Entrevista campicarn Tecnoalimentar

Page 1

Dossier carnes

«Queremos reforçar a nossa posição no mercado externo» Entrevista: Ana Clara Fotos: Campicarn

Helena Martins, administradora da Carnes Campicarn e já 2ª geração, fala da marca, que começou a atividade em 1987 e atua na área da produção animal, abate, comercialização, transformação e distribuição de carne de bovino. «A confiança é o fator mais importante que liga quem produz e vende a quem consome, assim a Campicarn posiciona-se num mercado de exigência, onde a preocupação de colocar alimentos seguros é uma constante», salienta. 20

TecnoAlimentar: Fale-me um pou-

co da história da Campicarn, desde a sua fundação até aos dias de hoje. Que evolução teve e onde se posiciona atualmente? Helena Martins: A Carnes Campicarn, S.A. está sedeada em Vila Nova de Famalicão e iniciou a sua atividade em 1987, inspirada pela visão do Sr. Manuel Martins, que desde sempre esteve ligado à criação e comercialização de gado vivo. Detentor de uma personalidade única, caracterizada essencialmente pela capacidade de trabalho, espírito empreendedor, dinamismo, rigor e profissionalismo, desde muito cedo viu no negócio onde cresceu uma oportunidade de fazer mais e melhor, e assim começou pela comercialização de carne de bovino fresca, até que um dia pudesse alcançar a transformação de carne, que acreditava ser o futuro do mercado. Em 1998 inaugurou a sua primeira sala de desmancha e desossa, que rapidamente esgotou a

sua capacidade de produção, tendo em 2005 inaugurado uma nova sala com capacidade para desmanchar cerca de 180 carcaças por dia. Mais tarde, dada a necessidade de apresentar produtos inovadores e diferenciadores, construiu uma área destinada ao corte-fino, procedendo à preparação e fatiamento da carne para colocação em cuvete, oferecendo os produtos designados de LS – Livre Serviço. Em 2009 procedeu à inauguração de uma área destinada aos Preparados de Carne Frescos e Ultracongelados. Já em 2016, e já movimentando cerca de 500Ton de carne de bovino por semana, o fundador da Campicarn consolidou mais uma vitória adquirindo um matadouro sedeado no Alentejo, o que permitiu à organização controlar toda a cadeia de valor. Ao longo destes 30 anos, a Campicarn tem vindo a apostar na melhoria contínua dos processos de fabrico e produtos, conseguindo assim crescer, consolidar negócios e criar uma identidade

tecnoalimentar 15


Dossier carnes

própria unanimemente reconhecida no mercado nacional e internacional, onde o reconhecimento da qualidade dos seus produtos pelos clientes/consumidores são a evidência da sua satisfação. TA: A marca atua na área da pro-

dução animal, comercialização de gado vivo, abate, comercialização, transformação e distribuição. Fale-me um pouco de cada uma das áreas e de que forma a empresa também inovou na sua atividade. HM: A Campicarn tem instalações próprias de produção animal e abate mas também tem ligações privilegiadas a produtores e matadouros nacionais e internacionais certificados com quem tem parcerias sólidas e duradouras. Para além da comercialização em carcaça realizada no seu entreposto comercial, destinada sobretudo ao mercado tradicional – talhos - a Campicarn atingiu também um nível de liderança na transformação (desmancha, embalamento e processamento) de carnes de bovino que chegam praticamente a toda a distribuição moderna do país (Hipermercados, Supermercados e Comercialização Especializada). Os seus produtos transformados chegam sobre várias formas aos diferentes players de mercado, nomeadamente: peças embaladas em vácuo, carne fatiada embalada em cuvetes de peso fixo ou variável, em atmosfera protetora, de diferentes formatos e gramagens, embaladas em skin pack e ainda os preparados de carne frescos ou ultracongelados, hambúrgueres, almôndegas, preparados de carne picada, carnes marinadas em embalagens próprias para ir ao forno. Todos os produtos Campicarn chegam ao seu destino através de frota própria, garantindo assim um serviço exclusivo e de qualidade. TA: Estão apenas no mercado na-

cional ou exportam? Fale-me um pouco de cada uma dessas vertentes e, ao nível da exportação onde estão e que mercados futuros têm eventualmente na calha. HM: A Campicarn está maioritariamente presente no mercado nacional, mas a globalização levou a empresa a alargar horizontes, sendo um dos seus objetivos reforçar a sua quota de mercado no mercado externo, onde tem vindo a apostar e dinamizar de

2 o . trimestre 2018

forma a passar a barreira do mercado europeu e africano, onde já opera. TA: Quais são, no vosso caso, as principais barreiras à exportação e internacionalização? HM: Existem algumas barreiras à exportação, nomeadamente: Técnicas, mais direcionadas para questões sanitárias e de rotulagem, Tarifárias, relacionadas com obstáculos identificados em cada mercado que cruzados com as deretrizes da Organização Mundial do Comércio criam algumas dificuldades e ainda as Comerciais que envolvem o mercado consumidor, distribuição e logística. Estas subordinações a que as organizações têm que obedecer para obter as certificações necessárias tornam as operações de exportação um pouco morosas numa era de “just in time”.

Todos os produtos Campicarn chegam ao seu destino através de frota própria, garantindo assim um serviço exclusivo e de qualidade.

TA: Qual o peso do mercado externo para vós em termos de faturação? HM: O mercado externo tem um peso residual na faturação da Campicarn, cerca de 10%, sendo que é sua intenção reforçar esse peso nos próximos tempos. TA: Falando da qualidade e segurança alimentar, uma área cada vez mais exigente e em termos de obrigatoriedades legais, cada vez mais apertado. Quais são, para vós, os critérios essenciais nesta matéria? HM: A confiança é o fator mais importante que liga quem produz e vende a quem consome, assim a Campicarn posiciona-se num mercado de exigência, onde a preocupação de colocar alimentos seguros é uma constante. A empresa encontra-se certificada de acordo com a norma global de segurança alimentar – BRC Food, reconhecida pela Global Food Safety Iniciative que visa harmonizar as normas internacionais de segurança alimentar e que atende às exigências dos maiores produtores e vendedores de produtos alimentares de todo o mundo. TA: Falando da inovação e processos

tecnológicos usados por vós nesta indústria de carnes de bovino. Como descreveria essa parte empresarial? Que modernização ocorreu ao longo destas três décadas de existência e em termos tecnológicos onde se posiciona hoje a Campicarn?

21


Dossier carnes

A indústria, impulsionada pela criação da rede nacional de abate dos anos oitenta, substituiu os matadouros municipais com a criação de matadouros modernos.

HM: Nos últimos 30 anos houve uma grande evolução no mercado da carne. O aumento do poder de compra das populações, trouxe consigo consumidores mais exigentes e conhecedores. Essa evolução traduziu-se num aumento de consumo mas também trouxe desafios para os industriais da carne, pois foi-se acentuando a necessidade de produzir mais e melhor. Assim, ao longo dos anos a Campicarn foi investindo em equipamentos e tecnologias que permitiram aumentar e otimizar a sua capacidade de produção, dispondo de linhas completamente automatizadas, aumentando a sua eficácia nos processos produtivos e na gestão da cadeia de valor, além de reduzir consumos energéticos. Todos estes fatores conjugados posicionam a empresa na linha da frente no que diz respeito à liderança tecnológica do setor. TA: De que forma é feito, por

exemplo, o controlo de processos de fabrico? HM: A Campicarn tem equipas internas de qualidade que controlam e auditam os diferentes processos industriais, que se orientam pelos procedimentos do sistema HACCP (Hazard Analysis Critical Control Point) através da identificação e controlo de perigos relevantes para a segurança alimentar. Essas equipas atuam não só no controlo de processos de fabrico, como ao longo de toda a cadeia, ou seja desde a produção animal até à “mesa do consumidor”, procurando uma comunicação constante entre clientes, fornecedores e colaboradores. TA: Quantos trabalhadores em-

prega a empresa e qual o objetivo nesta matéria nos próximos anos? Aumentar recursos humanos? HM: Neste momento a empresa conta com 120 colaboradores e sendo que é sua intenção aumentar o volume de negócios no corrente ano e próximos em cerca de 10%, naturalmente alocará de forma equilibrada, mais recursos humanos ao seu negócio. TA: Como olha para a indústria da carne em Portugal, em termos de organização setorial, e na sua opinião, quais os desafios que se colocam às empresas e fileira?

22

HM: A indústria de carne em Portugal tem sofrido uma evolução muito significativa, o que reflete também a evolução da fileira da carne. Na generalidade as explorações animais investiram em genética, em instalações e criaram condições de proteção do meio ambiente. A indústria, impulsionada pela criação da rede nacional de abate dos anos oitenta, substituiu os matadouros municipais com a criação de matadouros modernos. Como é do conhecimento geral, a sustentabilidade é hoje um tema diário: Preocupação com o bem-estar animal; Preocupação ambiental; Tecnologia; Saúde pública; Gestão. O grande desafio que se coloca é a capacidade de resposta eficiente às questões que o mercado consumidor coloca: • Rastreabilidade, o consumidor quer saber a origem da carne que consome, como foi produzido o animal, o impacto ambiental da sua criação. • Saúde, consumidor quer estar seguro da carne que come, aposta em boa genética, bom maneio produtivo, bom maneio de abate e transformação da carne. • Inovação, com a garantia dos pontos anteriores o consumidor quer ser surpreendido com novidades. • A fileira da carne tem que ter capacidade para responder a estes desafios e salvaguardar margens para investimentos e retribuições a todos os intervenientes, num momento difícil onde estas são afetadas por um ambiente competitivo e feroz. TA: Por fim, quais os principais de-

safios que se colocam à Campicarn no futuro? HM: Para a Campicarn os desafios são vários, desde o continuar a ultrapassar barreiras, chegando a mais mercados externos e internamente continuar apostar: na responsabilização social e ambiental da empresa, continuar focada nas novas tendências de consumo que a nova geração de consumidores traz consigo, apresentando produtos e hábitos alimentares saudáveis, diferenciadores, inovadores, produtos autênticos e sustentáveis.

tecnoalimentar 15


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.