70 TONS DE BÁRBARA
ALEX MEDEIROS Edição O Galo Informa
Copyright © Alex Medeiros, 2016 Direitos exclusivos desta edição reservados ao coração de Bárbara Bezerril Porpino. Rua Historiador Tobias Monteiro, 138, Lagoa Nova, Natal-RN. Este livro não foi impresso, é a impressão exata de um amor que só liberta o poeta quando ele se prende aos encantos da sua musa. Agradecimentos ao artista plástico e irmão de vida Carlos Soares pela confecção da obra, e em especial à minha amada filha Marana Torrezani Medeiros, que se não fosse por ela eu jamais teria conhecido e amado Bárbara.
“
Bárbara, Bárbara Nunca é tarde, nunca é demais Onde estou, onde estás Meu amor, vem me buscar . (Chico Buarque de Holanda)
”
Feliz Natal, Bárbara! “Alice! Recebe este conto de fadas e guarda-o, com mão delicada, como a um sonho de primavera que à teia da memória se entretece, como guirlanda de flores murchas que a cabeça dos peregrinos guarnece”. (Lewis Carroll, 1865) Bárbara! Recebe este livro de amor e guarda-o bem no teu coração como quem guarda um segredo para além do tempo presente são poemas de uma explosão da paixão que se fez literalmente. (Alex Medeiros, 2016)
Oi, Bárbara. Eis um livro de amor feito exclusivamente para você. E se digo amor, não estou apenas dimensionando meu sentimento por você, mas ampliando a própria dimensão amorosa de tudo que compõe este livro, além mesmo dos poemas que foram nascendo no dia-a- dia, nas madrugadas em que seu vulto, seu riso, sua ternura, me invadiam a alma e o coração. Muito além dos textos feitos para historiar nosso encontro, há pouco mais de um ano, o livro contém também, de forma bem implícita, o amor de Marana, a responsável por me mostrar e abrir os caminhos que me levaram ao Mormaço (nossa primeira troca de olhares jamais sairá da lembrança). Aqui há também o amor do artista Carlos Soares em sua dedicação carinhosa e fraternal na manufatura de tão belo exemplar. Desde minha adolescência, eu sabia que algo grandioso estava para acontecer em 2016. Fiz uma espécie de profecia numa roda de colegas ginasianos, no distante ano de 1974, de que o mundo poderia se acabar neste ano. Creio que era um pressentimento daquilo que alguns filósofos e esotéricos chamam de mudança substancial, o fim não como destruição, mas como um recomeço, uma reciclagem. E foi isso. Com você, deixei para trás um velho mundo. Passei a sonhar e viver uma nova realidade, desnuda das inutilidades diárias, das mediocridades do cotidiano. Meu coração rejuvenesceu, voltou aos tempos em que a arte, a sensibilidade, o romantismo conduziam meus atos. Você despertou um poeta adormecido pelo veneno da
fruta mundana, abriu a porta onde me enfiei pelas trilhas floridas de uma rua colorida em que o amor me esperava Este livro é só teu, como agora é também meu coração. Sei que nosso encontro aconteceu com alguns aninhos de atraso, armadilhas que o destino tem mania de colocar no caminhar de poetas e enamorados. Como disse num dos haikais, você é a mulher certa na distância errada. Queria poder voltar no tempo só para acompanhar teus passos, desde teu nascimento e regar-te de poesia para colher-te mais adiante. Cantaria no teu berço a canção de Stevie Wonder do ano em que ganhasses a vida: “Ela não é adorável? Ela não é maravilhosa? Ela não é preciosa? Com menos de um minuto de idade”. Este livro nem precisa ter valor literário, é apenas a materialidade de um amor que não cessará tão facilmente diante do tempo, que para muitos apaga histórias pessoais. Espero que a cada folhear, a qualquer época, os poemas te façam feliz – um instante que seja – pois assim estarei também feliz a qualquer distância. Você é aquela que estava nos meus sonhos desde a tenra juventude, se não em forma e visibilidade, mas em espírito e conteúdo. Demorou, mas te encontrei. E te amo desde então. Querida Bárbara, fica na paz do meu amor. Alex, início do verão de 2016/2017
Soneto da Primeira Vez A chuva fina se estendia na noite larga no meio de ambas se espalhava uma canção te dei boa noite, num breve tocar de mão deixei contigo o celular pra tomar carga Bebi cervejas, muitas, muitas, e um pouco mais joguei lá fora muita conversa e fiz fumaça algumas vezes você chegava, achava graça e derramava sobre nós um olhar de paz No entra e sai de quem ingere tanta cerveja eu te olhava, com o olhar de quem corteja dava um sorriso, você sorria, uma coisa assim Até que na penúltima ida ao banheiro fitei seu rosto e então se fez o dia primeiro dessa paixão, quando você piscou pra mim
Madrugada na janela mesmo quando nĂŁo durmo vivo a sonhar com ela.
Sonhei aos pouquinhos nĂŁo consegui juntar tudo hoje amo aos pedacinhos
Se outras vidas houver guarde ao menos uma pra quando de novo eu vier
Para nĂŁo acender pavio quando quero gritar eu silencio
Louco dentro do peito às vezes o coração só busca o caos perfeito
Não é informe sem sentido se procuro por você é porque estou perdido
Não é informe sem sentido se procuro por você é porque estou perdido
Quando o silêncio é destaque meu coração se apavora no sinal do WhatsApp
Bastou um único abraço e a paixão se espalhou como estrelas no espaço
PaixĂŁo imprevista e atarantada que mais surpresas tu tens Ă minha alma extasiada?
Num fulgor enternecido o olhar em labaredas incendeia teu vestido
Por favor, olha pra mim e faz aquele sorriso da eterna Marilyn
De lugar em lugar bebendo Ă saudade de um Ăşnico bar
Dรณi como um aรงoite quando tudo silencia ao fim da noite
Não chorarei ao dormir sabendo que é você meu motivo pra sorrir
Por todo canto que passo é só meu corpo calado a alma canta em seus braços
Jamais diga ‘não posso’ deixa ao menos uma luz a clarear meu fosso
Andando pelas ruas nĂŁo tenho mĂŁos vazias apenas espero as tuas
Não sou de todo ateu creio que algum dia haverá você e eu
Teu sorriso é a partitura por onde leio as canções que lembram tua doçura
Vivo um novo adolescer o coração palpitando quando olho pra você
Não é sua rua que é sem saída é esta vontade de você apaixonadamente embevecida
Com pedrinhas de brilhante eu queria ladrilhar seus caminhos doravante
Seu corpo e sua alma duas porções indivisíveis num olhar de pura calma
PaixĂŁo se expandiu em mim imprevisivelmente, eu sei, o big bang tambĂŠm foi assim
Seu corpo e sua alma duas porções indivisíveis num olhar de pura calma
PaixĂŁo se expandiu em mim imprevisivelmente, eu sei, o big bang tambĂŠm foi assim
Soneto de esperança A saudade diária é uma fagulha a queimar meu corpo que te quer fiz da espera por você a minha fé mesmo a alma torturada na agulha Quando penso que ainda somos nada se nem houve o nosso grande encontro a carência e a paixão entram em confronto e o coração fantasia nossa jornada No entanto o quase nada é tão imenso todo o tempo é só nisso que eu penso que a espera por nós dois nunca me cansa Quando o corpo esmorece em tua ausência ensaiando no cérebro uma desistência minha alma se espeta de esperança.
Não darei o céu a você ele é tão grande e vasto há o risco de te perder
Teus olhos sĂŁo antenas para me sintonizar em bĂĄrbaros poemas
Ao se estender à Lua nosso abraço eternizou na noite da estreita rua
Me viro pelo avesso pensando em vocĂŞ e fazendo verso
É muito fácil perceber nem a chuva chata me afasta de você
Tua voz, que música é esta que mais das noites me deixa em festa?
Sempre nas auroras acordo e insiro Bรกrbara no meu ritmo das horas
E quando adormeço sonho que no novo dia pensar em ti é o começo
Serรกs a minha estrela fazendo da minha noite sempre a mais bela
Não temas os tropeços o medo dos términos impede os começos
Seus olhos assim tão belos provocam algo tão bom me faz feliz só em vê-los
Torpor que não se escreve quando o coração palpita por tua presença breve
Você é tão longe e perto às vezes sinto você nas canções de Roberto
Põe no meu peito uma tranca para que só abra pra você numa versão de Casablanca
Ainda ilustrarei o Mormaรงo com o brilho da sua doรงura numa tela de Picasso
Informou o site O Galo tu me causa um encanto qual Rivera com Frida Khalo
Se penso onde estĂĄs, eu vou, afinado na sua essĂŞncia feito a guitarra do rock n roll
VocĂŞ assim na minha vida se isto nĂŁo for amor inventaram coisa parecida
Dirão, é amor passageiro e eu direi, claro que é já que passa o tempo inteiro
Nem poesia nem literatura nenhuma vĂŞ como eu tua singular ternura
Ardendo em tantos sóis eu já nem penso em você agora só penso em nós
E nรณs nem nos temos no entanto me dรก saudade daquilo que nรฃo vivemos
Rimas para Bárbara não há acho que é a etimologia dizendo para a poesia que nada vai te comparar
Soneto do Sonho-Desejo Sonho em minhas mãos tua cabeça os cabelos dançando ao som do vento nas carícias de todo o sentimento te contemplo antes que adormeças Uma aura de luz e de pureza te envolve e também me ilumina e a noite desce sobre a esquina como roupa a vestir tua beleza A seguir colho rosas estelares as espalho por todos os lugares nas paredes do bar que é teu jardim Quando a noite se vai e amanhece eu acordo querendo que soubesses quão grande é a paixão que há mim
Não acabou o sonho, pode vê era só uma mentira do John o meu começa em você que é sempre um sonho bom
Do coração ao umbigo a canção vai mexendo na emoção de estar contigo
Quando dizes querido meu coração ladra tal cão perdido
É uma paixão tão rara um querer cheio de fome quero um bar com teu nome com uma placa Bar Bara
Bela e esplendorosa estava ontem bรกrbara a Lua luminosa
É longa a infelicidade quando de ti sinto uma hora de saudade
Dirão que é coisa louca Um tanto amar assim se nem beijei sua boca
Eu sรณ queria em nรณs dois o amor germinando como um cultivo de arroz
Quero minhas tuas cores suas noites, seus luares nosso canto, mil lugares pra pintar-te de amores
Tranquei pra sempre, eu acho meu coração sonhador paralisado de amor no teu quadro do Mormaço
Se uma fenda no tempo abrisse eu perpetuaria meu tempo no tempo eterno de Alice
Um dia a cor da platonice pintarรก corpos distantes e a poesia dos amantes saltarรก do mundo de Alice
Enquanto a alma geme o coração por dentro pára e por fora treme
Soneto das nossas estações As flores do que ainda não somos não morrerão com a luz da primavera cada pétala é um instante da espera que não é como folhas de outono E se me assusta a sombra do abandono e o coração angustiado estremece a mente acorda num amanhã que resplandece a um novo sonho que renova com o sono Jamais pense que esta paixão é delirante é só um poeta num estágio de amante criando coisas só para te ver contente Que seja o amor das quatro estações Atemporal em nossos corações pois meu futuro está no teu presente
O coração quer seguir atropelando a razão que quer desistir
Quando nos invade Vênus perder noites de sono é o que há de menos
Minha paz ĂŠ minha guerra te conquistar sem perdas entre o cĂŠu e a terra
Do pouco que eu te dei livros, abraรงos, Beatles, jรก temos nosso yesterday
Romântico, louco, paranormal se isto não for um grande amor inventei pra você coisa bem igual
Soneto de encerramento Não foi amor quando te vi na vez primeira mas algo ali nasceu em mim tão abundante um sentimento de te querer a todo instante uma tristeza por nunca ver-te por inteira Está difícil controlar meus pensamentos a tua imagem é uma presença permanente ouvir tua voz, ver teu sorriso, sempre, sempre é um desejo que se mistura com tormento Não esperava que a magia fosse tanta e fui envolto em teu olhar que me encanta desde o encontro naquela hora primeira Agora sonho acordado todo o tempo que seja um dia real nosso momento até que chegue minha hora derradeira.
Fora de tempo O tempo é senhor de tudo do que houve, do que virá há tempo pra lamentar há tempo pra ficar mudo De tempo em tempo me iludo fico perdido no tempo e o coração em lamento prova que eu não me ajudo Viver, sonhar, amar, sofrer tudo está do tempo a mercê desde que a vida nasceu Viver sem ti é o contratempo que estava escrito no tempo de um tempo que não é meu.
Só músculo, carne dura mas como é mole o coração atingido por sua ternura
Um encontro com encanto o tempo parece pouco e a gente parece tanto
Acelerado em compasso meu coração vai pulsando no ritmo do teu passo
Hรก de chegar ao fim pois o corpo anuncia com suores de agonia que jรก nรฃo cabe em mim
Você diz que eu te amoleço e quanto mais não te tenho mais me dói e eu adoeço
Alinhavados em girassรณis corremos o velho risco do tempo desatar nรณs
Se perderes o encantamento resta dizer em pesar receba meus sentimentos
Revisitando Camões Não há no poeta o fingir contente sua verve é a do coração pulsante sua dor desatina no instante do ardor amoroso que ele sente Solitário se contenta no querer com um olhar de paixão adolescente e se o amor lhe parece todo ausente ele o faz similar ao alvorecer Ao cantar a imagem da amada faz o culto da aurora à madrugada ela é seu oxigênio, a flor do dia Quanto a sente fora da sua estrada ele tem a TPM que mais estraga a Tensão Pré Melancolia.
Eu passaria nossas vidas ladrilhando seu caminho com poemas e bilhetinhos feito pedras coloridas.
Noite do Luaço Hoje é uma noite única, inesquecível não teremos outra vida pra revê-la uma Lua com brilho de estrela envolvida em beleza indescritível Imagino que tu sejas a mais bela entre tantas irmanadas no Luaço ah, se eu fosse astronauta em seu espaço já que és para sempre minha estrela Haverá outro céu para nós dois outra Terra para o nosso grão de arroz em que eu te ame debaixo da Lua? Eu queria apenas por um segundo aqui ou então num outro mundo uma noite que fosse minha e tua.
Daquilo que a poesia disse nĂŁo compara a alma gritando vem comigo, minha Alice!
FIM Às vezes bate a suspeita em mim que esse grande algo da gente nunca vai chegar ao SIM.
Mormaço – O Multiverso do Poeta Quanto tempo dura o eterno?, indagou Alice ao Coelho, que de pronto respondeu: às vezes apenas um segundo. Quem leu sobre o País das Maravilhas já deve ter tido vontade de achar uma toca como a do coelho branco, com acesso para múltiplas realidades. Fazia muitos anos que eu não recebia o amigo e jornalista Alex Medeiros em minha casa, no meu atelier. Nos conhecemos em 1972, quando ainda ginasianos criávamos historietas de ficção, com meus primeiros desenhos ilustrando os primeiros rabiscos dele. Adultos, nos reencontramos e fizemos dupla de criação na publicidade e em trabalhos fortuitos de cunho literário. Sua imaginação poética sempre foi perfeita para se inserir em quadros que pintei, e vice-versa. Nos anos 80 ganhou as ruas em outdoor o micropoema “Quem Ana, Não Marta”. Ilustrei com flores despetaladas. Aí, como eu dizia, meu amigo apareceu pedindo para que eu concebesse em tela uma viagem abstracionista que ele tem com uma casa, na verdade um bar, onde quase todas as noites ele abastece a alma e alimenta sonhos. E não só é assíduo, como coleciona imagens de casas parecidas espalhadas pelo planeta. Há o seu bar em cada continente, às vezes em outras dimensões. Não pude deixar de relacionar as muitas imagens do Bar Mormaço, criadas na mente fértil do meu amigo poeta, com o mundo de Alice, naquela pergunta sobre onde ficaria a saída, ao que o gato diz que depende de para onde ela quer ir. Alex vê múlti-
plos Mormaços, mas seu destino é sempre o mesmo, o do mundo real, o recanto que ele pensa só dele. Aí surgiu o quadro “Mormaço – O Multiverso do Poeta”, este acrílico sobre tela que resultou em mais um trabalho ao estilo “abstrato” que os leitores do meu blog e das minhas redes estão acostumados a ver. É o barzinho de Alex em muitas versões, ligados pelas pinceladas e distribuídos nos mundos da imaginação dele. Concebi buscando fazer a leitura da sua viagem, vendo o poeta em uma nave de paixão avançando no espaço tridimensional e atemporal. É a questão metafórica de Alice, vendo mundos de cabeça para baixo e achando que atravessará a Terra inteira como passageira de um mesmo cenário. Há um pensamento científico sugerindo que se o mundo é visto através de abstrações, é assim que os historiadores constroem o passado. Na abstração poética do meu amigo, ele parece atirar sua vida no tempo-espaço, construindo uma realidade amorosa entre o presente e o futuro. As cores são esses vastos mundos, essas realidades paralelas em que se insere o bar, onde palpita o coração do poeta. Um coração como aquele que Clarice Lispector ofereceu em rifa: idealista, como poucos, à moda antiga, moleque, usado, machucado, mas que sempre teimou em sonhar e cultivar ilusões. Assino embaixo a tela como que atestando a saúde intelectual do amigo e carimbando sua viagem a bordo do bar que é a sua toca. Carlos Soares, 19/07/2016
Artista: Carlos Soares Título: Mormaço | Abstrato Técnica: Acrílico Sobre Tela Dimensão: 110 x 55 cm Ano: 2016