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FEMINA A CICLOFICINA COMUNITÁRIA DE E PARA MULHERES
CÁTIA BARBOSA
Em Lisboa, já há uma oficina comunitária feita de mulheres e para mulheres, pessoas trans e não-binárias. Chama-se “FEMINA” e tem como objectivo encorajar o sexo feminino a andar e a reparar bicicletas. O projecto está integrado na Associação Cicloda e permite que quem o abraça se torne auto-didata e auto-suficiente no que diz respeito à mecânica.
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“Existe muito a questão da mulher que pode, deve e sente vontade de viajar sozinha. Depois, existe a mecânica que, talvez por ser um papel de género na sociedade mais destinado ao sexo masculino, pode ser um obstáculo para essa viagem não ser realizada”, explica uma das fundadoras da FEMINA, Inês Sanches, em declarações ao “Campeão das Províncias”. Nesse sentido, e para esclarecer todas as dúvidas relacionadas com os velocípedes, a FEMINA realiza sessões mensais, de duas horas, onde marcam presença várias voluntárias do projecto. Não é necessária inscrição prévia. O único requisito é querer marcar presença.
As sessões funcionam na última quinta-feira de cada mês, entre as 18h00 e as 20h00, e criam espaço para o debate sobre questões como a mobilidade. “As pessoas vêm à cicloficina e encontram um lugar com ferramentas e com todas as possibilidades para mudar peças. Temos também bicicletas que podem ser adquiridas por um valor bastante baixo. Além disso, no caso de haver algum problema, as voluntárias fazem toda uma explicação e envolvem as pessoas no arranjo da bicicleta”, adianta Inês Sanches.
Em actividade desde Abril de 2019, a FEMINA tem ajudado a mudar mentalidades. De acordo com a sua fundadora, “é muito agradável percebermos esta mudança imediata na autoestima e na capacidade das mulheres serem autónomas. O sentido de comunidade é o que prevalece na FEMINA”. Inês Sanches não tem dúvidas de que esta acção é fundamental para quebrar os preconceitos que ainda existem na relação entre o sexo feminino e a mecânica. “É algo instituído e sistémico. A nossa sociedade tem vários espaços que não são seguros para mulheres, pessoas trans e não-binárias. Acho que a verdadeira mudança passa por empoderar estas pessoas para terem a possibilidade de fazer escolhas nessas situações”, alerta. Nos últimos quatro anos, têm sido várias as mulheres que têm participado nas sessões da FEMINA. Procuram-na, sobretudo, por três razões distintas: experiências anteriores menos positivas; vontade de viver uma aventura nunca antes vivida; procura por uma experiência comunitária. “Este é um espaço de partilha e um lugar seguro onde as pessoas podem contar as suas histórias, aventuras e preocupações”, sublinha Inês Sanches.
Apesar de estar situada na Rua de São Bento, em Lisboa, a FEMINA já conhece outros trajectos. O projecto já se deslocou até Aveiro para desenvolver dois workshoops de iniciação à mecânica de bicicletas só para mulheres. Ambas as iniciativas esgotaram rapidamente. Existe, por isso, a vontade de chegar a outros pontos do país. “Gostaríamos de chegar a mais pessoas que estão, de certa forma, nas margens deste papel de género e que poderiam trazer muita discussão e a diversidade que eu considero essencial para este projecto”, ambiciona a fundadora.
A caminhar controladamente para a concretização desse objectivo, Inês Sanches garante estar orgulhosa do percurso percorrido até ao dia de hoje. “É algo que nos dá muito prazer fazer todos os dias”, remata.
(Jornalista do “Campeão” no Porto)