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SUMÁRIO
Apresentação
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Metodologia de aplicação
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A - Organização do projeto B - Análise do pátio C - Elaboração de critérios D - Proposição de melhorias E - (Re)definição do modelo de gestão
Locais de aplicação
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Relação com outras propostas
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Experiência-piloto
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Conclusão
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APRESENTAÇÃO Busca-se entender o Plano Urbano do Brincar como uma proposta que não se encerra em si mesma. É uma grande aproximação ao tema, que olha-o em uma macro escala e busca dar conta de uma grande abrangência, seja territorial, de objetivos ou propostas. Assim, ao mesmo tempo que traz uma visão bastante integral, não consegue aprofundar-se na aplicação efetiva e prática de todas as propostas. Dessa forma, visando ampliar e facilitar o acesso aos conteúdos das propostas previstas no Plano, foi pensada essa série de manuais de aplicação que adentram cada uma das propostas, apresentando de maneira bastante descritiva sua implementação. Busca ser uma ferramenta de fácil acesso, podendo ser utilizada por qualquer um que tenha interesse. Portanto, apresenta-se como uma continuação, ou, ainda, uma complementação do PUB e deve ser entendido como uma série de publicações, uma para cada
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uma das propostas. Os manuais de aplicação trazem uma metodologia detalhada para sua aplicação e uma lista de recomendações para tal. Seguido disso, são apresentados os locais do território nos quais a proposta pode ser aplicada e, ainda, a quais outras propostas esta específica se relaciona, pensando a partir da ideia de que as propostas interrelacionam-se. Por fim, descreve-se uma experiência-piloto de aplicação da proposta, que, para além de ser um exemplo de sua aplicabilidade, também permite discutir questões, dificuldades e, inclusive, a própria metodologia e seu processo de elaboração. Entendendo, uma vez mais, que, no tempo desse trabalho, não seria possível elaborar o Manual de cada uma das propostas, desenvolveu-se esse Manual-exemplo como indicativo de sua estruturação. Assim, esse manual específico trata da proposta dos Pátios Escolares Abertos, aprofundando-se nas possibilidades da experiência. Além da metodologia, da lista de recomendação, locais de aplicação e a relação com outras propostas, descreve a experiência-piloto de aplicação na EMEF Miltom Campos, uma escola pública de Ensino Fundamental e EJA localizada na Brasilândia que muito contribuiu para pensar a abertura do pátio e as formas de viabilização dessa proposta.
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METODOLOGIA DE APLICAÇÃO
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INTRODUÇÃO Abrir os pátios da escola não se limita a abrir seus portões. Envolve muitas outras questões logísticas e de possibilidades, questões culturais, questões com a comunidade. Assim, para que o processo ocorra de forma efetiva, junto com a proposta é necessário que venham condições para sua implementação para que não ocorra a descredibilização do programa. Dessa forma, é proposto, neste caderno, uma metodologia de diagnóstico participativa e de intervenção no pátio a partir de um processo de reflexão e aprendizagem coletiva, que permite olhar para as principais questões e entraves para a aplicação. A partir da proposta piloto de aplicação, foi possível entender que as maiores dificuldades para a abertura eram com a organização da gestão da abertura e o diálogo da escola com a comunidade, a qualidade do espaço do pátio e o engajamento da comunidade para tal. Isto é, para pensar a abertura é importante também pensar um modelo de gestão para o espaço, garantir que o espaço ofereça oportunidades brincantes diversas e
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igualitárias para todos (apareceu muito a questão da relação de poder no espaço, especialmente devido a gênero e idade) e que a comunidade moradora do entorno também seja envolvida no processo. A metodologia busca trabalhar essas questões de forma coletiva e com toda a comunidade escolar que inclui, inclusive, os moradores do entorno. Ainda, conta com algumas Fichas de Apoio, que ajudam a conduzir o processo e com Listas de Recomendação para os processos finais. Ela foi pensada para ser aplicada em escolas públicas de ensino fundamental e médio. Vale destacar que a metodologia está muito baseada no “Guía de diagnosis e intervención con perspectiva de género” do grupo Equal Saree 1, de Barcelona. Eles desenvolveram um guia de aplicação de metodologia para repensar os pátios a partir de uma perspectiva de gênero. Entretanto, muito do proposto enquanto estruturação pelas autoras, que divulgaram a metodologia para que fosse replicada, enquadra-se para pensar o processo de abertura da escola. Dessa forma, muito do aqui proposto parte da metodologia catalã, acrescido de etapas que se faziam necessárias para o contexto de aplicação e com atividades repensadas para o propósito dos pátios.
1. A metodologia original desenvolvida pelo grupo pode ser encontrada no link http:// equalsaree.org/ es/mediateca/ em suas versões em espanhol e em catalão.
A metodologia está dividida em 5 grandes etapas: organização do projeto; análise do pátio; elaboração de critérios; proposição de melhorias; e (re)definição do modelo de gestão. Cada uma dessas etapas é identificada na metodologia com uma letra - A, B, C, D e E, respectivamente - e contém algumas atividades que possibilitam sua efetivação. Entende-se que, percorrendo todas as etapas, é possível pensar soluções para as principais dificuldades que se apresentam na implementação do projeto: gestão do espaço, qualidade do pátio e engajamento da comunidade. Reforça-se que é uma metodologia que traz sugestões e, então, não deve ser entendida como enrijecida e fechada em si mesma. É sempre fundamental que seja pensada e adaptada a cada contexto, sendo possível retirar, adicionar ou modificar atividades.
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A
ORGANIZAÇÃO DO PROJETO
É importante que, ao início do processo, o projeto, seu processo e a equipe de trabalho sejam organizados. Assim, propõe-se uma sistematização e algumas atividades que ajudam nessa organização e orienta para a coordenação desse processo coletivo. São também propostos mecanismos para consolidar e expandir os êxitos do projeto para além do centro educativo.
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INICIAMOS O PROJETO
Nessa primeira etapa, devem ser definidos os papéis de cada pessoa que participará do projeto bem como estabelecido um cronograma de atividades. É fundamental que as expectativas de todos os envolvidos sejam alinhadas e, a partir disso, que possa-se definir os objetivos que se quer alcançar.
1.1 participantes 1.2 frentes de atuação 1.3 objetivos 1.4 parâmetros de estudo
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COMPARTILHAMOS O PROJETO
Com o projeto já organizado, é importante dar visibilidade a ele e potencializar sua extensão para toda a comunidade, propondo atividades de sensibilização e de difusão.
2.1 difusão do projeto 2.2 reuniões de monitoramento 2.3 atividades com as famílias
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1.1 PARTICIPANTES O primeiro passo é formar e coordenar a equipe de trabalho. Vai ter início um processo coletivo e é muito importante que todos possam sentir-se cômodos nos papéis que desempenham. Assim, deve-se definir os papéis que cada pessoa terá nas diferentes etapas do projeto, levando em consideração as capacidades e a carga de trabalho dos docentes. Abaixo fazemos uma sugestão inicial, mas que pode ser alterada a partir da situação e do contexto de cada espaço e dos atores envolvidos. O projeto deve incluir a participação da comunidade escolar (coordenação, professores, equipe de limpeza, direção, alunos, famílias, etc), uma vez que se trata de um processo colaborativo e de transformação. Dessa forma, envolver e escutar todas as pessoas é extremamente importante para que todos os desejos e necessidades sejam ouvidos e atendidos. CM comissão de monitoramento coordena o processo e programa as atividades. Está em contato com a equipe técnica que acompanha o processo, com os alunos, com os outros professores e com as famílias. Sua formação pode variar caso a caso de acordo com o interesse em cada escola. Entretanto, recomenda-se que seja formada por algum membro da direção, garantindo a aplicabilidade da proposta e por pessoas diversas da comunidade educativa que interessem-se por coordenar o processo. P professores participam das atividades de análise e de proposta, formando parte do processo coletivo através de sua visão e seus desejos. A alunos são os protagonistas do processo, uma vez que busca conhecer suas experiência e desejos em relação às possibilidades de brincar no espaço e atuar para que possa tornar-se um espaço mais qualificado e com mais oportunidades em seu cotidiano e que, além disso, possa-se tornar um novo espaço lúdico de lazer nos momentos extraescolares. Podem participar todos os alunos do centro, um ciclo ou uma classe, dependendo do tempo disponível para desenvolver o processo. F famílias são parte importante para a incorporação da ideia de abertura do pátio por toda a comunidade. Além disso, conseguem transmitir seu olhar para as necessidades de espaços de lazer na comunidade e dizer daquilo que desejam, apropriando-se do espaço e entendendo que ele também às pertence.
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C comunidade além das pessoas diretamente envolvidas com o centro educacional, todas as outras moradoras de seu entorno também podem fazer uso do espaço quando aberto aos finais de semana. Para que isso ocorra de forma qualificada e cuidadosa, é bastante importante que possa-se abraçar a ideia de que a escola não pertence apenas aos alunos, ou à direção. A escola é um espaço público e um espaço para todos. Para isso, é muito importante o envolvimento da comunidade no processo, para que possa gerar uma apropriação e um senso de pertencimento bem como que seus desejos também sejam levados em consideração, tornando o espaço ao máximo inclusivo. ET equipe técnica se encarrega de acompanhar o processo coletivo e de velar para que se cumpram os objetivos estabelecidos, levando em conta os critérios estabelecidos e contribuindo com ferramentas técnicas de desenho. Em nem todos os casos a equipe técnica será necessária. AP administração pública entendendo que a proposta aplica-se em escolas públicas, a administração pode seguir e participar do processo, fazendo parte das reuniões de monitoramento. Assim, estará mais inteirada dos resultados e poderá atuar em consonância.
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1.2 FRENTES DE ATUAÇÃO As etapas e atividades da metodologia aqui proposta foram pensadas para que se pudesse atuar e possibilitar mudanças em três diferentes frentes: 1. gestão e diálogo É fundamental que possa-se abrir um diálogo entre o centro escolar e a comunidade (seja ela de alunos, de moradores do entorno, ou qualquer outra). Apenas na escuta e na troca que será possível construir um modelo de gestão possível e que faça sentido para o contexto escolar. 2. qualidade do espaço Para além de um modelo de gestão que possibilite o funcionamento do espaço, é fundamental que este seja qualificado para o uso. Ter espaço já é importante, mas muitas vezes é também necessário repensá-lo e qualificá-lo de forma que possa atender todas as demandas que se apresentam e que partem de atores distintos. Busca um espaço brincante com diversas possibilidades lúdicas e que permita relações não-hierárquicas. 3. engajamento da comunidade Por fim, abrir o pátio da escola não se limita a abrir seus portões. É um processo de constituição de sujeitos concretos que possam assumir o projeto em seu cotidiano, entendendo que é uma abertura à diversidade cultural existente e uma democratização do espaço. Assim, envolver toda a comunidade que mora no entorno é fundamental para concretizar o processo e tornar o espaço de fato significativo.
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1.3 OBJETIVOS As distintas atividades da metodologia são classificadas em função dos objetivos gerais que cada uma delas permite. Estes são: a. coleta de dados essas atividades visam coletar informações para poder realizar o diagnóstico do espaço. b. conscientização essas atividades visam promover a reflexão individual e coletiva sobre a importância do brincar e do lazer, isto é, de momentos lúdicos no cotidiano bem como de refletir sobre as desigualdades que o espaço carrega em si. Visa, ainda, proporcionar ferramentas para detectar as privações e desigualdades e preveni-las. c. ações para mudança essas atividades buscam visibilizar as fragilidades para abertura do espaço e avançar para sua transformação.
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1.4 PARÂMETROS DE ESTUDO A partir de alguns dos princípios da Cidade Brincante que faziam sentido para o contexto dos pátios escolares, foram elaborados alguns parâmetros que conduzem o olhar para os pátios escolares. Os parâmetros desenvolvidos permitem analisar e desenhar os espaços desde um ponto de vista qualitativo, com o objetivo de criar espaços mais inclusivos e com maiores possibilidades ao brincar e ao lúdico
diversidade Variedade dos espaços e dos elementos que o conformam. Este parâmetro visa garantir mais possibilidades lúdicas e um uso mais igualitário. flexibilidade Capacidade do espaço ou de um elemento para adaptar-se a diferentes situações e usos. A flexibilidade permite o desenvolvimento de um maior número de atividades e de atividades menos estereotipadas. Esse parâmetro visa garantir que o pátio possa garantir usos diversos para atores diversos e momentos diversos. inclusão Acolhimento proporcionado pelo espaço e as experiências igualitárias que deve proporcionar. Esse parâmetro visa garantir que todos e cada um sintam-se pertencentes ao espaço. qualidade lúdica Características dos espaços e dos elementos que permitem a estadia, o brincar, o divertir-se. Esse parâmetro visa assegurar que o espaço proporcione experiências ricas e diversificadas de lazer, fazendo com que as pessoas sintam-se bem estando nele. Visa garantir uma diversidade entre espaços de tranquilidade e intimidade, espaços para movimento e psicomotricidade e locais de contato com a natureza e experimentação. representatividade Reconhecimento, visibilidade (real e simbólica e participação igualitária nas tomadas de decisão da comunidade educativa. Este parâmetro visa garantir uma representatividade igualitária e, assim, ouvir a voz de todos os atores envolvidos no processo.
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2.1 DIFUSÃO DO PROJETO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
c. ações para a mudança
3. engajamento da comunidade
Facilitar que todas as pessoas vinculadas à escola (famílias, professores, alunos, comunidade, etc.) possam conhecer o projeto, acompanhar e inteirar-se das convocatórias de participação nas distintas atividades.
participantes CM comissão de monitoramento P professores
material de apoio
A alunos
-
F famílias
tempo dedicado
C comunidade
segundo o critério da escola
Procedimentos: 1. Levantar e entender os diferentes canais de difusão que a escola utiliza para divulgar as atividades que ocorrem bem como para comunicar-se com as famílias. A partir disso, utilizar os canais que permitam chegar ao maior número possível de pessoas de maneira fácil e rápida. 2. Propõe-se, para iniciar o processo, realizar uma apresentação aberta para toda a comunidade escolar contando os objetivos que se quer alcançar, as atividades que podem ser realizadas e, assim, realizar um primeiro mapeamento das pessoas interessadas em participar. 3. Divulgar constantemente todas as atividades, possibilitando que todos conheçam as propostas, seu desenvolvimento e os resultados parciais. 4. Essa é uma ação contínua, assim, além da comunicação constante com os envolvidos e com toda a comunidade escolar, propõe-se que ao final do processo possa haver outra reunião aberta para apresentar as propostas finais e agradecer a todos os participantes seu envolvimento no processo.
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2.2 REUNIÕES DE MONITORAMENTO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
b. conscientização c. ações para a mudança
2. qualidade do espaço
CM comissão de monitoramento
Coordenar o processo de diagnóstico participativo e de desenho colaborativo, fazendo o monitoramento do desenvolvimento das atividades, debatendo os resultados obtidos e contrastando o grau de satisfação dos diferentes agentes implicados com as expectativas iniciais.
ET equipe técnica
material de apoio
AP administração pública (opcional)
-
3. engajamento da comunidade participantes
tempo dedicado 3 sessões - 1h por sessão
Procedimentos: 1. Recomenda-se a realização de, no mínimo, 3 encontros para monitoramento ao longo do processo: uma no início, outra após a fase de análise e outra depois de realizadas as propostas. 2. Na reunião inicial podem ser levantados os objetivos em comum que surgiram para levar a cabo o diagnóstico participativo e o desenho colaborativo, definindo o papel de cada um dos agentes implicados e estabelecendo um cronograma para realização das atividades. 3. As reuniões de monitoramento intermediárias, isto é, ao longo do processo, servem para alinhar o desenvolvimento das atividades realizadas e verificar se os objetivos estão sendo cumpridos. A comissão de monitoramento explica como se desenvolveram as diferentes atividades, destaca os resultados mais relevantes até o momento e as dificuldades e impactos positivos. A equipe técnica resolve dúvidas e assessora sobre como continuar com o projeto. 4. Uma vez finalizado o processo de diagnóstico participativo, os resultados são compartilhados, destacando-se os pontos fortes e os aspectos a serem melhorados. Conjuntamente, preenche-se a Ficha de Apoio 7.1 “Tabela de resumo dos resultados.
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2.3 ATIVIDADES COM AS FAMÍLIAS Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
b. conscientização c. ações para a mudança
3. engajamento da comunidade
participantes CM comissão de monitoramento
Incentivar e promover o envolvimento das famílias no processo e dar ferramentas para detectar as oportunidades que o espaço pode oferecer bem como sensibilizar para a importância do brincar para as crianças e do lúdico para todos.
ET equipe técnica
material de apoio
F famílias
projetor tempo dedicado 1 sessão - 1h30 por sessão
Procedimentos: 1. Propõe-se que as famílias sejam convocadas para uma sessão de trabalho na qual são explicados os objetivos do encontro e do processo. Fomenta-se o debate, pedindo a opinião das diferentes pessoas envolvidas. 2. Busca-se realizar uma sensibilização quanto a importância do brincar para a infância, trazendo exemplos de possibilidades existentes de espaços que ajudam na construção social, cognitiva e emocional das crianças. Busca-se também trazer uma discussão da importância dos espaços livres para as crianças e para toda a comunidade, trazendo o direito à cidade para discussão. Propõe-se o uso de fotografias, vídeos, imagens e esquemas que possam apoiar na exemplificação das diferentes situações. 3. Caso as famílias mostrem-se dispostas a participar, pode-se acordar a realização de atividades semanais ou quinzenais para serem realizadas com seus filhos, como por exemplo: ensinar um jogo/brincadeira de sua infância, que pode ser compartilhado com a sala; trajeto pelo bairro; etc. 4. Ao longo do projeto, propõe-se encontros com as famílias para compartilhar e debater os resultados parciais que vão aparecendo, bem como para ouvir sua opinião e percepção sobre as implicações do projeto e seu desenvolvimento.
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B
ANÁLISE DO PÁTIO
Nesta etapa, propõe-se uma série de atividades para realizar o diagnóstico participativo do pátio. As atividades estão destinadas a alcançar diferentes objetivos em relação a coleta de dados e a conscientização. Foram pensadas considerando-se as diferentes pessoas que podem envolver-se no projeto, visando gerar ambientes agradáveis que fomentem a participação de todos e experiências lúdicas.
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PREPARAMOS O OLHAR
Tomamos consciência das diferentes problemáticas que se produzem no pátio e a partir da possibilidade de sua abertura e preparamos o olhar para o processo de transformação. Analisam-se as percepções dos professores sobre o espaço e a relação com a comunidade, entendendo quais as projeções que fazem para o espaço e as estratégias que imaginam para sua qualificação e abertura.
3.1 perguntas de auto reflexão 3.2 debate com o corpo docente
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OBSERVAMOS O PÁTIO
Observamos as características físicas do espaço do pátio para refletir sobre sua distribuição, seus usos, os diferentes elementos e as possibilidades que ele facilita. Recolhemos informação sobre a utilização do espaço, as atividades, os padrões de conduta, as faltas, os desejos e os sonhos. Quanto mais for possível repetir as observações, maior a relevância dos resultados.
4.1 características do pátio 4.2 setorização e segregação 4.3 mapas de percusos 4.4 exploração do entorno
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ESCUTAMOS OS ALUNOS
Conhecemos as percepções dos alunos sobre o espaço do pátio, suas vivências cotidianas e os conflitos que ali se originam. Com base nessas vivências e para dar resposta à diversidade de necessidades, serão planejadas coletivamente as estratégias de atuação.
5.1 questionário 5.2 representação vivencial 5.3 desejos para o espaço 5.4 debate com os alunos
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OUVIMOS A COMUNIDADE
Também é fundamental ouvir a comunidade moradora do entorno que fará uso do espaço com sua abertura, de forma a entender as principais demandas e necessidades do bairro. Para além disso, é uma maneira de já começar a conectar e aproximar essas pessoas da escola, de forma que seja possível um trabalho mais coletivo.
6.1 retomamos o projeto 6.2 roda de conversa
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3.1 PERGUNTAS DE AUTO REFLEXÃO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
b. conscientização
2. qualidade do espaço
participantes P professores tempo dedicado 1 sessão - 30m por sessão
Esta atividade busca refletir, enquanto docentes, sobre as suas percepções dos conflitos e desigualdades que se apresentam no pátio, as maiores dificuldades para abri-lo, suas potências e a qualidade do espaço, identificando algumas estratégias para solucioná-las e preveni-las. material de apoio ficha de apoio 3.1 “Perguntas de autorreflexão”
Procedimentos: 1. A atividade propõe uma lista de perguntas de reflexão. Podem ser utilizadas as perguntas propostas, mas também pode-se propor novas perguntas para adaptá-las ao contexto específico e às necessidades de cada escola. 2. Cada professora ou professor responderá às perguntas de maneira individual e escrita. É importante que as respostas sejam registradas para que possam ser compartilhadas na próxima atividade.
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3.2 DEBATE COM O CORPO DOCENTE Ficha técnica: frente de atuação 1. gestão e diálogo participantes P professores CM comissão de monitoramento
objetivo b. conscientização O objetivo dessa atividade é potencializar a discussão entre o corpo docente sobre as possibilidades, potenciais e deficiências do pátio e sensibilizá-los para a importância do espaço no processo de aprendizagem e de formação de sujeito
ET equipe técnica tempo dedicado 1 sessão - 1h por sessão
material de apoio ficha de apoio 3.2 “Pautas para o debate”
Procedimentos: 1. Organizar o debate para que tenha uma duração aproximada de 1 hora. A comissão de monitoramento ou a equipe técnica podem ter a função de moderar o debate. Na Ficha de Apoio é possível encontrar algumas pautas gerais para o debate, mas reforçamos que estas deveriam adaptar-se a cada contexto escolar. 2. Será feita uma reflexão conjunta sobre a atividade de auto reflexão realizada anteriormente.
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4.1 CARACTERÍSTICAS DO PÁTIO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
2. qualidade do espaço
a. coleta de dados
participantes
Essa atividade centra-se em observar as características físicas do pátio. Permite conhecer a configuração do espaço e refletir sobre sua qualidade e diversidade.
A alunos CM comissão de monitoramento tempo dedicado 1 sessão CM - 1h por sessão 1 sessão A - 1h por sessão
material de apoio Ficha de Apoio 4.1 “Perguntas sobre as características dos pátios”
Procedimentos: 1. Por um lado, a Comissão de Monitoramento realiza uma observação detalhada do pátio e de seu entorno, respondendo uma lista de perguntas (Ficha de Apoio 4.1 “Perguntas sobre as características dos pátios” ). 2. Ao mesmo tempo, propõe-se que os alunos também realizem uma observação do pátio com o apoio da mesma lista de perguntas, com a finalidade de incorporar um novo olhar de seu espaço de lazer. Neste caso, podem ser propostas dinâmicas diversas para adaptar a atividade segundo as capacidades do aluno, como fazer as perguntas em forma de conversa ou fazer explorações no pátio por grupos seguindo os 5 parâmetros de estudo. 3. É feita uma análise das variadas respostas, pensando-a a partir dos 5 parâmetros de estudo.
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4.2 SETORIZAÇÃO E SEGREGAÇÃO Ficha técnica: frente de atuação 2. qualidade lúdica
objetivo a. coleta de dados
CM comissão de monitoramento
O objetivo é recolher informação sobre as possibilidades brincantes dos diferentes setores do pátios e as atividades que se desenvolvem em cada um deles. A observação permitirá visibilizar se existem espaços subutilizados ou com poucas possibilidades, assim como entender as brincadeiras e ações das crianças.
tempo dedicado
material de apoio
participantes
5 sessões coleta - 5h por sessão 1 sessão análise - 1h por sessão
Ficha de Apoio 4.2 “Possibilidades brincantes” e Ficha de Apoio 4.2.1 “Comparação de resultados”
Procedimentos: 1. Para que a observação seja feita de maneira mais eficiente, sugere-se que sejam delimitadas previamente as diferentes zonas do pátio ou setores, a partir de sua localização espacial, características ou atividades propostas. Podem ser definidas quantas zonas/setores quanto julgar-se necessário. 2. Antes de iniciar a observação, deve-se preencher os dados no local “Antes da observação da Ficha de Apoio 4.2. 3. Deve ser realizada durante o tempo do intervalo, utilizando o local “Durante a observação” da Ficha de Apoio 4.2. Esta parte está dividida entre “Início da observação” (que recomenda-se que seja feita alguns minutos após o início do intervalo) e “Final da Observação”. Nas observações, devem ser recolhidas para cada zona/setor o número de pessoas e as atividades que se realizam, assim como seu gênero e idade. Repetimos a observação em dias diferentes. 4. Ao final, os dados das observações devem ser transferidos para a tabela “Depois da Observação”. Com esta informação, as perguntas da Ficha de Apoio 4.2.1 “Comparação de Resultados” para que seja possível extrair conclusões acerca dos parâmetros de estudo.
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4.3 MAPAS DE PERCURSOS Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
2. qualidade do espaço
a. coleta de dados
CM comissão de monitoramento
O objetivo é desenhar os percursos feitos pelas crianças durante o recreio para serem analisados em relação ao gênero, idade e as possibilidades que o espaço oferece. Busca-se, assim, obter um documento com a sobreposição de todos os percursos, o que possibilita identificar as áreas de ocupação pelas crianças
tempo dedicado
material de apoio
participantes
14 sessões - coleta - recreio 1 sessão análise - 1h por sessão
Ficha de Apoio 4.3 “Dados para os mapas” + plantas do pátio da escola + Ficha de Apoio 4.3.1 “Análise dos mapas”
Procedimentos: 1. Antes de iniciar a observação, escolhemos o/a aluno/a que vamos observar e completamos os dados no local “Antes da observação” da Ficha de Apoio 4.3. Devem ser observados o mesmo número de meninos e meninas e o mesmo número de crianças com idades distintas. 2. A observação é realizada durante o tempo de intervalo. Sobre a planta do pátio desenha-se com linhas o percurso feito por cada criança observada. A observação deve ser repetida algumas vezes, em dias diferentes, com crianças diferentes. 3. Para analisar a ocupação do espaço do pátio, devem ser seguidas as instruções no espaço “depois da observação” e, ainda, respondidas as perguntas da Ficha de Apoio 4.3.1, que ajudarão a chegar em algumas conclusões sobre os parâmetros estudados.
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4.4 EXPLORAÇÃO DO ENTORNO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
b. conscientização
3. engajamento da comunidade
O objetivo é conhecer o entorno da escola. A partir de um percurso a pé, será feita uma análise coletiva da relação da instituição com o espaço público e como este influencia no acesso à escola e na interação social da comunidade educativa.
participantes CM comissão de monitoramento P professores A alunos
material de apoio
F famílias
planta do entorno da escola
C comunidade
tempo dedicado
ET equipe técnica
1 sessão - 2h por sessão
Procedimentos: 1. Para definir o percurso, devem ser priorizados, especialmente, os espaços próximos à escola (praças, calçadas, esquinas) e as principais vias de chegada na escola (ruas, cruzamentos, faixas de pedestre) utilizadas pela comunidade educativa em seu dia a dia. Assim, elege-se os pontos mais utilizados e aqueles que se consideram mais problemáticos e traça-se um percurso que passe por esses pontos. 2. A Comissão de Monitoramento convoca todas as pessoas que participarão da atividade no pátio da escola. Uma vez reunidas, apresenta-se o percurso elegido previamente e parte-se para percorrê-lo. Podem ocorrer diversas paradas, fixando-se nos elementos e no desenhos urbano e fazendo questionamentos sobre suas características: elas facilitam ou dificultam nossas atividades cotidianas em relação à escola (o caminho, o acesso, os comércios e serviços, as praças, etc)? 3. Conhecer o entorno da escola nos ajuda a fortalecer o vínculo com a comunidade, aumenta o sentimento de pertencimento e pode dar ideias para utilizar outros espaços do bairro.
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5.1 QUESTIONÁRIO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
a. coleta de dados
2. qualidade do espaço
O objetivo é conhecer as experiências dos alunos no pátio da escola, dando ênfase nos usos e nas atividades que realizam. Já observamos os alunos ocupando esse espaço, agora é importante também ouvir suas percepções e leituras dessa vivência, isto é, como eles percebem o espaço e percebem-se nele.
participantes A alunos
tempo dedicado 1 sessão coleta - 1h por sessão 1 sessão análise - 3h por sessão
material de apoio Ficha de Apoio 5.1 “Perguntas aos alunos” e Ficha de Apoio 5.1.1 “Análise das respostas dos alunos”
Procedimentos: 1. Imprimir uma Ficha de Apoio 5.1 para cada aluno/a. 2. Durante o tempo da atividade, os professores estarão presentes para ajudar com dúvidas. 3. Por último, um professor da Comissão de Monitoramento transfere os dados do questionário para a tabela de análise e responde às pautas propostas na Ficha de Apoio 5.1.1.
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5.2 REPRESENTAÇÃO VIVENCIAL Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
a. coleta de dados
2. qualidade do espaço
O objetivo é que os alunos representem como é espacialmente o pátio e que atividades ocorrem nele. A técnica deve ser escolhida em função da idade dos alunos
participantes CM comissão de monitoramento P professores A alunos tempo dedicado 3 sessões coleta - 1h30 por sessão 1 sessão análise - 2h por sessão
material de apoio ficha de Apoio 5.2 “Análise das representações dos alunos” e material elegido para representação espacial do espaço (tinta, lápis, massinha, maquete, lego, etc)
Procedimentos: 1. Propõe-se que os alunos façam uma representação gráfica que ilustre como é o pátio de sua escola, podendo ser ela um desenho, uma maquete, uma construção, etc. 2. Ainda, sugere-se que sejam representadas as diferentes atividades que ocorrem no espaço, onde elas ocorrem e quem as realiza. A ideia é que seja um trabalho individual e que, assim, possa expressar as vivências de cada aluno/a. 3. No final da atividade, os alunos expõem o material elaborado e explicam a sua representação do pátio. 4. Os professores e a Comissão de Monitoramento analisam os materiais, explicados pelos alunos, com a ajuda da Ficha de Apoio 5.2, tirando conclusões sobre os parâmetros estudados.
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5.3 DESEJOS PARA O ESPAÇO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
a. coleta de dados c. ações para a mudança
2. qualidade do espaço
participantes A alunos CM comissão de monitoramento
O objetivo desta atividade é que os alunos possam expressar aquilo que sentem falta, e, mais ainda, desejam para o espaço. Isto é, aquilo que eles gostariam que tivesse no pátio para que sua vivência fosse mais qualificada. material de apoio
tempo dedicado 1 sessão - 1h30 por sessão
Ficha de Apoio 5.3 “Compilação dos desejos dos alunos”, papel e lápis/canetinhas coloridas
Procedimentos: 1. Retomar com as crianças a última representação que elas fizeram do espaço. 2. Levar todas elas para o espaço do pátio e, lá, distribuir folhas em branco e lápis/canetas coloridas. Explicar que elas vão desenhar, mais uma vez, a representação do pátio, mas, agora, com aquilo que elas sentem falta e gostariam que tivesse no espaço. 3. Após finalizado, as crianças expõem os desenhos e explicam o que desenharam, contando de seus desejos e necessidades. 4. A partir dos desenhos e das explicações das crianças, a Comissão de Monitoramento preenche a Ficha de Apoio 5.3, gerando um compilado das necessidades das crianças.
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5.4 DEBATE COM OS ALUNOS Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
b. conscientização
2. qualidade do espaço
Abrir espaço de discussão sobre as questões que se apresentam no pátio: aquilo que as crianças sentem faltam, as desigualdades de ocupação, os desejos e pensar possíveis soluções para tal.
participantes A alunos
tempo dedicado 1 sessão - 1h30 por sessão
material de apoio Ficha de Apoio 5.4 “Pautas para Discussão”
Procedimentos: 1. Os professores ou a comissão de monitoramento fazem uma lista com as principais questões, desigualdades, ausências e desejos que puderam ser percebidas através das atividades 5.1, 5.2 e 5.3. Esta lista serve como um ponto de partida para gerar um debate com os alunos. 2. Os alunos identificam as questões mais frequentes e de resolução prioritária bem como os aspectos positivos, agradáveis e mais utilizados. Pode ainda debater e pensar a partir dos desejos que apareceram com maior frequência. 3. São escolhidos conjuntamente os 5 temas considerados prioritários para atuação.
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manual de aplicação
6.1 RETOMAMS O PROJETO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
3. engajamento da comunidade
b. conscientização Retomar para a comunidade todo processo, seus objetivos e sua importância, destacando que é um projeto para todos.
participantes C comunidade CM comissão de monitoramento material de apoio tempo dedicado
-
1 sessão - 1h por sessão
Procedimentos: 1. Divulgar a data do encontro para toda a comunidade. Fazer uso dos meios de comunicação da escola já estudados inicialmente e contar com a ajuda e divulgação das famílias. 2. Reunir todos no pátio da escola, se possível, e apresentar a proposta da escola aberta. Retomar seus objetivos e o processo que vem desenvolvendo-se. Apresentar que acredita-se ser também um projeto muito importante para toda comunidade, como forma de garantir espaço livre de lazer para os moradores. 3. Abrir espaço para dúvidas e comentários. Já reforçar a data do próximo encontro.
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6.2 RODA DE CONVERSA Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
3. engajamento da comunidade
b. conscientização
participantes C comunidade
tempo dedicado 1 sessão - 2h por sessão
Abrir espaço para a fala dos moradores locais, entendendo quais são as maiores e urgentes necessidades do bairro. É um espaço para compartilhar os desejos das crianças e pensar coletivamente sobre eles. material de apoio -
Procedimentos: 1. Iniciar o encontro compartilhando os desejos das crianças para o espaço. Podem ser mostrados desenhos e atividades (sem revelar o nome do autor) para exemplificar as informações trazidas. A partir disso, abre-se para uma discussão que relaciona os desejos das crianças também com o desejo da comunidade. 2. A partir disso, abre-se uma reflexão para os espaços de lazer existentes no bairro. Entender quais são os espaços que a população usa atualmente, do que sentem falta e a perspectiva e possibilidades que enxergam para o pátio. 3. Após essa discussão, os adultos são convidados a fazer, em um grande craft coletivo, um desenho sobre o que imaginam e desejam para aquele espaço.
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C
GERAÇÃO DE CRITÉRIOS
Esta etapa ajuda a entender e a classificar os resultados de diagnóstico participativo com o objetivo de poder começar a mudança colaborativa do pátio. Inicialmente, identificam-se os aspectos que precisam ser melhorados. Em seguida, elegem-se as estratégias que se adaptam melhor às necessidades do pátio e da comunidade. Estas estratégias servirão para enfocar as intervenções e elaborar propostas concretas de melhoria.
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manual de aplicação
7
RESUMIMOS OS RESULTADOS
Serão contrastados os resultados obtidos com as atividades de coleta de dados e aqueles obtidos através de aspectos mais vivenciais dos alunos. Esses resultados serão resumidos por meio da elaboração de uma grande planta do pátio.
7.1 tabela de resultados 7.2 mapa coletivo
8
DEFINIMOS AS ESTRATÉGIAS
Podemos, agora, uma vez realizadas as atividades de diagnóstico participativo e resumidos os resultados, gerar os critérios de intervenção. Assim, devem ser elaboradas as estratégias mais apropriadas para melhorar o pátio a partir dos critérios de intervenção que se propõe.
8.1 redação das estratégias
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7.1 TABELA DE RESULTADOS Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
2. qualidade do espaço
b. conscientização
participantes CM comissão de monitoramento
Abrir espaço de discussão sobre as questões que se apresentam no pátio: aquilo que as crianças sentem faltam, as desigualdades de ocupação, os desejos e pensar possíveis soluções para tal.
ET equipe técnica tempo dedicado 1 sessão - 1h por sessão
material de apoio Ficha de Apoio 7.1 “Tabela de resumo dos resultados”
Procedimentos: 1. Para decidir que critérios consideramos para o pátio, começa-se por completar a tabela da Ficha de Apoio 7.1. Para cada uma das atividades realizadas, marcadas com o objetivo “coleta de dados” destaca-se na tabela a(s) característica(s) mais deficiente(s). 2. Uma leitura geral da tabela ajuda a enxergar mais claramente quais parâmetros necessitam ser reforçados, mas também aqueles que precisam ser trabalhados de maneira prioritária. 3. Uma vez que tenhamos claras as qualidades que queremos reforçar ou priorizar, podemos escolher as estratégias mais adequadas para o caso.
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7.2 MAPA COLETIVO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
2. qualidade do espaço
b. conscientização
participantes CM comissão de monitoramento
O objetivo é conhecer o entorno da escola. A partir de um percurso a pé, será feita uma análise coletiva da relação da instituição com o espaço público e como este influencia no acesso à escola e na interação social da comunidade educativa.
P professores A alunos
material de apoio
F famílias
planta do pátio ampliada
C comunidade
tempo dedicado
ET equipe técnica
1 sessão - 2h30 por sessão
Procedimentos: 1. Para fazer essa atividade, cada grupo recuperará o material produzido na atividade 5.4. vale lembrar que cada grupo priorizou 5 pontos que considerava mais destacados de suas vivências no pátio e elas poderiam incluir tanto aspectos positivos como aspectos a melhorar. 2. Reúnem-se todas as pessoas que participaram do processo (alunos, professores, família, comunidade, comissão de monitoramento, equipe técnica). 3. Em uma planta ampliada do pátio, cada grupo de alunos ou representante de cada grupo expõe os 5 pontos levantados. 4. Chega-se, entre todos os participantes, em um consenso sobre os temas que serão levados em consideração para gerar as propostas. Os temas escolhidos devem representar todos os participantes. 5. É importante registrar toda a informação, de maneira que fique afirmado os pontos prioritários, mas que também fiquem anotadas as questões não priorizadas, que podem ser abordadas mais adiante.
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8.1 REDAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
2. qualidade do espaço
c. ações para mudança
participantes CM comissão de monitoramento ET equipe técnica tempo dedicado 1 sessão - 2h por sessão
Definir as estratégias gerais que permitirão alcançar os objetivos de melhora estabelecidos a partir da atividade 7.1 e 7.2, visando melhorar a qualidade e a organização dos pátios. material de apoio Ficha de Apoio 7.1 “Tabela de resumo dos resultados” preenchida + lista dos temas priorizados no mapa coletivo + Lista de recomendações 1 “para o espaço” e 2 “sobre os elementos”
Procedimentos: 1. Reúnem-se a CM e a ET e, a partir dos resultados das atividades da etapa anterior, estabelecem-se os objetivos a serem alcançados. 2. A Lista de Recomendações 1 e 2 devem ser consultadas ao longo de toda a definição dos objetivos. A partir delas, podem ser escolhidas as recomendações mais apropriadas para o caso. As recomendações propostas podem ser aplicadas em qualquer pátio. 3. Redigem-se as estratégias a serem seguidas em cada âmbito. Recomenda-se intervir nos dois âmbitos. A lista de recomendações é uma base, mas as estratégias podem ser adaptadas para cada caso. Devem ser pensadas a partir dos objetivos que busca-se alcançar. 4. Essas estratégias serão distribuídas entre grupos de alunos para um trabalho de aprofundamento na próxima etapa.
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D
PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS
Esta etapa inclui atividades para fazer um desenho colaborativo do pátio. Recomenda-se pensar soluções sustentáveis reutilizando o que já existe na escola e no bairro e envolver a comunidade educativa no processo de implementação das melhorias, sejam elas quais forem. Finalmente, vale recordar que colocar essas propostas em prática também deve ser um processo coletivo e que será fundamental contar com a participação das famílias e da comunidade, além do corpo docente e discente.
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9
ELABORAMOS AS PROPOSTAS
Finalmente daremos os últimos passos antes de colocar em prática as intervenções. Desenhamos as propostas de melhoria concretas e as consensuamos entre toda a comunidade educativa.
9.1 desenho colaborativo 9.2 consenso coletivo
10
TRANSMITINDO AS PROPOSTAS
Prepara-se um documento técnico que incorpore a documentação gráfica e as descrições técnicas indispensáveis para construir as melhorias do pátio.
10.1 documento técnico
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9.1 DESENHO COLABORATIVO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
2. qualidade do espaço
c. ações para mudança
3. engajamento da comunidade
Com esta atividade desenham-se as propostas concretas que permitirão alcançar os objetivos de melhora estabelecidos.
participantes
material de apoio
C comunidade
material necessário para o tipo de representação escolhido
P professores A alunos
tempo dedicado
F famílias
4 sessões - 1h30 por sessão
Procedimentos: 1. Conhecer a estratégia designada para cada grupo, de acordo com o estabelecido na atividade 7.1. 2. É importante que os atores envolvidos tomem consciência das diferentes propostas e das dimensões do espaço em relação ao próprio corpo. Pode-se ir ao pátio e experimentar com diferentes elementos para conhecer as dimensões que requerem as diferentes atividades 3. Buscar referências de casos com problemáticas similares e estudar quais soluções foram desenvolvidas em cada caso. A partir das referências, propor uma chuva de ideias em relação ao pátio. 4. Desenha-se a proposta a partir da técnica mais apropriada. Dependendo do tipo de proposta, pode variar as necessidades para implementação. Esta resultado dependerá se as intervenções propostas tem a ver com: . Espaço: o resultado deve conter uma proposta de distribuição definida a nível material. . Elementos temporais: deve-se chegar a definir o tipo e a quantidade do elemento e o mecanismo que articula seu uso descontínuo. . Elementos fixos: deve-se conseguir desenhar um protótipo e o local de instalação. 44
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9.2 CONSENSO COLETIVO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
c. ações para mudança
2. qualidade do espaço
O objetivo é consensuar as propostas de melhoras elaboradas por cada grupo e organizar um calendário com as intervenções.
3. engajamento da comunidade participantes CM comissão de monitoramento P professores A alunos
material de apoio
F famílias
projetor
C comunidade
tempo dedicado
ET equipe técnica
1 sessão - 2h por sessão
Procedimentos: 1. Busca-se um espaço grande da escola onde seja possível reunir muitas pessoas. 2. Cada grupo explica detalhadamente sua proposta aos outros. 3. Abre-se um espaço de debate onde possa haver contribuições sobre as diferentes propostas para sua melhoria ou para facilitar sua implementação. 4. Organiza-se o calendário de intervenções segundo os recursos da escola e os requerimentos de cada proposta (material, tempo, pessoas, recursos, etc).
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10.1 DOCUMENTO TÉCNICO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
c. ações para mudança O objetivo dessa atividade é documentar o processo e fazer uma proposta técnica de implementação das melhorias.
participantes
material de apoio
CM comissão de monitoramento
-
ET equipe técnico
tempo dedicado de acordo com a complexidade da intervenção
Procedimentos: 1. A Comissão de Monitoramento elabora um documento que percorra todo o processo, com uma descrição detalhada de todas as atividades e os resultados obtidos. Este documento pode incluir imagens ou gráficos. 2. Para implementar as propostas de melhoria pode ser necessário a elaboração de um documento específico. As características desse documento dependerão do tipo de intervenção que será realizada. É possível que seja requerida a participação de uma equipe profissional externa para a redação desse documento, especialmente se houver necessidade de fazer obras no pátio.
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E
REPENSAR A GESTÃO
Essa etapa é um momento para (re)pensar a gestão da escola, seja ela a gestão interna, que pensa a relação e as atividades cotidianas das crianças relacionadas ao pátio, seja a gestão para a comunidade, isto é, como se possibilita e executa a abertura do pátio para toda a comunidade. Entendemos que não há uma resposta certa para essas questões, mas apontamos alguns caminhos que podem ajudar a pensá-las e trazemos algumas recomendações para sua aplicação.
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11
DISCUTIMOS AS POSSIBILIDADES
Pensando a partir de possibilidades já existentes e daquilo que faz sentido para cada escola, discute-se possibilidades de gestão e busca-se chegar em uma proposta.
11.1 o que é abrir o pátio? 11.2 formas de gestão 11.3 continuidade
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11.1 O QUE É ABRIR O PÁTIO? Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
b. conscientização
3. engajamento da comunidade
Quer-se proporcionar uma reflexão acerca da ideia de abertura da escola, levando todos os envolvidos a pensarem o que é abrir a escola, acreditando que é um movimento muito maior do que apenas abrir seus portões
participantes C comunidade P professores A alunos F famílias
material de apoio
tempo dedicado
ficha de Apoio 11.1 “Reflexões sobre Escola Aberta” + cartolina e riscadores
1 sessão P - 1h30 por sessão 1 sessão A - 1h30 por sessão 1 sessão F e C - 1h30 por sessão
Procedimentos: 1. Se houver tempo hábil, recomendamos que essa discussão seja feita duas vezes: uma no início e outra ao final do processo. Caso não seja possível, recomendamos priorizar a do final do processo. 2. Abrir as conversas perguntando o que aquelas pessoas entendem por abrir o pátio da escola. Qual a importância disso e quais os receios que tem. 3. Aos poucos, com ajuda da Ficha de Apoio 11.1, pode-se ir introduzindo na conversa novas visões e elementos, trazendo um pouco de como enxergamos e pensamos a escola aberta. A ideia não é negar o que as pessoas trazem, mas trazer novas possibilidades que podem somar-se e construir uma ideia mais ampla do que pode ser. 4. Ao final do encontro, recomenda-se que possa ser feito um grande cartaz coletivo sobre o que entendem por escola aberta. Os três cartazes (dos alunos, dos professores e da comunidade) podem ficar expostos para que todos possam ver.
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11.2 FORMAS DE GESTÃO Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
b. conscientização c. ações para a mudança
3. engajamento da comunidade participantes CM comissão de monitoramento P professores A alunos
É necessário discutir abertamente como será feita a gestão do espaço, seja durante o horário letivo, seja nos momentos de abertura à comunidade. Assim, propõe-se um momento de reflexão coletiva para pensar sobre as possibilidades e definir um modelo de gestão adequado.
F famílias C comunidade
material de apoio
tempo dedicado
lista de Recomendações 3 “para a gestão” + papel e riscadores + lousa ou grande papel.
3 sessões - 1h30 por sessão
Procedimentos: 1. Convida-se cada um a fazer um desenho de como se imagina usando o pátio e outro de como se imagina cuidando dele. Todos os desenhos são expostos. 2. Tem início um levantamento de qual seria, então, o papel, diante da abertura do pátio, da escola, das crianças, das famílias, da comunidade e da administração pública (se necessário), registrando em uma lousa ou em uma folha grande. 3. Pensar em um modelo que abarque o que foi discutido e que torne efetiva a abertura do pátio. Para esse momento, propõe-se uma divisão em grupos. Os grupos podem fazer uso da Lista de Recomendações 3 para auxiliar nas ideias e na discussão. Cada grupo levanta sua proposta e, ao final, apresenta para todos. 4. Fazer uma ponderação das melhores e mais concretas ideias para que se efetive a gestão do espaço. O resultado deve ser um documento (pode ser escrito, gráfico ou audiovisual) que contenha e explique a nova proposta de gestão. 5. Sugere-se, ainda, que sejam estabelecidas coletivamente as regras de uso do pátio, seja no momento intra ou extra escolar e, ainda, os dias e horários de abertura.
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11.3 CONTINUIDADE Ficha técnica: frente de atuação
objetivo
1. gestão e diálogo
b. conscientização
participantes CM comissão de monitoramento
O processo não se encerra nele mesmo, é um processo contínuo que requer monitoramento, adaptações e inovações constantes. Assim, o objetivo dessa etapa final, que não é única, mas sim, processual, é manter a avaliação da abertura do pátio.
tempo dedicado
material de apoio
quantas sessões for necessário
-
Procedimentos: 1. A Comissão de Monitoramento deve ter reuniões constantes para monitoramento da ação. As reuniões podem ser semanais, quinzenais ou mensais, de acordo com a necessidade. Propõe-se que nessas reuniões seja olhado para o funcionamento da abertura do pátio e pensado sobre sua funcionalidade. Sempre que for necessário alguma mudança, pode-se convocar um encontro com o máximo possível de pessoas para pensar sobre ela ou comunicá-la. 2. Pode-se pensar em atividades ou até mesmo cursos que ocorram no pátio ou na própria escola que favoreçam toda a comunidade. Um exemplo são cursos preparatórios para concurso público para professor.
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FICHAS DE APOIO As fichas de apoio auxiliam na execução, condução e análise das atividades propostas ao longo da metodologia. A numeração com a qual são identificadas refere-se à atividade da metodologia à qual está relacionada.
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FICHA DE APOIO 3.1
perguntas de auto reflexão 1. Para quais atividades e em que momentos o pátio é utilizado? 2. Na hora do recreio, quais são os espaços mais utilizados? 3. Há espaços que ficam vazios? Porque? 4. Quais atividades/brincadeiras você mais observa? 5. Você observa diferença nas brincadeiras em decorrência da idade? O que cada idade gosta mais de fazer? 6. Você observa diferenças nas brincadeiras de meninas e meninos? Brincam juntos? Ocupam os mesmos espaços? 7. Você acha que os elementos do pátio (bancos, quadras, árvores, bolas, brinquedos, etc.) são suficientes? 8. Você acha que os elementos do pátio são usados de forma diferente dependendo da idade? Eles contemplam todas as idades? 9. Você acha que os elementos do pátio influenciam um uso diferente do espaço por meninos e meninas? 10. O que você acha que falta no pátio da escola? 11. Quando você é responsável pelo pátio, participa dos jogos ou atividades dos alunos? As demais professoras(es) também o fazem? 12. Como é sua relação com a direção? Ela é aberta para ouvir o corpo docente? E os alunos? E as famílias? 13. Você acha que seria possível pensar em uma gestão compartilhada e comunitária do espaço? Quais seriam as maiores dificuldades? 14. Você dedica esforço para estabelecer uma boa relação com as famílias? Que estratégias utiliza para aproximar-se? As mães e os pais se envolvem de forma igualitária nas atividades da escola? 15. Como se dá a relação com a comunidade? Foi sempre igual? 16. Você realiza atividades com os alunos fora dos muros da escola? Quais? 17. A escola também pertence à comunidade? Porque?
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FICHA DE APOIO 3.2 pautas para o debate
Foram planejadas algumas questões de observação para identificar como se colocam os professores frente aos desafios e potências de abertura do pátio bem como para incentivar o debate e auxiliar no levantamento de uma primeira aproximação a partir do olhar do corpo docente. Sugerimos que possa-se começar com a pergunta: “o que entendemos por pátios escolares abertos?”, levando a discussão para a ampliação do conceito, que não deve ser apenas a abertura de seus portões. À medida que o debate avança, pode-se dirigir seu foco sobre aqueles temas que mais interessam ser trabalhados ou sobre aqueles que geram mais conflito. Ao debater sobre situações cotidianas no pátio ou sobre exemplos de situações atritantes com a comunidade ou de gestão, por exemplo, e pensar sobre as estratégias para resolvê-las é possível observar se existem crenças ou atitudes que necessitam ser trabalhadas, discutidas, aprimoradas ou resolvidas. Observe no discurso do professores: Diferenciação de prioridades 1. Os professores entendem que a escola é de todos? 2. Valorizam mais algum grupo (social, gênero, cultural) ou seguimento (famílias, comunidade, alunos, etc) em detrimento de outros? 3. Tem menos proximidade ou afinidade com algum grupo? Relação com a cidade 4. Os professores pensam o pátio universalmente, incluindo todos? 5. Entendem a escola como parte integrante da comunidade? E a comunidade como parte integrante da escola? Condutas que fomentam a desigualdade entre homens e mulheres 6. Há diferenças entre as respostas dos professores e das professoras? 7. Alguma pessoa monopolizou o debate ou interrompeu com frequência as intervenções de outras pessoas?
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Gestão 8. Como se dá a relação do corpo docente com a gestão? 9. Há opiniões divergentes? 10. A gestão é aberta para o diálogo com a comunidade? Diferenciação por turnos 11. Há opiniões divergentes a depender do turno dos professores (manhã, tarde, noite) ou da idade com a qual trabalham? 12. As relações entre turnos são mais fortes que com os outros colegas? Qualidade do espaço 13. Os professores estão satisfeitos com o espaço existente? 14. Há uma variação do grau de qualidade do pátio dependendo da idade ou gênero?
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FICHA DE APOIO 4.1
perguntas sobre as características do pátio
Diversidade existem espaços e/ou elementos: 1. para delimitar zonas diferenciadas? 2. para o jogo em equipe? 3. de descanso ou de espera? 4. para o brincar imaginativo, simbólico ou individual? 5. de contato com a natureza ou para experimentação? 6. com diferentes pavimentos, texturas e cores? 7. adaptados às diferentes idades e capacidades físicas dos alunos da escola? Flexibilidade existem espaços e/ou elementos que permitem: 8. um uso polivalente? 9. o brincar simultâneo de meninas e meninos de diferentes idades e/ ou capacidades físicas? 10. ser deslocados e/ou ocupar diferentes posições no espaço? 11. ser deslocados e/ou modificados pelas próprias crianças? 12. reunir um grupo grande de pessoas? 13. é possível chegar da rua no pátio sem cruzar toda a escola? É possível pensar esse percurso? Inclusão existe um percurso adaptado e livre de obstáculos: 14. desde o espaço público até o pátio? 15. desde o pátio até o edifício da escola? 16. entre as diferentes áreas do pátio?
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Qualidade lúdica existe/em: 17. espaços exteriores cobertos para proteger do sol e da chuva? 18. vegetação que permita sombra e alguma relação com o verde? 19. Iluminação suficiente todas as horas do dia? 20. proteção nas áreas de jogo com bola? 21. medidas para evitar espaços ou elementos que gerem sensação de insegurança (cantos, muros opacos, zonas escuras)? 22. manutenção e limpeza adequadas? 23. espaços silenciosos para poder conversar, ler ou realizar atividades tranquilas? 24. espaços de espera para as famílias que facilitem a interação social? 25. elementos brincantes diversificados? 26. elementos brincantes para todas as idades? Representatividade é igualitária: 27. a distribuição de elementos em todo o pátio? 28. a importância das diferentes zonas e espaços do pátio? 29. a presença de meninas e meninos - ou homens e mulheres aos finais de semana - no pátio? 30. a representação de diferentes idades, gêneros, raças e culturas nos murais e outros elementos? 31. a participação dos diferentes atores no cuidado e embelezamento do espaço?
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FICHA DE APOIO 4.2
possibilidades brincantes Antes da observação: setor observado
data
hora
esquema de setores do pátio
Após setorização do espaço, buscar pintar manchas, uma de cada cor, que separem os espaços de tranquilidade e intimidade, os espaços de movimento e psicomotricidade e as possibilidades de contato com a natureza e de experimentação.
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Durante a observação: nº de alunos
% do total
gênero
início
<10% 10-30% <30%
misto
final
<10% 10-30% <30%
misto
idade
tipo de jogo
início
6-10
10-14
14-18
motriz motriz alto baixo simbólico vigor vigor
final
6-10
10-14
14-18
motriz motriz alto baixo simbólico vigor vigor
uso do pátio
Marcar a opção correspondente. Repetir a observação mais de uma vez por setor. Depois da observação: nº de alunos
% do total
gênero
início
<10% 10-30% <30%
misto
final
<10% 10-30% <30%
misto
idade
tipo de jogo
início
6-10
10-14
14-18
motriz motriz alto baixo simbólico vigor vigor
final
6-10
10-14
14-18
motriz motriz alto baixo simbólico vigor vigor
uso do pátio
A partir das tabelas completadas durante a observação, completamos uma tabela final para cada setor.
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FICHA DE APOIO 4.2.1
comparação dos resultados A partir dos dados coletados, respondemos as perguntas a seguir comparando os resultados dos diferentes setores. As respostas darão pistas sobre os parâmetros que necessitam atenção. Diversidade 1. Existem diferenças entre as zonas/setores em relação a pavimentos, texturas, cores? 2. Existem diferenças entre as zonas/setores em relação a existência de objetos/infraestruturas brincantes? 3. As dimensões dos diferentes setores são parecidas? 4. É equivalente a quantidade de espaços para tranquilidade e intimidade, de áreas de movimento e psicomotricidade e de possibilidades de contato com a natureza ou experimentação? Flexibilidade na zona/setor onde se concentra o maior número de pessoas: 5. Desenvolvem-se atividades diversas simultaneamente? 6. Participam delas crianças de todas as idades? Ou alguma idade predomina? 7. Participam delas grupos de meninos, meninas, ou mistos? 8. O setor conta com mobiliário ou elementos brincantes? na zona/setor onde se concentra o maior número de pessoas: 9. Desenvolvem-se atividades diversas simultaneamente? 10. Participam delas crianças de todas as idades? Ou alguma idade predomina? 11. Participam delas grupos de meninos, meninas, ou mistos? 12. A zona/setor conta com mobiliário ou elementos brincantes?
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Inclusão existe um percurso adaptado e livre de obstáculos: 13. Todos os setores são acessíveis? Isso está relacionado com a presença de mais ou menos crianças? 14. Você acha que os limites entre os setores favorecem as atividades desenvolvidas? 15. As zonas/setores são adequadas para as atividades que se realizam neles? Qualidade lúdica na zona/setor onde se concentra o maior número de pessoas: 16. Suas características são adequadas para as atividades que se desenvolvem? 17. Apresenta possibilidades lúdicas (objetos, mobiliários, cores, pinturas, infraestruturas, etc.)? Mais ou menos que nos outros espaços? na zona/setor onde se concentra o menor número de pessoas: 18. Suas características são adequadas para as atividades que se desenvolvem? 19. Apresenta possibilidades lúdicas (objetos, mobiliários, cores, pinturas, infraestruturas, etc.)? Mais ou menos que nos outros espaços? Representatividade 20. A presença das diferentes idades nas diferentes zonas/setores é equilibrada? 21. A presença de meninos e meninas nas diferentes zonas/setores é equilibrada? 22. Dependendo da dominância por idade, as atividades são diferentes? 23. Dependendo da dominância por gênero, as atividades são diferentes? 24. Os tipos de jogo que se desenvolvem na zona/setor maior e na menor são similares? 25. Os tipos de jogo que se desenvolvem nas áreas centrais e periféricas do pátio são similares?
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FICHA DE APOIO 4.3 dados para os mapas Antes da observação: setor observado
data
hora
Durante a observação: esquema de setores do pátio
Sobre o esquema do pátio, traçamos os percursos feitos pelas crianças. Deve ser feito um desenho por criança. Posteriormente, sobrepomos os caminhos de todas as crianças, o que nos dara, como resultado, uma área com zonas de diferentes intensidades de uso.
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FICHA DE APOIO 4.3.1 análise dos mapas
Após sobrepostos os percursos, observe as áreas que resultam dessa sobreposição e busque responder as perguntas a seguir comparando-as. Diversidade 1. As crianças menores ocupam apenas espaços centrais ou apenas espaços periféricos do pátio? 2. As crianças maiores ocupam apenas espaços centrais ou apenas espaços periféricos do pátio? 3. Os meninos ocupam apenas espaços centrais ou apenas espaços periféricos do pátio? 4. As meninas ocupam apenas espaços centrais ou apenas espaços periféricos do pátio? 5. De acordo com a situação das áreas de ocupação (centro ou periferia), acredita que há desigualdades na forma que crianças mais novas e mais velhas ocupam o pátio? 6. De acordo com a situação das áreas de ocupação (centro ou periferia), acredita que há desigualdades na forma que meninos e meninas ocupam o pátio? Flexibilidade 7. Existe alguma relação entre a área de ocupação e a situação dos diferentes elementos brincantes ou mobiliário do pátio? 8. Em algum caso, a área de ocupação está diretamente relacionada com algum elemento específico? Inclusão 9. Há barreiras ou obstáculos que dificultam o acesso de crianças menores? 10. Há barreiras ou obstáculos que limitam as áreas de ocupação de meninos e meninas?
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Qualidade lúdica 11. Alguma das áreas ocupa espaços considerados privilegiados do pátio (mais adequado para o brincar, melhores condições de exposição ao sol ou de sombra, proximidade com a entrada do edifício, etc)? 12. Você acha que tem a ver com as relações de poder, como idade, gênero ou outros? Representatividade 13. Há alguma área de ocupação maior que outra? 14. Alguma das áreas se situa em uma posição mais central no pátio?
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FICHA DE APOIO 5.1 perguntas aos alunos
1. Que atividades você realiza quando vai ao pátio? 2. Com quem brinca? Brinca com pessoas de outras idades? 3. Quais são suas brincadeiras preferidas? 4. Que brincadeiras/ jogos você faz com suas amigas? 5. E com seus amigos? 6. Em que parte do pátio costuma jogar? 7. Qual espaço do pátio você mais gosta? Porque? 8. Qual espaço você gosta menos? Porque?
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FICHA DE APOIO 5.1.1
análise das respostas dos alunos Completar a tabela com as informações recolhidas no questionário 1
motriz intenso motriz suave
simbólico
conversa
não específico
com 1 pessoa
mais de 5
mesmo sexo
grupo misto
meninas meninos
2
até 5 pessoas
meninas meninos
3
jogo único
jogos variados motriz intensa
motriz suave
simbólico
jogo único
jogos variados motriz intensa
motriz suave
simbólico
jogo único
jogos variados motriz intensa
motriz suave
simbólico
meninas meninos
4 meninas meninos
5 meninas meninos
6
centro
periferia
todo
centro
periferia
todo
relação espaço
não relação
centro
periferia
todo
relação espaço
não relação
meninas meninos
7 meninas meninos
8 meninas meninos
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manual de aplicação
A partir da informação compilada na tabela, pode-se responder as perguntas abaixo, que darão pistas sobre os parâmetros que precisam ser reforçados. Diversidade pensando na composição e nos tamanhos dos grupos de pessoas: 1. São grupos mistos? 2. O número de meninos e meninas nos grupos mistos é similar? 3. As crianças de diferentes idades misturam-se? pensando nas atividades que se realizam: 4. Aparece uma variedade de brincadeiras/jogos? Flexibilidade Olhando para as atividades que cada criança realiza: 5. São brincares distintos (motrizes, simbólicos, conversas, etc)? 6. Tanto as meninas quanto os meninos desenvolvem diferentes modalidades de brincar? Olhando para as atividades que cada criança realiza: 7. Os lugares que mais gostam estão distribuídos de maneira equitativa por todo o pátio? Qualidade lúdica 8. Quais são as características dos espaços que as crianças mais gostam? E que menos gostam? 9. Do que as crianças mais sentem falta? 10. Os espaços que meninos e meninas gostam tem características similares? E os que menos gostam? 11. Os espaços que as diferentes idades gostam tem características similares? E os que menos gostam? Representatividade 12. Os meninos e as meninas brincam das mesmas coisas com os amigos e com as amigas? 13. Tanto meninos quanto meninas ocupam espaços centrais e periféricos indistintamente? 14. Os espaços que ocupam coincidem com os que mais gostam?
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FICHA DE APOIO 5.2
análise das representações dos alunos As representações dos alunos podem ser analisadas a partir das seguintes perguntas: Diversidade 1. Foram representadas atividades diversas? Foram representadas mais de 3 atividades? 2. São atividades variadas (jogo motriz, jogo simbólico, conversações, etc)? 3. Aparecem mais de 3 elementos diferentes? 4. Todos os elementos têm um protagonismo similar? 5. Aparecem todos os espaços? 6. Todos os espaços têm protagonismo similar? 7. Aparecem espaços de descanso? 8. Aparecem diferentes pavimentos, texturas e cores? Flexibilidade 9. Se representam atividades e usos diferentes que se realizam de maneira simultânea? Inclusão 10. Os elementos utilizados para delimitação dos espaços são permeáveis e permitem a visibilidade? 11. Os elementos para acessar diferentes espaços permitem a passagem de todas as pessoas, independentemente de suas capacidades?
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manual de aplicação
Qualidade lúdica 12. São representados elementos relacionados com o clima (sol, sombra, chuva, etc)? 13. São representados elementos relacionados com as necessidades básicas (água, banheiro, etc)? 14. Aparecem elementos onde se pode sentar e/ou descansar? 15. Aparecem elementos de sobra ou de vegetação? 16. Aparecem brinquedos ou elementos lúdicos? 17. A frequência que todos esses elementos aparecem? Representatividade 18. As crianças de idades diferentes representaram espaços similares? 19. As crianças de diferentes gêneros representaram atividades similares?
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FICHA DE APOIO 5.3
compilação dos desejos dos alunos Observe os desenhos feitos pelas crianças lembrando de suas observações e explicações acerca daquilo que foi desenhado. Busque preencher a tabela abaixo a partir do compilado de desenhos, visando entender aquilo que se apresenta como maior desejo das crianças:
elemento
quantidade de vezes que aparece
brinquedos grandes brinquedos móveis elementos da natureza espaços de tranquilidade espaços de faz de conta pinturas no chão ou nas paredes
Busque detalhar o item que mais apareceu, organizando os desejos das crianças de forma de fácil acesso.
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manual de aplicação
FICHA DE APOIO 5.4 pautas para discussão
São levantadas algumas ideias que podem guiar o debate com os alunos: Sobre as qualidades dos espaços Planejamos perguntas sobre o estado atual do pátio, as coisas que gostam e as que mudariam, como por exemplo os tipos de piso, a vegetação, os elementos brincantes, as zonas com sol ou sombra, a localização dos banheiros, os pontos de água, etc. Também pode-se colocar em discussão quais zonas do pátio gostam mais e quais menos e porque. Ou debater sobre as possibilidades que cada um desses espaços traz e permite ao brincar. Pode-se, ainda, propor questões que tratem da relação com o entorno: a qualidade das ruas e dos edifícios aos redor, o trânsito, a possibilidade de caminhar até o parque ou praça mais próxima, etc. Sobre desigualdades e conflitos Pode-se propor questões que permitam identificar as situações de privilégio e opressão, as hierarquias entre diferentes pessoas ou grupos e os motivos das desigualdades. Pode-se falar sobre os diferentes jogos ou atividades que se desenvolvem e as relações disso com as idades ou gênero. Também é interessante conhecer que parte do pátio ocupa cada pessoa ou grupo e se existem desequilíbrios.
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FICHA DE APOIO 7.1
tabela de resumo dos resultados Marcar as qualidades mais deficitárias de cada etapa:
4. observamos o pátio 4.1
D
F
I
Q
R
4.2
D
F
I
Q
R
4.3
D
F
I
Q
R
5. escutamos os alunos
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parâmetros
parâmetros
5.1
D
F
I
Q
R
5.2
D
F
I
Q
R
manual de aplicação
FICHA DE APOIO 11.1
reflexões sobre escola aberta Trazemos, aqui, algumas perguntas que podem ajudar a conduzir a discussão e, ainda, algumas afirmações que refletem nosso entendimento sobre escola aberta. perguntas 1. O que é escola aberta? 2. É abrir o espaço da escola nos finais de semana? 3. É transferir para a comunidade o poder de tomar decisões? 4. É entender que a escola é um bem público e, portanto, de todos? 5. É aumentar a sua relação com o entorno e com a comunidade? 6. É possibilitar à comunidade novos espaços de lazer? 7. É abrir o currículo para a discussão dos conteúdos e práticas dos educadores e abrir a gestão, sobretudo, questionando os núcleos internos de poder histórica e culturalmente constituídos na organização escolar? 8. É entender a escola como um pólo do território? 9. É enxergar novas possibilidades para um espaço tradicional? 10. É democratizar o espaço? como pensamos - A escola aberta precisa ser entendida para além da abertura física dos portões. Um aspecto bastante importante é a possibilidade de uma abertura à diversidade cultural existente, sobretudo dentro da escola. - Abrir a escola é também colocar em discussão a questão do poder, democratizando a escola e permitindo que mais pessoas tenham acesso aos seus espaços e possam pensar sobre eles e sobre as atividades que ocorrem nele.
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- Abrir a escola é repensar todas as ações que ocorrem em seu cotidiano e, assim, repensar também o currículo e sua adequação ao contexto no qual está inserida, com propostas inovadoras e mais inclusivas. - Abrir a escola é pensar a constituição de sujeitos comunitários em sintonia com cada realidade, que possam assumir o projeto no cotidiano. Assim, é, também, formar um maior senso de comunidade e de pertencimento. - “A abertura da escola propõe o estabelecimento de um novo ordenamento do tempo e do espaço da instituição escolar, prevalecendo a sua identificação com um ideal de escola heterogênea, que se define pela acolhida ao diferente” (ALMEIDA, 2005, p. 47). - É possibilitar a vivência dos diferentes grupos que, de alguma maneira, encontram-se vinculados à escola, sem que um exerça dominação sobre o outro. - Abrir a escola é acolher a comunidade e ajudá-la naquilo que ela necessita, acolher o diferente. - “Abrir a escola, além de significar repensar seus tempos e espaços, é também abrir a discussão sobre quem toma as decisões dentro dela, sobretudo, sobre quem são os beneficiários destas decisões” (ALMEIDA, 2005, p. 52). - Trata-se de decidir conjuntamente sobre aspectos fundamentais que afetam a infância, sendo, assim, fundamental contar com o apoio e cumplicidade de toda a comunidade educativa, sem nos esquecermos de escutar a voz dos alunos e de considerar as expressões vivenciais. Implica, portanto, em um processo de reflexão e de aprendizagem coletiva que, por seu potencial transformador, não pode ser um processo alheio. - É evidenciar a importância dos pátios escolares dentro do sistema de espaços livres da cidade. - É entender o pátio escolar como espaço de lazer e recreação, mas também como protagonista do processo educativo, reconhecendo a influência do entorno e de suas características socioespaciais. - É pensar nos pátios escolares enquanto potentes espaços multifuncionais e autênticos corações cívicos do bairro, o que muito diz também da educação em sua função de formar cidadãos.
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LISTAS DE RECOMENDAÇÃO As listas de recomendação trazem uma série de indicações que auxiliam a pensar de maneira qualificada as transformações para a abertura da escola, sejam elas transformações físicas do espaço ou da gestão.
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LISTA DE RECOMENDAÇÕES 1 para o espaço
Esta primeira lista reúne as recomendações relacionadas à configuração do espaço. Explicam como distribuir de uma maneira responsável e equitativa o espaço, recomendam geometrias e acabamentos das diferentes partes do pátio e determinam como deve ser a relação física entre a escola e seu entorno próximo. Todas essas recomendações pretendem conseguir espaços não hierárquicos e menos adultocêntricos.Para facilitar sua aplicação, foram classificados a partir dos 5 parâmetros de estudo.
distribuição equitativa e eficiente D Distribuir o pátio equitativamente em diferentes setores para permitir o desenvolvimento de diferentes tipos de atividades: atividades em equipe, jogos motores de diferentes intensidades, jogos simbólicos, contato com a natureza, descanso e conversa e outros tipos. Q
R
Localizar as áreas destinadas ao jogo em equipe ou ao jogo motriz de alta intensidade em zonas consideradas periféricas com o objetivo de não interromper a passagem para outras zonas do pátio, aos espaços interiores ou à rua. Q
R
Se o pátio tem dimensões reduzidas, se destinará uma única zona para as atividades motrizes de alta intensidade, já que necessitam muito espaço concentrado. Se o pátio dispõe de espaço suficiente, pode-se destinar mais de uma zona para esse tipo de atividade. D
F
O espaço destinado às atividades motrizes de intensidade média não necessitam dimensões grandes e podem estar distribuídas em diferentes áreas do pátio.
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I
Q
Levar em consideração os níveis de intensidade dos diferentes setores do pátio. Recomenda-se gerar uma gradação dos níveis de intensidade entre as atividades dos diferentes setores e, sobretudo, não situar setores com níveis opostos um ao lado do outro. I
Q
Trabalhar os limites dos setores de alta intensidade para proteger e evitar a invasão dos espaços adjacentes. F
I
Recomenda-se não utilizar divisões fixas e contínuas, consideradas barreiras, para separar setores. No lugar disso, aconselha-se utilizar árvores, arbustos, desníveis com gradação, etc. F
I
Q
Evitar a presença de cantos ou espaços residuais.
adequação das características ao tipo de atividade D
I
Q
Potencializar o desenho de espaços ricos e diversos. Estes devem contar com elementos variados e geometrias diversas, como, por exemplo, pequenas terraplanagens com níveis variados, incluir texturas e cores, integrar percursos e zonas cobertas. F
Q
R
O espaço destinado às atividades ou jogos motrizes de alta ou média intensidade não devem ter obstáculos e o piso deve ser preferivelmente duro e sem desníveis. É recomendado não associar esses espaços com um jogo determinado, como pode acontecer com uma quadra. D
Q
O jogo simbólico e as atividades motrizes de baixa intensidade requerem, preferivelmente, pavimentos macios e com textura (grama, areia, pedras, emborrachado, etc).
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manual de aplicação
F
R
Evitar espaços que sejam identificados simbolicamente com o papel masculino ou feminino, eliminando linhas ou geometrias associadas a um esporte concreto. D
Q
Levar em consideração os 7 critérios propostos no PUB ao (re)pensar e desenhar os espaços de brincar. São eles: 1. múltiplas propostas de jogos criativos e com desafios para o desenvolvimento saudável das crianças. 2. espaços físicos diversos, estimulantes, conectados e acessíveis. 3. espaços de jogos inclusivos para distintas idades, gêneros, culturas e discapacidades. 4. contato com a natureza, o verde e a exploração dos elementos naturais. 5. jogo compartilhado e cooperativo. 6. lugar de encontro e convivência comunitária. 7. ecossistemas lúdicos e entornos seguros e brincantes. D
Q
Garantir que cada espaço de brincar possua pelo menos cinco dentre as atividades lúdicas levantadas pelo PUB (deslizar, balançar, escalar, equilibrar, saltar, sentir vertigem, correr e rodar, esconder, experimentar, interpretar, expressar, deitar e relaxar), visando a diversidade de ações e de criar.
acessibilidade e necessidades básicas I
Q
Evitar a presença de elementos físicos ou de atividades que possam obstruir o caminho de chegada aos elementos que permitem satisfazer as necessidades básicas (bebedouros, banheiros, lixeiras, etc). Q Levar em consideração a exposição ao sol e a possibilidade de áreas com sombra ao longo de todo o ano para distribuir os diferentes setores do pátio em função das atividades desenvolvidas em cada um deles.
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F
I
Q
O acesso para o prédio a partir do pátio deve ter dimensões suficientes e deve estar livre para facilitar que a entrada e saída de todas as pessoas seja feita de forma cômoda. F Contar com um espaço de armazenamento no pátio ou de fácil acesso para guardar materiais e elementos de uso descontínuo. I
Q
Cuidar do acesso da rua para o pátio da escola. Garantir que tenha um percurso seguro e acessível para ser feito pela comunidade aos finais de semana. Se for preciso isolar parte da escola, pensar em estruturas móveis de fácil organização para garantir o fluxo das pessoas e não atrapalhar o funcionamento da escola.
relação com o entorno D
Q
Qualificar o acesso da escola com uma zona de bancos e de sombra, com dimensões suficientes para permitir o brincar das meninas e dos meninos e garantir a espera dos cuidadores de forma confortável. Ainda, pode-se entender esse espaço como o início de um polo social que se estabelece ao redor da escola com sua abertura. I Facilitar a integração da escola com o bairro, colocando cercas permeáveis que possibilitem a visibilidade entre o pátio e a rua. D
Q
R
É recomendável situar um espaço público (praça, parque ou área peatonal) e/ou um equipamento (biblioteca, escola de música, centro cultural, etc) como espaços de relação direta da escola. Q Pensar, a partir da qualificação do pátio, na criação de caminhos escolares que conectem a área interna com a área externa.
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LISTA DE RECOMENDAÇÕES 2 sobre os elementos
Esta segunda lista faz referência à variedade de elementos que podem ser introduzidos no espaço e tem como objetivo conseguir uma maior diversidade de brincar e que as possibilidades não sejam estereotipadas em função de gênero ou idade. É importante potencializar a multifuncionalidade e a temporalidade dos elementos para melhorar os parâmetros de estudo e, assim, permitir o desenvolvimento de uma maior diversidade de brincadeiras e atividades. Dessa forma, os elementos devem ter a capacidade de funções diversas e permanecer ou não no espaço do pátio. Para facilitar sua aplicação, as recomendações foram classificadas a partir dos 5 parâmetros de estudo. elementos de jogos permanentes D
F
R
Evitar que os elementos fixos que se encontram permanentemente no pátio identifiquem-se com o uso específico. Para consegui-lo, os elementos devem ter diferentes geometrias, alturas e tamanhos. Como exemplo, ao invés de ter bancos tradicionais, podem ser desenhados elementos escalonados que permitam somar uns aos outros. D
R
Incorporar no pátio elementos que potencializem o jogo simbólico e o jogo motriz de baixa intensidade, como zonas de estar e elementos para o equilíbrio ou para motricidade fina. F
Q
Dar preferência a brinquedos, espaços e elementos não estruturados, que não determinam como ele deve ser utilizado e possibilidade apropriações e simbolizações múltiplas.
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elementos de jogos temporais D
R
Introduzir elementos multifuncionais e neutros no espaço de recreio como, por exemplo, cordas, rodas, giz, aros, etc, permitindo a geração de novas dinâmicas brincantes. Priorizar os elementos naturais com formas, cheiros e cores diferentes. D
F
R
Introduzir os diferentes elementos de maneira estética e ordenada. Isto potencializará que o aluno o trate com mais cuidado. A quantidade de elementos que se proporciona tem que ser suficiente para permitir que todo mundo possa brincar e que tenha maior diversidade de jogos. F
R
Introduzem-se temporalmente elementos de uso específico, como Si se introducen temporalmente elementos de uso específico, como gols móveis, redes de vôlei, etc. Entretanto, é preciso que movam-se com facilidade e que seja possível colocar e tirar em função das necessidades ou desejos.
vegetação e sombra D
Q
R
Contar com vegetação variada, nativa, aromática ou medicinal para embelezar o espaço e enriquecer as experiências dos alunos. O estudo dessa vegetação e seus usos pode ser incorporado ao programa educativo da escola. D
Q
Introduzir elementos de sombra, árvores possíveis de subir e que fazem sombra, pérgolas vegetais e/ou tendas para criar zonas de conforto climático. Assim, é possível espaços exteriores mais acolhedores.
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Q Considerar que a vegetação também pode ser um elemento lúdico e brincante e considerá-la no planejamento do espaço.
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LISTA DE RECOMENDAÇÕES 3 para a gestão
FORMAS DE GESTÃO Nesse primeiro bloco, listamos algumas formas de gestão que consideramos interessantes e que podem ser aplicadas no contexto de abertura dos pátios escolares. Gestão democrática: está baseada no gerenciamento por ações que propõem a participação social, ou seja,todos os sujeitos da equipe são ativos em todo o processo da gestão, participando de todas as decisões da instituição. Assim, é imprescindível que cada um destes sujeitos tenha clareza e conhecimento de seu papel enquanto participante da organização institucional. Pontos fortes: Maior participação da equipe, Maior gama de possibilidades. Gestão compartilhada: compartilhamento da gestão, acontece quando todos os pares para além de opinar sobre as questões, podem tomar decisões. E tem como princípio a escuta não só como processo metodológico, mas como interlocutor entre a organização, indivíduos, que se percebem neste processo de tomada de decisão trazendo para si e para o coletivo uma co-responsabilidade sobre a ação. Pontos fortes: Co-responsabilidade e coliderança. Gestão colaborativa: também chamada de gestão horizontal, é um modelo descentralizado, ao contrário da gestão vertical, não há uma rígida hierarquia entre os funcionários. A instituição é dividida em áreas e cada um dos colaboradores deve entender claramente quais são suas responsabilidades para que, assim, despertem a consciência de que todos podem contribuir. Na gestão colaborativa, todos trabalham por um bem comum, que se traduz na geração de bons resultados para a empresa. A elaboração do planejamento estratégico leva em consideração as percepções dos membros de todas as áreas, assim essa nova forma de gestão tem o foco em pessoas, que são o maior ativo de uma empresa. No modelo horizontal todos os colaboradores têm voz para contribuir com o planejamento a longo prazo. Pontos fortes: Maior aproveitamento das habilidades individuais e respeito e diversidade na tomada de decisões
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Gestão holocrática: é um sistema organizacional onde a autoridade e a tomada de decisão é distribuída a uma holarquia de grupos auto organizados, abrindo mão, assim, da corrente hierárquica vigente. O termo holocracia é derivado do termo ``holarquia’’, uma holarquia é composta por hólons ou unidades que são autônomas e autossuficientes, mas dependentes do todo maior a que participam. Assim, uma holarquia é uma hierarquia de hólons auto-reguláveis que funcionam tanto como totalidades autônomas quanto partes dependentes. Pontos fortes: menor índice de erros, grupos e pessoas especializadas, interdependência Gestão sociocrática: sociocracia é um sistema de governo no qual as decisões são tomadas considerando-se a opinião dos indivíduos de sua sociedade. Assim, as medidas governamentais recebem sempre a consulta popular ou dos usuários. É a forma de gestão onde a soberania é exercida pela sociedade como um todo, não apenas por algumas de suas partes, na procura da melhor decisão para o conjunto da sociedade, ou no mínimo obtendo o consentimento dos que não concordarem com os pontos de vista da maioria. É fundamental na sociocracia o princípio de auto organização, assentado nas teorias sistêmicas de inteligência coletiva. Pontos fortes: diálogo, colaboração e maior engajamento.
GESTÃO INTERNA Este bloco expõe ferramentas para conseguir que o pátio funcione como um espaço educativo, onde aprendem-se valores de igualdade, respeito e solidariedade. Entendemos o pátio como um espaço no qual pode ocorrer uma grande variedade de atividades simultâneas e de maneira contínua. Todas essas recomendações não implicam em mudanças físicas do espaço, elas permitem transmitir valores inclusivos, a cooperação e o cuidado do pátio por meio do brincar. A participação é um elemento chave no processo de melhoria do pátio. Para facilitar sua aplicação, foram classificados a partir dos 5 parâmetros de estudo. ações para diversificar D
R
Ampliar o conhecimento dos alunos sobre jogos diversos que podem ser realizados no pátio. Propõe-se que as famílias expliquem seus jogos de infância para as crianças e que elas possam, também, inventar novos jogos.
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D
R
Propor novos jogos, brincadeiras ou esportes considerados neutros ou menos praticados entre os alunos. Poderia ser incorporado na disciplina de educação física como atividade de investigação. D
F
R
Utilizar o espaço do pátio também para usos acadêmicos fomenta que todas as pessoas utilizem todos os espaços e seja possível uma ressignificação do mesmo, aumentando o sentimento de pertencimento, rompendo hierarquias e evitando a identificação de espaços com determinados grupos ou pessoas. F
I
Utilizar espaços públicos próximos da escola para realizar atividades escolares como forma de maior apropriação do entorno e maior relação escola-exterior.
ações para romper esteriótipos D
R
Potencializar as habilidades das meninas para jogar jogos considerados masculinos, organizando campeonatos mistos e dando referências femininas do mundo do esporte. D
R
Valorizar as atividades consideradas femininas, como os jogos simbólicos, as atividades motoras de baixa intensidade ou de cuidados,. Uma sugestão é, por exemplo, introduzir uma horta para compartilhar o cuidado entre todos os alunos da escola. Q Organizar uma formação para os professores que combine sessões teóricas e exercícios práticos sobre a importância do brincar e suas inúmeras possibilidades. Para facilitar a participação dos professores, recomenda-se adaptar as sessões aos horários escolares.
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D
R
Organizar conversas informativas para as famílias sobre sexismo nos jogos e brincadeiras. Apresentar novas referências que ampliem o repertório de brincadeiras.
ações para melhorar a convivência D
R
Decidir os jogos coletivamente e equitativamente através de dinâmicas participativas. As dinâmicas devem ser diversas e facilitar a participação de todos os alunos. É importante que todos conheçam as regras dos jogos elegidos. R Organizar atividades lúdicas das quais toda a escola participe, fomentando a interação entre meninos e meninas de diferentes idades e desenvolver as capacidades de cuidado e atenção dos maiores. Propõe-se que os alunos mais velhos proponham jogos e brincadeiras para os mais novos.
GESTÃO EXTERNA Este bloco expõe ferramentas para conseguir que o pátio funcione como um espaço comunitário, o qual possa ser frequentado por todos e acolhedor para todos. Onde tenha um sistema compartilhado de responsabilidades e cada um possa contribuir de maneira a garantir a qualidade e a manutenção do espaço. Para facilitar sua aplicação, foram classificados a partir dos 5 parâmetros de estudo. I Caso exista a intenção de fomentar a geração de renda local a partir da escola, um modelo de zeladoria comunitária pode ser bastante interessante, através do qual contratam-se pessoas da comunidade para fazer a abertura e fechamento do pátio e elas também ficam responsáveis por sua supervisão durante o período de abertura.
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F
R
Ainda, caso tenha sido bastante fortalecida a relação com a comunidade, pode optar-se por uma zeladoria voluntária, na qual as famílias, a comunidade e até os professores podem organizar-se em um rodízio ou através de inscrições para gerir o funcionamento do espaço. F
Q
Caso as decisões acerca da transformação do espaço tenham apresentado-se custosas, recomenda-se também a inscrição da escola no programa Escola Aberta, um programa do Ministério da Educação que incentiva e apoia a abertura, nos finais de semana, de unidades escolares públicas localizadas em territórios de vulnerabilidade social. Isto é, as escolas do programa recebem dinheiro para poderem implementar a abertura da escola. D
R
Sugere-se, ainda, que sejam convidadas organizações, grupos, etc, da comunidade para realizar ações, atividades, apresentações nos pátios aos finais de semana.
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02
LOCAIS DE APLICAÇÃO
PUB • locais de aplicação
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LOCAIS DE APLICAÇÃO Algo que muito motivou a proposta, além de suas potências educativas, culturais, de lazer e democráticas, foi a abrangência da rede de escolas públicas no território (mapa 1). Quando traçamos o raio de 5 minutos caminhando (300m) - valor recomendado pela ONU - desde as escolas, vemos que a mancha criada abrange quase todo o território (mapa 2). Somando-a, ainda, aos raios das praças (no mapa 3 foram consideradas apenas as maiores de 150 m2 por ser a situação ideal), quase todo o território da Brasilândia consegue acessar um espaço livre público, sem a necessidade de flexibilizar para 10 ou 15 minutos de caminhada. Entretanto, a nível de recorte para replicação da proposta, a metodologia de aplicação foi pensada para escolas de Ensino Fundamental, as quais estão representadas no mapa 4. Mesmo reduzindo o número de escolas (a partir da exclusão daquelas de Educação Infantil), é bastante potente e significativa a rede que ainda se forma. Quando somamos os raios de abrangência de 5 minutos caminhando das escolas de Ensino Fundamental com as praças (mapa 5), temos 9,3m2 do território cobertos. Desconsiderando a área da Serra da Cantareira, isto é, considerando apenas a área urbanizada do território, que corresponde à 11 km2, temos que 84,54% do território consegue acessar um espaço livre com apenas 5 minutos de caminhada. Número bastante superior àquele considerando apenas os raios de 5 minutos das praças (52,9%). Certamente que a adesão à proposta depende muito de um movimento da direção da própria escola. Entretanto, se pudéssemos fazer uma sugestão a nível de política pública, seria bastante interessante que o investimento começasse na região destacada no mapa 5, uma vez que não há praças na região.
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MAPA 1
escolas públicas
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MAPA 2
raio de 5 minutos caminhando das escolas
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MAPA 3
raio de 5 minutos caminhando das escolas e das praças
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MAPA 4
escolas de ensino fundamental
EMEF Miltom Campos
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MAPA 5
5 minutos de caminhada escolas fundamental e praças
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100 manual de aplicação
03
RELAÇÃO COM OUTRAS PROPOSTAS
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RELAÇÃO COM OUTRAS PROPOSTAS Quando olhamos para os pátios escolares abertos é possível entendê-los enquanto uma proposta do Plano Urbano do Brincar que, por si só, estabelece uma rede potente no território. Entretanto, pensá-los na escala urbana é também pensar em suas relações com outras propostas que, conjuntamente, vão constituindo uma cidade brincante. É entender que o desenvolvimento da cidade pode ser feito de forma planejada e norteada por desejos de cidade. Defendemos que é essencial uma visão sistêmica que reconheça as relações entre os objetivos e entre as propostas, que pense todas as ações de forma integrada e reconheça a complexidade da realidade. Portanto, ao olharmos para os pátios escolares abertos é possível entendê-los também enquanto uma parte de um todo, isto é, enquanto uma possibilidade - importante, sem dúvidas - de uma cidade brincante. E, assim, olhar para sua relação com outras propostas que compõem esse todo é fundamental para que possamos voltar o olhar para a escala urbana e manter constante o diálogo entre as diferentes escalas, entre o macro e o micro. Dessa forma, apresentamos as propostas do PUB que, de alguma maneira, relacionam-se diretamente com a ideia de pátios escolares abertos.
102 manual de aplicação
PUB • relação com outras propostas 103
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05 Aumentar as calçadas Conforme já apresentado, pensar a abertura dos pátios escolares vai além de abrir seus portões. Envolve, entre outras coisas, entender o pátio como um espaço livre público da cidade e, assim, olhar para a relação da escola com seu entorno, pensando os pátios como espaço de diálogo entre o dentro e o fora. Dessa forma, pensar o entorno escolar e, portanto, a qualificação e ampliação de suas calçadas, seja para deslocamento e acesso ou para usos lúdicos, é fundamental para garantir que o pátio não seja uma ilha de brincar isolada. É preciso conexão e continuidade entre os espaços, o que pode ser garantido e qualificado com o aumento das calçadas.
07 Mobiliário urbano Em relação direta com o aumento das calçadas, pensar no investimento e instalação de mobiliário urbano na cidade é também qualificar o lugar e possibilitar a ocorrência de encontro social, de atividades não essenciais, de brincadeiras. É poder pensar nos deslocamentos, mas também na pausa, no estar. É poder habitar de maneira qualificada os espaços da cidade e, portanto, os entornos escolares e os próprios pátios, que, no limite, podem estender-se em diálogo com a rua, se esta for bem mobiliada.
104 manual de aplicação
08 Mais ciclovias A ideia de mais ciclovias está relacionada à ideia de mobilidade e, portanto, ao acesso. Garantir que as crianças e toda a comunidade possam deslocar-se de forma mais autônoma por todo o território é também garantir que elas possam acessar os diferentes espaços e, por consequência, os pátios escolares. Favorecer formas ativas de deslocamento é garantir a autonomia e, ao mesmo, possibilitar a conexão entre os diferentes espaços.
14 Modelo de CoCriação A proposta inicial do modelo de cocriação é voltada para praças e parques, entretanto, é clara sua possibilidade de expansão, inclusive pensando na metodologia de aplicação dos pátios escolares abertos. Isto é, pensar a participação de crianças e jovens na produção do espaço que vão ocupar é importante e cabe em qualquer espaço, podendo ser pensada e reproduzida em diversos contextos, valorizando a voz e entendendo as crianças enquanto cidadãs plenas. Pode-se dizer, então, que na proposta dos pátios escolares abertos e sua metodologia de aplicação, intersecciona-se de maneira bastante nítida com o modelo de cocriação, ampliando sua proposta e abrangência.
PUB • relação com outras propostas 105
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20 Ruas brincantes Entendemos que pensar as ruas brincantes em relação com os pátios abertos é entender um grande potencial de aplicação das ruas de lazer. Isto é, pensar as ruas das escolas como territórios possíveis dessa aplicação é criar uma rede de ruas brincantes ao mesmo tempo que expande o espaço do pátio, que pode transbordar para a rua e ocupá-la também como espaço lúdico de brincar. É uma relação que favorece tanto as ruas brincantes quanto os pátios abertos.
29 Critérios para desenhar áreas de brincar Entendendo que muitas vezes a metodologia de aplicação da proposta dos pátios escolares abertos exige uma revisão e requalificação deste espaço, considerar os 7 critérios propostos para redesenhá-lo é fundamental. Além de ser uma forma de pensar o plano integralmente, isto é, na inter-relação direta entre as propostas, que podem complementar-se e fazer sentido entre elas e, até mesmo, umas nas outras, é também uma maneira de garantir uma qualidade mínima desse espaço.
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31 Mínimo de 5 atividades por espaço No mesmo sentido dos critérios para desenhar o espaço, a garantia do mínimo de 5 atividades diferentes por espaço garante a qualidade brincante do lugar. Muitas vezes os pátios são dominados por determinado tipo de atividade, que acaba por relacionar-se com algum tipo de hierarquia (idade, gênero, etc). Garantir que seja possível uma diversidade de ações lúdicas também garante a maior diversidade, igualdade e, inclusive, uso do espaço.
34 Brincar com água Aqui, a relação não é constante e depende da vontade do grupo escolar envolvido no processo da metodologia de aplicação. Entretanto, entendemos que é uma possibilidade potente de aplicação da proposta em qualquer uma das suas 3 dimensões (fontes de água potável, jogos de esguichar-se e kit de jogos aquáticos).
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41 Espaços acessíveis É de extrema importante que os pátios escolares e suas estruturas brincantes sejam acessíveis, seja para as crianças, seja para qualquer um da comunidade. Portanto, considerar essa proposta ao repensar o pátio é muito importante. Não à toa um dos parâmetros de estudo proposto na metodologia de aplicação é a inclusão, visando garantir o acolhimento proporcionado pelo espaço e as experiências igualitárias que ele deve proporcionar, fazendo com que todos e cada um sintam-se pertencentes ao espaço.
66 Entornos das escolas pacificados Pensar os entornos da escola pacificados relaciona-se ao apresentado quando pensamos em ampliar as calçadas e nas ruas brincantes. Isto é, é entender o pátio como parte integrante do sistema de espaços livres da cidade e, assim, pensar sua conexão com os diferentes espaços. Portanto, garantir um entorno pacificado é garantir o acesso, garantir a permanência, garantir a conexão e garantir a expansão do pátio para além de seu espaço e, portanto, para além dos muros da escola, transbordando para outros espaços da cidade.
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67 Zonas escolares No mesmo sentido, pensar as zonas escolares é garantir a segurança no entorno escolar e incentivar meios de transporte ativos e, assim, garantir entornos pacificados que permitam maior relação pátio-cidade. É, conforme viemos destacando, uma soma de medidas que vão complementando-se para, dessa forma, conformarem um todo completo.
68 Proteger as escolas É sempre preciso e importante um espaço de transição entre o dentro e o fora. Esses espaços que protegem e acolhem ainda no espaço livre público, na rua, que convida a se encontrar e permanecer, são bastante significativos para essa transição. Assim, criar esses espaços é também fomentar a construção da relação escola-território. Além disso, é uma maneira de proteger a frente das escolas, resguardando-as do trânsito com esses espaços e dialogando, ainda, com as zonas escolares e a pacificação dos entornos.
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69 Caminhos escolares Pensar a relação dos caminhos escolares com os pátios abertos é olhar para a garantia da possibilidade das crianças irem e virem a pé de suas escolas ou centro educativos, sozinhos ou em grupo, de maneira autônoma, saudável, segura e sustentável, fazendo com que a rua seja um espaço seguro, acolhedor e formativo e possibilitando, justamente, o acesso autônomo a esses espaços. Não basta abrir os pátios, qualificá-los, repensar a sua gestão se não for possível chegar a eles. Criar uma rede de caminhos escolares é também criar uma rede de acesso a esses lugares.
70 Ônibus a pé Mais uma vez, a ideia dos ônibus a pé trabalha, se pensando em relação aos pátios escolares abertos, no sentido do acesso e da autonomia. Isto é, garante que as crianças possam chegar a esses lugares sem necessariamente dependerem dos pais ou qualquer responsável e que o façam de maneira segura.
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72 Muros das escolas Muitas vezes, os muros das escolas são barreiras físicas e simbólicas que separam a escola do mundo, que as limitam a si mesmas, como organismo a parte que não faz parte da cidade e, menos ainda, dialoga com ela. Portanto, se a proposta dos pátios abertos é justamente o diálogo da escola com o território e toda a comunidade do entorno, se faz fundamental que sejam repensados seus muros e pensadas novas possibilidades que materializem a ideia de conexão e relação da escola com o território.
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EXPERIÊNCIA-PILOTO
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INTRODUÇÃO Pensar uma experiência-piloto é pensar também na experimentação de novas ideias, de novos processos e novas ferramentas. Um esforço empreendido para testar a viabilidade de uma proposta ou metodologia. Muito me inquietava as propostas que eu fazia sem poder olhar de fato para sua aplicabilidade e para questões que se apresentariam na prática. Foi nesse contexto que, graças à Sueli, entrei em contato com a EMEF Senador Miltom Campos, uma escola localizada na Rua Pérsio de Souza Queiroz Filho, na Vila Icaraí, Brasilândia. Assim, apresentou-se a possibilidade para que eu pudesse, em diálogo com uma escola e todas as questões que se apresentaram a partir de então, pensasse a metodologia de aplicação que estava propondo. Realizar o processo de aplicação junto à EMEF e entendê-la enquanto uma experiência piloto de aplicação da abertura do pátio escolar foi colocar em prova aquilo
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que eu estava propondo, mas foi também pensar e repensar a metodologia posta e perceber os desafios que se apresentavam para tal. Vale dizer que o desenvolvimento da metodologia de aplicação e a experiência na Miltom Campos ocorreram de forma concomitante e, portanto, foram muito complementares uma à outra. Isto é, ao mesmo tempo que eu buscava aplicar na escola aquilo que pensava para a metodologia, o que se apresentava no contexto escolar real também era fundamental para lapidar e adaptar à metodologia para que ela ganhasse maior aplicabilidade e replicabilidade. Dessa forma, houve um diálogo constante e quase cíclico entre a proposta teórica e a aplicação prática. De toda forma, foi apenas devido a essa experiência prática de aplicação que pude chegar à metodologia de aplicação aqui apresentada. Também é importante resgatar o contexto de aplicação da proposta: a pandemia de Covid-19. A situação de isolamento social impossibilitou que eu vivenciasse o cotidiano da escola em funcionamento, entendesse sua relação com o entorno e a relação das crianças com o espaço. Dificultou o contato com as crianças, com os professores e com os moradores do entorno. Assim, não foi possível aplicar a metodologia da mesma forma como está prevista no Manual. Foram necessárias adaptações e simplificações que dialogassem com o contexto que se apresentava. Entretanto, ainda assim, foi uma experiência muito rica que possibilitou uma abertura no meu olhar. A aplicação na Miltom Campos me fez perceber que pensar nos pátios escolares abertos não é apenas pensar na abertura de seus portões. Abrir a escola é acolher a comunidade e ajudá-la naquilo que ela necessita, é acolher o diferente, é repensar o tempo e espaço escolar, é discutir sobre quem toma as decisões dentro da escola, é a possibilidade de uma diversidade cultural existente, é pensar formas de gestão mais horizontais, é a disposição para discutir o cotidiano, questionar o poder. É, então, pensar a escola de forma realmente democrática e pública.
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Trata-se de decidir conjuntamente sobre aspectos que afetam a infância e, por isso, é importante contar com o apoio e cumplicidade de toda a comunidade educativa, sem nos esquecermos de escutar a voz dos alunos e de levar em consideração a expressão do vivenciado. Implica em um processo de reflexão e aprendizagem coletiva que, por seu potencial transformador, não pode ser um processo fechado ou alheio. A experiência me possibilitou, também, aprofundar a ideia de Escola Aberta e perceber que ela não é nova, mas que é uma luta que vem sendo constituída há várias décadas, estando relacionada ao movimento contra as instituições totais e pela democratização da sociedade. Pode-se entendê-la também como um movimento relacionado às ações de inovação curricular pedagógica e de gestão, aparecendo em diversas experiências educacionais importantes desenvolvidas no Brasil. Apareceu, por exemplo, na experiência da Escola Plural, em Belo Horizonte, ou na Escola Cidadã, em Porto Alegre, na Escola Candanga, em Brasília, e na Escola sem Fronteiras em Blumenau. Em São Paulo, a ideia aparece enquanto política pública na gestão Marta. A Escola Aberta era um braço do Projeto Vida, e buscava desenvolver ações que ajudassem os educadores e a comunidade a situar os problemas de violência enquanto uma situação complexa e que deveria ser compreendida e enfrentada por intermédio de ações coletivas. Propunha-se a abertura das escolas aos finais de semana como forma também de prevenção da violência e para construir uma articulação da escola com a comunidade e as lideranças locais, construindo a convivência local. A partir dessas primeiras informações, apresento de forma mais detalhada como foi o processo - ainda em andamento - de abertura dos pátios na EMEF Senador Miltom Campos.
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A ESCOLA A EMEF Senador Miltom Campos é uma escola pública municipal da cidade de São Paulo. Situada à Rua Pérsio de Souza Queiroz Filho, 155 - Vila Isabel, Brasilândia, atende à população da comunidade do entorno da escola. São crianças e adolescentes do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental Regular e jovens e adultos do 3º ao 4º termo da EJA – Educação de Jovens e Adultos. São cerca de 800 alunos, organizados em 14 turmas de Ensino Fundamental I, 11 turmas de Ensino Fundamental II e 5 turmas de EJA também de Ensino Fundamental II. De manhã, ocupam a escola as turmas do Ensino Fundamental I. Já as do Ensino Fundamental II concentram-se no período da tarde. A EJA, por sua vez, no período noturno, acolhendo público diverso de jovens e adultos que buscam retomar os estudos. A escola é composta de um prédio antigo e grande, composto por 3 blocos conectados por passarelas, os quais possuem 3 pavimentos principais. Possui, em suas dependências, 16 salas de aula, 1 sala de vídeo, 1 sala de leitura, 1 sala de informática, 1 secretaria, 1 sala de direção, 1 sala de professores, 3 almoxarifados, 1 sala de arquivos, 1 pátio coberto, 1 quadra coberta, 1 quadra descoberta, 1 sala de coordenação, 1 sala de recursos multifuncionais, 1 sala de artes, 2 banheiros para os alunos, 3 banheiros de professores, 1 banheiro adaptado e 1 cozinha. Por serem antigas, as instalações estão em constante reforma - pintura, elétrica, hidráulica, ou mesmo manutenção de pisos, telhado etc. Falas de professoras da escola descrevem o edifício da seguinte maneira: O aspecto físico, é um prédio velho, né? Que não tem área na verdade para os alunos poderem ficar. As quadras são utilizadas no período de aulas pelos professores. Os lugarzinhos das pedras são o espaço que tem para as
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crianças (informação oral coletada em conversa - Professora 1). A nossa escola, desde que eu entrei, já tinha problemas sérios estruturais: telhado era um problema gravíssimo. Nas salas dos últimos andares, tínhamos que ver aula com os baldes porque escorria água dos lustres (informação oral coletada em conversa - Professora 2). Outra professora ainda relata que o esgoto da escola não é canalizado, já tendo, uma vez, ouvido um morador dizer que a fosse estava minando na casa dele. De acordo com a coordenação, diversas ações foram e estão sendo feitas nos últimos anos com o intuito de que a escola se torne um lugar mais acolhedor, limpo e principalmente funcional. Todas as salas de aula foram pintadas, assim como a fachada da escola. Ademais, está sendo feita uma reforma que visa sanar questões de infiltração, problemas estruturais e de elétrica, bastante urgentes de serem resolvidos na escola. Ainda, segundo uma das professoras, durante o ano letivo, a escola utiliza todos os espaços que ela tem. O pátio interno é ocupado, no período da manhã, por crianças de 1º a 5º ano. Muitas vezes os professores utilizam os espaços externos para aulas. Na troca do período, no período da tarde, os corredores são muito ocupados. Há dois intervalos por período, no primeiro deles, saem as crianças mais novas e, no segundo, as mais velhas. Na hora do intervalo, a porta do pátio é aberta e os alunos ocupam a quadra descoberta e a área das pedras. Fecha-se o portão para a quadra coberta - que é maior -, pois não há funcionários suficientes para ficar em todos os lugares. À noite, durante o EJA, os espaços externos da escola já são destinados à comunidade, não sendo permitido aos alunos utilizarem-nos Umas das professoras, sobre os espaços para as crianças, diz:
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entrada dos alunos
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espaço em disputa com a comunidade
3
estacionamento
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entrada para quadra aos finais de semana
5
direção / administrativo
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salas de aula / espaços de estudo
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quadra descoberta
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espaço das pedras
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quadra coberta
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É isso que falta na escola, espaço ao ar livre, por que ela se assemelha muito a uma prisão. Tudo tem que ser muito fechado por causa de invasões. A fala expressa duas questões que eram muito caras à escola: a falta de espaços para brincar e a relação com a comunidade. Esses dois temas materializavam seus entraves em um espaço específico da escola. Um pequeno terreno de 150,35 m², pertencente à escola, localizado no extremo norte do terreno, ao lado do portão de entrada dos alunos, por muito tempo foi subutilizado pela instituição. É um espaço íngreme, que, com o passar dos anos, foi murado e isolado do restante da escola. Localizado ao lado de uma viela, ele acabou por tornar-se um local de depósito de lixo da comunidade. Há algum tempo, esse espaço tornou-se um espaço de disputa entre a escola e a comunidade. A primeira reivindicava o espaço para que fosse um espaço lúdico para as crianças; e a comunidade reivindicava por um espaço onde pudesse descartar o lixo. Nesse contexto a escola tentou construir no local uma mesa de xadrez e 3 bancos de concreto, os quais duraram pouco. Atualmente, chegou-se a um acordo por meio do qual as partes reconhecem o pertencimento do terreno à escola. Entretanto, ele segue vazio e sem uso. Essa era uma das grandes motivações da escola em nosso contato inicial: conseguir que o espaço fosse reformado e recebesse elementos que garantissem o brincar das crianças. Assim, quem nos colocou em contato pela primeira vez foi Ana Sueli Ferreira, educadora social e militante dos direitos humanos, moradora do Jaraguá. Ela conhecia os desejos da escola e, ao saber do trabalho aqui proposto, entendeu que fazia sentido unir esforços. Dessa forma, entrei em contato com Maria Luiza, professora há muitos anos da Miltom Campos. Foi ela quem me apresentou o panorama da escola e os desejos de mudança para aquele espaço. Além disso, ela me contou também que há anos a escola abre o espaço da quadra para a comunidade.
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A ideia se deu pois ocorriam invasões do espaço para utilização da quadra aos finais de semana. Então, diante da falta de políticas públicas voltadas para o lazer e para o esporte, a escola decidiu investir em sua abertura. Assim, ela fica aberta para a comunidade aos finais de semana, além de todos os dias úteis das 20h às 22h. Essa abertura é feita por meio de um acordo com algumas lideranças da comunidade, que ficam responsáveis por fazer a zeladoria do espaço. A relação com a escola é direta, sendo essas mesmas lideranças as quais dialogam com a diretoria. Já foi realizado, por exemplo, um mutirão para pintura da quadra e, ao mesmo tempo, a escola compra bolas para uso da comunidade. Também vale destacar que o acesso ao espaço das quadras é feito por uma entrada alternativa que garante que a comunidade não precise cruzar a escola, percorrendo apenas áreas externas. Essa questão não é fundamental mas, de acordo com uma das professoras, facilita muito na logística de garantir o uso e, ao mesmo tempo, a preservação do espaço.
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QUESTÕES QUE SE APRESENTARAM Ao mesmo tempo que essa abertura já ocorre há um tempo, pude entender, pelo diálogo com a escola, que ela ainda contava com muitas questões e problemas que dificultavam o processo. Foi a partir da reflexão sobre essas questões, as quais estão apresentadas abaixo, que pensei a metodologia de aplicação para a abertura dos pátios, entendendo que eram questões que extrapolavam aquele único espaço e, sendo elas as maiores dificuldades de aplicação, valiam a pena serem tratadas coletivamente.
a) gestão e zeladoria Conversando com o corpo docente, uma das primeiras questões que era levantada era sobre a gestão e zeladoria do espaço em sua abertura. Como ela é feita em diálogo com a comunidade, sem interferência do poder público ou da guarda civil, não existe uma pessoa que seja responsável pelo espaço. Os funcionários da escola trabalham apenas nos horários letivos e o segurança da escola até faz a abertura dos portões para o espaço da quadra, mas ele não é responsável por vigiá-la. Nesse sentido, uma das professoras destaca: de manhã tem camisinha, ponta de bagulho, faz xixi…. tem um problema grave de uso. Porque não tem um guarda, uma pessoa. Em qualquer equipamento público tem alguém tomando conta. A quadra é aberta pelo segurança da escola, mas ele não fica responsável por vigiá-la. Então tem um problema muito grave. Mas como é o único lugar, é impossível e não devemos impedir o uso. Ela reforça uma questão com o lixo e a falta de cuidado com o espaço que, para ela, está muito relacionada à falta de zeladoria. Eu ainda acrescentaria a pouca percepção de pertencimento que essas pessoas possuem
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sobre aquele espaço, algo que deve ser bastante transformado com a abertura da escola e a democratização de todo o processo. De toda forma, fica evidente que o lixo e o cuidado devem ser trabalhados pois, além de gerar uma degradação do espaço, implica em trabalho para os funcionários da limpeza que, segundo a mesma professora, todos os dias de manhã precisam chegar muito cedo para poder realizar uma limpeza do espaço. Como apresentado, então, a gestão é compartilhada entre as lideranças da comunidade e a direção, isto é, aqueles interessados no programa, de certa forma, responsabilizam-se por ele. Entretanto, não há papeis e funções claramente definidos, o que reflete na falta de zeladoria no espaço. Entendemos a zeladoria comunitária como um instrumento forte e potente, que potencializa a comunidade e cria vínculos. Algo que se apresentou também em algumas das respostas de um formulário de entrevista realizado com alguns moradores locais: E: O que você acha que seria preciso para que [a abertura do pátio escolar] funcionasse bem? M1: uma comissão eleita por moradores para organizar M2: algum cuidado desse espaço M3: voluntários para ajudar M4: coletividade dos moradores Entretanto, ela precisa ser feita de modo democrático e aberto. Há muitos anos a abertura funciona guiada pelas mesmas pessoas e, atualmente, o diálogo é muito pequeno, resultando em uma ação, muitas vezes, impositiva, apesar de ter-se mantido, ao longo dos anos, voltada, sempre, aos interesses da comunidade. Portanto, um dos fatores que pode dificultar a implementação da abertura da escola é a fórmula de gestão adequada. Existem dificuldades administrativas relacionados com a colaboração, com a distribuição de responsabilidades, com as vontades da direção, a existência – ou não – de recursos econômicos, humanos
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e materiais, a distribuição de responsabilidades civis e jurídicas e, ainda, a própria questão de segurança. Essas dificuldades ressaltaram a necessidade de, no processo de abertura escolar, tecer uma fórmula de intervenção e organização que implique em pouco impacto no funcionamento cotidiano dos centros educativos e que, ao mesmo tempo, faça sentido para a comunidade local. Os pátios abertos requerem, para seu bom funcionamento, um modelo de gestão cooperativa onde sejam implicados os diferentes atores que utilizam seu espaço assim como a administração gestora da escola em torno de um objetivo social comum.
b) gênero Muitas das leituras sobre Pátios Escolares, especialmente de referências de Barcelona, apontavam para uma desigualdade de gênero nesses espaços, que veio crescendo a partir dos anos 90, com a substituição dos jardins por pátios de cimento que acabam por converter-se em quadras esportivas. A quadra de futebol costuma ser o maior e mais central dos espaços do pátio e aqueles que a utilizam costumam ser, majoritariamente, os meninos, que se adequam às normas de gênero e idade, desfrutando de um maior status e valorização social. Por outro lado, encontramos espaços nos quais realizam-se atividades de cuidado, relações íntimas e tranquilidade, isto é, relacionadas à esfera reprodutiva e pessoal, as quais não costumam gozar de status ou valorização social e, em consequência, acabam relegadas à periferia do espaço, dispondo de pouco espaço ou cuidado. Estes espaços costumam ser ocupados por meninas ou por meninos que não se adequam aos padrões de gênero. Os contatos com a Miltom Campos, mesmo que poucos, reforçaram essa divisão e hierarquização, destacando a ideia de que o desenho dos espaços não é neutro. Existe um vínculo entre o desenho dos
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espaços, a construção social de gênero e a educação diferenciada que recebem os meninos e as meninas. Desde pequenos, os meninos são incentivados a serem espacialmente dominantes: construtores, aventureiros, exploradores que vão dominando o espaço. As meninas são educadas para esperar e aceitar limitações espaciais, responsabilizar-se pelos cuidados, ocuparem as áreas periféricas. Este uso diferente do espaço gera desigualdade de acesso, apropriação e desfrute dos espaços urbanos que se consolidam como práticas normalizadas e se prolongam ao longo da vida. Nos espaços de brincar das escolas, são reproduzidos esses papeis de gênero tradicionalmente femininos e masculinos, existindo fenômenos de exclusão e desvalorização por sexo, baseados nos estereótipos sexuais e na hierarquia de gêneros. Isto é, as crianças, nos pátios de suas escolas, aprendem de forma concreta a posicionarem-se e relacionarem-se com o espaço. Se não atuamos para transformá-lo, cada vez mais serão incorporados os valores sexistas que colocam os desejos e necessidades masculinas no centro do espaço. Na EMEF Miltom Campos, por exemplo, chama muito a atenção o fato do pátio não ser um lugar equitativo. O único espaço de lazer qualificado, isto é, com estruturas que o componham para além de um espaço vazio, eram as duas quadras da escola, que ocupam, seja em área (79,3%da área total de brincar), seja em centralidade, os espaços livres da escola usados para brincar. Ainda nesse sentido, muitas professoras e a própria diretora da escola reforçaram, em nossas conversas, que esse espaço é majoritariamente ocupado pelo sexo masculino. No período de aulas, são os meninos os que mais usam as quadras, apesar de algumas meninas utilizarem-nas também. No período extracurricular, quando o espaço se abre para a comunidade, o corpo docente afirma que este é apenas frequentado por homens. As poucas mulheres que aparecem, costumam ser companheiras daquelas que estão jogando e, para elas, não há nem bancos para sentar.
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espaço livre utilizado para o brincar não ocupado por quadras espaço livre utilizado para brincar ocupado por quadras
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Resumidamente, os meninos costumam ocupar o espaço central do pátio e assumem papéis ativos nos jogos, ocupando o espaço de maneira dinâmica. Geralmente, as modalidades de jogo que escolhem são mais invasivas. As meninas costumam ficar nos cantinhos ou espaços periféricos, mostrando atitudes passivas e estáticas. A modalidade de brincadeira que costumam desenvolver é o jogo simbólico. Essas diferentes formas de apropriação que se aprendem e se reforçam no pátio da escola, condicionam a maneira de posicionar-se e relacionar-se com o espaço. Assim, vale reforçar que o pátio da escola é um dos primeiros espaços públicos no qual as crianças aprendem a socializar. Com o passar do tempo, tudo ali vivido irá reproduzir-se nos espaços públicos da idade adulta. Pensando na abertura dos pátios para todos, essa relação fica ainda mais direta, residindo, então, a necessidade de uma intervenção que pense sobre as questões de gênero. Pátios com maior variedade de espaços e elementos, em comparação com aqueles de baixa diversidade espacial, favorecem a geração de diversas formas de processar a identidade de gênero. É aspecto chave, então, pensar o pátio e sua configuração, olhando para como é entendido, interpretado e lido pelas meninas e meninos. Dessa forma, passou a ser importante para o processo e o projeto realizado na Miltom Campos, bem como para a metodologia de aplicação para abertura dos pátios, prestar atenção à configuração do espaço e os valores que ele transmite a meninos e meninas, além de realizar uma observação sobre como o uso do espaço gera diferentes apropriações e discriminações, de acordo com os padrões de gênero. Entendi que, a partir dos resultados do diagnóstico realizado, seria preciso pensar o pátio para acabar com as hierarquias, igualar e diversificar os espaços e as atividades para reverter as situações identificadas e, assim, conseguir chegar ao objetivo de fomentar relações
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igualitárias entre gêneros, relações intergeracionais e interculturais, assim como relações não hierárquicas. Busquei, a partir disso e dentro do possível, fazer com que a reflexão acerca da abertura da escola caminhasse no sentido de melhorar os espaços da escola a partir da análise e da proposta colaborativa, valorizando o processo coletivo de reflexão e aprendizagem para conseguir espaços educativos que ofereçam as mesmas oportunidades para meninas e meninos. Vale dizer, então, que me guiei por linhas de intervenção baseadas na estratégia metodológica de reequilibrar espaços de tranquilidade e intimidade, a área de movimento e psicomotricidade e a área de experimentação e contato com a natureza.
c) qualidade do espaço Outra questão muito frequente na fala da comunidade escolar era sobre a qualidade brincante dos espaços da escola. Os preocupava o fato de que, para além da possibilidade de abrir para a comunidade, as crianças pudessem ter um espaço qualificado para brincar, seja no horário escolar ou extra-escolar. Apesar de grande, a escola é mal-utilizada em seus espaços livres. Muitas áreas acabam vazias ou não contam com nenhum elemento que garanta a permanência e usufruto dos alunos. O único espaço externo que as crianças de fato utilizam é a quadra que, conforme já discutido, reflete importantes questões de gênero. Também não há verde, árvores que façam sombra. A escola é toda concretada. Os poucos espaços que tinham grama, foram concretados na última gestão. Muitas das árvores retiradas em consequência. Dois pés de limão foram cortados por alegação da diretora de que as crianças faziam guerra com os limões e isso era prejudicial. Os únicos elementos lúdicos existentes são 3 matacões localizados entre as duas quadras que podem ser utilizados para subir, escalar, ou sentar e conversar. Assim, era também essencial pensar na qualidade lúdica desses espaços.
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espaço livre utilizado espaço livre sub utilizado espaço livre não utilizado
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d) relação com a comunidade Outra questão muito marcante nas falas foi sobre a relação da escola com a comunidade. Ficou muito forte no discurso dos professores a dificuldade de relacionamento e, ao mesmo tempo, a potência e as possibilidades que se abriam quando existia maior diálogo. De acordo com as professoras, há uns anos o relacionamento com a comunidade era muito complicado, o que acabava por refletir-se no cotidiano de aulas também. Uma delas, que trabalha há muito tempo na escola, contou que acontecia muito de serem arremessados saquinhos plásticos com xixi nas janelas das salas de aula, que possuem grades. Os sacos estouravam nas grades e sujavam toda a sala. Além disso, a questão do lixo sempre esteve presente, inclusive na disputa pelo espaço anexo da escola. É algo que vem sendo muito trabalhado pela escola nos últimos 3, 4 anos. Ao mesmo tempo, as falas relacionam muito essas problemáticas com o como se posiciona a direção da escola: Quando eu entrei a postura da direção da escola era: eu resolvo tudo, não preciso de ninguém, ou da comunidade. Os auxiliares de período que faziam a interlocução com a comunidade, porque a direção era irredutível. Então não tinha parceria com a comunidade. De umas gestões para cá, tivemos uma mudança nesse posicionamento, que começou a fazer acordos com a comunidade. Percebemos que as gestões que tiveram melhor resultado, foi a que chama a comunidade para pensar e resolver junto. A agressão diminuiu muito. (fala de uma das professoras, em reunião) E esta fala logo é complementada por outra: Eu acho que quando você valoriza a pessoa, ela se sente responsável por aquilo. Então o fato de algumas pessoas da comunidade terem sido chamadas para somar com a direção, para pensar junto, eu notei que algumas
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pessoas da comunidade mudaram. Quando tivemos direção que disseram que não precisavam de acordo com a comunidade, que levava a ficar devendo obrigação, esse comportamento sempre gerou maiores problemas para os professores (fala de outra professora em reunião). Fica bastante evidente nas falas transcritas acima a importância da maior democratização da escola, que passa a entender que a comunidade também faz parte dela. Dessa forma, passa a incluir a comunidade nos processos e dialogar com ela. Essa relação e sensação de pertencimento são fundamentalis pois aproximam pessoas e a instituição escolar que, nas palavras da coordenadora: “deixa de ser um elefante branco na favela”. Reforça-se, mais uma vez, que pouca adiantaria abrir os portões aos finais de semana e, no dia-a-dia, continuar alimentando os mecanismos simbólicos de exclusão que se articulam no currículo e organizam as vivências cotidianas, excluindo toda a população local e qualquer um que não se encaixe nos padrões, rejeitando também suas culturas, seus saberes, seus desejos e suas necessidades.
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O PROCESSO Assim como indica a própria palavra, o processo é uma ação contínua, que relaciona-se com etapas variadas que vão estabelecendo-se ao longo de certo período de tempo. Digo isso pois o processo na EMEF Miltom Campos não está finalizado. Ele é aqui entendido enquanto uma experiência piloto, entretanto, isso não significa que já tenha seu ciclo encerrado. A aproximação com a escola foi de extrema importância para que fosse possível entender as reais problemáticas e dificuldades de implementação do processo na prática e, sem ela, sem dúvidas teria sido uma proposta irreal. Entretanto, apesar do diálogo constante com a construção da metodologia, o processo da Miltom Campos não está encerrado. O tempo que estamos vivendo nesse processo é um tempo outro muito marcado pela pandemia do novo corona vírus. Não foi possível trabalhar com o espaço da escola em funcionamento, uma vez que ela está realizando suas atividades remotamente desde março. Vale destacar que, mesmo remotamente, o contato com os alunos é muito difícil, uma vez que muitos não têm acesso à internet. Os encontros foram quase impossibilitados e os professores vêm lutando para adaptar-se às novas necessidades e realidades. Assim, muito da metodologia teve de ser adaptada, repensada e recriada. Algumas etapas condensadas, outras não feitas. Mas essa flexibilidade também foi bastante importante para que se pudesse pensar a metodologia ainda menos estaticamente. Foi a possibilidade de entendê-la como um guia, uma inspiração, que pode ser adaptada a cada realidade e contexto. Ainda, muitas das adaptações e reduções foram feitas com a certeza da continuidade do processo, isto é, que apesar da entrega deste trabalho final, as atividades junto a Miltom Campos continuam e a metodologia completa poderá ser aplicada.
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Aqui, vale contar também que conseguimos, com ajuda da Sueli, uma emenda parlamentar com o deputado federal Paulo Teixeira para a requalificação dos espaços de brincar da escola, enfocando, inicialmente, no terreno que era alvo de disputa com a comunidade, o qual ficará aberto para todos, em uma conciliação coletiva. A existência da emenda é bastante importante pois garante a continuidade do processo, que certamente ainda viverá muitas etapas e descobertas junto à toda comunidade escolar para chegar a um projeto para os seus espaços e um modelo de gestão mais funcional para sua abertura. Posto isso, buscamos contar um pouco como se deu o processo na Miltom Campos e sua relação com a metodologia de aplicação. A primeira etapa da metodologia (A - organização do projeto), por ser muito semelhante com aquela proposta pelo grupo Equal Saree, havia sido pensada, inicialmente, antes do contato com a Miltom Campos. Entretanto, o diálogo com a escola foi muito importante para perceber a importância de se adicionar a comunidade enquanto participante fundamental do processo, uma vez que ela seria, também, beneficiária da proposta e, ainda, ampliaria as possibilidades de democratização da escola. Além disso, reforçou-se a importância de ter definido ao início do processo os seus participantes bem como o papel de cada um. Apenas a partir dessa organização de papéis que foi possível vislumbrar todos que seriam envolvidos, bem como a importância de cada um e, ainda, entender minha própria participação no processo. Entendi que exerceria a função de Comissão de Monitoramento - e aqui vale destacar que esse não seria o cenário desejável, não fosse a pandemia da Covid19. O ideal era que pessoas de diferentes segmentos pudessem compor essa Comissão. Entretanto, dadas as condições, fiquei responsável por essa condução do processo - bem como com a função de Equipe Técnica.
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Também vale destacar que, no caso dessa escola, entendemos que o papel de Administração Pública seria da Secretaria Municipal de Educação e da Subprefeitura da Brasilândia e da Freguesia do Ó, através das quais chegará o dinheiro da emenda parlamentar. Isso significa dizer também que os dois órgãos públicos ainda não foram envolvidos no processo. Por fim, ainda na primeira etapa da metodologia, foi bastante importante para o processo na Miltom Campos ter muito claro quais eram as frentes onde se queria atuar, os objetivos das atividades e os parâmetros de estudo. Com a quase impossibilidade da existência de encontros, foi preciso adaptar as atividades propostas e, muitas vezes, condensá-las para aproveitar os encontros online (também muito difíceis) e os presenciais extremamente raros. Para isso, ter claro o que se queria e como foi fundamental. Quanto às atividades relacionadas ao compartilhamento do projeto, essas foram bastante dificultadas devido a necessidade de reunir muitas pessoas. Assim, não foi possível difundir o projeto para além do corpo docente, a diretoria e algumas poucas crianças, pois, além de não ser prudente a reunião de muitas pessoas, a escola vem enfrentando muitas dificuldades de comunicação com as crianças e as famílias, o que significava, também, a não existência de um bom canal por onde fosse possível divulgar as propostas. Soma-se a isso o fato dos esforços de comunicação da escola estarem voltados para a garantia da qualidade letiva, que, ainda hoje, está muito dificultada. Destas atividades listadas no item 2 - Compartilhamos o projeto, pode-se dizer que foi possível realizar apenas, em certa medida, as reuniões de monitoramento (atividade 2.2). Entendendo que eu era a Comissão de Monitoramento, busquei realizar reuniões periódicas com a diretora da escola, Vanessa, e a coordenadora pedagógica, Maria Luiza. Assim, era possível trocar um pouco com elas sobre como elas enxergavam o processo, apesar deste caminhar vagarosamente. Ainda, entendo a entrega desse trabalho como uma etapa de monitora-
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mento bastante importante, onde está sendo possível reunir todas as informações e olhar para o que foi feito. Apesar de um monitoramento restrito a poucas pessoas, ele possibilitou visualizar a importância da constância do alinhamento de expectativas e desejos. Seja para que o diálogo seja sempre claro e limpo, possibilitando uma verdadeira construção conjunta, seja para a própria aplicação da proposta, que depende muito do interesse da direção da escola. Assim, com maior clareza de todo o processo e um diálogo estabelecido, foi possível seguir para a segunda etapa da metodologia (B - Análise do pátio). Muito dessa etapa pôde ser realizada, entretanto não sem sofrer diversas adaptações ao contexto de isolamento social. As duas primeiras atividades (3.1 perguntas de auto reflexão e 3.2 debate com o corpo docente) foram condensadas em um único encontro virtual, quando tive a oportunidade de reunir-me com todas as professoras dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental da escola. Essa conversa ocorreu no início do meu contato com a Miltom Campos, assim, ainda não havia formalizado essa parte da metodologia. Portanto, a conversa foi fundamental para que eu estruturasse quais perguntas achava importante destacar na Ficha de Apoio. Muitas delas partiram daquilo que havia sentido falta na conversa com as professoras, isto é, fazer uma lista de perguntas pareceu garantir que a conversa passaria por todos os pontos importantes. De toda forma, a conversa foi essencial para a finalidade de preparar o olhar para as relações que se estabeleciam no espaço e, inclusive, para entender um pouco mais das atividades da escola e do espaço do pátio, uma vez que não foi possível vê-lo em funcionamento. As falas das professoras contaram que, na hora do intervalo, a porta do pátio fica aberta e os alunos ocupam, especialmente, a quadra aberta e a área das pedras. O portão para a quadra maior coberta permanece fechada devido a falta de funcionários. Quando chove, o único espaço disponível é o pátio coberto, que conta apenas com as mesas de refeitório.
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Nesse sentido, as professoras reforçaram a falta de espaço para as crianças brincarem, e, assim, o que elas acabam fazendo no intervalo é correr pelo espaço da escola. Em oposição a isso, dizem da necessidade de existir um lugar de estar, onde possam ocorrer conversas, atividades mais tranquilas: ter um lugar para ficar, para ter aula fora da sala, ter um lugar mais agradável para ficar. Ainda nesse sentido, reforçam que o único espaço mais lúdico existente na escola é o espaço com os 3 matacões mas que, ainda assim, poderia ser muito mais qualificado: Que ali nas pedras tenha um espaço melhor: quando chove nas pedras não dá pra ir, quando está calor, também não dá pra ir. Ter sombra, lugar para sentarem. Um lugar mais gostoso. A quadrinha já é aberta. Seria muito bom se tivesse um ambiente mais agradável para se ficar.Plantas. Ainda, pude, posteriormente, analisar a conversa a partir da Ficha de Apoio 3.2 Pautas para o debate, o que me possibilitou ampliar ainda mais a visão sobre o conteúdo que aparecia na fala dos docentes, reforçando a importância da Ficha de Apoio e validando seu conteúdo. Trago, na página ao lado, as respostas que completei na Ficha, ampliando um pouco mais o olhar do leitor sobre as características e relações da escola a partir da visão das professoras. Assim, tendo essa visão mais geral a partir da conversa com o corpo docente, era o momento, de acordo com a metodologia, de observar o pátio e suas características (atividades 4.1, 4.2, 4.3 e 4.4). Essas atividades também foram prejudicadas devido às condições possíveis. Mas, ainda assim, o pouco material que foi possível produzir já nos trouxe informações importantes sobre o pátio escolar. Na atividade 4.1 Características do pátio, apenas eu respondi às perguntas devido à dificuldade de encontrar com os alunos e, ainda assim, não foi possível responder a todas elas por eu não haver visto o pátio
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FICHA DE APOIO 3.2 - RESPOSTAS pautas para o debate
Diferenciação de prioridades 1. Os professores entendem que a escola é de todos? A ideia democrática de escola foi muito presente nas falas da coordenadora pedagógica e refletia-se, de forma menos direta mas, ainda assim, presente, nas falas de todas as professoras que a todo momento reforçavam a importância de abertura de diálogo com a comunidade e o quanto isso favorecia, também, as relações internas na escola. 2. Valorizam mais algum grupo (social, gênero, cultural) ou seguimento (famílias, comunidade, alunos, etc) em detrimento de outros? Não foi possível perceber uma cmaior valorização na fala das professoras. 3. Tem menos proximidade ou afinidade com algum grupo? Em alguns momentos, pode-se perceber que, apesar de melhor, a relação com a comunidade ainda é uma questão para algumas das professoras, que ainda entendem os moradores como um problema e um perigo de degradação para o espaço da escola. Relação com a cidade 4. Os professores pensam o pátio universalmente, incluindo todos? A conversa se deu com as professoras dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, dessa forma, acabavam pensando o pátio mais para as crianças mais novas da escola, seus alunos. Ao mesmo tempo, foram poucas as vezes que trouxeram as necessidades de toda a comunidade. Essa lembrança normalmente era feita pela coordenadora, que falava da necessidade de banheiros que pudessem ser acessados pelo pátio, de bebedouros, etc. 5. Entendem a escola como parte integrante da comunidade? E a comunidade como parte integrante da escola? Pude perceber que todo o corpo docente valoriza a relação com a comunidade e a entende como parte integrante da escola. É bastante forte e importante a leitura que o corpo docente faz dessa relação: reforçam que quanto mais aberta esteve a direção da escola para o diálogo, melhor se estabeleceram as relações com a comunidade.
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Eu acho que quando você valoriza a pessoa, ela se sente responsável por aquilo. Então o fato de algumas pessoas da comunidade terem sido chamadas para somar com a direção, para pensar junto, eu notei que algumas pessoas da comunidade mudaram. Quando tivemos direção que disseram que não precisavam de acordo com a comunidade, que levava a ficar devendo obrigação, esse comportamento sempre gerou maiores problemas para os professores (fala de uma das professoras na reunião).
A coordenadora ainda completa a afirmação: “Eu acho que é exatamente isso, e isso tem nome: democratização da escola”, reforçando também sua crença em uma escola de todos e para todos. Ainda, no início da conversa, as professoras me contaram sobre o Plano Político Pedagógico da escola, revisto esse ano pelo corpo docente e que muito dialoga com essa visão aberta da escola. O PPP indica: Há muitos problemas de indisciplina, fracasso escolar, depredação de patrimônio público, falta de interesse dos familiares pelo cotidiano escolar dos filhos, violência, pobreza, desestrutura familiar, alcoolismo, abandono de incapazes, evasão escolar, gravidez na adolescência, prostituição de menores etc. Neste contexto, a escola assume como desafio “a conquista desta comunidade que já apresenta muitos desafios de questões sociais e financeiras. Assim, o grupo de professores, juntamente com a gestão da escola, tem empenhando esforços para a construção de uma escola democrática e dialógica. As tentativas de aproximação e diálogos frequentes com a comunidade escolar têm sido incansáveis, sobretudo com as famílias que são chamadas a participar da vida escolar das crianças e adolescentes, no intuito de estabelecer parcerias.
Ao mesmo tempo, a escola tem um cuidado com a cultura e o saber pessoal de cada um, como também indica o PPP: Mas há um ponto de partida que não pode ser esquecido: as experiências de vida e a realidade percebida por aqueles a quem ela deve educar.
Condutas que fomentam a desigualdade entre homens e mulheres 6. Há diferenças entre as respostas dos professores e das professoras? Nesse sentido, vale destacar que não havia nenhum homem participando da reunião, o que é um cenário bastante frequente na educação infantil.
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Assim, não houve uma desigualdade de gênero nas falas pois havia uma desigualdade na formação do corpo docente. 7. Alguma pessoa monopolizou o debate ou interrompeu com frequência as intervenções de outras pessoas? O diálogo foi bastante equilibrado e respeitoso. Gestão 8. Como se dá a relação do corpo docente com a gestão? A diretora é nova na escola, tendo começado sua gestão no início do ano. Mas as professoras pareciam bastante empolgadas com as novas possibilidades que ela apresentava, reforçando, principalmente, sua abertura para o diálogo com a comunidade 9. Há opiniões divergentes? Não parece haver falas divergentes. 10. A gestão é aberta para o diálogo com a comunidade? A gestão mostrou-se bastante aberta ao diálogo com a comunidade, algo entendido pelos professores como fundamental para o bom funcionamento da instituição escolar, o qual está muito baseado nas relações. Diferenciação por turnos 11. Há opiniões divergentes a depender do turno dos professores (manhã, tarde, noite) ou da idade com a qual trabalham? Como ouvi apenas os professores do turno da manhã, que correspondem aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, não foi possível olhar para essa diferenciação. 12. As relações entre turnos são mais fortes que com os outros colegas? Mais uma vez, não foi possível observar essa relação. Qualidade do espaço 13. Os professores estão satisfeitos com o espaço existente? Os professores não estão satisfeitos com o espaço existente e, em falas diversas, aparece a ideia da falta de espaços de brincar, que acaba limitado a área dos matacões que, ainda assim, é pouco qualificada. 14. Há uma variação do grau de qualidade do pátio dependendo da idade ou gênero? Não pareceu haver uma variação, e, sim, um consenso geral da falta de qualidade do espaço.
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em funcionamento. Em números, das 31 perguntas, 18 foram respondidas com não, 11 com sim e duas não puderam ser respondidas. É possível perceber, a partir das respostas, que todos os parâmetros de estudo possuem deficiências que precisam ser olhadas e cuidadas para a melhoria de um melhor espaço. Destaca-se, principalmente, a partir do meu olhar, a questão da diversidade, no qual as respostas são quase todas negativas. Esse já é um indicativo importante para ter-se em mente para repensar os espaços da escola. Mas, sem dúvidas, precisa ser comparado, ainda, com a visão dos alunos, que pode divergir bastante da minha, que sequer vi o pátio em funcionamento. Também devido ao não funcionamento do pátio, não foi possível realizar de maneira satisfatória a atividade 4.2 Setorização e segregação. Assim, optou-se por esperar e realizar essa atividade quando fosse possível observar as crianças fazendo uso do pátio. De toda forma, vale destacar que, pela setorização do espaço e pelas descrições da comunidade escolar, apenas uma das áreas é utilizada, enquanto as outras, atualmente, encontram-se sem função, não sendo nem áreas referenciadas para as crianças. Já sublinha-se aqui a importância de olhar para esses espaços subutilizados e pensar formas de torná-los lúdicos e interessantes para que possam ser ocupados. Além disso, ao fazermos uma análise por tipos de atividades que podem ocorrer no espaço (aqui vale recordar que é uma divisão a partir do que eu enxergo no espaço. Como não observei as crianças utilizando-no, não posso dizer ao certo o que elas enxergam de possibilidade no pátio, e, portanto, é uma separação feita a partir das possibilidades que eu vislumbro), fica evidente o predomínio de espaços de movimento e psicomotricidade. Esse tipo de atividade predomina no único espaço livre mais utilizado da escola: a quadra. Vale também uma atenção para favorecer um equilíbrio entre as diversas possibilidades de atividades.
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FICHA DE APOIO 4.1 - RESPOSTAS
perguntas sobre as características do pátio
Diversidade existem espaços e/ou elementos: 1. para delimitar zonas diferenciadas? Não 2. para o jogo em equipe? Sim 3. de descanso ou de espera? Não 4. para o brincar imaginativo, simbólico ou individual? Não 5. de contato com a natureza ou para experimentação? Não 6. com diferentes pavimentos, texturas e cores? Não 7. adaptados às diferentes idades e capacidades físicas dos alunos da escola? Não Flexibilidade existem espaços e/ou elementos que permitem: 8. um uso polivalente? Sim 9. o brincar simultâneo de meninas e meninos de diferentes idades e/ ou capacidades físicas? Não 10. ser deslocados e/ou ocupar diferentes posições no espaço? Não 11. ser deslocados e/ou modificados pelas próprias crianças? Não 12. reunir um grupo grande de pessoas? Sim 13. é possível chegar da rua no pátio sem cruzar toda a escola? É possível pensar esse percurso? Sim Inclusão existe um percurso adaptado e livre de obstáculos: 14. desde o espaço público até o pátio? Não 15. desde o pátio até o edifício da escola? Sim 16. entre as diferentes áreas do pátio? Sim
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Qualidade lúdica existe/em: 17. espaços exteriores cobertos para proteger do sol e da chuva? Sim 18. vegetação que permita sombra e relação com o verde? Não 19. Iluminação suficiente todas as horas do dia? Sim 20. proteção nas áreas de jogo com bola? Sim 21. medidas para evitar espaços ou elementos que gerem sensação de insegurança (cantos, muros opacos, zonas escuras)? Não 22. manutenção e limpeza adequadas? Não 23. espaços silenciosos para poder conversar, ler ou realizar atividades tranquilas? Sim (interno) 24. espaços de espera para as famílias? Não 25. elementos brincantes diversificados? Não 26. elementos brincantes para todas as idades? Não Representatividade é igualitária: 27. a distribuição de elementos em todo o pátio? Não 28. a importância das diferentes zonas e espaços do pátio? Não 29. a presença de meninas e meninos - ou homens e mulheres aos finais de semana - no pátio? Não foi possível observar 30. a representação de diferentes idades, gêneros, raças e culturas nos murais e outros elementos? Sim 31. a participação dos diferentes atores no cuidado e embelezamento do espaço? Não foi possível observar
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Quanto às atividades 4.3 Mapas de percursos e 4.4 Exploração do entorno, não foi possível realizá-las devido, no primeiro caso, ao não funcionamento regular da escola e, no segundo caso, à impossibilidade de reunir um grupo de pessoas. São atividades que devem ser desenvolvidas assim que as condições permitirem, pois entendemos que podem dizer bastante sobre o uso do espaço e sobre as possibilidades educativas do território. Chega-se, então, ao momento de ouvir os alunos. Essa foi uma etapa bastante delicada, uma vez que muitas das crianças não possuem acesso à internet e, ao mesmo tempo, reuni-las na escola era colocá-las em risco. Assim, grande parte do processo foi sem a escuta da voz das crianças. No momento em que parecia que os casos de Covid estavam um pouco mais controlados (o que logo depois voltou a subir, infelizmente), marcamos um encontro meu com algumas crianças na escola, todos de máscara e mantendo o devido distanciamento físico. Dessa maneira, as quatro atividades de escuta das crianças (5.1 Questionário; 5.2 Representação vivencial; 5.3 Desejos para o espaço; e 5.4 Debate com os alunos) precisaram ser condensadas em um único encontro de 1 hora de duração. Além disso, pela dificuldade de comunicação com as famílias dos alunos, a diretora convocou para nosso encontro as crianças que estavam brincando na rua da escola, o que dificultou ainda mais o processo pois nem todas estudavam na EMEF Miltom Campos. Apesar disso, todas, em algum momento, já haviam estudado lá. Eram crianças de 8 a 11 anos, 3 meninos e 2 meninas, as duas irmãs. Portanto, visando abarcar o maior número possível de informações no tempo reduzido que possuíamos, optou-se por fazer uma oficina que após um primeiro momento de apresentação, as crianças pudessem brincar livremente no espaço, para que eu pudesse observar um pouco da ocupação do espaço, até então não vista. Entretanto, esse momento da oficina não pode ocorrer pois a escola estava em obras e, então, o pátio interditado.
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Dessa forma, iniciou-se a oficina com as apresentações e uma conversa rápida sobre o pátio e sobre como o ocupavam. Entretanto, aqui, valem duas ressalvas. A primeira delas é o distanciamento das crianças do processo. Isto é, por não estarem vivenciando o cotidiano da escola e não terem ocorrido as etapas de apresentação e divulgação do projeto e de envolvimento de toda a comunidade escolar, o projeto de abertura da escola não era algo apropriado pelas crianças, o que reforça a importância dessas etapas iniciais. Além disso, o fato de muitas das crianças (3 das 5) não estudarem mais na escola trouxe um outro tipo de relação com o espaço, pois elas precisavam evocar as memórias de quando eram pequenas e ainda estudavam lá. Devido a isso, a conversa trouxe poucas contribuições para o entendimento do espaço e seus usos. A próxima atividade pensada para a oficina era um convite para as crianças. Propôs-se que elas desenhassem um espaço no qual gostavam muito de brincar ou elementos com os quais gostavam de brincar. Esse momento permitiu mais abertura na fala das crianças que, enquanto desenhavam, também contaram um pouco do que gostavam de brincar. Apareceu muitas vezes a ideia de escalada e estruturas de onde fosse possível observar o espaço a partir de um ponto de vista mais alto. Os dois meninos trouxeram muitas vezes o empinar pipa. Um dos meninos não quis desenhar e outro fez um desenho bastante lúdico, que pode ser interessante para pensar possibilidades de faz de conta e imaginação que o espaço também pode oferecer. Em relação aos outros 3 desenhos, chama a atenção o fato de todos contarem com algum elemento de escalada: dois trepa-trepas e uma parede de escalada. Os 3 também trazem escorregadores, que podem dizer da ação de escorregar. Em um dos desenhos, o escorregador aparece em uma estrutura maior, que também pode ser escalada. Outro fator que destacamos é a água. Um dos desenhos mostra um bebedouro, o que nos pareceu muito interessante por reforçar que pensar o brincar é também olhar para suas necessidades, como a hidratação. Além
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disso, o desenho apresenta uma piscina. Segundo a autora do desenho, ela gostaria que pudessem ter algumas aulas e atividades na piscina, pois costuma ser muito quente. Esse mesmo desenho traz, ainda, um banco, o que, por si só, já me parecia bastante interessante, pois nos leva a pensar que o mobiliário também pode ser elemento brincante ou, ainda, servir ao brincar. Algo que é reforçado pela fala da autora do desenho, que diz que gosta quando há bancos pois gosta de conversar, de se imaginar em uma praça e de utilizá-lo para descansar. Outro dos desenhos traz grama embaixo dos brinquedos, que me remete a pensar nos diferentes tipos de piso e as relações que eles podem estabelecer com os brinquedos e com as brincadeiras. A ideia de se conseguir diferentes texturas a partir do piso é bastante rica e interessante. Por fim, o terceiro desenho, além dos elementos já destacados, traz uma grande lousa de desenho que, segundo a autora, pudesse ser utilizada por todos, além de um gira-gira. Algo que chama atenção em todos os desenhos é o grande uso de cores. Todos eles trazem a ideia de brinquedos coloridos, como se a própria cor fosse um elemento que enriquece o brincar. Em seguida aos desenhos, se propôs, enquanto atividade final, que as crianças criassem um brinquedo com massinha. Poderia ser diferente de tudo que já viram, poderiam sonhar, imaginar e fazer coisas até impossíveis. Bastava imaginar e criar um brinquedo com o qual gostariam muito de brincar. Essa foi a atividade da oficina com a qual as crianças mais se envolveram. Elas gostaram muito de criar com a massinha e imaginar inúmeras possibilidades. Apareceram elementos muito interessantes. Apareceram circuitos (“circuito rebelde e circuito fofinho”), uma grande “pipa para escalar”, uma “nave espacial muito colorida”, um “foguete que desse para subir em cima e observar”, um “escorregador gigante
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que desse para escorregar como se fosse uma colina”, colocando um papelão sob si, “grandes animais que dessem para subir, com espaços para sentar em cima”, e elementos que poderiam transformar-se em outros a partir de sua união e montagem. Foi uma experiência que revelou a vontade das crianças por grandes estruturas, nas quais fosse possível subir e, inclusive, permanecer. Olhando para os resultados obtidos com essa oficina, pode-se dizer que, apesar das dificuldades de encontrar as crianças e de muitas delas não serem mais estudantes da escola, ela foi bastante rica para poder olhar para os desejos das crianças para o espaço. Entretanto, analisando-a criticamente, entendemos que não pudemos obter muitas informações acerca da representação vivencial que fazem do espaço, isto é, como o utilizam atualmente. De toda forma, reforçamos mais uma vez que o processo não encerra-se aqui e, certamente, buscaremos outras oportunidades de escutar as crianças e suas representações do espaço, o que somará aos resultados obtidos nessa oficina. A última das etapas realizada, por enquanto, foi a escuta da comunidade. Entretanto, mais uma vez, ela não pode ser realizada conforme o previsto na metodologia, mas, ao mesmo tempo, reforçou a necessidade de um diálogo mais aproximado com os moradores locais. Explico: devido à impossibilidade de encontro, não era possível realizar a atividade 6.1 retomamos o projeto nem a 6.2 roda de conversa. Assim, foi proposto um primeiro formulário de aproximação, que poderia ser respondido individualmente em casa. Porém, apesar de algumas respostas bastante interessantes, a proposta não se mostrou eficiente. Ficou claro que faltava uma maior aproximação das pessoas com o projeto, e uma troca, na qual pudéssemos contar mais sobre o que imaginávamos para escola aberta e ouvir o que a comunidade traria para a discussão. A partir dessa experiência que desenhou-se a parte da metodologia de trocas constantes com a comunidade.
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De qualquer maneira, vale olhar para algumas informações importante de serem extraídas da pesquisa. A primeira delas é que, das 21 entrevistas obtidas, apenas 2 responderam “não” para a pergunta “Você acha uma boa ideia abrir as quadras/pátios das escolas para uso da população aos finais de semana” e, dessas duas respostas, uma delas justificava que não achava uma boa ideia porque “tinha que abrir as escolas primeiro”, algo bastante relevante dentro do contexto de nossa reflexão. Além dessa, as respostas que justificam o apoio à abertura dos pátios também são interessantes: “para termos mais possibilidades para os jovens” “povo da periferia não tem opção de lazer” “é um lazer pra crianças” “um lazer pras crianças” “para ter um lazer” “para as crianças ter acesso a atividades esportiva” “para as crianças ter lazer” “para tirar as crianças da rua” “porque é um lazer para as crianças” Essas foram todas as respostas obtidas, uma vez que muitas das pessoas que preencheram o formulário optaram por não justificar a sua escolha. Fica bastante evidente a ênfase nas crianças e, especialmente, no lazer, com pouquíssimas oportunidades na região. Ao mesmo tempo, parece que as respostas evidenciam uma ideia de que a escola é um espaço apenas para as crianças, não sendo para todos e qualquer um. Vale dizer também que, de todas as respostas, apenas 1 dizia que acreditava não haver falta de espaço público perto da sua casa, um dado que também fala na direção da necessidade de lazer, tão reforçada nas respostas apresentadas acima. Quando indagadas sobre o que acreditam que precisaria para que a abertura dos pátios funcionasse bem, poucas pessoas responderam. Entretanto, das respostas obtidas, 7 das 12, isto é, 58,33% das respostas, estavam relacionadas à gestão e zeladoria. As pessoas acreditavam que para um bom funcionamento era pre-
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ciso: “uma comissão eleita por moradores para organizar”, “alguém cuidando desse espaço”, “manutenção, banheiro, acesso à água potável”, “vontade política”, coletividade dos moradores”, e “um vereador de palavra forte”. Quando a pergunta se inverte, buscando saber o que acreditam que poderia não funcionar na abertura dos pátios, apenas uma resposta: “cooptação da organização dos espaços para outros usos que não lazer e cultura”. Ao mesmo tempo, é curioso as respostas que aparecem quando a pergunta se amplia. Ao perguntar “se você pudesse escolher qualquer coisa, o que você gostaria que tivesse nesse espaço para seu usufruto?”, as respostas ampliam-se junto, trazendo todo tipo de espaços públicos, livres ou não, dos quais sentem falta no espaço. Pedem por: “equipamento para exercício físico”, “redário público”, “bibliotecas”, “espaço cultural, lazer e esporte”, “um parque” - essa resposta aparece duas vezes -, “mais praças ambiental”, “mais segurança”, “quadras esportivas”, “wifi livre e tomada para carregador”. Quando as respostas não vão no sentido de equipamento/infraestrutura pública, elas aproximam-se, mais uma vez, das crianças: “mais brincadeiras”, “brincadeiras”, “acho que precisaria de lazer para as crianças”, “muitas brincadeiras para as crianças”, “parquinho para as crianças”, “muitos brinquedos”, “um parquinho para crianças”. As próximas etapas (C, D e E) do processo ainda não foram realizadas, mas seguirão sendo feitas até que possamos chegar em um projeto adequado para a abertura do pátio da Miltom Campos.
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INDICATIVOS DE PROJETO Certamente o processo ainda não está encerrado e, portanto, o produto que resultará coletivamente de todas as atividades ainda não existe. Reforçamos, aqui, a importância da construção coletiva desse espaço para que seja um processo significativo e inclusivo e, ao mesmo tempo, crie um espaço ao qual as pessoas possam sentir-se pertencentes, ocupando-o e utilizando-o enquanto espaço democrático. Dessa forma, ainda não existe um produto final, o qual seguirá sendo desenvolvido após a entrega desse caderno e terá sua conclusão no tempo da emenda parlamentar, que disponibilizará recursos para efetivação da reforma e qualificação. Entretanto, a partir das atividades já realizadas e das informações iniciais já coletadas, foi possível perceber algumas questões as quais seriam importantes serem consideradas no projeto final. Dessa forma, apresentamos algumas diretrizes que já se mostram importantes para o projeto: 1. aproveitar melhor os espaços livres da escola 2. dar uso lúdico aos espaços subutilizados ou não utilizados 3. equilibrar os diferentes tipos de atividades oferecidas 4. garantir atividades motrizes de baixa intensidade e de jogo simbólico em espaços centrais do pátio 5. garantir diversidade lúdica atendendo ao mínimo de 5 atividades lúdicas por setor 6. garantir espaços inclusivos para as diferentes faixas etárias 7. qualificar o “espaço das pedras” 8. incluir vegetação, sejam árvores, arbustos ou grama 9. incluir ocupações verticais que possibilitem o escalar
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10. desenvolver estruturas possíveis de subir e permanecer observando de cima 11. explorar cores diversas 12. adicionar diferentes texturas aos piso, fazendo uso das texturas também como divisores dos espaços 13. incluir elementos de brincar com água 14. instalar bebedouros 15 projetar lugares de estar Dessa forma, ressaltamos que, apesar de não termos chegado a um projeto para a entrega desse trabalho, a vivência da metodologia foi fundamental para que se começase a entender as reais demandas daquele espaço e, dessa maneira, fosse possível realizar um projeto que contemplasse suas necessidades reais. Por fim, ir percebendo as questões e carências do espaço também foi fundamental para simultaneamente pensar a metodologia, entendendo o que dizia da particularidade da Miltom Campos e o que dizia de questões que valiam ser pensadas em qualquer pátio.
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CONCLUSÃO
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CONCLUSÃO Terminamos este manual chamando atenção para a importância de olhar para a relação entre as diferentes escalas, entre as partes e o todo. Isto é, pensar que a relação entre as diferentes escalas do planejamento não é unidimensional, mas sim uma conjunção da unidade/micro e do múltiplo/macro. É, portanto, extrapolar a ideia linear de causa e efeito, dialogando com Morin (2015, p. 74) que afirma: ”não posso conceber o todo sem as partes e não posso conceber as partes sem o todo”. Percebemos e destacamos essa relação entre macro-micro, parte-todo em três momentos ao longo do trabalho. O primeiro deles é a relação entre o Plano e cada uma das propostas, nesse caso específico, a dos Pátios Escolares Abertos. Isto é, entendemos que o plano é importante em nível de planejamento urbano, porque guia, direciona a cidade rumo a objetivos comuns. Mais do que ditar leis, ele apresenta-se como a formalização do planejamento, a sistematização do que e por quem
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se quer fazer. A possibilidade de criar planos para cidades é também a possibilidade de caminhar em direção a um futuro comum. Ao mesmo tempo, olhar para as micro escalas é fundamental para pensar as particularidades de cada espaço e as singularidades que podem ser trilhadas, ainda que com objetivo comum. Isto é, olhar especificamente para cada uma das propostas é olhar para essa diversidade possível e pensar como cada uma delas ajuda a compor o contexto de uma cidade brincante. Assim, pode-se entender que o Plano é produzido pelas diferentes propostas, mas, ao mesmo tempo, cada uma das propostas também conforma o plano, estabelecendo uma relação dialógica entre eles. É importante ter a escala mais macro que guia e direciona as ações, porém, esse macro está diretamente relacionado e conformado pelas menores escalas, as quais também dependem do macro e de suas relações. Reforçamos, então, que para pensar o todo é preciso pensar as partes e, ao mesmo tempo, para pensar as partes é preciso olhar o todo. Nesse sentido, de acordo com a ideia do pensamento complexo, junta-se Uno e Múltiplo, mas o Uno não se dissolverá Múltiplo e o Múltiplo fará ainda assim parte do Uno, entendendo o caráter multidimensional de toda realidade. Conforme apresenta Morin, são “constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas” (2015, p. 13), criando um tecido das relações que se estabelecem. Um segundo momento, além da relação plano-propostas, em que essa relação se dá é quando pensamos a EMEF Miltom Campos como uma das escolas possíveis de aplicação, isto é, como uma parte do todo que seria a rede de escolas da Brasilândia. É bastante interessante pensar que, assim como se deu na instituição de atuação, muitas particularidades aparecerão em cada uma das escolas. Entretanto, pensadas conjuntamente elas oferecem a possibilidade da criação de uma rede, que certamente depende de cada uma das escolas, mas, ao mesmo tempo, enquanto macro escala possui suas
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próprias particularidades. E, ainda que, nesse caso, se relacionada à EMEF Miltom Campos, a rede de escolas ou mesmo a proposta dos Pátios Abertos possa ser entendida enquanto a macro escala, quando fazemos sua relação com o todo, o Plano, ou o trabalho completo, ela passa a ser uma unidade e a escala micro, uma das propostas. Por fim, essa relação também se apresenta quando pensamos a metodologia de aplicação e a experiência-piloto na Miltom Campos. É possível pensar a metodologia enquanto o macro, que pode ser aplicado em diferentes contextos e situações, enquanto a escola é uma das aplicações específicas, sendo uma das partes de aplicação. Entretanto, conforme já discutido, a experiência-piloto é fundamental para pensar a metodologia ao mesmo tempo que a metodologia é essencial para o processo da experiência-piloto. Estabeleceu-se a relação dialética de colocar em prova o proposto, mas também pensar e repensar a metodologia posta e perceber os desafios que se apresentavam para tal, entendendo, assim, que o desenvolvimento da metodologia de aplicação e a experiência na Miltom Campos ocorreram de forma concomitante e complementares uma à outra. Portanto, podemos dizer que é muito importante estabelecer uma correspondência entre as micro e macro ações do urbanismo, entre as partes e o todo. Isto é, é olhar para as intervenções urbanas que se estabelecem como catalisadores de mudanças locais sem necessariamente contrapô-las ao macro urbanismo, muitas vezes relacionado aos planos. Mais do que pensar em uma atuação local para mudar o global, é pensar o local e o global para construir o local e o global. É sempre importante olhar para o micro para poder aprofundar-se e olhar para as singularidades existentes, mas é preciso do macro para ter a visão do todo. Isto é, não podemos ter um pensamento que separe as partes do todo sob o risco de perdemos o olhar para as relações. É preciso constantemente caminhar entre as diversas escalas para que se possa ter um pensamento mais profundo e interligado, podendo-se estabelecer
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uma articulação entre micro e macro, entre as partes e o todo. Porque trago isso? Porque nesse trabalho percorri um caminho supostamente linear linear, começando com o macro, o plano, e ainda, talvez, um grande eixo condutor, para ir aprofundando em objetivos, propostas, das quais uma foi eleita para ganhar um manual que contava com o trabalho em uma escola específica. Isto é, parti de todo um território e cheguei em uma escola. Entretanto, gostaria de reforçar que esse caminho não é linear e todas as partes estão conectadas umas com as outras em um trabalho constante e cíclico de revisitar as partes e o todo. A Miltom Campos não faria sentido sem a proposta dos pátios escolares abertos, mas também não faria sentido sem o plano e seus eixos e objetivos. Tampouco o Plano faz sentido sem suas propostas e sem uma aplicação efetiva, que volta para a experiência-piloto de aplicação. O mesmo vale para a parte teórica, que sem as outras duas se esvazia de sentido, ao mesmo tempo que o Plano e o Manual de aplicação ganham muito quando embasados por uma teoria. Assim, finalizo tentando demonstrar que, apesar de apresentado de maneira linear, partindo do macro para o micro (teoria - plano - eixos - objetivos - propostas Miltom Campos), busquei, ao longo do trabalho, uma constante relação entre todas as suas partes e um cuidado com as diferentes escalas possíveis de atuação, buscando construir um Plano Urbano do Brincar que dialogasse com uma teoria e com suas propostas e desenvolver propostas que também dialogassem com o Plano e seu contexto geral.
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