criando filhos melhores para o mundo
fev 2018 | nº 29 | Belo Horizonte
QUANDO AS
vacinas
doem no bolso Pais fazem nova TURMA DE AMIGOS
depois de adultos Timidez na infância:
é preciso se preocupar? Rossandro Klinjey:
‘Você não pode garantir QUE SEU FILHO SEJA FELIZ’
Você já fez o
para casa?
Tarefas extraclasse na educação infantil são excessivas ou valiosas? Veja dicas para tornar o momento da lição mais fácil
4nesta edição
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seções Primeiras palavras Nossos leitores www.canguruonline.com.br Eles dizem cada coisa Missão Instagram Corrente do bem Comprinhas Moda, por Roberta Paes Canguru viu e curtiu Mundo Kids
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Viagens, modo de usar, por Luís Giffoni Para ler com seu filho, por Leo Cunha Na Pracinha, por Flávia Pellegrini Artigo, por Júlio Machado Padecendo no Paraíso, por Bebel Soares Artigo, por Jacqueline Leite Dantas Crônica, por Cris Guerra
Reportagens 24
Comportamento | Como ajudar a criança a lidar com a timidez
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Educação | Fazer para casa é desafiador; veja os principais prós e contras da atividade extraclasse
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Entrevista | Palestrante e escritor, Rossandro Klinjey defende o resgate da disciplina
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Relacionamentos | Graças à amizade entre os pequenos, pais fazem novas turmas de amigos depois de adultos
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Nova tarefa: lições enviadas pela escola podem empolgar os pequenos, como Rafaela, de 4 anos
Saúde | Quanto custa pagar por todas as vacinas indicadas pelos pediatras e não disponíveis no SUS
Com vergonha: O que fazer quando seu filho é tímido, como a Clarice, de 4 anos
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[3]
Bons laços: as amigas Fabíola e Michele se aproximaram graças à amizade entre os filhos
Nossa capa Theo, 7 anos, é filho de Lívia de Melo Santos e Teotônio Araújo. FOTO: CARLOS HAUCK
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FOTOS: [1] WILLIANS MORAES; [2][3] CARLOS HAUCK
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Uma mãe malacostumada (e de mudança!) MEU FILHO MAIS velho sempre foi muito independente com as tarefas da escola e me deixou mal-acostumada. Tenho pouquíssimas lembranças de estar sentada ao lado dele para fazer o “para casa”, como dizem os mineiros*. Eu simplesmente não entendia por que o assunto era um verdadeiro pesadelo para outras mães, motivo de tanta reclamação nas rodinhas na porta do colégio. Quem pagou o pato foi o caçula. Quando chegou a vez dele, eu estava completamente despreparada para a missão e entrei em pânico. Hoje entendo o que muitas mães sofrem. Chego a suar frio. Não quero perder a paciência com ele – mas perco quase sempre. E vez ou outra me pego fazendo exatamente o que os professores desaconselham: na ânsia de concluir a tarefa, faço eu mesma o que deveria ser feito pelo meu menino. As atividades extraclasse são um dos principais desafios da aprendizagem e um tormento na casa de muitos leitores da Canguru. Até os especialistas em educação divergem sobre o tema, e não só no Brasil. Por isso, nesta volta às aulas, o escolhemos como pauta para nossa reportagem de capa. A repórter Rafaela Matias ouviu educadores de diferentes linhas para levantar os prós e os contras de cada uma, além de apresentar os projetos que tentam facilitar a missão para os pais – e para as crianças! Todos os meses, os jornalistas da Canguru (espalhados por três cidades – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) se empenham muito para oferecer aos pais um cardápio de leituras úteis, abordando questões que afetam as famílias no dia a dia. Neste fevereiro, em especial, o time brilhou. E quero parabenizá-lo publicamente. Acho que fizeram uma edição de presente para mim... Explico: é que, por causa da Canguru, estou de mudança com minha família de Belo Horizonte para São Paulo. E vou começar tudo de novo. Precisamos nos adaptar a novas escolas (estou morrendo de medo da “tarefa”), fazer novos amigos (meus filhos são um tantinho tímidos), tomar vacinas (o surto de febre amarela não estava nos nossos planos). Como mãe, tanto quanto diretora de conteúdo, eu adorei esta edição da Canguru. Espero que vocês também gostem muito. Boa leitura!
Ivana Moreira, DIRETORA DE CONTEÚDO ivana@canguruonline.com.br
* NOTA DA EDITORA: A Canguru se preocupa muito em respeitar os regionalismos de cada cidade que recebe a revista. Por isso, nossa capa de São Paulo destaca a “lição de casa”, a capa do Rio é sobre o “dever de casa”, e a de Beagá, sobre o “para casa”. Queremos que nossos leitores se reconheçam e se identifiquem sempre!
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FOTO: GUSTAVO ANDRADE
primeiras palavras
Ivana e os filhos Pedro e Gabriel
Canguru
Clubes
Amo esta revista. Adoro todas as matérias, amo a página da Cris Guerra... Sensacional! — Fabiana Fabi, de Belo Horizonte
Amei a matéria sobre os melhores clubes da cidade [capa da edição de dezembro da Canguru São Paulo], porque atualmente, apesar da falta de tempo, ainda temos boas opções de clubes. As crianças necessitam praticar atividades físicas, assim como a família. #soumãecanguru — Vilma Farias, de São Paulo
Devemos exaltar o conceito de “família”. Nossa base familiar está muito abalada por falta de diálogos. Nós (pais, avós, tios) devemos ser mais presentes na educação e acompanhar o desenvolvimento das crianças, começando por nós, dando exemplos de respeito e dignidade pelo próximo. Assim, teremos um Brasil e um mundo melhores. — Firmiano Antonio Que a Canguru entre neste ano com o sucesso de sempre! — Tatianne Barcelos
Masha e o Urso Na era da tecnologia e de desenhos violentos, Masha e o Urso é o melhor desenho dos últimos tempos para crianças menores. Minha neta ama, pois a Masha é levada, mas, ao mesmo tempo, doce, solidária e amiga. Parabéns pela reportagem. — Regiane Pinheiro
Brincar é fundamental FALE COM A CANGURU Amei a reportagem “Brincar é fundamental” [capa da revista de janeiro], principalmente o trecho que fala que alguns transtornos são causados pela permanência das crianças em computador, celular e televisão. As crianças e os adultos precisam sair de casa e se divertir em parques! — Aliny Cristina Rodrigues Souto
Enquete Canguru
Corrente do bem
Beijo na boca dos filhos: o que você pensa a respeito?
Entre em contato pelo e-mail redacao@canguruonline.com.br ou deixe um comentário em nossas redes sociais.
Muito obrigada por nos ajudar, mostrando a todos e divulgando nosso Projeto Estrelinha. — Vera Assaf Barbosa, que mora no Rio de Janeiro
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Ingrid Guimarães Assisti ao filme Fala Sério, Mãe! com minhas filhas e demos muitas risadas!!!! — Jane Gusmão Freitas, de Belo Horizonte
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É uma demonstração de carinho Sou contra
Fique de olho em nossas novas enquetes!
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Elas são sempre divulgadas em nossa página do Facebook: www.facebook.com/canguruonline
DIRETOR EDITORIAL: Eduardo Ferrari DIRETORA DE PROJETOS ESPECIAIS: Ivana Moreira
A Canguru é uma publicação mensal da Scrittore Comunicação e Editora Ltda. CNPJ 12243254/0001-10 CONSELHO EDITORIAL: Cristina Moreno de Castro, Eduardo Ferrari, Guilherme Sucena, Ivana Moreira, Márcio Patrus, Suellen Moura e Thiago Barros DIRETORA DE CONTEÚDO: Ivana Moreira EDITORA-CHEFE: Cristina Moreno de Castro
NATURAL COMO ANDAR DESCALÇO
EDITORAS: Luciana Ackermann e Sabrina Abreu REPÓRTER: Rafaela Matias ESTAGIÁRIAS: Catarina Ferreira e Gabriela Willer
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EDIÇÃO DE ARTE: Aline Usagi e Filipe Cerezo PROJETO GRÁFICO: Chris Castilho (Mondana:IB)
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REVISORA: Thalita Braga Martins
NÃO ALTERA A MARCHA #noehbaby
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EDITORA MULTIMÍDIA: Juliana Sodré
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NA T U R AL
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Bebel Soares, Cris Guerra, Leo Cunha, Luís Giffoni e Roberta Paes FOTÓGRAFOS: Carlos Hauck, Gustavo Andrade e Ricardo Borges DIRETOR DE COMUNICAÇÃO E MARKETING: Thiago Barros GERENTE DE COMUNICAÇÃO E MARKETING: Camila Capone Durante
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DIRETORA COMERCIAL: Suellen Moura (suellen@canguruonline.com.br) EQUIPE COMERCIAL: Dária Mineiro (daria@dmineiro.com.br), Simone Dianni (simone@canguruonline.com.br) e Roberto Pinheiro (robertopinheiro@rcpinheiro. com.br)
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ATENDIMENTO A LEITORES E ESCOLAS PARCEIRAS: Simone Dianni (simone@canguruonline.com.br)
EQUIPE ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA: Roberto Ferrari (roberto@ canguruonline.com.br) e Gabriela Linhares (gabriela@canguruonline.com.br)
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* Distribuição gratuita para as escolas parceiras Canguru, uma rede de instituições particulares de educação infantil que se comprometem a enviar a revista aos pais de seus alunos na mochila dos estudantes. A relação das escolas parceiras em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo pode ser consultada por anunciantes. Artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, a opinião da revista e de seus responsáveis.
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Evento
Em 2018, Encontro Canguru fica maior e melhor A primeiras palestras gratuitas serão já no mês de março
Fernanda Takai lotou o auditório em um dos eventos gratuitos da Canguru
UMA MANHÃ DE palestra para pais e mães, com especialistas renomados, sobre temas relacionados à criação dos filhos. Esse era o formato dos encontros da Canguru, mas sempre com um único convidado. Agora, cada evento vai reunir vários palestrantes, em um seminário de grande porte, que ocorrerá semestralmente, com direito a participação de colunistas da BandNews e do Metro, parceiros da Canguru, e mediado pela diretora de conteúdo da Canguru, Ivana Moreira. Ah, e sempre
gratuito para nossos leitores, claro! Anote na agenda as datas do primeiro Encontro Canguru de 2018:
» 10 de março, em São Paulo » 17 de março, no Rio de Janeiro » 24 de março, em Belo Horizonte Todas as informações sobre o evento estarão disponíveis, em breve, em nosso site: www.canguruonline.com.br, onde você também pode fazer sua inscrição para participar.
Tire suas dúvidas
Febre amarela ganha cobertura atenta da equipe da Canguru O time de repórteres da Canguru está se esmerando em encontrar as melhores e mais confiáveis informações sobre a febre amarela, doença que voltou a preocupar moradores da região Sudeste do Brasil. Além de trazer as notícias sobre as campanhas de imunização, também preparamos um tiradúvidas completo sobre a vacina, com as respostas para as perguntas mais comuns. Quando a Prefeitura de Belo
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Horizonte decidiu vacinar também as grávidas para conter o surto, ouvimos o infectologista responsável pela decisão para saber dos riscos. No site www.canguruonline.com.br você encontra o que há de mais completo sobre a doença, e as informações não param de chegar! Acompanhe conosco, ajude a compartilhar esse serviço de utilidade pública – e fuja da boataria.
Novidade
Blogueira vai escrever para os professores A partir deste mês, o site da Canguru terá em seu time a psicóloga, coach e mentoring Danielle Gomes, que vai escrever com foco nos professores, mais ainda que nos pais e nas mães, já contemplados pelos outros blogueiros. “Acredito que, através da formação que damos para as crianças, temos a oportunidade de contribuir para a construção de um mundo melhor”, disse ela à Canguru. Concordamos, Dani! Acompanhe o blog Educação Emocional quinzenalmente, às terças-feiras, no site www.canguruonline.com.br e em nossas redes sociais (facebook.com/canguruonline e instagram.com/ canguruonline).
NA BANDNEWS FM, às terças
e sextas-feiras, às 13h40, com reprise às 16h17, e também aos sábados e domingos, ouça a coluna de Ivana Moreira, diretora de conteúdo da Canguru. Ouça as gravações em www.canguruonline.com.br/radio.
POR Cristina
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Moreno de Castro
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DA d esse ouvi do!
JÚLIA, de 8 anos, é filha de Carolina Braga de Carvalho e Guilherme Reciolino de Figueiredo.
GIOVANA, de 5 anos, é filha de Alessandra Rosa C. P. Petrassi e Wagner S. Petrassi.
Nunca vi o jacaré da a. Ele Lagoa da Pampulh ido! tím ito deve ser mu
Nossa! Andar com sapato de salto é mais difícil que andar de bicicleta sem rodinha!
Se apon eu parar tar lá para pi temp s, eu per c o de aula. o o
PIETRO, 6 anos, é filho de Daniella Emediato de Freitas e Alyson Marden de Freitas.
Mamãe, amanhã eu não vou pra escola, porque estou com dor diarreia.
LUCAS, de 4 anos, é filho de Débora P. de C. Esposito e Murilo Esposito, querendo repetir a dose depois que teve de faltar à aula por estar com febre.
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Se seu filho também diz pérolas, envie a frase para o e-mail redacao@canguruonline.com.br.
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
THIAGO, de 6 anos, é filho de Julian Couto e Bruno Kalil.
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As madrinhas das nossas crianças foram homenageadas na missão do mês. Cada foto transbordou de carinho e amor pelas queridas “dindas”. Veja mais imagens em nosso site e em nossas redes sociais. @tcpandrade Belo Horizonte / MG
Que amor!! A pequena Gabriela, de 3 anos, abraça sua madrinha Virgínia, de 33.
@robsmartins Belo Horizonte / MG
Vithor, de 4 anos, agarradinho à madrinha Izilda, 54, que mora em Lagoa Santa (MG).
Próxima missão: Brincando de escolinha Em clima de volta às aulas, vamos fotografar os pequenos escrevendo no quadro ou na lousa, dando aula aos bonecos ou brincando de professores com os irmãozinhos? Poste a foto em sua conta no Instagram com a hashtag #canguruonline e ela pode sair na próxima edição da revista Canguru e em nossas redes sociais.
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FOTOS: REPRODUÇÃO INSTAGRAM
Que foto maravilhosa! Rafael, de 5, abraçando a dinda Heloísa, de 45 anos.
POR Gabriela
Willer
Que tal virar uma fada madrinha? O CHILDFUND BRASIL atua no nosso país desde 1966. São 40 organizações espalhadas por aqui, promovendo o desenvolvimento social sustentável através de tecnologias sociais para crianças, adolescentes e jovens. Cerca de 42 mil crianças em situação de vulnerabilidade, privação e exclusão são apadrinhadas e recebem apoio da ONG. Saiba como apadrinhar uma delas e veja como fazer doações ou mesmo como se juntar à equipe de voluntários pelo site www.childfundbrasil.org.br.
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Transformando crianças com doenças Fundada em 1991 pela doutora Vera Cordeiro, a Associação Saúde Criança inspirou trabalhos em sete Estados do país, visando à transformação social das famílias de crianças com doenças crônicas e vítimas da desigualdade social, agindo em cinco áreas: saúde, moradia, cidadania, renda e educação. São dois anos de acompanhamento individual, em que as necessidades e as potencialidades das crianças são analisadas para que consigam adquirir autonomia. Saiba como você pode apoiar em www.saudecrianca.org.br.
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EDIÇÃO Cristina
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Quente ou frio Com os filhos de volta à escola, os pais retomam a rotina de preparar a merenda do dia a dia. E os dispositivos térmicos ajudam a conservar a temperatura das bebidas geladinhas e dos alimentos quentinhos para a hora do recreio ficar mais apetitosa. MOCHILETE E LANCHEIRA DA TILIBRA
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
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FOTO: ARQUIVO PESSOAL
moda
Volta às aulas Ufa, as aulas voltaram (e os pais agradecem)! Sabemos que cada colégio tem seu uniforme e suas regras com as roupas e os acessórios. Sendo assim, pensei em selecionar alguns itens básicos que complementam o traje escolar e que, ao mesmo tempo, não podem faltar no guarda-roupa das crianças. Kit de meias, tênis, sapatilhas, blusas básicas, jaqueta jeans, legging... Confira as dicas.
Roberta Paes
PURO ESTILO O pequeno Arthur Vasconcelos Neves, de 5 anos, calça um tênis que vai ficar charmoso com qualquer tipo de uniforme.
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Vocês podem imaginar uma jaqueta jeans com o conforto do moletom? Então, esta linda jaqueta é de moletom jeans. Tem que ter no guarda-roupa sempre!!!
Algumas escolas pedem para as meninas usarem sapatilha preta ou marinho, mas tem que ter também uma sapatilha bailarina mais especial. Olha essa de verniz da Pampili. Que linda!
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EDIÇÃO Camila
Capone
O QUE ESTÁ ROLANDO DE ÚTIL, DIVERTIDO OU CURIOSO NA WEB E NAS REDES SOCIAIS
Não se esqueça de mim
IMAGENS: [1] REPRODUÇÃO / FACEBOOK NOW THIS; [2] FACEBOOK MOLLI VANARSDALEN REBER; [3] REPRODUÇÃO / FACEBOOK MEU MUNDINHO
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Gincana do ovo – menino ou menina?
PREPARE SEU LENCINHO, pois esta história vai mexer com você (assim como mexeu conosco). Alexander Vasquez perdeu sua pequena irmãzinha, Ava, aos 4 meses. No dia em que ela faria 1 aninho, o pequeno fez uma serenata ao som de Remember Me, da animação Viva – A Vida É Uma Festa. Ele não sabia que estava sendo filmado pela mãe. Derreta-se com essa linda homenagem, usando nosso QR CODE Canguru ou pelo link bit.ly/ naoesquecademim.
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Todo mundo se lembra da clássica brincadeira no programa do Silvio Santos – você quebrava um ovo na cabeça e, se estivesse vazio, ganhava. Mas, se estivesse cheio… Um casal resolveu usar essa brincadeira para revelar o gênero de seu bebê. E aí? Menino ou menina? Façam suas apostas e assistam a esse hilário chá de revelação usando nosso QR Code Canguru ou pelo link bit.ly/ ovomeninomenina.
Pequenos peixinhos
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E quem disse que bebês não sabem nadar? Essa turminha vai te provar o contrário. Assista aos pequenos peixinhos usando nosso QR Code Canguru ou pelo link bit.ly/ pequenospeixinhos.
apresenta
Responsável Técnico: Dr. Cláudio M. M. Cerqueira - CRM 6888
A LISTA DE materiais escolares é grande. Livros, lápis, cadernos, giz de cera. Parece que vai faltar tempo para tanta coisa. E, no meio da correria, muitos pais se esquecem de um dos itens mais importantes: a caderneta de vacinação. Não há uma vacina específica que deva ser tomada anualmente antes do início das aulas, mas é preciso ficar atento às doenças que possuem maior risco de transmissão durante o período letivo e precisam ter as doses atualizadas para evitar o contágio na escola. “As doenças mais propensas a surtos e epidemias são aquelas que possuem fácil transmissão por contato. Doenças diarreicas e respiratórias, por exemplo, passam muito facilmente de uma criança para outra, por causa da proximidade nas salas de aula e pelo hábito de levar a mão à boca”, explica o médico infectologista Adelino de Melo Freire Jr., gerente de vacinas do Laboratório São Marcos. Por isso, são indispensáveis as vacinas contra o rotavírus e contra a gripe. Mesmo não tendo um potencial de gravidade tão grande, as doenças podem impactar muita gente pelo alto índice de transmissão e devem, sim, ser prevenidas. Uma doença bem mais grave e igualmente transmis-
sível é a meningite. Ela pode causar sequelas e até levar à morte, portanto os pais não devem negligenciar a vacinação. “A transmissão da bactéria também se dá pelo contato. Uma criança pode ser portadora do pneumococo ou do meningococo e não desenvolver a doença. Assim, corremos o risco de que ela transmita para outra mais propensa a desenvolver, se não estiver imunizada”, explica Freire Jr. A vacina hexavalente, que protege contra seis tipos de doenças, e também as doses que previnem a hepatite A, transmitida por água e alimentos contaminados, também são essenciais para os pequenos que passarão a frequentar instituições de ensino. “São doenças que acontecem ao longo do ano todo, mas que têm o risco de transmissão aumentado pelo convívio no início do ano escolar. As crianças estão vindo de vários ambientes e passam a conviver todas juntas, aumentando as chances de transmitirem doenças umas para as outras” arremata o médico, destacando ainda que, quanto maior a taxa de vacinação nas escolas, menores serão as chances de vírus ou bactéria circularem por ali, o que também acaba protegendo os pequenos que por algum motivo não podem ser vacinados.
Prevenir é um ato de amor.
Atualize o cartão de vacinas do seu filho.
FOTO: DEPOSITPHOTOS
Proteção na volta às aulas
POR Cristina
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Moreno de Castro e Juliana Sodré
foi quanto caiu o índice de nascimentos no Brasil de 2015 para 2016, segundo dados divulgados recentemente pelo IBGE. Uma das suspeitas é que os casais tenham adiado a decisão de ter filhos por causa do surto de microcefalia associado ao zika vírus. Até então, desde 1990, os nascimentos vinham só crescendo no país.
Cartoon 100% brasileiro na Disney ESTREOU EM JANEIRO, na Disney Junior, na Disney Channel e na TV Cultura, o desenho animado 100% brasileiro Bubu e as Corujinhas. Indicada para crianças de até 5 anos, a primeira temporada está dividida em 26 episódios de 11 minutos cada. Bubu vive com os irmãos Biel e Bonie em uma floresta, onde fazem descobertas e organizam aventuras. “Foi pensando em um conteúdo para os meus dois filhos que tivemos a ideia de produzir um desenho em que as mamães pudessem confiar, pois cada detalhe é pensado e cuidado por outra mamãe”, diz Bruna Biasotto, diretora executiva e pesquisadora pedagógica da brasileira Up! Content Co., que desenvolve o conteúdo da série.
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FOTOS: [1] DIVULGAÇÃO; [2] DEPOSITPHOTOS; ILUSTRAÇÃO: FREEPIK
‘Síndrome da creche’ Pais e mães sabem como é comum ver os filhotes, especialmente aqueles com menos de 2 anos, adoecerem no período de volta às aulas. É virose pra cá, conjuntivite pra lá – isso para não falar dos piolhos. “Crianças de até 3 anos têm o risco de desenvolver a ‘síndrome da creche’, que acomete os pequenos com infecções repetidas, como faringites, otites, amigdalites, entre outras”, diz Milton Orel, otorrinolaringologista do Hospital CEMA, de São Paulo. Ele explica que os anticorpos ainda estão em processo de formação nas crianças muito pequenas, e, com o sistema imunológica ainda imaturo, é comum que adoeçam com frequência nos primeiros anos de vida escolar. Além disso, com o verão vêm também as praias e as piscinas, que favorecem os casos de otite, o ar-condicionado, que contribui para as alergias respiratórias, e as viagens para lugares diferentes, que podem abrir a porta para verminoses. Vale anotar as dicas de sempre para minimizar as doenças:
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» Manter a carteira de vacinação em dia » Prolongar a amamentação o máximo possível » Tem uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes
» Tomar banhos de sol diários » Praticar atividades físicas » Lavar as mãos regularmente
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eu já fui
criança No dia 5 deste mês, ele faz 26 anos. Mas, apesar da pouca idade, NEYMAR DA SILVA SANTOS JÚNIOR, o Neymar Jr., já tem muita história para contar. O pai do garoto Davi Lucca, 6, viu o futebol [3] entrar na sua vida antes mesmo de nascer, já que seu pai, também chamado Neymar, trilhou inúmeras fases do esporte. Já aos 2 anos, sua mãe, Nadine, deu-lhe de presente sua primeira bola, e, de lá pra cá, o craque passou a colecioná-las. Aos 3 anos, Neymar já demonstrava coordenação e intimidade com a bola enquanto brincava. Mas foi com 6 anos que ele chamou atenção de um dos descobridores de talento mais famosos do Brasil enquanto brincava nas arquibancadas. Revelado pelo Santos em 2009, Neymar se tornou o principal futebolista em atividade no país. Em 2013, foi vendido ao Barcelona em alta, onde ajudou a conquistar a Liga dos Campeões da UEFA 2014/2015. Foi, também em 2015, finalista do prêmio Bola de Ouro da FIFA (melhor jogador do mundo). Em 2017, se tornou a transferência mais cara da história do futebol mundial, com sua venda ao Paris Saint-Germain por € 222 milhões. Entre muitas de suas marcas, Neymar é hoje um dos futebolistas brasileiros que mais balançaram as redes pela Liga dos Campeões da UEFA, estando a apenas três gols de Kaká, o primeiro colocado. Seu nome também aparece como quinto jogador a marcar mais vezes com a camisa da Seleção Brasileira, atrás apenas de Pelé, Ronaldo, Zico e Romário.
FOTO: [3] REPRODUÇÃO
Neymar Jr.
4Comportamento
Vamos falar sobre timidez? Traço da personalidade, fase ou um momento delicado? Seja qual for a circunstância, é preciso estar atento ao jeito introspectivo na primeira infância POR Luciana
Ackermann
É UM CLÁSSICO: diante de desconhecidos ou pessoas não muito próximas que tentam interagir, os pequenos se escondem atrás das pernas da mãe ou do pai ou cobrem o rosto. Timidez, introspecção, somente uma fase ou sinal de algo que precisa ser revisto? Afinal, o que está por trás da timidez? É um problema ou apenas uma característica? A Canguru buscou profissionais renomados para esmiuçar o assunto. Lidia Rosenberg Aratangy, psicanalis-
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ta e psicóloga especializada em família e casais, autora de mais de 20 livros – entre eles, Pais que Educam Filhos que Educam Pais –, por exemplo, afirma que a introspecção é um componente da timidez e todos os humanos carregam-na na bagagem em menor ou maior intensidade. “Uma série de circunstâncias pode trazê-la à tona. É preciso prestar atenção no dia a dia da criança, pois em qualquer fase pode aparecer a dificuldade de se relacionar com o outro, o que nem sempre é um problema. Um
FOTO: CARLOS HAUCK
Sem sorriso fácil: a pequena Clarice, 4, costuma se agarrar às pernas da mãe, Bruna Costa, quando se sente insegura
mundo só de pessoas extrovertidas seria insuportável”, afirma Lidia. O psicanalista Francisco Daudt faz coro: “A introspecção é uma bênção. Nesses tempos de crianças viciadas em companhia, a criança quieta que brinca sozinha tem tudo para se tornar um futuro leitor, na mais introspectiva e solitária – além de educativa – das brincadeiras”. Mas ele também ressalta que, nos primeiros seis anos de vida, a timidez significa medo. “A criança está temendo o mundo fora de seu ninho, ‘estranha’ os outros, agarra-se à saia da mãe, chora em situações fora de seu habitat. Esses são sinais de que ela está superprotegida. Seria como uma criança que não tolerasse outro sabor que não o docinho do leite materno, que cuspisse o alimento de sal: ela não está sendo atendida em sua capacidade de ampliar sua zona de conforto, de transitar mais no mundo”, diz o psicanalista, que receita: “Criar um filho é dosar ninho e voo: falta de ninho machuca o pássaro; excesso, aleija e incapacita o pássaro para o voo. Uma criança muito temerosa, muito tímida, está tendo excesso de ninho”. Em seu mais recente livro, A Criação Original: A Teoria da Mente segundo Freud, da editora 7Letras, Daudt trata do desenvolvimento do psiquismo ao longo da primeira infância, abordando o surgimento de prazeres próprios de cada etapa, como o prazer da boca, o de ver e o de ser visto – e é justamente para esse último que a timidez poderá se tornar um problema. A psicóloga e psicanalista Danielle Matos, professora da Faculdade FEAD/MG e coordenadora da Palavra e Cia – Centro de Especialidades Humanas, afirma que “a timidez é um problema na primeira infância quando inibe ou impede o encontro com o mundo – as pessoas ou os objetos, que podem parecer ameaçadores aos olhos da criança”. Segundo a psicóloga, a inibição de forma acentuada, na primeira infância, pode prejudicar a autoestima e a capacidade de simbolizar e criar. Em casos em que a timidez esteja mais preeminente, Lidia Aratangy diz que é crucial observar bem o que está se passando com a criança. “Conversar com a escola, tendo-a como aliada, buscar descobrir o que vem causando essas dificuldades de relacionamento com os outros, mudanças que possam gerar sentimento de inadequação, se está sofrendo bullying”, pontua a psicanalista, completando: “Até mesmo a alta expectativa dos pais pode resultar em uma alta dose de medo na criança”. 4
Mudanças de escola Foi justamente a mudança de uma escola menor, com 12 alunos, onde todos se conheciam, para uma instituição maior, com crianças maiores, que fez com que a timidez de Julia, de 7 anos, se tornasse uma preocupação real. Em poucos meses na nova escola, Aline Rondas, mãe da menina, recebeu um chamado da coordenadora. Levou um baque, afinal, até então, Julia tinha sido uma excelente aluna. Lá, ouviu relatos de que a pequena, que “sempre foi muito na dela”, não se envolvia nas atividades. Depois da conversa, ela foi matriculada na turma de jazz na própria escola, onde foi se enturmando com as meninas mais velhas e ficando feliz com a conquista. Outra coisa que a fez melhorar muito foi a ideia própria de criar um canal no YouTube. No começo, só gravava as bonecas, mas, com o tempo, passou a aparecer diante da câmera. “Ela é falante, se expressa muito bem, mas a timidez atrapalhava”, resume Aline, que já conversou com
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Sem receita fácil Para o psicanalista Francisco Daudt, realmente, terapia, cursos de teatro ou mudar de escola são recursos extremos, necessários para casos extremos: “Na maioria das vezes, basta mostrar a disponibilidade das linguagens do mundo, como as brincadeiras de grupo, os esportes de grupo, o teatrinho da escola. Nada forçado, tudo como opção disponível. É preciso transmitir à criança a noção de que ela pode experimentar, que não precisa ‘performar’, que tudo é só uma brincadeira, nada é tão a sério ou definitivo”. Lidia também vê com ressalvas o senso comum de matricular a criança tímida numa escola de teatro como se houvesse receita fácil: “Pode até ser pior. Ter um cachorro pode ajudar mais, ou convidar amigos, aos poucos, para brincar em casa”. Outros recursos para o desenvolvimento social e emocional dos filhos apontados pela psicanalista incluem levar a criança ao teatro para assistir a peças, incentivar e orientar nos jogos coletivos e não
FOTO: CARLOS HAUCK
Conectada: Julia, de 7 anos, enfrentou a timidez com ajuda de um canal de YouTube que ela mesma teve a ideia de criar
a filha sobre o costume da escola de trocar os alunos de classe a cada novo ano letivo. “É uma iniciativa interessante, pois ajuda as crianças a exercitarem o convívio com outros alunos”, aprova a mãe. Apesar da tão pouca idade, a pequena Clarice, de 4 anos, também tenta vencer a timidez em algumas das atividades escolares cotidianas, de acordo com os relatos que a mãe da garotinha, Bruna Rocha Barbosa do Carmo Costa, recebeu da professora. A pequena sempre foi tímida, desde bebê, e muito apegada aos pais e a familiares mais próximos. “Nunca foi uma criança de sorriso fácil, está sempre desconfiada, não consegue responder o próprio nome e a idade quando perguntam, se agarra às nossas pernas e esconde o rosto. Muitas vezes, tentamos forçar a barra para ela interagir e perder a timidez, cumprimentar as pessoas, porém estamos aprendendo em conversas com a pediatra que isso não é o correto e passamos a nos policiar”, diz Bruna, que também é tímida e, por enquanto, não pretende procurar ajuda profissional, porque quer esperar a filha crescer um pouco mais. “Acredito que a timidez não está atrapalhando o desenvolvimento cognitivo e social dela e, quem sabe, seja algo transitório”, analisa a mãe.
trocar o convívio humano dos pequenos por eletrônicos. Danielle Matos concorda com seus pares: “Em algumas crianças, essas manifestações de timidez cessam rapidamente, com o manejo do ambiente e das condutas educacionais das pessoas responsáveis pelos cuidados dela”, explica, complementando que há situações em que é necessário um acompanhamento psicoterapêutico. A psicanalista destaca ainda que um local com muitas restrições de barulho e circulação ou condutas educacionais muito autoritárias pode dificultar o aparecimento da autoconfiança e da espontaneidade da criança. “São aconselháveis normas educacionais mais democráticas, motivadoras dos gestos espontâneos de criação e apropriação do mundo pela criança, além de ações não invasivas, que não coloquem a criança em exposição, obrigando que ela seja mais extrovertida sem que se sinta segura para isso. Ou seja: respeito à personalidade da criança e às defesas que ela criou, no seu encontro com o mundo que, a princípio, para ela, pode parecer ameaçador”, conclui.
Sinais de
alerta
Veja algumas demonstrações de que a criança está tendo dificuldades relacionadas à timidez:
» Ansiedade » Rebaixamento de humor » Aparente desinteresse por objetos e pessoas que, de modo geral, chamariam sua atenção
» Autoprivação de situações lúdicas, preferindo a zona de conforto junto à família
Fonte: Psicóloga e psicanalista Danielle Matos, professora da Faculdade FEAD/MG e coordenadora da Palavra e Cia - Centro de Especialidades Humanas.
Educação Início empolgante: Rafaela, de 4 anos, adorou começar a receber lições de casa e ganhou incentivo da mãe
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A hora do pesadelo
Para casa
Motivo de divergências em vários países, as atividades extraclasse estão entre os maiores desafios da aprendizagem. Entenda os principais argumentos pró e contra e conheça projetos que tentam facilitar a missão
FOTO: WILLIANS MORAES
POR Rafaela
Matias
“CRIANÇA TEM É que brincar”. “Elas precisam estudar para garantir um futuro”. “Quanto mais cedo aprenderem a ter disciplina, melhor”. “Na minha época não tinha nada disso”. O que não faltam são crenças, opiniões, conselhos e movimentos a favor e contra a famigerada lição de casa. Apesar de ser motivo de debate em todo o mundo, há pouco consenso a respeito. No pódio de campeões de ensino em quase todas as pesquisas sobre educação mundial – como o índice global publicado pela ONU –, a Finlândia é um dos países responsáveis por arraigar a discussão. Por lá, as crianças entram para a escola aos 7 anos e só começam a receber lições de casa por volta dos 16, como aponta a OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), responsável por coordenar o PISA (Programme for International Student Assessment), uma rede que avalia o desempenho escolar em vários países. Em 2012, o então presidente francês François Hollande defendeu o fim das atividades e também intensificou os questionamentos, afirmando que as tarefas deveriam ser feitas em sala de aula e que os pais não teriam tempo para acompanhá-las em casa. Mesmo assim, o dever continua sendo uma realidade em quase todos os países do mundo. No Brasil não é diferente. Embora não exista uma determinação oficial do
governo federal, as lições de casa são amplamente adotadas tanto na rede pública quanto nas escolas particulares e constituem uma das principais pontes na relação família-escola. Para Tatiana Camargos Lamego, especialista em neuroeducação pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro e voluntária na Associação Educore – Movimento Pedagogicamente Responsável, o dever de casa assume um papel importante no Brasil e sua função aqui não deve ser comparada à desempenhada em outros países. “Se a criança está na escola só em um turno, será que ela vai ter criatividade em um contexto de cidades grandes e apartamentos para criar atividades construtivas durante todo o outro período? Isso pode até funcionar em países onde as praças são bem-estruturadas e a segurança pública permite passear livremente, mas acho que, no contexto brasileiro, o dever tem mais vantagens do que desvantagens”, defende ela, acrescentando que as lições constituem uma das atividades capazes de ocupar o tempo livre e canalizar as energias com algo útil e construtivo.
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O investimento para entrar no eixo e ajudar o filho a atender as expectativas escolares, porém, não descarta uma certa insatisfação com o sistema atual. Para Lívia, o problema não está na lição de casa, mas sim no excesso de conteúdo passado cada vez mais cedo. “Lembro que, na idade do Theo, eu estava pronta para o beabá. Hoje, os meninos dessa idade precisam dominar conteúdos de ciências e geografia. Acho um pouco exagerado”, defende. De acordo com a educadora e psicopedagoga Kátia Chedid, conselheira [1] do CORE (Comunidade Reinventando a EducaEm boa companhia: Vítor, de 4 anos, tem a opção de fazer o dever na ção) e professora no MBA de Gestão Escolar na própria escola, mas sua mãe prefere que ele faça em casa Universidade de São Paulo, o grande problema é que as lições de casa não têm cumprido o seu papel, já que as escolas muitas vezes confundem os valores A especialista também é diretora da Bem Família Tuque as tornam realmente efetivas. “A lição não precisa de toria, projeto especializado em acompanhamento escoquantidade, mas de intencionalidade. Ela pode ser uma lar e cursos de incentivo ao ler, ao escrever e ao estudar pesquisa, uma leitura, pode ser um exercício para fixar a (conheça mais projetos e ferramentas que facilitam a hora matéria e também antecipar um novo conteúdo. Os prodo dever no quadro ao final da reportagem), e explica que fessores precisam ter criatividade para propor coisas que uma rotina de estudos não precisa ser sacrificante e pode sejam significativas. É melhor uma atividade que gere inser introduzida de forma prazerosa na vida da criança. teresse do que muitos exercícios maçantes”, afirma. Um dos pequenos acompanhados por ela, Theo de Melo Mãe da pequena Maitê de CasAraújo, de 7 anos, descobriu isso. Com dislalia – mestro Mariano, de 8 anos, a geómo distúrbio que faz com que o personagem Cebolinha, loga Taís Castro concorda. da Turma da Mônica, troque os sons das letras “r” e “l” “Sinto que a quantida–, o pequeno passou por uma série de dificuldades ande pode tornar a tates de ser diagnosticado e precisou de ajuda para criar refa cansativa, por sua rotina de estudos. Com acompanhamento de uma isso a minha filha fonoaudióloga e duas professoras particulares, ele tamrende mais em bém ganhou da mãe uma coleção de jogos pedagógicos dias com menos que estimulam o aprendizado e garantem boas risadas. exercícios. Como “Jogamos durante uma hora antes de começarmos o defazemos o dever ver, assim ele associa aquele momento a uma coisa boa e à noite, também entende que estudar pode ser prazeroso”, conta a mãe, a precisamos posconsultora de negócios Lívia de Melo Santos.
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FOTO: [1] RICARDO BORGES; [2][3] CARLOS HAUCK
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tergar o banho e a ida para a cama se o volume for muito grande, o que não é bom”, afirma. Há ainda algumas interferências da irmã mais nova, Maísa, de 4 anos, que começou a receber lições no ano passado, mas ainda não precisa fazê-las diariamente. “Ela quer sempre participar do momento com a gente, mas acaba nos distraindo um pouco. Eu me divido entre orientar a mais velha e cuidar para que a mais nova não atrapalhe. Enfim, tenho certeza de que não sou a única a passar por isso”, conta. Já na casa da engenheira paulistana Fabiana Rewald Augelli, a chegada das lições de casa Muito dever: Maitê, de 8 anos, às vezes recebe um volume muito no ano passado, quando a pequena Rafaela tigrande de tarefas e é interrompida pela irmã mais nova nha apenas 3 anos, não trouxe esse tipo de dor de cabeça para os pais. Na verdade, a empolgação da aludos pais que trabalham fora e de crianças que precisam na foi tanta que a mãe decidiu investir nesse momento. ser estimuladas ao livre brincar. No Instituto da Criança, “Para este ano, já comprei estojo, caderno, todo o mateem Belo Horizonte, as lições diárias começam somente rial para ela ter suas próprias coisas e gostar de fazer a lia partir do 1º ano do ensino fundamental. Antes disso, ção com capricho. Isso contribuiu até para a organização quando os pequenos ainda dependem muito dos adulda nossa casa. Gostamos muito da experiência”, relata. tos, são apenas ocasionais. Além disso, as atividades não levam mais do que 30 minutos para resolução nessa fase. “Consideramos fundamental o aluno ter tempo disponíO meio-termo necessário vel para brincar, praticar esportes, desenvolver outras haQuase unânimes na defesa do dever e de sua imporbilidades, como música e dança, e até mesmo para ficar tância, as escolas também tentam se adaptar à realidade à toa”, afirma Margarida Figuerêdo, diretora pedagógi[3] ca da escola. O tempo estimado para resolver as lições enviadas pelo Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, também é curto: de 40 a 60 minutos. Somente a partir do 3º ano há deveres diários, com uma atividade de língua portuguesa e outra de matemática. Pesquisas que envolvem temas trabalhados em história, geografia e iniciação às ciências são eventuais. Mesmo em quantidades menores, a escola não descarta a importância dos Momento especial: Theo, de 7 anos, brinca com a mãe antes do dever para associá-lo a uma atividade prazerosa
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exercícios. “São ótimas formas de fixar os conteúdos e desenvolver as habilidades trabalhadas em sala, além de ajudar a criar o hábito do estudo diário”, diz Symone Mara Menezes Oliveira, coordenadora pedagógica do 2º ao 5º anos do ensino fundamental. A escola onde estuda o pequeno Vítor Vianna Arruda, de 4 anos, decidiu por uma estratégia diferente. Localizado na Zona Sul do Rio de Janeiro, o Colégio Excelência reserva um horário para as crianças fazerem o dever na própria escola, caso os pais não possam acompanhar em casa. Mesmo assim, a mãe de Vítor prefere estar junto com o filho para perceber o seu desenvolvimento. “Gosto que ele faça em um horário tranquilo, sem correria, e que a gente possa conversar sobre a atividade, saber o que ele achou. É uma boa forma de perceber seu de-
senvolvimento e saber o que ele gosta ou não gosta na escola”, explica Bruna Vianna, que também é professora e dá aulas no Instituto Nacional de Educação de Surdos do Rio de Janeiro. Parece que Bruna está no caminho certo. Tatiana Camargos Lamego reforça que a hora do dever é um ótimo momento para os pais fazerem uma avaliação geral dos filhos. “Eles são testados não só na parte cognitiva, mas também em suas habilidades. É um campo de oportunidade para observar a concentração, a parte física e motora, a leitura, a condição visual e muitas outras coisas”, acredita. Para isso, porém, é preciso que o ambiente seja propício ao aprendizado: com boa iluminação, ventilação adequada, cadeira confortável e poucas distrações – eis um dever de casa que os pais precisam fazer.
Uma forcinha extra
Conheça quatro ferramentas e projetos criados para ajudar pais e educadores Bem Família Promove a tutoria de acompanhamento escolar e cursos de incentivo ao ler, ao escrever e ao estudar para alunos até o 5º ano, com atendimento individual ou em grupos em domicílio. Lançou a Escola de Dever de Casa, que oferece reforço escolar e oficinas pedagógicas em condomínios residenciais. www.bemfamilia.com.br.
Instituto NeuroSaber Disponibiliza materiais informativos gratuitos no site e também em vídeos no YouTube, voltados para pais e educadores, acerca do desenvolvimento, do comportamento e da aprendizagem da criança e do adolescente. www.neurosaber.com.br.
Socratic O aplicativo, gratuito e disponível para Android e iOS, permite que os pais (ou o próprio estudante) tirem a foto de uma pergunta da lição ou escreva a questão e instantaneamente receba explicações, gráficos, vídeos e ajuda passo a passo.
SOS Educação Oferece dicas semanais no site e nas redes sociais, com curadoria das educadoras e especialistas em neurociência cognitiva Taís e Roberta Bento, autoras do livro Socorro, Meu Filho Não Estuda!. Além disso, oferece palestras e um atendimento individual feito por Skype. www.soseducacao.com.br.
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Anote aí!
Dez dicas para facilitar a hora da lição de casa
1. Inaugurar com alegria
Assim que a escola começar a enviar o dever, trate a tarefa de forma agradável, amena. Isso não significa, porém, que ela será feita sem responsabilidade.
2.
Criar um ambiente de estudo
Pode ser no quarto, na sala, na copa. O importante é que seja um espaço de silêncio, limpo, bem-iluminado, sem brinquedos espalhados, com uma boa cadeira e uma mesa que o apoie adequadamente. Isso também cria no aluno uma noção de espaço organizacional.
3. Manter os eletrônicos longe
É importante que a TV esteja desligada, e os celulares e tablets, fora de alcance. Qualquer distração é capaz de tirar o foco da atividade, e os eletrônicos podem ser tentadores.
4.
Prestar atenção à postura
E não apenas à física, na cadeira. Dedicar-se à atividade e não ficar levantando toda hora também faz parte disso. No início, a criança pode não gostar, achar chato, mas logo vai perceber que, quanto menos ela levanta, mais rápido faz.
5. Entender que é um contexto
Além do cérebro, que vai pensar nas melhores respostas, é preciso estar atento ao corpo, que vai escrever, e às emoções, que vão canalizar a energia para a atividade. Se um dos pilares não está funcionando bem, o restante será comprometido.
6. Caprichar no material
Organizar os cadernos, colar adesivos, apontar os lápis. Isso não é desperdício de tempo. Todo esse cuidado físico também traz a emoção de querer estudar.
7. Monitorar, não fazer
A lição precisa ser monitorada, mas os pais não devem estar o tempo todo sentados ao lado da criança. É importante observar, acompanhar e oferecer um canal para tirar dúvidas, mas jamais fazer por ela.
8. Permitir um pequeno intervalo
A receita é: cinco minutos de intervalo para cada 30 minutos de foco total. Negocie isso com a criança e exija que o tempo seja cumprido. Um pequeno intervalo ajuda que o cérebro seja oxigenado e ganhe energia para se concentrar novamente.
9. Não querer solucionar todas as dúvidas
Os pais não precisam ensinar o conteúdo, esse é um papel da escola. Peça apenas que a criança explique o porquê de não estar conseguindo resolver a atividade. Se não for possível ajudar, mande a dúvida de volta para o professor. Isso faz parte do aprendizado!
10. Usar um cronômetro
Estipule um tempo para a lição. Isso ajuda na organização e ensina a criança a observar o seu horário. Se ela terminar antes, pode aproveitar o tempo para ler um livro ou fazer uma margem caprichada.
Fonte: Taís Bento, coautora do livro Socorro, Meu Filho Não Estuda!, Tatiana Camargos Lamego, especialista em neuroeducação pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro e voluntária na Associação Educore – Movimento Pedagogicamente Responsável, e Kátia Chedid, conselheira do CORE (Comunidade Reinventando a Educação) e professora no MBA de Gestão Escolar na Universidade de São Paulo.
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Entrevista
Você não pode garantir que seu filho
será feliz
Palestrante e escritor, Rossandro Klinjey fala sobre como os pais estão prometendo o que não podem cumprir e defende o resgate da disciplina
POR Juliana
Sodré
ROSSANDRO KLINJEY É palestrante e escritor, psicólogo clínico, mestre em saúde coletiva e doutor em psicanálise. É autor do livro best-seller As 5 Faces do Perdão e do mais recente Help! Me Eduque. Paraibano de Campina Grande, faz sucesso nas mídias sociais, nas quais tem mais de 400 mil seguidores e 20 milhões de visualizações em seus vídeos sobre educação. Na TV, faz parte do quadro de convidados do programa Encontro com Fátima Bernardes. Nesta entrevista para a Canguru, Klinjey falou sobre os desafios da educação, o empoderamento precoce das crianças, o uso exacerbado das tecnologias e a necessidade do resgate da disciplina. Canguru – Existe uma educação ideal para nossos filhos?
ROSSANDRO KLINJEY – Não existe uma receita de bolo. A gente sempre quer a fórmula mágica, mas o que existem são atitudes que aumentam a tendência de você conseguir bons resultados na educação de um filho. Existiam coisas que funcionavam muito bem na educação no passado, e outras que funcionavam
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“Eu posso fornecer para meu filho um conjunto de competências para ele suportar a vida como ela é, e não a garantia de que sua vida será feliz.” muito mal. A família era rígida, pouco democrática, a mulher era submissa, tinha pouco diálogo, mas havia disciplina, ordem e respeito. A geração atual quis mudar isso tudo e destruiu aquele modelo, inclusive no que funcionava. Hoje, a família tem muito diálogo, democracia maior, o pai começa a participar mais do processo educativo, mas, muitas vezes, se perde uma coisa que foi fundamental antes, que é disciplina, ordem e respeito. Você se esquece de que ser amigo do filho é abrir mão de uma posição única e exclusiva de pai e de mãe. Você diz que o exemplo é a única forma de educar. Como fazer isso se a atual geração de pais vem de uma educação com falhas?
Não existe pai ou mãe que criará um filho sem trauma e perfeito. Essa angústia tem que cessar. A
FOTO: RONDINELLE DE PAULA
maior busca dos pais hoje é uma coisa que não existe: eu quero que meu filho seja feliz. Então, você faz o quê? Seu filho não tem frustração, seu filho nunca escuta “não”. Tem gente que brinca com o filho e não o deixa perder. Não pode ser assim, no jogo se ganha e se perde. O casamento acaba, a relação sexual acaba, você faz tudo, cria uma redoma. Mas um dia ele vai ter que sair para o mundo e, quando vier o primeiro “não” da vida, ele não terá desenvolvido competência emocional para suportar a frustração. Isso resulta em depressão infantil, ansiedade infantil e suicídio. Coisas que eram descritas como casos de exceção psicológicos e psiquiátricos e hoje estão virando epidêmicos. Então, se você tiver que errar, copie o modelo que você recebeu dos seus pais. Você acredita que a tecnologia e as redes sociais são um fator positivo ou negativo para as crianças?
As redes sociais e os smartphones são neutros em si, a grande questão é o uso que a gente está dando a eles. Uma pesquisa da Universidade Harvard mostra que, se você estiver estudando e seu celular receber
uma notificação, só de você olhar para ela, não precisa nem abri-la, seu cérebro leva oito minutos para voltar ao nível de concentração anterior. Crianças e adolescentes que vão para a escola com smartphone, que dormem com o smartphone e depois têm que ter professor de reforço, [é dito que] têm déficit de atenção, que têm que tomar Ritalina, e não é nada disso. E as crianças menores de 6 anos? Elas não têm telefone, mas usam os dos pais.
Eu acho que a questão é diminuir o uso de smartphones e tablets, porque eles diminuem o [desenvolvimento] cognitivo das crianças. Para você ter uma ideia, o QI médio mundial, desde que foi medido, sempre aumentou. Em 2016, pela primeira vez na história, diminuiu. O que eu aprendo se eu passo seis, sete horas dentro de uma rede social, ou no WhatsApp, fazendo vídeos para o Snapchat ou o Insta Stories? Nada! As discussões são rasas, sem profundidade, repetitivas, padronizadas. Você pede a um jovem hoje para ler um texto de 30 páginas e ele pensa que tem que ler a Bíblia. Quando conseguem ler, não conseguem entender. E isso não é só no Brasil, não.
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E isso é atribuído a quê?
Ao uso exacerbado da tecnologia, que entrega tudo muito pronto. Eu não tenho que pensar. Um texto de estudo é uma leitura parada na sua frente, que exige um tempo de concentração, que depois você tem que interpretar e ter o julgamento crítico. Isso exige um esforço que as pessoas não conseguem mais ter. Qual é o maior desafio dos pais de hoje? E qual é o maior perigo para essa nova geração?
Acho que primeiro é você dar a extrema liberdade achando que isso é politicamente correto. Tem pais que não entram no quarto dos filhos, que não olham o que eles estão vendo na internet, porque acham que isso é invasivo. E é com essa atitude politicamente correta, que na verdade é uma omissão, que pedófilos do outro lado contam. Porque isso é uma omissão; crianças e adolescentes precisam da vigilância de adultos, eles não têm autonomia para fazer escolhas. Você tem que ir dando autonomia conforme a maturidade vai vindo. Hoje existe o empoderamento precoce de crianças e adolescentes. E quando você dá poder a quem não tem maturidade e habilidade, você cria um déspota. Eu também conheço pessoas dessa geração altamente focadas que leem, que estudam e que também têm rede social, que conseguem brincar. Ou seja, os pais têm que modular tudo. O nome do seu último livro, Help! Me Eduque, seria um alerta para os pais? Um pedido das crianças para que não fiquem sem orientação?
Claro, porque, depois que dá tudo errado, as crianças sabem o prejuízo que tiveram. O pai educador é aquele que está preocupado em criar competências, em criar um indivíduo para enfrentar a vida, sobretudo com competência emocional. Não adianta colocar o menino numa escola bilíngue, no alemão, no balé, no xadrez e não estar junto, não escutar, não brincar, não aprender a ouvi-lo, não ser uma companhia agradável para ele. Essa é a função prioritária da
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“Hoje existe o empoderamento precoce de crianças e adolescentes. E quando você dá poder a quem não tem maturidade e habilidade, você cria um déspota.” família, que é a construção das habilidades emocionais dos filhos e da criação de resiliências. Palavras como resiliência e gratidão parecem estar na moda. Por quê?
Porque as pessoas deixaram de ter isso, o que tem gerado grandes prejuízos. O que é gratidão? É você olhar para sua família cheia de defeitos, mas perceber que, sim, também há virtudes. Eu não vou ficar criticando nem cobrando dos meus pais as incoerências que qualquer ser humano comete, mas vou agradecer porque, apesar dessas inconsistências, eles fazem tudo o que podem para a minha vida ser melhor que a deles. Gratidão e resiliência significam dizer: eu agradeço pela vida que eu tenho e desenvolvo competências para suportar a vida como ela é. Qual outro sentimento ou valor que precisa voltar?
Disciplina. A gente confundiu disciplina e autoridade com autoritarismo e força. Renato Russo tem até uma música aparentemente incoerente e incompatível em que diz: “disciplina é liberdade”. Para as pessoas, disciplina parece prisão. Mas se você tem disciplina para construir sua vida, depois você terá liberdade para fazer dela o que você quiser. A liberdade precisa da disciplina, como o amor precisa do respeito. A gente inverteu, a gente foi para o final e perdeu o começo – e não está funcionando. A missão da Canguru é criar filhos melhores para o mundo. Para você, o que deve ser feito para criar filhos melhores para o mundo?
Não prometa o que você não pode dar – a felicidade –, mas prometa dar o máximo que você pode para que seus filhos tenham competência de viver a vida da melhor forma possível.
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4Relacionamentos
Na vida é tão bom ter amigos Graças à amizade entre os pequenos na escola e no condomínio, pais se aproximam e encontram uma nova turma depois de adultos Abreu
NA AGENDA DE telefone do casal Guillermo Tângari e Cristina Diniz de Oliveira Tângari, o modo de gravar o nome dos amigos é um pouco diferente do convencional. O economista Luiz Fernando Pinto de Carvalho virou o “pai da Mari”. E a professora Tânia Ferrori ficou conhecida como “mãe do Marcelinho”, enquanto o executivo de vendas Nagel Ruy Hainzenreder é o “pai da Yasmin”. Todos eles moram num mesmo condomínio
na Vila Andrade, Zona Sul de São Paulo. Mas engana-se quem pensa que eles se aproximaram por causa do endereço comum. “Vivemos no mesmo local há 14 anos e foi só depois da chegada da Yasmin que fizemos amizade. Até então, éramos isolados no prédio”, conta Nagel, casado com a dona de casa Kelly Lourenço Cardoso. Mineiros radicados em São Paulo há dez anos, o publicitário Guillermo e a pedagoga Cristina são pais
Turma unida: moradoras de um mesmo condomínio, Patrícia, Kelly e Tânia ficaram amigas graças às crianças, Mariana, Yasmim e Marcelo
FOTOS: [1] WILLIANS MORAES; [2] VIVIANE SARAIVA / ARQUIVO PESSOAL
POR Sabrina
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de Nina, 9 anos, e Maitê, 5 anos. Entre o parquinho e a piscina, as duas ficaram muito ligadas à vizinha Mariana, de 7 anos. Não demorou até que o casal se tornasse próximo dos pais da [2] amiga das filhas: Luiz Três mosqueteiros: Maria Valentina e os gêmeos Pedro e Lucas se tornaram inseparáveis, assim como suas mães Fernando e a advogada Patrícia Souza Persici Carvalho. A turma formada por eles conta com mais de do papel de mãe e de pai, assim como é ideal que o casal 20 casais, incluindo a professora Tânia Ferroni e Mário preserve a intimidade, mantendo momentos só para os Ferroni, analista de sistemas, pais de Marco, 19, Mário, dois, sem incluir a criança. “Essa intimidade não é só a 21, e Marcelo, de 8. Eles são unânimes em dizer que do sexo, mas principalmente aquela que parte da conforam unidos pelos pequenos. versa entre adultos, o marido, a mulher, seus amigos”. Com os dois primeiros filhos já grandes, Tânia se viu Quando os pais dos amigos de sua filha viraram seus um peixe fora d’água na terceira gravidez. “As conheciamigos, Luiz Fernando viu a oportunidade de falar sobre das que compartilharam comigo assuntos sobre a matero desenvolvimento infantil, mas também de extrapolar nidade das outras vezes já não estavam tão interessadas esse tema: “Costumo brincar que, nas festinhas de criannesse universo”, conta. Foi no condomínio que ela coças, é preciso ter duas coisas: diversão para elas e cerveja nheceu mães de crianças com idade parecida com a do para a gente. Assim podemos sentar e conversar sobre caçula, com quem pôde trocar impressões sobre a terpolítica, economia, futebol e até fazer networking”. ceira gestação: “Aqui fazemos tudo junto”. E Marcelinho completa a frase: “É por isso que eu amo a minha vida”. Esforço em prol da amizade A interação com pais e mães, que começou enquanO casal de médicos cariocas Thais Jordão e Rafael to as crianças brincavam no playground, deu origem a Spínola são pais de Maria Valentina, de 10 anos, e Maria uma turma tão sólida que fica até difícil convidar alguém Guilhermina, de 5, e deram início a uma nova turma além dos vizinhos nas festinhas de aniversário. “A solude amigos na porta da creche. “Acho que esse tipo de ção é levar um bolo para o colégio e, no condomínio, relação surge entre pais de crianças na primeira infância. fazer uma festa só com as famílias daqui, que são quase Depois que minha filha cresceu e mudou de escola, não 60. Ninguém acredita quando conto”, diverte-se ela. experimentei nada parecido”, diz Thais, referindo-se à Ao menos uma vez ao mês, a turma se reúne para um primogênita. “Os pais dos amiguinhos das minhas filhas churrasco. “Também surgiu, desse grupo, companhia se tornaram meus amigos mais chegados”, conta. Uma para quem quer jogar futebol ou tênis dentro do próquarta-feira por mês, Thais abre as portas da sua casa em prio condomínio”, explica Nagel. Eles ainda aproveitam Copacabana para receber as mulheres do grupo. “Nesse para curtir juntos a ampla programação cultural de São encontro, os pais ficam com as crianças. Cada convidaPaulo. Com e sem as crianças. Entre os programas feitos da costuma levar um espumante, conversamos, rimos, sem os pequenos, Cristina Tângari lembra do show da cantamos no karaokê”. Os homens do grupo também cantora Baby do Brasil e do musical Cantando na Chuva, têm sua vez: mensalmente, se reúnem para uma noite de que as mães viram no ano passado. chope, sem as mulheres nem as crianças. Para a psicóloga Rosangela Corrêa, a convivência A engenheira Viviane Saraiva é presença certa nos com amigos é importante para o indivíduo se ver além encontros de quarta-feira. Ela é mãe dos gêmeos 4
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FOTO: CARLOS HAUCK
Pedro e Lucas, 10 anos, dois dos melhores amigos de Maria Valentina. A relação do trio serviu para estimular a intimidade entre as mães, Thais e Viviane, numa relação que as duas apostam que vai durar para sempre. “No começo, 100% das nossas conversas eram sobre as crianças. Hoje, quase 100% são sobre a gente, com brincadeiras e assuntos de mulher”, conta a engenheira. A amizade é importante em todas as fases da vida, desde a infância. É relacionando-se com os amigos do prédio ou da escola que uma criança aprende a respeitar o outro ou a dividir o brinquedo. “A convivência social estimula o desenvolvimento infantil”, afirma a psicóloga Rosangela Corrêa. Como os pequenos não têm autonomia para se deslocarem pela cidade e visitar os amigos, ela aponta como desejável o comportamento dos pais que estimulam esses encontros. É o caso das belo-horizontinas Michele Grugel, mãe de Victor Hugo, de 6 anos, e de Fabíola Funghi, mãe de Isabela, de 5 anos, e de Eduardo, de 3. Colegas na creche, Victor Hugo e Isabela se tornaram inseparáveis na
hora do recreio e sempre falavam um do outro quando chegavam em casa. Diante de uma amizade forte assim, as duas mães fizeram questão de estimular o relacionamento. Há três anos, as crianças não estudam mais juntas, porém os encontros continuam garantidos pelas mães, que também viraram amigas. “Enquanto os meninos brincam na praça ou comem um espetinho, a gente acaba falando um pouco da gente também”, conta a professora Fabíola, casada com o engenheiro Antônio Augusto Guimarães Vieira. “De vez em quando, um visita a casa do outro. É bom receber a amiguinha do meu filho e é bom saber que ele está em segurança na casa de uma família que conheço”, avalia a corretora Michele. Quando a amizade dos filhos se estende aos pais, também há a vantagem de os pontos de apoio se multiplicarem. “Em cidades grandes, os pais têm dificuldade de deixar seus filhos brincarem com outras crianças por se sentirem inseguros. Mas, se duas mães se conhecem bem, fica mais fácil permitir esse tipo de interação tão importante”, conclui a psicóloga Rosangela Corrêa.
Ponto de apoio: Michele e Fabíola mantiveram a amizade entre elas e os encontros entre os filhos mesmo depois que eles mudaram de escola
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4Saúde
Elas valem ouro Saiba quanto custa a caderneta ideal de imunização no Brasil e por que algumas vacinas não são fornecidas pelo SUS Matias
DURANTE A INFÂNCIA, há um passeio recorrente e difícil de esquecer: a hora da vacina. São tantas que a criançada já espera agoniada pela próxima dose. E os pais também sofrem com a picada dolorosa nos filhos – e com os (altos) custos da caderneta de vacinação ideal, indicada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Embora a saúde pública deixe a desejar em muitos pontos, é preciso dar o crédito quando se trata da vacinação brasileira. O país tem uma das melhores coberturas vacinais do mundo e oferece pelo Sistema Único de Saúde (SUS) todas as doses recomendadas pela OMS. “Quando o Programa Nacional de Imunização foi criado, milhares de crianças brasileiras morriam ou desenvolviam sequelas em decorrência de doenças como sarampo, poliomielite, difteria, coqueluche, meningite, tuberculose e tétano. Elas foram controladas pela cobertura vacinal eficaz que é feita aqui”, afirma o médico José Geraldo Leite Ribeiro, secretário do Departamento de Vacinas da SBP, professor da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana de Minas Gerais (FASEH) e membro do Conselho de Ética e da Comissão de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Um exemplo é o que ocorreu com a meningite de sorogrupo C, que registrava milhares de casos em menores de 5 anos anualmente no país. Em Minas Gerais, nos últimos cinco anos, apenas uma criança dessa faixa etária foi infectada por essa doença. O investimento para obter números satisfatórios é alto: R$ 3,9 bilhões por ano. Pode parecer suficiente para co-
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brir os custos da imunização completa, mas não é. As vacinas passam por processos de estudo, teste, licenciamento e análise. É um longo caminho até que cada uma delas esteja disponível no mercado. Quando o produto demonstra eficácia, ele custa caro e é acessível a poucos países – nunca para a população toda; às vezes, apenas para grupos de risco. “Nenhum país do mundo oferece todas as vacinas com cobertura integral. Nem teria produto suficiente para abastecer o mercado, mesmo que os governos quisessem. A saúde pública define as vacinas de acordo com a viabilidade coletiva disso, em termos de custo-benefício”, explica o médico Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da SBP. Segundo ele, o Brasil possui um programa de vacinação completo e avançado, com mais de 36 mil salas para atender a demanda nos postos de saúde e nos hospitais. No entanto, existem doses de difícil produção ou até mesmo mais modernas – com menos efeitos colaterais, por exemplo – que custam muito caro e são inviáveis para a introdução em larga escala. É por isso que, segundo o especialista, o caderno de vacinação indicado pelos pediatras nem sempre bate com a caderneta do Plano Nacional de Imunização. “A SBP faz a recomendação do ponto de vista da saúde individual, do que é melhor para cada criança, independentemente do custo disso. Fica a critério dos pais determinarem quanto querem e podem investir”, explica. De fato, é um investimento. O valor mínimo encontrado pela Canguru para a cobertura vacinal completa é de R$ 5.226* – com base na pesquisa de preços em 13 laboratórios particulares de Belo Horizonte (levantados em janeiro pelo site Mercado Mineiro), três no Rio de Janeiro e três em São Paulo. O total de doses recomendadas das duas vacinas que não são oferecidas pelo SUS em nenhuma circunstância, ACWY e meningocócica B, sai a R$ 1.788 e R$ 2.240, respectivamente. Outras, como a
ILUSTRAÇÃO: FREEPIK
POR Rafaela
pneumocócica, até são oferecidas na rede pública, mas em uma versão diferente daquela recomendada pelos pediatras. Com quatro doses, a vacina disponível na rede particular garante uma proteção maior ao imunizado e está disponível pelo valor mínimo de R$ 900 no total. Em outras situações, o SUS oferece apenas uma dose, mas o recomendado é tomar um reforço. Esse é o caso da imunização contra hepatite A, cuja dose extra custa pelo menos R$ 108 (veja mais informações no quadro abaixo, que você pode recortar para comparar com seu calendário vacinal). O investimento dos pais era ainda maior até 2017,
quando o público-alvo do calendário vacinal do SUS foi ampliado para quatro vacinas – hepatite A, tetraviral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela), meningocócica C e HPV para meninos –, contemplando também as crianças. Além dos preços altos, nem sempre é fácil encontrar as doses. A ACWY, a vacina contra a meningite B e a contra a hepatite A, por exemplo, estavam em falta em vários laboratórios pesquisados em janeiro. Em pleno surto na região Sudeste, a vacina contra a febre amarela também começou a acabar nas clínicas particulares. Mas, nos postos de saúde públicos, ela continuou garantida.
IDADE VACINA
AO 2 3 4 5 6 7 12 15 18 4 A 6 NASCER MESES MESES MESES MESES MESES MESES MESES MESES MESES ANOS
BCG ID
Hepatite B
DTP/DTPa
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ANOS
OFERTA DO SUS
ANOS
dT/dTpa
VALORES (CADA DOSE)
Oferecida pelo SUS
Gratuita
O SUS oferece a 10, e o indicado é a 13
A partir de R$ 225
O SUS oferece a C, mas não a ACWY
A partir de R$ 298
SUS não oferece
A partir de R$ 560
Hib
VIP/VOP
Pneumocócica conjugada
Meningocócica C e ACWY conjugada Meningocócica B recombinante* Rotavírus
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Influenza
A vacina oferecida pelo SUS é diferente e possui A partir de R$ 190 apenas duas doses
SCR/Varicela/SCRV
Hepatite A
Oferecida pelo SUS
Gratuita
O SUS não oferece a segunda dose
A partir de R$ 108
Oferecida pelo SUS
Gratuita
Febre amarela
A partir dos 9 meses
HPV
Meninos e meninas a partir dos 9 anos
Dengue
Para crianças e adolescentes a partir de 9 anos com infecção prévia
Não está disponível no SUS * Quantidade de doses depende da idade em que a criança começou a ser vacinada, podendo variar de duas a quatro. Nesse caso, valor final pode ser menor. Observações: Preços pesquisados no dia 24 de janeiro de 2018. Foram analisados 13 laboratórios de Belo Horizonte, com base na pesquisa feita pelo site Mercado Mineiro, e os laboratórios Fleury Medicina e Saúde (SP), Lavoisier (SP), Delboni Auriemo (SP), Lâmina Medicina Diagnóstica (RJ), Prevcenter (RJ) e Prophylaxis Clínica de Vacinação (RJ). Os dados sobre as vacinas não oferecidas pelo SUS foram obtidos por meio da checagem do calendário vacinal disponibilizado pelo Ministério da Saúde e sua comparação com o calendário fornecido pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). A checagem foi realizada com o auxílio do médico José Geraldo Leite Ribeiro, secretário do Departamento de Vacinas da SBP, professor da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana de Minas Gerais (FASEH) e membro do Conselho de Ética e da Comissão de Calendários da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
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FOTO: GUSTAVO ANDRADE
viagens, modo de usar
Esqui nos Alpes italianos
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20 km de extensão, atingem 4.000 m de altitude, têm cabines protegidas do vento, desníveis que chegam a quase 2 km. Poucos locais no mundo oferecem tanto. Para a garotada e seus pais, pacientes professores ensinam as manhas do esporte. Tomar aulas, particulares ou coletivas, é fundamental para evitar acidentes. Há, ainda, snow parks, onde as crianças se divertem com trenós, tobogãs e “esquibunda”. E também não faltam atividades para o pós-esqui. Entre os melhores resorts do Norte da Itália, a pouco mais de uma hora de carro de Turim, estão BreuilCervinia, com sua pequena vizinha Valtournenche, na fronteira com a Suíça, onde se esquia ao lado do Monte Cervino, que é o símbolo dos chocolates Toblerone. Cervinia, uma das estações mais altas da Europa,
permite conexão com Zermatt e possui o charme das cidades alpinas. Mais para o oeste, na fronteira com a França, Courmayeur e La Thuile são outras duas boas dicas, debaixo do Monte Branco, o pico mais alto da Europa. Courmayeur é mais sofisticada, enquanto La Thuile é mais aconchegante. Em qualquer um desses lugares, a neve faz o espetáculo e o esqui traz a paixão. Basta esquiar uma vez, e o esporte gruda no nosso corpo e na mente. O gosto pelo voo e pela falta de gravidade é viciante. O melhor dos vícios. Para a vida toda.
Luís Giffoni é cronista, romancista e palestrante. Autor de 26 livros, tem nas viagens uma de suas paixões. Nelas aprende a diversidade do mundo e das pessoas, experiência que acaba traduzindo em suas obras. Neste espaço, dá dicas sobre como aproveitar o mundo com os pequenos. giffoni@canguruonline.com.br
FOTO: PIXABAY
O ESQUI ENTROU para o roteiro de férias dos brasileiros. Entrou para ficar. Uma pena que não tenhamos neve no Brasil. Por isso, estamos invadindo resorts mundo afora, nos Estados Unidos, Europa, Chile, Argentina e na Nova Zelândia. Antes tido como elitista, o esporte conseguiu adeptos pela adrenalina e pelo exercício físico que proporciona, pela beleza das paisagens onde é praticado, pelo relax mental que provoca, pela oportunidade de reunir a família em torno de uma atividade que diverte o dia inteiro. Sem falar na delícia que é sentir o gostinho do voo do pássaro ou a ausência de gravidade enquanto descemos as montanhas. As crianças descobrem isso bem cedo. Aos 4 anos, deslizam com desenvoltura pelas encostas. Demoram muito pouco para dominar a técnica. Com dois ou três dias de treino, os esquis já viraram parte de seu corpo. O resto é curtição. Uma região pouco explorada pelos brasileiros é o NORTE DA ITÁLIA, nos Alpes, onde não falta neve e o visual apaixona. Janeiro e fevereiro são o auge da estação, que se prolonga até o final de abril. Os preços dos meios de elevação, da acomodação e comida são convidativos. Em qualquer uma das cidades, uma boa opção é alugar um apartamento para toda a família. Nas montanhas, sobram atrações: algumas pistas têm
Luís Giffoni
FOTO: GUSTAVO ANDRADE
para ler com seu filho
Pai pra cá, mãe pra lá
leo cunha e os filhos, Sofia e André
Muita gente pensa que a literatura infantil não deve falar de assuntos tristes ou pesados, como morte, traumas, política, religião etc. Ora, o escritor – e o artista, em geral – pode e deve falar sobre o que quiser, e quem não gostar tem sempre a opção de pegar outro livro na estante. Neste mês, separei dois livros que lidam com a separação dos pais, tema ainda considerado tabu na literatura infantil, e o fazem de maneiras fascinantes, embora quase opostas.
Em O Reino Partido ao Meio, Rosa Amanda Strausz escolhe um caminho mais alegórico, levando o que uma separação significa na vida da criança a extremos. É a história de um menino que vê seu castelo dividido ao meio pela cusparada de fogo de um imenso dragão. Seu pai, o rei, ficou de um lado; a mãe, do outro. E o pior: a separação rasgou ao meio tudo o que havia na casa-castelo e na vida do menino – os móveis, os cadernos e até mesmo o cachorro! Como resolver tamanha confusão? Com leveza, paciência e boa vontade, é o que o menino – e o leitor – vai descobrir. SOBRE OS AUTORES: Rosa Amanda Strausz, carioca, é escritora, tradutora, editora e jornalista. Tem dezenas de livros publicados e vários prêmios na estante. Natalia Colombo, argentina, O REINO PARTIDO AO MEIO. Texto é ilustradora e designer gráfica.
de Rosa Amanda Strausz, ilustrações de Natalia Colombo. Cia. das Letrinhas, 2016.
DUAS CASAS. Texto de Roseana Murray, ilustrações de Elvira Vigna. Editora Abacatte, 2017.
Duas Casas lida com a mesma situação – um casal que se separa –, mas segue um caminho mais lírico e econômico. A separação é sugerida em poucas palavras – “um dia o pai atravessou a rua” –, assim como a angústia dos filhos, que sofrem para entender a divisão da família e da casa, que agora são duas: uma amarela, no mar; outra branca, na montanha. Ambas, porém, têm música, fogão a lenha e janelas azuis. É nesses detalhes – salpicados no texto de Roseana Murray e nas expressivas ilustrações de Elvira Vigna – que os meninos vão descobrir a ponte, o diálogo entre as duas casas.
Leo Cunha publicou mais de 60 livros, como Cachinhos de Prata (Ed. Paulinas), Um Dia, um Rio (Pulo do Gato) e Só de Brincadeira (Positivo). Recebeu os principais prêmios da literatura infantil brasileira, como Nestlé, FNLIJ e Jabuti. leocunha@canguruonline.com.br
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IMAGENS: DIVULGAÇÃO
SOBRE OS AUTORES: Roseana Murray, carioca, escreve poesia para crianças e adultos com a mesma maestria. Elvira Vigna, carioca, recém-falecida, era escritora e ilustradora, com vários trabalhos premiados nas duas áreas.
4na pracinha
Brincar sem brinquedo: 5 jogos para qualquer lugar RESTAURANTE, SALA DE espera de consultório, filas de banco, trânsito, trajetos de viagens: parece que estar com crianças nesses lugares é estresse na certa. Vale, então, colocar em prática algumas dicas de brincadeiras que não precisam de nenhuma estrutura para serem feitas (e ainda dispensam o celular!). De quebra, ainda ajudam a estreitar ainda mais os vínculos entre pais e filhos.
Ar, terra e mar
Elefante voa A criança fica de frente para o adulto. O adulto pergunta se determinados bichos voam. Se voarem, a criança deverá responder “voa” e fazer o gesto com os braços. Exemplos: “Galinha voa? Pato voa? Elefante voa?”.
Continue a história Você começa uma história inventada. Por exemplo: “Era uma vez, uma menina que morava numa casa amarela. Um dia...”. Em seguida, você pede para a criança continuar, inven-
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tando o que acontece na sequência. Vocês continuam a história revezando entre si.
Com meus olhinhos Escolha um objeto no ambiente onde estiver com a criança e cite a cor dele: “Com meus olhinhos, estou vendo algo verde”. A criança explora o ambiente até encontrar o objeto mencionado.
Macaco disse O “macaco”, ou mestre, é quem determina o que a criança tem que executar, segundo a regra que exige o comando completo: “macaco disse para subir a escada” ou “macaco disse
para saltitar no lugar” etc. Somente as ordens dadas pelo macaco devem ser obedecidas. Se disser somente “levante os braços”, deve-se permanecer na posição anterior, até que a ordem venha do macaco.
O Na pracinha é um movimento que incentiva o brincar na infância, próximo à natureza e em todo lugar. A ação promove eventos brincantes pela capital mineira, e suas idealizadoras, Flávia Pellegrini e Miriam Barreto, são autoras do guia Beagá pra Brincar. Na Canguru, a publicitária Flávia compartilha dicas de passeios e brincadeiras em família. www.napracinha.com.br
FOTO: DEPOSITPHOTOS
A criança, inicialmente, escolhe uma das palavras: ar, terra ou mar. Se a criança escolhe “ar”, por exemplo, o adulto (ou quem estiver participando da brincadeira) fala o nome de um animal que vive no ar. Depois a criança fala, e assim sucessivamente, até se esgotarem as possibilidades. Não vale repetir o animal. Em seguida, passará para “terra”, depois “mar”.
FOTO: DIVULGAÇÃO
4artigo | Júlio Machado
O poder da atenção na educação dos filhos
U
ma das melhores maneiras de observamos o poder da atenção nos relacionamentos humanos é quando perguntamos aos pais sobre o que lhes chama mais atenção em relação ao comportamento dos seus filhos: o bem-feito ou o malfeito? Quase sempre respondem que é o malfeito. Quando os filhos estão se comportando bem ou fazendo algo saudável, os pais costumam não dar atenção. Pensam: “não fazem mais que a obrigação” ou “é melhor não elogiar para não ficarem mal-acostumados”. Todavia, quando os filhos aprontam algo de errado, fazem birra ou desobedecem, a atenção dos pais é fulminantemente lançada sobre eles. O fato é que, dia após dia, semana após semana, repetimos a mesma fórmula desgastada de focar o malfeito a pretexto de dar aos filhos uma boa educação. Porém, a atenção é recebida pela criança como a prova de que ela existe e de que alguém se importa com ela. Ou seja, para que ela se reconheça como uma pessoa legítima, ela precisa ser vista, ouvida e tocada, mesmo que de uma forma negativa. A partir da constatação do poder que a atenção exerce sobre uma criança, nós podemos, deliberadamente, administrá-la a favor da sua educação. Dando a devida atenção aos fatos positivos, as crianças começarão naturalmente a perceber que terão muito mais ganhos em se comportarem bem. Em contrapartida, diminuindo a nossa atenção sobre os fatos negativos, elas começarão a perceber a maior desvantagem do seu mau comportamento: não ganham a nossa atenção. Dar atenção ao bom comportamento das crianças é também uma questão de treino. Uma sugestão para desenvolver esse novo hábito é a seguinte: quando elas
A atenção é recebida pela criança como a prova de que ela existe e de que alguém se importa com ela. estiverem “numa boa”, tranquilas, elogie ou participe da brincadeira delas. E sempre que as crianças se comportarem bem ou falarem uma coisa legal, foque seu olhar nessas atitudes, reforçando-as. Diga a seus filhos o quanto você gosta de vê-los agindo dessa forma, como isso é agradável e bem-vindo. Contudo, quando elas estiverem pirracentas ou bronqueadas, desvie delas o seu olhar. Dentro do possível, deixe-as com a sua pirraça, até porque elas imaginam que, agindo dessa forma, podem atingir os adultos. Elas usam a pirraça como arma, principalmente quando estão perto de outras pessoas. Existe, contudo, outro aspecto importante a ser observado quando elogiarmos nossos filhos. Devemos ter o cuidado de dirigir a nossa atenção positiva para o seu comportamento, em vez de para o seu ego. O foco deve ser direcionado para a atitude, e não para a pessoa. A educação dos nossos filhos poderá se beneficiar tremendamente dessa ferramenta poderosa da atenção. A partir do momento em que ela for usada consciente e estrategicamente, os pais terão muito mais sucesso e menos desgaste para implementar uma educação integral, que vai muito além de ter bons modos e de aprender conteúdos escolares.
Júlio Machado é educador, formado em biologia, estudioso em filosofia e pesquisador do comportamento humano. Trabalha como consultor em desenvolvimento humano e como palestrante motivacional. Autor dos livros Amor e Mudança e Histórias para Crescer, entre outros. Site: www.juliomachado.com.br.
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FOTO: MOACYR LOPES JUNIOR / MALAGUETA
padecendo no paraíso
Filho único Bebel Soares e o filho Felipe
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com você. Se a questão é a velhice dos pais, estamos tendo filhos ou garantindo cuidadores para a velhice? Segunda opção? Então junte dinheiro para pagar um cuidador ou para morar em uma casa de repouso bacana. Tenho amigas, mães de crianças atípicas, que resolveram não ter o segundo filho devido ao risco. Elas também são julgadas, dizem que têm que ter outro para cuidar do primeiro. Escolhas são muito pessoais, mas não é um peso muito grande para se colocar nas mãos de uma criança? Sabemos que o amor supera tudo, mas é difícil, racionalmente, querer passar por tudo isso. Como
não entender a amiga que não deseja correr o risco? Empatia, amigos, é fundamental. Seja qual for o número de filhos que você tem, sempre vai ter alguém para tentar te fazer mudar de ideia. Abstraia e finja demência, quem decide quantos filhos um casal vai ter é o casal. Ter filho é ótimo, mas ser mãe é foda!
Bebel Soares é fundadora da plataforma de apoio a mães Padecendo no Paraíso. Na Canguru ela fala sobre educação, saúde, alimentação, sexo, inclusão e viagens. www.padecendo.com.br
FOTO: PIXABAY
DESDE QUE RESOLVEMOS que era hora de eu engravidar, Alexandre e eu conversamos e decidimos ter filho único. Naquela época, final de 2007, o principal motivo era que o mundo já tinha gente demais. Tem muita gente passando fome, muita gente consumindo em excesso, e, num futuro não muito distante, alguém vai pagar o preço por nossa irresponsabilidade com o planeta. Em 2008, parei de tomar a pílula e começamos a tentar. Engravidei em agosto de forma natural. Tudo conforme o planejado. Naquela época, a questão financeira também era um ponto importante, e ainda é. Um filho custa muito dinheiro. Manter o padrão de vida que queremos pagando escola particular, cursos extras, plano de saúde, viagens, passeios, bons restaurantes etc. custa muito dinheiro. Algumas pessoas dizem que é egoísmo ter filho único. Isso depende mesmo do seu ponto de vista. O mundo não comporta tanta gente, estamos acabando com os recursos naturais, e é uma decisão consciente, racional, e não egoísta. Então dizem que preciso dar um irmão para o meu filho. Irmão não é presente. Irmão você dá se você quer ter outro filho. Não tem documento que garanta que irmãos vão se dar bem. Não tem documento que garanta que, na sua velhice, os filhos vão dividir os cuidados
Volta às aulas nos hospitais I
nício do ano letivo. Todos se preparando para a volta às aulas. Será que é assim para todas as crianças? Nem sempre! As enfermas podem enfrentar muitas dificuldades além daquelas impostas pela doença que enfrentam. Hospitalizações e tratamentos provocam perda, mes-
Manter-se escolarizada ajuda a criança hospitalizada a resgatar o seu lado saudável e desenvolver a ideia de continuidade necessária na luta pela vida. ma que momentânea, da convivência nos ciclos familiar e escolar e nos demais espaços de vivência da infância e mudanças na rotina e nos hábitos comuns a todos. As políticas públicas de atenção à criança vêm alavancando, nas últimas décadas, uma mudança na estrutura de atendimento e atenção a essa parcela da população em um momento especial do desenvolvimento humano. A Constituição Brasileira preconiza que a educação é um direito de todos. Entretanto, as internações prolongadas ou mesmo as limitações impostas pelas doenças e pelos tratamentos podem levar a criança a se afastar temporariamente das atividades escolares ou mesmo impedi-la de frequentar uma instituição de ensino. Essas ausências podem provocar uma ruptura entre o aluno e a vivência escolar, revelando sensação de descontinuidade e perda de habilidades já desenvolvidas. No Brasil, a legislação reconheceu por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, através da Resolução 41/1995, o “direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”. Em 2001, o Conselho Nacional de Educação instituiu Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, incluindo aí as classes hospitalares. Em 2002, o Ministério da Educação elaborou um documento de estratégias e orientações para o atendimento nessas classes. Classes hospitalares? Sim! Felizmente, cada vez mais hospitais têm se sensibilizado com a necessidade de atender a integralidade desse paciente, que não deixa de ser criança e nem aluno porque adoeceu. Essas instituições
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
4artigo | Jacqueline Leite Dantas
vêm contratando pedagogos para integrarem suas equipes de assistência e também estabelecendo parcerias com as Secretarias de Educação para viabilizar a continuidade do acompanhamento curricular durante a hospitalização e o acesso dos pequenos pacientes à cultura escolar. Manter-se escolarizada ajuda a criança hospitalizada a resgatar o seu lado saudável e desenvolver a ideia de continuidade necessária na luta pela vida. O trabalho das classes hospitalares se integra às propostas de humanização e deseja colaborar para que as pedras, como a doença, a dor e o sofrimento, se encontrem com as oportunidades da transformação e da esperança.
Jacqueline Leite Dantas é mãe, psicopedagoga e pedagoga no Hospital Infantil João Paulo II/FHEMIG.
FOTO: FLÁVIO DE CASTRO
crônica
A lista cris guerra e o filho, francisco ERA UM DIA triste, desses em que amanhece, mas continua escuro aqui dentro. Eu viajava a trabalho, a solidão que já é de praxe. Aquela angústia de avião que não decola, motor ligado e um som de espera que não cessa. Alcancei na bolsa o meu caderno pautado e comecei a buscar assunto, como quem vasculha geladeira vazia desvendando o que fazer pro almoço. Talvez fosse só pelo prazer de escrever à mão, que sempre me fez companhia.
Eu já escrevia sem pensar. A mão autônoma, como se tivesse a coreografia na cabeça.
» Imitar a dublagem do extinto Emergência 911. » Francisco jogando basquete. » Cozinhar degustando uma Stella Artois geladinha. » Livro novo chegando da gráfica. » Playlist da Fe Fadel na caixa de mensagem. » Aquele insight incrível na terapia. » Pão de queijo quentinho na esquina de casa. » Aquela frase no livro que a gente quer grifar. » O gato no meu colo enquanto trabalho. » Exercício bem feito no treino de TRX. » O sono das seis da manhã. » O último episódio editado do 50 Crises chegando numa mensagem de WhatsApp da Ju Sodré.
Sob o título “Lista de Alegrias Cotidianas”, elenquei o primeiro item:
» Geladeira lotada de frutas. » Assistir a um filme com o Fran dormindo no meu
» Escrever à mão com caneta nova.
colo.
Tão bom que eu não quis parar.
» Levar Francisco à escola (momento em que ele fala naturalmente, sem que eu precise fazer perguntas, e assim tenho uma noção de como vão as coisas).
» Dar bom-dia na rua, ganhar um sorriso. Eu já escrevia sem pensar. A mão autônoma, como se tivesse a coreografia na cabeça.
» O primeiro café expresso do dia. » Sentar no sofá da sala e deixar o corpo esquentar sob o sol da manhã que invade a casa.
» Observar a preguiça dos gatos. » Três episódios seguidos de Friends. » Encontrar um ouvinte, ganhar um abraço. » Conhecer um leitor, abraçar forte. » Abraçar o Fran, apertar o Fran. 50
Canguru
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» Lavar os pés depois de passar o dia todo andando descalça pela casa. » Massagem da Marina. » Massagem da Letícia. » Avião que pousa. » Celular com 4G. » Cama gigante num bom hotel. » Banho quente. » A Suzi me mandando mais um meme. » Descobrir que a gente precisa de muito pouco para ser feliz.
Cris Guerra é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento em uma coluna na rádio BandNews FM e a respeito de muitos outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve sobre a arte da maternidade. crisguerra@canguruonline.com.br
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