Caminhos do Cuidado – Relatório 2017

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HÁ ESCOLAS QUE SÃO ASAS Projeto Caminhos do Cuidado: uma tecnologia social em saúde junto às Escolas Técnicas do SUS.


Expediente Ministério da Saúde (MS) Ricardo Barros

Coordenação do projeto Caminhos do Cuidado Maria Cristina Soares Guimarães

Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde (SGTES/MS) Rogério Luiz Zeirak Abdalla

Coordenação Executiva Maria Conceição Rodrigues Carvalho Ruy Casale

Departamento de Gestão da Educação na Saúde (Deges/SGTES/MS) Cláudia Brandão Gonçalves da Silva

Texto e Projeto Editorial Marina Rotenberg

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Nísia Trindade Lima Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz) Manoel Barral Netto Instituto de Comunicação e Informação Científi ca e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) Rodrigo Murtinho

Supervisão Gráfi ca Sandra Araujo Capa e Projeto Gráfi co Paula Xavier Diagramação Paula Xavier Sandra Araujo

Ficha catalográfica elaborada por Bruna Beltrão Belinato CRB-7/6747 B823

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Há escolas que são asas : Projeto Caminhos do Cuidado : uma tecnologia social em saúde junto às Escolas Técnicas do SUS / Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde ; Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde ; Centro de Educação Tecnológica e Pesquisa em Saúde. – Rio de Janeiro : FIOCRUZ/ICICT, 2018. 28 p. : il.color. ; 30 cm. Relatório poético do Projeto Caminhos do Cuidado : Formação em saúde mental (crack, álcool e outras drogas) para agentes comunitários de saúde e auxiliares/ técnicos em enfermagem da Atenção Básica. 1. Saúde mental. 2. Atenção básica. 3. Atenção integral. 4. Educação permanente. 5. Drogas. 6. Crack. 7. Álcool. 8. Escolas Técnicas do SUS. I. Fundação Oswaldo Cruz. Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. II. Grupo Hospitalar Conceição. Centro de Educação Tecnológica e Pesquisa em Saúde. III. Título. CDD 362.29


“Para navegar contra a corrente são necessárias condições raras: espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão.” Nise da Silveira – Alagoas


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Nem o céu é o limite

Escola é lugar para aprender. É lugar para ensinar. Para desconstruir e reconstruir. Para criar laços, refletir, propor, virar do avesso. Para uma escola que sabe voar, nem o céu é o limite. E foi isso que aconteceu durante o Caminhos do Cuidado. As escolas foram as asas que acolheram o projeto, sustentaram o ritmo e voaram longe, permitindo que ele chegasse a cada canto do Brasil. Foram elas que, juntas a diversos parceiros, incorporaram a metodologia proposta, realizaram as adequações necessárias e encorajaram cada técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde a olhar para o usuário de crack, álcool e outras drogas de uma nova maneira, encarando de frente o preconceito, dissolvendo o estigma e fazendo valer o acolhimento previsto no SUS – Sistema Único de Saúde. Neste material apresentamos o contexto no qual é inserido o Caminhos do Cuidado, os números alcançados, os quilômetros rodados – por terra, água e ar –, a quantidade de aulas oferecidas, as metas atingidas e as milhares de pessoas impactadas. Escolhemos, principalmente, deixar que os representantes das Escolas Técnicas de Saúde do Sistema Único de Saúde (ETSUS) falassem por si. Utilizamos as falas deles, coletadas em entrevistas durante todo o projeto, para dar o tom da publicação.


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As narrativas contemplam o valor da metodologia aplicada, a mudança do olhar para os usuários de drogas e o legado deixado para os profissionais e para os territórios. Evidenciam, sobretudo, a transformação ocasionada nas próprias escolas. Desejamos aqui registrar uma metodologia e tecnologia social consistente e adaptável que teve como ponto central a autonomia das escolas. Foi por acreditarem que deveriam ir mais longe na questão do cuidado com o usuário de crack, álcool e outras drogas e que poderiam construir algo verdadeiramente empoderador e sustentável, que elas receberam o Caminhos do Cuidado, realizaram coletivamente e seguiram seguras seus voos. Se os números dão conta da magnitude e competência técnica do projeto, as falas dos representantes das Escolas Técnicas de Saúde do Sistema Único de Saúde comprovam a responsabilidade e a humanidade de quem fez isso acontecer. Tratar do uso de drogas, um tema estigmatizado pela sociedade e uma questão global que envolve o desejo e a vulnerabilidade dos sujeitos, a liberdade e a legislação, a dignidade e a saúde, requer política, diretriz, gestão, técnica, apostila, cadeira, alimentação e transporte. Requer, sobretudo, sensibilidade e comprometimento. E é disso tudo que vamos falar por aqui.


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Para além das drogas... gente O crack chegou ao Brasil no final da década de 1980, início dos anos 90. Alcançando centros urbanos, cidades do interior e zonas rurais, ele não veio sozinho, veio junto com o preconceito sobre a realidade de quem faz uso de álcool e outras drogas e com os modelos de exclusão desses usuários do convívio social. Veio também com a necessidade de se pensar em políticas públicas que contemplem ações de prevenção ao uso abusivo, acolhimento e acompanhamento de dependentes e inclusão social de populações em situação de extrema vulnerabilidade. Veio, acima de tudo, com a necessidade de encarar que a questão central não é a droga e sim gente. A pesquisa ‘Crack e Exclusão Social’1, de 2016, financiada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, do Ministério da Justiça, e coordenada pelo sociólogo Jessé Souza, não deixa dúvidas de que, antes de mais nada, o Crack é um problema social. Os dados mostram que oito em cada dez usuários regulares de crack são negros e, oito em cada dez não chegaram ao ensino médio. 40% vive em situação de rua e 49% tem passagem pelo sistema prisional. Entre os homens usuários, 7,5% relataram histórico de violência sexual e entre as mulheres esse número sobe para 47%. A ‘Pesquisa Nacional sobre o uso de crack’2, de 2013, organizada por Francisco Inácio Bastos e Neilane Bertoni, pesquisadores do Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz traz mais dados que mostram a gravidade da situação: 70% dos usuários de crack afirma que compartilhava cachimbos e latas com outros usuários, aumentando, assim, as possibilidades de transmissão de hepatites virais e outras doenças, e 8% relata ter sofrido overdose em algum dos trinta dias antes da entrevista. Mais de 90% dos entrevistados aponta a necessidade de atendimento humanizado aos dependentes químicos, assim 1 2

http://www.cepad.ufes.br/sites/cepad.ufes.br/files/field/anexo/Livro%20Crack%20e%20exclus%C3%A3o%20social_Digital_WEB.pdf https://www.icict.fiocruz.br/sites/www.icict.fiocruz.br/files/Pesquisa%20Nacional%20sobre%20o%20Uso%20de%20Crack.pdf


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como o fortalecimento da assistência social, locais de acolhimento transitório, alimentação, emprego, cursos profissionalizantes e atividades de lazer.

8/10 8/10

oito em cada dez usuários regulares de oito em cada dez crack são negros usuários regulares de crack são negros

8/10 8/10

oito em cada dez não chegaram ao oito em cada dez ensino médio não chegaram ao ensino médio

7,5% 7,5%

dos homens usuários entrevistados relataram dos homens usuários histórico de violência sexual entrevistados relataram histórico de violência sexual Fonte: Pesquisa Crack e Exclusão Social, 2016.

40% 40% vive em situação vive em de rua situação de rua

47% 47%

49% 49%

tem passagem pelo sistema tem passagem prisional pelo sistema prisional

das mulheres usuárias entrevistadas relataram das mulheres usuárias histórico de violência sexual entrevistadas relataram histórico de violência sexual

Trabalhar com o tema das drogas mexe com o medo, com o preconceito. Mexer com essas suscetibilidades de cada um para desmistificar e romper paradigmas foi o grande diferencial do projeto Caminhos do Cuidado. Janaina Duarte – Alagoas

A droga é uma questão social maior. O Caminhos do Cuidado foi importante não só para o fortalecimento da escola, mas para a sociedade. Nos despertou para uma questão mais ampla sobre o usuário de drogas, sobre a saúde de uma forma integral, a qualidade de vida do nosso povo. Permitiu que a gente buscasse um olhar mais atento, mais contemplativo para encontrar a resolução do problema. Isabel Cristina Diniz – Ceará


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Ventos que sopram a favor

Foi em 2011 que o vento começou a soprar em uma direção que olhasse diferente para isso. Em dezembro daquele ano nasceu o plano integrado de combate às drogas ‘Crack: é Possível Vencer’3, coordenado pelo Ministério da Justiça e articulado pela Casa Civil, em parceria com outros Ministérios. Com o intuito de aumentar a oferta de tratamento de saúde aos usuários; enfrentamento ao tráfico e às organizações criminosas e ampliação das ações de prevenção ao uso de drogas, o Programa reuniu diversas estratégias envolvendo políticas de saúde, assistência social e segurança pública, além de ações de educação e garantia de direitos, todas elas divididas em três eixos norteadores: Prevenção, Cuidado e Autoridade. Esse usuário não era atendido porque não era enxergado. E aí chega essa formação para dizer: ‘Esse cidadão precisa desse atendimento. Vamos pegar esses conceitos e esses preconceitos, deixar de lado um pouco, vamos ouvir uma outra ideia e misturar tudo e ver no que dá.’ Esses usuários de drogas que não chegam até o serviço de saúde são os que mais precisam de cuidado. E deu a mudança. Esse usuário tem chegado até as unidades de saúde da Atenção Básica. A rede existe e precisa se organizar para receber esse usuário. Ele tem esse direito. Alessandro Reis – Sergipe 3

http://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/programas-1/crack-e-possivel-vencer


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Eixos do Programa ‘Crack: é Possível Vencer’ • Prevenção: fortalecimento da rede de proteção contra o uso de drogas. • Autoridade: enfrentamento ao tráfico de drogas e policiamento ostensivo de proximidade. • Cuidado: ampliação da capacidade de atendimento e atenção ao usuário e familiares.

Uma agente comunitária de saúde que fez o curso tinha a questão da droga na própria família. Ela era mãe e não tinha mais estrutura para suportar a filha ser usuária de drogas. Ela via o drogado como se ele tivesse a obrigação e a competência de sair sozinho, não via isso como uma doença que precisava ser tratada, mas sim como uma fraqueza. E foi muito interessante de ver, ela foi uma profissional muito participativa, não faltou em nenhuma aula. Acompanhar aquela mudança foi muito importante. Hoje ela diz que consegue enxergar o usuário de droga de outra maneira e trata tanto sua filha como os usuários do serviço de outro jeito. Antes ela passava com medo e ignorava o que eles precisavam. Hoje ela observa o que eles precisam de fato. Meire Encarnação – Goiás


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“A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas.” Manoel de Barros – Mato Grosso


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No Caminho, o Cuidado No eixo Cuidado, se concentram ações para a criação de redes de cuidados que auxiliem os usuários e dependentes de crack e outras drogas e seus familiares na superação da dependência e na sua reinserção social. E foi dentro deste eixo que, em 2013, o projeto Caminhos do Cuidado iniciou seu voo. Com o intuito de utilizar o acolhimento e a escuta no atendimento a essas pessoas, o Caminhos do Cuidado identificou a via da educação em saúde. Foi desenhada uma estratégia de educação permanente focada em qualificar os profissionais que são a porta de entrada para o Sistema Único de Saúde e conhecem mais que ninguém os territórios e suas vulnerabilidades: os agentes comunitários de saúde (ACSs) e os auxiliares e técnicos de enfermagem (Atenfs) das equipes de Atenção Básica.

Objetivos específicos Caminhos do Cuidado • Apropriar-se do processo de reforma psiquiátrica, da política de Saúde Mental com ênfase na rede de atenção psicossocial com vistas à produção do cuidado, a reintegração social e a cidadania das pessoas usuárias de álcool e outras drogas; • Discutir e construir o papel do ACS e do Auxiliar/Técnico de Enfermagem da Atenção Básica para o cuidado em Saúde Mental conforme especificidade de cada território, qualificando o olhar e a escuta para dar visibilidade à questão das drogas; • Ampliar a caixa de ferramenta do ACS e Auxiliar/Técnico de Enfermagem para o cuidado em Saúde Mental, atuação na rede de atenção e na construção de territórios de paz.


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Eu acho que uma das coisas mais importantes desse projeto foi a valorização do Agente Comunitário, ele estar sendo qualificado. Porque muitas vezes esquecemos do Agente. Ele fica lá só na prática, sem nenhuma estratégia para agregar, sem essa política de educação permanente voltada pra ele. Marta Bumlai – Mato Grosso

Os Agentes Comunitários de Saúde são os primeiros a contarem o que realmente significou a formação para eles, como eles começaram a atuar diferente e passaram a ter um papel de inserção e envolvimento com aquela família. Contam como, depois do curso, eles passaram a buscar ajuda das equipes na solução do problema daquela família em relação à droga. Eles trazem a grande significância que teve esse projeto no dia a dia de trabalho. Marta Barbosa – Rio de Janeiro

O método do Caminhos do Cuidado traz a centralidade para o aluno, que é quem é capaz de transformar. Só pessoas transformam o mundo. Então, quando a metodologia traz a centralidade para o aluno, fazendo com que ele discuta, com que ele opine, com que ele aja, aí ele aprende o compromisso com o outro, aprende sobre a solidariedade. Quando eu perguntava para os ACS o que eles aprenderam nesse curso eles respondiam: ‘Aprendi uma nova forma de ver o outro. Ena Galvão – Brasília


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“Desejamos quebrar as gaiolas para que os aprendizes aprendam a arte do voo. Mas, para que isso aconteça, é preciso que as escolas que preparam educadores sejam a própria experiência do

.” Rubem Alves – Minas Gerais


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Um projeto do tamanho do

Brasil

NÚMERO DE TURMAS REALIZADAS E VAGAS OFERECIDAS

Até 07/08/2015, foram formadas um total de 8.017 turmas, em 3.375 cidades diferentes do Brasil, sendo 292.899 vagas ofertadas

100,93%

do total da meta.

NÚMERO DE PESSOAS ENVOLVIDAS NO PROJETO

NÚMERO DE REFEIÇÕES CONTRATADAS

Mobilizou uma equipe de

1.530.835

2.494 profissionais 284.868 alunos 4.050

fornecedores de serviços (indiretos)

refeições até 07/08/2015 para atender

306.167

pessoas entre alunos e tutores


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NĂşmero de alunos por regiĂŁo

32.440

20.657

35.570

86.998

Total de 290.197 alunos

114.532


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Deslocamento dos tutores por estado (km) RR 16.600

AP 25.700

AM 102.400 MA 412.400

PA 414.100

AC 44.100

TO 90.000

RO 90.500 MT 145.300

MS 90.800

TOTAL

6.123.700 km

PR 278.100

SP 275.600

SC 204.200 RS 252.700

CE 541.700

PB PB 163.600

PI 176.000

AL 224.900

BA 694.800

DF 20.600 GO 248.300

RN 124.800

MG 676.000

PE 332.200 PE 278.000 SE 99.100

ES 117.100

RJ 262.100

A distância média percorrida pelo tutor para chegar de sua residência ao local das aulas foi de

46km


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Uma andorinha não faz verão Teve uma aproximação muito grande das escolas entre si e delas com outros parceiros como o COSEMS, instâncias do SUS no âmbito do estado e também com os gestores municipais. Essa articulação enfrentou dificuldades, que conseguiram ser superadas, pois foi feito um trabalho muito intenso de mobilização, conscientização e sensibilização dos gestores sobre a importância do projeto, e nesse sentido a Secretaria Estadual de Saúde teve papel fundamental, a coordenação de Atenção Básica e de Saúde Mental trabalhou ativamente. Isso acabou fazendo com que houvesse maior sensibilidade dos gestores sobre a necessidade da adesão dos municípios ao projeto. Geraldo Antonio Reis – Minas Gerais


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O Caminhos foi uma ação do Ministério da Saúde, em parceria com o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT) da Fiocruz, o Centro de Educação Tecnológica e Pesquisa em Saúde, o Grupo Hospitalar Conceição (Escola GHC) e a Rede Governo Colaborativo em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Além do apoio dos Conselhos e Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) e das Áreas de Atenção Básica e Saúde Mental nas diferentes esferas de governo, foi formado um grupo de apoio pedagógico composto por consultores, educadores, orientadores e tutores que conduziu o projeto localmente. Foi a Rede de Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde (RET-SUS) a grande protagonista no processo de expansão da formação pelo Brasil. Sua presença nas cinco regiões do país permitiu que o projeto estivesse em cada um dos estados brasileiros, aprendendo com as diferenças dos territórios e respondendo às demandas específicas de cada um deles.

O projeto teve uma ousadia de se admirar. E a gente se empenhou ao máximo para fazer nossa parte. A escola tem abrangência estadual e em cada uma das coordenadorias regionais de saúde temos os nossos núcleos regionais de educação em saúde coletiva, que fazem articulação com todos os municípios no que diz respeito à educação. Então, a gente tinha uma rede descentralizada. E o Caminhos fez com que essa rede toda mostrasse sua potência e isso foi uma coisa que fortaleceu o trabalho da escola. Walesca Pereira – Rio Grande do Sul

Foi muito interessante, pois com a ajuda do Conselho de Secretários Municipaisde Saúde conseguimos articular o projeto em cidades aonde onde o curso da ETSUS não chegava. Angelita Mendes – Rondônia


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De palha, em palha, tecendo um ninho Historicamente, o uso de drogas foi associado à criminalidade ou à doença e seu cuidado conferido à segurança pública, psiquiatria e instituições religiosas. Tal configuração ajudou a fortalecer um imaginário cruel de que esses usuários são uma ameaça à sociedade e não podem ser participantes legítimos das esferas sociais, devendo ser distanciados delas, na maioria das vezes, em prisões e hospícios.

“Os usuários de drogas são incluídos na sociedade, mas excluídos do status de pessoa social. A exclusão de que falamos é, portanto, a exclusão desse status, dessa condição mínima de ser reconhecido, nas relações sociais, como pessoa, como ser humano, como gente e agente. Ser tratado como pessoa ou não, esta é a diferença fundamental.”4 Trecho da cartilha ‘Exclusão social e uso de drogas’, SENAD e UFSC.

4 Cartilha do Aberta: portal de formação a distância – sujeitos, contextos e drogas Secretaria, parceria entre a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) http://www.aberta.senad.gov.br/medias/original/201705/20170522-105253-001.pdf


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“Todos esses aí que estão atravancando meu caminho... Eles passarão Eu passarinho.” Mario Quintana – Rio Grande do Sul


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Ao contrário desse modelo vigente, profissionais de saúde e familiares de pacientes com transtornos mentais iniciaram na década de 70, no Brasil, uma mobilização pela Reforma Psiquiátrica, já ocorrida anteriormente em outras partes do mundo. Além de denunciar a violência institucionalizada dos manicômios, a proposta era construir um novo estatuto social para o indivíduo em sofrimento psíquico – no qual se encaixam também as pessoas com quadros de abuso e dependência de álcool e outras drogas –, substituindo o modelo de internação por uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial que garantisse a integração dessas pessoas à comunidade. Foi nesse fluxo de mudança, marcada pelo processo da Reforma Psiquiátrica que o projeto Caminhos do Cuidado trabalhou para consolidar a redução de danos como uma diretriz de cuidado mais humanizado, inclusivo e integral.

Antes do Caminhos do Cuidado, todos internavam. Durante o projeto tiveram muito poucas internações, diminuiu muito. Isso é uma vitória. Ruth Bundese – São Paulo

O projeto, de fato, vem dar corpo, consistência e força para a rede de Saúde Mental que está sendo implementada no estado e no Brasil como um todo. Nos cursos anteriores de ACS, a perspectiva era tratada com bastante superficialidade, porque talvez essa questão não fosse tão emergente como é hoje. O Caminhos do Cuidado teve também esse papel, de enfatizar que a Saúde Mental é um elemento fundamental na Estratégia Saúde da Família. E de pensar no acolhimento de todas as pessoas que necessitam de algum cuidado de Saúde Mental. Pensar também além da droga, a Saúde Mental de forma mais ampla. Geraldo Antonio Reis – Minas Gerais


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Portaria nº 1.028/2005, do Ministério da Saúde: determina que as ações que visam à redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência, sejam reguladas por esta Portaria. Art. 2º Definir que a redução de danos sociais e à saúde, decorrentes do uso de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência, desenvolva-se por meio de ações de saúde dirigidas a usuários ou a dependentes que não podem, não conseguem ou não querem interromper o referido uso, tendo como objetivo reduzir os riscos associados sem, necessariamente, intervir na oferta ou no consumo.

A formação articulou Atenção Básica e Saúde Mental, permitindo que os profissionais ampliassem o acolhimento e o cuidado ao usuário em seus próprios territórios, considerando a realidade de cada pessoa e suas famílias, sempre orientados pelas práticas de redução de danos e sob a perspectiva dos direitos humanos, integralidade e intersetorialidade. “O objetivo geral da Redução de Danos é evitar, se possível, que as pessoas se envolvam com o uso de substância psicoativas. Se isso não for possível, para aqueles que já se tornaram dependentes, oferecer os melhores meios para que possam rever a relação de dependência, orientando-os tanto para um uso menos prejudicial, quanto para a abstinência, conforme o que se estabelece a cada momento para cada usuário.”5 Trecho do artigo Redução de Danos e Saúde Mental na perspectiva da Atenção Básica, Boletim da Saúde, Porto Alegre.

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Redução de Danos e Saúde Mental na Perspectiva da Atenção Básica – Boletim da Saúde | Porto Alegre | Volume 18 | Número 1 | Jan./Jun. 2004


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Um tempo atrás, a questão do uso de álcool e outras drogas era distante de nós, não reconhecíamos, achávamos que sempre estava na casa do vizinho, nunca na nossa. Reconhecer que está perto de nós e perceber como devemos cuidar e tratar dessa pessoa, sem preconceito, entendê-la e ouvi-la, isso o curso possibilita. Márcia Santana – Tocantins

O maior legado desse projeto, para mim, é essa sensibilização da Saúde Mental na Atenção Básica, esse estreitamento, esse laço. Essa questão tem que ser tratada mais próxima do seu território, do local onde o usuário mora. Quem tem todo esse potencial são os profissionais da Atenção Básica e da Estratégia Saúde da Família. Esse legado é importantíssimo: incluir a Saúde Mental como uma rede fortalecida da Atenção Básica. Marta Bumlai – Mato Grosso

Aproxima Atenção Básica e Saúde Mental, de forma que a Saúde Mental não vem como especialidade, mas vem na perspectiva de base territorial, de discutir a questão da rede de atenção do cuidado integral ao usuário, quebrando paradigmas, trazendo a questão da redução de danos e sensibilizando os ACS que são peça fundamental nesse processo, reunindo tutores de áreas até então pouco exploradas pela escola, profissionais da Saúde Mental, psicólogos, numa aproximação que está se encaminhando para ser uma vinculação, pra gente trabalhar de fato na perspectiva da educação permanente. Janaina Duarte – Alagoas


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Voo livre

O sucesso do Caminhos do Cuidado está diretamente ligado à autonomia conquistada pelas escolas. Para alcançarmos um olhar mais acolhedor para o usuário de álcool e outras drogas, a garantia da cidadania e a experiência de sua humanidade, acima dos estigmas e preconceitos, precisamos de profissionais capacitados e um conjunto de escolas empoderadas e livres, que, mesmo diante do tempo ruim, saibam voar, criar redes e sustentar o ritmo, para contribuir, acima de tudo, com a saúde integral dos sujeitos. O Projeto cumpre seu papel quando as escolas se apropriam dos conteúdos aprendidos e passam a voar sozinhas, levando consigo o que conquistaram nos ‘Caminhos’.

Fortaleceu a escola. O material é muito bom. Todo mundo que participou já está usando em outros momentos. A gente vai iniciar novas turmas para Agentes Comunitários agora e já vamos incorporar o material do Caminhos. O projeto criou novas demandas, porque os outros profissionais também pediram o curso, vimos ACS mudando o discurso sobre a questão da droga e outros profissionais interessados em participar da formação também. Claudia Lange – Santa Catarina


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Recebemos um projeto qualificado que nos permitiu capilarizar, interiorizar e expandir nossas ações. O Caminhos do Cuidado nos deu mecanismos pedagógicos e didáticos para que a gente capilarizasse e chegasse aos 184 municípios. Isabel Cristina Diniz – Ceará

De que lugar esse sujeito fala? Esse material e a metodologia consideram a realidade dos sujeitos. Os alunos tinham a possibilidade de levar o que eles viviam no dia a dia, expor sua ignorância no assunto, colocar suas dúvidas. Se uma metodologia só passa o conteúdo, você não abre espaço para ouvir o aluno, para trocar. O projeto tinha começo, meio e fim, metodologia, material, mas tinha abertura para o diálogo. O projeto observava. Não ficava ali, só falando teoria, olhava mesmo a realidade vibrante. Maria José Camarão – Bahia

As metas do projeto viraram metas também da escola no ano que abraçamos o projeto. Então, nós vamos dar continuidade e vamos fazer esse projeto para outras áreas. Isso é para que a gente realmente possa cumprir o papel de escola, de realmente participar do desenvolvimento das pessoas. Márcia Santana – Tocantins

Saúde Integral: Estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez. Definição da Organização Mundial da Saúde.


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A gente sempre pensou além da meta. A gente disseminou essa semente nos municípios e sempre pensávamos em como poderíamos avançar a partir do Caminhos do Cuidado. Então, uma das coisas que fizemos foi a aproximação de outras instituições de ensino. Sempre pensávamos em estratégias para instigar o Ministério da Saúde, instigar o Estado, sempre pensar em articular para darmos continuidade ao que conquistamos com o projeto. Célia Santana – Pernambuco

O curso foi tão importante que o objetivo é incorporar a temática e a metodologia na grade curricular aqui na escola. Francisca Josélia da Silha – Piauí

Nós aceitamos, porque era uma meta audaciosa, e o projeto permitiria que a gente fortalecesse a equipe. Um projeto dessa magnitude não tinha como não trazer isso pra dentro da escola: fortalecer quem faz a escola. Raimundo Sena – Pará


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“Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar.” Rubem Alves – Minas Gerais


OBSERVATÓRIO DO CUIDADO Rua Buenos Aires, nº 2 / sala 804 – Centro CEP: 20.070-022 – Rio de Janeiro/RJ (21) 3178-4848 www.observatoriodocuidado.org www.observatoriodocuidado.org/espaco-de-relacionamento




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