3° CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIDADANIA, ESPAÇO PÚBLICO E TERRITÓRIO
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Brasil. De 3 à 5 de Novembro de 2021
3° CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIDADANIA, ESPAÇO PÚBLICO E TERRITÓRIO
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Brasil. De 3 à 5 de Novembro de 2021
COMO ESTRATÉGIA DE ATIVAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO DE FLUXO INTENSO
Um estudo do Graffiti e Realidade Aumentada como propostas de requalificação das sobras urbanas ocasionadas pela ferrovia paulista no bairro da Lapa
Profª CAMILA O. GHENDOV
Programa de Mestrado em Arquitetura, Urbanismo e Design Centro Universitário Belas Artes de São Paulo
Essa pesquisa faz parte de uma abordagem dentro de um grande grupo -
Arquitetura,UrbanismoeDesign-comfocoemespaçopúblicoearteurbana, especificamente sobre intervenções de arte imersiva em praças públicas em zonascomerciaisadjacentesàequipamentosdemobilidadeurbanacomfluxo intenso de pedestres. Praças essas que são sobras urbanas, resultantes do traçado da malha viária. Assim, o propósito desta pesquisa é entender de que maneira podemos colocar o cidadão como protagonista de uma
interferêncianoespaçopúblicoamparadospelaarte,tecnologiaedesign deequipamentosurbanos.
Para o filósofo De Certeau existem duas distintas experiências sobre o espaço: a primeira, é uma série de operações, como uma narrativa condicionada que organiza os movimentos de um itinerário a percorrer (“vire à direita”, “retorne”, “atravesse”, etc); associados a uma segunda experiência que supõe um indicação de lugar, limites e possibilidades (“há um muro”, “há uma entrada”,etc).
Figura: Fotografia ilustrativa, Autoria desconhecidaA estrutura do percurso ordenado definido pelas tarefas do cotidiano, pode então ser quebradapor espaços interruptores e formas experimentais de cidade vivenciada.
As ruas devem ter sua vitalidade apoiada em uma conectividade espacial, promover a diversidade de usos, e conceber níveis de conforto e segurança.Outroselementosque auxiliamnodesenhoenaqualificaçãodoterritóriosãoomobiliáriourbanocomelementos que equipam a cidade (bancos, abrigos, iluminação, etc) e a estrutura verde que é responsávelporcontrolaroconfortotérmico. (BAIARDI,Yara.2018)
Figura: Gráficos ilustrativos a partir de pesquisa online feita com 203 pessoas em território paulista, questionando a frequência de uso de espaços público e conforto em praças. Fonte: Camila Ghendov, Julia Soler, Sueli Garcia, Mariângela O. e Roberto Marin Figura: Gráficos ilustrativos a partir de pesquisa online feita com 203 pessoas em território paulista, questionando definição de praças e espaços público. Fonte: Camila Ghendov, Julia Soler, Sueli Garcia, Mariângela O. e Roberto Marin"No universo da cidade caótica contemporânea, autores buscam despertar a população e os planejadores para a importância dos espaços urbanos públicos, primordiais quanto à reconquista dos encontros sociais e políticos, quanto aos diálogos e tensões entre pessoas. Os espaços públicos são os principais elementos urbanos de leitura da cidade. Eles contribuem efetivamente para a compreensão e percepção do usuário ou transeunte, com relação ao espaço urbano."
(TELLES,L.2011)
Figura: Pintura em empena cega na confluência de ruas pedonais em Tarragona, Espanha. Fonte: Acervo pessoal, 2018.A partir de novas tecnologias informatizadas de mapeamento digital de cidades e criação de ambientes virtuais, novas características têm sido apresentadas para designar espaços. Segundo (HUDSON- SMITH, MILTON, DEARDEN,BATTY,2007),ageraçãodessemundovirtualnosobrigaa revisar nossos entendimentos e concepções sobre espaços. Nesse sentido, o mundo virtual atua como espelho do mundo real, sendo possível modificá-lo, redimensioná-lo e transformar qualquer objeto em outro tantas vezes quanto forem necessárias. E algumas tecnologias, como a realidade aumentada contrastam com esse mundo espelho, pois o objetivo é complementar a percepção do mundo físico com a sobreposição de objetosvirtuais(AZUMA,1997).
Imagens: Cidades virtuais. Fonte: HUDSON- SMITH, MILTON, DEARDEN, BATTY, 2007Figura: Vista Rua Doze de Outubro, ao fundo acesso ao túnel com conexão ao bairro da Lapa de Baixo e Estação CPTM. (Fonte: Google Street View, 2021)
Figura: Vista Rua Doze de Outubro esquina com Rua Dr. Cincinato Pamponet, ao fundo acesso ao túnel com conexão ao bairro da Lapa de Baixo e Estação CPTM. (Fonte: Google Street View, 2021)
O professor de design urbano e arquitetura paisagística, Roger Trancik, define que sobras urbanas são: restos de paisagem não estruturada na base de edifícios; terras de ninguém nas margens de rodovias; resquícios de renovação urbana; locais que por qualquer motivo nunca foram desenvolvidos; [...] Mas por outro lado, oferecem inúmeras oportunidades de transformação para que arquitetos e urbanistas aspreenchamdeformacriativa.
Lapa
AcessosubterrâneolinhaférreaeRuaDozedeOutubro (Estado atual)
Figura: Vista Rua John Harrison, ao fundo Rua Doze de Outubro e acesso ao túnel com conexão ao bairro da Lapa de Baixo e Estação CPTM. (Fonte: Google Street View, 2021)fiação elétrica e fachadas deterioradas o único banco uso do canteiro como banco
nova, mas deteriorada
escura e sem iluminação adequada
Se para o antropólogo Marc Augé, os não-lugares da supermodernidade podem ter seu vínculo definido por palavras e painéis que propõem e direcionam o seu modo de usar (AUGÉ, 1994), então os túneis da Lapa e seus acessos, seriam espaços extintos de identidade, ou pontos notáveis apenas pela sua utilidade: a transposição de pedestres sob a linha férrea. Esses são espaços que têm sua vivência restrita às atividades práticas do cidadão com usos e percursos ordenados pelas tarefas do cotidiano, ignorando a experiência do caminhar pela cidade.
Figura: Escadaria de acesso para transposição subterrânea da linha férrea na Rua John Harrison. Fonte: A autora, 2013.“Não seriam estes pontos que mais exigem atenção? Se entendidos como vínculos de um sistema, exigem desenho apurado, para permitir contatos os mais variados. Com a complexidade de atender a diferentes escalas e velocidades, acessos e passagens, esses lugares parecem apontar para uma necessidade de "pontes" e de novos espaços de contatos de tal forma que o caminhar pela cidade possa enfrentar suas diferentes velocidades, entre fragmentos e passagens, e que a conexão não impeça os convívios. E que a escala do mundo não destrua a escala dos lugares. ”
(BOGÉA,M.2006.p.187)
Figura: Escadaria de acesso para transposição subterrânea da linha férrea na Rua Doze de Outubro. Fonte: A autora, 2013.“A arte urbana não se faz mais representar somente pormonumentosenaltecedoresdaclassedominante nem, tampouco, por objetos com intenção única de “enfeitar” partes da cidade. A arte foi às ruas não somente para tirar da crise os espaços públicos e assinalar o descaso com a cidade contemporânea, mas para contribuir na redefinição e apropriação do espaço público.”(TELLES,L.2011)
Figura: Levantamento fotográfico de grafites por Martha Cooper, Estados Unidos, década 70-80.O graffiti pode ser uma ferramenta de imersão com baixa tecnologia, uma vez que, por meio de uma ilustração, ele promove mudanças no microuniverso onde está inserido, incorporando elementos gráficos e paletas de cores em locais não convencionais que proporcionam experiências sensoriais nos pedestres a medida que eles se deslocam nos espaçospúblicos.Aoestabelecera conexãodo graffiti comintervenções digitais, promove-se também ações interativas com os transeuntes nos espaços urbanos, que podem ser feitas com posicionamento de equipamentos de alta tecnologia, como telas, videomapping ou uso de eletrônicos pessoais (smartphones conectados à internet) com aplicações derealidadeaumentada.
Figura 1: Vista aérea do projeto de requalificação urbana Superkilen em Copenhague, Dinamarca.. Disponível em: https://allworldbest.blogspot.com/2014/07/superkilenpublic-park-in-nrrebro-with.html Acesso1. Resolver problemas estruturais sobre fluxos de pedestres na microescalaurbana;
2. Estimular novos hábitos no espaço público a partir de um conceitoartístico-cultural;
3. Estabelecerexperiênciassensoriais;
4. Criar espaços que promovam a permanência, a contemplação, o convíviosocialeoentretenimento;
5. Promover experiências de imersão com base em arte e tecnologia;
abertura de espaços de fluxo; cobertura com desenho contemporâneo e adequado para a situação atual da praça; conexão vertical por meio de equipamentos mecânicos (escada rolante) e readequação de rampa;
árvores de sombra, mobiliários modulares com materiais quente e transparentes; arte e cultura
interação com grafittis existentes; interação com o espaço da praça;
grafiteiros, designers gráficos e desenvolvedores de Realidade Aumentada.
Figura: Exemplo ilustrativo de interação com Realidade Aumentada a partir de marcadores 2D utilizando os grafittis existentes no entorno. Fonte: A autora
Base para Figura: Projeto Graffiti na CPTM. Fotografia Instituto Histórico Geográfico de São Paulo. Disponível em: <http://ihgsp.org.br/evento/passeios-e-bandeira-cultural-coord-prof-jorge-cintra/>
Figura: Intervenção artística no interior da estação Lapa Linha 7-Rubi assinado por Osgemeos e Nina Pandolfo. (Fonte: Website oficial Osgemeos (2004). Disponível em: http://www.osgemeos.com.br/pt/projetos/estacao-lapa-cptm-2/ Acesso em 26/05/2021)
Figura: Protótipo de interação com Realidade Aumentada. A fotografia do painel utilizada como marcador e ilustrações são inseridas no ambiente digital utilizando a plataforma Artivive. (Fonte: A Autora)
a interação em realidade aumentada. (Fonte: A Autora)
Figura: Captura de tela de celular demonstrandoEntende-se que intervenções no espaço público podem receber outros usos e configuraçõesàmedidaqueacomunidadeinterferenolocal.Sugeriressapropostaé importante para trazer a identificação deste espaço e a conexão com pedestres quecirculampelodistritodaLapaepeloentornodasestaçõesferroviárias.
Experiências com realidade aumentada e intervenções com graffiti entram no panorama de expressões artísticas e culturais no espaço urbano que podem ser
financiadas por meio de editais públicos como ProAC e Pro-Mac, ou pelos editais da SPCine que fazem incentivo ao desenvolvimento de conteúdos audiovisuais e tecnologiasimersivas.
Esta pesquisa abre, então, a discussão sobre intervenções não convencionais nos
espaçospúblicos,amparadaspelaarteetecnologia,equepodemseradaptadasa
situaçõesurbanassimilares.
AUGÉ, Marc. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. tradução de Maria Lúcia Pereira. Campinas: Editora Papirus, 1994.
AZUMA, Ronald T; “A Survey of Augmented Reality”. Presence: Teleoperators and Virtual Environments. Massachusetts Institute of Technology. Vol. 6, 1997; 355–385. doi: https://doi.org/10.1162/pres.1997.6.4.355
BAIARDI, Yara Cristina Labronici. Nó de transporte e lugar: dilemas, desafios e potencialidades para o desenvolvimento de um hub urbano de mobilidade. Tese (Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018.
BERTOLINI, Luca; SPIT, Tejo. Cities on Rails: the redevelopment of railway station areas. London: Routledge, 1998.
BOGÉA, Marta Vieira. Cidade errante: arquitetura em movimento. Tese (Doutorado em Projeto, Espaço e Cultura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.
DE CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano: Artes de fazer. 3ª edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
GHENDOV, Camila. Inversão: Indústria Manufatureira versus Indústria Criativa. A arte urbana como estratégia contemporânea sobre o remanescente industrial. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2014.
HUDSON-SMITH, A; MILTON, R; DEARDEN, J; BATTY, M; “Virtual Cities: Digital Mirrors into a Recursive World”. CASA Working Papers 125. Londres, Centre for Advanced Spatial Analysis (UCL). 1-19
MAPA Localidades do Programa WIFI Livre SP na cidade. São Paulo: Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia, [201-]. 1 mapa digital. Disponível em: https://wifilivre.sp.gov.br/. Acesso em: 17 maio 2021.
MEDO na madrugada: Pedestres andam em grupo para evitar assaltos na Lapa. Jornal Bom dia São Paulo, São Paulo, 14 jun. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/pedestres-andam-em-grupo-para-evitar-assaltos-em-tuneis-na-zona-oeste-de-sao-paulo.ghtml. Acesso em: 17 maio 2021.
OLIVEIRA, Maria Clara Mazzo Casarin de. Modificação do espaço e desenho urbano: a futura estação de metrô Santa Maria. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2019.
PIAIA, D. M. Quando a rua vira point: “Práticas juvenis” e pixadores no centro de São Paulo (2017-2019). Dissertação (Mestrado), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo. São Paulo, 2019.
PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO - SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA (São Paulo). CONPRESP - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. Resolução Nº 05/CONPRESP/2009. [S. l.], 16 set. 2009.
TELLES, Luiz Benedito de Castro. Grafite como expressão de arte na paisagem urbana contemporânea: manifestações na cidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2011.
TRANCIK, R. What is a lost space? In: [CARMONA, M.; TIESDELL, S]. Urban design reader. Oxford; Burlington, MA: Elsevier/Architectural Press, 2007.
Profª Camila O. Ghendov
camila.ghendov@belasartes.br
Centro Universitário Belas Artes de São Paulo