Estudo geldentifricoforeverbright

Page 1

Avaliação comparativa da eficácia antimicrobiana do gel dentífrico de aloe vera e duas pastas dentífricas de marcas comerciais mais conhecidas: Um estudo in vitro Dilip George, MDS - Sham S. Bhat, MDS - Beena Antony, PhD Embora se tenha atribuído uma grande variedade de aplicações ao Aloe vera (Aloe barbadensis Miller), a sua utilização em medicina dentária é limitada. No presente artigo analisam-se as utilizações da planta e descreve-se uma investigação in vitro, onde se comparou a eficácia antimicrobiana do gel dentífrico de aloe vera com duas pastas dentífricas de marcas comerciais mais conhecidas. Os resultados preliminares demonstraram que o gel dentífrico de aloe vera e as pastas dentífricas eram igualmente eficazes contra os microorganismos Candida albicans, Streptococcus mutans, Lactobacillus acidophilus, Enterococcus faecalis, Prevotella intermedia e Peptostreptococcus anaerobius. O gel dentífrico de aloe vera demonstrou um efeito antibacteriano reforçado contra o S. mitis. Recebido: 29 de Novembro de 2007 Aceite: 8 de Fevereiro de 2008 O sucesso de qualquer pasta dentífrica, reside, em parte, na sua capacidade de eliminação de agentes patogénicos da microflora oral. As pastas dentífricas com flúor são amplamente usadas em todo o mundo e um aturado trabalho de investigação estabeleceu as suas capacidades em termos de combate à cárie.1 O gel ou mucilagem do Aloe barbadensis Miller (mais conhecido por aloe vera) é um remédio prático e caseiro que pode ser utilizado tanto como um agente hidratante como para o tratamento de queimaduras ligeiras e escoriações da pele. O aloe vera é uma planta semelhante a um cacto, que pertence na realidade à família das liliáceas. Das mais de 300 variedades da planta do aloe que existem, é a variedade Aloe barbadensis que possui as melhores propriedades medicinais. O uso moderno do aloe vera foi documentado pela primeira vez em 1930 para o tratamento de queimaduras causadas por radiação.2 O sumo de aloe vera quando ingerido demonstrou possuir diversos efeitos benéficos no organismo.3-6 A eficácia do Aloe barbadensis Miller aumenta quando a planta é colhida após ter crescido durante 12 anos, mas o seu potencial nutritivo diminui após esses 12 anos de crescimento.7 O gel de aloe perde todo o seu potencial se estiver exposto à luz solar por um período superior a duas horas, dado oxidar facilmente; por consequência, é necessário proceder à sua estabilização, de acordo com normas farmacêuticas, para a sua pronta utilização e um prazo de validade mais prolongado. As organizações sem fins lucrativos, como o Conselho Científico Internacional do Aloe, estabeleceram normas para a aprovação do aloe e concedem o seu selo de qualidade aos produtos de aloe. Estes produtos são mais benéficos, dado que o selo é concedido apenas aos produtos que possuam benefícios terapêuticos comprovados.7 A presente avaliação in vitro compara a actividade antimicrobiana de um gel dentífrico de aloe vera com duas pastas dentífricas de marcas comerciais mais conhecidas. Estas pastas dentífricas foram sujeitas a testes face a sete microorganismos patogénicos, que se encontram com frequência na microbiota oral. Pretende-se com estes resultados demonstrar a eficácia antimicrobiana relativa de cada pasta dentífrica face a cada espécie de agentes patogénicos em particular.

Materiais e métodos No sentido de demonstrar a actividade antimicrobiana, o presente estudo utilizou um gel dentífrico de aloe vera (Forever Bright, Forever Living Products, Scottsdale, AZ; 888.440.2563), denominado Pasta dentífrica A e duas pastas dentífricas de marcas comerciais mais conhecidas: Pepsodent (Unilever, Englewood Cliffs, NJ; 201.894.7660) e Colgate (Colgate-Palmolive, Canton, MA; 800.821.2880), denominadas Pastas dentífricas B e C, respectivamente. O presente estudo utilizou uma cultura liofilizada das estirpes de referência de Streptococcus mutans, Candida albicans, Lactobacillus acidophilus, S. mitis, Enterococcus faecalis, Prevotella intermedia e Peptostreptococcus anaerobius. Os organismos foram cultivados em caldo tripticase-soja e transferidos para o meio selectivo para o restaurar da solução.


Os organismos empregues no estudo foram cultivados nos seus respectivos meios selectivos. Por exemplo, S. mutans foi cultivado em meio Agar MSB (Mitis-salivarius-bacitracina) (Meio de Gold), C. albicans em meio Agar Sabouraud Dextrose, L. acidophilus em meio Rogosa-agar SL, S. mitis em meio MSA (Mitis-Salivaris Agar), E. faecalis em meio Agar MacConkey e tanto Prevotella intermedia como Peptostreptococcus anaerobius em meio Agar-Sangue com Neomicina8. A pureza da cada estirpe foi verificada durante cada um dos ensaios, mediante a utilização de uma subcultura, com o recurso à técnica de coloração de Gram, e características morfológicas das colónias. Verificou-se a susceptibilidade antimicrobiana através de hidrólise.9 Utilizou-se o meio de Agar MuellerHinton para demonstrar o efeito antibacteriano sobre as aeróbias, tendo-se recorrido ao meio de Agar-Sangue Wilkins-Chalgren para as bactérias anaeróbias e ao meio de Agar Sabouraud Dextrose para os microorganismos Candida. Utilizando um modelo em metal, construíram-se três discos (4 mm de diâmetro e 3 mm de profundidade), com uma tetina de borracha em cada placa. Os inóculos foram preparados e ajustados aos padrões de turbidez correspondente a 0,5 na escala de McFarland, de acordo com as recomendações do National Committee on Clinical Laboratory Standards (NCCLS)10. Espalham-se os respectivos microorganismos da cultura numa linha contínua nas placas com meio de agar. Com a ponta de um escavador, dispersaram-se as pastas dentífricas nos discos. Nessa altura, procedeu-se à incubação das placas a uma temperatura de 37°C durante 48 horas nos ambientes respectivos - ou seja, E. faecalis e C. albicans em incubadora, S. mutans e S. mitis em atmosfera de microaerofilia e L. acidophilus, Prevotella intermedia e Peptostreptococcus anaerobius em jarra de anaerobiose (Hi Anaerobic System-Mark II com Anaerobic Hi Gas Pack, Hi Media Laboratories, Mumbai, Índia; 91.022.2500.0970), que funciona segundo o princípio do gás obtido a partir de substâncias químicas. Após a incubação, examinaram-se as zonas de inibição (ou seja, os locais onde não houve crescimento de bactérias) em torno dos discos onde se encontravam os dentífricos. Estes apresentavam um halo circular e distinto, à volta dos discos. O diâmetro médio das dimensões do disco (em mm) representa os valores de inibição do produto testado. Não se procurou obscurecer a identidade dos agentes de teste. O teste foi repetido seis vezes em triplicado, com o objectivo de ultrapassar quaisquer erros técnicos que pudessem ocorrer. Utilizou-se o Teste de Kruskall Wallis, com a versão 14 do software SPSS usado para a análise dos resultados.

Fig. 1. Zona de inibição observada em Candida albicans para as pastas dentífricas A, B e C, usando o meio Agar Sabouraud Dextrose.

Fig. 2. Zona de inibição observada em Prevotella intermedia para as pastas dentífricas A, B, e C, usando o meio de Agar-Sangue Wilkins-Chalgren.


Quadro. Diâmetro médio da zona de inibição obtida após 48 horas de incubação. N S. mutans A 6 B 6 C 6 C. albicans A 6 B 6 C 6 L. acidophilus A 6 B 6 C 6 S. mitis A 6 B 6 C 6 E. faecalis A 6 B 6 C 6 Prevotella intermedia A 6 B 6 C 6 Peptostreptococcus anaerobius A 6 B 6 C 6

Média

SD

15,8333 15,5000 16,8333

0,75277 1,04881 1,16905

24,0000 25,0000 23,6667

0,823666 0,89443 1,03280

23,1667 23,8333 22,8333

3,54495 3,37145 3,06050

17,0000 14,6667 14,3333

3,16228 1,50555 1,75119

22,3333 23,0000 23,3333

2,06559 2,19089 2,06559

21,3333 22,1667 20,8333

1,03280 0,98319 0,75277

21,6667 21,5000 21,6667

0,81650 1,37840 1,36626

H 4,18

p 0,124 (não significativo)

,48

0,058 (não significativo

0,87

0,647 (não significativo)

6,76

0,034 (significativo)

0,4

0,659 (não significativo)

4,83

0,09 (não significativo)

0,07

0,968 (não significativo)

Resultados Os resultados do presente estudo preliminar in vitro demonstraram que o gel dentífrico de aloe vera é tão eficaz como as Pastas dentífricas B e C em termos de controlo de todos os organismos no estudo. As três pastas dentífricas mostraram actividade máxima antimicrobiana contra o microorganismo C. albicans e a todos os anaeróbios in vitro. Comparativamente com as Pastas dentífricas B e C, a Pasta dentífrica A demonstrou um maior efeito antibacteriano contra o S. mitis (p = 0,034). No quadro apresentam-se as zonas de inibição obtidas para cada pasta dentífrica passadas 48 horas. Discussão Da análise efectuada à documentação existente, verifica-se que não existe qualquer estudo de avaliação relacionado com o potencial de utilização do aloe vera na higiene oral realizado antes do presente estudo. As propriedades antibacterianas, antifúngicas e antivirais do aloe vera foram estabelecidas e, para além de reduzir as inflamações e a dor, favorece a cicatrização. A eficácia antimicrobiana do aloe vera foi atribuída às antraquinonas naturais da planta: aloe emodina, ácido aloético, aloína, antraceno, antranol, barbaloína, ácido crisofânico, óleo etéreo, ester do ácido cinâmico, isobarbaloína e resistanol.11 Em concentrações relativamente pequenas, conjuntamente com a fracção gel, estas antraquinonas proporcionam uma actividade analgésica, antibacteriana, antifúngica e antiviral; em concentrações elevadas, podem ser tóxicas.12 As saponinas, que contêm heterósidos, são substâncias saponáceas que possuem propriedades antissépticas e de limpeza.13-15 A substância activa Acemannan (acemanose) contém uma concentração de acetilato manosa, presente na planta do aloe vera, possuindo um empastamento/viscosidade inerente, que a torna ideal para formulações adesivas para próteses dentárias. Um estudo realizado em 1998 revela que as formulações com Acemannan de 150:1 (contendo 0,05% de sacarinato de benzalcónio, 0,1% de metilparabeno e 0,01% de hiamina 1622) possuíam um pH e poder de aderência e mínima citotoxicidade. 16


Os organismos empregues no presente estudo incluíam a flora normal e os agentes patogénicos da cavidade bucal. S. mutans tem sido fortemente associado ao aparecimento de cáries, embora exista uma correlação entre Lactobacilli e o desenvolvimento ulterior de lesões cavitadas.17 Um estudo realizado em 1995 por Bai et al demonstrou uma elevada contagem de Candida em crianças com diabetes mellitus insulinodependente (DMID), ou diabetes juvenil, um quadro associado a sintomas como boca seca, ardor e fissuras dolorosas.18 E. faecalis tem sido associado a reinfecção e a perda subsequente de dentes tratados endodonticamente.19 Os anaeróbios constituem uma parte significativa da flora orodental. O papel que desempenham nas doenças parodontais e na infecção dos canais radiculares encontra-se bem estabelecida, tal como o seu papel enquanto focos da disseminação de doenças infecciosas. Os microorganismos Prevotella intermedia eram predominantes entre os anaeróbios recuperados dessas infecções parodontais, o que significa que estes organismos específicos são adequados ao presente estudo.20 A maioria dos efeitos antimicrobianos das pastas dentífricas comerciais pode ser atribuída ao seu teor em flúor, sob a forma de monofluorfosfato de sódio (uma concentração de 500–1,000 ppm). O gel dentífrico de aloe vera utilizado no presente estudo não possui qualquer teor de flúor acrescentado, embora ainda exerça uma actividade antimicrobiana semelhante.

Conclusão Este estudo preliminar in vitro demonstrou que o gel dentífrico de aloe vera é tão eficaz como as duas pastas dentífricas de marcas comerciais mais conhecidas no controlo de todos os organismos utilizados no estudo. Complementarmente, o gel demonstrou possuir um efeito antibacteriano superior sobre S. mitis, apesar da ausência do flúor adicional. Contudo, para a garantia estes resultados e a eficácia de ambos os produtos dentífricos, deverão ser realizados ensaios clínicos adicionais de longo prazo, que incorporem mais isolados a partir de amostras clínicas. Responsabilidade Os autores não têm qualquer relação com nenhum dos fabricantes citados no presente artigo. Informação sobre o autor Dr. George é assistente/professor assistente no Departmento de Pedodontia e Medicina Dentária Preventiva, na Faculdade de Ciências Dentárias de Pushpagiri em Tiruvallam, Kerala, Índia. Dr. Bhat é professor e director do Departmento de Pedodontia e Medicina Dentária Preventiva, do Hospital Universitário de Ciências Dentárias de Yenepoya, em Mangalore, Karnataka, Índia. Dr. Antony é professor no Departmento of Microbiologia, Hospital Universitário Father Muller, em Mangalore, Karnataka, Índia.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.