Choque de Fanfic

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1- Uma noite esquecível na kombi Depois de quase três meses, encarei a máquina de escrever que obtive discretamente dos estúdios globo quando estivemos por lá. Depois de muito trabalhar encarei as 30 letras que digitei e respirei fundo. O Brasil não está preparado para minha genialidade, é o que tenho a dizer sobre esse projeto audiovisual. Quando ia digitar a 31 primeira palavra, uma goteira do teto da kombi caiu sobre o papel. O balde de dejetos estava precisando ser enchido novamente, de qualquer forma. De repente, ouço o telefone tocar. Julinho, me ligando com chip clonado as duas da manhã? Me recuso. Eu não vou atender. Ele que ligue pro Dênis Personal ou algo do tipo. — Alô dodói? Onde é que sua kombi tá mesmo? — Não interessa. Não vou dizer. Não adianta insistir. Ta no mesmo lugar de sempre. — o lugar de sempre é onde tava daquela vez? — se o lugar de sempre é onde ela está sempre, é obvio que é onde ela estava da outra vez. — To chegando aí. — Não, não venha não, ei! Ele desligou na minha cara. Um safado, cretino, depois de eu dizer pra ele não vir com tanta convicção... Pensei se devia arrumar o lugar, mas um raio estremeceu como um sinal dos céus. Era melhor ordenhar a cachorrinha Brenda, antes que os 2 gambás que não consegui que fossem adotados começassem a me morder de novo e tentassem arrancar meus dedos do pé. o rapaz da upa já falou que não vai mais costurar meu dedo se eu não tomar cuidado. Uma pena, pois da ultima vez ele costurou ao contrário e ta um pouco complicado de andar, mas como a pele ao redor da costura ta ficando preta, imagino que esteja se recuperando bem. Uma batida na lateral da kombi indicava que ele havia chegado. Ou o Renan saiu na chuva pra tacar pedra na minha kombi novamente. Também podia ser a companhia de energia descobrindo o gato que fiz, essa chuva entrega tudo mesmo.


Peguei um cabo de vassoura e uma lanterna, abri a porta com cuidado, então o Julinho colocou o rosto na frente da luz, parecendo uma raposa empapada de óleo diesel. — Ow, ta mó frio aqui fora abre direito essa porra. Decidi que iria fechar a porta na cara dele e não iria responder a seu chamado. Mas quando me dei conta ele já havia entrado e sentado todo molhado no sofá. Sofá esse que haviam jogado aqui no terreiro, e depois de retirar os 15 ratos mortos e gosmentos e o gambá falecido, que suspeito ser o pai dos filhos adotivos da Brenda, de dentro do sofá ele ficou ótimo. — Vai deixar o sofá fedendo a mofo se você ficar aí todo molhado. — Era bom que tirava esse cheiro horrível de carniça do seu móvel. — Ele falou tirando a camisa regata e se sacudindo como um labrador ruivo. Porém um labrador extremamente sedutor, com uma tribal no braço e uma quantidade de gordura abdominal apenas suficiente para parecer um urso desnutrido. Desviei o olhar. — Por que você não foi pra sua sprinter? — Perguntei enquanto sentava no chão com a máquina de escrever no colo. — Eu não tava trabalhando né, ô dodói, eu tava indo.. Tava indo ali? Por ali ele com certeza queria dizer “ Apê do personal.” ou a casa daquela menina que roubou minha kombi uma vez e coincidentemente era conhecida dele. Quando me dei conta apenas pressionei as teclas de forma aleatória na máquina, e perceber que o que saiu fazia mais sentido que o que fiz consciente me fez perceber que eu era um gênio até com a mente distante. Ou um fracasso completo estando ciente do que estava fazendo. O dilema era grande demais, então coloquei a máquina de escrever de lado. — Você devia vestir uma camisa, vai pegar um resfriado. — Eu falei sem olhar pro julinho. — Fala isso, mas você ta aí de roupão nesse frio. — Pelo menos eu não to todo molhado! — se tá tão preocupado, por que não vem aqui me esquentar?


— Por que você não congela em morre de uma vez, e para de encher meu saco. Eu to escrevendo aqui. Esse texto vai ser interpretado pelo Tony Ramos nos cinemas do brasil todo. — Escrevendo, só tem 2 linhas aí rapaz. Vai ser o que, o Tony ramos mandando um áudio no zap? Para com essa frescura aí e me arruma uma toalha. Julinho levantou e andou pela kombi. — Não tem uma toalha aqui ô palestrinha? Só esse roupão aí? — Não sei pra que eu ia ter duas toalhas na casa. Só uso elas depois do banho, quando to limpo, então ela nunca fica suja, ora. Então ele puxou o meu roupão e eu fiquei apenas de cuecas no chão enquanto ele sentava com meu roupão vermelho e as pernas abertas, parecendo um cafetão e ligava a tv. Se eu soubesse que essa palhaçada toda ia acontecer tinha pelo menos vestido uma cueca mais bonita. — Olha aqui palestrinha ta passando aquele filme do jacaré. Aquele que ganhou o oscar. — O Sílvio santos já exibindo a reprise? — se ta passando no sbt é reprise, ora. — Mas minha tv nem pega o sbt ô Julinho. — Você que falou que o silvio sant... De repente uma luz intensa entrou pela fresta das cortinas. Em seguida as luzes todas se apagaram, e um estrondoso soom ecoou por toda kombi e estremeceu o chão. — ah não lá se foi meu gato de energia! — Procurei uma lanterna mas lembrei que não tinha uma. Julinho acendeu um cigarro, que não sei de onde ele tirou, já que estava seminu no sofá. Mas como fumante desde os 9 anos ele deve poder fazer com que os cigarros surjam em suas mãos do além. — Relaxa um pouco Maurílio, até parece que viu uma assombração. Nem é a primeira vez que venho aqui em sua kombi. Sentei do lado dele no sofá e expulsei com um chute um rato (ou gambá?) que tentava mordeu meu dedo necrosado. Ele colou um cigarro em minha boca e acendeu. A luz alaranjada do cigarro falsificado permitia que eu pudesse ver sua silhueta disforme.


— Aconteceu alguma coisa foi? Ele amansou a voz. O cheiro de cigarro com o de carniça do sofá se misturavam na sala. — Nada que seja da sua conta. Já falei que queria escrever em paz e você ta me atrapalhando. — Meu docinho de abóbora ta azedo hoje... — Ele cheirou o meu pescoço e eu senti um arrepio na espinha — até parece que não queria me ver. Apertei os olhos e torci o rosto. Eu não poderia cair nessa pela milésima vez. Mas o cheiro de salpicão ressecado dos bigodes dele tão próximos ao meu rosto podiam fazer, a qualquer instante, minha fera interior despertar. Ele beijou meu pescoço, e devagar encontrou minha boca no escuro, mas nos queimamos com o cigarro um do outro. — Tu é muito burro hein?! — Falei irritado pisando o cigarro no chão. — Olha quem fala? Agora a lateral do meu bigode ta toda chamuscada, seu imbecil. — Do que você me chamou? Apertei os punhos. — De imbecil. Estúpido. Cabeça de melão. — Ele repetiu com violência. — Agora fala aqui, na minha cara. Fala. De preferência coladinho em meu ouvido. Eu estava fora de mim, ele havia conseguido de novo. Com minhas mãos eu rasguei o roupão vermelho e avancei no seu peitoral como um dos gambás que acabou ficando enganchado no sofá por dois dias quando conseguiu fugir e encontrar o peito da minha cachorra. Eu o beijei com as costas dele apoiado contra o chão. Como sempre acontece quando sou possuído pela minha energia sexual extremamente caótica e animalesca eu perdi completamente a noção do espaço tempo e quando me dei conta Julinho estava gritando porque os gambás da kombi estavam mordendo seus mamilos. — Meu deus como para isso Maurílio, como faz pra eles soltarem? — Eu não sei, acho que tem que dar choque neles?! Pra nossa sorte outro raio escambroso caiu, e os animaiszinho assustados soltaram e se esconderam embaixo da geladeira.


— Vou colocar uns biscoitos quebrados aí... falei, mas ele pegou minha mão. — Acho que eu vou ficar bem se você ficar aqui comigo um pouco, na moralzinha. Apertei sua mão com força. — Do que adianta Julinho? Amanhã você vai embora e passa a ignorar minhas mensagens como se nada disso tivesse acontecido... Se bem que essa parte do gambá podia ficar pra trás mesmo... — Senti o sangue escorrendo pelo tórax dele. — Você acha que eu sou assim Maurílio? Que você não significa nada pra mim? Que Eu só vou embora, e finjo que você não existe? — Exatamente isso. Ele beijou meus lábios com ternura. — Depois dessa eu só preciso dar uma dormidinha, e eu to novo. E aí amanhã a gente continua. Ele deitou no lençol no chão e rapidamente dormiu. Deitei ao seu lado, sabendo que na manhã seguinte seria diferente. Então eu acordei sentindo minhas mãos no peito macio e cabeludo de Julinho. Porém, na verdade era um gambá adulto que havia invadido a Kombi, mordeu meu dedo e fujiu rapidamente pela janela após derrubar minha TV. Mas ainda havia uma presença humana do meu lado. Quando abaixei meus olhos, um rapaz da companhia de eletricidade da cidade me olhava com os olhos arregalados. — Então você que é responsável por esse gato de energia, né? Rapidamente fugi, com meu roupão vermelho rasgado. Enquanto fugia, pude ver Julinho passando de moto, com Dênis na garupa, acenando pra mim.



2 - o segredo de Maurílio O violão ecoava pela sala do apê como um estúdio improvisado dentro do apê. — Showww demais. — Dênis falou enquanto sacudia o cabelo como num show de rock, apesar de eu ter acabado de tocar um pagode. O celular vibrou no bolso. Mensagem do Maurílio. Julinho colocou no bolso pra ignorar como tinha feito dos últimos dias, mas pensou que podia ser legal dar uma visitada no boquinha frouxa. Maurílio: Ei julinho. Ei. Ei. Ta em casa?” Julinho: não. E não vou pra casa tão cedo. Nem adianta. Maurílio: blz. Achou estranho. No geral, o Maurílio ficava todo sentimental, mandando longos áudios cantando músicas, geralmente extremamente mal, e implorando por uma visita, mas nos últimos meses nem estava muito ligado. — Finalmente um pouco de paz. — Hey por que paz? — Denis colocou o violão no suporte ao lado do carpete e prendeu o cabelo. — Nada não, besteira minha. — Tá pronto pra pagar sua parte da permuta então? — Claro, sempre. Julinho levantou e deixou o celular sobre a mesa. Mais tarde saiu para fazer a rota Taquara-castelo, que sempre fazia. No meio do caminho, ouvindo skank na rádio sentiu uma sensação estranha no peito pensando no palestrinha. — Deve ser princípio de infarto, vou falar com minha vó que ela tem remédio pra isso. Virou a sprinter na contramão e seguiu de volta para casa, deixando os passageiros em algum canteiro no caminho. — ô vó, tem remedinho pra infarte aí...


Entrando no quarto da sua vó, ficou surpreso. Maurílio estava ali, com um roupão de seda com estampa de oncinha, algemas rosas felpudas o prendiam na cabeceira metálica da cama e usava pantufas de dinossauro. — Maurílio? Ele arregalou os olhos. — Eu falei que ia demorar o que... —Você foi um menino malvado, Mauricio? Do banheiro do quarto uma senhora de cerca de 95 anos saiu, utilizando um corpete e uma lingerie preta, com cinta liga. Ela trazia em mãos um chicote de couro, e usava uma máscara de mulher gato. — Vó? — Julinho meu filho, você não ia demorar a chegar? — O que está acontecendo aqui???? Que palhaçada é essa? — Julinho eu posso explicar... — Há quanto tempo isso... vó? — Ele é tão ajeitadinho né meu neto? E ainda gosta de apanhar. — Ela sacudiu o chicote na cama. Julinho levou a mão ao peito, aonde a dor só aumentava, mas agora sabia que não era um infarte e sim uma facada nas costas. Provavelmente algum passageiro revoltado sem motivo tinha acertado ele.



3- A experiência sobrenatural do Rogerinho Rogerinho encara a parede branca e descascando da casa que estava morando. A casa do Mauro Linhares já estava quase assim quando chegou, exceto pelo violão quebrado no canto. E os móveis que ele trocou por gasolina e discos que acabou tacando fogo. Nos discos e na gasolina. Então ele ouviu batidas agressivas na porta, alternados com grunhidos estranhos que lembravam uma criatura em sofrimento profundo, agonizando próximo ao seu fim, e morte. — ô Rogério! — A voz inconfundível de Renan soou do lado de fora. Rogerinho abriu a porte e encarou o amigo com seriedade. — O que é que você quer?— Ele abriu a porta com violência. — Cê pode dar uma olhada no Renanzinho enquanto eu vou resolver uma documentação ali? — Leva ele também, bom que ele já aprende.— Rogerinho olhou pra criança, mas desviou o olhar rapidamente. Aquela criatura pequena, volumosa e aversiva era difícil de encarar. — A gente vai mexer com fogo lá, aí eu tenho medo do moleque se impressionar e meter a mão no fogo. Ele precisou ficar hospitalizado um mês da última vez, aí como eu cancelei o plano dele ia ficar mais difícil. Mas fica com ele aí.,.. Abraços. — Renan saiu rapidamente correndo para que não desse tempo o Rogerinho fazer nada. A criatura indescritível no chão parecia alheia até perceber com delay que o pai foi embora, então começou a chorar. — Não, para com isso, para com isso. Entra aqui, e cala a boca, senão vão me denunciar por mau trato a animais selvagens. O garoto arrastou os pés e sentou de costas ao Rogerinho. Ao lado do violão estraçalhado que pertenceu ao avô de Maurílio. Ele agradeceu pelo moleque estar de costas, porque assim não precisava ver aquele rosto tatuado e infeccionado. Logo voltou a fazer o que estava fazendo, que era encarar a parede vazia do quarto abandonado. Pela visão periférica, depois de algumas horas, teve a impressão de que o garoto estava se mexendo, mas deduziu ser uma das convulsões diárias que ele


tinha normalmente e não mudou o foco, estava concentrado em encara a parede vazia. Mas um barulho o distraiu. Renanzinho estava batendo a testa na parede. — Ei, para com essa merda aí! — ele puxou o garoto pelo ombro — Não vai sujar minha parede não, se quiser, se debata aqui no chão. Então, ele parou. Inclinou a cabeça pro lado. E, lentamente, a cabeça dele girou para trás. E voltou. E continuou girando como aqueles negoço de alumínio que fica girando em cima dos prédios. Rogerinho olhou aquilo com cautela. “Esse lance de ter filho com primo é complicado mesmo” e se afastou. Mas o garoto colocou os membros pra trás sobre o chão e caminhou pelo cômodo rapidamente. “Será que é isso que fazem no tal Kumon que esse menino fica o dia todo? Por isso eu sou contra essas coisas de música.” Renanzinho parou e caiu deitado no chão. Lentamente seu corpo se ergueu do chão, como que carregado por uma entidade. Uma entidade que não era muito forte, pois parecia estar tendo dificuldade em erguer o menino. — Rogério... — Uma voz que não era do Renanzinho saiu da boca dele. Ou talvez fosse dele, Rogerinho não tinha certeza se o menino já sabia falar. — Não tem biscoito não, pode ficar quieto aí até teu pai chegar. — Rogério... você invadiu minha casa... tomou tudo de mim. Renanzinho bamboleou no ar. — Caraleo meu, que menino pesado. Mas como eu dizia... rogerinho... — Que sua casa o que? A casa é minha, não sou teu pai não, agora da licença que eu to ocupado... — Rogerinho... eu sei do seu histórico com música, eu sei toda sua rotina, sei todos os crimes que cometeu, inclusive o que me fez sumir... — Mas você não ta aí, em minha frente ô idiota? — Rogério... Rogerinho foi até o outro cômodo. O garoto acompanhou flutuando no ar, com dificuldade. O motorista da sprinter azul e vermelha olhou no fundo dos olhos fundos e sem vida do garoto.


— Seu pai vai entender, que foi importante para sua educação. Então, com um pedaço de pau, acertou o garoto, que ficou jogado no chão. Quando Renan chegou, no dia seguinte, os dois estavam sentados no chão olhando a parede, como velhos amigos. — Às vezes a violência é o que faz a diferença na educação. — Rogerinho falou entregando o garoto a Renan, sem saber que o garoto planejava uma terrível vingança...



4- Lembranças do primeiro racha Renan deixava suas lágrimas se misturarem com a água do mar. Seu corpo submerso a água gelada e cheia de garrafas plásticas se misturava ao céu nublado. — Por que deus? Por que os bons vão-se assim? Como as ondas do mar?! — Ele gritou para a sprinter azul e vermelha que flutuava a distância e era sacudida pelo forte vendo que o atingia. O vento trouxe gotas gélidas de água e uma fralda suja para seu rosto. Enquanto limpava as fezes de um bebê (ou idoso) desconhecido de seu rosto, vislumbrou o céu atingir os tons alaranjados do pôr do sol. Então lembrou daquele dia, anos atrás, a primeira vez que os quatro do choque de cultura se reuniram... o tempo que se passou era desconhecido, e a memória de Renan, muito falha devido as diversas contusões sofridas penava para buscar uma memória concreta... Mas ele lembrou. Era um cruzamento em Niterói. Ele não lembrava qual, ou se aquilo realmente existiu. Mas ele caminhava, com sua camisa azul, os cabelos longos e um óculos escuro. Na mão, um squeeze recheado de bolo de cenhoura batido com fanta no liquidifcador. Renanzinho não era nascido ainda. Ou era e ele estava fugindo? Quantos anos o renanzinho tem mesmo? Ele se perguntou em vão. Na rua da frente, ele. Imponente, e forte como um carro forte. Rogério, rogerinho, com a camisa do flamengo, um jeans rasgado e ensanguentado e um acidente capilar sobre o qual ninguém falava a respeito. Uma tensão surgiu quando os dois pararam, há menos de um metro um do outro. Um impasse. Ele não lembrava bem, mas houve um impasse, e só havia um jeito de resolver. Ao seu lado, sentiu uma respiração animalesca. Um moleque que parecia ter vinte e poucos anos respirava pesadamente ao seu lado, no braço, um tribal que parecia feito no presídio. Uma sirene ecoava ao fundo. Era Júlio César que havia estacionado sua ambulância e se juntado a eles. — Eu senti cheiro de briga. — Julinho falou, aproximando o rosto dos dois. Um garoto magricela, saltou com elegância de um taxi, e seguiu na quarta rua do cruzamento em direção a eles. — Algum de vocês poderia me dar carona? — Ele perguntou com a voz gasguita. Maurílio não havia percebido o clima.


— Entra aí na ambulância, que já vai começar. —O primeiro que chegar na areia da praia vence. — Renan gritou. — É isso mesmo! Se sofrer acidente não tem desculpinha, perdeu! — Rogerinho pontuou. Os três viraram as costas, e sem muita opção, Maurílio seguiu para a âmbulância e sentou ao lado do passageiro. — Tem um rapaz aqui atrás — Ele falou olhando o quadradinho de vidro da parte de trás. — É só um ciclista que catei pelo caminho. — Julinho acendeu um cigarro e pôs na boca. Na época tinha os cabelos longos, e usava óculso escuros. Maurílio observou com cuidado aquele jovem com o braço forte e a cara de bravo. — Depois desse racha você me deixa no centro?— perguntou Maurílio cruzando as pernas. — Deixo onde você quiser. — Julinho piscou, mas Maurílio não viu, pois ele usava óculso escuro mesmo sendo a noite. “Você é um campeão. Um campeão” Renan dizia para si mesmo enquanto movia as mãos sobre o volante. Rogerinho colocou uma música muito alta para tocar dentro de seu carro. Era alguma do leigão urbana ou Gabriel o pensador. Talvez cazuza, não tinha certeza. — Agora! Os três carros desapareceram da pista como se tivessem se teletransportado. Maurílio sentiu o corpo contra o banco da Samu e ouviu a maca bater contra a porta traseira. Renan e Rogerinho trocavam caras feias pelo retrovisor um do outro cada vez que eram ultrapassados. Primeira curva, conseguiram virar a tempo. Rogerinho posava com força no acelerador extra que havia colocado porque 150km por hora era muito pouco e seguiu pela noite, mas Renan não ficaria para trás, pois havia adicionado energético de touro misturado na gasolina do carro para o melhor funcionamento e velocidade do veículo. Eles passavam tão rápido na pista que os pneus mal encostavam no chão. De repente, a lua se tornoou visível.


— Hoje a noite é de lua cheia?— Maurílio olhou o borrão amarelo pelo para-brisa com temor. — É sim, qual o problema? Precisa cortar o cabelo? — Não é isso... é que... Maurílio rasgou a própria camisa e o peitoral se estufou. Na curva seguinte a ambulância seguiu reto e caiu em um barranco. — Menos um — Rogerinho viu, habilmente pelo retrovisor. Ele sentia o vento bater na cara, e nunca se sentiu tão livre. — Viva a música! “Viva a música” o grito ecoou pela estrada, e nos ouvidos de Renan, que se irritou profundamente, e mudou o carro para a oitava marcha. Uivos de lobo soaram pela estrada, distantes. Os minutos finais chegaram. O carro deles estava pareado, e tão rápido que Rogerinho nem ouvia mais a música, pois as leis da física faziam o som tocar apenas depois dele já ter passado pelo lugar. Rogerinho a esquerda, Renan a direita. Uma batida leve na lateral. Os dois se olhavam como dois animais, furiosos, lutando por um espaço no poste para urinar. Estavam na velocidade máxima. Então, ao mesmo tempo, bateram num poste alguns metros antes da areia da praia e o carro fundiu em um só, deixando Renan do lado do passageiro ao lado do Rogerinho, ambos com a testa sangrando. Depois de uma amnésia de alguns segundos, Eles apertaram as mãos. — Mas como você está do lado do passageiro, eu venci — Rogerinho falou, e Renan acatou com tranquilidade, pois as vezes a derrota para alguém não significava perder. Mas sim a chance de ter uma revanche de forma humilhante no futuro. Atrás deles uma ambulância, muito amassada, parou lentamente. Do lado do motorista, Julinho caiu, Apenas de cueca, completamente mordido e com uma das lentes do óculos quebrada. — Eu fui atacado por uma fera selvagem... Enquanto isso, Maurílio dormia, no banco do passageiro, como um anjinho, após tocar as trombetas do apocalipse.


Agora Renan olhava a distância, o carro do amigo afundado no mar. Não só perdera feio a revanche, como tinha que ver o amigo se aforar, ou morrer asfixiado com uma sacola. — Por queeeeeeeeeeeee? Sua voz ecoava por todo oceano, mas era ignorada pelos peixes, que mesmoque fossem inteligentes, não entendiam a fala humana. Atrás, Maurilio e Julinho desciam o morro de areia e viram de longe a cena. — O que vai ser do programa agora? — Maurílio perguntou — Será que eu apresento agora? — Nem pensar, quem apresenta sou eu, já que eu até pareço o Rogerinho, que deus o tenha... — Se existir Deus... — Maurílio murmurou, observando Renan ajoelhando dentro do mar e chorar. Renan lembrou de todos os momentos incríveis que o Rogerinho lhe proporcionara e chorou mais ainda. Apesar de ainda estar dentro da cota de choro diária. Então resolveu se levantar e virar as costas pro mar. Caminhou com dificuldade. As ondas iam e voltavam, suas pernas pesadas. Então ao longe, visualizou aquilo, inesperado. Os golfinhos haviam trazido de volta a van e jogado na areia. Eles olharam pra Renan com um olhar profundo que parecia falar. E dizer “tira essa merda daqui” Eles saíram e Renan correu, desesperado. Abriu a porta e o piloto caiu, desacordado na areia. — Ele engoliu muita água... só existe algo pra fazer nessas horas. Ele aproximou-se do amigo e esmurrou seu peito com violência. Repetidas vezes, até ele começar a cuspir água, e soltar água pelo nariz. — Eu vi um golfinho, não quero saber de golfinho hein.— ele levantou atordoado. — Rogerinho! Eu sabia! Deus não ia nos abandonar. Seu desgraçado era pra eu ter vencido essa revanche, Desgraçado. Eu te amo! Os dois saíram rolando na areia em uma mistura de abraços e socos violentos, enquanto Renan gritava, ora de raiva ora de alegria.


Maurílio e Julinho fumavam um cigarro sentados no morro, observando o mesmo ciclista (agora conhecido como Cleyton) ser atropelado por um parapeite. — Hoje é lua cheia de novo né?— Julinho perguntou. — Não. É lua nova. — Maurílio respondeu. — Ah... Eles observaram os amigos rolarem na areia até serem atropelados por outro parapente. ___________________________________________________________________ Editorial(?) Fanfic tem editorial? Não sei. Achou que não ia ter fanfic da Coisarine? Achou errado, caro leitor otário!

Basicamente eu tive a ideia pra segunda fanfic, e comecei a escrever a primeira. no fim das contas resolvi contemplar cada um desses personagens com uma viagem lisérgica pra cada um. Não vou revisar esse texto a não ser que por força maior, mas devo dizer que me diverti bastante e ri sozinha de cada besteira e cada referência que procurei e coloquei aqui. Espero não escrever mais nenhuma fanfic do choque de cultura depois dessas. Abraços e até mais. ♥


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