Paradigma do Ócio Criativo - Palestra Masi

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Instituto Politécnico de Santarém Escola Superior de Educação de Santarém Educação e Comunicação Multimédia, 1º Ano – Pós-Laboral Ano Lectivo 2011/2012

Teorias da Comunicação

Palestra Domenico de Masi “Paradigma do Ócio Criativo” Sinopse: Ao longo de toda a história humana ocorreram inúmeras transformações. De momento, encontramo-nos a viver num corte epocal entre dois períodos. Estes cortes epocais decorrem quando existem em simultâneo uma série de factores. Uma das grandes transformações ocorreu na Mesopotâmia, quando foi inventada a escrita, a moeda, quando foram construídas as primeiras cidades, quando foi inventada a astronomia, a economia tornou-se muito mais abrangente e muito mais diversificada. Uma transformação tremendamente forte deveu-se ao modo de irrigar os campos através de canais, da invenção da roda e assim por diante. Uma série de factores de tecnologia de tal maneira revolucionários que se acredita que tudo aquilo que havia por ser inventado já havia sido inventado. A partir desse momento existiu uma dedicação mais fugaz ao progresso do espírito e pode dizer-se que com a Grécia se estanca o progresso tecnológico e avança, fortemente, o progresso intelectual. Os gregos inventaram a democracia e os romanos inventaram o império, mas a tecnologia não avançou. A tecnologia avança em plena idade média, isto é, numa época que regra geral foi considerada uma época conservadora, escura, priva de avanços de carácter intelectual e de carácter prático. Pelo contrário, no décimo segundo século foi inventada a bússola, a pólvora, o moinho a água, os óculos. Ocorreu uma grande convergência de descobertas e de invenções que prenunciaram a época sucessiva, ou seja, o renascimento. O renascimento não fará nada mais que adicionar a arrancada de carácter tecnológico, a arrancada de carácter estético e a arrancada de carácter económico. O renascimento termina nos anos seiscentos durante os quais Galileu na Itália, De Cartes na França e Bacon na Inglaterra deflagram Docente: José Carlos Sá Discente: Carmen Almeida; Aluno nº 110236002

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Teorias da Comunicação aquela que seria, em seguida, a sociedade industrial. Isto é, deflagraram a prevalência do universo da precisão sobre o mundo impreciso, como dirá (Alexandre) Koyré. É durante estes anos que o homem descobre a precisão e as tecnologias naturalmente evoluem novamente criando o pressuposto para as grandes intervenções da época sucessiva, sobretudo a energia a vapore e, depois, a energia eléctrica. A sociedade industrial surge da soma da riqueza que existia na Europa ao colonialismo, às novas ideias oriundas do iluminismo em que existe a crença de que o ser humano deve utilizar a racionalidade mais do que a emotividade, juntando a revolução inglesa e depois a revolução francesa e o advento da burguesia ao poder. Esta sociedade nasce na Inglaterra e pela primeira vez milhares de pessoas agrupam-se num mesmo recinto, a fábrica, e trabalham para um empregador e não para si próprios. Então cria-se o confronto de classes que depois se transformará por um lado, no grande argumento do marxismo que o vê como um processo revolucionário com o qual se transformaria o mundo, por outro lado a igreja católica, que vê o confronto como uma doença social e, por último, temos a visão liberal que, ao contrário, vê no conflito a possibilidade para renovar progressivamente, de modo não revolucionário, a sociedade. A sociedade industrial foi uma reviravolta de todos os pontos de vista, do ponto de vista urbanístico, antes do advento industrial, as cidades são pequenas. A indústria, ao contrário, fez com que massas enormes de camponeses abandonassem os campos e se transferissem para as cidades criando o fenómeno a que mais tarde se chamaria de urbanização. Ao lado da urbanização a sociedade industrial defende a prevalência da racionalidade

sobre

a

emotividade.

A

sociedade

industrial

modifica

completamente a visão até da arte. Entre o fim dos oitocentos e o início dos novecentos existe uma revolução em todos os sectores e a física clássica, a psicologia clássica, a arquitectura clássica, a música clássica, a literatura clássica são completamente suplantadas por estas enormes transformações que assinalam sobre o plano cultural, o que a fábrica assinala sobre o plano do trabalho e sobre o plano da economia. A sociedade industrial comporta Docente: José Carlos Sá Discente: Carmen Almeida; Aluno nº 110236002

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Teorias da Comunicação revoluções e guerras enormes. O paradigma industrial é baseado na prevalência da racionalidade, na organização piramidal seja do trabalho ou seja da sociedade, é baseado na prevalência de visões ditatoriais nalguns países do mundo: Alemanha, Itália, Japão. A eficiência transforma-se no elemento central da organização social, é preciso produzir o máximo possível no mais breve espaço de tempo. A sociedade industrial é uma sociedade que transforma toda a humanidade. Quando nasce, existem pouco mais de seiscentos milhões de habitantes em todo o planeta e, quando acaba, os habitantes dos países são seis biliões. A vida média aumentou, neste período, de pouco mais de trinta e cinco anos, aos actuais oitenta anos. O paradigma industrial é um paradigma de separação, ou seja, a sociedade industrial vive sobre o signo da divisão: divisão do trabalho, divisão da vida, divisão do trabalho da vida. No entanto, a sociedade industrial, cria grandes factores de transformação. O primeiro factor é o progresso científico e tecnológico, o segundo é a globalização, o terceiro é a organização baseada em sistemas científicos, ainda temos, a difusão da escolarização de massa e os meios de comunicação de massa. A junção de tudo isto, a duas guerras mundiais e às grandes revoluções, leva ao nascimento da sociedade pós-industrial. A sociedade pós-industrial, ao contrário da sociedade industrial, centrase na produção de bens imateriais, ou seja, centra-se nos serviços, na informação, nos símbolos, nos valores e na estética. Esta sociedade é completamente diferente da industrial, pois formou-se em poucos anos, ao contrário da sociedade industrial que levou milhares de anos para se diferenciar da sociedade rural. A sociedade industrial em apenas duzentos anos deu à luz a sociedade pós-industrial, aquela em que se vive hoje em dia. O paradigma da sociedade pós-industrial é completamente diferente do da sociedade industrial, uma vez que ao basear-se na centralidade da produção imaterial, cria desorientações enormes, pois ao produzir bens imateriais transfere as suas fábricas para outros lugares onde o trabalho custa menos. Assim os países ricos transferem as suas fábricas para os países menos ricos e dedicam-se, preferencialmente, à produção de ideias através de laboratórios Docente: José Carlos Sá Discente: Carmen Almeida; Aluno nº 110236002

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Teorias da Comunicação científicos, da produção estética, da produção dos meios de comunicação, da televisão, das rádios, da música, através de todos os nutrientes culturais dos quais o homem pós-moderno necessita, criando a cultura à qual se dá o nome de cultura pós-moderna. Os paradigmas não são feitos apenas de factos estruturais, são feitos também de factos culturais e infra-estruturais. Os paradigmas da sociedade pós-industrial comportam uma diferença de distribuição entre tempo de trabalho e tempo livre. Enquanto a sociedade industrial foi completamente centrada na plenitude do trabalho, a sociedade pós-industrial é centrada, no tempo livre. O trabalho, portanto, distribui-se de modo completamente diverso. Na sociedade industrial, noventa e quatro por cento dos trabalhadores desenvolviam actividades manuais, físicas, repetitivas. Actualmente na Itália, cerca de trinta e três por cento dos trabalhadores desenvolve actividades físicas e repetitivas, mas muitos são imigrantes de terceiro mundo. Outro terço dos trabalhadores desempenha actividades flexíveis que requerem inteligência e, ainda, outro terço dos trabalhadores desempenha actividades notadamente criativas. Então, a organização transfere-se da organização da executabilidade para a organização da criatividade. Pode assumir-se que na sociedade industrial o ponto de referência organizacional era a fábrica manufactureira, enquanto na sociedade pós-industrial o ponto de referência são as trupes cinematográficas, os ateliês dos grandes operadores de moda, os laboratórios de pesquisadores e assim por diante. Estas transformações reflectem-se também na transformação dos valores que na sociedade industrial eram a racionalidade, a eficiência, a hierarquia piramidal, e assim por diante. Com a economia de escala, os valores emergentes da sociedade pós-industrial são completamente diversos. Enfatiza-se a intelectualização, pois já se faz tudo com a cabeça, seja quando trabalhamos, seja durante o tempo livre; a criatividade; a importância da estética; a importância da subjectividade contraposta à colectividade imperante na sociedade industrial; a emotividade; a desestruturação do tempo e do espaço e depois, a importância da qualidade de vida. Assim, subjectividade, emotividade e estética são valores que durante a Docente: José Carlos Sá Discente: Carmen Almeida; Aluno nº 110236002

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Teorias da Comunicação sociedade industrial o homem desprezou enquanto a mulher cultivou. Na actualidade emerge a feminização da sociedade, ou seja, evolui-se para uma sociedade em que os homens cultivam também valores femininos e as mulheres cultivam valores masculinos o que provoca desorientações. Existe desorientação numa fase de passagem da sociedade industrial para a sociedade pós-industrial. Existem, assim, vários tipos de desorientação: a religiosa; a estética pois cada vez mais temos novos paradigmas estéticos e estão sempre a surgir outros; a política pois já não existem grandes líderes e já não existem as grandes ideologias típicas dos oitocentos industriais, o que nos leva a considerar que existe uma desorientação respeitante à organização da sociedade. Existe, também, uma desorientação que se refere às relações entre os géneros, entre o homem e a mulher, a emergência da homossexualidade como estado normal e não como estado patológico ou como estado culpável do ser humano e assim por diante. A única reacção possível e aceitável, por parte do homem e da mulher, face a toda esta desorientação é a criatividade. A criatividade torna-se assim um elemento fulcral e modifica completamente a relação entre trabalho e tempo livre. Desta forma, enquanto quem faz um trabalho de características manuais, repetitivo, separa nitidamente as horas de trabalho das horas de tempo livre, pelo contrário, para o trabalhador criativo esta divisão não existe. Encontramo-nos, assim, perante uma situação completamente nova e é a isto que se dá o nome de ócio criativo, ou seja, é uma situação intermediária, na qual é difícil entender se alguém se diverte, estuda ou trabalha, conclui-se, então, que o ser humano faz três coisas ao mesmo tempo, diverte-se, criando alegria; trabalha criando riqueza; estuda criando aprendizagem e saber. O conjunto de tudo isto traduz-se no paradigma de Masi, o paradigma da sua vida, o paradigma da sua escola e da universidade onde lecciona. Ócio Criativo é portanto, a associação de actividades nas quais se estabelece que estudo, trabalho e tempo livre são uma coisa só.

Docente: José Carlos Sá Discente: Carmen Almeida; Aluno nº 110236002

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Teorias da Comunicação Comentário Crítico: Ao longo de toda a sua palestra Masi faz uma abordagem correcta sobre as diferenças entre a sociedade industrial e pós-industrial e a evolução de uma para outra, aproveitando para definir as duas sociedades. Para além disso, apresenta-nos o seu paradigma pessoal o ócio criativo que resulta desta evolução dos tempos. Masi através da sua visão coerente e simples traduz a diferença entre duas sociedades e a transição entre elas de forma sucinta e irrefutável. A sociedade industrial vai basear-se na racionalidade, na eficiência, na hierarquia piramidal e salienta a unidade de tempo e de lugar seja para o trabalho, para a família ou para o tempo livre em geral. A sociedade pós-industrial vem revolucionar todos estes conceitos pois assenta na intelectualização, na criatividade, na importância da estética, na importância da subjectividade, na emotividade, na desestruturação do tempo e do espaço e na importância da qualidade de vida. Desta forma Masi, faz uma apreciação da evolução dos tempos e da humanidade, e crítica implicitamente a nossa tendência para não aceitar nem ver certas mudanças que nos fazem evoluir. Regra geral, o ser humano agarrase com alguma força e seriedade aos antigos costumes o que não deveria acontecer, sob o ponto de vista de Masi, devido às constantes mudanças que presenciamos. A evolução da sociedade rural para a sociedade industrial e, posteriormente, para a sociedade pós-industrial é importante pois, apesar de nos trazer desorientações a vários níveis, na maioria das vezes traduz-se em mudanças significativas, de grande importância e de impacto mundial. Masi defende que a evolução dos tempos conduz-nos desmedidamente e cada vez mais no sentido do ócio criativo, pois cada vez mais o ser humano, de uma forma criativa, tem de gerir todo o seu tempo em função de todas as suas ocupações e actividades e sentir-se feliz com tudo isso. Ao analisar-se o paradigma de Masi existe uma grande discrepância, pois hoje em dia existe sim uma grande criatividade/”ginástica” por parte do ser humano no que diz respeito à ger^ncia do seu tempo. Cada vez mais o individo Docente: José Carlos Sá Discente: Carmen Almeida; Aluno nº 110236002

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Teorias da Comunicação caminha na junção de várias tarefas ao mesmo tempo como o estudo e o trabalho, mas na maioria dos casos a junção de várias tarefas ao mesmo tempo não traz prazer e alegria ao individuo o que é o oposto do que Masi defende. Isto acontece porque muitas das vezes o ser humano tem de colocar em segundo plano certas coisas que lhe dão prazeres (ex. família, amigos, passeios, ócio, etc.) para satisfazer outras necessidades, a maior é a necessidade económica que hoje em dia é a Maio responsável pela infelicidade humana uma vez que nos afasta de tudo o que nos faz feliz, embora po outro lado sem a possibilidade monetária muitas das vezes não nos é possível gerar felicidade pois a maioria das coisas não se encontram ao nosso alcance sem dinheiro.

Docente: José Carlos Sá Discente: Carmen Almeida; Aluno nº 110236002

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