Edição 17: Empresa do mês - NORML

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Equipe editorial e de jornalismo Cannabis World Journals

Cannabis World Journals é uma publicação quinzenal sobre as últimas tendências na indústria da cannabis.

Direção de conteúdo:

Alibert Flores Anne Graham Escobar

Design gráfico e editores de arte:

Katerin Osuna Robles Jannina Mejía Diaz

Equipe de pesquisa, jornalismo e redação:

CannaGrow: Daniela Montaña. CannaCountry: Sandra Loaiza. CannaLaw: Anne Marie Graham e Alibert Flores CannaTrade: Jennifer Simbaña, Lorena Díaz e Verónica Hernández. CannaMed:Jennifer Salguero e Natalia López-Orozco CannaGraphics: Alibert Flores

Tradução:

Inglês: Sandra Loaiza e Verónica Hernandez Árabe: Menna Ghazal e Oraib Albashiti. Português: Jennifer Salguero, Lorena Díaz, Lauri Fakur Ferreira e Natalia López-Orozco Italiano: Caterina Lomoro

Colaboradores edição 17:

David Fajardo, 420

Assine cannabisworldjournals.com Info@cannabisworldjournals.com

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Editorial: A Cannabis brilhará no firmamento de 2022. Pág 4 Coluna de opinião: -Ativismo Autocrítica. Pág 5 CANNAGRAPHICS:

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- Blog 420. Pág 6 - Curso de extensão de Cannabis medicinal. Pág 6

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11 Nossas Revistas CannaMed Magazine e CannaLaw Magazine, dedicadas à área terapêutica e à área da regulamentação legal da cannabis, respectivamente; decidiram unir forças para oferecer a vocês uma nova revista quinzenal mais completa: A Cannabis World Journals. A revista CannaMed e a revista CannaLaw tornam-se seções dessa Nova Revista, juntamente com elas você poderá encontrar duas novas seções que lhe oferecerão uma visão global sobre a planta no mercado: CannaTrade, cujo objetivo será destacar o ritmo dos negócios que se estabelecem em torno da cannabis; e CannaGrow, dedicado à botânica e cultivo dela. Cannabis World Journals é a revista de cannabis mais abrangente para leitores exigentes como você. Sem mais delongas, lhe damos as boasvindas.

CANNAGROW: Cannabinoides sintéticos, uma alternativa à produção de canabinóides?. Pág 8 NA SALA DO ESPECIALISTA: Diogo Maciel, especialista em Direito da Saúde e Diretor jurídico da Cannabis Farma Brasil. Pág 11

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CANNACOUNTRY: -Malta. Pág 20

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CANNALAW - O sistema bancário para a indústria da cannabis nos Estados Unidos. Pág 22 - Espanha aguarda proposta para regulamentar a cannabis medicinal em 2022. Pág 24

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EMPRESA DO MÊS - NORML. Pág 26

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CANNATRADE - Illinois, o destacado estado canábico. Pág 34 - Cannabis na bolsa de valores. Pág 35 - Cannabis e tecnologia em 2022. Pág 37 - Nuevas tendências na industria da cannabis para 2022. Pág 39

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CANNAMED - Cannabis sativa: Além do Δ9-tetrahidrocannabinol. Pág 41 - Benefícios terapêuticos do uso da cannabis medicinal, percepções dos pacientes. Pág 44


EDITORIAL

A Cannabis brilhará no firmamento de 2022

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em dúvida 2021 foi um ano maravilhoso para a indústria da cannabis, a comunidade da América Latina se mostrou receptiva e entusiasmada ao abrir os braços para a nova era que tem como protagonista, esta planta medicinal. Muitas batalhas foram vencidas e muitos muros começaram a cair, isso comprova que estamos vivenciando e desfrutando novamente da era dourada da Cannabis. Mesmo que os especialistas da indústria da Cannabis discordem sobre os detalhes mais finos sobre o futuro da planta, mesmo assim, prevê-se um grande crescimento na indústria. Observando o panorama mundial, são muitos os esforços quanto à despenalização e legalização em diversos lugares do mundo. Em 2020 um fato muito importante que marcou um antes e um depois na regulamentação da cannabis quando a Comissão de Estupefacientes das Nações Unidas votou para eliminar a cannabis do Anexo IV da Convenção Única de 1961 sobre Estupefacientes, que é o programa mais estrito. Após este fato significativo, começou um efeito dominó quanto aos esforços de legalização da indústria no exterior. A prova disso é o avanço da despenalização e legalização

da cannabis na Europa, América do Sul, América do Norte, Oceania e África. Por outro lado, no que diz respeito à área medicinal, à medida que vão sendo feitas mais pesquisas sobre a planta com os últimos descobrimentos que envolvem o THC, o CBD, os terpenos da cannabis e muitos outros compostos dentro da planta em si, é provável que o seu uso medicinal avance velozmente. É por isso que os especialistas teorizam que as futuras pesquisas sobre a cannabis farão com que o uso médico se torne mais comum que o uso recreativo. Além disso, sendo o início do um novo ano, não poderíamos deixar de nos perguntar: quais mudanças farão na cannabis? Quais serão os eventos que entrarão para a história da cannabis em 2022? Qual será o próximo país que dará o grande “sim” à indústria? Quantas pessoas passarão a se informar sobre as propriedades terapêuticas da planta? Posso lançar milhares de perguntas e teorias sobre isso, porém tenho a certeza de que os caminhos para a cannabis estarão se abrindo e serão iluminados com uma luz brilhante que refletirá em milhares de oportunidades. Equipe Editorial Cannabis World Journals 4 CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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COLUNA DE OPINIÃO

Ativismo Autocrítica Dediquei metade da minha vida à planta de cannabis. No início era apenas um hobby, os anos foram passando e hoje existem universidades que ensinam sobre o seu cultivo. Isso já é uma profissão de um Cannabicultor que é como eu me denomino. O ativismo da cannabis em si, eu diria que começou em 2012. Juntamente com o meu primo (Jorge), fundamos a 4:20 PosterandPipeShop, é como uma loja de brinquedos para aqueles que amam cannabis. Nessa época, eu já conversava com os clientes, muitos vinham à procura de seda, cachimbo ou queriam saber sobre o cultivo próprio. Lembro-me que eu dizia a eles, “cultive a sua própria erva”. Agora, já lançado no "Movimento Cannabis Equatoriano" e entrando em ação, entrei sozinho batendo em portas em todos os lugares, criei o Vida420 com a missão e visão de compartilhar conhecimento gratuito ou de baixo custo sobre o setor. Consegui formar uma boa equipe de trabalho, foi aí que nasceu a Mariarte (evento onde divulgamos os benefícios da

planta através de workshops, fóruns, conferências sobre cultivo, leis, redução de riscos e danos, etc.) Atualmente, estamos trabalhando para realizar a Copa Nacional de 2850 em Quito em novembro de 2022, juntamente com outros ativistas reconhecidos. Em pouco tempo, fez-se muito e isto é evidente, pois compartilhamos conhecimentos em algumas Províncias do país (Pichincha, Tungurahua, Imbabura) e ao mesmo tempo incentivamos que os envolvidos de cannabis, sejam novos ou ocultos, venham à tona. Acho que o segredo do negócio tem sido a união, comunicação, transparência, honestidade, sinceridade, integridade e ao mesmo tempo, são as bases para criar um Movimento Canábico sólido. Agora precisamos que as pessoas se unam à causa da DESCRIMINALIZAÇÃO DA CANNABIS, chegou a hora da cannabis sair do armário e dizer: “eu consumo, seja de forma recreativa ou medicinal”.

David Fajardo Vida420

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CannaGraphics

Blog 420 É um jovem cuja residência se localiza na Espanha, descobriu a planta da cannabis há quatorze anos e atualmente é um de seus hobbies. Hoje em dia, este ativista opta pelos cultivos indoor, por outro lado, os cultivos outdoor pararam de crescer há alguns meses atrás. Começou neste trabalho, contando gradativamente com o apoio de profissionais do setor, além disso, conta com o apoio da empresa holandesa Gen1:11 para suas safras e monitoramento das mesmas. O Blog420 se dedica ao processo de proteção e crescimento da planta cannabis, sempre cuidando de todos os detalhes para que o resultado do cultivo seja exitoso. Segundo o fundador (que deseja permanecer anônimo): “Como um projeto interessante, estamos criando uma variedade bastante peculiar, estamos procurando uma estética específica. O que queremos conseguir é que se reproduzam naturalmente, aclimatando-se melhor a cada geração”.

Curso de extensão na Colômbia A Pharmacology University, empresa americana com mais de quatorze anos de experiência no setor educacional em relação aos benefícios da cannabis medicinal, está novamente unindo forças com a Universidade Jorge Tadeo Lozano da Colômbia para realizar dois cursos de extensão com certificado neste primeiro semestre. Neste 2022 as instituições apresentam duas propostas educativas que respondem às diversas necessidades dos estudantes. 1. O primeiro é a VIII Edição de Curso de Extensão de cannabis com certificado: Regulamentos, Cultivo, Processos de Transformação e Aplicações Farmacêuticas. Modalidade: Aula virtuais com especialistas e aulas presenciais. Início: 18 de março a 2 de julho de 2022 Duração: 15 semanas | Carga horária: 108 H Horas presenciais: 19H | Horas virtuais: 89H CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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CannaGraphics Dirigido a: Ao público interessado em aprender sobre a cannabis medicinal, seja um de paciente, cultivador, químico extrator, profissional da saúde, empresário, investidores, etc. ✓ PARA VER AS FORMAS DE PAGAMENTO CLIQUE AQUI: https://www.utadeo.edu.co/es/link/educacioncontinua/53376/formas-de-pago

✓ Inscrições:​​ https://cutt.ly/VIqFTDi

✓ Link do programa: https://www.utadeo.edu.co/es/continuada/educacioncontinua/53376/cannabis-medicinal-normativa-cultivo-procesos-detransformacion-y-aplicaciones-farmaceuticas

2. O segundo é a II Edição de Curso de Extensão cannabis: Contexto legal, técnicas de cultivo, bioquímica e usos da cannabis- Universidade Modalidade: Aulas presenciais Início: 6 de maio a 9 de julho de 2022 Duração: 10 semanas | Carga horária: 90 H Características: O curso de extensão é dividido em quatro módulos, oferecendo ao participante uma visão completa sobre a atual situação da indústria. Os módulos são: Legal, Técnicas de Cultivo, Bioquímica e Usos Médicos.

✓ PARA VER AS FORMAS DE PAGAMENTO CLIQUE AQUI: https://www.utadeo.edu.co/es/link/educacioncontinua/53376/formas-de-pago

✓ Inscrições:

https://cutt.ly/VIqFTDi

✓ Link do programa: https://www.utadeo.edu.co/es/santamarta/continuada/educacion-continua/78091/cannabis-medicinal

CONTATO Universidade Jorge Tadeo: Carrera 2 # 11 - 68 Predio Mundo Marino Telefone: (+57) 605 422 9334 / Fax: (+57) 605 422 7928 Pharmacology University : Informação: +57 321 4222288 7 E-mail: info@pharmacologyuniversity.com


CannaGrow

sintéticos uma alternativa à produção de canabinóides?

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CannaGrow

O

s canabinóides sintéticos em palavras simples, são aqueles compostos criados em laboratórios que simulam o comportamento dos fitocanabinóides que serão aplicados na medicina, como o dronabinol, por exemplo, medicamento utilizado no tratamento de náuseas em pacientes com câncer e outras patologias e o uso recreativo como o produto Spice, uma mistura de ervas combinadas com sintéticos que gera fortes efeitos psicoativos. Em outras palavras, esses sintéticos têm a capacidade de interagir com o sistema endocanabinóide produzindo uma grande variedade de efeitos. As pesquisas sobre esses compostos remontam à década de 1980, segundo (unodc.org, s. f.) “Começou quando moléculas com comportamento semelhante ao Δ9-tetrahidrocanabinol (THC) foram examinadas pela primeira vez. Um análogo sintético do THC, 'HU-210', foi sintetizado pela primeira vez em Israel em 1988 e considera-se que sua potência chega a ser 100 vezes maior que a do THC. Devido à sua estrutura química semelhante ao THC, o 'HU-210' é considerado um 'canabinóide clássico' e foi encontrado em canabinóides sintéticos vendidos nos Estados Unidos e em outros países”.

Hoje muitas pessoas imersas na indústria da cannabis, especialmente as empresas farmacêuticas, estão de olho na produção de moléculas em laboratório para que sejam cultivadas em grandes áreas. A principal razão é porque embora os fitocanabinóides sejam promissores, eles tendem a ser instáveis e se decompõem em contato com altas temperaturas. Por outro lado, os canabinóides sintéticos podem ser estabilizados e evitar perdas relacionadas às questões econômicas. De fato, a empresa EPM Group Inc. grupo farmacêutico que desenvolve medicamentos prescritos à base de ácidos canabinóides sintéticos para atender às necessidades dos pacientes, tem a missão de produzir compostos canabinóides de forma mais escalável, reprodutível e robusta. Conforme afirma o professor Dan Peer, diretor do Laboratório de Nano Medicina de Precisão da Universidade de Tel Aviv e membro do Conselho de Pesquisa Científica da EPM, “é mais sensato usar moléculas sintéticas porque são altamente reprodutíveis e porque produzir pequenas moléculas seria mais barato do que criar plantas. Pode alcançar escalabilidade, reprodutibilidade e robustez ” (israel21c.org, 2021) A indústria pode optar por otimizar a um custo menor e talvez de maneira mais confiável e CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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CannaGrow

segura. Essa é uma proposta atraente, então, para que os investidores e as empresas farmacêuticas coloquem em prática esse tipo de produção de medicamentos com base em “compostos canabinóides”. No entanto, a interação e os efeitos a longo prazo dos canabinóides sintéticos ainda estão sendo estudados. De fato, Raphael Mechoulam, juntamente com Peer, descobriu que o composto EPM301, possui propriedades antiinflamatórias únicas, aplicáveis aos sintomas de colón irritável. Nessa ordem de ideias, em termos econômicos, além de uma revisão científica e farmacológica, é melhor criar as moléculas em laboratórios e deixar de lado os processos de cultivo, pois além da demora na obtenção dos fitocabinoides pode demorar mais para obter os fitocanabinóides em áreas onde a colheita vez por ano e em áreas tropicais até 3 vezes, tendo em mente que é a céu aberto, sem contar as dificuldades que podem ocorrer devido às pragas e doenças que reduzem a quantidade de extrato. Portanto, é evidente que é mais trabalhoso cultivar do que criar substâncias com a mesma finalidade.

Realmente, muitas variáveis entram em jogo porque há muitas evidências científicas dos danos causados pelo consumo de canabinóides sintéticos como o estudo de (Wacht et al., 2018), que fala sobre os abusos e as evidências de toxicidade e efeitos colaterais dos canabinóides sintéticos que levam as pessoas às salas de emergências. Por outro lado, os compostos botânicos, apesar de suas dificuldades na extração dos compostos, não tiveram sérias repercussões na saúde dos pacientes. A questão em si, seria sobre o custo-benefício e, além disso, a segurança de medicamentos confiáveis para tratar diversas patologias. Referências unodc.org. (s. f.). Details for Synthetic cannabinoids. Recuperado 7 de enero de 2022, de https://www.unodc.org/LSS/SubstanceGroup/Details/ae45ce0 6-6d33-4f5f-916a-e873f07bde02 israel21c.org. (2021, 5 septiembre). New synthetic molecules could transform cannabis treatment. ISRAEL21c. Recuperado 7 de enero de 2022, de https://www.israel21c.org/newsynthetic-molecules-could-transform-cannabis-treatment/ Wacht, O., Melech-Shalom, S., & Grinstein-Cohen, O. (2018). Synthetic Cannabis Use in Israel: “Nice or Bad Guy—Spice”. International Journal of Mental Health and Addiction, 16(4), 871–873. https://doi.org/10.1007/s11469-018-9907-7

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Entrevista com Diogo Maciel, advogado especialista em Direito da Saúde e Diretor jurídico da Cannabis Farma Brasil. Desenvolvimento, tradução e edição: Jennifer Salguero Londoño Transcrição e edição: Lauri Fakur Ferreira

CWJ: É um prazer para a equipe da Cannabis World Journals falar com o advogado Diogo Maciel, assessor jurídico da Cannabis Farma Brasil, pioneira e defensora no processo de acesso à cannabis medicinal pelo sistema único de saúde para pacientes com doenças que precisam de compostos derivados de plantas durante o tratamento, para aliviar seus sintomas. Olá Diogo. Em primeiro lugar, é um prazer e uma honra por parte da equipe da Cannabis World Journals tê-lo aqui conosco

Na sala do Especialista Entrevista com Diogo Maciel Diretor jurídico de Cannabis Farma Brasil

DM: Olá a todos, o prazer é meu e agradeço por esse convite. Agradeço pela “Acredito na evolução oportunidade de falar um da medicina através da pouco sobre o meu trabalho. ciência. Os estudos Inicialmente, gostaria de internacionais provam a me apresentar formalmente. eficácia terapêutica da O meu nome é Diogo cannabis medicinal no Maciel, sou advogado e tratamento das especialista em Direitos numerosas patologias. Aplicados aos Serviços de O que nós buscamos é Saúde, atuo também na fazer a diferença na área do direito penal. O vida das famílias” meu objetivo é justamente a responsabilidade dos planos de saúde no fornecimento de medicamentos, entrega de tratamentos e terapias, trabalhando incansavelmente no fornecimento de Canabidiol pelo SUS (único sistema de saúde do Brasil). Atualmente, sou o advogado no Estado do Paraná com mais autorizações para que os pacientes cultivem as suas próprias cannabis. Também sou Diretor Jurídico e fundador da empresa Cannabis Farma. A Cannabisfarma é uma StartUp que conecta os pacientes com os maiores laboratórios de cannabis medicinal do mundo e eu fundei essa empresa justamente CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 16 |

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porque percebi que era muito difícil para as pessoas terem acesso aos seus medicamentos. Trabalho com a Cannabis medicinal desde 2017, muito antes da lei RDC 327/2019 que regulamenta a comercialização de produtos à base de Cannabis. Entendo que a RDC 327/2019 não é a melhor legislação que o país poderia ter, porém, é um começo para nós podermos trabalhar com cannabis medicinal e fornecer esses tipos de produtos aos pacientes. Então agradeço a oportunidade de falar um pouco sobre meu trabalho e aqui estou para responder o que vocês quiserem saber.

CWJ: Claro, muito obrigado pela sua disponibilidade e conhecimento. Acreditamos na suma importância do seu trabalho, pois você é um advogado que escolheu lutar por uma causa, pela qual, poucos lutariam, por falta de informação e preconceitos, principalmente no campo jurídico. Mas primeiro, gostaríamos de saber como você chegou à indústria da cannabis medicinal, como aprendeu sobre o assunto e como se estabeleceu como empresa ou Start Up e também sobre o seu papel como defensor da cannabis medicinal. DM: Em 2017, recebi uma paciente no consultório, à procura de informações sobre como ela poderia ter acesso ao Canabidiol pelo plano de saúde. Na época, eu participava de um grupo de estudos sobre Direito Médico da Ordem dos Advogados do Estado do Paraná. Posteriormente, fiz a pós-graduação em Direito Aplicado aos Serviços de Saúde e no meu primeiro caso de fornecimento de Canabidiol pelo plano de saúde, tive êxito nesse processo. A partir daí, a mãe dessa paciente começou a contar para outras pessoas que eu era o “advogado do canabidiol” e depois muitos outros clientes vieram em busca da administração do canabidiol pelo plano de saúde. O meu segundo caso de Cannabis, tratou-se de um paciente que queria cultivar a sua própria Cannabis. Para isso, entramos com uma ação na Justiça Federal e também obtive êxito nesse processo. E a partir disto, conseguimos e começamos a trabalhar realmente mais com as

autorizações para o cultivo de Cannabis. Por isso, todo mundo começou a me chamar de " o defensor" da Cannabis. Percebi o quanto era difícil para os pacientes comprarem o medicamento, mesmo com receita médica. E como resultado disso, tive a ideia de criar a Cannabis Farma, uma empresa que realiza todos os procedimentos necessários para que o paciente possa adquirir o medicamento sem nenhum tipo de burocracia. Cannabis Farma é uma StartUp. Fazemos tudo o que for necessário para o que o paciente possa comprar a medicação e que a medicação chegue na casa do paciente sem nenhum inconveniente. A partir do momento que vi a dificuldade desses pacientes, convidei um amigo próximo para fazer parte desta empresa, expliquei a ideia a ele e ele gostou. Então começamos a operar com a Cannabis Farma, localizamos um médico que seja prescritor de Cannabis e trabalhamos com toda a parte de autorização e de importação. Desenvolvemos toda a relação comercial entre o paciente e o laboratório no exterior e assim ele pode comprar o produto que chegará na casa do paciente sem nenhum inconveniente. Recentemente conseguimos inaugurar a importação de flores in natura de Cannabis para uso vaporizado. Por isso, nos tornamos a primeira StartUp a importar as flores frescas de Cannabis medicinal, hoje contamos com mais de 40 laboratórios associados, mais de 800 produtos disponíveis para a população brasileira, seja qual for o tipo de produto: Óleo de Cannabis, sprays, gomas de mascar, pomadas para uso tópico e inclusive as flores também para o uso vaporizado. Eu até tenho o um que é meu. Trata-se de um Diesel Spectrum em CBD. Sou um paciente autorizado a comprar e importar este produto que chega na minha casa via FEDEX, sem nenhum problema e essa é justamente a missão da empresa, conectar pacientes com os maiores laboratórios do mundo para facilitar o acesso aos medicamentos. Medicamentos à base de Cannabis e fazer uma diferença real na vida dessas pessoas como uma empresa confiável, CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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íntegra, sustentável, inovadora, comprometida com produtos de qualidade e preços acessíveis. CWJ: E quanto ao acesso dos pacientes ao CBD, observo que o custo é muito alto e principalmente agora com a legislação no Brasil, parece que há avanços, mas ao mesmo tempo existem obstáculos. Como funciona isso? Por exemplo, como um paciente sem recursos pode ter acesso gratuitamente ao medicamento através do SUS (entidade de saúde pública do Brasil). DM: Atualmente, o produto nacional tem um valor muito alto para os padrões brasileiros. A Cannabis Farma não trabalha com o produto nacional. Entendemos que isso não atende às necessidades do povo brasileiro, já que os produtos importados são até 80% mais baratos. Por isso, também educamos os médicos para não prescreverem este produto ao povo brasileiro e essa é justamente a nossa missão a nível de empresa, fazer com que a Cannabis medicinal seja algo viável e real ao bolso da população. Fazer com que todos os brasileiros tenham acesso aos produtos. Hoje trabalhamos com os maiores laboratórios do mundo e, por isso, a Cannabis Farma em hipótese alguma trabalhará com a indústria nacional por enquanto, pois a mesma não atende essas necessidades. Oferecer um produto com um valor tão alto, é um desrespeito com o povo brasileiro oferecer, pois existem produtos em outros países com custos muito mais acessíveis para os brasileiros. Só pretendemos trabalhar com o produto nacional quando ele realmente oferecer acessibilidade à população. CWJ: Como tem sido sua experiência como empresa em relação aos desafios apresentados pela legislação brasileira? E você como advogado, como vê a indústria hoje? Quais têm sido os principais obstáculos e qual é a sua opinião sobre a legislação em vigor?

DM: Em relação à empresa Cannabis Farma, entendo que a RDC 327/2019 não é a melhor legislação, porém, é um ponto de partida. Isso

nos dá a oportunidade de começar o nosso trabalho. Não é a lei que eu mais gostaria de ter no Brasil, mas essa lei nos dá um “Norte” para que possamos atender os nossos clientes e direcionar a acessibilidade deste medicamento ao povo brasileiro. O Brasil vem se abrindo na questão da Cannabis medicinal, não na velocidade que gostaríamos, mas temos cada vez mais decisões dos Tribunais dos Estados, as quais, impõem a responsabilidade pelo fornecimento da Cannabis, seja pelo plano de saúde ou pelo próprio SUS, cabe destacar que também falta uma regulamentação para que a pessoa possa cultivar a sua própria Cannabis. Como advogado, defendo o amplo acesso à cannabis. Sendo uma decisão do paciente, seja através da compra direta, pelo plano de saúde, seja pela prestação do SUS ou para que o paciente possa cultivar a sua própria Cannabis. Acredito que nos próximos anos teremos um avanço legislativo. Com relação à lei PL 399/2015, também não é a legislação que gostaríamos, mas nos ajuda a dar um ponto de partida para que outros empresários venham trabalhar com esta indústria. Alcançamos também outros ramos dentro do empreendedorismo da Cannabis como o cultivo próprio ou cultivo em grande escala para o abastecimento da indústria farmacêutica. Talvez a partir deste momento possamos incluir um medicamento nacional com custo bem menor, mas o que eu defendo basicamente é a autonomia do paciente para ele possa escolher a forma de acesso à sua Cannabis medicinal, seja comprando diretamente de grandes laboratórios, fornecidos pelo SUS ou pelo próprio plano de saúde e existe também a possibilidade de cultivo próprio. O cultivo próprio é muito interessante não só para o paciente, mas também para o próprio Estado, pois ao autorizar o paciente a cultivar o seu próprio medicamento, o Estado cumpre o seu dever

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constitucional de proporcionar saúde ao cidadão e o mais importante: não afeta os cofres. Hoje não vejo ninguém, indo ao posto de saúde pedindo chá de boldo. Por exemplo, as pessoas cultivam as suas plantas medicinais nas suas próprias casas. Por isso, defendo o amplo acesso à Cannabis e a autonomia do paciente para escolher o acesso ao seu medicamento. Esta é a minha principal filosofia de trabalho. A autonomia do paciente.

CWJ: E como o paciente encontra alguém como você? Um assessor jurídico para defender os direitos do paciente legalmente e assim ter acesso ao medicamento. Porque o que nós observamos é que em certas ocasiões pode haver muita dificuldade. Como um paciente faz essa solicitação? DM: Atualmente, o meu escritório é o único especializado em acesso à Cannabis. Como eu disse antes, seja pelo cultivo em si, pelo plano de saúde ou pelo SUS. O meu consultório realiza consultas presenciais e virtuais, as consultas são feitas com hora marcada e podem ser agendadas por e-mail ou pelo meu WhatsApp. O paciente entra em contato comigo, agenda a sua consulta. No dia e horário da consulta tomarei todos os cuidados com o paciente, consultarei com ele como pretende ter acesso ao medicamento. Temos que ter em mente que cultivar cannabis não é fácil. Nem todos os pacientes tem essa disponibilidade. Então essa forma de acesso, às vezes, não se aplica a muitos pacientes, pois o paciente sai cedo para o trabalho, só volta à noite e não pode dar à planta, os cuidados que ela necessita. Nesse caso, é melhor que o paciente tenha seu Canabidiol ou a fórmula médica necessária através do plano de saúde ou do SUS. Portanto, temos que entender qual é a necessidade do paciente. Como ele pretende ter acesso à Cannabis e a partir disso, desenvolver uma estratégia legal segundo as necessidades dele. Por exemplo, para os pacientes que possuem plano de saúde, talvez o cultivo próprio não seja viável a eles, pois o plano de saúde é o responsável pelo

fornecimento do medicamento. Além disso, pode ser muito melhor para ele receber o medicamento industrializado em casa pelo correio do que cultivar sua própria cannabis. Por outro lado, tenho outros pacientes que preferem o cultivo próprio e fazer os seus próprios medicamentos. Nesse sentido, os processos são um pouco mais complexos, pois o paciente, além de possuir documentação médica, também precisa demonstrar conhecimento sobre o cultivo da planta e as formas de extração do óleo, sendo esse tipo de processo um pouco mais complexo. Mas como eu disse, existem várias formas de acesso e o nosso ponto de partida é identificar a necessidade do paciente e entender como ele deseja ter acesso ao seu produto. Tendo um plano de saúde, pode ser muito mais viável atribuir essa responsabilidade ao plano do que trabalhar, propriamente, no cultivo próprio. Cada paciente expressa o seu interesse e o que eu procuro é justamente isso: abrir caminhos para que ele possa ter acesso ao seu medicamento da melhor forma. Esse sempre será o ponto de partida: Entender a necessidade do paciente e criar estratégias jurídicas de acesso à Cannabis.

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CWJ: O quanto à legislação vigente no Brasil? Qual é a sua opinião sobre isso? DM: A legislação pode não ser a mais ideal, mas apesar disso já nos permite trabalhar com a Cannabis e legalmente também está avançando, pois o Superior Tribunal de Justiça atribui cada vez mais essas responsabilidades de fornecimento não só aos planos de saúde como também ao próprio SUS. No estado do Rio de Janeiro, no município de Búzios, o Canabidiol foi incluído na REMUME. A REMUME é uma lista de medicamentos fornecidos pelo município. Agora temos no Brasil, o primeiro município que incluiu o Canabidiol em sua lista de fornecimento e acho que isso será muito interessante para os empresários da Cannabis e também para a população em geral que terá esse medicamento de altíssima qualidade disponível no Sistema Único de Saúde. A legislação ainda não é aquela que gostaríamos, mas ela já nos permite trabalhar com cannabis medicinal. Os pacientes têm cada vez mais acesso a substâncias vegetais, seja por meio do fornecimento de medicamentos preparados ou por meio de seu cultivo próprio. CWJ: Já que estamos falando em pacientes, chamou-nos atenção quando você disse “eu sou um paciente de cannabis”, ou seja, você declarou que recorre a este tipo de uso. Você poderia nos contar sobre isso? Costumamos visar muito a parte humana, a experiência pessoal, pois para chegar a essa indústria também é preciso ter conhecimento. Geralmente, as pessoas recorrem à Cannabis para fins médicos ou elas abraçam uma causa tão importante como o acesso à cannabis. Você poderia, por gentileza, falar sobre o seu caso?. DM: Sofro de dor crônica, na verdade sofri de dor crônica por muitos anos como resultado de uma hérnia de disco extrusa nas vértebras S1 e L5. Fiquei literalmente travado inúmeras vezes, fui internado em hospitais várias vezes com dores nas costas. Eu usei todos os medicamentos que você possa imaginar para dor crônica e nenhum me deu os resultados que eu esperava. A partir do momento que tive conhecimento sobre a Cannabis, passei por uma

consulta médica, realizei todos os procedimentos e iniciei o meu tratamento com a Cannabis. Eu uso a Cannabis há anos, desde o início do consumo de Cannabis, obtive uma melhora na minha qualidade de vida. Já não sofro de dores nas costas, posso trabalhar todos os dias sentado confortavelmente. Para mim, a cannabis restaurou a minha dignidade de vida, restaurou a qualidade não apenas da minha vida pessoal, mas também da minha vida profissional. Comecei a exercer a minha profissão como advogado, sentado na minha cadeira, sem dores nas costas, hoje trabalho confortavelmente todos os dias, então, para mim, foi o melhor remédio que eu poderia ter experimentado. Além disso, sou fumante. Fumo cigarros. Eu fumo há cerca de 15 anos e na última consulta com meu médico conversamos sobre a redução de danos. Ela entende que o cigarro é muito mais prejudicial à minha saúde do que a maconha. E fumar está ligado à ansiedade. Sou muito ansioso, por isso, o meu médico receitou Cannabis in natura para que eu possa combater o tabagismo e ao mesmo tempo trabalhar a minha ansiedade. Faço o meu tratamento com plantas in natura para parar de fumar, deixar de ser fumante e me livrar do cigarro para melhorar a minha qualidade de vida. Este é o maior problema que eu tenho e recorro à Cannabis para realizar o tratamento para parar de fumar cigarros. CWJ: Concordo plenamente, é incrível ver como a cannabis oferece tantos benefícios. É uma planta milenar, mas infelizmente foi muito estigmatizada e isso nos faz pensar por que ainda é considerada como um estupefaciente. Queremos educar, informar e eu acho muito importante que advogados, médicos e pessoas tenham amplo conhecimento sobre o assunto para que a informação possa ser divulgada e as causas possam ser defendidas porque também é preciso defender a Cannabis. O que você pensa sobre isso?.

DM: Só adicionando aqui. Legalmente, não admito mais que a cannabis seja classificada CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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como droga. Temos a RDC 156/2017 que reconheceu a planta Cannabis como uma planta medicinal. De modo algum podemos relacionar a Cannabis como um estupefaciente. Já é reconhecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária como planta medicinal. Legalmente isso também tem muitos efeitos, especialmente no que diz respeito ao Direito Penal. Entendo que pessoas flagradas vendendo, bem como comercializando a planta conhecida como “maconha” não podem, em hipótese alguma, ser acusadas de tráfico de drogas. Elas devem responder pelo crime contra a saúde pública. Temos o princípio da especialidade em Direito Penal e no Art. 273 que é bem claro e versa que a comercialização de produtos para fins terapêuticos é crime contra a saúde pública e de forma alguma as condutas relacionadas à Cannabis devem ser aplicadas à lei de drogas Temos que nos livrar completamente dessa ideia de que a Cannabis é uma "droga". Não é. A cannabis é uma planta medicinal e se alguém for pego vendendo essa planta, deve responder pelo crime contra a saúde pública e não pelo crime de tráfico de drogas, o qual, a pena é muito alta. A pena é de 5 a 15 anos de reclusão. E nos crimes contra a saúde pública temos uma pena muito leve. A pena é de 1 a 3 anos. Entendo que comportamentos relacionados à comercialização da Cannabis ou maconha como é conhecida, encaixam-se mais ao Art. 273 do código penal do que com o Art. 33 da lei de drogas ou o famoso tráfico de drogas. Legalmente, temos que tirá-lo da perspectiva do direito penal. Temos que olhar para planta sob a ótica do direito constitucional à saúde. São parâmetros que devemos diferenciar completamente. E isso para que a sociedade comece a ver a Cannabis com outros olhos. Então a Cannabis não é uma droga. É uma planta medicinal e não sou eu quem diz isso, é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária através da RDC 156/2017. CWJ: Gostaríamos de saber se você já teve

um caso de paciente que marcou ou deixou algum aprendizado durante o seu trabalho. E se você puder compartilhar alguma experiência conosco. DM: Tenho muitas experiências com pacientes cujo acesso a medicamentos se dá por meio de planos de saúde, mesmo com pacientes que cultivam sua própria cannabis. E sempre mantenho um vínculo muito forte com esses pacientes porque sempre me falam da evolução do tratamento, do crescimento das plantas. Meu paciente mais recente é um menino de 7 anos da cidade de Londrina. Os pais desse paciente, foram autorizados a cultivar a cannabis para fazer remédios para tratar o autismo do paciente. Terminamos sendo mais um membro da família desses pacientes porque eles sempre nos falam da melhora deles, da evolução deles, do cultivo, então é comum eu receber fotos de plantas, dos meus pacientes abraçando as suas plantas e o mais importante é o relato positivo sobre a eficácia do tratamento. Isso realmente me impressiona e me emociona. Eu sou pai e meu filho é uma criança saudável e não precisa de Canabidiol, mas nem todos os pais tiveram a sorte de ter filhos com boa saúde. E hoje os pais fazem tudo por seus filhos, até mesmo colocar em risco a sua própria liberdade para cuidar da saúde deles. Eu penso muito no meu filho quando estou trabalhando com um paciente que é criança e digo: "graças a Deus meu filho não precisa". Mas sempre estarei disposto a dar o meu melhor por essas famílias, por aquele paciente que precisa desse remédio para restituir a sua dignidade, a sua qualidade de vida. Costumo dizer que quando um paciente tem acesso à Cannabis, nós não apenas restauramos a dignidade desse paciente bem como a dignidade de toda uma família. Porque quando uma criança tem uma convulsão ou um problema que interrompe seu desenvolvimento, isso afeta tanto os pais quanto as mães. E quando esses pais veem seu filho melhorar, há a sensação de alívio para toda a família. Esse é o ponto principal. CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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CWJ: Isso é algo muito especial e como você mencionou, nós, como profissionais ou pais, vemos histórias como essas com frequência e nos emocionamos com essa luta. Além disso, esse é um tema que gira em torno de muitos medicamentos sintéticos e que apresentam efeitos colaterais, por exemplo, para o tratamento de determinada doença e ainda afetam a qualidade de vida do paciente.

pacientes com os maiores laboratórios de cannabis medicinal do mundo. Fazemos todo o necessário para que o paciente adquira seu medicamento. Ou seja, trabalhamos a partir do local de um prescritor de Cannabis e realizamos todo o desenvolvimento da relação comercial entre o paciente e o laboratório no exterior para que ele possa receber o medicamento na sua casa dele, sem nenhum inconveniente.

DM: Quanto ao autismo, temos a Risperidona e se olharmos a lista de efeitos colaterais desta droga em comparação com a cannabis medicinal, vemos que a cannabis tem efeitos praticamente mínimos ou nulos. E não entendo como um médico começa a tratar uma criança com Risperidona e não com cannabis medicinal. Temos que dar ao médico essa ideia de que a cannabis medicinal deve ser usada como primeira opção e não como último recurso. A Cannabis Medicinal deve ser a primeira opção como tratamento natural e e produtos químicos, somente em último caso, já que os mesmos podem ser prejudiciais à saúde humana. Também temos que pensar sempre na qualidade de vida do ser humano. Agora que estamos passando por tempos de pandemia, muitas pessoas estão sofrendo com doenças psicológicas, estresse, ansiedade, distúrbios do sono e a Cannabis surgiu para realmente trabalhar essas patologias que atingem milhares de brasileiros que ainda não iniciaram seus tratamentos devido ao preconceito. Hoje, a cannabis medicinal no Brasil não é um problema de ciência, é uma questão de educar as pessoas sobre a cannabis

Tendo como base o meu conhecimento sobre a dificuldade que os brasileiros têm para ter acesso a esse tipo de produto, decidimos abrir a empresa, hoje temos mais de 500 pacientes atendidos, somos pioneiros na importação de flores de Cannabis para uso vaporizado e a expectativa é que possamos atender até 80% do mercado brasileiro nos próximos 5 anos, hoje somos referência no acesso à Cannabis medicinal e pioneiros na importação de flores de cannabis para uso vaporizado.

CWJ: E agora falando um pouco sobre sua empresa, conte-nos como surgiu a Cannabis Farma Brasil? DM: A Cannabis Farma surgiu em 2018 assim que soubemos dos rumores da RDC 327/2019, mas já havíamos começado a nos preparar para fundá-la. Em 10 de março de 2019 RDC 327 entrou em vigor e em 12 de março de 2019 a Cannabis Farma já estava operando. Esta empresa é uma Startup que conecta

Essa façanha nos deu uma certa notoriedade a nível internacional. Fomos notícia em vários países. O Brasil conseguiu realizar a primeira importação de flor de Cannabis através da assessoria da Cannabis Farma e acreditamos que isso seja um marco histórico para o país, pois revolucionamos o acesso à Cannabis elevando-o a um novo patamar. Precisamos entender que o uso da flor também é medicinal e que os brasileiros não precisam mais se limitar apenas ao óleo, gomas e sprays. Atualmente temos todas as opções de produtos à base de Cannabis, sempre respeitando as prescrições médicas. O médico é o regente desse tratamento. A partir do momento que o médico define qual produto será à base de Cannabis, na Cannabis Farma disponibilizamos esses produtos para que o paciente possa adquiri-lo sem qualquer tipo de burocracia. CWJ: Como você vê essa indústria no panorama brasileiro nos próximos anos? DM: Essa indústria está em constante crescimento, ainda em ritmo lento e como eu disse antes, não temos a legislação que os profissionais do direito gostariam, mas temos pelo menos uma lei que nos permite trabalhar. CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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Agora é só avançar, melhorar a parte legal, para que cada vez mais pacientes possam ter esse acesso com tranquilidade. E o mais importante: sempre respeitando a autonomia do paciente. O paciente deve poder adquirir a sua medicação da maneira que melhor lhe convier. Seja pelo cultivo, pelo SUS, pelos planos de saúde ou até mesmo pela compra direta. CWJ: Do seu ponto de vista como advogado e empresário: Que conselho você daria para as pessoas que querem começar no mundo da cannabis? DM: Para entrar no mundo da Cannabis como paciente, você deve passar por uma consulta médica, ter a sua receita e, a partir daí, ter acesso aos medicamentos à base de Cannabis.

E para aqueles que desejem ser empreendedores na indústria da cannabis, realmente explorem esse mercado. Este é um mercado quase inexplorado. Ainda não temos pessoas comprometidas e sérias atuando no mercado da Cannabis. O que eu vejo é que há especulações de entusiastas da planta e não de empresários. O que realmente precisamos nesse setor são empreendedores comprometidos que desenvolvam soluções sérias e concretas para o mercado da Cannabis e é assim que a Cannabis Farma vem trabalhando no país. A nossa maior missão é justamente criar soluções para facilitar o acesso aos medicamentos à base de cannabis. CWJ: Pelo que tenho acompanhado nas redes sociais, existem muitas associações, mas geralmente são iniciadas por pacientes que precisam de Cannabis e o que se observa é que o que eles querem é educar e ainda é comum ver que a principal queixa é a falta de preparo de médicos nessa área e não há muitos advogados especializados na questão jurídica, o que complica ainda mais. DM: Atualmente, 2% dos médicos brasileiros são prescritores de cannabis. Também faltam advogados especializados em Direito da Saúde. O meu escritório é o primeiro e único do Brasil especializado em autorizações para cultivo de Cannabis e fornecimento de medicamentos por planos de saúde e SUS. Eu, por exemplo, nem

fiz Direito Médico na faculdade. Tive que procurar cursos de extensão para me especializar nesse ramo do direito. E hoje sou especialista em Direito Sanitário Aplicado e possuo o único escritório no Brasil especializado em Cannabis. Atendo pacientes de todo o Brasil, não só para cultivo próprio, mas também para fornecimento de Cannabis através de seus planos de saúde e pretendo inclusive abrir um escritório no Estado de Santa Catarina em 2022, e, para 2023, nosso objetivo é abrir mais locais para criar espaços para atender esses clientes. CWJ: Em primeiro lugar, parabenizo você por essa conquista. Deve ser uma grande satisfação fornecer tal informação e assessoria à população brasileira que enfrenta muitas dificuldades para quebrar esse tabu em relação à Cannabis medicinal. Esta é uma excelente notícia. Por fim, gostaria de saber sobre a importância das plataformas digitais. Por exemplo, estamos em diferentes redes sociais, como Cannabis World Journals, mas também vimos outras plataformas. Você também tem sua conta pessoal e a da sua empresa. O que você acha sobre isso e a importância das plataformas digitais nessa área? DM: Ainda temos que melhorar muito nesse aspecto porque se você pesquisar redes sociais, "cannabis medicinal", o Instagram e o Facebook costumam excluir por isso. A minha primeira conta do Instagram foi deletada, perdi uma conta com milhares de seguidores, não consegui recuperar e tive que criar uma nova conta. Se você observar bem, o meu Instagram é recente. Isso também já aconteceu com a Cannabis Farma que teve a sua conta deletada das redes sociais. Mas acreditamos que tanto como as redes sociais como o mundo, estão abrindo caminho para a Cannabis. Apesar destas barreiras impostas pelas plataformas digitais, oferecemos informações de qualidade e confiáveis sobre a planta Cannabis, mas estamos sujeitos a ter nossas contas deletadas a qualquer momento devido às políticas de exclusão social das redes.

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Acredito que devemos melhorar nesse aspecto e aceitar falar com mais naturalidade sobre a Cannabis medicinal. O nosso olhar deve ser dirigido à ciência e não ao preconceito. Eu realmente aprecio isso nas minhas redes, não apenas na empresa para a qual trabalho, mas também na minha conta pessoal. Por isso, é importante transmitir informações sérias e de qualidade para demonstrar como os pacientes estão tendo acesso à cannabis medicinal para que outras pessoas possam se identificar com esses problemas e buscar essas soluções. Como já mencionei, a missão da Cannabis Farma é criar soluções sérias e concretas para o acesso de produtos à base de Cannabis.

de ajustar a tecnologia à nossa empresa para atender as necessidades das pessoas. Este é o nosso objetivo agora. CWJ: Isto é muito interessante. É realmente um acesso incrível e muito importante em tempos de pandemia. A equipe da Cannabis World Journals agradece por seu tempo, contribuição e disposição. Muito obrigado.

Essa filosofia também se aplica ao meu escritório, que é o local onde trabalhamos para obter autorizações de cultivo da Cannabis e com diversas ações para fornecimento da planta e medicamentos pelo próprio plano de saúde.

CWJ: Você é muito gentil. Novamente, muito obrigado e manteremos contato. Obrigado pela explicação clara e detalhada sobre todo o seu conhecimento porque sabemos que existe uma barreira quando se trata de Cannabis medicinal. É uma grande satisfação saber que existe um profissional do mais alto nível neste setor. DM: A Cannabis só entrou na minha vida pelo simples fato de a lei dificultar esse acesso. Refiro-me às situações relacionadas ao surgimento da Cannabis Farma. E no primeiro semestre de 2022 pretendemos abrir virtualmente o primeiro dispensário de Cannabis medicinal do país. Ainda não teremos uma loja física, mas teremos uma loja virtual para que o paciente possa se imaginar entrando na nossa empresa. Estaremos aplicando a tecnologia do metaverso e nos próximos meses teremos grandes novidades como o primeiro dispensário virtual de Cannabis medicinal do país. Trabalharemos com a realidade virtual, na qual, os pacientes usarão óculos virtuais. Eles entrarão e farão um tour pela loja para realizar as suas compras. O produto chegará nas casas deles sem nenhum inconveniente e a partir de agora é só questão

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CannaCountry

MALTA a cannabis legaliza

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alta se apresentou ao mundo como o primeiro país pertencente à União Europeia a legalizar a cannabis para uso adulto, abrindo o caminho para que outros países avancem em seus projetos de lei para legalizar a cannabis.

Nesta edição, falamos um pouco sobre esta pequena ilha mediterrânea que impressionou o mundo ao estabelecer um precedente para abrir novos mercados e possibilidades durante 2021. LEGISLAÇÃO Em 2018, o parlamento de Malta aprovou uma lei que permite o uso de cannabis por prescrição medica. Em dezembro de 2021, foi aprovado o projeto de lei 241 que permite o uso de cannabis para uso adulto.

ACCESIBILIDADE O parlamento desta pequena ilha mediterrânea autorizou a posse de um máximo de sete gramas de cannabis e o cultivo de quatro plantas por pessoa, esta medida é aplicada apenas a maiores de 18 anos. O cultivo ou posse de quantia superior à permitida acarreta multas, assim como também é restringido o consumo em locais públicos ou na frente de menores; este último cenário pode levar a uma multa que varia entre 300 e 500 euros.

CONSUMO A intenção do governo através da aprovação desta nova lei é apresentar maior controle CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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CannaCountry com o consumo, que só é permitido em locais privados ou específicos destinados a esse fim, por isso se prevê a criação de associações sem fins lucrativos, com um máximo de 500 pessoas, que seriam autorizadas a produzir e vender cannabis aos seus membros.

O QUE SE ESPERA NO FUTURO

2022 está se tornando um ano muito produtivo e encorajador para o processo de legalização da cannabis em todo o mundo. Alemanha, Suíça e Luxemburgo são alguns dos países que trabalham desde 2021 em projetos de lei que permitem a legalização total da cannabis, esses países são atualmente regidos por regulamentos da UE, no entanto, as leis são ambíguas e não apresentam a transparência necessária para o crescimento desta indústria.

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O sistema bancário para a indústria da cannabis nos Estados Unidos O sistema bancário, o próximo passo na legalização da indústria de cannabis nos EUA.

Entre os vários projetos de lei previstos para o 2022, existem dois que criaram as maiores expectativas ao tentar regular a relação entre bancos e cannabis em nível federal. Estas são a SAFE Banking Act (Lei Bancária Segura e Justa) e a CAO Act (Lei de Administração e Oportunidades de Cannabis) O primeiro é bastante atraente para os bancos, pois visa garantir que os reguladores não possam tomar medidas adversas contra os bancos que atendem a negócios legais de cannabis nos estados. Também busca que o Conselho Federal de Avaliação de Instituições Financeiras desenvolva diretrizes uniformes para avaliar os programas bancários de cannabis. Espera-se que este projeto de lei chegue ao plenário do Senado este ano para ser aprovado.

Atualmente, a indústria da cannabis continua crescendo constantemente, pois este ano nos EUA as receitas devem ultrapassar US $ 30 bilhões de dólares, embora a proibição em nível federal continue. Atualmente, 35 estados legalizaram o uso de cannabis medicinal, até certo ponto. No entanto, à medida que a proibição federal continua, qualquer contato que os bancos tenham com dinheiro de atividades relacionadas à cannabis pode ser considerado lavagem de dinheiro e expor o banco a um risco legal significativo. Também deve ser levado em consideração o número de pessoas envolvidas na indústria, como produtores, fornecedores, vendedores, proprietários, varejistas, funcionários e todos os terceiros

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indiretamente vinculados. Isso, só aumenta o risco legal dos bancos que prestam seus serviços ao sindicato e, muitas vezes, a dificuldade de evitar o contato com o setor. Enquanto persistir essa lacuna entre as leis federais e estaduais, os bancos estarão em uma situação de incerteza e as pessoas que desejem ingressar em um setor tão bem-sucedido serão limitadas por não conseguirem o acesso a opções bancárias tradicionais, como crédito, por exemplo.

Uma realidade inevitável: O que se percebe, é que indústria da cannabis avança três passos à frente a cada vez que dá um passo atrás; assim como o mercado, que acaba se autorregulando e se mostra imparável, as leis terão que se adaptar a uma realidade inevitável. Este ano será responsabilidade dos partidos nos EUA reconhecer uma indústria que proporciona bem-estar, emprego a milhões e uma nova realidade econômica para um país que está saindo de uma crise econômica em conjunto com o resto do mundo.

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Espanha

aguarda proposta para regulamentar a cannabis medicinal em 2022 Há muitas expectativas para a indústria da cannabis na Espanha para este ano que se inicia, já que o país europeu tem vários movimentos a favor da regulamentação da cannabis no campo medicinal. Nesse sentido, 90% da população apoia a legalização do uso da planta para fins terapêuticos, segundo o Centro de Pesquisas Sociológicas, “estamos atrasados”. E é necessário seguir em frente. A cannabis tem propriedades anti-inflamatórias, é relaxante muscular, ajuda nas náuseas e vómitos, é eficaz nas dores crónicas e, sobretudo, nos efeitos secundários da quimioterapia”, explica Joan Carles March, professora da Escola Andaluza de Saúde Pública.

Espanha planeja entrar na lista da indústria de cannabis

Em março do ano passado de 2021, a ministra da Saúde, Carolina Darias, disse que o Governo exige “evidências científicas” através de um “ensaio clínico”. Por outro lado, José Carlos Bouso, profissional de saúde em farmacologia especializado nas propriedades terapêuticas da cannabis, acredita que a ministra pode errar na sua argumentação. “A cannabis melhora a qualidade

de vida de muitos pacientes, que é o aspecto mais subjetivo de uma doença; um exemplo, é a sua relevância no tratamento da dor crônica. Mostrou-se mais seguro e tem menos efeitos colaterais do que muitos medicamentos”, disse Bouso. Da mesma forma, afirmou CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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que uma lei “reduzirá os riscos associados” ao consumo dos pacientes, que agora acedem à cannabis através do mercado negro, “de forma estigmatizada e oculta”. Ao que March aponta que um mercado regulamentado impedirá qualquer adulteração do produto.

Por outro lado, a subcomissão instituída em outubro passado, na Comissão de Saúde e Consumo, começará a funcionar em fevereiro deste ano, quando forem retomadas as atividades parlamentares no Congresso que ocorrerão no novo período de sessões.

Tendo em conta o exposto, espera-se que 2022 seja o ano de tomar a decisão de regular a planta medicinal. De acordo com o grupo socialista majoritário no Congresso, a subcomissão que foi criada para realizar a análise da legalização do uso terapêutico da cannabis na Espanha, poderá ter suas conclusões prontas no próximo período de sessões que termina em meados do ano.

Da mesma forma, para salvaguardar a proposta, indicam que as organizações internacionais apoiam os usos medicinais da cannabis uma vez que os avanços científicos receberam uma avaliação positiva dos seus benéficos, especialmente, em países como Portugal, França ou Alemanha onde foi aprovado seu regulamento.

Espanha planeja acabar com o mercado negro por meio de regulamentações

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NORML EMPRESA DO MÊS

entrevista com seu diretor:

PAUL ARMENTANO 26 CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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A Cannabis World Journals se reuniu com o vice-diretor da NORML, Paul Armentano, que estabeleceu directrizes ao longo da história da indústria da cannabis.

A Cannabis World Journals teve o prazer de conversar com Paul Armentano, vicediretor da NORML (Organização Nacional para a Reforma das Leis da Maconha) sobre sua experiência em fazer parte da mudança na história da indústria da cannabis. CWJ: Agradecemos novamente, Sr. Armentano, por nos acompanhar hoje. Você poderia falar sobre você, qual é sua posição e o que você faz atualmente na organização NORML? PAUL ARMENTANO - NORML: Claro. Trabalhei profissionalmente nos Estados Unidos na política de maconha por cerca de 25 anos. Não são muitos os meus colegas que têm a memória institucional que eu tenho e que viram as mudanças radicais, tanto na opinião pública como nas políticas públicas, que ocorreram nas últimas duas décadas e meia. Uma anedota que eu gosto de contar, que realmente ilustra o quanto a política e o diálogo sobre cannabis mudaram nos Estados Unidos, é a seguinte: Quando cheguei a Washington DC, uma das únicas discussões que aconteciam no Capitólio, entre os membros do Congresso, sobre as políticas da maconha, era a legislação que havia sido introduzida, cujo desejo, se tivesse sido aprovado, era impor a pena de morte para certos crimes relacionados à maconha. Isso é o que o Congresso, o que os legisladores federais na América, estavam falando quando se tratava de cannabis 25 anos atrás. Eles estavam discutindo se era uma política pública sensata matar pessoas que violavam as leis de maconha do país.

médico à maconha. Esse tem sido o caso em alguns estados há mais de 20 anos; e em 18 estados, ou cerca de 40 a 43% da população total dos Estados Unidos, agora vivem em uma jurisdição onde adultos, acima de 21 anos, podem possuir cannabis legalmente, e na maioria dessas jurisdições eles podem comprar maconha no varejo. Durante a maior parte desses 25 anos, estive na NORML (na sigla em inglês), a Organização Nacional para a Reforma das Leis da Maconha. Trabalhei em diferentes cargos na NORML, mas, na última década e meia, atuei como vice-diretor da organização. Eu também sou o Presidente de Ciências e do corpo docente da Universidade de Oaksterdam em Oakland, Califórnia, da qual faço parte desde 2010. Também sou autor de várias publicações específicas sobre política de cannabis, incluindo o livro Marijuana Is Safer: So Why Are We Driving People to Drink? (A maconha é mais segura: então, por que estamos levando as pessoas a beber?). Esse livro foi publicado em 2007, e se tornou literalmente um protótipo; foi a base da campanha de 2012 no estado do Colorado, quando se tornou o primeiro estado da América em que os eleitores decidiram a favor da legalização da posse, cultivo e venda de maconha para adultos. Como mencionei antes, 17 estados seguiram o exemplo do Colorado

Avançando rapidamente aos dias de hoje, a maioria dos estados dos EUA permite o acesso

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regulamentos do senso comum. Por exemplo, a NORML não oferece suporte a um limite arbitrário no número de licenças para uma entidade comercial que pode participar do mercado de CWJ: Você pode contar mais sobre como a cannabis ou no número de varejistas. Queremos organização começou, suas motivações e que as pessoas que desejem acessar à cannabis, objetivos? possam fazê-lo com facilidade e segurança. Então, novamente, na minha opinião, a missão NORML: NORML é a organização mais antiga da NORML, a sua particularidade, é o fato de dos Estados Unidos dedicada a advogar por mudanças na política sobre cannabis. A NORML ser a única em representar o consumidor foi fundada em 1970, sob a ideia de que o usuário individual. Não se trata de quanto dinheiro podemos arrecadar em novas receitas fiscais. de maconha precisava ter uma organização que Trata-se de expandir as liberdades e os direitos defendesse seus direitos. Naquela época, civis do indivíduo que usa cannabis. Trata-se de acreditava-se (sendo verdade), que milhões de acabar com a criminalização, discriminação e pessoas usavam cannabis, mas ninguém o estigmatização de indivíduos que usam cannabis mencionava, ninguém a defendia; por isso, era de forma responsável. Foi para isso que a necessário um grupo de interesse de NORML foi fundada e é isso que continuamos a consumidores e um grupo para representá-los. fazer hoje. Esse princípio continua a orientar a missão da NORML hoje. Agora, 51 anos depois, nos encontramos em um ambiente muito diferente de CWJ: Você comparou a indústria da cannabis com a indústria do álcool. Por que comparar as quando a organização foi fundada. Existem outras organizações que existem agora e que não duas? existiam naquela época, mas muitas delas NORML: Eu acredito que há muitas razões abordaram recentemente esse princípio e não práticas para fazê-lo. Certamente, aqui nos representam necessariamente os interesses do Estados Unidos, quando falamos sobre como consumidor individual de cannabis. regular a cannabis, existem vários caminhos a serem seguidos. Pode-se dizer que a cannabis Muitas dessas organizações representam os interesses de grupos industriais, corporações ou tem utilidade terapêutica, vamos regulá-la como medicamento. Mas isso ignoraria uma entidades comerciais e defendem, como é seu porcentagem significativa de pessoas que usam direito, políticas e mudanças que sejam favoráveis para a indústria comercial de cannabis. cannabis por razões não médicas. Esses interesses nem sempre coincidem com os Também imporia regulamentações muito rígidas do consumidor individual. Por exemplo, houve sobre a cannabis que atualmente não existem casos aqui nos Estados Unidos em que grupos corporativos defenderam políticas que nos mercados legais. Quando falamos em tratar a cannabis como medicina, às vezes fico muito não permitem ao consumidor individual o preocupado porque a visão americana a respeito direito legal de cultivar cannabis em sua dela é muito limitada. As pessoas tomam própria casa. Consideramos que é uma medicamentos quando adoecem, não de forma política pública mal feita. Acreditamos que, profilática; assim, quando não estão mais assim como os indivíduos que bebem álcool ou doentes, para de usar medicamentos. As pessoas cerveja podem preparar pequenas quantidades nos Estados Unidos compram medicamentos nas de álcool para uso pessoal em suas casas, os farmácias, que é o único lugar onde se podem se que usam cannabis devem ter os mesmos obter legalmente. Qualquer produto disponível em direitos legais de cultivar quantidades para uso pessoal. Queremos que a facilidade de acesso à uma farmácia deve ser regulamentado e aprovado pela Administração de Alimentos e cannabis seja a mais ampla possível sob os desde então, usando o plano de ação que meus coautores e eu estabelecemos..

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Medicamentos (FDA, na sigla em inglês) e deve ser receitado por um médico. Este é um nível de regulamentação muito rigoroso que, na minha opinião, é desnecessário e não é proveitoso para a cannabis.

cannabis dentro de suas fronteiras. Então eu acho que essa semelhança é provavelmente a mais apropriada.

Portanto, regular a cannabis como medicina tradicional não funciona. Em vez disso, poderíamos regular a cannabis como um suplemento dietético; pois os suplementos alimentares nos Estados Unidos não precisam passar pela aprovação do FDA. De fato, o governo dos Estados Unidos só se envolve em tais suplementos se, depois de serem colocados à venda, demonstraram causar danos significativos a quem os usa. Essa é certamente uma maneira prática que se poderia tratar a cannabis, embora eu acho que poucas pessoas defenderam essa política porque a consideram muito desregulada. Então, isso nos remete a coisas como o álcool e o tabaco. Ambas as substâncias compartilham algumas semelhanças com a cannabis, mas também compartilham algumas diferenças. Quanto ao tabaco, atrevome a dizer que é regulamentado de uma forma muito mais rigorosa do que a forma como a cannabis e os mercados legais são regulamentados, e acho que isso é apropriado. No que respeita ao álcool neste país, acho que a forma como é regulamentado é um modelo para a cannabis. A principal razão pela qual digo isso tem a ver com a história da regulamentação do álcool nos Estados Unidos. Houve uma época em que o governo federal proibia a posse de álcool. Eventualmente, o governo federal reverteu essa decisão depois que 10 estados desafiaram independentemente o governo federal, dizendo: não nos importamos se o álcool é ilegal em nível federal, dentro de nosso estado, não vamos aplicar essa lei. No momento, temos esse mesmo sistema para a cannabis. Temos 50 estados e 50 políticas de cannabis muito diferentes. Em caso que o governo federal deste país revogue a proibição da maconha em nível federal, como fez há quase 100 anos com o álcool, serão os estados que decidirão principalmente como tratar e regular a

CWJ: Há grande esperança de que a cannabis seja legalizada em nível federal nos próximos anos. Você acha que isso vai acontecer em breve? NORML: Uma das coisas que considero são muito importantes, é que realmente definimos nossos termos. Acho que uma maneira muito mais precisa de dizer que o governo federal dos Estados Unidos poderia legalizar a cannabis é revogar a atual proibição federal. Porque, mais uma vez, se voltarmos ao exemplo do álcool, quando o governo federal suspendeu a proibição deste, ele não exigiu ou direcionou estados individuais para mudarem suas políticas. Acho que veríamos um padrão muito parecido com o que vimos com a revogação da CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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proibição do álcool neste país. Com o tempo, todos os estados suspenderão suas próprias proibições, mas isso não acontecerá de repentinamente.

abril/maio. É então que as leis e políticas de cada estado são determinadas. É um momento muito ocupado para nós porque, novamente, há 50 estados no país.

Primeiro, seria feito por vários estados, enquanto outros continuariam a desenvolver suas políticas de maneiras muito diferentes. Os Estados aprenderão dos outros suas melhores práticas e quais não são recomendadas.

Contam com 50 políticas de maconha amplamente diferentes, e estamos trabalhando para melhorar essas políticas em cada um desses estados. Agora é a nossa chance de fazê-lo.

CWJ: Uma das esperanças dessa indústria é que ela se torne mais inclusiva. Qual é sua opinião sobre isso?

É claro, também nos concentraremos no nível federal e tentaremos avançar em várias leis federais diferentes que estamos apoiando e nas quais estamos trabalhando com os proponentes. No entanto, a agenda de longo prazo se concentra nos estados que já legalizaram esses mercados, seja para uso adulto ou para uso médico. O objetivo é fazer com que esses mercados funcionem de forma mais eficiente para garantir que os pacientes não apenas tenham acesso a um ou dois tipos de formulações de cannabis, mas também disponham de variedade. Queremos garantir mercados para eles onde possam comprar cannabis no varejo e cultivar maconha em casa. O objetivo é garantir que nesses mercados, onde é permitido a posse de maconha e o uso dela para fins adultos ou médicos, as pessoas não sejam discriminadas no trabalho ou tenham tratamento médico negado, como o transplante de órgãos.

NORML: NORML apoia um mercado inclusivo. Gostaríamos de ver um mercado que acolhesse aqueles que foram desproporcionalmente afetados por políticas de proibição anteriores. Dito isto, e embora esses objetivos sejam grandes, você está certo em dizer que é um mercado. As características desse mercado dependem de vários fatores, incluindo a forma como os políticos de um determinado estado encaminhem o mercado. Atualmente, vemos que existem certas jurisdições nos Estados Unidos onde legisladores e reguladores realmente valorizam a ideia de um mercado inclusivo e usam as ferramentas disponíveis para tentar influenciálo a ser mais inclusivo. Certamente, haverá outras jurisdições onde os políticos dão menos ênfase à importância de um mercado inclusivo. Novamente, nesses casos, acho que os consumidores serão os juízes finais, eles decidirão qual mercado é mais importante para eles com base em seu comportamento e nos tipos de negócios que escolhem frequentar. CWJ: Qual é a agenda da NORML para 2022? Como está organizada? NORML: Bem, é claro que existem agendas de curto e longo prazo. Nossa agenda de curto prazo se concentra na política estadual porque nos Estados Unidos, na maioria dos estados, seus líderes políticos se reúnem aproximadamente entre janeiro e

Então, novamente, acabar com práticas discriminatórias e estigmatização é uma batalha de longo prazo muito importante. Como seu anterior entrevistado saberá (referindo-se a Steve DeAngelo), na Califórnia, uma das razões pelas quais alguns desses mercados estaduais não fizeram a transição que tanto gostariam, não é apenas por causa dos altos impostos, que em alguns casos mantêm o preço alto; é porque em alguns casos, mais da metade das localidades desses estados, aprovaram derrogações locais da norma, dizendo que a maconha pode ser legal no estado, mas não em determinada

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cidade. Essa é uma batalha local que devemos começar agora, porque a única maneira de romper o mercado ilícito é garantir que exista a opção de ter um mercado legal de forma que a população local tenha acesso a ele. Em muitos estados, isso não acontece, mesmo onde é legal. CWJ: Agora, você mencionou que parte de sua agenda também é no nível federal. Você pode explicar um pouco mais sobre a lei MORE que tanto é falada? NORML: A Lei MORE (na sigla em inglês) significa “Marijuana Opportunity Reinvestment and Expungement Act “ (a Lei de Oportunidades, Reinvestimento e Expurgo da Maconha). É uma lei patrocinada pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Existem dois órgãos legislativos no governo americano: a Câmara dos Representantes e o Senado; o primeiro, é muito maior, pois conta com centenas de membros, cerca de 25% deles, pouco mais de 100, são copatrocinadores dessa lei. Essa legislação, entre outras coisas, desclassificaria, ou seja, removeria a maconha da Lei de Substâncias Controladas. Também prevê a eliminação dos antecedentes criminais de certas pessoas que cometeram crimes relacionados à maconha. Forneceria alguns incentivos para os estados adotarem medidas de proteção à fraude e corrupção e alguma forma de investimento para os estados projetarem uma indústria mais inclusiva. Forneceria um imposto especial ou um imposto federal nominal sobre a cannabis para fornecer parte do financiamento para esses esforços. Além disso, permitiria, ou basicamente direcionaria, um conjunto de órgãos federais com alguma fiscalização em relação a alguns desses assuntos no nível federal que continuarão existindo, como comércio interestadual, teste de produtos e marketing de produtos.

Fundamentalmente, se estabeleceria uma estrutura muito semelhante ao sistema federal de álcool para a maconha. Mas, novamente, para ser claro, a Lei MORE, mesmo se aprovada amanhã, não legalizaria a maconha em todos os 50 estados. Nenhuma lei federal pendente nos Estados Unidos o faria. E isso porque este país tem um sistema federalista onde os estados definem suas próprias políticas, não o governo federal. CWJ: Você poderia contar para a gente um pouco sobre o que o setor bancário espera em relação à cannabis em 2022?.

NORML: Bom, como a maconha é ilegal em nível federal, há uma preocupação entre alguns bancos, particularmente os maiores bancos corporativos que tendem a ser avessos ao risco, de que eles considerem que, se fizerem parceria com empresas com licença estadual para trabalhar com maconha, estão cometendo um crime federal porque estariam participando de lavagem de dinheiro. Eles estariam tendo lucros ilícitos desses negócios e, ao permitir que fossem depositados em seu banco, estariam lavando o dinheiro e depois distribuindo-o em outro lugar. Por esse motivo, muitas instituições financeiras, não todas, mas a maioria nos Estados Unidos, se afastam desse tipo de empresa. Então, como qualquer um pode imaginar, se você está administrando uma empresa e não tem acesso a banco, não pode ter cartão de crédito e não pode gerar pagamentos, e assim fica difícil administrar uma empresa, acima de tudo dificulta a concorrência com outras que têm acesso a esses serviços tradicionais. Portanto, houve um reconhecimento, ouso dizer, da maioria dos membros do governo federal deste país, que a situação é insustentável e que, mesmo acreditem que a maconha deveria ser legal ou não, o fato é que esses negócios existem. As leis foram CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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introduzidas e, de fato, aprovadas pela Câmara dos Deputados dos Estados Unidos em cinco ocasiões diferentes para permitir relações bancárias com a indústria de cannabis. Infelizmente, essas leis nunca avançaram no Senado, nem sequer foram discutidas. Mas esta é uma questão de liderança e de querer colocar esta questão em votação no Congresso dos EUA. Literalmente, dois, três ou quatro membros podem decidir o que todo o corpo escute e vote. Infelizmente, apesar do apoio de muitos políticos, sem o apoio dessas duas ou três pessoas, essa lei simplesmente não é ouvida, nem a lei da maconha nem nenhuma lei em geral. Neste momento, a segurança bancária, por qualquer motivo, não tem o apoio que deveria ter desses dois ou três líderes. CWJ: Qual você acha que é ou seria a maneira mais fácil ou eficaz de quebrar os diferentes estigmas na indústria? A educação às vezes parece não ser suficiente. NORML: Uma das coisas mais incríveis que vi durante meu mandato é a rapidez com que a opinião pública mudou a favor da legalização. Em 1970, apenas 20-25% dos americanos achavam que a maconha deveria ser legal. No início dos anos 90, quando comecei a trilhar esse caminho, isso não havia mudado muito. Hoje, aproximadamente 7 em cada 10 americanos acreditam que a maconha deveria ser legal. O que mudou? Bem, o que mudou foi que a legalização da maconha passou da teoria para a prática, tornou-se tangível. Não precisávamos falar sobre o que aconteceria se a cannabis fosse legalizada, não foi necessário apontar para lugares distantes em outros países e dizer bem, foi isso que aconteceu na Holanda. Agora os americanos podem ver que a maconha pode ser legalizada com sucesso e que está tudo bem, o céu não vai cair por isso, porque em algumas partes do país a maconha foi legalizada e está tudo bem. Essa é uma lição aprendida, quanto mais estados legalizam a maconha, maior o apoio público. Se essas políticas fracassassem, se nos levassem ao tipo

de infortúnio que nossos oponentes alegam, veríamos o apoio público cair e as pessoas fugiriam da legalização da maconha. A questão é: que tipo de sistema queremos? Um onde o uso da maconha, e seus usuários estão escondidos nas sombras e são estigmatizados, criminalizados e punidos? Ou um onde isso é gratuito e regulamentado? Os americanos estão tomando sua decisão. CWJ: Muito obrigado por essa resposta. Você tem alguma palavra ou mensagem da NORML ou de você mesmo que queira dizer aos nossos leitores? NORML: Bom, obviamente quero agradecer a oportunidade de aprofundar um pouco mais esse problema; acho muito importante ter essa conversa. Acho importante saber que tipo de motivos tinham nossos principais líderes por trás dessas políticas, também considero importante lembrar que grupos como a NORML e outros grupos de apoio defendem o que chamamos de políticas de maconha baseadas em evidências. A evidência está lá, e uma das coisas que tem sido muito importante para mim trabalhando com a NORML, e que tem sido importante para a organização, é mostrar essa evidência ao público. Há uma ideia persistente de que não sabemos o suficiente sobre cannabis para mudar as políticas públicas, ou para avançar com a legalização, porque não sabemos o que pode acontecer. Isso é um discurso falso. A maconha faz parte da sociedade há milhares de anos, dando uma perspectiva histórica e nos fornecendo amplos dados empíricos que nos informam sobre o que exatamente aconteceria quando seu uso fosse permitido e regulamentado na sociedade. Além disso, temos exemplos reais em diferentes partes do mundo e em diferentes estados dos Estados Unidos. Como a sociedade vai responder? Quais são os efeitos saudáveis se a cannabis fosse legalizada e regulamentada? Sabemos como responder a essas perguntas e, quando se trata de maconha e questões de saúde, temos ampla evidência

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científica. Contamos com cerca de 40.000 estudos disponíveis para revisão na literatura científica internacional, que nos informam sobre os aspectos de segurança e saúde da cannabis. Podemos tomar decisões, podemos criar políticas baseadas em evidências, porque as informações e a evidencia estão lá. Trata-se de trazer essa evidência à luz, e fazer com que ela seja nosso guia, direcionando as novas políticas que vamos estabelecer. E acho que é algo de que me orgulho, fazer parte disso e do que isso envolve. É importante lembrar que existem poucas perguntas extraordinárias sobre a cannabis e que nós, de fato, temos as respostas. É uma questão de garantir que essas respostas sejam incluídas em nossos diálogos políticos atuais e nas conversas que temos.

CWJ: Agradecemos muito por essa resposta e, novamente, muito obrigado por nos dar a oportunidade de ter esta entrevista incrível com você. NORML: Eu que agradeço por me convidar, foi um prazer. * Nota: Esta é uma entrevista editada, para ver a versão completa acesse nosso canal do YouTube Cannabis World Journals.

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2021 foi um ano de constantes mudanças e progressos para a indústria da cannabis na potência norte-americana, os Estados Unidos. Muitos estados do território deram o passo para legalizar a cannabis ou qualquer um de seus derivados para uso médico, adulto ou ambos; o que gerou novos empreendimentos, novas ofertas de emprego e uma nova comunidade de clientes consolidada. Além disso, os negócios dos estados que legalizaram a cannabis em 2020 começaram a ter sucesso; um caso particular foi Illinois. Nomeado várias vezes em relatórios mensais, Illinois legalizou o uso adulto em 2019 e a lei entrou em vigor em janeiro de 2020; ano em que as vendas de cannabis no estado chegaram a US$ 669 milhões. No entanto, em 2021 as vendas dobraram para atingir um total de US$ 1,4 bilhão. Cerca de 67% das compras foram feitas por moradores

do estado, o restante por visitantes de outros estados.

Illinois bateu recordes de vendas por vários meses em 2021, fechando o ano em alta com vendas diárias de US$ 4,4 milhões em dezembro, para um total de US$ 137,9 milhões no último mês do ano. Certamente, o ímpeto do mercado de cannabis regional em Illinois é um sinal de melhoria e crescimento que pode ser reproduzido para qualquer outra região do país, continente ou mundo. Enquanto a indústria continua sua expansão e legalização, Illinois é um bom ponto de partida para estudar e conhecer as oportunidades deste setor, lembrando que durante 2022 o mercado de cannabis a nível regional e nacional deverá superar o desempenho do ano anterior.

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Cannabis

na bolsa de valores 2021 foi um ano de grande progresso para as empresas que fazem parte da indústria da cannabis, que é constituida por empresas que se dedicam à pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e venda de cannabis medicinal e recreativa. No entanto, ainda há grandes expectativas para este novo ano de 2022 devido a possíveis legalizações em diferentes regiões e a realização de mais pesquisas científicas. Por isso, a seguir, citam-se algumas dessas empresas e seu comportamento no mercado de ações durante 2021. Na lista, em primeiro lugar estão algumas das empresas mais conhecidas e destacadas do mundo. o Tilray Inc. Empresa canadense com presença nos Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, Portugal e América Latina, dedica-se à pesquisa, cultivo e produção de produtos de cannabis medicinal. o Trulieve Cannabis Corp. Assim como a Tilray, é uma empresa canadense que cresce e produz todos os seus produtos para distribuição em dispensários no estado da Flórida; além disso, conta com produtos de cannabis como flores secas,

comestíveis e acessórios que podem ser adquiridos em loja física ou através de delivery. o Aurora Cannabis. É uma das empresas canadenses de cannabis que mais cresce. Sua estratégia de crescimento se concentra em atender: a) o mercado de cannabis medicinal no Canadá e nos Estados Unidos; b) o mercado recreativo de cannabis no Canadá e c) mercado de CBD derivado de cânhamo nos Estados Unidos. Por outro lado; o Investopedia, um dos principais portais de conteúdo financeiro sediado em Nova York, analisou e destacou as empresas com melhor valor, ou seja, com melhor relação preço/venda (P/S); entre os CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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quais se destacam: o

HEXO Corp. Empresa canadense que oferece produtos para fins medicinais e recreativos.

o High Tide Inc. é uma empresa canadense que fabrica e vende acessórios de cannabis no varejo. A empresa anunciou recentemente um acordo para adquirir 80% da NuLeaf Naturals LLC, produtora e distribuidora de produtos canabinóides de full spectrum. o Cresco Labs Inc. dedicada ao cultivo, fabricação, distribuição e embalagem de produtos de cannabis. A empresa opera em 10 estados dos EUA, incluindo instalações de produção e dispensários. O portal também classificou as empresas que mais crescem; mas, primeiro, é necessário considerar que o crescimento das vendas também pode ser enganoso e prejudicial se a empresa não tiver um plano para alcançar os rendimentos.

o Jushi Holdings Inc. A empresa está envolvida em operações de varejo, distribuição, cultivo e processamento de cannabis. Entre suas marcas há uma grande diversidade de serviços, como genética e cultivo de plantas; produtos e concentrados para vaporizadores; fabricação de produtos de CBD à base de cânhamo formulados para uso médico; produção de medicamentos com THC; entre outros. o Ayr Wellness Inc. é uma empresa dedicada ao cultivo de cannabis, fabricação e distribuição de cannabis e produtos derivados de cannabis. Seus produtos incluem flores secas, tinturas, alimentos e produtos sob marcas como Kynd vapear, Origyn, Stix Preroll Co., entre outros. Embora o citado acima seja confiável, deve ser considerado apenas como informação e não como conselhos de investimento.

o Verano Holdings Corp. A empresa produz uma ampla gama de produtos de cannabis para uso médico e recreativo que vende por meio de seu portfólio de marcas.

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Compras on-line

Poder comprar cannabis online é uma realidade há vários anos, mas essa tendência está se tornando cada vez mais global. Começando um novo ano, começam a se criar as expectativas em torno da indústria da cannabis e os avanços que veremos durante este ano. Um dos principais impulsionadores do desenvolvimento e da mudança na indústria tem sido a tecnologia. A implantação de sistemas automatizados em toda a cadeia produtiva tornou muitos processos muito mais eficientes e aumentou a oferta e variedade de produtos no mercado. A seguir, algumas das áreas que devem crescer mais em 2022 graças aos avanços tecnológicos.

Novas tecnologias de extração Para este 2022 espera-se um avanço nas tecnologias de extração, para que se tornem mais seguras, eficientes e sobretudo mais sustentáveis. Empresas como a Boulder Creek Technologies já estão desenvolvendo tecnologias como extração de vapor estático, um tipo de extração que não requer solventes e tem se tornado cada vez mais prolífico. À medida que a tecnologia de extração avança, as preferências do mercado por concentrados mais seguros e eficientes para os consumidores também.

Como em muitos outros setores da economia, a abordagem de vendas está se transformando de tal forma que exige cada vez menos interação presencial ou que as pessoas compareçam a um local físico para poder comprar os produtos. Como parte dessa nova abordagem de automação de vendas, muitos dispensários implementaram máquinas de venda automática e softwares que permitem que os produtos sejam rastreados desde a semente até a venda ao público. Embora essas opções de compras sejam cada vez mais viáveis para os consumidores, ainda há quem prefira ir a um dispensário, ter alguém para tirar dúvidas e poder ver os produtos. No entanto, o objetivo de muitos proprietários de dispensários é que esses consumidores acabem se tornando consumidores mais informados e ativos que não tenham a necessidade de ir a uma loja física. .


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Assinaturas As vendas online podem dar um passo na dianteira, durante 2022 as assinaturas de produtos de cannabis podem se tornar uma das formas mais populares de consumo nos mercados legais. As assinaturas envolvem a entrega recorrente de produtos para consumo frequente, o que pode ser especialmente importante para os consumidores de medicamentos, que não terão que se preocupar em renovar suas receitas regularmente. No entanto, para que isso seja possível, as leis devem evoluir em conjunto com a tecnologia.

Análise do consumidor Os softwares de análise de dados permitem que os vendedores tenham uma melhor compreensão do que seus clientes procuram, sendo responsáveis por gerar promoções específicas para os tipos de produtos que determinados consumidores precisam, esse tipo de marketing está se desenvolvendo com bastante rapidez e sem dúvida este ano vai crescer muito mais.

Essa abordagem também pode ser adotada em lojas físicas nos próximos anos. Onde um consumidor poderia escanear uma identificação que ative uma lista com produtos e promoções que o comprador provavelmente procura. A tecnologia é o setor chave que impulsiona o desenvolvimento da indústria, gerando produtos mais rentáveis, processos automatizados, indicações personalizadas. Todos esses aspectos beneficiam não apenas as empresas, mas também os consumidores, diversificando e enriquecendo a oferta de produtos de cannabis durante 2022.

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Novas tendências na indústria da Cannabis para 2022

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O ano começa e as expectativas em torno da indústria da cannabis são bastante altas, especialmente quando se prevê um crescimento de mercado de 45.000 milhões de dólares em 2025 apenas nos Estados Unidos. Com uma perspectiva tão boa, quais são as tendências que apontam nessa direção para este novo ano? Apresentamos uma compilação de elementos que não devem ser perdidos de vista: 1. Fusões e aquisições continuarão com maior força: Um comportamento que vinha ganhando força no final de 2021, se expandirá ao longo deste ano, com pequenas negociações para abranger mais espaço geográfico dentro e fora dos Estados Unidos. Claro que influenciando a confiança que existe por parte dos investidores em relação ao futuro da indústria. À medida que mais participantes entram no setor, a concorrência fica mais acirrada e a consolidação permitirá que os mais inteligentes fiquem com uma maior porcentagem do mercado.

2. Crescimento de marcas em todos os setores: Cultivo, varejo e desenvolvimento de produtos inovadores, como as bebidas com THC que

atualmente estão em auge. Obviamente, isso exigirá que os produtores cultivem cepas que estejam à altura da concorrência. Não será surpreendente que varios produtos com infusão de cannabis estejam começando a ser vistos na indústria de alimentos, cuidados com a pele, medicina ou até mesmo na moda. 3. Crescimento do E-commerce: Com a expansão da demanda e oferta no mercado, marcada pelas mudanças drásticas geradas a partir da pandemia, cresce a migração para soluções digitais. Muitas marcas já possuem seus próprios aplicativos ou plataformas de vendas digitais. A expansão da legalização em nível estadual aumentou a popularidade do CBD, causando que cada vez mais pessoas tenham interesse em experimentar este novo medicamento. 4. A regulamentação: Em 2021, houve um grande avanço na regulamentação do uso da cannabis, deixando para trás grande parte o estigma que tem envolvido a planta e seus derivados por vários anos. Os Estados Unidos e a Europa deram grandes passos, mas

ainda há muito a ser feito. No entanto, para que o setor passe para a próxima fase de crescimento, a regularização é uma algo fundamental. Esperam-se mais iniciativas como a da Alemanha, Malta e até é possível que o Japão reveja as suas políticas em relação à cannabis este ano. Stephen Murphy, cofundador e CEO da Prohibition Partners, disse: "O tabu em torno da cannabis não é mais tão forte quanto cinco ou dez anos atrás ..., Mas ainda existe essa falta de entendimento quanto à separação, a finalidade do uso médico e a finalidade do uso adulto. Isso diminui a rapidez com que a mudança pode ocorrer””. 5. A busca pela equidade social ganha força: Com a expansão do mercado e a descriminalização do uso de cannabis, cresce a necessidade de regulamentações e políticas que permitam às minorias e aos prejudicados pela guerra às drogas a oportunidade de participar da indústria. Portanto, à medida que os processos de legalização continuam se expandindo, os processos de licenciamento que exigem um elemento de equidade social se tornarão cada vez mais frequentes.

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Cannabis sativa:

Além do Δ9-tetrahidrocannabinol

A Cannabis sativa é uma das plantas mais utilizadas e cultivadas desde os tempos antigos. Apresenta mais de 500 compostos, sendo destacados os canabinóides, terpenos, ácidos graxos e flavonoides. Os fitocanabinóides (conhecidos como compostos derivados da cannabis) vêm apresentando importância médica e industrial nas últimas décadas, sendo um dos negócios que mais cresce e se expande no mercado mundial. O Δ9tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) são os fitocanabinóides mais relevantes devido às suas características terapêuticas. No entanto, as preocupações sobre os efeitos psicoativos do THC levaram

a um significativo interesse por outros compostos (que não possuem efeitos psicotrópicos) produzidos por esta planta, como o CBD e a Cannabidivarina (CBDV) que se tornaram alternativa para tratar diferentes doenças e problemas psicológicos. Esses compostos são moléculas lipofílicas (têm afinidade por lipídios, comumente conhecidos como compostos graxos) e são metabolizados principalmente pelas enzimas do citocromo P450 (CYP450), que desempenham papel fundamental no metabolismo de determinadas substâncias no organismo.

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CannaMed

Atualmente, existem estudos e evidências científicas sobre a farmacodinâmica (efeitos de um medicamento no organismo) do CBD interagindo com vários alvos moleculares, como receptores canabinóides e outros receptores importantes que funcionam como fatores-chave de transcrição no metabolismo e geração de respostas celulares específicas. Considerando suas propriedades medicinais, vários ensaios clínicos estão sendo realizados para estudar a eficácia do CBD e do CBDV em diferentes patologias, como doenças neurodegenerativas, epilepsia, transtornos do espectro do autismo (TEA) e alívio da dor. As propriedades anticancerígenas do CBD também foram demonstradas através de vários estudos préclínicos em diferentes tipos de células tumorais.

farmacocinética (processos pelos quais um medicamento passa desde o momento em que é administrado até sua eliminação total do corpo), farmacodinâmica e possíveis interações. Além disso, também destaca o potencial terapêutico do CBD e CBDV em diferentes problemas médicos e suas aplicações clínicas.

Embora menos estudado, o CBDV, um análogo estrutural do CBD, vem recebendo atenção nos últimos anos. O CBDV exibe propriedades anticonvulsivantes, e estão em andamento os ensaios clínicos para o tratamento do TEA. Esta revisão resume os avanços terapêuticos do CBD e CBDV e explora alguns aspectos de sua

Nas últimas décadas, vários estudos destacaram as ações anti-inflamatória, antioxidante, anticonvulsivante, analgésica e neuroprotetora do CBD, propriedades úteis para o tratamento de diversas doenças. Estudos pré-clínicos também mostraram os efeitos antitumorais, anti-invasivos e antiangiogênicos do CBD em vários tipos de câncer.

Atividade terapêutica do CBD e CBDV O CBD é o fitocanabinóides não psicotrópico mais estudado, sendo reconhecido pelos seus efeitos anti-inflamatórios, neuroprotetores, antiepilépticos e analgésicos, bem como pelas suas propriedades antitumorais. Embora menos conhecido, o CBDV ultimamente tem sido investigado principalmente por sua ação antiepiléptica, seus potenciais benefícios no TEA e, mais recentemente, por suas propriedades anti-inflamatórias. Tem se mostrado eficaz no tratamento de doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn e colite ulcerativa, também está em estudo sua eficácia no tratamento de doenças pulmonares. Além disso, para explorar suas possíveis ações na doença inflamatória intestinal (DII), em um modelo de colite murina, o CBDV diminuiu a inflamação reduzindo a infiltração de neutrófilos e a produção de citocinas pró-inflamatórias e restaurou a permeabilidade intestinal. Da mesma forma, em biópsias de cólon de crianças com colite ulcerativa, o CBDV também reduziu a produção de citocinas.

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De fato, a comercialização de diferentes medicamentos à base de CBD e o número crescente de ensaios clínicos em desenvolvimento sobre vários problemas médicos destacam o interesse terapêutico do CBD. Além disso, pesquisas contínuas em paralelo com a evidência de suas propriedades medicinais podem levar à descoberta de novas aplicações clínicas potenciais. No caso do CBDV, embora os estudos pré-clínicos e clínicos sejam recentes, há um interesse terapêutico relevante nesta molécula, principalmente para tratar epilepsia e TEA. No entanto, a sua ação anti-inflamatória na DII foi recentemente relatada, dado que existe um interesse emergente no uso medicinal dos canabinóides, a elucidação de características futuras importantes ao nível do tratamento pode destacar o potencial clínico do CBDV. Por outro lado, é importante destacar as possíveis interações que podem ocorrer ao

usar formulações de fitocanabinóides. O CBD e o CBDV podem interferir nas enzimas CYP450 e nas proteínas transportadoras de efluxo, alterando assim as concentrações plasmáticas de canabinóides ou medicamentos convencionais quando administrados em conjunto, reduzindo assim a eficácia do medicamento ou até mesmo causando toxicidade. É necessário elucidar os mecanismos que sustentam suas propriedades medicinais, a fim de ampliar o conhecimento e descobrir novas perspectivas terapêuticas promissoras. Portanto, o uso dos fitocanabinóides CBD e CBDV parece ser uma estratégia promissora para superar a falta de tratamentos convencionais eficientes em diversas patologias, como doenças neurodegenerativas, epilepsia, dores crônicas e câncer. Também é importante compreender as possíveis consequências do seu uso crônico, por meio do aprofundamento dos estudos farmacocinéticos e farmacodinâmicos, principalmente no caso de grupos populacionais mais sensíveis, como crianças e gestantes.

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CannaMed

Benefícios terapêuticos do uso de cannabis medicinal

percepções dos pacientes Artigo analisado: Luque, J. S., Okere, A. N., Reyes-Ortiz, C. A., & Williams, P. M. (2021). Mixed methods study of the potential therapeutic benefits from medical cannabis for patients in Florida. Complementary Therapies in Medicine, 57, 102669. https://doi.org/10.1016/j.ctim.2021.102669

Como se sabe, a cannabis medicinal é atualmente uma opção de tratamento para pacientes com dores crônicas e neuropáticas, espasticidade, esclerose múltipla e doenças inflamatórias. Os profissionais de saúde recomendam seu uso para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, mesmo quando há falta de consenso sobre seu uso.

Para entender melhor as percepções e os benefícios terapêuticos do uso da cannabis medicinal, foram pesquisados 196 participantes em diferentes grupos de redes sociais no estado da Flórida, Estados Unidos, com faixa etária entre 19 e 77 anos; 69% correspondendo a mulheres e 31% a homens; pertencentes a diferentes etnias ou raças: 87% brancos, 6% afroamericanos, 6% hispânicos e 2% asiáticos; com relação à renda anual, variando entre US$ 41.000 e US$ 60.000.

mostraram que 89% dos participantes tiveram uma grande melhora médica, reduzindo a ansiedade, eliminando o uso de opioides, melhorando o sono, a dor e o estresse pós-traumático, além de estimular o apetite. Em relação à frequência de uso, 59 pessoas a usam 2-3 vezes/dia, 46 participantes 6 ou mais vezes/dia, 42 pacientes 4-5 vezes/dia e 10 pessoas, apenas uma vez por dia, usando diferentes vias de administração, como: vapor ou inalação sendo os mais comuns, seguidos por tópicos, concentrados, pílulas, óleos, tinturas e comestíveis. A respeito das cepas preferidas são a Cannabis sativa e a Cannabis indica, especificamente com a variedade "9-pound hammer " cujos níveis de THC variam entre 18 e 23% e efeitos benéficos para insônia, apetite e dor de cabeça. Houve variação no tempo em que os pacientes estavam usando cannabis medicinal, de um a dois anos (36%) mais de cinco anos (16%). O

Os resultados das pesquisas CANNABIS WORLD JOURNALS | EDIÇÃO NO. 17 |

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principal obstáculo para o acesso à cannabis medicinal é o custo, uma vez que varia entre os US $ 200 e US $ 300 por mês. A maioria dos pacientes afirmou que a formulação de cannabis foi receitada por seu médico regular. A maioria das melhorias foi evidenciada em: depressão, dor crônica, artrite, náusea, espasmos e enxaqueca; seguidos de ansiedade, insônia, transtorno de estresse pós-traumático e síndrome do intestino irritável. No entanto, 64% dos participantes comentaram que, quando pararam de usar cannabis medicinal, seus sintomas retornaram. De acordo com a análise das respostas nas pesquisas, a idade está negativamente relacionada aos benefícios no paciente, ou seja, o alívio ou ajuda proporcionada pela cannabis medicinal é menor em pacientes que apresentam sintomas mais graves ou possíveis comorbidades, diminuindo assim a eficácia da cannabis.

Por outro lado, verificou-se que nos jovens há uma melhora nos espasmos ou tremores. Os participantes relataram que notaram certo estigma em relação à percepção do uso da cannabis medicinal por profissionais de saúde que não são o seu médico habitual, pois só compartilhavam o uso dessa planta com familiares e amigos de confiança. Por fim, ficou evidente a excelente atitude e disposição dos participantes em responder às pesquisas, muitos deles envolvidos na defesa do uso da cannabis medicinal.

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Isenção de responsabilidade: Cannabis World Journals em sua posição de revista puramente educacional, não é responsável pela emissão de opiniões pessoais para fins informativos. Para o uso e manuseio adequado, responsável e seguro da cannabis, consulte as leis do seu país e / ou o seu médico ou especialista.


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