Trabalho Final de Graduação
Mobiliário Modular para Cozinhas com Espaço Reduzido.
Camila Fuzihara Gascon Orientador Prof. Dr. Giorgio Giorgi Junior
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo São Paulo - Novembro de 2012
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Agradecimentos
Gostaria de agradecer ao Professor Giorgio pela sua orientação, acho que eu não poderia ter feito escolha melhor, aprendi muito e sobretudo me diverti bastante com o trabalho este ano. Também aos professores Robinson Salata e Cristiane Aun por aceitarem o convite para participar da banca. À todos os meus familiares agradeço pelo carinho e apoio nestes anos de faculdade, é um privilégio fazer parte desta família. Agradeço aos meus amigos que me acompanharam, torceram por mim, que estão orgulhosos de fazer parte deste momento. Obrigada Luis por me incentivar a melhorar sempre. Estes agradecimentos podem parecer um mero cumprimento de formalidades, mas o que importa dizer, é que estou muito grata por ter recebido tanto apoio e afeto, por todos estes anos, de tantas pessoas queridas.
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Sumário
Agradecimentos
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Introdução
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Parte I
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1. Contextualização histórica
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2. Entrevistas
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3. Resultados
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4. Síntese
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5. Referências
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Parte II
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1. Definição da Volumetria
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2. Arame
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3. Arame tridimensional
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4. Cuba Gastroníomica
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5. Painel de arame
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6. Arame e Perfil Metálico
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7. Arame e madeira torneada
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Desenhos
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Considerações Finais
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Bibliografia e Sites
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Anexo: Levantamentos
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Anexo: Entrevistas
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Introdução
O trabalho partiu da escolha do tema, cozinhas com espaço reduzido, para desenvolver um projeto de mobiliário. O desafio do trabalho é desenvolver um projeto para cozinhas de apartamentos pequenos. O aproveitamento do espaço é uma questão importante nos grandes centros urbanos, aonde a concentração de serviços e a valorização dos imóveis incentiva a proliferação de habitações com áreas mínimas.
A cozinha é entendida como um sistema de objetos somados a rede de infraestrutura que qualificam o ambiente arquitetônico. Incluindo portanto o espaço físico, os móveis, eletrodomésticos, utensílios, louças e os próprios alimentos armazenados.Muitos fatores contribuem para o planejamento e configuração da cozinha, como a dinâmica do usuário na preparação de alimentos, a oferta de produtos no mercado, o orçamento disponível, a iluminação e ventilação do ambiente, e a disposição das redes de água, gás e energia. O projeto de uma cozinha envolve o trabalho de diferentes profissionais assim como móveis e eletrodomésticos industrializados que devem ser compatibilizados. A cozinha compacta deve permitir a realização do trabalho culinário em geral e não só o aquecimento de refeições prontas, porém em uma área reduzida, ou seja na menor área possível. Para isso esse sistema deve ser reduzido ao essencial para o seu funcionamento, otimizando o uso do espaço. Portanto é interessante que o projeto da cozinha seja pensado como um todo, pois é preciso considerar a complexidade de interações com os
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usuários e sua relação entre os objetos. Para entender se aproximar do objeto de estudo, foi feita uma pesquisa sobre as origens da cozinha na contemporânea em uma perspectiva histórica.A intenção foi de reunir momentos marcantes na história da cozinha, para compreender as origens da cozinha que conhecemos hoje. O objetivo é fazer um paralelo entre o contexto histórico de cada época e suas cozinhas, observando como o desenho dos objetos e dos espaços tem a capacidade de “solidificar” as crenças de uma determinada sociedade. Entender este processo que configurou o espaço da cozinha atualmente é importante para propor soluções, analisando aspectos da sociedade atual. A pesquisa de referências para o projeto orientou o trabalho desde o início, criando um panorama de influências e ampliando o repertório sobre a produção industrial, as técnicas e materiais utilizados atualmente. Também foram realizadas 5 entrevistas com pessoas que moram e apartamentos com cozinhas pequenas para compor um perfil de usuários com características semelhantes que será a base para o projeto. Para dar foco à pesquisa, escolhemos jovens que se mudaram recentemente da casa dos pais, para morar sozinhos ou casais sem filhos. O entrevistados foram encontrados através de indicações, e como critério de escolha bastava que a cozinha fosse considerada pequena, o que foi um recorte interessante do problema pois envolvia uma noção comum sobre o que era considerado pequeno. As entrevistas foram realizadas nos apartamentos de cada entrevistado, que mediam de 30 a 50 metros quadrados em média. O processo de documentação das entrevistas permitiu a comparacão entre as diferentes cozinhas, elas foram gravadas e depois transcritas como se pode ler em anexo. Além disso reunimos fotografias, desenhos técnicos do levantamento métrico e desenhos ilustrativos.Os desenhos produzidos permitem uma comparação entre o espaços, organizando esquematicamente
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as funções específicas de cada parte da cozinha, e motrando algumas dimensões importantes para ergonomia. A partir da síntese das informações coletadas foram listadas as principais características do uso dessas cozinhas,assim como problemas, dificuldades e sugestões dos entrevistados. O objeto final foi definido como um mobiliário modular, adaptável aos diferentes espaços observados, uma intervenção de baixo custo para suprir as diversas demandas. O produto deveria se adequar ao perfil de usuário dos entrevistados, ser economicante viável, facilmente transportado e instalado, entre outras coisas. Para segunda parte do trabalho foram determinadas algumas diretrizes de projeto, relacionando qualidades abstratas à características materiais objetivas. Por exemplo, era importante que um móvel de cozinha fosse feito de “materiais que pudessem ser limpos com facilidade”, o que se transformou em “materiais de superfície lisa, resistentes à umidade, sem reentrâncias que possam acumular sujeira ou pó. O mobiliário modular foi desenvolvido através da produção de modelos, sempre que possível em escala real, com materias próximos aos utilizados no protótipo final. A documentação da segunda parte do trabalho descreve as etapas do processo de iteração que resultou no projeto. A partir dos desenhos, anotações de caderno e registros fotográficos foi possível mostrar uma trajetória coerente, com detalhes sobre cada decisão de projeto.O processo justifica as escolhas do projeto, que é descrito com desenhos e imagens de moldelos virtuais. Concluímos com algumas considerações finais sobre os resultados do trabalho e avaliação crítica do processo.
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Parte I 1. Contextualização Histórica Pretende-se estudar como se deu a evolução histórica da cozinha, elencando algumas transformações importantes. Os pontos principais abordados são, como se desenvolveu a preocupação com o planejamento do espaço da cozinha, quem utilizava a cozinha e qual era o papel da cozinha na casa, e como as novas tecnologias contribuíram para as mudanças. Começamos em meados do século XIV, o trabalho doméstico ganhou importância nos Estados Unidos, principalmente quando o país acabava de passar pela Guerra de Secessão, e portanto abolição do trabalho escravo. Catherine Beecher (1800-1878) publicou manuais voltados ao público feminino, enfatizando a importância do planejamento da cozinha e incorporando técnicas de racionalização do trabalho desenvolvidas nas fábricas. Para Beecher, as mulheres tinham um papel importante como educadoras natas, ao instruir as crianças e cuidar do lar, contribuindo para a construção da sociedade. Apesar de destacar o papel da mulher, ela era contra o voto feminino, pois sua atuação política se daria através da educação de homens para que se tornassem livre pensadores, moldando suas idéias. É importante destacar que neste período o desenvolvimento do fogão de ferro compacto, possibilitou que ele fosse incluído na cozinha, pois antes o fogão a lenha ficava do lado de fora da casa ou em cômodos especiais. Isso permitiu a configuração de uma superfície de trabalho contínua, o que segundo as teorias da educação doméstica facilitaria o trabalho das donasde-casa. Outra colaboração importante para o estudo da otimização do trabalho na cozinha foi realizado em 1912 pela norte americana Christine
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Frederick (1883-1970). Observando a rotina do trabalho doméstico, e analisando os percursos percorrido pelas donas-de-casa na cozinha, o chamado “Estudo do fio” procurou rearranjar o espaço de modo que essas distâncias fossem mínimas, trazendo eficiência. O trabalho doméstico tinha uma conotação negativa, pois era associado à escravidão, portanto havia uma reação contra a presença de empregados na casa. Em 1927, a criação de unidades de habitação popular para a cidade de Frankfurt, projetada pelo arquiteto Ernst May (1886-1970) teve como princípios a racionalização e serialização. Influenciada pelas teorias americanas de otimização do trabalho, a arquiteta austríaca Margarete Schütte-Lihotzky desenvolveu o projeto especificamente para mulheres que se inseriam no mercado de trabalho operário, diminuindo o tempo gasto com o serviço doméstico. A casa era entendida como uma máquina de morar, e a cozinha neste modelo se tornava uma máquina de prepara refeições com apenas 6,5 metros quadrados, operada por apenas uma pessoa. Havia uma preocupação com a ergonomia e com a racionalização máxima do espaço. Como se tratava de um projeto para habitações populares em larga escala, era importante que o custo de produção fosse baixo, o que foi possível justamente pela possibilidade de produção industrial do mobiliário. Com cerca de 15.000 unidades fabricadas, o projeto tem grande influência na organização espacial da cozinha contemporânea, com as bancadas de trabalho contínuas, armários suspensos, o aproveitamento total do espaço com móveis sob medida. Mesmo com a inclusão de aparatos tecnológicos como por exemplo a geladeira, e aparelhos elétricos em geral, a estrutura básica da cozinha permaneceu. A popularização dos eletrodomésticos foi um processo intimamente
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ligado a promessa de que eles trariam uma economia de tempo para as donas-de-casa. A eletricidade só se difundiu após a Primeira Guerra Mundial, e sua implementação nas residências estava relacionada inicialmente à necessidade de se aumentar o aproveitamento de energia durante o dia, pois a iluminação das ruas gerava picos de consumo a noite que a tornavam a sua produção não lucrativa. O custo da energia elétricas casas em tarefas cotidianas diminuiria com o aumento da demanda, o que aconteceu apesar dos preconceitos sobre essa nova forma de “combustível invisível”. No início não havia preocupação com a aparência industrial dos eletrodomésticos, pois muitas vezes essas máquinas eram operadas por criados. Conforme não era mais possível sustentar tais empregados, o foco dos fabricantes foi mudando para se adaptar a idéia de que a casa deveria ser um espaço separado, aconchegante e familiar aonde a mulher deveria se dedicar a cuidar da casa pelo valor sentimental desta atividade. A invenção dos novos aparelhos com funções cada vez mais especializadas colaborou para que o trabalho doméstico ganhasse um novo status de arte, distanciando-o do trabalho das criadas. O mito da criada mecânica trazia uma ilusão de que as donas-de-casa eram servidas pelos eletrodomésticos, o que diminuía o constrangimento ao realizar essas tarefas. A busca por eficiência pode ser observada em outros objetos da casa, como nos tapetes removíveis, móveis mais leves que podiam ser movidos para facilitar a limpeza, portas planas que não acumulam sujeira, e armários embutidos. A perspectiva de um consumo em massa justificava um gasto maior com o projeto do aparelho, aos poucos o seu desenho foi aprimorado. Após a Segunda Guerra Mundial a forma dos eletrodomésticos ajudava a transmitir idéias de progresso e modernidade, favoráveis a eletricidade. Na década de 1950, uma resposta à aparência industrial pode ser vista nos projetos da empresa Braun, a batedeira por exemplo, colabora para a diferenciação do
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trabalho, tornando-o nobre. Na década de 40 a General Eletric, empresa de eletrodomésticos, difundiu nos Estados Unidos a configuração do fluxo interno triangular na cozinha dividido entre higienização, cocção e armazenagem. Já nas décadas de 50 e 60 a ampla divulgação através dos novos meios de comunicação, fizeram com que o modelo de cozinha americano, assim como a sua cultura (American way of life) se tornasse um modelo de qualidade de vida. As cozinhas eram espaçosas e muito equipadas, neste período é importante destacar a grande importância dada ao aspecto tecnológico e aos materias de acabamento que demonstravam progresso. A família se reunia na cozinha para as refeições preparadas pela dona-de-casa, o núcleo familiar era bem definido, o que se transformou a partir da década de 60. A divulgação da cultura americana nos meios de comunicação como o rádio, a televisão, o cinema e a propaganda, contribuiu para a formação de um padrão desejado por todo o mundo, e visto como exemplo de qualidade de vida. A partir da década de 60 e 70 a tendência foi a busca por novos materias de revestimento, como a fórmica, o corian, metais e compensados. A cozinha planejada se tornou um objeto de desejo, empresas especializadas ofereciam móveis modulares que apesar da padronização, ofereciam a possibilidade de customização e a idéia de que era possível criar uma cozinha de acordo com o morador. A cozinha como um módulo de mobiliário foi pensada na década de 60 pelo italiano Joe Colombo, que projetou uma unidade móvel com menos de um metro cúbico. As funções básicas eram atendidas por um pequeno fogão, geladeira, tábua para corte, e espaço para armazenamento da louça suficiente para seis pessoas. Em 1972, com a exposição Total Furnishing Unit, Joe Colombo retoma a idéia de que seria possível reunir e compactar todo o mobiliário de uma casa, criando um objeto que ocupava 28 metros
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quadrados. Dividido em três partes, o banheiro, camas e armários, e a cozinha, o projeto não chegou a ser comercializado, tratava-se de uma proposta para o futuro. A entrada mais efetiva das mulheres no mercado de trabalho na década de 60 foi um dos incentivos para a busca de soluções mais práticas na cozinha, já que apesar das transformações sociais, cozinhar continuava sendo considerada uma tarefa feminina. Com a diversidade de configurações familiares, se multiplicam também os possíveis usuários da cozinha. A popularização do forno de microondas e das refeições instantâneas e congeladas transformaram o trabalho doméstico assim como o espaço da cozinha. Era possível produzir uma refeição mais rápido, dispensando todas as etapas de preparo e limpeza. Carlos Lemos especula que “um dia a morada burguesa irá superpondo funções, até eliminar a cozinha, trocando o fogão pela mesa-quente aquecedora de comidas congeladas vindas do supermercado” (LEMOS, p.206,1976). Ao investigar as origens da cozinha burguesa paulista, o autor analisa a separação entre zona de estar e zona de serviço como resquícios do passado escravocrata do país. A cozinha é sempre associada à área de serviço e ao quarto de empregada até em apartamentos, enquanto em outros países não há mão-de-obra disponível para este serviço, além de culturalmente não ser comum. Ao contrário do que se podia imaginar, o microondas e o freezer não chegaram a substituir completamente os meios tradicionais de preparação de refeições. Em alguns casos isso acontece devido á falta de espaço, mas não como uma situação ideal. O crescimento das redes de fast-food, de entrega de comidas prontas também fazem parte deste cenário em que a busca pelo alimento rápido e prático em detrimento da sua qualidade ganha força. Nos últimos anos podemos observar uma tendência contrária, com a valorização de uma alimentação saudável ligada ao culto da boa forma e
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das aparências, eliminando alimentos gordurosos, com excesso de açúcar e sódio característicos do fast-food. Outra tendência são os movimentos de valorização da alimentação, alertando para as consequências deste modo de vida, como por exemplo no filme documentário “Super Size Me”, ou então incentivando a culinária como podemos ver em inúmeros programas de televisão, como o do chefe de cozinha britânico Jamie Oliver. Também há uma tendência a preferir alimentos orgânicos, produzidos localmente, e até criar hortas urbanas que seriam atitudes ecologicamente sustentáveis. Em oposição ao fast-food, ao ritmo frenético das cidades, ao desinteresse das pessoas sobre a procedência dos alimentos, o movimento Slow-food foi criado em 1989 como uma associação sem fins lucrativos, que valoriza as tradições culinárias regionais, a preservação da biodiversidade Nota-se também que a culinária como hobby produz um tipo de cozinha voltada para eventos sociais, que pode ser chamada de “cozinha gourmet”. Em oposição à cozinha das refeições rotineiras, o prazer em cozinhar estaria em criar um momento especial. Como demonstração de status, a elaboração de pratos sofisticados sugere uma cozinha conectada com as áreas de convívio em que se possa se exibir tecnologia, móveis planejados, eletrodomésticos automatizados e ingredientes exóticos. Muitas vezes em apartamentos luxuosos existem duas cozinhas, como se ainda existisse uma separação entre zona de serviço e zona de estar. A partir desse panorama pretende-se estudar a cozinha de um apartamento pequeno, que tem como morador um jovem. Portanto não se trata de um ambiente familiar tradicional em que a mulher dona-decasa assume o papel central na cozinha, ou de uma cozinha como área de serviço para empregadas domésticas ou então de uma cozinha gourmet sofisticada, a multiplicidade de configurações torna necessário um recorte. Ao investigar como se adaptam os usuários dessas cozinhas pequenas, e desenvolver um projeto é preciso considerar a construção deste espaço na história. 15
2. Entrevistas
As entrevistas foram realizadas em abril de 2012 com pessoas selecionadas através de indicações. Primeiro decidimos entrevistar moradores de apartamento com cozinhas pequenas. Depois percebemos que este grupo poderia ser subdividido, então escolhemos como grupo de usuários a ser estudado, jovens de 25 a 30 anos que moram sozinhos e casais sem filhos que se mudaram da casa dos pais recentemente. A definição deste recorte foi consequência das primeiras indicações, e não tanto fruto de uma decisão anterior. Todos os entrevistados haviam completado o ensino superior recentemente, sendo que a maioria se formou em arquitetura. Outra semelhança entre eles é que 4 dos 5 entrevistados moram no centro de São Paulo, todos os apartamentos são alugados e possuem de 30 a 50 metros quadrados aproximadamente. As características particulares da relação que essas pessoas têm com a cozinha serão resumidas em uma síntese, e transformadas em diretrizes para o projeto.Para a entrevista foram feitas algumas perguntas básicas para iniciar uma conversa sobre qual é a dinâmica dos moradores em relação a cozinha. São elas: • Quando você usa a cozinha? • Quantas pessoas podem usar a cozinha simultaneamente? • Você considera que o espaço para armazenagem de alimentos, de utensílios e de louças é suficiente? • Quais são os eletrodomésticos você tem? • O que você gostaria de mudar na sua cozinha? Por quê?
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As entrevistas foram gravadas e depois transcritas, exceto a primeira que por problemas técnicos foi relatada em um texto baseado nas anotações realizadas sobre a conversa. Durante as entrevistas se procurou não interromper as pessoas, para ouvir as questões que surgiam mesmo que estas não seguissem o roteiro de perguntas. Cada entrevista foi realizada no apartamento do entrevistado, portanto ao longo da conversa muitos deles faziam demonstrações sobre o que estava falando, apontavam para objetos e mostravam como era a sua cozinha. Após cada entrevista foi feito um levantamento métrico com as principais dimensões do espaço da cozinha, dos móveis e eletrodomésticos como fogão e geladeira para gerar desenhos técnicos do ambiente. Procurou-se dar mais atenção a volumetria geral da cozinha do que ao desenho particular de cada objeto. O desenho das plantas e vistas servem como base para um mapa esquemático que representa as principais funções de cada área. Os espaços foram divididos entre área de lavagem, área de cocção, área de preparação, armazenamento de alimentos e de utensílios. Por fim, foram feitas fotos da cozinha em diversos ângulos para registrar o espaço como um todo, e para mostrar visualmente os detalhes, como a organização interna dos armários e gavetas. As fotos e os desenhos são um material importante para ilustrar e divulgar as entrevistas e para que se possa realizar comparações entre as diferentes cozinhas. Para analisar as entrevistas primeiro foram selecionados os trechos mais importantes sobre cada uma das perguntas, e em seguida foi feito um resumo das questões principais. Essas etapas procuram consolidar os resultados obtidos, formando um panorama de questões para o próximo passo que seria uma reflexão sobre as características do mobiliário proposto.
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As entrevistas tiveram o papel de trazer demandas reais para o trabalho. Muitas vezes em um exercício de projeto, o programa, os objetivos já estão dados, ou então os critérios de avaliação estão bem definidos. Ao analisar uma situação sem estipular previamente qual seria o objeto produzido, a atenção se volta para entender um problema e decifrar suas causas. Também foi interessante se aproximar das pessoas para analisar a cozinha como um espaço dinâmico, apropriado por cada um de uma maneira, evitando generalizações que poderiam criar um projeto racional e coerente mas desprovido de contexto, como uma casa projetada para um terreno imaginário.
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3. Resultados
• Quando você usa a cozinha? Todos os entrevistados cozinham preferencialmente a noite e não costumam almoçar em casa frequentemente. As duas pessoas que almoçam em casa costumam esquentar a comida já preparada que sobrou de outra refeição, ou que foi trazida já pronta da casa dos pais, ambas trabalham em casa. Os entrevistados também utilizam a cozinha no café da manhã, que descrevem como uma refeição simples e rápida, normalmente composta por pão, frutas e leite, portanto não exige uma preparação elaborada. Alguns entrevistados cozinham no fim de semana e armazenam a comida na geladeira ou freezer para ser consumida durante a semana, pois não têm tempo para cozinhar durante a semana. Muitos entrevistados descreveram que após cozinhar precisam limpar e arrumar tudo, porque por exemplo se fica louça suja, ou lixo acumulado isso compromete todo o ambiente. Um entrevistado descreveu sua cozinha como um acessório, o que faz daquele espaço diferente é a possibilidade de sujar, lavar e molhar, mas não é um lugar para ficar. • Quantas pessoas podem usar a cozinha simultaneamente? A maioria dos entrevistados respondeu que duas pessoas poderiam usar a cozinha simultaneamente, mas com algumas ressalvas. Apesar de ser
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possível, não seria uma situação confortável, porque o espaço de circulação ficaria obstruído dificultando o trabalho. Alguns disseram que uma pessoa pode usar o fogão enquanto a outra pessoa usa a pia, mas não por muito tempo porque um atrapalharia a atividade do outro. Mesmo com estas dificuldades, todos os entrevistados gostam de receber amigos para as refeições em seus apartamentos. Um deles, com a menor cozinha, afirmou que não deixa de convidar pessoas porque a cozinha é pequena. Ao receber visitas, ele pede que elas levem panelas e pratos a mais, portanto é necessário um maior planejamento, assim como na ordem de preparo de alimentos. Na maioria dos apartamentos havia uma mesa multifuncional na sala que também servia para descascar, cortar e misturar os alimentos, criando um local de trabalho, que permitia que mais pessoas pudessem cozinhar simultaneamente, porém separadas. Segundo um dos entrevistados, quando se tem uma cozinha pequena todas as outras mesas da casa viram apoio, o preparo pode ser feito em qualquer outro lugar e depois você leva para o fogão, ou para a pia. Outro entrevistado disse que se a cozinha fosse aberta para a sala seria diferente, porque daria para enxergar quem está na cozinha, permitindo uma maior integração entre as pessoas. No caso sua cozinha não acomodava todos os objetos, a geladeira, o microondas e o armário que funcionava como dispensa ficavam na sala. Duas cozinhas são conectadas a sala e os entrevistados descreveram que a dinâmica do ambiente é diferente da que estavam acostumados na casa de seus pais. Os entrevistados destacam que é possível interagir, conversando com quem está na sala e assistir televisão enquanto cozinha por exemplo. Um deles disse que a cozinha aberta, dividida da sala por um balcão foi um fator decisivo na escolha do apartamento a ser alugado. Quando visitou outro apartamento no mesmo prédio, com a cozinha separada da sala,
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sentiu que ficaria isolado e solitário naquele espaço pequeno. Na maioria dos casos as refeições não são feitas na cozinha, e em nenhuma delas havia uma mesa, exceto na cozinha que era aberta para a sala em que havia um balcão entre os ambientes que permitia que fossem colocadas cadeiras apenas de um lado. Na outra cozinha aberta, o balcão era alto, e não era possível utilizá-lo para preparação de alimentos, também não servia como mesa porque não haviam bancos apropriados. As refeições são feitas na maioria das vezes na sala, na mesa ou no sofá, as vezes é preciso mudar a configuração dos móveis para receber mais pessoas, mas nem sempre é possível que todas se sentem a mesa juntas. Em várias entrevistas eram feitas comparações entre cozinhas pequenas e cozinhas maiores, de casa, a cozinha dos pais, aonde a cozinha tem um papel importante de reunir as pessoas. As diferenças entre a dinâmica das cozinhas maiores foi ressaltada, na maioria dos casos para afirmar que a socialização, e uso da cozinha como espaço de lazer era desejável, mas que a restrição espacial não permitia isso dentro da cozinha, mas não restringia as atividades sociais no apartamento. • Quais são os eletrodomésticos que você tem? Todas as cozinhas tem fogão, geladeira e a maioria delas tem microondas. Dentre os eletrodomésticos portáteis, encontramos principalmente batedeira, liquidificador e mixer. Alguns entrevistados disseram que alguns aparelhos com funções mais específicas que eram menos utilizados, ficavam guardados e acabavam sendo esquecidos nos armários superiores. Algumas pessoas costumam esquentam a comida no microondas, outras no fogão, e dentre os entrevistados dois não possuíam microondas, um deles por opção, e o outro por falta de espaço.
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Encontramos alguns eletrodomésticos com dimensões menores do que o padrão, em uma das cozinhas o fogão tinha apenas duas bocas e um forno pequeno, o que segundo o morador foi essencial para que ele coubesse naquele espaço, este fogão tinha sido deixado pelo morador anterior e pode ser encontrados em algumas lojas, mas não é comum. Alguns entrevistados comentaram que gostariam de ter uma geladeira menor, tipo frigobar, mas após pesquisar os preços optaram por uma geladeira comum, pois esta era mais barata mesmo sendo maior. O freezer também foi considerado um fator importante na escolha da geladeira. Podemos observar através das fotos que em muitos casos o interior da geladeira não é aproveitado completamente. Nos apartamentos com as cozinhas menores não há espaço suficiente para a geladeira, que fica na sala, o que gera desconforto. • Você considera que o espaço para armazenagem de alimentos, de utensílios e de louças é suficiente? Os espaços para armazenamento foram considerados satisfatórios em algumas cozinhas, mas os entrevistados destacaram a importância de ter apenas objetos essenciais. Um dos entrevistados culpou os objetos que eram utilizados esporadicamente pela falta de espaço. Outra questão levantada, foi que os armários para potes de plástico, ficavam desorganizados internamente e era difícil encontrar o que se procurava. Isso também acontecia com os alimentos, que ficavam no fundo das prateleiras e acabavam passando da data de validade, causando desperdício. O que também acontecia dentro da geladeira, pois apesar de conservar os alimentos, muitas vezes eles ficavam escondidos, ou então estragavam porque as quantidades vendidas nos supermercados eram superiores ao consumo.
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Um dos entrevistados disse que se houvesse mais espaço para armários, ele gostaria de separar as louças mais usadas, deixando as menos utilizadas em um armário mais afastado. Segundo ele existe uma louça rotativa, que é lavada após o uso, posta para secar no escorredor, e usada em seguida sem precisar ser guardada no armário. No apartamento com a menor cozinha, o morador preferiu não adicionar armários para não comprometer a iluminação que já era ruim, pois o cômodo não tinha janelas. A falta de iluminação adequada foi citada em outras entrevistas, somente em uma cozinha havia iluminação direta, que não era plena, pois a janela dava para um corredor aberto que conectava os apartamentos. Os ganchos e elementos pendurados foram encontrados em quase todas as cozinhas como uma solução para armazenar panelas, utensílios e temperos. O escorredor de pratos suspenso liberava o espaço da bancada da pia. Em alguns apartamentos o escorredor não era suficiente para a quantidade de louças e panelas, então elas eram colocadas para secar em cima do fogão tampado. Foram encontradas nas cozinhas muitas prateleiras abertas e armários sem portas, o que segundo os entrevistados é prático pois é fácil acessar e ver os objetos, porém têm a desvantagem de não proteger contra a poeira e a gordura que se acumula. A maior parte dos entrevistados prefere fazer pequenas compras durante a semana, ou uma vez por semana, segundo eles porque é uma maneira de controlar melhor o que se tem na cozinha, evitando que os alimentos estraguem ou passem da validade, o que parece acontecer bastante. Isso diminui a demanda por áreas de armazenamento nos armários e geladeira. Os alimentos frescos são frequentemente guardados na geladeira, e raramente em fruteiras abertas.
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Coincidentemente, nenhum dos entrevistados se locomovia de automóvel, o que limitava o volume das compras, apesar de que isso não foi mencionado nas entrevistas. Em quase todas as cozinhas vimos carrinhos de feira encostados na parede, e também observamos que haviam sacolas reutilizáveis para compras, e saquinhos plásticos guardados na cozinha. • O que você gostaria de mudar na sua cozinha? Por quê? Cada entrevistado destacou algo que gostaria de mudar em sua cozinha, alguns planejavam fazer essas mudanças em breve, como comprar uma mesa que servisse de balcão de trabalho, comprar um escorredor de louças novo, ou ter mais gavetas. Outros não pensavam em realmente fazer essas mudanças, por exemplo, gostariam de ter mais armários mas não viam alternativas para que isso fosse possível sem que o espaço se tornasse mais apertado. Foram também levantadas possibilidades de reforma, em dois casos para conectar a cozinha a sala, mas isso não era viável já que os apartamentos eram alugados, e o custo seria alto. Alguns entrevistados afirmaram que não queriam investir em algo que não pudesse ser aproveitado em caso de mudança. Em uma das cozinhas além da geladeira, o microondas, e o armário com alimentos e aparelhos elétricos ficavam na sala, o que foi apontado como um grande problema. Enquanto a maioria das cozinhas tem cerca de 4m² de área, as duas em que a geladeira fica na sala tem 2,5m² e 1,7m² de área, que é o tamanho aproximado de um banheiro.Em quatro das cozinhas não havia nenhuma janela e portanto nem iluminação e nem ventilação natural. Em algumas havia um duto de ventilação mecânica, mas em nenhum caso havia um exaustor, o que foi apontado como um dos problemas, tanto nas cozinhas abertas porque o cheiro se espalha pela casa, quanto nas outras cozinhas porque o cheiro demora para sair.
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Muitas vezes os entrevistados disseram estar satisfeitos com seus apartamentos e suas cozinhas levando em consideração o momento de suas vidas. Outra característica predominante entre os entrevistados é que 4 moram no centro de São Paulo e um no bairro de pinheiros, a localização parece ser essencial na escolha do apartamento, muitos deles vão a pé até o trabalho e ao supermercado. Apesar de ser pequeno, todos os eles tinham entre 35 e 50 metros quadrados, e a quitinete 25 metros quadrados, e segundo os moradores custavam caro em comparação a sua área pois estavam em bairros valorizados, com uma infraestrutura privilegiada. Os entrevistados se mudaram nos últimos anos, portanto as suas considerações sobre o processo de planejamento da cozinha, e a adaptação a esse espaço eram citadas frequentemente. É interessante notar que muitas vezes nos relatos os entrevistados descreviam que mudavam a disposição dos objetos na cozinha de acordo com as necessidades do momento, alguns entrevistados descreveram que colocaram prateleiras em certos locais depois de sentir a necessidade de deixar, por exemplo, os temperos mais próximos do fogão. Em outro caso foram criadas prateleiras estreitas, feitas especialmente sob medida para aproveitar a parede em uma área de passagem sem que esta fosse comprometida, mesmo porque era o acesso para a área de serviço. Observamos que foram criadas adaptações, mudanças e reconfigurações que foram resultado da experiência adquirida com o uso. Portanto através das entrevistas foi possível analisar não só o espaço da cozinha como algo consolidado, mas o desenvolvimento desse espaço mutável como um processo gradual baseado na prática.
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4. Síntese
Através das entrevistas estabelecemos características em comum sobre o uso da cozinha no cotidiano dessas pessoas, assim como os principais problemas encontrados e sugestões para a melhoraria das cozinhas.
Características do uso da cozinha - Uso diário da cozinha, principalmente a noite. - Necessidade de limpeza e organização constante. - Quantidade de objetos restrita pelo espaço. - Compras frequentes, no mínimo uma vez por semana. - Carrinho de feira e sacolas reutilizáveis. - Transporte das compras a pé. - Ganchos e estruturas penduradas nas paredes - Apartamentos alugados. - Cozinha não é um espaço de estar, mas um equipamento. - Armazenamento de comidas prontas na geladeira/freezer. - Uso da mesa da sala para a preparação de alimentos. - Refeições são feitas na mesa da sala, bancada ou sofá.
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Problemas e dificuldades - Não há uma mesa exclusiva para fazer as refeições. - Falta espaço para a preparação dos alimentos. - Dificuldades para usar a cozinha em duas pessoas. - Dificuldade em organizar/acessar os objetos no armário. - Problemas de iluminação e ventilação, falta de janelas. - Falta de espaço para colocar a geladeira na cozinha. Sugestões - Móveis reaproveitáveis em caso de mudança. - Maior integração entre cozinha e sala. - Eletrodomésticos menores do que o padrão - Louças utilizadas no cotidiano mais acessíveis. - Objetos utilizados com menor frequência guardados.
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5. Referências
Ao longo do trabalho, foram reunidas referências de projeto, como uma forma aproximação ao tema, através de produtos desenvolvidos especialmente para cozinhas compactas e com restrições de espaço. Também destacamos exemplos de soluções para mobiliários em geral e projetos de objetos que propõe um uso interessante de materiais. Eles estão organizados nas próximas páginas, formando um leque de influências, com descrições, imagens e um breve relatório sobre as características que foram mais relevantes para este trabalho.
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Minikitchen, Joe Colombo para Boffi, 1963, relançada em 2006. A cozinha sobre rodízios reúne um pequeno refrigerador, um cooktop com duas bocas, gavetas para guardar utensílios e alimentos, uma tábua de corte, uma superfície de trabalho extra retrátil, tomadas para eletrodomésticos e espaço suficiente para armazenagem louças para 6 pessoas. Medindo apenas 910 x 910 x 610 mm este módulo foi criado originalmente em madeira compensada, alumínio e aço, e foi relançado em 2006 em um novo material sintético, composto de minerais e acrílico, o Corian. Como não possue pia, é necessário lavar louçar e alimentos em uma pia convencional existente, fora isso, basta posicionar o módulo e plugá-lo na tomada. A cozinha compacta pode ser utilizada de todos os lados, exigindo um espaço mínimo de circulação em volta, o que dificulda a sua adaptação a ambientes reduzidos, em que a circulação deve ser mínima. Apesar de juntar diferentes funcionalidades em um mesmo produto, o carrinho é mais adequado para pessoas que já tem uma cozinha, mas gostariam de cozinhar também em outros ambientes.
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Cozinhas compactas, Kitchoo. As cozinhas compactas da marca Kitchoo tem diferentes opções, para espaços e demandas diversos e reúnem eletrodomésticos e armários em um único produto. O módulo completo é conectado á rede elétrica e rede de esgoto por profissionais especializados da própria empresa, portanto não é possível mudá-lo de posição. Algumas versões se transformam em armários ou bancadas quando fechadas, pois a estrutura dos armários de Mdf, camufla os eletrodomésticos. Esta solução foi escolhida como um exemplo de cozinha compacta multifuncional que pode ser entregue completa. A menor cozinha disponível no catálogo mede 1580 x 1300 x 650 mm e incluí uma geladeira com freezer, cooktop, pia com torneira retrátil, gaveta e espaço para a lixeira. A solução é boa para situações em que os eletrodomésticos de dimensões padrão não se encaixam no espaço em que se pretende montar a cozinha. Ou então quando é necessário compartilhar funções em um mesmo ambiente, porque a cozinha compacta quando fechada, tem a altura é de 1000 mm, se transformando em uma bancada de trabalho para um escritório.
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Kenchikukago - Mobile Kitchen, Atelier OPA, 2008. A cozinha móvel projetada pelo escritório japonês, inclui uma pia alimentada por um galão de água com capacidade para 10 litros, cooktop elétrico, mesa retrátil, 3 gavetas e iluminação de LED. O módulo ocupa 1,56 metros quadrados e pesa 123 kg quando fechado com 1160 x 880 x 610 mm, e ocupa um espaço de 1700 x 1530 x 1390 mm quando está aberto, procedimento que levaria menos de 30 segundos. Neste caso não há refrigerador, e não há uma descrição sobre o volume de armazenamento das gavetas. O projeto faz parte de uma pesquisa sobre o conceito de “mobiliário arquitetônico” feita pelo Atelier. A idéia é que este tipo de mobiliário segmenta o espaço, provendo funções para o ambiente e pode ser facilmente transportado e modificado. Além da cozinha, também foram projetados um escritório e um quarto de hóspedes dobráveis. A proposta é trazer versatilidade e multifuncionalidade aos espaços, o que pode ser interessante para apartamentos pequenos.
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Kenchikukago, Atelier OPA - Cozinha, escrit贸rio e quarto compactos e m贸veis.
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Magdalena Gravity, Burkhard Schäller.
Esta cozinha é composta por três módulos semelhantes que formam uma bancada, um deles com cooktop na bancada, armazena panelas, temperos e utensílios. A outra tem uma pia, mais acessórios, lixeira e ganchos para pendurar panos, e a última é uma bancada para preparação de alimentos, e armazena louças para 4 pessoas, tábua de corte e facas. Os objetos ficam visíveis, pendurados em uma estrutura leve de arame dobrado que acompanha as suas formas, colaborando para a organização da cozinha. O uso do arame é comum em escorredores de louça, por ser um material resistente, que pode ser lavado, é leve e permite uma diversidade de formas e volumetrias. Os módulos podem ser montados sem o auxílio de ferramentas, e quando desmontados medem 90 x 105 x 70 cm, facilitando o seu transporte. Eles podem ser posicionados próximos a parede ou afastados, criando uma divisão de ambientes. A cozinha pode ser usada em situações temporárias como reuniões, e em ambientes de trabalho.
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Magdalena Gravity, Burkhard Schäller Três módulos montados com utensílios, e desmontados para o transporte.
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Stewart & justin case, Maria lobisch e Andreas näther. Come together, Albrecht seeger e Martin klinke. ( Concurso DMY international design festival berlin, com o tema “1, 2, 3... light kitchen!”, 2010 )
O módulo de cozinha desenvolvido para o concurso de estudantes deveria ocupar apenas 1 metro cúbico, e foi pensado para pessoas que tem um estilo de vida nômade que moram apartamentos com áreas limitadas, discutindo a predominância da configuração estática da cozinha. O primeiro é divido em duas partes, uma se transforma em mesa e a outra contém uma pia, cooktop e armazena louças e utensílios suficientes para cozinhar e servir 4 pessoas. Construída com perfis de ferro e painéis de madeira, a cozinha assume diversas configurações com a ajuda de dobradiçar e tiras de tecido. A segunda proposta apresentada também se abre, a mesa alta com bancos montáveis abriga uma bancada com pia e cooktop que desliza para fora. As gavetas são removíveis e podem ser encaixadas, se transformando em extensões da pia. O que se destaca neste exercício é a necessidade de reduzir a quantidade de objetos, mas também posicioná-los para que haja um aproveitamento do espaço, através de mecanismos colapsíveis. A cozinha compacta qualifica o ambiente mas possibilita que ele seja aproveitado para outras finalidades, se reduzindo a um bloco de volume mínimo.
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Come together, Albrecht seeger e Martin klinke. Stewart & justin case, Maria lobisch e Andreas n채ther.
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Demode - Meccanica System, Valcucine, 2011.
Este sistema de móveis para cozinha é composto por uma estrutura principal em perfis de ferro, conectados sem o uso de colas, o que permite a montagem e desmontagem. A partir de um esqueleto durável e modular, é possível compor armários, gavetas e prateleiras com diferentes acabamentos, como madeira, metal e tecido. Além de ser utilizado na cozinha, pode servir como estante para outros ambientes, e permite expansões. Em outros sistemas de móveis para a cozinha da mesma empresa, a estrutura dos é composta por perfis de alumínio e os painéis de fechamento têm apenas 2 milímetros. O vidro é utilizado devido a sua resistência, facilidade de limpeza e reciclabilidade. A instalação pode ser feita pela empresa ou pelo próprio usuário, para reduzir custos, portanto há uma preocupação em gerar embalagens mínimas, pouco volumosas, que possam ser transportadas sem dificuldades e encaixes de montagem simples. O sistema foi desenvolvido para reduzir o uso de materiais, e todos eles são recicláveis, com uma garantia de que o produto será recolhido e reciclado após o seu ciclo de vida útil.
Valcucine Demode - Meccanica System, mobiliário para cozinha com estrutura montável em aço.
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3D-sink, Toyo Kitchens.
As pias em aço inox permitem a colocação de plataformas em vários níveis, transformando a pia em uma tábua de corte, em uma superfície para lavar e escorrer alimentos, ou em uma continuação da bancada. São diferentes tamanhos, com até 3 alturas diferentes para o apoio das placas móveis, e de diferentes larguras. O material oferece uma boa resistência física e facilidade de limpeza, além disso é moldável o que permitiu por exemplo a criação de detalhes na pia, como os encaixes das superfícies móveis. A proposta parece interessante no caso das cozinhas compactas porque flexibiliza o uso da pia, sobrepondo funções, uma solução semelhante ao que podemos encontrar em cozinhas de veleiros. A pia pode receber diversos acessórios e o trabalho culinário pode ser mais especializado, sem a necessidade de mais espaço físico na cozinha. Outro ponto importante é que a pia se torna um equipamento dinâmico e adaptável, graças a modulação que permite o uso de plataformas retráteis e compartimentos com dimensões compatíveis.
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Toyo Kitchens - Pia em aço inox com superfícies removíveis, linha 4D e 3D.
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Häfele, ferragens para móveis.
Dentre as soluções para os móveis de cozinha, se destacam aquelas que otimizam o espaço interno dos armários e são ergonomicamente eficientes. O acesso aos objetos no fundo das prateleiras pode ser facilitado através das corrediças de extração total, e divisões internas flexíveis, pois são mais adequadas à diversidade de tamanhos dos mantimentos e louças. Para a abertura de armários e gavetas existe um sistema que suaviza o fechamento das portas, reduzindo o impacto, portanto a tecnologia traz conforto. Há uma diversidade de peças articuladoras para armários superiores, que facilitam a abertura para cima, permitindo uma maior mobilidade na cozinha já que a porta aberta não representa um obstáculo. Outro produto interessante é a mesa extraível TopFlex, que quando fechada aparenta ser uma gaveta, e quando aberta amplia o espaço de trabalho com uma mesa em balanço com até 81 cm de comprimento. Depois de avaliar o seu funcionamento na prática, constatamos que o mecanismo de abertura é eficiente e a mesa aberta é muito estável. Concluindo, as ferragens conferem melhores possibilidades de aproveitamento do espaço, e um mobiliário otimizado. Em espaços reduzidos é necessário aproveitar ao máximo o espaço para armazenamento de alimentos e objetos, portanto a organização e facilidade de acesso tornam-se essenciais.
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Häfele - Mesa extraível TopFlex e armário inferior com ferragens Arena Style.
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Abitacolo, Bruno Munari, 1971.
Abitacolo é um móvel para crianças que além da cama reúne prateleiras e caixas na estrutura de treliças metálicas com pintura epóxi. Apesar de não estar relacionado á cozinhas, é feito com materiais que se adaptariam bem a este ambiente, pois podem ser facilmente lavadas e são resistentes. A estrutura funciona também como espaço customizável para brincar e incentiva o uso do espaço de maneira lúdica. A sua configuração final é composta pela estrutura principal, com prateleiras e caixas penduradas, e um colchão que pode ficar em uma das plataformas, que podem ter diferentes alturas de acordo com a modulação. Bruno Munari descreveu brilhantemente o Abitacolo no poema do livro Codice ovvio de 1971, copiado ao lado. Ele serviu de inspiração para o projeto por causa das suas características físicas próximas ao que se definiu na síntese do trabalho, mas também como exemplo de como conceber o conceito do produto. O poema fala sobre o objeto físico mas define principalmente as suas possíveis relações com o ser humano, e além de explicar qual é a utilidade do Abitacolo utiliza metáforas para mostrar que mais do que um móvel ele é um potencializador de atividades para um espaço interativo e mutável.
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Two meters high It’s made of steel with an epoxy skin It’s a structure reduced to the essentials A space delimited and yet open Adaptable to one or two people It can even hold twenty Although this is not recommended because of the difficulty of moving It weights fifty-one kilos It’s two meters wide by eighty centimeters It’s a large object that casts no shadow It’s an inhabitable module It’s a habitat It contains all personal things It’s a container of microcosms It’s a placenta of plastic-coated steel A place to meditate And at the same time A place for listening to music that you like A place to read and study A place to receive visitors A place to sleep A lair, light and transparent Or closed A space hidden in the midst of people A real space your presence renders furnishings superfluous Dust doesn’t know where to settle It’s the minimum but gives the maximum Numbered but unlimited Habitat is the environment Adaptable to the personality of the inhabitant At every moment transformable
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String system, Nils Strinning, 1949.
A sistema de prateleiras String foi criado na Suécia e é comercializado desde 1949 e foi desenvolvida no período pós-guerra para um concurso. As prateleiras podem ser fixadas em uma estrutura metálica em alturas diferentes, existem diferentes acessórios, como módulos de gavetas, e tampos maiores para criar mesas. O sistema tem uma montagem simples, e é transportado em uma embalagem plana e leve. A modulação permite inúmeras combinações de estantes com tamanhos diferentes, que desempenham múltiplas funcões de acordo com o ambiente em que são colocadas. A diversidade de cores e acabamentos também é importante para que o móvel seja flexível e possa agradar muitas pessoas. A lateral da estrutura é como um grid, demarcando as possibilidades de altura da prateleira, e a distância entre eles pode variar de acordo com a largura das prateleiras. O sistema de armazenamento foi projetado por Nils Strinning, depois que o arquiteto criou um escorredor de pratos em arame. Na época, ele colaborou para o nascimento da empresa Elfa de Arne Lydmar, e para o desenvolvimento da pintura do arame com uma tinta plástica. A Elfa existe hoje em dia e é uma empresa referência sobre sistema de armazenamento customizáveis. O sucesso dos sistemas representa as primeiras experiências com móveis de arame para consumo em grande escala e a simplicidade da solução técnica é um ótimo exemplo de móveis duráveis com um desenho que permanece interessante independente das tendências estéticas de cada período.
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Tubular Bells, Studio Iachetti, 2011.
O sistema modular de estantes foi criado para empresa italiana Arthema, e é composto por perfis tubulares de 28 mm de diâmetro que se encaixam e são conectados por peças metálicas. As conexões são produzidas a partir de processos como corte a laser e dobra, permitindo a formação de ângulos entre tubos e cantos de 90 graus.O agrupamento das peças pode gerar estantes com largura, altura e comprimentos praticamente ilimitados. As prateleiras em madeira laminada, ardósia ou chapa metálica, e os tubos podem receber pintura eletrostática de cores diferentes. As prateleiras foram inicialmente criadas para mobiliar lojas de roupas, área em que a empresa atua globalmente. Para isso existem alguns acessórios especiais como um suporte para cabides, todos pensados para serem fáceis de montar, dispensando o uso de cola e de mão de obra especializada para a montagem.
Tubular bells - Estante e peças de montagem.
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Revolver, Studio Henny Van Nisterooy, 2011.
O sistema Revolver foi desenvolvido tanto para ambientes domésticos e espaços comerciais. A estrutura em balanço foi projetada para ser flexível e de fácil manuseio, e as prateleiras são apoiadas em cavilhas de madeira, que por sua vez estão presas na moldura de madeira. Uma característica interessante do móvel é que essas prateleiras metálicas podem ser colocadas em três posições, como prateleira horizontal, recolhida na vertical quando não está sendo utilizada ou em ângulo, se transformando em um expositor de livros ou quadros. O nome Revolver se refere a maneira com que se muda as prateleiras de posição, rotacionando. O projeto foi escolhido como um exemplo interessante de objetos que utilizam madeira e metal. Como está descrito no site do estúdio, a combinação entre os materiais harmoniza o “calor” da madeira, com a robustez do metal. As prateleiras medem 550 por 320 mm e os postes de madeira tem 2 metros de comprimento.
Revolver - Estante.
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Tuca Tuca, Elia Mangia, 2011.
A luminária Tuca Tuca funciona com uma fita de LEDs e tem uma estrutura simples e leve. A madeira torneada recebe um apoio de arame retrátil, uma canaleta que protege a luz presa com um parafuso ajustável. A versão para ser colocada sobre a mesa e a versão de chão são diferentes apenas pelo tamanho das peças, uma mede 45 mm de diâmetro com 450 mm de altura e a outra 50 mm por 1300 mm de altura, quando fechadas. Como são colapsíveis, as luminárias podem ser transportadas com facilidade, outra característica interessante é que a fiação fica recolhida em um rasgo na madeira, aparecendo discretamente na parte superior. O projeto explora possibilidades de intersecção da madeira torneada com componentes como arame, chapa dobrada e fio elétrico de maneira simples. A madeira é um material que pode ser trabalhado com facilidade em oficinas, além de ser leve e ter um custo relativamente baixo quando comparado ao de outros materiais. Estamos acostumados a utilizar a madeira torneada em vassouras por exemplo, mas mesmo assim a madeira muitas vezes é vista como uma opção não sustentável. Ao contrário do que diz o senso comum, principalmente no Brasil, o uso da madeira certificada é importante pois se trata de um material renovável e biodegradável.
Luminária Tuca Tuca de mesa e de chão. Prancha com desenhos do designer Elia Mangia.
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Gummitwist Rack, Nino Gülker, 2012.
Este exemplo foi escolhido pelo uso inteligente da madeira torneada, e por apresentar um sistema de prateleiras sintético com apenas 3 tipos de componentes. A estrutura de madeira de encaixa nas extremidades é conectada por elásticos, assim pode receber as prateleiras: chapas metálicas dobradas nas bordas que não precisam ser fixadas. Quando separados os componentes ocupam um espaço mínimo, o que é ideal para seu transporte. As conexões com elásticos chamam a atenção e podem ser coloridas, e destacam a solução construtiva escolhida, exposta de maneira clara. A facilidade de compreensão da estrutura é importante nos casos em que ela é transportada em partes e deve ser montada pelo consumidor final. As instruções de montagem desta estante são simples, e não é preciso nenhuma ferramenta, além de que a montagem é segura.
Estante Gummitwist com elásticos coloridos e cinza. Detalhes da estante.
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Market Table, Philippe Malouin, 2012.
O projeto da mesa foi orignalmente criado como uma tenda para loja temporária, e é montada sem nenhum parafusos, prego, cola ou qualquer outro tipo fixação. Como é possível observar na perspectiva ao lado, as peças de madeira foram desenhadas para se encaixar, e o próprio sentido das forças que agem sobre mesa fazem com que essas junções se travem. Após o uso ela pode ser desmontada e resiste ao mesmo processo várias vezes, o que não a torna frágil ou instável. A principal característica que levou à escolha deste trabalho, é que ele tirou partido do movimento natural do objeto quando exposto à gravidade para unir as peças, compondo uma estrutura estável. Muitas vezes não é necessário o uso de parafusos e ferramentas, e esta redução de de componentes é desejável quando se pretende montar algo rapidamente, inúmeras vezes. Os móveis desmontáveis para feiras temporárias se assemelham aos móveis desenhados para pessoas que se mudam frequentemente de casa, pois eles devem suportar essas mudanças e ser duráveis.
Perspectiva explodida da Market Table. Detalhes e imagens da mesa.
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Block Table, Simon Legald, 2012.
Block é uma pequena mesa lateral com rodízios produzida em madeira torneada, chapas de aço com pintura eletrostática e rodízios. Medindo 350 x 640 x 500 mm a mesa é simples e funcional, criando espaços de apoio e armazenamento aonde se quer. Como descreve o designer dinamarquês no memorial do trabalho, a essência do projeto é a honestidade, no sentido que torna o produto inteligível e descreve a sua funcionalidade. Para ele, além de ser funcional, um produto também deve corresponder às demandas psicológicas e estéticas. A verdadeira identidade dos objetos estaria na simplicidade, para destacar as demandas que levaram ao seu desenvolvimento, e evitar a adição de detalhes desnecessários.
Detalhes e imagens do carrinho Block.
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Parte II
O objetivo inicial do trabalho era desenvolver um projeto de cozinha compacta completa, porém ao pesquisar referências sobre planejamento de cozinhas e encontramos diversas possibilidades de ação. Algumas pessoas que, por exemplo, acabaram de se instalar no apartamento ou pretendem renovar sua cozinha, poderiam recorrer a essas soluções completas, para facilitar o processo. Ao invés de adquirir cada eletrodoméstico e mobiliário separadamente, poderiam resolver a questão com um único produto. As entrevistas ajudaram na descoberta de outros tipos de demanda, que se aproximam daqueles contextos em especial. Os entrevistados, em todos os casos estudados, se mudaram para um apartamento alugado que já tem pia, e ás vezes armários, e nem sempre precisam comprar eletrodomésticos porque trazem os do apartamento antigo. Portanto nesta situação, uma cozinha completa não seria o mais econômico e nem prático. Separamos então as possibilidades de intervenção de um produto para cozinhas com problemas de espaço reduzido em três tipos, a primeira seria uma cozinha completa, que inclui móveis e eletrodomésticos. A segunda opção, módulos de móveis que se adaptassem aos eletrodomésticos padrão existentes. E a terceira possibilidade é de intervir a partir de pequenos objetos que se adaptem ao ambiente da cozinha já configurada, melhorando suas condições de uso. Como a proposta da segunda parte do TFG é criar modelos para chegar a um protótipo em escala real, decidiu-se que é mais interessante desenvolver um projeto de pequenos objetos de intervenção. Estes objetos serão
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desenvolvidos a partir da síntese das entrevistas, em resposta aos principais problemas e dificuldades encontrados. Levantamos alguns exemplos de objetos possíveis: uma pequena unidade de armazenamento suspensa, um escorredor de louças que liberasse a pia para a preparação de alimentos, uma unidade de armazenamento móvel ou uma superfície que transformasse a pia em bancada de trabalho. Estas idéias partiram da observação de que os entrevistados muitas vezes incrementam suas cozinhas com pequenos suportes, ganchos e prateleiras que não demandam um grande investimento e podem instalados facilmente. Em muitos casos não é possível colocar armários em algumas paredes, mas há espaço suficiente para prateleiras menos profundas. Outros espaços residuais, como por exemplo a parede da área da pia também poderiam ser utilizados para guardar os utensílios de uso frequente. Como a maioria das pessoas entrevistadas mora em apartamentos alugados, e pretende se mudar em alguns anos, é importante que estes objetos possam se adaptar a um nova cozinha. Podendo ser desmontados e reconfigurados sem que isso prejudique o seu uso. Outra diretriz importante é que os objetos devem ser transportados e montados facilmente, sem a necessidade de mão de obra especializada e ferramentas complexas. É interessante que o produto possa ser comprado em uma loja e carregado por uma pessoa a pé, ou então adquirido pela internet, e enviado para sua casa. Portanto o produto deve ser leve, e quando embalado deve ocupar um volume mínimo. Quando desembalado, deve apresentar instruções de montagem simples e intuitivas. A modulação é um aspecto imprescindível para o projeto, a composição do mobiliário em partes confere flexibilidade de dimensões e de versões com acessórios diferentes que se adaptem a cozinhas diversas. Os módulos devem portanto estar de acordo com as dimensões das cozinhas,
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principalmente as medidas que atendem a uma necessidade de conforto ergonômico, como a altura das superfícies de trabalho e de alcance das mãos.Além da montagem simples, a possibilidade de desmontagem seria interessante para casos de mudança de apartamento. A desmontagem, e a restrição ao uso de colas também é interessante para que seja feito o descarte e a reciclagem dos componentes. Na segunda parte do trabalho, foram produzidos modelos e desenhos para o desenvolvimento do objeto. Dividimos o trabalho em etapas, que serão apresentadas em ordem cronológica, para que fique claro o procedimento que levou ao produto final. Em cada um desses capítulos estão agrupados pequenos experimentos ou modelos mais completos, de acordo com os materiais e pricípios construtivos utilizados. Escolhemos como referência o “Método operacional para o desenvolvimento de projetos de cadeiras” desenvolvido pelo Professor Júlio Maia de Andrade, pois apesar de ser específico para cadeiras, se baseia na iteração, e na avaliação de modelos físicos, destacando em cada fase quais deveriam ser as principais preocupações. As etapas propostas por este método são: Primeira etapa - modelos volumétricos em escala reduzida, gerados através de croquis, para definir a volumetria geral. Segunda etapa - Avaliação e redimensionamento dos modelos na mesma escala, considerando os materiais escolhidos. Adequações ergonômicas e avaliação através de demarcações no espaço que representem o objeto. Desenho de vistas e elevações. Terceira etapa - Produção de um modelo estrutural, com componentes, e mecanismos de encaixe, utilizando materiais semelhantes aos que vão ser
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usados no objeto. Modelo em escala diferentes para representar os detalhes. Desenho de vistas e elevações. Quarta etapa - Ajustes e redimensionamento do modelo estrutural, considerando os instrumentos e meios de produção. Desenho de vistas, elevações e cortes. Quinta etapa - Modelo em escala real (1:1,) representando os acabamentos, detalhes, cores e texturas, seguindo os meios de produção propostos. Desenho de vistas, elevações e cortes. O que ocorreu ao longo do semestre foi que muitas vezes os experimentos com materiais não constituiam um modelo com todos os seus componentes e as dimensões exatas em escala. Os percursos do trabalho serão discutidos nas considerações finais, mas o importante é que este método foi escolhido como base, mas não foi rigorosamente cumprido como se pode acompanhar pois o próprio desenvolvimento do trabalho foi de certa forma experimental.
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1. Definição da volumetria
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A volumetria do móvel para a cozinha deveria levar em consideração as dimensões de mobiliário e eletrodomésticos existentes, porém como ele vai ser projetado para ambientes diferentes é importante levar em consideração as medidas mais comuns, se baseando em guias de ergonomia e também nos levantamentos realizados na primeira etapa da pesquisa. Antes de determinar dimensões exatas procurou-se fazer desenhos esquemáticos que representassem uma cozinha padrão. Como podemos ver no desenho ao lado, a cozinha pode ser dividida entre bancadas de trabalho, que muitas vezes estão ligadas á pia e ao fogão, armários sob a bancada, suspensos ou completos do chão ao teto. A estratégia para o aproveitamento do espaço, busca otimizar ao máximo a área de trabalho da cozinha, que seria a bancada e todo o espaço de melhor visibilidade e alcance das mãos de uma pessoa em pé. Nesta área que pode ir de 40 cm a 2 metros de altura, são colocados os utensílios de uso frequente, o que é importante para tornar o trabalho culinário prático. Como normalmente esta área é ocupada por armários e gavetas pensamos em equipar as paredes vazias, de modo que não haja obstrução da largura de passagem e permitindo a ocupação de toda a sua extensão vertical. A partir de 2 metros de altura, poderia ser instalado um volume de armazenamento com maior profundidade para objetos utilizados com menor frequencia e próximo ao piso poderiam ser colocadas lixeiras, sacolas e produtos de limpeza, permitindo um acesso simples para itens que não devem estar tão perto da área de preparação. Decidimos portanto que o móvel teria no máximo 2 metros de altura, e que poderia ser dividido em 4 módulos conectáveis: inferior, altura da bancada, altura do armário suspenso e acima do armário. A largura deveria acompanhar a modulação de 60 cm, mas o móvel deve ser menor para que se encaixe sem a necessidade de adaptações e para que possa transformar uma um espaço mínimo em área útil para armazenamento, enfim, partimos da largura de 30 cm para realizar os experimentos.
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Outra característica a ser levada em consideração, é que qualquer intervenção deveria ser visualmente leve, e não comprometer a iluminação da cozinha. O ambiente não deveria parecer menor do que era antes ou comportar um grande volume de objetos de modo que fique exageradamente sobrecarregado. Selecionamos algumas imagens do levantamento para ilustrar alguns exemplos de modificações realizadas pelos moradores, a maioria delas foi feita depois que os entrevistados se mudaram e já tinham experimentado a rotina na nova cozinha. Essas intervenções foram muito importantes como referências para o projeto, pois representavam o interesse das pessoas em melhorar suas cozinhas, e mostra exemplos de possibilidades que eles encontraram para tal. É importante que o novo mobiliário se adapte, e portanto tenha uma aparência semelhante ao que esse grupo específico de pessoas está acostumado. A cozinha que podemos ver nas imagens é um ambiente informal, e descontraído, com muitas cores e texturas diferentes, é um lugar de lazer, não é como uma Fotografias das cozinhas dos entrevistados.
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cozinha produtiva e asséptica de um restaurante nem como uma cozinha clássica de uma família tradicional. Tentamos incorporar materiais e texturas encontrados para criar um produto híbrido e customizável. Os objetos de arame, e plástico como escorredores de prato, fruteiras e prateleiras suspensas se encaixam nesse contexto, porque são estruturas leves, fáceis de limpar, e podem armazenar um grande volume de coisas. As sacolas de feira e carrinhos estavam presente em todas as cozinhas, feitos de estruturas metálicas leves como perfis tubulares de alumínio e arame, podendo ser armazenados facilmente quando vazios, pois são colapsíveis Essas sacolas de tecido listrado colorido reutilizáveis, se tornaram ainda mais populares nos últimos anos, com a
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proibição da distribuição de sacolinhas de plástico, são fáceis de lavar, resistente e de boa durablidade. Como observamos anteriormente, todos os entrevistados faziam compras a pé em supermercados próximos ou feiras livres. A última diretriz importante para o projeto é criar um objeto dinâmico e multifuncional que possa receber novos acessórios ou então ser deslocado de acordo com a vontade do morador. Módulos poderiam ser adicionados ou removidos, e a altura poderia ser ajustada para comportar volumes diferentes com maior precisão, evitando o desperdício de espaço. Como vimos nas entrevistas, a relação entre a cozinha e a sala é uma questão importante para o seu funcionamento no dia a dia, tanto na hora de preparar os alimentos quanto de servir. Um móvel que conecte os ambientes, como um carrinho, facilitaria a interação entre eles, para levar as louças e comidas para o local das refeições, ou para criar uma superfície de trabalho mais para a preparação que muitas vezes é feita na sala por falta de espaço. Em resumo podemos definir a volumetria do novo mobiliário como módulos para otimização do espaço vertical de 30 cm de largura, com altura dividida em 4 partes de 50 cm que podem ser instalados separadamente, e também estruturas com rodízios de 30 x 30 cm de base e altura modular. As estruturas receberiam ganchos e prateleiras de materiais como arame, madeira ou MDF, e sacolas de tecido plástico.
Imagens do caderno com desenhos e fotografias das cozinhas dos entrevistados.
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2. Arame
Os primeiros modelos fora feitos com arames de 1,5 mm de diâmetro, um material fácil de dobrar com as mãos e de cortar, porém difícil de se transformar em linhas retas e ângulos precisos. A idéia inicial era transformar a parede em um grid em que fossem colocadas prateleiras e ganchos de tamanhos diferentes, assim como um “peg board” de chapa perfurada em que ficam presas as ferramentas de uma oficina, sempre visíveis e prontas para o uso. O grid serve como guia fixado na parede, confgurando uma sequênci modular de alturas e larguras possíveis para o posicionamento dos acessórios. No caso, a grade de arame com pintura epóxi vermelha utilizado era parte de uma prateleira de livros, e mede 300 x 400 mm, divididos em quadrados de 50 mm de 3 mm no centro e de 4 mm nas bordas. As prateleiras seriam suportadas por duas hastes de arame, presas na grade por pequenos ganchos em forma de S, que garantiriam a sua sustentação, servindo como um eixo para que elas rotacionem. A prateleira se apoia nas hastes que são travadas com ganchos, mas quando não está sendo usada, as hastes são recolhidas, e a estrutura ficaria plana, junto a parede. No modelo a prateleira de papel cartão representa uma chapa de metal dobrada, um material resistente, leve e fácil de limpar. Os ganchos em forma de S foram cortados a laser em chapas de acrílico, a sua flexibilidade e desenho preciso permitiam que o encaixe ficasse firme, a sobreposição de peças coladas formava um gancho mais resistente. Testamos também a possibilidade de utilizar prateleiras de chapa metálica dobrada de maneira que fossem transportadas planas e montadas pelos próprios moradores, como nas imagens ao lado em que foi utilizado papel triplex branco.
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Modelo em arame com prateleira em papel cart達o.
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Ganchos S em acrĂlico preto e transparente.
Desenhos do caderno.
Prateleira em papel triplex dobrado.
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3. Arame Tridimensional
A experiência anterior com arame se limitava a compor peças planas, com lados compridos que não apresentavam uma boa resistência, entortando com facilidade. Partimos então para o desenvolvimento de estruturas de arame tridimensionais, pois as dobras em eixos diferentes e pontos de solda a deixavam mais estável. O grid tridimensional, que podemos ver nas maquetes virtuais ao lado, é composto de colunas verticais de arame que são conectadas por um arame que constrói os apoios horizontais. A primeira versão do sistema é semelhante ao String, sistema de estantes apresentado no capítulo das referências de projeto, porém com a diferença de que não são necessários pinos de fixação para a prateleira, elas estariam simplesmente apoiadas. A segunda versão conta com um arame que une as linhas verticais como um espiral, criando reforços diagonais que reforçam a ortogonalidade da peça. Depois foi criada uma terceira versão com a sobreposição dos espirais para criar apoios intermediários. Os modelos foram feitos com o software Rhinoceros, o que permitia um controle maior das formas geométricas e detalhes do objeto, complementando a fase desenho à mão livre. A terceira opção, na imagem inferior da página ao lado foi desenvolvida especialmente com ajuda do programa de computador, porque era possível copiar e reproduzir os componentes de maneira simples, rápida e precisa. Neste modelo, as duas estruturas espelhadas, perpendiculares à parede sustentam prateleiras, que poderiam ser deslizadas para fora como gavetas e retiradas para a limpeza. Com a profundidade de 150 mm, altura modular de 450 mm e largura de 25 mm em cada lateral, a distância entre elas pode
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Modelos virtuais.
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ser variável. As prateleiras apoiadas nas duas extremidades poderiam ser de materiais diversos, porém rígidas para que não escorreguem e se soltem das laterais. Ao buscar uma modulação de largura e altura, e investigar quais materiais poderiam ser interessantes para essas plataformas de armazenamento, encontramos um produto padronizado adequado para a função, como vamos explicar no próximo capítulo.
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Desenhos do caderno..
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4. Cubas Gastronômicas
As cubas Gastronômicas seguem um padrão especificado pelo Comitê Europeu de Normalização através da norma EN 631.1 de 1993 para utensílios de cozinha que entram em contato com a comida, o sistema modular garante a sua compatibilidade com outros equipamentos. O recipiente é utilizado para armazenar, prepara, cozinhar, transportar e servir alimentos, e pode ser feita em aço inox (estampagem), policarbonato ou polipropileno (injeção plástica). As cubas de aço inox são resistentes, suportam temperaturas de -40ºC a 280ºC, resistem a corrosões, são fáceis de limpar por causa de sua superfície lisa e seus cantos arredondados, e não guarda odores. A cuba de policarbonato são utilizadas para armazenamento, principalmente de alimentos frios pois podem ser resfriados até -100ºC, outra característica é que por ser transparente, é fácil identificar seu conteúdo. Já o polipropileno tem aparência menos translúcida, e outras diferenças em relação ao aço é que os plásticos conduzem menos calor, e são mais agradáveis ao tato e não fazem tanto barulho quando em contato. Os três materiais são os mais utilizados em restaurantes, hotéis e buffets para cozinhar e servir no mundo inteiro, são recicláveis e de grande durabilidade. Também existem algumas versões alternativas como as cubas revestidas de material antiaderente, perfuradas, com grelhas, alças e com tampas de fechamento à vácuo. A modulação parte de um retângulo de 530 x 325 mm, que recebeu a denominação de GN 1/1, a partir disso se desenvolvem as outras medidas múltiplas, como por exemplo a GN 2/1 com 530 x 650 mm e GN 1/2 de 265 x 325 mm, dimensões externas, como podemos ver no desenho. Portanto é possível combinar as cubas lado a lado com regularidade de
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tamanhos, assim como emplilhá-las reduzindo o volume de armazenamento. As alturas também são padronizadas, de 20mm a 250 mm, já as tampas e alças por exemplo, são produzidas de acordo com cada fabricante, que para se diferenciarem no mercado criam seus acessórios que conferem qualidades específicas às cubas.
Gastronorm (GN)
Desenhos técnicos com os tamanhos das Cubas Gastronômicas.
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Modelo tridimensional com Cubas Gastron么micas.
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Como o próprio nome já diz, este sistema foi criado para atender as demandas dos serviços gastronômicos, ou seja, relacionados à ciência ou arte da alimentação, culinária, bebidas, alimentação e apectos culturais relacionados. Porém neste caso as cubas e objetos que seguem esta modulação estão voltados para a preparação de alimentos de forma comercial e industral, e não doméstica. A questão que surgiu foi como essa modularidade de padrão internacional poderia ser transformada para o seu uso no ambiente doméstico. O desafio foi pensar em como poderia ser aproveitado este potencial, pois existem muitas indústrias que já fabricam estas cubas, ou seja, não seria preciso produzir novas fôrmas que representam altos investimentos iniciais, mas o sistema não está adaptado para o o uso residencial. Algumas características deste tipo de recipiente se mostraram compatíveis com as estratégias de projeto para cozinha com espaço reduzido, como eles são empilháveis e modulares, poderiam se adaptar a uma variedade de espaços residuais, otimizando o aramazenamento. Os modelos ao lado são testes realizados com o software Rhinoceros, na tentativa de imaginar como poderia ficar a composição de prateleiras formadas por cubas GN de tamanhos variados. As cubas foram pintadas de cores diferentes para poder diferenciar os tamanhos com clareza, e no caso da imagem ao lado foram utilizadas cubas com tamanho padrão de uma mesma altura, 20 cm. Com esse experimento notamos que a reunião delas com tamanhos diversos pode resultar em uma composição graficamente interessante, com um grande potencial para incentivar uma montagem criativa, personalizada. As cubas de 2cm a 6,5cm de altura podem ser utilizadas como prateleiras, as menores para guardar talheres e utensílios, e as maiores para mantimentos, frutas, legumes, ou louças. O projeto do suporte para as cubas deve levar em consideração que elas são rígidas e podem ser apoiadas pelas bordas laterais reforçadas de cerca de 2 cm.
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5. Painel de arame
Partindo do modelo de suporte em arame desenvolvido anteriormente, foi criada uma nova alternativa, que também se baseava na construção de um volume imaginário, com uma estrutura em espiral com linhas horizontais, verticais e diagonais. Na verdade o formato é de dois arames em espiral com sentidos opostos e colunas verticais. Desta vez, ao invés de ser instalado perpendicularmente à parede, o módulo seria colocado paralelo a ela, como um quadro. Como as prateleiras seriam apoiadas só por uma lateral, a outra seria sustentada pos hastes, parecidas com as do primeiro teste feitas de arame. Na imagem ao lado podemos ver que nos cantos tem ângulos de curvatura bastante abertos, e não próximos a 90º como na versão anterior. Os cantos foram mais arredondados para reforçar a idéia de uma espiral, um arame que passa por toda a forma se enrolando, mas quando o modelo estava pronto percebemos que isso também fazia com que a peça fosse manuseada com facilidade, sem enganchar, em outros objetos, e todos os cantos faziam o papel de alça. A face com os arames na diagonal ficaria rente à parede e a que tem arames horizontais serviria como suporte, em contato com as prateleiras. Nas laterais é possível colocar ganchos com utensílios em alturas diferentes, e também fizemos testes com outros tipos de prateleira: uma sacola de feira presa com velcro, plataforma de papel cartão que representa a chapa metálica e também com uma trama de elásticos com ganchos nas pontas utilizada em motos e bicicletas. O modelo apesar ser feito com arame fino, e soldado de maneira não profissional ficou bastante resistente, e sua construção foi importante para o desenvolvimento dos modelos seguintes. O volume da estrutura treliçada
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Modelo em arame, papel kraft e canudos de pvc. Desenho do caderno.
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proporcionava uma boa estabilidade, mas o vazio interno não poderia ser plenamente aproveitado. Mesmo com um módulo de profundidade menor, também notamos que a gradação de alturas das barras de suporte poderia ser ainda mais flexível. Quanto mais subdivisível fosse a altura entre as prateleiras, melhor seria o seu aproveitamento, deste modo a dimensão poderia ser definida diretamente pelo objeto que vai armazenar, evitando disperdícios de espaço. Neste modelo que podemos ver na página ao lado, não é possível colocar prateleiras na parte superior, e a cuba não pode ser puxada para fora como uma gaveta, então para os próximos testes seria melhor colocar apoios como no primeiro modelo, apoiados no suporte, mas não presos. No anexo com os levantamentos das cozinhas dos entrevistados, existe uma página com desenhos esquemáticos dos armários debaixo da pia de cada um. Como o desenho destacou os objetos e o espaço interno do armário através de suas arestas foi possível enxergar que boa parte do espaço fica vazio, e é fácil imaginar que se houvesse uma plataforma intermediária seria possível colocar mais objetos. O acesso a esses objetos em um armário completamente cheio seria complicado, mas se tratando de prateleiras abertas isso não é um problema.
Desenhosdo caderno. Modelo em arame e canudo de pvc com profundidade menor.
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6. Arame e perfil metálico
Nesta nova etapa, depois de ter explorado as possibilidades do arame, partimos para o desenvolvimento de uma estrutura com perfis tubulares metálicos. O tubo é leve resistente, pois como a trama de arame tridimensional, possui um volume estrurural maior, utilizando pouco material para manter sua forma. Com colunas de apoio maiores seria possível encaixar rodízios e pés ajustáveis, para situações em que a estrutura entre em contato com o chão, o que seria complicado na versão só de arame. As travessas de arame tem duas circunferências por onde passam os tubos, e formam um trilho horizontal para as prateleiras. Para que elas ficassem fixas na posição correta, fizemos furos no tubo, com a distância de 5 cm entre eles e 5 mm de diâmetro , e colocamos pinos feitos de massa durepoxi. Para fazer o modelo, optamos por usar uma estrutura pronta, que não representava exatamente o que se queria produzir, mas que funcionou como modelo de teste. Trata-se de um sistema modular para construção de estantes e expositores para loja, composto por tubos metálicos, e conectores de plástico simples de ajustar e prender, produzido pela empresa Gallo. Os pinos foram feitos com massa durepoxi, com formatos diferentes. Percebemos que ao apoiar a cuba no suporte de arame, o seu peso fazia com que o suporte girasse, mas a torção que parecia indesejável na verdade prendia o arame no tubo, fazendo com que ele não caia. Como o arame não era revestido e o tubo tinha pintura epóxi as duas superfícies deslizavam entre si. Também devemos considerar que a forma do arame não era precisa e muitas vezes ficava muito larga para a passagem do tubo.
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Estrutura pronta de perfis tubulares, conectores plรกsticos, com suportes de arame e pvc. Cuba GN 1/3.
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Modelo virtual. Desenhos do caderno. Detalhes do suporte de arame.
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O modelo resolvia muitas questões que surgiram a partir da versão anterior, porém outras ainda permaneciam sem uma solução satisfatória. A modulação de alturas para o posicionamento do suporte de arame de 5 em 5 cm estava garantida, mas como ele ficava preso aos tubos, não era simples removê-los ou colocar um novo, era preciso desmontar toda a estrutura. Além disso os pinos de segurança não são práticos, pois são pequenos e fáceis de perder, essas pequenas peças assim como os furos apesar de serem discretos, são ruídos na composição gráfica da estrutura, e complicam o seu funcionamento. As hastes metálicas que funcionam como tirantes atrapalham o acesso pela lateral aos objetos guardados, seria melhor que ao invés de tirantes, elas se comportassem como uma mão francesa, invertidas. Neste momento não desenvolvemos uma maneira de conectar os tubos, mas imaginamos que entre eles haveriam peça de plástico, presas com parafusos. Essa maneira de prendê-los seria semelhante ao sistema da empresa italiana Valcucine para cozinhas chamado Demode Mecanicca, exposto no capítulo dedicado ás referências de projeto. Os perfis seriam conectados em suas extremidades por outros tubos curvados, como se pode ver no modelo virtual ao lado, e o sistema poderia então se transformar em uma estante com pés ajustávies, ou um carrinho com rodízios. A produção de um modelo real demandaria a perfuração dos tubos, curvatura e produção das peças que seriam de plástico injetado em algum outro material que o represente. Esses procedimentos são simples de executar industrialmente, mas estavam um pouco distantes das possibilidade do Laboratório de Modelos da Fau, por causa de algumas dificuldades técnicas naquele período. Para o próximo modelo restaram ainda alguns desafios: criar suportes mais práticos de instalar e posicionar eliminando os componentes pequenos, modificar as hastes de arame para facilitar o acesso á prateleira e também repensar o tubo metálico, pois a viabilidade de construção do modelo em tamanho real é uma das diretrizes importantes do trabalho.
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7. Arame e madeira torneada
O útilmo modelo tem como característica principal o uso de suportes de arame que se aproveitam do movimento natural da peça para se fixar no apoio. O desenho abaixo pode explicar melhor o mecanismo do que uma descrição com palavras, mas basicamente o que ocorre é que o arame forma dois ganchos de sentidos opostos, quando a carga é colocada uma das hastes funciona como tirante e a outra como mão francesa. Para que fique bem preso o arame deve ter um formato preciso, com ganchos que prendem no tubo, fazendo uma certa pressão, e o atrito entre eles é importante para que o suporte não deslize. Ao contrário do que se pode imaginar a o suporte é mais resistente quando submetido á força de uma carga do que quando está sem peso. O formato triangular foi essencial para que a forma ficasse estável, portanto cada prateleira teria dois apoios nas laterais menores como na imagem ao lado e arames que funcionavam como travas de apoio nas laterais paralelas à parede. O sistema permitia que os suportes girassem, em relação ao cabo, portanto a prateleira manter os ângulos de 90º.
Desenho esquemático do suporte de arame. Modelo da estrutura com cuba GN, caixa de plástico e rede de eláticos.
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Decidimos substituir o perfil metálico tubular por cilindros de madeira, que na verdade são simples cabos de vassoura de 2 cm de diâmetro. A madeira com apenas uma pintura de acabamento tem uma superfície mais porosa que o metal, colaborando para que o arame não escorregue. A madeira também poderia ser furada para receber acessórios como rodízios, e receber diferentes acabamentos, a única coisa que deveria ser diferente é a barra curvada. Mesmo que se possa curvar a madeira torneada este procedimento seria complicado, pelo menos para a execução do modelo, e partimos então para outra solução. Como os cabos verticais devem ficar a alguns centímetros de distância da parede para que se possa prender os ganchos, resolvemos então conectá-los com um outro cilindro na horizontal, mantendo a distância de 30 cm entre eles. A peça de conexão servirá portanto como distanciador e como interface para fixação da estrutura na parede com parafusos. Outra iniciativa para aumentar o atrito entre o arame e a madeira foi enrolar uma fita de pvc no arame, simulando o efeito da pintura eletrostática de tinta epóxi, que é um procedimento industrial. O contato entre os materiais ficou melhor, mas na busca por materiais ainda mais aderentes também testamos encapar os arames com tubos de silicone, o que aumento o atrito significativamente. O único problema foi que o tubo de silicone girava em falso em torno do arame, pois não era do tamanho exato, mas quando trocamos por um tubo de silicone mais fino conseguimos contornar a situação. Com um suporte estável, com apoio nos 4 lados, pudemos criar e testar acessórios para armazenamento flexíves, feitos de tecido, o que era uma das intenções do projeto desde a definição da volumetria. Para se aproximar do universo dos objetos da cozinhas escolhemos um material que já é um velho conhecido das cozinhas brasileiras. A tela de nylon com listras coloridas está em sacolas de feira e também cadeiras de praia,
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Armรกrio da cozinha de um dos entrevistados com sacolas de feira guardadas
Modelo da estrutura com sacola de nylon presa com velcro
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isso justamente porque é fácil de limpar e mais resistente do que tecidos comuns. Fizemos sacolas com este mesmo material, e prendemos elas na estrutura com velcro, que suportaria a tensão quando a sacola estivesse carregada. Além de ser interessante por sua funcionalidade, as cores da tela traziam um colorido familiar, alegre, que condizia com o clima descontraído das cozinhas que visitamos para as entrevistas. A idéia era que o sistema recebesse uma diversidade de prateleiras de materiais diferentes, tornando a estante multifuncional e que este sistema até incentivasse a utilização de outros objetos como prateleira. A interação com o mobiliário seria ativa, sugerindo a sua customização e a criação de novas adaptações baseadas na modulação.Partimos então para o desenho do projeto e execução de Desenho do caderno.
Modelo virtual das estruturas com cubas GN.
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algumas peças do mobiliário para cozinhas. A maquete virtual que podemos ver nas imagens ao lado, foram feitas com detalhes e representam duas formas básicas de composição. A seguir, apresentamos os desenhos técnicos e algumas especificações do projeto final, que também contou com o desenvolvimento de alguns detalhes que ainda não foram mencionados.
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8. Desenhos
Primeiro apresentamos os desenhos das peças separadamente, três tamanhos de suportes de arame, com suas peças retangulares que travam a estrutura, e trava com ganchos com uma dimensão em comum para todos os tamanhos de suporte. Os suportes P, M e G são adequados para as dimensões padronizadas das cubas gastronômicas 2/8, 1/3 e 1/2. As peças de conxão entre os cabos de madeira, também estão detalhadas separadamente, são as peças que vão ser parafusadas na parede para a instalação da estante suspensa, e dar a distância correta entre as colunas. Depois apresentamos o menor módulo posível de ser construído com o sistema com suporte para prateleiras, mostrando como as peças se encaixam. E por fim os desenhos de módulos compostos por mais componentes, para representar a diversidade de composições que pode ser construída.
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VISTAINFERIOR
VISTA SUPERIOR
SUPORTE M VISTA LATERAL
VISTA FRONTAL
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VISTAINFERIOR
VISTA SUPERIOR
SUPORTE P VISTA LATERAL
102
VISTA FRONTAL
VISTAINFERIOR
VISTA SUPERIOR
SUPORTE G VISTA LATERAL
VISTA FRONTAL
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Ret창ngulo P
Ret창ngulo M
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Ret창ngulo G
Trava com Ganchos
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VISTA SUPERIOR
SUPORTE VISTA FRONTAL
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VISTA LATERAL
VISTA SUPERIOR
VISTA SUPERIOR
VISTA FRONTAL
VISTA FRONTAL
SUPORTE CANTOS VISTA LATERAL
SUPORTE CANTOS VISTA LATERAL
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M贸dulo Pequeno VISTA FRONTAL
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M贸dulo Pequeno com Prateleiras VISTA FRONTAL
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M贸dulo Pequeno VISTA SUPERIOR
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M贸dulo Pequeno com Prateleiras VISTA LATERAL
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M贸dulo M茅dio VISTA SUPERIOR
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VISTA LATERAL
M贸dulo Grande VISTA LATERAL
VISTA LATERAL
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Considerações Finais Definir o tema deste trabalho foi um exercício importante para que eu pudesse refletir sobre o processo de desenvolvimento de um projeto. Na maioria dos trabalhos realizados nas disciplinas da graduação, o programa ou as diretrizes eram pré-definidos. O trabalho final de graduação na FAU-USP tem a característica de possibilitar que os alunos escolham os temas e combinem assuntos diversos, o que é uma grande possibilidade para a experimentação. Portanto considero que o resultado final foi satisfatório, não somente pelo projeto de mobiliário em si, mas por todo o desafio que foi buscar os caminhos para a sua criação. As entrevistas e levantamentos foram essenciais para desmistificar o trabalho do designer, mesmo que não tenha rigor técnico, tabelas, gráficos e análises estatísticas. Da mesma maneira, os modelos com diversos materiais também permitiram uma aproximação com o universo da produção industrial. Considero este trabalho como uma tentativa de relacionar o mundo acadêmico da graduação com o trabalho profissional, tentando aproveitar as possibilidades de experimentação da faculdade, sempre tendo em vista o panorama da produção em larga escala e as tendências globais no campo do desenho de mobiliário. Outro desafio foi conciliar os desenhos e conceitos com a sua realização material, com certeza as novas tecnologias de fabricação digital são importantes para tal. Por isso foram escolhidos materiais de fácil acesso, e técnicas de produção simples, para que os modelos fossem mais próximos ao produto final.Espero poder continuar desenvolvendo o projeto pois apesar de todo o processo, ainda há muito o que se projetar e talvez esta seja a sua melhor qualidade, a de ser um projeto aberto. A estrutura pode receber uma diversidade de acessórios, e compor formas diferentes que ainda precisam ser projetadas e aprimoradas, principalente com a interação dos consumidores sugerindo intervenções e adaptações conforme o uso cotidiano.
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Desenho do caderno e modelo da estrutura.
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Bibliografia e Sites
FORTY, Adrian. Objetos de desejo - Design e Sociedade desde 1750. São Paulo: Cosac Naify, 2007. WEY, Elisabeth. A Casa de Todos os Tempos - I Cozinha. São Paulo: Ofício das Palavras Editora, 2007. LEMOS, Carlos A. C. Cozinhas, etc. Um Estudo Sobre as Zonas de Serviço da Casa Paulista. São Paulo: Perspectiva, 1976. MUNARI, Bruno. Das Coisas Nascem Coisas. Lisboa: Edições 70, 1981. HOMEM. Maria Cecília N. O Princípio da Racionalidade e a Gênese da Cozinha Moderna. Revista do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, Junho de 2003, Pós n.13, Universidade de São Paulo. LAUREND, Brenda (editado por). Design Ressearch - Methods and Perspectives. Massachusetts: MIT Press, 2003. Da Silva, João Luiz Maximo. Cozinha modelo: O impacto do gás e da eletricidade na casa paulistana (1870-1930). São Paulo: Edusp, 2008. MOLLERUP, P. Collapsible: The Genius of Space-Saving Design. Chronicle Books Llc, 2001.
116
COLUCCI, José. O design na era da Integração. Dissertação de mestrado, FAU USP, São Paulo, 1988. Orientador Prof. Dr. Décio Pignatari. SPECHTENHAUSER, Klaus. The Kitchen: Life World, Usage, Perspectives. Zurich: Birkhäuser, 2006. ETH Wohnforum, Faculdade de Arquitetura de Zurich. http://www.boffi.com/ http://www.valcucine.com/ http://www.toyokitchen.co.jp/en/ http://www.hafele.com/ http://bsbfg.de/eng/Menueup/Magdalena/01.html http://www.kitchoo.com/ http://www.designboom.com/weblog/cat/8/view/10750/albrecht-seegermartin-klinke-come-together.html http://www.designboom.com/weblog/cat/8/view/10649/maria-lobischandreas-nather-stewart-justin-case.html http://www.atelier-opa.com/category/kenchikukagu/kk-e http://www.string.se/ http://studiohvn.com/741613/products/revolver http://www.arthemagroup.it/ http://www.philippemalouin.com/ http://eliamangia.com/
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Anexo Levantamento
O levantamento métrico de cada cozinha, com plantas, cortes e elevações, estão apresentados em forma de pranchas esquemáticas. Os desenhos apresentam uma classificação das partes da cozinha, áreas dedicadas a lavagem, preparação e cocção de alimentos, e para armazenamento de alimentos e de louças. É interessante observar qual é a proporção que cada uma dessas áreas ocupa na cozinha, e qual é a sua disposição em relação as outras áreas, também é uma maneira de comparar as diferentes cozinhas. Nos cortes e elevações, foram colocados eixos horizontais que representam alturas de alcance humano, e alturas sugeridas para o plano de trabalho e armários suspensos. Já na planta, uma linha conecta o fogão, a pia e a geladeira, configurando o chamado triângulo de trabalho, que foi um conceito criado para avaliar cozinhas baseado na distância ideal entre as principais áreas de trabalho. Essas informações foram encontradas em estudos sobre ergonomia específicos para cozinhas, e são parâmetros de avaliação interessantes para serem visualizados. Nos desenhos foram colocadas anotações, nomeando cada objeto da cozinha, apontando também objetos que fogem das classificações de áreas, como escadas dobráveis, carrinho de feira e produtos de limpeza, por exemplo. Estes objetos podem ser observados com mais detalhes nas fotografias, que são importantes para demonstrar a iluminação da cozinha e dar uma noção espacial mais completa.
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Como a falta de áreas de armazenamento de alimentos e utensílios foi uma das principais questões levantadas nas entrevistas, criamos desenhos específicos para esses armários e compartimentos, com o intuito de fazer comparações. Observamos que muitas vezes estes armários não são bem aproveitado em seu interior, então fizemos desenhos relacionando o volume total do armário e a quantidade de objetos armazenados. Os desenhos, além de registrarem os ambientes, servem como instrumento de análise.
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Análise do aproveitamento dos armários As fotografias dos armários sob a pia mostram muitar características em comum, e como podemos ver nos desenhos esquemáticos ao lado de cada uma delas não são plenamente aproveitados para armazenamento. As imagens que destacam o volume do armário e os objetos que estão dentro é uma forma de análise direta e prática, podemos observar que os armários com mais prateleiras intermediárias e acessórios na porta estão mais cheios.
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Entrevista 3
55
Entrevista 5
120
67,5
Entrevista 1
87
Entrevista 2
68,5
Entrevista 4
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Legenda
Levantamento 1
preparação
armários suspensos cocção
armazenagem
lavagem
área de alcance cadeira de rodas
área de alcance em pé
preparação
armazenagem
geladeira mesa fogão
Área: 1,55 x 1,10 m = 1,70 m2
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alimentos potes sacolas
saco fogão de lixo potes alimentos
geladeira
louças talheres liquidificador
louças talheres liquidificador
filtro
alimentos potes sacolas
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Legenda
Levantamento 2
preparação
armários suspensos cocção
armazenagem
lavagem
área de alcance cadeira de rodas
área de alcance em pé
preparação
armazenagem
geladeira
microondas
armário
microondas
geladeira
Área: 1,84 x 1,38 m = 2,54 m2 Sala: 11,86 m2
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alimentos
carrinho fogão de feira
talheres utensílios
escorredor de louças
lixeira
escorredor de louças
panela temperos
potes louças
- sacolas armário da pia - batedeira liquidificador - produtos de limpeza - temperos
alimentos potes torradeira cafeteira
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Legenda
Levantamento 3
preparação
armários suspensos cocção
armazenagem
lavagem
área de alcance cadeira de rodas
área de alcance em pé
preparação
armazenagem
geladeira
fruteira
escorredor de louças
mesa
Área: 3,4 x 1,2 m = 4,08 m2 Sala: 9,06 m2
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escada fruteira carrinho de feira
butijão de gás
louças panela elétrica batedeira
fogão avental luvas pano de prato
armário da pia - panelas - produtos de limpeza
microondas
gavetas - utensílios - mixer - outros
geladeira
talheres
louças travessas copos cafeteira
geladeira
alimentos temperos liquidificador
fruteira - legumes - panelas
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Legenda
Levantamento 4
preparação
armários suspensos cocção
armazenagem
lavagem
área de alcance cadeira de rodas
área de alcance em pé
preparação
armazenagem
filtro torradeira
utensílios panelas
balcão
Área: 2,6 x 1,48 m = 3,84 m2 Sala: 12,65 m2
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fogĂŁo
panelas louças
alimentos
alimentos
temperos
microondas
escorredor
geladeira
copos alimentos gavetas - talheres - utensĂlios potes
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Levantamento 5 Legenda preparação
armários suspensos cocção
armazenagem
lavagem
área de alcance cadeira de rodas
área de alcance em pé
preparação
armazenagem
armario alto depósito
Área: 2,6 x 1,7 m = 4,42 m2
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fogão temperos
escorredor de louças
escada geladeira vassouras
panelas alimentos
panelas alimentos
alimentos sacolas
temperos
armĂĄrio da pia - botijĂŁo de gĂĄs - batedeira - potes
geladeira
geladeira fruteira
louças alimentos
Armazenamento
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Anexo Entrevistas Entrevista 1 - Tereza Flesch Fortes, 30 anos, arquiteta recém formada. Tereza costuma cozinhar quase todos os dias a noite, porque almoça fora durante a semana e tem o costume de ir ao supermercado várias vezes por semana, quase todos os dias e ao sacolão para comprar frutas e verduras. Portanto ela não precisa de muito espaço para o armazenamento de alimentos, porque a rotatividade é grande. Ela gosta de cozinhar e prefere comer a própria comida, também como uma forma de economizar. Quando cozinha para várias pessoas, é necessário um maior planejamento das etapas de preparação, mas segundo ela não é impossível. A cozinha suporta no máximo duas pessoas cozinhando simultaneamente. As refeições são realizadas na sala de estar, aonde a mesa também serve como lugar de estudo. Ela diz que não sente falta do microondas e gosta de esquentar tudo no fogão. Até ofereceram um microondas, mas ela recusou porque não achou necessário e já se acostumou assim. Ela costuma usar o forno para fazer bolo, e para isso também tem uma batedeira, que ocupa muito espaço. Fora a batedeira o único eletrodoméstico é um mixer que fica pendurado na prateleira. A sua cozinha foi sendo montada aos poucos conforme o uso. Primeiro foram colocadas algumas prateleiras, depois os ganchos, conforme ela sentia necessidade. Ela diz que não sente falta de mais espaço para armazenar
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alimentos e objetos, e que a quantidade reduzida de de louças e utensílios é essencial para isso. A maioria da louça e das panelas são utilizadas freqüentemente. A cesta que armazena os temperos fica logo em cima do fogão, o que foi bom porque ficava mais fácil de acessar, mas ao mesmo tempo suja muito, e fica engordurado. O mesmo acontece com as panelas que ficam na prateleira ao lado, mas ela prefere assim pela facilidade de acesso. Para Tereza seria legal ter um exaustor, mas a circulação de ar é boa por causa da janela do banheiro. A proximidade da cozinha com o banheiro não é uma coisa que incomoda, mas ela imagina que é porque ela mora sozinha, talvez mais de uma pessoa tornaria a situação desconfortável. Como o pé-direito da cozinha é alto, o armário das louças fica bem alto, além disso existem outro armário embutido que serve como um pequeno depósito para coisas que nunca são usadas, para acessá-lo é preciso da ajuda de uma escada, que fica perto da geladeira. Utensílios de limpeza como vassoura, pá e rodo também ficam na cozinha, do lado da geladeira. Não existe uma área de serviço no apartamento, a máquina de lavar fica no banheiro, aonde as roupas são estendidas para secar. Também estava na cozinha, no chão próximo a porta do banheiro uma caixa de ferramentas e algumas outras coisas que segundo ela não estavam em seu lugar original. O lixo é separado, o que é reciclável fica num saco pendurado na prateleira, ao lado de outras sacolas que podem ser reutilizadas. Entrevista 2 - Sandra, que mora com Afonso, ambos recém formados em Arquitetura e Urbanismo.
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- Como é a sua rotina, em que momentos você usa a cozinha? É, eu faço café de manhã. Vou te contando mais ou menos como que a cozinha é usada na casa. A gente acorda então sempre tem café, a torradeira pra fazer torrada, leite e só. Se tiver uma fruta agente come, elas ficam geralmente na geladeira ou naquela cestinha. Essa parte daqui é muito usada [balcão], você está vendo que fica a bagunça porque é o que a gente usa, a pia e aqui pra montar o café da manhã. Hoje por exemplo eu fiz uma vitamina naquela máquina [thermomix], tipo um liquidificador mas que também esquenta, então faz comida mesmo. [...] Eu normalmente não faço almoço, ele [Afonso] também não almoça aqui. Porque se eu fosse fazer o almoço eu ia fazer só pra mim, não dá tempo de fazer. Então eu como num quilo aqui perto. Aí o que eu como a tarde é uma fruta ou faço um sanduíche, tudo muito prático. Eu sou vegetariana, quer dizer, não sou super vegetariana, eu como peixe mas não como muita carne então se eu fico aqui eu teria que fazer uma variedade de legumes e salada que “não rola” sabe. 2:00 O problema maior da gente que acho com alimentação aqui, é que tudo o que a gente compra de saudável estraga rápido. Porque não dá tempo de fazer, tem um mercado aqui perto que tem feira de terça e quarta. Eu fui essa semana passada, mas um terço a gente não conseguiu consumir, porque tem as porções e elas são meio familiares. 2:27 [...] 3:20 Fruta é mais tranqüilo, as vezes eu tenho que comer umas que vão
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ficando mas normalmente elas vão rápido. 3:30 - Vocês fazem compras mais de uma vez por semana? Não. É que depende tem uns “picadinhos”, ontem o Afonso foi na Liberdade e comprou umas coisas. Eu acho que uma vez por semana eu vou no mercado, tem vezes que eu vou duas ou três vezes. 4:10 E também sempre tem umas coisinhas que faltam, coisas pequenas.[Pão de açúcar, Mambo] 5:18 À noite normalmente a gente faz comida. Porque ele gosta de cozinhar, era uma coisa que ele tinha essa rotina antes de eu vir morar aqui com ele então ele sempre gostou de ter esse tempinho. Ele coloca um seriado na televisão, vai fazer a comida e come. E eu na minha casa antes, até hoje, eu não sou muito de querer jantar muita comida, eu prefiro um lanche, ou se tem alguma comida “jovial”, uma macarrão, uma comida mais leve. O café da manhã é o que sempre acontece, eu não consigo ficar sem café da manhã e acho que ele pegou um pouco esse meu hábito, porque antes ele saia sem comer. Eu sou apaixonada por café da manhã, não fico sem. Muitas vezes eu como de almoço o que restou do jantar do dia anterior mas é muito instável a nossa cozinha, tem semanas que a gente faz jantar todos os dias e três almoços, e tem semana que nem jantar nem almoço Porque tem um serviço nesse edifício de uma pessoa entrar e ficar alguns minutos. [Para fazer uma limpeza rápida] O apartamento tem 45, 50 metros quadrados Aqui a varanda é grande,
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se a varanda fosse parte da casa, ele pareceria muito maior. O vizinho tirou esse quartinho, e demoliu também a parede do quarto, então o apartamento dele parece muito grande. Eu acho que como espaço físico é o suficiente, como espaço psicológico não. Porque eu acho que falta assim, o espaço da pessoa querer ter o seu próprio quarto, ter o seu ambiente e ficar. Mas eu acho que um apartamento desse tamanho está ótimo pra duas pessoas. - O que você acha da cozinha ser junta com a sala (cozinha americana)? Eu gosto muito, Eu não me importo com nada, Eu não faço, não gosto de fritura de jeito absoluto, Porque sei lá, quando tudo é muito pequeno, tudo é muito sujo também, tudo suja tudo. [...] Aqui era pra ter um exaustor, parece que as outras pessoas tinham , não um exaustor, mas um negócio pra tirar a gordura. 5:17 Mas assim, depois que esse “movelzinho” veio, eu acho muito útil, porque é isso tem muito tempero tem muito chá, os copos. Antes eles ficavam aqui [armário de cima], e pra mim era difícil pegar os copos, então agora é muito mas tranqüilo, não é muito higiênico porque eles ficam tomando pó, mas como tem poucos então a gente sempre usa os mesmos então eles estão sempre recém lavados. 15:50 A gente fez isso também pra pendurar panelas, porque não tem aonde enfiar as panelas, sabe.Isso aqui também foi uma sacada muito boa [escorredor de louça suspenso], sempre quando a gente desenha [o projeto da] cozinha, a gente desenhava o escorredor [...]. Acho que o microondas está em um lugar bom, acho que tudo está
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em um lugar bom. Pra mim por exemplo eu acho os armários um pouco altos, então tem aquele banquinho aonde está o lixo que eu uso quando eu tenho que pegar alguma coisa ali em cima, mas eu não gosto de pegar o banquinho. 17:00 Aqui por exemplo me dá uma raiva quando eu tenho que pegar prato, porque eu não alcanço muito bem, se eu preciso tirar um que está em cima é meio chato. Isso daqui não deveria existir [móvel entre a pia e o fogão que está sem tampo], é um erro, fica nojento, são coisas que a gente nunca usa na verdade mas se tivesse que usar, fica muito sujo. 18:00 Eu acho que essas coisas de guardar formas você precisa mesmo, as vezes. O problema é que a pedra não vem até aqui ou teria que ter outra pedra que inclusive seria muito bom pra apoiar as coisas. Então foi uma coisa que a gente nunca resolveu porque tinha umas madeiras. 19:10 [ralador, torradeira, pais trouxeram enlatados da Espanha] 25:00 - O espaço que vocês tem pra guardar as coisas é o suficiente? Você sente falta de espaço para guardar as compras ou louça? Não. Aqui por exemplo tem umas louças japonesas que eu gosto, eu gostaria de ter um lugar pra colocá-las, eu acho que daria, sé precisa ter um pouco mais de dedicação. Isso aqui é um saco de guardar porque você tem que empilhar, só que a gente não tem um lugar fechado então fica com pó, e sempre a gente vai usando sempre os mesmos. Essa parte aqui é um desastre, das cumbucas e
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tuppewares e coisas pra salada, é o lugar que mais enche o saco de guardar. [...] O Afonso gosta muito de cozinhar coisas estranhas, ele faz massa fresca, tem uma máquina, tem um negócio pra cortar batata frita. Tem uma panela de fazer Paella [fica na varanda]. Só que como você vai guardar isso numa cozinha desse tamanho? Se fosse uma família maior a única coisa que faltaria, que precisaria comprar seriam taças e copos basicamente. 29:30 [thermomix] Isso aqui ajudou muito a nossa vida [galão de água] porque a gente não tem o suporte. Era um trambolho pra colocar aqui em cima. 34:00 - Vocês comem aqui no balcão? Então isso é um problema aqui, se a gente convida gente pra vir tem que pegar aquela mesa, pegar o pé da mesa, e por umas cadeiras em volta. Só que no dia a dia a gente nunca vai fazer isso então a gente come normalmente aqui no café da manhã, mas eu sento na cadeira, ou na frente do computador. No jantar a gente nunca come no balcão, é sempre no sofá ou em uma cadeira. Ele tem essa mesinha dobrável que ele monta para senta e comer. Ela é bem prática. Entrevista 3 - Carolina, que mora com Carlos, ambos recém formados em História. A gente passa o dia inteiro na rua, não tem tempo pra ficar se organizando. Ao mesmo tempo assim, o bairro é complicado porque é muito caro o aluguel. [...] O apartamento tem 42 metros quadrados, pra gente está muito perfeito nesse momento de vida , que a gente não tem filhos. A gente pensou
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em pagar menos e juntar o dinheiro que sobrar, mas essa coisa de você ter um quarto e fechar a porta, poder receber as pessoas, porque tem gente aqui direto, a gente tem um monte de amigo então eles ficam circulando, dormindo aqui. 2:20 Então a primeira coisa que a gente comprou foi a bicama, pra eles dormirem aqui. Então é bom, a gente está super feliz. Uma coisa que é legal falar é que foi um diferencial gigantesco quando a gente foi alugar, é que tinha um outro apartamento neste mesmo prédio que a gente foi ver que a cozinha era fechada. Eu gostei daquele porque era piso de tacos no chão, só que assim, a cozinha fechada é horrível, diminui muito o espaço e você na cozinha quer se matar, porque você fica sozinha isolada num cubículo minúsculo. Aqui eu fico super feliz, fico ótima, eu fico aqui vejo televisão, eu cozinho, lavo, passo, converso com as pessoas que estão na sala, faço uma pipoca, apoio as coisas nesse balcão, isso foi uma saída que a gente encontrou pra otimizar o espaço. Esses armários a gente pegou da ex casa do meu namorado, a gente encaixou como deu, na verdade no dia que montaram eu não estavam aqui, porque eu não gostei dessa parte aqui, que eu queria aproveitar. Mas esse armário foi bom, essa parte aberta aqui, era pra colocar o microondas. A gente coloca as coisas aqui pra pegar mais de imediato sabe, aqui estão as coisas mais uma dispensa, aqui são tuppewares, copos e pratos, e ali [armário mais alto] a gente põe as coisas que a gente ganhou e não usa, que a gente quer se livrar. E aqui como a gente realmente não tem tempo de pensar na casa, a gente foi colocando a fruteira, aqui são as panelas. As frigideiras a gente achou que iria ficar melhor aqui [penduradas sobre o balcão], e eu sempre quis ter isso.
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E assim, a única coisa que eu sinto falta nessa cozinha mesmo, porque ela é pequena mas é perfeita pra mim, é que eu queria colocar uma bancada aqui [do lado do fogão], e ela tem que ser sem nada em baixo porque aqui tem que ficar o bujão de gás, mas é uma cosia que ainda não deu tempo de fazer. Porque também a casa é alugada então você não investe muito, você fica pensando “ ai depois eu vou ter que tirar”, não quer furar a parede. Então tem que comprar uma coisa que não precise furar a parede, por exemplo, tem que comprar uma mesa que seja vazada, que ocupe a mesma largura do fogão... 7:40 A gente pensou em várias configurações, por exemplo colocar o fogão perto da geladeira, mas o bujão iria ficar na frente. É que a gente morava com os nossos pais antes, então a gente não tinha essa coisa de aonde por o bujão, é uma coisa que a gente nem pensa. 9:37 [bujão gás encanado] A gente fez um chá de cozinha e a gente ganhou tudo de cozinha, não teve nada que a gente teve que comprar, só os eletrodomésticos e móveis. Eu adoro a cozinha, acho que é parte que está mais bem montada da casa. Acho que realmente só precisava da bancada. O resto está me irritando mais porque a gente tem muito livro 11:00 Essa parede é horrível para furar, é difícil para colocar estantes. Estão provavelmente eu vou ter que colocar uma estante separada. Mas só que é assim, aquele problema de apartamento pequeno, tudo que fica no chão a gente não quer, porque no chão ocupa muito espaço, e agente já ta com
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tudo no limite, então a gente queria suspender as coisas, só que como a parede é uma desgraça e a casa não é nossa a gente não quer investir. Eu colei várias coisas na parede com dupla face, todos os quadros. 12:11 - Você cozinha todos os dias? Eu cozinho de domingo terça e quinta, porque são os dias que eu chego cedo em casa. Meu namorado esta fazendo curso todos os dias a noite. Então é muito tenso, eu faço comida pesada de domingo, faço arroz, feijão, congelo, deixo lavada a salada, deixo tudo picadinho. Na terça e na quinta eu faço uma carne ou macarrão, pra dar uma renovada, mas o grosso mesmo eu faço no domingo. Porque é super cansativo, a coisa mais cansativa que tem são essas tarefinhas domésticas. É que a gente não está acostumado, a gente vem da casa dos nossos pais. Quando a gente tem a nossa casa, se eu não fizer que ninguém vai fazer, se eu não fizer não vai ter comida. Cozinhar eu estou gostando muito, uma coisa que eu não gosto é que nos primeiros meses a gente estava fazendo faxina no final de semana. A gente tem o final de semana pra fazer tudo, limpeza, ir no supermercado, feira, tudo. Então a gente estava enlouquecendo. Quando a gente começou a ter aulas de sábado resolvemos contratar alguém [faxineira], que vem uma vez por semana fazer essa faxina grossa. Mas tem coisa que não tem jeito, cozinhar, trocar o lixo lavar roupa, isso a gente faz. Não rola de cozinhar com mais de uma pessoa, quando ficam duas já incomoda. Quando eu estou no fogão e meu namorado está na pia, você fica toda hora querendo ir na pia então já “obstacularizou” o caminho. Mas a gente já fez comida pra outras pessoas, um casal de amigos pra vir comer, amigos que estão dormindo aqui e almoçam com a gente, mas a
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dinâmica da casa é pra duas pessoas, isso fica muito evidente, mais de duas pessoas aqui já começa a atrapalhar. É pro nosso momento de vida agora, nós dois, você recebe os amigos de vez em quando e só. Eu sinto muita falta de um balcãozinho acho que ia ser bom. Mas é engraçado, porque agente vai se adaptando, no começo eu reclamava bastante, mas agora eu acho mais tranqüilo, você vai criando algumas soluções. A gente coloca as coisas aqui pra secar, fecha a tampa, coloca as coisas em cima do fogão. Os ganchos pra colocar as panelas. Esse balcãozinho ajuda muito, de apoio mesmo. Eu sinto falta de um lugar de apoio, porque pra picar um negócio, ás vezes eu vou lá na mesa da sala quando tem que fazer muita força ou quando é uma carne. Quando eu corto no balcão cansa muito porque é em cima, é alto. Uma coisa que a gente pensou antes de vir pra cá, era não fazer uma sala, só um escritório e um quarto, porque a gente precisa muito de ler e estudar. [quarto e escritório] 18:00 A dúvida era ter mesa de jantar ou escrivaninha, então a gente colocaria dois bancos altos no balcão para comer. Mas o problema era por exemplo como receber os pais quando eles fossem jantar em casa. Outro problema que a gente teve, é que a gente queria um banco grande na mesa, mas pra jantar e estudar fica ruim, é melhor as cadeiras. 20:30 [prateleiras, plantas] Entrevista 4
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- Ari, recém formado em Arquitetura e Urbanismo, que mora com Natália, estudanto no mesmo curso. - Como é a sua cozinha? É muito pequena, tem o fogão, e não dá pra ficar duas pessoas aqui, a pia é pequena, então você tem que se acostumar, o preparo da comida tem que ser muito organizado. Você tem que cortar e preparar as coisas tem que estar tudo sempre limpo porque é muito pequeno, então é outro jeito. Se você deixa a louça suja ela já ocupa muito o espaço. 0:51 Que nem hoje de manhã de manhã eu fui esquentar pão, e aquilo ali [prensa elétrica] já pega minha pia inteira. Se eu for cozinha tem que limpar, tirar. Geralmente equipamento de cozinha eu deixo tudo no armário, num lugar perto, quando eu vou usar eu levo pra lá [pia]. Tem panela de arroz, essas coisas. Com uma cozinha pequena, as outras mesas da casa viram apoio, você vai descascar alguma coisa pra cozinhar você faz fora da cozinha, muda a dinâmica da cozinha. O preparo pode ser em qualquer lugar, depois você leva e cozinha. A gente tem dois armários que a gente deixa comida ali [na sala], e lá na cozinha tem um debaixo da pia também que a gente acaba usando. Até daria pra por mais [armários na cozinha] porque o pé direito é grande dá pra por bastante em cima,mas a gente acabou não querendo colocar porque a cozinha já é muito pequena. A gente acabou colocando coisa pra pendurar, tem que aproveitar o espaço do jeito que dá. Eu cozinho toda a noite, mas eu me acostumei. Eu cozinho, termino de comer e guardo o que sobrou se sobrou, e já limpo, porque se não, não pode pra acumular sujeira em casa. Mas todo o dia a gente cozinha, é que é diferente, você está em casa com uma cozinha grande, acaba que você fica
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horas na cozinha, aqui eu não consigo ficar muito tempo. A cozinha vira mais um acessório do que um lugar pra ficar. Quando vem gente, a casa é pequena então o pessoa fica pela casa mesmo. Mas acho que isso é uma coisa de apartamento, normalmente a cozinha é menor então a dinâmica da casa é outra. Numa casa grande o lugar principal provavelmente é a cozinha, todo mundo fica na cozinha. Mas em apartamento a dinâmica é diferente. Tem apartamento aqui [edifício Copan], que o pessoal nem fogão tem, o apartamento pequeno não cabe um fogão direito. O cara tem um microondas e ás vezes um fogareirozinho que o cara usa de vez em quando e guarda, porque aí fica igual eu uso meus acessórios, eu deixo no armário, pra hora que precisar usar. O pessoal tem um fogão elétrico que liga quando precisa e depois guarda. Então a cozinha vira um lugar que você pode sujar, de comida e só isso. Não fica um espaço diferente. A minha cozinha é exatamente assim, o piso é diferente, posso sujar, posso molhar, então eu acabo fazendo aqui, mas não é nada de especial não é um espaço diferente. Eu não faço muito fritura. Aquela ventilação é um shaft que está no banheiro, então ele meio que suga o ar por ali, aqui acaba ventilando bem. 4:55 - Vocês foram montando a cozinha aos poucos? Então, não tinha nada,a gente que montou tudo,colocamos esse negócio de pendurar, já estamos querendo por mais, mas a gente colocou como um jeito de aproveitar melhor. A única coisa que tinha era a pia e aquela prateleira de colocar o filtro mas a gente não usa filtro então a gente usa pra colocar qualquer coisa. E está precisando de mais lugar, o problema maior é que eu não tenho gaveta, talher essas coisas a gente põe num negócio pra
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colocar talher mas não é a melhor coisa possível, se tivesse mais armário seria melhor. E também é ruim por exemplo, toda hora, a cada dois três dias eu tenho que tirar o lixo porque se não o cheiro fica insuportável, mesmo se joga fora um pouco de comida, é tão pequena que em dois dias já fica cheirando. Então eu tenho que limpar toda hora, é diferente, não pode acumular três, quatro pratos sujos você já fica incomodado de ficar ali. É meio complicado mas eu acabei me acostumando. Eu tenho uma louça rotativa e tem uma louça que a gente nunca tira, porque por exemplo, a gente usa dois três pratos e já põe de volta, você não vai usar um outro. Então a gente tem mais louça mas é pra quando vem gente, aí você precisa de mais pratos, mas tem uma louça que é rotativa. Poderia por exemplo, se tivesse mais espaço, provavelmente essa louça que você não usa nunca ficaria num outro armário, você só deixa aqui o que você usa sempre. Quando vem gente você vai no outro armário e tira a louça que precisa. - Você costuma cozinhar com outras pessoas? Até dá se você tiver uma pessoa lavando louça e a outra no fogão, mas você não consegue ficar muito tempo. Se a cozinha fosse aberta pra cá [sala] seria diferente, aqui você nem enxerga que está lá [cozinha]. Entrevista 5 - Bruno, recém formado em Arquitetura e Urbanismo. - Quando você usa a cozinha? Eu cozinho bastante, mas tudo meio básico. Eu cozinho Na janta no almoço
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eu esquento comida, porque ás vezes eu vou na casa da minha mãe trago comida, aí eu esquento. Mas de fazer mesmo é mais janta porque aí não é nada muito pesado é uma coisa mais leve. De manhã eu não uso muito, eu como uma granola. - É possível cozinhar com mais de uma pessoa na cozinha? Já, mas só se for um risoto assim, é a única coisa que dá. No máximo uma pessoa ajuda e fica no corredor e o resto aqui [na sala/quarto]. - Você costuma convidar pessoas para fazer refeições? Sim eu acho tranqüilo o tamanho, antes eu tinha bem menos móveis aí ficava todo mundo no chão era até mais gostoso. Mas aí eu fui tendo móveis, um vizinho meu que era da FAU pegou essas cadeiras que iriam ser jogadas, aí ele me deu. Então como eu tenho bastante cadeira eu chamo mais gente. Eu não deixo de chamar pessoas porque não vai caber. Eu deixo de ter microondas, eu vou deixando de ter equipamentos pra cozinha porque é muito pequena. Mas de chamar gente não. - Você acha que tem espaço suficiente pra guardar as coisas na cozinha? Não, acho que pelo menos um espaço pra geladeira tinha que ter [ a geladeira fica na sala/quarto]. Daí acho que se tivesse espaço pra geladeira na cozinha caberia mais um armário, e seria bom pra uma pessoa sozinha. O armários da cozinha são meio adaptados, acho que eles foram feitos pra banheiro, mas esses são do apartamento já. É que eu não tenho muita coisa, panela eu tenho uma grande, quando eu chamo gente a pessoa traz a panela, já tem que rolar uma preparação. Prato tem uns quatro ou cinco, tem pouquinho. Só tem esse armário, e aqui [prateleiras] tem bastante coisa também. Nada de mais assim, até se eu precisasse eu pensei em colocar uma prateleira ali, mas já tem pouca luz então prefiro não ter. Aí fica esses
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negócios aqui [ travessas com tampa] que são as que a minha mãe me dá pra esquentar, e eu deixo aí [ em cima do filtro de água] pra não esquecer de levar de volta. Mas eu nem poderia ter, não tem espaço, eu tenho um eu acho, e só. [5:10] - Você comprou as louças quando se mudou pra cá? Eu comprei 3, pensei, vai ser eu e no máximo duas visitas. Mas depois eu fui complementando, me deram algumas de presente. Mas nunca cheguei a comprar, sei lá não foi uma coisa muito planejada, por exemplo pra quando vem bastante gente em casa, quando vem eu peço pra trazer coisas. Mas é difícil as pessoas virem pra comer, é mais fazer festa. - Você tem escorredor de louça? Não, tem que secar na hora. Isso é uma coisa que precisaria de espaço também, nossa, eu odeio secar louça na hora. Eu tenho que empilhando aqui, e secar mas eu acho um saco isso. Pra microondas, geladeira e escorredor acho que falta bastante o espaço. Pra cortar coisas eu prefiro ir lá na sala, na mesa e cortar. - O que você gostaria de mudar, considerando que falta espaço pra geladeira? É pra colocar a geladeira precisaria de uma vez e meia esse espaço eu acho. Em outros apartamentos eles reformam e colocam o banheiro virado para o quarto, e acho que eles mudam a pia da cozinha, o banheiro fica um pouco menor. Mas acho que na cozinha não muda muita coisa, é só o banheiro que fica menor. - Você pretende fazer mudanças no apartamento? Não, porque eu alugo, se fosse meu eu com certeza mudaria. Com certeza eu abriria o banheiro para lá [corredor] porque o principal eu acho
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que é falta de ventilação, se você faz alguma fritura. Até funciona bem o shaft de ventilação só que fica um cheiro. A iluminação e ventilação são bem ruins. - Você usa o forno também? É, é um mini forno, eu tive até que amassar as minhas assadeiras pra caberem nele, mas é bem potente até. Se o fogão não fosse pequeno assim, aí seria impossível, com fogão normal não daria. Acho que eu nem teria fogão, ia comprar um microondas só. Quando tem que prepara alguma coisa eu corto lá na sala, depois venho pra cozinha. O fogão mesmo eu só uso mais pra esquentar as coisas, ou quando eu vou fazer é tudo tão simples, tipo arroz, omelete, uma carne. Eu acho que uso mais a frigideira do que a panela. - Você faz compras regularmente? Toda semana, porque como eu não tenho uma dispensa assim, eu compro e fica tudo na geladeira assim. Nem tem muita coisa aqui de dispensa. O que é ruim também porque ás vezes você está com uma fome e não tem nada. Ou tem na geladeira, ou já estragou na geladeira. No começo as prateleiras eram bem ocupadas. Só que, eu conversei até com mais gente que mora sozinha, e você acaba se empolgando, comprando coisas no mercado, depois você não faz e estraga. Então eu prefiro comprar o que eu vou comer na semana e pronto.
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