Fonseca dias fotografo de vnportimão by carlos osorio

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Fonseca Dias 1874-1959

Fot처grafo de Vila Nova de Portim찾o

Fonseca Dias, Fot처grafo de Vila Nova de Portim찾o

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Fonseca Dias 1874-1959

Fotรณgrafo de Vila Nova de Portimรฃo

Carlos Alberto Osรณrio 2016

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ÍNDICE 7 Nota Introdutória 9 Nota Biográfica 10 O Dias, Photographo 13 O Retrato de Estúdio 14 A Photographia no Novo Século 16 Albumina e Platina 17 Fernanda de Castro e Fonseca Dias 18 Fonseca Dias Republicano 20 A Exposição Nacional das Artes Gráficas de 1913 22 O 1.º Congresso Regional Algarvio 28 Os Dias de Declínio 32 Fonseca Dias, Mestre de Francisco Oliveira 35 Nota Final

Ficha Técnica Título: Fonseca Dias, Fotógrafo de Vila Nova de Portimão Autor: Carlos Alberto Osório Design gráfico e paginação: Creative Chaos Revisão Científica: M. João Raminhos Duarte Editora : Arandis Impressão: - Artes Gráficas, Lda. Exemplares: 200 Maio de 2016 4

Fonseca Dias, Fotógrafo de Vila Nova de Portimão

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Nota Introdutória

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presentamos neste opúsculo um esboço biográfico de um fotógrafo profissional que viveu e trabalhou em Portimão na primeira metade do século XX. Pretende-se dar a conhecer, não apenas aspetos da vida de Fonseca Dias, mas fazer uma breve contextualização da sua época e contribuir parcelarmente para o conhecimento mais vasto do desenvolvimento da fotografia no Algarve, respondendo desta forma aos desafios lançados por António Sena aos investigadores, na “Introdução” da sua obra ímpar História da Imagem Fotográfica em Portugal (1998). O Dias fotógrafo, tão presente nos álbuns de família de muitos portimonenses com antepassados ligados à indústria conserveira, cortiçeira, fumeiros, transportes e comércio ou propritários mais abastados de terras, continua a ser, como tantos outros, quase desconhecido para a investigação histórica que nos últimos anos se tem ocupado com abordagens inéditas e particularmente interessantes da História local e regional no período da implantação da República. Nas pesquisas biográficas realizadas pouco mais conseguimos do que uma foto do seu casamento e uma ou outra referência na imprensa regional. Muitas interrogações se colocam acerca da atividade profissional de Fonseca Dias na terra que escolheu para desenvolver a sua arte. Muito pouco se sabe acerca da sua atividade política num período histórico tão intenso como o que se seguiu ao regicídio. Ainda fica por fazer o levantamento da sua atividade comercial nos ramos da hotelaria, restauração e mobiliário na cidade de Portimão.

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Porém, conseguimos reunir neste contributo o produto de aturadas leituras, do olhar sage e dos aconselhamentos críticos da amiga e Historiadora Maria João Raminhos Duarte, das conversas e recordações com Francisco Oliveira, da generosidade e dedicação de Manuel Mendonça, do entusiasmo de Carolina Valverde e da observação munuciosa de vários retratos de coleções particulares que nos foram chegando às mãos, gentilmente cedidos por Aurora Santos, Graça Aragão e Josélia Bicker. Tudo isto nos familiarizou com essa personagem quase obscura, mas que soube com mestria fixar com a sua objetiva momentos importantes da vida dos outros e da vida de uma vila periférica que se tornou cidade próspera. Em 2015, comemorou-se o centenário de um acontecimento fundamental e pioneiro na afirmação regionalista: o I Congresso Regional Algarvio. É, portanto, nossa finalidade homenagear, a partir do exemplo de Victorino da Fonseca Dias, repórter fotográfico daquele evento, todos aqueles que, de forma autodidacta ou pela sua formação específica e talento próprio, continuam a investigar para libertar do olvido os homens e as mulheres notáveis que ajudaram a desenvolver o Algarve no passado recente. Portimão, Abril de 2016 Carlos Alberto Osório

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Igreja matriz de Trevões desenho de Jorge Braga da Costa.

Nota BIOGRÁFICa

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ictorino da Fonseca Dias nasceu em 1874, na aldeia de Sta. Marinha de Trevões, do concelho de S. João da Pesqueira, distrito de Viseu. Sua mãe chamava-se Maria Gomes. Estabeleceu-se como fotógrafo em Vila Nova de Portimão nos primeiros anos do século XX. Aos 34 anos, no primeiro dia do mês de fevereiro de 1908, contraiu matrimónio na igreja matriz com Ana da Glória Jorge, com 20 anos. Foram padrinhos Joaquim António d’Azevedo e Ana Augusta Martins. Ana da Glória Jorge nasceu no dia 4 de março de 1888, é filha de Joaquim Jorge Júnior e de Ana da Glória Jorge. Veio a falecer com 86 anos na freguesia de Arroios, no dia 26 de Setembro de 1974 .

Registos paroquiais e averbamentos de Fonseca Dias e Ana Jorge.Arquivo Distrital de Faro.

Fonseca Dias faleceu com 85 anos, no dia 13 de novembro de 1959, na freguesia dos Anjos, em Lisboa. Foto do seu casamento com Ana da Glória Jorge. Col. pessoal de Graça Aragão.

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Fonseca Dias, Fotógrafo de Vila Nova de Portimão

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Col. particular Josélia Bicker.

Albumina e Platina Fernanda de Castro e Fonseca Dias

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o jornal O Portimonense de 19.05.1910 é publicado o seguinte anúncio:

Photographia Dias Neste atelier executam-se todos os trabalhos photographicos, o mais perfeito possível tanto em platina como em albumina. Fazem-se ampliações em todos os formatos. Retratos desde 500 reis cada meia dúzia. Largo do Colégio

A referência na publicidade ao tipo de papel platinado ou albuminado constitui, do ponto vista das técnicas fotográficas, uma matéria interessante que nos ajuda a compreender as relações entre Fotografia e Sociedade(1). O papel de albumina, inventado por Désiré BlanquardÉvrard, em 1849, passou a ser o papel mais usado para a impressão dos negativos de colódio húmido. A dupla colódio/albumina era tão perfeita que, até 1880, foi o processo fotográfico predominante em todo o mundo. O seu uso decaiu lentamente a partir de 1895, mas o papel albuminado continuou a ser fabricado até à década de 1930(2). O papel de albumina foi usado para o retrato, em primeiro lugar, e foi produzido em muitos formatos e com formas de apresentação típicas; a mais vulgar, na década de 1860, foi a dos cartões de visita (cartes de visite), em que as pequenas provas eram coladas em cartão com o nome e morada do fotógrafo. Mais tarde apareceram outros formatos. Nas nossas pesquisas, temos encontrado alguns destes exemplares do tipo carte de visite com a chancela de 16

Dias, Phot. que deverão ser dos primeiros anos do século XX. A impressão em papel de platina, inventada por William Willis, em 1873, ganha popularidade e vários fabricantes entram no mercado, nomeadamente a Ilford e a Hesekiel em Inglaterra e a Gevaert na Bélgica. Nos Estados Unidos, o papel de platina foi produzido pela Aristotype Co., pela Ansco e pela Eastman Kodak que, a partir de 1906, produz o papel de platina Angelo . Em 1913 a Platinotype Company fabricou um papel de prata e platina designado Satista. A popularidade deste tipo de papel foi crescendo, tendo atingido o auge nessa década. As provas em platina apresentam imagens de excelente qualidade, de cor neutra, sem brilho e com uma paleta de cinzentos riquíssima, com inúmeras tonalidades e subtis variações de tom. Fonseca Dias acompanhava as tendências e as inovações e selecionava a sua clientela. O aparecimento deste papel, com aspecto tão diferente operou uma pequena revolução nos gostos fotográficos do público. Era sinal de prosperidade e de gosto requintado ter o seu retrato impresso em platina. Por essa razão, os profissionais do retrato ofereciam aos seus clientes a escolha da impressão em platina como um artigo de luxo. (1)Vd. Freund, Gisèle.(2010). Fotografia e Sociedade. Lisboa: Nova Vega, p. 68. (2) Pavão, L. (1997).Conservação de Colecções de Fotografia. Lisboa: Dinalivro.

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seguinte:

as suas Memórias , Fernanda de Castro, filha de João Quadros, capitão do Porto de Portimão de 1908 a 1910, conta-nos o

“Ficámos todas imóveis e caladas, excepto a minha amiga, continuava a chorar desconsoladamente. Arrependida do acesso de mau génio, a senhora fez um esforço, disse umas graças destinadas a aligeirar a situação, e lá levou a filha e todas as pequenas convidadas para a casa de jantar. Todas não. Eu deixei-me ficar para trás, abri a porta da rua e fugi, como se todos os demónios me perseguissem. Portimão não é Londres, não é Paris, mas para uma pequena de oito anos, que nunca andara sozinha, era contudo suficientemente grande para que pudesse ter vagueado duas ou três horas, transida de frio e de medo. À noitinha, sem coragem para voltar para casa, sentei-me, exausta, num banco do jardim e deixei que as lágrimas corressem em fio, lágrimas amargas que ainda hoje não esqueci. Era, porém, uma criança de oito anos, e ao levantar os olhos casualmente vi por cima de uma porta este letreiro ou outro semelhante: F. Dias Fotógrafo Que se teria passado na minha cabeça? Limpei os olhos alisei os cabelos, subi ao 1.° andar, abri a porta de vidro e pedi ao senhor Dias-Fotógrafo que me retratasse (era assim que então se dizia). — A menina é filha do senhor capitão do porto, não é? Disse que sim com a cabeça e o senhor Dias-Fotógrafo, muito amável, retratou-me, sentada, de pé, de frente, de perfil. Depois, reconfortada, afrontando de novo a rua, perguntei como se ia para a Capitania, e lá consegui orientar-me e, finalmente, chegar a casa. Seria fastidioso contar aqui o que entretanto aconteceu — a aflição da senhora ao dar pela minha falta, o meu pai à minha procura sem conseguir encontrar-me, a chegada a casa, encharcada e sem poder falar, e depois,

passados dois ou três dias, o espanto ao receber do senhor F. Dias-Fotógrafo um pacote de fotografias minhas, acompanhado, naturalmente, pela respectiva conta”(1). Fernanda de Castro, nascida em 1900, com oito anos de idade terá estado no estúdio do Fonseca Dias provavelmente situado ainda no Largo do Colégio, já que a mudança de instalações para a Rua José Biker/ Praça Visconde de Bívar só vai acontecer por volta de 1910. “Casada com António Ferro, Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro era filha de um oficial da Marinha. Aos 12 anos ficou órfã de mãe, seguindo, juntamente com os seus três irmãos mais novos, o pai nas diversas comissões e colocações. Em Portimão, frequentou a Escola da Câmara, fazendo o exame do 1.º grau em 1908, no colégio particular das Senhoras Abreu”(2). (1) Castro, Fernanda. (1988). O Fim da Memória - Memórias (19061939). Lisboa: Editorial Verbo. p. 39. (2)«CASTRO Fernanda de», Sara Marques Pereira, in António Nóvoa. (2003) Dicionário de Educadores Portugueses, Porto: Edições Asa.

Óleo de Sarah Afonso na capa de Ao Fim da Memória - Memórias (1906-1939).

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Grupo de participantes nas oficinas gráficas de Pires Marinho (o 4.º da direita, à frente), durante a Exposição Nacional das Artes Gráficas. Cliché de J. Benoliel.

Capa do Catálogo da Exposição Nacional das Artes Gráficas de 1913.

Parte inferior de cartões fotográficos nos quais Fonseca Dias faz referência ao prémio atribuído na Exposição Nacional das Artes Gráficas de 1913.

A Exposição Nacional das Artes Gráficas de 1913

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m outubro de 1913, decorre em Lisboa a Exposição Nacional das Artes Gráficas(1). Fonseca Dias apresenta-se com um quadro com oito fotografias pelo qual recebe um prémio não especificado. A referência a este prémio irá ser utilizada nos cartões e vinhetas do Estúdio Dias, como uma forma interessante de publicidade pouco comum na época. Esta importante exposição foi inaugurada pelo Presidente da República, Manuel de Arriaga, esteve patente nas instalações da Imprensa Nacional, tendo a medalha de ouro sido atribuída a Joshua Benoliel(2). Um dos grandes impulsionadores do certame foi o tipógrafo José Pires Marinho (1857-1929). Utilizando a técnica da fotogravura, este empresário esteve na vanguarda da reprodução gráfica de finais do século XIX, tendo 20

Parte de cartão fotográfico. Col. particular de Josélia Bicker.

colaborado em diversas publicações. O seu nome surge em centenas de fotografias publicadas na imprensa da época como “p. marinho gr.”. O importante jornal republicano de Julião Quintinha, Alma Algarvia, dava conta do prémio da seguinte forma: “Com a mais viva satisfação registamos hoje o brilhante sucesso que obteve na exposição de artes gráficas ultimamente realizada em Lisboa, o nosso prezado amigo e distinto fotógrafo Victorino da Fonseca Dias, um dos mais inteligentes fotógrafos desta província cujo mérito o jury da exposição acaba de consagrar com um honroso diploma e respectiva medalha. Não nos surprende o êxito que o nosso amigo obteve porque conhecemos trabalhos seus que de há muito o recomendam e porque sabíamos que os trabalhos que

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havia enviado à exposição eram realmente dignos de apreço. Victorino da Fonseca Dias acaba de adquirir uma máquina do que há de melhor bem como alguns aparelhos indispensáveis no seu atelier, um dos melhores do Algarve, o que certamente concorrerá para o alargamento da sua já numerosa clientela. Damos-lhe sinceríssimos parabéns e gostosamente publicamos a sua fotografia homenageando assim o seu triunfo. É que para nós é-nos sempre particularmente simpático o triunfo dos que se levantam à custa do seu trabalho, da sua tenacidade e energia”(3).

(1) Ilustração Portuguesa n.º 399 de 13.10.1913, pp. 418-422. (2) Occidente n.º 1253 de 20.10.1913, p. 320. (3) Alma Algarvia n.º 138 de 02.11.1913, p. 1.

Raro retrato em pose de Fonseca Dias. Fotografia publicada no Alma Algarvia n.º 138 de 0.11.1913.

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Foto de VFD tirada em 1915, na fábrica de conservas de peixe de António Júdice Magalhães Barros, na Mexilhoeira da Carregação e publicada na Ilustração Portuguesa n.º 502 p. 443.

Nesta fotografia de VFD, publicada na Ilustração Portuguesa, pode-se reconhecer António Júdice de Magalhães Barros segurando as rédeas, acompanhado de Vitor da C. Figueiredo. No milord também estão, da direita para a esquerda, as senhoras Júdice Magalhães Barros, Maria Rocha Cardoso e Etelvina Caleça, junto ao chalet Magalhães Barros, na Praia da Rocha.

O 1.º Congresso Regional Algarvio

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Congresso foi promovido por Tomaz Cabreira, ilustre algarvio, cuja vida foi precocemente ceifada pela “pneumónica”, em 1918, e foi amplificado pela imprensa regional, nomeadamente pelo semanário republicano O Heraldo, de Faro. Ao longo do Congresso foram debatidos temas em três secções: Agricultura e Indústria Algarvia, Comércio e Meios de Transporte, e a terceira, Turismo, Climatologia, Arte Algarvia e Assistência. A participação no congresso estava aberta a todos e implicava o pagamento de um escudo, embora as senhoras não pudessem participar nas discussões.Os congressistas recebiam um cartão de identificação com a respectiva fotografia do titular, para poderem entrar nas sessões, e obter de uma redução de 75% no transporte ferroviário até Portimão. Ao todo, foram debatidas mais de vinte teses, entre as quais se podem destacar: «Indústrias do Algarve», por Luís Mascarenhas, «O Ensino Elementar Industrial», por Aníbal Lúcio de Azevedo, «Crédito Comercial e Industrial», «Zonas de Turismo», «Posto Agrário e Ensino Móvel», «Escola Primária Agrícola» e «Questão Corticeira», por Tomás Cabreira, «Provín22

cia Agrícola do Algarve», por Mário da Cunha Fortes, «Arte Algarvia», pelo pintor Falcão Trigoso, «Cantos, músicas e danças», de Jacinto Parreira, «Estradas», por Agostinho Lúcio, «Caminhos-deferro do Algarve», por Vasconcelos Correia, «Clima do Algarve», por Bentes Castelo Branco e «Hotéis», apresentada pela Comissão de Hotéis da Sociedade de Propaganda de Portugal, entre outras(1). A sessão de encerramento, inicialmente prevista para a Escola de Desenho Vitorino Damásio, em Lagos, acabou por ocorrer igualmente no Casino da Praia da Rocha, na tarde do dia 5 de Setembro. Durante e após o Congresso, houve «luzidos festejos em honra dos congressistas», que se iniciaram a 1 de Setembro e só terminaram a 19 do mesmo mês. Salienta-se a inauguração da exposição Regional Algarvia, um campeonato de ténis e iluminação na Avenida da Praia da Rocha, concerto pelas bandas musicais, «venda de doces e refrescos na grande barraca Mourisca», e concerto no casino com os «distintos artistas D. Judith Lima e Alfredo Mascarenhas». Até 11 de setembro, houve também regatas e corridas de natação, tiro aos pombos, récitas, serões

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de arte, batalhas de flores e confetti, campeonatos de ténis, bem como diversas excursões a vários pontos do Algarve e festa nocturna no rio Arade. O evento contou com a elite algarvia, mesmo a que vivia em Lisboa deslocou-se a Portimão para participar e assistir ao congresso. Desde deputados, altos funcionários da administração pública, senadores, médicos, advogados, professores, engenheiros, militares, agrónomos, etc. O congresso serviu para chamar a atenção do Governo Central para alguns assuntos que eram importantes resolver com alguma celeridade, mas que as condições políticas, a conjuntura económica, a guerra mundial, a burocracia e a ineficácia das organizações acabaram por não produzir o resultado esperado”(2). O “registo fotográfico” do evento nos dias 3, 4 e 5 de setembro esteve provavelmente a cargo de Fonseca Dias. A Ilustração Portuguesa (3), com a qual colaborava habitualmente, publica os raros clichés conhecidos do Congresso. Já em 1909, a mesma revista havia publicado nove clichés do autor sobre os encantos da Praia da Rocha (4). Num outro número de 1913, também podemos encontrar vários clichés do Fonseca Dias relativos às belezas naturais da famosa praia e a uma batalha de flores no rio Arade, cuja legenda se refere a uma organização da

Fotografia de VFD do “pavilhão mourisco” montado na Praia da Rocha no 1.º CRA de 1915, publicada na Ilustração Portuguesa. Da esquerda para a direita: Etelvina Caleça, António Júdice de Magalhães Barros, Maria Rocha Cardoso, Vitor da C. Figueiredo e Júdice Magalhães Barros. Na coleção particular da Família Feu, encontram-se outras clichés do evento, vendo-se num deles várias fotos do Dias expostas na parede de fundo do “pavilhão mourisco”.

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Este cliché de VFD com uma anotação manuscrita referindo a data do 1.º Congresso Regional Algarvio, permite-nos compreender melhor o ambiente de festa na Praia da Rocha. Col. particular Manuel Mendonça.

colónia balnear. Várias destas fotografias fazem parte de um carnet (com legendas em francês e uma nota final também em inglês) de doze postais ilustrados editado cerca de 1912 pela Papelaria “Artística do Algarve” de Silves, cuja finalidade era claramente a promoção turística da Praia da Rocha, no estrangeiro. Fonseca Dias surge igualmente como colaborador eventual da revista ABC, publicação de grande importância na década de 20. A título de exemplo, temos três clichés por ocasião das festas em honra do bispo do Algarve, em 1920 (6). Outras imagens fotográficas não publicadas na imprensa e que surgem não identificadas, dadas as suas características levam-nos a admitir como certa a convicção de se tratarem de trabalhos de Fonseca Dias. Tais são os casos dos clichés que testemunham as obras da contrução da ligação ferroviária Parchal-Lagos. 24

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Neste cliché de VFD podemos observar uma batalha de flores no rio Arade que terá ocorrido no dia 21 de Abril de 1910, por iniciativa do capitão Quadros (O Portimonense 28.04.1910). (1)Aurélio Nuno Cabrita, “Recordar o Primeiro Congresso do Algarve, 90 anos depois (1915-2005)”in Barlavento de 13 de Outubro de 2005. (2) Mendonça, Artur. Almanaque Republicano (http://arepublicano.blogspot.pt/2014/09/i-congresso-regional-algarvio-praia-da. html). (3) Ilustração Portuguesa n.º 502 de 4.10.1915, p. 442 e ss. (4) Idem n.º 195 de 15.11.1909, pp. 632 e ss. (5) Idem n.º 359 de 6.01.1913, pp. 27-28. (6) ABC , ano I, n.º 14, 14/10/1920, p. 7.

Postais ilustrados com fotografias de VFD. Centro de Documentação do Museu de Portimão, col. João Tavares. Coleção particular de Manuel Mendonça.

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e melhoramentos, assim como a compra de um novo bilhar para o seu Café, Restaurante e Pensão Peninsular (6), inaugurado em 16.05.1929, com pompa e circunstância e que era palco de inúmeras confraternizações e reuniões de ilustres portimonenses. Este importante estabelecimento comercial ficava ao lado do seu estúdio da Praça Francisco Bívar. Ainda em 1928, inaugurou uma loja de móveis em sociedade por quotas com Luís Peixoto Guimarães (7), a Fonseca Dias, Lda, situada na rua Francisco Ferrer, 112114 em Portimão (atual Rua José Buísel) e pouco depois passa a administrar a Pensão Central, junto ao jardim da Câmara. Terminada a atividade como fotógrafo sabemos que o velho edifício da Praça Visconde de Bívar dará lugar a uma nova a estação dos CTT, inaugurada a 28 de maio de 1946. Ignoramos em que altura terá deixado definitivamente os negócios da fotografia e os negócios da restauração e mobiliário e dito adeus à cidade que o acolheu. Não tendo deixado descendência, foi viver para Lisboa com a sua mulher, onde faleceu a 13 de novembro de 1959, na Freguesia dos Anjos.

(1) Alma Algarvia de 2.11.1913. (2) Comércio de Portimão de 2.09.1934. (3) Idem 31.03.1935. (4) Idem, 25.12.1938. (5) Idem, 16.05.1939. (6) Idem, 27.03.1938. (7) Idem, 19.08.1928.

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Fachada do Café Restaurante e Pensão Peninsular, após as obras de construção do moderno edifíco dos CTT, inaugurado em 1946.

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Fonseca Dias, mestre de Francisco Oliveira

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or volta de 1933, Francisco Oliveira, com cerca de 15 anos, trabalha como aprendiz do Fonseca Dias, numa passagem breve de cerca de meio ano, tendo sido este o seu primeiro contacto com o ofício da fotografia. O “Oliveira fotógrafo”, como veio a ficar conhecido, tornar-se-á uma referência na cidade de Portimão ao longo dos anos 40 a 90 do século XX, na fotografia de estúdio e na reportagem de casamentos e baptismos. São da sua autoria igualmente várias fotografias de Portimão dos anos 40 a 60 que podem ser vistas na Casa Manuel Teixeira Gomes. O seu espólio foi adquirido pela Câmara Municipal de Portimão e encontra-se em fase de conservação e classificação a cargo do Museu de Portimão. Abriu o seu primeiro estúdio na rua da Igreja, n.º 23, em 1940, e o segundo em 1949, na Rua da Guarda, n.º 18. Ainda é possível apreciar algumas fotografias na montra do seu antigo atelier fotográfico da rua 5 de Outubro, em Portimão. Recorda-se do estúdio do seu mestre na Praça Visconde de Bívar, como um espaço com uma boa distribuição de iluminação natural, num primeiro andar e do elevado estatuto socioeconómico dos clientes. Reconhece facilmente os retratos feitos pelo Fonseca Dias pela elevada qualidade de impressão e equilíbrio da luz. Francisco Oliveira, com 96 anos, recorda que o Dias era um “homem elegante, mas de semblante apagado e triste e que tinha um acentuado sotaque beirão.” 32

Fonseca Dias, Fotógrafo de Vila Nova de Portimão

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Carlos Alberto Osório nasceu em Angola em 1963. Vive em Portimão há vários anos, é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra. Cncluiu uma pós-graduação em Multimédia Educacional na Universidade de Aveiro e é mestre em Produção, Edição e Comunicação de Conteúdos Multimédia. Pertence ao quadro docente da Escola Secundária António Aleixo, onde exerce funções letivas, e desenvolve investigação na área da imagem fotográfica na região do Algarve. Apresentou à Universidade do Algarve uma tese de mestrado intitulada Francisco Oliveira: um fotógrafo de Portimão. É membro da direção da Associação GAMP (Grupo de Amigos do Museu de Portimão).


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