UNIVERSIDADE VILA VELHA ARQUITETURA E URBANISMO
CAMILA RÉBOLI FERNANDES DA SILVA
PROJETO DE INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA NO MERCADO DA VILA RUBIM
VILA VELHA 2015
CAMILA RÉBOLI FERNANDES DA SILVA
PROJETO DE INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA NO MERCADO DA VILA RUBIM
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para a obtenção do Grau
de
Bacharel
em
Arquitetura
Urbanismo. Orientador: Clóvis Aquino de Freitas Cunha
VILA VELHA 2015
e
CAMILA RÉBOLI FERNANDES DA SILVA
PROJETO DE INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA NO MERCADO DA VILA RUBIM
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Aprovada em __/__/____.
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________ Prof. Clóvis Aquino de Freitas Cunha Universidade Vila Velha Orientador
_________________________________ Profª Drª Michelly Ramos de Angelo Universidade Vila Velha Coorientadora
_________________________________ Prof. Giovanilton André Carretta Ferreira Convidado
VILA VELHA 2015
RESUMO
Mudanças nas políticas públicas urbanas e nos interesses do mercado imobiliário ocasionaram, nas últimas décadas, o esvaziamento e a degradação dos centros urbanos em diversas cidades. Diretamente relacionado ao Centro de Vitória, o Mercado da Vila Rubim que durante o desenvolvimento da cidade representou de forma elementar a atividade comercial, sofreu grandes impactos causados por essas transformações. Como causa, aponta-se, principalmente, a perda da função centralizadora destes centros urbanos, que deixam de concentrar atividades e instituições, que antes se localizavam exclusivamente no centro. Estes locais tornam-se subutilizados e assumem uma imagem de deterioração. Nesta pesquisa, verificou-se que a presença do Mercado se faz necessária por desempenhar uma função importante para os residentes do bairro e seu entorno, além de ser um elemento cumpridor de um papel relevante para a cultura capixaba. Nestes termos, o trabalho visa analisar a experiência de intervenção do Hortomercado da Enseada do Suá, em Vitória, relacionando ao projeto de intervenção urbana e arquitetônica do Mercado da Vila Rubim, suas características, a identidade da cultura local, o referencial histórico, as atividades que ali acontecem e suas relações com o Centro.
Palavras-chave: Centralidade. Vila Rubim. Mercado Municipal.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Vila italiana de Cassino, a 18 de Maio de 1944 ....................................... 22 Figura 2 – Pelourinho, exemplo de recuperação urbana na valorização do patrimônio edificado .................................................................................................................... 23 Figura 3 – Porto Madero, Buenos Aires, 2005 .......................................................... 24 Figura 4 – Orla da praia no Porto Olímpico em Barcelona ........................................ 27 Figura 5 – Mercado público no Império Romano....................................................... 35 Figura 6 – Cotton Market, Jerusalém, 1329 .............................................................. 35 Figura 7 – Mercado Saint Germain, 1813-1816 ........................................................ 36 Figura 8 – Mercado da Glória no Rio de Janeiro na década de 1850 ....................... 37 Figura 9 – Mercado Central de Berlim em 1896 ........................................................ 37 Figura 10 – Mercado Público da cidade de Santos, inaugurado em 1902 ................ 38 Figura 11 – Vitória antes dos aterros, vê-se que o mar avançava até a Praça Costa Pereira ....................................................................................................................... 40 Figura 12 – Mapa de aterros ..................................................................................... 40 Figura 13 – Aspecto do Porto de Vitória entre os anos 10 e 20, do século XX ......... 41 Figura 14 – Obras do governo Jerônimo Monteiro: Abastecimento de água – construção do reservatório da Santa Clara, Assembleia Legislativa, Escola Normal (atual Maria Ortiz) e Igreja de São Tiago, antes e depois da reforma do Palácio ..... 43 Figura 15 – Planta de Vitória em 1896, incluindo o Projeto Novo Arrabalde (em rosa) .................................................................................................................................. 44 Figura 16 – Aterro da região do Suá, década de 1980 .............................................. 46 Figura 17 – Primeira edificação do Mercado da Vila Rubim – 1930 .......................... 48
Figura 18 – Galpões do Mercado na década de 1960 .............................................. 49 Figura 19 – O Comércio da Vila Rubim (O Mercado em amarelo e vermelho) ......... 51 Figura 20 – Planta baixa pavimento térreo apresentando a divisão das lojas ........... 52 Figura 21 – Planta baixa pavimento superior - sobrelojas ......................................... 52 Figura 22 – Praça e mezanino entre os galpões ....................................................... 53 Figura 23 – Estrutura física do Mercado da Vila Rubim ............................................ 54 Figura 24 – Comércio de produtos de feira em caixas de madeira ........................... 55 Figura 25 – Estacionamento irregular ....................................................................... 56 Figura 26 – Horto na década de 1990 ....................................................................... 57 Figura 27 – Planta baixa esquemática pavimento térreo do Hortomercado .............. 59 Figura 28 – Estrutura externa do Hortomercado ....................................................... 60 Figura 29 – Espaço interno do Hortomercado ........................................................... 60 Figura 30 – Imagem do município de Vitória com a demarcação da área de estudo 63 Figura 31 – Imagem da poligonal de estudo ............................................................. 64 Figura 32 – Uso do Solo ............................................................................................ 65 Figura 33 – Camelôs da Vila Rubim .......................................................................... 66 Figura 34 – Espaço público presente na região de estudo ....................................... 66 Figura 35 – Gabarito ................................................................................................. 67 Figura 36 – Sentido e Intensidade dos Fluxos .......................................................... 68 Figura 37 – Projeção do Terminal BRT ..................................................................... 69 Figura 38 – Localização da área de estudo no contexto do Zoneamento Municipal . 70
Figura 39 – Tabela de Controle Urbanístico da Zona que compreende a área de estudo (ZOP2) ........................................................................................................... 70 Figura 40 – Implantação geral ................................................................................... 74 Figura 41 - Mercado da Vila Rubim ........................................................................... 75 Figura 42 - Praça da Feira ........................................................................................ 76 Figura 43 - Rua de pedestre...................................................................................... 77 Figura 44 - Rua Gastronômica .................................................................................. 78 Figura 45 – Pavimento térreo .................................................................................... 80 Figura 46 – Pavimento superior ................................................................................ 82 Figura 47 - Varanda .................................................................................................. 83 Figura 48 - Cobertura estacionamento ...................................................................... 84 Figura 49 - Cobertura ................................................................................................ 85 Figura 50 – Corte Transversal ................................................................................... 86 Figura 51 – Corte Longitudinal .................................................................................. 86 Figura 52 - Elementos da fachada ............................................................................ 87
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 1 – O CENTRO E OS PROCESSOS SOCIOESPACIAIS ........................................ 12 1.1 A ORIGEM DA CENTRALIDADE E OS “NOVOS CENTROS” ............................ 12 1.2 A CRISE DOS CENTROS HISTÓRICOS............................................................ 19 1.3 REQUALIFICAÇÃO URBANA ............................................................................. 21 1.4 PROCESSOS DE GENTRIFICAÇÃO E ESPETACULARIZAÇÃO ..................... 28 2 – MERCADO E CIDADE ........................................................................................ 32 2.1 RELAÇÃO DO COMÉRCIO, MERCADO E CIDADE .......................................... 32 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CIDADE DE VITÓRIA .......................................... 39 2.3 OS MERCADOS DA VILA RUBIM ...................................................................... 48 2.4 O HORTOMERCADO DO BAIRRO ENSEADA DO SUÁ.................................... 56 3 – PROPOSTA PROJETUAL .................................................................................. 62 3.1 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................................. 62 3.1.1 Localização ................................................................................................ 63 3.1.2 Uso do Solo ............................................................................................... 64 3.1.3 Gabarito ..................................................................................................... 66 3.1.4 Mobilidade ................................................................................................. 67 3.1.5 Legislação .................................................................................................. 69 3.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES .................................................................... 71 3.3 ESTUDO PRELIMINAR....................................................................................... 73 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 88 5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 91
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INTRODUÇÃO
A presente pesquisa, intitulada “Projeto de Intervenção Arquitetônica e Urbanística no Mercado da Vila Rubim”, aborda como objeto de estudo o Mercado da Vila Rubim, sua representatividade, expressão e as transformações por que passou devido àquelas ocorridas na área central da cidade de Vitória, tomando como referência uma análise do projeto do Hortomercado da Praia do Suá para uma proposta de intervenção urbana e arquitetônica no Mercado da Vila Rubim. A escolha do tema se faz pelo significado que este Mercado apresenta para o contexto da cidade, envolvendo o cotidiano dos habitantes da região e a representatividade para a cultura capixaba. Destaca-se pela atividade comercial por atributos e características históricas de forma singular. Espaço este que foi perdendo consideravelmente a sua importância devido à expansão da cidade, às modificações da estrutura do território urbano e ao surgimento de outras centralidades. Como alternativa para reverter este quadro, faz-se necessário intervir nessas áreas com vista na reestruturação do espaço urbano a fim de tornar os centros tradicionais novamente áreas atrativas e funcionais. As medidas que visam à recuperação destas áreas admitem-se por operações, globais ou parciais, de reabilitação, requalificação, renovação, revitalização, etc., constituindo hoje em dia uma importante referência para a definição de estratégias ao nível de projetos urbanísticos. Nas últimas décadas, estas operações tem se caracterizado por incorporarem a cultura como componente principal valorizando elementos como o patrimônio histórico, as tradições locais e a cultura popular. Sabe-se que estas operações resultaram em melhorias físicas no espaço urbano. No entanto, frente aos diferentes processos de intervenção quanto ao seu caráter, verifica-se um principal dilema: como recuperar sem elitizar e sem expulsar os habitantes com a proposta de intervenção? Sendo assim, busca-se o conhecimento sobre o desenvolvimento urbano de Vitória relacionando com os processos socioespaciais que ocorrem no espaço urbano visando compreender as transformações espaciais por que passou a cidade
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concomitantemente à Vila Rubim e o seu Mercado relacionando sua função ao longo dessa configuração. No desenvolvimento do trabalho, busca-se desenvolver uma análise do projeto do Hortomercado da Enseada do Suá levando em consideração não só o contexto atual, mas também a evolução histórica, a população residente e as características do entorno, as atividades locais desenvolvidas, entre outros como base para o projeto de intervenção no Mercado da Vila Rubim compreendendo sua importância no contexto comercial e cultural considerando suas características no espaço. A pesquisa teve como respaldo a utilização de referenciais bibliográficos nas etapas de embasamento teórico para que se admitisse a compreensão dos processos socioespaciais
fruto
das
transformações
territoriais
que
fazem
parte
do
desenvolvimento urbano relacionando com a cidade de Vitória e os bairros da Vila Rubim e Enseada do Suá. Além disso, através dos referenciais bibliográficos utilizados servidos de apoio para a pesquisa, foi exposta a evolução histórica da cidade de Vitória enfatizando os bairros da Vila Rubim e a Enseada do Suá com vista a compreender o processo de evolução e organização espacial da cidade e o estabelecimento da atividade comercial tanto do Mercado da Vila Rubim e o Hortomercado abordando as transformações dos respectivos estabelecimentos e o papel desempenhado por estes, contextualizando-os ao longo do processo de desenvolvimento da cidade. Neste sentido, é feita uma análise dos projetos atuais e anteriores à requalificação do Mercado da Vila Rubim e do Hortomercado observando a composição do programa, a forma da disposição dos ambientes internos, a forma de integração com o entorno tomando como base as características positivas e negativas para replicar ou excluir na proposta de intervenção no Mercado da Vila Rubim. Para a composição da análise dos referidos projetos, foi necessário que se fizesse idas a campo, visitas aos estabelecimentos, coleta de dados na Secretaria de Desenvolvimento da Cidade, com o objetivo de obter informações essenciais para o desenvolvimento da pesquisa. Visando suprir a falta de informações sobre alguns aspectos, foram realizadas entrevistas com moradores antigos da Praia do Suá para
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que
transmitisse
informações
sobre
o
projeto
anterior
ao
Hortomercado,
caracterizando seu espaço, função e relação com o entorno. Nessa sequência, a estrutura da pesquisa se faz em capítulos. O Capítulo 1 é dividido em quatro partes cuja abordagem trata dos processos socioespaciais que ocorrem no território das cidades juntamente com os processos de centralização e descentralização
caracterizada
pelo
surgimento
de
novas
centralidades
e
consequentemente crise das áreas centrais. Como alternativa para reverter esse quadro, medidas de intervenções urbanísticas fizeram-se necessárias para a recuperação dessas áreas. De outro lado, algumas experiências não foram tão bem sucedidas, uma vez que acabaram por implicar no processo de gentrificação e espetacularização da cidade. No Capítulo 2, divido em três partes, é desenvolvida uma análise da relação do mercado e do comércio com a cidade. Posteriormente, aborda a evolução histórica dos mercados públicos e particularmente do Mercado da Vila Rubim e do Hortomercado, contemplando também uma análise mais específica dos projetos existentes atualmente e dos antecessores ao processo de requalificação. Por fim, o Capítulo 3 apresenta uma análise das características que devem ser levadas em consideração para a proposta de intervenção no Mercado da Vila Rubim observando as experiências obtidas com o projeto do Hortomercado e o próprio Mercado da Vila Rubim e as transformações ocorridas ao longo do tempo no desenvolvimento da cidade.
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1 – O CENTRO E OS PROCESSOS SOCIOESPACIAIS
1.1 A ORIGEM DA CENTRALIDADE E OS “NOVOS CENTROS”
As cidades são estruturas complexas que se conectam umas às outras através do sistema de transportes e de comunicações. Compreende um espaço onde se manifestam diversos tipos de atividades e fenômenos, articulando, junto à sua dimensão física, as relações econômicas, sociais e culturais. Segundo Harvey apud Corrêa (2005, p. 121), a cidade pode ser compreendida como a expressão de processos sociais configurando-se em um espaço físico construído sobre o espaço geográfico. Estes processos sociais produzem forma, movimento e conteúdo sobre o espaço urbano, originando a organização espacial da cidade (CORRÊA, 2005). Em um contexto global, estas características determinam os processos de transformação e desenvolvimento das cidades. A sua forma de organização caracteriza-se pelos usos da terra extremamente diferenciados, tais como o da área central, áreas industriais e áreas residenciais diversas (CORRÊA, 2005). De acordo com Corrêa (2005), são os processos espaciais os responsáveis imediatos pela organização espacial das cidades. Estes são postos em ação pelos atores que modelam a organização do espaço e são caracterizados pelos processos de centralização, descentralização, coesão, segregação, invasão-sucessão e inércia. Interpretando os processos socioespaciais como importante referência do que acontece na cidade em termos de transformação espacial, é necessário apresentar o desenvolvimento destes processos socioespaciais para maior compreensão da organização do espaço urbano. Para o presente trabalho interessa focar a participação especial dos processos de centralização e descentralização que serão descritos adiante. O processo de centralização, segundo Corrêa (2005), é caracterizado pela existência de uma área onde se concentram as principais atividades comerciais e de serviços, bem como os terminais de transportes interurbanos e intraurbanos. Esta
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área, resultado do processo de centralização, também é conhecida como Área Central. Com o advento da Revolução Industrial, as relações entre o mundo exterior e as cidades se ampliaram possibilitando a ascensão dessa Área Central. As ferrovias passaram a desempenhar papel importante nas relações interurbanas e inter-regionais. As atividades comerciais e industriais vão se localizar próximo aos terminais ferroviários, possibilitando a criação de grande mercado de trabalho na área e transformando-a no foco de transportes intraurbanos. Sendo assim, a Área Central passa a representar local de concentração de atividades, aglomeração e máxima acessibilidade dentro do espaço urbano (CORRÊA, 2005). Corrêa (2005) ainda destaca que essas características da Área Central foram responsáveis pelo elevado preço do imóvel que nela se concentravam. Isto levou a uma competição pelo uso da terra, devido à grande procura por localizações próximas a essas áreas. Nesta competição sobressaíam as atividades geradoras de lucro que podiam arcar com o alto valor da terra. Entre essas atividades estão o comércio varejista e a produção industrial. Na visão de Villaça (2001), a origem do centro surge a partir da necessidade de afastamentos de uma aglomeração territorial, cujos afastamentos originam-se em função da disputa de controle do tempo e energia gastos nos deslocamentos humanos. À medida que a aglomeração e a sociedade se desenvolvem, o centro surge e com isso, forma-se um ponto do território que apresenta menores deslocamentos do somatório do conjunto dos membros da aglomeração. Este ponto representa aquele no qual toda a comunidade se reuniria no menor tempo possível. Dentro desta perspectiva, Villaça (2001) ainda afirma que o desenvolvimento social possibilita o surgimento de atividades que requerem deslocamento de muitos para o mesmo ponto e que essas atividades deveriam se localizar no ponto de menor deslocamento do somatório de todos eles. Nesse ponto, o terreno passa a ter grande valor de uso. A acessibilidade passa a ser disputada pelos membros da comunidade, o que reforça o valor de uso do centro. Entretanto, o que determina essa disputa por terrenos localizados no centro e pelas condições de deslocamento são o poder político e econômico das distintas classes sociais em razão de seus variados interesses.
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O desenvolvimento do centro e das demais áreas da cidade continua a ser produto da disputa entre as classes pelo controle das condições de deslocamento. Entendese por condições de deslocamento a criação das localizações (os “pontos”) para fins de uso residencial, comercial, industrial, serviços e lazer, possibilitada através do sistema viário e dos meios de transporte. Por outro lado, as classes têm outros interesses além da redução dos tempos de deslocamento, como morar em terreno grande com verde e ar puro, na periferia. Esses interesses se tornam contraditórios visto que o último tem a tendência em aumentar o tempo de deslocamento. Desta forma, não se pode afirmar que a disputa entre as classes pelo controle das condições de deslocamento visa minimizar os tempos de deslocamento, mas sim otimizar o uso desse tempo ou controlá-lo, havendo a necessidade de conciliar esses interesses. Se as classes de alta renda se deslocam para a periferia, juntamente vão também instituições, equipamentos e até o centro da cidade (VILLAÇA, 2001). Neste sentido, o espaço urbano vai sendo reconfigurado com a formação de novas áreas distantes do centro principal. Nessas áreas vão se instalando equipamentos e serviços que, em menor escala, atendem às necessidades da população local. Por outro lado, de acordo com Corrêa (2005), visando reduzir a excessiva centralização urbana, aparece o processo de descentralização como medida espontânea ou planejada. Este processo também está associado ao crescimento da cidade em termos espaciais e demográficos, aumentando as distâncias entre a Área Central e as novas áreas ocupadas. Contudo, segundo Colby apud Corrêa (2005, p. 125), para que a descentralização se verifique é necessário que haja atração por parte das áreas não centrais. Estas podem apresentar características divergentes às da Área Central: terras não ocupadas a baixo preço; infraestrutura implantada, qualidades atrativas do sítio, como topografia e drenagem; amenidades físicas e sociais; mercado mínimo capaz de suportar a localização de uma atividade descentralizada. Pela análise de Corrêa (2005), a descentralização apresenta excelente oportunidade para os promotores imobiliários, com abertura de novos mercados cujos reflexos dessa dinâmica podem ser representados, como exemplo, pelos shoppings centers. Eles representam uma grande força de concentração e de rentabilidade,
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proporcionando economia de transporte, tempo, escolha. Essas novas centralidades geram novas estratégias econômicas e espaciais reconfigurando as funções do espaço urbano em seu entorno. Como consequência disso, a Área Central perde importância em detrimento do fortalecimento das novas áreas ocupadas caracterizadas pela formação das novas centralidades. Algumas dessas áreas tornam-se núcleos comerciais de menor importância, tamanho e especialidades distintas e outras passam a concentrar indústrias, respectivamente caracterizadas pelos subcentros comerciais e áreas industriais não centrais. Em contrapartida, Villaça (2001) explica o processo de descentralização e perda de importância dos centros através de mecanismos de disputa entre as classes sociais. Em uma sociedade de classes, as famílias possuem distintas condições de acessibilidade aos diferentes pontos do espaço urbano e necessidades de deslocamento. Algumas possuem automóvel, outras não. Umas possuem facilidade para tomar um ônibus, outras não. Algumas possuem poder econômico e/ou político (para influenciar na localização de lojas, por exemplo), outras possuem menos poder. O centro se torna mais acessível para uns do que a outros devido a estes mecanismos: desde o desenvolvimento de um sistema viário direcionado a utilização de um determinado tipo de meio de transporte, até o deslocamento espacial do centro e suas transformações. Esses mecanismos, condições de disputa entre as classes, são responsáveis pela produção de espaços urbanos diferenciados e pelas transformações territoriais, como sua decadência, por exemplo, por que passam e continuam passando os centros de nossas cidades. Os centros tradicionais, embora ainda continuem sendo palco de grande concentração de lojas, escritórios e serviços, é notória a sua perda de vitalidade. Com a expansão do sistema viário, o desenvolvimento de novas formas de mobilidade, a saída das classes de alta renda dessas áreas centrais e consequentemente, ida do comércio e serviço para essas novas localidades, novas áreas de expansão vão se desenvolvendo. Verifica-se a descentralização e o surgimento das novas centralidades ou “novos centros”. Simultaneamente aos processos de centralização e descentralização, verifica-se o fenômeno de coesão. Este processo é descrito por Hurd apud Corrêa (2005, p. 129)
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como uma tendência das lojas do mesmo tipo se aglomerarem, apesar de não manterem negócios entre si. O autor ainda afirma que esta aglomeração proporcionaria garantias para as lojas, uma vez que concederia atração maciça de consumidores a determinado setor. Este processo implicou na criação de áreas especializadas no centro de negócios, em distritos varejista e atacadista, em áreas não centrais e distritos industriais especializados. Referindo-se à questão especialmente residencial, o processo de segregação possui forte relação neste aspecto. Castells apud Corrêa (2005) o define como um processo que origina a tendência de organização espacial em áreas de forte homogeneidade social e grande disparidade entre elas. Estas áreas apresentam características sociais identificadas pela expressão uniforme da população em questão de renda, etnia, fase do ciclo de vida, instrução, originando áreas homogêneas, segregadas. Conforme aponta Corrêa (2005), as disparidades sociais existentes entre as áreas uniformes se configuram pelo diferencial de renda de cada grupo social, ou seja, essas áreas uniformes refletem a distribuição da renda da população, o tipo de residência e a sua localização. Basicamente, constitui-se da expressão espacial do processo de estruturação das classes sociais, da localização e a produção de residências. Tendo em vista que a habitação se configura como mercadoria e que esta depende de outra, a terra, o como e onde morar encontram-se estritamente relacionados ao valor da terra e a qualidade residencial. Os terrenos de preços mais elevados são ocupados por residências de maior qualidade, ao passo que o valor da terra diminui, a qualidade das residências também diminui. Sendo assim, a homogeneização do conteúdo social se configura mais expressivamente nos seus extremos, ou seja, nos grupos de renda mais baixa e mais elevada (CORRÊA, 2005). Entretanto, Corrêa (2005) ainda expõe que a segregação pode se configurar de forma menos rígida, quando o conteúdo social de um grupo não é caracterizado por uma homogeneidade. Este aspecto está relacionado com o processo de invasãosucessão que, sobretudo, também está associado à questão residencial. Verifica-se, no espaço urbano, que uma classe social reside em determinado bairro durante certo período de tempo e, a partir de determinado momento, constata-se uma “invasão” de pessoas de classe social distinta. Confere-se, então, a saída da
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população preexistente e a chegada da nova população contingente. O resultado desse processo implica em alterações espaciais do conteúdo social especificamente das áreas residenciais das cidades acarretando uma popularização do centro. Diferente do anterior, quando o processo de invasão-sucessão verifica-se na mudança de conteúdo de determinados locais, o processo de inércia atua na organização espacial da cidade através da permanência de determinados usos em determinados locais, apesar das causas que justificaram a sua localização terem parado de atuar. Este processo também pode ser interpretado tomando como base certos fatores, como a existência de valores, por exemplo, o patrimônio histórico, que levam a permanência de usos da terra e localizações sem uma justificativa racional (CORRÊA, 2005). É importante ressaltar que vários fatores contribuem para as transformações territoriais. Associados à organização da cidade, percebe-se que no espaço urbano os processos espaciais estão relacionados não apenas com as formas de mobilidade e acessibilidade, mas também com valores fundiários e simbólicos, afetando a localização das atividades sejam elas residenciais, comerciais, industriais e de serviços. Em síntese, as cidades, e em especial os seus centros, vão se articulando e se estruturando através do espaço urbano e produzindo uma dinâmica territorial caracterizada pela concentração e dispersão, riqueza e pobreza, produção e destruição, expressando as transformações da cidade que ocorrem de forma contínua e que produz e reproduz os processos de centralização e descentralização. Verifica-se que além da centralização e da descentralização, os demais processos que Corrêa aborda estão presentes nas transformações por que tem passado a área central. A centralização e a descentralização se deram, respectivamente, pela concentração do comércio e indústrias no centro e o deslocamento dos mesmos para outras áreas. Outro aspecto que fomentou esses processos foi a questão da mobilidade. Isso possibilitou o deslocamento das pessoas e atividades da área central da cidade. No processo de coesão, o Centro possui algumas áreas que se caracterizam por isso. Este processo é identificado pela existência de ruas especializadas de comércio, como rua de lojas de roupa de noiva e de artigos de couro. Como resultado do processo de segregação, verifica-se que a parte mais
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baixa do Centro é caracterizada por uma área mais popular, o contrapondo-se à característica da parte mais alta. O fenômeno de invasão-sucessão se concretiza pela saída das classes de mais alta renda das áreas residenciais do Centro e pela “invasão” de outro tipo de classe social, constituída por uma população de classe baixa. Deste modo, pode-se identificar uma popularização da área central. Além disso, mais recentemente, alguns outros aspectos têm interferido também nessas transformações socioespaciais na cidade provocadas pelo processo de globalização e reestruturação produtiva. Novas formas de deslocamento de bens, de informação, de pessoas, interferem na forma de organização do território. Além disso,
evoluções
ocorridas,
principalmente,
nos
meios
de
transportes,
telecomunicações, inovações tecnológicas e ampliação do fluxo comercial mundial são oriundas do processo de globalização. A reestruturação produtiva está relacionada com a globalização, que implica no desenvolvimento dos avanços tecnológicos de informação, comunicação e que gera uma autonomia crescente ante os limites espaciais e temporais permite que o tempo e espaço não sejam limitadores. Os impactos disso refletem numa reestruturação das plantas industriais que provoca a possibilidade de desconcentração da localização das mesmas para lugares variados criando, consequentemente, novos formatos de organização do espaço urbano. Desta forma, com o deslocamento das áreas industriais, aquelas que existiam no centro começaram a se apresentar ociosas. Verifica-se então uma tendência de desconcentração industrial e de expansão urbana. Com a importância assumida pela logística e infraestrutura de mobilidade, atualmente, muitas cidades se formam ou se consolidam em torno de um ponto de destaque como um aeroporto, ou um porto, por exemplo. Este fato faz com que essas áreas “externas” ganhem importância e se tornem um ambiente propício para a instalação de atividades econômicas. Outro exemplo desse fenômeno é representado pelas áreas portuárias. Os portos de hoje são maiores, pois os antigos, instalados nas áreas centrais, não comportavam esse tipo de implantação. Desta forma, surgem novas áreas portuárias, deixando as instalações antigas das áreas centrais ociosas e às vezes sem utilização. Diante desses processos responsáveis pelas transformações dos padrões de organização espacial das cidades, o centro passa por um esquecimento e perda da
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importância dando origem a um processo de decadência, cujo fenômeno será descrito a seguir.
1.2 A CRISE DOS CENTROS HISTÓRICOS
Aliados aos aspectos abordados anteriormente, decorrente dos processos socioespaciais e dos aspectos da globalização e reestruturação produtiva, o centro da cidade sofreu um esvaziamento das áreas residenciais e foram perdendo importância devido ao desenvolvimento de novas centralidades que se formavam. Segundo Villaça (2001), a razão dessas transformações socioespaciais configuradas pela perda de importância do centro principal para novas centralidades emergentes dentro das cidades foram o abandono dessas áreas, mais especificamente das áreas residenciais, pelas camadas de alta renda, processo popularmente chamado de decadência ou deterioração do centro. Posteriormente, o centro começou a ser abandonado como local de compras e serviços. Esse abandono teve início com o surgimento dos subcentros, zonas comerciais pouco diversificadas, principalmente com baixa proporção de serviços. Contudo, não foram as deficiências internas nem por seu “envelhecimento” que os centros principais foram abandonados por parte das camadas de mais alta renda. Se conviesse a estas mencionadas classes continuar a usá-lo, elas o teriam renovado e aprimorado, como, em inúmeros casos, já haviam feito no passado. Como aspecto primordial para a ocorrência desse fato encontra-se o empenho do capital imobiliário juntamente com o auxílio do Estado como fatores determinantes para o abandono das áreas residenciais dos centros pelas camadas de alta renda. Há uma articulação de interesses por trás dessa crise, interesses privados sobrepondo-se a interesses coletivos, cujo objetivo está na obtenção crescente de lucros. Para isso, é necessário que surjam novas áreas na cidade, novos edifícios, novos loteamentos. Há uma articulação entre os interesses imobiliários e as ações do poder público onde a participação do Estado, por exemplo, se configura por levar infraestrutura e equipamentos públicos para essas novas áreas, incentivando o crescimento da mesma.
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A década de 1960, conforme aponta o Villaça (2001), marcou o início do desenvolvimento destes subcentros de comércio e serviços para onde se transferiram lojas, supermercados, consultórios, que atendiam aquelas camadas que se localizavam no centro principal. Villaça (2001) ainda coloca que: [...] O controle (através do Estado e do mercado) que as classes de mais alta renda exercem sobre o espaço urbano e sobre o sistema de locomoção constitui-se na força preponderante da estruturação do espaço intraurbano, inclusive no desenvolvimento dos subcentros, nos deslocamentos espaciais do centro e na sua chamada deterioração ou declínio.
O autor ainda aponta que as condições de locomoção também tiveram grande peso na ruptura do centro com as elites que o sustentavam, vinculadas ao aumento da mobilidade espacial motivada pelo aumento da taxa de motorização das classes de mais alta renda. Associado aos interesses imobiliários, esse abandono facilitou às camadas de alta renda a abrir novas frentes permitindo a criação de empreendimentos desejosos por essa classe (VILLAÇA, 2001). Outro fator que contribuiu para o processo de abandono das áreas residenciais do centro foi o surgimento dos shoppings centers. A crise do centro se inicia quando os shoppings ainda não eram tão popularizados, mas este contribuiu para intensificar o problema. Estes equipamentos também representam artifício de atração da clientela de alta renda e por isso, vêm apresentando, entretanto, uma participação significativa no prosseguimento do esvaziamento do uso residencial do centro. Os shoppings têm gerado grandes impactos nos centros principais provocando uma perda de vitalidade dessas áreas. Estes equipamentos foram surgindo próximo às novas áreas de expansão da cidade apresentando um mercado diversificado com uma variedade de serviços – lojas, área de alimentação, área de lazer, estacionamento. Outro aspecto relevante em relação ao abandono das áreas centrais é o fato de os shoppings terem aumentado a quantidade de consumidores, devido a alterações dos padrões de consumo dos centros tradicionais e por caracterizarem uma área comercial mais facilitada ao acesso da população através da concentração de serviços diversificados em um mesmo local e da facilidade de acesso à estacionamento.
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Além de ser um forte concorrente dos centros tradicionais, os shoppings caracterizam o oposto daqueles. Nos centros, o comércio é aberto, público, as lojas são voltadas para a rua, há uma diversidade de classes sociais configurando uma imagem de vitalidade da cidade. Ao contrário disso, os shoppings são estabelecimentos fechados, privatizados, que excluem, muitas vezes, as classes sociais mais baixas. Diante dos fatores que impulsionaram a crise dos centros históricos, estes possibilitaram a criação de novos pontos, novas localizações de atividades de comércio, serviço, lazer e moradia em detrimento aos centros tradicionais que foram deixados deteriorar. Como fruto desse processo de deterioração e decadência, o centro tradicional passa a ser palco de áreas ociosas. Como consequência desse processo, percebe-se uma tendência ao espraiamento da cidade. Com o surgimento de novas áreas aquém ao centro, originadas pelo deslocamento da população para esses novos locais, verifica-se um processo de expansão do território. As distâncias tendem a aumentar fazendo com que as pessoas se desloquem mais, e que consequentemente, acarreta um aumento da demanda por infraestrutura urbana. O resultado desse processo refletiu, no centro tradicional, na degradação do espaço edificado justificado pelo abandono das classes de mais alta renda das áreas residenciais e pelo deslocamento dos edifícios institucionais, comerciais e administrativos que se localizavam no centro para novas áreas que estavam sendo formadas na cidade. No entanto, as respostas principais à deterioração do espaço urbano caracterizam-se pelas intervenções urbanas juntamente com políticas públicas cujo papel fundamental é a reorganização territorial, a fim de promover a requalificação do espaço condicionando qualidade ao ambiente urbano.
1.3 REQUALIFICAÇÃO URBANA
Com os processos de deterioração e perda de importância dos centros urbanos, tornaram-se necessárias ações de reestruturação do território de forma equilibrada e sustentável, a fim de tornar os centros tradicionais novamente áreas atrativas e funcionais.
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Diante
disso,
alguns
países
europeus e
norte-americanos
observaram
a
necessidade de intervir nessas áreas, sobretudo após o final da Segunda Guerra Mundial, século XX. Neste período, compreendido entre os anos de 1950 e 1970, o processo de intervenção em áreas urbanas assumiu a preferência pelo novo. Na Europa, em consequência dos problemas sociais, do crescimento desordenado, dos grandes impactos decorrentes da industrialização e da destruição das cidades envolvidas na guerra, as intervenções voltaram-se para a prática de reconstrução do pós-guerra, reconstruindo novamente a cidade que denotavam condições precárias de habitação e realojando as pessoas que teriam perdido suas habitações. Na América do Norte, a estratégia de intervenção baseava-se na renovação urbana, condicionadas à demolição de áreas consideráveis e a reconstrução destas, assumindo grandes proporções quando comparadas com outras partes do mundo. Este processo ficou conhecido como Renovação Urbana (VARGAS; CASTILHO, 2009). Figura 1– Vila italiana de Cassino, a 18 de Maio de 1944
Fonte: SILVA, 2011
Diante desse processo, diferente da Europa onde as atenções eram voltadas para a recuperação dos espaços, nos Estados Unidos houve um desinteresse por parte da preservação do patrimônio histórico, visto que a estratégia de intervenção estava relacionada a demolir e reconstruir. Além disso, verifica-se outro impacto significativo para a cidade quando o processo de intervenção gera grande transferência das populações de suas residências, sendo substituídas por classes sociais de mais alta
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renda, culminando num processo de gentrificação, que será melhor descrito no item seguinte. Em crítica aos processos de demolição e reconstrução de edificações com diferentes usos, os planos urbanísticos sofreram modificações de seus conceitos. A “era das demolições” teve seu fim devido ao surgimento de ações integradas e simultâneas com vista à recuperação física dos imóveis e fixação da população de origem no seu habitat (VARGAS; CASTILHO, 2009). Os anos entre 1970 e 1990, compreende o período de mudança da ideologia de renovação para a nova fase representada pela Preservação Urbana. Em contrapartida à fase anterior, a ideologia se firmava na importância da preservação das vizinhanças e a restauração de edifícios históricos considerados símbolos. Iniciava-se o processo de restauração dos centros urbanos. Nessa fase, os edifícios históricos eram incorporados aos projetos de reestruturação das atividades nos centros em defesa do patrimônio histórico (VARGAS; CASTILHO, 2009). Verifica-se, portanto, nessa fase, uma preocupação em manter o patrimônio histórico, as heranças, a valorização da memória, o resgate da identidade, ao incorporar os edifícios históricos nos projetos de intervenção, proporcionando utilização como atividades comerciais, de lazer e cultura. Figura 2– Pelourinho, exemplo de recuperação urbana na valorização do patrimônio edificado
Fonte: VARGAS; CASTILHO, 2009
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O processo de mudança da fase da preservação para a última, a Reinvenção Urbana, como coloca Vargas e Castilho (2009), constituiu-se de apoio para o desenvolvimento da nova ideologia. Esta fase teve início em 1980, firmando-se na ideia de um modo de produção diversificado, a fim de reconstruir ou reinventar o ambiente construído, promovendo transformação nas relações das atividades econômicas com o território, e promovendo diversidade de estilos de vida. Um dos principais objetivos foi criar e recuperar a base econômica das cidades para gerar emprego e renda. Associado a isso, unem-se os setores público e privado com vista na reinvenção do espaço construído. Áreas desvalorizadas, por exemplo, se tornam alvo do poder público que, aliado ao capital imobiliário, tem em vista a transformação daquele espaço, como é o caso de Porto Madero, em Buenos Aires, onde o projeto apropria-se da ideia de recuperação da orla fluvial para o uso público de convívio, de encontros e de consumo. Figura 3– Porto Madero, Buenos Aires, 2005
Fonte: VARGAS; CASTILHO, 2009
Nesta fase, o que mudou foram as proporções dos projetos, o foco da intervenção, a forma de gestão e os efeitos decorrentes da ampla divulgação. Utiliza-se basicamente da lógica de preservação, porém, em projetos de maiores dimensões e de grandes equipamentos. Além das áreas centrais que se apresentam decadentes, outras áreas em estado similar também são incorporadas ao projeto fazendo com que este tipo de intervenção tome proporções maiores do que nos processos anteriores.
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No decorrer desses processos, foram utilizados vários termos como instrumentos para as intervenções de recuperação dessas áreas históricas nas cidades. A Carta de Lisboa, 1995, com vista a apresentar os tipos de intervenção e definição de seus conceitos, incluía os novos termos dos planos urbanísticos. São eles revitalização, reabilitação, regeneração que, de acordo com Vargas e Castilho (2009), possuem significado semelhante. A Carta de Lisboa apresenta o conceito de reabilitação como uma estratégia de gestão urbana que através de intervenções de melhoramento das condições físicas, tem a finalidade de valorizar as potencialidades econômicas e sociais, proporcionando qualidade ao ambiente urbano mantendo a identidade e as características da área da cidade. Como revitalização, a Carta expõe o significado do termo como operações com fim a relançar a vida social e econômica da área da cidade em decadência. Em ambos os termos se faz presente a importância de dar vida a áreas decadentes da cidade. O que os difere é que o primeiro aponta para a manutenção da identidade e as características da cidade, e o segundo permitir que esse processo seja realizado em áreas com ou sem identidade. Por último, a Carta aborda o termo regeneração, cujo conceito do vocábulo consiste na ideologia de recuperação, dar nova vida (VARGAS; CASTILHO, 2009). Desta forma, estes novos termos explicitam a importância da inserção de novas atividades econômicas com o objetivo de dar nova vida às áreas decadentes da cidade e garantir que as intervenções urbanas incorporem no contexto da cidade e não se caracterize por práticas distantes das demandas locais. Atualmente, intervenções em áreas degradadas relacionam-se à necessidade de gerar efeitos multiplicadores da dinâmica econômica da cidade, bem como atrair investimentos
(VARGAS;
CASTILHO,
2009).
Estas
atuações
encontram-se
relacionadas a ações estratégicas sobre o seu território agindo de forma a contribuir para melhoria da qualidade do ambiente urbano. Como elemento de estratégia, a requalificação é ferramenta intrínseca como instrumento de intervenção urbana. A requalificação urbana constitui-se como um instrumento dirigido especialmente às áreas urbanas em decadência, abandono ou degradação (MOREIRA, 2007), como é o caso de alguns centros urbanos
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tradicionais. Este instrumento de intervenção deve ser aplicado no âmbito de solucionar os problemas constatados no cerne das cidades. De acordo com Ferreira, Lucas e Gato (1999): [...] Requalificação urbana é um processo social e político de intervenção no território que visa essencialmente (re)criar qualidade de vida urbana, através de uma maior equidade nas formas de produção (urbana), de um acentuado equilíbrio no uso e ocupação dos espaços e na própria capacidade criativa e de inovação dos agentes envolvidos nesses processos.
Carvalho (2008, p. 332) diz que: [...] A requalificação urbana visa a melhoria da qualidade de ambiente e de vida nas cidades, e envolve a articulação e integração de diversas componentes como, por exemplo, a habitação, a cultura, a coesão social e a mobilidade.
Portanto, percebe-se que ambos os autores, quando remetem à forma de ocupação da cidade, relacionam a qualidade de vida e do ambiente visando o equilíbrio e a integração dos usos – habitação, comércio, serviço, lazer. Neste sentido, é necessário que se incentive o retorno da atividade residencial no centro novamente, pois é através da integração e diversidade de atividades e do equilíbrio dos usos que é promovida a vitalidade do espaço urbano. No entanto, este processo de requalificação caracteriza-se como uma ferramenta articuladora da dinâmica territorial com vista à coerência e reorganização do espaço urbano com o propósito de melhoria da qualidade de vida e ao ambiente com vista especialmente às áreas urbanas degradadas. Diante das práticas de requalificação das áreas fortemente desvalorizadas, as cidades se viram atraídas a acatarem políticas de intervenção urbana a fim de alcançarem melhoria e transformação das condições das áreas deterioradas. Segundo Vargas e Castilho (2005), as motivações que conduzem as intervenções em centros urbanos são: referência e identidade; história urbana; sociabilidade e diversidade; infraestrutura existente; mudanças nos padrões sociodemográficos; deslocamentos pendulares e a distribuição de bens e serviços. Neste contexto, perante as transformações do espaço urbano em termos de reestruturação
e
harmonização,
através
da
recuperação,
requalificação,
conservação e dinamização das áreas urbanas em deterioração, grandes projetos
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urbanísticos foram desenvolvidos não somente voltados para o centro histórico, mas também abrangendo áreas envolventes a esta que se deparam em condições sujeitas à ação interventiva. Dentre
os
projetos urbanísticos
ocorridos
em
várias
cidades
de
países
desenvolvidos, há aqueles que se destacaram, pois serviram como referência para vários países da América Latina. Experiências europeias de requalificação de áreas degradadas, ao divulgar e legitimar suas práticas, inspiraram intervenções em outros países. O grande exemplo desse processo foi Barcelona, local das Olimpíadas de 1992, que aproveitou da importância do evento para atrair investimentos visando atender as necessidades de reestruturação urbana. O planejamento estratégico de Barcelona contemplava a requalificação de áreas específicas da cidade, a recuperação do espaço público e adequação da infraestrutura, sendo realizado por meio da parceria entre poder público e privado. O plano previa a preparação tecnológica da cidade, a implantação de todos os equipamentos para os Jogos Olímpicos, a reestruturação do sistema viário, a recuperação da orla da praia, a implantação de edifícios corporativos e residenciais e a implantação de parques e áreas verdes (LINARDI, 2012). A cidade recebeu completa transformação de suas áreas portuárias abandonadas e degradadas. Figura 4– Orla da praia no Porto Olímpico em Barcelona
Fonte: LINARDI, 2012
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No Brasil, relevantes estratégias de requalificação foram difundidas por diversos locais. As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Belo Horizonte foram objeto de projetos urbanos com o objetivo de recuperar antigos centros históricos. Defensores de projetos urbanísticos de grandes proporções destacam que os centros urbanos são elementos catalisadores do processo de recuperação urbana (VARGAS; CASTILHO, 2009). Essas áreas centrais detêm oportunidades singulares para requalificação e revitalização, uma vez que normalmente são dotadas de história, infraestrutura, fluxos intensos, diversidade e cultura. Entretanto, conforme Reichl apud Vargas e Castilho (2009, p.45) afirma, problemas como gentrificação (enobrecimento) são camuflados pela imagem de um urbanismo espetacular, que simula a requalificação do centro, legitimando a atuação do poder público nas diversas instâncias. Estes fenômenos serão tratados a seguir.
1.4 PROCESSOS DE GENTRIFICAÇÃO E ESPETACULARIZAÇÃO
As áreas centrais urbanas em processo de deterioração e degradação devem ser resgatadas a fim reintegrá-las à vida urbana. Atualmente, a requalificação urbana constitui ferramenta
estratégica
e
primordial
para
ações intervencionistas.
Entretanto, de acordo com Bidou-Zachariasen (2006), vários pesquisadores, na Europa, Estados Unidos e América Latina estão preocupados com os efeitos que as intervenções de requalificação podem causar nessas áreas. Tais efeitos seriam causados pelo fenômeno chamado de gentrificação. Este fenômeno caracteriza-se pela substituição dos habitantes de classe baixa, dos centros das cidades por outras de classe média superior. Este movimento de deslocamento das classes sociais é acompanhado de melhorias nas habitações e de investimentos na área, como comércio, serviços e equipamentos. De acordo com Smith (2007), gentrificação é um componente espacial visível das transformações sociais. É um processo dinâmico e não passível de definições
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demasiadamente restritivas. Já Bidou-Zachariasen (2006) emprega o fenômeno de forma mais ampla: [...] A gentrificação é um fenômeno ao mesmo tempo físico, econômico, social e cultural. Ela implica não apenas uma mudança física do estoque de moradias na escala de bairros; enfim, uma mudança econômica sobre os mercados fundiário e imobiliário. É esta combinação de mudanças sociais, físicas e econômicas que distingue a gentrificação como um processo ou conjunto de processos específicos.
A expressão ainda é definida por Smith (2007) da seguinte forma: [...] Gentrificação é o processo (…) pelo qual vizinhanças operária e pobre no centro da cidade são renovadas através de um afluxo de capital privado e compradores e inquilinos da classe média – vizinhança que tinha previamente experimentado um desinvestimento e um êxodo da classe média. (…) uma dramática revisão, ainda que imprevisível, que a maioria das teorias urbanas do século XX tinha previsto como destino para o centro da cidade.
O termo gentrification foi referenciado pela primeira vez por Ruth Glass, no início da década de 1960, visando descrever processos de transformações sociais dos residentes de determinados bairros de Londres (BIDOU-ZACHARIASEN, 2006). De acordo com a autora, este termo constitui-se inteiramente relacionado com a dinâmica econômica e social das cidades. Vários autores retomam esse fenômeno já que este caracteriza um processo fundamental na reestruturação das cidades contemporâneas. O estudo da gentrificação constitui elemento de discussão e debate entre pesquisadores de diferentes disciplinas. Com o aprofundamento dos estudos sobre o tema, são identificadas diversas características determinadas, em grande parte, pelos diferentes contextos urbanos. Há autores que defendem a ideia de que a gentrificação é inevitável nas grandes cidades cujos centros antigos encontram-se esquecidos pelas camadas de alta renda, e por isso, incentivaram e atraíram o deslocamento de famílias de menor renda para essas áreas. Entretanto, muitos autores contribuíram para a definição de conceito do termo e aprofundaram suas características. As teorias formadas por David Ley e Neil Smith contribuíram para o princípio de debate e discussão sobre o tema (BIDOU-ZACHARIASEN, 2006). A teoria de Ley era estabelecida por três fatores: a economia, a política e a cultura, caracterizada por uma linha de pensamento respaldada na demanda, dentro do marco do pós-industrialismo. Baseia-se ainda na vertente de que a gentrificação
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deriva de processos recíprocos de reestruturação econômica, sociocultural e demográfica. O autor ainda defende que o governo constitui papel ativo já que contribui para acelerar o processo aumentando o preço do solo e aumentando as expectativas dos proprietários. A oferta seguirá a procura de gentrificadores potenciais, cujo poder econômico definirá o deslocamento de moradores com menores rendimentos (BIDOU-ZACHARIASEN, 2006). Outro relevante aspecto conceitual é proposto por Neil Smith. Sua teoria baseia-se na oferta de moradias e espaço que podem experimentar a gentrificação. Defende que esse processo deve apresentar ambos os aspectos: oferta (a produção) e a demanda (o consumo). O ponto fundamental da teoria de Smith é constituído pelo conceito de rent-gap representado pela diferença do potencial de lucros adquirido mediante um uso mais lucrativo do solo, maior no centro e menor na periferia (BIDOU-ZACHARIASEN, 2006). No entanto, conforme afirma Bidou-Zachariasen (2006), no que tange a determinação do fenômeno da gentrificação, há uma dificuldade de se chegar a um consenso, por parte dos autores, para uma definição única do termo. Atualmente, o fenômeno é caracterizado de forma mais abrangente sendo considerados os fatores que influenciam na gentrificação como recíprocos e inter-relacionados. Sendo assim, as proposições atuais consideram o fenômeno como decorrência de fatores integrados, levando-se em conta, tal como mencionado anteriormente, o contexto econômico e social de cada cidade. Neste contexto, acerca dos diversos estudos sobre o desenvolvimento urbano contemporâneo, acompanhado da gentrificação estão os projetos de renovação urbana, segundo Bidou-Zachariasen (2006). Estas realizações estão ligadas a grandes projetos e utilizam do urbanismo e de arquiteturas expressivas, no que diz respeito à sua espetacularização, contribuindo para ascensão da cidade e desenvolvimento de uma nova identidade. Além disso, a arquitetura e o urbanismo além de contribuir na determinação de novas expressões e significados para a cidade relacionam-se ainda com a produção do espaço construído, que demanda investimentos expressivos de caráter público e privado. Essa produção se relaciona à criação de espaços residenciais, comerciais, culturais e de lazer que se referem a tipos de projetos de exigem considerável
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demanda de investimentos públicos. Estes projetos, em geral, não são inclusivos, visto que o acesso à nova formação urbana constituída por eles é sempre regulado pelo mercado envolvendo privatização de serviços e espaços públicos (BIDOUZACHARIASEN, 2006).
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2 – MERCADO E CIDADE
2.1 RELAÇÃO DO COMÉRCIO, MERCADO E CIDADE
Para as cidades brasileiras, o comércio recebe grande importância enquanto atividade de desenvolvimento econômico e social. Segundo Vargas (2001), tal atividade apresenta um estreito relacionamento com o espaço físico que lhe dá suporte, assumindo uma função ao mesmo tempo de causa e efeito da caracterização dos padrões espaciais existentes. O comércio, como exercício da relação econômica entre indivíduos ou partes, admite-se como uma das atividades centrais e essenciais, que atua na caracterização do espaço urbano, como fator constitutivo do desenvolvimento social da cidade (PINTAUDI, 2001). Ao assumir um papel fundamental para a cidade, o comércio tem em seu ramo varejista uma função básica. Apesar de não produzir, o comércio varejista tem a função de fornecer aos consumidores, através da venda, o que é produzido pelos setores primário e secundário da economia, ou seja, agropecuária e indústria, respectivamente. Sendo assim, independente do tipo de produto a ser comercializado, a atividade comercial se expressa no espaço socialmente produzido segundo uma lógica de organização. Sua distribuição no espaço urbano consiste em localizar-se em locais em que ao atender as necessidades de consumo dos habitantes locais ou não, possa garantir sua manutenção e reproduzir suas próprias atividades, forma em que se caracteriza a iniciativa comercial, de maneira que o lucro adquirido torne viável o empreendimento (MATOS, 2011). A configuração da distribuição do comércio varejista sobre o território urbano reflete muitas das características espaciais da cidade, sugerindo, deste modo, o tipo de uso e ocupação de cada local nelas instaladas. Desta maneira, o processo de formação e de desenvolvimento do espaço urbano está diretamente ligado com a relação entre atividade econômica e território (MATOS, 2011).
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Verifica-se, portanto, que o comércio possui uma lógica espacial de ordenamento, e que sua implantação no território segue o sentido de viabilidade de sua atividade no desenvolvimento da produção do espaço da cidade, sendo a localização um fator de análise segundo as mudanças de uso do solo e de atividade que tal localização pode suportar (MATOS, 2011). Para Vargas (2001), a escolha da localização comercial e de serviços varejistas tem como base analisar determinada área de influência relacionando-a com a densidade demográfica e renda. Dessa forma, deve incorporar uma área de influência em que a população nela inserida seja detentora de um grande poder de compra. Interpretando, sobretudo, a localização dessas áreas comerciais, verifica-se que, inicialmente, representavam o centro, admitindo-se como foco das atividades comerciais. Neste sentido, questões referentes à acessibilidade ao centro da cidade e a sua localização estratégica relacionada ao mercado consumidor foram tema de estudos desenvolvidos, em sua maioria, na área da geografia. Um dos estudiosos que contribuíram com suas teorias para tal temática foi Richard Nelson apud Vargas (2001, p. 62), que discutiu a origem dos negócios varejistas. O autor afirma que o valor de um “ponto” dependia, além do deslocamento e da acessibilidade da população residente, da atração física da loja, ou seja, aspectos arquitetônicos, uso do solo do entorno e qualidade e valor dos produtos ofertados. No entanto, onde o ordenamento da estrutura urbana historicamente formada pela maior representatividade local do comércio varejista, com maiores possibilidades de oferta de produtos comercializáveis, constitui-se, portanto, de uma tendência em configurar-se como a área central da mesma. Verifica-se, neste caso, que a implantação de forma concentrada do comércio varejista no espaço, atua como elemento importante para a configuração do centro da cidade, ao torná-lo foco da população urbana local, uma vez que o exercício da atividade comercial e todo seu significado se realizam em sua magnitude. Sendo assim, apresentando expressiva concentração de atividades comerciais, o centro representa convergência. É nele onde a população local vai consumir e é de onde levam os produtos e bens.
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Portanto, faz-se necessário o entendimento do processo de organização espacial do comércio para uma melhor compreensão das mudanças ocorridas deste ponto de vista na cidade de Vitória. Neste sentido, pretende-se neste trabalho apresentar a importância do comércio varejista referente aos estabelecimentos de mercado, que servirão de subsídio para a análise dos projetos que constituem tema desta pesquisa, o Mercado da Vila Rubim e o Hortomercado da Enseada do Suá. Para que se compreenda o desenvolvimento do comércio varejista, foi necessário conhecer a origem desses estabelecimentos. Vale ainda ressaltar que nesses espaços era realizada a troca de mercadorias e para isso, era preciso acontecer o encontro: encontro de pessoas com produtos para serem trocados. Da necessidade de abastecimento das populações, a atividade de troca vai atender essas questões relacionadas à vida social. Dessa forma, nasce o lugar do mercado. Sua localização irá coincidir com lugares onde ocorre o fluxo de pessoas ou com locais onde as demais atividades sociais: religiosa, política, cultural (VARGAS, 2001). O termo mercado refere-se a um espaço coberto ou ao ar livre destinado a compra e venda de mercadorias. Desde o início, os mercados desempenharam um papel de grande relevância para a cidade. Além de reproduzir a prática comercial, agiram também como elemento importante da vida social, quando se considera o abastecimento da população como atividade social (VARGAS, 2001). As primeiras formas de mercado, segundo Vargas (2001) se caracterizavam por um grande espaço aberto onde os comerciantes armavam suas barracas, e era rodeado por colunatas que davam acesso às lojas e aos escritórios dos comerciantes nas sobrelojas. Além disso, eram locais de diversão e entretenimento com a presença de música, acrobacias, pregação religiosa. Se localizavam no coração da cidade. As mercadorias eram expostas através das barracas e em lojas sem vitrines, mas com portas para fechar durante a noite (Figura 5). Sons, cores e odores formavam o ambiente do mercado.
35 Figura 5– Mercado público no Império Romano
Fonte: VARGAS; CASTILHO, 2009
Posteriormente, esses espaços passaram a ser cobertos e em forma de edifícios, apresentando-se como uma construção comercial coberta, como uma galeria em volta de um recinto quadrado ou retangular (Figura 6) ou ainda com pavimento superior (VARGAS, 2001). Figura 6– Cotton Market, Jerusalém, 1329
Fonte: VARGAS; CASTILHO, 2009
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Capaz de atrair um grande número de lojas e atrair um público diversificado, o mercado assume importância considerável, visto que a população aumentava e se urbanizava. A sua forma foi reproduzida como um perímetro sólido fechado por lojas faceando um espaço central, coberto com um forro leve sustentado por uma grande estrutura em ferro (Figura 7). Nesses espaços internos, as mercadorias eram vendidas em barracas (VARGAS, 2001). Figura 7– Mercado Saint Germain, 1813-1816
Fonte: VARGAS; CASTILHO, 2009
No Brasil, o primeiro mercado público construído data aproximadamente das primeiras décadas do século XIX, no Rio de Janeiro, denominado Mercado da Candelária. O mercado foi construído com o objetivo de adequar as atividades de vendas de alimentos da cidade, uma vez que era feita em construções simples, caracterizada por pequenas barracas de madeira em condições precárias e com a falta de higiene (MURILHA; SALGADO, 2011). Quanto às características tipológicas, este mercado público apresentava dois pavimentos de planta retangular com arcarias voltadas para um pátio central. No centro das fachadas externas estavam os portões de entrada. Seguiu o modelo clássico que remete ao átrio romano antigo (MURILHA; SALGADO, 2011). Por ter sido o primeiro mercado a ser construído no Brasil, pressupõe-se que este tenha servido de modelo para a construção de outros mercados públicos com pátio
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interno. Na década de 1850 foi construído no Rio de Janeiro o Mercado Público da Glória (Figura 8), tendo como modelo o Mercado da Candelária (MURILHA; SALGADO, 2011). Figura 8– Mercado da Glória no Rio de Janeiro na década de 1850
Fonte: MURILHA; SALGADO, 2011
Tendo como modelo o Mercado da Candelária no Rio de Janeiro, a construção desses edifícios de mercado no Brasil ocorreu, sobretudo, a partir da segunda metade do século XIX até o final do século XX. Muitas cidades brasileiras seguiram uma tipologia comum ao modelo de pátio central, porém, algumas se transformaram inspiradas nos modelos de mercado europeu (Figura 9) (MURILHA; SALGADO, 2011). Figura 9– Mercado Central de Berlim em 1896
Fonte: MURILHA; SALGADO, 2011
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Apresentando essas características construtivas, no começo do século XX, a cidade de Santos deu início às obras de construção do Mercado Municipal. Figura 10– Mercado Público da cidade de Santos, inaugurado em 1902
Fonte: MURILHA; SALGADO, 2011
Segundo Murilha e Salgado (2001), em algumas cidades brasileiras, dos mercados públicos construídos, alguns já foram demolidos e outros ainda existem, contudo, perderam sua função de mercado e passaram a exercer outro tipo de uso, como o caso do edifício do Mercado Público Campineiro, em São Paulo, que é tombado pelo patrimônio municipal da cidade, mantendo sua função de comercialização de diversas mercadorias. Inicialmente, os mercados públicos se caracterizavam por ser local para realização de atividades comerciais da população residente na cidade, bem como um local de encontro da mesma. No entanto, com o desenvolvimento das cidades, esses espaços tradicionais passaram a apresentar de diversas formas seus atributos culturais. É nesse espaço onde está estampada a identidade cultural da cidade, constituída pela exposição de adereços, peças artesanais, técnicas populares, produtos específicos, pratos típicos, como uma vitrine de expressões culturais. Dos diversos produtos de natureza variada que são oferecidos no mercado, o seu conjunto contemplam a riqueza cultural de determinada população, admitindo seus costumes e tradições (MURILHA; SALGADO, 2011).
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Os mercados são capazes de conferir à cidade um valor social, por este se admitir como referência histórica, fazendo parte do registro da vida de uma sociedade. Além disso, também são capazes de lhe conceder valor turístico, uma vez que acabam por atrair turistas e consumidores interessados em conhecer as práticas, sabores e costumes da cultura tradicional (MURILHA; SALGADO, 2011). Conforme Murilha e Salgado (2001), um mercado possui grandes atribuições de valor para uma cidade. Geram identidade através de atributos exclusivos do que há de significativo e marcante na cultura daquela sociedade, expressos pelos seus produtos, aromas, cores, texturas. É uma síntese de história e tradição.
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CIDADE DE VITÓRIA
Neste item será apresentada uma breve descrição da evolução urbana da cidade de Vitória enfatizando os bairros Vila Rubim e Enseada do Suá, cujos mercados constituem objeto de análise da presente pesquisa. Busca-se o conhecimento histórico com o objetivo de, principalmente, compreender a formação, evolução e desenvolvimento das respectivas localidades, sua organização funcional, bem como a relação de seus mercados (Vila Rubim e Hortomercado) com seus contextos urbanos. A cidade de Vitória, capital do estado do Espírito Santo, foi fundada em 1551. A antiga vila instalou-se em uma elevação no espaço onde hoje corresponde ao centro histórico. O uso e ocupação do solo deram-se inicialmente em sua região insular, na área central do município, onde o Centro e bairros adjacentes se inserem. Sua forma de funcionamento e configuração urbana desenvolveram-se de maneira semelhante durante anos até a primeira metade do século XX (CAMPOS JR, 2002). As mudanças mais significativas passariam a se dar a partir de então, ligadas a seu crescimento.
40 Figura 11– Vitória antes dos aterros, vê-se que o mar avançava até a Praça Costa Pereira
Fonte: Prefeitura de Vitória, 2006
Segundo Siqueira (2001) o processo de ocupação de Vitória, ao tornar-se mais rápido e violento a partir de meados do século XX, iniciou uma transformação no espaço da cidade, marcando a ampliação da mancha urbana no município e o incremento de sua estrutura urbana (Figura 12). Figura 12– Mapa de aterros
Fonte: Prefeitura de Vitória, 2006
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As primeiras décadas do século XX são marcadas por uma série de projetos e planos urbanísticos implantados com a intenção de ampliar o traçado viário e criar novos espaços públicos. Tais transformações representam o pensamento da elite dominante e o desejo de modernizar a cidade e modificar traços do passado colonial. Além disso, Vitória necessitava adequar seu espaço físico ao novo papel que assumia na economia estadual com o início da implantação das obras do Porto de Vitória (1906), na área central da cidade (SIQUEIRA, 2001). Figura 13– Aspecto do Porto de Vitória entre os anos 10 e 20, do século XX
Fonte: Prefeitura de Vitória, 2006
Nas proximidades do Porto, desenvolvia-se a Vila Rubim. A Vila data do início do século XX, quando era conhecida como Cidade de Palha, pois no local predominavam a pobreza e os casebres que abrigavam famílias migrantes do interior do Espírito Santo e outros estados. O desenvolvimento da Vila sempre esteve relacionado à sua situação de passagem obrigatória para o continente e viceversa e a expansão do Centro de Vitória. Depois da década de 1920, com os aterros
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dos mangues que circundavam a Cidade Alta, a população da antiga Cidade Alta passou a ocupar outras áreas para moradia. Para a região da Vila Rubim dirigiramse as famílias constituídas pelos portuários, dando origem à constituição do bairro (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2015). A vila, antes das obras de aterro em 1970, era diretamente ligada ao mar e abrigava um cais em que se fazia o transporte de cargas e passageiros, embarque e desembarque de pequenas embarcações e representava todo o desenvolvimento social e econômico da época pela questão portuária. Em 1926, surgia em torno da área portuária o Mercado da Vila Rubim (MELO; BONI, 2003). O comércio na vila se desenvolve acompanhando o crescimento da ocupação que se dava na área central. No governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912), a cidade passa a receber importantes obras de infraestrutura compreendendo drenagem, iluminação pública, água e esgoto, aterros, implantação do bonde elétrico e construção de novos edifícios.
Tais intervenções tinham o propósito de implantar um novo padrão
estético, através do embelezamento e saneamento da cidade, que correspondia aos valores da nova classe burguesa que ascendia no cenário social. Com esse processo, a baixada, agora urbanizada e saneada, passa a ser ocupada pela elite local e pelo comércio, enquanto a classe mais pobre ocupa os morros, onde o processo de urbanização ainda não havia chegado (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2006).
43 Figura 14– Obras do governo Jerônimo Monteiro: Abastecimento de água – construção do reservatório da Santa Clara, Assembleia Legislativa, Escola Normal (atual Maria Ortiz) e Igreja de São Tiago, antes e depois da reforma do Palácio
Fonte: Prefeitura de Vitória, 2006
Junto ao porto de Vitória, em terrenos conquistados com aterros, surgiram as primeiras ruas de comércio da parte baixa da cidade. Do lado da colina atracavam pequenas embarcações, onde hoje estão situadas a Praça Costa Pereira e o Parque Moscoso (MELO; BONI, 2003). Segundo CAMPOS JR. (2002), as funções urbanas de Vitória basicamente não mudaram até o início dos anos 50. A cidade se manteve comercial, prestadora de serviços e como sede político-administrativa do governo estadual. Compreendendo o período entre os anos de 1951 e 1954, o governo de Jones dos Santos Neves é marcado pelo incentivo à industrialização, com consequente reordenamento do espaço urbano da cidade. Inicia-se um processo de consolidação da ocupação de área fora do Centro, apresentadas como uma alternativa de moradia (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2006).
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As políticas públicas do Estado do Espírito Santo priorizavam o centro como destino de investimentos até os anos 1960. A partir daí até a década de 1970, as intervenções públicas não estiveram ocupadas em ampliar a função habitacional do Centro. Os investimentos neste setor estavam concentrados em outros locais da cidade, principalmente na área compreendida pelo Novo Arrabalde1 (Figura 15). O crescimento populacional acelerado, conjugado à percepção de que a região central apresentava uma saturação funcional e não correspondia à demanda de expansão, fizeram com que o poder municipal não priorizasse os investimentos no Centro e expandisse a malha urbana. O interesse nesta área central estava focado na manutenção das atividades comerciais e portuárias, sobretudo nas áreas de aterro (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2006). Figura 15– Planta de Vitória em 1896, incluindo o Projeto Novo Arrabalde (em rosa)
Fonte: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo
Com as mudanças econômicas – transição da cultura cafeeira para a indústria -, que se iniciam na década de 1960, estas colocam o estado definitivamente no circuito da economia nacional. A implantação de grandes projetos industriais em Vitória e nos municípios vizinhos desencadeou o fluxo migratório de habitantes do interior, em sua 1
O Projeto Novo Arrabalde consiste em um projeto urbanístico que esteve sob o comando do engenheiro sanitarista Francisco Saturnino de Brito e teve como objetivo a expansão da malha urbana da cidade de Vitória na esperança de que o desenvolvimento econômico trouxesse crescimento para a capital e aumento de sua população. O projeto abrangia a área que hoje se estende do Suá a Ponte da Passagem. Contudo, essa área somente passa a ser ocupada em 1920, com o apogeu do comércio cafeeiro (FREITAS, 2002).
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maioria trabalhadores pouco qualificados que se instalam na região. Tal situação impulsionou a expansão da estrutura urbana para além do centro da capital e ocasionou um acelerado processo de urbanização nestas áreas para comportar a nova demanda populacional. O grande contingente que não conseguiu ser absorvido pelas indústrias, acabou em atividades informais. Isso gerou uma desordem social na cidade, o que a tornou altamente congestionada e com considerável população favelada. Para o Centro da capital, ocasionou declínio da qualidade dos serviços oferecidos, como saúde, educação e transporte coletivo (FREITAS, 2002). Na área central da cidade e em alguns bairros como Praia do Canto, Jardim da Penha e Jardim Camburi, nota-se a intensificação da verticalização, a partir da década de 1960, ocasionando um aumento do processo de urbanização e crescimento urbano, passando atrair atividades comerciais e de serviço voltados para a classe de maior renda que passa a morar nestes locais (FREITAS, 2002). A partir da década de 1970, a cidade começa a se expandir. Outros aterros foram realizados com vista à conquista de novas áreas, uma vez que as obras dos aterros da região do Novo Arrabalde teriam sido concluídas. Em 1971, ocorre o aterro da Enseada do Suá visando à criação de novas áreas para atender às necessidades de expansão da cidade de Vitória (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2015).
46 Figura 16– Aterro da região do Suá, década de 1980
Fonte: FARIA, 2010
Localizando-se na entrada da Baía de Vitória, toda a extensão do aterro da região do Suá recebeu um plano de urbanização o qual tinha proposição de constituição da área de uso residencial, institucional e comercial como forma de transferir parte das atividades desenvolvidas no Centro de Vitória que se apresentava congestionado e sem possibilidades de crescimento (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2015). As obras de aterro da região do Suá implicaram no encerramento de um ciclo da história de um dos bairros mais antigos de Vitória, a Praia do Suá. Este bairro tinha o mar à sua porta e até o final dos anos de 1960, os habitantes eram caracterizados por famílias de pescadores, em sua maioria, constituindo uma paisagem típica de vila de pescadores. Com o aterro, os pescadores tiveram que transferir o cais de suas embarcações para as proximidades do morro Jesus de Nazareth, que se localiza nas imediações do bairro e faz, até hoje, fronteira com o mar. Atualmente, existem neste local pequenos estaleiros e companhias de pesca. (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2015). As obras de aterro foram concluídas em 1978 e a partir da década de 1980 foram transferidos para essa região serviços administrativos estaduais (FREITAS, 2002),
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sendo deslocados da área central da cidade a sede do Centro de Comércio de Café de Vitória para o edifício Palácio do Café, a Assembleia Legislativa, o Tribunal de Contas, o Tribunal de Justiça, dando início ao bairro que se tornaria o “novo centro” econômico e institucional da cidade e que atualmente constitui um dos centros financeiros de Vitória. Deste modo, a partir da década de 1980, o Centro já começa a apresentar sinais de decadência. A transferência do interesse do setor imobiliário por edifícios residenciais e comerciais para áreas afastadas do Centro e recentemente urbanizadas muda o significado que a área central assumia no âmbito da cidade, deixando de ser local concentrador de atividades, serviços e residências das famílias mais abastadas, bem como cria novas perspectivas para a região da Enseada do Suá. Certas partes do Centro acabam por se tornar marginalizadas e deterioradas devido à falta de investimentos e ao seu abandono (FREITAS, 2002). Desta forma, passa a ocorrer uma forte valorização imobiliária na região do aterro do Suá. Esse deslocamento das atividades institucionais e de serviços para outras áreas acaba gerando uma nova centralidade dentro da cidade e, decorrente disso, gerando perda de vitalidade da área central. Consequentemente, alguns imóveis da área central passam a ser abandonados ou ainda tornando-se subutilizados. A ação do poder público e a especulação imobiliária promoveram a descentralização da cidade, reduzindo o centro original a um “corredor de tráfego”, com importância deliberadamente reduzida. A população de maior poder aquisitivo transferiu-se de lá para bairros no norte da Ilha, tais como Praia do Canto, Jardim da Penha e Mata da Praia (CAMPOS JR., 2002). Além disso, mudanças nas políticas públicas urbanas e nos interesses do mercado imobiliário também ocasionaram, nas últimas décadas, o esvaziamento e a degradação dos centros urbanos em diversas cidades. Como causa, aponta-se, principalmente, a perda da função centralizadora destes, que deixam de concentrar atividades e instituições, que antes se localizavam exclusivamente no centro. Estes locais tornam-se subutilizados e assumem uma imagem de deterioração. Considerando os aspectos abordados sobre a evolução histórica da cidade de Vitória e analisando os processos de evolução urbana da Vila Rubim e da Enseada
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do Suá, verifica-se que ambos os bairros passaram por transformações espaciais resultantes das mudanças no contexto socioeconômico e político do estado do Espírito Santo, da Grande Vitória e da capital. Tais mudanças estão expressas nas características atuais destas áreas, bem como nas mudanças sofridas nos seus mercados como será abordado a seguir.
2.3 OS MERCADOS DA VILA RUBIM
Com base na evolução dos bairros demonstrados anteriormente, são analisados a seguir os Mercados da Vila Rubim e o Hortomercado localizado na Enseada do Suá, observando suas transformações no decorrer do tempo, bem como as relações com os processos de evolução urbana da cidade. Com sua disposição espacial incluída na área central, encontra-se a Vila Rubim, comercialmente, como expansão do Centro. O comércio adaptado às necessidades locais moldaram sua formação e desenvolvimento, surgindo na década de 1930, o Mercado da Vila Rubim. Figura 17– Primeira edificação do Mercado da Vila Rubim – 1930
Fonte: MATOS, 2011
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Nos anos 50, com a expansão do comércio na Vila Rubim, a edificação do mercado não comportava a grande quantidade de comerciantes, surgindo um aglomerado de pequenas barracas onde as mercadorias eram vendidas “a céu aberto”. Posteriormente, na década de 1960, a região recebe nova configuração devido às obras de aterro e a construção do novo Mercado, sendo construídos três grandes galpões (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2015). O Mercado se popularizou e passou a atender crescentemente não somente aqueles que residiam em suas proximidades, mas atendeu também habitantes de áreas relativamente distantes como também municípios vizinhos. Figura 18– Galpões do Mercado na década de 1960
Fonte: MATOS, 2011
O aterro realizado no início da década de 70 afastou o mar acabando, consequentemente com o cais. Em contrapartida, o Mercado da Vila Rubim se popularizou, ampliando sua variedade de produtos visando o abastecimento dos habitantes das áreas que se expandiam pela cidade, o que atribuía ao Mercado uma função de destaque e importância na conjuntura local (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2015).
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O Mercado desempenhou sua função até 1977, no que se refere ao abastecimento de hortifrutigranjeiros, quando a criação das Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (CEASA) em Cariacica, o substitui na realização deste tipo de comércio (ESPIRITO SANTO EM AÇÃO, 2011). Contudo, o Mercado da Vila Rubim teve seu auge ao concentrar nas imediações da área central um comércio amplo, oferecendo diversos tipos de produtos. Também significava para muitos como local de trabalho, uma vez que representava garantia de sobrevivência como meio de realização da atividade comercial, onde podiam vender aquilo que se podia oferecer. Ressalta-se, ainda, que o Mercado representava também um sentido de socialização, na medida em que se desenvolvia um convívio entre os comerciantes e os consumidores, criando relações de comércio em relações de informalidade, chegando a apresentar uma característica de ponto de encontro. Desta forma, o Mercado adquiria um sentido de referência na cidade, representando não só local de comércio, mas também de sociabilidade. Em julho de 1994, um trágico fato marcou esse local da cidade: um incêndio de grandes proporções iniciado a partir de um estoque de pólvora de uma loja pirotécnica. Após perdas e danos irreparáveis, os comerciantes tornaram-se mais unidos e determinados a reconstruí-lo (QUARTO; RASSELI, 2015). Segundo Renato Freixo, presidente da Associação dos Comerciantes da Vila Rubim: “Logo depois do incêndio montaram um provisório perto da rodoviária que não deu muito certo”. O movimento era pouco. A solução era voltar à área destruída e montar barracas de madeira para um novo recomeço. Um recomeço arcaico, mas que culminou na construção do novo mercado. A Prefeitura de Vitória, através da Administração Regional do Centro e Secretaria de Desenvolvimento Urbano, desenvolveu um projeto para a Recuperação do Mercado da Vila Rubim, com o intuito de revitalizar física e economicamente a região, em parceria com a Associação de Comerciantes do local (MELO; BONI, 2003). O mercado foi reinaugurado muito tempo depois, somente em 2002, permanecendo até os dias atuais.
51 Figura 19– O Comércio da Vila Rubim (O Mercado em amarelo e vermelho)
Fonte: MATOS, 2011
Conforme Melo e Boni (2003) descrevem, após o incêndio, dos três galpões existentes, dois deles foram completamente destruídos pelo fogo, restando apenas um. O projeto de recuperação dos galpões contemplou a reconstrução dos que haviam sido destruídos e a remodelação do que havia restado, integrando-o à nova proposta urbanística e arquitetônica. Distribuídas em dois pavimentos em lojas e sobrelojas, ao todo foram recuperadas 63 lojas, respeitando, contudo, as áreas, usos e comerciantes instalados anteriormente ao incêndio. No entanto, o projeto contemplou uma nova perspectiva: o do incremento turístico da região, através do seu novo tratamento arquitetônico e urbanístico, visto que a região se insere dentro de um circuito turístico regional (MELO; BONI, 2003).
52 Figura 20– Planta baixa pavimento térreo apresentando a divisão das lojas
Fonte: Arquivo cedido pela Prefeitura de Vitória
Figura 21– Planta baixa pavimento superior - sobrelojas
Fonte: Arquivo cedido pela Prefeitura de Vitória
A criação de uma espécie de praça coberta com mezanino e o fechamento de uma rua existente entre os galpões priorizando o pedestre e áreas de permanência e lazer faz parte do partido arquitetônico adotado. Como características a serem mantidas se destacam as atividades tradicionais como artesanato, artigos religiosos, ervas medicinais e hortifrutigranjeiros (MELO; BONI, 2003).
53 Figura 22– Praça e mezanino entre os galpões
Fonte: MATOS, 2011
Entretanto, após longo período em que o Mercado representava quase que exclusivo no abastecimento da cidade de Vitória, o comércio da Vila Rubim sofreu alguns impactos na função que exercia. Com a expansão da cidade para áreas além do Centro, atributos urbanos antes exclusivos da área central passaram a se difundir por outros locais da cidade, como atividades comerciais, por exemplo, associadas às necessidades da população local. Sendo assim, o Centro reduz seu sentido atrativo e sua função principal dentro da cidade. Isso acaba por refletir no comércio da Vila Rubim, acompanhando o centro em sua perda de importância. Com as novas disponibilidades de comércio locais, o deslocamento até a Vila Rubim passa a ser desnecessário. O tipo de comércio realizado na região passa a existir nas demais áreas da cidade, como os supermercados. A função que ele representava de abastecimento da cidade como um todo perdeu essa referência. No entanto, ainda constitui algumas atividades muito específicas, às vezes exclusiva dentro da cidade, como a venda ervas, temperos, artigos religiosos, artigos de pesca, fogos de artifício.
54 Figura 23– Estrutura física do Mercado da Vila Rubim
Fonte: Google Earth
Desta forma, o Mercado passa a atender um público menor e restrito, que frequentava o Centro com mais assiduidade. Como consequência disso, a Vila passa por um processo de desvalorização comercial e cultural. No entanto, o Mercado da Vila Rubim tem significado importante para o Centro e para a cidade devido à sua representatividade comercial na história da região e como local de sociabilidade da população. Mesmo diante das mudanças por que passou a área central da cidade e o Mercado da Vila Rubim, o seu comércio ainda se mantém pelas suas características e função, ainda útil e relevante. O Mercado apresenta um papel de comércio de bairro, caracterizado por um comércio mais popular pelos tipos de lojas e de produtos, e que atende a população de seu entorno, admitindo um perfil de mais baixa renda. Atualmente, o comércio da Vila Rubim é configurado por uma variedade de serviços. Além da forma particular dos galpões do Mercado, a Vila apresenta uma diversidade de estabelecimentos comerciais configurados por uma composição de estruturas antigas, reformadas e outras novas compreendendo um comércio comum a qualquer outra área da cidade como mercearia, açougue, restaurantes, bares, lanchonetes. Além disso, diferente do comércio regularizado das lojas, há os comerciantes de produtos de feira, que vendem suas mercadorias na calçada ou em vias de uso
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restrito a pedestres, expondo seus produtos sobre paletes ou ainda em caixas de madeira (Figura 24). Figura 24– Comércio de produtos de feira em caixas de madeira
Fonte: Google Earth
Outro aspecto relevante sobre a atual situação do Mercado é em relação às atividades noturnas que são inexistentes no local. A região do Mercado e seu entorno se reconfiguram no período noturno devido à ausência de trânsito de pessoas, de atividades que permitem a vivência e a permanência na região. Ao contrário do intenso movimento de veículos e pessoas que transitam pelo local durante o dia, à noite o perfil da região é configurado por um espaço pouco movimentado e carente de atividades que permita a atração de pessoas para a utilização deste espaço. Sendo assim, a sensação que a região proporciona aos transeuntes do local é a de insegurança. Sobre as formas de acesso à região do onde está inserido o Mercado, falta um ordenamento do trânsito de veículos e estacionamentos. Em dias de maior movimento, o trânsito de veículos se torna lento causando congestionamentos nas ruas internas no bairro. Além disso, verifica-se que há uma grande demanda por estacionamento nessa região. As laterais das vias internas do bairro apresentam vagas por quase toda a sua extensão, além da existência de um espaço aberto, vazio, localizado debaixo da Ponte Florentino Avidos destinado a estacionamento (Figura 25), cujo local também funciona como carga e descarga das lojas das proximidades, principalmente das peixarias.
56 Figura 25– Estacionamento irregular
Fonte: Google Earth
Acompanhando o Centro na trajetória urbana da cidade e diante de novas condições comerciais, o comércio varejista da Vila Rubim passa a se defrontar com uma nova realidade e a ter de enfrentar novos desafios.
2.4 O HORTOMERCADO DO BAIRRO ENSEADA DO SUÁ
Enquanto a cidade se expandia com a implantação dos novos aterros, novas áreas de comércio se instalavam juntamente às novas localidades. A pequena vila de pescadores localizada na Praia do Suá deixou de ser uma praia para se tornar uma ilha urbana, cercada pela modernidade da Enseada do Suá. Diferentemente de outras localidades de Vitória onde a população foi “empurrada” para a periferia para dar espaço à especulação imobiliária, na Praia do Suá isso não ocorreu em sua totalidade, mas ocorreu em dimensões consideráveis. O bairro ainda é constituído pela existência de residências de moradores mais antigos, que ainda preservam suas casas. Na Enseada do Suá, na década de 1970, é concluído um mercado visando à implantação de um estabelecimento que oferecesse produtos hortifrutigranjeiros e que atendesse a demanda da população que se instalava naquelas proximidades.
57 Figura 26– Horto na década de 1990
Fonte: Coleção Elmo Elton
Apesar da administração da cidade não ter documentos oficiais que registrem a história do horto, as informações obtidas para a realização de parte deste trabalho se deu através dos relatos de antigos moradores da região que presenciaram e vivenciaram esses acontecimentos. Segundo relatos de moradores do local, o horto funcionou, entre os anos de 1978 e 1991, como estabelecimento que abrigava uma espécie de feira. A edificação se caracterizava por um edifício térreo, de planta retangular e possuía capacidade para abrigar 33 lojas. Estas eram dispostas nas extremidades da edificação sendo divididas por paredes de alvenaria. Diferente das demais lojas que se localizavam no interior da edificação e constituíam-se de barracas de madeira fazendo a própria divisão entre elas. Nesse espaço eram comercializados, em sua maioria, produtos hortifrutigranjeiros. O comércio desenvolvido no espaço se caracterizava pelo seu papel popular e de abastecimento da população daquela localidade, comercializando produtos advindos do interior. Os residentes do entorno mercado admitiam-se preferencialmente por uma população de mais baixa renda constituída pelos habitantes dos bairros Jesus de Nazareth e da vila de pescadores da Praia do Suá. Sendo assim, o comércio de caráter popular praticado pelo horto atendia a demanda dos consumidores destes bairros. No entanto, devido às alterações do perfil social e econômico da região, o
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mercado não atendia às expectativas desta nova população de mais alta renda que se instalava nas suas proximidades, na Enseada do Suá. Diante disso, após o início da década de 1990, o Horto fecha suas portas, apenas funcionando como o escritório do estabelecimento. A partir daí, o edifício se manteve fechado e paralisado por aproximadamente 12 anos, de acordo com os moradores. Nestas condições, o Governo do Estado arrendou o estabelecimento com vista a revitalizar o empreendimento, já que se localizava em uma área nobre da cidade. No que se refere ao contexto da região, o Horto passou por consideráveis mudanças, visto que no seu projeto inicial, a sua função estava relacionada a um comércio popular direcionada a um público de menor renda, que residia nos bairros mais populares da região, como os bairros Jesus de Nazareth e Praia do Suá. Com a mudança do perfil de ocupação dessa área, principalmente da Enseada do Suá, justificada pela inserção dos novos edifícios comerciais, institucionais e pela instalação de uma população que detinha maior renda, verificou-se a necessidade de revitalização do estabelecimento. Atrelado a isso, o projeto envolveu nova aparência juntamente com nova configuração espacial e de usos. Após obras de reconstrução do edifício, mudando sua configuração tanto externa quanto interna, na década de 2000, aproximadamente no ano de 2007, o estabelecimento
foi
reinaugurado
expondo
sua
marca
sendo
denominado
Hortomercado. Nele se estabelecem um supermercado, 16 lojas de conveniência juntamente com uma área alimentícia composta por 5 lojas, compreendendo bares e restaurantes. A configuração do espaço apresenta-se com menor quantidade de lojas que anteriormente devido ao tipo de atividades que acontecem no estabelecimento. Os produtos do tipo hortifrutigranjeiros, antes vendidos em maior escala, atualmente encontram-se somente no supermercado, não havendo lojas específicas para este tipo de produto. As demais lojas comercializam produtos como artesanato, doces, laticínios entre outros. Assim como no projeto anterior, na extremidade da edificação são dispostas seis lojas e o supermercado, assim como banheiros e depósitos, e no espaço central, há um conjunto de dez lojas, algumas destinadas à venda de produtos de artesanato e outras funcionando como lanchonete e café. Além disso, as lojas que configuram a área alimentícia contam com a presença de bares e restaurantes, totalizando 5 lojas, completando a
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espacialidade do pavimento térreo. No segundo pavimento, dando suporte à área alimentícia, existem câmaras frigoríficas, cozinha e área de suporte aos funcionários, como vestiários e refeitório, além da presença do setor administrativo. Esta configuração não se modificou até os dias atuais e mantém seu funcionamento durante todos os dias da semana. Figura 27– Planta baixa esquemática pavimento térreo do Hortomercado
Fonte: Autora
Com essa nova configuração e com os novos usos propostos, o Hortomercado não inseriu em seu programa atividades que integrassem os residentes do entorno cuja população usufruía do comércio da edificação anterior, excluindo de seu programa o comércio de caráter popular que existia. Desta forma, o mercado passa a atender um público restrito, representado pela população de mais alta renda que trabalha e/ou reside na Enseada do Suá. Nessa nova configuração, os períodos que apresentam maior movimento no Hortomercado se caracterizam pelo meio do dia, no horário de almoço, e no período noturno, a partir do término do horário comercial. Nota-se que esse movimento acontece devido a presença dos bares e restaurantes no local. Nos demais horários
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do dia, verifica-se um menor movimento de pessoas, sendo observada a utilização do supermercado e das lojas de artesanato. Diante disso, pode constatar que o mercado limitou o seu acesso, excluindo a população de mais baixa renda do entorno. Esse processo de alteração do perfil dos usuários e da população residente da área refletiu notoriamente a distribuição e a segregação socioespacial da região. Figura 28– Estrutura externa do Hortomercado
Fonte: http://www.hortovitoria.com.br
Figura 29– Espaço interno do Hortomercado
Fonte: http://www.hortovitoria.com.br
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Apesar das transformações ocorridas neste estabelecimento ao longo do tempo, percebe-se que ambos os projetos do Horto, tanto o anterior quanto o que existe atualmente, possuem representatividade no contexto social de cada época. O que ocorre é uma mudança seguindo as transformações no contexto urbano decorrente da prática da evolução urbana refletidas pela alteração do perfil dos usuários do local e segregação socioespacial.
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3 – PROPOSTA PROJETUAL
Baseando-se nas duas experiências de análise, o Mercado da Vila Rubim e o Hortomercado da Enseada do Suá, é possível traçar algumas diretrizes para o processo de requalificação do Mercado da Vila Rubim e consequentemente torná-lo um projeto âncora para a revitalização do Centro. Foi observado que não se pode pensar na revitalização do Mercado de forma isolada como foi o caso do Hortomercado. Para que a revitalização do Centro aconteça de forma completa, deve-se levar em consideração a integração de atividades, faixas etárias e camadas sociais distintas envolvendo toda a região central da cidade. Com o objetivo de criar maior interação entre o ambiente interno e externo, é necessário que o Mercado permita ao usuário ter a sensação de conexão da edificação com a paisagem externa. O Mercado é carregado de elementos que fazem parte da cultura local. Por isso, é de grande importância que o estabelecimento englobe os respectivos elementos em seu programa, incorporando a gastronomia típica, produtos artesanais e feiras tradicionais. Além disso, a requalificação do Mercado será um grande elemento impulsionador para a requalificação do espaço urbano.
3.1 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO
Com o intuito de melhor compreensão das relações que ocorrem entre a área de estudo (Figura 30) e a cidade, é necessário que se compreenda a situação atual da região a fim de possibilitar a elaboração de um projeto que atenda as expectativas levantadas.
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3.1.1 Localização
Figura 30– Imagem do município de Vitória com a demarcação da área de estudo
Fonte: Google Earth Nota: Editado pela autora
A área de estudo compreende parte da região do bairro da Vila Rubim, localizada entre a Rua Pedro Nolasco e a Avenida Elias Miguel, como demarcado no mapa abaixo. Esta, por sua vez, possui localização estratégica dentro da cidade por estar próxima a um dos principais acessos à capital, a Segunda Ponte, e por se encontrar nas proximidades da área central da cidade. A poligonal de estudo também está relacionada com a paisagem natural da capital, sendo localizada entre um braço do Rio Santa Maria e o Maciço Central, que constitui uma formação rochosa e pode ser vista de vários pontos da cidade.
64 Figura 31– Imagem da poligonal de estudo
Fonte: Google Earth Nota: Editado pela autora
Para a caracterização desta área foi considerado aspectos históricos de evolução e caracterização urbana; gabarito; uso e ocupação do solo e sentido e intensidade dos fluxos com o objetivo de identificar as potencialidades e as irregularidades locais a fim de potencializar o seu valor no contexto urbano.
3.1.2 Uso do Solo
Analisando a poligonal de estudo, percebe-se que a área apresenta em grande parcela a atividade comercial, como demonstra o mapa abaixo (Figura 32). Dentre os tipos de produtos comercializados nesta região, predominam as lojas de temperos, ervas, condimentos, grãos, cereais e artefatos religiosos. A área apresenta ainda supermercados, açougues, peixaria, lojas especializadas em artigos para pesca, fogos de artifício e embalagens, lojas de roupas e acessórios, farmácia, loja de estofados, floricultura, lanchonetes, bares, camelôs e feiras ambulantes.
65 Figura 32– Uso do Solo
Fonte: Autora
A forma de ocupação de algumas áreas, como a dos camelôs, por exemplo, apresentam-se em estado precário (Figura 33). Uma vez que se localiza bem no acesso à região bairro em estudo, acaba proporcionando ao usuário e transeuntes uma sensação de desorganização e precariedade desta área. Percebe-se também nesta área, que os espaços públicos existentes (Figura 34), como pequenas praças, poderiam ser melhor aproveitados, proporcionando ao público um espaço de permanência e lazer apropriado e agradável.
66 Figura 33– Camelôs da Vila Rubim
Fonte: Google Earth
Figura 34– Espaço público presente na região de estudo
Fonte: Google Earth
3.1.3 Gabarito
Outro fator que deve ser levado em consideração para a caracterização da região de estudo é o gabarito das edificações. De acordo com o mapa abaixo (Figura 35), a
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característica das edificações corresponde a gabaritos baixos, predominando três pavimentos. Figura 35– Gabarito
Fonte: Autora
3.1.4 Mobilidade
Além disso, deve ser considerada também como fator de análise a mobilidade. A poligonal de estudo encontra-se localizada entre dois eixos viários estratégicos e de grande fluxo, a Avenida Elias Miguel e a Rua Pedro Nolasco. Isto porque a primeira recebe o fluxo advindo de Vila Velha e Cariacica e a segunda recebe o fluxo advindo do Centro da cidade. As
ruas
internas
apresentam
menor
fluxo.
Contudo,
nota-se
que
há
congestionamento em dias de maior movimento na região, causado pela grande
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quantidade de automóveis à procura pelo estacionamento existente nas laterais de quase todas as vias internas. Há ainda a previsão de implantação do BRT (Bus Rapid Transporting) nas proximidades desta região, o que irá otimizar o acesso a esta área (Figura 37). Figura 36– Sentido e Intensidade dos Fluxos
Fonte: Autora
69 Figura 37– Projeção do Terminal BRT
Fonte: SETOP
3.1.5 Legislação
Conforme o Plano Diretor de Vitória, Lei nº 6.705/2006, a zona em que se encontra a poligonal de estudo se classifica como Zona de Ocupação Preferencial (Figura 38). Esta zona é composta por áreas em transformação urbana acelerada e por grandes áreas desocupadas (VITÓRIA, 2006).
70 Figura 38– Localização da área de estudo no contexto do Zoneamento Municipal
Fonte: PDU Vitória Nota: Editado pela autora
De acordo com a Tabela de Controle Urbanístico (Figura 39), nota-se que na área de estudo são permitidas atividades de uso não residencial classificadas como G1, G2 e G3, que segundo o Plano Diretor de Vitória, institui dentre outros empreendimentos que é permitido o comércio de várias características, os quais se encontram listados na legislação municipal. Figura 39– Tabela de Controle Urbanístico da Zona que compreende a área de estudo (ZOP2)
Fonte: PDU Vitória
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A partir dos aspectos observados através do diagnóstico, constata-se que a área de estudo
apresenta
potencialidades
e
necessidades
que
se
traduzem
em
características relevantes a serem contempladas e avaliadas para a elaboração da proposta de intervenção arquitetônica e urbanística da área em estudo.
3.2 PROGRAMA DE NECESSIDADES
Como já se viu através dos dados levantados em campo, a área em estudo possui características peculiares distintas, com pontos positivos e negativos que devem ser aproveitados de modo a aperfeiçoar as potencialidades já consolidadas e corrigir as fragilidades existentes. A proposta de intervenção tem como característica agregar ações que estruturam a área do entorno imediato, recuperando o papel que exercia de centralidade onde seja possível desenvolver as funções sociais da cidade, trabalhar, conviver socialmente e ter espaços com usos que possibilitem a qualidade urbana. Como consequência dessas mudanças, a intervenção visa garantir melhores condições de vivência da área, seja pelo ordenamento do espaço, pela eficiência da infraestrutura, pelos serviços oferecidos, garantindo melhoria na qualidade do espaço e beneficiando tanto o local como o seu entorno. Nestes termos, foram identificados alguns aspectos relevantes para a elaboração da proposta. Percebe-se que a área possui grande potencial de exploração devido a sua localização estratégica na cidade, por estar próxima á área central e estar próxima a dois eixos viários estratégicos e de grande fluxo, a Avenida Elias Miguel e a Rua Pedro Nolasco. Desta forma, o Mercado tem a possibilidade de atrair grande número de pessoas que trafegam pelo local diariamente. Para isso, o ordenamento da mobilidade urbana é de extrema importância para oferecer qualidade e organização ao espaço. Visando o favorecimento ao pedestre e à organização do fluxo das vias, propõe-se uma rua de pedestre com o intuito de tornar o espaço mais agradável à circulação e permanência e a delimitação de vagas de estacionamento na cobertura do edifício.
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Além disso, analisando os dados do diagnóstico e a legislação vigente, constata-se que a área em estudo é propícia ao comércio e serviço, que é um dos pontos a ser explorado através da incorporação de novas atividades comerciais, com o objetivo de proporcionar maior vivência ao local. Outro aspecto a ser levado em consideração para a elaboração da proposta é a intenção de integração dos usos e públicos através da diversidade de atividades comerciais como a do gênero alimentício apresentando a gastronomia típica local, o destaque para a venda de produtos especializados (como ervas, temperos, produtos religiosos) e artesanais e a incorporação da feira de mercado comercializando produtos hortifrutigranjeiros. A partir desses dados, pensou-se em uma lista dos usos e das áreas demandadas para a realização das atividades propostas: Boxes e lojas para a venda de diferentes tipos de produtos Área de apoio à carga e descarga ALA MERCADO
Plataforma de estacionamento Vestiários Banheiros Circulação ampla Restaurantes Bares Café Livraria
ALA ALIMENTAÇÃO
Área de mesas Lojas Depósito Apoio Vestiários Sanitários
ALA COBERTURA
Plataforma de estacionamento Vagas de estacionamento
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Através da leitura do diagnóstico do entorno e do programa de necessidades, foi criada uma proposta de intervenção apresentada no item seguinte.
3.3 ESTUDO PRELIMINAR
O desenho urbano da implantação foi proposto através da setorização dos usos e do ordenamento dos fluxos de veículos e pedestres (Figura 40). Os caminhos em destaque representam uma ligação a todos os setores da área em estudo e tem o objetivo de conduzir o pedestre ao Mercado, seja por uma das entradas principais (localizada na rua de pedestres), seja pelo caminho do entorno do edifício, podendo o pedestre escolher o seu trajeto. Esses caminhos – em concreto estampado - encontram-se no nível da calçada, porém, quando se estendem pela rua, obedecem ao mesmo nível da via, representando a faixa de pedestres. Funcionam também como traffic calming que significa uma sinalização de alerta para os motoristas, indicando uma travessia de pedestres. Esta medida foi proposta com o intuito de reduzir os efeitos negativos do trânsito e ao mesmo tempo criar um ambiente seguro, calmo, agradável e atraente aos pedestres. Além disso, a pavimentação asfáltica foi substituída pela de bloco intertravado, contribuindo positivamente para a redução da velocidade do trânsito.
74 Figura 40– Implantação geral
Fonte: Autora
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As vagas de estacionamento que se encontravam localizadas nas laterais das vias foram remanejadas para debaixo da Ponte Seca, outras para próximo à Rua Gastronômica e para a cobertura do Mercado. No entanto, sabe-se que esta Ponte, também conhecida como Ponte Florentino Avidos, é um elemento histórico e deve ser valorizado. Contudo, este tema carece de um estudo mais aprofundado que não é o foco deste trabalho. Entretanto, como é grande a demanda por estacionamento nesta área, a proposta do estacionamento debaixo da Ponte acontece como fase provisória, uma vez que o referido elemento histórico deve ser revitalizado e valorizado pela importância a qual representa para a cidade. Ainda tratando-se do ordenamento dos fluxos, foi retirada a Travessa Galpão Dois dando espaço à ampliação do Mercado. Também foi incorporada ao projeto a edificação limítrofe a essa rua, onde parte do edifício funcionava uma loja de artigos de pesca, ervas medicinais e temperos e parte dele estava sem uso. Também foi incorporada ao edifício a atividade dos camelôs que se apresentavam em estado precário, o que acaba proporcionando aos transeuntes condições visuais de desordem e desmazelo, uma vez que se localiza bem no acesso à região pela Avenida Elias Miguel. Figura 41- Mercado da Vila Rubim
Fonte: Autora
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Uma galeria de lojas abandonadas e em estado de má conservação juntamente com a área de camelôs deram espaço a Praça da Feira. Apenas três lojas que ainda funcionavam nessa galeria foram incorporadas ao Mercado sendo elas uma lanchonete, uma loja de embalagens e a outra de fogos de artifício. Figura 42- Praça da Feira
Fonte: Autora
A Praça da Feira foi pensada de maneira a abrigar instalações padronizadas para a venda de produtos do gênero alimentício e produtos artesanais. Visando atrair o movimento de pessoas em diferentes horários, a feira funciona durante o dia e à noite, o que, por sua vez, proporcionaria maior segurança aos usuários no período noturno. Em favorecimento ao pedestre, foram alargadas as calçadas internas e criadas duas ruas exclusivas aos pedestres. A rua localizada paralela ao lado sudoeste do Mercado funciona como um grande passeio com bancos para descanso e arborização para tornar agradável a ambiência de quem transita pela rua.
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Figura 43- Rua de pedestre
Fonte: Autora
Perpendicularmente a essa via, foi proposta uma Rua Gastronômica, também de uso exclusivo do pedestre. Essa área dispõe de instalações padronizadas como as da Praça da Feira e comercializam produtos alimentícios da culinária típica local. Desta forma, como o objetivo da Praça da Feira é atrair movimento para o local em várias horas do dia, a Rua Gastronômica também tem o mesmo intuito e por isso funciona nos períodos do dia e da noite.
78 Figura 44- Rua Gastronômica
Fonte: Autora
Próximo às peixarias existentes, um espaço sem qualidade de vivência e que poderia ser melhor aproveitado deu lugar a uma praça arborizada e agradável com espaços para permanência integrando a esta área um estabelecimento que já existe no local e que funciona como bar, restaurante e rotisseria. Parte da Praça das Peixarias, como denominado no projeto, ainda pode funcionar como um espaço de apoio à disposição das mesas deste restaurante garantindo maior movimento de pessoas nesta região. Uma feira irregular e sem infraestrutura que foi identificada nesta referida praça e na passagem em frente às peixarias, foi remanejada para debaixo da Ponte Seca. A feira dispõe de instalações padronizadas para a comercialização dos produtos e a própria estrutura da Ponte funciona como cobertura. Além de regularizar e padronizar o comércio dos feirantes, a localização da mesma foi proposta com o objetivo de existir uma atividade que tenha movimento de pessoas acontecendo próximo à área de estacionamento, proporcionando mais segurança ao local, aliado à iluminação pública eficiente.
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Próximo à área da feira e do estacionamento debaixo da Ponte, em local mais reservado, propõe-se uma área de carga e descarga servindo de apoio para o Mercado e para as peixarias. Em composição com a implantação, pensou-se na disposição dos espaços internos do Mercado de forma que o pedestre fosse conduzido a circular pelo seu entorno possibilitando o seu acesso por todas as entradas do edifício. Como já citado, a implantação do Mercado se deu pela ampliação do antigo edifício e pela incorporação de outra edificação localizada próxima aos galpões. No térreo, a fachada recebe um recuo para dispor de uma área de circulação mais íntima com a edificação, entretanto integrando o exterior com o interior através da paginação do piso, representando uma faixa de continuidade do caminho do pedestre no entorno do edifício. A permeabilidade do espaço com uma circulação ampla foi premissa para a configuração da Ala do Mercado (Figura 45), composta através da disposição dos boxes e lojas destinados à venda de frutas, verduras, ervas, temperos, grãos, produtos artesanais, camelôs e lanchonetes de apoio oferecendo alimentos de rápido e fácil preparo. O Mercado possui 66 boxes e lojas ao todo e ocupam aproximadamente 930m² no total.
80 Figura 45– Pavimento térreo
Fonte: Autora
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Ainda no pavimento térreo estão localizadas 2 vagas de carga e descarga rápida e uma área de apoio ao recebimento de mercadorias e apoio aos funcionários constituída de vestiários, área para monta carga, sala de controle, plataforma de estacionamento, sanitários e circulação de acesso ao pavimento superior por meio de escadas e elevadores. No pavimento acima acontece a Ala de Alimentação (Figura 46) dispondo de 4 restaurantes com média de 60m² cada um, 2 bares com 35m², 4 lojas de dimensões de 40m² e 80m² para receber as atividades comerciais que foram incorporadas ao Mercado, como loja de artigos de pesca e embalagens. Este pavimento também contempla sala da administração, depósito, apoio e monta carga, vestiários, sanitários masculino e feminino e espaço para disposição das mesas dos bares e restaurantes.
82 Figura 46– Pavimento superior
Fonte: Autora
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Esta ala ainda dispõe de um café e uma livraria com média de 40m² cada um e 2 áreas de varanda com uma área de mesas para alimentação e espaço de estar contendo poltronas para descanso. A varanda localizada ao noroeste permite a vista do elemento histórico de grande relevância para a cidade, a Ponte Seca. A outra área de varanda permite a vista para a Praça da Feira. Figura 47- Varanda
Fonte: Autora
Na cobertura acontece o estacionamento. Os carros acessam o pavimento por meio de uma plataforma que funciona como um elevador. O estacionamento possui 110 vagas e é protegido por um guarda-corpo brevemente afastado da fachada. O pavimento ainda apresenta um espaço reservado para área técnica da edificação e a circulação por escadas e elevadores que dá acesso aos outros pavimentos.
84 Figura 48- Cobertura estacionamento
Fonte: Autora
85 Figura 49- Cobertura
Fonte: Autora
Fonte: Autora
Figura 51– Corte Longitudinal
Fonte: Autora
Figura 50– Corte Transversal
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A composição das fachadas do edifício foi pensada de modo a proporcionar uma sensação de contato com o exterior sem enclausurar o usuário. No térreo, os boxes e as lojas possuem parte da fachada em vidro funcionando como uma vitrine para exposição dos produtos e o fechamento funciona como portas individuais em chapas de alumínio. Na parte interna do edifício, as lojas possuem fechamento mais simples, cujo elemento corresponde a grades em veneziana de alumínio. Figura 52- Elementos da fachada
Fonte: Autora
A fachada do pavimento superior é composta por módulos de três tipos de materiais: painéis de madeira, brise de madeira e vidro. Duas varandas com guarda-corpo em vidro completam essa configuração. Estas soluções possibilitam a permeabilidade visual
do
usuário
do
ambiente
interno
com
o
ambiente
consequentemente, permite a iluminação e ventilação natural.
externo
e,
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4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observando as duas experiências de análise, o Mercado da Vila Rubim e o Hortomercado da Enseada do Suá, pode-se tirar algumas constatações de que processos identificados em nível global relacionam-se com as mudanças por que passam as áreas centrais das cidades e que alguns projetos da prática de revitalização têm gerado aspectos positivos e negativos quando observados no seu contexto local. Considerando o caso do Mercado da Vila Rubim, verificou-se, nesta análise, que o comércio e a vitalidade que existiam no local sofreram significativa deterioração e perda de seu papel histórico. Pode-se perceber que, apesar das transformações e intervenções por que passaram, atualmente ainda continua sendo uma área segregada. Contudo, sua presença se faz viável e necessária, visto que desempenha papel importante para os residentes do bairro e seu entorno. O Mercado é referência pela representatividade do seu comércio popular, porém, não consegue atrair grande número de visitantes. Quem vai a um mercado municipal, busca além de opções de qualidade e preço, alternativas para comer e se divertir. Apesar dos atrativos que o Mercado da Vila Rubim oferece e da tradição de comércio
popular,
faltam
opções
de
restaurantes,
atividades
noturnas,
estacionamento quando o movimento é mais intenso. O Mercado talvez não seja devidamente explorado apesar das características de potencialidade que lhe são atribuídas, seja pela sua localização estratégica nas proximidades com o centro da cidade, seja pela sua representatividade da identidade cultural e histórica. Isso se explica pelo fato de que, diretamente ligado ao Centro, o comércio da Vila Rubim sofreu impactos gerados pelas transformações ocorridas na área central da cidade. O Centro foi perdendo vitalidade devido a vários fatores ocorridos ao longo do tempo. Eles se refletiram na expansão da cidade com a formação de novas áreas e novas centralidades, acompanhada do deslocamento do comércio para as mesmas; no abandono das áreas residenciais pelas camadas de mais alta renda e um predomínio de pessoas de classe social distinta implicando em alterações espaciais do conteúdo social do Centro. Somam-se os investimentos por parte do poder público e privado nas novas áreas em desenvolvimento e “esquecimento” da área
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central. Como consequência desses fatores, ocorreu um processo de esvaziamento do Centro, sendo este de forma mais significativa nas áreas residenciais. Analisando o caso da cidade de Vitória, com o deslocamento dos edifícios administrativos, institucionais e comerciais para uma nova área em expansão, a Enseada do Suá, é iniciado então um processo de desenvolvimento de um “novo centro” na cidade. As características do local vão se alterando. A vila de pescadores que tinham à sua porta o mar é, em grande parte, reconfigurada, dando lugar a grande área de aterros, edifícios altos, população de alta renda. Nesta perspectiva, a revitalização de algumas áreas e edificações ocorreu de forma consecutiva ao processo de urbanização dessa área. Como exemplo disso, o Hortomercado localizado na Enseada do Suá reflete explicitamente o que tem ocorrido em muitas cidades com a prática do processo de revitalização. O projeto do estabelecimento foi pensado de forma excludente e isolada. Levou-se em consideração somente a nova configuração da área, representada pela população de alta renda e os novos edifícios de alto padrão, deixando de lado as características do entorno preexistente, representada pela área mais popular. Apesar de modificar o programa do projeto, em que, por um lado, teve seus aspectos positivos, por agregar novos usos ao espaço, de outro lado, há o problema da segregação. Os usos propostos na revitalização do edifício e seu entorno não integraram as comunidades localizadas próximas a ele. Pode-se dizer que o projeto elitizou os seus usos, devido à extinção dos serviços oferecidos anteriormente. O programa do Hortomercado, ao aderir restaurantes, cafés, lojas de produtos artesanais e um supermercado, acaba por eliminar a camada de menor renda que utilizava o espaço para compra e venda de produtos hortifrutigranjeiros, excluindo o comércio popular que existia anteriormente, não dialogando com o tradicional do entorno. Desta forma, pode-se concluir que não se pode pensar na revitalização do Mercado da Vila Rubim como um projeto pontual isolado como foi o caso do Hortomercado. Deve-se pensar numa revitalização do Centro como um todo, levando em conta algumas considerações para que esse processo aconteça de forma completa, integrando diferentes usos, faixas etárias e camadas sociais distintas envolvendo
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toda a região da área central da cidade. Para isso, o projeto de revitalização da área pode considerar o Mercado como um projeto âncora desse processo. No entanto, antes de tudo, faz-se necessária a intervenção de políticas incentivadoras envolvendo o retorno da população à área residencial do Centro, melhorias na mobilidade e no sistema de transporte impulsionando a dinâmica de usos e atividades de volta para essa área. Além disso, como fator elementar do processo de requalificação da área central, encontra-se o incentivo à ocorrência de atividades noturnas. Atualmente, o Centro esvazia-se à medida que cessa o movimento gerado durante o dia, principalmente no horário comercial. A ausência de movimento e atividades durante a noite configura um cenário perigoso e repulsivo para sua utilização. Portanto, são primordiais nesse processo de requalificação.
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