“A inspiração poética é um delírio equilibrado, mas sempre um delírio.” Fernando Pessoa
Sumário Apresentação......................................................................................... 7 Soneto da Fidelidade............................................................................ 8 Livros e flores........................................................................................ 8 Via Láctea.............................................................................................. 9 Autopsicografia..................................................................................... 9 As Pombas........................................................................................... 10 A morte do jangadeiro....................................................................... 10 Arte Matuta......................................................................................... 11 Para Sempre........................................................................................ 12 Soneto 116........................................................................................... 13 A Rosa de Hiroxima........................................................................... 13 Congresso Internacional do Medo................................................... 14 Esperança nunca Morre..................................................................... 14 Retrato.................................................................................................. 15 Por que mentias?................................................................................ 15 No alto.................................................................................................. 16 Dor elegante........................................................................................ 16 Para não Deixar de Amar-te Nunca................................................. 17 Autores................................................................................................. 18 Créditos................................................................................................ 19
Apresentação Simplesmente palavras, se trata de uma obra da qual reúne poesias dos maiores autores do cenário literário brasileiro e mundial. No qual cada poesia foi escolhida minuciosamente, com ilustrações para que o leitor adentre no mais profundo sentimento tal qual o autor o fez. Uma simples apresentação, um simples livro: boa leitura.
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Soneto da Fidelidade
Livros e flores
e tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.
Teus olhos são meus livros. Que livro há aí melhor, Em que melhor se leia A página do amor?
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Quero vivê-lo em cada vão momento E em louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Vinícius de Moraes
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Flores me são teus lábios. Onde há mais bela flor, Em que melhor se beba O bálsamo do amor? Machado de Assis
Via Láctea
Autopsicografia
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?”
O
poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. Fernando Pessoa
E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.” Olavo Bilac
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As Pombas
A morte do jangadeiro
ai-se a primeira pomba despertada… Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada.
Ao sopro do terral abrindo a vela, Na esteira azul das águas arrastada, Segue veloz a intrépida jangada Entre os uivos do mar que se encapela.
V
E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada. Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam, Fogem Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais. Raimundo Correia
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Prudente, o jangadeiro se acautela Contra os mil acidentes da jornada; Fazem-lhe, entanto, guerra encarniçada O vento, a chuva, os raios, a procela. Súbito, um raio o prostra e, furioso, Da jangada o despeja na água escura; E, em brancos véus de espuma, o desditoso. Envolve e traga a onda intumescida, Dando-lhe, assim, mortalha e sepultura O mesmo mar que o pão lhe dera em vida. Padre Antônio Tomaz
Arte Matuta
E
u nasci ouvindo os cantos das aves de minha serra e vendo os belos encantos que a mata bonita encerra foi ali que eu fui crescendo fui vendo e fui aprendendo no livro da natureza onde Deus é mais visível o coração mais sensível e a vida tem mais pureza. Sem poder fazer escolhas de livro artificial estudei nas lindas folhas do meu livro natural e, assim, longe da cidade lendo nessa faculdade que tem todos os sinais com esses estudos meus aprendi amar a Deus na vida dos animais. Quando canta o sabiá Sem nunca ter tido estudo eu vejo que Deus está por dentro daquilo tudo aquele pássaro amado
no seu gorgeio sagrado nunca uma nota falhou na sua canção amena só canta o que Deus ordena só diz o que Deus mandou. Patativa do Assaré
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Para Sempre
P
or que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa
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sem deixar vestígio. Mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra - mistério profundo de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho. Carlos Drummond de Andrade
A Rosa de Hiroxima Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Soneto 116
D
e almas sinceras a união sincera Nada há que impeça: amor não é amor Se quando encontra obstáculos se altera, Ou se vacila ao mínimo temor. Amor é um marco eterno, dominante, Que encara a tempestade com bravura; É astro que norteia a vela errante, Cujo valor se ignora, lá na altura. Amor não teme o tempo, muito embora Seu alfange não poupe a mocidade; Amor não se transforma de hora em hora, Antes se afirma para a eternidade. Se isso é falso, e que é falso alguém provou, Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.
Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida. A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada. Vinicius de Moraes
William Shakespeare
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Esperança nunca Morre
A Congresso Internacional do Medo Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. Carlos Drummond de Andrade
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umentam-se nossas as esperanças Nunca se esquecendo das lembranças Todos se voltam para Deus Onde depositam sua confiança Na luta incessante pela vida Iremos encontrar um amigo Orgulhoso pelos dias vividos Rompendo o sincretismo religioso Amando a todos de coração Iremos ser mais felizes Mudando de ser a razão Unindo-se com seus irmãos Nunca serás humilhado Diante do senhor lembrado Olhando o passado distante. Bons tempos têm passado Esperando por dias melhores Zelando tudo que conquistamos Estaremos vivendo uma vida Rindo quando somos felizes Rompendo a tristeza que existe Amarei cada dia de minha vida. Antonio Bezerra
Por que mentias?
Retrato
E
u não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?
Por que mentias leviana e bela? Se minha face pálida sentias Queimada pela febre, e minha vida Tu vias desmaiar, por que mentias? Acordei da ilusão, a sós morrendo Sinto na mocidade as agonias. Por tua causa desespero e morro… Leviana sem dó, por que mentias? Sabe Deus se te amei! Sabem as noites Essa dor que alentei, que tu nutrias! Sabe esse pobre coração que treme Que a esperança perdeu por que mentias! Vê minha palidez – a febre lenta Esse fogo das pálpebras sombrias… Pousa a mão no meu peito! Eu morro! Eu morro! Leviana sem dó, por que mentias? Álvares de Azevedo
Cecília Meireles
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No alto
O
poeta chegara ao alto da montanha, E quando ia a descer a vertente do
oeste, Viu uma cousa estranha, Uma figura má.
Então, volvendo o olhar ao subtil, ao celeste, Ao gracioso Ariel, que de baixo o acompanha, Num tom medroso e agreste Pergunta o que será. Como se perde no ar um som festivo e doce, Ou bem como se fosse Um pensamento vão, Ariel se desfez sem lhe dar mais resposta. Para descer a encosta O outro lhe deu a mão. Machado de Assis
Dor elegante Um homem com uma dor É muito mais elegante Caminha assim de lado Com se chegando atrasado Chegasse mais adiante Carrega o peso da dor Como se portasse medalhas Uma coroa, um milhão de dólares Ou coisa que os valha Ópios, édens, analgésicos Não me toquem nesse dor Ela é tudo o que me sobra Sofrer vai ser a minha última obra Paulo Leminski
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Para não Deixar de Amar-te Nunca
S
aberás que não te amo e que te amo pois que de dois modos é a vida, a palavra é uma asa do silêncio, o fogo tem a sua metade de frio. Amo-te para começar a amar-te, para recomeçar o infinito e para não deixar de amar-te nunca: por isso não te amo ainda.
Amo-te e não te amo como se tivesse nas minhas mãos a chave da felicidade e um incerto destino infeliz. O meu amor tem duas vidas para amar-te. Por isso te amo quando não te amo e por isso te amo quando te amo. Pablo Neruda
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Autores Vinícius de Moraes Machado de Assis Olavo Bilac Fernando Pessoa Raimundo Correia Padre Antônio Tomaz Patativa do Assaré Carlos Drummond de Andrade William Shakespeare Vinicius de Moraes Carlos Drummond de Andrade Antonio Bezerra Cecília Meireles Álvares de Azevedo Pablo Neruda
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Créditos Centro Universitário Estácio de Sá (FIC) Design Gráfico (Noite) Professor: Valdério M&M Editora - LTDA Preparação de texto e direção: Antonio Marcos Lima dos Santos Mat.: 201407131001 Design e edição: Caio Rennan Braga da Silva Mat.: 201408485583
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