Patrocínio
2
Realização
Concepção, Coordenação Técnica e Pesquisa
CARINA BENTLIN Assistente de Pesquisa
VIVIAN MUKOTAKA Projeto Gráfico e Ilustrações
AMANDA PASCHOAL Tratamento de imagens
BRUNA GRASSI Revisão
MÔNICA RODRIGUES (Sophia Editorial) OFICINA SÓ PORTUGUÊS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) __________________________________________________ Bentlin, Carina Outros Carnavais / Carina Bentlin. -- Cosmópolis, SP : Carina da Silva Bentlin, 2018. ISBN 978-85-916364-1-9 1. Carnaval - Brasil 2. Carnaval - Cosmópolis (SP) - História 3. Carnaval - História 4. Cultura popular - Brasil I. Título.
18-12064 CDD-394.250981662 __________________________________________________ Índices para catálogo sistemático:
1. Carnaval : Cosmópolis : São Paulo : Estado : História 394.250981662 4
Blocos Apresentação 10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Origem do Carnaval Brasileiro por Olga R. M. von Simson
Cosmopolitano Futebol Clube . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Banda do Boi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Zé Pereira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Outros Carnavais 14 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Carnaval de Cosmópolis 20 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Jornal 24 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Brincar o Carnaval 26 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Carnaval na Usina Esther 28 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Carnaval dos Brancos e dos Negros 30 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Guilherme Hasse, o photografo
Espalha Braza/Choro da Saudade . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Flor de Lys . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 Nem que Chova/Estrela D’Alva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 Flor da Mocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 Os Ciganos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 Elite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Circo da Alegria e Bloco dos Estados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 Outros Foliões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
Referências Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142 Autora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
6
8
Capítulo
págs 10 à 13
Apresentação por Olga Rodrigues de Moraes von Simon
O
costume de festejar o Carnaval é muito antigo e está ligado às tradições dos povos nórdicos, que, devido à rudeza do clima no norte da Europa, eram obrigados a ficar recolhidos em suas cavernas ou cabanas durante longo período, por causa das grandes nevascas que fustigavam a região por mais de cinco meses. Durante esse período de reclusão forçada não podiam sair para caçar, por isso armaze-
10
navam grandes quantidades de carne que iam consumindo com grande parcimônia para que ela não acabasse antes do fim do inverno. Q uando chegava o mês de fevereiro, que marcava o fim dessa estação, eles passavam a observar os ursos, que também hibernavam. Quando esse animal acordava e saía de sua toca invernal, era sinal de que o clima ia melhorar e as temperaturas começariam a subir. Então, eles organizavam uma grande festa em honra à Afrodite (Deusa da Fertilidade na Mitologia Grega), pois sabiam que a vida estaria voltando à terra com o gradativo derre-
ter da neve, permitindo às plantas rebrotarem. Também observavam os animais que se acasalavam, garantindo, assim, suas futuras provisões de caça. Nessa festa, os povos nórdicos consumiam livremente toda a carne que havia sobrado do inverno, pois, com o aumento da temperatura, ela se estragaria. Depois, passavam um período longo sem caçar, para permitir a reprodução dos animais. Nessa festa reinava grande alegria e o intercurso sexual era mais livre, pois homenageavam a Deusa da Fertilidade.
O
termo “carnaval” provém dessa festa, e significa o fim da carne. É a memória dessas festas e do clima que nelas reinava que ainda persiste no nosso subconsciente, fazendo com que brinquemos com mais liberdade durante os festejos carnavalescos.
O
lga Rodrigues de Moraes Von Simson graduou-se em ciências sociais pela Universidade de São Paulo (USP), em 1965, onde também fez mestrado e doutorado em 1984 e 1990 — o último fundamentou a publicação ‘Carnaval em Branco e Negro - Carnaval Popular Paulistano: 19141988’. O pós-doutorado, em 1993, foi pela Universidade de Tübingen, Geographisches Institut (1993) na Alemanha. Foi diretora do Centro de Memória da Unicamp, onde desenvolve atualmente diversos projetos, além de ser Professora Assistente Doutora na faculdade de Educação, também na Unicamp.
1922
N C
om a expansão da dominação romana sobre essas regiões do norte da Europa e o processo de proselitismo do cristianismo, a Igreja Católica tentou acabar com essas celebrações, mas, percebendo que não era possível eliminá-las do calendário festivo, resolveu, então, ressignificá-las, difundindo a noção de que a festa carnavalesca marcava o início de um período de grande recolhimento religioso e de sacrifícios, com abstinência de carne e jejuns, que precediam a Paixão de Cristo, período denominado Quaresma, que se iniciava na Quarta-feira de Cinzas.F oi assim que o Carnaval, por influência nórdica, passou a ser festejado na Alemanha e na França e depois foi levado para Espanha e Portugal.
12
ós, brasileiros, recebemos essas tradições com o processo de colonização portuguesa. De início, eram as festas do Entrudo (palavra que significa a entrada da Quaresma), quando havia o hábito de aprontar brincadeiras para os parentes e amigos e também de jogar água e pós coloridos nas pessoas, seja das janelas dos sobrados, seja por meio de laranjinhas de cera ou de seringas que borrifavam água perfumada. Havia toda uma etiqueta social que era seguida nessa tradição. O senhor podia acertar as laranjas de cera nos seus subordinados ou nas mulheres que encontrasse na rua. Estes não poderiam reagir e, por isso, as mulheres usavam os vestidos mais velhos e desbotados durante os dias de Carnaval. Quando um rapaz queria demonstrar o seu interesse amoroso por uma moça, guardava as laranjinhas mais perfumadas para acertar o colo de sua amada. Nas ruas, durante os desfiles carnavalescos, aconteciam enormes batalhas de água perfumada.
C
om o passar do tempo, e graças a uma campanha acirrada da imprensa, que dizia que esse tipo de brincadeira não era civilizado, surgiram os confetes, as serpentinas e as bisnagas de lança-perfume, que tornaram as festas mais sofisticadas e alegres. A s grandes sociedades, que eram clubes de jogo durante todo o ano, montavam grandes desfiles com vistosos carros alegóricos como uma forma de despistar suas verdadeiras atividades principais. No desfile de carros alegóricos, as mulheres e moças de família não podiam participar, apenas assisti-los das janelas dos sobrados. As mulheres que saíam lindamente vestidas no alto dos carros eram prostitutas estrangeiras (francesas, italianas e polonesas), convidadas a participar da parada carnavalesca. As responsáveis pelos prostíbulos ficavam felizes em enviar essas moças, muito bem vestidas e maquiadas, como uma forma de fazer a propaganda das sofisticadas casas de lenocínio.
C
om o passar dos anos, as moças não se conformavam mais em não participarem dos festejos carnavalescos. P rimeiro no Rio de Janeiro e depois em São Paulo, a partir de meados de 1910, passaram a ser organizados os corsos nas principais avenidas das cidades. O primeiro corso no Rio de Janeiro foi organizado por José de Alencar, que escrevia crônicas em um importante jornal e, atendendo aos pedidos das moçoilas que escreveram para ele, resolveu convocar os donos de carros conversíveis para um desfile nas tardes do período carnavalesco, no qual o pai ou o chofer da família ia à frente, guiando o automóvel, tendo ao seu lado um irmão mais velho. Na parte traseira, sentadas sobre a capota rebaixada e devidamente cobertas por ricas colchas rendadas ou de seda, iam as moçoilas da família, muito bem fantasiadas e maquiadas, cantando músicas de Carnaval e jogando confetes e serpentinas nos rapazes, que desfilavam em pé no estribo dos
carros que vinham em sentido contrário. Essa era a única ocasião em que as moças de família podiam usar maquiagem e demonstrar seu interesse por um jovem que provavelmente elas tornariam a encontrar nos bailes de Carnaval que eram realizados nos clubes ou nos teatros, no período noturno. E ssa forma de festejar o Carnaval, que era típica da camada mais elevada da sociedade da época, passou a ser copiada. A princípio pelos imigrantes estrangeiros, mais bem-sucedidos economicamente e que residiam no Brás e na Mooca, e depois pelos que viviam nos bairros da Lapa e da Água Branca, disseminando, assim, a realização dos desfiles de carros abertos pela cidade. Como somente os imigrantes mais ricos possuíam carros, era costume alugarem carros ou caminhões para conduzirem os foliões nessas animadas ocasiões.
As imagens recolhidas na pesquisa e agora expostas no livro Outros Carnavais mostram esse costume se expandindo para cidades interioranas, o que revela também as diversificadas maneiras de brincar o Carnaval.
Capítulo
págs 14 à 19
Carina Bentilin
R
efletir sobre as diferentes possibilidades de uso dos arquivos no contexto das cidades instiga a pensar em maneiras de torná-los acessíveis. Esse trabalho exigiu intenso esforço na organização da coleção fotográfica e de jornais com higienização, identificação, documentação, catalogação e digitalização, além da coleta e organização dos depoimentos. Cada foto exigiu um olhar atencioso e, portanto, com tempo próprio para sua realização. Interessante como uma ação que envolve me-
14
mória e acervo possui seu tempo predeterminado por fatores que não controlamos. Essa ação do tempo é muito bem-vinda e nos traz a possibilidade de uma vez mais pensar no tempo e suas intermitências, esse mesmo tempo que conduz a vida, revela histórias e memórias, mas que também desfaz arquivos e seleciona para a atualidade aquilo que resistiu. O tempo e sua ação sobre os arquivos não impede a possibilidade de um olhar mais lúdico para a fotografia. A ação que age nas fotos, devido aos seus compostos químicos, demonstra a capacidade do arquivo (no caso, a fotografia) de contínuo
acúmulo de memória e histórias: contam em que condições foram guardadas, seu processo de revelação e sua qualidade, se foi muito manuseada ou não, se teve anotações em seu verso ou se foram alteradas, apagadas, reescritas. Essa imagem em constante transformação, com efeitos causados na fotografia pela ação do tempo, configura o nosso olhar para outro tipo de percepção, como uma formação geológica que, com o tempo, vai ganhando novos estratos, sedimentos, e, em constante formação, nos mostra de maneira parcial a sua história.
O
projeto Outros Carnavais surgiu do anseio de ampliar o acesso ao interessante acervo do Centro de Memória de Cosmópolis e suas coleções fotográficas organizadas a partir de 2011. Diante do processo de organização do acervo, revelou-se uma bonita coleção fotográfica com registros dos Carnavais, fotografias que chamaram a atenção pela beleza, qualidade e variedade de blocos retratados. riado em 2011, o Centro de Memória catalogou mais de 10 mil fotos, 7 mil páginas de jornais, além de arquivos audiovisuais, gerando meios de tornar público o acervo através de exposições, publicações, diversas ações culturais e plataforma online para consulta e pesquisa, ações que tive o prazer de coordenar por quase 6 anos.
C
O
trabalho de pesquisa e documentação, objetivo do projeto Outros Carnavais, realizou, em sua primeira etapa, um minucioso trabalho de pesquisa dos registros fotográficos, jornais e memórias relacionados ao Carnaval no período de 1910 a 1960. As fotografias foram centrais na pesquisa, e, através delas, acessamos outras referências de informações: pessoas, fotógrafos, locais e tipos de manifestações carnavalescas. Os jornais ajudaram a iluminar o tema, através das publicações O Apito, ACP e Nosso Jornal. E, na sequência, colhemos relatos orais de moradores da cidade que compartilharam suas memórias ou histórias sobre os antigos carnavais.
Na lista abaixo, o nome do bloco e ano em que ocorrem os registros fotográficos:
Na pesquisa foram identificados 21 blocos carnavalescos em Cosmópolis, considerando registros fotográficos e citações nas matérias dos jornais pesquisados. 1
Circo do Fuzarca
2
*
Flor de Sumaré
2
*
Bloco dos Ciganos
Bloco da Cachoeira
2
*
*
Circo da Alegria
Bloco de Cosmópolis
2
*
Bloco Flor de Lyz (1935, 1936, 1937)
*
Cosmopolitano Futebol Clube
Bloco do Baguá
2
*
*
Cordão Nem que Chova (Estrela D’Alva a partir de 1940) – (1936, 1937, 1938, 1939)
*
Bloco da Elite
Bloco Flor da Avenida
2
*
Blo
*
Bloco Espalha Braza (1936,1937)
*
Espalha Braza
Bloco Namorados do Luar
2
*
Bloco N
*
Bloco da Elite (1937,1938)
*
Estrela D’Alva
*
Bloco dos Mascates (1938)
*
Flor da Mocidade
*
Bloco Infantil (1939)
*
Flor de Lyz
*
Cordão Flor da Mocidade (1939, 1941, 1942)
*
Bloco Infantil
*
Bloco Estrela D’Alva (1942)
* Mascates
*
Bloco Choro da Saudade (1942)
*
Cordão Nem que chova
*
Bloco Circo da Alegria (1948 e 1949)
*
Bloco do Zé Pereira
* Bloco do Cosmopolitano Futebol Clube (1922 e 1923)
*
Banda do Boi
*
Banda do Boi (1927, 1930, 1935, 1936, 1937, 1938, 1942)
*
Choro da Saudade
*
Bloco do Zé Pereira (1930, 1936, 1937, 1939, 1942)
*
*
Bloco do Cigano (1935)
*
1
1
1
2
1
1 1
Blocos com atividades no Cosmopolitano Futebol Clube. 2
16
Blocos com atividades na Usina Ester.
B
Bl
18
Capítulo
págs 20 à 23
F
oram catalogadas 85 páginas com citações sobre o carnaval da cidade, sendo que a maior parte dos registros encontra-se no jornal o Apito, semanário fundado em 1924 por Thelmo de Almeida. Em depoimento para o Projeto Memória Viva (2014) 3, Antônio Rodolfo Rizzo4 conta memórias sobre a publicação, que se intitula como “jornalismo brejeiro”, uma referência aos brejos e demais paisagens da vida rural no interior. “Em 1924 o Thelmo soltou o primeiro número
3 4
20
d’O Apito, que tinha a coluna de Artur Nogueira, de Engenheiro Coelho e de Tujuguaba. Era uma repercussão, porque na época era difícil ter um jornal na cidade. Houve influência da Estrada de Ferro Sorocabana também e tinha muita fofoca: “Fulano saiu com ciclano” e no número seguinte vinha alguém pedindo desculpas. Outra coisa impressionante, o Thelmo gostava muito do Cosmopolitano Futebol Clube, então não tem um número do jornal em que não haja o Cosmo-
politano com os jogos de futebol, os bailes, as campanhas. O Apito existiu de 1924 até 1945. Eu gostava muito do jornal, morava na Avenida Ester, esquina da Santa Gertrudes e o Thelmo na frente com a sede do jornal, eu gostava de vê-lo pegando letra por letra com a pinça para pôr na chapa, formando as palavras, um trabalho gigantesco. Hoje você digita e já imprime, mas o trabalho do Thelmo era fabuloso e eu ficava admirando ele”.
N
ota-se, nas edições, os modos como os foliões se organizam para os festejos carnavalescos. Pelo jornal se anunciava reunião dos blocos, bailes, piqueniques de confraternização entre blocos. O jornal também fazia a vez de entusiasta da festa. Meses antes do Carnaval era comum a publicação de notas provocando a competividade entre os blocos, sempre em tom brincalhão.
Disponível em: www.projetomemoriaviva.com.br.
Antônio Rodolfo Rizzo possui todas as edições da publicação (1924-1945), as manteve em ótimo estado de conservação o que permitiu a sua completa digitalização pelo Centro de Memória de Cosmópolis.
22
Capítulo
págs 24 à 25
O
s festejos aconteciam a partir da ocupação das ruas e pontos de lazer da cidade. Os bailes mais elitizados, saraus dançantes e concurso de fantasias aconteciam principalmente na sede do Cosmopolitano Futebol Clube, mas também no Salão Mútuos Socorros, salão de festas da Escola Alemã e Usina Ester. Blocos, entrudos, ranchos, zés-pereiras e foliões solitários brincavam o Carnaval na pequena cidade. Nos dias de Carnaval, o Reinado da Folia permitia a troca de lugar.
24
F
ora da rotina de trabalho e da vida doméstica, o trabalhador podia brincar de ser cigano, zés-pereira e palhação. Na troca de gênero, a ação era basicamente efetivada pelos homens – homem virava mulher, mas mulher não se travestia de homem. Brincantes assumiam outros nomes de acordo com a nova identidade, gostos e preferências: Reque-Reque, Palheta, Canário, Enxuga Copo, Beriba, Sapinho, Lampião, Pinga com Limão, e tantos outros. Na festa, onde tudo que não cabia no esquadro
do dia a dia tinha local certo nos dias de carnaval, a população, em geral com baixa escolaridade, formada principalmente por trabalhadores rurais, operários e pequenos comerciantes, não se intimidava para algumas críticas sociais. O Bloco da Elite, com seus integrantes com estranhas combinações de roupas maltrapilhas, levava algumas sátiras em seus cartazes. “Brincar” o Carnaval nas ruas se dava de modo diferente do festejar nos locais fechados e na Usina Ester. Nas ruas, a liberdade era maior; nas
fotos, percebe-se maior despojamento, variedade de cordões, fantasias, e até mesmo a pose para as fotos mostra maior descontração. Já nos registros dos blocos da Usina, os foliões aparecem sempre muito bem alinhados para o registro fotográfico. Vestiam roupas padronizadas, as moças representantes da Corte do Carnaval estavam cuidadosamente ornamentadas. O contraponto do Carnaval da rua e nas ruas – com a troca de identidade e mistura – se contrasta com esse outro, que se dá basicamente como um simulacro de pretensão de cópia de bailes das elites das cidades maiores, que, por sua vez, imitavam os carnavais europeus. Em depoimento, José Honoratto Fozzati (acervo do Centro de Memória de Cosmópolis) relembra:
“O
s dias de Carnaval eram esperados com muita ansiedade pela comunidade cosmopolense nos velhos tempos. Não sei de onde saía tanta gente nas tardes e noites para circular na tradicional avenida. Era, entretanto, mais gente realmente do que atrações. Turistas, viajantes, forasteiros e numerosos grupos aqui chegavam. Nos velhos tempos, o alviverde dividia a festa carnavalesca com a Sociedade de Mútuos Socorros. A cidade tinha também filme regional pelo seu vibrante Carnaval. No clube usineiro havia retumbantes bailes”. á na sede da Escola Alemã, em área do Núcleo Campos Salles, os bailes de Carnaval ajudavam a angariar fundos para a manutenção das atividades, conforme ata de reunião:
J
R
eunião do dia 1 de fevereiro de 1927: Nesta reunião foi decidido fazer um baile de Carnaval. O senhor Fritz Nimz foi responsabilizado pelas compras e o senhor Wilhelm Kowalesky foi nomeado como mestre-sala. Pela música foram contratados os senhores Willy Hasse e Herman Klingohr por 35$000 (réis). aile de Carnaval dia 26 de fevereiro de 1927: Os músicos entraram tocando e o pessoal entrou seguindo alegremente. E o baile continuou muito alegre e agradável. O lucro foi de 92$600 réis.
B
Capítulo
págs 26 à 27
A
Usina Ester, fundada em 2 de março de 1898, é uma das mais antigas usinas de açúcar do Estado de São Paulo em atividade, e foi um destacado local das celebrações carnavalescas da cidade e região, com ênfase no período de 1930 a 1940, já que concentrava boa parte dos trabalhadores da cidade morando em suas colônias, espalhadas por diversos pontos da área rural da extensão de terras da empresa. Os Carnavais da Usina Ester eram organizados por uma associação interna que mobilizava parte dos funcionários para 26
promover bailes nos dias de folia, e tinham, nas palavras dos anúncios do jornal institucional da empresa, Nosso Jornal, o objetivo de promover “festas de gala”, ou uma tentativa de reprodução do que se via em cidades maiores. No numeroso bloco Flor de Lys identifica-se fantasias com mais detalhes e acabamento fino, presença maior de instrumentistas, carro adornado para desfile e corte de Carnaval com moças cuidadosamente fantasiadas.
A
forma de organização dos bailes era enaltecida com forte entoação do “caráter familiar” do festejo, como na edição nº 5, de 7 de março de 1956, do Nosso Jornal: “a maneira correta com que o nosso povo festejou o Carnaval é um motivo de orgulho para todos nós, pois dá-nos a satisfação de saber que pertencemos a um ambiente seleto, onde impera o cavalheirismo e onde a palavra diversão é interpretada no seu mais elevado sentido”.
Capítulo
págs 28 à 29
O
Carnaval na Usina também se dividia, o que marca uma característica das festas públicas de rua ou em espaços fechados enquanto simulacro da sociedade. Nos festejos, havia também a representação das diversas camadas e setores sociais e étnicos, estruturas sociais de classe e poder. Com base nos testemunhos colhidos pela pesquisa, essas estratificações sociais ficaram evidentes no então “baile dos negros e dos brancos”, em uma época em que havia dois carnavais. No entanto, esses registros e formas de organização (e divisão) não
28
estão explícitos. Prova disso é que não há um só negro retratado nas fotografias em todo o recorte temporal da pesquisa, de 1910 a 1960, nas 167 fotografias catalogadas. Em entrevista ao projeto Memória Viva, Ana Bocaiúva, que morou na colônia Pinheiro com sua família, relembra a história contada pelos pais: “Achava interessante o baile da Usina Ester, apesar de serem dois bailes, na verdade. Um para os brancos e, no salão ao lado, outro para os pretos, aonde minha família ia. Às vezes eu não aceitava muito, já tinha uns dez anos de idade, e
pensava o porquê dessa separação! Ao mesmo tempo gostava do baile, das músicas, era um momento de diversão para nós. A gente morava perto do salão e às vezes não ia com nossos pais, mas ficava em casa ouvindo as músicas. O conjunto musical tocava no salão dos brancos, onde as pessoas dançavam, e no lado dos pretos vinha só o eco do som do outro salão. Uns anos depois, mais mocinha, não havia mais baile separado. Era tudo misturado, todo mundo junto. Lembro-me dos meus pais falando dessa diferença”.
J
osé Honoratto (acervo do Centro de Memória de Cosmópolis) também reproduz a história ouvida de muitos: “Dizem que num certo tempo, havia dois salões para ir: um para os brancos e outro para os negros. De longe se podia ouvir o som das músicas tradicionais ecoando pela vizinhança”. oão Bocaiúva (esposo de Ana Bocaiúva) nos conta o contexto da vida rural e sua inserção nos bailes de Carnaval, dos quais participava tocando seu pandeiro. “Sempre morei em Cosmópolis, nasci na Usina Ester e lá morei. Tinha uns dezesseis anos e o trabalho era na roça que se começava. E era bom se apresentar já com a enxada amolada. Tinha uma turminha da música, foi daí que aprendi o pandeiro, não
J
foi fazendo aula. Um tio tocava violão, um tocava cavaquinho, outro bateria, sanfona. Tinha um que tocava pandeiro, mas ele gostava mesmo de dançar, então deixava o pandeiro na minha mão, eu segurava, e dançando ele me ensinava como fazia, dava sinal de joia de longe, pra mostrar que estava bom”.
Capítulo
págs 30 à 37
O Photógrapho
D
o Centro de Memória de Cosmópolis foram catalogadas 167 fotos do período. Parece pouco aos olhos da geração atual, onde temos a possibilidade de fazer registros do cotidiano sem limites de quantidade através de nossas câmeras digitais e celulares. Mas nem sempre foi assim. A maior parte das fotografias desse livro são creditadas ao fotógrafo Guilherme Hasse. Filho de Gustavo Hasse e Ida Fiedler Hasse, Guilherme nasceu em
30
19 de setembro de 1895, na Alemanha. Quando ele tinha seis meses de idade, seus pais imigraram para o Brasil. A família fixou residência em Cosmópolis no início do século XX, bem no auge do povoamento da região denominada Fazenda Funil, através do Núcleo Colonial Campos Salles. Hasse trabalhou no ramo de fotografia até 1975 e faleceu em 1978, aos 83 anos, permanecendo por décadas como o principal fotógrafo da cidade (e por um período, o único). C om uma estética precisa, preocupação com o registro nos negativos e um perfeccionismo in-
condicional, sua organização das fotografias e legendas indicando ano, pessoas e a ocasião da foto foi essencial para a organização da coleção de fotos dos antigos carnavais de Cosmópolis. A o pensar em um contexto basicamente rural da Cosmópolis de outrora, e no começo lento da popularização da fotografia, parece bastante revelador esse conjunto de materiais que chegou às nossas mãos nos dias de hoje. Permaneceu, ao longo das décadas, para hoje nos revelar um pouco do cotidiano daquela época e evidenciar os modos de festejar o Carnaval.
N
O ofício de fotografar
E M Depoimento de Érica Bentlin Acervo do Projeto Memória Viva: pesquisa e documentação em História Oral
32
eu nome é Erica Guarda Bentlin, nasci em Cosmópolis, sou filha de Erica e Orlando Guarda. Minha mãe era filha de Guilherme Hasse e Clara Milke. Sou neta de Guilherme Hasse, convivi 18 anos com ele, e guardo na lembrança o fotógrafo, suas músicas e sua maneira de conduzir a vida. Lembro como ele atendia as pessoas no ateliê, fazia as fotos, tenho isso gravado em mim e posso visualizar até hoje.
le sempre foi muito exigente, está aí uma palavra que todos ligam a ele. Enquanto não achasse o ângulo correto e que a foto sairia boa, ele não apertava o botão, mudava as pessoas de lugar, inseria coisas; para as crianças darem risada, tinha alguns brinquedinhos; ele cuidava para que a foto realmente fosse uma lembrança, algo bonito que a pessoa tivesse de si. Por isso era tido como muito exigente, mas é que ele gostava do trabalho bem feito. E também agia assim com a música e com os alunos de violino.
Photoshop manual
E
le retocava as fotos, inclusive as 3x4. Tinha uma lupa e um tipo de lápis com que fazia o contorno do rosto, alguns detalhes do cabelo, quase redesenhava aquilo. Como um photoshop manual. Não sei se outros fotógrafos retocavam as fotos, também não quero ser injusta por dizer que só ele fazia isso, mas ele trabalhava assim. Fazia também a colorização de fotos à mão, fazia uns pincéis com as pontas dos cabelos das minhas tias.
ão porque não houvesse pincel, mas em função da maciez dos fios, por isso cortava as pontas dos cabelos da minha tia, as pontinhas! Daqui a pouco vão dizer que ele cortava os cabelos dos filhos, não! Eram apenas as pontinhas, para fazer os pincéis, e isso por conta desse jeito perfeccionista. Na minha época já eram pincéis de mercado, comprados prontos. Molhava os pincéis, e nos papéis coloridos, com lupa, ia fazendo os detalhes, fazia tudo: a roupa, uma estampa, reproduzia tudo, a cor da boca, dos olhos, cílios, retocava a fotografia inteira colorindo. Essa técnica minha mãe aprendeu a fazer também. Inclusive tem foto minha quan-
do menina que foi ela quem coloriu. Ele fazia isso para as encomendas especiais, quando as pessoas queriam alguma coisa para guardar ou às vezes para fazer um quadro. Há um quadro dele e da minha avó, um trabalho que guardo até hoje, e que dá para ver o que era essa técnica, a preocupação com a incidência da luz, tudo isso feito com a técnica de colorir. Ele passava alguma coisa para secar, mais não me lembro. Ele também trabalhou com outra técnica, de carvão, mais antiga.
O Ateliê
H
avia um quarto escuro, um cubículo onde não entrava luz mesmo, com vários produtos químicos e recipientes de vidro, pipetas com medidores, uns recipientes grandes de vidro, redondos, uma prateleira com uns vinte, de vários tamanhos, nos quais ele media os produtos e bandejas, talvez três, as bandejas eram de ágata branca. Nesse quarto ele não gostava que eu entrasse, lembro-me do cheiro desse lugar, bem característico, forte, não me deixava muito ali e recomendava que não pusesse a mão em nada. Não era simplesmente porque eu era criança e ele não queria que eu mexesse, era proteção também. Ele manuseava tudo isso sem luva.
34
A
lgumas vezes me chamava, ia fazer revelação de filme e perguntava se eu queria ver, sabia que eu gostava, então, algumas vezes, eu entrei nesse quarto escuro com ele. Nossa! Na minha cabeça de criança, com 10, 11 anos, era uma coisa muito mágica aquilo! Dentro desse quarto escuro havia uma lâmpada, uma luz vermelha que ele acendia, coberta, não sei se era um pano ou algo parecido, um refletor... mas era uma luz vermelha difusa. Ele punha o filme numa bandeja com líquido, depois ia para outra bandeja... Era isso que me encantava porque daquele papel branco começava a aparecer a imagem da foto, era mágico! Eu olhava aquilo e pensava “como é que de uma bandeja com água (porque os líquidos eram transparentes) pode sair isso?”
P
assava no revelador, depois no fixador e ficava um tempo. Dali ele tirava a ampliação molhada e levava para fora num grande tanque redondo feito de cimento, construído ali, com uma torneira com água corrente onde lavava para tirar os produtos. Ajudei algumas vezes porque isso ele me deixava fazer. Ele passava primeiro na água parada do tanque e depois lavava em água corrente. Depois disso as fotos eram penduradas como num varal de roupa, tinha vários varais nessa área, e as fotos ficavam ali secando ao ar livre só que não no sol, em ambiente coberto. O processo fotográfico demorava, não tinha jeito, por exemplo, de lavar a foto e entregar para a pessoa, porque era molhada e mole, que na medida em que secava, adquiria essa consistên-
cia de foto como a gente conhece até hoje. A história deu condições para ele ter registrado muita coisa. E ele se preocupou com isso, escrevia nos negativos, que na época eram de vidro, encontramos muitas fotos que reveladas saem com a letra dele: carnaval de tal ano, bloco carnavalesco tal, havia preocupação com o registro, ou por que mais ele teria escrito isso nas chapas de negativos? E o trabalho foi tão bem feito que hoje encontramos fotos do começo do século 20 que estão perfeitas.
1936
Registro de 1928 da Banda do Boi.
36
38
40
42
Capítulo
págs 42 à 49
Entre fantasias e alegorias!
A
ssim como aconteceu em diversas localidades, o surgimento das linhas ferroviárias significava o desenvolvimento dos vilarejos em diversos aspectos. Em Cosmópolis, a Cia Carril Funilense foi inaugurada em 1899 e saía de Campinas rumo à região do Funil (hoje Cosmópolis). A linha recebeu ampliações e chegou até a estação Pádua Salles, margeando o rio Mogi-Guaçu, sendo incorporada à Estrada de Ferro Sorocabana em 1921. 44
A
implantação do Núcleo Colonial Campos Salles e a vinda de imigrantes (em maior número alemães, italianos, suíços, libaneses, espanhóis, portugueses e japoneses) foram estímulos importantes para a consolidação do conglomerado ferroviário que esteve em atividade até 1960. Junto com as atividades ferroviárias, uma pequena e nova dinâmica se apresentou ao vilarejo através de funcionários da estação, já que muitos funcionários vinham transferidos de postos em outros municípios, e, assim, buscavam opções de entretenimento na nova cidade.
N
esse contexto surgiu, em 1915, o Cosmopolitano Futebol Clube. O Clube foi um importante local de encontro e partilha, onde se podia desfrutar de atividades esportivas e culturais. Antes de chegar o Carnaval, o clube era local de reunião dos blocos e foliões, que juntos preparavam fantasias e alegorias em um trabalho conjunto na espera da chegada do período de folia. No Cosmpolitano a concentração dos foliões era o estopim para o Carnaval romper o salão e ganhar as ruas da Vila.
Alegoria feita por Thelmo de Almeida (esquerda) e Jacintho Hachel Fren Aun (direita), Carnaval do Cosmopolitano Futebol Clube em 1923.
1929
46
A Baleia – com alegorias feitas artesanalmente e de modo coletivo, os foliþes desfilavam com seus feitos carnavalescos pelas ruas de terra batida. Carnaval de 1929.
48
50
Capítulo
págs 50 à 61
Está chegando o instrumental antediluviano!
C
om a promessa de cessar a chuva para o tríduo carnavalesco, o jornal O Apito introduzia a Banda do Boi e seu “instrumental antediluviano” para os leitores da Vila de Cosmópolis. A chegada do bloco anunciava também a trégua da chuva, garantindo o bom tempo para os dias de folia. Vestidos igualmente, o bloco de moços foi um dos mais duradouros, com registros fotográficos de 1927 a 1942.
52
N
o jornal são constantes as publicações e anúncios da Banda, ora convidando para suas reuniões de organização, ora alertando sobre os cuidados com as vestimentas “oficiais” dos foliões, com pedido dos organizadores dos blocos para que os demais componentes “cumpram com o dever” de manter o cuidado com as peças da filarmônica carnavalesca que também fazia a vez de Corporação Musical. Essa disciplina é notada na formação do cortejo em alinhamento, uniformes impecáveis que lembram os dos militares e os tradicionais quepes.
M
as ao som das primeiras notas e do entusiasmo dos meninos classificados em notas no jornal brejeiro como “músicos excêntricos” com “músicas diabólicas e instrumentais antediluvianos”, os moços fotograficamente comportados pintavam o diabo!
Jornal O Apito, edição nº 26 de fevereiro de 1928.
Nesse registro de 1930 os foliões levam no chapéu seus apelidos, alguns deles: Reque-Reque, Palheta, Canário, Enxuga Copo, Beriba, Sapinho, Lampeão e Pinga com Limão. Ao centro, de terno escuro, o Regente Odilão.
Jornal O Apito, edição nº 508 de 3 de fevereiro de 1935.
À esquerda foto de 1935 e acima foto de 1936.
54
Jornal O Apito, edição nº 558 de 16 de fevereiro de 1936.
56
1938
1938 58
1942
60
62
1930
Capítulo
págs 62 à 75
Viva o Zé Pereira, Que a ninguém faz mal Viva o Zé Pereira, 5 No dia de carnaval.
O
surgimento do termo “zé-pereira” ocorre no final do século XIX. Inspirado em uma manifestação portuguesa de mesmo nome, a formação característica contava com presença de bumbos, tambores e outras percussões improvisadas por seus foliões. Zé Pereira era o nome dado a qualquer folião ou cordão.
5
64
H
á várias referências de conexões dos zés-pereiras brasileiros e portugueses que nos dão pistas, no entanto, como diversas explicações sobre as manifestações carnavalescas indicam, Zé Pereira é mais um rolo de serpentina lançado à rua, não se sabe sua origem, mas ele está a colorir, com suas batalhas de confetes e lança-perfume. Pelas ruas da cidade o cortejo seguia com seu grito de carnaval, um chamado à folia. Tendo a irreverência como marca, o Zé Pereira de Cosmópolis tem registros de
suas atividades em jornal a partir de 1928, e em fotografias de 1930 a 1942.
- Em 1869, a folia dos Zé Pereiras inspirou o ator Francisco Correia Vasques que escreveu esse verso para compor a peça “O Zé Pereira Carnavalesco”, uma sátira ao “Les Pompiers de Nanterre” (Os bombeiros de Nanterre) de Larone e Martinaux.
Jornal O Apito, edição nº 460, 4 de fevereiro de 1934.
1930 66
Jornal O Apito, edição nº 511, 4 de fevereiro de 1935.
1936 68
70
Jornal O Apito, edição nº 654, 27 de fevereiro de 1938.
1939 1937 72
Jornal O Apito, edição nº 747, 03 de fevereiro de 1940.
74
Jornal O Município, edição nº 04, 03 de Março de 1946. O Carnaval da terra da Cana.
76
Capítulo
págs 76 à 83
É de chegar e romper, mas ninguém rasga!
A
vida carnavalesca seguia seu próprio ritmo com toadas de disritmia, muitas vezes. Comum era a troca de nomes dos blocos em virtude das diferentes formações a cada ano. Caso do bloco Espalha Braza (com z, grafia da época), do qual temos a primeira referência em 1934, no jornal O Apito. O nome permaneceu até o carnaval de 1937. Já em 1938 o estandarte foi rebatizado como “Choro da Saudade”, 78
permanecendo até 1942, ano do último registro fotográfico e jornalístico do grupo. Com seus instrumentais de cordas e batuques, o bloco de rapazes seguia o itinerário festeiro da cidade.
Jornal O Apito, edição nº 462 de 24 de fevereiro de 1934.
Jornal O Apito, edição nº 511 de 24 de fevereiro de 1935.
80
Reprodução em jornal de fotografia de 1937.
Jornal O Apito, edição nº 558 de 16 de fevereiro de 1936.
Jornal O Apito, edição nº 653 de 20 de fevereiro de 1938.
Jornal O Apito, edição nº 655, de 13 de Março de 1938. “Com sua guapa rapaziada, que, sejamos francos, brilharam e nos fizeram recordar”.
Jornal O Apito, edição nº 654 de 27 de fevereiro de 1938. Era comum a troca de nomes dos blocos. No jornal a mudança de Espalha Braza (grafia da época) para Choro da Saudade.
1942 82
84
Capítulo
págs 84 à 95
É a flor azul e branca!
E
pelas principais ruas da Vila e nos salões, o cordão alviceleste desfilava com seu estandarte carregando o nome “Flor de Lys” e sua data de fundação: 12 de Novembro de 1934.
86
A
“associação dançante”, como também era chamada, possui registros fotográficos de 1935 a 1942. Além do carnaval, o grupo também se reunia ao longo do ano em piqueniques e outras confraternizações.
1935
1936
88
1935
1936
90
Acima foto de 1936 e Ă direita foto de 1937.
92
Jornal O Apito, edição nº 651, 6 de Fevereiro de 1938.
Jornal O Apito, edição nº 654, 27 de fevereiro de 1938.
Jornal O Apito, edição nº 747, 03 de fevereiro de 1940. 94
1941
96
Capítulo
págs 96 à 105
Do alto da avenida vem surgindo o Nem que Chova! Olha para o céu, amor, é a Estrela D’Alva!
(e vigiado por todos) e divertiam-se com as brincadeiras carnavalescas pelas ruelas de terra batida.
C
om registros fotográficos de 1936 a 1942, o bloco atendeu até 1939 pelo nome “Nem que Chova”, já no carnaval de 1940 o estandarte teve novo batismo: Estrela D’Alva. O carnaval organizado pelos Blocos era também um momento de encontro de moças e rapazes que festejavam juntos
98
O bloco alviverde em alinhamento para a foto (1936)
Nessa foto temos um registro único: o fotógrafo Guilherme Hasse no momento em que fotografou o bloco Nem que Chova em frente à sede do Cosmopolitano Futebol Clube. Fotógrafos eram raros naquela época e Hasse era o principal da localidade. 100
Acima o bloco Nem que Chova em frente à sede do Cosmopolitano Futebol Clube (1937). Foto cedida por Antônio Rodolfo Rizzo.
1938
Jornal O Apito, edição nº 652 de 13 de fevereiro de 1938.
102
Jornal O Apito, edição nº 653 de 20 de fevereiro de 1938.
“Quase ao cair da tarde, após terem primeiro visitado a Usina Esther, surge ao alto da Avenida, próximo ao Cine local o Cordão”. 1942.
104
106
1939 Capítulo
págs 106 à 119
A
nota chic do carnaval
“F
evereiro chegou e com ele os ruídos do Carnaval. É o rei Momo que desperta e chama seus admiradores, para divertirem-se a valer”6 assim a chamada de mais uma edição do jornal O Apito introduzia o cordão Flor da Mocidade. Formado pela comunidade de funcionários da Usina Ester7 com registros fotográficos de 1939 a 1942.
6 7 8
O
cordão era numeroso. Pelas fotografias constata-se a formação com mais de 150 componentes. Ver o desfile do Flor da Mocidade era um acontecimento: trajes mais elaborados, corte de “rainhas e princesas”, o grupo era a “nota chic” do carnaval, como se vê nas notas do jornal da época. O desfile acontecia nas dependências da Usina, em algumas colônias de trabalhadores rurais e também seguia para o desfile na cidade.
C
arros alegóricos, fantasias e acompanhamento musical com pequena banda davam o tom. Diferente das formas mais populares dos ranchos, zé-pereiras e blocos, o cordão Flor da Mocidade por ser mais elitizado representava também essa diferenciação da época; pretendendo representar um carnaval mais “civilizado”, reproduzindo assim os corsos de cidades maiores como Campinas e São Paulo, esses por sua vez inspirados nas tradições europeias8 e do carnaval burguês.
O Apito, edição nº 794 de oito de fevereiro de 1941. Fundada em 1898.
Em: Carnaval em branco e negro: Carnaval popular paulistano − 1914-1988. Olga Rodrigues de Moraes von Simson. Campinas: Ed. Unicamp; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Imprensa Oficial de São Paulo, 2007. 108
1940
1939
1939 Jornal O Apito, edição nº 747 de três de fevereiro de 1940.
110
Jornal O Apito, edição nº 794 de oito de fevereiro de 1941. 112
1941
114
“P
rosseguem animados os ensaios do Cordão Flôr da Mocidade, que prometem grandiosas surpresas neste anno.”
1940
Jornal O Apito, edição nº 795, de 15 de fevereiro de 1941.
“T
1941
odo Pessoal folião da Usina Esther, foi arregimentado para o triduo de 1941. E assim é que não foram poupados esforços para que o Cordão Flôr da Mocidade, Banda do Boi. Carros alegóricos e ainda outras surprezas sejam apresentadas nos dias dedicados a Momo I., Imperador da Alegria. Tambem ao que estamos informados os mentores uninenses pretendem levar os seus numerosos foliões à Campinas, na proxima terça-feira para desfilarem. LORD BAGUA”
Jornal O Apito, edição nº 796 de 22 de fevereiro de 1941.
116
1941
118
120
Capítulo
págs 122 à 125
One hit wonder misterioso!
“C
onsta nas rodas momísticas locais, que este ano, os componentes deste bloco que no ano passado pela primeira vez deram o ar de sua graça, subindo a rua, pretendem reprisar o sucesso antecedente. Com vistas aos Lords Pastachuta, Blecha, Lesma, Manduca, Pedrinhão e Cia”. O Apito, edição nº 558, 16 de fevereiro de 1936. 1935
122
1935
124
Capítulo
págs 126 à 129
Diverção colossal, a ELITE vem aí!
“N
ão sabemos se virá de cartola ou chapéu coco ou se a máscara será ‛ELITE’, mas que será um colosso. E o chefe anda atarefado achando que a orgia é um osso. É o que diz Lord Amado”. Jornal O Apito, edição nº 654 de 27 de fevereiro de 1938.
126
“A
o falar uma verdade, de elite, só se salvava o nome que havia no cartaz, o mais, tudo era conversa fiada para as ‘traças’ não terem onde comer e dormir”. Jornal O Apito, edição nº 655 de 13 de março de 1938.
128
1948
130
Bloco dos Estados, 1935.
132
N
o estandarte, é possível identificar cédulas de dinheiro. Era bastante comum a brincadeira de sair em cortejo pelas ruas da cidade esperando que os demais foliões contribuíssem com algumas notas, costume emprestado dos folguedos e folias de reis. Fotos sem data.
134
A 136
inserção das crianças nos festejos revela a característica familiar e a preocupação em inserir as novas gerações nas festividades. Carnaval de 1939.
N
o Carnaval da comunidade da Usina Ester o Circo do Anolino garantia diversão. Entre os gorilas está o domador “Anolino Campeon”. No centro, de terno claro (ao lado do violeiro), está José Magossi. O Circo do Anolino também leva animação para outras partes da cidade. Foto de 1959, cedida por José Magossi.
O
Circo Fuzarca se apresentava principalmente nos bailes da Usina, e depois percorria as ruas da cidade. Na foto de 1954, foliões de divertem na Avenida Ester. Em pé da esquerda para direita: Zecão, Américo Sala, Maneca, Nelson Canudo, Osvaldo Peretti, João Cavagnini, Neu Bernachi (Gorila). Foto cedida por Ismael Peretti.
138
140
142
A
gradeço aos que contribuíram na pesquisa com cessão de fotos, informações, dicas, pistas e a todos que de forma gentil ajudaram de alguma maneira na conclusão do projeto:
Adriano da Rocha, Andréa Romero, Antônio Boscolo (Correio Popular – Grupo RAC), Antônio Rodolfo Rizzo, Bete Vicente Gaido, Bruna Grassi, Daniel Azzola, Diocelio Franchozo, Erica Guarda Bentlin, Ilse Schütz Freitas, Irene Peretti, José Honorato Fozzati (in memorian), José Magossi, José Netto, José Pedroso, Luciana Almeida, Marli Marcondes (Centro de Memória da Unicamp), Mercedes Frungilo, Olga Von Simson (Unicamp), Usina Ester, Secretaria de Cultura de Cosmópolis e equipe, Sistema Estadual de Museus (SISEM), Supermercados São Vicente, Vivian Mukotaka, Waldemir Freitas, Walter Frungilo e Zorro (Ecin).
BENTLIN, CARINA DA SILVA (org). Baú de Memórias (livro eletrônico). Secretaria De Cultura de Cosmópolis/Centro de Memória de Cosmópolis. Cosmópolis, 2013. BENTLIN, CARINA DA SILVA. Projeto Memória Viva (DVD, 120 minutos). Cosmópolis, 2014. GUILHERME HASSE: RETRATOS DE UMA ÉPOCA. Centro de Memória de Cosmópolis, 2016. Exposição virtual disponível na plataforma Google Cultural Institute. JOÃO E ANA. Direção: Carina Bentlin. Documentário, 9’13”. DVD, 2014. Também disponível em www.projetomemoriaviva.com.br.
Acervo principal: Centro de Memória de Cosmópolis
JORNAL O APITO, edições de 1924 a 1941, da primeira à 836ª edição. Acervo do Centro de Memória de Cosmópolis.
izemos o possível para localizar todos os detentores dos direitos autorais utilizados nessa obra, permanecendo à disposição para sanar qualquer eventual omissão involuntária, bastando para tanto que os interessados entrem em contato.
JORNAL O MUNICÍPIO, edições de 1946 a 1960, da primeira à 125ª edição. Acervo do Centro de Memória de Cosmópolis.
F
***
MATTA, Roberto da. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro, 6ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. PHOTOGRAFIA HASSE. Direção: Carina Bentlin. Documentário, 15’04”. DVD, 2014. Também disponível em www.projetomemoriaviva.com.br. UMA FLORESTA COM HISTÓRIAS BONITAS. Direção: Carina Bentlin. Documentário, 13’06”. DVD, 2014. Também disponível em www.projetomemoriaviva.com.br. Von SIMSON, Olga R. de Moraes. Carnaval em Branco e Negro: Carnaval Popular Paulistano: 1914-1988. Campinas, Editora da Unicamp; São Paulo: Edusp; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007.
144
C
arina Bentlin é jornalista, documentarista audiovisual e gestora cultural com especialização em Gestão de Políticas Culturais – Universitat de Girona e Itaú Cultural. Já produziu doze documentários, sendo a maioria deles com base em memórias e histórias de vidas, incluindo o projeto de pesquisa e documentação “Memória Viva”. Foi bolsista em Documentação Museológica pelo Cidoc - Comitê Internacional de Documentação Museológica (Icom – Unesco). Como coordenadora da Tecer Comunicação
146
e Cultura desenvolve projetos culturais para grupos artísticos de diversos segmentos, além do projeto de cinema open air com exibições de títulos do cinema nacional (Cine Céu). Em Cosmópolis atuou por seis anos nas funções de assessora, diretora e secretária de cultura, onde coordenou, entre outros, diversos projetos culturais relacionados ao acervo do Centro de Memória de Cosmópolis.
148