Propostas empresariais de políticas públicas para uma economia de baixo carbono no Brasil: ENERGIA ELÉTRICA
EPC
Propostas empresariais de políticas públicas para uma economia de baixo carbono no Brasil
ENERGIA ELÉTRICA
CARTA
O
Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) é um espaço aberto de estudo, aprendizado, reflexão, inovação e de produção de conhecimento, composto por pessoas de
formação multidisciplinar, engajadas e comprometidas, e com genuína vontade de transformar a sociedade. O GVces trabalha no desenvolvimento de estratégias, políticas e ferramentas de gestão públicas e empresariais para a sustentabilidade, no âmbito local, nacional e internacional. E tem como norte quatro linhas de atuação: (i) formação; (ii) pesquisa e produção de conhecimento; (iii) articulação e intercâmbio; e (iv) mobilização e comunicação. Nesse contexto, Empresas pelo Clima (EPC), Inovação e Sustentabilidade na Cadeia de Valor (ISCV), Desenvolvimento Local & Grandes Empreendimentos (IDLocal) e Tendências em Serviços Ecossistêmicos (TeSE) são as Iniciativas Empresariais do GVces para cocriação, em rede, de estratégias, ferramentas e propostas de políticas públicas e empresariais em sustentabilidade. São abordadas questões em desenvolvimento local, serviços ecossistêmicos, clima e cadeia de valor.
As Iniciativas Empresariais do GVces em 2013:
EPC Contribuição para a transição a uma economia de baixo carbono por meio de instrumentos econômicos (mercado de carbono, política fiscal e crédito verde) aplicados à expansão das fontes renováveis na matriz elétrica brasileira e ao fomento a soluções em TIC (tecnologia de informação e comunicação) voltadas à gestão das emissões e de riscos climáticos.
ISCV cocriação de soluções empresariais para os desafios de gestão de resíduos e pós-consumo, envolvendo pequenos empreendimentos
IDLocal cocriação de diretrizes empresariais de atuação visando à proteção integral de crianças e adolescentes no contexto de grandes empreendimentos
TeSE cocriação de estratégias de gestão empresarial em valoração de serviços ecossistêmicos e gestão de recursos hídricos.
PROPOSTAS EMPRESARIAIS DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA UMA
economia de baixo carbono no Brasil ENERGIA ELÉTRICA
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
EXPEDIENTE Realização FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) Coordenação-Geral Mario Monzoni Vice-Coordenação Paulo Branco Coordenação Executiva Renato Armelin Coordenação Técnica Beatriz Kiss Equipe Betânia Vilas Boas, Mariana Xavier Nicolletti Consultoria Técnica Ricardo Baitelo Colaboração George Magalhães, Ricardo Dinato Revisão Kátia Shimabukuro Projeto Gráfico e Edição de Arte Vendo Editorial AGRADECIMENTO Agradecimento especial à Diretoria de Comunicação e Marketing da FGV-EAESP (DICOM)
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SUMÁRIO Glossário Sumário executivo Introdução Fontes de geração de energia elétrica Matriz energética brasileira Estrutura e governança do setor energético brasileiro Propostas empresariais Referências bibliográficas
06 08 10 15 37 53 68 71
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Figura 1: Os potenciais de eficiência energética. PG. 11
Tabela 1: Emissões de GEE de recursos energéticos (em gCO2e/ kWh). PG. 25
Figura 2: Matriz de energia elétrica nacional em 2011 e 2012. PG. 34 Figura 3: Sistema atual brasileiro de operação e despacho. PG. 36 Figura 4: Modelo sugerido com energia de base combinada à energia renovável flutuante. PG. 37 Figura 5: Modelo sugerido com energia renovável flutuante priorizada. PG. 37
Tabela 2: Relação entre Capacidade Instalada e Área ocupada de Recursos Energéticos (ordenados a partir da menor relação MW/ km2). PG. 29 Tabela 3: Fatores de Empregos para fontes energéticas (em empregos por MW). PG. 30 Tabela 4: Potenciais brasileiros de fontes energéticas. PG. 38
Figura 6: Emissões de GEE do Brasil por setor: 2005 e projeção para 2010. PG. 40
Tabela 5: Fatores de Emissão por país – valores médios entre os anos 1999 e 2002. PG. 42
Figura 7: Evolução da capacidade instalada hidrotérmica do SIN. PG. 44
Tabela 6: Fatores de Emissão do Sistema Interligado Nacional (SIN) – valores médios anuais. PG. 42
Figura 8: Evolução da capacidade instalada por fonte de geração em 2013 e em 2021, conforme o Plano Decenal de Energia (em %). PG. 46
Tabela 7: Participação das fontes de energia na matriz nacional – capacidade instalada. PG. 43
Figura 9: Acréscimos na capacidade instalada por tipo de fonte, de 2011 a 2021, conforme o Plano Decenal de Energia (em %). PG. 47 Figura 10: Acréscimos na capacidade instalada por tipo de fonte, de 2011 a 2021, conforme o Plano Decenal de Energia (em MW). PG. 47 Figura 11: Participação setorial nas emissões de GEE do Brasil – comparativo 2011-2021. PG. 48 Figura 12: Cadeia Produtiva do Setor Elétrico Brasileiro, 2013. PG. 51 Figura 13: Estrutura Institucional do Setor Elétrico, 2013. PG. 52 Figura 14: Transporte de Energia para Consumidor Cativo. PG. 55 Figura 15: Sistematização do transporte e comercialização de energia para consumidores livre ou especial. PG. 56
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Tabela 8: Evolução da capacidade instalada por fonte de geração (em MW). PG. 45 Tabela 9: Resultados do exercício realizado com as empresas da EPC – cenários da “matriz elétrica ideal” em 2020. PG. 50 Tabela 10: Resultado Leilão de Reserva, 2011. PG. 63
Lista de Gráficos Gráfico 1: Estrutura da malha de transmissão de energia elétrica por tensão – Brasil, 2012. PG. 54 Gráfico 2: Número de Agentes por Classe. PG. 56 Gráfico 3: Fonte de Energia - Leilão de Energia Nova, tipo A-5, 2011. PG. 62
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GLOSSÁRIO Biogênico: produzido a partir de processos biológicos. Capacidade instalada: somatório das potências instaladas, concedidas ou autorizadas, das usinas de geração de energia elétrica em operação localizadas no sistema, definidas conforme legislação específica da Aneel, ponderadas pelas respectivas participações da empresa nestas usinas. CO2 biogênico: dióxido de carbono emitido a partir de processos biológicos. CO2 equivalente: resultado da multiplicação das toneladas emitidas de gases de efeito estufa (GEE) pelo seu potencial de aquecimento global, sendo uma medida utilizada para comparar as emissões de vários GEE baseadas no GWP - Global Warming Potential, em português, Potencial de Aquecimento Global. Cogeração qualificada: processo de produção combinada de calor útil e energia mecânica, geralmente convertida total ou parcialmente em energia elétrica, a partir da energia química disponibilizada por um ou mais combustíveis. Consumidor cativo: aqueles que adquirem energia elétrica e estão vinculados à distribuidora de energia, que é o fornecedor compulsório, com tarifa regulada. O consumidor cativo opera sob a regras do Ambiente de Contratação Regulado (ACR). Consumidor livre: aqueles que adquirem energia livremente negociada. O consumidor livre toma para si a tarefa de gerir suas compras de energia e riscos associados, dentro do Ambiente de Contratação Livre (ACL). Curva de carga: demanda de energia elétrica requerida pelo sistema de distribuição. A curva de carga representa graficamente as demandas solicitadas à instalação elétrica em cada instante. Energia assegurada: máxima produção de energia que pode ser mantida quase que continuamente pelas usinas hidrelétricas ao longo dos anos, simulando a ocorrência de cada uma das milhares de possibilidades de sequências de vazões criadas estatisticamente, admitindo certo risco de não atendimento à carga, ou seja, em um determinado percentual dos anos simulados, permite-se que haja racionamento dentro de um limite considerado aceitável pelo sistema. Na regulamentação atual, esse risco é de 5%. Energia de base: energia elétrica produzida de forma contínua, em condições econômicas aceitáveis pelo mercado. Energia de ponta: energia elétrica despachada no horário de maior demanda, atribuído pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) entre 17h às 22h.
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Fontes primárias de energia: são todas aquelas provenientes diretamente da natureza, como: água, vento, radiação solar, combustível fóssil, entre outros, a partir das quais é possível a produção de fontes secundárias de energia, como: eletricidade e gasolina. Garantia física: montante, em MW médios, correspondente à quantidade máxima de energia da usina que poderá ser utilizada para comprovação de atendimento de carga ou comercialização por meio de contratos, estabelecido na forma constante da Portaria MME nº 258, de 28 de julho de 2008. Garantia física do Sistema Interligado Nacional (SIN): correspondente à máxima energia que o SIN pode suprir a um dado critério de garantia de suprimento. Geração centralizada de energia: usinas geradoras conectadas a um sistema de transmissão de alta voltagem, que leva a energia gerada até os centros de consumo. Geralmente são usinas de grande porte conectadas ao sistema de transmissão. Geração descentralizada de energia: Conectadas a um sistema de rede de distribuição local, esse tipo de energia, produzida no entorno ou no próprio local de consumo, supre casas e escritórios, em vez de depender de um sistema de transmissão de alta voltagem. A geração descentralizada, que inclui sistemas isolados totalmente independentes das redes públicas, reduz o desperdício da energia transmitida por longas linhas de usinas hidrelétricas até os principais locais de consumo. Geração distribuída: unidades geradoras de energia elétrica de menor capacidade, conectadas na rede de distribuição. Geração inflexível: usinas térmicas que operam em regime de base e ininterruptamente. Rede básica: instalações de transmissão do Sistema Interligado Nacional - SIN de propriedade de concessionárias de serviço público de transmissão, definidas segundo critérios estabelecidos na regulamentação da Aneel. Resolução Normativa Aneel n. 414, de 9 de setembro de 2010 (Diário Oficial de 15 de set. 2010, seção 1, p. 116). Rede de distribuição: conjunto de estruturas, utilidades, condutores e equipamentos elétricos, aéreos ou subterrâneos, utilizados para a distribuição da energia elétrica, operando em baixa, média e/ou alta tensão de distribuição (inferior a 230 kV).
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Mercado livre: mercado onde o consumidor estabelecido contrata a energia diretamente com o gerador ou com a comercializadora, por meio de contratos de longo prazo e de curto prazo quando necessário, pagando para a concessionária apenas a TUSD (tarifa de uso do sistema de distribuição). Mercado cativo: mercado onde o consumidor estabelecido não contrata a energia e não pode escolher o fornecedor, e paga apenas a energia utilizada, ou seja, a energia medida. Mercado spot: para o setor elétrico, mercado spot se refere ao pagamento à vista pela compra de energia elétrica, com prazo curto para entrega da remessa comercializada. Poder concedente: para fins dispostos em lei, considera-se Poder Concedente: a União, o estado, o Distrito Federal ou o município, em cuja competência se encontre o serviço público, precedido ou não da execução de obra pública, objeto de concessão ou permissão. Potencial econômico: constitui uma parte do potencial técnico de uma fonte energética, determinado a partir da implementação e viabilidade econômica e financeira de sua exploração. Potencial de mercado: é o que se espera obter dadas as condições de contorno (tais como o preço da energia, as preferências dos consumidores e as políticas públicas). O potencial de mercado reflete os obstáculos e as imperfeições de mercado que fazem que o potencial técnico seja atingido. Potencial técnico ou potencial realizável: constitui o potencial de geração de energia de uma fonte, considerando os aspectos tecnológicos da fonte em questão. Potencial teórico: é o potencial total de geração de energia a partir de um insumo, definido a partir de fatores naturais e climáticos. O potencial teórico de uma fonte não considera os aspectos tecnológicos. Usinas operando na margem: refere-se às usinas que são despachadas para geração de energia apenas em horário de pico.
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sumário executivo
SUMÁRIO EXECUTIVO O presente estudo propõe a construção de uma eco-
fator de emissão do SIN
nomia de baixo carbono para o setor elétrico brasi-
As propostas relacionadas ao fator de emissão do SIN (va-
leiro a partir do ponto de vista do setor empresarial.
lor utilizado para o cálculo das emissões de GEE relacionadas à
Baseado no contexto nacional de geração, distribui-
energia elétrica consumida da rede) focam no aumento da trans-
ção e transmissão da energia elétrica no Brasil e no trabalho desen-
parência e na criação de incentivos para a aquisição de energia
volvido pela Plataforma Empresas pelo Clima (EPC), em conjunto
renovável no mercado livre. Como consequência, almeja-se fo-
com suas empresas-membro, as propostas empresariais de políti-
mentar a escolha dos consumidores por energias mais limpas
cas públicas aqui apresentadas visam uma maior sustentabilidade
e renováveis a partir da transparência de informações sobre
da matriz elétrica nacional, desde a geração até o consumo final.
emissões de GEE, atreladas à geração e do reconhecimento de
Para que seja possível a transição do modelo atual para um
esforços em reduzir as emissões relacionadas à energia elétrica.
modelo com baixas emissões de gases de efeito estufa (GEE)
Divulgação e transparência quanto ao cálculo do fa-
no setor elétrico brasileiro, deve ser levada em consideração a segurança energética no fornecimento de energia, com menor dependência de fontes fósseis para a geração, diversificando a matriz elétrica nacional. Questões relevantes, como o aumento da demanda por energia e a competitividade dos produtos e serviços oferecidos pelas empresas brasileiras, também foram consideradas na construção dos cenários e propostas. Assim, as propostas empresariais de políticas públicas vol-
tor de emissão do Sistema Interligado Nacional (FE SIN) pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Criação de um banco de dados de fatores de emissão específicos por usina geradora, que esteja disponível aos consumidores do mercado livre.
Recálculo do FE SIN considerando apenas a energia
comercializada no mercado cativo.
tadas ao setor elétrico visam o horizonte do ano de 2020 e são apresentadas a partir de três elementos que compõem o siste-
planejamento estratégico
ma brasileiro: o Sistema Interligado Nacional (SIN), o planeja-
Outro aspecto fundamental do sistema elétrico brasileiro
mento energético e os incentivos voltados ao desenvolvimento
é o planejamento energético, baseado atualmente no Balan-
de fontes específicas de energia renovável.
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ço Energético Nacional (BEN) e no Plano Decenal de Energia (PDE). Esses documentos compõem a principal ferramenta de planejamento, na qual os gestores públicos se baseiam para a
ração e consumo de energia elétrica e, consequen-
temente, as perdas no processo de transmissão e distribuição da energia.
tomada de decisões sobre leilões de energia, usinas de energia a serem construídas e outras definições relacionadas à estrutu-
incentivo às energias renováveis
ra básica do sistema elétrico nacional. Sendo a estrutura do sis-
O sistema elétrico brasileiro é atualmente majoritariamen-
tema fundamental para uma oferta de energia suficiente e cada
te composto por fontes renováveis de energia, especialmente
vez mais renovável, a elaboração do planejamento energético
a hídrica. Apesar desse fator já constituir vantagem competitiva
não deve ser trivial. Portanto, propõe-se para o planejamento
para o Brasil, é necessário ampliar a participação das demais
energético brasileiro:
fontes renováveis alternativas (como a eólica, solar e biomassa),
A criação de uma instância de governança com envol-
vimento dos atores e sociedade civil na elaboração do Plano Decenal de Energia.
A integração do planejamento de usinas de geração
e de linhas e estruturas de transmissão e distribui-
ção de energia, por meio de leilões programados e diretamente relacionados entre si.
compondo uma matriz elétrica diversificada, mais resiliente às mudanças do clima e com emissões de GEE reduzidas. A diversificação da matriz passa pelos campos regulatório, tecnológico e econômico, sendo necessários incentivos diversos para a promoção das energia renováveis alternativas, como:
Criação de leilões de energia nova específicos para
cada fonte renovável alternativa: solar, eólica e bio-
A revisão dos prazos de licenciamento ambiental nos
massa.
das estruturas de transmissão de energia, visando
liação dos leilões de energia nova, que passarão a
compatibilidade das datas de execução dos projetos.
gia (R$/MWh).
processos de construção das usinas novas e também uma maior integração de projetos relacionados e a O desenvolvimento de pesquisas sobre a transmis-
são em linhas de Ultra-Alta Tensão (UAT), visando a redução das perdas operacionais e otimização das redes.
Maior investimento na construção de linhas de trans-
missão de alta tensão, aliadas à modernização e substituição de equipamentos obsoletos da rede de transmissão e distribuição de energia.
Incentivos para a implementação da geração distri-
Inclusão de critérios variáveis no processo de ava-
considerar outros critérios, além do preço da enerIncentivos e investimentos para expansão da oferta
de energias renováveis no mercado livre, como:
descontos nas tarifas de energia proveniente de
fontes renováveis, tornando estas opções mais competitivas;
flexibilização dos contratos de compra de energia no
mercado livre, possibilitando contratos com período inferior a 5 anos.
buída, reduzindo as distâncias entre os locais de gewww.fgv.br/ces/epc
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introdução O Brasil desempenha um papel impor-
marcou 22%, o de energia dobrou sua represen-
tante no cenário econômico mundial,
tatividade, passando para 32% do inventário na-
sendo reconhecido por sua matriz elé-
cional. Apenas no setor de energia, o aumento das
trica predominantemente renovável e
emissões de GEE no período 2005-2010 foi de 21,4%,
pela grande disponibilidade de recursos naturais em
seu território. Além disso, o país também foi prota-
1
Lei no. 12.187, de 29 de
dezembro de 2009.
10
1
passando de 328 para 399 MtCO2e.
Apesar da redução de 38,7% no volume total
gonista em 2009 ao lançar a Lei nº 12.187 , que institui
de emissões de GEE no período 2005-2010, a pre-
a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC.
visão é que as emissões totais do Brasil cheguem
A partir dessa lei, que estabeleceu uma meta volun-
a 3,2 bilhões de toneladas de CO2e em 2020, se
tária nacional para a redução das emissões de gases
mantidas as projeções feitas em 2010. Portanto,
do efeito estufa (GEE) do país, de 36,1% a 38,9% em
para que seja cumprida a meta nacional de redução,
relação ao cenário de emissões projetado (business
grandes esforços serão necessários em diversos se-
as usual) para o Brasil até 2020, muitos foram os avan-
tores para garantir que valor não ultrapasse a marca
ços na discussão das questões climáticas.
de 2 bilhões de tCO2e.
Desde então, o cenário brasileiro de emissões
As emissões relativas à energia elétrica com-
de GEE evoluiu: em 2005, as mudanças no uso da ter-
põe parte importante do setor energético, contri-
ra e o desmatamento representavam mais da metade
buindo principalmente pelo uso de combustíveis
das emissões nacionais (57%), as emissões relativas à
fósseis para a geração elétrica. O setor elétrico
energia (considerando energia elétrica, transportes
foi responsável pela emissão de 30 MtCO2e em
e combustíveis) respondiam por apenas 16% do total
2011 (8% do total do setor energético), tendo
das 2,03 bilhões de toneladas de CO2e registradas
emissões projetadas de 68 MtCO2e em 2020
naquele ano. Com a redução significativa do desma-
(MME; EPE, 2012). Esse aumento é reflexo da estra-
tamento (aproximadamente 76,1%) e o aumento da
tégia atual de investir em uma participação cada
demanda por energia nos diversos setores, o cenário
vez maior de usinas termelétricas fósseis na matriz
projetado para 2010 pelo Ministério da Ciência, Tec-
nacional, em detrimento de priorizar investimentos
nologia e Inovação (MCTI) reflete uma nova realida-
na expansão das fontes renováveis alternativas para
de: enquanto o setor de uso da terra e florestas
suprir a crescente demanda.
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Figura 1
Fonte: MCTI, 2013.
2005 Emissões de 2,03 bilhões de toneladas de CO2e
2005 Emissões de 2,03 bilhões de toneladas de CO2e
Para que o setor elétrico possa contribuir na construção de uma economia de baixo carbono,
16%
é fundamental que sejam priorizadas as fontes renováveis, diversificando a matriz elétrica na-
4%
57%
cional e substituindo gradativamente as fontes
22% 2%
20%
fósseis. Essa estratégia contribuirá não somente
32%
35% 7%
para a redução das emissões de GEE associadas à
4%
eletricidade, mas também proporcionará ao setor empresarial brasileiro maior competitividade de
Energia
seus produtos e serviços no cenário internacional,
Agropecuária
Tratamento de resíduos
Processos industriais
Uso da terra e florestas
com menor emissão associada. Essa mudança na matriz elétrica é viável, desde que sejam tomadas decisões de políticas públicas
vel nos últimos cinco anos, especialmente para as
nesse sentido. Há alternativas para a promoção de
energias renováveis: no ano de 2012, o setor mo-
fontes renováveis nos campos regulatório, fiscal,
vimentou 269 bilhões de dólares no mundo – cifra
tributário e tecnológico. Como exemplo, podem
cinco vezes superior à quantidade movimentada
ser citadas a microgeração e as redes inteligentes
em 2004 (PEW, 2013). O crescimento das energias
(ou smart grids), que descentralizam a geração de
solar e eólica nos últimos quatro anos foi possível
energia, reduzindo as perdas técnicas na transmissão
em função de medidas e programas de incentivos
e promovendo a expansão de tecnologias como a
e pacotes de estímulo econômico, minimizando os
solar fotovoltaica. A criação do Sistema de Compen-
efeitos da redução de crédito no mercado financei-
sação de Energia (Resolução Normativa n° 482 da
ro como efeito da crise financeira global. Como con-
Aneel), em 2012, foi um grande avanço nesse senti-
sequência, a capacidade instalada de energia solar
do, permitindo que micro e minigeradores de fontes
fotovoltaica quadruplicou e a de eólica, mais do que
incentivadas (hídrica, solar, biomassa e eólica) se co-
dobrou nesse período.
nectassem à rede e vendessem a energia excedente.
Nesse cenário, a Plataforma Empresas pelo
O mercado tem-se mostrado altamente favorá-
Clima (EPC) vem discutindo desde sua criação, em
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2009, questões relacionadas às mudanças climá-
12
energética brasileira em bases sustentáveis.
ticas no contexto do setor empresarial. O estudo
A atuação da EPC na formação de líderes
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para
para uma economia de baixo carbono e as dis-
uma Economia de Baixo Carbono no Brasil: Energia,
cussões sobre gestão de emissões e da busca por
Transportes e Agropecuária, lançado em novembro
uma maior competitividade para o setor empresa-
de 2010, apontou caminhos para a evolução do se-
rial brasileiro orientam o presente estudo, que pro-
tor energético nacional a partir da promoção de in-
move uma discussão mais aprofundada sobre o
vestimentos em: (i) fontes renováveis de energia; (ii)
tema energia com foco no setor elétrico e nas
conservação e uso eficiente dos recursos energéti-
perspectivas para o ano de 2020.
cos; (iii) modais de transporte eficientes e de menor
As propostas de políticas públicas aqui apre-
custo relativo; (iv) sustentabilidade na mobilidade
sentadas foram elaboradas a partir das contribuições
urbana; e (v) adoção em larga escala de práticas
dos membros da EPC em 2013 e refletem as oportu-
agropecuárias sustentáveis. Essas propostas visam
nidades para a construção de uma matriz elétrica
contribuir para o fortalecimento, aliado ao desen-
mais renovável e diversificada. Também promove a
volvimento tecnológico, da competitividade da
discussão de entraves e desafios do setor, tão mutá-
indústria nacional, a fim de promover a segurança
vel e vulnerável às mudanças do clima.
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ENERGIA 1. 1.1. 1.1.1. 1.1.2. 1.2. 1.2.1. 1.2.2. 1.3. 2. 2.1. 2.1.1. 2.1.2. 2.2. 2.3. 2.3.1. 2.3.2. 3. 3.1. 3.1.1. 3.1.2. 3.1.3. 3.1.4. 3.2. 3.2.1. 3.2.2. 3.3. 4. 4.1. 4.2. 4.3.
Introdução Fontes de geração de energia elétrica Aspectos técnicos Tipos de fontes energéticas Confiabilidade e complementariedade das fontes Aspectos ambientais Emissões de gases de efeito estufa (GEE) Ocupação do solo e impactos na fauna e flora Aspectos sociais Matriz Elétrica Brasileira Cenário atual Sistema de despacho Capacidade instalada e potencial futuro Emissões de GEE do Sistema Interligado Nacional Análise do cenário e planejamento para 2020 Emissões de GEE na matriz futura Análise do cenário pelas empresas da Plataforma Empresas pelo Clima (EPC) Estrutura e governança do setor elétrico brasileiro Estrutura do Setor Elétrico Brasileiro Geração Transmissão Distribuição e consumo Geração distribuída Ambientes de Mercado Ambiente de contratação regulada Ambiente de Contratação Livre (ACL) Contratos entre distribuidores e geradores Propostas empresariais de políticas públicas Fator de emissão do SIN Planejamento energético Incentivos às energias renováveis
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06 16 17 22 26 27 29 32 37 38 42 43 46 41 50 53 53 54 55 56 59 60 63 65 68 68 70
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Fontes de geração de
ENERGIA ELÉTRICA
A
s fontes energéticas são muito diver-
técnico considera a energia útil convertida com
sas e compreendem variáveis que
base nesse potencial teórico em função da efi-
1
demandam um profundo conhe-
ciência das diferentes tecnologias de conversão
de Baixo Carbono no Brasil
cimento sobre suas características
consideradas para cada recurso.
Os estudos Propostas Empresariais de Políticas
Públicas para uma Economia da Plataforma Empresas pelo Clima (EPC), realizada
e outros fatores relevantes como localização e
Já o potencial econômico considera, além
desde 2010 pelo GVces, em
tecnologia empregada. No estudo das fontes
da sustentabilidade, as variáveis econômica e
setor privado participantes,
energéticas, também se aplicam conceitos fun-
financeira de um recurso energético, sendo ava-
o fim de formular propostas
damentais como capacidade instalada, potencial
liada a viabilidade de transformar aquele recur-
teórico e potencial de mercado.
so em energia aproveitável. Porém, nem todo
caminhada do Brasil rumo
O cálculo dos potenciais técnicos fundamen-
potencial econômico pode ser implementado,
carbono. Em 2010, realizou-
ta-se em duas premissas básicas: o levantamento
tornando necessária a existência de um merca-
de Energia, Agropecuária
da quantidade de fontes primárias disponíveis e
do para tal. Na determinação do potencial de
a consideração da tecnologia mais eficiente de
mercado avalia-se, em cada projeto, o modelo
conversão da fonte em energia (Fujii, Udaeta,
de captação de recursos, esquemas de finan-
2006). O levantamento de fontes primárias deter-
ciamento, formação competitiva e atrativa de
mina, para cada fonte analisada, a quantidade de
preços e garantia de venda da energia que será
energia conversível e aproveitável na região ana-
gerada. Riscos político-econômicos, exemplifi-
lisada, constituindo o potencial teórico. Além do
cados por inclinações de apoio governamental,
estoque energético anual de cada fonte, deve
oscilações de investidores e riscos geopolíticos,
ser avaliada sua característica renovável a fim de
como as variações de suprimento de combustí-
mensurar sua disponibilidade e grau de reposi-
veis fósseis e da taxa de câmbio internacional,
ção – se houver – em médio e longo prazo. A dis-
também são avaliados.
ponibilidade de fontes primárias também pode
É importante ressaltar que os potenciais
ser categorizada por critérios como a facilidade
técnico e de mercado não costumam ter rela-
de acesso à fonte e extração.
ção direta. Assim, mesmo que uma fonte apre-
Como premissas particulares ao cálculo de
sente alto potencial técnico, sua transformação
potenciais teóricos de cada recurso, listam-se a
em energia pode ser de altos custo e risco, tais
disponibilidade de áreas (para o cultivo de bio-
como dificuldades de acesso ao local, falta ou
massa e o aproveitamento e instalação de sis-
dificuldade de acesso a tecnologias e investi-
temas de energias eólica, solar e oceânica), o
mentos, entre outros.
estudo de bacias hidrográficas (para aproveita-
Finalmente, a capacidade instalada de uma
mentos hidrelétricos), entre outros. O potencial
fonte energética refere-se à capacidade máxi-
FIGURA 1: Os potenciais energéticos. Potencial teórico Potencial técnicO
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conjunto com as empresas do é uma série de trabalhos com empresariais de políticas públicas para acelerar a a uma economia de baixo se estudos sobre os setores e Transportes; e em 2011, realizou-se estudos sobre Tratamento de Resíduos e Processos Industriais.
Fonte: compilação própria, adaptado de CASTRO et al., 2010.
Fontes primárias de energia ( qualidade de energia conversível e aproveitável) Viabilidade tecnológica
Potencial Econômico
Viabilidade econômica e financeira
Potencial de mercado
Demanda de mercado e competitividade
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ma de produção da energia para cada recurso, e caracteriza como um dos principais indicado-
Assim, para fins deste estudo, aplicam-se os
res para avaliar a representatividade e expansão
seguintes conceitos:
de uma determinada fonte de energia elétrica.
Energia renovável: energia proveniente de re-
A capacidade instalada também é utilizada em
cursos naturais inesgotáveis e disponíveis con-
análises de confiabilidade, na determinação dos
tinuamente (considera-se que suas reservas
custos e competitividade no setor elétrico. Sua
não se esgotarão). São consideradas energias
determinação depende dos estudos dos poten-
renováveis a solar, eólica, hidrelétrica, de ma-
cias teóricos e de mercado.
rés, biomassa e geotérmica.
1.1. Aspectos técnicos A energia disponível ao homem na superfície da Terra tem origem em quatro fontes distintas:
16
241 anos, respectivamente (Goldemberg, 2010).
Energia não renovável: energia proveniente de recursos naturais, mas que se esgotarão com o atual ritmo de uso e exploração, pois suas reservas são limitadas. São consideradas ener-
Energia radiante emitida pelo Sol (com uma
gias não renováveis aquelas derivadas de com-
potência da ordem de 174.000 x 1.012 watts)
bustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás
que dá origem aos combustíveis fósseis, à
natural) e a energia nuclear.
biomassa, aos ventos e potenciais hidráulicos;
Para transformar as fontes energéticas em
Energia geotérmica que se origina do interior
energia útil e fazer que estas cheguem a seus
do planeta (32 x 1.012 watts);
destinos de consumo é necessário combinar fa-
Energia proveniente de interações gravitacio-
tores como tecnologia, viabilidade, localização,
nais com a Lua e com o Sol (potência de 3 x
custo etc. Os sistemas de geração e distribuição
1.012 watts); e
utilizados atualmente são focados nos locais de
Energia nuclear (cujos recursos são abundan-
consumo da energia, mas dependem diretamen-
tes, porém exauríveis).
te do local de geração da eletricidade.
À exceção da energia nuclear, todas as de-
O modelo de geração distribuída prevê di-
mais fontes mencionadas acima são fontes re-
versas unidades geradoras de menor escala ins-
nováveis de energia, ou seja, estão disponíveis
taladas próximas aos locais de maior demanda
continuamente, exceto pelas oscilações astro-
elétrica, como grandes centros urbanos. Nesses
nômicas regulares – noite-dia e fases da Lua, no
casos, os custos com a transmissão da energia
caso das marés (Goldemberg, 2010).
são reduzidos, diminuindo ou evitando a depen-
Apesar de serem baseadas em fontes na-
dência de grandes obras de infraestrutura para
turais e teoricamente renováveis, uma questão
levar energia aos locais de consumo. Por outro
fundamental, que se aplica às fontes primárias de
lado, a geração distribuída demanda uma quan-
energia, é a intensidade e velocidade do uso e
tidade maior de unidades de produção.
extração e sua capacidade de se renovar natural-
Já o modelo centralizado de produção con-
mente. As quantidades de recursos energéticos
centra a geração de eletricidade em grandes
em depósitos naturais (reservas) são determi-
usinas, em sua maioria hidrelétricas e termelétri-
nadas ou estimadas com base em prospecções
cas fósseis, que geralmente estão distantes dos
(geológicas, hidrológicas, de regime de ventos) e
grandes centros de consumo. A distância das
dados de engenharia, ao alcance das tecnologias
termelétricas fósseis dos centros de consumo
comerciais de extração e produção. No caso dos
normalmente se deve, principalmente, a ques-
combustíveis fósseis como o petróleo, o gás na-
tões de logística do transporte de combustíveis
tural e o carvão mineral, a intensa exploração de
fósseis, que, em alguns casos, envolve riscos
suas reservas tem promovido a exaustão de suas
consideráveis de contaminação ambiental, entre
reservas, que não conseguem se renovar em igual
outros. O modelo centralizado pode maximizar
velocidade. Nesse contexto, as reservas mundiais
o volume de energia gerada e reduzir custos de
do petróleo, do gás natural e do carvão mineral
produção, mas depende de infraestrutura de
são finitas e devem se esgotar dentro de 41, 64 e
transmissão e distribuição para levar a energia www.fgv.br/ces/epc
elétrica aos consumidores, e os potenciais ga-
terísticas e comportamento diferentes dos ven-
nhos com menores custos de produção podem
tos, daí a necessidade de turbinas diferenciadas
ser perdidos em função de maiores custos e per-
que aproveitem ao máximo o potencial energé-
das de energia na transmissão.
tico de cada sítio. A energia eólica é usualmente
1.1.1. Tipos de fontes energéticas
concentrada em parques eólicos, que permitem um maior volume de geração de energia, para
A seguir são apresentadas as principais fon-
depois serem transmitidos para os locais de con-
tes de energia (renováveis e não renováveis) e
sumo, caracterizando uma geração centralizada.
respectivos potencias técnicos, assim como des-
Porém, também é possível encontrar aerogera-
crição das tecnologias disponíveis para geração
dores isolados para consumo individual, ou seja,
de energia elétrica a partir de cada fonte.
na forma de geração descentralizada.
Energia eólica
áreas costeiras com maior abundância de ventos,
Torres eólicas podem ser instaladas em A energia eólica é produzida por meio de
ou distantes do litoral. As turbinas eólicas offsho-
aerogeradores, equipamentos de até 120 metros
re podem gerar mais energia do que os parques
de altura que transformam a força dos ventos em
instalados em terra e, embora este mercado
energia. Esses equipamentos são compostos es-
represente pouco mais de 1% da capacidade
sencialmente por uma torre, um gerador elétrico
mundial de energia eólica, os mais recentes de-
e uma hélice. O vento faz as pás girarem e esse
senvolvimentos tecnológicos têm sido focados
movimento é transformado em energia elétrica
nesse potencial emergente.
pelo gerador. Os parques eólicos reúnem diver-
No final de 2012, a capacidade instalada eó-
sos aerogeradores instalados em uma mesma re-
lica mundial era de 282.275,3 MW, enquanto que
gião e podem ser localizados em terra (onshore)
no final de 2011 era de 236.749,7 MW. China e Es-
ou no mar (offshore). Cada local apresenta carac-
tados Unidos lideram a expansão desse mercado,
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17
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
com capacidade instalada total de 75.324,0 MW
eletricidade com as mesmas características da
e 59.892,0 MW, respectivamente (Ewea, 2013).
energia disponível na rede comercial. A energia
No Brasil, a capacidade instalada total em 2012
solar fotovoltaica pode ser gerada inclusive em
foi de 1.894 MW, contra 1.426 MW, em 2011
comunidades isoladas que não estão conectadas
(MME; EPE, 2012). O aumento de 32,80% da ca-
à rede elétrica.
pacidade instalada nacional da energia eólica
A energia solar concentrada (CSP) consiste
se deve a vários motivos, em especial a evolu-
na produção de eletricidade de modo similar às
ção da tecnologia e a expansão do mercado ao
termelétricas. A diferença é que a energia é obti-
redor do mundo.
da pela concentração de radiação solar. Grandes
O mercado eólico tem se diversificado nos
espelhos ou calhas parabólicas concentram a luz
últimos anos: o domínio alemão já foi superado
solar em uma única linha ou ponto. O calor ab-
pela China e pelos Estados Unidos, e turbinas
sorvido é utilizado para gerar vapor quente em
maiores, com maior capacidade de geração, vem
alta pressão que movimenta turbinas que geram
chegando ao mercado nos últimos anos. Mais de
eletricidade. Em regiões de sol intenso, usinas
150 mil turbinas eólicas estão instaladas em mais
desse tipo, também chamadas de heliotérmicas,
de 50 países ao redor do mundo. No Brasil, a
podem garantir grande produção de eletricida-
realização de leilões de energia exclusivos para
de. Os maiores exemplos estão localizados na
a fonte eólica e o oferecimento de condições
Espanha e nos Estados Unidos, onde a energia é
especiais para a implementação de projetos de
gerada de maneira descentralizada.
geração desse tipo de energia, como redução
Por último, um dos sistemas mais acessíveis
e isenção de impostos, têm trazido diferentes
para aproveitamento da energia solar é o de
fabricantes internacionais ao País e reduzido
aquecedores solares, composto por placas que
drasticamente o preço deste tipo de energia.
captam a energia do sol, geram calor e aquecem
A capacidade instalada nacional deve superar os
água em um reservatório térmico. A aplicação
8 mil MW até 2016, como resultado dos leilões de
dessa tecnologia é considerada uma medida de
energia realizados anualmente desde 2009. Não
eficiência energética, uma vez que as placas so-
é à toa que essa é a fonte renovável de maior
lares não produzem eletricidade mas permitem
crescimento mundial, com taxas anuais superio-
substituir chuveiros elétricos; contribuindo dessa
res a 20% nos último seis anos (Gwec, 2013).
forma para redução da demanda de energia no horário de pico.
Energia solar
18
Segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar,
A energia solar apresenta três grandes mo-
os valores de irradiação solar global incidente
dalidades: energia solar fotovoltaica (PV, da sigla
em qualquer região do território brasileiro (4.200-
em inglês photovoltaic), energia solar concentra-
6.700 kWh/m2) são superiores aos da maioria dos
da (CSP, da sigla em inglês concentrated solar
países da União Europeia, como Alemanha (900-
pannel) e energia solar térmica – para aqueci-
1.250 kWh/m2), França (900-1.650 kWh/m2) e Es-
mento de água.
panha (1.200-1.850 kWh/m2), onde projetos para
A energia solar fotovoltaica (PV) é comu-
aproveitamento de recursos solares, alguns con-
mente produzida de maneira descentralizada,
tando com fortes incentivos governamentais, são
através de painéis fotovoltaicos instalados no
amplamente disseminados.
topo de casas e edifícios que captam a energia
Apesar do grande potencial, a geração de
solar e a convertem em eletricidade. O painel é
energia solar ainda é ínfima, se comparada à ca-
constituído por um conjunto de módulo e bate-
pacidade instalada de outras fontes energéticas
rias recarregáveis associadas a controladores de
no Brasil – embora apresente um significativo
carga. A energia elétrica produzida nos dias de
crescimento nos últimos anos. No ano de 2011 a
sol é armazenada na bateria para ser usada de
capacidade instalada mundial saltou de 40 para
noite ou em dias nublados. O sistema também
cerca de 70 GW, e em 2012 para aproximada-
pode ser conectado à rede elétrica, fornecendo
mente 100 GW, sendo a fonte que mais atraiu www.fgv.br/ces/epc
investimentos em 2012 entre as renováveis (PEW,
um potencial energético expressivo, na ordem
2013). Como consequência, as células fotovoltai-
de 14 GW (o equivalente à usina de Itaipu) se
cas têm registrado considerável queda de preço,
fossem utilizados em sua totalidade para a ge-
com uma redução aproximada de 20% a cada
ração de energia. A projeção da safra de baga-
duplicação da capacidade instalada. Somente no
ço de cana para 2020 projeta um potencial de
período 2009-2012 o número de painéis solares
28 GW (Unica, 2012). Além do bagaço e da palha
operantes no mundo quadruplicou. Assim, nos
da cana, outros resíduos da agroindústria comoa
próximos dez anos, essa tecnologia deve se tor-
casca de arroz e o milho podem ser utilizados
nar competitiva em relação aos preços médios
para a mesma finalidade.
de tarifas elétricas praticadas atualmente. A meta
A utilização da biomassa como fonte de
de custo internacional de 1 dólar americano por
energia elétrica tem crescido no Brasil, principal-
watt (US$1/W) já foi alcançada, sendo que, mes-
mente em sistemas de cogeração no setor indus-
mo no Brasil, onde o preço da tecnologia ainda
trial (pela qual é possível obter energia térmica e
varia entre R$ 7 e 10 por watt, a tendência é uma
elétrica). A capacidade instalada atual de gera-
redução gradativa dos custos. Tendência similar
ção de eletricidade a partir da biomassa no Bra-
é observada também para a energia solar con-
sil é superior a 7 GW (estimativa para o ano de
centrada, cuja grande expansão internacional,
2013). Esse recurso poderia ser mais aproveitado
acompanhada do desenvolvimento tecnológico
se fossem superadas algumas limitações técni-
de armazenamento de calor, projeta seus custos
cas como a estrutura de conexão entre usinas e
futuros em patamares competitivos.
a rede básica, a necessidade de substituição de caldeiras de baixa para alta pressão em usinas
Biomassa combustível
para a cogeração a bagaço de cana. Outra por-
Biomassa inclui toda matéria orgânica ani-
ção desse potencial poderia ser aproveitada com
mal ou vegetal, como resíduos agrícolas e flo-
o uso da palha para geração de energia. A pers-
restais, que pode ser aplicada como combustí-
pectiva é de que a capacidade instalada dessa
vel em usos finais como cocção, aquecimento
fonte de energia aumente 6,5 GW/ano.
de ambientes, movimentação de veículos ou
A viabilidade futura da geração de eletrici-
geração de eletricidade. No Brasil, os principais
dade a biomassa está relacionada às condições
exemplos de biomassa líquida, ou biocombus-
oferecidas a esse recurso, em termos de reduções
tíveis, são o etanol, produzido a partir da cana-
e isenções de encargos e impostos e condições
-de-açúcar, e o biodiesel. O biogás, oriundo do
de financiamento de substituição de caldeiras em
escape de gás metano de aterros sanitários, é
usinas. A formação de preço depende ainda das
um exemplo de biomassa no estado gasoso. Já
condições de distribuição de energia acordadas
a bioeletricidade, ou eletricidade produzida a
entre usinas e o operador do sistema – este com-
partir da biomassa, tem no bagaço da cana seu
ponente pode ser responsável pelo aumento sig-
principal substrato. Após a extração do caldo da
nificativo do preço final disponibilizado por usinas
cana, é possível queimar o bagaço em caldeiras,
distantes dos principais sistemas de transmissão.
produzindo vapor que pode ser reutilizado na forma de calor ou para movimentar turbinas de
Energia Oceânica
geração de eletricidade. Esse processo recebe o
A energia mecânica do movimento das on-
nome de cogeração e é comumente emprega-
das e marés também é capaz de produzir eletri-
do para geração de energia nas próprias usinas
cidade. Esse tipo de geração de energia é feito
sucroalcooleiras. Muitas vezes, a cogeração é
por uma estrutura que interage com o movimen-
superior à demanda da própria usina por ener-
to do mar, convertendo a energia em eletricida-
gia elétrica, e o excedente pode ser conectado
de por meio de sistemas hidráulicos, mecânicos
à rede elétrica e vendido.
ou pneumáticos. A estrutura, ancorada ou fun-
Os volumes de bagaço e de palha da cana
dada diretamente no solo oceânico ou no lito-
disponíveis nos canaviais brasileiros representam
ral, transmite a energia do fundo do mar por um
www.fgv.br/ces/epc
19
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
cabo elétrico, flexível e submerso, levada até a costa por uma tubulação submarina.
Em países onde há erupções vulcânicas é comum o uso da energia geotérmica; mas já
Represas ou barragens em estuários ou
existe tecnologia para trazer o calor à superfí-
baías com marés de pelo menos cinco metros
cie em qualquer lugar, mesmo que não haja
de extensão são capazes de produzir energia
vulcões. No Brasil, a energia geotérmica apre-
maremotriz. Aberturas na barragem permitem
senta potencial para aquecimento de água ou
que a entrada da maré forme uma bacia. Quan-
ambientes, mas não para a geração de eletrici-
do as portas se fecham, a maré volta e a água
dade. Assim como a energia oceânica, o uso de
pode ser canalizada através de turbinas para
energia geotérmica ainda não representa uma
gerar eletricidade.
parcela significativa do cenário nacional ou mun-
O mesmo princípio pode produzir eletricidade a partir das ondas – ou energia ondomotriz.
dial, sendo necessário o desenvolvimento das tecnologias que as viabilizem.
Outra forma de produção é por tubos concatenados – similares a uma cobra – que, quando fle-
Energia Hidrelétrica
xionados, geram ondas de pressão em fluidos em
A energia hidrelétrica é gerada a partir da
seu interior. A variação da pressão gira turbinas na
energia potencial da água que movimenta tur-
extremidade do dispositivo e a eletricidade pro-
binas, transformando a energia mecânica em
duzida é transportada para a costa por cabos.
energia elétrica a partir de um gerador. Portan-
A geração de energia a partir dessas fontes
to, a geração hidrelétrica depende do fluxo de
oceânicas ainda é pouco utilizada no mundo,
água de um ponto mais alto para um ponto mais
principalmente por se tratar de uma tecnologia
baixo. Esse fluxo pode ser controlado pela cons-
recente e pelos atuais altos custos de implemen-
trução de uma represa, a qual retém a energia
tação de projetos em alto-mar. Existem projetos
potencial da água em seu reservatório. O volume
localizados na Coreia do Sul, com potencial de
de água que movimenta as turbinas é controlado
254 MW, e na Espanha, com potencial de 0,3
de acordo com a demanda de eletricidade.
MW. O Reino Unido também vem se destacando
Uma alternativa aos grandes reservatórios
em estudos e projetos de energia das marés. No
é a tecnologia de “fio d’água”, que aproveita
Brasil, a primeira usina ondomotriz está em proje-
o curso natural dos rios, reduzindo os impactos
to e deve ser construída na costa do Ceará. Ape-
da construção dos reservatórios. Nas usinas de
sar de pouco utilizada, essa fonte representará
fio d’água, entretanto, não é possível controlar a
um acréscimo de 1.000 GW na matriz energética
vazão de água, que dependerá exclusivamente
mundial nas próximas décadas, se aproveitado
do fluxo natural do rio e, portanto, do regime de
10% do potencial energético total das ondas. De
chuvas. Por não armazenarem a energia potencial
acordo com a Coppe/UFRJ, o potencial nacional
da água, as usinas de fio d’água, tem capacidade
de energia oceânica é de 114 GW.
de geração reduzida em períodos secos quando comparadas às usinas com grandes reservató-
Energia Geotérmica
20
rios. Exemplos típicos de usinas a fio d’água são
O calor e o vapor provenientes das camadas
as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), cuja
internas da Terra podem ser aproveitados para
capacidade instalada é de até 30 MW. A Resolu-
gerar energia renovável. Em uma usina geotér-
ção no 394 da Aneel (04/12/1998), em seu segun-
mica, água é injetada em uma camada profunda
do artigo, define pequenas centrais hidrelétricas
da crosta terrestre até alcançar o magma, manto
(PCHs) como “empreendimentos hidrelétricos
composto por rochas líquidas a altas temperatu-
com potência superior a 1.000 kW (1MW) e igual
ras. O líquido extraído dessas camadas pode che-
ou inferior a 30.000 kW (30 MW), com área total
gar a uma temperatura de 175 ºC e ser aprovei-
de reservatório igual ou inferior a 3,0 km2”.
tado para o aquecimento de água em edifícios.
O potencial técnico de aproveitamento da
Para gerar eletricidade através do vapor obtido,
energia hidráulica do Brasil está entre os cinco
as temperaturas devem ser superiores a 150°C.
maiores do mundo: o País tem 12% da água doce www.fgv.br/ces/epc
superficial do planeta e condições adequadas
lor aquece a água, cria vapor que move turbinas
para exploração energética deste volume. O po-
ligadas a geradores de energia elétrica. Há vários
tencial hidrelétrico brasileiro é estimado em cer-
tipos de reatores, que diferem em função dos
ca de 260 GW, dos quais 40,5% estão localizados
materiais e da tecnologia aplicada, mas todos
na Bacia Hidrográfica do Amazonas. Para efeito
possuem o mesmo conjunto básico de compo-
de comparação, a Bacia do Paraná responde por
nentes e utilizam como combustível o urânio ou
23%, a do Tocantins por 10,6% e a do São Fran-
o plutônio. As usinas nucleares utilizam ainda um
cisco por 10% do potencial nacional. Contudo,
volume significativo de água para resfriar o siste-
apenas 63% do potencial nacional foi inventaria-
ma de geração, geralmente água do mar ou de
do. A Região Norte, em especial, tem um grande
rios e lagos que estejam próximos à usina.
potencial ainda por explorar (Portal Brasil, 2013).
Por se tratar de um processo extremamente
China, Brasil, Estados Unidos, Canadá e Rús-
perigoso e demandar um tratamento e dispo-
sia representam, juntos, 52% da capacidade ins-
sição específicos para os resíduos gerados, as
talada mundial de energia hidrelétrica, totalizan-
usinas nucleares devem estar localizadas a dis-
do 990 GW. Em 2012, a China produziu 864 TWh
tâncias seguras dos centros urbanos. Porém, as
de energia hidráulica, com uma capacidade ins-
usinas de Angra I, Angra II e Angra III (em cons-
talada de 229 GW; no Brasil, neste mesmo ano, a
trução), estão próximas à cidade do Rio de Ja-
produção de energia hidrelétrica foi de 441 TWh,
neiro, um dos grandes centros consumidores do
ou 12% da produção mundial, tendo uma capa-
Brasil. A opção pela instalação dessas usinas em
cidade instalada de 77 GW. Em outros países,
local relativamente próximo a um centro urbano
como Canadá (376 TWh) e Estados Unidos (277
se deveu à redução dos custos de transmissão.
TWh), a produção foi em média 26% inferior, se
Apesar dos possíveis riscos associados às usinas
comparada com o Brasil, representando menos
nucleares, essa é uma fonte de energia de alta
de 10% da produção total mundial (REN21, 2013).
eficiência, que representa atualmente 2,7% da
O baixo custo operacional de uma hidrelétri-
matriz elétrica nacional (EPE, 2013a).
ca, em função principalmente de sua alta capaci-
A capacidade instalada mundial da geração
dade produtiva e sem a dependência de combus-
nuclear é de 374.524 MWh (FGV, 2013). O Brasil
tíveis fósseis, faz que a energia elétrica oriunda
possui duas usinas nucleares, tendo uma capa-
dessa fonte apresente um dos preços mais bai-
cidade instalada total de 2.007 MW (FGV, 2013),
xos do mercado, atualmente com valor médio de
sendo as usinas de Angra I, com potência de
R$ 114,48 por MWh no mercado nacional. Entre-
657 MW e Angra II, com potência de 1.350 MW
tanto, para construção de hidrelétricas são neces-
(CCEE, 2013).
sários altos investimentos de longo prazo, os quais se contrapõem aos baixos custos de geração.
Energia termelétrica a base de combustíveis fósseis
Energia Nuclear
As usinas termelétricas baseadas em com-
A geração elétrica com base na energia nu-
bustíveis fósseis funcionam a partir de três pro-
clear resulta do aproveitamento energético da
cessos. O primeiro envolve a queima de um
fissão ou divisão de urânio ou plutônio. Quando
combustível fóssil, como gás natural, gás de
o núcleo desses elementos sofre o impacto de
xisto, derivados de petróleo2 e carvão mineral.
um nêutron e o absorve, ele é fissionado (divi-
Essa queima gera calor, que transforma água em
em termelétricas são: óleo
dido) em dois fragmentos, liberando ao mesmo
vapor. No segundo processo, o vapor, em alta
gasolina e óleo ultraviscoso.
tempo, dois ou três nêutrons e energia. Esse
pressão, faz girar turbinas que acionam o gera-
processo se repete sucessivamente, em uma
dor elétrico. No terceiro processo, o vapor é con-
reação em cadeia, liberando grande quantida-
densado, transferindo o resíduo de sua energia
de de energia térmica (calor).
térmica para um circuito independente de refri-
Um reator nuclear cria e controla as reações
geração, retornando a água à caldeira e comple-
de fissão que resultam em energia térmica. O ca-
tando o ciclo. Como o calor produzido em uma
www.fgv.br/ces/epc
2
Os principais derivados de petróleo utilizados
combustível, óleo diesel,
21
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
Energia nuclear no Brasil
R
eatores nucelares para a produção de eletricidade
construção no mundo. Em outros países a, energia nuclear é
foram desenvolvidos nos anos 50 e 60 do século 20,
pouco significante como é o caso do Brasil, em que contribui
beneficiando-se das atividades de enriquecimento de
com menos de 2% da eletricidade.
urânio para armas nucleares e outras tecnológicas realizadas
O primeiro reator nuclear instalado no Brasil foi adquirido no fim da década dos 1960 da Westinghouse. O governo
pelos governos. Vários países carentes de recursos naturais, como a França
brasileiro, em 1975, tentou adquirir o domínio completo da
e o Japão, adotaram e energia nuclear como fonte principal
tecnologia nuclear da Alemanha – incluindo enriquecimento de
de eletricidade para reduzir sua dependência de importações.
urânio como parte de um grande pacote comercial –, mantendo
Outros, como os Estados Unidos e a União Soviética, para
aberta a opção de produzir artefatos nucleares. Esse ambicioso
diversificar suas fontes.
projeto não prosperou e resultou apenas na instalação do
O entusiasmo por energia nuclear diminuiu muito após 1990
Reator Nuclear Angra dos Reis 2. A instalação do terceiro reator se arrasta até hoje.
pelas seguintes razões: Ocorreram acidentes nucleares de grande vulto que demonstra-
Energia nuclear não é uma opção prioritária para o Brasil,
ram que a tecnologia nuclear não era segura como se pensava;
onde existem outras opções mais atrativas, tanto do ponto de
O custo da energia elétrica produzida nos reatores aumentou
vista econômico como ambiental, como por exemplo energia
diante das novas exigências de segurança;
hidrelétrica, eólica, solar e de biomassa.
O problema do armazenamento definitivo dos resíduos nuclea-
As preocupações com as emissões de carbono que resultam
res não foi resolvido.
do uso do carvão (ou gás) para geração de energia elétrica
Após o grave desastre de Fukushima, vários países
podem estimular o uso de energia nuclear, mas os riscos de
decidiram abandonar gradualmente o uso de reatores
acidentes nucelares parecem mais imediatos e mais graves do
nucleares. Permanecem como principais mercados potenciais
que os do aquecimento global cujos efeitos, para muitos, só
a China, Rússia e Índia, onde a presença estatal é muito forte
vão se fazer sentir num futuro distante.
e se encontram cerca de 70% dos cerca de 60 reatores em
Por prof. dr. José Goldemberg, IEE/USP
usina termelétrica é muito alto, é necessário o
da de térmicas fósseis, com previsão de aumento.
resfriamento dos geradores.
Dessa porcentagem, 1,6% corresponde a térmica
Outro aspecto técnico é a utilização de uma chaminé de grande altura, chegando até 300
a carvão e derivados, 3,3% a térmica a derivados de petróleo e 7,9% a térmicas a gás natural.
metros, para retenção das cinzas e outros resíduos voláteis gerados na queima do combustível fóssil. As cinzas, por outro lado, podem ser recu-
1.1.2. Confiabilidade e
peradas e utilizadas em outras atividades, como,
complementariedade das fontes
por exemplo, construção civil, sendo misturadas com o cimento.
3
Considera-se carvãovapor 5.200 kcal/kg.
22
A análise da confiabilidade de um recurso energético é resultado da combinação da inter-
A eficiência das usinas termelétricas varia con-
mitência de sua geração – representada pelo seu
forme a tecnologia empregada (tipo de forno para
fator de capacidade –, aliada à disponibilidade
combustão, potencial da turbina etc.) e o tipo de
da fonte energética utilizada e da tecnologia em-
combustível empregado na combustão. Os com-
pregada em sua conversão.
bustíveis mais utilizados, e seus respectivos pode-
A confiabilidade varia consideravelmente de
res caloríficos, são: óleo combustível- 40,2 GJ/t,
acordo com a faixa de potência do recurso ana-
gás natural- 49,8 GJ/t, carvão3 – 20,5 GJ/t.
lisado e, principalmente, de acordo com as ca-
A capacidade instalada nacional da energia
racterísticas da fonte energética. Recursos reno-
termelétrica é de 32.778 MW, incluindo térmicas
váveis costumam apresentar índices maiores de
fósseis e a biomassa. Atualmente, a matriz elétrica
intermitência, pois são regidos por fenômenos
brasileira é composta por 12,8% de energia oriun-
naturais como períodos de chuva, seca, maior www.fgv.br/ces/epc
ou menor intensidade de ventos etc. Já as fon-
a hora do dia, as estações do ano e também de
tes não renováveis como combustíveis nuclear ou
fatores meteorológicos, como nebulosidade. Já
fóssil, apesar de terem uma disponibilidade fini-
a energia oceânica registra maior previsibilidade
ta não estão sujeitas às oscilações de fenômenos
por conta do regime das ondas e marés, em fun-
naturais. Enfim, havendo disponibilidade dessas
ção dos campos gravitacionais da Lua e do Sol. A
fontes, a confiabilidade variará em torno das con-
cogeração a biomassa é sazonal, de acordo com
dições técnicas de funcionamento da usina e da
a safra da cultura agrícola utilizada no processo.
oferta do combustível utilizado em sua operação.
Por fim, a geração hidrelétrica depende do regi-
A intermitência e a previsibilidade de ge-
me pluviométrico e da vazão das usinas, ainda
ração via recursos renováveis são particulares,
que o despacho seja orientado em função do
em duração e regime, a cada fonte energética.
porte dos reservatórios.
A geração eólica, por exemplo, varia de acordo
A intermitência contribui para a crença de
com os regimes de vento e gradiente de pressão
que a geração renovável – principalmente solar
atmosférica, em função de fatores meteorológi-
e eólica – não é suficientemente confiável e que,
cos e da época do ano. A geração solar depende
portanto, a energia renovável não deveria ter uma
da incidência de radiação solar de acordo com
participação significativa na oferta de eletricidade
A Evolução do Gás de Xisto nos Estados Unidos e Possíveis Implicações no Brasil
O
s Estados Unidos têm promovido uma revolução em
O aumento da penetração do gás de xisto na matriz
sua produção energética recente. Nos últimos cinco
energética tem reduzido, pelo menos em teoria, as emissões
anos, a produção de gás e óleo de xisto avançou 30%,
americana de gases de efeito estufa, uma vez que o gás tem
com alterações econômicas, energéticas e políticas. O gás de
substituído o carvão nas termelétricas. As emissões de gás
xisto, ou shale gas em inglês, é um tipo de gás natural encontrado
natural são pelo menos 60% inferiores às do carvão, mas no caso
em formações rochosas conhecidas como folhelhos. A extração
do gás de xisto, o vazamento de metano verificado no processo
desse gás envolve a perfuração dessas rochas com a injeção de
de fraturamento tende a neutralizar essa vantagem. Se, por um
grandes quantidades de água a alta pressão misturada a areia e
lado, se argumenta que o vazamento de metano é variável de
produtos químicos. Esse processo é conhecido como faturamento
acordo com o campo, por outro, o potencial de aquecimento
hidráulico. O gás de xisto é, portanto, o mesmo combustível
global do metano é pelo menos 21 vezes superior ao do CO2 (e
utilizado pelo mundo. A grande diferença é o seu processo de
foi recentemente revisto para 34 no último relatório do IPCC).
extração, cujo domínio recente abriu caminho para a exploração de jazidas antes consideradas não aproveitáveis. Os benefícios do uso do gás de xisto têm sido claros para
A transformação recente do mercado de óleo e gás pode impactar o Brasil em maior ou menor grau. O País acaba de leiloar o bloco de Libra e conta com o interesse internacional e com
a economia norte-americana: 2 milhões de empregos foram
a estabilidade dos preços do óleo para viabilizar a exploração
criados de 2008 para cá, e o baixo preço do gás tem impactos
de demais blocos do pré-sal. Se a oferta por óleo e gás seguir
positivos sobre o PIB e a indústria local. Mais do que isso, o
aumentando, o preço internacional sofrerá redução, aumentando
aumento da produção está invertendo o panorama energético
a dificuldade em explorar e negociar o petróleo do pré-sal.
e geopolítico do país. A nação que mais consome energia no
Considerando o enorme volume de investimentos previsto para
mundo deve se tornar exportador de energia e reduzir sua
atividades de óleo e gás para o próximo decênio (R$750 bilhões
dependência do petróleo do Oriente Médio.
até 2021 ou 75% de todos os investimentos do setor energético
O aumento nos preços internacionais de petróleo e gás nos
no período), pode-se dizer que a estratégia de apostar no pré-
últimos anos incentivaram o amadurecimento e a viabilidade
sal, em vez de diversificar o portfólio com fontes renováveis,
econômica da tecnologia de fraturamento hidráulico, pesquisada
apresenta altos riscos à economia e ao desenvolvimento do País.
e utilizada desde os anos 1980. A queda de mais de 50% do preço do gás e o aumento de produção devem colocar os EUA na posição de maior produtor de gás natural do mundo em 2015.
www.fgv.br/ces/epc
Por Ricardo Baitelo, doutor em Planejamento Energético pela Escola Politécnica – USP e coordenador da Campanha Energias Renováveis – Greenpeace Brasil
23
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
ou gerar energia de base, pois seria necessário ter
implementada. Os ventos mostram maior capaci-
capacidade de geração de backup para atender à
dade de geração de energia elétrica justamente
demanda energética em períodos de baixa gera-
quando a afluência hidrológica nos reservatórios
ção renovável ou de alto consumo. Atualmente,
hidrelétricos se reduz. Essa complementariedade
as fontes fósseis compõe a geração de backup
se dá sobretudo entre as usinas eólicas do Nor-
em quase todos os países do mundo, sendo pre-
deste e as bacias hidrográficas da região Norte
dominante o uso de usinas termelétricas fósseis
do País: em períodos de seca, quando os reser-
para a geração de energia em períodos de es-
vatórios estão com níveis baixos, a intensidade
cassez de recursos renováveis. Em adição a isso,
dos ventos é maior; e vice-versa. Há também
argumenta-se que os períodos de maior geração
uma complementariedade entre as fontes hidre-
renovável não coincidiriam necessariamente com
létrica e biomassa, sendo que o período de seca
4
(maio a novembro), quando acontecem baixas
de que alguns recursos renováveis não são des-
nos reservatórios das hidrelétrica, coincide com
pacháveis, ou seja, técnica e economicamente
a safra da cana-de-açúcar, tornando esta uma
viáveis para atendimento às demandas de consu-
alternativa interessante; e no período de chuvas
mo, é compartilhada pelo setor elétrico de quase
(dezembro a abril) acontece a entressafra. Mes-
todo o mundo (Sovacool, 2008a).
mo em situações em que as fontes renováveis
Por outro lado, exemplos de países como a
não possam atender à totalidade da demanda
Alemanha e a Espanha têm mostrado que é pos-
energética, as usinas térmicas podem completar
sível incorporar grandes quantidades de energia
a disponibilidade de energia, formando assim
renovável de fonte solar e eólica no sistema. Na
uma matriz com fontes complementares entre si.
Espanha, a geração eólica representa 11% da ca-
O fator de capacidade combinada de cada
pacidade instalada total e chega a gerar mais de
fonte cresce em função de sua capacidade ins-
40% da energia instantânea do país em períodos
talada total, não apenas com a combinação de
de fortes ventos, provocando o processo inver-
geração entre diferentes pontos geográficos,
so: desligamento de usinas termelétricas a fim
mas também como consequência do aumento
de aproveitar a geração eólica de eletricidade
da escala de fabricação de equipamentos. A ge-
nessas situações. Na Alemanha, a energia solar
ração eólica registrou um avanço no fator de ca-
já superou a fonte eólica, ambas no patamar dos
pacidade de iniciais 15% para valores superiores
32 mil MW instalados. A geração descentralizada
a 40% nos últimos dez anos. Para a geração solar,
em mais de 8 milhões de telhados e o perfil coin-
índices de 7% nos anos 1980 subiram a mais de
cidente com a demanda de energia em horário
20% para algumas tecnologias, como solar foto-
comercial (das 8 às 18 h) auxiliam o suprimento
voltaica, nos últimos anos (IEA, 2009).
de energia para o país. A expansão eólica e solar
A intermitência da geração solar é critica-
4
possibilitou o desligamento das usinas nuclea-
da por concessionárias de energia, não apenas
res alemãs, sem comprometer a exportação de
por sua restrição ao atendimento de energia de
carga máxima entre o inverno
energia a países vizinhos. Diferentes estudos
base, como também para energia de ponta. No
vêm mostrando que a implantação de grandes
entanto, essa limitação é minimizada na moda-
quantidades de geração renovável na matriz de
lidade de geração solar concentrada (CSP), na
um país, combinada entre diferentes recursos
qual é possível armazenar parte do calor concen-
em diferentes áreas, promovem uma redução
trado em espelhos na forma de sais ou fluidos,
considerável da intermitência – ainda que não
para uma geração posterior de eletricidade.
Em estados norteamericanos como a
Califórnia, a variação da e o verão chega a ser de mais de 50% do total – de 29 GW em janeiro, a carga salta para 45 GW no verão.
5
Exceto no caso de tsunamis e terremotos,
especialmente comuns no Japão. O acidente de Fukushima é o mais notório, mas há outros registros, como o vazamento de rejeito nuclear para o mar exemplo no complexo nuclear de Kashiwazaki-Kariwa.
24
os picos de maior demanda elétrica . Essa visão
se possa deixar de lado o cômputo de custos de
Os recursos energéticos de origem fóssil,
transmissão e a complexidade dessa integração
como carvão mineral e derivados de petróleo,
(Sovacool, 2008a).
não são suscetíveis à intermitência resultante
Neste contexto, merece destaque a com-
de fenômenos naturais5, mas à oferta desses
plementariedade da fonte hidráulica e eólica no
combustíveis. A disponibilidade para essa ofer-
Brasil, uma realidade teórica, porém ainda não
ta é condicionada a fatores técnicos – grau de www.fgv.br/ces/epc
complexidade de extração e transporte desses
no mercado spot6, a custos muitas vezes deze-
recursos – e geopolíticos, como os conflitos e
nas ou centena de vezes superiores aos custos
os desacordos diplomáticos internacionais que
de geração desse operador.
afetem o suprimento desses combustíveis.
As usinas nucleares podem também ser afe-
6
O mercado spot, ou mercado disponível,
permite apenas transações em que a entrega da mercadoria é imediata e o pagamento é feito à vista. Nos demais mercados,
Além da intermitência da fonte energética
tadas pela indisponibilidade de urânio ou pela
como o futuro ou o mercado
analisada por parte da disponibilidade do recur-
temperatura da água. A operação dos reatores
envolvem prazos que podem
so, a tecnologia empregada na conversão dessa
demanda uso intensivo de água de rios ou lagos
fonte em energia tem grande participação na
próximos, para resfriar o vapor utilizado no ciclo
confiabilidade global de um recurso energético.
termodinâmico. Há casos de usinas que tiveram
Por exemplo, podem ocorrer falhas nos equipa-
seu funcionamento interrompido em função da
mentos ou no funcionamento das usinas gera-
alta temperatura dessa água, insuficiente para
doras, assim como problemas de transmissão,
resfriar o sistema interno (Jacobson, 2008).
paradas para manutenção e outros fatores que
Além de fenômenos naturais, conflitos políti-
também devem ser considerados na análise da
cos como guerras ou atos de terrorismo podem
intermitência de uma fonte.
afetar o suprimento de energia de usinas movi-
Os prejuízos de interrupções (previstas ou
das a combustíveis fósseis. Em períodos de guer-
não) podem ser graves para os geradores, prin-
ra ou em especulações de ataques terroristas em
cipalmente no caso de energia previamente ven-
regiões de exploração do petróleo, houve uma
dida e que não poderá ser entregue em função
oscilação em seu preço, pela incerteza de sua
dessas interrupções na geração. Nessa situação,
exploração. Um exemplo foi a Guerra do Golfo.
a energia a ser entregue precisará ser adquirida
Nesse caso, a geração de forma descentralizada,
www.fgv.br/ces/epc
a termo, os pagamentos chegar a até dois anos após a negociação.
25
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
7
No caso de um parque eólico, problemas em
uma torre não afetarão o funcionamento do conjunto. Tomando por base o parque eólico de Osório, a indisponibilidade de uma torre de 2MW terá um impacto de 1,33% sobre a geração total do parque. Dessa forma, a indisponibilidade do sistema é uma fração do índice verificado para cada turbina.
E L É T R I C A
realizada por tecnologias como aerogerado-
shore; e painéis fotovoltaicos, que variam entre
res e usinas maremotrizes, é menos suscetível a
0 e 2%. Ressalta-se que essa média refere-se a
interrupção do que usinas de grande porte de
unidades individuais de geração, sendo que no
geração centralizada como termelétricas fósseis,
caso de mau funcionamento ou parada de algum
hidrelétricas ou mesmo plantas de energia solar
equipamento, o conjunto não é completamente
concentrada (Jacobson, 2008).
afetado, representando assim um impacto redu-
Interrupções previstas para manutenção de equipamentos e reabastecimento variam de 5% a
Essa pequena variação de geração em rela-
20% do tempo de funcionamento anual de uma
ção à oferta total contrapõe-se à eventual indis-
usina, o que significa que essas geram na prática
ponibilidade de termelétricas fósseis, que, como
entre 80 e 95% da capacidade instalada teórica,
citado anteriormente, apresentam interrupções
sem contar seu fator de capacidade.
anuais não programadas de 6% e interrupções
Para o carvão, por exemplo, a média de in-
anuais para manutenção de 6,5%, comprome-
terrupções anuais para manutenções programa-
tendo o suprimento de energia.
das é de 6,5%, e a média de interrupções não
1.2. Aspectos ambientais
programadas é de 6%. A disponibilidade de usinas a carvão nos EUA registra limites entre
O meio ambiente é definido como o con-
79 e 92%. A interrupção programada de usinas
junto de fatores que afetam e determinam o
nucleares é de 39 dias a cada 17 meses, ou 7%,
comportamento e sobrevivência dos seres vivos
produzindo uma disponibilidade de cerca de
que o habitam. Faz sentido, portanto, organizar
93% (Lovins, 2009).
a análise das perturbações de atividades ener-
As médias apresentadas acima são elevadas
géticas sob esse meio nas áreas que represen-
em comparação ao tempo de indisponibilidade
tam suas matérias fundamentais: os meios aé-
de aerogeradores – variam entre 0 e 2% para ge-
reo, terrestre e aquático.
radores em terra e entre 0 e 5% para torres off-
26
zido no sistema7.
As diferentes etapas da cadeia energética, www.fgv.br/ces/epc
como: extração e produção de combustíveis,
de uma escala de tempo que permita seu de-
construção de usinas para geração de energia
senvolvimento tecnológico, seu crescimento em
com transmissão dessa energia aos centros de
escala e redução de seus custos. Esses fatores
consumo, provocam alterações ambientais e
dependerão de vontade política, tanto no âm-
transformam os recursos naturais.
bito federal, quanto estadual e municipal, para
A demanda por energia para o atendimen-
garantir os sinais adequados a esses mercados.
to ao desenvolvimento econômico e social e
Dentre os principais impactos da produção
para o bem-estar da população tem crescido
de energia elétrica no meio ambiente, pode-se
consideravelmente no mundo. Nos últimos 40
citar: poluição atmosférica, com destaque para
anos, a matriz elétrica global praticamente qua-
emissão de gases do efeito estufa, alteração da
druplicou: a geração de eletricidade passou de
vegetação, perturbação da fauna e flora, danos
6,12 mil TWh em 1973 para 22,12 mil TWh em
ao meio físico, terrestre e aquático, inclusive à
2011 (IEA, 2013). Desse total, 68% são represen-
fauna aquática.
tados por fontes fósseis (41,3% de termelétricas a carvão, 21,9% de termelétricas a gás natural e
1.2.1. Emissões de gases
4,8% de óleo combustível).
de efeito estufa (GEE)
Desde a revolução industrial, no século 19,
Diferentes impactos ambientais e tipos de
o uso de combustíveis fósseis passou a ser pre-
emissões atmosféricas ocorrem em cada etapa
dominante na oferta de energia, impulsionando
da cadeia energética, de acordo com as caracte-
o crescimento das emissões de dióxido de car-
rísticas das fontes energéticas e das tecnologias
bono (CO2) e de demais gases. Essa ação acar-
empregadas em sua conversão. As fontes reno-
retou na intensificação gradativa do efeito estu-
váveis costumam apresentar níveis muito baixos
fa (fenômeno natural do planeta Terra em que
de emissões de gases de efeito estufa (GEE), en-
determinados gases na atmosfera impedem que
quanto as fontes não renováveis (à exceção da
parte do calor absorvido do Sol seja dissipado),
energia nuclear) contribuem significativamente
levando ao aquecimento global que tem gera-
para o aumento do efeito estufa no planeta, emi-
do mudança das características do clima, como
tindo grande quantidade desses gases na etapa
ocorrência das chuvas, duração das estações
de produção da energia.
secas, dinâmica de massas e correntes de ar e
Porém, para que as diferentes fontes possam
ocorrência de fenômenos abruptos como ciclo-
ser comparadas de maneira mais coerente sob
nes, tempestades e furacões.
o aspecto de emissões de GEE, devem ser con-
Para minimizar os efeitos nocivos das mudan-
sideradas na análise todas as emissões associa-
ças do clima, são necessárias medidas urgentes
das, sejam elas diretas, sejam indiretas: é neces-
para reduzir e controlar a emissão dos gases de
sária uma análise completa do processo, desde
efeito estufa. O controle dessas emissões passa
a extração das matérias-primas (combustíveis),
por diferentes medidas, entre as quais justamen-
transporte, processo de geração, transmissão e
te a redução do uso dos combustíveis fósseis e a
distribuição da energia. Naturalmente, essa aná-
transição energética em direção à intensificação
lise completa demanda esforços e estudos mais
do uso de energias renováveis.
complexos, sendo que atualmente é comum
Cerca de três quartos das atuais reservas comprovadas de petróleo e gás natural não po-
uma análise simplificada, considerando apenas as emissões diretas da geração da energia.
derão ser consumidas, se quisermos alcançar a
A emissão total de cada recurso energéti-
meta de redução necessária de gases de efeito
co pode ser quantificada por uma análise das
estufa até 2050 (Meinshausen; Hare; et al, 2009).
interações entre todos os processos envolvidos
Complementarmente, o potencial de energias
desde a obtenção do combustível até a geração
renováveis é suficientemente amplo para aten-
de energia. A avaliação de ciclo de vida (ACV)
der à demanda futura de energia. Vale ressaltar
contabiliza todos os custos energéticos desses
que essa substituição deve ser planejada dentro
processos, por meio da coleta e processamento
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de uma ampla gama de dados como implica-
por outro lado, as energias renováveis hidrelé-
ções geográficas dos processos energéticos, a
trica, eólica, solar, oceânica, por não envolve-
qualidade do combustível utilizado nesses pro-
rem a queima de combustíveis fósseis em seus
cessos e a logística envolvida. Naturalmente,
processos, não possuem emissões de GEE di-
tal método gera resultados variados de acordo
retas. Isso também se aplica à geração nuclear.
com os fatores considerados.
Assim, para essas fontes devem ser analisadas
A Tabela 1, a seguir, mostra as emissões de
apenas as emissões indiretas, aquelas prove-
CO2 equivalente de recursos energéticos, refe-
nientes das perdas no processo de transmissão
rentes a sua cadeia energética.
e distribuição, da construção e a operação das
Os valores apresentados na Tabela 1 são provenientes de diferentes fontes e apresentam
usinas, bem como a fabricação e o transporte de equipamentos utilizados.
valores mínimos e máximos elásticos para cada
No caso das usinas nucleares, as emissões
fonte, em função de particularidades envolvidas
indiretas são aquelas provenientes do processo
em sua cadeia energética. A seguir são elen-
de extração e transporte do minério utilizado
cados os principais fatores que influenciam as
(desde sua mineração, processamento e uso
emissões de GEE de cada fonte.
em reatores), da construção da usina e o gas-
Na etapa de geração de energia, usinas
to energético do condicionamento de resíduos
termelétricas com base em combustíveis fós-
e do descomissionamento das usinas, após
seis registram as maiores emissões diretas de
sua vida útil, o que representa alto consumo
GEE decorrentes da combustão: uma usina
de energia e queima de combustíveis fósseis
térmica movida a gás natural emite cerca de
(Sovacool, 2008b). No caso das hidrelétricas,
300 gCO2e/kWh; usinas térmicas movidas a car-
as áreas alagadas para composição dos reser-
vão geram aproximadamente 1.000 gCO2e/kWh
vatórios podem representar uma grande fonte
(Unece, 2007). Em outro extremo, tecnologias
emissora, caso contenham matéria orgânica em
de geração com base em fontes renováveis li-
seu leito, gerando altas emissões de metano
vremente disponíveis na natureza registram
(CH4) decorrentes da decomposição desta. Um
emissões reduzidas, inferiores a 50 gramas de
exemplo representativo é o da hidrelétrica de
CO2 equivalente para o mesmo kWh produzido
Balbina, no Amazonas.
(para energia solar, biomassa e hidrelétricas) e
As usinas movidas a biomassa apresen-
na faixa de 10 gCO2e/kWh, no caso da energia
tam emissões predominantemente advindas
eólica (Jacobson, 2008).
da queima de combustíveis para a geração de
No processo de transformação de energia,
energia, porém apresentam valores muito inferiores às alternativas fósseis como gás natural, óleo combustível e carvão mineral. O CO2
tabela 1: Emissões de GEE de recursos energéticos (em gCO2e/ kWh). Fonte: IPCC; Jacobson, 2008; Sovacool, 2008.
derado biogênico, pois o carbono emitido fora sequestrado anteriormente durante o processo de crescimento do vegetal por meio da fotos-
Emissões (gCO2e/kWh)
síntese. Isso significa que tais emissões não au-
Eólica
2,8-7,4
Solar CSP
8,5-11,3
ao contrário da queima de combustíveis fósseis,
Recurso Energético
Nuclear
9-130
mentam a concentração de CO2 na atmosfera, que lança na atmosfera o carbono que estava estocado no subsolo há milhões de anos.
Biomassa
14-35
Hidrelétrica
17-300
No caso de uma matriz energética, onde há
Solar PV
19-59
contribuição de diversas fontes, a análise mais
Oceânica
28
emitido durante a queima de biomassa é consi-
34-62
Termelétrica a gás natural
354-469
coerente ocorre na forma de um indicador de
Termelétrica a carvão
744-1050
intensidade carbônica que represente a quan-
Termelétrica a óleo combustível
778-900
tidade de gases emitida para cada unidade de www.fgv.br/ces/epc
energia gerada (geralmente indicado por tCO2e/
1.2.2. Ocupação do solo
MWh). No caso do Brasil, a intensidade carbôni-
e impactos na fauna e flora
ca é calculada mensalmente pelo Ministério de 8
A ocupação de extensões territoriais cons-
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) , consi-
titui um dos principais impactos de recursos
derando todas as fontes energéticas (usinas) que
energéticos ao meio ambiente, proporcional às
geraram energia elétrica naquele período; em
características naturais e à sensibilidade do local,
2012, o Sistema Interligado Nacional (SIN) re-
e dos impactos decorrentes dessa ocupação. A
gistrou uma emissão média de 0,0653 tCO2 para
avaliação da ocupação do solo por empreendi-
cada MWh gerado.
mento energético é medida pela relação entre a
Diversos estudos de institutos de pesquisa,
área ocupada e a capacidade instalada da usina
associações e outras instituições destacam o po-
ou a energia produzida pelo sistema. No entan-
tencial de redução de gases de efeito estufa por
to, a comparação da área utilizada em cada tipo
meio do emprego de fontes renováveis de ener-
de empreendimento energético envolve outros
gia. Entre eles estão relatórios da McKinsey, da
parâmetros como impactos à área e seu poten-
Agência Internacional de Energia (IEA), do Green-
cial de utilização para outros fins.
peace (em parceria com o European Renewable
No caso da geração renovável, a relação
Energy Council) e do Conselho Global de Energia
entre espaço ocupado e capacidade instalada
Eólica (GWEC), que fazem análises globais sobre
dos empreendimentos varia de acordo com as
as emissões de GEE associadas à energia.
condições naturais do local como relevo e cli-
O relatório da McKinsey, Pathways to low
ma, que impactam na disponibilidade ou aces-
carbon (2009), lista as principais medidas de mi-
so aos recursos, como potencial de vento para
tigação de gases de efeito estufa de diferentes
geração eólica, queda d´água para geração hi-
setores, posicionando-as em função de custo e
drelétrica ou viabilidade do plantio de biomassa
potencial de redução. Além de medidas de efi-
combustível. Por outro lado, as usinas termelé-
ciência energética, o relatório aponta as fontes
tricas dependem apenas da disponibilidade de
eólica, solar com grande potencial de abatimento.
combustíveis para operar, possibilitando maior
A IEA tem lançado anualmente o World
mobilidade geográfica. Nesses casos, a relação
Energy Outlook (WEO), que descreve o estado
entre área ocupada e capacidade instalada é
da arte de fontes renováveis e traça projeções
linear – desde que não considerada a área en-
energéticas mundiais. O estudo de 2011 (WEO
volvida na exploração ou na produção dos com-
2011) trouxe como inovação a inclusão de um ce-
bustíveis queimados nas usinas.
nário que prevê a redução do uso de carvão e
A área ocupada no solo ou fundo do mar
petróleo e multiplica por dez o uso das energias
por uma fundação de torre eólica varia entre
renováveis na geração de energia para que seja
13 e 20 m². Entretanto, o espaçamento entre as
possível atingir a meta global de emissão de GEE
torres, que contribui para um maior aproveita-
9
abaixo da concentração de 450 ppms – que ga-
mento energético das turbinas, prevê uma área
rante uma probabilidade de 45% de o aumento
total de cerca de 500.000 m² para torres com
da temperatura global até o final do século ficar
turbinas de 5 MW.
abaixo dos 2 graus Celsius. O estudo ainda indi-
No caso da energia oceânica, a ondomotriz
ca que são necessários grandes investimentos fi-
apresenta uma necessidade maior que a mare-
nanceiros no setor energético até o ano de 2020
motriz: uma central oceânica ondomotriz com
para que a meta possa ser atingida. O atraso nas
potencial para 750 kW ocupa 525 m2 na super-
ações pode gerar consequências que custarão
fície do oceano, e uma turbina maremotriz de
caro aos cofres públicos mundiais: para cada
1.000 kW ocupa 288 m2 no fundo do mar – nesse
U$ 1 não investido até 2020 em ações de redu-
caso, a área ocupada não representa interferên-
ção de emissões, como o retrofit de usinas gera-
cia à navegação, mas possíveis impactos à vida
doras de energia, será necessário gastar U$ 4,3
marinha (Jacobson, 2008).
para compensar as emissões de GEE após 2020. www.fgv.br/ces/epc
8
Os valores mensais da geração de energia
elétrica do SIN estão disponíveis no site do MCTI: http://www.mct. gov.br/index.php/content/ view/74694.html
9
ppms – partes por milhão
Para hidrelétricas, a relação entre a capaci-
29
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dade das usinas e a área utilizada para a forma-
te do tipo de combustível utilizado. Porém, nesse
ção de lagos artificiais mostra grande variação
tipo de geração, a ocupação mais significativa do
de acordo com cada projeto: grandes usinas
solo é referente à produção ou extração de com-
hidrelétricas (UHEs) demandam grandes reser-
bustível – de carvão e urânio a cana-de-açúcar ou
vatórios, enquanto que as PCHs e usinas a fio
outras formas de biomassa – resultando em ín-
d’água, em sua maioria, demandam áreas me-
dices diferenciados de capacidade instalada por
nores por conta da redução ou ausência de re-
área ocupada. Por exemplo, a cogeração de ele-
servatórios. O potencial de geração de energia
tricidade a bagaço de cana ocupa uma extensão
nem sempre está diretamente relacionado à
territorial considerável em função da energia gera-
área ocupada, porém a maioria das UHEs pos-
da, em comparação com as demais termelétricas.
sui capacidade de geração superior às PCHs,
A produção de energia de 10 mil MWh por ano
principalmente em períodos de chuvas, quan-
com base na cogeração com biomassa de cana
do é possível armazenar maior volume de água
demandaria uma área para cultivo de 300 a 1.000
nos reservatórios das UHEs, possibilitando uma
hectares (Boyle, 2004). É importante ressaltar que,
melhor administração da quantidade de água e,
no caso da cana-de-açúcar, a área ocupada pela
consequentemente, da energia gerada.
plantação não está exclusivamente ligada à ge-
Plantas solares de painéis fotovoltaicos ou sis-
ração de eletricidade, sendo utilizado apenas o
temas termossolares (CSP) apresentam áreas simi-
bagaço (resíduo das usinas sucroalcooleiras) para
lares de ocupação: a área requerida para painéis
essa finalidade. Considerando que são geradas
fotovoltaicos é de 1,2 km para cada 100 MW ins-
aproximadamente 23 toneladas de bagaço para
talados, enquanto uma planta de CSP de 100 MW
cada hectare (ha) de cana-de-açúcar cultivado por
2
utiliza entre 3,8 e 4,7 km incluindo a área adicio-
ano (Macedo et al, 2004), a quantidade de baga-
nal que abriga o sistema de armazenamento de
ço gerado representa cerca de 30% da massa de
energia (Jacobson, 2008).
cana-de-açúcar produzida, que será utilizada para
2
Usinas termelétricas apresentam áreas similares para a ocupação da usina, independentemen-
30
a produção de álcool (etanol) e açúcar antes do uso do bagaço para a geração de eletricidade. www.fgv.br/ces/epc
A análise da área ocupada por instalações
atualmente. Foi elaborada a partir de dados de
de usinas ou sistemas energéticos deve consi-
um estudo realizado pelo Ministério de Minas e
derar, além da extensão territorial, o impacto
Energia (MME), fixando a energia gerada em Belo
nos biomas originais e nas atividades econômi-
Monte (40 milhões de MWh) para diferentes siste-
cas e sociais conduzidas previamente no local.
mas energéticos e comparando os valores médios
Também há impactos na área necessária para a
de áreas utilizadas nesses sistemas, com a com-
transmissão da energia, decorrente da instalação
plementação de informação de outras fontes.
de redes e linhas. Como exemplo desses impac-
A “área utilizada (km2)” na Tabela 2 com-
tos, o planejamento da expansão hidrelétrica na
preende a área da usina (local de geração da
Região Norte do Brasil, especificamente pela
energia) e também a área necessária para a ob-
implantação de usinas nos rios Tapajós e Jaman-
tenção do recurso energético, como o cultivo
xim, no Pará, deve afetar diretamente 871 km²
(no caso de biomassa) e a extração (no caso das
de áreas protegidas de floresta (Eletrobrás et al.,
termelétricas a carvão, óleo e das nucleares). As
2009). Em contrapartida, alguns parques eólicos
únicas fontes que não compreendem a área adi-
já aproveitam parte do espaço entre as turbinas
cional de obtenção de recursos são a solar e a
(área desocupada) para outras culturas, reduzin-
eólica, sendo sua “área utilizada (km2)” equiva-
do assim o impacto negativo de sua implantação
lente à área de geração apenas.
e da parcela inutilizada da área total ocupada.
Além dos impactos ambientais diretos de-
Um exemplo é o parque eólico de Osório, no Rio
correntes da construção e implementação de
Grande do Sul, que utiliza a área entre as turbi-
empreendimentos energéticos, há que se con-
nas para pastagens e agricultura.
siderar outros impactos indiretos no entorno,
A Tabela 2, a seguir, apresenta a relação da
na paisagem, na fauna e flora locais. Nesse as-
capacidade instalada (MW) e a área utilizada para
pecto, os impactos gerados pelas grandes usi-
diversos tipos de fontes e usinas em operação
nas hidrelétricas e respectivos reservatórios são
tabela 2: Relação entre Capacidade Instalada e Área ocupada de Recursos Energéticos (ordenados a partir da menor relação MW/km2). Fonte: diversos.
Fonte Energética /Usina
Capacidade Instalada (MW)
Área utilizada (km2)
Relação capacidade/ área utilizada (MW/ km2)
Hidrelétrica – Balbina c
250
2.360
0,11
Biomassa* (FC=48%) b
9.522
12.000 - 80.000 d
0,12-0,8
Hidrelétrica – Tucuruí a
4.240
2.430
1,74
PCHs* (FC=55%) b
8.310
831-1.662
5 - 10
Eólicas* (FC=43%) 5
10.500
921 - 2.100
5 - 11,4 f
Hidrelétrica – Itaipu a
14.000
1.549
9,04
Hidrelétrica – Jirau b
3.300
258
12,5
Solar CSP (FC=25%) 6
18.265
694 – 858
21,3 - 26,3
Hidrelétrica – Belo Monte b
11.233
516
21,8
Nuclear*
5.400
25 – 111
48,8 – 214,3
Hidrelétrica – Xingó a
3.000
60
50
Termelétrica Carvão* (FC=85%)
5.372
7,4 - 64,7 f,g
83 – 729 f,g
Solar PV* (FC=16,5%) b
28.000
277 – 336 f
83,3 -101 f
Termelétrica Óleo* (FC=71,9%)
6.350
4,4
1042
REFERÊNCIAS A Mesquita & Milazzo, 2007;
F Jacobson, 2008;
B Mme, 2010;
G Abcm, 2009;
C Wittmann, 2009;
H Diário Oficial, 2008;
D Boyle, 2004;
I Eletronuclear, 2010
E Elaboração própria;
* Em geração elétrica equivalente à da usina de Belo Monte
www.fgv.br/ces/epc
31
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
os mais nocivos, e não se comparam às demais
cidade, produz cinzas em fatores superiores a 5 kg
fontes renováveis e tampouco às usinas hidre-
por tonelada de processamento de cana (Leme,
létricas a fio d’água, que não demandam gran-
2005). Outras formas de cogeração com base na
des áreas alagadas para operar. Isso se deve ao
biomassa produzem resíduos sólidos (como cin-
fato de que a construção de reservatórios causa
zas) em proporções diferentes, de acordo com o
significativos impactos na área inundada, provo-
ciclo empregado; para o ciclo BIG-GT (Gaseifica-
cando a perda da vegetação e fauna terrestre,
ção da Biomassa Integrada por Turbina a Gás, da
interferências na migração dos peixes e even-
sigla em inglês), a estimativa apresentada por fon-
tuais mudanças hidrológicas a jusante da repre-
te é de 0,224 g/kWh (Mann; Spath, 1997).
sa. Além disso, alguns reservatórios inundam
A geração geotérmica, por conta de sua
terras com heranças históricas e culturais, como
operação, tem impactos particulares ao solo, re-
a dos indígenas no caso brasileiro.
lacionados à indução de sismicidade (capacida-
As demais fontes renováveis também apresentam impactos na flora e fauna, mas com me-
da massa de fluido geotérmico (HUNT, 2001).
nor intensidade do que os impactos causados
Já as fontes solar fotovoltaica (PV) e solar
pelos grandes empreendimentos hidrelétricos.
concentrada (CSP) impactam o solo por meio
Mesmo que existam impactos na geração de
da produção de efluentes químicos durante o
energia eólica, de biomassa e solar, esses são
processo produtivo de seus componentes e por
considerados ambientalmente aceitáveis, con-
descarte dos fluidos envolvidos na operação das
forme elencado a seguir.
usinas concentradoras de energia solar.
Entre os principais impactos causados pelos parques eólicos podemos citar alteração da
32
de de geração de tremores no solo) e alteração
1.3. Aspectos sociais
rota de migração de pássaros, além da poluição
Empreendimentos energéticos podem in-
visual e sonora, pois o som do vento nas pás
fluenciar substancialmente o desenvolvimento
implica em um ruído constante. Além disso, de
socioeconômico no seu entorno. Os diversos
acordo com o estudo O Setor Elétrico Brasileiro
impactos decorrentes da inserção de grandes
e a Sustentabilidade no Século 21, verificou-se
empreendimentos são em sua maioria nocivos às
casos de implantação indevida de parques eóli-
populações locais, mas também devem ser anali-
cos em áreas de proteção ambiental, dunas ou
sados benefícios indiretos.
sítios arqueológicos. Desapropriações de faixas
Os casos mais marcantes nesse sentido no
de terra são previstas também para a implan-
Brasil estão relacionados aos grandes empreen-
tação de linhas de transmissão, conectando os
dimentos hidroelétricos. Esses empreendimentos
parques a centrais elétricas e subestações.
demandam grandes modificações no local de im-
A poluição do solo e a contaminação dos ma-
plementação, não somente nos aspectos físico e
nanciais são os principais impactos negativos da
ambiental, mas também na sociedade local. Os
produção de biomassa. Em usinas de etanol, os
impactos negativos desse tipo de empreendimen-
processos de fermentação e destilação produzem
to são normalmente agravados quando o local ca-
efluentes como a vinhaça, organoclorados, cobre
racteriza questões complexas, como difícil acesso,
e outros contaminantes, que, por vezes são de-
questões indígenas, disputas de terra, entre ou-
positados no solo, alterando sua acidez e, poste-
tros; como é o caso das diversas hidrelétricas ins-
riormente, alcançando lençóis freáticos e conta-
taladas e em instalação na região Amazônica. No
minando rios e mananciais próximos à área das
Brasil, cerca de 200 mil famílias foram desalojadas
plantações. A queima dos canaviais altera diferen-
para a construção de aproximadamente 150 usi-
tes parâmetros do solo como umidade, taxa de
nas hidrelétricas em um período que compreende
transpiração, porosidade e repelência à água, tor-
os anos de 1950 e 2005 (Bermann, 2007).
nando-o mais impermeável e, consequentemen-
Inicialmente, ocorre um enorme afluxo de
te, sujeito a erosões (Ferreira, 2006). Essa queima,
pessoas à região do empreendimento, seja
bem como a do bagaço para a geração de eletri-
em função das oportunidades de emprego na www.fgv.br/ces/epc
obra, seja na expectativa de oferecer serviços
populações, especulação imobiliária e indeniza-
ou produtos diversos a esse contingente de tra-
ções por desapropriações de terras. A microge-
balhadores. Invariavelmente, o poder público e
ração pode ainda proporcionar ganho de renda
a infraestrutura local não estão preparados para
pela comercialização da energia excedente ou
absorver esse crescimento populacional repen-
mesmo pelos descontos na tarifa de energia. A
tino, e os serviços públicos muitas vezes não
geração eólica, por sua vez, registra exemplos de
conseguem atender à demanda. O comércio
compartilhamento de terras com outras finalida-
local também não consegue atender ao cresci-
des como pastagens e agricultura, a exemplo do
mento repentino de demanda, o que leva a um
parque eólico de Osório, no Rio Grande do Sul.
aumento nos preços locais de bens e serviços
A contribuição de recursos energéticos ao de-
e gera dificuldades econômicas especialmente
senvolvimento econômico pode ser medida por
para a população de baixa renda.
diferentes indicadores, além da variação do PIB,
No caso da necessidade de construção de
tais como a receita obtida por recolhimento de
grandes reservatórios é comum ainda a remoção
impostos e taxas específicos sobre as atividades
de populações ribeirinhas, indígenas, agricultores
do setor e a redução de importação na balança
familiares, dentre outros, das áreas que serão ala-
comercial, entre outros. Na Espanha, por exem-
gadas. Nem sempre a remoção é bem-sucedida
plo, a indústria eólica contribuiu com 3,27 bilhões
no sentido de preservar a identidade cultural des-
de euros, ou 0,2% do PIB do país, no ano de 2008.
sas populações. Caso semelhante pode ser encon-
O aquecimento econômico traduz-se no aumento
trado para a biomassa: muitas vezes, a área utiliza-
de atividades industriais e comerciais, estimulan-
da para o plantio e cultivo da biomassa é resultado
do a demanda energética local e, por consequên-
do avanço sobre áreas então dominadas pela agri-
cia, contribuindo para o efeito econômico circular.
cultura familiar, e pode comprometer a segurança
O reflexo desses fatores sobre a socieda-
alimentar na região, e descaracterizar a estrutura
de é a criação de empregos diretos e indiretos
socioeconômica local, levando a um êxodo em di-
por consequência da implantação de atividades
reção à áreas urbanas. Monoculturas como a cana-
energéticas (analisada em outro atributo) e da
-de-açúcar e a soja apresentam exemplos de im-
conversão desses empregos em maior renda
pactos sobre a manutenção da agricultura familiar
para a região. A geração de empregos, entre-
e mudanças no padrão de produção agrícola, con-
tanto, um impacto positivo de empreendimen-
forme apontado em trabalho de campo realizado
tos energéticos, muitas vezes não se consolida
em regiões do Triângulo Mineiro e Zona da Mata,
como benefício para o desenvolvimento local já
em Minas Gerais; Oeste Paulista, em São Paulo; Sul
que a maior parte desses empregos é temporá-
e Leste do Mato Grosso do Sul; e Noroeste do Rio
ria e preenchida por imigrantes. Mesmo a ren-
Grande do Sul (Assis; Zucarelli, et al, 2007). Ativi-
da da exploração dos recursos energéticos nem
dades secundárias como a construção de linhas de
sempre se reverte para o desenvolvimento local,
transmissão de energia ou a extração e a produção
como é o caso da distribuição de royalties e par-
de recursos energéticos também podem provocar
ticipações especiais associadas à produção de
deslocamentos de populações.
petróleo e gás natural no Brasil.
Os impactos positivos da implementação de
Cada recurso energético apresenta um po-
empreendimentos energéticos podem ser ilus-
tencial de geração de empregos diferente, com
trados no caso de sistemas descentralizados de
características distintas de acordo com sua ca-
geração de energia. Para esse tipo de geração,
deia energética, que é normalmente dividida nas
a necessidade de realocação de populações e os
seguintes fases: estudos e projetos, produção e
impactos decorrentes do processo são, normal-
processamento de combustíveis (se aplicável),
mente, menores. Na microgeração fotovoltaica,
construção da planta de geração de energia – in-
por exemplo, o uso de telhados de edificações
cluindo a fabricação e instalação de equipamen-
reduz significativamente os impactos sociais, par-
tos – operação e manutenção da usina e desco-
ticularmente no que se refere a deslocamento de
missionamento (se aplicável).
www.fgv.br/ces/epc
33
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A Tabela 3, a seguir, indica médias de em-
têm sido particularmente maiores do que inicial-
pregos em função de capacidade instalada de
mente previstos em função de equívocos no plane-
empreendimentos energéticos, nas etapas de
jamento e execução das medidas compensatórias
construção, instalação, manutenção e produção e
inicialmente previstas para o empreendimento. Em
gerenciamento de combustíveis (Rutovitz, 2009).
geral, a comunidade da região é pouco envolvida
Cabe comentar que as taxas de empregos
no planejamento e definição de quais medidas mi-
das fontes eólica e solar apresentam números
tigadoras e compensatórias devem ser adotadas,
relativamente altos em função dos processos
ou seja, na definição sobre quais rumos o desen-
envolvidos na fabricação de componentes e na
volvimento socioeconômico local tomará a partir da
construção de sistemas.
inserção do empreendimento. Mais ainda, as medi-
Os impactos socioeconômicos negativos dos
das mitigadoras raramente são implementadas com
grandes empreendimentos energéticos no Brasil
a antecedência necessária para reduzir os impactos.
tabela 3: Fatores de Empregos para fontes energéticas (em empregos por MW).
Fonte: referências
indicadas para cada item na própria tabela.
Fonte Energética
34
Construção/Instalação/ Manufatura (Empregos/MW)
Operação/Manutenção (Empregos/MW)
Referência JEDI model
Carvão
14,4
0,25-3,2
Gás natural
3,4
0,47
JEDI model
Nuclear
16
0,33
Rutowitz, 2009
Biomassa
4,3
4,4
EPRI 2001, DTI, 2004
Hidrelétrica
11,3
0,22
Pembina, 2004
Eólica onshore
15,4
0,4
EWEA, 2009
Eólica offshore
28,8
0,77
EWEA, 2009
Solar fotovoltaica
38,4
0,4
EPIA, 2008; BMU, 2008
Geotérmica
6,4
0,74
GEA 2005
Solar concentrada (CSP)
10
0,3
EREC 2008
Oceânica
10
0,32
Serg 2007; Spok, 2008
www.fgv.br/ces/epc
www.fgv.br/ces/epc
35
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Matriz elétrica
BRASILEIRA
O
Brasil tem sido bem-sucedido em man-
2.1. CENÁRIO ATUAL
ter sua matriz elétrica predominante-
O Balanço Energético Nacional (BEN) apresenta
mente renovável, com taxas próximas a
o cenário energético brasileiro no que tange a oferta e
90%. Essa é uma característica marcan-
o consumo de energia. Dados da última edição do Ba-
te do País, que mantém sua posição entre as matrizes
lanço (EPE, 2013a) relatam uma geração de 552,5 TWh
mais renováveis do mundo, graças, sobretudo, ao apro-
no ano de 2012, que representa um aumento de 3,9%
veitamento do potencial hidráulico do País. No final da
com relação à energia elétrica gerada em 2011. Esse
década passada, a contratação de uma alta proporção
aumento da geração foi compatível com o aumento
de termelétricas fósseis colocou em risco essa posição,
do consumo de eletricidade, que foi de 3,8% no mes-
mas, nos anos seguintes, o aumento da contratação da
mo período. A participação das fontes não renováveis
fonte eólica equilibrou novamente o balanço entre fon-
de energia foi maior em 2012 em relação ao ano ante-
tes fósseis e renováveis.
rior, e passaram a responder por 16,7% do total gera-
Outra característica fundamental da matriz elétrica
do – em 2011, esta parcela era de 11,9%. Ao mesmo
nacional é a combinação hidrotérmica, sendo pratica-
tempo, as fontes renováveis de energia tiveram redu-
mente irrelevantes a participação de outras fontes de
ção de 4,4% em sua participação na matriz nacional,
energia alternativa, tais como a eólica, a solar e a bio-
representando 84,5% em 2012.
massa. A opção pelo aumento da contribuição de fon-
A Figura 2 apresenta a composição da matriz elé-
tes fósseis na geração de energia elétrica contribui para
trica brasileira nos anos de 2011 e 2012 e a participação
uma elevação nas emissões de gases do efeito estufa
de cada uma das fontes de energia na geração de ele-
(GEE), além de aumentar a dependência de recursos
tricidade do País.
não renováveis, nos quais o Brasil não é plenamente
Conforme pode ser observado na Figura 2, hou-
autossuficiente, o que faz que o País dependa de im-
ve uma redução na participação das fontes de energia
portações e fique exposto às variações de preços do
renovável como a hidráulica (-4,9%) e a eólica (-0,4%),
mercado internacional.
sendo que as fontes não renováveis apresentaram
O modelo hidrotérmico opera na base do sistema elétrico nacional, sendo prioritário o despacho da ener-
aumento nas parcelas de carvão e derivados (+0,2%), derivados de petróleo (+0,7%) e gás natural (+3,5%).
gia hidrelétrica. Nos momentos de pico de consumo
Também foi registrado um aumento de 3,8% no
ou em situação de indisponibilidade das hidrelétricas
consumo de energia elétrica no período 2011-2012,
(como secas, queda de fluxo dos rios ou baixos níveis dos reservatórios), as usinas térmicas fósseis são acionadas para atender à demanda. Considerando a crescente da demanda por energia projetada até 2021, será necessário diversificar as fontes que contribuem para o Sistema Interligado Na-
FIGURA 2: Matriz de energia elétrica nacional em 2011 e 2012.
Fonte: Síntese do Balanço Energético Nacional 2013 – Ano base 2012. Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), 2013a.
Brasil (2012)
cional visando uma maior garantia no fornecimento de eletricidade. Para tanto, deve-se oferecer incentivos ao desenvolvimento de toda a cadeia produtiva das fontes renováveis alternativas (como solar, eólica e biomassa), que são complementares às usinas hidrelétricas que
7,9%
3,3%
Brasil (2011) 2,7%
1,6%
2,8%
6,8%
6,6%
76,9%
O presente capítulo analisa o cenário elétrico na-
1,4%
0,5%
0,9%
atualmente dominam a geração de energia no País.
4,4%
2,6%
81,8%
cional a partir do Balanço Energético Nacional (BEN) e da previsão feita para o País em 2021 no Plano Decenal de Energia (PDE 2011-2021), tomando como base as questões climáticas. Além de analisar a questão das
Gás natural
Biomassa3
Carvão e derivados1
emissões de GEE, são apresentadas as impressões das
Hidráulica
Nuclear
Derivados de petróleo
organizações-membro da Plataforma Empresas pelo Clima (EPC), que representam o setor empresarial.
www.fgv.br/ces/epc
Eólica
1. Inclui gás de coqueria 2. Inclui importação 3. Inclui lenha, bagaço de cana, lixívia e outras recuperações.
37
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Um exemplo dessa política foi o último leilão de energia de reserva realizado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE (A-5, em 29 de agosto de 2013), que prioriza usinas termelétricas a carvão e gás natural, ao mesmo tempo, elimina a fonte eólica da disputa. A justificativa que tem sido apresentada constantemente é a falta de confiabilidade das fontes renováveis para atender à demanda futura de energia. Porém, os resultados do leilão indicam que, apesar da baixa confiabilidade das renováveis, as usinas termelétricas fósseis não têm apresentado preços competitivos. No 1º Leilão de Energia A-5/2013, foram negociados Contratos de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado (CCEAR), na modalidade por quantidade para usinas hidrelétricas, e na modalidade por disponibilidade para usinas termelétricas a carvão, gás natural em ciclo combinado ou biomassa (EPE, 2013b). Ao todo foram contratados 19 empreendimentos de geração (para entrega da energia a partir de 1º de janeiro de 2018), que somam sendo que foram consumidos 498,4 TWh no último ano. Para atender a esta demanda, houve um acréscimo na capacidade instalada nacional na ordem de 3,8 GW em 2012. Esse aumento deve-se principalmente às fontes hidráulicas e térmicas, que contribuíram com 47,8% e 40% do total de energia adicional inserida no sistema, respectivamente. Em contrapartida, o crescimento da parcela eólica foi de apenas 12,2%. É importante ressaltar que o incremento na geração de energia foi maior que o do consumo no mesmo período, sendo que parte da energia potencial não foi gerada.
2.1.1. SISTEMA DE DESPACHO O Brasil tem sido bem-sucedido na manutenção de sua matriz elétrica predominantemente renovável e, mesmo que a participação relativa de fontes fósseis tenha aumentado nos últimos anos, ainda são mantidas taxas de participação de fontes renováveis acima de 80%. Enquanto o Brasil apresentou taxas de 84,5% de participação de renováveis na matriz em 2012, a média mundial foi de apenas 19,7% (no ano de 2010). Porém, as decisões do governo brasileiro no que tange a expansão e diversificação da matriz energética nacional têm caminhado na contramão das tendências mundiais por maior participação de fontes renováveis, sendo que as fontes fósseis tem ganhado espaço cada vez maior.
38
uma capacidade instalada de 1.265 MW, com preço médio de R$124,97/MWh. Nesse contexto é importante lembrar que o preço médio da energia eólica continua inferior ao das demais fontes: no último leilão de reserva exclusivo para eólicas (A-3, realizado em agosto/2013), o preço médio contratado foi de R$ 110,51/MWh. Justifica-se, portanto, a preocupação do governo em retirar as eólicas dos leilões tipo A-5, uma vez que essa fonte pode prejudicar ainda mais as termelétricas a carvão e gás natural, por exemplo, que não poderão oferecer preços suficientemente competitivos. Os resultados do leilão A-5/2013 são apresentados na Tabela 4. Como pode ser observado na Tabela 4, nenhum empreendimento termelétrico fóssil foi contratado no leilão A-5/2013. Apesar de esse leilão priorizar este tipo de fonte, apenas três empreendimentos termelétricos a carvão foram habilitados a participar do leilão e resultaram por não ser contratados em decorrência dos preços pouco competitivos com as demais fontes renováveis participantes. Os principais desafios em torno das usinas hidrelétricas (UHEs) se referem à construção de grandes reservatórios e barragens para potencialização da queda d’água. A esses aspectos característicos das UHEs são atribuídos grandes impactos ambientais e sociais. Além disso, existe o risco de intermitência na
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tabela 4: Resultados do 1º Leilão de Energia A-5/2013, realizado em 29 de agosto de 2013. Fonte: EPE, 2013b.
1o leilão de energia a-5 / 2013 – resultado final Projetos Contratados
Capacidade Instalada (mw)
Garantia física (mw médios)
Preço médio (r$/mwh)
UHE Sinop
1
400
239.8
109,40
UHE Salto Apiacás
1
45
22.9
119,97
PCH
8
173,5
92,3
127,01
Biomassa (cavalo de madeira)
2
300
241,2
136,69
Biomassa (bagaço de cana)
7
347
152,5
133,57
TOTAL
19
1.265,5
748,7
124,97
Fonte
geração da energia, uma vez que eventos naturais
Cenário Brasileiro 2013, publicado pelo Greenpeace,
como secas extremas impactam diretamente essa
GWEC (Conselho Internacional de Energia Eólica) e
fonte. Segundo as autoridades nacionais, pequenas
Erec (Conselho Europeu de Energia Renovável) de-
centrais hidrelétricas à fio d’água não são suficientes
monstram o contrário, como pode ser observado nos
para suprir a demanda nacional, pois não permitem
cenários descritos a seguir. A Figura 3 ilustra o atual sistema brasileiro de
o armazenamento da energia. Dessa maneira, afirma-se que a energia advin-
operação de fontes de energia, no qual apenas 25%
da de fontes térmicas e fósseis são necessárias para
de participação de energia renovável é variável. Nesse
garantir o fornecimento de energia ao País, conside-
modelo, a energia de base consiste em um abaste-
rando que outras fontes renováveis não seriam su-
cimento de energia mínimo e ininterrupto nas redes,
ficientes para atender à demanda existente. Como
tradicionalmente feito por hidrelétricas, usinas térmi-
consequência, o investimento em fontes fósseis é
ca a carvão e usinas nucleares. Essas fontes produzem
priorizado, tendo como justificativa as dificuldades e
energia trabalhando em capacidade máxima, mesmo
a falta de segurança das fontes renováveis. Porém,
se não houver demanda. Quando a demanda é baixa,
estudos recentes como o Revolução Energética –
a eletricidade produzida por essas fontes é desperdi-
FIGURA 3: Sistema atual de operação e despacho.
Fonte: Revolução Energética – Cenário Brasileiro 2013.
Greenpeace; GWEC, 2013.
CURVA DE CARGA
GW
ENERGIA FLEXÍVEL: OPERADOR DO SISTEMA COMBINA HIDRELÉTRICAS COM TÉRMICAS A GÁS, ÓLEO E DIESEL
ENERGIA RENOVÁVEL FLUTUANTE ENERGIA DE BASE
0h
6h
12h
18h
24h
Período do dia (hora)
www.fgv.br/ces/epc
39
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E L É T R I C A
FIGURA 4: Modelo sugerido com energia de base combinada à energia renovável flutuante. Fonte: Revolução Energética – Cenário Brasileiro 2013. Greenpeace; GWEC, 2013.
CURVA DE CARGA
GW
ENERGIA EXCEDENTE
ENERGIA DE BASE PRIORIZADA: NUCLEAR OU CARVÃO NÃO TEM RESTRIÇÕES
ENERGIA DE BASE
0h
6h
12h
18h
24h
Período do dia (hora)
çada (Greenpeace; GWEC, 2013). Usinas hidrelétricas
de consumo de eletricidade ao longo do dia, no qual
com grandes reservatórios e térmicas fósseis (movidas
ocorrem picos e vales que podem ser previstos por
a gás, carvão, óleo ou diesel) podem ser acionadas
medições de energia e séries históricas (Greenpea-
para responder às demandas de consumo energético
ce; GWEC, 2013).
em horários de pico. Assim, na operação desse mo-
Como alternativa ao modelo atual, o referido
delo, a energia de base é a primeira a ser despachada
estudo propõe dois modelos possíveis: um com ma-
porque já está disponível no sistema, enquanto as de-
nutenção da energia de base prioritária (Figura 4) e
mais fontes renováveis (eólica e solar) possuem baixa
outro com priorização da energia renovável variável
participação, sendo acionadas esporadicamente.
(Figura 5), conforme descrito a seguir.
A curva de carga representa um padrão típico
Na Figura 4 é possível observar a manutenção
FIGURA 5: Modelo sugerido com energia de base combinada à energia renovável flutuante. Fonte: Revolução Energética – Cenário Brasileiro 2013. Greenpeace; GWEC, 2013.
CURVA DE CARGA
GW
PRIORIDADE DE DESPACHO A RENOVÁVEIS FLUTUANTES E RESTRIÇÃO À OPERAÇÃO DE ENERGIA DE BASE
0h
40
6h
12h Período do dia (hora)
18h
24h
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A Biomassa para Geração de Energia Elétrica
O
bagaço de cana é o principal biocombustível de
sua capacidade geradora. O Brasil está aumentando sua
geração de termelétrica, porém o licor negro
produção de celulose e instalando grandes plantas. Esse setor
(lixivia), os resíduos florestais, o biogás e a casca de
opera com alta tecnologia na geração, sendo suas caldeiras de
arroz já aparecem na composição da bioeletricidade brasileira.
altíssima pressão, acima de 100 atmosferas, leito fluidizado e
Plantios energéticos de ciclo curto como capim-elefante,
outras tecnologias avançadas. As florestas energéticas estão
sorgo e bambu também já aparecem como plataformas
sendo plantadas e a perspectiva de ampliação das áreas é
viáveis em vários cenários.
grande. O biogás, que já aparece timidamente na geração,
A bioeletricidade contribuiu no ano de 2012 (BEN) com
é proveniente de aterros sanitários, de lodo de esgoto em
6,8% da geração elétrica brasileira. Sendo 79% gerada
ETE´s e de resíduos agroindustriais. O potencial para essa
com bagaço de cana, 14,9% com lixivia, 5% com resíduos
fonte é ainda desconhecido no Brasil. Cenário semelhante
florestais, 1% com biogás e 0,1% com casca de arroz. Embora
pode ser encontrado com a casca de arroz, que ainda não
a matriz elétrica brasileira seja dominada pela geração
teve seu grande potencial explorado, principalmente no
hidrelétrica, que também é renovável, já tem uma crescente
estado do Rio Grande do Sul (embora o arroz seja produzido
participação da bioeletricidade. O modelo dos leilões de
em todo o País).
energia contribui enormemente para o planejamento do setor,
Em termos de tecnologias de conversão da biomassa
porém vem penalizando a geração com biomassa por não
em bioeletricidade, já existe disponibilidade de sistemas
remunerar adequadamente a geração com biocombustíveis.
completos de geração termelétrica com engenharia nacional
A Aneel conduz os leilões de energia e tem recebido enorme
ou em parceria com empresas estrangeiras. Os processos
demanda para fazer as ofertas com base nas fontes: se
mais convencionais, como o ciclo a vapor, usam caldeiras de
adotada essa metodologia, o grande potencial brasileiro de
pressão acima de 65 atm. As tecnologias de gaseificação,
geração com biomassa poderá se viabilizar rapidamente.
para alimentar ciclos combinados de turbinas a gás e a vapor
A participação da biomassa energética no cenário atual da
simultaneamente, ainda esperam por projetos demonstrativos.
matriz elétrica nacional ainda é muito tímida, quando analisada
Os sistemas de geração com motores de ciclo Otto, queimando
a disponibilidade de matéria-prima e o desenvolvimento
biogás, já existem em reduzido número no País, mas poderão
tecnológico na área da bioenergia no País. Se for dado o
ser largamente difundidos tanto para uso urbano em aterros
real valor ao setor por meio das tarifas justas, os desafios da
sanitários e estações de tratamento de esgoto, como no meio
geração mais limpa com biocombustíveis serão alcançados
rural para resíduos animais ou para resíduos da agroindústria
mais rapidamente. As perspectivas são muito grandes entre
de milho, cana e outras. A queima simultânea de combustíveis,
todos os agentes que operam no setor.
fósseis e biocombustíveis, que é conhecida como co-firing
A exportação de energia elétrica pelas usinas de cana é
e que já é comercialmente praticada em outros países (com
atualmente feita por cerca de 25% das mais de 400 unidade
base principalmente na geração com carvão mineral) chegará
existentes no Brasil. A barreira no setor sucroenergético é
ao Brasil rapidamente. Essa tecnologia poderá, por exemplo,
claramente tarifária, pois as tecnologias de alta eficiência,
queimar a palha de arroz deixada no campo com o carvão
como as caldeiras de alta pressão, têm sido introduzidas
mineral e com gás natural também. As tecnologias para uso
com sucesso na reforma do parque gerador das usinas, e
e geração de energia com resíduos sólidos urbanos terão
não falta matéria-prima. A palha da cana (que dispõe de
incentivos baseados na Política Nacional de Resíduos Sólidos
oferta de quantidade igual à do bagaço) ainda não é usada
(PNRS) que poderá mudar radicalmente não somente o
em misturas com o bagaço na geração de energia, sendo
panorama dos aterros sanitários, mas também a geração para
assim, um combustível ainda subutilizado. O setor florestal
áreas urbanas com esse novo combustível.
e as indústrias de base florestal com seus resíduos, com destaque para o setor de celulose, podem aumentar muito
www.fgv.br/ces/epc
Por José Dilcio Rocha, pesquisador da Embrapa Agroenergia, Brasília-DF e professor do Mapgro, EE-SP/FGV.
41
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
da energia de base como despacho prioritário, porém com uma participação crescente das energias renováveis alternativas. Em alguns momentos do dia haverá inclusive oferta de energia renovável superior à demanda – esta sobra de energia pode ser armazenada ou redistribuída para outros locais e utilizada para gerenciamento de crises energéticas, desativando as térmicas durante os picos de consumo. A Figura 5 propõe um modelo com despacho priorizado das energias renováveis flutuantes (superando 25% de participação) e redução da energia de base. Nesse modelo, as fontes térmica a carvão e nuclear compõe a energia de base, mas operando com capacidade reduzida ou totalmente desativadas em momento de grande produção renovável – como abundância de sol e vento. Assim, o despacho das renováveis é garantido.
2.1.2. Capacidade instalada e potencial futuros As fontes renováveis possuem altos potenciais de geração no Brasil, mas ainda há barreiras técnicas e econômicas que precisam ser superadas para permitir uma participação maior dessas fontes na matriz elétrica nacional. A Tabela 5 apresenta os potenciais técnicos das principais fontes de energia no Brasil e seu potencial de mercado, representado pelos aproveitamentos atuais no País. As maiores potencialidades teóricas nacionais são representadas pela energia solar, eólica e hídrica, respectivamente. Conforme citado anteriormente, de acordo
tabela 5: Potenciais brasileiros de fontes energéticas. Fonte: compilação própria (referências na tabela)
1o leilão de energia a-5 / 2013 – resultado final Fonte energética
Potencial Teórico/ Técnico (MW)
Referência
Potencial Realizável/ de Mercado
Hidrelétricas de grande porte
260.000
MME/EPE
30%
Pequenas hidrelétricas
25.000
MME/EPE
30%
Solar concentrada (CSP)
50.000*
CSP Roadmap
-
Eólica onshore
300.000
Eletrobrás
20%
Eólica offshore
300.000*
Proventos
-
Solar fotovoltaica (PV)
950.000*
-
-
Biomassa (bagaço de cana)
30.000
Única
30%
Oceânica
114.000
Coppe
-
* Potenciais preliminares (dados não publicados oficialmente)
42
www.fgv.br/ces/epc
com o Atlas Solarimétrico do Brasil (Amarante et
fatores ambientais de grande impacto mundial, sen-
al, 2001), o País apresenta média anual de radiação
do que cada fonte energética têm um potencial dife-
global entre 1.642 e 2.300 kWh/m²/ano. Isso signi-
rente de influência nas questões climáticas. Sabe-se
fica que, teoricamente, se apenas 5% de toda essa
que as fontes renováveis possuem menor emissão de
energia fosse aproveitada, toda a demanda brasi-
GEE associada e que as fontes não renováveis podem
leira atual por eletricidade poderia ser atendida, ou
gerar grandes quantidades de emissões de GEE na
seja, 498,4 TWh (demanda registrada em 2012). A
geração elétrica.
energia solar também recebeu um impulso signifi-
No cenário brasileiro, o setor de energia (consi-
cativo representado pela publicação, em dezembro
derando todas as fontes, não apenas a energia elé-
de 2012, da resolução 482 da Aneel, que permite a
trica) representava apenas 16% do total de emissões
microgeração residencial de energia.
nacionais em 2005. Com o avanço das reduções das
Em seguida, a energia eólica tem um potencial
emissões dos demais setores e, principalmente, pela
nacional estimado em 143 mil MW, segundo o Atlas
redução das taxas de desmatamento no País, as pro-
Eólico Nacional (Amarante et al, 2001) e reavaliado
jeções indicam que em 2010 o setor energético já re-
para valores superiores a 300 mil MW de acordo com
presentava 32% das emissões nacionais e representará
os levantamentos estaduais em curso, considerando
27% em 2020. A Figura 6 indica a transição dos setores
apenas turbinas onshore. A potência instalada contra-
do inventário nacional de 2005 e a projeção para 2020. Atualmente, o Sistema Interligado Nacional (SIN)
tada em 36 meses, de dezembro de 2009 a dezembro de 2012, foi de 7.073,4 MW (Abeeolica, 2012).
brasileiro é composto por diversos atores que geram
O potencial teórico brasileiro para a geração hidrelétrica em usinas de grande porte (UHEs superiores a 30 MW) supera os 260 mil MW (EPE; MME, 2011), dos quais boa parte se concentra na Região
FIGURA 6: Emissões de GEE do Brasil por setor: 2005 e projeção para 2020. Fonte: MCTI, 2013.
Norte do País. O potencial para pequenos aproveitamentos hidrelétricos (PCHs e usinas de até 30 MW) é estimado em 25.913 MW no Brasil (Tiago et al, 2007), com melhor distribuição entre as regiões do País, sendo 27% na Região Sudeste, região de maior demanda energética. Além deste potencial, outros 330.135,39 GWh provenientes de fontes hídricas já são aproveitados atualmente. A energia de biomassa vale-se de diferentes processos para a geração elétrica, sendo o potencial mais notável o da cogeração a bagaço e palha de cana-de-açúcar. Considerando uma produção nacional estimada de 1 bilhão de toneladas de cana-de-açúcar até a safra de 2020/21, poderia-se produzir cerca de 14 mil MW médios de eletricidade, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única, 2012).
3,5
Gt CO2e
PROJEÇÃO 2020 3,2
2 INVENTÁRIO NACIONAL O
3,0 2,5
2,2
2,0 1,5 1,0 0,5 0,0
1990
2000
1995
2005
2010
2015
2020
MUDANÇA DO USO DA TERRA
AGROPECUÁRIA
ENERGIA
INDÚSTRIA DE RESÍDUOS
Por fim, a energia oceânica, representada pela energia das ondas, poderia atingir 114 mil MW, consi16%
derando a extensão da costa brasileira (Estefen, 2012).
27%
6%
2.2. Emissões de GEE do Sistema Interligado Nacional Conforme descrito no capítulo 2.2.1, as emissões
57%
20%
43%
7% 23%
de gases de efeito estufa (GEE) representam um dos
www.fgv.br/ces/epc
43
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
11
Dados do ano de 2011 – Anuário
Estatístico de Energia Elétrica (EPE, 2012).
12
Dados da ONS – http://www.ons.
org.br/conheca_sistema/o_ que_e_sin.aspx
13
Usinas funcionando na margem se referem
as que são despachadas para geração de energia apenas em horário de pico.
E L É T R I C A
energia a partir de fontes renováveis e não renová-
somente aquelas que estejam funcionando na mar-
veis. Por se tratar de um sistema único interligado (à
gem13. Se todos os consumidores de energia elétrica
exceção dos sistemas isolados que estão localizados
do SIN calculassem as suas emissões multiplicando a
principalmente na Região Amazônica, e representam
energia consumida por esse fator de emissão, o soma-
apenas 1,7% do consumo total de energia no País11
tório corresponderia às emissões efetivas da geração
12
e 3,4% da capacidade de produção nacional ), são
da eletricidade do SIN no período (MCTI, 2008). Os da-
consideradas as fontes que suprem tanto o mercado
dos calculados mensalmente são divulgados no site do
cativo quanto o mercado livre, sendo praticamente
MCTI e devem ser utilizados, por exemplo, para a con-
impossível identificar a fonte geradora para cada con-
tabilização das emissões de GEE de uma organização
sumidor do sistema. Apesar de o Operador Nacional
que consome energia da rede (SIN) em seu inventário
do Sistema (ONS) manter registros de todas as usinas
de emissões de GEE. O método de cálculo desse fator,
que operaram durante o ano e quanto foi gerado por
porém, não está publicamente disponível.
cada uma diariamente, esses dados não são públicos.
Sabe-se que as fontes renováveis de energia (hí-
São divulgadas apenas informações agregadas por re-
drica, solar e eólica) e as fontes nucleares não geram
gião do País ou tipo de fonte geradora como no Banco
emissões diretas de GEE na geração de energia, con-
de Informações de Geração (BIG) da Aneel. Por conta
trariamente às fontes não renováveis como as térmicas
disso, os consumidores não conseguem desagregar a
(fóssil e biomassa). Como para o cálculo do FE SIN são
informação disponível, a ponto de ser possível identifi-
contabilizadas todas as fontes conectadas ao siste-
car a origem e o tipo de energia que recebem através
ma, sendo que o MCTI considera que não há emissão
do SIN. Assim, para saber qual é o fator de emissão
de GEE associada à operação das fontes renováveis.
do SIN (FE SIN), ou seja, quanto foi emitido de GEE
Quanto maior o valor do FE SIN registrado, maior
para cada unidade de energia gerada no ano, são con-
será a contribuição de fontes não renováveis (exceto
sideradas todas as usinas que geraram energia no ano
as nucleares) de energia na matriz nacional. É possível
em questão e que utilizaram o SIN para transmissão e
analisar portanto, a partir do FE SIN, as tendências do
distribuição de energia.
cenário nacional à inclusão ou não de fontes fósseis na
Para cálculo do FE SIN, o Ministério da Ciência,
geração de energia.
Tecnologia e Inovação (MCTI) utiliza-se de dados diá-
Segundo dados da U.S. Energy Information Ad-
rios de geração de energia elétrica das unidades gera-
ministration (EIA), o Brasil é o 16º país no ranking de
doras ligadas ao SIN. A quantidade de CO2 associada
emissões de GEE associadas à energia elétrica (fator
à geração de energia elétrica é calculada a partir da
médio calculado entre 1999 e 2002, em tCO2/MWh).
média das emissões da geração, levando em conside-
Enquanto foram registradas 0,093 tCO2/MWh para o
ração todas as usinas que estão gerando energia e não
Brasil, países que também têm investido em geração renovável de energia como Alemanha, Espanha e Reino Unido registraram valores médios muito superiores,
tabela 6: Fatores de Emissão por país – valores médios entre os anos 1999 e 2002.
Fonte: Compilação própria – International
Electricity Emission Factors by Country, 1999-2002, U.S. Energy Information Administration (EIA).
País
É interessante observar que o dado mais recente publicado pelo Brasil é de 0,0653 tCO2/MWh (média para o ano de 2012), o que o coloca em posição
Fator de emissão - média 1999-2002 (tCO2/MWh)
Classificação no ranking da EIA
Costa Rica
0,015
8o
Brasil
0,093
16o
Espanha Reino Unido
ainda melhor no cenário mundial. Porém, esse valor é praticamente o dobro do valor registrado em 2006 pelo SIN, sendo visível um aumento do valor do FE do SIN ao longo dos anos, consequência do aumento da
0,443
o
59
participação de fontes não renováveis na geração de
0,475
62o
eletricidade no País. A Tabela 7 retrata a evolução do
Alemanha
0,539
75o
China
0,839
120o
* Valor médio parcial, considerando apenas os valores de janeiro a julho, publicados até o momento de elaboração deste estudo.
44
como pode ser visto na Tabela 6, a seguir.
fator de emissão do SIN brasileiro no período de 2006 a 2012 (valores calculados e publicados pelo MCTI). Conforme pode ser observado, o fator de emissão nacional já registrou valores muito menores em anos
www.fgv.br/ces/epc
na média do ano de 2013 – aumento de 65% com rela-
tabela 7: Fatores de Emissão do Sistema Interligado Nacional (SIN) – valores médios anuais.
ção ao valor de 2012. Esses valores refletem claramen-
Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI, 2013).
te a participação cada vez mais representativa de fon-
BRASIL
anteriores a 2012, apresentando aumento significativo
tes fósseis de geração de energia na matriz nacional.
∆% (diferença com relação ao ano anterior)
Ano
FE médio do SIN (tCO2/MWh)
políticas (condicionantes dos leilões de energia e os
2006
0,0323
–
planos de expansão da energia elétrica) e econômicas
2007
0,0293
-9%
2008
0,0484
65%
2009
0,0246
-49% 108%
Tanto as variáveis ambientais (como a sazonalidade das chuvas, períodos de seca etc) quanto as variáveis
(desenvolvimento de mercados de energia e variações no preço do MWh) contribuem para essa tendência.
2010
0,0513
Dados do Banco de Informações de Geração
2011
0,0292
-43%
(BIG) da Aneel reforçam a tendência, como pode ser
2012
0,0653
124%
2013*
0,1079
65%
observada a capacidade instalada de cada fonte de
* Valor médio parcial, considerando apenas os valores de janeiro a julho,
energia no SIN – indicados na Tabela 8.
publicados até o momento de elaboração deste estudo.
De maneira geral, a participação das fontes renováveis de energia tem reduzido gradativamente, passando de 83,4% em 2001 para 72% em 2010. Se analisada a evolução do fator de emissão do SIN e
como longos períodos de seca e a expansão da ge-
a capacidade instalada nos anos de 2009 e 2010, é
ração hidrelétrica a partir de PCHs a fio d’água – que
possível observar uma redução de 2% na parcela de
não permitem o armazenamento de água em reserva-
energias renováveis, sendo que no mesmo período
tórios, contribuíram significativamente para o aciona-
o FE SIN praticamente dobrou, tendo aumento de
mento das termelétricas fósseis e deverão agravar este
208%. Isso demonstra que o aumento do FE SIN está
cenário nos próximos anos.
diretamente ligado à decisão de acionar a capacidade
Se comparado com outros países, o Brasil ain-
instalada de fontes não renováveis para geração de
da apresenta vantagem competitiva com relação à
eletricidade. Em outras palavras, além do aumento de
parcela de emissões de GEE associadas à geração
capacidade instalada de fontes não renováveis (2%),
de energia elétrica. Porém, o crescente aumento na
houve maior intensidade no acionamento de fontes
participação das fontes não renováveis tende a pio-
fósseis para geração de eletricidade. Alguns fatores,
rar o cenário, contribuindo significativamente para
tabela 8: Participação das fontes de energia na matriz nacional – capacidade instalada. Fonte: Banco de Informações de Geração (BIG), Aneel, 2013.
CAPACIDADE INSTALADA NO BRASIL – PARTICIPAÇÃO DAS FONTES DE ENERGIA NÃO RENOVÁVEIS
RENOVÁVEIS
TOTAL
TOTAL TOTAL NÃO RENOVÁVEIS RENOVÁVEIS
UHE
PCH
CGH
EOL
SOL
SOL
UTE
UTN
2001
82,2%
1,1%
0,0%
0,0%
0,0%
0,0%
14,0%
2,6%
100,0%
83,4%
16,6%
2002
79,1%
1,1%
0,1%
2,5%
0,0%
0,0%
17,2%
0,0%
100,0%
82,8%
17,2%
2003
77,4%
1,3%
0,1%
0,0%
0,0%
0,0%
18,8%
2,3%
100,0%
78,9%
21,1%
2004
74,8%
1,3%
0,1%
0,0%
0,0%
0,0%
21,6%
2,2%
100,0%
76,2%
23,8%
2005
75,0%
1,4%
0,1%
0,0%
0,0%
0,0%
21,3%
2,2%
100,0%
76,6%
23,5%
2006
74,8%
1,6%
0,1%
0,3%
0,0%
0,0%
21,2%
2,1%
100,0%
76,8%
23,2%
2007
74,7%
1,8%
0,1%
0,2%
0,0%
0,0%
21,2%
2,0%
100,0%
76,8%
23,2%
2008
72,8%
2,4%
0,2%
0,4%
0,0%
0,0%
22,3%
2,0%
100,0%
75,7%
24,3%
2009
70,8%
2,8%
0,2%
0,4%
0,0%
0,0%
23,8%
2,0%
100,0%
74,1%
25,8%
2010
68,0%
3,0%
0,2%
0,8%
0,0%
0,0%
26,2%
2,0%
100,0%
72,0%
28,2%
Legendas: CGH – Central Geradora Hidrelétrica / EOL – Usinas Eolioelétricas / PCH – Pequena Central Hidrelétrica SOL – Fontes Alternativas de Energia / UTE – Usinas Termelétricas / UHE – Usina Hidrelétrica / UTN – Usinas Termonucleares
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45
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
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um aumento nas emissões de GEE. É importante ter
desse documento não conta com a participação de
em mente que as energias renováveis emitem muito
muitos atores do setor elétrico além da EPE e do Mi-
menos gases de efeito estufa em toda sua cadeia,
nistério de Minas e Energia (MME). A próxima edição
tanto na geração, quanto na emissão indireta do
do Plano Decenal, com cenário para o ano de 2022
consumidor dessa energia. A partir de sistemas des-
encontra-se disponível para consulta pública no site
14
centralizados de energia, podem também reduzir as
da EPE14 desde outubro de 2013.
distâncias entre os centros de produção e às áreas de
O Plano Decenal de Energia (PDE-2012/2021) pre-
Expansão de Energia (PDE)
consumo, reduzindo desperdícios na transmissão e na
vê para o ano de 2021 que a população nacional será
distribuição. Há, portanto, grandes oportunidades a
de 206 milhões de habitantes no ano de 2021 (cresci-
serem exploradas no âmbito do planejamento ener-
mento de 0,6% com relação ao ano de 2011). Além do
gético nacional e que se refletirão diretamente no FE
crescimento populacional, também está previsto um
SIN: a transparência dos dados e métodos utilizados
crescimento significativo dos setores industrial e de
no cálculo desse fator; incentivos à aquisição de ener-
transportes, ocasionando em uma demanda cada vez
gia renovável no mercado livre; incentivos à geração
maior de energia: a previsão é um aumento de 52% do
baseada em fontes alternativas de energia renovável,
consumo de energia per capita no período 2011- 2021.
como a eólica e a solar fotovoltaica, diversificando a
O consumo total passará de 500,1 TWh em 2011 para
matriz nacional e aumentando sua participação são
773,8 TWh em 2021. Para atender a essa demanda, o
exemplos nesse sentido.
PDE 2021 prevê um incremento de 3.000 MWhmed
2.3. Análise do cenário e
ao ano (energia média gerada no intervalo de tempo
planejamento para 2020
expansão do SIN ao longo dos dez anos.
Mais informações sobre a consulta
pública do Plano Decenal de podem ser obtidas no site da EPE: http://www.epe.gov.br/ pdee/forms/epeestudo.aspx
considerado), ou 4,3% a.a., totalizando 42.600 MW de
Atualmente, o planejamento energético do
No que tange a composição da matriz, o PDE
Brasil é fortemente pautado pelo Plano Decenal
2021 prevê um aumento gradativo de todas as fontes
de Energia (PDE), documento elaborado periodica-
energéticas, mantendo praticamente estável a compo-
mente pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
sição atual, conforme pode ser visto na Figura 7.
As duas últimas edições do documento, PDE 2020
Da capacidade instalada total prevista para operar
(publicado em 2011) e o PDE 2021 (publicado em
em 2021, a maior parcela será de energias renováveis,
2012) refletem as previsões de consumo de energia,
que somam 83,85% – com as fontes hídrica, eólica, so-
composição da matriz energética e outros aspec-
lar e biomassa –, os restantes 16,15% serão provenien-
tos nacionais. É interessante observar, porém, que
tes de fontes não renováveis, com predominância do
apesar de passar por consulta pública, a elaboração
gás natural (7,18%) e do óleo combustível (4,39%).
FIGURA 7: Evolução da capacidade instalada hidrotérmica do SIN. Fonte: Plano Decenal de Energia 2011-2021; MME; EPE, 2013.
POTÊNCIA INSTALADA (MW)
200.000
HIDRELÉTRICA
OUTRAS FONTES RENOVÁVEIS
NUCLEAR
TÉRMICA
180.000 160.000 140.000 120.000 100.000 80.000 60.000 40.000 20.000 dez 2011
46
dez 2012
dez 2013
dez 2014
dez 2015
dez 2016
dez 2017
dez 2018
dez 2019
dez 2020
dez 2021
www.fgv.br/ces/epc
FIGURA 8: Evolução da capacidade instalada por fonte de geração em 2013 e em 2021, conforme o Plano Decenal de Energia (em%). Fonte: Plano Decenal de Energia 2011-2021 (compilação própria); MME; EPE, 2013.
CENÁRIO 2013 - MATRIZ ELÉTRICA NACIONAL (capacidade instalada)
CENÁRIO 2021 - MATRIZ ELÉTRICA NACIONAL (capacidade instalada prevista)
TÉRMICAS 17,91%
TÉRMICAS 16,15% EÓLICA 8,53%
EÓLICA 3,99%
BIOMASSA 7,38%
BIOMASSA 7,02%
PCH; 3,89%
PCH; 4,00%
HIDRO 64,05%
HIDRO 67,09%
Da parcela renovável, aproximadamente 68%
sentido, a previsão da EPE é de que haja um cres-
correspondem a fontes hidrelétricas (64,05% de
cimento na representatividade dessa fonte, porém
UHEs e 3,89% de PCHs), 8,53% à energia eólica e
ela não consta no planejamento energético nacional
os 7,38% restantes às fontes de biomassa. É interes-
efetivamente, conforme pode ser observado na Ta-
sante observar a ausência da fonte solar no cenário
bela 9 e na Figura 8, que indicam a evolução de cada
previsto para 2021, principalmente considerando
fonte de energia desde 2011 até 2021, em MW e em
o grande potencial nacional para esta fonte. Nesse
porcentagem, respectivamente.
tabela 9: Evolução da capacidade instalada por fonte de geração (em MW). Fonte: Plano Decenal de Energia 2011-2021; MME; EPE, 2013.
FONTE
2011(d)
RENOVÁVEIS
97.317 101.057 107.230 111.118 116.553 122.616 128.214 134.151 139.172 144.889 152.952
HIDRO(a)
77.329 78.959 81.517 83.184 87.576 92.352 97.337 101.223 103.476 106.499 111.723
IMPORTAÇÃO(b)
6.275
6.200
6.120
6.032
5.935
5.829
5.712
5.583
5.441
5.285
5.144
PCH
4.560
5.009
5.221
5.247
5.388
5.448
5.578
5.858
6.168
6.688
7.098
BIOMASSA
7.750
8.908
9.164
9.504
9.554
9.604
9.704
10.454 11.404 12.304 13.454
EÓLICA
1.403
1.981
5.208
7.151
8.100
9.383
9.883
11.033 12.683 14.113 15.563
NÃO RENOVÁVEIS
19.181 20.766 23.395 27.351 27.351 28.756 28.756 28.756 28.756 28.756 29.456
2012
2.350
2013
2.007
2014
2.007
2015
2.007
2016
3.412
2017
3.412
2018
3.412
2019
3.412
2020
3.412
2020
3.412
URÂNIO
2.007
GÁS NATURAL
10.209 10.209 11.362 12.055 12.055 12.055 12.402 12.402 12.402 12.402 13.102
CARVÃO
1.765
2.845
3.205
3.205
3.205
3.205
3.205
3.205
3.205
3.205
3.205
ÓLEO COMBUSTÍVEL
3.316
3.482
4.739
8.002
8.002
8.002
8.002
8.002
8.002
8.002
8.002
ÓLEO DIESEL
1.197
1.395
1.395
1.395
1.395
1.395
1.048
1.048
1.048
1.048
1.048
687
687
687
687
687
687
687
687
687
687
687
GÁS DE PROCESSO TOTAL(c)
116.498 121.823 130.625 138.469 143.904 151.372 156.970 162.907 167.928 173.645 182.408
NOTAS: Os valores da tabela indicam a potência instalada em dezembro de cada ano, considerando a motorização das UHE. (a) Inclui a parte brasileira da UHE Itaipu (7.000 MW). (b) Estimativa de importação da UHE Itaipu não consumida pelo sistema elétrico Paraguaio. (c) Não considera a autoprodução, que, para os estudos energéticos, é representada como abatimento de carga. A evolução da participação da autoprodução de energia é descrita no Capítulo II. (d) Valores de capacidade instalada em dezembro de 2011, incluindo as usinas já em operação comercial nos sistemas isolados. Fonte: ONS. FONTE: EPE.
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47
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
Figura 9: Acréscimos na capacidade instalada por tipo de fonte, de 2011 a 2021, conforme o Plano Decenal de Energia (em%). Fonte: Plano Decenal de Energia 2011-2021; MME; EPE, 2013 (compilação própria).
MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA - PREVISÃO DE CRESCIMENTO (EM% POR FONTE) 100% 90%
29%
42%
91%
41%
34%
71%
58%
9%
59%
66%
HIDRO
BIOMASSA
EÓLICA
URÂNIO
TÉRMICAS
80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10%
2011
15
As emissões de GEE contabilizadas pelo
PDE consideram apenas as emissões referentes à queima de combustíveis fósseis para a geração de eletricidade, desconsiderando eventuais emissões fugitivas do sistema de transmissão e distribuição da energia, como tampouco emissões de reservatórios de UHEs.
48
O Plano Decenal de Energia 2011-2021 deixa cla-
ACRÉSCIMO ATÉ 2021
ção da matriz nacional, sendo apenas um aumento no
ro que a matriz elétrica brasileira não sofrerá grandes
volume de energia gerado (em MW).
mudanças nos próximos 10 anos, sendo mantidas praticamente as mesmas fontes de energia, em porcen-
2.3.1. Emissões de GEE na
tagem semelhante de participação. A fonte eólica é a
matriz futura
única que apresenta alterações significativas, com um
As emissões de GEE fazem parte da agenda cli-
acréscimo em sua capacidade instalada, passando de
mática do Brasil, que se comprometeu voluntariamen-
3,99% em 2013 para 8,53% em 2021. Tampouco está
te a reduzir até o ano de 2020 entre 36,1 e 38,9% suas
prevista a inclusão de novas fontes de energia, como
emissões totais de GEE projetadas para aquele ano.
a solar. De maneira geral, a matriz nacional continuará
Esse compromisso foi anunciado em dezembro de
predominantemente renovável em 2021.
2009, durante a 15a Conferência das Partes (COP15) da
No mesmo período, a capacidade instalada será
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mu-
acrescida em 65,9 mil MW (aumento de 57% da capa-
dança do Clima (CQNUMC). Como parte do plano se-
cidade instalada de 2011), sendo que deste montan-
torial de mitigação e adaptação às mudanças climáti-
te, 84% serão a partir de fontes renováveis e 16% de
cas, parte desta meta se refere à produção e ao uso da
fontes não renováveis. Como pode ser observado na
energia, sendo que em 2020 as emissões desse setor
Figura 9 e na Figura 10, a fonte que terá maior acrésci-
não poderão ultrapassar 680 MtCO2e – neste montan-
mo no período será a eólica, que passará de 1.403 MW
te estão inclusas todas as emissões relativas à queima
em 2011 para 15.563 MW em 2021. Esse incremento
de combustíveis fósseis para uso da energia no País, a
(14.160 MW) representa 91% da capacidade instalada
saber: elétrico, energético, residencial, comercial, pú-
prevista para 2021, ou seja, muitos investimentos de-
blico, agropecuário, transportes e industrial, e também
verão ser feitos para que a energia eólica atinja esses
as emissões fugitivas.
níveis de geração. Os acréscimos nas demais fontes
No que diz respeito às emissões de GEE decor-
não representam mudanças significativas na composi-
rentes da geração de energia elétrica apenas, o Plano
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Figura 10: Acréscimos na capacidade instalada por tipo de fonte, de 2011 a 2021, conforme o Plano Decenal de Energia (em MW). Fonte: Plano Decenal de Energia 2011-2021
(compilação própria); MME; EPE, 2013.
MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA - PREVISÃO DE CRESCIMENTO (EM MW) 200000 180000 65910
160000 140000 120000
35771
116498
100000 80000
88164
60000 40000 8870
20000
5704 7750
0
HIDRO
BIOMASSA
14160 1403 EÓLICA
2011
Decenal de Energia prevê um aumento das emissões 15
brutas de GEE
no período de 2005 a 2021, passan-
do de 30 MtCO2e para 69 MtCO2e – considerando as emissões do SIN e também da energia autoproduzida. Desse montante, dizem respeito apenas ao Sistema In-
1405 2007 URÂNIO
17174 TÉRMICAS
TOTAL
ACRÉSCIMO ATÉ 2021
FIGURA 11: Participação setorial nas emissões de GEE do Brasil – comparativo 2011-2021.
Fonte: Plano Decenal de Energia
2011-2021; MME; EPE, 2013.
2011
3%
6%
4%
0% 0%
8%
terligado Nacional 20 MtCO2e emitidas em 2011, que passarão a ser 31 MtCO2e em 2021. Esse aumento no
4%
volume de emissões está diretamente relacionado ao aumento da quantidade de energia ofertada, representando um aumento também na participação da
25%
fonte no cenário nacional de emissões – Figura 11.
49%
Na Figura 11, observamos que a participação do
2021
setor elétrico no inventário nacional de emissões de GEE passará de 8%, em 2011, para 11%, em 2021.
6%
Se analisados sob o aspecto relativo à quantidade de energia ofertada, a tendência é de aumento das
SETOR ENERGÉTICO
emissões absolutas de GEE referente à matriz elétrica
RESIDENCIAL
nacional na próxima década. Grande parte desse au-
COMERCIAL
mento se deve ao acionamento cada vez mais cons-
PÚBLICO
tante das fontes fósseis, como usinas termelétricas a
AGROPECUÁRIO
carvão, óleo combustível, gás natural e outros. Como
TRANSPORTES
a previsão é de manutenção do cenário atual, com as
INDUSTRIAL
fontes fósseis operando na base do SIN e atendendo
SETOR ELÉTRICO TOTAL
às demandas dos momentos de pico de consumo
EMISSÕES FUGITIVAS
www.fgv.br/ces/epc
7%
4%
11%
0% 0% 4%
26% 42%
49
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
energético, naturalmente as emissões decorrentes da
por essa fonte. Por outro lado, as condições favorá-
geração de energia serão maiores em 2021. Esse fato
veis de formação de preço da energia e a composi-
é concomitante ao aumento do consumo de energia,
ção dos leilões facilitam a inserção das termelétricas
o que pode gerar ainda mais momentos de carga
fósseis na matriz, atraindo investimentos e amplian-
aumentada no sistema, demandando assim, maiores
do a capacidade de geração – uma situação negativa
períodos de operação com bases fósseis no Sistema
do ponto de vista das emissões de GEE. Para que a
Interligado Nacional.
descarbonização da matriz seja mais efetiva, é neces-
Se, por um lado, a evolução recente da fonte eóli-
sário adotar mecanismos para incorporar as externa-
ca contribui para a manutenção da representatividade
lidades relacionadas às emissões de GEE no custo da
das energias renováveis em nossa matriz, a decisão de
geração da eletricidade dessas fontes.
mudar o status de operação de termelétricas fósseis
A política fiscal em relação a energias renováveis
de “emergencial” para “permanente” deve impactar
precisa ser aprimorada, de forma a incentivar a gera-
consideravelmente as emissões de CO2 equivalente
ção renovável e eliminar distorções de carga tributária
do setor elétrico. Para efeito de comparação, uma
que acabam penalizando a geração de fontes reno-
térmica movida a combustíveis fósseis emite entre
váveis e favorecendo investimentos em fontes fósseis.
300 gCO2e/kWh gerado (no caso do gás natural) até 1.000 gCO2e/kWh (no caso de térmicas a carvão). Já renováveis apresentam índices de emissões inferio-
2.3.2. Análise do cenário
res a 50 gCO2e/kWh (para energia solar, biomassa e
pelas empresas da EPC
hidrelétricas) ou mesmo na faixa dos 10 gCO2e/kWh
A temática das mudanças climáticas e a matriz
(para a energia eólica, a de menor índice de emis-
elétrica nacional foram discutidas no âmbito da Pla-
sões entre todas as fontes) na geração da energia e
taforma Empresas pelo Clima (EPC) em 2011 (foco
operação das usinas.
em eficiência energética) e 2013 (energias renová-
A descarbonização da matriz elétrica brasileira é possível, desde que orientada por planejamento in-
veis), por meio de oficinas e de um grupo de trabalho com as empresas participantes da Plataforma.
tegrado definido por políticas públicas de incentivo
Em exercício realizado durante um dos encon-
a fontes renováveis. A maior inserção de fontes como
tros sobre a expansão da participação das fontes
biomassa e PCHs na matriz depende de condições
renováveis na matriz elétrica brasileira, em abril de
igualitárias de mecanismos de incentivos financeiros
2013, as empresas simularam qual seria o “cenário
nos leilões de energia. Já a energia solar depende de
ideal” da matriz elétrica em 2020. As premissas para
incentivos para o desenvolvimento de um mercado
o exercício eram a consideração de todas as fontes
nacional e políticas industriais para a nacionalização
de energia existentes, com tecnologia conhecida
de fabricantes de painéis, o que seria um vetor de in-
disponível atualmente no mercado, e o aumento
dução de redução dos custos da geração de energia
do consumo de energia elétrica. Também deveriam
tabela 10: Resultados do exercício realizado com as empresas da EPC – cenários da “matriz elétrica ideal” em 2020. Fonte: compilação própria – Plataforma Empresas Pelo Clima (EPC).
FONTES RENOVÁVEIS FONTES DE ENERGIA
HIDRO BIOMASSA EÓLICA SOLAR MARÉS GEOTÉRMICA URÂNIO
Plano Decenal CAPACIDADE INSTALADA
50
GÁS ÓLEO ÓLEO CARVÃO NATURAL Combustível DIESEL
GÁS DE PROCESSO
68,2%
7,1%
8,1%
0,0%
0,0%
0,0%
2,0%
7,1%
1,8%
4,6%
0,6%
0,4%
G1 51,0% G2 51,0%
20,0%
10,0% 3,0%
2,0%
0,0%
1,0%
10,0%
0,2%
2,0%
0,2%
0,6%
10,0%
20,0% 8,0%
1,0%
0,0%
0,0%
6,0%
1,0%
2,0%
0,6%
0,4%
“Cenário ideal” G3 47,0% G4 68,0%
20,9%
10,0% 8,1%
1,0%
0,0%
2,0%
6,0%
1,0%
4,6%
0,4%
0,2%
4,4%
10,0% 7,6%
0,0%
0,0%
1,0%
7,0%
0,0%
1,0%
0,6%
0,4%
de Energia (PDE 2011 - 2021)
PREVISTA PARA 2020
FONTES NÃO RENOVÁVEIS
Exercício
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ser considerados no exercício os possíveis impac-
mente para suprir a demanda energética nacional.
tos dessa matriz nos negócios de cada empresa, as
Sabendo que a questão da segurança energética é
emissões de GEE, os custo da energia, outros be-
fundamental para garantia das atividades do setor
nefícios diretos e indiretos e os potenciais impactos
empresarial, a construção de uma matriz mais com-
ambientais e sociais; sendo as questões climáticas o
pleta e diversa reduz a dependência de alguns re-
ponto de partida para composição da “matriz ideal
cursos, sendo possível a escolha da alternativa mais
de 2020”. A Tabela 10 apresenta os resultados do
viável em cada situação da relação oferta-demanda.
exercício realizado.
O resultado desse debate com as empresas re-
Conforme pode ser observado, todos os cená-
flete não somente a necessidade de diversificação da
rios propostos pelos grupos de empresas-membro
matriz elétrica nacional, mas também a premência de
da EPC (G1 a G4, criados arbitrariamente apenas com
um maior envolvimento do setor privado e da socieda-
a finalidade de discutir esse tema) apresentaram uma
de civil como um todo na elaboração do planejamen-
redução significativa da contribuição das fontes não
to energético nacional. Faz-se necessário um maior
renováveis de energia no “cenário ideal” para 2020,
alinhamento das demandas dos consumidores, dentre
principalmente para o gás natural e o óleo combus-
os quais as empresas, com as previsões do governo;
tível. Ao mesmo tempo, sinalizaram um aumento da
buscando um melhor equilíbrio e representatividade
contribuição das fontes renováveis, incluindo a ener-
do planejamento energético nacional em relação aos
gia solar na matriz e aumentando a participação de
recursos naturais, às características da demanda e da
biomassa.
economia brasileira e aos interesses dos compradores
Por outro lado, a previsão do PDE para o mesmo
e consumidores de eletricidade no País. A seguran-
ano não contempla algumas fontes renováveis, como
ça energética do Brasil e a competitividade do setor
a solar e a energia de marés – ambas alternativas em
empresarial brasileiro no exterior em tempos futuros
que o Brasil detém grande potencial energético.
dependem de investimentos em energias renováveis
Desta maneira, fica evidente a preocupação do setor
alternativas. A decisão política e os investimentos ne-
privado com as emissões associadas à energia elétri-
cessários precisam ser feitos o quanto antes para que
ca adquirida, e o interesse por uma maior diversifica-
a economia brasileira esteja preparada para a futura
ção da matriz elétrica brasileira e especialmente pelo
escassez de fontes não renováveis e seja menos vul-
aumento da geração a partir de fontes renováveis
nerável à volatilidade dos preços dessas commodities
alternativas e complementares às utilizadas atual-
no mercado internacional.
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51
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
Estrutura e governança do setor elétrico
BRASILEIRO
N
a última década o setor elétrico brasileiro sofreu várias mudanças, resultando em uma estrutura e governança com diversas peculiaridades hierárqui-
FIGURA 13: Estrutura Institucional do Setor Elétrico, 2013. Fonte: compilação própria
POLÍTICAS E PLANEJAMENTO
cas e comerciais, que são abordadas neste capítulo.
CNPE Conselho Nacional de Política Energética
Anteriormente aos anos 1990, as funções básicas do setor elétrico (geração, transmissão e distribuição) podiam ser desempenhadas por uma mesma empreMME Ministério de Minas e Energia
sa, que podia inclusive estabelecer o preço da energia, caracterizando um modelo verticalizado. Com a separação dos processos de geração, transmissão e
EPE Empresa de Pesquisa Energética
distribuição, ocorreu a desverticalização do modelo anterior, o que trouxe uma evolução, principalmente em relação aos investimentos privados.
REGULAÇÃO E FISCALIZAÇÃO Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica
Além da desverticalização, neste capítulo também é abordado o Marco Regulatório do Setor Elétrico, criado em 2004, e a atual forma de comercialização de energia, baseada nesse marco regulatório.
IMPLEMENTAÇÃO
3.1. Estrutura do Setor
ONS Operador Nacional do Sistema
Elétrico Brasileiro
CCEE Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
A cadeia produtiva do setor elétrico é formada, principalmente, pelos agentes de geração, trans-
elétrico o governo criou, em 1996, Agência Nacional
missão e distribuição (Figura 12). Essa estrutura
de Energia Elétrica, Aneel.
decorre da desverticalização do setor ocorrida nos
Além das atividades da cadeia da energia elé-
anos 1990, através do Projeto de Reestruturação do
trica, o setor ainda conta com uma estrutura com-
Setor Elétrico Brasileiro.
plexa de governança, composta por diversos ato-
Na prática, a desverticalização significou a inde-
res. A Figura 13 ilustra a estruturação institucional
pendência dos agentes, que passaram a representar
do setor elétrico.
negócios independentes. A regulamentação da ge-
3.1.1. GERAÇÃO
ração e da comercialização foi flexibilizada para permitir a participação de agentes da iniciativa privada
A geração é o primeiro elo da cadeia produtiva,
e incentivar a competição. Já a transmissão e distri-
sendo o segmento responsável por produzir energia
buição, que são naturalmente centralizados e domi-
elétrica e injetá-la nos sistemas de transporte (trans-
nados por uma pequena parcela de agentes, conti-
missão e distribuição), para que chegue aos consu-
nuaram sendo considerados como serviços públicos.
midores. Os agentes de geração são organizados
Para fiscalizar e regular a cadeia produtiva do setor
nas classes abaixo:
FIGURA 12: Cadeia Produtiva do Setor Elétrico Brasileiro, 2013. Fonte: compilação própria
GERAÇÃO
TRANSMISSÃO
DISTRIBUIÇÃO
CONSUMIDOR CATIVO
COMERCIALIZAÇÃO
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53
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
16
Para fins dispostos em lei, considera-se
Poder Concedente: a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município, em cuja competência se encontre o serviço público, precedido ou não da execução de obra pública, objeto de concessão ou permissão.
E L É T R I C A
Concessionário de Serviço Público de Geração:
te no Brasil, um país com dimensões continentais.
agente titular de concessão para exploração
Os equipamentos obsoletos que predominam nos
de ativo de geração a título de serviço público,
sistemas de transmissão do SIN potencializam ainda
outorgada pela União, designada como Poder
mais esses problemas.
Concedente16.
Ao analisarmos o aspecto da logística da trans-
Produtor Independente de Energia Elétrica:
missão da energia, não podemos deixar de comen-
agente individual, ou participante de consórcio,
tar sobre a geração distribuída (GD). A GD consiste
que recebe concessão, permissão ou autorização
em usinas geradoras (geralmente de médio e pe-
do Poder Concedente para produzir energia des-
queno porte) conectadas diretamente ao sistema
tinada à comercialização por sua conta e risco.
elétrico de distribuição do comprador da energia.
Autoprodutor: agente com concessão, permissão
Se aplicam ao modelo de geração distribuída as
ou autorização para produzir energia destinada a
fontes solar, eólica, PCHs e termelétricas. Para via-
seu uso exclusivo, podendo comercializar even-
bilizar esta conexão direta, os centros geradores de
tual excedente de energia desde que autorizado
energia estão localizados geralmente próximos ao
pela Aneel.
consumidor e respectivo sistema de transmissão de energia. Assim, o fornecimento da energia elétrica
3.1.2. TRANSMISSÃO Após a energia ser gerada, esta chega às dis-
duzindo as perdas de energia que ocorrem no processo de transmissão.
tribuidoras através das linhas de transmissão e pos-
Para geradores que estão localizados a distân-
teriormente é repassada aos consumidores finais. A
cias maiores de seus consumidores, e que não estão
distância de um recurso energético até os centros
conectados ao SIN, existem arranjos de conexão de
de consumo é um importante atributo na avaliação
transmissão que podem ser compartilhados. O acesso
de viabilidade desse processo, tanto para geradores
desses geradores às instalações de transmissão de In-
quanto para consumidores de energia. Para os gera-
teresse Exclusivo de Centrais de Geração para Cone-
dores, o ponto de conexão da usina à rede repercu-
xão Compartilhada (ICG) permite o compartilhamento
te em termos logísticos, técnicos e econômicos. Para
dos custos de acesso à rede básica entre dois ou mais
os consumidores, impacta diretamente no preço a
geradores (Kelman, 2009). Esse arranjo vem sendo uti-
ser pago pela energia elétrica, visto que os custos
lizado por novas centrais geradoras eólicas, pequenas
pelo transporte da energia estão inclusos na conta
hidrelétricas e usinas de cogeração a biomassa.
de luz paga pelos consumidores.
O sistema brasileiro hoje é composto predomi-
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
nantemente por linhas de baixa tensão (230 kV), que
é o órgão responsável pela coordenação e pelo
representam 45% das linhas em operação. Outra
controle da operação das instalações de geração
parcela predominante do sistema é composto por
e transmissão de energia elétrica no Sistema Inter-
linhas de tensão de 500 kV (33%), sendo que apenas
ligado Nacional (SIN), sob a fiscalização e regulação
3% das linhas permite tensões de 750 kV ou maiores,
da Aneel. O SIN congrega o sistema de geração e
conforme pode ser observado no Gráfico 1.
transmissão, permitindo o intercâmbio de energia elétrica entre as diversas regiões brasileiras.
A configuração do sistema de transmissão prejudica o fornecimento da energia, uma vez que as
Em relação à questão logística, há diferentes
perdas técnicas na transmissão são grandes: cerca de
disposições ou configurações de transmissão de
20% de toda energia é desperdiçada no processo de
energia do ponto de geração até o centro de con-
transmissão e distribuição, segundo o relatório O se-
sumo ou de carga. As usinas hidrelétricas, principais
tor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade no Século
fontes de geração de energia no Brasil, por exemplo,
21. No Chile e na Europa, esta perda é de 6% e 7%,
situam-se longe dos centros de consumo. As distân-
respectivamente. As perdas têm relação direta com
cias tornam o processo de transmissão e distribuição
a tensão da linha: quanto maior a tensão, menor a
complexos e vulneráveis, com riscos de interrupção
perda de energia transportada.
do fornecimento e perda de energia, principalmen-
54
da GD dispensa o transporte de longas distância, re-
As perdas de energia são classificadas como
www.fgv.br/ces/epc
GRÁFICO 1: Estrutura da malha de transmissão de energia elétrica por tensão – Brasil, 2012.
os cofres públicos deixaram de arrecadar cerca de R$ 10 bilhões (11% do faturamento anual do setor elétrico), somente naquele ano (TCU, sem data). Como
Fonte: Ministério de Minas e Energia (MME), 2013.
600 CC 3%
pectivo imposto que não foi recolhido, conclui-se que
resultado, o Acórdão TCU no 2.211/2008-Plenário17
750 KV 3%
500 KV 33%
recomendou que os mecanismos que poderiam con230 KV 45%
tribuir para a redução das perdas elétricas do sistema (estipulados pela Aneel) fossem efetivamente implementados pelo órgão regulador. Uma nova tecnologia vem ganhando destaque
17
Acórdão TCU no 2.211/2008-Plenário
está disponível para consulta em: http://contas. tcu.gov.br/portaltextual/ ServletTcuProxy e http://contas.tcu. gov.br/portaltextual/ ServletTcuProxy.
na transmissão de energia: a UAT - Ultra-Alta Tensão, é a tecnologia mais indicada para transporte de energia de longas distâncias, característica fundamental no Brasil. A UAT permite um fluxo de energia maior no sistema de transmissão (acima de 800 kV), gerando maior eficiência pela redução de perdas técnicas no transporte da energia. Através do Centro de Pesquisa em Energia Elétrica (Cepel), ligado a Eletrobrás, o governo brasileiro 440 KV 6%
vem estudando a adoção da UAT nas linhas de trans440 KV 6%
missão do País a partir do ano de 2016. Nesse sentido, vale reforçar que 94% da malha de transmissão do Brasil possui tensão que varia de 230 kV a 500 kV,
técnicas e comerciais e refere-se a quantidade de
conforme ilustrado no Gráfico 1 anteriormente.
energia injetada no sistema elétrico, mas não fa-
3.1.3. DISTRIBUIÇÃO E CONSUMO
turada. As perdas comerciais decorrem de furto, fraude ou falta de medição da energia. Já as perdas
A energia transportada pelas linhas de trans-
técnicas resultam da dissipação de energia nos con-
missão chega aos agentes distribuidores e empre-
dutores, sendo portanto, vinculadas às característi-
sas concessionárias que atendem à demanda de
cas físicas das instalações, bem com a manutenção
energia dos consumidores cativos, distribuindo a
e qualidade dos equipamentos – no Brasil, grande
energia elétrica, conforme a Figura 14.
parte dos equipamentos é considerada obsoleta e com baixa manutenção.
Os consumidores cativos são aqueles que devem comprar energia da concessionária, com tarifas
Diante da significativa perda de energia pelos
e condições de fornecimento reguladas pela Aneel.
processos de transmissão, o Tribunal de Contas da
As distribuidoras repassam para os consumidores
União (TCU), realizou uma auditoria para avaliar a
cativos a energia adquirida no mercado regulado
regulação relativa às perdas elétricas em 2007. No
através de leilões.
processo de fiscalização, o TCU buscou identificar o
Além dos consumidores cativos, existem tam-
impacto das perdas técnicas e comerciais nas tari-
bém os consumidores livres e os consumidores es-
fas de todo o sistema elétrico, assim como as ações
peciais. Ambos podem negociar livremente a com-
desenvolvidas pela Agência Nacional de Energia
pra de energia, sendo que os consumidores livres
Elétrica (Aneel) para reduzir e combatê-las. Um dos
devem possuir uma demanda mínima de 3 MW,
resultados dessa auditoria estimou que o impacto
com tensão de fornecimento de 69 KV. O consu-
das perdas eram muito altos, alcançando cerca de 5%
midor especial é aquele com demanda entre 0,5 e
sobre o valor das tarifas pagas pelos consumidores
3 MW, e que tem o direito de adquirir energia de
finais da energia. Em valores nominais, esse aumen-
qualquer fornecedor, desde que a energia adqui-
to correspondia a R$ 4,7 bilhões no ano de 2007. Ao
rida seja oriunda de fontes incentivadas especiais,
considerar a parcela de energia não faturada e o res-
como eólica, PCHs, biomassa ou solar. Vale ressal-
www.fgv.br/ces/epc
55
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
FIGURA 14: Transporte de Energia para Consumidor Cativo. Fonte: elaboração própria.
GERAÇÃO
TRANSMISSÃO
CONSUMIDOR CATIVO
DISTRIBUIÇÃO
tar que os consumidores livre ou especial podem
energéticas renováveis e eficiência energética, dentre
comprar energia diretamente do gerador ou dos
outras (Art. 2º da Lei nº 10.847/2004). Os principais es-
agentes comercializadores. A Figura 15 explicita o
tudos que embasam a tomada de decisão do Conse-
caminho da energia para consumidor livre ou espe-
lho Nacional de Política Energética, responsável pelo
cial, destacando que a comercialização é feita dire-
planejamento do setor elétrico, são: Plano Decenal
tamente com geradores ou comercializadores.
de Energia (PDE), Plano Nacional de Energia e Balan-
A partir do Gráfico 2, podemos notar que vem crescendo o número de consumidores especiais, o que é bastante favorável para expansão das fontes
ço Energético Nacional (BEN).
3.1.4. GERAÇÃO DISTRIBUÍDA
renováveis no país, considerando que este tipo de
As empresas distribuidoras têm ainda outra
consumidor pode adquirir apenas energia de fontes
opção de compra de energia, como a aquisição de
especiais incentivadas.
energia de Geração Distribuída (GD), caracterizada
A Câmara de Comercialização de Energia Elétri-
pela geração de usinas de pequeno porte conec-
ca (CCEE) é a instituição responsável por viabilizar as
tadas às redes locais de distribuição (gerenciadas
operações de compra e venda de energia em todo
pelas próprias concessionárias). A contratação da
o SIN. Seguem as principais atribuições deste órgão:
energia é feita por chamada pública, realizada pe-
Implantar e divulgar regras e procedimentos de
las distribuidoras de energia. O montante total da
comercialização; e
energia elétrica contratada nessa modalidade não
Fazer a gestão de contratos do Ambiente de Con-
pode exceder a 10% da carga total da distribuidora.
tratação Regulada (ACR) e do Ambiente de Con-
A vantagem dessa opção sobre a compra de
tratação Livre (ACL), detalhados no capítulo 4.2.
energia de usinas que fazem parte do grupo da
O setor elétrico conta ainda com o apoio da
Geração Operada Centralizadamente (usinas maio-
Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que tem por
res de 30MW) é a economia e redução de perdas
finalidade desenvolver estudos e pesquisas destina-
na transmissão pelo fato das geradoras estarem
das a subsidiar o planejamento do setor energético
localizadas em áreas próximas ao distribuidor. Em
nacional. A EPE desenvolve estudos não apenas fo-
muitos casos, os empreendimentos de geração já
cados em energia elétrica, mas também em petróleo
estão conectados diretamente no sistema elétrico
e gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes
de distribuição do comprador. Os maiores impactos
FIGURA 15: Transporte de Energia para Consumidor Livre/especial. Fonte: elaboração própria.
GERAÇÃO
TRANSMISSÃO
DISTRIBUIÇÃO
CONSUMIDOR CATIVO
AGENTE DE COMERCIALIZAÇÃO
56
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GRÁFICO 2: Número de Agentes por Classe.
Fonte: CCEE, 2013.
NÚMERO DE AGENTES
1200 1000 800 600 400 200 0
2008
2009
2010
2011
2012
2013
AUTOPRODUTOR
24
29
34
41
41
44
GERADOR
29
28
28
31
32
34
DISTRIBUIDOR
43
45
45
46
47
46
COMERCIALIZADOR
55
70
93
113
144
151
PRODUTOR INDEPENDENTE
130
169
262
313
445
438
CONSUMIDOR ESPECIAL
194
219
455
587
985
1073
CONSUMIDOR LIVRE
459
446
485
514
592
612
negativos da produção de energia hidrelétrica por
sistema de compensação. Após a adaptação, a pró-
usinas de grande porte e o avanço da tecnologia
pria distribuidora será responsável pela manutenção
para a geração distribuída tornam essa alternativa
do sistema, incluindo os custos de eventual substitui-
cada vez mais atraente para as distribuidoras.
ção de equipamentos (Aneel, 2012).
E foi com o intuito de estimular ainda mais a ge-
Apesar desse avanço, o fato do micro ou minige-
ração distribuída que a Resolução Normativa nº 482,
rador poder ofertar a energia apenas para distribui-
de 17 de abril de 2012 da Aneel reduziu barreiras
doras locais ainda é uma limitação à expansão dessa
para instalação de geração distribuída de pequeno
modalidade de geração. A possibilidade de venda
porte no Brasil, possibilitando a microgeração (até
para distribuidoras mais distantes aumentaria inclusi-
100 KW de potência), e a minigeração (de 100 KW a
ve a segurança energética, pois um número maior de
1 MW de potência) interligadas à rede. A norma cria
geradores estaria ao alcance dos diversos distribuido-
o Sistema de Compensação de Energia, que permite
res do SIN, mas poderia aumentar as perdas técnicas
ao consumidor instalar pequenas unidades gerado-
de energia para viabilizar estas conexões.
ras em sua unidade consumidora e trocar a energia
O planejamento para geração distribuída no Bra-
excedente com a distribuidora local. Dessa maneira,
sil ainda pode ser melhorado, contemplando meca-
a conta de energia do consumidor será calculada por
nismos que possibilitem sua expansão. Estes mecanis-
meio de um sistema de compensação: a quantidade
mos devem influenciar na formação de preço e devem
de energia que fornecer à distribuidora (energia ex-
vir acompanhados de regras mais abrangentes de
cedente) será descontada de sua conta de energia
comercialização da energia a partir da geração distri-
futura, resultando em economia de recursos. A regra
buída. A Cogen, Associação das Indústrias de Coge-
é válida para geradores que utilizem fontes incenti-
ração de Energia, defende que um dos mecanismos
vadas de energia (hídrica, solar, biomassa, eólica e
necessários para expansão da GD seja a realização de
cogeração qualificada18). O consumidor que instalar
um leilão anual para atender parte da necessidade de
um sistema de micro ou minigeração distribuída será
contratação de energia pelas distribuidoras. A organi-
geralmente convertida total
responsável inicialmente pelos custos de adequação
zação também defende que o preço teto deste leilão,
elétrica, a partir da energia
do sistema de medição, necessário para implantar o
calculado pelo Ministério de Minas e Energia, leve em
um ou mais combustíveis.
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18
Cogeração qualificada: processo
de produção combinada de calor útil e energia mecânica, ou parcialmente em energia química disponibilizada por
57
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
A Inserção das Redes Elétricas Inteligentes (Smart Grids) no Setor Elétrico Brasileiro
U
m modelo de redes inteligentes ou smart grid inclui os
sistemas, soluções integradas e padrões para implementação
fluxos de energia e de informações entre os geradores,
de redes elétricas inteligentes no Brasil. Essa é uma iniciativa
transmissores, distribuidores, consumidores, mercado,
destinada à coordenação das ações de fomento à inovação e
provedores de serviços e operador em um sistema elétrico. Os
ao aprimoramento da integração dos instrumentos de apoio
fluxos bidirecionais e as conexões entre esses agentes formam
disponibilizados pelo BNDES, pela Aneel, e pela Financiadora
a base para uma gestão inteligente e dinâmica da rede de
de Estudos e Projetos (Finep).
energia. Três fatores distintos podem ser identificados nesse
inteligentes estão se tornando mais competitivas em termos
computação. Sendo que os dois últimos são componentes
de custos. Dessa forma, passam a ser viáveis para utilização
da plataforma de infraestrutura necessária para as redes de
pelas empresas que buscam o aumento da confiabilidade do
energia inteligentes.
suprimento de energia, a redução dos custos de operação
Em geral, em todo o mundo, a implantação dos modelos de smart grid foi viabilizada pela articulação de ações do governo e das agências reguladoras com o objetivo de criar um balanço
e manutenção e o incentivo ao consumo racional de energia pelos seus clientes. As empresas de geração e transmissão estão utilizando
positivo entre os benefícios e os custos de investimento na
sistemas de monitoramento de ativos que são capazes de
plataforma tecnológica necessária. Deve-se ressaltar, entre os
prevenir ou identificar falhas com precisão e rapidez. E as
resultados positivos obtidos a partir da implantação de redes
empresas de distribuição usam medidores eletrônicos e redes
inteligentes, os ganhos de intensidade e eficiência energética,
digitais, além de novos sistemas de TI e comunicação. Com
a redução de perdas e dos custos de operação e manutenção
relação a microgeração, pode ser aperfeiçoada a estrutura de
nos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica
tarifas de distribuição para incentivar a instalação desse tipo
e a viabilização da expansão da microgeração, especialmente
de geração em áreas específicas do sistema elétrico. A adoção
renovável. Esses resultados trazem significativos impactos
de regulação que favoreça a transparência dos custos reais da
positivos para o meio ambiente incluindo a redução de
geração e entrega de energia pode favorecer o uso eficiente
emissões obtida a partir da diminuição do consumo e da
por parte dos consumidores. No entanto, a grande carga
consequente menor necessidade de expansão da capacidade
tributária e o mecanismo de formação de preços no mercado
de geração. Adicionalmente, tem-se a viabilização de fontes
de energia não favorecem essa transparência.
de geração como solar e eólica que não contribuem para a emissão de CO2. Desde 2008, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
Considerando as características das redes de transmissão e distribuição no Brasil, identifica-se um alto potencial de benefícios com a implantação de redes inteligentes.
tem desenvolvido regulamentação específica para incentivar
Com a redução dos custos da tecnologia necessária e o
a implantação das redes inteligentes no Brasil. Temas como
aperfeiçoamento do quadro regulatório, tem-se a tendência
qualidade do suprimento de energia, telecomunicações,
de aceleração da implantação de novas tecnologias que
medição eletrônica, tarifas de energia diferenciadas para baixa
promovam a redução de perdas e o consumo de energia mais
tensão e conexão à rede de projetos de microgeração tem sido
eficiente, viabilizando-se, portanto, os benefícios em termos de
objeto de regulação pela Aneel.
redução de emissões e demais impactos positivos para o meio
No ano de 2012, a criação do Plano de Ação Conjunta Inova Energia, sinalizou a intenção do governo em apoiar o desenvolvimento e a difusão de dispositivos eletrônicos,
58
Diversas tecnologias relacionadas a implantação das redes
modelo: energia, comunicação e tecnologia de informação/
ambiente deste novo modelo de gestão de redes. Por Goret Pereira Paulo, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV).
www.fgv.br/ces/epc
consideração os benefícios de GD, como: redução de
3.2. AMBIENTES DE MERCADO
custos de investimentos na rede elétrica, redução de
O mercado de energia tem se modificado nas
perdas pelas linhas de transmissão e custo evitado
últimas décadas, passando de um modelo regulado
pelo despacho de segurança energética.
(entre 1960 e 1995), para o mercado livre (de 1996 a
Além dos mecanismos econômicos e fiscais, a
2003) e finalmente chegando a modelo atual, que
geração distribuída depende de tecnologias espe-
congrega ambas as opções: mercado regulado (ou
cíficas para que seja possível uma melhor operacio-
cativo) e mercado livre.
nalização do sistema. Nesse contexto, as chamadas
No primeiro período, o Estado atuava como re-
smart grids ou redes inteligentes fazem uso da
gulador e planejador, sendo praticamente o único
tecnologia da informação no sistema elétrico para
investidor na expansão da geração elétrica no País.
ampliar a geração distribuída em diversos países do
A partir de 1996, a comercialização de energia pas-
mundo, integrando sistemas de comunicação. Essa
sou a ser realizada por empresas estatais, em um
tecnologia envolve a instalação de sensores nas li-
ambiente de mercado livre, mas sem competição ou
nhas da rede de energia elétrica, embutidos com
estímulos comerciais. No chamado mercado livre, o
chips que detectam informações sobre a operação
preço da energia era definido pelas forças de ofer-
e desempenho da rede – parâmetros, tais como
ta e demanda no mercado spot19, sendo permitidos
tensão e corrente. Os sensores, então, analisam
contratos diretos entre geradoras e distribuidoras
essas informações para determinar o que é signi-
de energia. A ausência de incentivos de mercado e
ficativo – por exemplo, se a tensão está muito alta
de diversidade na oferta de energia, além da neces-
ou muito baixa. Quando os sensores detectam in-
sidade maiores investimentos e planejamento para
formações significativas, ocorre a comunicação dos
o setor elétrico culminou, em 2004, na promulgação
dados para um sistema analítico central que irá ana-
da Lei Federal 10.848, que alterou profundamente a
lisá-los e determinar o que está errado e o que deve
forma de comercialização de energia elétrica no País
ser feito para melhorar o desempenho da rede. Por
e definiu o Novo Marco Regulatório do Setor Elétri-
exemplo, em caso de voltagem muito alta, o soft-
co. Foram instituídos dois ambientes de mercado:
ware instruirá um dos dispositivos já instalados na
ambiente de contratação regulada (ACR) e ambien-
rede para reduzir a voltagem, economizando assim
te de contratação livre (ACL).
a energia gerada.
Para o setor elétrico, mercado spot se
refere ao pagamento à vista pela compra de energia elétrica, com prazo curto para entrega da remessa comercializada.
No ACR comercializa-se a energia elétrica utili-
A smart grid apresenta três grandes benefícios.
zada pelas companhias distribuidoras para atender
O primeiro é a eficiência, que implica consumir me-
a seus respectivos consumidores finais. A venda de
nos energia da empresa concessionária de energia
energia no ACR é realizada por licitações, na forma
para fornecer um serviço com qualidade igual ou
de leilões, que são regulados pela Aneel e operacio-
melhor aos seus clientes, reduzindo também cus-
nalizados pela CCEE. Nesse caso, o vencedor da lici-
tos e emissões de gases de efeito estufa. O segun-
tação firma um único contrato de compra de energia
do benefício é a confiabilidade: a rede inteligente
com todas as companhias distribuidoras que ofere-
pode detectar quando os ativos estão começando a
ceram energia e que estão ligadas ao Sistema Inter-
falhar ou estão com desempenho em declínio, infor-
ligado Nacional (SIN).
mando para a concessionária, que deve repará-los
No ACL comercializa-se a energia elétrica para
ou substituí-los antes que haja uma interrupção de
atender aos consumidores livres e especiais, por
energia real. O smart grid também permite isolar
intermédio de contratos bilaterais livremente ne-
o impacto de uma falha aos clientes, de forma que
gociados entre as partes. Atualmente, aproximada-
menos clientes são afetados quando há uma falha
mente 72% da comercialização de energia ocorre no
de energia. Por último, está a integração de ponta,
ambiente regulado (ACR), contra cerca de 28% no
que vai desde a leitura de um medidor inteligente
ambiente livre (ACL) (CCEE, 2013). Os agentes de
para interagir com o sistema de gestão do cliente
geração, produtores independentes de energia (ou
em casa, para painéis solares e para veículos elétri-
autoprodutores) e comercializadores podem vender
cos, que exigem a interação com a rede para obter
energia elétrica nos dois ambientes, mantendo o ca-
êxitos (Luiz, 2010).
ráter competitivo da geração.
www.fgv.br/ces/epc
19
59
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
3.2.1. AMBIENTE DE CONTRATAÇÃO
apresentam suas demandas de energia, sendo que
REGULADA
estas, agregadas, constituem o grupo comprador
O ambiente de contratação regulada (ACR)
de energia elétrica.
exerce importante influência na expansão da energia renovável no País. A partir desse mercado, os
Leilão de Energia Existente
agentes distribuidores passaram a adquirir energia
No leilão de energia existente é negociada a
por leilões, podendo contar, inclusive, com um cer-
venda da energia procedente de empreendimentos
tame exclusivo de fontes alternativas. Além disso, o
já constituídos, cujo investimento inicial tenha sido
leilão para garantir a energia de reserva do SIN, que
totalmente amortizado – atualmente, predomina
tem como objetivo aumentar a segurança do for-
nesta modalidade a geração por fonte hidráulica. Os
necimento desse sistema, também é realizado com
empreendimentos que participam desse tipo de lei-
fontes alternativas de energia.
lão pertencem a empresas que foram formadas de
Referente ao planejamento, a estruturação dos
1960 à 1995, na lógica do Estado investidor, algumas
leilões é o elemento de maior relevância no que
foram privatizadas na década de 1990, mas na maior
tange incentivar fontes alternativas para geração de
parte ainda são propriedades de empresas estatais.
energia elétrica. Desse modo, os leilões que ocor-
Há duas modalidades de leilão de energia existente:
rem anualmente foram subdivididos em categorias
Leilão A-1: realizados no ano anterior ao ano de
conforme a finalidade da energia leiloada:
entrega física da energia.
Leilão de energia existente;
Leilão de Ajuste: visa adequar o volume de ener-
Leilão de energia nova;
gia contratado pelas distribuidoras, tratando
Leilão de energia de fontes alternativas;
eventuais desvios nas previsões feitas pelas dis-
Leilão de energia de reserva; e
tribuidoras em leilões anteriores com relação ao
Leilão de projetos estruturantes.
comportamento de seu mercado.
A formulação dos leilões de energia, que são regulados pela Aneel e operacionalizados pela CCEE, surgiu da necessidade de expandir o setor
Nos leilões de energia nova a energia negocia-
utilizando planejamento e instrumentos de merca-
da é oriunda de empreendimentos que, em geral,
do. Essa nova estrutura de operação do sistema
ainda não iniciaram sua etapa de construção, sendo
elétrico surgiu concomitantemente com a crise do
aberto para empreendimentos de diversas fontes.
setor hídrico, em um período com baixa oferta de
Entretanto, os editais estabelecem preços máximos
energia dessa fonte. Como consequência, as demais
diferenciados para cada tipo de empreendimento e
fontes foram incentivadas nos leilões (renováveis e
estabelecem os montantes que serão contratados
não-renováveis), em especial as fontes renováveis,
de cada fonte.
que passaram a ter certames exclusivos, resultando em incentivos para as fontes alternativas em geral.
Pode-se dizer que esses leilões promovem uma concorrência pelo mercado futuro de energia, sen-
Através da concorrência instituída pelo proces-
do fundamentais para promover a expansão do par-
so de licitação, o governo pode oferecer aos consu-
que gerador, uma vez que acontecem antes da data
midores cativos a menor tarifa possível – a modici-
de início de construção e operação dos empreen-
dade tarifária. Dessa maneira, os agentes geradores
dimentos e acabam desempenhando um papel de
apresentam nos leilões seu menor preço de energia
“investidor”. Os leilões para novas energias têm as
por megawatt-hora (R$/MWh), sendo que o vence-
seguintes formatações:
dor do leilão é definido a partir do menor preço ofe-
Leilão A -5: usinas que entrarão em operação co-
recido para atendimento da demanda.
mercial em até cinco anos; ou
É importante explicar que, durante a etapa do pré-leilão, o Ministério de Minas e Energia (MME)
60
Leilão de Energia Nova
Leilão A -3: usinas que entrarão em operação em até três anos.
define o preço teto inicial da venda de energia dos
Nos últimos leilões de energia nova, as usinas
empreendimentos (valor máximo do MWh comer-
eólicas desbancaram as fontes térmicas na disputa,
cializado no leilão em questão), e as distribuidoras
inclusive as de gás natural. Conforme o Gráfico 3,
www.fgv.br/ces/epc
referente ao leilão de energia nova tipo A-5, que
cipação das térmicas nos leilões de energia nova.
ocorreu em 2011, 76% da energia contratada foi
Essa ação tem um impacto negativo na expansão da
oriunda de parques eólicos.
energia eólica no País, limitando investimentos para
Além do preço competitivo, outro fator que
construção de parques geradores. Esse fato tam-
tem impulsionado a contratação de grandes quan-
bém reflete negativamente no compromisso que o
tidades de energia eólica nos últimos leilões de
Brasil assumiu, em 2009, para reduzir as emissões
energia nova, ocorridos em 2011 e 2012, é a rapidez
nacionais de gases de efeito estufa (GEE), uma vez
na construção dos parques. Em média, os parques
que a geração térmica a base de carvão tem sido
eólicos são construídos e tornam-se operáveis em
priorizada em detrimento de outras fontes como o
dois anos; em contrapartida, UTEs ou mesmo PCHs
gás natural (por terem preço mais baixo nos leilões
podem demorar entre 5 e 15 anos para gerar ener-
A-5), resultando em grandes emissões de GEE, que
gia, o que impossibilita estas fontes de participarem
poderiam ser mais baixas ou eventualmente nulas
em leilões A-3.
se os investimentos fossem transferidos para fontes
Entretanto, o governo excluiu as usinas eólicas
renováveis de energia. Em contrapartida, o governo
dos leilões A-5, deixando-os apenas para termelé-
promoveu em agosto de 2013 um leilão de reserva
tricas e hidrelétricas. O governo justifica essa medi-
exclusivo para energia eólica.
da como necessária para balancear a expansão da matriz energética no Brasil, alegando que a energia
Leilão de Fonte Alternativa e Leilão
eólica não garante a seguridade energética, devi-
de Energia de Reserva
do a sua dependência dos ventos, tendo, portanto,
Os leilões de fontes alternativas são destinados
que ser uma fonte complementar e não de base.
a novos empreendimentos de fontes alternativas
Também, é alegado que as usinas eólicas não pos-
de energia, ou seja, são específicos para empreen-
suem um prazo de construção de cinco anos, con-
dimentos de fontes renováveis. Normalmente, para
forme a formatação do leilão A-5.
esse tipo de leilão, enquadram-se como fontes alter-
Assim, mesmo a energia eólica sendo limpa e
nativas os projetos de biomassa, centrais eólicas e
com preço competitivo, ficando com preço atrás
pequenas centrais hidrelétricas (PCHs); os projetos
apenas da energia hidrelétrica, a Empresa de Pes-
de energia solar ainda não representam parcela re-
quisa Energética (EPE) optou por priorizar a parti-
levante no cenário nacional, portanto ainda não são considerados nos leilões. Os projetos hidrelétricos
Gráfico 3: Leilão de Energia Nova, tipo A-5, 2011. Fonte: Instituto Acende Brasil, 2012.
HIDRELÉTRICA 21%
BIOMASSA 3%
de maior porte (UHEs) não são enquadrados nessa categoria em função do impacto ambiental que suas barragens e área inundada representam e por serem a principal fonte geradora no País atualmente. No leilão de energia de reserva é contratada energia adicional, que visa reduzir os riscos de falta de energia elétrica, principalmente pelo desequilíbrio entre oferta e demanda. Portanto, o volume de energia negociado no leilão de reserva fica disponível para eventuais momentos críticos do SIN, quando houver demandas não previstas. Nos últimos anos, os parques de geração eólica também têm sido destaque nesses leilões, seja pelo número de parques participando, seja pelo preço do MWh ofertado. O leilão de reserva ocorrido em agosto de 2011, o quarto desse tipo, foi um marco para a expansão e comercialização da ener-
EÓLICA 76% www.fgv.br/ces/epc
gia eólica, que foi contratada a um valor médio de R$ 99,54/MWh, o que demonstra redução do pre-
61
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
FIGURA 16: Resultado Leilão de Reserva, 2011.
Fonte: EPE, 2011.
1o leilão de energia DE RESERVA / 2011 – resultado final PROJETOS CONTRATADOS
POTÊNCIA INSTALADA (MW)
GARANTIA FÍSICA (mw médios)
Eólica
34
861,1
428,8
99,54
Biomassa
7
357
169,5
100,40
TOTAL
41
1.218,1
589,3
99,61
Fonte
PREÇO MÉDIO (R$/MWh)
ço e maior competitividade. Comparativamente, o
canismos que possibilitem que os empreendimentos
preço médio dessa fonte foi de R$ 144,00/MWh no
de energia renováveis disputem livremente com as
segundo leilão de energia de reserva, ocorrido dois
demais fontes, em condições de igualdade, pois, em
anos antes, em 2009. O leilão de 2011 contratou 34
certas condições, a premissa da modicidade tarifária
novos projetos de geração eólica e 7 novos projetos
poderia estar prejudicando as fontes alternativas.
de geração de biomassa (Figura 16). Em agosto de 2013 o governo promoveu um
Leilão de Projetos Estruturantes
leilão de reserva exclusivo de energia eólica. A ex-
São leilões específicos para contratação de
clusividade desse leilão deve-se, principalmente,
energia de empreendimentos classificados como
ao fato de o governo ter retirado a fonte eólica do
estratégicos pelo Conselho Nacional de Política
leilão de energia nova tipo A-5. De acordo com in-
Energética (CNPE). A Lei Federal 10.848, de 2004,
formações da EPE, foram cadastrados 655 projetos
adicionou ao rol de prerrogativas do CNPE a possi-
para o leilão de 2013, sendo a potência oferecida
bilidade de “indicar empreendimentos que devam
estimada em 16.040 MW, números recordes no País.
ter prioridade de licitação e implantação, tendo em
E o resultado foi a contratação 1.505 MW, com um
vista seu caráter estratégico e de interesse público,
preço médio final de R$ 110,51/MWh.
de forma que tais projetos venham a assegurar a
Esse certame foi importante para aumentar a
otimização do binômio modicidade tarifária e con-
confiabilidade deste tipo de energia no setor elétrico
fiabilidade do Sistema Elétrico” (inciso VI do Art. 2o
brasileiro, pois utilizou-se de uma nova sistemática,
da Lei no 9.478, de 1997). Não há, portanto, uma de-
que aumentou o grau de confiabilidade da fonte eó-
finição clara de quais são os critérios ou característi-
lica. O cálculo da garantia física , estipulou que cer-
cas esperadas para classificar um empreendimento
ca de 90% da energia produzida pelos empreendi-
para os leilões estratégicos. Até o momento, apenas
mentos eólicos fosse entregue – anteriormente, essa
projetos de grandes hidrelétricas foram contratados
parcela era de apenas 50%. De acordo, com Mauricio
nesse tipo de leilão, como as usinas dos rios Madei-
Tolmasquim, presidente da EPE, o maior rigor do cál-
ra, Santo Antônio e Jirau (realizados em dezembro
culo de energia que cada parque poderá negociar
de 2007 e maio de 2008, respectivamente), além da
aumentará o grau de confiabilidade da fonte eólica.
usina de Belo Monte (licitada em 2010).
20
Além disso, a nova metodologia possui uma regra que atrela a contratação de parques eólicos à garan-
Os leilões de transmissão se constituem no ins-
na o risco de os empreendimentos ficarem prontos
trumento organizado pelo governo para conceder
20
e não terem como escoar a produção (EPE, 2013a).
às empresas o direito de construção e operação das
Nesse contexto, podemos avaliar que os certa-
linhas de transmissão. Nesses leilões são definidos
à quantidade máxima de
mes exclusivos para fontes renováveis, como leilão
o nível de qualidade e as tarifas do serviço (Instituto
de fonte alternativa e leilão de reserva, buscam in-
Acende Brasil, 2013). Esse tipo de leilão é fundamen-
centivar a expansão da geração por meio de fontes
tal para o escoamento de energia licitada, em espe-
como a eólica e a biomassa, e também criar condi-
cial, daquela oriunda do leilão de energia nova, em
ções para a diversificação da matriz nacional. Entre-
que o empreendimento energético ainda não possui
tanto, observa-se que é necessário desenvolver me-
ligação com as linhas de transmissão.
Garantia física: montante, em MW
médios, correspondente energia relativa à usina que poderá ser utilizada para comprovação de atendimento de carga ou comercialização por meio de contratos, estabelecido na forma constante da Portaria MME nº 258, de 28 de julho de 2008.
62
Leilão de Transmissão
tia de conexão na rede de transmissão, o que elimi-
www.fgv.br/ces/epc
O leilão de energia e leilão de transmissão
res a título de serviço público, autoprodutores, pro-
devem ser planejados levando em consideração a
dutores independentes, comercializadores, importa-
relação direta existente entre essas atividades. En-
dores e exportadores de energia e os consumidores
tretanto, o planejamento conjunto não vem ocorren-
livres e especiais têm liberdade para negociar direta-
do. Prova disso, é que editais e cronogramas para
mente a compra de energia; estabelecendo volumes,
realização dos leilões de geração e transmissão mui-
preços e prazos de suprimento. No modelo atual de
tas vezes não consideram o tempo do início de pro-
operação do sistema, todo consumidor é cativo até
dução da energia em relação ao tempo necessário
que opte por ingressar no ACL. Entretanto, para par-
para a construção das linhas de transmissão (princi-
ticipar desse mercado é necessário ser considerado
palmente o tempo para o licenciamento ambiental e
consumidor livre ou consumidor especial.
devidas regularizações fundiárias). Assim, falta uma
Os Contratos de Compra de Energia celebrados
compatibilização do planejamento de alguns leilões
em ACL são contratos bilaterais entre gerador e con-
de geração e transmissão, para prevenir desperdício
sumidor, firmados sem a participação da Aneel ou da
de energia. Um exemplo da falta de gestão conjunta
CCEE, mas que devem ser obrigatoriamente regis-
entre a geração e transmissão são os 12 parques eó-
trados na CCEE. Nesse ambiente, além do contrato
licos da região nordeste do Brasil que estão parados
de compra é necessário que outros contratos sejam
pela falta de linhas de transmissão. A companhia res-
fechados para garantia da entrega da energia, como
ponsável pela instalação das linhas de transmissão
por exemplo o contrato com o agente distribuidor,
apresentou três motivos para atraso na construção
que não participa diretamente da transação, mas é
das linhas: licenciamento ambiental, processo de
o agente que entrega a energia ao consumidor final.
anuência dos órgãos do patrimônio histórico e a
Caso a negociação de compra e venda de
questão fundiária.
energia ocorra entre agentes de diferentes esta-
Atualmente, um dos principais desafios do ONS
dos, não significa que a energia tenha de percorrer
(responsável por regular e fiscalizar os serviços de
as distâncias entre os agentes produtor e consumi-
transmissão no Brasil) é a integração das linhas de
dor para ser entregue, ou seja, não será instalada
transmissão de energia de grandes usinas na Região
uma linha exclusiva de transmissão de energia ex-
Norte, como as do Complexo do Madeira e de Belo
clusivamente para este fim. Nesse caso, a energia
Monte, bem como as interligações internacionais
que atenderá a demanda do consumidor será pro-
(para importação de energia) e a inclusão das usinas
veniente do SIN. O SIN congrega os sistemas de
eólicas no sistema. Parte da energia produzida até o
produção e transmissão de energia elétrica do País
fim do ano de 2013 pelas duas usinas do rio Madeira,
e, portanto, permite a troca de energia entre as
em Rondônia, deixará de ser escoada para o restan-
diferentes regiões, os denominados submercados.
te do País por conta dessa falta de planejamento. Se
É importante citar que a negociação da ener-
toda a geração das usinas de Santo Antônio e de Jirau
gia elétrica, no ambiente de comercialização livre, é
for transmitida para o SIN, há risco de queima das tur-
feita em mercado de balcão, ou seja, as transações
binas instaladas, o que causaria prejuízos gigantescos.
comerciais ocorrem de forma desorganizadas, o que
Além disso, as deficiências e vulnerabilidades do
gera assimetria de informações e baixa liquidez, não
processo de transmissão em função de grande parte
favorecendo a formação de preços desse mercado.
da geração de energia ser produzida longe dos cen-
Assim, a CCEE estuda a implantação a longo prazo
tros consumidores, torna as fontes alternativas mais
de uma bolsa de energia, uma Clearing House21, na
atraentes como solução para redes de transmissão
qual a negociação de energia elétrica poderá ocor-
menos complexas, visto que as fontes alternativas de
rer através de uma plataforma eletrônica. Essa plata-
compromissos de compra e
energia promovem a geração distribuída, estando
forma poderá ser integrada a de outros mercados,
Pode ser uma estrutura
mais próximas do centro consumidor.
como transações de carbono, eficiência energética e
à bolsa. A clearing house é
3.2.2. AMBIENTE DE CONTRATAÇÃO
gás natural. Mais informações podem ser encontradas no white paper: Construindo um Mercado Inteli-
realizadas, acompanhamento
LIVRE (ACL)
gente de Energia, da CCEE.
compensação financeira
No Ambiente de Contratação Livre, os gerado-
www.fgv.br/ces/epc
Essa evolução do mercado livre, para um mo-
21
Clearing House: é o sistema pelo
qual as bolsas garantem o cumprimento dos venda assumidos em pregão. interna ou externa, adjunta responsável pelo registro de todas as operações das posições mantidas, dos fluxos e liquidação dos contratos.
63
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
delo de mercado organizado em bolsa pode ser um
sociadas à energia adquirida nos ambientes livres:
grande incentivo para a expansão da energia re-
a ampliação deste mercado possibilitará a inclusão
novável de fontes alternativas como solar, eólica e
de parcelas cada vez maiores de energias renová-
PCHs no Brasil. Diante das dificuldades de viabilizar
veis alternativas no sistema, reduzindo as emissões
econômica e ambientalmente grandes empreendi-
de GEE associadas à eletricidade. A partir de evolu-
mentos hidrelétricos, os portfólios de comercializa-
ções no modelo de cálculo do fator de emissão do
ção do mercado livre têm dado cada vez mais aber-
SIN, será permitido aos compradores do ACL iden-
tura para energia de fontes alternativas. Assim, vale
tificar a origem da energia consumida, e esses po-
ressaltar que uma outra tendência do mercado livre
derão eventualmente ser creditados pelo benefício
é o crescimento da oferta de energia renovável de
ambiental, especialmente em seus inventários de
fontes incentivadas.
emissões de GEE, ou seja, poderão comprovar sua
Outro ponto que pode fortalecer este merca-
opção por fontes de energia renováveis e de baixo
do diz respeito às taxas de emissões de GEE as-
carbono. Atualmente, por conta da ausência desse
Energia, sustentabilidade e mercados
U
ma das maneiras mais eficientes de se promover o
meio ambiente, contextualizo essa reflexão sob os pilares da
desenvolvimento de uma atividade é aquela que se
fundamentação econômica de mercado. Calcado nos princípios
dá de forma sustentável e através de mecanismos
da neutralidade, simetria de informação e liquidez, qualidades
econômicos adequados, notadamente os ancorados em
basilares de um mercado maduro, a Câmara de Comercialização
princípios de mercado. Fomentar de forma permanente, perene,
de Energia Elétrica – CCEE lançou em novembro de 2012 o
o bem-estar social integrando com inteligência questões sociais,
White Paper: Construindo um Mercado Inteligente de Energia
econômicas, energéticas e ambientais é um desafio mundial que
no Brasil22. Em síntese, o documento propõe cinco ações
certamente passa pelo Brasil.
orientadas ao aprimoramento do mercado de energia elétrica,
A energia e a sustentabilidade têm sido um tema amplamente
afora, adaptadas à nossa realidade. Uma vez implementadas,
as questões das mudanças climáticas e aquecimento global,
cria-se um ambiente seguro capaz de atrair investimentos
têm procurado a substituição de fontes fósseis para geração
em geração, fomentando a expansão do mercado livre de
de energia por fontes renováveis. Muitas vezes a introdução
forma sustentável e com modicidade de preços. Ainda sob a
de fontes renováveis tem se dado através de subsídios que,
tríade energia-sustentabilidade-mercado, outros mecanismos
se perpetuados, acabam por produzir sinais econômicos
poderiam ser introduzidos, tais como: leilões de eficiência
distorcidos, impor elevados custos à sociedade e configurar-
energética, certificados de energia verde, geração
se, afinal, economicamente não sustentáveis. Subsídios são
distribuída, e microgeração.
instrumentos importantes para fomento de novas atividades
Os leilões de eficiência energética são mecanismos
econômicas ou desenvolvimento de novas tecnologias, mas
de mercado capazes de trazer eficiência econômica e
devem ser bem planejados no que diz respeito: ao que
sustentabilidade de forma inigualável. A energia mais barata,
subsidiar, em que intensidade e por quanto tempo, visto que
sem emissão de CO2 é aquela que evitamos consumir. Assim,
devem perdurar apenas o suficiente para viabilizar a introdução
programas de eficiência energética, espontâneos ou induzidos,
de uma nova atividade. Retirado o subsídio, essa nova atividade
poderiam efetivamente compor o planejamento da expansão.
deve ser capaz de caminhar com pernas próprias, competindo em iguais condições de mercado com suas concorrentes. No Brasil, temos uma matriz energética genuinamente limpa
64
tendo por base as melhores práticas de mercados mundo
discutido no mundo todo. Vários países, preocupados com
As pequenas centrais hidrelétricas, termelétricas a biomassa ou biogás, geradores eólicos e solar têm um subsídio na forma de desconto na tarifa de transporte que alcança também os
e renovável, o que não significa necessariamente que ela esteja
consumidores que adquirem essa energia. A rastreabilidade
sendo desenvolvida de forma sustentável. É preciso estar
ao longo das transações e a gestão do desconto dentro de
atento a essa, nem tão sutil, diferença para não se acomodar
portfólio de contratos, assim como a cobrança pelo uso da
na confortável irracionalidade da fartura dos recursos naturais
rede por parte da distribuidora são extremamente complexos.
renováveis. Afora as relevantes discussões relacionadas ao
Esse desconto poderia ser negociado através de Certificados
www.fgv.br/ces/epc
benefício indireto, muitas organizações veem esse
Os CCEARs são definidos pelo Ministério de Mi-
fator como um desincentivo à aquisição de energia
nas e Energia (MME), e possuem duas modalidades:
renovável no mercado livre. Contrato por Quantidade de Energia: aplicado,
3.3. Contratos entre distribuido-
em geral, para usinas hidrelétricas. Neste contra-
res e geradores
to, a distribuidora paga um valor fixo pela energia
22
A versão completa do White Paper pode ser
Para que os leilões de energia sejam opera-
contratada (R$/MWh). Os demais componentes,
cionalizados, ou seja, a geração de energia e even-
como custos de operação e manutenção, even-
tuais novos empreendimentos sejam construídos,
tuais riscos hidrológicos ou benefícios financeiros
devem ser firmados contratos entre distribuidores
são alocados ao gerador (FGV, 2011b).
23
e geradores. Esses são denominados Contratos de
Contrato por Disponibilidade de Energia: aplicado
marco na legislação setorial
Comercialização de Energia Elétrica no Ambiente
para fontes como gás natural, biomassa e eólica.
Regulado - CCEAR.
Nesse contrato, os custos operacionais, que são
encontrada em http://www. ccee.org.br/search/query/ search?q=white%20paper As resoluções Aneel REN482/12
e REN505/12 são um no sentido de propiciar o desenvolvimento da microgeração.
de Energia Verde – CEV, simplificando tremendamente
inteligentes e se encaixam bem dentro do conceito de
este processo. Cada megawatt com direito a desconto
microgrids, no qual se busca a autossuficiência dentro de uma
seria transformado em um CEV, podendo ser negociado
determinada região, com confiabilidade, redução de emissões,
separadamente da energia. O portador do CEV, ao apresentá-lo
diversificação de fontes e redução de custos. As microrredes
na distribuidora, ganha o desconto no transporte da energia.
são uma maneira inteligente de integrar os recursos
Assim, qualquer empresa interessada poderia adquirir esses
renováveis no nível da comunidade, no varejo, permitindo
certificados, criando um mercado de certificados de energia
a participação do consumidor como um empreendedor na
verde e consolidando os diversos nichos hoje existentes.
geração de energia elétrica.
A Geração Distribuída – GD tem o grande apelo de ser
As iniciativas acima são exemplos de ações fundamentadas
implementada próxima da carga de consumo, evitando a
em mecanismos de mercado e tecnologias que podem
construção de linhas de transmissão de longa distância e
promover o desenvolvimento sustentável de fontes renováveis
consequentemente seus impactos ambientais, além da redução
e o bem-estar social. Numa visão um pouco mais ampla, esses
nas perdas na transmissão. Com sinais econômicos adequados,
benefícios podem ainda ser ampliados, capturando as sinergias
a GD poderia participar dos leilões de energia nova
e adversidades desses mercados e promovendo a integração
contribuindo de forma sustentável no suprimento de energia.
dos mesmos como mostrado na Figura 1.
O conceito de microgeração distribuída está associado a microgeradores (painéis fotovoltaicos e turbinas eólicas, por
Por Luciano Freire, membro do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE
exemplo) instalados em residências e pequeno comércio na busca da autossuficiência em energia e pelo apelo ambiental e sustentável23. Comercialmente, a modalidade de net metering, na qual o excedente de geração ao ser lançado na rede de distribuição é valorado ao mesmo preço da tarifa de consumo, tem sido bastante empregada em outros países. Ao final do mês o consumidor é faturado pelo valor líquido entre geração e consumo, podendo eventualmente ter um crédito (energia
FIGURA 1: Integração dos mercados como forma de maximização dos benefícios da sustentabilidade. Mercado de Energia de Elétrica
Mercado de Gás
injetada na rede maior do que a absorvida da rede). Iniciativas dessa natureza devem ganhar força dentro das áreas de concessão que possuem tarifas elevadas em que o retorno do investimento inicial pode se dar em menor tempo. Tanto a microgeração como a GD estão fortemente
Mercado de Eficiência Energética
Mercado de CEV e CO2
Outros mercados
relacionadas ao desenvolvimento das chamadas redes
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65
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
calculados pela EPE em função do custo variável
a zero; e os empreendimentos termoelétricos são
da usina, ficam a cargo da distribuidora, que as-
considerados com CVUs que representam basica-
sume eventuais benefícios e riscos: caso a produ-
mente o custo de combustível e de operação/ma-
ção da usina (quantidade de energia gerada) seja
nutenção para geração de 1 MWh acima da geração
24
inferior à sua energia assegurada, a distribuidora
inflexível24. Essas informações de cunho comercial/
deverá comprar a energia que falta no mercado
econômico dos empreendimentos são adicionadas
ininterruptamente.
de curto prazo ao preço spot; e caso a produção
a um conjunto de informações físicas do SIN (carga
seja maior que a assegurada, o excesso pertence
estimada, previsão de afluências nas diversas bacias
à distribuidora, que poderá vender o excedente
hidrológicas, características físicas dos sistemas de
também no mercado spot de curto prazo.
transmissão e distribuição, entre outras) e utilizadas
Geração inflexível: usinas térmicas que
operam em regime de base e
para determinar os geradores que terão sua energia Nos leilões de contratos de quantidade, a EPE
despachada. Na decisão sobre quais geradores se-
define o preço-limite (R$/MWh) para a contrata-
rão despachados, procura-se maximizar a geração
ção. Chamado de Custo Marginal de Referência
de fontes com CVU igual a zero.
(CMR), esse limite corresponde à maior estimativa
Assim, o CVU é de bastante importância para
do custo de geração das usinas a serem licitadas.
parâmetros de competição nos leilões. Ao optar
Em sucessivas rodadas, os concorrentes submetem
por empreendimentos com CVUs mais baixos, o
lances contendo a quantidade de energia que pre-
SIN beneficia as energias renováveis, tanto hidrelé-
tendem vender (em lotes de 1 MW médio) e o pre-
tricas, como também de fontes alternativas. Assim,
ço de venda. A cada rodada, o preço de venda vai
menos empreendimentos termoelétricos poderão
sendo reduzido até que a oferta não atenda mais à
participar dos leilões, por possuir um CVU maior do
demanda estimada (FGV, 2011b).
que os de fontes alternativas e hidráulicas.
Nos leilões de contratos de disponibilidade, o gerador informa à EPE o volume de geração mínima
66
Mercado de Curto Prazo
oferecido e o Custo Operacional Variável Unitário
Outra especificidade do mercado de energia ad-
(CVU) da usina antes do leilão. Com base nessa infor-
vindo da contratação entre geradores e distribuido-
mação, através de simulações a EPE fornece a Garan-
res é o Mercado de Curto Prazo. Os contratos, cele-
tia Física da usina, uma estimativa do custo operacio-
brados diretamente entre gerador e distribuidora no
nal e uma estimativa das transações no mercado spot
Mercado Regulado devem ser registrados na CCEE,
que poderão incorrer à distribuidora (FGV, 2011b).
que realiza a medição dos montantes efetivamente
Nesse contexto, o CVU exerce uma importan-
produzidos/consumidos por cada agente. As diferen-
te influência na expansão da energia renovável no
ças apuradas, positivas ou negativas, são contabiliza-
Brasil. De acordo com a Revista Brasileira de Ener-
das para posterior liquidação financeira no Mercado
gia, 2010, nos modelos computacionais utilizados
de Curto Prazo, e valoradas ao Preço de Liquidação
na operação do SIN, os empreendimentos hidráu-
das Diferenças (PLD). No Mercado de Curto Prazo não
licos, e a maioria dos demais empreendimentos de
existem contratos, ocorrendo a contratação multilate-
fontes renováveis são considerados com CVU igual
ral entre gerador e distribuidor (CCEE, 2011a).
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PROPOSTAS empresariais de políticas públicas
Propostas Empresariais de Políticas Públicas para uma Economia de Baixo CarboNo no Brasil E N E R G I A
E L É T R I C A
A
s propostas foram elaboradas com base
objetivo de minimizar as emissões fica reduzido.
no cenário nacional atual, considerando
Visando a criação de maiores incentivos à
as previsões de expansão do sistema
aquisição de energia renovável no mercado livre,
elétrico para o ano de 2020 e o cresci-
os compradores dessa energia deveriam ser credi-
mento da demanda interna por energia. As mudan-
tados da parcela renovável de energia adquirida,
ças climáticas precisam ser consideradas no planeja-
podendo, por exemplo, descontar esta parcela de
mento energético nacional, e as energias renováveis
suas emissões de GEE, contabilizando emissões
se destacam nesse contexto pelos benefícios que
menores ou nulas.
oferecem ao setor empresarial brasileiro, como a
Para que isso seja possível, propõe-se a adoção
redução das emissões de gases do efeito estufa e
de uma série de medidas, conforme as propostas
maior competitividade no cenário internacional.
que seguem:
A seguir são apresentadas propostas de polí-
Divulgação e transparência quanto ao cálculo do
ticas públicas referentes à matriz elétrica brasileira,
fator de emissão do Sistema Interligado Nacional
separadas nas diferentes áreas de interesse do se-
(FE SIN) pelo MCTI.
tor empresarial.
Criação de um banco de dados de fatores de
4.1. Fator de emissão do SIN
emissão específicos por usina geradora, que esteja disponível aos consumidores do mercado livre.
O fator de emissão do Sistema Interligado Na-
Assim, haveria fatores de emissão específicos para
cional para inventários de emissões de GEE (FE SIN)
cada tipo de gerador, disponíveis para consulta e
compreende atualmente todas as unidades pro-
uso dos consumidores de energia elétrica para o
dutoras de energia que estão conectadas ao SIN,
cálculo de suas emissões de GEE associadas.
incluindo toda a energia gerada mensalmente no
Recálculo do FE SIN considerando apenas a
país, seja esta comercializada no mercado cativo
energia comercializada no mercado cativo. Esse
seja no mercado livre.
fator recalculado poderá refletir melhor a rea-
Esse modelo não permite ao usuário rastrear a
lidade dos mercados de energia existentes, e
energia adquirida, impossibilitando a identificação
seria aplicável apenas aos consumidores do Sis-
da usina geradora de energia. Mesmo em casos de
tema Interligado. Essa proposta permite que os
aquisição de energia renovável no mercado livre, o
compradores do mercado livre possam escolher
comprador não possui garantia de entrega da ener-
seu fornecedor com base no fator de emissão da
gia e tampouco consegue desagregar o volume de
usina geradora e serem creditados de emissões
energia adquirida que lhe corresponde do restante
reduzidas de GEE.
da energia contabilizada no SIN. Dessa maneira, o FE SIN é calculado consideran-
4.2. Planejamento energético
do o total de energia que passa pelo sistema, seja
O Plano Decenal de Energia (PDE) e o Balanço
esta proveniente de compradores cativos, seja de li-
Energético Nacional (BEN) compõe um dos mais im-
vres. Consequentemente, ao elaborar seu inventário
portantes instrumentos de planejamento energético
de emissões de GEE, o comprador do mercado livre
no Brasil, sendo que as decisões tomadas pelos ges-
não pode aplicar o fator de emissão (FE) específico da
tores públicos, consumidores e organizações ligadas
usina da qual a energia foi adquirida, sendo necessá-
ao setor elétrico são baseadas em suas premissas.
ria a aplicação do FE SIN. Essa limitação implica dire-
Para que o PDE e o BEN reflitam a realidade nacional
tamente na dinâmica do mercado livre e pode pre-
e permitam maior coerência com os atores relacio-
judicar os geradores com FE menores, notadamente
nados, é fundamental a participação ativa desses em
os de geração baseada em fontes renováveis, pois os
sua elaboração. Portanto, propõe-se:
compradores que desejam reduzir suas emissões de GEE mesmo se contratarem uma fonte renovável te-
A criação de uma instância de governança com
rão de contabilizar as emissões pelo fator do SIN, que
envolvimento dos atores e sociedade civil na ela-
é mais alto por incluir fontes fósseis. Assim, o incenti-
boração do Plano Decenal de Energia.
vo para comprar energia de fontes renováveis com o
68
Um dos problemas enfrentados atualmente no
www.fgv.br/ces/epc
setor elétrico brasileiro é a falta de planejamento
Tensão, que permitem um fluxo de energia acima de
dos leilões de energia nova, que ocorrem de ma-
800 kV. O aumento da carga das linhas proporciona
neira descoordenada com os leilões estruturantes
a redução das perdas de energia, aumentando a efi-
(para construção de linhas de transmissão, por
ciência do sistema e, consequentemente, reduzindo
exemplo). Outro fator importante é o processo de
custos operacionais das perdas (que atualmente são
licenciamento ambiental dos projetos estruturantes
repassados aos consumidores de energia).
e das usinas geradoras, uma vez que cada projeto é
É essencial que os esforços de construção de
analisado separadamente, resultando na conclusão
usinas geradoras e das respectivas linhas de trans-
do licenciamento em prazos que dificilmente coin-
missão e distribuição estejam integrados, reduzindo
cidem. Essa desorganização gera descompassos e
as perdas operacionais e construindo um planeja-
compromete os investimentos e o fornecimento de
mento elétrico consistente com as demandas do
energia a partir de fontes renováveis alternativas,
País. Para tanto, propõe-se:
como a energia eólica, tendo como consequência o desperdício da energia gerada que não está co-
A integração do planejamento de usinas de ge-
nectada ao SIN.
ração e de linhas e estruturas de transmissão e
As perdas técnicas do atual sistema de trans-
distribuição de energia, por meio de leilões pro-
missão e distribuição de energia são umas das mais
gramados e diretamente relacionados entre si.
altas do mundo, em torno de 20%, e estima-se que
A revisão dos prazos de licenciamento ambiental
78,5% dos equipamentos em uso atualmente no
nos processos de construção das usinas novas e
Brasil estão obsoletos. As redes de transmissão de
também das estruturas de transmissão de ener-
energia possuem, em sua maioria, tensão que va-
gia, visando uma maior integração de projetos
ria de 230 a 500 kV quando já existem alternativas
relacionados e melhor compatibilidade das datas
mais modernas como a tecnologia UAT – Ultra-Alta
de execução dos projetos.
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O desenvolvimento de pesquisas sobre a trans-
Assim, essas fontes e suas respectivas cadeias
missão em linhas de Ultra-Alta Tensão (UAT), vi-
seriam desenvolvidas no Brasil, fomentando o mer-
sando a redução das perdas operacionais e otimi-
cado de mão de obra especializado e a instalação de
zação das redes.
fabricantes de equipamentos e demais componen-
Maiores investimentos na construção de linhas de
tes necessários para a geração e fornecimento desta
transmissão de alta tensão, aliados à moderniza-
energia ao SIN. As demais fontes já desenvolvidas e
ção e substituição de equipamentos obsoletos da
estabelecidas no País (como as térmicas fósseis e as
rede de transmissão e distribuição de energia.
hidrelétricas) não competiriam neste mercado.
Incentivos para a implementação da geração distribuída, reduzindo as distâncias entre os locais
Inclusão de critérios variáveis no processo de ava-
de geração e consumo de energia elétrica e, con-
liação dos leilões de energia nova, que passarão
sequentemente, as perdas no processo de trans-
a considerar outros critérios, além do preço da
missão e distribuição da energia.
energia (R$/MWh). Dentre os critérios sugeridos,
4.3. Incentivos às energias
poderiam ser consideradas questões ambientais e
renováveis
Impacto ambiental do projeto
De maneira geral, as fontes renováveis alter-
climáticas como: Emissões de gases do efeito estufa associados à
nativas de energia (como eólica, solar e biomassa)
energia gerada (tCO2e/MWh gerado)
precisam de incentivos para poder ampliar sua par-
Impacto social do projeto
ticipação na matriz elétrica nacional e firmar-se como opções reais no fornecimento de energia e atendi-
Dessa maneira, as fontes renováveis alternativas
mento à demanda do Brasil. Os incentivos são diver-
de energia teriam maior potencial competitivo pe-
sos e transitam pelos campos regulatório e econômi-
rante as opções tradicionais.
co, e visam o aumento da competitividade do setor
Além dos critérios dos leilões de energia, outros
empresarial brasileiro nos mercados internacionais e
incentivos são propostos no ambiente de mercado,
o benefício climático proporcionado por essas fontes
conforme segue:
na redução das emissões de GEE. A seguir são apresentadas as propostas que in-
Incentivos e investimentos para expansão da ofer-
centivam o desenvolvimento das energias renováveis
ta de energias renováveis no mercado livre, como:
no Brasil através de alterações nos processo de leilão
Descontos nas tarifas de energia proveniente de
de energia:
fontes renováveis, tornando estas opções mais competitivas;
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Criação de leilões de energia nova específicos
Flexibilização dos contratos de compra de ener-
para cada fonte renovável alternativa: solar, eó-
gia no mercado livre, possibilitando contratos
lica e biomassa.
com período inferior a 5 anos.
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