Lina Bo Bardi - Casa de Vidro

Page 1

Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Arquitetura História da Arquitetura na Época Contemporânea prof. Alessia Alegri Camila Matos Francesca Scapoli Guilherme Graciano

lina bo bardi

1



indice 5

............. Lina Bo Bardi

9

............. A casa de vidro

13

............. Considerações finais

14

............. Apêndice

17

............. Fotos da maquete

21

............. Oredem cronologica das prinicipais realizacoes e projetos

23

............. Bibliografia

3



lina bo bardi Em 1946, Lina Bo Bardi, juntamente com seu marido Pietro Maria Bardi, partem da Europa pós-guerra e vão para o Brasil, onde encontram “um novo lugar para as utopias”. Eles viam nessa mudança as possibilidades de poder fazer algo novo, tinham a esperança de construir algo moderno, esperança esta que acreditavam não haver no continente europeu daquela época, assolado pela guerra.

1

2

Lina Bo Bardi nasceu em Roma, em 1914, e se formou arquiteta em Milão. Na Itália, trabalhou no escritório do arquiteto italiano Gio Ponti1, que na época era editor da revista Domus. Lina foi diretora da revista Quaderni di Domus2 e exerceu uma intensa atividade editorial. A arquiteta também possuiu escritório próprio na Itália, porém, no período da II Guerra Mundial havia pouco trabalho e seu escritório chegou a ser bombardeado. É devido a estes traumas de guerra, ao clima de destruição e à falta de esperança que via no período pós-guerra que Lina Bo Bardi parte para o Brasil, em 1946, em busca de um lugar onde pudesse concretizar suas idéias. A arquitetura moderna brasileira desenvolve-se entre o “espírito da época” e o “espírito do lugar”, ou seja, entre a vontade de integração ao movimento internacional e o desejo de pertencer a um ambiente e a uma cultura específicos. Lina Bo Bardi encontra, quando chega ao Brasil, um ambiente favorável à arquitetura moderna e às vanguardas artísticas. A produção dos arquitetos brasileiros da época e obras como o Ministério da Educação e Saúde3, projetado por uma equipe de arquitetos liderada por Lúcio Costa4, e com a colaboração de Le Corbusier4, a estimulam a ficar no Brasil.

3

4

“Nada sabíamos a respeito do Brasil quando estávamos na Europa, o que nos empolgou, a nós da geração da resistência, foi a grande arrancada da arquitetura brasileira, Lucio Costa, Oscar Niemeyer, os Roberto e todos os outros. O Ministério da Educação e Saúde guardava o Brasil como um sentinela, com seus jardins, suas caixas d’água azuis, uma saudação fraternal para quem chegava de navio ” Lina Bo Bardi

5


As intenções de Lina Bo Bardi se enquadram neste contexto brasileiro, onde sua obra é um exemplo da dicotomia entre os ideais modernos e as especificidades culturais de cada lugar do Brasil em que projetou. Lina sempre teve uma forte participação política, tanto no Brasil quanto na Itália, onde participou do Partido Comunista clandestino nos tempos de guerra. Essa responsabilidade política e social aparece em seus escritos e em seus projetos e é justificada, em parte, pelo contexto econômico e social conturbado, tanto em Itália como no Brasil, e também por sua consciência social empenhada e seu interesse em diferentes áreas culturais. No Brasil, Lina Bo Bardi, vê várias possibilidades a partir do povo e da arte popular. Ela defende a “instauração de uma cultura nacional”, divulgando “manifestações que exprimam a genialidade do país”5 para além do erudito, que é “oficial e sacralizado”, promovendo a valorização dos jovens e evidenciando manifestações de arte popular e indígena, reivindicando assim, a diversidade cultural que encontra.

5. Todas as imagens desta pagiana referem-­se à exposição Nordeste, que inaugura o Museu de Arte Popular da Bahia

6


Os projetos desenvolvidos por Lina Bo Bardi apresentam uma forte ligação com o lugar onde se encontram. A arquiteta assume uma postura de diálogo entre a arquitetura moderna e as tradições características de cada lugar, valorizando a arte popular e as condições de cada sítio. Seus projetos de maior relevância, apenas para citar alguns, foram: o Museu de Arte de São Paulo (MASP)6, o SESC Pompéia8, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAMB)7, a Igreja do Divino Espírito Santo do Cerrado10 e a casa que construiu para si mesma, a Casa de Vidro9. Cada um desses projetos citados apresenta características diferentes e relacionam-se com o lugar onde estão situados. O edifício do MASP encontra-se elevado sobre quatro pilares devido às restrições legislativas que impediam a construção a partir do rés-do-chão naquele terreno. O SESC Pompéia é um centro cultural que aproveita a estrutura de uma antiga fábrica, onde as intervenções de Lina são pontuais e não agridem a estrutura preexistente, o que acontece também na transformação de um antigo casarão de origem colonial no Museu de Arte Moderna da Bahia. A Igreja Espírito Santo do Cerrado, que é construída com materiais baratos e regionais pelos moradores locais e, a Casa de Vidro, uma arquitetura de caráter moderno, introduzida no meio da mata e relacionando-se com a natureza. Todos esses projetos têm uma forte relação com o lugar e com o contexto social e cultural em que se inserem.

6

7

8

9

10

7



casa  de  vidro,  1951 A Casa de Vidro12 foi construĂ­da em 1951, ano em que Lina Bo Bardi naturalizou-se brasileira. A casa foi projetada para ser a residĂŞncia da arquiteta e de seu marido, Pietro Maria Bardi. Foi uma das primeiras casas a ser construĂ­da no bairro paulistano do Morumbi, que naquela ĂŠpoca ainda mantinha uma parte remanescente da Mata Atlântica. A casa ĂŠ considerada “a primeira casa ‘moderna’ na mataâ€?11. É a obra com maior repercussĂŁo internacional de Lina Bo Bardi, pois faz referĂŞncia aos elementos mais caracterĂ­sticos da arquitetura moderna, adaptando-os Ă s condiçþes locais. Encontra-se no projeto a estĂŠtica corbuVHDQD FRPR D MDQHOD HP Ă€WD H RV SLORWLV H D OLQJXDJHP UHĂ€QDGD H DSXUDGD prĂłxima das produçþes de Mies Van Der Rohe. 2 FiOFXOR HVWUXWXUDO p GR HQJHQKHLUR 7XOOLR 6WXFFKL H D HVWUXWXUD HVEHOWD IRUPDGD SRU Ă€QRV SLODUHV IHLWRV GH WXERV H SRU ODMHV GH FRQFUHWR DUPDGR vedados por cristal, sĂŁo um exemplo Ăşnico, pois foi feita de acordo com o DQWLJR ´&yGLJR GH 1RUPDV %UDVLOHLURÂľ TXH SRVWHULRUPHQWH IRL PRGLĂ€FDGR com base em normas europĂŠias, tornando impossĂ­vel, atualmente, que esse tipo de estrutura fosse construĂ­da. Essa estrutura leve15, que toca o terreno HP SHTXHQRV SRQWRV MXQWDPHQWH FRP RV JUDQGHV SODQRV GH YLGUR GHPRQVWUDP R UHVSHLWR TXH /LQD WHYH FRP R OXJDU D YRQWDGH GH PRGLĂ€FDU DR PtQLmo o local de implantação da casa, e a relação que a arquiteta buscou entre D KDELWDomR H D SDLVDJHP QDWXUDO

11.  Todas  as  imagens  desta  pågina  são  croquis  de  Lina  Bo  Bardi  feitos  para  a  sua  habitação

9


Lina Bo Bardi dizia que a casa serve como refugio e proteção, mas ao mesmo tempo, não deixa de participar do ambiente onde se encontra13,14. A vegetação participa da arquitetura e a mata assume um papel interativo com a habitação, onde a paisagem esta presente no interior da casa. Além desse pensamento poético, a proximidade das árvores é fundamental para o conforto térmico da construção, já que estas mantém em sombra as superfícies envidraçadas e mantém o ambiente úmido e em temperaturas agradáveis, compensando assim, a utilização de materiais com pouca resistência térmica em climas tropicas, como o vidro. A Casa de Vidro16 é uma obra que expõe o paradigma do compromisso da importação de uma vanguarda arquitetônica surgida na Europa e a adaptação de seus modelos às circunstâncias culturais, paisagísticas e sociais do local. Esta atitude acompanha toda a obra de Lina Bo Bardi, que dirige seu partido arquitetônico reconhecendo a cultura tectônica do lugar.

12

13

10

14

15


16. Todas as imagems de esta pagiana sao do interior da Case de vidro

11



considerações êQDLV Lina demonstrou ao longo de seus trabalhos, que a arquitetura tem que ter uma atitude modesta, tem que se preocupar com os modos de vida do povo e procurar resolver, por meios técnicos, as dificuldades sociais e cotidianas. A obra de Lina Bo Bardi defende uma visão crítica da arquitetura e das potencialidades naturais do lugar e do “ambiente humano”. Para Lina, o arquiteto deve ter a humildade e consciência de privilegiar a adequação do projeto ao lugar e às necessidades sociais e culturais, do que impor uma vontade formal ou estilística, quase sempre artificial e deslocada. O grande legado de Lina Bo Bardi para a arquitetura é sem dúvida, seu “olho antropológico” que permitiu a valorização da expressão popular e das técnicas construtivas locais, baseada na pesquisa antropológica e social. Eu acho que se pudesse tentar entender qual foi a grande contribuição da Lina para a arquitetura, eu arriscaria dizer que, a grande contribuição é a introdução do olho antropológico no fazer arquitetônico. Esse olho que vai e vê lá no fundo como é que as pessoas vivem; como elas se organizam; como elas se comportam. Essa capacidade única de entender as pessoas na maneira de viver, na maneira de ser, aliado a uma poesia enorme, uma poética enorme, a uma vontade de sonhar tão grande e de construir um mundo novo, fez com que a Lina tivesse feito uma obra tão forte como essa, uma obra que não é grande em volume, mas é de uma força descomunal. Marcelo Ferraz

13


apĂŞndice desenhos tĂŠcnicos [plantas e corte]

14


15



fotos da maquete

17


18


19



ordem cronológica 1960

principais realizações e projetos

t i»QFSB EF USÐT UPTUÜFTw DFOPHSBĕB 5FBUSP $BTUSP "MWFT 4BMWBEPS #BIJB

1947

t *OEVTUSJBM %FTJHO EF KØJBT iTFNJQSFDJPTBTw CSBTJMFJSBT t ."41 SVB EF BCSJM 4ÍP 1BVMP 41 t &EJGÓDJP %JÈSJPT "TTPDJBEPT 3VB «MWBSP EF $BSWBMIP 4ÍP 1BVMP 41

1950

t i)BCJUBU 3FWJTUB EBT "SUFT OP #SBTJMw 4ÍP 1BVMP 41

1951

t 5SBKFT QBSB VN EFTĕMF EF NPEB OP ."41 4ÍP 1BVMP 41 t #BSEJ T #PXM DBEFJSB

t $BTB EF 7JESP .PSVNCJ 4ÍP 1BVMP 41 t .VTFV Ë CFJSB EP 0DFBOP 4ÍP 7JDFOUF 41

1955-­1957

t 3FEBÎÍP EB UFTF $POUSJCVJÎÍP 1SPQFEÐVUJDB BP &OTJOP EB 5FPSJB EB "SRVJUFUVSB

1957

t $PODVSTP QBSB .PCJMJÈSJP $BOUá *UÈMJB

1961

t i$BMÓHVMBw DFOPHSBĕB F ĕHVSJOPT 5FBUSP $BTUSP "MWFT 4BMWBEPS #BIJB

1962

t $POKVOUP EBT "SUFT 3VB 1BNQMPOB 4ÍP 1BVMP 41

1963

t .VTFV EP .ÈSNPSF .POUF "MUJTTJNP $BSSBSB *UÈMJB

1965

t .VTFV EP *OTUJUVUP #VUBOUÍ 4ÍP 1BVMP 41 t 1BWJMIÍP OP 1BSRVF -BHF 3JP EF +BOFJSP

1968

t i" $PNQBEFDJEBw DFOPHSBĕB ĕMNF EF (FPSHF +POBT

1969

t i/B 4FMWB EBT $JEBEFTw DFOPHSBĕB F ĕHVSJOPT 5FBUSP 0ĕDJOB 4ÍP 1BVMP 41 t i" .ÍP EP 1PWP #SBTJMFJSPw FYQPTJÎÍP ."41 4ÍP 1BVMP 41

1957-­ 1968

1971

1958

1975

t ."41 "WFOJEB 1BVMJTUB 4ÍP 1BVMP 41 t $BTB 7BMÏSJB 1 $JSSFMM 4ÍP 1BVMP 41 t $BTB EP $IBNF $IBNF 4BMWBEPS #BIJB t $BTB .ÈSJP $SBWP 4BMWBEPS #BIJB

1959

t .VTFV EF "SUF .PEFSOB EB #BIJB 4BMWBEPS #BIJB t 4PMBS EP 6OIÍP .VTFV EF "SUF 1PQVMBS 4BMWBEPS #BIJB

t i(SBDJBT 4F×PSw DFOPHSBĕB 5FBUSP 5FSF[B 3BDIFM 3JP EF +BOFJSP 3+ t $BNVSVQJN $PNVOJEBEF $PPQFSBUJWB 1SPQSJÈ 4FSHJQF

1976-­1982

t *HSFKB &TQÓSJUP 4BOUP EP $FSSBEP 6CFSMÉOEJB .JOBT (FSBJT 1977 t 4&4$ 1PNQÏJB 4ÍP 1BVMP 41 1978 t $BQFMB 4BOUB .BSJB EPT "OKPT *CJÞOB 41

21


1971

t i(SBDJBT 4F×PSw DFOPHSBĕB 5FBUSP 5FSF[B 3BDIFM 3JP EF +BOFJSP 3+

1975

t $BNVSVQJN $PNVOJEBEF $PPQFSBUJWB 1SPQSJÈ 4FSHJQF

t $BTB EP #FOJO 4BMWBEPS #BIJB -BEFJSB EB .JTFSJDØSEJB 4BMWBEPS #BIJB

1988

1976-­1982

t $BTB EP 0MPEVN 4BMWBEPS #BIJB t i«GSJDB /FHSBw FYQPTJÎÍP ."41 4ÍP 1BVMP 41 t $FOUSP $VMUVSBM EF #FMÏN -JTCPB 1PSUVHBM

1977

1989

t *HSFKB &TQÓSJUP 4BOUP EP $FSSBEP 6CFSMÉOEJB .JOBT (FSBJT t 4&4$ 1PNQÏJB 4ÍP 1BVMP 41

1978

t $BQFMB 4BOUB .BSJB EPT "OKPT *CJÞOB 41

1982

t %FTJHO OP #SBTJM )JTUØSJB F 3FBMJEBEF FYQPTJÎÍP 4&4$ 1PNQÏJB 4ÍP 1BVMP 41 t .JM CSJORVFEPT QBSB B DSJBOÎB CSBTJMFJSB FYQPTJÎÍP 4&4$ 1PNQÏJB 4ÍP 1BVMP t .VTFV EF "SUF .PEFSOB 1BSRVF EP *CJSBQVFSB 4ÍP 1BVMP 41

1984

t $BJQJSBT $BQJBVT 1BV B 1JRVF FYQPTJÎÍP 4&4$ 1PNQÏJB 4ÍP 1BVMP 41 t 5FBUSP 0ĕDJOB 4ÍP 1BVMP 41 DPN &ETPO &MJUP

1985

t i&OUSFBUP QBSB DSJBOÎBTw FYQPTJÎÍP 4&4$ 1PNQÏJB 4ÍP 1BVMP 41 t i6CV 'PMJBT 1IZTJDBT 1BUBQIZTJDBT F NVTJDBFTw DFOPHSBĕB F ĕHVSJOPT 4ÍP 1BVMP 41

1986

t 5FBUSP 1PMZUIFBNB QSPKFUP +VOEJBÓ 41 t $FOUSP )JTUØSJDP EB #BIJB 1MBOP EF 3FDVQFSBÎÍP 4BMWBEPS #BIJB

22

1987

t $BTB EP #SBTJM 6JEÈ #FOJO t 'VOEBÎÍP 1JFSSF 7FSHFS 4BMWBEPS #BIJB t 5FBUSP EBT 3VÓOBT $BNQJOBT 41

1990

t &TUBÎÍP (VBOBCBSB $FOUSP EF $POWJWÐODJB 6/*$".1 $BNQJOBT 41

1991

t i1BWJMIÍP EP #SBTJMw &YQPTJÎÍP 6OJWFSTBM EF 4FWJMIB &TQBOIB t $FOUSP EF $POWJWÐODJB 7FSB $SV[ 4ÍP #FSOBSEP EP $BNQP 41

1990-­1992

t /PWB TFEF EB 1SFGFJUVSB EF 4ÍP 1BVMP OP 1BSRVF %PN 1FESP **


ELEOLRJUDĂŞD ...........

FERRAZ, Marcelo Carvalho (coordenador editorial), Lina Bo Bardi. 3ª edição: 2008 São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006

*OTUJUVUP -JOB #P F 1JFUSP .BSJB #BSEJ XXX JOTUJUVUPCBSEJ DPN CS *TUJUVUP 6OJWFSTJUBSJP EJ "SDIJUFUUVSB EJ 7FOF[JB XXX JVBW JU --"3&/" $BSMPT + (PNFT -JOB #P #BSEJ B NPEFSOJEBEF GFNJOJOB in : ARQ/A: revista de arquitectura e arte. Ano 4. N° 23 . Lisboa. (jan-fev 2004) p. 14-15. 36#*/0 4JMWBOB PSH -JOB QPS FTDSJUP 4�P 1BVMP &E $PTBD /BJGZ ...........

SIMĂƒO, Catarina Braga; BARRANHA, Helena Silva, Lina Bo Bardi e a Arquitetura no Brasil. -JTCPB '"65-

23


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.