Edição 13: Empresário do mês - Carlos Vives Jr.

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Equipe editorial e de jornalismo Cannabis World Journals

Cannabis World Journals é uma publicação quinzenal sobre as últimas tendências na indústria da cannabis medicinal

Editores de conteúdo: Anne Graham Escobar Daniel Santos V Design gráfico e editores de arte: Katerin Osuna Robles. Jannina Mejía Diaz Equipe de pesquisa, jornalismo e redação: CannaGrow: Daniela Montaña. CannaGraphics: Daniel Santos V Na sala do especialista: Sandra Loaiza CannaCountry: Sandra Loaiza CannaLaw: Anne Marie Graham, Alibert Flores, Hamid Tagadirte e Daniela Araujo CannaTrade: Jennifer Simbaña, Rosangel Andrades e Lorena Díaz CannaMed: Yumaira Rojas, Rosangel Andrades e Jennifer Salguero Equipe médica: Nazareth Becerra e Marian Jorge

Tradução: Inglês: Sandra Loaiza, Rosangel Andrades y Maria José López Árabe: Hamid Tagadirte Português: Lorena Diaz Colaboradores edição 13: Danielle Ceruti de Espinel. Dra. María Fernanda Arboleda Assine cannabisworldjournals.com Info@cannabisworldjournals.com

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Artigo de opinião: Dra. Maria Fernanda Arboleda. Pág 5

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Editorial: As nuances da cannabis medicinal e seu caminho para a legalidade. Pág 4

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SEÇÃO CANNAGRAPHICS:

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CANNAGROW

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- Mães canábicas. Pág 7 - Cancún, o epicentro da discussão sobre o uso medicinal da cannabis. Pág 7 - Amsterdam Cannabis Expo. Pág 7

- importância da luz nas plantas de cannabis. Pág 8

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NA SALA DO ESPECIALISTA: - Entrevista a Paloma Snhet de Latinoamericanna. Pág 10

Nossas Revistas CannaMed Magazine e CannaLaw Magazine, dedicadas à área terapêutica e à área da regulamentação legal da cannabis, respectivamente; decidiram unir forças para oferecer a vocês uma nova revista quinzenal mais completa: A Cannabis World Journals. A revista CannaMed e a revista CannaLaw tornam-se seções dessa Nova Revista, juntamente com elas você poderá encontrar duas novas seções que lhe oferecerão uma visão global sobre a planta no mercado: CannaTrade, cujo objetivo será destacar o ritmo dos negócios que se estabelecem em torno da cannabis; e CannaGrow, dedicado à botânica e cultivo dela. Cannabis World Journals é a revista de cannabis mais abrangente para leitores exigentes como você. Sem mais delongas, lhe damos as boasVindas.

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CANNACOUNTRY:

- Uruguai, um país que está na vanguarda do uso de cannabis medicinal. Pág 14 CANNALAW - Situação legal e avanços da cannabis medicinal no continente africano. Pág17 - Minorias e licenciamento de cannabis: privilégio e o mercado. Pág 20 - A jornada da cannabis medicinal no Peru. Pág 23 - Com ritmo acelerado: Espanha avança na legalização da cannabis. Pág 24 EMPRESÁRIO DO MÊS - Carlos Vives Jr. O filho do cantautor nos conta sobre sua afinidade pela genética da cannabis e sua visão da indústria. Pág 25

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CANNATRADE - Políticas de exportação impulsionando o crescimento da indústria global de cannabis. Pág 34 - Legalização federal nos EUA: benefício ou desvantagem para os negócios de cannabis?Pág 36 - Crowdgrowing, o negócio inovador da cannabis. Pág 37

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CANNAMED - Importância dos canabinóides nas doenças neurodegenerativas. Pág 38 - Cenários de psicologia da cannabis. Pág 41 - Cannabis “de perto” : Cepas "Kush" para o tratamento da doença de Parkinson. Pág 43


EDITORIAL

As nuances da cannabis medicinal e seu caminho para a legalidade Desde os 4 anos de idade, meu filho Juan apresenta dermatite aguda. Para o seu tratamento, procurei diferentes medicamentos convencionais e alternativos; o médico que o atende tem sido muito enfático que se trata de uma patologia que aumenta e diminui, que não há tratamento definitivo, mas que depois de certa idade tende a sarar.

continuaremos a compartilhar os benefícios que a planta de cannabis oferece. Além desse fato que ousei narrar; queremos continuar retratando a conotação proporcionada por esta planta e seus derivados, esclarecendo as nuances com que foi marginalizada; e continuar a informar o caminho para sua legalidade.

Para muitos, esta situação pode passar despercebida ou ser apenas outra história, no entanto, em Cannabis World Journals

traz novas histórias, experiências, e o mais importante: oportunidades.

Muitos países já deram esse grande passo, um dos últimos foi a Costa Rica, que por meio de No meu desejo de dar tranquilidade ao meu sua Assembleia Nacional deu o “SIM” para filho, em que não tivesse vergonha de usar tratar o uso da cannabis e seus derivados para bermuda ou entrar na piscina por ter a maioria fins medicinais e científicos. O Canadá já tem de feridas nas pernas; comecei a indagar sobre sua regulamentação completa, na Holanda as possibilidades que me permitiriam tratar sua existem locais chamados “Coffee Shops”, a Itália está fazendo avanços significativos em doença. suas políticas, nos Estados Unidos já existem Pensei na cannabis medicinal como um 33 estados que regulamentaram seu uso tratamento e sim, sem me questionar nem medicinal, assim como no Chile, Peru, duvidar muito, comprei em uma loja de Colômbia e Uruguai em que pode ser usada de cannabis medicinal que encontrei por acaso forma lúdica. uma "pomada hidratante" à base de CBD e Nesta edição, vamos explorar essas nuances, cannabis que comecei a aplicar há algumas daremos um panorama da legalização e, por semanas; suas pernas parecem melhorar e a meio de um especialista no assunto, coceira parou. aprofundaremos nesse debate, que a cada dia

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ARTIGO DE OPINIÃO

Qual é o status regulatório da cannabis na América?

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urante décadas, a prescrição de canabinóides para fins terapêuticos, foi restringida e controlada em cada jurisdição por marcos regulatórios específicos. Isso limitou o desenvolvimento da pesquisa clínica e a comercialização de canabinóides para uso medicinal. Em 3 de dezembro de 2020, a Comissão de Narcóticos (CND, na sigla em inglês) das Nações Unidas reconheceu as propriedades medicinais da cannabis e a retirou do Anexo IV da Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961; sem dúvida um fato histórico, embora seu estatuto jurídico varie em cada país.

disso, a recente edição do Decreto 811 de 2021 visa incentivar e criar novas oportunidades para a indústria de cannabis no referido país. No caso do Peru, a Lei 30681 e o decreto supremo que aprova a regulamentação dessa lei permitem desde 2020 o acesso aos produtos à base de canabinoides por meio de práticas de fabricação rígidas.

Globalmente, os únicos dois países que legalizaram a cannabis (tanto para fins medicinais quanto para uso recreativo) são o Uruguai, desde 2013; e o Canadá, desde 17 de outubro de 2018. Nos Estados Unidos, seu status continua ilegal no nível federal e cada estado tomou decisões independentes; alguns legalizaram seu uso para uso medicinal e adulto. Na América Latina, uma das mais avançadas e que tem um marco regulatório que tem sido modelo para outras nações é a Colômbia, onde a comercialização de produtos à base de canabinóides por via legal e segura é permitido desde 2020, por meio da Lei 1.787 de 2016 e o Decreto 613 de 2017. Além

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ARTÍCULO DE OPINIÓN

Outros países, como Argentina, Equador, Chile, Panamá, Brasil e Porto Rico, continuam trabalhando em questões regulatórias com o objetivo de garantir o direito à saúde e permitir o acesso ao uso medicinal e terapêutico da cannabis.

Por outro lado, no México, em junho de 2017, a Lei Geral de Saúde (LGS) foi modificada e o valor terapêutico da cannabis foi concedido, retirando-a da lista de substâncias proibidas para uso medicinal. Nessa reforma, ficou estabelecido que produtos que contenham derivados de cannabis em concentrações de 1% ou menos de THC, e que tenham ampla utilização industrial, podem ser comercializados, exportados e importados. Porém, para que esta lei entre em vigor, ainda foi publicado um regulamento em 12 de janeiro de 2021.

Dra. María Fernanda Arboleda Anestesiologista especializada em dor crônica e cuidados paliativos e especialista em cannabis medicinal. Completou seus estudos de pesquisa de pós-doutorado em cannabis medicinal e cuidados de suporte ao câncer na Universidade McGill e na Santé Cannabis no Canadá. Atualmente, está conduzindo a oficina sobre Prescrição Responsável e Segura de Canabinóides com aprovação acadêmica da Escola de Medicina TEC de Monterrey e do Centro Algia para Educação em Saúde.


CannaGraphics Mães canábicas Danielle Ceruti de Espinel é a fundadora da @Cannamadres, uma comunidade criada para estabelecer uma conversa segura e cientificamente estabelecidas com todas as mães canábicas que falam espanhol a fim de pesquisar e aprender mais sobre o uso medicinal da cannabis. Sua missão é educar as mães sobre tudo relacionado à cannabis medicinal e os benefícios que ela pode oferecer tanto para elas quanto para seus filhos. Siga esta conta na rede social Instagram como @cannamadres.

Rodada de negócios em Cancún, México De 18 a 20 de novembro, foi realizado o primeiro Business & Investment Summit em Cancún, no México, que teve como objetivo focar as oportunidades de negócios e investimento na indústria da cannabis. Este evento é um espaço de debate e alianças para expandir os negócios relacionados ao mundo medicinal da cannabis. Vários expositores e palestrantes internacionais abordaram temas sobre negócios, finanças, cultivos e empreendedorismo.

Amsterdam Cannabis Expo De 25 a 27 de novembro, será realizada em Amsterdam, Holanda; a Amsterdam Cannabis Expo, que reúne mais de 10.000 profissionais da indústria da cannabis para discutir assuntos atuais e de desenvolvimento; além da projeção e geração de novos negócios. Prevê-se a participação de mais de 100 países para tratar de temas como o desafio e as melhores práticas do setor. Para consultar mais informações, acesse a www.feriasinfo.es/Amsterdam-Cannabis-Expo-M13637/msterdam.html

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CannaGrow

A importância da luz

A maior fonte de luz da terra é a estrela central: o sol. Um corpo celeste fundamental para a vida, pois é a maior fonte de energia; fornece calor e luz, essenciais para os processos metabólicos da grande maioria dos organismos vivos, isso é chamado de fotobiologia. Nas pessoas esse processo é essencial porque fornece vitamina D que está relacionada à absorção do cálcio nos ossos e permite a geração de serotonina, substância relacionada ao controle das emoções, do humor e do bem-estar. Tal como nós, é crucial para a sobrevivência das plantas porque permite que elas realizem o processo de

fotossíntese, que é um conjunto complexo de reações pelas quais as células vegetais coletam, transferem e armazenam energia luminosa nas ligações de carbono dos carboidratos. Para se ter uma ideia, o que a planta faz é retirar a seiva bruta - que é a transformação da absorção da água e dos sais minerais que se instalam no solo e se distribuem pela planta -, depois com a luz solar e o dióxido de carbono se produz esse processo que ajuda as plantas a criarem seus alimentos e energia. Após esse processo, é liberado oxigênio que permite a sobrevivência dos organismos aeróbios. Para a planta de cannabis devemos considerar o fotoperíodo que necessita, de

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CannaGrow acordo com a sua origem e estado vegetativo que é de 18 horas de luz e 6 horas de escuridão. Essa planta não dorme e precisa de muita energia para seu crescimento, que é o estado em que produz biomassa (matéria orgânica) utilizada como fonte de energia, em combinação de CO2 (dióxido de carbono) e água que favorece a geração de botões vigorosos. A luz também contribui para o desenvolvimento da planta, que nada mais é do que a formação de novos órgãos, como o número de novas folhas, caules, flores, raízes, entre outras características . Mas como tudo isso acontece? A explicação técnica é que a luz é a perturbação do comprimento de onda em um campo eletromagnético na forma de radiação que se propaga a uma velocidade definida, esses comprimentos são captados de forma diferente por todos os organismos na terra. Eles geram espectros visíveis que são de várias cores como: violeta, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho; estes são absorvidos pelas plantas, em geral a cannabis tem os comprimentos de onda violeta e azul e também no vermelho com cerca de 700 a 780 µm (micrômetros) de comprimento; uma vez que reflete a luz verde sendo exatamente essa tonalidade que podemos perceber na matéria vegetal. Chegam na forma de partículas que são novamente utilizadas pelas plantas para iniciar o metabolismo fotossintético com o qual se formam as proteínas, entre as quais está o pigmento fitocromo, que é ativado na presença de luz e envia sinais de que não é hora para florescer, isso mais tarde se traduz em flores maiores e mais grossas, bem como canabinóides na colheita. Na fase de floração, a planta necessita apenas de 12 horas de luz para continuar

realizando o processo de fotossíntese, mas em menor grau, e de 12 horas de escuridão para desativar o fitocromo e transmitir informações para a planta indicando que é hora de florescer. Ou seja, passa a funcionar para formar órgãos florais e fixar compostos orgânicos complexos como carboidratos, lipídios e proteínas, que servirão de alimento para essa produção. No entanto, surge outra questão: de que luz a planta precisa? O mais recomendado é a luz solar porque emite a maior quantidade de comprimento de onda e espectro que pode ser absorvido pela planta. Muitos têm dúvidas sobre que tipo de luz utilizar no cultivo, se complementar ou suplementar; pois bem, a luz complementar é aquela usada para alongar o fotoperíodo, ou seja, se tivermos o sol como fonte principal, e se, por exemplo, ele estiver localizado em uma área equatorial onde só existe o fotoperíodo 12/12, nós devemos abe necessário fornecer as outras 6 horas, através da luz artificial, garantindo assim que a planta se desenvolva adequadamente. Uma das características dessa luz é que ela não gera crescimento em biomassa, apenas dá o sinal necessário para que a planta não floresça. Por outro lado, a luz suplementar será aquela que contribui o tempo todo por meio da luz artificial, que por sua vez fornece fótons suficientes para que a planta cresça e realize sua fotossíntese adequada para obter uma boa colheita; geralmente são utilizadas em plantações de interior, onde o sol não entra. Uma das características mais importantes dessa luz é que ela produz biomassa. As luzes artificiais normalmente utilizadas são: vapor de sódio, LEDs hortícolas, luz branca de espectro total, LEDs tipo bulbo (é a mais apropriada devido ao seu espectro que ativa o fitocromo).

Referências Casallas, D. (2021, octubre). Clase de producción de cannabis - Diplomado de cannabis medicinal UJTL [Clase del diplomado de cannabis medicinal]. Clase de producción de cannabis, Bogotá, Colombia. CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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Um olhar sobre a cannabis medicinal “A cannabis é uma planta que tem mais de quatrocentos princípios ativos, dos quais cem são medicinais”. “É fundamental o papel do ativismo canábico, ainda há muitas coisas a serem feitas”. A argentina Paloma Sneh criou a associação latinoamericana com a qual assessora e acompanha empresários, empreendedores e aqueles que desejam iniciar um projeto a respeito do uso medicinal da cannabis. Sua experiência e conhecimento no assunto são extensos. Em entrevista com a Cannabis World Journals, deu seu ponto de vista sobre como está o setor, os países que estão mais avançados no assunto e fez uma análise de por que alguns governos de diferentes países não iniciaram no tema da legalização da cannabis medicinal. Cannabis World Journals (CWJ): Como você analisa a questão da legalização da cannabis para uso medicinal?

Na sala do especialista Entrevista com Paloma Sneh Assesora cannábica, Argentina

Paloma Sneth (PS): Depois que a Lei 27.350, que é a lei da cannabis medicinal na Argentina, foi regulamentada, começou em torno do assunto um caminho de abertura e reflexão. A legalização do uso medicinal da cannabis é iminente. A evidência empírica implica que isso tem que acontecer o mais rápido possível, de fato, há muito movimento ao redor. Isso é necessário porque não há dúvida sobre a eficácia da cannabis como medicamento em um número incontável de patologias, ao nível sintomático, não ao nível da erradicação de patologias ou curas. Vejo isso na medida em que possamos exercer esse direito que temos como cidadãos de solicitar políticas públicas de saúde, que de fato é o que estamos fazendo. CWJ: Qual você acha que é o maior medo dos governos de legalizar o uso medicinal da cannabis? Existem interesses adquiridos e não é justamente o medo. Einstein disse que é mais fácil desintegrar um

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átomo do que desintegrar um preconceito. Ainda se fala da cannabis como uma droga, como algo do submundo, que ‘entorpece (da falopa, como é chamada na Argentina). A cannabis é uma planta que possui mais de quatrocentos princípios ativos, dos quais cem são medicinais. Tudo isso é difícil para governos e usuários entenderem. Acredito que a dificuldade se dá em muitos interesses econômicos levantados de forma pouco clara em questões burocráticas que têm a ver com regulação e ignorância, basicamente porque não saber do que se trata, é muito difícil para eles poderem usar seus conhecimentos, seu tempo em buscar as normas que melhor atendam às necessidades das comunidades dos diversos países latino-americanos, um exemplo disso é o Uruguai. CWJ: Como continuar promovendo o uso da cannabis medicinal? Como continuar educando? PS: Treinamento e informação. O treinamento é superimportante, quanto mais profissionais médicos tivermos capacitado nas possibilidades de nos orientar através dos usos da cannabis, mais orientados estaremos. Profissionais médicos e produtores que cultivam e produzem a planta porque nem todo mundo está a fim de cultivar em casa, como disposto na regulamentação aqui na Argentina, a menos que permita o auto cultivo para determinados usuários que estão inscritos em um programa chamado Registro Reprocan. Nem todo mundo quer cultivar. Há pessoas que querem ter acesso à sua cannabis de uma forma diferente do cultivo, e isso também é válido, a partir daí, médicos, cultivadores ou pessoas adequadas devem ser formadas para realizar um projeto de cultivo de cannabis. Neste momento na Argentina a necessidade é muito grande, por isso na feira Expocannabis contou com a presença de mais de setenta mil

pessoas em Buenos Aires. Latinoamericanna, a consultoria que lidero, viajará para Mendoza para estar em outra Expocannabis e continuar promovendo espaços de treinamento e produção em torno da cannabis.

CWJ: Que país você acha que é o modelo a seguir em termos de implementação do uso de cannabis medicinal e seu uso recreativo? PS: Do ponto de vista medicinal, os mais avançados nas pesquisas são os israelenses. Em Israel encontramos tudo o que tem a ver com a descoberta em torno dos usos da planta, tratam tecnologia de ponta aplicada, subsídios e fundos que o Governo designa para investigar usos medicinais. Do outro lado, no seu uso recreativo, estão o Canadá e os Países Baixos, que considero bons exemplos e, claro, o Uruguai, que também endossou seu modelo de licenças e uso recreativo do consumo responsável nas farmácias, pois este país conta com um bom sistema de licenciamento, muito bem feito e muito fácil de copiar. A Califórnia, é também um ótimo exemplo do uso da cannabis. Não há dúvida de que a próxima revolução industrial será verde ou terá a ver com cannabis e cânhamo. CWJ: Como você considera o papel dos ativistas da cannabis nas redes sociais? PS: Temos várias formas de fazer ativismo. Graças também aos ativistas, as coisas estão avançando, por pedir direitos, por tentar igualar direitos tanto para quem cultiva, ou deseja ter seu auto cultivo como para quem não. Procuramos colocar em uma situação o fato de que interesses velados muitas vezes não nos permitem avançar com as regulamentações pertinentes para podermos usar a planta e seus derivados, e o papel do ativismo e protagonismo da cannabis é fundamental.

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A cannabis, uma alternativa de empreendedorismo

CWJ: Conte-nos sobre a Latioamericanna e seu papel na promoção e no uso medicinal da cannabis? PN: Através da Latinoamericanna assessoramos empresários, investidores ou pessoas que desejam realizar um projeto que tenha a ver com a cannabis. Oferecemos treinamento e também assessoramos associações civis que buscam o seu registro ou se inserir no mundo do cultivo ou o que tem a ver com a regulamentação atual. Também realizamos consultorias sobre a questão do cânhamo, que é outro cultivo que protegemos muito porque é uma grande oportunidade do ponto de vista comercial e econômico a um país tão dizimado como a Argentina e outras países da América latina. CWJ: A Latinoamericanna recebe muitos interessados em empreender neste negócio? É visto como uma oportunidade lucrativa para o futuro? PN: Com certeza sim, muitos empreendedores e muito criativos precisam da sua orientação em termos de inscrições, como gerar seus projetos, como começar ou para onde ir. Há empresários que têm projetos gastronômicos, de bebidas, de produtos, enfim ... Prestamos consultoria a resorts que têm a ver com o uso de cannabis. A próxima grande luta, e que já está sendo discutida na Argentina e que temos que levar em conta em vários países do mundo, é a terapia com fungos como o Sinosive e com o Buscali, dois fungos que estão atualmente no estágio de pesquisa para usa-los como um tratamento para a depressão.

anos? Teremos mais leis a favor do setor até 2022? PN: Inevitavelmente, teremos que propor uma lei na Argentina que inclua a possibilidade de produzir, cultivar e produzir cannabis medicinal para uso interno e também para exportação. É necessário treinar mais profissionais e mais especialistas em tudo o que tem a ver com cultivo. Eu vejo bem, com um movimento mais exponencial e com algo muito importante, também treinando as forças de segurança de cada região. Devemos pensar em implementar um protocolo de segurança em torno dos próximos sistemas em crescimento, há muito trabalho a ser feito. Eu vejo isso muito positivo e possível, e também a América Latina é uma terra muito adequada para o cultivo de cannabis. Cwj: Como vocês educam e pedem aos governos que sejam mais flexíveis na questão do uso medicinal da cannabis? PN: Sempre fazemos treinamentos online e presencialmente, temos nosso site: www.latinoamericanna.com e redes sociais. Também participamos das diferentes feiras que acontecem na Argentina ou em alguns países sul-americanos. Em relação aos governos, estamos muito atentos aos regulamentos e normas, aqui são muitos os órgãos envolvidos nos registros pertinentes para cada governo. Ultimamente o Inase, que é o Instituto Nacional de Sementes da Argentina, apresentou um protocolo para registrar a genética que tem muitos buracos e falhas, pelo menos é um protocolo para começar.

CWJ: Por fim, qual seria a mensagem que você enviaria para quem está ou quer se envolver neste setor?

CWJ: Como você acha que o uso de cannabis medicinal será visto em alguns CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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PS: Agradecemos as pioneiras aqui (Argentina), digo pioneiras porque eram mulheres, as mães da Mamá Cultiva que foram as que começaram essa luta. Atualmente, estamos em muitas frentes, felizmente elas podem responder por essa luta pela legalização e pelo marco regulatório em torno da planta de cannabis, mais do que palavras de agradecimento aos nossos antecessores, investimos nosso trabalho e nosso capital para continuar a apostar em fazer isso possível na Argentina de uma forma viável. Isso é possível e não há necessidade de temêlo. Hoje em dia, quando as pessoas perguntam, já não o fazem com tanta desconfiança, mas o fazem porque não conhecem o assunto e querem que alguém que estudou lhes explique os benefícios que a cannabis e o cânhamo podem trazer.

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CannaCountry

Uruguai, um país que está na vanguarda do uso de cannabis medicinal O Uruguai é conhecido por ser um pioneiro e o primeiro país a regulamentar e legalizar a cannabis para fins medicinais e recreativos. Desde o início do debate, apresenta uma grande diversidade em seus marcos regulatórios, pensando no bem-estar e no progresso de seus habitantes. Nós fornecemos a você uma visão geral das nuances que compõem a rede legal de cannabis nesse país.

Normativa

- Lei nº 19172 de 2013: Regulação e controle do mercado de cannabis. - Decreto nº 372/014: Regulamenta a exportação de cannabis não psicoativa para uso não medicinal. - Decreto nº 120/014 de 05/06/2014: Em que é autorizada a posse de Cannabis com efeito psicoativo para uso pessoal. - Decreto nº 46/015 Revogado / ou de 04/02/2015: Permite o plantio, cultivo, colheita, armazenamento e comercialização de cannabis (psicoativa e não psicoativa) para uso exclusivo para pesquisa científica, ou para elaboração de Vegetais Especialidades ou Especialidades Farmacêuticas para uso medicinal.

- Decreto nº 128/016 de 05/02/2016: Que proíbe o consumo e a posse de álcool, cannabis e qualquer outro tipo de droga durante a jornada de trabalho,

seja no local de trabalho ou por ocasião da mesma. - Decreto 214/020: Autoriza a exportação de sumidades florais de cannabis psicoativa para fins medicinais e suas partes. - Decreto 215/020: Autoriza a comercialização no território nacional e a exportação de cannabis não psicoativa (cânhamo). - Decreto n.º 282/020 de 05/10/2020: Regulação e controle das operações logísticas com produtos terapêuticos de cannabis medicinal em entrepostos aduaneiros. - Decreto nº 246/021 de 28/07/2021: Regulação e controle da cannabis. Revogação do decreto 46/015 e arts. 16 e 17 do decreto 454/976. CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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CannaCountry

Acessibilidade

Cidadãos uruguaios maiores de 18 anos podem adquirir cannabis por meio de registro prévio e nas seguintes condições: - Em farmácias autorizadas (até 10 gramas por semana), com capacidade máxima de 40 gramas. - São permitidas até seis plantas e no máximo 480 gramas por safra ao ano, para consumo pessoal. - Pode ser cultivada em clubes com membros (com um mínimo de 15 membros e um máximo de 45), eles podem plantar até 99 plantas de Cannabis para uso psicoativo. Deve-se ter em mente que a produção e coleta anual não pode ser superior a 480 gramas para cada membro .

- FOTMER LIFE SCIENCES: Empresa de primeiro nível dedicada ao cultivo e extração de cannabis medicinal com sede no Uruguai, cujas operações atendem e excedem os mais rígidos padrões internacionais de saúde.

- CANNBIO: Empresa dedicada à produção, industrialização e comercialização de cannabis. - UCAN: Empresa uruguaia produtora de Cannabis medicinal de alta qualidade para a indústria farmacêutica, nutracêutica e outras com certificação de boas práticas agrícolas. - ASTROLUX S.A: Empresa dedicada à produção, desenvolvimento e comercialização de cannabis medicinal. - NETCANN: Empresa dedicada à transformação de cannabis com foco em produtos agro-farmacêuticos. Vale destacar o trabalho da Câmara das Empresas de Cannabis Medicinal (CECAM), que é uma associação civil que zela pelos direitos e interesses das empresas de cannabis medicinal no Uruguai, criando canais de comunicação entre seus sócios, para o crescimento do sindicato no país.

Empresas Sendo um país pioneiro no que se refere à regulamentação e legalização da cannabis para uso farmacêutico e recreativo, existem diferentes empresas que se dedicam ao cultivo, extração e transformação da planta para uso doméstico e para exportação. A seguir, nomeamos algumas delas:

Investimento

Segundo dados da Junta Nacional de Drogas (JND), são avaliados 20 projetos de

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CannaCountry

investimento no setor de cannabis no valor entre 80 e 100 milhões de dólares, segundo a fonte consultada, e a geração de mais de 2.500 postos de trabalho.

Projeções de Mercado

De acordo com o relatório Uruguai XXI de 2021, espera-se que até o ano de 2024 seja apresentado um crescimento de mercado de US $ 94.000 milhões e US $ 35.000 milhões para o setor medicinal.

Atualidade Até agora, a legislação uruguaia permite que apenas cidadãos adultos e residentes estrangeiros façam um cadastro oficial que lhes permita comprar até 40 gramas de cannabis por mês em farmácias autorizadas, cultivar suas próprias plantas ou ter acesso a clubes de cannabis. Isso para manter o controle sobre o consumo em nível local. Dada a reabertura das fronteiras ocorrida a partir de segunda-feira, 1 de novembro, após o encerramento provocado pela Pandemia, o Governo estuda alargar a autorização de acesso à compra e consumo de cannabis para quem decidir visitar o país, não com o objetivo de promover o Uruguai como destino do turismo de cannabis, mas sim afastar os turistas do mercado negro e encaminhá-los para o mercado regulado.

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CannaLaw

África, o continente

onde a cannabis medicinal Dá o que falar O continente africano caracteriza-se por ser um dos continentes com maiores possibilidades de desenvolvimento da cannabis para uso medicinal. O seu clima e terras férteis colocam-na como uma área para onde se dirigem os olhares do investimento estrangeiro.

A indústria da cannabis na África do Sul está estimada em cerca de US $ 28 bilhões e pode criar entre 10.000 e 25.000 empregos no setor. A África é um dos continentes que mais se destaca pela produção de cannabis. Especialmente no Marrocos, estima-se que seja gerada a maior exportação da planta, enquanto na África do Sul ela já está legalizada para fins medicinais.

O mercado de cânhamo africano e produtos relacionados deve chegar a US $ 7,1 bilhões até 2023, de acordo com um relatório emitido por Prohibition Partners,

órgão da indústria com sede em Londres. Agora, com uma grande força de trabalho e um clima ideal para o cultivo de cannabis. A África oferece aos agricultores solos limpos, menos poluídos e com cepas de CBD de alta qualidade encontradas no cânhamo. Enquanto a África do Sul lidera a produção ao lado dos vizinhos Lesoto e Zimbábue, que recentemente receberam licenças para cultivar e exportar cannabis medicinal. Outros países, incluindo Suazilândia, Uganda e Malaui, estão considerando regulamentar o uso de cannabis medicinal.

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CannaLaw Uma indústria de $ 28 mil bilhões O Departamento de Agricultura, Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural estima que a indústria da cannabis na África do Sul está avaliada em cerca de US $ 28 bilhões e pode criar entre 10.000 e 25.000 empregos no setor.

Os produtores de morango e videiros agora usam seu solo fértil para o cultivo de cannabis, que está se tornando cada vez mais aceita em todo o mundo. No entanto, não é fácil começar um negócio desse tipo na África porque as licenças são caras e exigências rígidas são impostas às empresas.

Uso médico:

Na África do Sul, os produtos medicinais de cannabis podem ser prescritos para qualquer problema de saúde, uma vez que o médico decida. Os pacientes devem solicitar a cannabis medicinal por meio de profissionais de saúde certificados e licenciados pela Autoridade Reguladora de Produtos de Saúde da África do Sul (SAHPRA) e, por sua vez, o especialista enviará uma inscrição online em nome do paciente, assim que a receita for emitida, farmacêuticos registrados no South African Pharmacy Council podem solicita-la.

África e sua nova mina de ouro de cannabis Em uma indústria bilionária e de rápido crescimento, o cânhamo na África é considerado o ouro verde, um modelo de receita incompleto, mas uma importante fonte de renda para o continente. No entanto, a África do Sul quer ser o candidato número um do continente no que diz respeito ao cultivo de Mediwit.

Da África para a Europa

O primeiro embarque de cannabis medicinal da África para a Europa, especificamente a Suíça, ocorreu no final de junho de 2021. Logo depois, em setembro de 2021, foi assinado um acordo entre a Cantourage e a empresa agrícola sul-africana FarmaGrowers para o fornecimento de produtos de flores de cannabis medicinal da África do Sul às farmácias alemãs. Desde junho de 2021, a Cantourage usa sua plataforma Quick Access para fornecer variedades de cannabis medicinal para a Jamaica, Uruguai e diferentes farmácias na Alemanha. A plataforma envolve o uso de processos patenteados para reduzir a carga microbiana da cannabis importada sem o uso de exposição à radiação, garantindo um fornecimento contínuo do CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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CannaLaw

produto enquanto mantém a aparência natural dos produtos de cannabis medicinal. Philip Schetter, CEO da Cantourage, disse que "nossa parceria com FarmaGrowers é uma verdadeira referência, e estamos orgulhosos de nossa capacidade de levar cannabis medicinal africana para a Alemanha. Temos trabalhado muito desde o lançamento de nossa nova plataforma, e o mercado pode se abrir rapidamente para novos tipos de produtos que já temos disponíveis para continuar oferecendo benefícios aos pacientes na Alemanha e na UE”. Mario Maris, CEO e fundador da FarmaGrowers acrescentou: "FarmaGrowers tem trabalhado excepcionalmente duro nos últimos anos para desenvolver cannabis medicinal de alta qualidade usando ferramentas de cultivo sustentáveis. Estamos muito entusiasmados em poder levar esses produtos a pacientes e farmácias na Europa. Graças à colaboração com a Cantourage, esperamos fortalecer o relacionamento e o suporte para garantir que o número crescente de pacientes na Alemanha receba suas necessidades de produtos da África do Sul”.

O primeiro centro médico africano para cannabis já está aberto O Centro de Bem-Estar e Gerenciamento Holístico de Alívio da Dor em Durban, é o primeiro de seu tipo na África, e oferece óleo de cannabis medicinal, alguns o veem favoravelmente, enquanto outros o criticam porque continuam a considerá-lo uma droga ilegal.

Fontes https://drugsinc.eu/ar/afrika https://www.shorouknews.com worldtourismgroup.com Zim to legalise mbanje . . . Govt considers drug use for medical purposes. Sunday News, 9 July 2017 ‫نسخة محفوظة‬ ‫ على موقع واي باك مشين‬2019 ‫ أبريل‬26.

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Minorias e licenciamento de cannabis: o privilégio e o mercado. A indústria da cannabis medicinal se apresentou como uma oportunidade de investimento para muitos grupos nos últimos cinco anos. Cada vez mais pessoas e estados se beneficiam tanto das propriedades medicinais desta planta quanto dos lucros gerados pelo mercado. No entanto, acima, o campo de oportunidades não parece o mesmo para todos …

Minorias e sua luta Em uma indústria que atrai cada vez mais setores, ainda é surpreendente que em uma economia de mercado livre existam segmentos marginalizados. É ainda mais surpreendente que seja a indústria da cannabis que apresenta esta marginalização.

Um dos grupos mais preocupados nos Estados Unidos são os afro-americanos. Apesar de 36 estados já terem legalizado o uso de cannabis medicinal, estima-se que cerca de 55 milhões de americanos usam cannabis continuamente, a comunidade afro-americana afirma que sua inclusão neste mercado não tem sido fácil.

As principais razões: Acesso ao capital: o processo de acesso a uma licença é caro (aproximadamente US $ 60.000) e o acesso a crédito ou capital é especialmente complicado em um país onde as mesmas comunidades denunciaram "racismo econômico sistemático”.

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Uma das maiores preocupações da ONG Cannabis Cultural Association de Nova York é que apenas um quinto dos proprietários ou acionistas da indústria são pessoas de uma minoria racial.

Distribuição de lucros: De acordo com as pesquisas de 2017, 81% dos proprietários de negócios de cannabis nos Estados Unidos eram caucasianos, o restante era 5,7% hispânicos, 4,3% afrodescendentes e 2,4% asiáticos. Os números não variam muito para 2021, onde a indústria jurídica continua a ser dominada por brancos.

História:

Por razões como as descritas acima, Edgar Cruz, um empresário de cannabis da Califórnia, trabalha para abrir espaço para a igualdade social na indústria. Aos 15 anos, ele foi preso e acusado de porte ilegal de cannabis. Esta tem sido sua maior inspiração para lutar por todos aqueles que têm dificuldade de acessar uma indústria de bilhões de dólares. É por esta razão que quando Long Beach (onde Cruz reside) lançou seu programa de equidade social em 2018 (Cannabis Equity Program), Edgar Cruz foi um de seus primeiros integrantes. Para participar, os candidatos deveriam provar que tinham uma renda por família inferior a 80% da renda média da área onde viviam e deveriam atender a um dos três critérios: 1. ser residente em Long Beach por um período de pelo menos três anos 2. Ter sido preso ou condenado por crime relacionado com a posse, venda ou uso de cannabis antes da sua legalização ou 3. Ser residente que recebe benefícios por estar desempregado. Junto com essas iniciativas, outros estados estão tomando novas medidas, que às vezes não são suficientes.

Imagen: Google

Considerando que as minorias têm sido as principais vítimas da chamada “guerra às drogas”, é doloroso que, na hora de virar a página e legalizar, ainda não tenham sido apagados os antecedentes criminais de delitos que atualmente já não existem. Pelo contrário, muitas vezes ter antecedentes criminais é um impedimento para o acesso à licença, mesmo que se trate de contravenção por porte de cannabis em estado em que ela já foi descriminalizada. Ainda hoje, um afro-americano tem 3,6 vezes mais probabilidade do que um branco de ser preso por um crime relacionado à cannabis, mesmo tendo a mesma porcentagem de uso.

Na luta…

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Soluções que ainda precisam ser desenvolvidas Em Nova Jersey, um projeto de lei foi proposto declarando que pelo menos 25% de todas as licenças de cannabis devem ser para pessoas de cor.

Em Nova York, legisladores afro-americanos confirmaram que não pretendem votar a favor de nenhum regulamento relativo à cannabis, a menos que sejam encaminhados parte de seus rendimentos da legalização para a comunidades de cor.

Massachusetts incluiu novos programas de inclusão social em seus esforços legislativos.

A ONG Minority Business Cannabis Association (Associação Empresarial de Minorias na Indústria Cannabis) do Oregon busca promover a indústria da cannabis aumentando a diversidade de proprietários, funcionários e consumidores, criando igualdade de acesso para as minorias que foram discriminadas.

Não apenas licenças … Em conclusão, embora o acesso às licenças possa não ser um privilégio reservado a alguns, a inclusão na indústria não deve ser limitada apenas a este aspecto. Não se trata apenas de propriedade, é buscar equidade em toda a cadeia de suprimentos e negócios auxiliares. Há espaço, lucro e oportunidades suficientes no setor para que todas as comunidades acessem, desde que os legisladores considerem a história do passado e não a repitam.

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O Peru deu um grande passo para a legalização da cannabis medicinal. Os mais beneficiados serão as pessoas que sofrem de alguma doença e que veem um tratamento nesta iniciativa. Em julho deste ano, o Peru aprovou definitivamente a cannabis para uso medicinal. Depois que vários pacientes começaram a exigi-lo como parte de seu tratamento, o governo peruano relaxou suas regulamentações, pensando também no desenvolvimento econômico, no investimento estrangeiro e na geração de empregos. A lei estabelece que os próprios pacientes são responsáveis pelo cultivo das plantas e pela produção de seus derivados medicinais, no caso de associações, os associados devem estar inscritos no Cadastro Nacional de Pacientes Usuários de Cannabis; as licenças serão concedidas pelo Ministério da Saúde.

De acordo com o Centro de Estudos de Cannabis do Peru, a cannabis medicinal é usada por aproximadamente 10.000 pacientes registrados na Direção Geral de Medicamentos, Suprimentos e Drogas. Um dos motivos é a oferta limitada, frente ao alto custo, que limita seu acesso gratuito.

Por outro lado, os estabelecimentos Salud Cannahope e QF Farmacia Magistral concordaram em realizar pelo menos 10 consultas gratuitas por mês, especialmente para pacientes de baixa renda. É importante mencionar que as pessoas que forem tratadas receberão o medicamento gratuitamente, tendo em vista que essas organizações estão comprometidas em proteger, melhorar e prolongar a continuidade da qualidade de vida de quem necessita de cannabis para uso medicinal. O Ministério da Saúde publicou a Lei 30681 com a qual regulamentou o uso medicinal e terapêutico da cannabis, e tem como objetivo garantir o direito à saúde e permitir o acesso à cannabis apenas para uso medicinal. O ano de 2021 foi um ano de grandes avanços para a essa indústria no Peru, prova disso são as mudanças causadas pela voz de muitas pessoas, principalmente de pacientes, que lutaram em favor de melhorar o bem-estar e a qualidade de vida de tantas outras pessoas por meio de os benefícios da planta.

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Com ritmo acelerado: Espanha avança na legalização da cannabis A Espanhaa se fez notar nas últimas semanas. As manifestações que se têm registado exigindo a legalização da cannabis são sinónimo de que o país ibérico deve proceder a uma reestruturação das suas leis, ainda mais quando as pessoas que sofrem de algumas doenças a veem como uma alternativa de tratamento. Apesar das propriedades terapêuticas da cannabis medicinal, e do fato de outros países como Portugal, Grã-Bretanha, Itália ou Alemanha já existirem regulamentos que estabelecem o uso medicinal da cannabis, a Espanha continua em debate. Para a Sociedade Espanhola da Dor, uma das muitas organizações que apoiam a legalização da cannabis, a considera necessária para a sociedade pelas grandes contribuições e benefícios que oferece; baseados nos estudos e análises realizadas. Esta é a razão pela qual vários parlamentares têm debatido recentemente a possibilidade de regularizar a cannabis para uso medicinal e recreativo. Aqueles que apoiam não só concordam com a grande contribuição

medicinal, mas também com as oportunidades de emprego. No entanto, a Espanha reabriu o debate sobre uma possível regulamentação estudando vários pontos como o número de plantas que se pode ter em uma casa, taxa de imposto ou preços.

Uma das grandes vantagens da legalização da cannabis seria o impulso que daria à economia do país, já que o comércio não seria mais clandestino, mas um mercado legal que poderia ser acessado sem problemas. Por outro lado, a imagem criminosa desapareceria aos olhos das autoridades devido à posse, distribuição, venda e produção de todas as formas de uso de cannabis. Agora, levando em consideração alguns pontos divergentes de diferentes partidos políticos, eles coincidem em pontos-chave como seu uso terapêutico. Do mesmo modo, conta com o apoio das associações e grupos a favor, pelo que se confia que será aprovado em qualquer momento, sendo assim, há esperanças de que em breve a Espanha aprove a cannabis medicinal.

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Em entrevista

Carlos Vives Jr O filho do cantautor nos conta sobre sua afinidade pela genética da cannabis e sua visão da indústria.

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Este é um setor que, como todos, deve ser amparado por ferramentas legais, como promoção, marketing e estudos clínicos”: Carlos Vives Jr.

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s filhos costumam seguir os passos dos pais. Nos esportes, música, artes e outros campos, isso é muito comum, mas esse não é o caso de Carlos Vives Jr. Filho de um dos mais populares e queridos cantautores em vários países do mundo: Carlos Vive.

Aos 29 anos, Vives Jr. trabalha para uma multinacional canadense que se dedica à cannabis medicinal e, em uma entrevista com a Cannabis World Journals, revelou como se envolveu na cannabis, principalmente medicinal; o que seu pai pensava por causa de sua “paixão” e nos deu seu ponto de vista de como ele vê a indústria no futuro. Entrevista.

Cannabis World Journals (CWJ): Como você conheceu a cannabis medicinal? Carlos Vives Jr (CV jr): Tenho 29 anos e comecei a ter contato com esta planta por volta dos 15 anos. Estamos falando de quando eu estava na nona série na High School de Miami. Eu não conheci a planta da forma mais adequada, obviamente entrei de forma recreativa, tivesse gostado de ter mais informações. A cannabis sempre foi vista como um grande tabu, como uma droga destrutiva, como a heroína e outras drogas que também vêm de certas fontes naturais, mas na maioria das vezes têm sido usadas de forma errada e com abuso. Nem sempre quando se fala sobre cannabis é feito de uma perspectiva medicinal, pelo contrário, se fala sobre seu uso recreativo. Podemos dizer que a única coisa que realmente

A genética é muito importante, porque se você não tiver uma genética de acordo com a sua necessidade, o tratamento não será funcional e eficaz.

Uma pessoa que usa cannabis através da genética pode tratar muito bem tudo o que tem a ver com dores musculares, insônia, ataques de estresse, problemas de glaucoma e uma série de coisas que têm a ver com o sistema nervoso.

muda entre os dois é o uso psiquiátrico. A cannabis medicinal tem uma genética, por isso seus usos são diversos dependendo do perfil de cada pessoa. Digamos que quando é usada de forma recreativa, obviamente deixa de ser para fins medicinais e profissionais, isso cabe a cada um. Sempre fui um amante das flores. Mas fiquei fascinado com a variedade e diversidade da cannabis porque é uma planta que tem, dependendo da sua genética, uma variedade e efeitos diferentes para cada momento. Me apaixonei pelo seu gosto e por possuir diferentes essências, sabores e cheiros dependendo de sua genética. Meus amigos (ele ri) me dizem que é impressionante trabalhar em uma empresa que se dedica

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Empresário do mês ao tema da cannabis medicinal devido à minha inclinação para a planta desde jovem. Percebi do uso medicinal da planta quando minha irmã, que sofria de asma fumou um pouco que eu havia deixado em meu quarto. Ela usava muito o inalador e, depois de experimentar cannabis de uma forma que não deveria, nunca mais precisou comprar ou usar broncodilatador porque nunca mais teve um ataque de asma. CWJ: Como você pode descrever o que chama de “paixão” pela cannabis medicinal? CV Jr: Como disse, sempre foi desde cedo. Fiquei impressionado com sua variedade de flores e a diversidade da medicina, física e organoléptica; acho que foi isso que me fez apaixonar por ela. A vida se encarregou de abrir as portas para mim nesse assunto, e nunca pensei que hoje estaria trabalhando para uma multinacional que está na bolsa de valores dos Estados Unidos, porque para mim sempre foi um hobby, algo que nunca ia ser permitido, pelo menos nos países onde eu morava. Morei um tempo em Miami, depois em Porto Rico e agora estou na Colômbia. Eu nunca, mesmo sendo apaixonado por isso, pensei em viver da cannabis de uma forma legal. Eu tinha planos de fazer algo no Colorado ou na Califórnia, mas a própria vida se encarregou de me trazer para a Colômbia. CWJ: Há quanto tempo você trabalha com cannabis medicinal? CV Jr: Eu estudei Marketing, Negócios Internacionais e Produção Musical para ajudar meu pai em sua carreira; no entanto e por questões da vida, em 2017 entrei para trabalhar formalmente em uma multinacional que se dedica ao uso de cannabis medicinal. CWJ: Como você analisa o tema da cannabis medicinal no futuro? CV Jr: As pessoas que estamos nesta indústria e que nos esforçamos para encontrar e preservar

sua genética; realmente assumimos a responsabilidade. Hoje este é um grande mercado; no entanto, o setor farmacêutico espera que isso seja mais recreativo e que o seu uso industrial seja muito mais atraente para entrar. Há rumores de que todas as embalagens da Amazon serão feitas de componentes de cannabis, isso significa que não só se fala em seu uso, mas que já está se tornando verdadeiramente industrial e está atraindo a atenção de pessoas que não queriam participar. Eles ainda não foram capazes de adquirir as patentes e propriedade sobre o que está em auge, como a moda e a medicina. CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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Empresário do mês CWJ: Por que você se focou na genética da cannabis? CV Jr: Para que possamos entender a importância dela e explicá-la, é necessário fazêlo de forma mais científica. Nenhuma cannabis a menos que venha de um clone, é igual em seu conteúdo de canabinóide nem produz o mesmo efeito. Isso significa que, se você realmente não sabe e não tem um amplo espectro de genética, não terá um amplo espectro para atacar diferentes situações e doenças.

Não mais a título de exemplo, se um paciente que sofre de insônia recebe um medicamento ou uma flor que vem da genética que tem um efeito enérgico, criativo, ou apenas um efeito completamente diferente daquele que o paciente busca, então está sendo feito um grande mal a esse paciente. A cannabis está sempre ligada a efeitos que não são típicos do uso adequado de cannabis. Uma pessoa que usa cannabis através da genética pode tratar muito bem tudo o que tem a ver com dores musculares, insônia, ataques de estresse, problemas de glaucoma e uma série de coisas que têm a ver com o sistema nervoso. Porém, trata-se de genéticas de descendentes que são conhecidas como Indica ou Sativa que geralmente as pessoas utilizam para insônia, ansiedade, dor, entre outras coisas. A verdadeira medicina vem de um espectro completo, então é possível obter medicamentos que tenham CVG, THC, CBD, CBT. A genética é muito importante, porque se você não tiver uma genética de acordo com a sua necessidade, o tratamento não será funcional e eficaz. Me interessei na genética porque desde muito novo percebi que existia uma genética que realmente existia para cada um de nós.

Por exemplo, conheci pacientes que usaram opioides, mas quando usaram cannabis com certos genes, conseguiam substituir seus efeitos. CWJ: É razoável dizer que o cultivo é o ponto de partida para inovar na indústria da cannabis? CV Jr: Sim, e ainda mais quando é necessário integrar à indústria funções científicas, jurídicas e medicinais. As plantações que estão no campo são as que realmente estão desenvolvendo a indústria, junto com agrônomos e médicos; são eles que trazem as informações. Todas as informações que estão sendo coletadas em nível genético, industrial e medicinal são muito importantes. CWJ: Por que a educação é muito importante na cannabis medicinal? CV Jr: Muitas vezes sou convidado para debates com políticos e universidades para seminários e conferências. Aqui na Colômbia, esta é uma questão muito política; de preto e branco, mas ninguém quer realmente analisar totalmente essa questão. Sempre digo aos políticos que eles precisam se aprofundar no assunto para ter uma opinião ou saber o que apoiar, porque as informações que recebem em 30 minutos antes de entrar aos debates ou reuniões sobre o assunto não são suficientes. Apenas como exemplo em Amsterdã, na Holanda, a cannabis medicinal tem sido um debate há mais de 50 anos. O partido cristão não está dizendo que é contra ou dirige como fazer as coisas lá com a cannabis, e nem os partidos tradicionais que estão completamente satisfeitos com a economia. Isso sempre foi uma dor de cabeça porque, no final das contas, dependemos muito das políticas de cada país, mas realmente ninguém se colocou no papel CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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Empresário do mês de entender quais são seus usos e a regulamentação da cannabis medicinal.

falamos de Santa Marta, não é a mesma coisa cultivar na região de Bonda que cultivar na Sierra Nevada porque a umidade varia.

Sempre falamos sobre cannabis. Eu questiono aos políticos por que o álcool e uma série de outras coisas podem ser regulamentados com controles de limite de idade, e com a cannabis não, é certamente uma questão de dois gumes.

Existe mercado, mas não existirá para sempre porque as pessoas vão sempre exigir e oferecer cannabis. Na Colômbia, os benefícios da cannabis medicinal não são bem compreendidos e é por isso que a genética é tão importante. 5 anos atrás, na Colômbia, a cannabis medicinal começou a ser regulamentada por registro de genética diferente, mas tem bancos de sementes que começaram a trazer genéticas qualquer, é apenas entrar na internet para verificar isso, mas eu me pergunto, realmente serão medicamentos esses modelos genéticos? Acho que pelo contrário, vão se aproveitar de pessoas que não verão o resultado e quando isso acontecer vão dizer que a cannabis medicinal não funciona e se isso acontecer não vão aprovar esse tipo de produtos; é por isso que a questão educacional é muito importante. CWJ: A sua experiência com a cannabis medicinal é reconhecida pela sua contribuição em outros países. Você acha que há diferenças no cultivo em diferentes áreas? CV Jr: Cem por cento. A geografia é tudo, especialmente quando você está avançando neste tema. Quando falamos de cannabis recreativa, é feito em ambientes fechados, pois por exemplo no Colorado, no Oregon são locais onde só é feita uma única colheita por ano. Mas em termos de clima e geografia, é muito diferente. Santa Marta é completamente diferente de Barranquilla, os microclimas são extremamente diferentes; se

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Algumas flores de cannabis produzem uma fruta que não tem casca. Ou seja, a fruta com a casca pode receber chuva, porque a parte interna da fruta não fica molhada e nem causa fungos. As flores de cannabis, especialmente as medicinais, devem ser extremamente cuidadas. Não podem receber água porque podem causar uma alteração em sua composição. Santa Marta é famosa pelo cultivo de cannabis medicinal porque é completamente seco, onde faz sol 80% do ano e não registramos chuvas, é por isso que podemos cultivar em grande escala.

Hoje, a diferença entre uma plantação bemsucedida e uma perdida é a genética. Por exemplo, se seguirmos a linha do equador da Colômbia até o outro lado do mundo, encontraremos a África, que tem as mesmas condições climáticas que temos aqui na Colômbia. Então toda a genética que vem do continente africano foi aquela que foi adaptada aqui no continente americano. Durante milhares de anos continuaram a prevalecer as outras genéticas que não se adaptam facilmente e por isso apodrecem, não geram sementes e acabam com a sua reprodução. CWJ: Você é filho de um grande e querido artista colombiano como Carlos Vives, como sua família, principalmente seu pai, recebeu a notícia de que você está tão vinculado à cannabis? CV Jr: Sempre minha família, e principalmente meu pai, não viam isso como uma realidade minha. Há pessoas que ainda não tiveram contato com a cannabis medicinal, e só a conhecem de forma recreativa. No começo eles obviamente não aceitaram, mas no momento em que me chamaram para participar de um mercado totalmente legal, o assunto tomou muita seriedade, e teve muito mais apoio e aceitação. Quando a cannabis já pagava as contas de forma legal e honesta, começaram a aceitar. Hoje falamos isso com muito orgulho. Esse novo amigo (risos) trabalha para uma empresa

canadense em Santa Marta e fica direto na fazenda. Estou calmo e por isso acho que eles estão muito orgulhosos do que posso fazer sob a lei. CWJ: Entendemos que dentro de seu papel como produtor de cannabis medicinal, você conseguiu gerar algumas cepas, qual você criou e já participou de torneios de cepas? CV Jr: Quanto à genética, sempre existe um portfólio amplo. O bom da minha equipe é que somos muitas pessoas cultivando, estamos nisso há muitos anos, e isso une a experiência com paixão e é realmente o que nos leva a ter muito bons resultados. Hoje trabalhamos com Phd, que nunca tiveram acesso às plantas e agora são geneticistas delas. Então, como um todo, tem sido possível fazer um trabalho espetacular porque um deles é da Índia e é uma ponte para se chegar ao que se quer fazer. Quando falamos de genética sempre me pergunto para o que a vamos usar? Quando falamos de genética industrial, falamos de genética não psicoativa, estamos falando de genética para um determinado tipo de uso, por exemplo, o CBG que agora tem uma varietal linda que cheira a tangerina, é totalmente industrial, você pode semear os hectares que quiser, e resiste a todas as pragas naturais. Tenho um projeto chamado Black Tuna, que é um banco de sementes de genéticas na qual estamos procurando de tudo, qual é a genética, aquela que tem gosto disso ou daquilo e que tem sustento, que dá certo perfil, qual é a aquela que dá energia, aquela que as pessoas mais gostam com o sabor ideal, qual é o sabor que ainda não foi explorado. Digamos que encontramos perfis que nos levam à limonada de manga, por exemplo, que já esteve em competições, acabamos de chegar de uma em que ficamos em terceiro lugar com a melhor sativa com a limonada de manga.

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Empresário do mês Então a regulação da produção é muito importante porque leva em conta como se produz e como se cuida, como é feita a póscolheita, que genética precisamos para cultivar, transformação em fármacos, que genética vamos fazer uso dependendo do medicamento que a pessoa necessita porque esse medicamento tem aquela formulação, os testes em animais, in vitro, em humanos, para ter informações suficientes para dizer que funciona. É por isso que o regulamento de que o governo precisa é o controle total sobre a cannabis. É ter controle sobre quem o consome, produz e vende; sobre como é vendido, quanto é cobrado, quem tem acesso, quais são os protocolos para tê-la; bem como seus limites, regras e normas. CWJ: Em que genética você está trabalhando atualmente e quanto tempo leva para estabilizá-la e preservá-la? CWJ: Para você, qual é esse ingrediente que deve ser incluído em regulamentos, leis ou normas para que haja melhores processos industriais que beneficiem empresários, pacientes e pessoas? CV Jr: É necessário falar de um regulamento completo. Se a cannabis fosse totalmente regulamentada, desde a sua produção até a sua venda, não apenas pessoas treinadas, qualificadas e experientes teriam acesso à produção e distribuição. Hoje estamos vendo as ramificações de médicos especializados no uso de plantas medicinais. Antes, encontraríamos médicos na Califórnia que formulavam cannabis com fins lucrativos e era um negócio inteiro porque o médico sabia que, se desse essas fórmulas às pessoas, muitos mais clientes viriam a ele. Minha conclusão é que nenhum médico teve o preparo para formular a planta, ele nunca se sentou em uma mesa, em uma sala em frente a um professor e o professor disse hoje que vamos estudar os usos do THC e do CBD no sistema gástrico ou vamos ver no sistema neural. .

CV Jr: Temos um mercado industrial para uma genética de CBD muito famosa que vem de dois espécimes muito distantes na árvore genealógica. Então, é feito heterose e se hibridiza F1 verdadeiro. Isso só é feito quando você cruza parentais distantes e só pode saber se sequenciar o DNA com as variedades que usa. Estamos trabalhando nessa genética desde 2016 e já a temos na sua forma mais estável na medida em que levamos os antecessores para a conservação, isso é feito com os retrocruzamentos. Para poder fazer retrocruzamentos é necessário reverter a genética e para isso tem que ser feitas algumas formulações para poder expressar e converter uma planta que é fêmea que vem de um lote de sementes regulares e transformá-la em masculina para gerar pólen e autofertilizar e assim criar embriões. CWJ: Você já trabalhou com a genética do cânhamo?

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Empresário do mês CV Jr: Quanto ao CBD, temos o trabalho de um F2 que vem de uma genética francesa chamada santita que é usada na França para fazer cânhamo, essa variedade quase não tem THC. Outra planta que a gente trabalha há três anos e ainda está em processo porque é a mais instável, é descendente da famosa amnésia, que é uma planta muito famosa na Europa, tanto para produção quanto para o mundo recreativo.

em encontrar e manter essas joias vivas, mesmo que não sejam atuais nem estejam na moda. Hoje a cannabis não é mais prática e começou a ser comercial. É como um vinhedo, cada um tem suas cepas, nenhuma tem que ser melhor que a outra, pois todas são para um tempo, lugar e pessoa diferentes.

Temos uma das genéticas europeias mais clássicas e é essa que nos deu muita produção de resina. Aqui a estabilizamos com outras genéticas que também temos de altíssima produção, mas muito resistentes a pragas e climas adversos.

CV Jr: Temos genética cadastrada para empresas, mas com meu nome não tenho nenhuma, a única forma de fazer isso é como falamos no início, fazer um registro ou caracterização da variedade (diário de campo), esta é uma metodologia que começou em 1900 para poder patentear uma planta, por isso as grandes empresas não podem mais roubar do pequeno agricultor, do pequeno botânico, por assim dizer, que está trabalhando em alguma genética. Um dia gostaria de ter minha genética própria, mas como a cannabis ainda é algo que não é controlado por grandes empresas e monopólios, é algo que, se eu tiver hoje, outros teriam que vir ao meu cultivo para me roubar fisicamente.

CWJ: Como você conseguiu os parentais para sua genética atual? CV Jr: Tenho mais de 16 cruzamentos atuais, todos, alguns vêm de genética que mantivemos desde 1996, que mais tarde herdei em 2006 2007. Outras genéticas que já existem há muitos anos. Portanto, realmente trabalhamos com pessoas que estão por aí há cerca de 30 anos e foram capazes de preservar a genética por muitos anos. Pelo mesmo motivo é que acredito que a importância da genética assenta na conservação dos espécimes porque são a base da grande quantidade de variedades que se encontram no mercado e são as mais difíceis de encontrar e pelo mesmo motivo, mais caras. Alguns bons anos atrás, quando estive em Miami, tive a oportunidade de visitar uma fazenda de velhos surfistas que vendiam cannabis no sul da Flórida. Em uma das casas, ela desenvolveu um hermafrodita por estresse, não recebia muita luz e com o tempo gerou um “ovinho” por dia (sacos de pólen). Eles não imaginavam que criariam a base da família Kuch. Então quem tem sementes velhas vai ter muito mais força do que quem tem sementes com muito material genético cruzado. Meu banco de sementes tem se concentrado

CWJ: Que interessante ... E você tem alguma cepa declarada como sua?

Ou seja, eles não poderiam replicar para mim, mesmo que fizessem sementes de trigo, não poderiam replicar porque se as sementes são irmãs, são primas, são semelhantes, o resultado não será o mesmo. Acho que as pessoas não estão muito preocupadas com a questão das patentes, mas quando empresas fortes começarem a atuar, isso se tornará muito mais uma questão de necessidade.

CWJ: Você sabe como as variedades nativas podem ser encontradas em certas regiões? CV Jr: Essa é uma questão muito ampla devido à falta de regulamentação, a cannabis nunca foi protegida. Algumas genéticas foram preservadas de certa forma pelas pessoas que estavam no poder do mundo ilegal, com a quantidade não permitida. A cannabis nunca foi protegida, sempre foi o híbrido utilizado,

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Empresário do mês principalmente quando algumas pessoas a melhoraram na época das grandes safras da United Fruit Company.

questão. Este é um setor que, como todos, deve ser amparado por ferramentas jurídicas, como promoção, marketing e estudos clínicos.

Assim chegaram aqui, deixaram muita infraestrutura e adaptaram regiões para exportar, baniram frutas para os Estados Unidos e essas pessoas não se interessaram muito pela genética que encontraram aqui porque não viam como produtiva. Desde o início, as plantas serviam para gerar mais resina, para cortar os dias de floração, para ter mais produções por ano. Portanto, o ser humano nunca esteve consciente. E como nunca fomos legais até agora, as organizações não puderam participar. Não quero dizer que seja impossível, mas é extremamente difícil e você teria que ter acesso às pessoas que estiveram com essas plantas nos anos 70 ou 60 e a única forma de existirem é em forma de semente. Existem alguns clones que têm 30 ou 40 anos e que foram clonados por esse mesmo período de tempo. Mas esses clones já são descendentes dessas plantas originais. Antes, a cannabis não tinha nome, tinha uma denominação de origem canadense. Eles a chamavam de tailandesa, mexicana, colombiana, africana, cambojana. Quando olhamos para as árvores genealógicas das primeiras fitos melhoradas, encontramos que a genética é mexicana, cruzada com a colombiana e cruzada com tailandesa.

Se olharmos mais atras, vemos a variedade africana cruzada com tailandesa e isso dá X genética. Desde o início, a genética sempre foi uma dadiva, por exemplo aqui na Colômbia se produziram genéticas domesticadas. CWJ: Mas então você olha para a indústria da cannabis medicinal como algo que continuará a crescer rapidamente? CV Jr: Sem dúvida porque é que estamos apenas olhando para um nível macro. Israel tem um projeto de cannabis medicinal muito avançado e eles o integram há muitos anos, pelo contrário, os países hispânicos estão apenas entrando nessa 33 CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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As políticas de exportação impulsionam o crescimento da indústria da cannabis

O Canadá se consolida como um dos países que mais exporta a planta de cannabis para fins medicinais, enquanto Estados Unidos avalia a ampliação de sua regulamentação. À medida que o mundo legaliza o uso da cannabis ou seus derivados, cada vez mais países abrem suas portas para um mercado global com o objetivo de exportar produtos ou matérias-primas. No entanto, uma das considerações mais importantes a

ter em conta para começar neste setor é que se trata de um campo de mão dupla. Isso significa que não apenas as políticas de exportação do país de origem devem ser levadas em consideração, mas também as políticas de importação do país de destino. A seguir, revisaremos alguns exemplos de políticas de exportação em todo o mundo e como elas têm moldado o mercado de cannabis.

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Canadá Embora os EUA foram pioneiros na inovação de produtos e operações agrícolas em grande escala, ainda há muitos obstáculos na área de exportação devido às regulamentações estaduais.

Estados Unidos Neste país, cada estado tem seus próprios regulamentos, então as leis de importação e exportação mudam dependendo de cada estado. Os regulamentos são regidos pelos níveis de canabinóides dos produtos, e as leis estaduais devem ser revisadas com relação à porcentagem de THC e CBD. O FDA também é bastante rígido quanto às falsas alegações feitas durante a comercialização dos produtos. Os produtos com baixo teor de THC estão avançando no mercado de exportação à medida que mais países admitem esses produtos de acordo com suas leis de importação. A Suíça é um destino no qual os Estados Unidos pretendem exportar esse tipo de produto, pois sua regulamentação permite a importação de cannabis com baixo teor de THC como alternativa para parar de fumar cigarros de tabaco.

Por sua vez, o Canadá se posicionou como o exportador dominante na América do Norte. ArcView Market Research e BDS Analytics estimaram que $ 14,9 bilhões em exportações foram levantados durante 2019. As empresas canadenses estão acumulando capital e estabelecendo relações comerciais internacionais graças às suas políticas de exportação flexíveis.

Colômbia Em 23 de julho, o presidente Iván Duque assinou o decreto que autoriza a exportação da flor seca da cannabis para impulsionar o crescimento dessa indústria na Colômbia. Este país sul-americano espera que até 2030 as exportações de cannabis medicinal cheguem a 1,7 bilhão de dólares, valor superior ao que contribuem com as exportações de flores na Colômbia. Austrália, Reino Unido, Estados Unidos, Peru, Equador e Brasil são os destinos com maior potencial de exportação de flores e CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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produtos derivados da cannabis da Colômbia.

Austrália Durante 2020, a Austrália fez alterações em suas leis de exportação de cannabis medicinal para reativar a indústria após a crise causada pela COVID-19. O Projeto de Emenda da Legislação de Controle de Exportações foi aprovado na Câmara dos Deputados em 10 de junho e no Senado em 17 de junho do ano passado.

As barreiras regulatórias desnecessárias impostas às exportações foram eliminadas, o que permitirá que o comércio e o crescimento dos mercados sejam mais fáceis para aqueles que permitem cannabis com baixo teor de THC.

Para concorrer com os países exportadores dominantes como o Canadá, a Austrália envia suas exportações para lugares que o Canadá ainda não levou. Embora o país norte-americano já exportou 5.372,3 litros de derivados de cannabis em 2019, junto com 3.740 kg de cannabis seca, apenas alcançaram alguns mercados, um dos quais foi a Austrália. Outros países que estão bem posicionados no mercado de exportação de cannabis são Holanda, Dinamarca, Israel; e estão em desenvolvimento Jamaica, Grécia, Portugal e Nova Zelândia.

Legalização Federal nos EUA: Benefício ou Desvantagem para os Negócios Cannabis? A legalização federal da cannabis nos Estados Unidos parece estar cada vez mais próxima. Muitos empresários questionam os benefícios que esse processo legal traria para seus negócios de cannabis caso fosse aprovado. Se a cannabis for retirada da lista da Lei de Substâncias Controladas, vários problemas ou inconvenientes que costumam afetar os empresários de cannabis são resolvidos, como o acesso a fontes tradicionais de financiamento como bancos, porque apesar dos diferentes avanços em nível estadual, na ausência da legalização federal não há fluxo de capital de investimento para o setor. Além disso, os espaços de cultivo não seriam tão limitados, aumentariam a oferta de matéria-prima e reduziriam a dependência da importação de plantas. Dessa forma, as oportunidades no setor agrícola também aumentariam. A diferença de preços é outra realidade que afeta a indústria da cannabis, tanto o vendedor quanto o comprador. Após a legalização, um comitê gestor federal pode ser estabelecido para promover a regulação de preços e o crescimento da indústria. Isso marcaria o início de uma nova era da cannabis no país, com mais oportunidades de negócios e maior participação.


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O que considerar Além de se tornar um setor mais regulado, em termos de preços e processos, poderia alterar o ritmo que alguns negócios sob regulamentação estadual vêm estabelecendo. Por sua vez, a competição aumentaria com os mercados nacionais pudendo alterar as regulamentações estaduais individuais que tem permitido o florescimento de pequenas empresas. Não é estranho que algumas empresas questionem se essa medida legal afetará positiva ou negativamente seus processos, porém, em termos gerais, o mercado legal de cannabis pode apontar expansão, crescimento e financiamento da legalização federal. O mercado ilegal continua sendo um fator importante no setor em muitos estados, mesmo naqueles onde já houve avanços legais; a situação neste setor seria claramente um panorama diferente.

Assim como a tecnologia tem sido implementada em diferentes campos e setores para o desenvolvimento industrial, da mesma forma a cannabis medicinal vê nela alternativas de conectividade e surgimento de negócios. Empreendedores, ou qualquer pessoa agora terá a oportunidade de começar na cannabis medicinal graças ao crowdgrowing ou também chamado egrowth. Este método nasceu como uma solução para os obstáculos regulatórios e econômicos, uma vez que a cannabis pode ser cultivada virtualmente. Em outras palavras, uma pessoa pode comprar um clone de uma planta de cannabis para fins medicinais por meio de uma plataforma de um produtor de cannabis desde qualquer lugar do mundo. Este sistema baseado em crowdfunding é uma novidade para a indústria, ao permitir que os produtores se conectem com investidores e pessoas interessadas em fazer parte dela, usufruindo dos rendimentos e sem violar as leis de cada país. Atualmente, existem empresas como a Juicy Fields que se tornaram famosas pela lucratividade que oferecem; no entanto, ainda existem pessoas muito céticas em relação a esta inovação que envolve tecnologia, empreendedorismo e cannabis. Por isso, é recomendável fazer várias análises e estudos antes de fazer parte deste modelo de negócio.


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Importância dos canabinoides nas doenças neurodegenerativas Análise dos artigos: Cannabinoids Involvement in Neurodegenerative Diseases.Walter Milano, Mario F. Tecce y Anna Capasso. Current Neurobiology Journal. Cannabidiol for neurodegenerative disorders: important new clinical applications for this phytocannabinoid? Javier Fernández-Ruiz, Onintza Sagredo, M. Ruth Pazos, Concepción García, Roger Pertwee, Raphael Mechoulam & José Martínez-Orgado. BJCP.

Verificou-se que os canabinóides desempenham um papel importante como neuroprotetores contra a disfunção mental e motora em doenças neurodegenerativas. As propriedades neuroprotetoras dos canabinóides indicam seu uso terapêutico para limitar os danos neurológicos.

Os tratamentos com esses medicamentos não devem apenas ter como objetivo aliviar sintomas específicos, mas também tentar retardar ou interromper a progressão da doença e reparar estruturas danificadas. Estudos relatam que o sistema de sinalização canabinóide é um elemento modulador chave na atividade dos gânglios basais.

Esta ideia é apoiada por diferentes dados anatômicos, eletrofisiológicos, farmacológicos e bioquímicos. Além disso, esses estudos indicam que o sistema

canabinóide está prejudicado em diferentes distúrbios neurológicos que afetam direta ou indiretamente os gânglios da base, apoiando a ideia de desenvolver novas farmacoterapias com compostos que visam seletivamente elementos específicos do sistema canabinóide.

Canabinóides na disfunção mental e motora em doenças neurodegenerativas As doenças neurodegenerativas incluem um grupo de doenças associadas à perda neuronal progressiva que leva a uma variedade de manifestações clínicas. As alterações histomorfológicas podem incluir gliose e proliferação de micróglia juntamente com agregados de proteínas aberrantes ou mal dobrados. As doenças neurodegenerativas mais comuns incluem

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Parkinson (DP), Alzheimer (DA), esclerose lateral amiotrófica (ELA).

Pode haver dois processos principais que destacam os efeitos neuroprotetores do CBD. O primeiro e mais clássico, é a capacidade do CBD de restaurar o equilíbrio normal entre os eventos oxidativos e os mecanismos antioxidantes endógenos que são frequentemente interrompidos em doenças neurodegenerativas; melhorando assim a sobrevivência neuronal. O segundo mecanismo chave do CBD como um composto neuroprotetor envolve sua atividade anti-inflamatória, que é exercida por outros mecanismos além da ativação dos receptores CB2, a via canônica para os efeitos anti-inflamatórios da maioria dos agonistas canabinóides.

Benefícios neuroprotetores dos fitocanabinóides Pesquisas sobre o CBD em modelos animais e humanos mostraram inúmeras propriedades terapêuticas para a função e proteção do cérebro, tanto por seu efeito no sistema endocanabinóide (SEC) diretamente quanto por sua influência nos canabinóides endógenos. De modo geral, o CBD tem demonstrado benefícios ansiolíticos, antidepressivos, anti-inflamatórios, neuroprotetores e imunomoduladores. O CBD diminui a produção de citocinas inflamatórias, influencia as células micróglias a retornarem ao estado de ramificação, preserva a circulação cerebral durante eventos isquêmicos e reduz as alterações vasculares e a neuroinflamação.

Neuroproteção para a doença de Alzheimer A DA é caracterizada por aumento da deposição de peptídeo beta-amilóide junto com ativação glial em placas senis, perda neuronal seletiva e déficits cognitivos. Os canabinóides são neuroprotetores contra a excitotoxicidade in vitro e em pacientes com lesão cerebral aguda.

Neuroproteção para a doença de Parkinson A DP também é uma doença neurodegenerativa progressiva cuja etiologia foi associada, entretanto, a fatores ambientais, suscetibilidade genética ou interações entre as duas causas. O CBD também se mostrou muito eficaz como composto neuroprotetor em modelos experimentais de parkinsonismo, ou seja, camundongos com CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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6-hidroxidopamina, agindo por meio de mecanismos antioxidantes que parecem ser independentes dos receptores CB1 ou CB2.

Neuroproteção na esclerose múltipla

A EM é uma doença crônica na qual o sistema imunológico ataca as bainhas de mielina axonal. Os canabinóides têm se mostrado promissores no tratamento da esclerose múltipla em humanos. Um possível mecanismo subjacente é sugerido por um estudo recente no qual o sistema endocanabinóide foi encontrado para ser altamente ativado durante a inflamação do SNC em pacientes com EM e protege os neurônios de danos inflamatórios ativando um ciclo de retroalimentação negativa em células micróglias através da regulação epigenética mediada por CB1/2 da expressão da proteína quinase fosfatase 1 ativada por mitógeno.

Neuroproteção para a doença de Huntington

A DH é uma doença neurodegenerativa hereditária causada por uma mutação no gene que codifica a proteína huntingtina. A mutação consiste em uma expansão repetida do tripleto CAG traduzida em um trato de poliglutamina anormal na porção amino-terminal da huntingtina. A combinação de CBD e THC mostrou reduzir a atividade metabólica nos gânglios da base e até reverter alguns dos efeitos neurodegenerativos de Huntington.

Perspectivas Existe uma forte ligação entre os canabinóides e as doenças neurodegenerativas. As atividades neuroprotetoras dos endocanabinóides parecem ser mediadas principalmente por CB1, por isso são caminhos promissores para a orientação terapêutica de diferentes aspectos dessas doenças, estimulando um sistema endógeno autoprotetor do cérebro e neutralizando o estresse oxidativo. O aumento da pesquisa sobre a medicina canabinóide e a modulação do sistema endocanabinóide em relação à neurodegeneração tem o potencial de levar a novas terapias que podem ajudar a prevenir a progressão e, potencialmente, o início dessas doenças. Os fitocanabinóides surgiram nos últimos anos para serem vistos como medicamentos naturais promissores para o tratamento de doenças nas quais as opções farmacoterapêuticas existentes podem ser limitadas ao tratamento sintomático, como nas doenças neurodegenerativas. Os fitocanabinóides são química e biologicamente diversos e têm propriedades bioativas interessantes que são muito adequadas para o seu desenvolvimento como novos tratamentos para essas doenças. Isso inclui propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias gerais, mas também propriedades neuroprotetoras diretamente mediadas por várias vias bioquímicas diferentes.

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Cenários da

psicologia da cannabis

Letícia Laranjeira - psicóloga clínica, idealizadora psicoCannabis e membro da SBEC (Sociedade Brasileira para os Estudos da Cannabis sativa).

“O psicólogo baseará seu trabalho no respeito e na busca pela liberdade, dignidade, igualdade e integridade do ser humano, amparado pelos valores que sustentam a Declaração Universal dos Direitos Humanos” (código de ética vigente por meio da resolução n. 0,010 do Conselho Federal de Psicologia do Brasil). Dada a falta de perspectivas no tratamento de certas doenças consideradas refratárias, ou seja, doenças que não respondem a nenhum tipo de medicamento e intervenção existente, muitas famílias buscam o acesso ao uso medicinal da cannabis como última alternativa possível. E muitas vezes

encontram uma qualidade de vida melhor do que esperavam. A história do uso permitido de cannabis no Brasil é a história de mães e famílias que mobilizaram a sociedade em busca de medicamentos para seus filhos com epilepsia e doenças raras, que pressionaram o poder público a importar medicamentos, criando associações para reduzir os custos desse tipo tratamento e facilitando o acesso a quem precisa. E o que a psicologia, como ciência e como profissão, tem a ver com isso? Defendemos uma psicologia que não seja indiferente e supostamente "neutra" ao sofrimento das pessoas, que não se desprenda do mundo em seu contexto social, cultural e político, que atue com intervenções práticas na vida. Então, como não participar do debate sobre o uso terapêutico da cannabis? CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 13 |

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Talvez uma forma seja pensar como os profissionais da psicologia podem contribuir para um mundo com menos preconceito e com melhor qualidade de vida? Um mundo empenhado em acabar com a guerra às drogas, que apoie o acesso de pessoas que não dispõem de meios econômicos para se tratar, que avance para uma reparação histórica aos perseguidos pelo cultivo desta planta medicinal. É nessa perspectiva de respeito à liberdade e à dignidade humana que buscamos o caminho para a construção de uma Psicologia Canábica. Uma psicologia com bases: antirracista, antimanicomial, antiproibicionista e descolonizada. Que se dediquem a estudar o Sistema Endocanabinóide no corpo humano, as especificidades dos pacientes com cannabis e, sobretudo, que abandonem seus preconceitos e se dediquem cada vez mais à defesa desses direitos. Estar junto aos movimentos sociais e associações de pacientes, defendendo o autocultivo e acolhendo essas pessoas; contribui ativamente para o fortalecimento desses espaços e dessas vidas. E isso me parece um cenário dessa Psicologia Canábica.

no tratamento de cannabis. Ao contrário de outros medicamentos, requer monitoramento cuidadoso e diário. Quando feito em associação com prescritores de cannabis que entendem a importância da psicologia nesses grupos interdisciplinares, o resultado esperado pode ser alcançado rapidamente. Sabemos que cada pessoa tem um sistema endocanabinóide único e, portanto, diferentes reações aos tratamentos. A dosagem é personalizada, dizem os médicos. E quem melhor do que os profissionais da psicologia para entender esse tipo de fenômeno? Lutar pela legalização do uso responsável da cannabis, contra a proibição das drogas e a favor da vida é urgente e necessário. É uma questão macropolítica e micropolítica. E eu entendo que a psicologia deve se juntar a essa luta com urgência. Por isso, tenho me dedicado a construir uma rede para quem deseja atuar, incentivando projetos e lutas existentes no campo do uso terapêutico da cannabis. E assim surgiu o PsicoCannabis, que hoje é a primeira rede brasileira de profissionais da psicologia que estudam o uso medicinal da planta.

Outro aspecto importante é a necessidade de compreender a natureza da proibição. Hoje, está muito claro que o proibicionismo foi historicamente político e não medicinal. Foi uma ferramenta que excluiu, segregou e até acabou com a vida de alguns, e hoje esse tipo de situação continua acontecendo nas cidades brasileiras com o pretexto da 'Guerra às Drogas'. Outro cenário dessa Psicologia Canábica pode ser a importância de uma escuta psicológica qualificada para monitorar a dose 42


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Cannabis “de perto”

Cepas “Kush” para o tratamento da doença de Parkinson Os idosos também têm se beneficiado das propriedades medicinais da cannabis, exemplo disso são as diferentes aplicações da planta no tratamento de doenças neurodegenerativas como o Parkinson, que atinge cerca de 10 milhões de pessoas, a partir dos 50 ou 60 anos. A eficácia e o alívio que a cannabis medicinal tem demonstrado nesta patologia são de extrema importância quando se consideram as alternativas terapêuticas disponíveis, tendo em vista que esta doença apresenta sintomas motores e não motores que se agravam progressivamente, não havendo cura definitiva para esta doença e dificultando o desenvolvimento das tarefas diárias. Qual variedade de cannabis é a mais adequada para o tratamento?

De acordo com o testemunho de pacientes, as cepas indica têm sido eficazes no alívio de certos sintomas, especialmente aqueles com alto teor de THC. Estes geralmente causam um efeito relaxante, aliviam a dor, melhoram o sono, o humor e aumentam o apetite. As cepas "Kush" têm predominância indica e têm sido utilizadas durante o tratamento do Parkinson, entre elas Kobain Kush (reduz espasmos e tremores musculares), Bubba Kush (relaxa, reduz a dor e o estresse, também aumenta os níveis de dopamina, neurotransmissor afetado pela doença) e Pure Kush (atua como um analgésico, alivia o estresse e a ansiedade). No entanto, também existem outras cepas com menor concentração de THC e maior teor de CBD que demostraram aliviar os sintomas de pacientes com Parkinson, como Harlequin, Critical Cheese, y Blue Diesel.

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Via de administração

Se um paciente com Parkinson decide optar pela cannabis como alternativa terapêutica, sob recomendação e orientação de um profissional da saúde, a planta oferece várias opções não apenas em termos de perfis químicos (como concentração de canabinóides, terpenos e flavonoides), mas também em termos das vias de administração. Um método que pode ser mais confortável para o paciente é a inalação por vaporizador, que oferece maior biodisponibilidade, evitando a combustão e seus derivados tóxicos, aproveitando assim os benefícios que cada composto da flor pode oferecer.

Qual o efeito da cannabis na doença de Parkinson?

Além de melhorar os sintomas não motores (ansiedade, estresse, depressão, distúrbio do sono), existem várias investigações préclínicas que demonstraram que a cannabis pode exercer um efeito neuroprotetor nos neurônios envolvidos na patologia, porém, a necessidade de mais pesquisas é ampla ainda está vigente para estudar e entender como os pacientes com Parkinson podem encontrar alívio e esperança na planta de cannabis após o diagnóstico e, assim, melhorar sua qualidade de vida.

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