, na época, nosso saudoso Pe. Arnóbio Andrade. A professora nos ensinava com muita dedicação e paciência e chamava-se Ana Maria Sabino; ela ainda hoje reside na mesma casa, na rua Desembargador Moreira da Rocha, Sobral, Ceará. O curso teve a duração de cento e quarenta e quatro horasaula. A turma era de aproximadamente vinte alunas, que demonstravam grande empenho na aprendizagem, pois aprender a costurar e ser uma boa profissional era um desejo que muitas jovens nutriam no coração no nosso tempo, já que oportunidades melhores ficavam um pouco distantes de serem realizadas. A entrega dos diplomas ocorreu no Serviço de Promoção Humana, situado na Avenida Dom José, Sobral, Ceará. Na ocasião houve comemoração e a entrega simbólica dos diplomas, seguidas de um coquetel que contava com a presença de todas as alunas, a professora Ana Maria, nosso querido Padre Arnóbio e os demais convidados. Foi um momento inesquecível para todos, tiramos fotografias com nossos familiares, amigos e esta, que é de fundamental importância para mim, que tirei com o Padre Arnóbio Andrade e a nossa Professora Ana Maria.
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RETOMANDO A MEMÓRIA DO PASSADO Antônia Monteiro Lopes
R ELEMBRO O MEU PRIMEIRO DIA DE AULA , um fato muito importante que eu nunca esqueci. Eu tinha 5 anos e fui à escola onde funcionava a paróquia do Jordão. Saímos de casa, atravessamos a rua, eu e a minha prima Zuli, e chegamos à sala de aula. Entramos e demos bom dia ao professor, sentamos juntas uma perto da outra e ficamos lá, esperando que o professor nos chamasse. O professor, sentado atrás da mesa, pediu que o aluno Isaías perguntasse a mim e minha prima, quanto era dois vezes dois. E ficamos caladas; não sabíamos sequer quanto era dois imagine “vez”. E o menino continuou a perguntar: - dois vezes dois? Depois de algum nós falamos que não sabíamos. O professor mandou o menino pegar um pedaço de pau, com uma parte redonda e dar dois bolos em cada mão. Choramos tanto que não fomos mais assistir à aula do professor. Uma semana após meu avô chamou a mim e minha prima e perguntou porque nós não estávamos indo a sala de aula. Chorando respondemos que não queríamos mais estudar e contamos o que aconteceu. Ele também concordou. Hoje eu sempre conto isto para meus alunos e eles falam que esse professor era muito ruim.
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REVISITANDO A ESCOLA NA DÉCADA DE 1960 Maria da Penha Cardoso
44 TUDO QUE ME FAZ LEMBRAR MINHA INFÂNCIA e minha adolescência é motivo de emoções fortes. As boas lembranças nunca saem da mente nem do coração, principalmente em se tratando de educação. Vivi meus primeiros anos de escolaridade em uma escola de Sobral, a escola da Companhia de Fiação e Tecelagem Ernesto Deocleciano. Naquela época o acesso à escola era muito difícil. Precisava os pais serem amigos de alguém influente para conseguir uma vaga, principalmente a classe pobre. Entrei na escola aos seis anos de idade, no jardim da infância. Era uma escola muito boa, todo mundo estudava junto do jardim ao 3º ano primário (termo naquele período). Lembro-me da maneira como a sala de aula era organizada, uma cadeira dupla atrás da outra. A disciplina era rigorosa. As
meninas só podiam usar vestido (não tinha farda na escola) abaixo do joelho, os meninos não podia entrar com cabelo grande, era cortado à máquina, ficando apenas um amontoado de cabelos no centro da cabeça. Minha primeira professora foi Dona Zenith Carneiro Aguiar, dotada de conhecimentos e de disciplina que jamais encontrei até hoje. A formação que recebemos dessa professora não foi apenas de conhecimentos pedagógicos, mas principalmente de formação humana. Aprendíamos desde a postura de como se sentar na carteira até como tirar água da jarra, naquela época não tinha bebedouro. Tínhamos aula de música e religião; o catecismo era tomado toda sexta-feira; a tabuada era tomada em dupla, porque aquele que acertasse dava “bolo” de palmatória naquele que errasse. Mesmo com todo esse rigor eu chorava pra ir pra escola. As férias eram um tormento. Só havia avaliação uma vez ao ano, no mês de outubro ou novembro, dependendo do período estipulado pela escola. O ano letivo se iniciava em março e terminava em outubro ou novembro. E o melhor, aprendíamos de verdade. Minhas noções de leitura, escrita, ortografia, matemática, aprendi nesse período. Como podemos observar no modelo de prova daquela época, no jardim da infância já escrevíamos frases, separávamos as sílabas e fazíamos pequenos cálculos. Guardo até hoje com muito orgulho minhas lembranças vivas no meu coração como também objetos como as provas de 1965, 1966 e 1967. Outra recordação boa eram as entregas de nota. Tinha classificação: 1º lugar, 2º lugar...etc. Minha professora era muito meiga e ao mesmo tempo ríspida. Na figura aa lado podemos observar uma solenidade de entrega de prova. Eu estou sentada na primeira fila da esquerda para a direita, depois vem minha colega Zuleide, Maria do Carmo Brito, Doracyr Carneiro e o Airton. Na segunda fila, da direita para a esquerda, em pé está a Fransquinha, sentada vizinha está a Goreti, a Núbia de pé, Maria Helena de vestido de lista sentada, Núbia irmã da Fransquinha e a Fátima Izídio. Ai que saudade forte!
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Na figura abaixo estou com minha professora, esse senhor pai de aluno, Sr Evangildo, baiano, colega de meu pai no DNER. Eu estou de pé bem na frente e meus colegas de turma. Nesse dia eu estava recebendo as provas do 1º ano forte (1967). Coloquei ainda minhas avaliações do 1º ano fraco (1966) e do 1º forte (1967). São verdadeiras relíquias que eu guardo com muito AMOR e saudades de um tempo bom em que a educação era levada a sério, a gente chorava para estudar. Muitos realizavam esse sonho, pois havia oportunidade; outros ficavam para trás, por não ter acesso, ser excluído do processo.
Naquela escola aprendíamos a cantar e declamar poesia. Na figura acima estamos cantando uma música antiga, mas na época era moda: “não há oh gente! oh não! luar como este do sertão”. Era tudo muito bom. Mesmo com muitas dificuldades para desempenhar seu papel, a professora conseguia atingir seus objetivos, ensinar, e os alunos aprenderem. Isso era fantástico. Hoje eu não consigo fazer como ela fazia em uma sala multiseriada: todos os alunos aprendiam. A carta de ABC era a base. Lá aprendíamos as letras, as sílabas e as palavras. Depois íamos para o primeiro ano fraco com a Cartilha do Povo, depois no primeiro ano forte com o livro Nordeste. Eu sempre tive vontade de falar desse período de minha escolaridade, mas nunca tive oportunidade. Só a Secretaria da Educação com a Escola de Formação para lançar um projeto tão significativo para nossa memória da educação.
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TEMPO DE AFLIÇÃO
Jaqueline Maria Ximenes Rodrigues
Era tempo de aflição quando a educação se manifestava à base da palmatória. Castigo que muitos odiavam e por cujo motivo acabavam desistindo dos estudos. O domínio da escola era dado pela autoridade máxima: a professora, que orientava os alunos a decorar e conhecer as letras. As avaliações eram feitas à base de castigos, cruéis e muitas vezes insuportáveis, deixando boa parte dos alunos descrentes de suas próprias potencialidades. A história de Seu Paulo Viera Gomes se deu nesta época. Conta ele que, quando chegava a hora de levantar-se para ir à escola, era um dos piores momentos de sua vida. Sua mãe desejava que os filhos tivessem destino melhor que o dos pais, de deixar de trabalhar no sol ardente e passar a ter vida digna com boas condições financeiras. Contador de histórias do lugar onde vive, vaqueiro, zelador do sítio Cachoeiro, de propriedade dos Mendes, seu desejo é deixar registrado na história de Sobral a origem da capelinha e da comunidade do Cachoeiro. Já foi líder comunitário e fundou a Associação dos Moradores da Comunidade da Capelinha de Santo Antonio e a organização de aulas para alfabetizar os adultos que não tinham conhecimento das letras, como ele próprio. Seu Paulo conta que na época de criança sua mãe ordenava-o a freqüentar a escola, mas seu maior problema é quando a professora dava o conteúdo do dia; sua cabeça não funcionava e acabava por ficar nervoso, pois sabia o que aconteceria.
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Naquela época, a professora usava um papel grosso com um orifício, feito para mostrar somente as letras individualmente. Se o aluno errasse, levaria bolo daqueles mais inteligentes, ou seja, daqueles que acertavam. Suas mãos ficavam avermelhadas e no final do dia começavam a inchar. Existia o dia dos “argumentos” que eram os dias de maior desgosto, pois era a tal avaliação dos conteúdos. Como era difícil e sabia dos sofrimentos, depois da aula saía atrás dos colegas que lhe aplicavam os bolos de palmatória, no meio da plantação. Um dia, cansado de ser castigado por motivos que achava banais, resolveu fugir de Meruoca, onde morava, para a Serra do Barril onde viveu por algum tempo até casar-se e formar sua família. No ano de 1970 surgiu o MOBRAL que foi ofertado para sua família, mas somente seu filho Modesto teve coragem, porque naquele tempo os adultos sentiam vergonha de estudar. Mais adiante, em 2004 uma professora, moradora da comunidade vizinha, convidou-lhe para fazer parte de uma turma de educação de jovens e adultos do Projeto Brasil Alfabetizado promovido pelo SESI, e realizado com o apoio do DNOCS, que cedia o ambiente. Seu Paulo organizou as carteiras, doadas pelo vereador Luciano Feijão, e o resto do material era cedido pelo Projeto e a Associação. As condições começaram boas e a turma freqüentava bem, mas algum tempo depois, época de forte inverno, as chuvas e a falta de transporte dificultaram o andamento das aulas, deixando os alunos ainda comprometidos nos seus saberes. A saúde de seu Paulo também foi ficando precária e até hoje é um analfabeto letrado, como se diz.
UMA BOA ALIMENTAÇÃO
Francisca Maria Guilherme B. Ferreira
TODOS NÓS SABEMOS QUE UMA BOA ALIMENTAÇÃO é muito importante para um crescimento saudável e para um bom desenvolvimento psicológico. É comum ouvirmos algumas mães de nossas escolas reclamarem que os filhos não estão alimentados e falta até o sagrado café da manhã. De tanto ouvir isso a Secretaria da Educação resolveu acrescentar em algumas escolas o café da manhã. Na Escola CAIC Raimundo Pimentel Gomes, em que trabalho, o café da manhã foi iniciado em maio de 2001 e permanece até hoje. As crianças chegam, e antes do início das aulas, pela manhã, é servido nas salas o café da manhã. Bem variado – suco de polpa de frutas, mingau de maisena, chocolate quente – tem uma aceitação muito boa e tem contribuído para um melhor desempenho dos alunos. Um dia, andando pelos corredores ouvi várias mães parabenizando a iniciativa. Espero que o café da manhã continue no cotidiano da minha escola e de todas as escolas do município, pois esse alimento talvez seja o mais substancial durante o dia para algumas crianças.
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UMA PROFESSORA À FRENTE DO SEU TEMPO Benedita Eliene Divino Freire
QUANDO ASSUMI A DIREÇÃO DA ESCOLA FRANCISCO AGUIAR, no distrito de Aracatiaçu, no ano de 2001, tive a curiosidade de olhar os documentos da escola. Como aqueles documentos me chamaram a atenção eu ficava horas folheando e lendo aqueles livros com folhas amarelas. Achei tudo muito sugestivo e importante para um trabalho de memória. Aqueles documentos falam por si. Consegui me transportar para uma época passada, sem contar a importância do registro dos fatos. Vi um livro de ponto, no qual a primeira diretora da Escola, cujo nome não lembro agora, registrava os acontecimentos diários. Ela registrava: “Hoje a professora fulana de tal não veio trabalhar por pura preguiça”. Esta frase ela registrava no local onde a professora deveria assinar o nome. Ela registrava também suas angustias: “hoje dia tal, do mês tal, do ano tal, não tem merenda”. No dia seguinte novamente: “hoje não tem merenda”. Assim vários dias com a mesma frase. Mais à frente registrava: “já estou cansada de repetir sempre a mesma coisa. Essas crianças vão para casa todos os dias com fome eu não posso fazer nada”. Conversei com as pessoas da Escola que a conheceram. Aquelas pessoas contaram-me coisas interessantes. Como ela era uma pessoa à frente do seu tempo. Ela tinha muita habilidade para envolver as pessoas da comunidade; fazia drama (teatro) com os alunos e pessoas da comunidade.
Ela estava sempre insatisfeita com as atitudes dos políticos da sua época. Era uma época que o prefeito contratava uma quantidade muito grande de professores. Mais do que quantidade de turmas. Pessoas sem qualificação. Estes professores eram eleitores ou cabo eleitoral das lideranças políticas do lugar. Esta atitude deixava a diretora com vários problemas para resolver. Um deles era: “o que fazer com tantos professores?” Por fim ficou decidido que cada turma ia ter duas professoras. Uma de sete horas até o recreio e outra depois do recreio. Cada professora recebia horário integral e trabalhava só meio período. Às vezes uma professora faltava e não tinha quem assumisse aquela turma. Tudo aquilo angustiava a diretora e ela seguia registrando: “não posso fazer nada porque cada empregado tem um vereador que o protege”.
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SALA NOTA DEZ
Francisco Robério Linhares Rodrigues
54 SALA DE AULA DA 5ª SÉRIE DO 1º GRAU DO GINÁSIO MONS. LINHARES, Distrito de Aracatiaçu, município de Sobral, no ano de 1975. Observa-se que sala é composta por jovens da faixa etária de 11 a 15 anos de idade, que se sentam em carteira duplas e enfileiradas, e que as duplas geralmente são do mesmo sexo. Aqui estudavam as disciplinas regulares da 5ª série baseadas na LDB 5692/71, tendo como disciplinas obrigatórias O.S.P.B. (Organização Social e Política Brasileira) e Religião, baseada na doutrina da Igreja Católica, região oficial do país. Antes de entrar em sala, os alunos ficam no pátio, em fila, para assistirem o hasteamento da bandeira nacional ou cantarem o hino nacional ou outro hino cívico, como acontecia nos quartéis naquela época. Terminado a cerimônia iam todos em fila para a sala e antes de iniciar qualquer atividade era rezada uma Ave-Maria. Os alunos usavam o fardamento obrigatório: camisa branca, com o bolso pintado com o nome e o símbolo do ginásio, calça para os meninos e saia para as meninas, de cor azul do mesmo tecido. Algumas meninas já usavam calças, meias brancas e conga de cor azul e branca, e não eram permitido a entrada do aluno ou aluna se não estivesse com o uniforme completo. O silêncio na sala de aula era constante, rompido somente pela voz da professora, quando explicava o conteúdo da disciplina do dia. Não havia espaço para brincadeiras, o dever de classe era diário, o aluno respondia individualmente, não havendo trabalho de grupos. As aulas sempre eram expositivas, acompanhadas de exercício com questionário com dezenas e dezenas de perguntas. Principalmente nas matérias chamadas decorativas, história, geografia, e ciências, fazendo com que
o aluno imaginasse aprender decorando perguntas e respostas para as provas que eram escritas ou argüidas. As provas argüidas eram feitas em sala de aula na presença de todos, acompanhadas da fala da professora no final da resposta do aluno, dizendo certo ou errado, para o sucesso ou fracasso de quem estava sendo testado. As provas escritas não eram diferentes. A correção feita com uma caneta vermelha e cada resposta deveria estar conforme o questionário elaborado pela professora; caso tivesse ponto e vírgula igual receberia o C de certo e caso não, receberia o E de errado. A soma do total de C daria a nota do aluno, o aluno nota dez ou não. Daí imagino vir à expressão “você é nota dez”. Você é?
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INSTITUTO DE TEOLOGIA E PASTORAL: UM POUCO DO HISTÓRICO Regina Andrade de Aguiar Alves
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AINDA GUARDO BOAS RECORDAÇÕES do Instituto de Teologia e Pastoral – ISTEP, onde passei 04 anos fazendo o curso de Ciências Religiosas. Fiz o vestibular em julho de 1986 e colei grau em 02 de agosto de 1989, ocasião em que passei três dias na Meruoca participando do Cursilho de Cristandade na culminância do curso. Este período marcou demais a minha vida, pois tinha um filho de colo e um marido alcoólatra e muito ciumento, que não me entendia. O curso de Ciências Religiosas era na época um dos mais difíceis; as disciplinas eram muito ricas, mas difíceis de serem pesquisadas porque não tínhamos muitas fontes. A maioria dos professores eram padres de Sobral e das cidades vizinhas: o Pe. Sadoc, também um dos fundadores; Pe.Valdery; Pe. Fernando; Pe. Albany; Pe. Estevam; o querido e saudoso Pe. Lira; Pe. Raimundo Cassiano, da cidade de Cariré; Pe. Raimundo Cleano, de Groaíras; Pe. Martins; Pe. João Batista Frota; Pe. Emídio Moura, que também era o Diretor na época; Professora Mirian Cunha e outros.
O curso de Ciências Religiosas foi criado em 1974, com a assessoria e orientação do Cônego Sadoc de Araújo, e ministrado pela Faculdade de Filosofia, cuja mantenedora era a Diocese de Sobral e diretor o Cônego Joviniano Loiola; funcionava no regime dos cursos parcelados com duração de 02 anos e um currículo com disciplinas de caráter teológico e pedagógico. Em 1981 o Conselho de Educação do Ceará, pelo parecer 286/81, reconhece a equivalência do curso de Ciências Religiosas ministrado pela Faculdade de Filosofia a Curso de Licenciatura de primeiro grau. Em 1983 o Conselho de Educação do Ceará, pelo Parecer 581/83, estendeu os efeitos do parecer 286/81 aos diplomados de curso de Ciências Religiosas sujeitos ao Estatuto do Magistério do Município de Fortaleza. Em 1984 a Faculdade de Filosofia, que mantinha o curso, é encampada pelo Estado, passando a fazer parte da UVA. E em 1985 a Portaria 01/85, da Diocese de Sobral, cria o Instituto de Teologia e Pastoral (ISTEP) com a finalidade de ministrar o Curso de Ciências Religiosas, já em funcionamento, bem como outros cursos de aperfeiçoamento e extensão. Com a estruturação do novo currículo de Ciências Religiosas e implantação da licenciatura plena (2.460h/a) naquele ano o curso passou a funcionar também em regime noturno. Hoje o ISTEP funciona em prédio próprio, em conjunto com o instituto Dr. Tomaz de Paula, com todas as dependências necessárias, inclusive Biblioteca especializada e tem como diretora a professora Maria Lúcia Pontes Parente, cedida pela UVA. Os objetivos do curso são: ministrar a licenciatura de ciências religiosas para qualificação do professor do ensino religioso nas escolas; Promover o aprimoramento da formação de agentes da pastoral; Contribuir para a reflexão a conhecimento de questões ligadas à teologia e à pastoral da Igreja Católica.
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AULA DE CAMPO
Maria do Carmo Castro Araújo Gomes
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EM 1998, LECIONEI EM UMA TURMA DE 3ª SÉRIE da Escola Raimundo Pimentel Gomes – CAIC, no turno matutino, tendo a frente do Núcleo Gestor a Sra. Silvina Pimentel (Diretora Administrativa) e Amélia André (Coordenadora Pedagógica). Nesse período realizei várias atividades significativas junto aos meus alunos, como: jogos de carimbo, dramatizações para outras turmas, coral e aulas extra-classe com programação planejada com as próprias crianças e interdisciplinando entre algumas áreas de conhecimento. Uma das aulas extra-classe aconteceu num distrito da cidade de Massapê,em Ipaguaçu-Mirim. A turma era composta de uma média de 37 alunos com alguns poucos casos de alunos fora de faixa, mas isso não comprometia o desenvolvimento das atividades. Na elaboração da programação o grupo foi dividido para organizar os objetivos e conteúdos que poderíamos trabalhar a partir deste passeio. No primeiro momento fiz uma leitura prévia sobre o lugar que íamos visitar: localidade, distância, população, modo de vida das pessoas de lá, fontes de lazer, expectativa de vida dessas pessoas, além de muitas perguntas que o grupo foi fazendo ao longo da explanação. Prosseguimos montando o cronograma de como seriam desenvolvidas as etapas dessa atividade. Contávamos com o apoio direto do Núcleo Gestor, especificamente a Coordenadora Pedagógica Amélia André, que nos orientou e acompanhou durante todas as etapas: planejamento, execução e avaliação, às quais aconteceram entre o próprio grupo de trabalho e os pais dos alunos. De posse do plano de curso os alunos listaram objetivos e conteúdos que poderíamos trabalhar com esta aula: em português – a narração do passeio (sentimentos, fatos marcantes do ponto de vista de cada um), seguindo para estudos gramaticais a partir da produção dos textos e finalizando com um painel das produções e redação coletiva do passeio para apresentar no dia da reunião de pais e mestres; Matemática – regra
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de três simples (distância/tempo), problemas envolvendo as quatro operações fundamentais e expressões numéricas; Ciências – a natureza e sua diversidade, tipos de animais, água como geração de saúde, riqueza natural; História – diferenças culturais de cada localidade, formas de vida; Geografia – aspectos geográficos e culturais; Religião – crenças observadas no contato com as pessoas da localidade e valores desenvolvidos, interação do grupo nos diversos momentos do passeio e no lanche coletivo; Artes – desenho coletivo retratando o local visitado para ser exposto no painel ao lado da redação coletiva. No dia “D” foi aquela algazarra, apesar de só ter ido a metade da turma. Contamos com a presença da Coordenadora Amélia André e um representante do grupo de apoio da escola, Foi muito divertido e se percebia que todos estavam atentos em registrar, perguntar e mencionar situações que estavam contempladas nos objetivos e conteúdos que selecionamos. Saímos às 7h da manhã e retornamos ao meio-dia. Ficamos na galeria do açude e em grupos, brincávamos, tomávamos banho e fazíamos algumas observações dos sons da natureza, conversávamos com as pessoas de lá e anotávamos tudo que achávamos interessante. O sentido de união, respeito e seriedade em realizar o que nos propomos foi firme. Durante o lanche e o almoço compartilhamos com alegria coletiva do pouco que cada um trouxe e oferecia com satisfação. Trabalhamos por quase um mês assuntos relacionados a este encontro. Na avaliação deles e dos pais foi significante para os meninos e meninas e facilitou a introdução de outras atividades com maior participação deles. Acredito que este trabalho ampliou a maneira de ensinar e aprender com a turma, encadeou laços de atividade e confiança entre todos – alunos x alunos x professora e Núcleo Gestor. Apesar de algumas dificuldades de aprendizagem apresentadas por alguns alunos nos primeiros meses, constatamos que tiveram progresso qualitativo durante o ano e elevação da auto-estima daqueles que eram mais tímidos e desacreditados de si mesmos.
A MINHA SALA DE AULA Ana Carmem da Silva
LEMBRO-ME DE QUANDO CURSAVA a 2ª série do ensino fundamental na Escola de 1° Grau Aires de Sousa, em Jaibaras. Minha sala de aula não era tão grande, mas também não era tão pequena. Nela havia um quadro negro, uma pequena mesa com uma cadeira, que era para o professor. Não havia janelas, mas uns combogós. Todavia, o que mais me recorda são as carteiras em que no sentávamos. Eram as chamadas carteiras de dupla. Nelas os alunos sentavam-se em dupla. Lembro-me também que abaixo do local em que escrevíamos, havia uma repartição para guardar os livros. Para nós alunos, o mais maravilhoso daquelas carteiras de dupla era podermos nos sentar com o melhor amigo ou a melhor amiga. Eu dividia a carteira com uma colega chamada Sancléia; éramos inseparáveis. Na carteira do lado sentava outra colega chamada Ana Carmem, a qual tinha o mesmo nome que eu e que depois de algum tempo teve que ir embora. Outros fatos marcantes eram as brincadeiras de passa ou repassa, envolvendo a tabuada. O local de guardar os livros, da carteira de dupla, servia para esconder a tabuada e dessa forma, a gente acertava todas as perguntas da professora.
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SOBRE OS AUTORES HELDEANA ROMÃO CARVALHO é Coordenadora Pedagógica na Escola Raimundo Pimentel Gomes.
JÂNIA MARIA CARNEIRO é professora da primeira série básica C na Escola Senador Carlos Jereissati.
TERESA DE JESUS OLIVEIRA é Coordenadora Pedagógica na Escola Prof. Gerardo Rodrigues.
M ARCOS A RRUDA P ORTELA é professor na Escola Vicente Antenor Ferreira Gomes.
JULIANA MARIA FERREIRA LEITE é Coordenadora Pedagógica na Escola Ivonir Aguiar Dias.
M ARIA A UXILIADORA E UFRÁSIO Escola Raul Monte.
DE
P AULA é professora na
FLORÊNCIA CAVALCANTE DE S. FERREIRA é Coordenadora Pedagógica na Escola Pe. Osvaldo Chaves.
A NTONIO BARBOSA O LIVEIRA é Coordenador Pedagógico na Escola Emílio Sendim.
R AIMUNDO J OSÉ M ACHADO
DA P ONTE é professor da Educação de Jovens e Adultos na Escola Carlos Jereissati, anexo Domingos Machado.
MARIA FRANCISCA DOLORES DA GAMA é Diretora na Escola Mocinha Rodrigues, no bairro Terrenos Novos.
LEONILDA SIQUEIRA COSTA LIMA é professora na Escola Trajano de Medeiros. MARIA DA CONCEIÇÃO NETA COSTA é professora na Escola Paulo Aragão. FRANCISCA VERÔNICA LIRA ARRUDA é professora do Infantil Bebê na Escola Raimundo Pimentel Gomes.
ANTONIA MONTEIRO LOPES é professora na Escola José Inácio Gomes Parente.
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64 MARIA
DA
PENHA CARDOSO é diretora na Escola Senador Carlos Jereissati. Licenciada em História, Especialista em Psicopedagogia e Gestão Escolar pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú – UVA, Sobral, Ceará.
J AQUELINE M ARIA X IMENES R ODRIGUES é professora na Escola Raul Monte.
FRANCISCA MARIA GUILHERME BARROS FERREIRA é professora na Escola Raimundo Pimentel Gomes.
B E N E D I TA E L I E N E D I V I N O F R E I R E é vice-diretora na Escola Antenor Naspolini.
FRANCISCO ROBÉRIO LINHARES RODRIGUES é professor da Educação de Jovens e Adultos na Escola Pe. Palhano.
REGINA ANDRADE
DE
AGUIAR ALVES é professora na Escola de
Ensino Fundamental Raul Monte.
MARIA DO CARMO CASTRO ARAÚJO GOMES é diretora na Escola Prof. Gerardo Rodrigues.
ANA CARMEM DA SILVA é professora na Escola Raimundo Santana.
Fotolito e impressão Expressão Gráfica