REVISTA ANTONIO - SUA NOVA OPÇÃO DE LEITURA - COMO ESTÁ SUA SAÚDE?

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ANTONIO A SUA MAIS NOVA REVISTA Ano 1 – Terceira Edição Janeiro 2010

Compilações da Internet Indispensável em Todos os Lares

Combo de Revistas – Saúde 3

Abacate todo dia uma porção de benefícios... E sem risco de engordar. Desconfia das Vacinas? Quem deixa de tomar põe a família e o Mundo em Perigo. Aprenda a Lavar o Nariz contra a Rinite Celulite: - O que Funciona e o que é Furada. Um Manual para evitar Quedas após os 60. Proteja o seu Pet – Alergia, Depressão, Parasita... Os cuidados para livrar Cães, Gatos e Companhia das principais Doenças hoje. De olho na Coceira! Saiba o que ela pode Indicar. Tristes e Ansiosos: como zelar pelas Emoções dos Nossos Bichos. Boas notícias para os Animais que enfrentam o Câncer. COMPILAÇÕES DA INTERNET POR: - ANTONIO MARCOLINO DA SILVA.


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especial animal

É vital Saude.abril.com.br

R$ 16,00 nº 446

Proteja seu pet Alergia, depressão, obesidade, parasitas... Os cuidados decisivos para livrar cães, gatos e companhia das principais ameaças hoje de olho na coceira! saiba o que ela pode indicar

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tristes e ansiosos: como zelar pelas emoções dos nossos bichos

boas notícias para os animais que enfrentam o câncer

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AO LEITOR

ILUSTRAÇÃO DE CAPA: ESTÚDIO BARBATANA / FOTO: GLOBAL IP - GETTY IMAGES

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esde que SAÚDE se propôs a abordar e discutir os cuidados com o bem-estar da família toda — do bebê na barriga da mãe a quem entrou no terceiro dígito de aniversário —, os membros não humanos da casa não podiam ficar de fora. Ainda mais porque, hoje, os brasileiros já têm mais bichos de estimação do que filhos. A atenção e o respeito aos pets, independentemente de raça ou espécie, vêm numa crescente, dentro de um movimento de conscientização que abrange de feiras de adoção e campanhas contra o abandono a maior demanda por assistência veterinária. Quando bem acolhidos nos lares, os animais não só vivem mais como também vivem melhor. E é diante desse panorama que concebemos uma edição especial de SAÚDE exclusivamente destinada a eles. Com sugestões preciosas de gente que entende desse universo, como nosso parceiro Marco Ciampi, da pioneira e respeitada Arca Brasil, percorremos nestas páginas algumas das principais situações e condições que exigem o olhar dos tutores. Amparados em estudos e entrevistas com veterinários e outros profissionais, nossos jornalistas destrincham assuntos tão diversos como o crescimento da obesidade animal, o estado mental dos bichos e os males transmitidos por pulgas, carrapatos e demais parasitas. São questões que, em comum, se refletem diretamente no dia a dia dos nossos companheiros. Felizmente, vivenciamos uma evolução constante na medicina veterinária, cada vez mais apta a diagnosticar e tratar precocemente as ameaças. Mas devemos fazer nossa parte, provendo a cães, gatos e companhia a rotina mais gostosa e saudável possível. É assim que também demonstramos nosso carinho por eles. Porque o retorno, como atestam nossa lhasa Pinga lá em casa e milhões de outros integrantes das famílias brasileiras, é algo intangível, imensurável e maravilhoso: um contato e amor diários que nos deixam mais felizes e dispostos... e nos transformam em pessoas melhores.

Diogo Sponchiato Redator-Chefe

NOS BASTIDORES

Esta é uma edição pensada, escrita e desenhada por pessoas apaixonadas por animais. Sob a batuta da jornalista Sílvia Lisboa (que teve um weimaraner que roubou o coração da família, o Coiote), as reportagens são de Maurício Brum (que adotou há pouco a Nala, uma gatinha com leucemia), Juan Ortiz (dono da Kali, vira-lata bem arteira), Stéfani Fontanive (que venera suas gatas), Naira Hofmeister (ela adora os pets da família) e Pedro Nakamura (tutor do vira-lata Lelé). O projeto gráfico, o design das páginas e as ilustrações fofas como os bichos são do Estúdio Barbatana, das talentosas Ana Cossermelli (amiga da Stella, gata persa de personalidade forte), Amanda Talhari (que tem o peludo Tim Tam e a felina Berenice) e Yslena Fazolim (que vive com sua coelha, a Tifa). A essa turma e seus animais, nosso muito obrigado!


Fundada em 1950

VICTOR CIVITA (1907-1990)

ROBERTO CIVITA (1936-2013) Publisher:

Fabio Carvalho

Redator-Chefe: Diogo Sponchiato Editor: Theo Ruprecht Editora de Arte: Letícia Raposo Editora-Assistente: Thaís Manarini Repórter: André Biernath Designer: Eduardo Pignata Estagiárias: Maria Tereza Santos (texto) e Laura Louise Luduvig (arte) Atendimento ao leitor: Walkiria Giorgino Colaboraram nesta edição: Agência Fronteira (texto) e Estúdio Barbatana (arte)

PUBLICIDADE E PROJETOS ESPECIAIS Marcos Garcia Leal (Diretor de Publicidade), Daniela Serafim (Financeiro, Mobilidade, Tecnologia, Telecom, Saúde e Serviços), Renato Mascarenhas (Alimentos, Bebidas, Beleza, Educação, Higiene, Imobiliário, Decoração, Moda e Mídia & Entretenimento, Turismo e Varejo), Willian Hagopian (Regionais) DIRETORIA DE MERCADO Ermindo Ceccheto Neto BRANDED CONTENT, CRIAÇÃO, MARKETING MARCAS, EVENTOS E VÍDEO Andrea AbelleiraPRODUTOS E PLATAFORMAS Rodrigo Chinaglia DEDOC E ABRILPRESS Adriana Kazan PLANEJaMENTO,CONTROLE E OPERAÇÕES Filomena Martins

CTI (centralizadas) Leandro fonseca (gerente), Aldo Teixeira, André Torres, Carlos Pedretti, Eduardo Frazão, Julio Gomes, e Marisa Tomas

Redação e Correspondência: Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, São Paulo, SP Tel. (11) 3037-2302 Publicidade São Paulo e informações sobre representantes de publicidade no Brasil e no exterior: www.publiabril.com.br

SAÚDE É VITAL, edição 446, setembro de 2019 (ISSN 0104-1568), é uma publicação mensal da Editora Abril. Distribuída em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. SAÚDE É VITAL não admite publicidade redacional.

IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL - Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, São Paulo, SP

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RADAR ANIMAL

POR SÍLVIA LISBOA E STÉFANI FONTANIVE

PRESENTE

CÃES E GATOS LIDERAM A DEMANDA POR VETERINÁRIOS Maioria dos profissionais que zelam pela saúde dos animais é de mulheres que atuam em clínicas (com ou sem pet shop). Metade tem pós-graduação

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Brasil já ostenta a segunda maior população pet do mundo, com mais de 20 milhões de felinos e 50 milhões de cachorros, de acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Logo, cães e gatos são os principais pacientes de clínicas veterinárias espalhadas pelo país. A pesquisa Radar Vet, feita pelo Sindicato

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Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal, também mostra o perfil de quem atende a população quadrúpede mais querida da nação: a maioria dos veterinários é formada por mulheres (63%), com dez a 20 anos de profissão. Trata-se também de um mercado capacitado: metade tem pós-graduação. Os veterinários trabalham sobretudo em clínicas com pet shops (68%) e clínicas sem pet shops (26%), e outros 7% prestam serviços em hospitais.


UM LUGAR TEL-AVIV

UM DADO 52 MILHÕES DE CÃES

A capital de Israel é a cidade mais amigável para cães do mundo. Há mais de 70 praças destinadas a eles e até o Dia Internacional dos Cães, comemorado em 26 de agosto, com um festival de olimpíadas, brincadeiras e vendas de produtos.

É o número de cachorros que vivem no Brasil. Representa um cão para cada quatro humanos. O dado é de um estudo da Universidade de São Paulo e do IBGE. A estimativa é que 44% dos lares brasileiros tenham ao menos um cachorro de estimação.

PASSADO

FUTURO

PRIMEIRA EDIÇÃO COM A SEÇÃO BICHOS

PROBIÓTICOS PARA O BEM DELES E O NOSSO

Em junho de 2002, a revista SAÚDE estreava novo formato — este tradicional que você tem em mãos até hoje — e colocava em suas páginas pela primeira vez um conteúdo focado em saúde e bem-estar animal.

Eles são uma das apostas para reduzir o uso de antibióticos profiláticos em animais que são a base da alimentação humana, como frango, porco e gado, e, assim, combater o surgimento das superbactérias.

UMA FRASE

Tanto os animais como as pessoas têm os mesmos centros de emoções básicas no cérebro. Muitos donos de animais de estimação já devem saber disso, mas vejo que vários executivos, gerentes industriais e até alguns veterinários ainda não acreditam que os animais têm emoções. A primeira coisa que lhes digo é que alguns medicamentos psiquiátricos para humanos (...) também funcionam com os animais (...) As pessoas que têm sofrimento mental querem se sentir bem, parar de ter emoções negativas e passar a ter emoções positivas. Os animais têm o mesmo objetivo.

TEMPLE GRANDIN NO LIVRO O BEM-ESTAR DOS ANIMAIS (EDITORA ROCCO)

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NUTRIÇÃO

POR SÍLVIA LISBOA E STÉFANI FONTANIVE

UMA RAÇÃO PARA CADA NECESSIDADE Já existem versões específicas de acordo com raça, idade e presença de doenças — os nutrientes e até o formato variam para se ajustar

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igamos que as rações destinadas aos animais de estimação seguem a mesma tendência que pauta a nossa dieta: diversificação. Hoje no mercado abundam opções, com especificidades por raça, faixa etária ou mesmo doença. Embora essas versões sejam mais caras que as tradicionais, a saúde do bicho tende a agradecer. “Falamos de produtos feitos com matéria-prima de qualidade e tamanho e nutrientes adequados a cada animal”, diz a veterinária Gabriela Basso Alves, do Hospital Cão Bernardo, em São Bernardo do Campo (SP). Além de adicionar ou eliminar ingredientes específicos para certos grupos de animais, as rações especiais oferecem melhor

aproveitamento energético e nutricional, favorecendo a manutenção do peso, melhorando a pelagem e ajudando na prevenção de enfermidades. Para cães e gatos acima do peso, por exemplo, já existem formulações com teor calórico reduzido. Em caso de doença renal, há alimentos com menos fósforo, o que atenua a progressão da condição. Da mesma forma, há ração para bichos diabéticos ou cardíacos. Mas e as versões ditas premium? A classificação significa que há proteína extra na receita, o que costuma saciar mais o animal. Diante de tanta opção nas gôndolas, o conselho é consultar o veterinário, que vai avaliar as necessidades individuais do seu pet.

MUDA O BICHO, MUDA A COMIDA Confira alguns exemplos de rações especiais no mercado

PARA PROBLEMAS ARTICULARES Algumas rações contam com substâncias chamadas condroprotetores, que defendem raças como golden, labrador e pastor-alemão de males nas juntas.

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PARA DESORDENS DIGESTIVAS Animais com predisposição a vômitos e mal-estar após a alimentação — caso do border collie — precisam de rações com proteínas e fibras em nível adequado.

PARA ALERGIAS E PROBLEMAS DE PELE Raças como shih-tzu e lhasa apso podem exigir rações com maior teor de ômegas 3 e 6, vitaminas e minerais, além de versões livres de elementos capazes de gerar alergia.


Fica perdido na hora de escolher a ração? Então consulte o veterinário!

PARA PROBLEMAS NO PÂNCREAS Alimentos low fat são indicados para esses bichos, que não podem ingerir muita gordura para não sobrecarregar o órgão e penalizar a digestão.

PARA DIABETES A ração deve conter fibras e carboidratos de lenta absorção e teor reduzido de carboidratos simples. Dessa forma, fica mais fácil manter o açúcar no sangue sob controle.

PARA DOENÇAS CARDÍACAS Há formulações ricas em aminoácidos que ajudam nas contrações do coração e no equilíbrio dos eletrólitos, o que evita descompensações no quadro.

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NUTRIÇÃO

POR SÍLVIA LISBOA E STÉFANI FONTANIVE

BRINCANDO COM A COMIDA Conheça uma forma de alimentar os gatos que simula a caça: há sempre um desafio antes de comer

A

moda da vez entre os donos de gatos são os food puzzles, espécie de desafio que simula uma caça. Feitos com brinquedos ou materiais reciclados, eles mudam a maneira de oferecer alimentos a fim de estimular a cognição e os músculos dos bichanos. Segundo a veterinária Laila Massad Ribas, especialista em medicina felina de Osasco (SP), os puzzles auxiliam na perda de peso, evitam a ingestão compulsiva de objetos e são aliados dos animais mais velhinhos diante do envelhecimento cerebral. Existem duas formas de food

puzzles: móveis e parados. Nos móveis, os gatos precisam fazer com que o alimento saia de um recipiente. Nos parados, eles utilizam as patas para pegar a comida. A novidade agora é confeccionar os jogos em casa, aproveitando caixa de ovos, garrafa pet ou uma fôrma de gelo. A técnica de colocar obstáculos para chegar ao alimento não é exatamente algo inédito. A consultora de comportamento felino americana Ingrid Johnson lembra que ela surgiu há décadas nos zoológicos para manter ativos os animais em cativeiro.

COMO FAZER EM CASA Com materiais simples, você monta um food puzzle para o seu bichano

CONFECÇÃO 1 ASepare, esvazie e higienize uma fôrma de gelo, uma caixa de ovos ou uma garrafa pet.

2 ONoALIMENTO espaço desocupado pela água ou pelos ovos, coloque a ração. Se usar a garrafa pet, faça furos de um tamanho suficiente para os grãos saírem.

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3 OComDESAFIO a fôrma de gelo ou a embalagem de ovos, seu gatinho terá que usar as patas para obter o alimento.

4 ANoBRINCADEIRA caso da garrafa, ele precisa rolá-la para fazer a ração escapar pelos furos. Só não se esqueça de manter a tampa.


NA ONDA DA ALIMENTAÇÃO NATURAL Em vez de ração, há quem prefira um pote de comida fresca e sem aditivos. Será que tem problema?

S

ustentabilidade, ideologia, bem-estar animal... Não importa o motivo, o fato é que cresce o número de tutores que buscam dar alimentos não industrializados aos seus bichos. A tendência divide opiniões no meio veterinário. Afinal, a ração é desenvolvida para atender às necessidades nutricionais de uma maneira equilibrada. Mas esse argumento não convence todo mundo. Para quem trocar o produto pronto pelo caseiro, é fundamental disponibilizar todos os nutrientes importantes: proteína, carboidrato, gordura, vitaminas, minerais, além de fibras. Com um detalhe decisivo: as quantidades variam de acordo com a espécie, a raça, o peso e a idade do animal. Para a zootecnista Aline Conceição Almeida, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, desde que seja balanceado e montado por um profissional, o cardápio mais natural pode servir do ponto de vista da digestão e da absorção de nutrientes. E compensar até financeiramente: para animais de até 10 quilos, a professora estima que a refeição feita em casa pode sair mais barata do que uma ração superpremium do mercado.

ALIMENTOS BEM-VINDOS

ALIMENTOS PROIBIDOS

Legumes cozidos al dente são uma boa pedida para o menu

Eles aumentam o risco de alergia e problemas digestivos

• Brócolis • Couve • Chuchu • Cenoura • Abóbora • Berinjela • Milho • Carnes (bovina, suína e aves) • Vísceras

• Produtos com cafeína • Chocolate • Bolos • Coberturas com glacê • Biscoitos • Pães • Produtos industrializados que contenham adoçantes como sacarina, aspartame ou xilitol

ATENÇÃO: TODOS ESSES ALIMENTOS PODEM SER CONSUMIDOS, MAS EM QUANTIDADES ESPECÍFICAS, QUE DEPENDEM DO TAMANHO, DA RAÇA E DA IDADE DO ANIMAL

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medicina veterinária

por sílvia lisboa e StéfAni Fontanive

os bichos também precisam de pré-natal O acompanhamento da gravidez pode prever a data do parto, o número de filhotes e a necessidade de cesárea

A

s fêmeas dos animais domésticos também seriam gratas se tivessem a oportunidade de fazer um pré-natal, aquele conjunto de orientações, medidas e exames para garantir uma gestação e um parto adequados. De acordo com a veterinária Milena Guimarães, de São Bernardo do Campo (SP), embora não seja um hábito tão comum, a ida periódica das cadelas e gatas ao especialista ajuda a programar a maternidade, visualizar a data do parto e o tamanho da ninhada e identificar uma eventual

gravidez de risco. A avaliação da necessidade de cesariana, por exemplo, pode salvar a vida da fêmea e dos filhotes. O veterinário Luiz Ernande Kozick, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, explica que a cirurgia é necessária quando os fetos são muito grandes e não passam pelo canal do parto. O pré-natal inclui exames de sangue e ultrassom. Eles costumam ser repetidos a cada 15 dias — o tempo de gestação é de dois meses, em média. No final, uma radiografia constata número e tamanho da prole.

o que dedura uma gravidez de risco • Problemas para urinar ou mudança no aspecto da urina • Aumento da pressão arterial • Dificuldade respiratória • Parada ou entraves no trato intestinal

CANDIDATaS À CESÁREA Nos cães braquicefálicos — aqueles com o focinho achatado, olhos grandes, cabeça e ombros largos —, normalmente os filhotes não conseguem passar pela pelve da mãe. Para contornar a situação e evitar complicações, a solução costuma ser a cesárea.

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cuidado com as plantas Algumas espécies ornamentais podem ser um perigo para os animais de estimação

espécies tóxicas As inimigas mais comuns para cães e gatos

Comigo-ninguém-pode

Espada-de-são-jorge

Copo-de-leite

Costela-de-adão

Jiboia

Espirradeira

Alamanda

Azaleia

Deladeira

Chapéu-de-napoleão

Trombeteira

Lírio-de-dia

U

m passeio no parque, o pátio da casa nova ou uma flor escolhida para decorar o ambiente às vezes escondem uma ameaça para cães, gatos e companhia. Plantas como azaleias, espada-de-são-jorge, lírios, copos-de-leite e trombeteiras chegam a ser letais para pets que as abocanham por aí. “Todas as plantas ornamentais devem ser consideradas potencialmente tóxicas”, avisa Welden Panziera, especialista em toxicologia e patologia veterinária e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Convém redobrar a atenção com filhotes. Os bichos mais jovens são as principais vítimas de intoxicação porque são curiosos e exploradores. Pensando nos cães, um conselho para não ter problemas em casa é deixar as plantas tidas como nocivas longe do chão, em locais mais altos. Animais que passeiam pouco ao ar livre também exigem atenção: a curiosidade os leva a meter o focinho onde não deviam. Os felinos, mais desconfiados, sofrem menos. Mas, alerta Panziera, tome cuidado com o lírio. Os gatos têm atração por flores, o que pode tornar a linda espécie um inimigo fatal.

!

indícios de intoxicação Eles variam segundo o porte do animal e o tipo de planta

• Apatia • Fraqueza • Salivação excessiva • Vômito • Diarreia • Convulsões

• Falta de controle muscular • Tremores • Taquicardia • Sede excessiva • Aumento ou redução da necessidade de urinar

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medicina veterinária

por diogo sponchiato

regeneração animal Como um produto feito a partir de veneno de cobra e sangue de búfalo poderá revolucionar o tratamento de feridas e lesões mais complexas

I

magine juntar uma substância extraída do veneno da cascavel com um composto obtido do sangue de búfalos e ter como resultado um material capaz de curar ferimentos, servir de cola cirúrgica e ainda guiar células-tronco para o local do tratamento. Pode soar alquimia, mas é pura biotecnologia. É dessa combinação inusitada, e 100% brasileira, que nasceu o biopolímero de fibrina. O produto, testado com êxito em bichos e seres humanos, é fruto de pesquisas realizadas há quase três décadas pelo Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu. A tecnologia foi licenciada para a Kaivo, companhia sediada em Botucatu que irá fabricar e colocar o material no mercado — a versão para curativo veterinário deve estrear no início de 2020. Segundo Moacyr Bighetti, CEO da Kaivo, a fibrina atua dentro do corpo regenerando tecidos de uma forma natural. “O que fazemos, principalmente nos casos de feridas crônicas, é entregar aquilo que o organismo não está em condições de produzir, mas em maior quantidade e de uma forma mais potente”, resume Bighetti. Além disso, o biopolímero originado com o trabalho dos professores da Unesp Benedito Barraviera e Rui Seabra Ferreira Júnior pode aperfeiçoar o uso de células-tronco — em casos de restauração óssea, por exemplo. “Um dos desafios nesse campo é como fixar essas células no local da lesão por tempo suficiente para que possam agir. E nosso produto mostrou ótimos resultados nos estudos feitos com essa finalidade”, conta Bighetti.

aliança de sucessso Como matérias-primas vindas da cascavel e do búfalo ganham um papel terapêutico

que 1 veneno vira remédio A cascavel tem um veneno extremamente tóxico para nós e outros animais. Mas ele contém uma enzima que, extraída e purificada em laboratório, se torna bemvinda para fins medicinais — e sua obtenção não maltrata a cobra.

enzima

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cascavel búfalo

de cola a guardião de células-tronco Os principais usos do biopolímero de fibrina

2 sangue da pesada

fibrinogênio

dispositivo em Y

ferida

fibrina

A outra matéria-prima para a elaboração do biopolímero de fibrina vem dos búfalos. Os cientistas coletam o sangue desses mamíferos — sem nenhum prejuízo para eles — e extraem dali o fibrinogênio, crucial para a coagulação sanguínea.

ao vivo 3 interação As substâncias da cobra e do búfalo vêm em frascos distintos. Elas só podem ser misturadas na hora do uso em si. Por meio de um dispositivo em Y, e com a ajuda de um diluente, ambas são injetadas no local da ferida, gerando uma reação bioquímica.

a jato 4 reparação A mistura da enzima da cascavel com o fibrinogênio do búfalo dá origem à fibrina, peça-chave para que ocorra a coagulação do sangue e a cicatrização da área lesada. Dessa forma, o produto é útil para colar um corte cirúrgico, sanar machucados ou tratar feridas crônicas.

sem sangramento O produto ajuda a estancar hemorragias e, nas cirurgias, pode ser uma alternativa aos pontos na hora de fechar e colar as incisões feitas com o bisturi. adeus, feridas Além de auxiliar em casos de acidentes com cortes, um ponto forte do material é atuar na cicatrização e recuperação de feridas crônicas — aquelas difíceis de sarar. na terapia celular O biopolímero ainda serve como invólucro para células-tronco, podendo direcioná-las e fixá-las numa região do corpo danificada — um osso fraturado, por exemplo.

promessa para os humanos Boa parte das aplicações veterinárias do biopolímero de fibrina poderá prestar serviço também à saúde humana. Estudos e regulações estão em curso, mas a perspectiva é que o produto possa funcionar como cicatrizante e cola cirúrgica, no tratamento de úlceras crônicas e até como material de apoio a implantes dentários.

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atividade física

por sílvia lisboa e StéfAni Fontanive

Como montar o treino do meu cão Atividade física regular melhora, sim, a saúde do seu amigo de quatro patas. Mas é preciso respeitar alguns cuidados

L

evar o cachorro para passear, deixá-lo correr, instigá-lo a subir e descer alguns degraus, vencer obstáculos... Criar uma rotina de atividade física é uma forma divertida e eficaz de cuidar da saúde dele, prevenindo problemas como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Mas, para preparar esse treino, é indispensável considerar e avaliar idade, nível de energia, condições anatômicas e estado de saúde — de preferência com o apoio de um veterinário. “É importante conhecer os limites físicos do animal”, frisa o zootecnista

!

e expert em comportamento animal Alexandre Rossi, de São Paulo. Errar a mão nos exercícios pode contribuir para desordens articulares independentemente da raça e da faixa etária e, entre os filhotes, comprometer ossos em fase de desenvolvimento. Cães com focinho achatado, por exemplo, enfrentam maior dificuldade para respirar e controlar a temperatura quando submetidos a esforço demais. Rossi diz, porém, que tem uma modalidade segura para todos, a caminhada. “Só fique atento aos sinais de cansaço”, orienta.

pistas do cansaço Alguns sinais indicam que o fôlego está diminuindo

• Língua para fora • Língua e mucosas azuladas • Respiração ofegante • Ímpeto para se deitar • Busca de locais com sombra • Falta de interesse em continuar a atividade

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a cada um o seu As características da raça e do animal devem ser levadas em conta

de focinho curto Para buldogue, pug, shih-tzu, lhasa apso e boxer, esforços respiratórios intensos são desaconselhados. Evite corridas ou atividades aquáticas, que exigem resistência física.

de grande porte Golden retriever, pastor-alemão e rottweiler não devem fazer exercícios como corridas e saltos com muita frequência, pois têm tendência a problemas nas articulações.

de patas longas Cães mais magros e compridos, como os galgos e alguns vira-latas, se beneficiam de corridas e têm aptidão para fazer longas distâncias em curto espaço de tempo.

labradores Evite atividades intensas ou prolongadas. A raça tem uma condição hereditária grave, que provoca fraqueza e risco de morte, e ela pode ser despertada pelo excesso de exercício.

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alternativa

por sílvia lisboa e StéfAni Fontanive

agulhas para OS bichos Alívio da dor, melhora da qualidade de vida e reabilitação em casos de artrose são alguns dos efeitos apontados

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técnica milenar da acupuntura, acredite, pode ser aplicada em diferentes espécies animais, de gatos a cobras. É indicada para controle da dor e reabilitação em casos de artrose, câncer, sequelas neurológicas e no pós-operatório. Segundo Ayne Murata Hayashi, vice-diretora da Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária, as agulhadas disparam efeitos analgésicos e atuam no equilíbrio da imunidade. O tratamento segue o padrão do que é feito em humanos, com a aplicação das agulhas em locais mapeados pela medicina tradicional chinesa. Caso o pet não fique parado durante o procedimento, lasers podem ser utilizados para estimular esses mesmos pontos.

pontos estratégicos Veja alguns dos principais locais estimulados na acupuntura

E36 coluna e pescoço Chamado zusanli, o ponto está conectado a nervos e vasos. É acionado se há paralisia dos membros e alterações gastrointestinais.

IG4 patas Conhecido como hegu, o ponto tem ação analgésica e ainda é instigado no tratamento de doenças dermatológicas.

F3 lombar e rabo É o ponto tai chong, ligado ao fígado. Atribui-se a ele a melhora na função do órgão e na circulação do sangue.

problemas na mira Quadros tratados com as agulhas

• Artrose • Doenças dermatológicas • Dores crônicas • Sequelas neurológicas • Queda na imunidade • Reabilitação no câncer

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envelhecer

por sílvia lisboa e StéfAni Fontanive

Quando a idade chega Problemas de coluna também são mais frequentes nos bichos com o avançar dos anos

as grandes vítimas Cães e gatos de maior porte são os que sofrem mais

• Pastor-alemão • Dogue alemão • Mastim napolitano • São-bernardo • Maine coon • Ragdoll

P

elos esbranquiçados, falta de vontade de brincar e mudanças no apetite são sinais de que os animais se tornaram idosos. Com a idade e o desgaste natural das estruturas do organismo, os problemas de coluna também se tornam comuns. A artrose (ou osteoartrite) é a principal causa. Marcada por degeneração e inflamação nas articulações e vizinhanças, acomete gatos e cães — estes com maior frequência. De acordo com o veterinário Jaime Dias, da capital paulista, os sintomas mais corriqueiros são dores e inchaço nas juntas, o que compromete a locomoção. Além da idade, outras condições aumentam o risco do

problema, como ganho de peso e os hábitos de subir escadas e pular de locais altos, como camas e sofás. A prevenção inclui evitar ou minimizar esses fatores, cuidando da dieta, colocando rampas nas escadas e pisos antiderrapantes e, para os gatos em particular, dispondo prateleiras em forma de degraus, que facilitam os pulos. O uso de rações para pet sênior é especialmente bem-vindo. “Algumas fornecem nutrientes farmacêuticos, como sulfato de condroitina e glicosamina, que atuam como protetores articulares”, informa Enore Massoni, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria Veterinária.

dá para tratar? Não existe cura para a artrose que se instala na coluna, mas há tratamentos eficazes para debelar sintomas como as dores e deter o avanço da doença. Nesse pacote entram alguns remédios, fisioterapia, mudanças alimentares, atividade física e ajustes estruturais na residência.

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Em ritmo de engorda O excesso de peso, cada vez mais presente entre os pets, pode reduzir em dois anos a vida dos nossos companheiros. Só que muitos donos resistem à prevenção temendo perder o afeto ao restringir a comida. Como sair desse dilema? por NAIRA HOFMEISTER design ANA COSSERMELLI ilustrações AMANDA TALHARI

Um gato sem raça definida tem uma probabilidade duas vezes maior de se tornar obeso 2 2 • S A Ú D E É V I TA L • S E T E M B R O 2 0 1 9


P Estima-se que cerca de 40% dos cães domésticos no país já estejam acima do peso

are pra pensar: se você soubesse de algo que encurtaria a expectativa e a qualidade de vida do seu cão ou gato, não tentaria fazer o possível para evitar que esse risco virasse realidade? Pois não sucumbir aos apelos por petiscos e exageros na ração ou à preguiça do bicho de ficar horas e horas deitadão é uma forma de prevenir a morte precoce que vem na esteira da obesidade. O excesso de peso entre os animais de estimação avança e já preocupa na mesma proporção que a epidemia em humanos. Na virada dos anos 1990 para os 2000, o sobrepeso era uma realidade para 20% dos cães na capital paulista. Mas um estudo recente, publicado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), revelou uma cifra muito mais preocupante: 40% de 286 cães avaliados tinham problemas com a balança na cidade. A situação seria parecida em outras capitais do país, acreditam os especialistas. Os quilos a mais têm potencial para reduzir em cerca de 15% a expectativa de vida de um cão, o que representa menos dois anos e um mês para raças com média de vida de 14 anos, por exemplo. Além disso, traz impactos negativos para a saúde como um todo, alimentando processos inflamatórios que atingem coração, fígado e articulações, entre outros órgãos. “Hoje já se sabe que certos tumores também são mais prevalentes em animais com excesso de peso, assim como doenças de pele e respiratórias”, explica Álan Pöppl, vice-presidente da Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária. Da mesma forma que acontece com a gente, o sobrepeso em cães e gatos é uma combinação de ingestão calórica excessiva e pouca atividade física — embora fatores como castração e o avanço da idade também pesem na balança. “Existem casos relacionados a disfunções hormonais, como o hipotireoidismo”, observa, ainda, a veterinária Carolina Zaghi Cavalcante, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

A grande diferença, porém, é que cães e gatos domésticos não podem escolher sozinhos quanto vão comer e se mexer. Precisam contar com os tutores tanto na prevenção como no controle da obesidade. E é aí que mora o maior desafio para os veterinários que lidam com esse fenômeno. “Tem uma questão cultural muito forte envolvida, porque o dono expressa afeto para o animal por meio dos alimentos e isso influencia no ganho de peso”, analisa Pöppl. Com os séculos de convivência, os animais também herdaram nossos (maus) hábitos. À medida que os bichos foram deixando os pátios para se refestelarem nos sofás, eles passaram a compartilhar não só o ambiente, mas o apetite por alimentos calóricos e a preguiça para a atividade física. A ciência já sabe, inclusive, que regiões com maior prevalência de sedentarismo e dieta desequilibrada afetam tanto a balança dos humanos como a dos bichos. Na Espanha, pesquisadores constataram índices de disfunção metabólica parecidos entre humanos e cães obesos que habitam uma localidade considerada pró-obesidade. Já em São Paulo, a pesquisa da USP desvendou que mais de 75% dos bichos obesos viviam com pessoas que também têm o hábito de beliscar. O exagero nos snacks próprios para pets ou até comida mesmo está entre os principais patrocinadores do ganho de peso. Vai dizer que você nunca deu um pedaço de queijo ou carne para o animal que fica ao seu lado com cara de pidão? Só que especialmente os alimentos do cardápio humano escondem armadilhas: um muffin, por exemplo, excede em 32% o total de calorias que um cão necessita por dia. Para um gato, representa um excesso de 130% na energia que ele deve ingerir diariamente — é como se você devorasse 13 pedaços de pizza no intervalo entre o almoço e o jantar. E bolos, biscoitos e afins são mais oferecidos aos bichos do que se imagina. »

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O problema da falta de conscientização dos tutores é tamanho que raras vezes aparece alguém preocupado com o peso do seu animal de companhia nas clínicas veterinárias. “Normalmente, eles o trazem para a consulta não para tratar a obesidade, mas porque existem sintomas de doenças associadas, como problemas osteoarticulares ou diabetes”, revela a veterinária Naiana Perobelli, especialista em nutrição e fundadora da marca Bicho Balanceado, que desenvolve dietas sob medida para animais domésticos e tem sede em Porto Alegre e Barueri, na Grande São Paulo. É preciso estar atento aos fatores que predispõem a engorda, sobretudo com o envelhecimento do pet, já que o metabolismo muda e a tendência a acumular gordura se acentua. Nesse contexto, também exigem cuidados os animais castrados, principalmente as cadelas e os gatos de modo geral. Em ambos os casos, rações especiais podem ser requisitadas para driblar a tendência. É diante desse cenário de crescimento da obesidade que se tornaram mais frequentes e necessários os programas veterinários de redução do peso. Fazem parte deles as rações especiais, disponíveis no mercado, cujas fórmulas são de baixa caloria e incluem maior quantidade de proteínas e fibras. Mas não bastaria usar a ração normal, só que moderando na porção? “Não dá para pegar o alimento comum e reduzir quantidades porque é preciso garantir o aporte correto de nutrientes”, esclarece Ana Cristina Pinheiro, gerente de marketing da Royal Canin Brasil. A marca lançou recentemente a linha Satiety, cuja densidade mais aerada promove a sensação de barriga cheia nos animais. Saciar a fome sem ultrapassar a quantia estabelecida do alimento nem sempre é simples. Novamente, a postura dos donos influencia bastante, especialmente se o animal é daqueles que abocanham vorazmente

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Um peso sobre a saúde O que a obesidade pode fazer com órgãos e outros cantos do organismo

FOCINHO Os animais obesos têm mais dificuldade para respirar, especialmente se possuem focinho achatado. Há risco, inclusive, de colapso da traqueia.

BOCA A doença periodontal, marcada por mau hálito, é mais frequente em animais sem controle da dieta. TIREOIDE Numa via de mão dupla, o excesso de peso pode ser causado por disfunções hormonais ou agravá-las. Alguns bichos têm hipotireoidismo. ARTICULAÇÕES Os quilos extras sobrecarregam as juntas e levam à artrose.


CORAÇÃO Problemas cardiovasculares são bem mais frequentes em animais com sobrepeso.

FÍGADO O mais comum é o aparecimento de uma inflamação que compromete esse órgão.

SISTEMA URINÁRIO Há maior risco de problemas ali, inclusive no controle da urina.

ESTÔMAGO Diversos tumores estão relacionados ao excesso de gordura no organismo animal.

um prato de comida ou implora por alimento, passando a impressão de que vive faminto. “É comum que tutores abandonem o tratamento antes dos seis meses porque acham que o animal vai deixar de gostar deles se reduzirem a oferta de comida”, aponta a professora Carolina, que já experimentou convidar psicólogos para atender pessoas que não conseguem manter seus companheiros nas dietas prescritas. O uso de comedouros que tornam mais lenta a obtenção da comida também pode ser uma boa saída para aumentar o tempo de ingestão diante da mesma porção. Há vários tipos no mercado, com saliências de alturas diferentes onde se escondem os grãos de ração, que devem então ser caçados pelo cachorro. Gatos podem achar divertido ter que correr atrás de um brinquedinho onde esteja alojado o alimento. “Assim eles acabam gastando mais energia também”, assinala Pöppl. A alimentação natural também pode ser uma opção para reduzir a ansiedade nos tutores. Por ser um alimento fresco e não desidratado como a ração, acaba tendo maior volume mesmo em dietas de restrição alimentar. Mas atenção: nada de montar o prato de seu bicho com dicas da internet ou do livro de receitas da vovó. A prescrição por veterinário ou zootecnista é importante porque o menu natural exige complementação nutricional, cujas fórmulas podem ser manipuladas em farmácias ou compradas prontas. A decisão sobre a quantidade de comida envolve os objetivos da dieta: quantos quilos a perder e o prazo para atingir a meta. Segundo os experts, a porcentagem ideal de redução de peso recomendada varia de 2 a 5% por mês, mas isso depende de raça, idade e condição do animal. “O emagrecimento muito rápido pode causar problemas hepáticos, por exemplo. Especialmente para os gatos, a perda de peso tem que ser gradativa”, avisa Naiana. »

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Manual antiengorda O que fazer — e não fazer — para deixar seu pet em forma

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Acompanhe o desenvolvimento físico do seu animal com um veterinário desde filhote.

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Animais castrados podem exigir dieta especial, pois o metabolismo muda e há tendência ao sobrepeso.

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Nos casos mais complexos, pese a comida antes de servir para evitar excessos.

Recrute os cães para caminhadas regulares; para os gatos, espalhe brinquedos pela casa.

Mudar o hábito de fornecer alimento de forma constante é outro desafio quando o assunto é evitar ou reverter o ganho de peso. Além de contar (se possível) com uma balança para dosar a quantidade, é recomendável estipular porções e horas fixas para oferecer a comida e pôr fim ao hábito dos petiscos. “Em vez de fornecer um pãozinho ou pedacinho de queijo ou de bolo, sugiro primeiro substituir por algo como um snack zero gordura para pet. Depois, o ideal é retirar”, orienta a professora da PUC-PR.

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Forneça uma alimentação de qualidade, balanceada e supervisionada por veterinário ou zootecnista.

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A proprietária da Bicho Balanceado, Naiana Perobelli, acrescenta que é possível oferecer petiscos vegetais de baixa caloria, como fatias de abobrinha ou chuchu. Outra possibilidade, sugerida pela gerente de marketing da Royal Canin, é utilizar a versão úmida das rações desenhadas para dar mais saciedade como substituto do petisco. “O animal que sempre comeu ração seca vai entender o novo alimento como algo adicional, e a dose poderá ser calculada dentro da necessidade calórica de cada um”, justifica Ana Cristina.


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Estabeleça horários e porções regulares de alimento para cada animal.

Substitua petiscos por atenção, carinho, escovação dos pelos... Desvie a atenção da comida.

Se for impossível não oferecer um petisco, opte por pedacinhos de legumes ou snacks zero gordura.

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Restrinja petiscos e alimentação fora de hora.

Além da dieta, estimular o bicho a se mexer é decisivo. Para cães, incrementar as caminhadas diárias ajuda muito. E, pensando nos cachorros pequenos, por vezes até brincadeiras dentro de casa já servem para torrar as calorias. Enquanto isso, os gatos merecem uma repaginada no ambiente, como a inclusão de brinquedos para escalar e se movimentar dentro de casa. Mesmo animais idosos devem ser estimulados, recorrendo, por exemplo, à hidroterapia. Se o pet estiver muito acima do peso, o veterinário poderá

Animais idosos ou com mobilidade reduzida se beneficiam de fisioterapia e hidroterapia.

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orientar como incluir a atividade física na rotina sem impor riscos. Outro pilar essencial nessa história é o carinho. De verdade. “Quando o animal pede atenção, imediatamente achamos que está com fome ou deseja comer. Mas não é isso necessariamente. Se já foi fornecida a quantidade de comida necessária, não é fome. O que ele quer é brincar, interagir, receber um afago”, diz Carolina. Eis um convite para surpreender seu amigo com algo que pode ser mais gostoso que um petisco. −

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Parasitas por todos os lados Nunca foi tão importante proteger os animais de estimação de pulgas, ácaros, carrapatos, mosquitos e vermes — e das doenças que eles espalham por JUAN ORTIZ, MAURÍCIO BRUM, SÍLVIA LISBOA e STÉFANI FONTANIVE • design e ilustrações ANA COSSERMELLI

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pesar de todos os avanços nos cuidados com os pets e na medicina veterinária, uma corja de inimigos — nem sempre vistos a olho nu — continua azucrinando a saúde dos bichos e levando muitos deles aos consultórios Brasil afora. Falamos de uma quadrilha de parasitas que abrange de pulgas e carrapatos a vermes e outros seres microscópicos. Basta um passeio pelo parque para voltar com um desses ingratos hóspedes. Pulgas por trás de coceiras e lesões na pele... Verminoses que comprometem o aproveitamento de nutrientes e a qualidade de vida. E, se não bastasse, tem até os vilões alados, os mosquitos, que, principalmente no verão, picam e espalham doenças. Uma das mais ameaçadoras é a leishmaniose, que, até pouco tempo atrás,

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diante da inexistência de um tratamento e da crença de que era transmitida dos cães para os humanos, fez com que milhares de cachorros fossem sacrificados. Outros males disseminados por parasitas merecem vigilância. Caso da esporotricose, causada por um fungo que vive em cascas de madeira e epidêmica no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro e nas regiões Norte e Nordeste. As cidades litorâneas e úmidas concentram também mosquitos que, além da leishmaniose, podem transmitir a dirofilariose, outra moléstia de difícil controle. O quadro geral é realmente sério, mas não há motivo para pânico. A boa notícia é que dá para prevenir e até tratar as encrencas alastradas pelos parasitas. E é isso que você vai aprender a seguir.


Um fungo da pesada Atenção, donos de felinos que vivem em áreas tropicais, como o Rio de Janeiro: os gatos são as principais vítimas de um fungo fatal. O Sporothrix brasiliensis, principal causador da esporotricose no país e encontrado em abundância em troncos de árvores e no solo, costuma atacar especialmente os gatos que gostam de dar passeios ao ar livre. E, ao serem infectados durante escapadas de casa, eles mesmos se tornam vetores dessa zoonose para seus tutores. O principal sintoma são feridas na pele do bicho, principalmente no focinho, que podem apresentar uma secreção purulenta, além de queda de pelos, falta de apetite e vômitos. “É uma micose profunda, que atinge o tecido abaixo da pele e pode migrar para vasos linfáticos e outros órgãos”, detalha a veterinária Juliana Trigo, analista técnica da Orofino, fabricante de medicamentos veterinários. A proliferação da esporotricose por aqui tornou o Brasil líder em números de casos no mundo. A constatação é do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, ligado à Fiocruz, que diagnosticou cerca de 5 mil felinos com a doença nos últimos 20 anos. “É o maior registro de casos clínicos em animais

publicado em periódicos científicos até o momento”, conta o veterinário Sandro Pereira, chefe do laboratório de pesquisa clínica em dermatozoonoses em animais domésticos da instituição. A enfermidade não possui notificação obrigatória em todos os estados do Brasil — por isso não se sabe a prevalência nacional. No Rio, porém, os estudos apontam que a micose se tornou um problema de saúde pública, devido ao aumento dos casos em humanos — de acordo com uma pesquisa recente, 95% dos episódios da zoonose ocorreram nos 11 municípios da região metropolitana do estado. “No Nordeste também tem crescido o número de diagnósticos”, alerta Pereira. A esporotricose afeta diversos animais, incluindo cães, cavalos, porcos e até espécies silvestres. Não se sabe por que os gatos são os mais atingidos — estima-se uma proporção de um cão para 25 felinos. Provavelmente, explica Pereira, seu sistema imunológico seja ineficiente diante do comportamento virulento do fungo. Para protegê-los, os veterinários recomendam a castração precoce, uma vez que a medida reduz o ímpeto do animal de sair dando voltas por aí.

O TRATAMENTO A esporotricose tem cura quando diagnosticada precocemente. O tratamento com antifúngicos, como o itraconazol (acompanhado ou não por iodeto de potássio) é longo: pode se estender por quatro a seis meses. No período, o tutor deve tomar cuidado para não ser contaminado ao sofrer arranhões e realizar a higienização da cama e dos utensílios usados pelo pet. Nos casos de evolução da moléstia em que não há mais chances de cura, recomenda-se a eutanásia e a cremação dos corpos.

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Pulgas, ácaros e carrapatos, os arqui-inimigos da pele Sua presença não costuma ser difícil de notar. Por se tratar de parasitas externos e visíveis, pulgas e carrapatos tendem a ser percebidos mais cedo pelos tutores. E mesmo os ácaros, embora microscópicos, produzem reações claras na pele. O fato de serem mais identificáveis, no entanto, não os torna menos problemáticos. Além de causarem uma série de chateações por si mesmos, pulgas, ácaros e carrapatos também podem ser vetores de outros parasitas. As pulgas tomam conta do corpo do animal tanto a partir do ambiente quanto pelo contato com outros bichos infestados. Praga comum no dia a dia e nas clínicas veterinárias, provocam coceira, irritação e manifestações alérgicas na pele. Em caso de infestações severas, chegam até a provocar anemia, pois o inseto se alimenta do sangue dos hospedeiros. A pulga ainda pode carregar um verme perigoso, o Dipylidium caninum, causador da dipilidiose, uma doença intestinal. Os carrapatos também se esmeram em encontrar abrigo e comida na parte externa do organismo. Estão distribuídos em mais de 870 espécies e são temidos pelos prejuízos que causam à pecuária. O tipo mais comum em animais de companhia brasileiros é o carrapato marrom, o Rhipicephalus sanguineus. Embora seja mais frequente em cães, ele também persegue gatos. A exemplo das pulgas, carrapatos podem levar à anemia, não só por se alimentar de sangue mas por

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transmitirem um protozoário que ataca glóbulos vermelhos e brancos, causando uma doença conhecida como babesiose. “É importante lembrar que só 5% das larvas estão no corpo do hospedeiro. O restante está no ambiente ao redor”, observa o veterinário Gervásio Bechara, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. “Muita gente, ao tratar seu animal, acaba fazendo uma prevenção errada: esquece os 95% que estão na casinha, na grama, no cimentado”, alerta. Por isso, precisamos estar atentos aos ninhos do bichinho, que pode se abrigar nas paredes e em locais mais altos, próximos ao teto. Ácaros, assim como os carrapatos, são aracnídeos, só que invisíveis a olho nu. Sua presença está relacionada aos diferentes tipos de sarna, como a demodécica, a otodécica e a sarcóptica, as mais comuns nos pets. A principal vilã é a sarna sarcóptica, que, além de altamente contagiosa, pode ser transmitida ao tutor. Diante dela, a pele fica vermelha e com coceira intensa, levando à abertura de feridas e à queda de pelos. A sarna demodécica não costuma causar coceira nem é transmissível a humanos. Já a otodécica causa forte coceira nas orelhas e vem acompanhada por uma secreção escura — uma forma de identificá-la em seu cão ou gato é se eles estão chacoalhando a cabeça com frequência, uma tentativa de aliviar o incômodo. A despeito do tipo, convém visitar o veterinário.

Existem mais de

870

espécies de carrapato

Eles causam

3,4 bilhões

de reais de prejuízo por ano à indústria da pecuária


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são as mais frequentes no Brasil: elas atacam cães (carrapato marrom), cavalos (carrapato-estrela) e o gado (carrapato-do-boi) Apenas

5%

das larvas ficam no corpo do animal, o restante se espalha pelo ambiente

PROTEÇÃO TRIPLA Os últimos produtos lançados pela indústria de saúde animal prometem proteção conjunta contra ácaros, carrapatos e pulgas. “São sprays e coleiras à base de acaricidas químicos”, explica o veterinário Gervásio Bechara. Elas liberam as substâncias no pelo do animal conforme eles se movimentam. Mas, segundo o professor, mesmo esses métodos não são infalíveis. “Parasitas, especialmente os carrapatos, desenvolvem resistência aos produtos”, diz. Assim, também vale a pena prezar a higiene nos locais onde o pet passa a maior parte do tempo, evitando a proliferação desses hóspedes indesejados.

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Um verme para (não) chamar de seu Geralmente, a cena é a mesma: o cão, ou o gato, sai para passear e, de repente, encontra fezes velhas alheias. Como quem não quer nada, se aproxima, cheira, sente o gosto e segue explorando o ambiente. Ou talvez nem chegue perto do cocô, mas a grama onde pisa já foi contaminada pelo excremento de outros animais. Nos dias seguintes, lá vêm diarreia, dores e outros sintomas digestivos. Assim funciona o modus operandi das verminoses, um grupo de doenças causadas por parasitas de diversas origens, tamanhos e formatos. O principal meliante da lista é o Dipylidium, que começa a jornada parasitária usando a pulga como hospedeira intermediária. É por meio da ingestão acidental da pulga que cães e gatos liberam a entrada desse platelminto no seu trato gastrointestinal. Dentro do corpo, o verme achatado pode chegar a 50 cm de comprimento. Os sintomas são diarreia e coceira na região anal, que fazem o animal arrastar o ânus pelo chão. Para o tratamento da parasitose, o indicado é administrar vermífugos e antipulgas em conjunto. “Dessa forma, evitamos que o ciclo do parasita se complete”, explica a veterinária Cristine Fischer, professora da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas, no Rio Grande do Sul. Os cuidadores também devem dedetizar os locais de descanso dos pets para eliminar as pulgas em estágios menos avançados. Para toda fase da vida

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dos bichos de estimação, parece que a natureza tem uma verminose feita sob medida. Os nematódeos do gênero Toxocara, por exemplo, são frequentes em filhotes caninos e felinos de até 1 ano e encabeçam a segunda posição do ranking. Não raro, os bichos acabam infectados por meio da placenta e do leite materno. Cada verme cilíndrico desses pode chegar a 18 cm de comprimento e permanecer no intestino delgado por vários meses. A toxocaríase provoca atrasos de crescimento, diarreia, barriga inchada e até morte por obstrução ou perfuração intestinal. O Ancylostoma é outro nematódeo bem recorrente, mas em animais adultos. Esse verme se alimenta de sangue no intestino dos cães e, por isso, provoca diarreia e anemia. As fezes expostas de bichos acometidos podem desenvolver larvas em menos de 48 horas, se houver temperatura morna e alta umidade do ar. A doença pode ser transmitida apenas pelo contato das patas do animal com o local contaminado. A ancilostomose — ou amarelão — também afeta os humanos. O verme mais comum em bichos idosos é o Trichuris, que se instala no intestino grosso. Uma forma de identificar seu rastro característico são os pelos feios e quebradiços das vítimas. Os ovos desses nematódeos podem sobreviver em meio à sujeira externa por mais de quatro anos. Manter quintais limpos ajuda a evitar sua proliferação.


COMO SE DEFENDER? A prevenção é simples, mas pede disciplina: recolha a sujeira deixada pelo seu bicho sempre. Seja no quintal de casa, seja na rua, o cocô exposto é a principal forma de espalhar vermes. Fazer sua parte evita, também, que outros animais sejam atacados. Caso haja alguma suspeita, o veterinário deve fazer uma avaliação e pedir um exame de fezes.

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Mosquitos e perigos no ar

90%

dos casos da leishmaniose na América Latina ocorrem no Brasil, segundo o Ministério da Saúde

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É quando o tempo esquenta que esses insetos voadores fazem a festa. Assim como nos perturbam, trazem problemas para os animais. O mosquito Aedes aegypti, que espalha a dengue entre os humanos, transmite aos cães uma doença grave que afeta o coração, a dirofilariose. “Se não for tratada, há risco de morte por insuficiência cardiorrespiratória”, alerta o veterinário Ricardo Cabral, da Virbac, farmacêutica especializada em saúde animal. Os mosquitos anófele e cúlex também podem carregar as larvas da lombriga Dirofilaria immitis, conhecida como “verme do coração”. Após a picada, as larvas se deslocam pelo sangue até o músculo cardíaco, e o cão começa a ficar ofegante — daí ele perde o pique e fica apático. À medida que a moléstia avança, despontam tosse, perda de peso e convulsões. Comum em regiões litorâneas e úmidas do país, a dirofilariose precisa ser tratada na fase inicial para evitar o colapso do coração. Os animais que vivem em regiões mais próximas do mar e em algumas áreas rurais também estão mais suscetíveis a outro inimigo alado, o mosquito-palha. Esse inseto pequeno e amarelado — a bem da verdade, não é um mosquito, mas um flebotomíneo — é o vetor do protozoário causador da leishmaniose. De acordo com a Fiocruz, o Brasil é o país que mais concentra espécies de mosquitos-palha no mundo. Endêmica no país, a doença vem migrando para as cidades com

o avanço da urbanização e do desmatamento. “Após o animal ser picado, o protozoário se aloja no interior das células, especialmente nas responsáveis pelo sistema imunológico”, explica Cabral. Felizmente, há uma vacina, aplicada a cada ano e destinada apenas a animais não infectados: havendo contágio, ela impede que a doença se desenvolva. Um dos grandes desafios hoje é detectar o problema cedo. Os primeiros sintomas são lesões na pele que se confundem com dermatites. Depois vêm vômitos, diarreias e sangramento nas fezes, também comuns a outras infecções. Na dúvida, é preciso procurar o veterinário e lançar mão de exames que flagram o dito-cujo. Quanto antes começar o tratamento, melhor. Há apenas um remédio contra a doença disponível no Brasil. Além de controlar as manifestações do problema, a medicação evita a corrente de transmissão. A barreira, por ora, é o preço: o menor frasco, de 30 mililitros, custa em média 500 reais. Até 2016, por causa da carência de um tratamento, os animais infectados eram todos sacrificados. O abate, alegava-se, era uma forma de reduzir a disseminação da leishmaniose nos seres humanos — os cães, porém, não passam a doença aos tutores, são apenas hospedeiros do protozoário. Graças à ciência e à conscientização, as vítimas do mosquito-palha ganharam uma nova chance de viver — e ao lado da família.


Até 2016, todos os cães diagnosticados com leishmaniose eram sacrificados. Hoje, graças à conscientização e a um medicamento, cachorros podem escapar desse destino

A SALVO DOS MOSQUITOS • Use repelentes em coleiras ou sprays vendidos em pet shops. • Telas nas janelas da casa evitam a entrada dos intrusos. • Fique alerta durante passeios em regiões úmidas e quentes. • Mantenha quintal, jardins e arredores limpos o ano todo.

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Uma mente em apuros Ansiedade, automutilação, agressividade... Entenda os principais problemas de comportamento animal — e saiba como lidar com as emoções deles por JUAN ORTIZ • design e ilustrações ANA COSSERMELLI fotos GLOBALIP e KERRICK – GETTYIMAGES

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hegava perto do meio-dia de uma sexta-feira e o antropólogo Jean Segata estava prestes a encerrar o expediente na clínica veterinária onde fazia seu trabalho de campo para o doutorado. Localizado no município catarinense de Rio do Sul, no Vale do Itajaí, o estabelecimento também funcionava como pet shop. O objetivo do estudo era investigar o uso de tecnologias voltadas à saúde e à estética dos animais. Porém, naquele verão de 2009, a tese de Segata tomou um novo rumo. Uma mulher entrou na sala de espera com uma poodle de 9 anos bastante fraca e desidratada. Pink (nome fictício atribuído na pesquisa) não comia nem bebia água direito, gemia a noite toda, se coçava constantemente e andava meio acanhada. “Outro doutor me disse que ela está com depressão, mas eu não acredito nisso. Minha amiga na contabilidade é depressiva e não se comporta assim”, antecipou a contadora e tutora. Após avaliar o estado de saúde da cadela, o veterinário responsável recomendou que ela ficasse o fim de semana internada na clínica. Segata acompanhou

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PAPAGAIOS EM PRANTOS Pássaros também podem apresentar sinais de ansiedade resultante da separação dos donos. É o que ocorre com espécies de papagaios e as calopsitas, por exemplo. Como são animais altamente sociáveis, a saída de outra ave ou do tutor pode desencadear uma sucessão de “gritos”. As vocalizações começam como simples chamados e, se não forem atendidas, progridem para barulhos cada vez mais nervosos. Para reverter isso, o tutor pode tentar acostumar o pássaro à sua ausência, começando com saídas breves e, gradativamente, seguindo com outras mais longas.


atentamente a bateria de exames e a aplicação de soro. Feitos os testes de laboratório e descartadas possíveis doenças, o veterinário confirmou as suspeitas iniciais: Pink estava mesmo deprimida. Mais tarde, o antropólogo descobriria que esse não era exatamente o diagnóstico. Diferentemente da complexa depressão humana, o comportamento depressivo dos animais não configura um transtorno mental em si. Ele é um nome genérico para uma estratégia de proteção, uma reação do corpo a algo que não vai bem. “Quando o animal fica doente, a depressão é necessária para deixá-lo mais quieto, menos vulnerável. Também é acionada para problemas que, cognitivamente, ele não consegue resolver”, explica o veterinário especialista em comportamento animal Mauro Lantzman, que atua em São Paulo. Na maior parte do dia, Pink ficava sozinha no apartamento e saía pouco para passeios ao ar livre. Os maus hábitos da cuidadora estavam, assim, se refletindo na cadela. Segala percebeu que os laços entre pessoas e bichos domésticos eram muito mais profundos do que julgava, pelo menos do ponto de vista antropológico. “Nós e os Outros Humanos, os Animais de Estimação” foi o título de sua tese de doutorado, defendida em 2012. Ainda que a depressão animal seja diferente do transtorno que acomete a nossa espécie, os bichos também podem sofrer de um distúrbio com sintomas parecidos com os do nosso quadro depressivo. É a síndrome de ansiedade da separação em animais (Sasa). Ela afeta 17% dos cães, segundo um estudo da Universidade de Helsinque, na Finlândia, que analisou 3 824 casos de 192 raças diferentes. Só que, entre os cachorros de apartamento, a prevalência fica acima de 55%, acusa uma pesquisa brasileira, da Universidade Federal Fluminense. A síndrome também maltrata gatos, pássaros, ovelhas, cabras, cavalos e porcos — uma vasta fauna. E era o que a Pink tinha quando chegou ao consultório naquela sexta. »

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A Sasa consiste em um conjunto de reações que os bichos exibem ao ficar sozinhos ou separados de alguém querido. Seus sinais mais comuns são as vocalizações excessivas, a atitude destrutiva e o comportamento depressivo — ou seja, a depressão em si é mais um sintoma da síndrome. A confusão também vem do fato de que os medicamentos prescritos tanto para a Sasa quanto para a depressão humana são os mesmos: os antidepressivos. Embora incorreto clinicamente, o uso do termo “depressão” pelos veterinários tinha um fim prático: servia para explicar às pessoas a causa da apatia de seus animais. “A depressão canina poderia ser considerada, assim, uma espécie de ficção útil”, concluiu Segata em sua tese. A Sasa é o transtorno que mais afeta a saúde mental dos bichos de estimação. Mas não é o único. Muitos pets passam, a rigor, a vida fora de seu habitat. Separados do bando, vivem trancados em casas, estábulos, gaiolas ou aquários. Coibimos seu comportamento instintivo em nome das nossas regras de convivência. Como reação à sua natureza reprimida, podem desenvolver um leque de comportamentos estranhos ou, digamos, desagradáveis — pelo menos aos nossos olhos. “Gatos, por exemplo, gostam de explorar o ambiente. Se vivem presos, ficam irritados, entediados. Com certeza isso afeta o estado emocional deles”, diz o veterinário Renato Pulz, professor da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas, no Rio Grande do Sul. O isolamento — pense aqui em um bicho que fica o dia inteiro sozinho em um apê — não só deixa nossos companheiros ansiosos como pode torná-los mais violentos. É por meio da agressividade que animais inseguros tentam controlar seu ambiente. Essa, aliás, é a principal causa das queixas de agressividade por parte dos cuidadores. Outros motivos possíveis são a defesa territorial, histórico de maus-tratos ou até disfunções hormonais. Há, claro, predisposições genéticas que devem ser

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CAVALOS MASOQUISTAS Cavalos também praticam automutilação. Cerca de 70% dos casos ocorrem com os garanhões, os equinos não castrados que são separados do resto da manada, segundo a Enciclopédia de Comportamento Animal (Elsevier). Geralmente, o animal olha para o lado, belisca partes do peito ou da lateral do abdômen, gira 180º graus e dá um chute com uma das patas traseiras. Os cientistas ainda não sabem se o comportamento tem origem genética ou se é apenas resultado da inquietação típica da situação de isolamento. A orientação dos veterinários é não deixar o cavalo sozinho. Caso não seja possível mantê-lo junto com outros equinos, cães ou cabras podem auxiliar na socialização.


levadas em conta. Por exemplo: cachorros das raças pit bull e rotweiller foram selecionados artificialmente para atuar como cães de guarda e, via de regra, têm traços mais territorialistas. O oposto vale para labradores ou golden retrievers, que, geralmente, são animais de companhia. Mas nada impede um pit bull de ser dócil; e um golden, agressivo. Vai depender da hostilidade ou da afabilidade do ambiente de criação. Bichos de estimação dificilmente são violentos a troco de nada, ao contrário do que ocorre com humanos. “Em animais, é muito raro uma agressividade pura”, afirma Ceres Faraco, diretora científica do Instituto de Saúde e Psicologia Animal, o Inspa, em Porto Alegre. Entre os hábitos bizarros, um dos mais comuns é a chamada coprofagia — em bom português, comer cocô. Embora soe nojento, nem sempre isso é sinônimo de problema. Filhotes ingerem fezes para equilibrar a microbiota intestinal, assim como as mães de algumas espécies fazem a mesma coisa para manter o ninho limpo. Cerca de 50% dos cães tentam consumir seus resíduos em algum momento da vida, e 28% são efetivamente coprofágicos, segundo uma pesquisa da Universidade do Estado do Colorado, nos Estados Unidos. Além de comerem a própria caca, cachorros são atraídos pelas fezes de gato, ricas em proteínas, e as de cavalo, que contêm matéria vegetal com celulose quebrada. O motivo da comilança fedorenta costuma ser a má digestão de nutrientes ou a falta deles na alimentação regular. Como, em tese, os pets são bem alimentados no contexto doméstico, a coprofagia tantas vezes é sinal de compulsividade e falta de atenção. Ainda no catálogo de comportamentos estranhos, entram as feridas por lambedura. Basicamente, alguns bichos, como cães e gatos, compensam sua inquietação passando a língua incessantemente em partes do corpo, como as patas. A ponto de, infelizmente, machucá-las.

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PARA EVITAR O SOFRIMENTO MENTAL Conselhos para que seu pet não pene com ansiedade e depresssão

NÃO O SEPARE DA MÃE ANTES DA HORA Um animal retirado do convívio com a genitora muito cedo pode desenvolver uma série de distúrbios comportamentais, como medo e compulsividade. No caso dos cães, o recomendado é esperar, no mínimo, 55 a 60 dias para levá-lo para casa. “Depois disso, ele transfere o vínculo que tinha com a mãe para o tutor”, esclarece Mauro Lantzman. Outra dica para acostumar o bichinho ao novo ambiente é colocar um relógio analógico na cama dele. O tic-tac simula a batida do coração da mãe e dos irmãos.

OFEREÇA PASSEIOS E BRINQUEDOS Seu bicho tem que gastar energia. Cães, por exemplo, costumam pedir de duas a três caminhadas por dia, além de brincadeiras com cordas, bolas pequenas e objetos em forma de osso. No caso dos gatos, tem raças naturalmente mais quietas, como os persas, e outras mais enérgicas, como os siameses. Mas todas precisam de estímulos contra o tédio, como arranhadores e bolas felpudas. Para periquitos e cacatuas, dá pra oferecer cordas e pedras para que eles exercitem o bico. ADOTE MAIS DE UM PET “Eu sempre recomendo que as pessoas tenham dois animais para que eles se entretenham”, aconselha a professora Gisele Fabrino. Embora não seja uma opção para quem tem orçamento limitado, cuidar de mais de um bicho ajuda a afastar os distúrbios causados pela solidão. E isso é fundamental para espécies e raças mais sociáveis. Se você já tem um pet que manda no pedaço há bastante tempo, o ideal é inserir o novo animal aos poucos para evitar conflitos.

EXPERIMENTE DEIXÁ-LO NA CRECHE Para quem fica longe do seu cão por longas horas, alguns estabelecimentos oferecem o serviço de creche. Neles, o bicho interage com outros animais, recebe atenção e tem brinquedos e água à disposição. Outra alternativa são os passeios ou hospedagem oferecidos por aplicativos. O tutor pode acompanhar a situação do animal a distância. Gatos, porém, não são muito adeptos a mudanças abruptas de ambiente e ficam mais à vontade em casa mesmo, com rostos conhecidos.


As lambidas que viram lesões lembram muito o nosso hábito ansioso de roer as unhas. Só que têm consequências mais graves entre os pets, porque podem abrir alas a dermatite e infecções. Alguns bichos ficam no lambe-lambe, outros chegam a se morder... As veterinárias americanas Valarie Tynes e Leslie Sinn publicaram um estudo de referência sobre os comportamentos repetitivos de cães e gatos e identificaram que esse tipo de automutilação estava presente principalmente em cachorros de porte grande e gatos-de-bengala — raça criada pelo cruzamento de felinos domésticos e outros selvagens com manchinhas de leopardo. Atenção à lambedura, portanto. Ela nem sempre é inofensiva e, não raro, soa o alarme de uma aflição mental. Conforme a idade avança, comportamentos inusuais podem indicar outro problema, a síndrome da disfunção cognitiva (SDC), doença degenerativa semelhante ao Alzheimer humano. “Os animais podem ter andar errante, sair de casa e não saber como voltar, se esquecer do tutor, desaprender a fazer suas necessidades no lugar certo”, ilustra Gisele Fabrino, professora de veterinária da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araçatuba. De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, até 30% dos gatos entre 11 e 14 anos sofrem da doença. Nos cães, ela teria a mesma prevalência, mas parece chegar antes — em média entre os 7 e os 9 anos, conforme revisão da Universidade Regional de Blumenau, em Santa Catarina. Nas duas espécies, a disfunção cognitiva afetaria 50% dos animais acima dos 14 anos. Apesar de não ter cura, a SDC pode ser tratada para amenizar os sintomas. Estímulos mentais e alguns suplementos alimentares parecem ajudar. Mas, como em outras situações, é fundamental consultar o veterinário para diferenciar um transtorno de uma esquisitice comportamental resultante de uma dificuldade de adaptação à vida que demos aos pets. Às vezes, pequenos ajustes na rotina já trazem mais conforto, segurança e alívio para eles. −

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5 perguntas e respostas sobre castração O procedimento é considerado essencial para evitar futuros abandonos e a exposição dos bichos a doenças. Conheça as vantagens, as técnicas, a idade ideal e os cuidados na hora de mandar seu pet para o bisturi por JUAN ORTIZ design YSLENA FAZOLIM ilustrações AMANDA TALHARI

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Por que a castração é tão importante?

Em primeiro lugar, para evitar que nasçam possíveis vítimas do abandono humano. As superpopulações de cães e gatos contribuem, por sua vez, para o alastramento de epidemias como raiva e leishmaniose, a maior zoonose do país. Mas o controle populacional é apenas uma parte da questão. Em termos de bem-estar animal, a castração reduz o risco de câncer de mama e infecção no útero para as fêmeas, assim como diminui a propensão a câncer de próstata entre os

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machos. Os animais também ficam mais tranquilos, brigam menos e não têm os descontrolados impulsos sexuais dos adultos em idade reprodutiva. O procedimento ainda facilita a vida dos tutores, porque reduz a demarcação de território com urina pelos machos, acaba com o sangramento vaginal das cadelas e evita os miados excessivos das gatas no cio. A castração também pode ser vista como uma boa solução financeira para quem não pode arcar com os custos de uma ninhada depois da outra.


QUANTO CUSTA? O preço da cirurgia muda de acordo com a espécie, o tamanho, o sexo e a técnica adotada, entre outros fatores. Na capital paulista, por exemplo, a castração de um gato macho pode custar de 120 a 800 reais; e a de uma fêmea, de 200 a mais de 1 mil reais. Os valores e a variação de tarifa são semelhantes para cães machos abaixo dos 10 quilos. Já para cadelas pequenas, o procedimento fica entre 300 e 1 500 reais. Nos animais de porte grande, a esterilização pode ultrapassar os 2 mil reais. Uma opção para quem não tem condições de pagar é recorrer aos mutirões de castração gratuita de ONGs e prefeituras. Entidades como a Arca Brasil indicam, em seu site, veterinários que oferecem castrações a preços mais acessíveis.

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Como é o passo a passo?

Antes de mais nada, é preciso fazer os exames de sangue para ver se o animal está apto a ser castrado. A triagem também inclui uma avaliação da condição cardíaca e de fatores como idade e raça. Se o animal estiver pronto para o procedimento, ele deve ficar 12 horas em jejum de comida e água antes de tomar a anestesia. Depois, é sedado e tem os pelos na região pubiana raspados para a cirugia. Feita a intervenção, há um breve período de recuperação até que ele recobre a consciência e o

veterinário avalie seu estado de saúde. De volta para casa, deve usar as roupas cirúrgicas ou os colares para evitar que coce o local da incisão. “O autotraumatismo é uma das principais complicações no pós-operatório”, aponta a veterinária Mariana Talib, do Hospital Veterinário da Universidade de São Paulo. São receitados também antibióticos, analgésicos e anti-inflamatórios. O período de alta normalmente demora de sete a dez dias, quando são removidos os pontos. »

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Existe idade certa para fazer?

A castração em animais jovens é mais tranquila e rápida do que nos adultos. O tamanho e o peso corporal são menores, o que facilita o trabalho dos veterinários. Também fica mais fácil visualizar os testículos e os ovários, diminuindo o sangramento e o tamanho das incisões. No caso dos felinos, pode ser feita depois dos seis meses, quando eles já têm um porte físico mais desenvolvido. O procedimento também pode ser realizado em cães com até 1 ano de vida, dependendo do porte do animal. Raças menores, por exemplo, atingem a maturidade sexual por volta dos 8 meses; as maiores,

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aos 12 ou 14 meses. Para as fêmeas, o certo é esperar o primeiro cio, entre o oitavo e o décimo mês nas pequenas e até o 12º mês nas maiores. Cadelas não castradas ou castradas depois do terceiro cio têm 26% de probabilidade de desenvolver tumores mamários, que podem virar câncer. Essa porcentagem cai para 8% nas que são castradas logo após o primeiro cio. Nas gatas, a ameaça de tumores, benignos ou não, é de 89% para as que só são operadas entre o primeiro e o segundo ano de idade. Essa probabilidade é reduzida para 14% nas castradas antes dos 12 meses.

Quais são as técnicas mais usadas?

Para os machos, o método clássico é a orquiectomia. As variações dessa técnica dependem do lugar em que é feita a incisão e das estruturas costuradas. Nos cães, o corte costuma ser na região anterior ao escroto. Cada testículo é retirado de sua capinha interna, como se fosse o conteúdo de uma uva. O cirurgião remove os testículos e faz a costura em algum dos tubinhos por onde passam os espermatozoides com um nó das próprias estruturas ou fio cirúrgico. Nos gatos, a diferença é que a incisão geralmente é feita diretamente no escroto. Nas fêmeas, o principal

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método é a ovariossalpingo-histerectomia, a OSH. O procedimento-padrão inclui uma incisão no abdômen, cortes e costuras nos ovários e a ligadura das trompas. Outra alternativa menos invasiva é a técnica do gancho, que faz uma pequena incisão na pele e outros três cortes acima das artérias laqueadas. “Esse método, praticado hoje nas clínicas e prefeituras de todo o Brasil, permite realizar dezenas de cirurgias em um único dia, tornando o procedimento mais acessível”, observa Marco Ciampi, presidente da Arca Brasil, ONG especializada em proteção animal.


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A castração pode deixar sequelas?

Toda intervenção cirúrgica pode envolver efeitos colaterais — e não é diferente com a castração. Animais castrados, tanto machos quanto fêmeas, viram mais comilões do que o normal, o que pode levá-los à obesidade. É o que mostra uma revisão de estudos publicada por uma equipe da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Segundo os pesquisadores, felinos esterilizados apresentam maior risco de ter diabetes em função da elevação dos níveis de insulina — a comilança pode elevar as taxas do hormônio para compensar o exagero. Esterilizações precoces em fêmeas também estão ligadas a consequências indesejadas, como incontinência

A CASTRAÇÃO DENTRO DA LEI

Numa região da Bélgica, todos os gatos têm de ser castrados. Por aqui, não há regras

Em 2016, a esterilização obrigatória de gatos domésticos foi decretada pelo governo da Valônia, região no sul da Bélgica. Os bichos devem ser castrados até os 6 meses de idade e depois são registrados no CatID, base de dados que recolhe informações básicas de animais e cuidadores. Isso ajuda a identificar

urinária e genitália infantil. Essa última ocorre por causa da diminuição antecipada dos hormônios reprodutivos, essenciais para o desenvolvimento físico do bicho, e pode acarretar inflamação na região genital. Outras pesquisas sugerem que alterações hormonais como hipotireoidismo tendem a ser mais frequentes em animais castrados, embora não haja uma razão clara para isso. Na maioria dos casos, os problemas são evitados realizando o procedimento na idade certa e ficando atento aos sinais estranhos no pós-operatório. A veterinária Mariana Talib garante: “A castração é considerada uma intervenção segura e benéfica a longo prazo”. −

os responsáveis pelo gato em casos de perda ou abandono. Para monitorá-los, veterinários autorizados implantam um microchip no lado esquerdo do pescoço. A lei entrou em vigor em novembro de 2017. No Brasil, apesar de projetos nessa toada, ainda não há legislação que obrigue tutores ou o poder público a fazer o procedimento.

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Quando a coceira dá o alerta O coça-coça excessivo já é a principal causa de consulta ao veterinário no país. Pode ser sintoma de alergia, que, na pior e mais comum manifestação, exige atenção e tratamento a vida toda por NAIRA HOFMEISTER design e ilustrações ANA COSSERMELLI fotos ADOGSLIFEPHOTO e FANCY/VEER CORBIS - GETTY IMAGES

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uem tem um bicho em casa sabe que aquela coceirinha atrás da orelha ou a lambidinha nas patas é hábito corriqueiro. De fato, cães e gatos, assim como humanos, se coçam vez ou outra sem que isso vire um problema. Mas, quando esse comportamento é constante, pode indicar a presença de uma alergia, condição que normalmente não tem cura e é capaz de comprometer o bem-estar do pet. Nos centros urbanos, a má notícia é que a manifestação mais incômoda é também a mais comum. Falamos da dermatite atópica, doença genética que exige acompanhamento e tratamento junto ao veterinário. “O tutor vai perceber se a coceira passa do limite aceitável. Quando o animal interrompe uma atividade, como comer, beber água ou brincar, para se coçar é sinal de que ela é patológica”, sinaliza o veterinário

Alexandre Merlo, gerente da farmacêutica Zoetis, que desenvolve pesquisas e medicamentos para dermatite atópica. Embora faltem estatísticas e dados científicos sobre a incidência dessa e de outras encrencas de base alérgica em animais de estimação, os profissionais são unânimes em afirmar que a chateação na pele já é a principal razão para procurar um veterinário. Mas o que estaria acontecendo para que tantos cães e gatos desenvolvam reações do tipo? “É o estilo de vida. Com a humanização dos pets, eles passaram a ser tratados como crianças, gente da família. Vivem dentro de casas e apartamentos, e isso acarreta uma série de condutas que levam ao aumento dos problemas na pele”, analisa a veterinária Flávia Clare, professora da Equalis Educação em Medicina Veterinária, em Curitiba. Trata-se do que os cientistas chamam de hipótese da higiene. Segundo essa teoria, quanto mais o dono cuida do seu bicho como se ele fosse um filho, com banhos regulares e ambiente limpinho, maior é a probabilidade de o sistema imunológico dele ficar sensível a poeira, ácaros e outros agentes que se espalham pelo ar e pelo chão. Sem ter com o que se preocupar, as defesas acabam hiper-reagindo a fatores externos que não costumam causar estragos. Da mesmíssima forma que acontece com os humanos, também bem mais alérgicos nas últimas décadas. A questão é que a dermatite atópica, especialmente, destrambelha a saúde física e mental do animal. “Notamos irritabilidade, intolerância e ansiedade”, aponta Marconi Farias, professor de veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. O prurido frequente leva a feridas crônicas que podem até dispersar um cheiro desagradável. É que, sem tratamento, as lesões evoluem para uma infecção bacteriana ou fúngica. Isso acontece quando o ecossistema da pele se desequilibra, e os seres microscópicos que habitam naturalmente a região se proliferam e invadem inclusive a corrente sanguínea. É um perigo que não fica à flor da pele. »

AS ALERGIAS MAIS COMUNS DERMATITE ATÓPICA É uma doença genética inflamatória na qual a pele se torna sensível a estímulos variados do ambiente, como pólen, ácaros, grama, pó doméstico etc. ALIMENTAR Com sintomas semelhantes aos da dermatite atópica, o diagnóstico se dá pela mudança da dieta durante 60 dias. Os fatores alergênicos mais reportados são as proteínas da carne bovina, do frango, do trigo e do leite. A PICADAS DE INSETOS É uma reação localizada a partir do contato com a saliva da pulga, do carrapato ou de outros parasitas. Mais comum fora dos grandes centros urbanos ou em áreas com saneamento precário. DE CONTATO Problema pontual desenvolvido a partir do toque ou convívio do animal com algo que irrite a pele, como a coleira ou certos produtos químicos.

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É importante ficar de olho e contar com o veterinário para identificar o que está por trás do coça-coça. O sintoma que tanto incomoda o animal pode dedurar males além da alergia, caso da própria sarna. Aliás, outros bichinhos minúsculos causam confusão na pele. A coceira derivada das picadas de pulgas — alguns animais desenvolvem sensibilidade à saliva desse inseto — ainda é uma das alergias mais recorrentes nos ambientes domésticos. O problema, no entanto, está em declínio graças à urbanização e à melhoria das condições sanitárias. “Onde há mais recursos e poder aquisitivo, é muito difícil aparecerem animais alérgicos a picada de pulga porque eles são tratados regularmente”, relata a veterinária Cristiane Ritter, do Centro Veterinário Poa Pet Care, em Porto Alegre. Na cidade grande, predomina entre os cães a dermatite atópica. Já para os gatos, a ocorrência da disfunção ainda não foi comprovada, embora tenham sido descritos casos de coceira crônica que não são vinculados nem a picada de insetos nem a alimentos, indício de que os felinos também podem estar se tornando novas vítimas. O coça-coça e os machucados que aparecem como consequência nem sempre são sinais de dermatite atópica. Às vezes eles vêm à tona devido a uma alergia alimentar ou, se as lesões são mais localizadas, em função de uma dermatite de contato, que, como o nome já diz, é causada pelo toque da pele do animal com algo que desperte reação. Para descobrir a causa do problema, a maioria dos veterinários prefere ir na tentativa e erro: retiram os itens mais rejeitados pelo

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Os sinais de uma pele aflita Cauda e costas são os locais onde se concentram as lesões por picada de pulgas.

Manchas vermelhas na pele, olhos e focinho podem ser sinal de dermatite ou alergia alimentar.


DETECÇÃO PASSO A PASSO

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Lesões ou manchas localizadas, como ao redor do pescoço, indicam dermatite de contato, em reação à coleira.

Lesões localizadas indicam alergia de contato, que vão embora ao afastar o animal do alérgeno causador.

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Um bom antipulgas serve para descartar alergia a parasitas.

3 Se nada disso resolver, o veterinário costuma propor uma dieta por 60 dias para descobrir se o problema é com algum alimento.

4 Quando se formam feridas e o animal perde pelo em alguns locais por causa da coceira, pode ser dermatite agravada com infecção por bactérias ou fungos.

Se a melhora não for significativa, tudo leva a crer que há dermatite atópica — que pede tratamento específico. É possível fazer testes para saber a qual alérgeno seu animal reage, mas eles são caros.

organismo dos bichos um a um e acompanham para ver se houve melhora. No caso da alergia alimentar, pode ser a proteína da carne; na dermatite de contato, às vezes é a coleira ou uma roupinha. Uma vez excluído o fator irritante, os sintomas cessam.

Domando a alergia A situação é diferente na dermatite atópica, quadro crônico que pode ser agravado por um monte de coisas. “É uma doença de difícil controle. Nesses animais, a pele perde a sua função de barreira natural e se torna hiper-reativa a tudo”, resume Farias. Como a doença enfraquece a proteção da derme e alimenta coceira e formação de feridas, o tratamento envolve banhos com xampus especiais e soluções à base de cloreto de sódio, que atuam na recomposição da barreira cutânea. Se o animal estiver com infecção por bactérias ou fungos, lembra Flávia, é necessário partir para antibióticos ou antifúngicos. A boa notícia é que despontaram tratamentos inovadores nessa área. E alternativas à cortisona, remédio que deprime a imunidade para frear o problema mas que pode envolver riscos se usada constantemente. A última geração de medicações envolve comprimidos mastigáveis e, mais recentemente, injeções de anticorpos que agem como um míssil teleguiado na origem da dermatite e da coceira — caso de um remédio biológico recém-lançado pela Zoetis. “É uma maneira de tratar mais próxima do natural, tendo menos reações adversas”, afirma Merlo. Para alguns profissionais, homeopatia, ozonioterapia e acupuntura podem trazer bons resultados, não só para essa dermatite, mas para alergias em geral — a indicação, porém, não é unanimidade pela falta de evidências científicas. Em paralelo ao tratamento veterinário, manter o ambiente, a casinha e a cama do animal em ordem também é importante, porque tira de cena poeira, ácaro e outros elementos incitadores de coceira. Vale caprichar. Ninguém merece viver nesse coça-coça! −

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Evolução contra o câncer Os tumores já são a principal causa de morte dos pets. Mas os tratamentos avançaram muito — e a prevenção também por MAURÍCIO BRUM design YSLENA FAZOLIM ilustrações AMANDA TALHARI

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situação é conhecida entre nós, humanos: conforme a expectativa de vida aumenta, certas doenças que não costumavam preocupar tanto no passado se tornam mais comuns. Com cães e gatos, o raciocínio é semelhante. Como animais domésticos vivem cada vez mais, ficam propensos a problemas mais frequentes na velhice, caso do câncer. Um levantamento do Hospital Veterinário Sena Madureira, em São Paulo, constatou que, nos últimos 30 anos, a expectativa de vida dos pets atendidos por lá dobrou. Cães de pequeno porte, por exemplo, passaram de uma vida média de 9 para 18 anos. Já os felinos chegam fácil a duas décadas na família. O maior cuidado dos tutores e os progressos no tratamento veterinário respondem diretamente por esse fenômeno. Mas, como efeito colateral, mais bichos vivenciam a ameaça e o sofrimento de um tumor. Calcular a prevalência da doença no mundo animal vem sendo um desafio. Os números variam de acordo com o local e as condições sanitárias dos países. Os especialistas apontam, porém, que o câncer já virou a principal causa de morte entre os animais de estimação em nações desenvolvidas — e o Brasil parece ir na mesma direção. A percepção tem convocado profissionais e tutores a realizarem check-ups preventivos e prestarem atenção em sinais da enfermidade, que variam conforme o tipo e a localização do tumor.

A instrução do veterinário é especialmente bem-vinda. “É importante observar, apalpar e distinguir o que é normal e o que não é”, diz Maria Inês Witz, professora de veterinária da Universidade Luterana do Brasil, em Canoas, no Rio Grande do Sul. “Quando escovamos os dentes dos animais, é possível ver alguma alteração na gengiva ou na língua”, exemplifica. Calombos, inchaços e formações estranhas merecem o olhar de um profissional. O ponto é que nem sempre um câncer dá sinais visíveis ou se sente em um toque. Daí a necessidade de reparar no comportamento do bicho. “Febre baixa, vômito, diarreia, falta de apetite frequente... Se não for detectada outra causa, precisamos investigar a presença de tumores”, recomenda o veterinário Jair Rodini Engracia Filho, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Além de manter os cuidados e as consultas de rotina, sobretudo à medida que o pet envelhece, vale a pena saber que algumas estratégias reduzem o risco de encarar a doença: está comprovado, por exemplo, que a castração baixa a propensão a câncer de mama, um dos mais comuns em fêmeas. É fato, contudo, que nem sempre dá para evitar seu aparecimento. Por isso, pintando a suspeita, não hesite em procurar o especialista. “É comum as pessoas acharem que o animal vai melhorar sozinho, e nessa espera as coisas pioram”, lamenta Maria Inês. »

OS TUMORES MAIS PREVALENTES DE MAMA

DE PELE

TVT

LEUCEMIA FELINA

Muito frequente em gatas e o principal em cadelas, pode ser prevenido com a castração antes do primeiro cio ou da maturidade sexual.

O carcinoma espinocelular e o mastocitoma se manifestam na pele. Atingem raças de pelagem clara e boxer, pug e labrador.

É o tumor venéreo transmissível, disseminado pelo contato (sexo, lambidas...). Se instala em boca, focinho ou genitais.

Causada pelo retrovírus, lembra muito a aids em humanos. Por ser de origem viral, pode ser prevenida com uma vacina.

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Quando o diagnóstico vem, a notícia triste é acompanhada também por uma preocupação: e agora? O que posso fazer para ajudar? “Nos últimos anos, temos percebido uma grande evolução na relação do tutor com o animal”, observa Engracia Filho. “Trinta anos atrás a maior parte dos cães era um animal de proteção da casa. Hoje, é um animal de companhia, e a pessoa já fica mais atenta a problemas, como nódulos ou o aparecimento de alguma massa anormal”, completa. Como ocorre com os humanos, o diagnóstico precoce é decisivo para um tratamento bem-sucedido. Logo, se ficar intrigado, não demore em levar o amigo ao veterinário. Assim como os donos cuidam mais do pet e estão mais dispostos a desembolsar uma grana para custear tratamentos, a oncologia veterinária também deu um salto nas últimas décadas. O conhecimento e os investimentos na área possibilitaram a criação de novas terapias, hoje mais acessíveis. “O nosso intuito é promover o máximo de bem-estar e sobrevida possível”, resume o professor da PUC-PR. Opção usual em um passado não tão distante, a eutanásia em casos assim pode ser agora a última alternativa, apenas escolhida quando a qualidade de vida não pode mais ser preservada. “Infelizmente, muitos tutores ainda esbarram na dificuldade financeira para arcar com os custos do tratamento, e só vêm procurar ajuda quando a ação do veterinário já fica muito limitada”, relata o especialista. Em casa, além do carinho e da parceria para enfrentar a doença, uma forma efetiva de ajudar o pet é cuidando da alimentação. “Uma dieta equilibrada, com o mínimo de conservantes e associada ao tratamento, minimiza o crescimento dos tumores”, explica Maria Inês. Entre as mudanças de hábitos alimentares que os estudos recentes sugerem está a redução de carboidratos — como as células cancerosas consomem muita energia, uma ingestão limitada reduziria a atividade delas.

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Os estudiosos cada vez mais concordam num ponto: os cânceres dos pets têm, em geral, muito em comum com os tumores que afetam os próprios seres humanos. “Os mecanismos da doença são semelhantes entre nós e os animais”, afirma Engracia Filho. “Novas pesquisas feitas na medicina humana, como o reconhecimento e a intervenção em genes ligados ao câncer, também poderão servir na oncologia veterinária”, acredita o professor. Pois é, essa é uma área da ciência que se beneficia das trocas de conhecimento entre saúde humana e animal (e vice-versa). E, para os pets, é uma retribuição por um companheirismo e uma amizade que não têm preço. −


Os principais tratamentos As formas de vencer o câncer entre os animais de estimação

CIRURGIA Quando há possibilidade de fazê-la, ainda é o método preferido, já que aumenta a chance de eliminar o tumor por completo.

QUIMIOTERAPIA É recomendada quando a cirurgia não é indicada ou há suspeitas de que ainda existem células do câncer no organismo do animal.

RADIOTERAPIA Tecnologia mais recente na oncologia veterinária, é oferecida em poucas cidades, geralmente adaptando equipamentos da medicina humana.

MEDICAMENTOS Ainda há poucas opções no mercado, mas novos remédios vêm sendo testados com sucesso. A aposta está em drogas com ação precisa.

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vida selvagem

por diogo sponchiato

extinção de anfíbios Ataque de um fungo letal já dizimou espécies e populações de sapos e rãs

É

o maior desaparecimento em massa provocado por um parasita de que se tem notícia. Um fungo encontrado no solo e na água e que agride a pele dos anfíbios levou, entre 1965 e 2015, ao declínio de mais de 500 espécies de rãs, sapos, pererecas e congêneres — 90 já estão extintas. Embora a doença tenha se disseminado pelo mundo, os animais mais atingidos viviam na América do Sul. A Mata Atlântica brasileira é uma das regiões particularmente devastadas. A análise e o alerta vêm de um consórcio internacional de pesquisadores, que publicaram os achados no periódico Science. Ecologistas mensuram agora até que ponto as mudanças no ecossistema e as ações do homem conspiraram a favor do extermínio causado pelos fungos. Todo esse mapeamento também ajuda a eleger medidas para resguardar os anfíbios ameaçados. Felizmente, os cientistas já observam que ao redor de 20% das espécies sobreviventes esboçam sinais de recuperação.

Ameaça viral Sapos do gênero Atelopus estão entre os mais vulneráveis à doença causada por fungos

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Vírus identificado no sul do Brasil também coloca anfíbios em risco

Uma equipe da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) flagrou, pela primeira vez na natureza brasileira, sapos, rãs e pererecas infectados pelo ranavírus, elemento potencialmente fatal para anfíbios. O agente infeccioso já havia sido detectado antes em cativeiro. Uma hipótese é que animais que escaparam de ranários possam ter levado o vírus para áreas da Mata Atlântica.

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cabeça de polvo Livro descortina o fascinante sistema nervoso e a inteligência de polvos, lulas e companhia

T

em uma frase do professor de filosofia e história da ciência australiano Peter Godfrey-Smith, autor de Outras Mentes, que sintetiza o espanto de conhecer a fundo os cefalópodes, a classe que reúne polvos, lulas e chocos: “Eles são, provavelmente, o mais perto que chegaremos de um alienígena inteligente”. A frase faz alusão ao sistema nervoso e à maneira de interagir com o mundo desses animais — absolutamente diferentes dos nossos. É que, na história da evolução das espécies, os cefalópodes trilharam um caminho de desenvolvimento neural distinto do dos vertebrados (cachorros, pombos, humanos...). Eles não possuem um cérebro que comanda tudo da cabeça e a maior parte de seus neurônios está nos braços — que, além do tato, têm sensores para olfato e paladar! Numa obra que mescla biologia, psicologia e filosofia, Godfrey-Smith, que também é mergulhador, compartilha suas investigações e reflexões sobre essas criaturas e instiga o leitor a pensar nas nossas e em outras formas de perceber o universo e se comunicar com ele.

O que os golfinhos têm a ver com o Alzheimer?

E

sta vem das águas da Flórida e de Massachusetts, estados americanos com faixas litorâneas. Um time da Universidade de Miami investigou o cérebro de golfinhos encalhados na região e desvendou que a exposição a uma toxina liberada por cianobactérias — micro-organismos presentes na água que fazem fotossíntese e compõem a base da cadeia alimentar nos oceanos — induz alterações na massa cinzenta desses mamíferos aquáticos. As

outras mentes — o polvo e a origem da consciência Autor: Peter Godfrey-Smith Editora: Todavia Páginas: 280 Preço: R$ 74,90

toxinas, já detectadas em outros animais que habitam os mares, estão associadas à formação de placas beta-amiloides, emaranhados que levam à destruição dos neurônios. Em humanos, o desenvolvimento dessas placas é um dos problemas por trás do Alzheimer, doença que propicia um colapso cognitivo. Os estudiosos apuram agora como isso acontece e quais seriam as repercussões da exposição à toxina nos bichos e na gente.

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vida selvagem

por diogo sponchiato

Em defesa das abelhas Uso de agrotóxicos é um dos principais motivos para a escalada de mortes desses insetos, essenciais para a polinização das plantas e o cultivo de alimentos

O

apelo em prol das abelhas vem de cientistas, ambientalistas e do próprio braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação, a FAO. Nos dias de hoje, já não soa exagerado dizer que esses insetos correm risco de extinção. Estudos conduzidos por centros de pesquisa e universidades brasileiras atestam que o uso massivo de agrotóxicos por aqui é a grande razão para a alta mortalidade observada nos últimos anos. De acordo com os experts, milhões de abelhas perderam a vida

recentemente em função dos pesticidas. Esse é um drama que não se restringe ao Brasil nem é terrível apenas para elas. Como a própria FAO alerta, esses insetos são decisivos para a polinização das plantas, tanto em cultivos estruturados como nas matas. A ruína das colmeias pode impactar, portanto, o agronegócio e mesmo a subsistência de algumas populações. Rever e fiscalizar a aplicação de certos defensivos agrícolas e optar por produtos menos tóxicos são medidas urgentes para salvar as abelhas.

insetos envenenados

Appis melifera Essa espécie, de origem europeia, reina em terra brasileira e é a principal produtora de mel por aqui. Mas tem sido vítima frequente dos agrotóxicos, que, segundo análises de universidades paulistas, encurtam seu tempo de vida e mexem até com o comportamento delas.

abelhas sem ferrão As abelhas nativas sem ferrão, encontradas nas matas brasileiras, são ainda mais suscetíveis aos efeitos deletérios dos pesticidas, indicam experimentos apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Padecem com eles espécies como uruçu, canudo e jataí.

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Relatos de uma família de ursos

AMAZÔNIA PERDE TERRENO... e animais Destruição progressiva desse bioma bota em xeque o habitat e a existência de uma infinidade de bichos

I

magens de satélites obtidas e analisadas pelo projeto MapBiomas, que engloba universidades, ONGs e companhias de tecnologia, mostram que a floresta e a bacia amazônica perderam, entre 2000 e 2017, 29,5 milhões de hectares — área que corresponderia ao território de um país como o Equador. A maior causa do desmatamento ali é o avanço do agronegócio. O espaço voltado à agropecuária teve uma ampliação de 41%

na região, segundo o mesmo levantamento. Quem sofre com isso? A flora e a fauna nativas, claro. Aves, macacos, felinos e peixes estão entre os bichos sob ameaça de extinção ali. As perdas na Amazônia insuflam os números globais de plantas e animais em vias de desaparecer. De acordo com cálculos da Organização das Nações Unidas, algo em torno de 1 milhão de espécies correm esse risco devido às interferências do homem nas últimas décadas.

Com uma ficção inspirada em episódios da vida real, a escritora japonesa radicada na Alemanha Yoko Tawada traça a história de três gerações de ursos-polares que, longe da vida selvagem, acompanham os movimentos políticos e culturais do século 20. Por meio de uma narrativa que costura passado comunista a arroubos fantásticos — basta dizer que a avó ursa é escritora e guia o início do livro em primeira pessoa —, Memórias de um Urso-Polar passeia pelos dilemas de bichos distantes do seu lar original e protagonistas de circos, zoológicos e outros recintos criados por e para humanos. E nos convida a assumir o ponto de vista do outro — no caso, alguém que nem mesmo é da nossa espécie.

eles ESTÃO SUMINDO DO MAPA

Boto

(Inia geoffrensis)

Uacari

(Cacajao hosomi)

Jandaia-amarela

Cuíca-de-colete

(Aratinga solstitialis) (Caluromysiops irrupta)

Autora: Yoko Tawada Editora: Todavia Páginas: 272 Preço: R$ 64,90

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Bicho cabeça

por sílvia lisboa e StéfAni Fontanive

Será que meu cão é autista? Cientistas suecos vasculham genes e comportamentos de humanos e cachorros e vislumbram a existência de um transtorno parecido entre os bichos

O

s cães são os mais antigos animais domesticados pelo homem. Companheiros de longa data, eles compartilham alguns genes em comum com a nossa espécie e desenvolveram habilidades únicas de comunicação com a gente. Mas alguns trechos do DNA que tanto facilitam a interação com os donos também podem ter trazido problemas para eles. Pesquisadores da Universidade Linköping, na Suécia, suspeitam que cachorros também apresentam transtornos sociais e do espectro autista. Os estudiosos

estavam investigando as modificações genéticas nos animais após milênios de convivência quando identificaram certos genes ligados à comunicação tanto no DNA humano como no canino. “Esses mesmos genes presentes nos cães parecem ser os responsáveis, nos seres humanos, pelo transtorno do espectro autista”, relata Per Jensen, o líder do trabalho. Testes comportamentais com cachorros corroboraram a tese de que existe uma grande possibilidade de os bichos apresentarem algo semelhante ao distúrbio que afeta a socialização.

bichos e genes testados No estudo sueco, os cães eram instruídos a abrir uma tampa. Em seguida, a peça era presa e os animais não conseguiam deslocála, tendo de pedir ajuda humana. Mas alguns insistiam na tarefa impossível, sem se comunicar com as pessoas. Análises no DNA deles apontaram alterações em genes associados ao autismo em humanos.

sinais do autismo canino Persistência O cão tem comportamentos obsessivos, como ficar tentando abrir uma tampa, apesar de estar fechada. introspecção O animal evita contato visual e físico com seres humanos e reluta em se comunicar.

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FILHOTE

POR SÍLVIA LISBOA E STÉFANI FONTANIVE

POR QUE ELES MORDEM TUDO? Culpa da curiosidade, do excesso de energia e também dos dentinhos

O

s filhotes de cães adoram explorar os pertences e cômodos da casa e têm muito fôlego para isso. A vontade de desbravar o ambiente, aliada à troca dos dentes de leite pelos definitivos — processo que gera irritação e coceira na gengiva —, faz com que se tornem pequenos monstrinhos, mordendo e destruindo móveis, roupas e eletrônicos. Mas esse hábito não se restringe a tirar os tutores do sério. Chega a impor riscos inclusive à saúde dos animais, que podem engolir pedaços de objetos e ter uma obstrução gástrica. A sanha de mordiscar também gera intoxicações, quando abocanham plantas, remédios ou fios elétricos, avisa o zootecnista especializado em comportamento animal Alexandre Rossi, de São Paulo. A fase das mordidas tende a ocorrer com filhotes de todas as raças e vira-latas. É importante que a família tenha paciência e invista um tempo para educar o bicho e gastar sua energia com atividades e passeios. Outra dica é espalhar brinquedos para que eles tenham o que morder pelo caminho.

Energia de sobra e troca dos dentes motivam as mordidas nos objetos da casa

COMO PREVENIR E REMEDIAR Alguns truques ajudam a evitar esse comportamento, que também coloca o cão em perigo

GOSTO RUIM Borrife substâncias amargas (vendidas em pet shops) nos móveis para reduzir o ímpeto em atacá-los. OUTRAS ATRAÇÕES Dê brinquedos específicos para serem mordidos ou roídos — eles podem ser deixados pela casa. CONSUMO DE ENERGIA Estimule o cãozinho a correr e brincar. Após as vacinas, também é possível levá-lo para dar umas voltas. TEM QUE EDUCAR Deixe claro desde o começo que os comportamentos negativos não geram recompensas.

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SEMPRE QUIS SABER

POR MAURÍCIO BRUM E PEDRO NAKAMURA

QUAIS AS DIFERENÇAS NA GESTAÇÃO DOS ANIMAIS?

meses

RATAS

CADELAS

GATAS

Mamães rato atingem a maturidade sexual na quinta semana de vida. Cada gestação dura, em média, pouco mais de 20 dias e gera cerca de dez filhotes. Duração: 3 semanas (20-23 dias). 2ª semana: a gravidez começa a ser detectável pelo ganho de peso ou inchaço nas mamas. Filhotes: 6 a 12.

São dois meses de gestação e o número de filhotes depende do tamanho da mãe. Após o parto, a cadela amamenta a ninhada uns 45 dias. Não é recomendável separá-los antes. Duração: 8 a 10 semanas (56-70 dias). 3ª semana: é quando rola a acomodação do óvulo fecundado no útero. 3 semanas em diante: já dá para verificar em um ultrassom. Filhotes: 4 a 8.

Elas ficam agitadas quando entram no cio, que ocorre em geral na primavera e no outono. É nesse período que engravidam. Duração: 8 a 10 semanas (61-72 dias). 15-18 dias: mamilos ficam inchados e avermelhados. Os órgãos do feto se desenvolvem. 12 a 24 horas antes do parto: a temperatura corporal vai caindo. Filhotes: 3 a 5.

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COELHAS

MULHERES

ÉGUAS

Após o parto, elas já podem engravidar de novo no dia seguinte. O ideal é esperar um mês entre um parto e a prenhez seguinte para dar tempo de os filhotes serem bem alimentados. Duração: 1 mês (28-35 dias). 11 dias: surgem os primeiros sinais perceptíveis. 3 a 4 semanas: a coelha começa a montar um ninho para receber os filhotes. Filhotes: 4 a 12.

Idealmente, um bebê nasce entre nove e dez meses depois da concepção. Devido ao avanço da medicina, cada vez mais prematuros precoces conseguem sobreviver e se desenvolver sem sequelas fora da barriga da mãe. Duração: 38 a 40 semanas (265-280 dias). 5 semanas: os batimentos cardíacos do bebê podem ser detectados e ouvidos. Filhotes: 1 a 2 (em geral).

A gravidez leva, em média, um ano, e costuma gerar apenas um filhote. Uma semana depois da concepção, a égua já pode engravidar novamente. Duração: 45 a 53 semanas (320-370 dias). 4 semanas: já dá para confirmar a gravidez. 43 semanas: com os pulmões formados, o filhote está pronto para vir ao mundo. Filhotes: 1.

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Exclusividade de mamíferos, só existe gravidez quando há interação entre embrião e organismo materno. O tempo da gestação é proporcional ao tamanho do animal. Confira a duração e outras características em várias espécies

De uma perspectiva evolutiva, não faz sentido um animal sobreviver sem poder se reproduzir. No entanto, há espécies de fêmeas que entram na menopausa. Uma das explicações para o fenômeno é a “hipótese da avó”: fêmeas mais velhas aumentariam a chance de sobrevivência das novas gerações ao repassar conhecimentos. Além das humanas, apenas outras primatas e algumas baleias param de ovular a partir de certa idade.

UMA NINHADA, VÁRIOS PAIS Gatas são superfecundas. Ao longo de um ciclo menstrual, seus óvulos podem ser fertilizados em mais de um coito. Essa fase reprodutiva dura cerca de três semanas e tem um pico de sete dias chamado estro, momento de maior receptividade à reprodução. Caso os donos não cuidem, as gatas são capazes de copular com vários machos diferentes. Por isso, quando uma ninhada de gatinhos nasce, eles podem ter diversos pais.

O CICLO DE LEITE

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GIRAFAS

ELEFANTAS

Ameaçadas de extinção, as pescoçudas entram em idade fértil a partir dos 6 anos. Os rebentos já nascem com cerca de 1,70 metro. Duração: 64 a 66 semanas (15 meses). Parto: girafas dão à luz em pé, então filhotes caem de uma altura de quase 2 metros ao nascerem e, resistindo, se levantam uma hora depois. Filhotes: 1, raramente 2 (gêmeos).

Concebem um filho por gravidez, processo que leva cerca de dois anos. Os filhotes passam de 100 quilos. Após o parto, elas demoram até cinco anos para engravidar de novo. Duração: 88 a 94 semanas (20 a 22 meses). 18 semanas: o bebê elefante já desenvolveu sua tromba e começa a movimentar suas recém-formadas patas. Filhotes: 1, raramente 2 (gêmeos).

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Para produzir leite na frequência que a indústria demanda, vacas permanecem em um ciclo contínuo de gravidez e lactação. Após nove meses, o bezerro nasce e é separado para sempre da mãe. Mesmo assim, a vaca continua a produzir leite por cerca de 100 dias até ser inseminada novamente para voltar a lactar. Essa rotina reduz a expectativa de vida do animal de 25 para cinco anos. Quando perde a produtividade, a vaca costuma ser abatida :(

FONTES: THE COMPLETE BOOK OF DOG BREEDING; PERIODS AND STAGES OF THE PRENATAL DEVELOPMENT OF THE DOMESTIC CAT; GROWTH AND DEVELOPMENT OF THE OVARY AND SMALL FOLLICLE POOL FROM MID FETAL LIFE TO PRE-PUBERTY IN THE AFRICAN ELEPHANT; REPRODUCTION AND DEVELOPMENT – SAN DIEGO ZOO; UNIVERSITY OF NEW SOUTH WALES (AUSTRÁLIA)

A HIPÓTESE DA AVÓ

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POR DIOGO SPONCHIATO

FOTO: EDU LEPORO – MORADORES DE RUA E SEUS CÃES

ZOOM

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De invisíveis a protagonistas Seu Zé e Duque, retratados aí ao lado, são personagens que ilustram o poder de um projeto concebido pelo fotógrafo Edu Leporo há sete anos, o Moradores de Rua e Seus Cães (MRSC). Com uma câmera na mão, o artista de São Paulo tirou da invisibilidade homens, mulheres e seus parceiros de quatro patas que, em comum, não têm uma casa para chamar de lar. Mas a iniciativa não rendeu só imagens impactantes, livro e exposição... Edu e voluntários já saíram às ruas para atender ao redor de 11 mil pessoas — elas ganham cuidados de higiene, comida, roupas etc. — e 1,5 mil animais, que recebem banho, ração e assistência veterinária. O MRSC já fez ações em São Paulo, Rio, Campinas, Natal, Belo Horizonte... E pretende ampliar sua atuação, realizando novas mostras e palestras e criando a própria sede. A ideia é captar e replicar histórias como a do seu Zé e seus cachorros: com a repercussão das fotos, depois de 40 anos nas ruas, ele voltou para casa e a família, em Itinga (MG). Para apoiar o trabalho do Edu e do MRSC, você pode segui-los no Instagram (@moradoresderuaeseuscaes) e fazer doações pelo perfil do MRSC no vakinha.com.br.

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Com a palavra

Mario Marcondes

a incrível evolução dos hospitais veterinários

O

s últimos dados do IBGE mostram que o número de animais de estimação já ultrapassa o de crianças nos lares brasileiros — são mais de 132 milhões de pets. Seguindo essa tendência de crescimento, multiplicaram-se também os serviços voltados a atender às demandas dessa nova família, como pet shops, creches, hotéis, entre outros. Na mesma velocidade, observamos o desenvolvimento e a profissionalização da medicina veterinária, que busca ser cada vez mais eficiente em prevenir, diagnosticar e tratar as doenças que afligem os animais. Os avanços nesse campo envolvem o surgimento de novas vacinas, medicamentos e rações. Assim como ocorreu com a saúde humana, projetaram-se especialidades como cardiologia, oftalmologia e dermatologia veterinária, além de as técnicas cirúrgicas se aperfeiçoarem. Nesse contexto, a estrutura física e tecnológica dos hospitais veterinários ganhou corpo, por vezes se equiparando à de ambientes voltados aos humanos. Hoje eles dispõem de equipamentos sofisticados para diagnóstico, caso de tomografia, ressonância magnética, ecocardiograma com doppler colorido, endoscopia e videolaparoscopia — sem contar os apurados exames laboratoriais.

A chegada de equipamentos automatizados agilizou os resultados desses testes. Hoje é possível fazer um check-up completo com exames de sangue em menos de dez minutos. Quem ganha com isso é o animal, menos exposto a eventuais estresses. Cuidados veterinários de ponta permitem também que os pets vivam mais — e com qualidade! Enquanto na década de 1980 cães e gatos não costumavam passar de 7 anos de idade, a expectativa de vida deles mais que dobrou. Graças à tecnologia e ao conforto oferecidos pelos centros hospitalares modernos, também conseguimos realizar atendimentos mais “humanizados” — sim, no mesmo sentido aplicado ao tratamento de gente como a gente. Isso significa que, mais do que focar em uma doença em si, buscamos cuidar do bem-estar do bicho e de toda a família. Essa evolução e inovação evidenciam quanto os pets se tornaram importantes para o brasileiro e se refletem no crescimento do setor, que continua a gerar empregos mesmo com o país atravessando uma crise econômica. Alguns analistas já classificam o segmento pet como o mais resiliente no mercado financeiro. Prova de que zelar pelos nossos bichos não fica em segundo plano — algo que eles e nós podemos celebrar.

Mario Marcondes é veterinário e diretor clínico do Hospital Veterinário, Pet Shop & Hotel Sena Madureira, em São Paulo

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Fernanda de Toledo Vieira

quando o animal faz parte do tratamento Fernanda de Toledo Vieira é veterinária, professora da Universidade Vila Velha, no Espírito Santo, e coordenadora do Projeto de Extensão Animais Terapeutas

A

terapia assistida por animais (TAA) é um valioso instrumento para ajudar no tratamento de doenças e no suporte a pessoas acamadas e hospitalizadas, indivíduos com doenças psiquiátricas, idosos e crianças com necessidades específicas, incluindo aquelas com deficiências físicas ou intelectuais. Tem por objetivo promover o bem-estar físico, emocional, cognitivo e social, valendo-se do animal como principal agente terapêutico — ele funciona como um elo entre o terapeuta e o paciente. Estudos apontam inúmeros benefícios dessa modalidade. Em idosos hipertensos institucionalizados, por exemplo, já foi observado que as sessões de TAA promovem controle dos níveis de pressão, sem falar nos momentos de alegria e relaxamento. O contato com os animais, o toque, as caminhadas na companhia deles... Tudo isso é capaz de reduzir a ansiedade e, com isso, interferir positivamente na frequência cardíaca e na pressão arterial. A fisioterapia assistida por animais, por sua vez, vem mostrando resultados significativos quando direcionada a crianças com deficiência física e/ou motora. As sessões na presença do animal se tornam mais leves,

ganham uma cara mais descontraída, o que possibilita a realização das atividades com menor resistência. É possível notar mais sorrisos estampados nos rostinhos. Nesse contexto, a TAA tem obtido bastante sucesso entre crianças com a trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down): há evidências de que propicia ganhos motores e de sensibilidade e melhor interação social. É importante lembrar que os animais coterapeutas também precisam de atenção e cuidados especiais. Eles devem ser treinados de modo a apresentar comportamento adequado para as atividades e receber assistência veterinária — o que inclui vacinação, vermifugação e controle periódico para prevenção de parasitas. Além disso, é necessário atender a questões de higiene. Os animais da TAA precisam tomar banho no dia da sessão, por exemplo. Aliás, o cuidado com eles não se resume à saúde. Seu bem-estar também é fundamental: os animais devem sentir prazer ao executar as atividades propostas durante a terapia. Respeitando esses pressupostos, e com os animais felizes, a TAA se coloca como uma modalidade terapêutica muito eficaz, lúdica e descontraída.

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Com a palavra

Marco Ciampi

AMIGO É PARA SEMPRE

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á milhares de anos, nossos antepassados passaram a conviver com cães e gatos, dando início à, provavelmente, mais sólida parceria entre espécies da história. Tudo começou para atender a conveniências: cães ajudavam na caça e gatos mantinham os roedores a distância — garantindo também a própria refeição. A camaradagem evoluiu e vínculos profundos se formaram. Hoje os pets conquistaram o status de membros da família. Muito além das alegrias cotidianas, conviver com um bicho de estimação é um privilégio — pesquisas mostram que isso nos deixa mais felizes e saudáveis. Mas nessa história nem tudo é amor e fidelidade. Há também milhões de animais vivendo e sofrendo em estado de abandono. O mais doloroso é saber que boa parte deles já teve um lar e foi descartada por seus tutores. Esse fato lamentável é atestado pela equipe da Arca Brasil: todos os dias recebemos chamadas telefônicas e e-mails de pessoas querendo se desfazer de seus outrora melhores amigos. Os motivos? Doença na família, dificuldade financeira, falta de tempo, pouco espaço.... Alguns genuínos, mas a maioria por questões fúteis. Orientamos da melhor maneira possível, mas não é tarefa fácil explicar que não há lugar capaz de acolher, de forma adequada, tamanho contingente. Mais penoso ainda é tentar reverter a intenção do abandono, alertando sobre a dor da separação.

Com a missão de transformar esse cenário e semear conscientização sobre as necessidades e direitos dos bichos, a Arca Brasil elaborou, há 20 anos, os 10 Mandamentos da Guarda Responsável de Cães e Gatos, um marco da proteção animal no país e que não poderia deixar de aparecer nesta edição: 1. Antes de levar um pet para casa, considere que ele pode viver de dez a 20 anos. Pergunte à família se todos estão de acordo, se há recursos para mantê-lo e quem cuidará dele, inclusive nas férias. 2. Adote animais de abrigos públicos e privados em vez de comprar por impulso. 3. Informe-se sobre as características e necessidades do cão ou gato escolhido. 4. Forneça abrigo, alimento equilibrado, ambiente limpo, exercícios e rotinas adequados. 5. Cuide da saúde do animal, propiciando higiene e consultas regulares ao veterinário. 6. Zele pelo bem-estar do bicho e aprenda sobre seu comportamento. 7. Eduque o animal. Se preciso, com um adestramento respeitoso. 8. Recolha e descarte as fezes em local apropriado. 9. Identifique o animal com plaqueta e registre-o no Centro de Controle de Zoonoses, adotando o microchip permanente. 10. Evite as crias indesejadas, uma das principais razões do abandono. Castre os machos e fêmeas em veterinário habilitado.

Marco Ciampi é presidente da Arca Brasil — Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal

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ANTONIO A SUA MAIS NOVA REVISTA Ano 1 – Terceira Edição Janeiro 2010

Compilações da Internet Indispensável em Todos os Lares

Combo de Revistas – Saúde Três

Propus-me a criar esta revista com o objetivo de reunir compilações das melhores Revistas e Matérias publicadas, oferecendo assim mais praticidade ao leitor, que em um só volume pode ler e pesquisar sobre vários assuntos. São compilações obtidas das Publicações gratuitas que se encontram postadas em vários Sites via Internet. Essa iniciativa não visa de momento, nenhum lucro ou retorno do investimento dispensado para tornar essa idéia viável. Estou aqui preservando e respeitando os Direitos dos Autores e das Editoras responsáveis pelas publicações. COMPILAÇÕES DA INTERNET POR: - ANTONIO MARCOLINO DA SILVA.


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