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António Campos desiludido com o actual PS explica por que disse não ao jantar de aniversário

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Em 1971, o Salgado Zenha, António Macedo e eu fomos a Paris, onde Mário Soares estava exilado, para uma reunião com o Dr. Álvaro Cunhal, para o tentar convencer de que a queda da ditadura só era possível através de um golpe militar e nunca pelo levantamento popular que sempre protagonizou.

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A reunião não se realizou, porque nesse dia o António Macedo foi internado de urgência, para uma cirurgia que o levou à extracção da bexiga.

Conheci nesse período o Tito de Morais, que veio de Itália, e o Ramos da Costa que já defendiam a transformação da Acção Socialista em partido político.

Em Março de 1973, Mário Soares, Tito de Morais e Ramos da Costa enviaram um apelo para a concretização desse objectivo.

Os militantes de Lisboa numa reunião, sem convocação ou conhecimento dos militantes da Acção Socialista do resto do País, reprovaram a criação do Partido.

A rede clandestina montada pelo Ramos da Costa com os ferroviários do Sud Expresso, via Alfarelos, permitia aos militantes da zona Centro uma relação directa com Paris, onde residia Mário Soares, para troca de informações e papéis, incluindo a recepção do Portugal Socialista.

Através dessa rede recebi o apelo dramático para reunir os militantes da Acção Socialista de todo o País e reverter a decisão tomada em Lisboa para, entre outros objectivos, permitir o apoio da Internacional Socialista ao combate à ditadura em Portugal.

Foi o que fiz, organizando na minha casa, em Oliveira do Hospi- tal, uma reunião clandestina com cerca de meia centena de militantes da Acção Socialista de todo o país que votaram favoravelmente a fundação do Partido Socialista e elegeram o Jaime Gama como Secretário-Geral interino até á reunião da legalização do PS, a realizar na Alemanha.

Posteriormente, houve uma reunião em casa do António Arnaut para decidir quem ia à Alemanha.

No preciso momento em que o jornalista Maia Cadete me estava a entregar os bilhetes para a deslocação â Alemanha, atropelaram o meu filho mais novo, ficando entre a vida e a morte durante cerca de 15 dias.

O Maia Cadete já não foi entregar os bilhetes ao António Macedo e Cal Brandã (Porto), ao Álvaro Monteiro (Viseu) e ao Costa e Melo (Aveiro) e ficou a acompanhar-me no meu desespero na clínica de Santa Filomena, em Coimbra.

Todos acabaram por não se deslocar à Alemanha em solidariedade comigo.

Mais tarde, em Setembro de 1973, comunico via Sud Expresso que iria receber um documento importantíssimo e que iria pessoalmente entregá-lo a Paris. A resposta que recebi foi a de que vinham a Vigo. O António Macedo, o António Amaut, eu e as respetivas mulheres fomos a Vigo entregar ao Mário Soares, Tito de Morais e Ramos da Costa a acta da 1.ª reunião do movimento de capitães, em Évora.

A primeira sede do Partido Socialista a abrir em Portugal foi em Coimbra, onde tínhamos alugado uma vivenda para instalar uma livraria, junto à escadaria da Universidade, onde ainda hoje é a sede distrital do Partido.

No PS, o valor da Solidariedade esteve sempre presente, mesmo nos momentos de forte divergência interna foi sempre um princípio inabalável de todos. Além dos episódios anteriores, posso testemunhar um outro. Tive um cancro bastante agressivo, fui operado no Hospital S. Louis, tive de fazer tratamentos e muitas vezes na hora em que os ia fazer recebia um telefonema do António Guterres, que como bem sabes liderou uma tendência política no PS no período em que tive responsabilidades na organização do partido, a saber se estava sozinho ou se precisava da sua companhia.

Nunca soube quem o informava.

Agradeço-te o convite para o jantar Comemorativo dos 50 anos da legalização do PS, que está distante da liderança de Mário Soares, onde a divergência era salutar e muito enriquecedora politicamente. É com profunda decepção que, com a benevolência do Partido, assisto à acelerada degradação das instituições democráticas, que tanto custaram a conquistar.

Infelizmente já não tenho a energia do passado, se a tivesse estaria presente para pessoalmente te afirmar a necessidade de reaproximar o Partido dos valores que presidiram à sua fundação.

Espero que este pequeno testemunho sobre a fundação e legalização do Partido Socialista te ajude, se quiseres, a dar o conhecimento histórico no jantar da comemoração dos 50 anos do nosso PS.

Saudações socialistas

António Campos Como testemunho histórico tornarei esta carta pública».

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