Francisco Oliveira Um Fotógrafo de Portimão

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Agradecimentos e Dedicatória Quero manifestar os meus agradecimentos às seguintes pessoas e entidades que, em momentos diferentes e cada um a seu modo, contribuiram para que esta obra se concretizasse: Francisco Oliveira, Luís Moleiro. Manuel Mendonça, Aurora Santos, Fernando Amaro, José Gameiro, Carlos Bicheiro, Herlander Barão (Pardal), Vasco Trindade, Vítor Tempera, Nuno Campos Inácio, Museu de Portimão, Junta de Freguesia de Portimão e Direção Regional de Cultura do Algarve. Dedico esta obra aos meus filhos Duarte e Beatriz. Carlos Osório

Direitos Reservados É proibida a duplicação, reprodução ou armazenamento desta obra ou de partes dela sob qualquer forma ou qualquer meio eletrónico, mecânico, fotográfico ou outro sem a autorização escrita do autor e do editor - excepto excertos para crítica ou divulgação na imprensa.

Ficha Técnica Autor

Editor

Carlos Osório

Arandis Editora R. Camilo Castelo Branco n.º 26 8200-276 ALBUFEIRA

Capa, Design Gráfico e paginação

Impressão e encadernação

Carlos Osório Vasco Trindade Fernando Lobo - Arandis

Gráfica Comercial Loulé Maio de 2016

Depósito Legal

Tiragem 300 exemplares


Índice | 5

Índice Palavras Prévias, por Francisco Oliveira Palavras Prévias, por José Gameiro Palavras Prévias, por Carlos Bicheiro Introdução I II III IV V

A Intimidade

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O Fotógrafo Profissional

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O Fotógrafo e a Cidade

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Eventos e Inaugurações

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Exposições e Homenagens

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Fotografei três gerações. Ainda hoje acontece passar por pessoas que vão acompanhadas pelos seus netos, dizendo “Olha, foi este senhor que me tirou o retrato quando eu tinha a tua idade”, o que me orgulha. No estúdio, em retrato, fotografei todas as camadas sociais, proprietários, advogados, médicos, industriais, comerciantes e militares. Acompanhei a vida de cidade e da região. Fotografei cerimónias e casamentos, nas igrejas dos concelhos de Portimão, Monchique, Lagoa, Silves e Lagos. Sempre a convite dos noivos ou familiares, e não foram poucos, quase um milhar em todas as camadas sociais. No campo económico e social procurei sempre cumprir com os compromissos e deveres, sendo amigo do amigo. Este é o meu retrato de corpo inteiro. Como homem e cidadão quem sou eu para me julgar?


Palavras Prévias | 9

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s cidades evoluem, transformam-se e adaptam-se diariamente à iniciativa e ao pulsar dinâmico dos seus habitantes. Através da fotografia, Francisco Oliveira fixou instantes da vida quotidiana de Portimão, devolvendo-nos as imagens do seu olhar atento a esse constante movimento que, desde a década de 50, até finais dos anos 80 do século XX, nos vem restituindo a cidade, o particularismo dos seus espaços e as formas da sua paisagem humana. A importância do seu trabalho permite-nos apropriar de um outro tempo, perceber melhor a identidade desta terra, tornar visíveis e dar significado a lugares, gentes e paisagens, muitas delas já desaparecidas, fortalecendo os laços frágeis da nossa memória colectiva, como se a luz da eternidade viesse ao encontro do nosso olhar, concedendo-nos um forte sentido de comunidade partilhada. O seu percurso, ao mesmo tempo que nos remete para um período marcada pela forte afirmação da fotografia analógica, ainda longe do seu declínio imposto pela revolução digital, transporta-nos simultaneamente para o universo dos fotógrafos profissionais e dos seus estúdios em Portimão, onde acabaria por encontrar os seus primeiros mestres e os lugares da sua aprendizagem e formação. Por todas estas razões, a coleção de fotografias de Francisco Oliveira, em boa hora integrada no Museu de Portimão, constitui um património cultural crucial para o conhecimento deste território e da sua comunidade, que o Museu tem vindo a promover a partir das múltiplas propostas que constituem a sua história e as diversas camadas da sua identidade. A presente publicação é igualmente um bom exemplo dessa oportuna e desejável trilogia entre Museu, fotógrafo e investigador. José Gameiro Director Científico do Museu de Portimão


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ortimão nos anos cinquenta e sessenta do século passado, era uma cidadezinha cuja economia assentava nas vertentes: pesca, indústria conserveira, frutos secos e comércio. Todo o aspecto exterior desse tempo revelava pobreza, embora a economia desenvolvida, fosse de grande significado e provavelmente superior à de hoje, em termos proporcionais. É esse tempo que, Francisco Oliveira teve a mestria e a visão artística de registar para a posterioridade. Sem ele, o nosso registo do passado seria mais pobre e sem fundamentação histórica. É certo que Portimão gerou outro grande artista desse tempo, (mestre Júlio Bernardo), mas será conveniente colocar, cada um destes dois grandes vultos, em prateleiras diferentes. Francisco Oliveira, revolucionou a arte da fotografia, com os recursos técnicos existentes. A sua foto panorâmica de Portimão em 1946, é uma obraprima em qualquer parte do mundo. Os Carnavais de Portimão não teriam chegado ao nosso conhecimento, sem a arte do mestre Oliveira. A Praia da Rocha foi retratada magistralmente, quer de noite, quer de dia, num período onde havia de facto rocha. A sua foto com o luar de Agosto sobre o mar, merece uma boa apreciação. Pessoalmente, sofremos alguma nostalgia falar deste homem, porque o nosso primeiro retrato ainda em criancinha, tem o emblema “Foto Oliveira”. Acompanhamos a vida e o labor deste homem, que durante décadas, corria diariamente para o seu estabelecimento. Ainda hoje, mestre Oliveira só se sente bem no seu “estúdio”, carregado de tantas e tantas memórias, retratando a cidade, quer em natureza humana, quer em natureza física. Há poucos anos, tivemos o privilégio de proporcionar a este grande senhor, uma viagem à barragem do Alqueva. Durante essa visita o seu espírito acutilante e observador, levou-o a estudar pormenorizadamente o sistema de bombagem e de hidráulica. Via-se nitidamente, o seu desejo de captar


Introdução | 15

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Introdução “Em Maurília, o viajante é convidado a visitar a cidade e ao mesmo tempo a observar certos velhos postais ilustrados que a representam como era dantes: a mesma idêntica praça com uma galinha no lugar da estação dos autocarros, o coreto da música no lugar do viaduto, duas meninas de sombrinha branca no lugar da fábrica de explosivos. Para não desiludir os habitantes o viajante tem de gabar a cidade nos postais e preferi-la à presente, com o cuidado porém de conter o seu desgosto pelas mudanças (...). CALVINO, Italo, As Cidades Invisíveis

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obra que aqui se apresenta está longe de constituir um estudo sobre um fotógrafo ou uma abordagem histórica sobre imagens fotográficas. Talvez possa ser considerado um modesto contributo para a história dos estúdios fotográficos no Algarve. A sua publicação serve sobretudo para evitar que certas memórias de uma comunidade e de um território se apaguem ou desvirtuem. Escrevemos esta obra para tentar garantir que um passado, do qual nos afastamos rapidamente, seja revisitável e possa ser melhor compreendido pelos que virão a seguir a nós. Assim, este trabalho está organizado em torno de um fotógrafo profissional de estúdio: Francisco Oliveira. Dar a conhecer fases relevantes do seu percurso de vida a par de uma abordagem organizada de algumas das fotografias que realizou fora do seu estúdio, em reportagem e por prazer pessoal, numa cidade que escolheu para viver uma vida inteira constitui a sua finalidade. O género biografia que escolhemos é aquele que se nos afigurou menos exigente do ponto de vista da metodologia histórica e o mais adequado à nossa área de interesses. Estamos, portanto, perante uma fotobiografia autorizada de um amigo que a pode conhecer criticamente e, como tal, não se apresenta completa e encerrada. O Francisco Oliveira que procurámos conhecer é um homem bastante reservado que evita falar da sua vida pessoal. Apesar de ser conhecido e reconhecido pelo seus concidadãos, usa habitualmente a sua popularidade para demonstrar a sua gentileza e educação. Há nele uma aura de respeito e reverência que estão para lá da provecta idade. A seu pedido, e numa atitude que tanto consideramos de modéstia como de quem não convive confortavelmente com o protagonismo e a fama, apenas apresentamos as faces visíveis e objetivas de uma longa vida que só a ele diz respeito.


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Introdução | 19


I. A Intimidade

[infância, escola, juventude, família e amigos]


I. A Intimidade | 23

Infância

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e acordo com o registo de nascimento, Francisco d’Oliveira (sic) nasceu às 11h00 do dia 25 do mês julho de 1918, em Estômbar. Seu pai, António Simplício, tinha 39 anos era natural de Palmela, concelho de Setúbal e trabalhava como limpador de máquinas, nos Caminhos de Ferro. A mãe chamava-se Maria das Dores, doméstica, natural de Estômbar, tinha vinte anos. O casal vivia numa casa da antiga rua por detrás da igreja matriz de Estômbar, atual rua Coronel Manuel Gregório Rocha. Terá sido ali que Francisco Oliveira nasceu e morou até aos quatro anos. Foram testemunhas e declararam querer ser padrinhos, Francisco Casimiro Rocha, agulheiro da CP, e Rosário Casimiro Rocha, ambos moradores no sítio do Serro dos Fitos.

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Oliveira conta que o nome desejado pelos progenitores e averbado em registo paroquial foi Francisco António Marques Simplício. Um engano, talvez explicado pela incipiência no funcionamento dos novos registos civis que a República levou a cabo, pode estar na origem de tão distante apelido.

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Vista de Estômbar do lado poente, a partir da principal estrada de ligação a Portimão (atual E. N. 125).

Rua Coronel Manuel Gregório Rocha, Estômbar, onde nasceu e brincou até aos 4 anos de idade.

Desconhecemos a existência de fotografias da infância e juventude de Francisco Oliveira. As dificuldades económicas das famílias das classes operárias associada ao analfabetismo podem justificar facilmente a fraca repercussão que os registos fotográficos tinham nestes estratos socioeconómicos.


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Ponte sobre o Arade 1910. Postal ilustrado com edição de Joaquim Prazeres.

Página da Ilustração Portuguesa II série n.º859 de 05.08.1922.

8. Engenheiros franceses e outros trabalhadores junto à primeira locomotiva que atravessou a nova ponte ferroviária sobre o rio Arade, cuja inauguração ocorreu em 30 de julho de 1922. Oliveira acredita que o seu pai se encontre entre os trabalhadores. Foto: Fonseca Dias.


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m dos prazeres de fim de semana do mestre Oliveira foi a pesca desportiva. Com amigos deslocava-se a Sagres, S. Vicente, a praias no sopÊ de perigosas arribas mas de vistas deslumbrantes. A cana e os os apetrechos de pesca substituiam a sua câmara fotogråfica Voightlander. O pescado era farto e acabava na grelha de uma pequena taberna de Vila do Bispo que dava as brasas e vendia as bebidas e o acompanhamento.


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Francisco Oliveira num almoço acompanhado por Manuel Mendonça, Carlos Osório, Carlos Bicheiro e Jorge Lagos.

Em frente ao seu estúdio com o amigo Amílcar da Minerva da Comércio, em 2013.

44. Encontro diário ao final da tarde com Manuel Mendonça no café Nacional, em Portimão.


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chegando a deslocar-se da capital um técnico da Casa Foto Águia Doiro para o efeito. A Foto-Cine, juntava o negócio da fotografia ao do filme amador, como se pode ver no seu próprio nome, constituindo uma novidade em Portimão no negócio da imagem.

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or seu lado, a Fotografia Santos, afirmando já contar 25 anos de existência, responde com o mesmo produto da moda a que chama “retratos de cinema” e faz 10% de desconto. Também nesse ano se publicita os “retratos à luz elétrica” feitos à noite com marcação. Um ano depois, a “Pérola de Portimão” anuncia revelação grátis de películas ali compradas. Em 1938, vende as “fotografias à cinéfilo” em 18 prestações semanais de 1 escudo. Em 1939, a Foto Santos, anunciava aos amadores as novas películas Verax, Selo e Selocrome que garantiam boas fotografias com qualquer tempo e a qualquer hora. Oferecia as revelações e aumentava os pontos de venda. Prova da vitalidade deste negócio, assistimos na década de 30, à abertura ao público de uma nova loja de artigos fotográficos na rua Júdice Fialho, n.º 54 , a “Estrela do Oceano”, por iniciativa de Rafael Rodrigues d’Almeida. A venda deste tipo de artigos de consumo e a edição de postais ilustrados estendia-se igualmente desde a segunda década à Casa Havaneza de Joaquim Prazeres e Salvador e à Casa Inglesa de Pedro Dias, desde 1922. Sabemos que fotógrafos excursionistas que passaram pelo Algarve se abasteciam e vendiam os seus clichés aos editores referidos, como é o caso de Zambrano Gomes (1883-1953).

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Desta modo, a importância destes estúdios e neste contexto torna-se fundamental na formação do jovem Oliveira que ali fez grande parte da sua aprendizagem até se estabelecer por conta própria em 1940. Em suma, Francisco Oliveira trabalhou cerca de sete anos com os Santos e com eles aprendeu as técnicas de iluminação, revelação e impressão de retratos.

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No primeiro andar deste edifício da Rua 5 de Outubro, n.º 29, funcionou até aos anos 60 a Foto-Cinema de Francisco Santos. (Foto de 2013)

O importante fotógrafo Zambrano Gomes, aqui de chapeú brindando com amigos de Moura, terá passado pelo estúdio dos Santos onde realizou trabalhos para a Ourivesaria Confiança de Portimão. Oliveira teve o privilégio de o conhecer e provavelmente terá revelado algumas das suas chapas de vidro.

64. Publicidade no Comécio de Portimão n.º 546 de 31.01.1937.


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Oliveira Fotógrafo

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pós a aprendizagem com os seus mestres e num contexto de forte concorrência, Francisco Oliveira arrisca estabelecer-se por conta própria com apenas 22 anos, na rua da Igreja, n.º 23, 1.º andar, em 1940. Era um estúdio bem situado por detrás da igreja matriz de Portimão e tinha boas condições para o sucesso do negócio. Na fase de arranque, Oliveira conseguia cumprir com os seus clientes sem a colaboração de nenhum empregado. Fazia sobretudo retratos, chegando inicialmente os noivos a ir ao estúdio. Nos anos seguintes fará centenas de reportagens de casamentos e batizados na Igreja Matriz ali defronte.


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Dois exemplares de postais ilustrados dos anos 40 com fotografias de Francisco Oliveira, sendo o da esquerda editado por Jeremias P. Bravo e o da direita pelo própro fotógrafo.

Nos inícios de 70, Oliveira realiza um conjunto de vistas aéreas sobre Portimão contratado por um grupo empresarial da Arábia Saudita com interesses na área da construção de infraestruturas hoteleiras. A zona de impacto corresponde aproximadamente ao espaço contíguo ao continente e antigo campo do Boa Esperança. Numa das fotos podemos ver a simulação da volumetria do edifício no terreno.

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Outros fotógrafos

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as década de 60-70, Portimão viu abrir novos estúdios fotográficos. Embora o seu interesse pela fotografia seja sobretudo ou quase exclusivamente comercial, consideramos que do ponto de vista geracional e como referência para futuros estudos nesta área seria obrigatória a sua presença nesta fotobiografia. O primeiro que destacamos é Romeu Tempera, nascido em Budens - Vila do Bispo em 09.11.1935. Começou a trabalhar em fotografia com 16 ou 17 anos no fotógrafo Borlinha primeiro em Lagos e mais tarde em Portimão. Abriu o primeiro estúdio na rua Porta da Serra n.º 23 - 1.º, Portimão, em janeiro de 1964. Vendia acessórios e equipamentos. Fazia reportagens de casamentos e batismos, além de fotografar crianças em estúdio, grupos de família, nas vária modalidades de retrato. Trabalhava igualmente em reportagem social, revelação/impressão de fotos e ampliações para clientes particulares, empresas de publicidade, companhias de seguro, imobiliárias, etc. Já nos anos 80, começou a trabalhar com minilabs logo após o seu surgimento, acompanhando sempre as evoluções tecnológicas da actividade tentando estar sempre na linha da frente. Teve o seu pico, como área de negócio, no final dos anos 90. Obteve uma razoável expansão do negócio com filiais em Lagos e na Praia da Rocha, chegando a ter doze colaboradores.


III O Fot贸grafo e a Cidade


Edifícios da CGD e CTT, em Portimão III. O Fotógrafo e a Cidade | 91

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rancisco Oliveira ao longo da sua vida profissional de fotógrafo realizou sobretudo retratos de estúdio. São cerca de 20.000 negativos que podemos encontrar na coleção existente no Museu de Portimão. Embora em menor número as fotorreportagens de casamentos e batizados representam uma parte importante do seu ofício e que aguardam igualmente o trabalho de conservação e classificação. Todavia, Oliveira deixou-nos um interessante legado relativo a acontecimentos oficiais, profanos, naturais, acidentais ou sagrados.

Palacete Sárrea Garfias, Jardim 1.º de Dezembro

A presença de Francisco Oliveira como fotógrafo em momentos oficiais de importância simbólica para o Estado Novo e para o Algarve pode explicar-se por um interesse pessoal em registar momentos históricos ou por compromissos profissionais. A sua presença próxima é tolerada pela Segurança do Estado, o que lhe proporciona uma certa liberdade de movimentos na tomada de pontos de vista no espaço protocolar. Isto deve-se não apenas à sua idoneidade, e ao seu fácil reconhecimento, mas também se deve no nosso entender, à sua atitude descomprometida ou mesmo situacionista. Quando fotografa fora do estúdio, nas suas deambulações pela cidade, Oliveira não se sente atraído pelo elemento humano; liberta-se das poses rígidas canônicas do retrato de estúdio e dos casamentos e batizados. Embora esteja distante do seu espaço rotineiro de trabalho e das suas obrigações profissionais, julgamos que não quer “desfocar” a sua reputação ou “escurecer” seu brio profissional. Por isso, parece não procurar o confronto dos olhares, a aspereza das mãos e dos rostos sulcados pela agrura do trabalho das classes desfavorecidas, ou destacar os protagonistas da pobreza, seguindo uma corrente mais humanista ou social. O fotógrafo conhecido de todos, respeitado pela sua ética, admirado pela sua elegância e educação, passa então a ser um testemunho invisível do acontecimento oficial, do enquadramento turístico e da natureza deslumbrante do seu Algarve.



IV. Eventos e Inaugurações | 129

O Nevão no Algarve

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insólito acontecimento levou Francisco Oliveira a captar belas imagens da cidade coberta pelo manto alvo e gelado. Na Praça Manuel Teixeira Gomes, no Jardim do 1.º de Dezembro e na estrada para Monchique, o mestre registou com beleza o extraordinário acontecimento de 4.2.1954. No Comércio de Portimão (n.º 1423) podia ler-se o seguinte: “Este fenómeno que pessoas com mais de 80 anos de idade não tinham visto ainda no Algarve, constituiu o assunto do dia e da noite, pois que as ruas apresentavam neve com 10 e 15 cm de altura”. Francisco Oliveira hoje recorda a exigência técnica e a destreza física necessárias para fazer as fotografias de tão maravilhoso acontecimento, chegando a deslocar-se à serra, o que lhe valeu um “inesquecível bate-cu”, nas suas palavras.


IV. Eventos e Inaugurações | 131

A Barragem da Bravura

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ano de 1959 e os seguintes ficam para a história como anos anos marcados por muitas inaugurações, sobretudo devidas à concretização do Plano de Eletrificação Nacional (26 barragens). Américo de Deus Rodrigues Thomaz foi percorrendo o país de norte a sul com uma agenda protocolar bastante preenchida. A sua presença em dezenas de inaugurações desde as grandes obras do Estado Novo até às exposições de flores neste e nos seguintes anos e os discursos de circunstância sempre lhe valeram a alcunha de “cortafitas”. À Barragem de Montargil sucedeu-se a Barragem da Bravura em Odiáxere e as obras do porto de Portimão. (Diário de Lisboa n.º 13081). Francisco Oliveira atraído pela necessidade de registar particularmente acontecimentos que intuia serem de relevância histórica, acompanhou a comitiva presidencial que se deslocou a Odiáxere no dia 10.05.1959 para inaugurar a Barragem da Bravura.


IV. Eventos e Inaugurações | 135

O Porto de Portimão

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molhe de Sta. Catarina, cujas obras se iniciaram em 1946 e terminaram em 1958, teve um custo 63.000 contos e tem 804,50 m. Concretizou-se a primeira fase de um conjunto profundo de alterações na embocadura da foz do Arade. Com esta obra do regime, garantia-se a segurança das embarcações, aumentava-se o areal da praia da Rocha e criavam-se condições para o desenvolvimento da cidade do ponto de vista comercial piscatório e turístico.

Oliveira fotografou uma das descargas da pedra para a construção do molhe poente. A pedra era transportada da Pedreira do Burgau e do Morgado de Arge em grandes batelões e a grua era alimentada por energia a vapor. A inauguração dos molhes em Maio de 1959, igualmente fotografada por Oliveira, contou com as presenças do Presidente da República Américo Tomaz, do Ministro das Obras Públicas, Arantes e Oliveira, do Presidente Vilarinho, da Câmara Municipal de Portimão e do Engenheiro da JAP do Algarve, Cabeça Dutra.


IV. Eventos e Inaugurações | 137

Francisco Oliveira | Um Fotógrafo de Portimão

O cargueiro Annalisa

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m forte temporal que atingiu a costa algarvia parece estar na origem do acidente com o cargueiro italiano Annalisa, fundeado próximo da barra de Portimão. Na manhã do dia 04.12.1958 muitos acorreram à Praia da Rocha para testemunhar tão estranho cenário. O Annalisa apresentava um grande rombo junto à casa das máquinas e a sua remoção adivinhava-se muito difícil, visto estar muito enterrado na areia. O navio de carga deslocava 600 toneladas e tinha uma tripulação de dez homens, comandados pelo capitão Graziano; dirigia-se de Leixões para Portimão, com carga diversa; pertence à empresa Navalsicula de Palermo, representada em Portugal pela Sociedade Marítima Argonauta, de Lisboa. A tripulação manteve-se a bordo, aguardando a chegada do rebocador «Salvator», de Gibraltar. O Annalisa trazia um carregamento de limas, limatões e grosas do conhecido empreendedor Lúcio Tomé Feteira (igualmente ligado à construção do Hotel Júpiter, na Praia da Rocha), herdeiro de uma indústria fundada em 1856, por seu pai Joaquim Feteira, em Vieira de Leiria. Estas ferramentas foram vendidas na Alfândega de Portimão, em 1959. Um dos compradores foi o sr. Sebastião de Freitas Leal, ourives de Portimão. Diz-se que ainda é possível encontrar à venda alguns exemplares nas feiras de velharias da região.


IV. Eventos e Inaugurações | 139

Apesar dos esforços o carregueiro manteve-se preso na areia por mais três meses. Foi resgatado por dois rebocadores sob orientação do Eng.º Francisco Cruz, vindo de Moçâmedes. “Chora, chora que o Annalisa vai embora” foi um rifão ouvido na época, gracejando sobre a saudade que alguns dos seus tripulantes terão deixado a algumas jovens da cidade, tendo um deles chegado a casar com uma portimonense. Francisco Oliveira escolheu este ponto de vista sobre um raro acontecimento que durante cerca de três meses se apresentou como atração de curiosos.

O Carnaval “civilizado” Júlio Bernardo

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ntre 1951 e 1958, Portimão organizou o que a investigadora Luísa Martins designa por Carnaval “Civilizado”. No primeiro ano a experiência foi incipiente e a chuva não ajudou à festa. No segundo ano a Comissão Executiva contava com homens de reconhecido valor: Augusto Gonçalves, João Tavares, José Sanches, José Guinote, Joaquim Santos (JPS) e Luís Peixinho. O programa das festas incluia versos de João Braz, poeta portimonense, e era distribuído pela Comissão Municipal de Turismo, que dava a oportunidade aos visitantes de reservarem os seus alojamentos na bela cidade de Portimão. Júlio Bernardo dos Reis concebeu o programa e o cartaz de propaganda das Festas e desenhou e decorou carros das primeiras festas da Amendoeira e Carnaval (1951). Outros colaboradores (decoradores e carpinteiros) dignos de destaque foram Livraghi Vitório, José Pedro Martins e Leite Rosa, vindo da capital, que alimentou uma longa polémica com a Comissão Organizadora.


V. Exposições e Homenagens | 149

“Memórias do Passado” (Portimão, 1945-1970)

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esta exposição, está documentada muita da vida de Portimão, entre os anos de 1945 e 1970. São pessoas, paisagens, o pulsar de uma terra sujeita a muitas transformações e de que resta a memória, que homens como Francisco Oliveira, o “Oliveira Fotógrafo”, souberam preservar. É Portimão onde os prédios mais alto são as igrejas, a descarga do peixe na muralha, a Praia da Rocha com as falésias iluminadas, a Fortaleza com apenas quatro carros estacionados, a sociedade a banhos na praia, a capela da Quinta do Amparo no meio do campo, os carros alegóricos do Carnaval, o insólito de um nevão no Algarve, os estaleiros, as traineiras e as enviadas, a muralha, o Cine-Teatro, os chalets e a carrinha para a Praia, o trabalho nas fábricas de conserva, a Praia do Vau, o “Annalisa” naufragado na Rocha, a inauguração da Central Eléctrica, a procissão de Santa Catarina...Esta exposição também é possível graças ao advogado Carlos Bicheiro, que gentilmente cedeu as fotos pertencentes à sua colecção particular.” (http://www.emarp.pt) EMARP - Empresa Municipal de Água e Resíduos de Portimão Esteve patente de 16 de outubro a 17 de novembro de 2006.


V. Exposições e Homenagens | 153

“Uma Cidade, 2 Fotógrafos”

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Museu de Portimão inaugura no dia 17 de Dezembro, às 17h00, a exposição “Uma Cidade, 2 Fotógrafos”, elaborada a partir do material fotográfico de Júlio Bernardo e Francisco Oliveira. Através da fotografia, Júlio Bernardo e Francisco Oliveira, revelam-nos os seus diversos modos de olhar Portimão, durante a década de 50 até aos finais dos anos 70 do século XX.Instantes da vida quotidiana da cidade, pormenores dos espaços e formas da paisagem humana, testemunhos do constante movimento de uma época, que agora são devolvidos à cidade. A importância dos trabalhos destes fotógrafos, é revelada na presente exposição, a qual nos permite apropriar de um outro tempo, perceber melhor a identidade de Portimão e tornar visíveis referências desaparecidas da nossa memória colectiva. Esta exposição na qual se reúne uma parte do vasto espólio fotográfico adquirido pelo Município de Portimão, e conservado no Museu de Portimão, mostra-nos igualmente o estúdio de Francisco Oliveira e excertos do filme “Há peixe no Cais “ de Júlio Bernardo, bem como os aspectos que caracterizam e diferenciam estes dois fotógrafos que escolheram Portimão para viver e trabalhar.Patente na Sala de Exposições Temporárias do Museu de Portimão e com entrada livre, “Uma Cidade, 2 Fotógrafos” pode ser visitada até 29 de Abril de 2012, às terças-feiras das 14h30 às 18h00 e de quarta-feira a domingo das l0h00 às 18h00, numa organização da Câmara Municipal, através do Museu de Portimão.” (Câmara Municipal de Portimão, Nota à Imprensa, 13.12.2011)


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rancisco Oliveira é um homem discreto, reservado e encantador. Ao longo da sua vida profissional, os seus sentidos beberam milhares de imagens, habituaram-se às efusões dos químicos, ouviram o rigor dos tempos cronometrados, filtraram a penumbra e as luzes fortes, vibraram com a verdade do preto e branco e a intimidade do estúdio. Francisco Oliveira testemunhou e eternizou os momentos mais felizes das vidas dos outros, comoveu-se com o crescimento da sua cidade nos seus altos e baixos, deambulou pelos cais de pedra, prescrutou os mistérios das rochas, abraçou o casario ao longe e soube como poucos guardar na sua alma de câmara clara os positivos de uma vida imensa. Aos 98 anos, espelha no olhar sábio, uma nostalgia sem molduras dos anos de ouro de um Portimão que se metamorfoseou em estranha borboleta. Deve sentir-se como se fosse o último dos seus amigos, e parece ser a oliveira longeva que vai resistindo às intempéries dos novos tempos. Perto do seu centenário, continua diariamente ao entardecer a desejar abrir o seu estúdio na rua da guarda; todas as tardes, estoicamente aguarda pelo crepúsculo dos dias cada vez mais longos, ensimesmado pelas memórias feitas de prata.


Nota informativa acerca do autor Carlos Alberto Osório nasceu em Angola em 1963. Vive em Portimão há vários anos, é licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra. Concluiu uma pós-graduação em Multimédia Educacional na Universidade de Aveiro e é mestre em Produção, Edição e Comunicação de Conteúdos Multimédia. Pertence ao quadro docente da Escola Secundária António Aleixo, onde exerce funções letivas, e desenvolve investigação na área da imagem fotográfica na região do Algarve. Apresentou à Universidade do Algarve uma tese de mestrado intitulada Francisco Oliveira: um fotógrafo de Portimão. É membro da direção da Associação GAMP (Grupo de Amigos do Museu de Portimão).

Créditos fotográficos e propriedade de documentos fotográficos As fotografias deste livro são na sua quase totalidade da autoria ou propriedade de Francisco Oliveira que gentilmente nos cedeu cópias digitais dos negativos. As imagens e documentos identificados numericamente foram cedidas pelas seguintes pessoas: Manuel Mendonça: 7, 8, 15, 17, 18, 22, 49, 53, 61, 70; Aurora Santos: 25 e pp. 73-75; João Lagos: 25, 39, 46; Jorge Lagos: 34, 42; Maria do Vale Cartaxo: 52; Luís Moleiro: 55, 57; Josélia Bicker: 58; Leonor Santos: 60, 61, 62; Francisco Frank: 72; Vítor Tempera: pp. 83, 122 e contracapa; Ana Grão: p. 83; Miguel Veterano: 86. Nuno Inácio: pp. 154-155. Todas as restantes fotografias e documentos são da nossa autoria e coleção pessoal ou correspondem a objetos pertencentes ao acervo do Museu de Portimão Coleção Oliveira.



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