Oral e Escrito - Evolução

Page 1

Curso: Educação e Comunicação Multimédia Pós-Laboral - 1º ano Disciplina: Teorias da Comunicação Docente: José Carlos Sá Discente: Discente: Cármen Almeida – nº 110236002 Data: 22 de Dezembro de 2011 Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

1


Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

2


Índice Índice

3

Introdução

4

1 – O Oral e o Escrito: Tempo e Espaço - Características

5

2 – O Oral e o Escrito: Memória-Sujeito-Verdade

6

3 – Da Escrita às Escritas

7

4 – A Escrita, a Ciência Modernas e o Saber (cognição)

8

5 – Do Manuscrito ao Livro

11

Conclusão

15

Bibliografia

16

Webgrafia

16

Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

3


Introdução A linguagem, sendo um instrumento de memória e de propagação das representações, permitiu à humanidade a construção de outros tempos em constante evolução. A conservação de ideias e saberes, quer seja através da mente, de meios materiais (bronze, argila, etc.) ou através da escrita, obrigam o tempo a tomar um determinado rumo e dessa forma existe a produção de história/histórias com ritmos diversos. Desta forma, pode considerar-se que as sociedades segregam em si inúmeras e entrelaçadas histórias. Assim o presente trabalho tem como objectivo abordar os temas acima referidos, caracterizando-os sob o ponto de vista histórico, funcional e técnico, aprofundando-os através de uma série de textos utilizando uma linguagem simplificada e coerente.

Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

4


1 – O Oral e o Escrito: Tempo e Espaço - Características A oralidade é uma forma de comunicação fundamental e para algumas sociedades é mesmo o seu meio de comunicação fulcral. A presença ou ausência de técnicas fundamentais de comunicação permite classificar as culturas nalgumas categorias gerais, mas não nos devemos esquecer que cada grupo social, num determinado instante, se encontra numa situação singular e transitória frente ás tecnologias intelectuais, dessa forma só podendo ser situado sobre um continuum complexo. Durante toda esta complexidade existem disjunções que são úteis devido a chamarem a atenção para as restrições materiais (elementos técnicos condicionantes) das sociedades. Desta forma há que classificar a oralidade em duas categorias: a oralidade primária e a oralidade secundária. A oralidade primária remete-nos para o papel da palavra antes de uma determinada sociedade ter adoptado a escrita. Nesta oralidade a palavra tem como função básica a gestão da memória social e não apenas a expressão livre das pessoas ou a comunicação prática quotidiana. O mundo da oralidade primária encontra o seu fundamento na lembrança dos indivíduos, desta forma, muitas das vezes, a inteligência encontra-se identificada com a memória, sobretudo com a auditiva. As sociedades orais primárias são marcadas por uma grande circularidade, ou seja, o tempo sem escrita torna-se circular pois é segregado pelos actos de comunicação que ocorrem maioritariamente nestas sociedades. Aqui todas as preposições são retomadas e repetidas, em voz alta, periodicamente para que não caiam no esquecimento e desapareçam para sempre. Assim a passagem do tempo implica incessantemente o movimento de recomeço, de reiteração (circularidade). Esta oralidade também é marcada por um constante devir, pois as sociedades estão constantemente a sofrer mudanças e encontram-se em constante mutação a diversos níveis. O devir aparece aqui ligado ao “conto” ou à “narrativa”, ou seja, nestas sociedades existe a reiteração de mitos, contos, danças, gestos de inúmeras habilidades técnicas com o intuito de não caírem no esquecimento. Sendo assim pode dizer-se que esta oralidade sobrevive nos tempos de hoje porque o ser humano mantém o hábito de observar, imitar e fazer conforme o modelo observado. Sendo assim pode concluir-se que nas sociedades sem escrita a produção do espaço e do tempo baseia-se, essencialmente, na memória humana associada à utilização da linguagem A oralidade secundária reporta-nos para o relacionamento da palavra que complementa a escrita, pois nos dias que correm a palavra viva (palavras que “se perdem ao vento”) destacase através dos textos (“os escritos que permanecem”). Aqui a literatura tem um papel fulcral pois pretende reencontrar a força activa da palavra e a sua magia com o intuito de preservá-la e imortalizá-la por toda a eternidade. Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

5


Em suma, pode concluir-se que existe uma evolução temporal e espacial no que toca ao oral e ao escrito pois nos primórdios da comunicação só existia a oralidade e toda a captação e acumulação de ideias e saberes era efectuada pela memória do individuo. Com o passar dos tempos e com as diversas adaptações e mudanças que as sociedades sofreram houve a necessidade de armazenamento das informações em suportes externos (papel, papiro, bronze, etc.) à mente. O que facilitou a vida às sociedades mas também possibilitou um retrocesso na capacidade de captação e acumulação de informação da mente humana porque os indivíduos tornaram-se “preguiçosos” pois habituaram-se a que não existe necessidade de acumulação de tanta informação.

2 – O Oral e o Escrito: MemóriaMemória-SujeitoSujeito-Verdade A memória humana não é de todo um equipamento de armazenamento e recuperação fiel de informação e há que ter em conta que não existe só um tipo de memória, existem vários, embora de momento há que nos centrar em dois: a memória a curto prazo e a memória a longo prazo. A memória a curto prazo (memória de trabalho) mobiliza a atenção, desta forma a melhor estratégia para reter a informação a curto prazo é a repetição. A memória a longo prazo (fada) é utilizada na lembrança/recordação da informação retida num momento adequado e oportuno. O armazenamento desta memória é efectuado numa única e imensa rede associativa, cujo os seus elementos só se diferenciam relativamente ao seu conteúdo informacional e relativamente à força e número de associações a que se ligam. Pode dizer-se que quando existe uma informação nova o indivíduo constrói uma representação dela que coloca na sua zona de atenção e dessa forma não tem nenhuma dificuldade em aceder a ela e encontrá-la. O problema da memória a longo prazo coloca-se em saber como encontrar um facto, uma preposição ou uma imagem que se encontra distante da zona de atenção do indivíduo. A activação, sendo uma estratégia de memorização na memória a longo prazo, é derivada pela procura da informação, mobiliza os elementos mnésicos de encontro aos processos controlados que envolvam a atenção consciente. Assim a activação deverá propagarse dos factos actuais até aos factos que o indivíduo deseja encontrar. Para que isto aconteça é necessário existir uma representação do facto que se procura e esta deve ter sido conservada. Para além disso deve existir um caminho associativo possível de percorrer que leve directamente à representação. A forma como o individuo constrói a representação do facto de que se deseja lembrar tem um papel fundamental na sua capacidade posterior de recordação/lembrança do mesmo. A elaboração é outra estratégia de memorização na memória a longo prazo e consiste em acréscimos à informação alvo, ou seja, elaboração, por exemplo, de uma pequena Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

6


história onde se incorporam os factos de que o indivíduo se quer recordar para que posteriormente seja facilitada a recordação dos mesmos. Pode, então, considerar-se que a memória funciona com esquemas e com a inevitável e repetida associação dos mesmos. A intensidade das associações, a maior ou menor profundidade do nível de processamentos e de processos controlados que acompanham a aquisição de uma representação também têm um papel fundamental nos mecanismos mnésicos. Bem como a implicação emocional do indivíduo face aos itens que deve lembrar/recordar. Nas sociedades sem escrita a memória a longo prazo é explorada ao máximo pois como não existe uma forma de perpetuação da informação exterior ao indivíduo, esta perpetuação é feita através da reiteração e repetição da informação inúmeras vezes mas utilizando, inteligentemente, meios que facilitam a sua interiorização (dança, música, utilização da causa efeito, utilização de esquemas que se enquadrem nos já pré-estabelecidos, etc.), aqui o mito tem um papel fundamental. O aparecimento da escrita e posteriormente da imprensa revolucionaram a forma como o indivíduo perpétua a sua memória. Isto verifica-se pois à medida que passamos da ideografia ao alfabeto e da caligrafia à impressão o tempo torna-se cada vez mais linear, ou seja, histórico. A ordem sequencial dos signos aparece sobre a página ou monumento. Após o triunfo da impressão, passou a ser possível reconstruir o “tempo da história”, o que leva a que a história seja um efeito da escrita. A partir daqui a memória separa-se do sujeito ou da comunidade, tomada como um todo, e o saber passa a estar disponível tornando-se, dessa forma, susceptível a análises e exames. A exigência da verdade viria a ser um efeito da necrose parcial da memória social quando ela se vê capturada pela rede de signos tecida pela escrita. Pode então sugerir-se que a escrita, enquanto tecnologia intelectual, condiciona a existência de formas de pensamento.

3 – Da Escrita às Escritas Os primeiros pictogramas sumérios serviam para registar os algarismos correspondentes a quantidades de mercadorias. Cerca de 3200 aC, esses algarismos foram complementados com o desenho dos seres ou objectos representados por essas quantidades. É nesse momento que nasce a escrita, cuja utilização é claramente dedicada ao que chamaríamos hoje de contabilidade escrita. Desta forma conclui-se que a primeira finalidade da escrita foi conservar informações. Com a invenção do signo escrito nasce uma profissão, os escribas, que primeiramente eram contabilistas e posteriormente passaram a ser escritores. A história da invenção da escrita, enquanto, técnica de retranscrição, processa-se em duas vagas sucessivas: a escrita ideológica e a escrita alfabética. A escrita ideológica nasceu na Mesopotâmia, provavelmente, cerca de 4000 aC e Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

7


começou por ser puramente pictográfica. Logo depois, cerca de 3000 aC, o pictograma tornouse mais abstracto e uma combinação de desenhos podia, foneticamente, referir-se a uma palavra sem que existisse uma relação figurativa directa entre essa palavra e os desenhos a que correspondia. Desta forma foi inventada a escrita cuneiforme. Os Egípcios também utilizavam uma escrita desse tipo, os hieróglifos, mas estes eram mais ricos e diversificados que a escrita cuneiforme. Foi criada uma categoria particular de signos, os determinativos, para facilitar a leitura de uma determinada palavra com o intuito de indicar se um dado desenho deveria ser considerado no sentido figurativo ou se exprimia uma realidade abstracta. A escrita afasta-se progressivamente e ao longo dos tempos da imagem (representação analógica dos objectos), o que leva à invenção da escrita alfabética. Esta escrita baseia-se na combinação de um pequeno número de signos abstractos codificados e que representam os sons efectivamente emitidos. A criação desta escrita deve-se, pelo menos no que respeita às principais línguas semíticas, à recusa de representação de Deus por intermédio da imagem. A invenção do alfabeto remonta aos Fenícios e, talvez antes, aos Semitas da Síria, na transição do segundo para o primeiro milénio aC. Mas este primeiro alfabeto teve um alcance limitado e só entre os séculos VIII e IV aC, na Grécia, é formado um alfabeto com vogais, que permite obter um bom sistema de retranscrição da língua falada. Nos seus primórdios, o alfabeto grego, esteve na origem das escritas alfabéticas que lhe sucederam até à generalização do alfabeto latino no Ocidente. O sistema de escrita fonética grega permitiu transformar a literatura numa espécie de automatismo. A

abstracção

que

o

sistema

de

codificação

alfabética

implicou,

reforçou

consideravelmente a tendência natural da escrita a ser relativamente independente da língua cuja retranscrição efectua. O movimento da invenção da escrita dependeu de dois imperativos: um técnico (a escrita cuneiforme ou alfabética) e o outro social e político. Pois a escrita inscreve-se numa sequência em que o contexto social e politico envolvente, prepara o terreno propício a uma invenção e determina a amplitude e a orientação que ela virá a assumir.

4 – A Escrita, as Ciência Moderna Modernas ernas e o Saber (cognição) A escrita ao longo dos tempos serviu para a gestão dos grandes domínios agrícolas e para a organização da economia e dos impostos. Mas não se ficou por aí, ela traduziu e continua a traduzir para a ordem dos signos o espaço-tempo instaurado pela revolução neolítica e as primeiras civilizações históricas. A escrita permite uma situação prática de comunicação pois, a comunicação puramente escrita, elimina a mediação humana no contexto que adaptava ou traduzia as mensagens vindas Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

8


doutro tempo e doutro lugar. Quando existe a circulação de mensagens escritas, a atribuição do sentido passa a ocupar um lugar fulcral no processo de comunicação. Por se restringir a uma rígida fidelidade, a mensagem escrita, corre o risco de se tornar obscura para o seu leitor. De geração em geração, a distância entre o mundo do autor e o do leitor não para de crescer. A oralidade limava arestas e adaptava as palavras às circunstâncias. A escrita traz com ela a possibilidade de interpretação. A escrita também suscitou o aparecimento de saberes cujos autores, regra geral, criaram com o intuito de os tornar independentes das situações singulares em que foram elaborados e utilizados, criando assim as teorias. A separação do emissor e do receptor, a impossibilidade de interagir em determinado contexto para construir um hipertexto comum são os principais obstáculos da comunicação escrita. Desta forma o texto encontra-se isolado das condições particulares que existiam aquando da sua criação e recepção, o que leva a existir uma tentativa de construção de discursos que bastem por si mesmos. A intenção teórica, na ciência ou na filosofia, implica a autonomia em relação à tradição, que é a transmissão pessoal sobre o fundo de uma experiência compartilhada. Por outro lado, criam-se tradições teóricas paradoxais (escolas, colégios invisíveis, filiações intelectuais). No seio dessas microculturas, a interpretação dos escritos tem exactamente a função de revesti-los com um tecido de circunstâncias, de experiências e discursos que possibilitem uma atribuição de sentido, correndo, assim, o risco de que o hipertexto assim reconstruído não tenha muita relação com o dos autores originais. Desta forma pode considerar-se que a escrita, ao separar as mensagens das situações onde são usadas e produzidos os discursos, suscita a ambição teórica e conduz a uma pretensão de universalidade. Mas existem, ainda, outras razões que ligam a escrita à ascensão do género teórico e ao declínio do modo de transmissão e de organização dos conhecimentos através da narrativa. Em particular, a notação escrita torna muito mais cómoda a conservação e a transmissão de representações modulares separadas, independentes de ritos ou narrativas. Contrariamente ao sinal mnésico, o vestígio escrito é literal e desta forma, não sofre as deformações provocadas pelas elaborações. Devido às suas características, a escrita e o armazenamento em geral aproximam-se bastante da memória de curto prazo. A escrita é uma forma de estender indefinidamente a memória de trabalho biológica. As tecnologias intelectuais ocupam o lugar de auxiliares cognitivos dos processos controlados. Desta forma, as tecnologias intelectuais servem como meios atenuantes para certas fraquezas dos processos automáticos. Com a escrita, as representações tornam-se perpétuas noutros formatos que não o canto ou a narrativa, esta tendência torna-se ainda maior quando se passa do manuscrito ao impresso e à medida em que a utilização dos signos escriturários se torna mais intensa e difundida na

Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

9


sociedade. Desta forma as representações passam a poder ser transmitidas e durar de forma autónoma. A partir do momento em que a memória já não se refere somente às lembranças humanas, os longos encadeamentos de causas e efeitos perdem uma parte dos seus privilégios de ligação de representações entre si e a encenação, as apresentações "dramáticas", cedem lugar, a disposições "sistemáticas". Tomando um carácter geral, a escrita permite transmitir de forma duradoura a prosa e os assuntos prosaicos, aqueles que estão longe dos grandes problemas da vida humana e que não perturbam as emoções. A impressão transformou profundamente o, modo de transmissão dos textos. O destinatário do texto é agora um indivíduo isolado que lê em silêncio o que nos leva a pensar que agora, mais que nunca, a exposição escrita se tornou auto-suficiente. A criação da imprensa abriu um leque enorme de novas possibilidades de recombinações e de associações a uma rede de textos incomparavelmente mais extensa e disponível do que no tempo dos manuscritos. Os antigos manuscritos imitavam a comunicação oral (perguntas e respostas, discussões contra e a favor), organizavam-se à volta de um comentário a um grande texto ou propunham trechos seleccionados e compilações. Só a partir do século XVI é que existe a generalização das apresentações sistemáticas de uma "matéria" especializada, dividida em conformidade com um plano coerente. Estas apresentações assentavam sobre interfaces específicas da impressão: paginação regular, sumário/resumo, cabeçalhos aparentes, índice, utilização frequente de tabelas, esquemas e diagramas. Os textos antigos começaram a ser impressos a partir do fim do século XV. Sendo desprovidos dos comentários, digressões, da desordem de detalhes adventícios e notas de escoliastas conduzidas e aumentadas pelas sucessivas cópias até a época moderna. A vontade de reencontrar o passado sob a sua forma pura, sem anacronismo, o "sentido histórico", não pode ser separada dos meios fornecidos pela impressão. A impressão transformou de uma forma crucial e definitiva a comunicação no grupo dos letrados. Em vez de cópias raras cada vez mais corrompidas, existiu a possibilidade de criar edições periódicas com a finalidade de melhoramento de erros, preservando, na mesma, o corpus do passado. Ao mesmo tempo, foi possível dar mais atenção às descobertas recentes, e a impressão permitiu fixar correctamente e difundir em grande escala as novas observações astronómicas, geográficas ou botânicas. Sem o ambiente cognitivo fornecido pela impressão, sem a possibilidade de comparar com certeza as séries de números, sem mapas celestes uniformes e detalhados, a astronomia e a cosmologia jamais teriam passado pela revolução que fez a cultura europeia passar "do mundo fechado ao universo infinito". Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

10


Na época do manuscrito, era no mínimo arriscado transmitir graficamente a estrutura de uma flor, a curva de uma encosta ou qualquer elemento da anatomia humana. Pois o mais certo era que, após duas ou três gerações de cópias, a imagem obtida não se parecesse nem um pouco com a do original. A impressão também vem transformar esta situação, pois permite a cópia exacta e fidedigna do original não existindo alterações ao longo das sucessivas cópias. Sendo assim, pode afirmar-se de uma forma sustentada que a invenção de Gutenberg (a imprensa com caracteres móveis) permitiu que um novo estilo cognitivo se instaurasse na sociedade e existe a passagem da discussão verbal, tão característica dos hábitos intelectuais da Idade Média, para a demonstração visual, muito utilizada na actualidade em artigos científicos e na prática quotidiana dos laboratórios, graças a novos instrumentos de visualização, os computadores.

5 – Do Manuscrito ao Livro No que toca ao livro existe mais de 6000 anos de história a ser contada, pois o homem utilizou uma grande diversidade de materiais para registar a sua passagem pelo planeta e difundir os seus conhecimentos e experiências. De início os sumérios guardavam as suas informações em tijolos de barro; os indianos faziam os seus livros em folhas de palmeira; os maias e os astecas, antes do descobrimento da América, escreviam os seus livros num material macio existente entre a casca das árvores e a madeira; e os romanos escreviam em tábuas de madeira cobertas com cera. Foram os Egípcios, em 2200 aC, que vieram a desenvolver a tecnologia do papiro, uma planta encontrada nas margens do rio Nilo. As suas fibras unidas em tiras serviam como superfície resistente para a escrita hieroglífica. Os rolos com os manuscritos chegavam a 20 metros de comprimento. Foi a palavra papiryrus, em latim, que originou a palavra papel. No suceder do processo evolutivo surgiu o pergaminho que era feito, regra geral, da pele de carneiro, o que tornava os manuscritos enormes, e que culminava na morte de inúmeros animais para a elaboração de um único livro. Sendo assim, pode considerar-se que a primeira escrita apareceu na região entre os rios Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia, mediante a necessidade de controlo administrativo surgem os primeiros registos da escrita que foram os registos contábeis, que serviam para contabilizar a quantidade de sacos de grãos ou cabeças de gado. Este tipo de contas estava reservada a um grupo privilegiado: os escribas. Esses registos contábeis realizavam-se sobre tábuas de argila que, uma vez escritas, eram secas ao sol. A utilização de objectos com o intuito de escrita era variada e passava pela utilização de objectos de metal, osso e marfim, largos e pontiagudos numa das extremidades e na outra, planos, sob a forma de paleta com a finalidade de poder cancelar o texto, alisando o material arranhado ou errado. De início, as tábuas só serviam para registos contábeis mas, posteriormente, foram Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

11


utilizadas para inscrições votivas, comemorativas, narrações históricas e relatos épicos. Os estudos tradicionais consideravam o Egipto como o berço da escrita, porém hoje está claro que a escrita suméria é anterior a esse tempo. Porém não existe uma data precisa que revele a origem da escrita egípcia. Se por um lado se afirma que foi uma criação original, nascida da necessidade de resolver os problemas de cariz organizacional da sociedade, por outro defende-se que derivou dos Sumérios. O sistema egípcio reproduz quase que totalmente a língua falada e reflecte realidades abstractas e concretas. A escrita egípcia é formada por três tipos de signos: pictogramas (desenhos que representam coisas), fonogramas (desenhos que representam sons) e outros signos determinantes. Na maioria das vezes lia-se da esquerda para a direita, outras vezes uma linha da esquerda para a direita, e a seguinte da direita para a esquerda, a leitura estava indicada pela orientação de cabeças de homens e pássaros no entanto, às vezes, a representação de um Deus trocava o sentido da leitura, o que a tornava muito complicada. Além desta escrita, existiram mais dois tipos: a hierática ou sacerdotal, estilizada e utilizada em papiros religiosos e oficiais e a demótica, que também era denominada por escrita do povo. Pode dizer-se que foram os egípcios que introduziram no mundo clássico a forma material do livro, o uso do papiro em forma de rolo, a utilização da tinta e a utilização das ilustrações como complemento explicativo do texto. De seguida, dá-se o nascimento do Alifato nas costas do oriente mediterrâneo (Síria, Fenícia e Palestina) que se divide em dois subgrupos: o fenício do qual derivou o alfabeto grego e os demais; e o aramaico, que originou o hebreu e o árabe, tendo esta última uma incidência decisiva na história da humanidade, já que foi através dela que se transcreveu alguns textos dos livros do Antigo Testamento. A partir do século IX aparece o alfabeto grego com 24 letras incluindo as vogais. Porém, somente na época clássica, no chamado século de Péricles, é que se dá uma extensão da produção e comércio de livros, generalizando-se a leitura individual. Graças a obras filosóficas e teatrais a leitura encontra uma grande expansão e acelera-se a produção e comércio de livros, na Grécia, com notícia da existência de célebres bibliotecas públicas e privadas. Do livro romano não existe grande informação a assinalar, somente o tipo de escrita utilizada, denominada letra capital ou maiúscula, utilizada desde o século III aC até o século VI dC, é de relevância e a sua decoração em forma de pequenos quadros com certas reminiscências da técnica iconográfica das pinturas murais de Pompeia. Chegamos então aos Códices que marcam a história devido à sua forma particular de utilização, aos seus elementos decorativos e à sua produção. O Códice do vocábulo latinocodex, significa "fragmentos de madeira", e traduz-se num conjunto de lâminas de qualquer material unidas entre si por anéis ou tiras de couro e protegidas por uma capa, sendo que seis rolos compunham um Códice. Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

12


Seguiu-se o Códice Bizantino e a iluminação bizantina que abrange os séculos IV-V, declinando com o apogeu da iluminação ocidental, com cores mais ténues e foscas. A encadernação bizantina, tinha como características principais capas cobertas com materiais de luxo, couro, seda e brocados, chegando até a serem utilizados metais preciosos. Com a queda do Império romano, a produção de livros teve uma lenta evolução, culminando com as invasões bárbaras, no século V. O que levou ao desaparecimento da aristocracia culta e dedicada aos estudos, em consequência, existiu um grande empobrecimento e uma grande ruralização, aumentando o analfabetismo e surgindo o monaquismo, com o objectivo de fomentar a austeridade cristã através dos ideais ascéticos e da vida eremita, sendo marcada pela ordem beneditina, criada por Benito de Nursia, no século V, no Mosteiro de Montecasino. Desta forma os temas passaram a ser unicamente religiosos. Todos os mosteiros tinham um exemplar da bíblia, geralmente em grande formato e às vezes ricamente decoradas. Os monges utilizavam os comentários bíblicos, os salmos e evangelhos, e alguns textos clássicos para praticar a língua latina. A partir do século XII, dá-se a expansão da Europa e a vida cultural desloca-se dos mosteiros e em meados do século XIII, estavam em funcionamento várias universidades: Paris, Montpellier, Oxford, Cambridge, Bolonia, Salerno, Palencia e Salamanca. O ensino era em latim e o instrumento básico era o livro. Devido ao desenvolvimento criado por essas universidades, existiu a necessidade de disponibilização de novos textos correctamente escritos num curto espaço de tempo e a baixo preço, o que originou a criação do estacionário (pessoa encarregue de conservar os exemplares, fazendo com que a difusão fosse realizada com a máxima fidelidade possível). As cópias eram feitas pelos próprios estudantes ou confiadas aos encadernadores que estavam, regra geral, ligados às universidades. É nesta época que é criada a profissão dedicada à confecção de livros, onde se desenvolve o ofício das artes aplicadas: caligrafia, iluminação e encadernação. A partir daí, o livro converte-se num objecto de ostentação, criando-se verdadeiras obras de arte, com a colaboração de artistas importantes, e onde o texto é relegado a segundo plano. No início do século 2, na China, começa uma das revoluções mais transcendentes da história do livro: a aparição do papel. O papel, como o conhecemos na actualidade, surgiu através de um oficial da corte chinesa, a partir do córtex de plantas, tecidos velhos e fragmentos de rede de pesca. A técnica baseava-se no cozimento de fibras do líber (casca interior de certas árvores e arbustos) estendidas por martelos de madeira até se formar uma fina camada de fibras. Posteriormente, as fibras eram misturadas com água numa caixa de madeira até se transformarem numa pasta. Mas esta invenção levou muito tempo a chegar ao Ocidente. O papel é considerado o principal suporte para divulgação das informações e conhecimento humano. Dados históricos mostram que o papel foi muito difundido entre os Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

13


árabes, e que foram eles os responsáveis pela instalação da primeira fábrica de papel na cidade de Játiva, Espanha, em 1150 após a invasão da Península Ibérica. No final da Idade Média, a importância do papel cresceu com a expansão do comércio europeu e tornou-se num produto essencial para a administração pública e para a divulgação literária. Entre o século XIII e o XV, desenvolve-se em toda a Europa a encadernação gótica e durante todo o século XVI, os manuscritos são luxuosos, convivendo com livros populares com o objectivo de satisfazer todos os gostos e necessidades. Mas com a aparição do papel, que era um material muito mais barato, a nova tecnologia foi baptizada com o nome de "Galaxia Gutenberg" e o manuscrito passa a ser uma forma de arte e produto exótico frente à obra mecânica inventada por Johann Gutenberg. Ele inventou o processo de impressão com caracteres móveis (a tipografia). Johann Gutenberg trabalhava na Casa da Moeda onde aprendeu a arte de trabalhos em metal. Em 1428, Gutenberg parte para Estrasburgo, onde viria a realizar as primeiras tentativas de impressão. Segundo dados históricos, em 1442, foi impresso o primeiro exemplar numa prensa. Em 1448 dá início a uma sociedade comercial com Johann Fust e fundam a “Fábrica de Livros” (Werk der Buchei). Entre as produções está a conhecida Bíblia de Gutenberg de 42 linhas. O mundo sofre, então, uma revolução e a partir do século 19, aumenta a oferta de papel para impressão de livros e jornais, além das inovações tecnológicas no processo de fabricação. Em 1845, o papel passa a ser feito de uma pasta de madeira e, aliado à produção industrial de pasta mecânica e química de madeira (celulose), o papel deixa de ser um artigo de luxo e torna-se mais barato. As histórias, poesias, contos, cálculos matemáticos, ideias e ideais poderiam, a partir daquele momento, percorrer mares e terras e chegar a todo o lado.

Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

14


Conclusão Em conclusão pode afirmar-se que existe uma evolução temporal e espacial no que toca ao oral e ao escrito pois nos primórdios da comunicação só existia a oralidade e toda a captação e acumulação de ideias e saberes era efectuada pela memória do individuo. Mas a memória humana não é de todo um equipamento de armazenamento e recuperação fiel de informação e o aparecimento da escrita e posteriormente da imprensa revolucionaram a forma como o indivíduo perpétua a sua memória. Com a criação da escrita, a memória separa-se do sujeito ou da comunidade e o saber passa a estar disponível tornando-se susceptível a análises e exames. A escrita acaba por ser primeiramente representada por pictogramas que serviam para registar os algarismos correspondentes a quantidades de mercadorias. A história da invenção da escrita, enquanto, técnica de retranscrição, processa-se em duas vagas sucessivas: a escrita ideológica e a escrita alfabética. Podendo considerar-se que a escrita se insere numa sequência em que o contexto social e politico envolvente, prepara o terreno propício a uma invenção e determina a amplitude e a orientação que ela virá a assumir. Contrariamente ao sinal mnésico, o vestígio escrito é literal e desta forma, não sofre as deformações provocadas pelas elaborações. E com a escrita, as representações tornam-se perpétuas noutros formatos que não o canto ou a narrativa. Desta forma as representações passam a poder ser transmitidas e durar de forma autónoma. A impressão veio transformar profundamente o, modo de transmissão dos textos. O destinatário do texto passou a ser um indivíduo isolado que lê em silêncio e, mais que nunca, a exposição escrita passou a ser auto-suficiente. No que toca ao livro, de início os sumérios guardavam as suas informações em tijolos de barro; os indianos faziam os seus livros em folhas de palmeira; os maias e os astecas, escreviam os seus livros num material macio existente entre a casca das árvores e a madeira; e os romanos escreviam em tábuas de madeira cobertas com cera. Posteriormente desenvolveram-se o papiro e o pergaminho. Sendo que se pode afirmar que foram os egípcios que introduziram no mundo clássico a forma material do livro, o uso do papiro em forma de rolo, a utilização da tinta e a utilização das ilustrações como complemento explicativo do texto. De ressalvar ainda que no início do século 2, na China, começa uma das revoluções mais transcendentes da história do livro: a aparição do papel. Em suma, todos os objectivos iniciais do trabalho foram atingidos e consolidados.

Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

15


Webgrafia Webgrafia http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2002/espaco24out/vaipara.php?materia=0varia

http://www.forum.ufrj.br/biblioteca/escrita.html

Trabalho Teórico – Teorias da Comunicação Comunicação – “O Oral e o Escrito”

16


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.