Relatório Encalhe - Canoa Luzitânia - mar/abr -2010

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RELATÓRIO FINAL

NÚMERO DOCUMENTO CT-RE-001-2010 DATA REALIZAÇÃO 12.03.2010 a 14.04.2010 No. CONTRATO Sem contrato

NOME DO PROJETO - EVENTO - ATIVIDADE Projeto Luzitânia – Encalhe de Revisão e Manutenção Geral da Canoa de Tolda Luzitânia CONVENIO – PATROCÍNIO – APOIO INSTITUCIONAL Lei de Incentivo a Cultura – Ministério da Cultura – Pronac 08-0944 REALIZADOR (ES) Canoa de Tolda – Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco RESPONSÁVEL (EIS) CARGO-FUNÇÃO Carlos Eduardo Ribeiro Junior Presidente - Coordenador de Projeto ETAPA(S): STATUS: USO: Produção Revisto em Canoa de Tolda 01.05.2017 e divulgação 1. Introdução e antecedentes

Com a implantação do projeto Luzitânia, foram obtidos os recursos para, no biênio 2009 a 2010, serem executadas as ações de proteção, manutenção e preservação da canoa de tolda Luzitânia, todas dentro do escopo da iniciativa. Voltando um pouco atrás no tempo, em 2007, no dia 19 de fevereiro, a Luzitânia retornou às águas do São Francisco, em Brejo Grande, SE, após o término de seu restauro, iniciado ainda em 1999, no povoado do Mato da Onça, município de Pão de Açúcar, AL, após a aquisição da embarcação pela Sociedade Canoa de Tolda1. Em 2000 a canoa foi colocada em terra, pois em função do seu adiantado estado de deterioração, era indispensável que não fossem perdidas suas características físicas como sua forma (a chamada “regra”), sua seção geral (a chamada “caixa”) e outros tantos detalhes que permitiriam, durante o restauro, a manutenção de fidelidade. A partir de então, com a contratação do saudoso Mestre Nivaldo Lessa, da Ilha do Ferro, povoado no mesmo município de Pão de Açúcar, a jusante do Mato da Onça, foram iniciados trabalhos paralelos (a lavra e feitura do cavername) enquanto a Sociedade Canoa de Tolda desempenhava esforços para a obtenção de recursos para a obra total. Desde o inicio dos trabalhos de restauro da Luzitânia, ficava evidente que, independente do uso de práticas, procedimentos e materiais tradicionais (visto que seria a derradeira grande obra de carpintaria tradicional conhecida na região), era indispensável que fossem adotados processos de conservação e preservação da célula da Luzitânia2. A partir de experiência anterior na construção durante muitos anos de embarcações com composto madeira/epóxi3, foi decidida a aplicação de impregnantes e adesivos epóxi em toda a estrutura da embarcação, interna e externamente, numa iniciativa única de associação de técnicas tradicionais e de ponta. O conceito principal era a substituição do calafeto por adesivo epóxi e cargas nas “costuras” (juntas dos pranchões), e revestimento com impregnante epóxi e aplicação de camada para resistir a impactos e abrasão em todas as superfícies e elementos.

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A canoa Luzitânia foi adquirida em 1999 através de recursos obtidos em micro-projeto apresentado ao Consulado da Alemanha no Recife. Há vários anos verificamos, ao contrário do que ocorre nas embarcações de água salgada, a dificuldade que os barqueiros têm na preservação de seus equipamentos. No cotidiano da navegação no Baixo São Francisco, há um uso considerável do tempo, na “tomada de águas” da embarcação, troca de áreas de casco comprometidas pela podridão (na região da praia há o “busano”, molusco que devora a madeira rapidamente, já no sertão, como não há marés, o problema de calafetos (efetuados com a madeira sempre molhada) que não são de fato estanques. No caso das canoas motorizadas, o quadro se agrava pois os motores são instalados diretamente sobre jazentes (apoiados em casas de cavernas) sem qualquer coxim elástico. Como resultado, há a transmissão direta de toda a trepidação do grupo motor/linha de eixo para o casco/cavernas/rombo de popa (roda de popa) que estão permanentemente se abrindo e fazendo água. 3 Em 1976 iniciavam-se em Cabo Frio, RJ, as atividades com construção de embarcações a vela em madeira/epóxi pelo coordenador do Projeto Luzitânia, as quais se extenderam até 1991 (tendo sido construídas inúmeras embarcações multicascos oceânicas, navegando nos Atlantico Sul, Norte, Pacífico e Caribe), com a vinda em definitivo para Sergipe. Ainda em Cabo Frio, houve a participação – com a construção de embarcações protótipos – no desenvolvimento do adesivo epóxi Scuna, fabricado pela Tubolit. 2


Houve a discussão da idéia com Mestre Nivaldo que - a inicio se mostrou resistente - observando a rapidez com que eram feitas as colagens, além da resistência das mesmas, percebeu que os resultados obtidos possibilitariam a perenidade de seu trabalho. Em função dos poucos recursos que eram obtidos, os trabalhos foram sendo executados: lavra das cavernas, desmonte gradativo dos tabuados (todos comprometidos) e fundo da canoa, instalação das casas de cavernas novas, instalação das peças (pranchões, fundo, etc) novas e assim por diante. Os trabalhos eram executados em local à beira do rio4, onde a Luzitânia foi colocada sobre cepos (de craibeira) obtidos no povoado Bonsucesso (município do Poço Redondo, SE, a jusante) e, sobre todo o conjunto, foi erigida uma grande tenda com lona de polipropileno de forma a proteger a obra e as pessoas de sol chuva5. Nos anos de 2003 e 2004, ocorreram enxurradas locais e na região do Sub Médio São Francisco, provocando pequenas cheias nos verões dos anos citados. Em ambos os casos, tivemos a abertura das comportas (vertedouros) da barragem de Xingó, provocando (de forma completamente diversa de uma cheia natural, com a subida gradual das águas) o aumento do nível do rio para cotas muito elevadas em poucas horas. Esta situação ocorreu sem o devido preparo das comunidades das margens que sofreram grandes prejuízos. O caso da canoa Luzitânia não foi diferente: em poucas horas, toda a área foi atingida pelas águas, com violência e, graças ao empenho de amigos da comunidade, foi possível a recuperação de equipamentos, madeiras, atracação da própria canoa. Foram momentos dramáticos, que obrigaram a reconstrução de toda a estrutura, limpeza da obra, do local6. Os trabalhos foram prosseguindo até o verão de 2005. Em fevereiro do mesmo ano, no dia 12, com o casco todo montado, foram temporariamente suspensos (para ações fora do Mato da Onça) os trabalhos de colagem das juntas e impregnação do casco (interna e externamente), que se encontravam bem adiantados. No entanto, poucos dias depois, quando se preparava a continuação e término dos trabalhos (quando o casco da Luzitânia estaria pronto para flutuar), houve nova abertura de comportas de Xingó e, em poucas horas, todo o estaleiro estava destruído. Este terceiro naufrágio da canoa Luzitânia foi grave e provocou a decisão de não só remove-la em definitivo para outro local (Brejo Grande, SE), mas também de acionar a CHESF – Cia. Hidrelétrica do São Francisco para o ressarcimento dos prejuízos. Em março, a canoa foi resgatada e rebocada (submersa) do Mato da Onça a Brejo Grande (com o auxílio da lancha Luz do Dia, do pessoal do finado Tonho Carmelo, dos Escuriais, SE). Em seguida a negociações com a CHESF, foi obtido, na forma (oficial) de patrocínio, verba que permitira a conclusão dos serviços, o que ocorreu com o lançamento da Luzitânia em fevereiro de 2007. Ocorrendo a submersão do casco (lembrando que a impregnação não fora finalizada), a madeira teve grande dilatação, que se seguiu à retração (já em Brejo Grande) de todo o conjunto. Neste processo, as colagens tiveram diversas fissuras, infiltrações de lama e contaminação. Com a canoa já em Brejo Grande, no estaleiro provisório montado em praça pública, foi necessária a remoção de todas as colagens efetuadas ainda no Mato da Onça. Porém, em alguns locais (sobretudo em zonas próximas às cavernas), o acesso do disco de corte era difícil, sendo o trabalho finalizado com ferramental especialmente preparado para a operação. Ficaram, ainda assim, dúvidas sobre a eficácia da remoção da contaminação nestes pontos. A partir de 2007 a Luzitania voltou a navegar em todo o Baixo São Francisco, tendo sido objeto de manutenções de rotina. 1.1 Primeiro encalhe/manutenção geral O primeiro encalhe total (efetuado nos calços de Zé da Balsa, em Piaçabuçu, AL) ocorreu em março de 2008 (na época em que o NOS – Operador Nacional do Sistema, autorizara a redução da vazão do São Francisco para 1100 m3/s, abaixo do mínimo estabelecido pelo CBHSF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, de 1300 m3/s. Ao mesmo tempo que previsto no Projeto Luzitânia – Pronac 08-0944, este encalhe

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Entre os anos de 1997 e 2002 houve uma grande seca que provocou a drástica redução da vazão do rio São Francisco. O local onde foi feito o estaleiro provisório da Luzitânia era em leito antigo do rio, que já havia recuado após a operação da barragem de Xingó. 5 Ponto importante, não havia energia elétrica. Todo o trabalho foi feito sem o emprego de qualquer maquinário com exceção das furações de parafusos (todos de ½” polegada, longos, em geral – casco de 80 mm e cavernas de 100 mm), pois não tínhamos tempo disponível para o emprego de trados nas furações. Para que fosse utilizada a furadeira elétrica, a Sociedade Canoa de Tolda adquiriu um gerador de 5kva, também via micro-projeto no Consulado da Alemanha no Recife. 6

Como todo o local ficou – nos dois eventos – submerso por várias semanas, houve a decantação de imensa quantidade de lama. Após o abaixamento das águas, foi necessária a total lavagem da canoa, remoção da lama – sobretudo das juntas que receberiam as colagens com epóxi. Todas as juntas tiveram que ser limpas com facas, raspadores e disco de corte (com uma pequena esmerilhadeira) para a total remoção da lama gordurosa e ressecada das superfícies.

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também serviu como manutenção prévia para a viagem de avaliação das condições do Baixo São Francisco sob a situação de vazões reduzidas7. Esta navegação ocorreu em abril de 2008 e mostrou a grande dificuldade de se navegar num quadro de grande degradação ambiental em todo o Baixo. Neste primeiro encalhe geral, as condições da embarcação eram muito boas, sendo que foi removida a pintura antiincrustante, efetuados pequenos reparos de impactos com epóxi, retocada a pintura geral externa e refeita a pintura antiincrustante. Foram observados, no entanto aspectos de corrosão mais acelerada, identificada como provocada pela salinidade da água no estuário do São Francisco.

Foto 01 – Luzitânia encalhada no riacho da Malaca, em Piaçabuçu, AL. Março de 2007

Foto 02 – Detalhes das ferragens do leme. Todos os elementos em ferro foram tratados originalmente com zarcão e base epóxi. As ferragens foram instaladas com adesivo epóxi em todas as furações e nas zonas de contato com o casco e/ou o leme. A pintura branca (obras vivas) sob a tinta antiincrustante vermelha é uma base epóxi de alta espessura aplicada sobre a madeira impregnada com epóxi Scuna. Deve-se observar que toda a textura da madeira e “retrações de calafeto” (simuladas) foram rigorosamente mantidas. Março de 2007

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Ver relatório CT-RE-002-2008.

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Foto 03 – Fundo da canoa Luzitânia, após a remoção de organismos, vista da popa para a proa. A pintura branca (obras vivas) sob a tinta antiincrustante vermelha é uma base epóxi de alta espessura aplicada sobre a madeira impregnada com epóxi Scuna. Março de 2007

Foto 04 – Ferragens do leme (lado de boreste) com os sinais de corrosão superficial. As ferragens ainda encontravam em muito bom estado. Março de 2007.

2. Encalhe de Manutenção Geral da Canoa Luzitânia 2.1 Objetivo geral Efetuar inspeção e manutenção geral da canoa de tolda Luzitânia. 2.2 Objetivos específicos a- Avaliar as de envelhecimento da canoa Luzitânia após o seu retorno a navegação, em 19 de fevereiro

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de 2007.

Foto 05 – Operação de reboque da canoa Luzitânia, no trecho Brejo Grande (Porto da Marinha), SE/Piaçabuçu (riacho da Malaca), AL. O reboque foi contratado com o Zé da Balsa, que utilizou a embarcação Vespúcio. Março de 2010.

Foto 06 – Chegada da canoa Luzitânia a Piaçabuçu (riacho da Malaca), AL e preparação do ferro (espeto) em terra para a atracação da embarcação. A maré ainda está alta, escondendo os calços (cavaletes) de coqueiros, que estão submersos. Ao fundo, a cidade de Piaçabuçu. A esquerda, não se vê, a boca do riacho da Malaca. Março de 2010.

Foto 07 – Porto do riacho da Malaca). Ao fundo, a boca do riacho da Malaca. Este local é utilizado por pescadores artesanais da região para guarda de barcos e manutenção geral. Março de 2010.

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Foto 08 – Porto do riacho da Malaca). Aguardando o topo da maré (há mares de até 2 metros – média de sizígia – entre a foz e pouco a montante de Penedo, AL), a Luzitânia já está aguardando o momento de ser puxada para o alinhamento sobre os calços (visíveis sob a água) de coqueiros. Ao fundo, a ilha do Monte, entre Piaçabuçu, AL e Brejo Grande, AL. Março de 2010.

Foto 10 – Porto do riacho da Malaca, Piaçabuçu, AL. A Luzitânia já está sobre os calços aguardando a baixamar. Ao fundo, a boca do riacho da Malaca. Em primeiro plano, a bordo da lancha de apoio “Canoa de Tolda 1”, Daia Fausto, tesoureira da Canoa de Tolda e responsável pela manutenção da canoa Luzitânia (tripulante efetiva da embarcação). Março de 2010.

Foto 11 –A Luzitânia já está sobre os calços, com a maré já baixando. Março de 2010.

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Foto 12 –A Luzitânia já apoiada sobre os calços, com a maré já baixa, pronta para o início dos trabalhos.

Foto 13 – Para facilitar os trabalhos de identificação de problemas com o casco ou cavername, todos os paineiros (estrados) são removidos.

Foto 14 – Ferragens do leme e rombo de popa (roda de popa), lado de boreste. Após lavar e remover toda a tinta “envenenada” do casco, começam as inspeções e avaliações. No leme, vemos ataque eletrolítico nas ferragens (de ferro), lembrando que no estuário do São Francisco há razoável salinidade (da cunha salina). Ainda assim a situação das ferragens do leme (que foram tratatas com zarcão e epóxi) é muito boa, permitindo seu uso por alguns anos.

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Foto 15 – Ferragens do leme. Barra de ferro na face de boreste, na saia. Peça destinada a manter unidos os diversos elementos que compõem o leme. É verificado ataque eletrolítico nas ferragens (de ferro), lembrando que no estuário do São Francisco há razoável salinidade (da cunha salina). Ainda assim a situação das ferragens do leme (que foram tratatas com zarcão e epóxi) é muito boa, permitindo seu uso por alguns anos.

Foto 16 – Zona de “costura” (junta) comprometida pelo acúmulo de água infiltrada (desde as inundações do estaleiro no Mato da Onça, em 2005 – quando ocorreu a contaminação das colagens com lama do rio). Estes locais foram limpos com disco de lixa, mas, ainda assim alguns (o exemplo da foto, perto do rombo de proa – roda de proa – a bombordo) permaneceram contaminados com a lama, não permitindo a impregnação e aderência do epóxi. A região da proa é mais complexa, pois há um maior número de colagens mais profundas (onde o acesso do disco de lixa é difícil). A massa verde é epóxi MEP 301, provisória, pois a maré subiria, antes do término do trabalho.

Foto 17 – Zona de “costura” (junta) comprometida pelo acúmulo de água infiltrada a bombordo, entre a proa e meia nau. Ver comentários da foto 16. A pintura em branco é epóxi de alta espessura, aplicado sobre a impregnação epóxi com resina Scuna. Observar que a textura da madeira foi rigorosamente preservada, além de ser mantida a retração (simulação) de enchimentos tradicionais (calafeto com cal e óleo de mamona). A tinta vermelha, ainda não removida, é a antiincrustante (“envenenada”). A massa cinza trata-se de durepoxi, provisória, em função da maré, que não permitiria o final do trabalho.

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Foto 18 – Zona de “costura” (junta) sendo desgravotada (aberta e limpa) pelo Araúna de Tonho Carmelo (barqueiro de família de canoeiros dos Escuriais, Nossa Sra. De Lourdes, SE, hoje balseiro na linha Piaçabuçu, AL/Brejo Grande, SE), engajado nos trabalhos de reparos da Luzitânia. Araúna teve seu aprendizado com Mestre Nivaldo, que fez o restauro da canoa Luzitânia, pois este fez inúmeros serviços para as embarcações de Tonho Carmelo, pai de Araúna. A zona é recortada com serra circular manual e, em seguida, limpa com formão.

Foto 19 – A mesma costura da foto 19, já com o tampão (encherto) colado. Observar que a tinta antiincrustante já foi completamente removida.

Foto 20 – Zona comprometida pelo acumulo de água (infiltrada em local que não teve a aderência em virtude da lama penetrada na junta), a bombordo, junto a ferragem do leme no rombo de popa (roda de popa). Já foi feita a limpeza e o desgravotamento do local, para a inserção de um tampão.

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Foto 21 – O mesmo local da foto 20, já com o tampão colado, mas sem qualquer acabamento.

Foto 22 – O mesmo local da foto 21, já com o tampão colado, sendo feito o acabamento por Araúna, com a enxó.

Foto 23 – Na mesma zona, no rombo de popa, mas a boreste, outra zona comprometida que foi removida para a colagem de um tampão. É interessante notar que o rombo de popa, assim como o rombo de proa, são confeccionados com braúna, madeira dura da caatinga, extremamente dura e difícil de colar. Estes locais comprometidos tiveram infiltrações provocadas por fissuras, resultado de encalhes violentos em navegação no início de 2008 (período de redução da vazão do rio São Francisco, abaixo dos 1300m3/s estabelecidos pelo Comitê da Bacia – ver relatório xxxxxx)

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Foto 24 – A mesma área da foto 23, já com seu tampão devidamente colado, quase acabado, na enxó. A madeira ainda não foi impregnada com epóxi, o que seria, para que a maré, ao subir, não contaminasse a peça com água.

Foto 25 – Zona da costura do rombo de feche (peça do costado que se junta a roda de proa) com o rombo de proa (roda de proa). É interessante notar que na tradição do Baixo São Francisco, é rara a utilização do alefriz, encaixe/rebaixo na roda de proa para receber as peças do casco. Esta particularidade provoca inúmeros problemas estruturais e de estanqueidade em todas as embarcações. A massa de MEP visível é provisória e foi colocada em caráter de emergência, para ser retirada (o local seria refeito).

Foto 26 – A mesma área da foto 25, onde se está prolongando a limpeza da fissura e remoção de material contaminado.

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Foto 27 – Sempre no rombo de proa, mas a bombordo, o mesmo problema. A situação de contaminação pela lama ainda no Mato da Onça é agravada pela água da chuva que, mesmo com muito cuidado, goteja, escorrendo pelo mastro. Conseguimos, agora, um sistema de “gola” de vinil e tiras de borracha, nos mastros, para impedir o escorrimento de água – foi bem sucedido. Aqui é bem observada a questão do “alefriz”, citado no texto da foto no. 25.

Foto 28 – O colega Araúna, posando durante seu trabalho. É um dos derradeiros marceneiros mais jovens, com atividades na carpintaria naval clássica do Baixo São Francisco. Notar, ainda, a maré seca, o que não significa que o trabalho não deve ser ligeiro.

Foto 29 – O Araúna preparando as taliscas de madeira para o preenchimento da área removida.

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Foto 30 – Ainda na proa, a bombordo, área removida, onde houve infiltração (provocada pela lama ainda residual de 2005, no Mato da Onça) de água entre a caverna 03 e o fundo da embarcação.

Foto 31 – Visão interna da zona apresentada não foto no. 30, quando ainda se tentava secar a madeira com o secador de cabelo. No entanto, a solução definitiva foi a remoção de toda a zona comprometida.

Foto 32 – A zona apresentada nas fotos 30 e 31, já com o segmento comprometido removido.

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Foto 33 – Outra zona comprometida por infiltração de água em local onde havia lama (ainda de 2005). O material foi retirado. Porém, como a maré já enchia, foi necessário um reparo (“curativo”) provisório, para o prosseguimento dos trabalhos no dia seguinte.

Foto 34 – O mesmo local apresentado na foto 33. É interessante notar o excelente estado da madeira (além da zona comprometida), que foi encapsulada com o epóxi.

Foto 35 – Preparação do “curativo”, com epóxi ordinário (pois será removido) tipo Durepoxi, e um pedaço de forro de PVC.

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Foto 36 – O pedaço de PVC que irá se aplicado sobre a abertura no casco.

Foto 37 – Preparando um anel de vedação com o epóxi no contorno da abertura do casco.

Foto 38 – O anel de vedação já pronto para receber a placa do forro de PVC.

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Foto 39 – A placa de PVC sendo aplicada sobre a abertura no casco.

Foto 40 – Sobre placa de PVC, que é muito flexível, um pedaço de tábua (aproximadamente 20mm de espessura) é aplicado para complementar o “curativo”.

Foto 41 – O curativo realizado, a maré já próxima do fundo do casco. Trabalho bem sucedido.

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Foto 42 – No dia seguinte, o prosseguimento dos trabalhos. Toda a zona é limpa em definitivo, para que se possa fazer o tampão que irá preencher a abertura. Aproveita-se para uma raspagem da caverna.

Foto 43 – No dia seguinte, tão logo a maré permite, começam-se os trabalhos. Não sem risco, com a utilização de máquinas elétricas dentro da água. Observar as ferragens do leme, já tratadas com nova camada de zarcão.

Foto 44 – Araúna apresentando a peça realizada, pronta para ser colada na abertura.

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Foto 45 – Enquanto seguem os trabalhos externos, no casco, também continuam as atividades em elementos internos. Retoques, reparos, etc. A peça verde sendo pintada é a carlinga (base) do toco (a peça vertical vermelha ) da escota do pano de proa.

Foto 46 – As bolinas foram retiradas para eventuais retoques na madeira, colagens e renovação da pintura. Com a maré crescendo, era necessário fazer tudo muito rápido, para a retirada da Luzitânia dos calços.

Foto 47 – De rio abaixo, ao lado da boca do riacho da Malaca, o porto das balsas e dos barcos de pesca (de camarão). O prédio mais alto é o prédio da fábrica de gelo do francês.

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Foto 49 – Preparação das ferragens do leme e do rombo de popa. Nova camada de zarcão.

Foto 50 – Detalhe da popa (vê-se o tampão já colado e impregnado com epóxi, a frente da ferragem do leme inferior), e através do carro de popa (a peça de madeira curva, que fecha a embarcação e através da qual passa o leme).

Foto 54 - Prosseguem os trabalhos de retoques (ou renovação completa) de pintura no casco. A colega Daia Fausto, responsável pela conservação da canoa Luzitânia pinta a proteção do casco (entre a bolina e a embonação, principal peça lateral – tábua – do costado).

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Foto 55 – Ao longo dos dia, segue a pintura externa, dominada pela rotina das marés (e do tempo, pois ocorreram algumas chuvaradas).

Foto 56 – Antes da pintura final, camadas de zarcão sobre a madeira (sarrafo de proteção do casco), antes da pintura de acabamento (esmalte).

Foto 57 – Antes da pintura geral do branco, os retoques em locais de impactos (que foram mais uma vez resinados), arranhões onde ocorreram aplicações de peças de madeira.

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Foto 58 – Pela noite, após o café, em casa, retorno ao porto (a maré cheia não permite o acesso a Luzitânia por terra) para embarque e pernoite a bordo da canoa: há riscos de roubo. Há que se ficar alerta todo o tempo, pela quantidade de material valioso embarcado na Luzitânia.

Foto 59 – Dando prosseguimento, ao longo dos dias, aproveitando a maré baixa para o trabalho de nova pintura (no caso a área branca, em esmalte) em todo o costado. Observar o fundo com toda a camada de tinta antiincrustante removida.

Foto 60 – O trabalho prossegue, todos os dias, enquanto a maré permite. Nesta cena, o pintor de embarcações Jirlan (que também é letrista), abre as letras com o nome Luzitânia na vista da tolda.

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Foto 61 –Para o trabalho de Jirlan, já havíamos preparado toda a superfície com a tinta branca. Observar que os diversos detalhes da decoração da canoa já estão finalizados: a faixa no “cordão”, chamada de feiticeira, com os losangos dispostos em alternância verde e vermelha, obedecendo à regra de alinhamento pelas pontas, que devem ser muito finas. Também o bigode, preto, sobre a linha d’água. .

Foto 62 –Finalmente, o nome Luzitânia pintado,com a característica separação das letras (e não das sílabas) pelas janelinhas da tolda. Provisoriamente mantemos o registro da Capítania dos portos (já existia ao comprarmos a embarcação em 1999). Há a intenção de remover, após negociação com a Marinha. A maré vem chegando.

Foto 62 –A maré sobe e é hora de encerrar as atividades de mais um dia.

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Foto 63 – Com a maré alta, o acesso por terra ao porto da balsa é dificultado. Muita sujeira, restos de lixo, lama, água poluída. Mas, não há outra alternativa. Sobre o casco velho, as bolinas, que também estão sendo preparadas. Cada peça destas pesa aproximadamente 190 kg. Foram retiradas pelo relator e pela colega Daia Fausto, com o auxílio da maré cheia.

Foto 64 – Com a maré cheia, uma outra visão do local, a canoa acima, a partir do porto da balsa.

Foto 65 – No momento da maré baixa, a preparação da tinta base epóxi, para reforçar a impermeabilização do fundo. A cor é semelhante à da tinta antiincrustante, para se manter o mesmo padrão tradicional.

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Foto 66 – Num dos dias de trabalho, a visita de Meraldo Rocha, coordenador do Grupo Gestor do APL Caminhos do São Francisco (SEBRAE-AL e Secretaria de Estado do Turismo) do qual a Canoa de Tolda faz parte.

Foto 67 – A aplicação do epóxi de alta espessura tem de ser rápida, e começando pela popa, pois é o primeiro ponto a ser molhado pela maré. Como o epóxi é uma tinta de dois componentes para a sua polimerização, e a temperatura local é rápida, o processo tem de ser ligeiro o perde-se material. Observar as camadas de reforço nas ferragens, já tratadas com zarcão.

Foto 68 – Feito o lado de boreste, direito, atacar a outra banda, com a maré subindo muito rápido.

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Foto 69 – Prosseguindo o trabalho de pintura com o epóxi.

Foto 70 – O pior momento é o fundo, pois a posição é mais incômoda. Mas, a tarefa é executada com rapidez. Observar a qualidade dos acabamentos das pinturas de decoração: linha d’água, feiticeira, passeio (a borda vermelha, por onde se anda, a tabica (amarela sobre o passeio) e a subibeira (deformação de sobre beira) verde, sobre a tabica.

Foto 71 – O fundo, deixando muito evidente que a aplicação de resina epóxi preservou todo o aspecto rústico da madeira. Não houve qualquer lixamento com maquinário. As emendas têm a retração do calafeto simuladas.

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Foto 72 – Há um problema local, de que as embarcações que passam não respeitam as velocidades mínimas das regras de tráfego. Por isso são provocadas ondas, causando muitos transtornos.

Foto 73 – A Luzitânia está quase que pronta para deixar os calços, tão logo a maré cresça mais e a faça flutuar de modo a ser movimentada.

Foto 74 – Dentro da Luzitânia, são finalizadas tarefas como pintura dos pneus (defensas), e verificação de detalhes restantes.

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Foto 75 – Acontecimento: ao final do período de 30 dias do encalhe, exemplo de sobrevivência de iniciativas tradicionais de barqueiros não menos tradicionais. Chovia e, nosso colega Araúna, vindo de Penedo com a lancha Luz do Dia (ao fundo, chegando), a mesma que fora resgatar a Luzitânia naufragada em 2005 no Mato da Onça, prepara o local, ao lado da Luzitânia: “compramos uma lancha lá pra cima de Penedo, na Itiúba, tava afundada faz uns 6 pra 7 anos, mas boinha toda, vamo vê o que dá pra fazer...”

Foto 76 – A Luz do dia se aproxima, entrando no riacho da Malaca, com a carcaça da “lancha boinha” enrabada, na popa.

Foto 77 – A Luz do dia deixa a carcaça, que veio afundada da mesma forma que a Luzitânia, para, aproveitando a maré, encalhar no espaço aberto ao lado de nossa embarcação.

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Foto 78 – Com o auxílio de outra lancha dos irmãos, a Mariana (atracada a contrabordo), a carcaça é jogada no espaço vago.

Foto 79 – A maré vai descendo, e é chegado o momento de, finalmente, avaliar o que foi comprado. Pois o negócio foi feito com o velho dono, com a lancha no fundo. Algo normal no Baixo São Francisco.

Foto 80 – A maré quase seca, e a carcaça se mostra, como um belo exemplar de chata transformada em lancha. Vários detalhes mostram a tradição da carpintaria naval: nicas (moedas) como arruelas, cavilhas de bronze, cavernas de braúna. “A bicha tá com a madeira boa toda...”

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Foto 81 – Lado a lado, Luzitânia e a carcaça.

Foto 82 – Durinho, um sobrinho, Elísio (também do sertão, é tripulante da balsa Nova Estrela, dos irmãos) e Araúna, irmão de Durinho.

Foto 83 – Gradativamente, a Luzitânia se aproxima de mais uma volta ao rio. Daia faz a pintura das bolinas, que tiveram alguns pontos reparados.

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Foto 84 – A Luzitânia está pronta, faltando as bolinas, que tiveram sua pintura atrasada por dias chuvosos.

Foto 85 – A ponta inferior da bolina de bombordo, ficando na água, foi atacada por busanos. Foi feito um reparo removendo-se a zona comprometida, e reenchendo com massa de epóxi e microesferas de vidro.

Foto 86 – As condições locais não são favoráveis mas, o trabalho está na fase final.

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Foto 87 – A canoa está pronta, porém ainda sem poder sair do local, faltando um dia para a maré chegar ao seu pico.

Foto 88 –

Foto 89 –

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Foto 90 – Enquanto não se consegue sair do local, é feita a limpeza final da canoa.

Foto 91 – Aproveita-se para limpar restos de lama, sujeira, aplicar inseticidas (para impedir a proliferação de baratas e formigas).

Foto 92 – Para esta atividade, os estrados (paineiros) são removidos. Observar a superfície inferior do estrado ao fundo, mostrando a camada de resina epóxi. A madeira se encontra perfeita e encapsulada para muitos e muitos anos.

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Foto 93 – Terminada a manutenção, a Luzitânia volta para seu porto em Brejo Grande, rebocada pela balsa Estrela Guia, do Zé da Balsa.

Foto 94 – Idem.

Foto 95 – Idem.

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Foto 96 – A caminho de Brejo Grande.

Foto 97 – A canoa no porto em Brejo Grande.

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Foto 98 – Idem.

Foto 99 –Idem.

Foto 100 –Idem. Cerca de vinte dias depois, já em preparo para novas navegações de rotina, uma embarcação mal atracada no porto se engancha na verga do

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traquete (vela) de popa e quebra a peça. Nova necessidade de retardar as atividades. A peça deverá ser retirada para terra onde o reparo será feito. As vergas têm aproximadamente 9 (nove) metros de comprimento, são elementos difíceis de obtenção. Nota - Quando a Luzitânia foi instalada no local, deve ser dito, nenhuma outra embarcação atracava nas imediações. Porém, por ser um remanso mais calmo, aos abrigos dos ventos de inverno, gradativamente outros barqueiros fundearam suas embarcações, dificultando as manobras da Luzitânia e criando inúmeros conflitos. Os danos causados à verga nunca foram ressarcidos pelo proprietário da embarcação. Bem como inúmeros outros, ao longo de vários anos, com a canoa sendo impactada por outras embarcações, teve sua cobertura rasgada, etc. E, em nenhum caso ocorreu o devido ressarcimento.

Anexo 1 – Detalhes da manutenção realizada

Foto 101 –Observar o elevado padrão de acabamento realizado na repintura da canoa Luzitânia.

Foto 102 – Idem.

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Foto 103 – Idem.

Anexo 2 – Atividade de manutenção específica ocorrida em 2009 – Manutenção geral da pintura interna da canoa Luzitânia Ainda em 2009, em meados do ano, a Luzitânia sofreu manutenção geral interna para melhoria do acabamento e retoques gerais em pintura.

Foto 104 – Retoques e melhoria da pintura interna.

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Foto 105 – Idem. Pintura da peça estrutural denominada dormente (em amarelo).

Foto 106 – Idem.

Foto 107 – Pintura interna da tolda (cabine localizada na proa).

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Foto 108 – Idem.

Foto 109 – Vista geral do interior, já finalizado, para a popa.

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