UMA MODERNIDADE PARALELA [PARALELA] CENTRO CULTURAL Sテグ PAULO
FAU-USP
UMA MODERNIDADE PARALELA [PARALELA] Coordenação Renato Cymbalista (FAU-USP) Disciplina AUH 240 - “História do Urbanismo Contemporâneo” – FAU-USP Colaboradores Frederico Vergueiro (FAU-USP) Gustavo Marques Santos (FAU-USP) João Carlos Kuhn (FAU-USP) Ícaro Vilaça (FAU-USP) Marcio Harum (CCSP) Rachel Pacheco (CCSP) Agradecimentos Sasha Burlaka (Kiev) Ruben Arevshatyan (Yerevan) Marina Naprushkina (Minsk) Oleksyi Radinsky (Kiev) Maria Alice Almeida Correa (Luanda/São Paulo) Programação Visual Laura Castellari Afonso e Luiz Nascimento Mapa da exposição Júlio Tarragó e Ana Paula Cavalcante
Autores Ana Carolina Mulky Ana Knudsen Anne Wu Beatriz Fernandes Bernat Pedro Planas Caetano Sanglade Cosentino Caio de Benedetto Charlotte Debever Constance Jiin Chen Daniel Souza Gonçalves David Mendes Débora Kumagai Délio Lombardi Evelyn H. Tomoyose Fabiana Romano Fernanda Bittencourt Francisco Pereira Gabriel Ávila Giannini Gabriela Mieko Gauthier Marin Giovanna Fluminhan Juliana Simionato Karoline Andrade Leticia Silotto Henrique Kenji
Henrique S. Rocha Lucas Coelho Sandeville Lucas M. Napolitano Luísa Landert Marcelo Arnellas Mateus Laste Natalia Nassar Nathalia Nicodemos Nikolas Rodrigues Silva Renan Prado Renan Sampaio Sabrina Nishidomi Thaisa Miyahara Tiago Oliveira Silva
A EXPOSIÇÃO Enquanto o Construtivismo Soviético e a Arquitetura Stalinista já fazem parte das leituras consagradas da história da arquitetura e do urbanismo, o modernismo soviético pós-segunda guerra é ainda em grande medida desconhecido. A Arquitetura e o Urbanismo constituíram uma das mais fortes marcas da sociedade soviética do pós guerra, por um lado criando um sentimento de unidade social, e por outro operando também como um dos agentes de sua dissolução. Tudo começou com o periodo de “degelo” após a morte de Stalin em 1953. A nova onda de modernização levou a uma imensa extensão das áreas urbanizadas. A nova urbanização era guiada por uma ideologia de progresso científico e tecnológico. Era concebida por escritórios locais de planejamento com mais de 1000 empregados, e executada por meio da padronização da indústria da construção. Nesses escritórios, os arquitetos faziam experimentações com conceitos da arquitetura internacional e apoiavam-se no legado do modernismo soviético dos anos 1920. Rapidamente, desenvolveu-se uma linguagem especificamente soviética do modernismo tardio. Um conceitochave no urbanismo soviético era o de moldar a sociedade a partir do planejamento urbano. Um movimento critico à política de industrialização do espaço e da arquitetura surgiu já nos anos 1960. Arquitetos e elites licais viram a distância dos cânones oficiais como uma conformação das buscas regionais ou nacionais por identidade. Assim, foi possível constituit-se uma arquitetura vanguardista nas república,s em contraste à política dominante da burocracia central de Moscou.
Nas várias repúblicas soviéticas, particularmente no Cáucaso e na Ásia Central, as tradições nacionais originaram estilos arquitetônicos específicos. Arquitetos começaram a desenhar a partir de “raízes históricas”, não apenas como uma crítica pós-moderna à monotonia do funcionalismo, mas também devido à incidência de ideologias nacionalistas nas repúblicas. No fim da década de 1960 e durante o anos 1970, ocorreu uma mudança de paradigmas. Sob Brezhnev, o estilo de vida de toda a sociedade soviética ocidentalizou-se. Isso podia ser percebido na vida cotiiana, no desejo de bens ocidentais, e também no declínio das ideologias comunitárias comunistas que ainda estavam sendo veiculadas por determinadas tipologias arquitetônicas: o acampamento dos pioneiros, a casa da criatividade, o circo, o palácio dos casamentos. O neo-funcionalismo do início dos anos 1970 foi sucedido no final da década por um pósmodernismo apelativo em que identificavam-se o imaginário pequeno-burguês a as afirmações nacionais, como esforço de dissociação dos gestos megalomaníacos e o viés ideológico da arquitetura Soviética. Apesar da ideologia official, os conceitos territoriais nunca foram capazes de produzir a sinergia necessária para colocar em curso um desenvolvimento autosustentável pelo país. As estruturas hierárquicas acabaram por fortalecer os polos de crescimento, e negligenciaram regiões inteiras. Os grandes projetos de prestígio e os edifícios monumentais foram, em última instância, gestos impositivos cuja força simbólica não foi suficiente para assegurar uma legitimidade duradou-
ra do sistema. As contradições insolúveis entre uma ideologia progressista de um espaço público compartilhado e de uma organização communal das cidades em contraponto ao espaço imaginário da dramatização do poder contribuíram para selar o fim do império soviético. Este continente de arquitetura, afligido por contradições internas que latejavam no interior de um espaço homogeneizado, está cheio de obras-primas aguardando para serem formalmente descobertas. A exposição “Uma modernidade paralela” explora esta paisagem, e uma tentative de construção de uma sociedade diferente. Tem como objetivo desconstruir estereótipos e preconceitos contra o urbanismo soviético que se fundaram sobre décadas de divisão do mundo em dois blocos opostos.
Traduzido do texto “local modernities” (www.erstestiftung.org)
UMA MODERNIDADE PARALELA [PARALELA] A exposição “uma modernidade paralela” é tão fascinante quanto inquietante aos nossos olhos brasileiros. É fascinante porque apresenta em primeira mão um imenso e variado universo composto pela arquitetura, urbanismo, artes aplicadas e paisagismo na União Soviética pós-stalinista. Faz isso sem achatar debates, sem simplificar, mostrando a diversidade interna a essa produção e ao mesmo tempo a profunda crença na capacidade de o Estado (e seu veículo, a arquitetura) de moldar uma sociedade. Mostra ainda o desenrolar dessa arquitetura no decorrer das décadas, e algumas das sutis interlocuções que o mundo soviético construiu com o Ocidente na busca de legitimação ou de atualização de suas propostas. A exposição fascina também pelas similaridades entre algumas das investigações dos arquitetos soviéticos e os nossos arquitetos modernistas: investigações formais, o desejo da industrialização da construção, o brutalismo, a crença no protagonismo do Estado na transformação social. Lelé, Artigas, Niemeyer, todos foram comunistas ou simpatizantes, viajaram à União Soviética após a segunda guerra mundial e conheceram esta arquitetura. Identificam-se portanto, matrizes comuns e diálogos entre o Brasil e a URSS, tão longe e tão perto. Mas essa modernidade paralela é também profundamente inquietante na versão que chega até nós. Desnuda a nossa suprema ignorância sobre aquela quase metade do mundo. Daqui, via de regra não fazemos ideia da localização de grandes cidades como Tashkent, Minsk, Tbilisi, Bishkek, Almaty, Yerevan. Temos dificuldades de localizar
países inteiros no mapa: A Georgia fica ao norte ou ao sul de Belarus? Onde ficam o Quirguistão, o Uzbequistão, o Turquemenistão? Da mesma forma, jamais ouvimos falar de arquitetos que são verdadeiras sumidades, que produziram bairros e cidades inteiras: Eduard Bilsky, Iuri Parkhov, Ivan Bovt, Arthur Tarkhanian... A exposição não suprime nossa ignorância sobre tantas realidades, ao contrário, nos dá o real tamanho do nosso desconhecimento. Apresenta complexidade, diversidade, contradição, mas não situa, não explica – e nem se propõe a isso. Juntamente com os estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU-USP, na disciplina “História do Urbanismo Contemporâneo”, tomamos esse desafio em sua maior radicalidade, e passamos o mês de outubro de 2014 desvendando essa modernidade paralela, problema por problema, autor por autor, obra por obra, até onde nos foi possível. A brochura “Uma Modernidade Paralela [Paralela]” é o resultado do trabalho, que oferecemos ao público do Centro Cultural São Paulo. Resulta de um esforço coletivo de pesquisa de fontes, problematização e redação, e materializa-se em um conjunto de textos que apresenta as diversas estações e situações propostas pelos curadores da exposição. As legendas oferecem uma possibilidade de acesso ao universo da arquitetura soviética entre as décadas de 1950 e fim de 1980, certamente não o único e jamais esgotando temáticas.
Texto por Renato Cymbalista
1. Construindo a Ucrania 2. Um Modernista na Ásia Central 3. Ideologias Paralelas 4. Como Criar Outra Sociedade 5. Um Mestre e um Artista 6. Industrialização do Espaço 7. Lazer e Tempo Livre 8. Ideologia Construída 9. Cidade ideal 10. CIência, Tecnologia e Progresso 11. Trabalhando por uma nova sociedade 12. O que o ocidente não sabe 13. Arte e Cultura para as Massas 14. Organização Cotidiana 15. Esportes e Cultura da Saúde Física 17. Memória revelada e coberta, o Muro
lou elementos da revisão da arquitetura modernista. Um projeto para uma torre de escritórios de 1989 mostra similaridades, por exemplo, com as linhas do projeto da sede do Citibank na Avenida Paulista. O arquiteto prosseguiu sua carreira profissional após a transição para a economia de mercado, e segue em atividade até os dias atuais, com 83 anos.
Texto por Débora Kumagai e Henrique S. Rocha
CONSTRUINDO A UCRÂNIA | BUILDING UKRAINE Nascido na capital da Ucrânia, Kiev, em 1931, Eduard Antonovich Bilsky se tornou um arquiteto importante. Trabalhou em muitas regiões da URSS, sendo responsável por inúmeros projetos arquitetônicos, espalhados por cidades como Kiev, Odessa, Tashkent, Moscou, entre outras; vencedor do primeiro Prêmio de Estado da URSS (1967), foi professor na Universidade Nacional de Construção e Arquitetura de Kiev e membro Titular da Academia Ucraniana de Arquitetura. Ainda que tivesse trabalhado em inúmeras cidades, a maior parte do trabalho de Bilsky realizou-se Ucrânia. O arquiteto realizou obras de grande porte, como a Estação Rodoviária Central de Kiev, em colaboração com os arquitetos Abraham
Miletsky e I. Miller (1961) e o Palácio dos Pioneiros (1962-1965), em linguagem do alto modernismo. A partir da década de 1970, Bilsky projetou vizinhanças inteiras como o Bairro Residencial Vinograd (1974-1984), com edifícios residenciais baseados em elementos pré-fabricados, mas contendo elementos de arquitetura única como a Escola de Música e o Palácio da Cultura, em que foram feitos experimentos com formas orgânicas; e o distrito de Sineozёrny (1984-1991). Além dessas obras, os projetos de Bilsky também incluem decoração escultórica, elementos do projeto da paisagem, edifícios governamentais e residências particulares como a casa na montanha. No final do período socialista, Bilsky assimi-
1
5
2
6
3
4
7
1. Casa nas Montanhas (Ucrânia) Villa on the Hills (Ukraine) Arquiteto | Architect: E. Bilsky 1972 2. Estação Rodoviária Central (Kiev, Ucrânia) Central Bus Station (Kyiv, Ukraine) Arquiteto | Architect: E. Bilsky
8
9
10
11
CONSTRUINDO A UCRÂNIA BUILDING UKRAINE EDUARD BILSKY
A instalação de edifícios monumentais nas repúblicas periféricas buscava explicitar o poder e influência do governo russo sobre essa região, utilizando essa prática arquitetônica para confirmar o controle hierárquico do partido socialista. Em 1990, um período posterior aos projetos de Yuri Parkhov, Dushanbe foi palco de conflitos, sendo parte da disputa de quem iria exercer o poder: a URSS, já em um período tardio, ou o Tajiquistão independente. Neste período houveram grandes e prolongadas manifestações, uma grave escassez de necessidades básicas, a tomada de reféns, a apreensão de edifícios públicos e confrontos armados. O Tajiquistão alcançou sua independência somente com a queda da URSS, em 1991.
UM MODERNISTA NA ÁSIA CENTRAL | A MODERNIST IN CENTRAL ASIA O Tajiquistão foi anexado pelo Império Russo durante o século XIX. Com a queda dos czares, em 1917, foi dado início a uma guerra civil na Ásia Central, e apesar da tentativa de manter a independência do Tajiquistão, os guerrilheiros foram derrotados pelo exército bolchevique, dando início a um período de repressão intensa. Em 1929, foi formada a República Socialista Soviética do Tajiquistão, a república mais pobre da União. Os projetos de Yuri Parkhov foram feitos nas décadas de 1970 e 80, durante o período que o Tajiquistão era uma república da URSS, e possuem como características mais marcantes as formas paralelepipedais, cilíndricas e a horizontalidade do conjunto. As repúblicas periféricas da URSS deviam
projetar seus edifícios monumentais de acordo com as regras do discurso orientalista soviético, entretanto, a arquitetura local Tajik é predominante nesses projetos, com edifícios de fachadas discretas, enquanto o revestimento de tijolo facilita associações e ligações com a arquitetura popular Tajik (6). Essa necessidade de aprovação discursiva, visando satisfazer os requisitos de representatividade orientalista, influenciou a arquitetura de outras repúblicas periféricas da URSS, porém não sempre sendo um arquiteto local adequando-se, como no caso de Yuri Parkhov, mas, em alguns casos, arquitetos de Moscou eram enviados às repúblicas para projetar edifícios monumentais.
Texto por Lucas Martins Napolitano e David Mendes
1
3
5
7
6 2
4
1. Republic: Tajikistan / City: Dushanbe Address: Chapayev Street Object: Ministry of Internal Affairs Function: Office and Administration Architect: Yury Parkhov Planning: 1972-1975 Construction: 1975-1979
UM MODERNISTA NA Ă SIA CENTRAL A MODERNIST IN CENTRAL ASIA YURI PARKHOV
8
Object: Ministry of Internal Affairs Function: Office and Administration Architect: Yury Parkhov Planning: 1972-1975 Construction: 1975-1979
2a.Republic: Tajikistan / City: Dushanbe Object: Residential building Function: Housing Architect: Yuri Parkhov Construction: 1987
3.Republic: Tajikistan / City: Leninabad (now Khujand) Object: Design for a bathhouse for 96 visitors Function: Sport, Leisure Time and Recreation Architect: Yury Parkhov Planning: early 1980s Project not realised
2b.Republic: Tajikistan / City: Dushanbe Address: Chapayev Street
4.Republic: Tajikistan / City: Dushanbe Address: Chapayev Street
Object: Technical Services Building Function: Special Building Architect: Yury Parkhov Collaborators: E: S. Novokreshchenov Construction: 1979 Project realised 5. Republic: Tajikistan / City: Dushanbe Address: Chapayev Street Object: Ministry of Internal Affairs Function: Office and Administration Architect: Yury Parkhov Planning: 1972-1975 Construction: 1975-1979
UM MODERNISTA NA ÁSIA CENTRAL | A MODERNIST IN CENTRAL ASIA
6.Republic: Tajikistan / City: Dushanbe Address: Chapayev Street Object: Technical Services Building Function: Special Building Architect: Yury Parkhov Collaborators: E: S. Novokreshchenov Construction: 1979 Project realized 7.Republic: Tajikistan / City: Dushanbe Object: Lenin’s museum, project for competition Function: Education Architect: Yury Parkhov 8.Republic: Tajikistan / City: Dushanbe Adress: Chapayev Street Object: Technical Services Building Function: Special Building Architect: Yury Parkhov Collaborators: E: S. Novokreshchenov Construction: 1979 Project realized
ORIENTALISMO SOVIÉTICO | SOVIET ORIENTALISM A povoação do Uzbequistão remonta a 2000 a.C., e no decorrer dos séculos o território da atual República do Uzbequistão passou pelo domínio persa, de Alexandre, de Gêngis Khan, de Tamerlão, caindo sob domínio do domínio do império russo em 1884. O território foi anexado à URSS como uma das repúblicas soviéticas em 1925. A capital Uzbeque, Tashkent, sofreu um terremoto em 1966, e a reconstrução da cidade constituiu uma oportunidade para arquitetos de Moscou exercerem seus princípios profissionais. Diferente de outros exemplos, a reconstrução de Tashkent ocorreu de forma a combinar princípios construtivos ligados a centralização do poder e dos discursos construídos (pré-fabricação, homo-
geneização) com alguns aspectos morfológicos da cultura Uzbeque, a estratégia de negociação entre o centro a periferia soviética, uma abordagem que traduz uma postura do poder de Moscou para se afirmar nos seus domínios, mantendo suficientes aspectos culturais locais para que a população não rejeitasse a intervenção. A iniciativa pressupunha que os arquitetos pesquisassem o cotidiano da população e entendessem que os modelos de habitação modernistas precisariam de adaptações. Um dos arquitetos que s eenvolveu na reconstrução de Tashkent foi Andrey S. Kosinskiy nasceu em Moscou em 1929. estudou no Instituto de Arquitetura de Moscou até 1957, quando se formou. Trabalhou depois de sua graduação na
elaboração dos planos urbanos das cidades de Omsk e Stalingrado. Em 1966, foi encarregado de projetos para Tashkent, e instalou-se no Uzbequistão até 1980, trabalhando no Instituto Tashgipropgor a pedido do governo local. Em Tashkent, os prédios construídos não poderiam ser muito altos, devido ao costume da população de estar sempre perto de espaços abertos, como pátios ou varandas. Da mesma forma, as aberturas foram adaptadas para reproduzir a iconografia local, através de peças pré-fabricadas. O conjunto dessas construções foi organizado numa lógica espacial típica da modernidade soviética, com muito espaço entre construções e centros culturais e cívicos como núcleos (1). Houve, no entanto, uma preocupação de estudar a circulação dos ventos e a insolação para manter o conforto térmico como era nas ruas antigas. Além dos projetos para Tashkent, Kosinskiy realizou projetos para Bukhara, cidade no centro-oeste do país, entre as quais uma oficina coletiva de artesãos. Dessa cidade os arquitetos levaram fortes impressões sobre a qualidade artística das formas tradicionais. Em 1980, Kosinskiy retornou para Moscou onde até hoje ensina e pesquisa sobre arquitetura e habitação.
Texto por Gauthier Marin e Fernanda Bittencourt
ORIENTALISMO SOVIÉTICO ANDREY KOSINSKIY EM TASHKENT SOVIET ORIENTALISM ANDREY KOSINSKIY IN TASHKENT
A Yalla, “Siyay Tashkent”/[Brilhe Tashkent] 1978, 3’ Em russo com legendas em português e inglês Russian with Portuguese and English subtitles Buscas e Tradições Quests and Traditions Diretor | Director: A. Grishko 1975, 14’48” Em russo com legendas em português e inglês Russian with Portuguese and English subtitles 1 Centro Comunitário em Chilanzar (Tashkent, Uzbequistão) Community Center in Chilanzar (Tashkent, Uzbekistan) Arquiteto | Architect: A. Kosinskiy 1969-1970 (Não executado | Unrealized)
2 Secretário-Geral e Prefeito inspecionando Kal’kauz Secretary General and Mayor inspecting Kal’kauz 3 Kal’kauz (Z-19) Design de protótipo de Microdistrito (Tashkent, Uzbequistão) Design for a Prototype Micro-district Development (Tashkent, Uzbekistan) Arquitetos | Architects: A. Kosinskiy, S. Rakhimov 1978 (Não executado | Unrealized)
ARQUITETOS | ARCHITECTS O filme “Três arquitetos” foi dirigido por Vilen Zakharyan . Tem a intenção de reconhecer e divulgar e a obra realizada por um grupo composto por três arquitetos armênios que trabalharam principalmente na capital Yerevan, nas décadas de 1960 a 1980: Arthur Tarkhanyan, Hrachik Poghosyan e Spartak Khachikyan. Os arquitetos apresentados no filme discutem seus princípios e teoria no que diz respeito à sua profissão e à cidade. O filme desafia a ideia de que a URSS era um país sem lugar para o debate e a dissidência. Os três arquitetos expõem as suas visões individuais sobre arquitetura ao longo do filme. As opiniões divergem. Tarkhayan, critica a monotonia da arquitetura industrializada, a industria
que não valoriza a arquitetura, apenas a construção em massa. “Milhões de casas iguais. Pode um homem gostar de algo assim?”. Em seguida, Poghosyan opõe-se a isso e, encara a estandardização como uma mais valia para a criatividade projetual, garantindo ao mesmo tempo melhorias na construção.“Mas é possível imaginar a arquitetura contemporânea sem padronização, industrialização e mesmo produção em massa?”. Por fim, Khachikyan destaca a arquitetura antiga, os edifícios representativos da cultura do país, a sua monumentalidade e a construção erudita com materiais como a pedra, problematizando de que forma a arquitetura moderna pode dar continuidade ao legado cultural arménio. “O que nossos monumen-
tos do passado nos dizem?”. Apesar das opiniões divergirem sob determinados aspectos, o filme mostra um trabalho coletivo e em harmonia, e convergências de pensamento. Para estes profissionais a arquitetura opõe-se à natureza e conecta o homem a ela. A intervenção do homem, porém não poderia desvirtuar a beleza da natureza, mas sim interligar os dois mundos opostos, num conjunto unitário, belo. Desta forma, a sua obra procura aproveitar os processos estandardizados da industria, não para padronizar a arquitetura mas sim para facilitar e minimizar os custos da construção dos prédios que projetam. Ao trazer diferentes olhares, o filme constitui-se como um manifesto contra a monotonia na construção cívil, mas defende a utilização das potencialidades dos meios construtivos industrializados. “A industrialização dá portas à criatividade”. Os prédios relatados no presente filme são exemplo disso mesmo. O Memorial ao Genocídio na Arménia (1967), o Cinema Rossiya (1968), o Palácio da Juventude (1970) e o aeroporto Zvartrots (1980) são construídos com poucos materiais (concreto e aço), partes das construções são estandardizadas a partir do desenho projetado pelo grupo de arquitetos.
Texto por Francisco Pereira e Tiago Oliveira Silva
ARQUITETOS | ARCHITECTS
Diretor | Director: VilenZakharyan 21’35’’ Em russo com legendas em português e inglês Russian with Portuguese and English subtitles
IDEOLOGIAS PARALELAS | PARALLEL IDEOLOGIES A partir da década de 1970, evidenciam-se as particularidades locais e até mesmo a crítica aos padrões de construção da arquitetura e da cidade soviética a partir de um debate estético. O Memorial do 50º Aniversário da “Armênia Soviética” (3) foi construído em Yerevan, entre 1965-1967. O projeto dos arquitetos J.Torosyan e S.Gurzadyan pode ser dividido em três elementos: uma coluna de pedra; um edifício retangular de pouca altura, que fica fechado para visitantes; e um grande patamar com vista para Yerevan. Faz parte do Complexo “Cascade”, elaborado com patamares de transições, fontes, canteiros de flores, e como uma ligação entre o centro da cidade e um de seus principais parques. A construção do complexo começou em O
Museu Etnográfico da Armênia - Museu Etnográfico Nacional Sardarapat (1, 10-14) foi construído em 1978 em memória a batalha de Sardarapat de 1918, contra os turcos. Foi projetado pelo arquiteto Rafael Israelyan, de acordo com as formas tradicionais das casas armênias abobadadas, o principal objetivo da construção era preservar todo o material da batalha de Maio. É possível encontrar traços semelhantes na arquitetura das duas construções, tanto na monumentalidade quanto nos detalhes de criaturas mitológicas que remetem ao passado do povo armênio. Não houve, portanto, uma tentativa de rompimento com a identidade local para o estabelecimento de uma nova identidade soviética.
Na Estônia foi feito um estudo de propostas no design de áreas no centro de Tallinn, capital da Estônia, em 1975, e também a elaboração de um novo skyline para a cidade em 1978, projetos feitos pelo casal Sirje Runge e Leonhard Lapin, respectivamente (4-6). Esses projetos eram uma espécie de paródia da arquitetura e do urbanismo soviético, tratada como pré-fabricada e atrasada. Tal ironia não foi uma característica comum a muitos trabalhos exibidos em uma exposição de 1978 como, por exemplo, o projeto Estruturas exibicionistas de Ain Padrik (6), uma casa foi retirada do chão através de tubulações que, por motivos óbvios, não foi construído. A exposição atraiu o interesse de muitos especialistas, sendo publicado numa revista semanal sobre cultura e artes que tais paródias não eram de todo negativas, zombando apenas o passado e o presente, mas trabalhavam para a produção de novos valores sociais. Mais tarde Lapin explicou sua intenção ao fazer tal trabalho: “Em 1978 nós apresentamos ‘ideias puras’, já que nosso objetivo era mostrar a arquitetura como uma forma independente de arte, uma manifestação do espiritual, mas também um recurso independente e importante que participou dos processos sociais.” Portanto, a ironia poderia ser vista como uma maneira especifica de repensar a arquitetura numa situação onde as escolhas ficariam entre um retorno conservador aos modelos históricos ou a mecanização estandartizada. Texto por Délio Lombardi e Henrique Kenji
1
IDEOLOGIAS PARALELAS | PARALLEL IDEOLOGIES
3
2 4 6
5 7
Texto por Delio Lombardi e Henrique Kenji
8 9
10 11 1 84
“NACIONAL NA FORMA, SOCIALISTA NO CONTEÚDO” “NATIONAL IN FORM, SOCIALIST IN CONTENT” JOSEPH STALIN
12 13
1.Museu Etnográfico da Armênia (Armavir, Armênia) Ethnographic Museum of Armenia (Armavir, Armenia) Arquiteto | Architect: R. Israelyan (Armpromproekt) 1968-1978 2. A Cascata – O Desenvolvimento da Parte Norte (Yerevan, Armênia) Cascade – the Development of Northern Radius (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: J. Torosyan,S. Gurzadyan, A. Mkhitaryan (Yerevanproekt) 1957-meio dos anos 2000|1975-Mid 2000s 3. Memorial do 50° Aniversário da “Armênia Soviética” (Yerevan, Armênia) Memorial to the 50th Anniversary of “Soviet Armenia” (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: J. Torosyan,S. Gurzadyan (Yerevanproekt) 1965-1967 4. Proposta de Design de Áreas no Centro de Tallinn (Tallinn, Estônia) Proposal for the Design of Areas in Central Tallinn (Tallinn, Estonia)
Arquiteto | Architect: SirjeRunge 1975 5.Arredores da cidade Suburbia 1978 6.Estrutura Structure 1978 7.Leonhard Lapin Nova linha do horizonte de Tallinn New Skyline of Tallinn 1978 8. Memorial do 50° Aniversário da “Armênia Soviética” (Yerevan, Armênia) Memorial to the 50th Anniversary of “Soviet Armenia” (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: J. Torosyan,S. Gurzadyan (Yerevanproekt) 1965-1967 9. Memorial do 50° Aniversário da “Armênia Soviética” (Yerevan, Armênia) Memorial to the 50th Anniversary of “Soviet Armenia” (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: J. Torosyan,S. Gurzadyan (Yerevanproekt) 1965-1967
IDEOLOGIAS PARALELAS | PARALLEL IDEOLOGIES
10.Museu Etnográfico da Armênia (Armavir, Armênia) Ethnographic Museum of Armenia (Armavir, Armenia) Arquiteto | Architect: R. Israelyan (Armpromproekt) 1968-1978 11. Museu Etnográfico da Armênia (Armavir, Armênia) Ethnographic Museum of Armenia (Armavir, Armenia) Arquiteto | Architect: R. Israelyan (Armpromproekt) 1968-1978 12. Museu Etnográfico da Armênia (Armavir, Armênia) Ethnographic Museum of Armenia (Armavir, Armenia) Arquiteto | Architect: R. Israelyan (Armpromproekt) 1968-1978 13. Unidade Residencial Mobil Space Mobil Space Residential Unit Arquiteto | Architect: S. Narynov 1983 14. Casa de Banho (Bishkek, Quirguistão) Bathhouse (Bishkek, Kyrgyzstan) Arquitetos | Architects: A. Sogonov, Sh. Nasypkulov, S. Belyanchikov 1984
COMO CRIAR OUTRA SOCIEDADE | HOW TO CREATE ANOTHER SOCIETY As proposições espaciais e arquitetônicas da União soviética abrangiam também a esfera do lazer, cultura e ritos como o casamento (1-4), a cremação (5-9) e o batismo, os edifícios institucionais deste novo Estado não eram apenas simples frutos da centralização do governo, mas também eram uma reafirmação da presença da “arquitetura falada” acompanhada de estruturas que retratassem a ciência em sua forma edilícia, independentemente de sua função. A forma do Palácio de Casamentos em Tbilisi, na Geórgia (3) vista de cima representa um corte abdominal feminino, tendo a presença do útero, ovários e óvulo simbolizados na forma dos cômodos. Ademais, a sociedade soviética exaltou em suas construções
o caráter laico da morte, expresso no erguimento de crematórios pela União Soviética os quais apresentam uma forma austera, por exemplo o de Kaunas, Lituânia, construído em 1978 (6,8,9). As estruturas voltadas ao lazer e cultura de forma disciplinada participaram na construção de uma identidade nacional, constituindo novos hábitos e costumes. O futuro da sociedade soviética dependia das crianças e dos jovens, os quais deveriam aderir aos princípios e valores socialistas. Para isso, o partido comunista instituiu o movimento dos Jovens Pioneiros, formado por crianças e adolescentes para a convivência a partir dos valores socialistas. Os Jovens Pioneiros se reuniam em acampamentos dispersos pela União
Soviética: em 1973 havia cerca de 40 mil desses acampamentos (14-19). Reuniamse também nos “Palácios dos Pioneiros”, existentes em inúmeras cidades – em 1971 existiam mais de 3.500 deles – que eram centros de cultura, lazer e esporte que operava uma programação múltipla, complementar à formação básica (10,12). A participação nas atividades dos Palácios dos Pioneiros era gratuita e não era obrigatória, e um dos principais lemas era: “depois de aprender, ensine o seu camarada”. O Palácio da Juventude de Yerevan (11-13) foi um edifício excepcional, comportando um programa complexo de usos culturais e políticos, e situado em um dos terrenos mais privilegiados da cidade. O ateísmo era uma das dimensões das teorias materialistas e da política de estado da União Soviética, que defendia que a religião tinha uma contribuição irrelevante para o futuro da humanidade. Segundo Marx, as religiões haviam sido inventadas para dar sentidos para o sofrimento e a injustiça no mundo, e o discurso oficial era de que a sociedade soviética dispunha de outros instrumentos para enfrentar esses problemas. Para afirmar a esfera laica, o Estado Soviético utilizou não só da educação laica, mas institucionalizou a secularização de ritos como o casamento e o sepultamento. Texto por Caio de Benedetto e Karoline Andrade
1
2
3
10
14 12
4 6
5
11 7
“VIVEMOS DE ACORDO COM NOSSA VOCAÇÃO” “WE LIVE ACCORDING TO OUR VOCATION”
13
9
15
16 17
19
18
SLOGAN DO PARTIDO, ANOS 1960 PARTY PAROLE, 1960S
COMO CRIAR OUTRA SOCIEDADE | HOW TO CREATE ANOTHER SOCIETY 1-2-4. Palácio de Casamentos (Vilnius, Lituânia) Palace of Weddings (Vilnius, Lithuania) Arquiteto | Architect: G. Baravykas 1968-1974 3.Palácio de Casamentos (Tbilisi, Geórgia) Palace of Weddings (Tbilisi, Georgia) Arquitetos | Architects: R. Jorbenadze, V. Orbeladze 1985 5-7. Palácio do Pesar Serviços Ritualísticos (Vilnius, Lituânia) Sorrow Palace of Ritual Services (Vilnius, Lithuania) Arquiteto | Architect: Č. Mazūras1975-1985 6-8-9. Palácio Do Pesar Serviços Ritualísticos (Kaunas, Lituânia)
Sorrow Palace of Ritual Services (Kaunas, Lithuania) Arquiteto | Architect: A. Paulauskas 1978 10-12. Palácio dos Pioneiros (Moscou, Rússia) Palace of Pioneers (Moscow, Russia) Arquitetos | Architects: V. Egerev, V. Kubasov, F. Novikov, B. Pakui, I. Pokrovsky, M. Khazhakyan 1962 11-13. Palácio da Juventude (Yerevan, Armênia) Palace of Youth (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: S. Khachikyan, H. Poghosyan, A. Tarkhanyan, M. Zakaryan (Armgosproekt) 1966-Anos 1970 | 1966-1970s 14-19. Acampamento Pioneiro Chaika (Alushta,
Ucrânia) Pioneer camp Chaika (Alushta, Ukraine) Arquitetos | Architects: T. Belyaeva, A. Linkov 1968-1979
UM MESTRE E UM ARTISTA | A MASTER AND AN ARTIST Na Antiguidade, a região do Turcomenistão é incorporada aos impérios Persa, Macedônico e Árabe. O povo turcomano se forma por volta do século XI, com a fusão de tribos turcas com grupos autóctones. Em 1869, a Rússia ocupa o território. Depois da Revolução Russa, em 1917, uma força contrarrevolucionária turcomana apoiada pelos britânicos resiste às tropas soviéticas até 1920, porém em 1924 o Exército Vermelho ocupa o país, e o Turcomenistão passa a fazer parte da URSS. A Biblioteca Karl Marx, construída em 1964 em Ashgabat, capital do Turcomenistão, mostra a política de imposição da cultura soviética em suas periferias. A implantação da biblioteca, assim
como da escultura de 20 metros de altura adjacente, representam o impacto cultural do poder central nas periferias da URSS. A maquete do edifício e da escultura expostas revelam, portanto, muitos aspectos visuais e, consequentemente, ideológicos da arquitetura soviética. A biblioteca é um claro exemplo disso; primeiramente, por se tratar de um equipamento cultural, ou seja, dissemina e solidifica essa ideologia para além do centro da URSS. Além disso, observa-se que seu caráter estético segue os padrões da arquitetura moderna proposta, como o construtivismo, o brutalismo e o industrialismo. Dentro dessa lógica, alguns elementos arquitetônicos se destacam, sendo eles: simetria, raciona-
lidade das formas, monumentalidade do edifício, ritmo e horizontalidade. A monumental escultura Konstrukta adjacente à biblioteca é de autoria de Vadim Kosmatschof (1938), e evoca a produção industrial necessária para a produção da sua matéria-prima, o aço. A obra faz parte de uma série de “esculturas solares” realizada em espaços públicos pelo artista. Komastschof estudou de 1959 a 1965 na escola de arte “Stroganov”, que naquele momento tinha uma classe específica para escultura em escala arquitetônica, em que os alunos eram ensinados a produzir esculturas cuja produção estivesse estreitamente vinculada aos processos da indústria da construção civil. O artista emigrou para a Áustria em 1979, e manteve-se fiel aos princípios que vinculam a atividade artística à esfera da produção industrial, afirmando que “uma inovação artística verdadeira deveria ser não só um inovação estética como também gerar, objetiva e universalmente , um reconhecimento do progresso - particularmente em tecnologia - e assim, em última análise, contribuir para a mudança da sociedade”.
Texto por Ana Carolina Mulky e Nathalia Nicodemos
UM MESTRE E UM ARTISTA A MASTER AND AN ARTIST ABDULLAH AKHMEDOV & VADIM KOSMATSCHOF
Maquete da Biblioteca Karl Marx Karl Marx Library Scale Model Vadim Kosmatschof 2013 Escultura da Maquete da Biblioteca Karl Marx Karl Marx Library Sculpture Scale Model Vadim Kosmatschof 2013 Biblioteca Karl Marx (Ashgabat, Turcomenistão) Karl Marx Library (Ashgabat, Turkmenistan) Arquitetos | Architects: A. Akhmedov, B. Shpak, V. Alekseyev 1960-1975 Escultor | Sculptor: V. Kosmatschof (1975)
Diretor | Director: Johann Marte 1975, 5’49’’
INDUSTRIALIZAÇÃO DO ESPAÇO | INDUSTRIALIZATION OF SPACE A comédia romântica “A Ironia do Destino” (Eldar Ryazanov, 1975), originalmente transmitida pelo canal central soviético de televisão, foi um estrondoso sucesso para o público da união soviética. Tornou-se uma obra clássica da cultura popular russa, e é tradicionalmente transmitida na Rússia e nas antigas repúblicas soviéticas em cada véspera de Ano Novo. A história relatada é de um grupo de amigos que se embebeda às vésperas do ano novo em Moscou, e dois deles adormecem após a bebedeira. Um deles, Zhenya, é colocado por engano em um avião para Leningrado e, ao acordar, pensa ainda estar em Moscou, e assim, busca voltar para sua casa. Então a trama se inicia fazendo referên-
cia ao seu prólogo animado (A): ele segue para uma rua com o mesmo nome da sua, que fica em um bairro com a mesma aparência, com edifícios pré-fabricados similares. Encontra um edifício com o número do seu, e um apartamento também com a mesma numeração. Com a sua chave, consegue abrir o apartamento, que é decorado com a mesma mobília estandartizada. Dali a pouco, chega a verdadeira dona do apartamento de Leningrado, Nadya. No início ambos se desentendem, mas ao final apaixonam-se. “A ironia do Destino” mostra-se, assim, ao mesmo tempo uma crítica irônica à padronização e à estandartização das construções da era Breshnev, e um elogio às redes de solidariedade
da sociedade socialista. Ele retrata o grau de enraizamento dos sistemas construtivos préfabricados, um dos pontos mais característicos da arquitetura e do urbanismo soviéticos do pós-guerra, e como isso na época já era evidente para as pessoas. Apesar da leve crítica feita por Ryazanov, o filme teve inclusive a aprovação oficial, além da popular, chegando a receber o Prêmio de Estado da URSS, possivelmente pela critica ter sido feita de um jeito “otimista” e em forma de humor. A industrialização protagonizada pelo Estado foi tratada pela URSS como aspecto indispensável do desenvolvimento, e após a Segunda Guerra, esse princípio foi intensivamente aplicado à construção civil. O uso de pré-fabricados é intensificado, assim como a construção de enormes conjuntos residenciais. A estética se prende mais geometrizada em detrimento do sinuoso e decorado estilo da época stalinista.
Texto por Anne Wu e Leticia Silotto
4 2 1
B
A
5
3 6
INDUSTRIALIZAÇÃO DO ESPAÇO | INDUSTRIALIZATION OF SPACE 1. Microdistrito Vinogradar (Kiev, Ucrânia) Microdistrict Vinogradar (Kyiv, Ukraine) Arquiteto | Architect: E. Bilsky 1972-1991 2. Instituto Politécnico (Kiev, Ucrânia) Polytechnic Institute (Kyiv, Ukraine) Arquitetos | Architects: V. Likhovodov, V. Sydorenko, V. Dovgalyuk, A. Dumachev, A. Zykov, V. Kryuchkov 1975-1985 3. Assentamento Experimental Zgvisubani (Tbilisi, Geórgia) Experimental Settlement Zgvisubani (Tbilisi, Georgia) Arquiteto | Architect: G. Shavdia
1982-1984 4.5.6. Prédios Residenciais (Almaty, Cazaquistão) Residential blocks (Almaty, Kazakhstan) Foto | Photo: Markus Weisbeck A. Trecho do filme Irony of Fate Excerpt from the film Irony of Fate 2’41’’ Trecho do filme To Love a Person Excerpt from the film To Love a Person 2’53’’ B. Trechos de comédias ucranianas Excerpts from Ukrainian comedies 3’26’’ 2’4’’
“INICIEMOS A INDUSTRIALIZAÇÃO IMEDIATAMENTE” “START INDUSTRIALIZATION IMMEDIATELY” NIKITA KHRUSHCHEV
LAZER E TEMPO LIVRE | LEISURE AND FREE TIME “Os cidadãos da URSS têm o direito ao descanso e ao lazer. Esse direito é garantido pelo estabelecimento de uma jornada semanal de trabalho que não supere 41 horas [...] pelo direito a férias e feriados remunerados, pela extensão das redes de instituições de cultura, educação e saúde, e o desenvolvimento em massa do esporte, da educação física, do camping e do turismo; pela provisão de equipamentos culturais de vizinhança e de outras oportunidades para o uso racional do tempo livre.” Constituição da URSS de 1977, artigo 41 O principal objetivo por trás desse amplo acesso ao lazer era a possibilidade de uma maior
integração entre as repúblicas e ao mesmo tempo destacar uma qualidade de vida adquirida pelo regime socialista. Foram criados clubes para trabalhadores e centros de lazer e intercâmbio entre as repúblicas soviéticas, destinados a funcionar como “condensadores sociais” e com a tentativa de russificação dessas repúblicas e a superação do padrão de vida ocidental. A URSS obteve êxitos e limites para ações em favor da elevação do nível cultural de atividades em que a população praticava no tempo livre, sobretudo as populações operárias, que mostravam uma vontade coletiva em aumentar ainda mais o tempo livre e disponibilizá-lo para o lazer, com atividades de entretenimento de toda espé-
cie. O lazer compensaria aquilo que o trabalho alienado e rotineiro rouba dos indivíduos. A maioria dos cidadãos soviéticos recebia salários na mesma faixa de renda durante a maior parte do período soviético - em média, 196 rublos. Isso possibilitava acesso amplo a diversos locais de lazer e turismo. Por exemplo, uma viagem para um Resort em Sochi durante 20 dias custaria cerca de 60 Rublos, o que incluia serviços de refeições, piscina e spa, dentre outros. Durante a semana eram cinco os dias de trabalho e era muito comum sair sexta de noite para frequentar um cinema, um café ou um restaurante. Nos cafés mais comuns a bebida custava cerca de 0,10 rublos. Um bom almoço num restaurante considerado chique custava cerca de 3 rublos. Desta forma, é possível dizer que a URSS massificou e generalizou o acesso ao turismo e ao lazer para a sua população.
Texto por Giovanna Fluminhan e Nikolas Rodrigues Silva
2 1 6
3 4 7 9
5
10
12
11
13
14
15
16 17 18
A
8
LAZER E TEMPO LIVRE | LEISURE AND FREE TIME 1.Pavilhão Spa (Borjomi, Geórgia) Spa Pavilion (Borjomi, Georgia) Arquiteto | Architect: G. Jabua (GirpoGORStroy) 1965 2.3.4. Restaurante Marabda (Tbilisi, Geórgia) Restaurant Marabda (Tbilisi, Georgia) Arquitetos | Architects: R. Kiknadze, T. Mikashavidze, V. Kurtishvili, G. Metreveli 1970 5a. Sanatorio ZoriRossii (Região da Crimeia, Ucrânia) Sanatorium ZoriRossii (Crimae Region, Ukraine) Arquitetos | Architects: V. Zhilin, O. Ivanov, G. Kostomarov, E. Perchenkov 1985 5b. Sanatorio Sochi (Sochi, Rússia) Sanatorium Sochi (Sochi, Russia)
Arquitetos | Architects: Y. Shvartsbreim, D. Lurie, M. Stuzhin, M. Schulmester 1965 6.7. Café Aragast e Arredores (Yerevan, Armênia) Café Aragast and Surrounding (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: F. Darbinyan, M. Hayrapetyan, F. Hakobyan (Yerevanproekt) 1963-1964 8-9. Reforma do Boulevard Abovyan (Yerevan, Armênia) Abovyan Boulevard’s Improvement (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: F. Darbinyan, J. Avetisyan, K. Martirosyan 1962-1966 10. Restaurante “Vasara” (Palanga, Lituânia) Restaurant “Vasara” (Palanga, Lithuania) Arquiteto| Architect: A. Eigirdas A. Eigirdas
“O CIDADÃO SOVIÉTICO É UMA PESSOA DE NECESSIDADES ESPIRITUAIS E NÃO DE INCENTIVOS EXTERNOS” “THE SOVIET CITIZEN IS A PERSON OF SPIRITUAL NEEDS, NOT OF EXTERNAL INCENTIVES.” PARTI SLOGANI, 1970’LER PARTY PAROLE, 1970S
LAZER E TEMPO LIVRE | LEISURE AND FREE TIME
1964-1967 11. Café Zhemchuzhina (Baku, Azerbaijão) Café Zhemchuzhina (Baku, Azerbaijan) Arquitetos | Architects: V. Shulgin, R. Şarifov, B. Ginzburg, A. Surkin (Bakiprogor) Anos 1960 | 1960s 12. Circo (Dnipropetrovsk, Ucrânia) Circus (Dnipropetrovsk, Ukraine)Arquitetos | Architects: P. Nirinberg, S. Zubarev 1980 13.Resort Balneatório (Druskininkai, Lituânia) Balneological Resort (Druskininkai, Lithuania) Architects | Arquitetos: R. Šilinskas, A. Šilinskienė 1979-1981 14. Circo (Moscou, Rússia) Circus (Moscow, Russia) Arquitetos | Architects: Y. Belopolsky, E. Vylykh, V. Khavin, S. Feoktistov 1969 15. Circo (Baku, Azerbaijão) Circus (Baku, Azerbaijan) Arquitetos | Architects: A. İsmayilov, F. Leontyeva Final dos anos 1970 |Late 1970s 16. Circo (Sochi, Rússia) Circus (Sochi, Russia) Arquitetos | Architects: Y. Shvartsbreim, V. Edemskaya 1971
17.18.Resort Balneatório (Druskininkai, Lituânia) Balneological Resort (Druskininkai, Lithuania) Architects | Arquitetos: R. Šilinskas, A. Šilinskienė 1979-1981
A. Neringa(1’ 7’’) Café Tartu (1’ 9’’) Diretor | Director: V. Staroŝas Palanga(1’ 22’’) Diretor | Director: R. Verba Vilnius Cafés(1’ 19’’) Em lituano com legendas em português e inglês Lithuanian with Portuguese and English subtitles
IDEOLOGIA CONSTRUÍDA | BUILT IDEOLOGY A arquitetura da União Soviética no PósGuerra revelava diversidade, a exploração de características tradicionais locais. No entanto, quando se tratava da representação da história socialista da União Soviética e do Partido, a tendência era de uniformização, reforçando nas periferias a centralidade do partido e de Moscou. É o Partido Socialista edificando seus ideais e sua história de maneira monumental e linear. Por conta disso, buscava-se trazer bastante desenvolvimento e modernização principalmente para os edifícios e lugares públicos e de uso político. A Praça Lênin, localizada atrás do Museu Lênin, em Bishkek no Quirguistão (1), por exemplo, recebeu esse novo nome em homenagem a uma
das mais importantes figuras da União Soviética e em seu centro foi construído um monumento a Lênin. A construção de fontes e o desenvolvimento da praça em si começaram nesse período, o que mostra uma preocupação com esse tipo de espaço, que marcava para sempre a memória do líder socialista. Eram nesses lugares onde aconteciam os eventos cívicos, reforçando o poder e a importância do Partido. Já o Palácio dos Congressos do Kremlin (2, 10), local que já sediou o governo russo e os líderes da extinta União Soviética, apresenta materiais como o concreto e o vidro, modernos para o período em que foi construído, além de possuir 17 metros de sua estrutura abaixo do nível do solo exibindo tecnologia e ousadia de projeto.
De forma a reforçar a centralidade almejada, percebe-se a manifestação desse modo de construir em outras regiões, tais como na Lituânia, com a construção do Museu da Revolução (8), cuja principal função era a de propagar os ideias do partido; e também o Nono Forte (6), local usado como prisão, em especial presos políticos. A construção de um sentimento de identificação com o partido foi também uma das motivações da época. Nota-se isto por meio da criação do Museu Alexander Matrosov, por exemplo (15), que homenageia um soldado soviético que se sacrificou por seus companheiros. O Prédio do Comitê Central do Partido Comunista em Bishkek (3,9,17) era, por sua função, um dos mais importantes edifícios de uso político do período Soviético, sendo responsável pela direção do Partido Comunista da União Soviética. Atualmente, grande parte destes edifícios abriga serviços de utilidade pública, recebendo concertos, obras de arte, exposições ou ainda conservando manuscritos que remetam ou preservem à memória local e soviética.
Texto por Juliana Simionato, Gabriela Mieko, Constance Jiin Chen e Sabrina Nishidomi
1 4
2
3
9
17
5 10
14
11 6
7
8
13
12
15 16
“A CLASSE TRABALHADORA – O CORPUS DA HUMANIDADE!” “THE WORKING CLASS – THE CORPUS OF MANKIND!” SLOGAN DO PARTIDO, ANOS 1950 PARTY PAROLE, 1950S
IDEOLOGIA CONSTRUÍDA | BUILT IDEOLOGY 1. Museum Lênin (Bishkek, Quirguistão) Lenin Museum (Bishkek, Kyrgyzstan) Arquitetos | Architects: V. Anistratov, S. Abyshev, R. Asylbekov, K. Ibrayev, V. Ivanov, A. Kudelya, M. Kerimkulov, M. Saltybayev, O. Chestnokov, N. Kravtsov (Kyrgyz Giprastroy) 1984 2. Kremlin Palácio dos Congressos (Moscou, Rússia) Kremlin Palace of Congresses (Moscow, Russia) Arquitetos | Architects: M. Posokhin, A. Mndoyants, E. Stamo, P. Shteller 1961 3. Prédio do Comitê Central do Partido Comunista (Bishkek, Quirguistão)
Communist Party Central Committee Building (Bishkek, Kyrgyzstan) Arquitetos | Architects: U. Alymkulov, A. Zusik, O. Lazarev, R. Mukhamadiyev, S. Sultanov 1984 4.5. Projeto de Competição para o Museu Lênin (Bishkek, Quirguistão) Lenin Museum Competition Project (Bishkek, Kyrgyzstan) Arquitetos | Architects: U.Alymkulov, O.Lazarev, S.Sultanov, Dj. Amanaliev 1980 6. Memorial E Museu Do 9 Forte (Kaunas, Lituânia) The 9 Fort Memorial and Museum (Kaunas, Lithuania) Arquitetos |Architects: G. Baravykas, V. Vielius
Escultor|Sculptor: A. Ambraziunas 1984 7. A Cascata – O Desenvolvimento da Parte Norte (Yerevan, Armênia) Cascade – the Development of Northern Radius (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: J. Torosyan,S. Gurzadyan, A. Mkhitaryan (Yerevanproekt) 1957-meio dos anos 2000|1975-Mid 2000s 8. Museu da Revolução (Vilnius, Lituânia) Museum of Revolution (Vilnius, Lithuania) Arquitetos | Architects: G. Baravykas, V. Vielius 1966-1980
IDEOLOGIA CONSTRUÍDA | BUILT IDEOLOGY
9. Prédio do Comitê Central do Partido Comunista (Bishkek, Quirguistão) Communist Party Central Committee Building (Bishkek, Kyrgyzstan) Arquitetos | Architects: U. Alymkulov, A. Zusik, O. Lazarev, R. Mukhamadiyev, S. Sultanov 1984 10. Kremlin Palácio dos Congressos (Moscou, Rússia) Kremlin Palace of Congresses (Moscow, Russia) Arquitetos | Architects: M. Posokhin, A. Mndoyants, E. Stamo, P. Shteller 1961 11. Memorial “Defensores do Cáucaso” (Karachaevo-Cherkessk, Geórgia) Memorial “Defenders of the Caucasus” (Karachaevo-Cherkessk, Georgia) Arquitetos | Architects: V.Davitaia, A.Chikovani 1968 12. Memorial Às Vítimas Armênias Do Genocídio De 1915 (Yerevan, Armênia) Memorial To The Armenian Victims Of The Genocide Of 1915 (Yerevan, Armenia) Arquiteto Architect: S. Kalashyan, A. Tarkhanyan Artista|Artist: V. Khachatryan 1965-1967 13. Palácio da Amizade dos Povos (Tashkent, Uzbequistão)
Palace of the Friendship of Peoples (Tashkent, Uzbekistan) Arquitetos|Architects: Ye. Rozanov, Ye. Sukhanova, V. Shestopalov, Ye. Shumov 1981 14. Palácio Lênin (Almaty, Cazaquistão) Lenin Palace (Almaty, Kazakhstan) Arquitetos | Architects: Nikolay Ripinsky, V. Kim, Yu. Ratushny, L. Ukhobotov (Kazgor) 1970 15. Museu Alexander Matrosov (Velikiye Luki, Rússia) Alexander Matrosov Museum (Velikiye Luki, Russia) Arquitetos | Architects: A. Belokon, V. Brainis, A. Konstantinov, A. Lurie 1971 16. Museu Literário Nikolai Ostrovsky (Shepetovka, Ucrânia) Nikolai Ostrovsky Literature Museum (Shepetovka, Ukraine) Arquitetos | Architects: M. O. Gusev, V. M. Suslov, V. Golovanovskij, V. Sydko 1975-1979 17. Prédio do Comitê Central do Partido Comunista (Bishkek, Quirguistão) Communist Party Central Committee Building (Bishkek, Kyrgyzstan) Arquitetos | Architects: U. Alymkulov, A. Zusik, O. Lazarev, R. Mukhamadiyev, S. Sultanov 1984
do pós-guerra foi um momento de utopia e ideologia traduzidos em forma de modernismo nas cidades da União Soviética. Havia uma forte crença no surgimento de uma nova maneira de viver a partir de uma nova maneira de habitar; muito do que ali se pensou e construiu na época espelha problemas e preocupações comuns à sociedade ocidental.
Texto por Ana Knudsen e Thaisa Miyahara
CIDADE IDEAL | IDEAL CITY Oleksiy Radynski, ucraniano nascido em Kiev, é jornalista, cinegrafista e ativista midiático, militando principalmente por questões relacionadas à liberdade de expressão. É membro do Visual Culture Research Center, uma iniciativa fundada em 2008 com o intuito de reunir arte, política e conhecimento. É também editor da versão ucraniana da revista Political Critique desde 2008. O curta-metragem cidade ideal é uma compilação de cenas de monumentais paisagens arquitetônicas e urbanísticas de cidades soviéticas, retiradas de filmes-documentários de meados das décadas de 1970 e 1980. Baseia-se nas filmagens dos documentários: ‘The City of Grozny’, ‘Yalta’, ‘The Heart of Crimea’ [Simferopol], ‘City for the
People’ [Riga], ‘City on Kama River’ [Perm], ‘New City on Kama River’ [Naberezhnye Chelny]. Os filmes selecionados, são denominados pelo autor como “view films”, ou seja, retratos idealizados dessas cidades, que revelam a intrínseca relação entre arquitetura e cultura visual na forma de cinema na sociedade soviética e retratam através de uma perspectiva diferenciada um momento específico na arquitetura e urbanismo soviéticos. Os view films eram também instrumentos de propaganda e constituíam o elo visual do esforço governamental de se conectar com as massas. Criavam, assim, a imagem idealizada da cidade e vida socialistas, na qual muitos arquitetos e urbanistas soviéticos da época acreditavam; este perío-
CIDADE IDEAL | IDEAL CITY
Oleksiy Radynski 2013, 12’ Baseado nas gravações dos filmes The City of Grozny, Yalta, The Heart of Crimea (Simferopol), City for the People (Riga), City on Kama River (Perm) e New City on Kama River (NaberezhnyeChelny) Based on the footage from the films The City of Grozny, Yalta, The Heart of Crimea (Simferopol), City for the People (Riga), City on Kama River (Perm) and New City on Kama River (NaberezhnyeChelny).
tificavam ainda na escola as crianças com talento científico, recrutando-as como potenciais futuros cientistas. O cientista era o protagonista principal em um grande número de filmes soviéticos que eram usados como propaganda e como meio de popularização da ciência como uma profissão atraente. Os edifícios do Hotel Iveria (8) e do Prédio Central de Correios e Telégrafos da Georgia (7) situavam-se lado a lado no centro de Tbilisi, e para sua construção foi demolida toda uma vizinhança histórica. Na década de 1990, o Hotel Iveria foi ocupado por imigrantes e refugiados, e recentemente foi reconvertido ao uso hoteleiro. Com as inovações tecnológicas, o Centro de Comunicações da Georgia tornou-se obsoleto, e seu futuro é incerto.
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E PROGRESSO | SCIENCE, TECHNOLOGY AND PROGRESS A ciência soviética se desenvolvia a partir do marco teórico do materialismo dialético, filosofia criada por Marx e adotada na União Soviética como baliza ideológica. Segundo essa filosofia, o mundo material é o único existente, não havendo nada além dele. Mesmo o pensamento e a consciência são decorrentes da matéria, no caso, o cérebro. Afirma ainda que todas as coisas estão relacionadas e só se pode compreender algum fenômeno ou objeto analisando-o também no contexto que o cerca. Por fim, o materialismo dialético entende que tudo está em movimento e mudança constante. Tais parâmetros foram também aplicados ao desenvolvimento científico e tecnológico. Na União
Soviética, o Estado era visto como o responsável pelo desenvolvimento da sociedade e como protagonista na condução dos avanços científicos, diferente da visão vigente em muitos países do Ocidente, onde frequentemente a ciência guiavase pelos interesses de mercado. Defendia-se que o Estado central era a esfera que tinha a capacidade de estabelecer prioridades e estratégias como meio de superar situações de subdesenvolvimento. Com a Guerra Fria e a competição com os EUA, a valorização da ciência ganhou ainda mais impulso como emblema da superioridade do sistema socialista. Após a segunda guerra mundial, a ciência e a tecnologia era o campo que mais recebia subsídios do estado Soviético. As universidades iden-
Texto por Beatriz Fernandes, Bernat Pedro Planas, Lucas Coelho Sandeville e Mateus Laste
7
4
8
5
1 2
6
9
10
3
“OS ENSINAMENTOS DE MARX SÃO ONIPOTENTES PORQUE ESTÃO CORRETOS” “THE TEACHINGS OF MARX IS OMNIPOTENT BECAUSE IT IS RIGHT.”
11
VLADIMIR LENIN
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E PROGRESSO | SCIENCE, TECHNOLOGY AND PROGRESS 1 Museu Tsiolkovsky de História da Cosmonáutica (Kaluga, Rússia) Tsiolkovsky State Museum of the History of Cosmonautics (Kaluga, Russia) Arquitetos | Architects: B. Barkhin, E. Kireev, N. Orlova, V. Strogy, K. Fomin 1971 2. Hotel no Krestovyj Pass (Geórgia) Hotel on the Krestovyj Pass (Georgia) Arquiteto | Architect: G. Chakhava Início dos anos 1980 |Early 1980s 3. Pavilhão dos Transportes para a Exposição de Conquistas da Economia Nacional RSS Ucraniana Transport Pavilion for the Exhibition of Achievements of the National Economy of Ukrainian SSR Arquitetos | Architects: A. Kasperov, V.Shtolko | 1970s | Anos 1970
4. Universidade Estadual T.G. Shevchenko (Kiev, Ucrânia) T.G. Shevchenko State University (Kyiv, Ukraine) Arquitetos | Architects: V. Ladny, M. Budilovsky, L. Kolomiets 1973–1990 5.6. Instituto Politécnico (Kiev, Ucrânia) Polytechnic Institute (Kyiv, Ukraine) Arquitetos | Architects: V. Likhovodov, V. Sydorenko, V. Dovgalyuk, A. Dumachev, A. Zykov, V.Kryuchkov 1975-1985 7. Prédio Central dos Correios e Telégrafos (Tbilisi, Geórgia) Central post and telegraph building (Tbilisi, Georgia) Arquitetos | Architects: V. Aleksi-Meskhishvili, T.
Mikashavidze 1980 8. Hotel Iveria (Tbilisi, Geórgia) Hotel Iveria (Tbilisi,Georgia) Arquitetos | Architects: O. Kalandarishvili, O. Tskhomelidze 1967 9.10.11. Instituto de Eletrônica Moscou (Zelenograd, Rússia) Moscow Institute of Electronics (Zelenograd, Russia) Arquitetos | Architects: F. Novikov, G. Sayevich 1971
TRABALHANDO POR UMA NOVA SOCIEDADE | WORKING FOR A NEW SOCIETY Após a segunda guerra mundial, a União Soviética teve que enfrentar uma situação de cidades completamente destruídas. A situação significou uma oportunidade para o desenvolvimento da indústria de Minsk, cidade que havia perdido grande parte da sua população – antes da guerra os judeus compunham cerca de um terço da cidade, e foram praticamente dizimados – mas já possuía uma base industrial importante desde o século XIX, especializada em construção de maquinaria, indústria química, e equipamento militar. A reconstrução no pós-guerra resultou na construção de indústrias de automóveis (6), Indústria pesada (1) entre outras. Desta forma, Minsk se converteu em um centro industrial importante para a União
Soviética, fornecendo produtos industrializados a todas as regiões da União Soviética. A indústria não só foi considerada como um área da economia, mas como uma oportunidade de construir um emblema da nova sociedade. No sistema comunista os trabalhadores eram uma parte importante na pirâmide social, razão pela qual se procura proporcionar-lhes umas condições superiores as quais podam levantar o status deles e melhorar um pouco o trabalho e a vida difícil que tinham. Os arquitetos participaram na construção da infraestrutura industrial na Belarus, revelando que a arquitetura soviética do momento tratava os espaços industrias como lugares de representa-
ção da sociedade e não unicamente como um lugar de trabalho. A relação entre a arquitetura industrial e os espaços sociais, onde a escala humana não só atende a função de proporção, mas de ilustrar as interações que se davam entre os trabalhadores (9,10). A indústria vista como arquitetura e não como infraestrutura é importante porque mostra como se gera um novo ideai de cidade, onde se criam espaços de trabalho (industrias) espaços de vivenda (residências), e espaços de socialização (praças, parques, etc.). Se tenta construir uma comunidade e espaços de socialização para os trabalhadores que, além das relações de trabalho, possam ter uma convivência com as mesmas pessoas e criar uma nova sociedade baseada por um lado, no trabalho e por outro, na sociabilidade comum. Este tipo de arquitetura, especialmente a criada por Ivan Bovt, lograva unir a beleza exterior, o conforte interior e a grande funcionalidade num mesmo espaço. À diferença de outras cidades, Minsk tinha arquitetos locais “trabalhando por uma nova sociedade”, fruto de uma tradição anterior à URSS. Arquitetos estiveram encarregados da criação de aspectos dessa nova cidade gerada pela indústria. Nesse contexto, a arquitetura alinhava-se a uma corrente modernista, baseada em geometrias básicas e volumetrias simples, gerando espaços públicos de grandes dimensões. Para poder diferenciar-se dos ar-
TRABALHANDO POR UMA NOVA SOCIEDADE | WORKING FOR A NEW SOCIETY
quitetos que trabalhavam em cidades como Moscou, Leningrad ou Kiev, os arquitetos da Belarus tinham que desenvolver projetos novos e inovadores: foi a arquitetura industrial que marcou a diferencia, e fiz de cidades como Minsk um exemplo para outras cidades. É por isso que o enfoque principal do planejamento da cidade de Minsk foi a construção industrial onde a ideia duma sociedade baseada no trabalho e dever permitiu uma nova linha de projeção para as cidades que promovia uma atitude trabalhadora e patriótica por parte dos cidadãos. Ivan Bovt (Minsk, 1932) é um dos arquitetos mais importantes da historia de Minsk e a arquitetura industrial que fiz desta cidade um ponto importante para toda a União Soviética. Formou-se na Faculdade de Arquitetura e Engenharia Civil de Minsk em 1952, e a partir deste momento empeça a trabalhar no Instituto Belpromproekt, onde ficou 50 anos fazendo diferentes tipos de trabalhos. Em 1961 se forma no Instituto Politécnico da Belarus, especializando-se em construção industrial e civil. Em 1968 foi nomeado arquiteto-chefe do maior equipe de arquitetos de Belarus. Recebeu grande número de prêmios, e é reconhecido como um dos maiores arquitetos da Republica. Recebeu a condecoração de “autor de Minsk” após fazer o plano geral da cidade. Seu trabalho tem como foco a arquitetura industrial e a construção de fabricas, inserindo-
se no projeto de desenvolvimento industrial de Minsk, que servia não apenas para criar postos de trabalho, mas também como infraestrutura social e cultural para o uso dos cidadãos e parte da própria identidade da cidade.
Texto por Natalia Nassar e Santiago Palacio
1
4
2
TRABALHANDO POR UMA NOVA SOCIEDADE IVAN BOVT EM MINSK WORKING FOR A NEW SOCIETY IVAN BOVT IN MINSK
9
3 5 7
6 8
10 11
Seleção do projeto “General Plan” Selection from the project “General Plan” Marina Naprushkina, 2010
TRABALHANDO POR UMA NOVA SOCIEDADE | WORKING FOR A NEW SOCIETY 1. Projeto para Fábrica de Fundição (Zhodino, Bielorrússia) Forging Plant Project (Zhodino, Belarus) Arquiteto | Architect: I. Bovt 2. Complexo do Departamento de Fabricação de Metrôs (Minsk, Bielorrússia) Complex of Manufacturing Metro-Department (Minsk, Belarus) Arquiteto | Architect: I. Bovt 3. Projeto para Fábrica de Fundição (Zhodino, Bielorrússia) Forging Plant Project (Zhodino, Belarus) Arquiteto | Architect: I. Bovt 4. Fábrica de Tapetes (Brest, Bielorrússia) Carpet Manufacturing Combine (Brest, Belarus) Arquitetos | Architects: N. Shpigelman, I. Bovt (Belpromproject) 1962-1965
5. Fábrica de Tapetes (Brest, Bielorrússia) Carpet Manufacturing Combine (Brest, Belarus) Arquitetos | Architects: N. Shpigelman, I. Bovt (Belpromproject) 1962-1965 6. Prédios das Oficinas Industriais de Automóveis da Bielorrussas (Zhodzino, Bielorrússia) Belarussian Automobile Works Industrial Shop Buildings (Zhodzino, Belarus) Arquitetos | Architects: I. Bovt, A. Goncharov,L. Sagalov, L. Nekrashevich 1968-1986 7. “Interiores de Construções Industriais”, V. Blokhin, da biblioteca de I. Bovt “Interiors of Industrial Buildings”, V. Blokhin, from I. Bovt’s library 8. “Arquitetura Industrial”, N. Kim, da biblioteca de I. Bovt
“Industrial Architecture”, N. Kim, from I., Bovt’s library 9. Esboço de Complexo Industrial Industrial Complex Draft Arquiteto | Architect: I. Bovt 10. Complexo de Laboratórios da Academia de Ciências (Minsk, Bielorrússia) Laboratory Complex Academy of Sciences (Minsk, Belarus) Arquitetos | Architects: I. Bovt, I. Zamaraeva 1968 11. 6 Desconhecido UnknownSeleção do projeto “General Plan” Selection from the project “General Plan” Marina Naprushkina, 2010
departamento de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), revela que na década de 1980, já em uma situação de abertura, arquitetos como Chakhava e B. Chernoletski, Chefe do Departamento de Relações Internacionais da União dos Arquitetos da URSS, buscavam fazer circular informações sobre a arquitetura soviética no Ocidente.
Texto por Evelyn Harumi Tomoyose e Fabiana Romano
O QUE O OCIDENTE NÃO SABE | WHAT THE WEST DOES NOT KNOW Tbilisi, capital da Geórgia, localiza-se na parte oriental do território, ocupa ambas as margens do rio Kura. É a cidade mais populosa e principal centro financeiro, corporativo, mercantil e cultural do país. O projeto da sede o Ministério dos Transportes em Tbilisi foi concebido em 1974 pelos arquitetos George Chakhava (na época vice-ministro dos transportes), Zurab Jalaghania, V. Kimberg e pelo engenheiro Temur Tkhilava. Chakhava, nascido em 1923, é considerado um profissional de grande importância na arquitetura soviética, nomeado arquiteto de honra da Geórgia. A obra segue o método “Space City”, que consiste no conceito de utilizar a menor área pos-
sível do terreno na qual essa se localiza. O edifício foi proposto como uma antítese aos arranha-céus americanos produzidos na época, e busca estabelecer uma relação harmônica entre a edificação e o espaço natural no qual se insere. Seguindo esse conceito, a obra é criada com inspiração nas árvores, os elementos verticais representando troncos e os horizontais as copas. O edifício foi amplamente documentado e circulou em matérias de revistas internacionais especializadas de diversas partes do mundo (4). Em 2007, a construção foi declarada Monumento Nacional, e nesse mesmo ano foi privatizada e adquirida pelo Banco da Geórgia. A carta de Arthur Drexler (6), Diretor do
4
5
3
1 2
6
1-7. Ministテゥrio dos Transportes (Tbilisi, Geテウrgia) Ministry of Transportation (Tbilisi, Georgia) Arquitetos | Architects: G. Chakhava, Z. Jalaghania, T. Tkhilava, V. Kimberg 1974
7
O QUE O OCIDENTE Nテグ SABE GEORGE CHAKHAVA EM TBILISI WHAT THE WEST DOES NOT KNOW GEORGE CHAKHAVA IN TBILISI
ARTE E CULTURA PARA AS MASSAS | ARTS AND CULTURE TO THE MASSES A ideia de que a arte e a cultura eram direito de todos, mediado e provido pelo Estado, era ponto estratégico para o discurso oficial soviético. Nos edifícios com finalidades culturais como teatros e casas de cultura o degelo iniciado com a morte de Stalin, abriu espaço para um afrouxamento de paradigmas. A censura e o direcionamento das artes abranda-se em alguns aspectos, abrindo caminho para que uma variedade de linguagens fosse também explorada. A gradual introdução do jazz e do rock na apreciação popular representa uma suave ocidentalização, mostrando um leve redirecionamento da produção artística. Filmes e peças de teatro também passam a ter uma flexibilização programática.
O viés cultural perdeu em certa medida seu aspecto unidirecional, porém o Estado ainda se mantinha como emissor de ideais. Os espaços de difusão de cultura ou de articulação dessas ideias acabavam criando centralidades cívicas nas regiões periféricas soviéticos. Mais do que expressar a autonomia e as especificidades locais, a arquitetura diversificada e experimental dos edifícios culturais reiterava alguns aspectos de centralidade, trazendo a mensagem de que Moscou era a instância capaz de apresentar e articular as inovações estéticas. Assim, os edifícios de caráter cultural cumprem um papel até certa medida paradoxal, de reiterar o poder central e apresentá-lo como algo dinâmico e inovador.
Texto por Gabriel Ávila Giannini e Renan Prado
1
3
4
5
10
6 2
7 8
9
12 11
“A ARTE É UMA SENSIBILIDADE UNIVERSAL QUE PERMITE O CONTATO COM OUTRO SER HUMANO” “ART IS A UNIVERSAL SENSITIVITY ENABLING CONTACT WITH ANOTHER HUMAN BEING.”
EVALD VASILYEVIC ILYENKOV
ARTE E CULTURA PARA AS MASSAS | ARTS AND CULTURE TO THE MASSES 1. .a.b. Casa Dos Artistas (Kiev, Ucrânia) House of Artists (Kyiv, Ukraine) Arquitetos | Architects: A. Dobrovolsky, A. Makukhinа 1977 2. Teatro TAGANKA de Drama e Comédia (Moscou, Rússia) TAGANKA Drama and Comedy Theater (Moscow, Russia) Arquitetos | Architects: A. Anisimov, Yu. Gnedovsky, V. Tarantsev 1984 3-4-5. Foyer da Sala de Conferências do Palácio da Cultura (Moscou, Rússia) Cultural Palace Conference Hall Foyer (Moscow, Russia) Arquitetos | Architects: I. Pokrovsky, Y. Sverdlovsky 1979-1983
6. Teatro Daile (Riga, Letônia) Daile Theatre (Riga, Latvia) Arquitetos | Architects: M. Staņa, I. Jākobsons, H. Kanders 1959-1977 7. Cartão-postal com imagem do Teatro Sundukyan (Yerevan, Armênia) Postcard with the image of Sundukyan Theater, (Yerevan, Armenia) ARQUITETO| Architects: Razmik Alaverdyan, Suren Burkhadjyan, Gurgen Mnatsakanyan 1962 – 1966 8. Cartão-postal com imagem do Museu e Espaço Expositivo (Bishkek, Quirguistão) Postcard with the image of the Museum and Exhibition space (Bishkek, Kyrgyzstan) arquiteto | architect: Shailo Djekshenbayev 1974 9. Teatro Daile (Riga, Letônia)
Daile Theatre (Riga, Latvia) Arquitetos | Architects: M. Staņa, I. Jākobsons, H. Kanders 1959-1977 10a. Teatro Dramático Kyrgyz (Bishkek, Quirguistão) Kyrgyz Drama Theater (Bishkek, Kyrgyzstan) Arquitetos | Architects: F. M. Yevseyev, M. G. Yevseyeva 1970
ARTE E CULTURA PARA AS MASSAS | ARTS AND CULTURE TO THE MASSES
10b. Teatro da Juventude (Dushanbe, Tadjiquistão) Youth Theater (Dushanbe, Tajikistan) Arquiteto: Desconhecido | Architect: Unknown Meio dos anos 1970 | Mid 1970s 10c.Teatro Das Crianças (Baku, Azerbaijão) Children’s Theater (Baku, Azerbaijan) Arquitetos | Architects: V. Shulgin, R. Şarifov, B. Ginzburg, A. Surkin 11-12. Casa Dos Artistas (Kiev, Ucrânia) House of Artists (Kyiv, Ukraine) Arquitetos | Architects: A. Dobrovolsky, A. Makukhinа 1977
ARTE E CULTURA PARA AS MASSAS | ARTS AND CULTURE TO THE MASSES
1
2
“A ARTE É UMA SENSIBILIDADE UNIVERSAL QUE PERMITE O CONTATO COM OUTRO SER HUMANO” “ART IS A UNIVERSAL SENSITIVITY ENABLING CONTACT WITH ANOTHER HUMAN BEING.”
3 4
6
5 7 10 11
8 9 12
EVALD VASILYEVIC ILYENKOV
1-2. All-Union Casa da Criatividade dos Cinematográfos (Dilijan, Armênia) All-Union House of Creativity of Cinematographers (Dilijan, Armenia) Arquitetos | Architects: S. Khachikyan, L. Safaryan, H. Poghosyan (Armgosproekt) 1976-1983 3. Refeitório do Retiro de Veraneio do Sindicato dos Escritores (Península de Sevan, Armênia) Holiday Retreat of the Union of Writers Dining Hall (Sevan Peninsula, Armenia) Arquiteto | Architect: G. Kochar (Yerevanproekt) 1965-1969 4-5. Academia de Música (Ashgabat, Turcomenistão) Music Academy (Ashgabat, Turkmenistan) Arquitetos | Architects: V. M. Orlov, A. S. Sychevoy,
A. N. Nikolayeva 1975-1992 6. Teatro de Ópera e Ballet (Vilnius, Lituânia) Opera and Ballet Theater (Vilnius, Lithuania) Arquiteto | Architect: N. Bučiūtė 1974 7-12. Teatro MKHAT (Moscou, Rússia) Theater MKHAT (Moscow, Russia) Arquitetos | Architects: V. Kubasov, A. Morgulis 1982-1986
ORGANIZAÇÃO COTIDIANA | ORGANIZATION OF EVERYDAY LIFE O modelo de distribuição de bens, em sua fase final (aquisição pelo consumidor), durante o regime socialista nas repúblicas soviéticas, era curiosamente não tão distante do que se passava no ocidente. O dinheiro era a moeda de troca, e o local das compras eram supermercados, mercados menores ou mercados especializados em determinados produtos. O que diferia do ocidente, era principalmente a forma com que os soviéticos consumiam, e como se organizavam para esta atividade. Não havia excessos, e algumas listas controlavam a saída dos bens, podendo limitar os consumidores. Nos mercados, refrigeradores compridos, com prateleiras e produtos dispostos, espaçosos balcões onde os trabalhadores destes
estabelecimento entregavam os produtos aos clientes atrás de suas emblemáticas balanças. A atividades passaram a ser realizadas através da iniciativa privada nas décadas finais do regime socialista, apesar de não visarem o lucro, e terem ampla mediação do Estado. Mas este não era o caso do turismo, que passou a se desenvolver de forma mais ampla durante a década de 1950, se intensificando na década de 1970 e progressivamente adiante, sob o monopólio do Estado através das únicas agências de turismo soviética: Intourist e Sputnik. Os soviéticos possuíam o direito de viajar, e haviam diversos destinos nas repúblicas soviéticas os quais possuíam infraestrutura para receber
estes turistas, porém era muito difícil que houvesse uma permissão sair dos limites da URSS e quando esta era concedida, havia a supervisão e vigilância da KGB no exterior. Da mesma forma, esta vigilância se aplicava aos estrangeiros que visitavam o “paraíso soviético” (como pretendiam mostrar aos turistas estrangeiros), sempre acompanhados e direcionados a locais permitidos pelo serviço de segurança. Os estrangeiros se concentravam em cidades maiores como Moscou e Leningrado/São Petersburgo, e não eram poucos estes turistas, sobretudo a partir da década de 1970. A arquitetura dos hotéis era bastante imponente e trabalhada. Serviços de hotéis de luxo, e palacetes pré-soviéticos ressignificados para atender o turismo interno e externo não eram incomuns.
Texto por Marcelo Arnellas e Charlotte Debever
1
“A LIBERDADE NÃO ESTÁ NO QUE VOCÊ DESEJA FAZER” “FREEDOM IS NOT IN WHAT YOU DESIRE TO DO.”
2 AB 3
4
5
6 7
8
9 10
11
EVALD VASILYEVIC ILYENKOV
ORGANIZAÇÃO COTIDIANA | ORGANIZATION OF EVERYDAY LIFE 1.2. Estação de Ônibus (Tbilisi, Geórgia) Bus Station (Tbilisi, Georgia) Arquitetos | Architects: S. Kavlashvili, V. Kurtishvili, R. Kiknadze 1970 3. a. Mercado Zaliznychnyj (Kiev, Ucrânia) Zaliznychnyj Market (Kyiv, Ukraine) Arquiteto | Architect: A. Anishchenko 1973-1980 b. Loja de Departamentos Pecherskyj (Kiev, Ucrânia) Pecherskyj Department store (Kyiv, Ukraine) Arquiteto | Architect: A. Anishchenko 1973-77 4-5. Aeroporto Zvartnots (Yerevan, Armênia) Zvartnots Airport (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: L. Cherkezyan, S. Khachikyan, Z. Shekhlyan, A. Tarkhanyan (Armgosproekt)
1975-1980 6. Estação de Ônibus Central (Kiev, Ucrânia) Central Bus Station (Kyiv, Ukraine) Arquitetos | Architects: E. Bilsky, I. Melnyk, A. Miletsky 1961 7. Mercado Zhytnij (Kiev, Ucrânia) Zhytnij Market (Kyiv, Ukraine) Arquitetos | Architects: V. Shtolko, G. Ratushinskij, O. Monina 1974-1980 8. Mercado (Cherkassy, Ucrânia) Market (Cherkassy, Ukraine) Arquitetos | Architects: N. Tchmutina, A. Anishchenko Anos 1970 | 1970s 9. Pontos de Ônibus (Geórgia) Bus Stops (Georgia) Arquiteto | Architect: GeorgyChakhava
Fim dos anos 1970 | Late 1970s 10. Pontos de Ônibus (Geórgia) Bus Stops (Georgia) Arquiteto | Architect: GeorgyChakhava Fim dos anos 1970 | Late 1970s 11. Loja de Departamentos “O Mundo das Crianças” (Chisinau, Moldávia) Department Store “Children’s world” (Chisinau, Moldova) Arquiteto | Architect: V.A. Voytsekhovsky 1959 A. Seleção de Prédios Selection of Buildings B. Terra dos Homens The Land of Men Diretor |Director: ArtavazdPeleshian 1966, 9.35’’
ESPORTES E CULTURA DA SAÚDE FÍSICA | SPORTS AND PHYSICAL CULTURE Estádios de grande capacidade e ginásios multifuncionais foram reflexos de um Estado que visava a criação de equipamentos urbanos modernos que enaltecessem o socialismo através de sua competência de prover qualidade de vida à população. A grande capacidade dos estádios em atender ao público é o elemento chave para a apreensão e o entendimento do que representou a arquitetura Soviética do período pós Stalinista. Durante o período da guerra fria o esporte teve papel significativo na disputa pela supremacia ideológica mundial. A realização de competições e eventos internacionais, como as olimpíadas de 1980, foram oportunidades para a utilização dos grandes estádios construídos principalmente nas
décadas de 60 e 70. Com capacidades em torno de 75.000 espectadores, a grandiosidade de escala dos estádios impressiona por comportar não somente a população local como também sediar eventos internacionais. Muitos desses edifícios esportivos continuam sendo utilizados até os dias de hoje, tendo alguns desses diversificado suas funcionalidades, a exemplo do Central Hrazdan, na capital Yerevan (1,3,4,5,6), que atualmente é sede do time nacional de futebol Armênio e do Palácio dos Esportes, em Tbilisi (7a), que devido a sua importância como capital e cidade mais populosa da Geórgia concentra atividades principalmente culturais como concertos, shows e exibições em geral.
Texto por Daniel Souza Gonçalves e Luísa Landert
3
1 2
4 5 6
9 7 8
10
11
12 13 14 15
“A SENSIBILIDADE HUMANA É UM PRODUTO CULTURAL E NÃO UM DOM DA NATUREZA” “HUMAN SENSIVITY IS A CULTURAL PRODUCT AND NOT A GIFT OF NATURE”
ESPORTES E CULTURA DA SAÚDE FÍSICA | SPORTS AND PHYSICAL CULTURE 1.3.4.5.6. Central Hrazdan (Yerevan, Armênia) Central Stadium Hrazdan (Yerevan, Armenia) Arquitetos | Architects: K. Hakopyan, G. Musheghyan (Armgosproekt) 1968-1970 2.8. Arena Esportiva Medeo (Almaty, Cazaquistão) Medeo Sports Arena (Almaty, Kazakhstan) Arquitetos | Architects: V. Katsev, S. Kokhanovich, A. S. Kainarbayev, I. G. Kosogova (ALMATY GIPRAGOR) 1969–1972 7a. Palácio dos Esportes (Tbilisi, Geórgia) Sports Palace (Tbilisi, Georgia) Arquitetos | Architects: L. Aleksi-Meskhishvili, Y. Kasradze, D. Qajaia 1961 7b. Palácio dos Esportes Yubileyny (São Petersbur-
go, Rússia) Yubileyny Palace of Sports (St. Petersburg, Russia) Arquitetos | Architects: G. Morozov, I. Suslikov, A. Levkhanyan, F. Yakovlev 1967 7c. Palácio dos Esportes (Minsk, Bielorrússia) Palace of Sports (Minsk, Belarus) Arquitetos | Architects: S. Filimonov, V. Malyshev 1964-1966 7d. Palácio dos Esportes e da Cultura (Vilnius, Lituânia) Sports and Culture Palace (Vilnius, Lithuania) Arquitetos | Architects: E. Chlomauskas, Z. Liandzbergis, J. Kriukelis 1971 8.15. Complexo Esportivo e de Concertos (Yerevan, Armênia ) Sports and Concert Complex (Yerevan , Armenia )
Arquitetos | Architects: K. Hakobyan, S. Khachikyan, G. Musheghyan, H. Poghosyan, A. Tarkhanyan (Armgosproekt) 1976-1984 9.10.11. Projeto para Piscina Coberta no Resort Geolog (Issyk Kul Region, Quirguistão) Geolog Resort Indoor Swimming Pool Project (Issyk Kul Region, Kyrgyzstan) Arquitetos | Architects: O. Lazarev, A. Zusik 1976 12.13.14. Complexo de Esportes Aquáticos (Tbilisi, Geórgia) Aquatic Sports Complex (Tbilisi, Georgia) Arquitetos | Architects: Shota Kavlashvili, G. Abuladze, R. Kiknadze 1978
os padrões do realismo soviético, assim como a campanha dos artistas pela sua restauração. “Esses mestres talentosos seguiram o caminho de Picasso. Mas não podemos aceitar esta obra em solo marxista”, afirma o relatório do Conselho de Arquitetura e Obras de Arte que resultou na censura da obra.
Texto por Caetano Sanglade Cosentino e Renan Sampaio
MEMÓRIA REVELADA E COBERTA: O MURO | MEMORY UNVEILED AND COVERED: THE WALL A cremação era para o estado soviético o modelo ideal de funeral, por combater o caráter religioso no culto aos mortos e evitar o que era visto como um desperdício de terras em cemitérios. Em meados da década de 1980, cerca de 40% dos mortos eram cremados. Assim edifícios de crematórios eram emblemáticos das estratégias do Estado para a destinação dos cadáveres. É o caso do crematório de Kiev, projetado pelo famoso arquiteto de Kiev, Abraham Miletsky, em concreto e em formato de ferradura, onde grandes personalidades da região foram cremadas. A partir de 1968, os artistas Ada Rybachuk e Volodymir Melnychenko produziram um monu-
mental muro de cerca de 2000m2 em altos relevos de caráter expressionista que levavam à reflexão em torno da vida e da morte. Em 13 de janeiro de 1982, sem aviso prévio, o governo decidiu por censurar a obra. Foram enviados veículos ao local e foi instalado um tapume, que serviu de forma para a concretagem dos alto-relevos, que desapareceram. O Documentário “Memória revelada e coberta: o muro”, de Israel Goldstein, foi feito em 1988, já em um período de abertura política. Relata o desaparecimento dos alto-relevos, a incredulidade dos artistas com a censura da obra, que foi considerada um vanguardismo não tolerável para
MEMÓRIA REVELADA E COBERTA O MURO | MEMORY UNVEILED AND COVERED THE WALL
Stena [O Muro] Stena [The Wall] Diretor | Director: Israel Goldstein 1988, 20’ Em russo com legendas em português e inglês Russian with Portuguese and English subtitles