Ruas Literárias

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Artes Visuais 2010 | 2011

a poesia está nas ruas

Registrar ruas com nome de escritores. É a partir dessa idéia simples e desafiante que nascem as 14 imagens que você vê distribuídas por toda a unidade do SESC São José dos Campos. Com uma câmera na mão e muita literatura na cabeça, saímos por ruas e avenidas que homenageiam escritores importantes como Cassiano Ricardo, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Rui Barbosa, Álvares de Azevedo, Manuel Bandeira entre outros, espalhadas por vários pontos da cidade.

Ruas Literárias

a poesia está nas ruas O SESC São José dos Campos encerra o ano de 2010 com uma homenagem à cidade. Expõe por toda a unidade fotografias de cenas urbanas inspiradas por uma seleção de textos de escritores eleitos pela comunidade joseense para nomearem algumas das principais ruas e avenidas da cidade. Cinco fotógrafos de São José dos Campos, juntamente com o curador, mapearam e identificaram essas ruas batizadas com o nome de alguns dos expoentes da literatura brasileira. A partir do estudo de suas obras, realizaram os registros imagéticos dessas localidades, ou de personagens ali encontrados, de forma que a composição fotográfica dialogasse com os trechos literários selecionados.

O grande desafio estava em registrar momentos poéticos em ruas que, muitas vezes, passam despercebidas da maioria das pessoas, sem qualquer indício de que ali more a inspiração, o belo. Algumas têm apenas uma quadra, outras são comerciais, outras são grandes avenidas sem nada que nos remeta aos poetas a que estamos referenciando e reverenciando.

As imagens produzidas a partir deste olhar particular encontram-se expostas em grandes formatos por diversos espaços do SESC São José dos Campos, aproximando o público da produção fotográfica local, além de valorizar e evidenciar a literatura que escreve nossa historia.

Não voltamos só com imagens. Também voltamos com a certeza de que tais ruas escondem muito mais poesia (no sentido amplo da palavra) do que se pode imaginar. São elas que nos levam, ou melhor, nos elevam à poesia existente na obra de cada um dos escritores representados nessa exposição, mestres que nos ensinam a ver. E a ser. João Correia Filho - Curador João Correia Filho é fotojornalista com especialização em Jornalismo Literário. Atua na área desde 1993 e desenvolve projetos envolvendo literatura. Com mais de 15 anos de experiência, já se aventurou pelo universo de escritores como João Guimarães Rosa, Ítalo Calvino e João Cabral de Melo Neto. Tem nos livros a grande fonte de inspiração para suas reportagens, publicadas em diversos jornais e revistas no Brasil e no exterior.

Ruas Literárias

a poesia está nas ruas

SESC São José dos Campos Av. Adhemar de Barros, 999 - Jd. S. Dimas - CEP 12.245-010 (12) 3904 2000 - email@sjcampos.sescsp.org.br - www.sescsp.org.br

Terça a sexta, das 13h às 21h30 Sábados, domingos e feriados das 10h às 18h30

Ruas Literárias

A poesia está nas ruas


OS SUBVIVOS Na sobremesa os convivas alheios à fome de quem ficou sob a mesa. Não os seduzem os subvivos. Os subnutridos do subsolo. Os subjugados do subsolo. Todos os súditos do subsolo. E os que sub/irão ao solo pra exigir seu lugar ao sol, na feroz luta entre os vivos e os subvivos? E os que sob a mesa só roeram os ossos que sobraram da sobremesa?

(trecho do Memória de Emília)

AV. RUI BARBOSA

RUA MANUEL BANDEIRA

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Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro! De tanto ver triunfar nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. (trecho de Sinto Vergonha de Mim)

RUA GRAÇA ARANHA Jd. Esplanada

Nenhum preconceito é mais perturbador à concepção da arte que o da Beleza. Os que imaginam o belo abstrato são sugestionados por convenções forjadoras de entidades e conceitos estéticos sobre os quais não pode haver uma noção exata e definitiva. Cada um que se interrogue a si mesmo e responda que é a beleza? Onde repousa o critério infalível do belo? (trecho de A emoção estética na arte moderna)

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RUA ALVARES DE AZEVEDO

Jd. Paulista

Ó pátria, desperta... Não curves a fronte Que enxuga-te os prantos o Sol do Equador. Não miras na fímbria do vasto horizonte A luz da alvorada de um dia melhor? Já falta bem pouco. Sacode a cadeia Que chamam riquezas... que nódoas te são! Não manches a folha de tua epopéia No sangue do escravo, no imundo balcão. Sê pobre, que importa? Sê livre... és gigante, Bem como os condores dos píncaros teus! Arranca este peso das costas do Atlante, Levanta o madeiro dos ombros de Deus. (trecho do Poema Os Escravos)

ENTRADA ÁREA DE EXPOSIÇÃO

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Márcio Janousek Foi um trabalho muito interessante e gratificante, principalmente por reler autores que fizeram parte de minha infância, como é o caso do Monteiro Lobato. Com o Euclides da Cunha a dificuldade foi achar um texto e adaptá-lo à modernidade da rua que ganha seu nome. Também percebi que normalmente passamos por essas ruas e nem lembramos destes grandes escritores. Cleiton Costa Sinto-me honrado de poder participar como um dos colaboradores do projeto Ruas Literárias, pois a experiência foi gratificante e muito enriquecedora. Buscar inspiração em textos de escritores consagrados da literatura brasileira adequando-os às sutilezas e peculiaridades das ruas que levam seus nomes foi um desafio e um prazer, que me ensinou a unir literatura e fotografia de forma prazerosa e enriquecedora.

COMEDORIA

Piso Superior

Rique Fróes Um projeto desafiador, que uniu criatividade, estética e poesia. Assim foi a aventura de participar do Ruas Literárias. Redescobrir espaços que passavam despercebidos aos meus olhos e que de repente se tornaram parte de uma história, contada com textos e imagens. Agradeço a oportunidade de aprender muito como fotógrafo e como ser humano. Rodolfo Marcondes Defino essa experiência com uma palavra: desafio. Primeiramente pelo fato de ter que retratar trechos de obras de escritores brasileiros que não costumo ler, como o Machado de Assis e o Álvares de Azevedo. Além disso, tive que fotografar lugares que à primeira vista não diziam nada, com a missão de trazer boas imagens. Com o passar dos dias, a ideia tornou-se mais atrativa. Ruas, fotos e textos foram interagindo e fazendo mais sentido. Foi uma ótima experiência. Desde o contato com fotógrafos da região e o trabalho de campo, até ver que uma imagem pode dizer realmente muita coisa.

SOLÁRIO

CONVIVÊNCIA

ODONTOLOGIA

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6 INTERNET LIVRE

SALA DE LEITURA

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ELEVADOR

AUDITÓRIO

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RAMPA 1° ANDAR RAMPA TÉRREO

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Piso Inferior

10 AV. CASSIANO RICARDO

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Jd. Alvorada

João Correia Filho

Tu, ontem, Na dança Que cansa, Voavas Co’as faces Em rosas Formosas De vivo, Lascivo Carmim. Na valsa Tão Falsa, Corrias Fugias, Ardente, Contente, Tranquila Serena, Sem pena De Mim

Mal vi o teu rosto, O sangue gelou-se, A língua prendeu-se, Tremi, e mudou-se Das faces a cor. Marília, escuta Um triste Pastor. A vista furtiva, O riso imperfeito, Fizeram a chaga, Que abriste no peito, Mais funda, e maior. Marília, escuta Um triste Pastor (trecho de Marília de Dirceu)

Vl. Ema

A RIR E quando pouco a pouco Essa idéia me abate e vence-me alterosa, De amargores repleta _ eu rio como um louco... E se ela ainda dói mais, e forte e tenebrosa Soe ao último ideal da minh’alma anilar, E vencer-me de todo Então _ eu me ergo mais _ e _ desvairado o olhar _ Divinamente doudo _ Eu rio, rio muito _ até chorar!...

RUA CASTRO ALVES

Cristiano Caniche

Rique Fróes

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A VALSA

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Jd. Paulista

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Andorinha, andorinha lá fora esta cantando: -Passei o dia a-toa, a-toa. Andorinha minha canção é mais triste: -Passei a vida a-toa, a-toa (trecho de Andorinha)

RUA CASEMIRO DE ABREU

Vl. Ema

Jd. Indústrias

Cleiton Costa

Rique Fróes

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Santana

RUA TOMAS ANTONIO GONZAGA

RUA EUCLIDES DA CUNHA

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Cristiano Caniche Foi durante o projeto "Retórica Imagem" que pude entender mais do processo de criação, leitura e edição de imagens. No "Ruas Literárias" colocamos a mão na massa literalmente: fomos para as ruas transformar linhas e até entrelinhas em imagens. Foi um projeto e tanto, que mudou muito a minha visão da fotografia.

INSCRIÇÃO A vida me foi sempre dúplice, angulosa. É cordial quando nega e escassa quando dá. Pois escreveu meu nome sobre uma onda cega.

E quando tenho fome me oferece uma rosa... Palavras. São as penas do meu pássaro lírico.

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Vl. Betânia

Tenho por meu palácio as longas ruas; Passeio a gosto e durmo sem temores; Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o vento que respiro, Minha mãe é a lua macilenta, E a preguiça a mulher por quem suspiro. Escrevo na parede as minhas rimas, De painéis a carvão adorno a rua; Como as aves do céu e as flores puras Abro meu peito ao sol e durmo à lua. (trecho do poema Vagabundo)

13 CORREDOR 12

Minibios Cristiano Caniche -Trabalha na área de Tecnologia da Informação e seu contato com a fotografia começou na era digital, com o surgimento de fotologs, blogs entre outros recursos da rede mundial. Em 2009, decidiu dedicar-se à fotografia, com a realização de ensaios pessoais e cobertura de shows. Márcio Janousek é formado em Publicidade e um apaixonado pela fotografia em branco e preto. Atualmente participa como membro e vice-presidente do Fotoclube Câmera & Luz em São José dos Campos. Cleiton Costa nasceu em 1979, natural da capital paulista. Fotógrafo e professor de fotografia, atualmente desenvolve projetos fotográficos para agências de publicidade, jornais e revistas da região do Vale do Paraíba. Rique Fróes tem 48 anos e é publicitário. Realiza projetos autorais envolvendo a cidade de São José dos Campos e prepara um livro sobre a comunidade do Pinheirinho. Faz parte do Fotoclube Câmera & Luz e da Fototech - Associação de Fotógrafos Profissionais. Rodolfo Marcondes tem 26 anos e é natural de São José dos Campos. Trabalhou cinco anos na área de turismo e recreação e hoje atua como Designer Gráfico. Fotografa há um ano e pretende profissionalizar-se.

CORPO E ARTE

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14 VESTIÁRIO FEMININO

P.E

P.H

A12

A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre. - E depois que morre – perguntou o Visconde. - Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?

Térreo

18 19

COGNAC!... Vem, meu Cognac, meu licor d’amores!... É longo o sono teu dentro do frasco; Do teu ardor a inspiração brotando O cérebro incendeia!... Da vida a insipidez gostoso adoças; Mais vale um trago teu que mil grandezas; Suave distração — da vida esmalte, Quem há que te não ame? Tomado com o café em fresca tarde Derramas tanto ardor pelas entranhas, Que o já provecto renascer-lhe sente Da mocidade o fogo! Cognac! — inspirador de ledos sonhos, Excitante licor — de amor ardente! Uma tua garrafa e o Dom Quixote, É passatempo amável! Que poeta que sou com teu auxílio! Somente um trago teu m’inspira um verso; O copo cheio o mais sonoro canto; Todo o frasco um poema!

Rodolfo Marcondes

Márcio Janousek

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Vl. Rangel

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS

A maravilha de uma coincidência repete o acontecimento e lhe põe o número de ordem. O operário é, em menor ponto, um deus movendo a máquina do dia e da noite. Uma roda quer dizer o infinito. Cada engrenagem é uma frase que as outras engrenagens concluem. A máquina já adquiriu qualquer coisa de humano e de mágico. E já raciocina por nós; e, se é esfinge, será uma esfinge obsequiosa. Não nos propõe enigmas, como a sua irmã, nem nos concede prazo para a decifração obrigatória. Propõe coisas exatas. (trecho do poema a Festa da Máquina)

Cristiano Caniche

RUA MONTEIRO LOBATO

Monte Castelo

Rodolfo Marcondes

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João Correia Filho

RUA MACHADO DE ASSIS

3

João Correia Filho

2

Além disso, os problemas municipais já esquecidos e os nacionais, também, renascem, sob a chuva. Os automóveis gritam, pedindo passagem, uns roucos, outros tocando um começo de música. Discutem prefeitura e tarde escura a eterna questão do trânsito. Um trovão quis contar-me um violento segredo mas soletrou, apenas. Que monstruosa verdade não terá ele pretendido dizer-me? (trecho do poema Sob o guarda-chuva)

PLANTAS BAIXAS Disposição do Ruas Literárias no SESC São José dos Campos.

Jd. Alvorada

Márcio Janousek

João Correia Filho

1

Jd. Alvorada

Cleiton Costa

Jd. Alvorada

AV. CASSIANO RICARDO

AV. CASSIANO RICARDO

AV. CASSIANO RICARDO

VESTIÁRIO MASCULINO ELEVADOR

SALA DE GINÁSTICA MULTIFUNCIONAL

10 17

PISCINA OFICINA

9

Encontre as ruas do projeto Ruas Literárias nos endereços eletrônicos: http://www.apontador.com.br http://maps.google.com.br


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