O que teve na IV Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária - UFJF

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Juiz de Fora, 27 de Abril de 2017

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EVENTO DISCUTE REFORMA AGRÁRIA NA UFJF FOTO: DIVULGAÇÃO JORNADA

Por Caio Ferreira

As crianças que compõem o MST estudam, além das disciplinas tradicionais, noções de agrocologia nas escolas do campo, e desde pequenos participam dos eventos organizados pelo movimento.

Na semana passada aconteceu na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) a 4° Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA). O evento acontece nacionalmente desde 2013, e é uma articulação entre Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), professores universitários e movimento estudantil. O evento começou na segunda-feira (17), às 17h, com uma feira agroecológica em frente ao Anfiteatro dos Estudos Sociais, local onde aconteceu a mesa de abertura com o tema: “ Resistência ao golpe e construção do projeto popular para o Brasil”. A mesa contou com a participação de Frederico Santana, integrante da Frente Brasil Popular; Neury do Movimento dos Tra-

balhadores sem Terra (MST); Júlia Louzada, do Levante Popular da Juventude; e Flávio Sereno, da Frente Povo Sem Medo. A mesa discutiu a conjuntura nacional brasileira, apontando os ataques aos direitos da classe trabalhadora, desde o processo de redemocratização do país. Na terça-feira, a programação começou às 8h, com a mesa “Os impactos da mineração e os desafios para a classe trabalhadora”. Os professores Miguel F. Felippe, da Faculdade de Geografia da UFJF, e Bruno Milanez, da Faculdade de Engenharia da UFJF, participaram do debate, junto com o representante do MST, Adilson Custódio, e com Luiz Paulo Guimarães, integrante do Movimento dos Atingidos por Mineração (MAM).

“A mineração, aonde ela chega, viola a soberania territorial, e a reforma agrária é uma conquista de terra, onde o povo busca um sonho, realiza um sonho e vai viver da terra, com a produção de alimentos, principalmente alimentos saudáveis a partir da agroecologia, sem o uso de agrotóxicos”, disse Guimarãe. “Quando chegam esses empreendimentos de mineração, acabam com todos esse sonhos e com todos esses projetos. Porque sem terra e sem água você não consegue exercer a soberania alimentar e nem o acesso à terra. Onde a mineração chega, ela destrói as águas, destrói a terra, e pode colocar em risco toda essa trajetória de luta em prol da reforma agrária.” 3


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MINERAÇÃO E O ASSENTAMENTO DÊNIS GONÇALVES

Entrada do Assentamento Dênis Gonçalves, próximo à cidade de Goianá.

O Assentamento Dênis Gonçalves, que fica na região de Goianá, a cerca de 40 quilômetros de Juiz de Fora, vem sendo ameaçado de desapropriação por empresas da área de min-

“Em 2017, o movimento pretende realizar a maior Jornada Universitária dos últimos quatro anos. Além da defesa da Reforma Agrária Popular e da alimentação saudável, livre de agrotóxicos e transgênicos, a JURA denuncia os sucessivos ataques do governo ilegítimo de Michel Temer aos camponeses e camponesas do Brasil, tais como a redução de créditos para a agricultura familiar, a tentativa de privatização do assentamentos e o projeto de Reforma da Previdência, que acaba com a aposentadoria rural.” - MST

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eração. A integrante do Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular Gabriel Pimenta (NAJUP) Isadora Freitas, que presta assessoria ao assentamento, explicou o processo: “O assentamento possui uma área de mais de quatro mil hectares, formada por uma parte mais baixa e outra mais alta, chamada pelos assentados de ‘serra’. Neste local, segundo estudos e mapeamentos geográficos, existe uma significativa quantidade de minério bauxita, o que tem despertado o interesse da indústria mineradora.” Segundo Isadora, a área possui extrema importância ambiental, uma vez que nela está a

maior reserva de Mata Atlântica da Zona da Mata, assim como achados arqueológicos e nascentes que abastecem vários municípios da região. “Explorar minério no assentamento significa comprometer todo esse ecossistema, além de priorizar interesses econômicos dessa indústria que viola direitos humanos em nome do lucro - um retorno financeiro que beneficia apenas seus próprios interesses”, defende a estudante de Direito. “O assentamento guarda valor histórico e ecológico, além de ser fruto de conquista legítima da luta dos trabalhadores e trabalhadoras sem terra que resistem aos ataques do capital.”

ATO NO PEDÁGIO Também no dia 17 de abril, quando se comemora o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, o MST, movimentos estudantis da UFJF e sindicatos de trabalhadores organizaram uma ocupação da praça de pedágio localizada no quilômetro 816 da BR-040, próxima ao município de Simão Pereira (MG). Na ocasião, os manifestantes liberaram as cancelas das pistas nos dois sentidos, sem a cobrança de tarifas. Cartazes, panfletos e palavras de ordem chamavam para a construção da Greve Geral, marcada para o dia 28 deste mês, em resposta às propostas do Governo de Michel Temer de reforma da Previdência, reforma trabalhista e lei das terceirizações. A manifestação não teve ligação direta com a organização da Jornada. Agroecologia e Educação do ecológica do MST estiveram preCampo sentes em todos os dias do evento, trazendo a prática dessa discussão Ainda na terça- feira, às 14h, no para dentro da Universidade. anfiteatro do Instituto de Biologia, Já a mesa da noite começou às a discussão foi sobre as estratégias 18h no anfiteatro da Faculdade de agroecológicas no enfrentamento Educação, tendo como tema: “Edao agronegócio, com a presença ucação do campo: educação é dido professor Gustavo Soldati (Bi- reito!” A educadora e Integrante ologia/ UFJF) e de Maíra Santiago, do MST Elizangela participou da integrante do MST. As feiras agro- discussão e explicou que, quando


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O debate da Mineração foi essencial nessa Jornada devido ao assédio que os assentados vêm sofrendo de mineradoras interessadas em explorar a região.

pensamos a educação do campo, o que a maioria das pessoas perguntam é: qual a diferença? “A diferença é que a gente pensa a partir da nossa realidade, da realidade em que aquele sujeito está inserido, seja ele quilombola, indígena, sem terra, pescador, enfim, todos esses. E pensando na transformação da sociedade, pra gente se libertar desse modelo opressor e capitalista, que nos enquadra e que nos engessa. E também trazer as outras dimensões, do próprio trabalho como princípio educativo da escola, como é que a gente organiza a escola a partir do trabalho”. Para Elizangela, é um trabalho que não cessa nunca, sempre há questões pertinentes à educação do campo, que são, de acordo com ela: escolas muito su-

cateadas, escolas sendo fechadas por conta do avanço do agronegócio, crianças sofrendo por isso, ou tendo que andar quilômetros para chegar às escolas.” O professor do curso de Educação do Campo da Universidade Federal de Viçosa Edgard de Oliveira explicou que esse método de educação também contribui para a discussão sobre a reforma agrária. “Lá no curso de Educação do Campo da UFV a gente não concebe o campo em nenhum momento como propriedade privada, como construção de monoculturas, como relações mais individuais. Todo o processo político-pedagógico do curso está vinculado a questões de apropriação da terra, de ocupação da terra, e do trabalho coletivo. Eu acho que essas abord-

agens potencializam a formação dos sujeitos para essa perspectiva da reforma agrária.” Além do curso da UFV, o Brasil tem mais 31 cursos de Educação no campo nas universidades federais. Organização e Vivência Na quarta-feira, os inscritos na Jornada foram até o Assentamento Dênis Gonçalves. Lá foram oferecidas oficina de bioconstrução, oficina de educação do campo, oficina de saúde, oficina de agitação e propaganda e oficina de agroecologia. Os participantes também puderam conhecer a história do assentamento. A estudante de Jornalismo Natália Iwasawa, participou da oficina de saúde e falou sobre a ida ao local. “A experiência de conhecer o assentamento 5


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POLÍTICA da aconteceu na quinta-feira de manhã, com uma mesa sobre os 100 anos da Revolução Russa e a histórica luta dos trabalhadores. Os participantes foram Luiz Eduardo, professor de História do Colégio de Aplicação João XXIII e Darlan Ferreira Montenegro, professor na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O estudante de Direito Pedro Badô, integrante da União da Juventude Comunista, falou sobre a importância de abordar esse tema na Jornada. “A primeira importância de se discutir os 100 anos da revolução russa em uma Jornada pela reforma agrária, é reforçar o compromisso do MST, que é um movimento da classe trabalhadora, com um dos eventos mais importantes do século XX, que foi a primeira

grande revolução proletária que fundou uma nação propriamente socialista, foi a grande conquista que abriu o século XX, que abriu de fato uma luta consistente dos trabalhadores contra o capital.” Badô também ressaltou a importância de trazer o debate das revoluções operárias para dentro da Universidade. “Esse é um tema que foi secundarizado dentro da universidade, com o avanço das perspectivas de outras teorias, como as teorias pós modernas. Então trazer esse caráter da importância da revolução socialista, e da classe trabalhadora como vanguarda de uma revolução é algo essencial para que a universidade também consiga debater os rumos da classe trabalhadora do nosso país.”

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Dênis Gonçalves foi muito positiva no sentido de ter um contato de corpo a corpo com o lugar, porque a gente fica muito preso na área acadêmica. Conhecemos um pouco da história do assentamento e como as famílias se organizam.” Segundo Natália, na oficina de saúde ela viu como o MST utiliza dos recursos naturais para tratar do corpo. “Eles tratam a maioria das doenças na base da homeopatia, que é algo que precisa ser difundido, para que a gente tenha uma alternativa aos medicamentos industrializados. Aprendemos como fazer uma tintura, que é um remédio à base de plantas, como tratar sintomas como dor de cabeça e dor de barriga com chás, com plantas que curam.” O encerramento da Jorna-

A Feira Agroecológica do MST aconteceu em todos os dias da Jornada, oferecendo produtos cultivados pelos assentados. 6


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