ENCONTRO URBAN SKETCHERS
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Encontro ibérico de Urban Sketching em Castelo Branco: a comunicação transfronteiriça através do desenho O Urban Sketchers Portugal - Beiras é um colectivo de autores portugueses de cidades beirãs que desenham em diários gráficos as cidades onde vivem, os sítios por onde viajam, encontram-se para desenhar de vez em quando e respondem a desafios lançados nos blogues http://urbansketchers-portugal-beiras.blogspot.pt/ e http://urbansketchers-portugal.blogspot.pt/
O colectivo de desenhadores Urban Sketchers Beiras realizou nos dias 22 e 23 de Junho de 2013, o encontro ibérico de Urban Sketching em Castelo Branco. Este evento, promovido também pela Junta de Freguesia de Castelo Branco, reuniu durante dois dias, desenhadores dos dois lados da fronteira, com ou sem experiência, que pretendiam conhecer e registar graficamente diversos locais da cidade, bem como promover, não só a relação da prática do desenho com a cidade de Castelo Branco e o seu património histórico, arquitectónico e cultural, mas também com a Gastronomia local, e com a identidade rural que ainda está bem patente em torno da urbe. O encontro incluiu, além do desenho de observação, a sua pricipal actividade, diversas conferências e debates sobre diversos temas relacionados com o desenho. Assim, Carlos Matos propõs uma abordagem histórica da relação do desenho com a cidade de Castelo Branco ao longo dos tempos. Apresentou ainda o “Geo-sketching”, uma rede de percursos de desenho propostos aos participantes, que se relacionam precisamente com a evolução urbana de Castelo Branco em diferentes épocas. Pretendeu-se, desta forma, dar uma continuidade actual à sequência cronológica de registos gráficos que foram apresentados na conferência, que remota talvez ao séc. XV. Preto Ribeiro e Julieta Taborda tapresentaram como principal tema de comunicação a sua motivação pessoal para o desenho, uma vez que não exercem qualquer tipo de actividade profissional realizada com o desenho, as artes ou o sector criativo em geral. Os restantes oradores, membros portugueses e espanhóis da comunidade de Urban Sketchers, Álvaro Carnicero, Cristina Urdialles, Tiago Cruz, Alexandra Belo e Vitor Mingacho, apresentaram o seu trabalho gráfico e também o seu historial pessoal como desenhadores do quotidiano. Será importante ainda ressaltar a participação de Mariana Martins, aluna do ensino secundário de Mário Linhares, membro, organizador e administrador do blog Urban Sketchers Portugal, que também esteve presente no ciclo de conferências e debates.
Castelo Branco, 4 de Junho de 2013 2
Jorge Neves Presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco
Nos dias 31 de Maio e 1 de Junho Castelo Branco recebe o 2º Encontro Urban Sketchers. Em colaboração com entidades locais e sempre com o inestimável e valioso contributo do Prof. Carlos Matos, a Freguesia de Castelo Branco organiza pela segunda vez esta atividade depois de 2013 se ter processado um evento similar em jeito experimental. Os participantes de Espanha, Polónia e Portugal em percursos urbanos pela nossa cidade tentarão captar em traço definido o espírito ou. Melhor falando, a alma de Castelo Branco. Vamos, pois durante dois dias ficar sob o olhar de outras gentes. Como eles nos irão ver e desenhar. Nos seus cadernos de campo ficará espelhado subjetivamente é certo, a nossa essência ou parte dela no que respeita ao património, á cultura, aos edifícios, aos museus, à gastronomia e às pessoas. Detalhes que talvez nos passem despercebidos facto que nos pode levar a sermos surpreendidos em aspetos que na azáfama do dia-a-dia não reparamos. Outras das marcas impressivas deste Encontro deriva do facto de um significativo número de alunos, do 1º ano ao 12º, do Agrupamento de Escolas Nuno Álvares, desenharem, durante o mês, em cadernos gráficos que estarão em exposição no dia 31 de Maio. No fim desta ronda de caminhos teremos um debate aberto a todos os participantes com a inevitável partilha de trabalhos e uma participada discussão. É toda uma cidade em debate. 3
Urban Sketchers Mostrar o mundo com um desenho de cada vez
Talvez já tenha visto alguém a desenhar num café, num parque ou nos transportes públicos. De papel e caneta na mão, os Urban Sketchers desenham constantemente a realidade que os rodeia. Os seus cadernos abertos mostram cenários urbanos (ou rurais) vívidos, aglomerados de construções ou rostos insólitos. Estes registos são feitos no local, por vezes de forma furtiva, por vezes em torno de uma multidão curiosa. Seja com caneta, lápis, aguarela ou outros meios, este colectivo de desenhadores comunica o seu quotidiano e as suas viagens simultaneamente em diversas cidades à volta do mundo. A melhor forma de compreender a lógica inerente ao grupo será tavez a apresentação do seu manifesto: 1. Desenhamos in situ, no interior e no exterior, capturando directamente o que observamos. 2. Os nossos desenhos contam a história do que nos rodeia, os lugares onde vivemos e por onde viajamos. 3. Os nossos desenhos são um registo do tempo e do lugar. 4. Somos fiéis às cenas que presenciamos. 5. Usamos qualquer tipo de técnica e valorizamos cada estilo individual. 6. Apoiamo-nos uns aos outros e desenhamos em grupo. 7. Partilhamos os nossos desenhos online. 8. Mostramos o mundo, um desenho de cada vez. Desenhar é uma forma que temos de descobrir e dar a conhecer, através dos nossos cadernos, a nossa comunidade e cultura, ou a de outros países que visitamos. Até na nossa própria cidade nos tornamos turistas, com reproduções, não só de monumentos ou pontos de interesse, mas também de cenários quotidianos banais. O acto de desenhar tem uma enorme riqueza es-
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, “Nunca encontrei ninguem completamente incapaz de aprender a desenhar.” John Ruskin
tética, técnica e cultural. O tempo de observação e a dedicação que damos a cada desenho, bem como o registo da nossa percepção visual própria, faz com que o nosso poder de observação seja cada vez maior, e cada contexto que vivemos seja mais valorizado. A noção da realidade, daquilo que nos rodeia e ao qual muitas vezes não damos importância, melhora muito. Por isso, a prática do desenho pode ser vista como um acto de enriquecimento pessoal e de aprendizagem permanente. Os Urban Sketchers poderão ser vistos como repórteres, registando viagens ou acontecimentos recentes, ou mesmo historiadores, documentando a evolução de cenários urbanos em permanente mutação (demolições, contruções, reconstruções). O jornalista espanhol Gabriel Campanário, que faz reportagens para o Seattle Times, é o mentor do projecto. Campanario começou a conciliar as suas reportagens escritas com desenhos do seu caderno, que substituíam as habituais fotografias. Os seus artigos tornaram-se rapidamente nos mais lidos do jornal, o que deu origem à ideia de alargar, a várias pessoas do mundo, nas suas cidades, este conceito de reportagens desenhadas. Um número cada vez maior de correspondentes de cinco continentes publicam diariamente os seus desenhos na Internet, acrescentando também, na maioria das vezes, histórias ou relatos interessantes que estão por trás dos registos apresentados. O site original dos Urban Sketchers lançou um movimento mundial que tem hoje diversos blogs locais e grupos em diversas redes sociais (Facebook, Flickr...), e a comunidade de desenhadores que se gerou é extremamente solidária, criativa e produtiva. Existem já também diversas publicações, colectivas ou de autores específicos, e a organização permanente de encontros (gratuitos) e workshops temáticos da inciativa de alguns dos membros da comunidade.
Em Portugal, o grupo local de Urban Sketchers nasceu em 2009, a partir de um workshop de diários gráficos. No final, os participantes quiseram continuar a partilhar o seu trabalho através de um blog, inicialmente com o nome de Colectivo de Diários Gráficos. Com o objectivo de estar sintonia com o movimento mundial de desenhos em cadernos, o grupo alterou rapidamente o seu nome para urbansketchers-portugal.blogspot.com, tendo como mote a citação de John Ruskin, intelectual do s.XIX: “Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.” Com efeito, a comunidade portuguesa pretende motivar qualquer pessoa para desenhar e partilhar os seus desenhos, o mais possível, independentemente da sua experiência prévia, comentando também os registos dos outros membros. Talvez por isso, ela seja também, neste momento, a maior do mundo (cerca de 230 membros, de diversas faixas etárias).
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Duarte d’ Armas, vista Tirada da Banda de Noroeste, 1509
Menir do Monte de S. Martinho autores deconhecidos NeolĂtico, algures por volta de 3.800 a.C.
A cidade de Castelo Branco ao longo dos tempos no desenho Carlos Matos
Giorgio Marini Fins do sĂŠc. XIX
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J. Pires da Fonseca 1840
Duarte d’ Armas, vista Tirada da Banda de Sudoeste, 1509
autor desconhecido, 1762
George Cumberland Júnior, 1812
António Russinho, anos 70-80 do séc. XX A. Canelas, 1932
Rafael Bordalo Pinheiro, 1891
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Urban Sketchers Portugal
, Mario Linhares 2014
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Poderia ser este um artigo histórico sobre esta comunidade de pessoas que se junta para desenhar in loco os locais que mais lhes interessam, sejam exteriores ou interiores, faça chuva ou sol, sejam elas médicos, designers ou engenheiros. Podia, mas não é. É um artigo sobre o entusiasmo que o desenho faz crescer nas pessoas que o praticam e como o desenho em grupo é absolutamente contagiante. Falando exactamente disto, o contágio tem, por natureza, um quê de incontrolável. Parece que não há sabedoria humana que o saiba conter. Sem sabermos como, algo se apodera de nós, somos contagiados sem termos feito quase nada. Talvez estivéssemos na hora e local errados. Talvez por isso o termo tenha ficado muitas vezes associado a doenças contagiosas e a algo menos positivo. Se
o aplicarmos ao desenho, a hora do contágio é a certa, no dia certo, com as pessoas certas. Quantas vezes na escola os professores nos pediram para desenhar, testando as capacidades do nosso sistema imunitário, e fomos capazes de resistir? Olhando para trás, muitas pessoas nunca sentiram que o desenho pudesse entrar no quotidiano de forma tão presente e eficaz, resolvendo problemas de percepção da realidade. Muitas outras deixaram o desenho congelado pelos catorze anos, altura em que escolheram uma área de estudos que não incluía o desenho como disciplina obrigatória. A verdade é que quando o desenho entra a sério na vida das pessoas, ele instala-se para ficar e, nos Urban Sketchers, isso está normalmente relacionado com alguém que nos desafiou para desenhar com ela. É esta a história deste artigo, a de alguém que nos contagiou com um caderno - a que chamamos diário gráfico - uma caneta e aguarelas para passarmos a fazer um registo diário do nosso quotidi-
ano. Há quem se contagie logo muito cedo, tendo a oportunidade de fazer diários que registam as amarguras e frustrações, mas também a persistência e as alegrias dos resultados mais bem conseguidos. Também há quem comece mais tarde, com o fulgor de quem tem noção que desperdiçou tantos anos de vida sem o desenho e o faz agora com um entusiasmo de perder a respiração. Os Urban Sketchers Portugal são um grupo de pessoas que tem o desenho de observação como ponto comum. Encontrou neste formato a possibilidade de partilhar algumas das páginas dos seus diários gráficos. Sem censura e com muita vontade de aprender e desenhar juntos.
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Esta é a história de como e quando eu comecei a desenhar. Mariana Martins
O desenho apareceu na minha vida muito cedo, como acontece com a maioria das crianças. No entanto eram desenhos de imaginação próprios de rapariga, feitos a lápis de cor e a canetas de feltro. O desenho “mais a sério” começou mais tarde, no sétimo ano, com a disciplina de Educação Visual. Até aí só desenhávamos em folhas de papel cavalinho na disciplina de Educação Visual e Tecnológica e isso era quando desenhávamos. Portanto, veio o sétimo ano e com ele os diários gráficos. Eu não sabia o que era um diário gráfico, nem imaginava ser possível ter um caderno apenas para desenhar. Mas comecei a descobrir nesse ano, primeiro lentamente e depois de uma só vez. Assim, como se pode imaginar, o meu primeiro diário gráfico não tem grande qualidade porque 1) eu não me esforçava muito e 2) não tinha muita experiência. No entanto, no segundo diário gráfico, penso que os meus desenhos melhoraram consideravelmente. Eu já era mais crescida e gostava de desenhar, o que foi decisivo. Por essa altura o nosso professor, o professor Mário, dava-nos indicações todas as semanas para o desenho que tínhamos que fazer em casa. E assim, ao longo do tempo e ao longo dos desenhos, o meu interesse foi crescendo. O oitavo ano foi um ano novo, com um diário gráfico novo, com ideias novas. Neste caderno constam os primeiros desenhos cegos, os primeiros retratos e as primeiras experiências. A caneta preta que eu utilizava passou a ser outra, uma mais fina, e tenho que admitir que faz uma diferença abismal. A quantidade de pormenores aumentou, tal como a minha atenção a desenhar. Como disse antes, fiz os meus primeiros desenhos cegos, ou seja a olhar apenas para o que estamos a desenhar e nunca para o papel, neste ano. Confesso que gosto desenhos cegos. Eles livram-nos da pressão para o desenho “sair bem” quer esta venha dos outros ou de nós próprios. O desenho cego obriga-nos também a estar completamente focados no que estamos a fazer, caso contrário perdemos a linha de pensamento e do desenho.
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No sétimo ano eu não considerava sequer a ideia de fazer um retrato porque não me achava capaz. Mas, eventualmente, todos têm, ou pelo menos devem, enfrentar os seus medos e por isso comecei a desenhar pessoas. A pressão fazia-se sentir, quer dizer ninguém gosta de ficar mal, nem num desenho! Devido a isto e a outros aspetos surgiu a necessidade de melhorar a minha técnica com as aguarelas. Aprender a usar a cor foi fundamental porque a cor, quer seja feita com aguarelas, com lápis ou com canetas dá vida ao desenho e ajuda-nos a torná-lo mais real porque, afinal, nós vemos o mundo às cores e não a preto e branco. E por fim passei para o nono ano. Este ano foi diferente dos outros porque não havia desenhos para trabalho de casa e, portanto, podíamos e devíamos apresentar para avaliação o que quiséssemos. Ora isto deu-nos um pouco mais de liberdade para desenhar o que quiséssemos e experimentar diferentes técnicas. Neste ano passei a desenhar espaços mais complexos em vez de apenas objectos e a tentar compreender o que estava a desenhar. Foi precisamente este aspecto que me chamou a atenção no desenho e ainda me interessa hoje, e é o seguinte: quando nós estamos a desenhar qualquer coisa mesmo de observação, nós para desenhar essa qualquer coisa decentemente temos de perceber como é que o objeto funciona - eu pelo menos tenho necessidade de o fazer. Tentar perceber o que é que encaixa com o quê, onde encaixa e como é que encaixa. E muitas vezes não percebo o objeto todo mas à medida que vou desenhando vou entendendo e vou ficando mais… consciente daquilo que me rodeia. Portanto para mim o desenho é muito importante porque se revela como um momento de paragem mas ao mesmo tempo de crescimento pessoal. Acho que não preciso de acrescentar que espero continuar a desenhar até ao fim da minha vida.
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Cristina Urdialles
Una invitación a dar una charla siempre supone, ante todo, una reflexión. En mi caso, el Encontro Ibérico Urban Sketchers de Castelo Branco, más allá de la estupenda oportunidad de visitar la ciudad y dibujar con los amigos, supuso precisamente eso: una mirada hacia atrás para decidir cómo se ha alcanzado el punto actual. Es bien cierto que entre los urban sketchers abundan los arquitectos, artistas profesionales y diseñadores gráficos, pero yo personalmente formo parte de ese otro sector:
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la gente a la que siempre le ha gustado dibujar aunque ha cogido una profesión que poco o nada tiene que ver con el lápiz. En mi familia siempre ha habido apasionados del dibujo, así que no es extraño que desde pequeños nos familiaricen con lo más básico, pero el punto de inflexión para empezar a trabajar con cuadernos -la continuidad- para mí fue el diario del Grial de Henry Jones en La Ultima Cruzada. La combinación de dibujos y notas para documentar un tema concreto me resultó tan atractiva que años después decidí hacer algo parecido en un viaje a los Pirineos. El resultado fue bastante desastroso, dado que no tenía mucha experiencia en dibujo rápido (ni compañeros de viaje con paciencia) y llevaba únicamente una libreta de cuadros de 2 Euros y un boli azul. De ese viaje aprendí varias cosas, como que los materiales tienen cierta -bastante- importancia pero, sobre todo, que a mi lo
que me gustaba era dibujar, así que dejé de tomar notas. En mis siguientes libretas, cambié a Pilot de tinta negra y dejé los cuadros. Además, gané cierta velocidad con la práctica y ya se podían reconocer los lugares que dibujaba, pero enseguida llegué a la conclusión de que cargaba mucho las líneas y, a veces, los dibujos eran confusos. De ahí pasé a una etapa de texturas con rayados en distintas direcciones que no me acabó de convencer (aunque a Travis Charest le funcionaban estupendamente en sus comicbooks). Eventualmente llegué hasta los rotuladores Tombow, con doble punta. La punta de pincel del gris neutro era perfecta para dar sombras e incluso se podían extender rápidamente las zonas de negro a lo Mike Mignola en muy poco tiempo. A esas alturas, sin embargo, tuve una racha de viajes a parajes naturales con poco edificio y mucho paisaje, como Alaska o Australia. En
estos casos los dibujos con niveles de gris quedaban aburridos y no reflejaban la realidad del lugar, así que el paso natural siguiente fue la acuarela. Después de ensayar en casa un tiempo con escenas de El Señor de los Anillos, opté por la técnica de la grisalla por velocidad y, con cuadernos de bolsillo de papel de acuarela, conseguí capturar en color sitios como Kyoto, la Valetta o los jardínes de Yu Yuan. Justo en ese momento, tras el workshop e Nina Johansson en Lisboa, recuperé la idea inicial del cuaderno de Henry Jones y, pasando al formato A5, comencé a componer páginas para, más que un paisaje, recoger mis impresiones del lugar visitado, con dibujos, texto y, a veces, entradas, tickets, plantas y cosas varias que me encuentro en el lugar. Y básicamente ahí sigo. Por el momento. Esto es lo que intenté reflejar en mis dibujos de Castelo Branco.
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Parar, observar, desenhar! , Jose Preto Ribeiro
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Os dias correm velozes. Na vertigem do tempo percorremos espaços a toda a velocidade. Voamos céleres por cima de tudo, não nos sobrando um momento para olhar calmamente à nossa volta. Viajamos sofregamente pelos lugares do nosso quotidiano. Calcorreamos ruas, subimos degraus, descemos vielas, sem um minuto para reparar nas suas formas ou na expressão dos rostos que nos observam. Saímos de casa sempre apressados, apenas com o destino no pensamento. Voltamos mais tarde, cansados, exaustos e pior do que isso, completamente alheios a tudo o que havia no nosso caminho. São assim os nossos dias. Totalmente aniquilados pela urgência dos calendários e pela pressão impiedosa dos horários, num vórtice cronometrado. Há algum tempo descobri a chave para interromper este ciclo desenfreado de correrias estonteantes: Ser capaz de abrandar o passo e de olhar para o caminho. Para o mesmo caminho que tantas vezes percorri usando-o apenas como instrumento de ligação entre um ponto de partida e outro de chegada. Vejo agora que a excessiva importância que coloquei no destino dos meus percursos me foi retirando a lucidez para perceber a riquíssima linguagem visual que discreta e generosamente o caminho me oferecia.
Bastou para tanto, sair um dia à rua sem um destino no pensamento. Apenas uma intenção. Um bloco de desenho, um lápis, uma caneta, um pincel, uma caixa de aguarelas na mochila e uma vontade inabalável de desenhar ajudaram-me a parar, recomeçar lentamente a olhar em redor e a descobrir o imenso universo de pequenas coisas que habitam cada um dos lugares do meu território visual. Os objetos que preenchem os espaços do diaa-dia e que eu pensava conhecer tão bem, revelavam-me agora pormenores que tinham lá estado sempre, mas me haviam passado completamente desapercebidos. Tal era a minha pressa. As primeiras tentativas de transportar para o papel o mais simples dos objetos, depressa me conduziram a uma inesperada surpresa. Tinha-me desabituado de observar. Precisava urgentemente de voltar a ser capaz de ver o todo sem perder de vista as partes e de conseguir ver cada uma das partes no mosaico global que constitui o todo. No início, reproduzir essas imagens num desenho mostrou-se uma tarefa terrivelmente difícil e assustadoramente frustrante. Os primeiros desenhos saíram toscos, desajeitados, desproporcionados. Os traços raramente começavam e terminavam no ponto onde eu queria. A folha de papel acabava
sempre antes de ter desenhado tudo. Parecia até que me faltavam mãos para segurar o papel e desenhar ao mesmo tempo. Mais do que reaprender a desenhar, tinha de reaprender a observar. Desenhar à vista, em ambiente de ar livre ou em espaço fechado constitui um exercício mental completo. Exige disponibilidade psíquica para refrear a emergência do tempo, requer o desenvolvimento de uma técnica de observação metódica e o aperfeiçoamento de um traço solto mas disciplinado. Tudo isto fui lenta e pacientemente recuperando. Sinto agora que desenhar na rua é ser capaz de partir para nenhures, com a única intenção de redescobrir pessoas, ruas, telhados, uma janela, uma árvore, um gato, um céu azul… É ser capaz de transformar cada lugar num pedaço fervilhante de vida. É capturar cada um desses instantes e trazê-los para o papel. É contemplar o universo e nele, redescobrirmo-nos a nós próprios! Experimentem. Vão ver que não custa nada!
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COSAS QUE HE APRENDIDO DIBUJANDO
Alvaro Carnicero
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HAY HERRAMIENTAS, PERO NO MÉTODOS Dibujar es un complejo proceso mental y anímico resultado de nuestra forma de pensar, de comportarnos, de lo que nos interesa, de nuestras intuiciones y de nuestra educación. Hay herramientas o técnicas para dibujar, las aprendemos de otros compañeros o las inventamos; una vez asimiladas, las adaptamos o abandonamos; pero no hay métodos, es decir, no hay recetas que seguir, no hay instrucciones. Esta es mi opinión desde que empecé a dibujar con normalidad desde hace ya unos cinco años; y así es como empecé mi exposición en el Primer Encuentro Ibérico de Urban Sketchers celebrado en Castelo Branco (Portugal). Y continué diciendo: “Todo lo que voy a decir es rechazable”. Precisamente porque es un proceso personal, opino que no tengo derecho a marcarle el camino a otra persona, puedo mostrar mi experiencia durante estos años, pero el camino lo tenemos que realizar solos, y con mucha seguridad, las decisiones que tome yo, no tiene porque ser buenas para otra persona. Curiosamente compartí una horas con algunos amigos pintores de mi ciudad, Miguel Gómez Losada y Manolo Garcés Blancart, en la presentación que este último hizo en la galería deMaite Béjar, Arcen-ciel. Manolo presentaba su enorme trabajo de meses llamado “Ciudad Lineal”, su proceso creativo y búsqueda de otras herramientas de trabajo más automáticas, menos pensadas. En las preguntas y conversaciones de los asistentes con Manolo, se mencionaron conceptos y razonamientos que me
recordaban a mis experiencias y decisiones tomadas como dibujante. Manolo tuvo una frase que para mi dictó sentencia y que decía algo parecido a esto:Pintar para mi, es el momento de mayor libertad personal que tengo. DIBUJO CON MIS OBSESIONES “Se hace arquitectura con nuestras obsesiones”. La cita no es mía, creo que es de Emilio Tuñón, arquitecto; aunque no he podido confirmarlo. Utilizo como préstamo esta cita para darme cuenta de una nueva cosa que he aprendido dibujando: dibujo con mis obsesiones. Durante el tiempo que cursé la carrera de arquitectura, la mayoría de mis dibujos de viajes tenían que ver con la arquitectura, ya fueran proyectos de edificios o paisajes urbanos. Con el tiempo he ido dibujando cosas que no son tan familiares: animales, comida, personas, objetos cotidianos… con mejor o peor resultado. Afrontar un nuevo reto en el dibujo no siempre es posible, a veces noto que tengo que dibujar algo sencillo para mi cerebro, al menos un principio que me sirva de punto de apoyo desde el cual iniciar otros temas, lo mejor es llevarme el dibujo a terrenos conocidos; utilizando aquella frase de forma paralela al campo del dibujo: Dibujo con mis obsesiones, la arquitectura en mi caso. Un dibujo, realizado en Málaga, es un buen ejemplo de esta idea. En un día en el que me sentía más agotado de la cuenta y también menos inspirado, tomé un edificio como objetivo. Comencé con el croquis de la fachada, dibujado en el centro
de la página, ordenando la composición dentro de la hoja con el elemento más carismático. Era un buen principio, sencillo para mi, pero en el que podía incluir tonos de colores y características en las texturas que me interesaban mucho en aquel momento. Dudando en como seguir, recuerdo que pensé que si había empezado a explicar el edificio, debía seguir haciéndolo aún más allá, incluso tirando de mis conocimientos técnicos como arquitecto; por eso el detalle constructivo de la izquierda. El uso del dibujo técnico con los toques de acuarela me llevaron mi forma de dibujar hasta un terreno que curiosamente no había hecho coincidir hasta entonces; o era un dibujo técnico, un dibujo de arquitecto, o era un dibujo para acuarela, de temática arquitectónica, pero no con este carisma técnico. En la parte de la derecha del dibujo para terminar de explicar el edificio, representé el cartel real de la calle, cuyo tipografía resultaba bastante interesante, y por último un pequeño plano de situación de la zona, para terminar de situar el edificio. Ultimanente mis obsesiones en el dibujo han cambiado, no ha dejado de ser la arquitectura, pero he comenzado dos veces por retratos de mis compañeros del grupo de Urban Sketchers de Córdoba. Tengo muchas ganas de convertir mis dibujos en verdaderos retratos sociales y urbanos, y hasta ahora no estoy completamente satisfecho de lo que he conseguido a este respecto, para llegar a ello está claro que tengo que conseguir destreza en el retrato. Mi nueva obsesión me ha dado un nuevo comienzo.
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esboços era uma mais-valia para a nossa produção criativa. A este caderno chamava-lhe “diário de bordo” e disse-nos que, além de andar sempre connosco, deveria servir como uma espécie de atelier portátil. Deveríamos apontar tudo neste espaço. Um número de telefone, uma morada, uma ideia, um desenho de um pormenor de um edifício, um bilhete de cinema, entre outros. Seria assim um objecto associado à exploração do dia-a-dia, um documentário, um repositório de ideias e acontecimentos.
O DIÁRIO GRÁFICO DIGITAL
Tiago Cruz, avista.naocoisas.com, 2013
Vejo os dispositivos móveis como uma espécie de diário gráfico digital. Não desenhamos e escrevemos, apenas, mas também fotografamos, filmamos, recolhemos áudio, montamos tudo recorrendo a diferentes técnicas, e partilhamos. Mas antes de falar sobre o DGD é importante recuar e falar sobre o diário gráfica analógico (DGA), aquele caderno que anda sempre connosco. Comecei a usar o diário gráfico quando era estudante. Um professor de cenografia incutiu-nos esta ideia de que andarmos sempre com um pequeno caderno de 18
Desde então mantenho sempre comigo um pequeno caderno a que chamo diário gráfico. Hoje, no contexto da minha actividade enquanto investigador académico, é um objecto de estudo e, como tal, ao longo dos últimos anos, tenho vindo a reflectir
particularmente sobre o seu uso, numa perspectiva semiótica. Interessam-me os vários significados associados —ao cadernos e aquilo que é produzido através dele— não só aos diferentes usos actuais como também aos potenciais usos não previstos. A introdução ao conceito de DGD deverá ser feita num constante paralelismo com o DGA. Uma das limitações que encontro no DGA situa-se ao nível do seu potencial para a integração de vários media. Essencialmente é um género que potencia a produção de imagem estática seja através do desen-
ho, da escrita ou da colagem. Na chamada Era da Revolução Digital, com a democratização dos meios de representação, os registos que fazemos do nosso quotidiano vão mais além, sendo comum a recolha de materiais não só ao nível da imagem estática como também ao nível da imagem em movimento e do áudio. Recolho muitas vezes fotografia, vídeo e áudio. Penso que há coisas para serem desenhadas, há outras para serem fotografadas, outras para serem filmadas, etc. Um desenho poderá não ser indicado para o registo de uma textura ou um determinado jogo de luz, a paisagem sonora envolvente fornece muitas vezes informações importantes e interessantes que devem ser registadas e representadas, complementando a restante informação. Neste contexto, o DGD poderá ser um interessante
adoptam diferentes estratégias para organizar a informação que colocam nos seus cadernos. No entanto, se a utilização do caderno for feita de forma mais caótica onde surge desde um bilhete de cinema, passando por um excerto de um texto, a um desenho de uma fachada, rapidamente transformase com uma amálgama de mensagens misturadas, inclusive, na mesma página. A limitação neste ponto prende-se com a navegação por toda esta informação. Certamente que diversos autores já sentiram que seria extremamente útil, por exemplo, ter um motor de busca para pesquisar a informação no interior dos cadernos ou, até mesmo, poder categorizar a informação de forma a que a procura seja mais imediata e intuitiva. A natureza do problema situa-se no âmbito da arquitectura de informação.
género que permite não só a recolha de diversos media, como também a sua montagem num artefacto comunicativo e ainda a sua difusão.
Não é minha intenção trazer para este contexto questões relacionadas com esta disciplina mas sim sublinhar a limitação e esboçar soluções. No DGD, e porque a informação é de natureza numérica (Manovich, 2002), esta poderá ser alvo de uma manipulação algorítmica e, como tal, resolverem-se assim problemas de arquitectura de informação.
Um outro ponto importante prende-se com a organização da informação. Porque a informação é colocada no caderno de forma linear, após algum tempo, quando queremos rever algum apontamento, ideia, esquisso, entre outros, torna-se complicado retroceder ao local onde este registo foi feito. Certamente que a utilização do diário gráfico varia consoante o seu autor e certamente que estes
Manovich refere-se aos média computacionais, gerados pelo computador ou transformados numa linguagem computacional, como “new media” e reduz a cinco conceitos os seus princípios: (i) representação 19
numérica; (ii) modularidade; (iii) automatização; (iv) variabilidade e (v) transcodificação cultural. (2002:44) Assim sendo, o média computacional é uma representação numérica e, como tal, isto traduzse em duas consequências. Por um lado o objecto pode ser descrito formalmente (matematicamente) e, por outro, -consequentemente- este objecto pode ser alvo de manipulação algorítmica. (Manovich, 2002:49) Quando adquiri um iPad e decidi utilizá-lo enquanto DGD, comecei a pesquisar outros autores que usavam este dispositivo para o registo diário, em particular junto da comunidade dos Urban Sketchers. É nesta altura que me deparo com um conjunto de discursos semióticos relativamente a este suporte que, efectivamente, acabam por ir mais além do que o suporte em si e passam a ser discursos sobre a própria natureza da imagem. Refiro-me concretamente à questão da autenticidade, valor e verdade. A imagem digital é vista como algo menos autêntico e verdadeiro e, como tal, com um menor valor que a imagem analógica. A discussão é antiga e já Walter Benjamin colocava esta questão no âmbito da reprodutibilidade técnica. Falar sobre a autenticidade da imagem tem que ver com uma série de aspectos e, entre eles, a relação desta com o seu autor. Neste sentido, uma imagem autentica será uma imagem produzida por alguém. Por exemplo, uma pintura original será mais autentica do que a sua reprodução feita pela máquina (analógica ou digital). Mas um desenho analógico poderá ser visto como menos autêntico que uma fotografia analógica. Devido à natureza indicial da imagem fotográfica analógica, esta adquire um valor acrescentado pois surge através da reflexão da luz numa película sensível enquanto que a digital é produzida sem ser necessário o recurso a um referente. Ora, a questão da autenticidade não será algo que se encontra o media em si, mas sim algo transportado para este. Nesse sentido, a imagem digital é também ela produzida por alguém ou por uma máquina/técnica que foi programada por alguém. Dubois (2004), quando escreve acerca da relação “maquinismo-humanismo”, refere que podemos pensar que está em causa um processo de desumanização, e consequente perda de artisticidade, do processo. As máquinas de imagens entrepõem-se entre o sujeito e o real. Do lápis de grafite à câmara digital. No entanto, diferentes máquinas assumem diferentes posturas. Ainda antes da fotografia, a câmara escura já servia a construção de imagens. 20
No entanto, a máquina neste momento “… é uma máquina puramente óptica, de pré-figuração, e intervém antes da constituição propriamente dita da imagem.” (Dubois, 2004:36) O autor acrescenta que estas máquinas (câmara escura, a portinhola, a tavolleta) são instrumentos que “… organizam o olhar, facilitam a apreensão do real, reproduzem, imitam, controlam, medem ou aprofundam a percepção visual do olho humano, mas nunca chegam a desenhar propriamente a imagem sobre um suporte.” (ibid.) A imagem continua a ser individual e subjectiva precisamente porque porque ela continua a ser produzida pelo homem. A máquina é apenas um instrumento que suporta a tarefa. Dubois assume que é aqui que se levantam as questões do humanismo artístico, nesta relação entre arte produzida pelo Homem versus arte produzida pela máquina. A relação do Homem com o Real é mediada pela máquina. Se numa determinada altura a máquina não separava o Homem do Real, numa outra a máquina vai alterar de forma significativa a relação entre ambos. Com o surgimento da fotografia, “A máquina, agora, não se limitará a captar, prefigurar ou organizar a visão […], mas produzirá, justamente, a inscrição propriamente dita.” (Dubois, 2004:38) Em grande medida, este aspecto de que a máquina intervém directamente na produção da imagem, sendo o processo visto como algo automático, directo, objectivo, entre outros, relaciona-se com o valor de verdade atribuído à imagem fotográfica nesta altura. Se por um lado este aspecto irá ter como consequência uma perda de um humanismo artístico, de uma individualidade subjectiva, por outro, a imagem fotográfica ganha um valor de verdade e objectividade acrescido precisamente devido ao seu processo “maquínico”, à sua natureza indicial. De uma máquina que serve um processo a uma outra que intervém directamente nele, “… o gesto humano passa a ser um gesto mais de condução da máquina do que de figuração directa.” (Dubois, 2004:38) Autenticidade e veracidade é algo que não se encontra no media em si, mas sim um valor que é transportado pelo autor/leitor para a imagem.Segundo Leeuwen (2005:91), o conceito de modalidade é o elemento chave para estudar como é que o indivíduo usa o recurso semiótico para criar um valor de verdade, ou realidade, associado às representações produzidas. Este valor de verdade, associado
a uma representação, é algo que se encontra na interrelação entre autor, representação, objecto, contexto e códigos. Dizer que uma imagem é mais ou menos real, mais ou menos ficcional, implica um olhar sobre todo o processo de comunicação: a produção, a circulação e o consumo. Está em causa um processo complexo e denso de significados. Com o conceito de modalidade, Leeuwen (2005, 160-177) propõe que a noção de verdade seja vista no sentido em que esse valor é algo acrescentado à imagem, condicionado pelo contexto, pelos códigos
Quem conhece o meu trabalho, poderá questionar-se sobre o porquê de não utilizar o DGD e manter-me no analógico precisamente porque, depois de todo este raciocínio, estariam reunidas as condições para fazer a passagem para este media. No entanto, não o fiz. Não porque apresenta um produto comunicativo menos autêntico e verdadeiro, mas porque o media apresenta outro tipo de limitações. Nomeadamente, a limitação da bateria, a informação que continua a apresentar-se de forma dispersa e a fragilidade inerente à própria natureza numérica da informação. Num processo de reflexão sobre estes aspectos cheguei à conclusão que o problema situa-se na experiência de utilização do dispositivo móvel sendo, desta forma, um problema de design de interacção, um problema da software. Os nossos computadores pessoais transportam consigo uma metáfora fortíssima com a qual vivemos diariamente. Refiro-me à metáfora do desktop. Os ficheiros são organizados em pastas, estas em arquivos, para apagar arrastamos para um balde do lixo, etc. Temos a transposição clara de um ambiente físico com o qual estamos familiarizados para um ambiente virtual. E é esta passagem que faz com que a utilização do computador seja intuitiva e eficaz. Porque não a criação de um software que implementa a metáfora do DGA, expandindo-o para novas utilizações, novos potenciais semióticos?
envolvidos, por quem produz e por quem consome. A questão não está em “Quão verdadeiro é isto?”, mas sim “Com que verdade é representado?”. O interesse não está numa verdade absoluta, mas numa verdade particular vista pelo sujeito produtor de sentido, e nos recursos semióticos que utiliza para expressar essa mesma verdade (Leeuwen, 2005:160). Desta forma, uma imagem, ser mais ou menos verdadeira, é algo que faz parte de um processo de negociação entre leitor/autor e imagem, onde está envolvido todo um contexto cultural individual e colectivo, todo um conjunto de crenças, regras, códigos e convenções.
Referências Bibliográficas CRUZ, Tiago (2012), Do registo privado à esfera pública: O Diário Gráfico enquanto meio de expressão e comunicação visual, Tese de Mestrado em Comunicação na Era Digital no Instituto Superior da Maia, Maia DUBOIS, Philippe (2004), “Máquinas de imagens: uma questão de linha geral”, São Paulo: Cosac & Naify LEEUWEN, Theo Van (2005), Introducing Social Semiotics, New York: Routledge MANOVICH, Lev (2002), The Language of New Media, US: MIT Press
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A Beira Baixa em desenhos
Alexandra Belo Vitor Mingacho
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Os desenhos que apresentámos na conferência foram feitos ao longo de um ano, e por diversas localidades da Beira Baixa. As nossas deslocações frequentes e intermitentes a este território permitiram-nos registar momentos do quotidiano, monumentos, pontos de interesse, espectáculos e eventos, constituindo-se o conjunto da retrospectiva apresentada como um diário de diversas viagens recorrentes à(s) nossa(s) terra(s). Começámos o percurso com desenhos em viagem, em que nos retratámos um ao outro dentro do carro, nos nossos constantes movimentos pendulares entre Lisboa e Castelo Branco. De seguida, apresentam-se registos de Castelo Branco, em que se mostram locais marcantes, como o Jardim do Paço ou o Museu Cargaleiro, e também esboços rápidos realizados em espectáculos do Cine-Teatro Avenida, nomeadamente concertos de jazz e peças de teatro. Existem ainda inúmeros registos do quotidiano, em ambientes domésticos, que consistem em exercícios de observação informal de espaços interiores, permitindo muitas vezes uma maior liberdade no que diz respeito à experimentação de diferentes estilos de representação. Alcains foi também diversas vezes alvo de observação, tendo-se aqui realizado diversos encontros de Urban Sketchers, que permitiram a realização de vários desenhos, tanto na Feira do Queijo, como no centro da vila, ou ainda no Solar de Alcains, com um interessante confronto entre o ambiente do Solar e a construção industrial da Sicel, situada nas suas proximidades. Escolhemos ainda apresentar outras três localidades da Beira Baixa que foram alvo de breves registos em eventos pontuais, encerrando assim este périplo pela região: A Lardosa, na Feira do Feijão Frade;Proença-a-Nova, durante a Feira do Limão; e ainda o Moinho de Água de José Martinho Braz, no Salgueiro do Campo, no qual se realizou um encontro de sketching e fotografia. Deste modo, pensamos ter demonstrado como o desenho pode tornar-se, além de uma ferramenta de representação, uma forma de observação contemplativa e experimentação plástica que nos acompanha ao longo dos nossos percursos diários, plasmando também a nossa identidade beirã e o contacto que mantemos com esta região, patente em grande parte dos desenhos que produzimos.
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Preto Ribeiro
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Mรกrio Linhares
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Aires de Melo
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Ă lvaro Carnicero
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Alexandra Belo
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Vitor Mingacho
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Ana Luisa Fraz達o
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Carlos Fraz達o
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Ant贸nio Monteiro
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Cristina Urdialles
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Jo達o Francisco
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Jo達o Esteves
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Ketta Linhares
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Tiago Cruz
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Julieta Taborda
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Maria Celeste
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Miguel Ruivo 42
Pedro Faria
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Pedro Cabral
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Rita Caré
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Vicente Sardinha
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Carlos Matos
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Edição: Junta de Freguesia de Castelo Branco; Design Gráfico: Carlos Matos; Desenho da capa: Mário Linhares Impressão: Albigráfica; 150 exemplares; Maio de 2014
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